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MATERIAIS E TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO I Alessandro Graeff Goldoni Rochas ornamentais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Explicar o que é uma rocha ornamental. � Reconhecer a utilização das rochas. � Identificar os fatores que norteiam sua utilização. Introdução Este capítulo irá falar sobre as rochas. Esses materiais de construção milenares talvez tenham sido os primeiros materiais de que o ho- mem dispôs para construção de sua moradia. Ao longo dos séculos, o modo como esse material é utilizado sofreu grandes transforma- ções. Material estrutural desde sempre, hoje é utilizado basicamente como agregado. Independente do uso, o fato de sua durabilidade ser praticamente inestimável as faz bastante atrativas à utilização como material de construção. Modelos de transformação Para a geologia, rocha é definido como um sólido consolidado, formado por um ou vários minerais, com estrutura normalmente heterogêneas e durezas distintas, dependendo do tipo de rocha. O número de minerais conhecidos é muito grande, contudo, poucas são as espécies presentes na maioria das ro- chas, particularmente nas rochas ígneas. Os minerais de rochas podem ser di- vididos em dois grupos: � Mineral primário – presente nas rochas magmáticas ou metamórficas, que permanece no perfil do solo bem desenvolvido por ser resistente ao intemperismo. Estes minerais são, portanto, formados a altas tempera- turas e/ou pressão. Informações � Mineral secundário – resultante da decomposição parcial de um outro mineral, tendo estrutura essencialmente herdada ou formado a partir da solubilização de outros minerais. Os minerais secundários podem ser formados a partir da solubilização dos minerais primários, durante o processo do intemperismo destes, as mais baixas temperaturas. As rochas podem ser classificadas em ígneas (ou magmáticas), sedimen- tares e metamórficas. As rochas magmáticas são formadas pela solidificação do magma, que por sua vez, é uma massa incandescente que existe no interior dos vulcões. Quando o magma é resfriado no interior da Terra transformam-se em rocha intrusiva (exemplo o granito). Quando o magma é lançado para fora da Terra em forma de lava, transforma-se em rocha extrusiva (como por exemplo o basalto e a pedra- -pomes). Esse tipo de rocha apresenta uma estrutura heterogênea, além disso, essas rochas são muito resistentes e de elevada dureza, não apresentando estra- tificações, ou seja, não se estruturam em camadas. As rochas sedimentares apresentam-se em formas de camadas ou estratos. Nessas rochas encontramos fósseis, ao contrário das magmáticas. Elas sofrem a ação do calor solar, da água e do vento como forma de decomposição. Temos como exemplo: o arenito, o calcário, os cascalhos e seixos (Fig. 1). Fonte: Shutterstock Figura 1: Exemplo de rocha magmática. As rochas metamórficas são rochas modificadas em sua estrutura por novos minerais que são formados no interior da Terra pelo movimento e trans- formação das rochas magmáticas e sedimentares. Temos como exemplos de rochas metamórficas, o gnaisse, a ardósia e o mármore. As rochas metamór- ficas podem ser maciças e isotrópicas ou foliadas, com granulometria variável de muito fina a muito grosseira, além de normalmente apresentarem uma iso- rientação mineral. Rochas oramentais O uso das rochas ornamentais é bastante antigo, tendo início ainda quando o homem utilizava as cavernas como forma de abrigo e proteção. O comércio de rochas ornamentais é uma prática em expansão, e o Brasil já é considerado um dos maiores produtores mundiais. Fato atribuído à qualidade dos materiais naturais e pela enorme variedade de rochas disponível no território, com 1700 pedreiras ativas e 300 em fase de licenciamento (GRUPO CASA, 2016). Fonte: Shutterstock Figura 2: Exemplo de rocha sedimentar. As exportações brasileiras fecharam o ano de 2016 com US$ 1.138,3 milhões e 2,46 milhões toneladas, um aumento de volume físico de 5,85% em compa- ração com o ano de 2015. O Brasil exportou rochas ornamentais para 120 países em 2016, sendo os EUA, China e Itália os maiores compradores. As exportações de rochas ornamentais são oriundas de 18 estados brasileiros, destacando-se os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte como maiores exportadores (ABIROCHAS, 2017). Em termos comerciais, as rochas ornamentais são classificas basicamente em granitos e mármores. Os granitos englobam rochas silicáticas, tais como: � Granitos; � Granodioritos; � Sienitos; � Gnaisses; � Mataconglomerados; � Migmatitos; � Monzonitos; � Xistos. O granito é uma rocha formada por um conjunto de minerais, tendo como formação basicamente o quartzo, um mineral incolor; o Feldspato (ortoclase, sanidina e microclina), responsável pela variedade de cores, dentre elas: aver- melhada, rosada e creme-acinzentada; e a Mica (biotite e moscovite), que confere o brilho à rocha. As cores de granito mais encontradas na natureza são as de tons cinzento e avermelhado, porém, pode-se encontrar também nas cores branco, preto, azul, verde, amarelo e marrom. A Figura 3 exemplifica as diferentes colora- ções encontradas. A resistência à abrasão dos granitos é normalmente proporcional à dureza dos seus minerais constituintes. Dentre estes minerais, de acordo com a Es- Fique atento Segundo as especificações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) 15012:2003, as rochas ornamentais constituem um material rochoso natural, submetido a diferentes graus de aperfeiçoamento (esquadrejamento, polimento, lustro, apicoa- mento ou flameamento) e utilizado para exercer uma função estética. cala Mohs, temos o quartzo com dureza 7 e os feldspatos com dureza 6. Entre os granitos, a resistência ao desgaste será normalmente, tanto maior quanto maior a quantidade de quartzo. Os mármores englobam as rochas carbonáticas (calcário e dolomito), tanto de origem sedimentar quanto metamórfica, passível de polimento. Os calcá- rios são rochas sedimentares compostas principalmente de calcita (carbonato de cálcio), enquanto os dolomitos são rochas também sedimentares formadas sobretudo por dolomita (carbonato de cálcio e magnésio). Os mármores re- sultam do metamorfismo (modificações ocorridas na rocha devido a varia- ções nas condições de pressão e temperatura, em relação ao ambiente de origem) de calcários e dolomitos. Fonte: O autor. Figura 3: Algumas das diferentes colorações encontradas nos granitos. Fique atento Para se distinguir um mármore de um granito, dois procedimentos simples são reco- mendados: 1º) Os granitos não são riscados por canivetes, chaves ou pregos, diferentemente dos mármores, devido sua maior resistência; 2º) Os mármores reagem ao ataque do ácido clorídrico (ou muriático), efervescendo tanto mais intensamente quanto maior o teor de calcita encontrada na rocha. Principais utilizações de rochas oramentais O setor industrial de rochas ornamentais está constantemente investindo em novas tecnologias e revolucionando os processos de extração e métodos de fabricação, dentre polimentos e acabamentos, visando criar novas opções que atendam às exigências e necessidades dos mercados arquitetônico e cons- trutor. As rochas ornamentais constituem um dos principais materiais utilizados como revestimentos verticais (paredes e fachadas) e horizontais (pisos) de ex- teriores e interiores de edificações. Entre as qualidades do uso dessas rochas, destacam-se: o efeito estético, a durabilidade, a resistência mecânica e a flexi- bilidade no uso, permitindo assim a obtenção de peças de grande durabilidade e facilidade de conservação, com formatos e dimensões variáveis em projetos arquitetônicos. Normalmente as rochas ornamentais são materiais adequados para projetos de urbanização, arte funerária e edificações ou residências, sendo a infini- dade de usos e características seu ponto marcante, fato este que confere uma personalidade únicaa cada peça ou conjunto de peças utilizadas. O possível Fonte: Shutterstock Figura 4: Jazida de extração de mármore. emprego destes materiais e os locais de sua aplicação são tão diversos como suas cores. A seguir, citamos algumas aplicações mais comuns: � Revestimento de pisos, escadas, paredes, fachadas; � Bancadas de Pias e Lavatórios; � Móveis e Tampos; � Peças de Decoração; � Colunas Maciças; � Arte; � Funerária; � Urbanização de Praças e Jardins. A fim de se evitar problemas após a colocação/instalação das rochas orna- mentais, necessita-se verificar as especificações diante dos usos pretendidos dessa pedra, observando-se o efeito estético desejado, respeitando as caracte- rísticas tecnológicas dos materiais e sua adequação às condições ambientais. Mattos (2002) salienta que a caracterização das rochas deve ser realizada logo na etapa de pesquisa do jazimento e nessa fase já se deve ter conhe- cimento dos tipos de aplicações pretendidos. Muitos erros tem ocorrido no emprego das rochas ornamentais, não só devido à falta de conhecimento das características naturais e intrínsecas que o material traz, como também, da- quelas induzidas pelos métodos de lavra, beneficiamento e aplicação empre- gados, que podem, em última análise, provocar alterações no comportamento natural das rochas e consequentemente nas suas propriedades. Conhecendo-se as condições ambientais às quais os revestimentos e os produtos estarão submetidos, e as respostas das rochas aos ensaios técnicos normalmente efetuados, pode-se, através análises conjuntas, reunir valiosos subsídios para a seleção daquelas que melhor se adequem aos requisitos do projeto pretendido (MATTOS, 2002). Principais ensaios tecnológicos A fim de verificar o melhor uso de revestimentos em edificações, tem-se di- ferentes ensaios e análises para a obtenção de parâmetros petrográficos, quí- micos, físicos e mecânicos do material. Para a caracterização tecnológica das rochas ornamentais, são utilizados os seguintes ensaios: � Análise petrográfica, a qual fornece informações sobre os constituintes minerais, classificação petrográfica e sua natureza. Os procedimentos de análise são realizados com auxílio de microscópio ótico petrográfico; � Determinação de índices físicos (massa específica aparente, absorção d’água e porosidade), visando avaliar, indiretamente o estado de coesão e alteração das rochas; � Determinação do desgaste amsler (atrito), a qual visa analisar a redução de espessura (mm) que uma amostra sofre após um percurso abrasivo; � Saturação e secagem; � Índice de resistência ao impacto; � Salificação de cristais; � Determinação da resistência à compressão uniaxial, que mede a tensão por compressão necessária para provocar a ruptura da rocha, quando submetida a esforços compressivos. � Ensaios de gelo e degelo, visando submeter a amostra a 25 ciclos de con- gelamento e de degelo, verificando eventual queda de resistência. � Ensaio de manchamento, a fim de verificar como a mineralogia, a tex- tura e estrutura de uma rocha reage frente a um agente abrasivo; � Determinação do módulo de deformabilidade elástico; � Determinação do módulo de resistência à flexão; � Execução de ensaios de alterabilidade ou de resistência ao ataque quí- mico; � Ensaio de exposição ao dióxido de enxofre (SO2), a qual simula o efeito da atmosfera industrial rica em SO2 c consequentemente, das chuvas ácidas resultantes dessa contaminação atmosférica sobre os materiais rochosos. Fique atento A escolha do ensaio vai depender da característica química, física ou biológica a qual se necessita analisar. Para cada ensaio, existem diferentes normas, ou seja, documentos produzidos por um órgão oficial acreditado para tal, que estabelece regras, diretrizes, ou características acerca de um material, produto, processo ou serviço. Exemplo disso, é a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), a qual descreve os ensaio propria- mente dito e a forma de execução dessa. Portanto, antes de realizar qualquer ensaio, consulte o acervo da ABNT, a fim de não cometer erros na execução do mesmo. Beneficiamento e processamento de rochas ornamentais Os fluxos de processos produtivos são diferentes de uma rocha ornamental para outra. Cada tipo de rocha apresenta características que exigem técnicas específicas de exploração e beneficiamento, que visam o melhor aproveita- mento da jazida e à superior qualidade do produto final. Em se tratando das etapas de extração de granitos e mármores, tem-se: � Decapeamento; � Desmonte; � Desmembramento; � Esquadrejamento; � Armazenamento. A primeira etapa consiste no decapeamento, ou seja, ocorre a retirada da camada superficial do solo e a rocha alterada, até se atingir o material a ser lavrado. O desmonte, segunda etapa, consiste no deslocamento dos blocos do maciço rochoso por meio de cortes, que pode ser cíclico ou contínuo. Após o desmonte, é feito o tombamento do bloco, geralmente por meio de máquinas pesadas como retroescavadeiras, pás carregadeiras ou macaco hi- dráulico. O tombamento deve ocorrer sobre colchões de amortecimento, que podem ser formados por solo, pedaços de rocha, argila e pneus, com o intuito de preservar a integridade do bloco. Com o bloco tombado, inicia-se o desmembramento com perfurações feitas por meio de marteletes e brocas. Cunhas mecânicas são utilizadas para des- locar o bloco e desmembrá-lo. O esquadrejamento visa retirar as irregulari- dades nas laterais. São usados marteletes manuais, ponteiros, talhadeiras e marretas. Depois de todas as etapas, os blocos são estocados para aguardar o carregamento e o transporte até as empresas de marmoraria. As marmorarias atuam para atender à demanda do consumidor final, com a realização de cortes, polimento/lustro (com o objetivo de tornar a superfície mais lisa e dar brilho à peça), acabamento e esquadrejamento nas peças de acordo com as especificações requeridas. É a última etapa de transformação das rochas ornamentais, cujos produtos finais são materiais de revestimento interno e externo em construções, peças isoladas como bancadas, soleiras, rodapés e objetos de decoração, dentre outros. Fique atento A extração de rochas ornamentais acarreta em graves problemas ambientais em todas as etapas de beneficiamento. Problemas relacionados com a supressão da vegetação nativa, efluentes líquidos oriundos da lavagem das rochas, bota-fora das rochas (restos de rochas que possuem comercialização) e erosão, são alguns dos exemplos dos im- pactos causados ao ambiente. As imagens a seguir comparam um local antes e depois da extração de rochas. ANTES DEPOIS Fonte: Desconhecido. Figura 5: Impacto ambiental causado pela extração de mármore. Conteúdo: Referências ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15012. Rochas para revestimentos de edificações – Terminologia. Rio de Janeiro: ABNT, 2003. ABEOC. Brasil quer assumir a liderança no mercado mundial de rochas processadas. 2015. Disponível em http://www.abeoc.org.br/2015/01/brasil- quer-assumir-a-lideranca-no-mercado-mundial-de-rochas-processadas/. Acessado em 20 jan. 2017. ABIROCHAS. Balanço das Exportações e Importações Brasileiras de Ro- chas Ornamentais em 2016. 2017. Disponível em http://www.abirochas.com. br/noticia.php?eve_id=4062. Acessado em 23 jan. 2017. GRUPO CASA. Produtores de rochas ornamentais brasileiras se prepa- raram para um ano com novo aumento nas exportações. 2016. Disponível em http://www.vitoriastonefair.com.br/site/2016/pt/destaque/1207/produtores+- de+rochas+ornamentais+brasileiras+se+prepararam+para+um+ano+com+- novo+aumento+nas+exportacoes/. Acessado em 23 jan. 2017. Mattos, I.C. Uso/adequação e aplicação de rochas ornamentais na cons- trução civil – parte 1. In: III Simpósio sobre Rochas Ornamentais do Nor- deste, Anais, Recife, PE, 2002. Leituras recomendadas FILHO, R. S.; MATOS, G. M. M.; MENDES, V. A.; IZA, E. R. H. F. Atlas de Rochas Ornamentais do Estado do EspíritoSanto: Projeto Geologia e Re- cursos Minerais do Estado do Espírito Santo. Brasília: CPRM, 2013.