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MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO André Luis Abitante Ederval de Souza Lisboa Gustavo Alves G. de Melo Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 L769m Lisboa, Ederval de Souza. Materiais de construção : concreto e argamassa [recurso eletrônico] / Ederval de Souza Lisboa, Edir dos Santos Alves, Gustavo Henrique Alves Gomes de Melo. – 2. ed. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. Editado como livro impresso em 2017. ISBN 978-85-9502-013-9 1. Materiais de construção. 2. Concreto. 3. Argamassa. Engenharia. I. Alves, Edir dos Santos. II. Melo, Gustavo Henrique Alves Gomes de. III. Título. CDU 691.3:62 Retração e fissuração no concreto Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Explicar o que é retração. � Conhecer a importância do controle da fissuração. � Identificar os principais tipos de fissuras oriundas desse fenômeno. Introdução Neste texto, você vai estudar a retração e sua consequência para o surgimento de fissuras. Para isso, você vai conhecer os tipos de retra- ção e também alguns tipos de fissuras. Um concreto não fissurado apresenta, sem dúvida alguma, maior durabilidade. A retração não é o único mecanismo de formação de fissuras no concreto, porém, é um dos mais importantes por acontecer nas primeiras idades, quando o material ainda não tem grandes resistências. Fissuração A fissuração de uma estrutura pode ir de pequenos defeitos estéticos a grandes fissuras. Quanto maior a obra, maior a preocupação com o surgimento de fis- suras, pois elas podem causar danos estruturais. Mesmo que sejam tomadas todas as medidas preventivas, as fissuras não devem ser ignoradas, uma vez que não há como evitá-las. As fissuras fazem com que as obras percam a finalidade a que se destinam, devendo, portanto, ser reparadas. No entanto, os procedimentos para reparos destas fissuras são de difícil execução e de elevado custo. Figura 1. Por que você deve se preocupar com as fissuras no concreto? A resposta nos parece muito óbvia, porque quando se estuda tecnologia do con- creto, especialmente o item das patologias, as fissuras têm uma participação im- portante, pois elas são o veículo condutor de vários agentes agressivos ao concreto. Como ocorrem as fissuras? As fissuras ocorrem quando as deformações sofridas pelo concreto superam as deformações críticas. As fissuras podem aparecer antes ou após o endure- cimento da massa de concreto. Retração e fissuração no concreto 217 Fissuras anteriores ao endurecimento, isto é, durante o estado plástico da massa de concreto, são causadas principalmente por: � assentamento do concreto; � movimentação de fôrma e assentamento de fundação; � concretagens em rampa; � retração plástica; � erros no acabamento do concreto; � soma de mais de uma delas. Figura 2. Assentamento do concreto Algum tempo após o lançamento do concreto, os materiais mais finos do con- creto começam a assentar. O assentamento, que ocorre até o concreto endurecer, provoca a expulsão de água e ar. A água vem à superfície como exsudação. Os agregados maiores e a armadura oferecem restrição a esse desloca- mento da massa, provocando a fissuração. A utilização de concretos muito plásticos provoca uma maior exsudação, dando origem à fissuração. Materiais de construção: concreto e argamassa218 Figura 3. Durante o processo de assentamento do concreto é necessário que você tome certas precauções, como: � a correta vibração do concreto e revibração do concreto se houver fissuras; � o uso de uma dosagem adequada, empregando o mínimo de água, para obter a con- sistência necessária ao lançamento. Se necessário utilizar aditivos redutores de água. Deformações no concreto As deformações no concreto são de origem interna (intrínseca) e de origem externa. Retração e fissuração no concreto 219 Figura 4. Deformações de origem interna São várias as causas da deformação intrínseca do concreto. Por estas razões, você vai conhecer, de forma objetiva e clara, cada uma destas causas princi- pais. Veja a seguir: Retração plástica É provocada pela perda rápida da água na superfície do concreto, seja por eva- poração, por absorção do agregado, da fôrma ou fundação. Alta temperatura ambiente e baixa umidade relativa do ar provocam perda rápida de água e, consequentemente, fissuração na superfície do concreto. A retração do concreto no estado plástico é da ordem de 1% do volume absoluto de cimento e é motivada pela umidade relativa, temperatura e velo- cidade do vento. Neste caso, recomenda-se proteger a superfície do concreto para impedir a perda da água, que não deve ser superior a 1kg/m²/hora. Materiais de construção: concreto e argamassa220 Figura 5. Figura 6. Retração autógena É a retração provocada pela perda da água dos poros do concreto. A retração autógena cresce com a temperatura, finura do cimento e alto teor de C3A. Expansão Existem certas alterações químicas do cimento que podem contribuir para expansão da pasta. A estimativa do volume final do cimento pode ser feita entre a densidade do cimento seco e do cimento hidratado. Retração e fissuração no concreto 221 Em estudos, o pesquisador químico Stephen Brunauer encontrou 55% de aumento do volume para um cimento cuja massa específica era 3,1 g/cm³ e hidratado 2,5 g/cm³, seco em estufa. Treval Powers, calculou que o aumento de volume do cimento hidratado foi 2,2 vezes o cimento anidro. Outras causas de expansão química são: � reação; � atividade com calcário dolomítico; e � presença de CaO e MgO no clínquer. Retração por carbonatação A retração por carbonatação é provavelmente causada pela dissolução de cris- tais de Ca(OH)2 (hidróxido de cálcio), sob tensão devido à retração hidráulica e deposição do CaCO3 (carbonato de cálcio) os espaços não sujeitos à tensão. Temporariamente, é aumentada à compressibilidade da pasta de cimento. Se a carbonatação ocorrer depois da desidratação do C-S-H (Silicato de Cálcio Hidratado), também resultará na retração por carbonatação. Retração térmica Neste caso, os sólidos se expandem com aquecimento e se contraem no res- friamento. Na massa de concreto ocorre uma elevação de temperatura na hidratação do cimento, seguida de um arrefecimento para equilibrar com a temperatura externa. Materiais de construção: concreto e argamassa222 Figura 7. Deformações de origem externa Todo corpo sólido submetido a cargas sofre uma deformação. Assim, no mo- mento do carregamento, ocorre uma deformação imediata no concreto que ao longo do tempo formará uma deformação elástica, denominada fluência. Figura 8. Retração e fissuração no concreto 223 Fissuração por retração hidráulica A fissuração ocorre na retração plástica quando houver proteção da superfície do concreto para evitar a perda prematura da água. As fissuras de retração plás- tica são profundas e geralmente paralelas e com espaço de 0,3 a 1,0 m. Já na retração por secagem, a fissuração depende da extensibilidade do concreto, de sua resistência e do grau de restrição à deformação. O uso de cimento, embora cause retração, aumenta a resistência, reduzindo o risco de abrir fissura. O uso de acelerador aumenta a tendência à fissuração; e os re- tardadores acomodam a retração por secagem na retração plástica e, provavel- mente, aumenta a extensibilidade do concreto. Avaliação da tendência de fissura do concreto por efeito da retração térmica Você pode avaliar a tendência de um concreto à fissuração utilizando a se- guinte equação: Onde: � ftk = resistência característica do concreto à tração; � Ec = módulo de elasticidade longitudinal do concreto; � α = coeficiente de dilatação linear do concreto; � ∆θ = θi – θ = gradiente térmico. No entanto, quando essa equação é rompida, você, então, pode prever que o concreto tem tendência a apresentar fissuras. Materiais de construção: concreto e argamassa224 Como prevenir a fissuração? Segundo a orientação da AssociaçãoBrasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (2000) para prevenir a fissuração, deve-se seguir as seguintes orientações: 1. Usar aditivos plastificantes. 2. Molhar as formas e superfícies de concreto antes de iniciar a concre- tagem. 3. Planejar o lançamento e execução de juntas na peça a concretar. 4. Não adicionar água para acabamento superficial. 5. Iniciar a cura o mais rápido possível e mantê-la no mínimo até sete dias. 6. Proteger a peça recém concretada (sol, vento, vibrações, etc.). Veja mais algumas dicas: � Evitar desforma prematura da estrutura. � Não sobrecarregar a estrutura com peças e serviços para concretagem da parte superior, quando for na vertical. � Não ocupar a estrutura de forma que não tenha sido programada na sua concepção. As fissuras devem ser evitadas ou controladas e minimizadas, pois afetam a durabilidade e a integridade estrutural, além de serem também estetica- mente indesejáveis. Retração e fissuração no concreto 225 1. A fissuração no concreto: a) advém exclusivamente da va- riação dimensional b) surge apenas com o aumento de temperatura c) não está relacionado com tensões d) ocorre só para as estruturas restringidas e) trata se de um fenômeno exclusi- vamente físico 2. Qual dos tipos abaixo NÃO é um tipo de retração característica do concreto: a) plástica b) carbonatação c) secagem d) autógena e) retração álcali agregado 3. Sobre a retração: a) não é influenciada pela umidade relativa b) o tipo de agregado não influência na retração c) quanto maior a quantidade de agregado, maior a retração d) de acordo com a relação volume superfície a retração se modifica e) a dilatação térmica não afeta o fenômeno 4. Qual das classificações abaixo NÃO se refere aos tipos de fissura: a) fissuras de retração b) fissuras de assentamento c) fissuras plásticas de temperatura d) fissuras térmicas nas primeiras idades e) fissuras de retração por secagem 5. Quais dos cuidados abaixo NÃO são recomendados para a diminuição da fissuração: a) cura b) aditivos c) adensamento d) manutenção do cobrimento e) estrutura livre Materiais de construção: concreto e argamassa226 Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem. Manual do concreto dosado em central. [S.l.]: ABESC, 2000. Leituras recomendadas ALVES, J. Dafico: fissuração intrínseca do concreto. São Paulo: IBRACON, 1979. ANDRADE, W. P. (Ed.) Concretos: massa, estrutural, projetado e compactado com rolo. São Paulo: Pini, 1997. ANDRADE, W. P. Investigações e controle do concreto para usina nuclear de Angra dos Reis. Porto Alegre: UFRGS, 1978. Paper nº 15. KEMP, E. L.;WILHELM, W. J. Investigation of the parameters influencing bond cracking. Journal Proceedings, v. 76, n. 1, p. 47-72, 1979. RIPPER, E. Como evitar erros na construção. 2. ed. São Paulo: Pini, 1984. SILVEIRA, A. F. O comportamento térmico das barragens de betão. Lisboa: [s.n.], 1958. Referência Retração e fissuração no concreto 227