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Teologia do Antigo Testamento Seminário Teológico Jonathan Edwards & Unifil 1 Literatura Apocalíptica Anderson Yan 1. Definições a) Apocalipse Apocalipse corresponde a um gênero literário revelador que é organizado em uma estrutura narrativa onde uma revelação é intermediada por um ser sobrenatural para um ser humano. O termo αποκαλυψις (i.e., “revelação”) foi usado pela primeira vez na antiguidade com referência a uma obra literária no primeiro verso de Apocalipse de João.1 b) Escatologia apocalíptica Escatologia apocalíptica é uma cosmovisão que é usada com mais frequência do que qualquer outra ótica e por meio dessas lentes que o material usado nas obras apocalípticas são interpretados.2 c) Apocalipticismo O apocalipticismo é um movimento onde a cosmovisão da escatologia apocalíptica acabou sendo transformada em uma ideologia que funciona como chave hermenêutica para a interpretação de textos sagrados. Essa ideologia também serve de base para a formação da identidade dos membros de uma determinada comunidade bem como a definição da relação dos seus membros com oponentes internos e externos. Ela também fornece uma perspectiva historiográfica que torna possível analisar o cenário de conflito final e vindicação divina dos eleitos.3 Durante a antiguidade judeus que viveram na terra de Israel compartilhavam de várias características que faziam parte da sua identidade. Por exemplo, as Escrituras, a reverência pelo templo e fidelidade pelo seu culto. Muitos desses traços correspondem de forma significativa com o judaísmo ortodoxo. No entanto, diversos ‘judaísmos’ emergiram, cada um deles com traços particulares. Por exemplo, estilo de vida, cosmovisão e definição das normas de convívio social. Devido o fato de não existir um judaísmo único e unitário é 1 J. J. Collins, Apocalypse: The Morphology of a Genre. Semeia 14 (Missoula, DC: SBL, 1979). 2 K. Koch, The Rediscovery of Apocalyptic. SBT 2/22 (Naperville, IL: SCM Press, 1972), P. D. Hanson, Old Testament Apocalyptic (Philadelphia, PA: Fortress, 1975) e John J. Collins, The Apocalyptic Imagination: An Introduction to Jewish Apocalyptic Literature. 2d ed. Biblical Resource Series (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1998). 3 Koch, 1975, Hanson, 1975 e Collins, 1998. Objetivos: Ao final dessa aula espera-se que o estudante esteja (1) atento a problemática ligado as definições, (2) tenha noção dos seus antecedentes e (3) e condição de fazer uma avaliação crítica em relação a teologia e recepção. Teologia do Antigo Testamento Seminário Teológico Jonathan Edwards & Unifil 2 compreensível que também não existiu uma noção de messias ou doutrina messiânica singular. Diversas interpretações da temática messiânica foram definidas a partir de cada sistema religioso que muitas vezes não se relacionavam entre si. Ou seja, diferentes formas de judaísmos que surgiram por esses judeus, daí 'judaísmos' e 'seus Messias'.4 Apesar da tentação de homogeneizar todas as obras apocalípticas como um movimento singular, é preciso reconhecer a diversidade dentro da literatura apocalíptica. Por exemplo 4 Esdras e 2 Baruque apresentam traços consideravelmente próximos ao judaísmo farisaico. Isso significa que o fato de uma obra ser apocalíptica não faz dela automaticamente de origem essênia. Por exemplo, escritos rabínicos posteriores também contém a temática apocalíptica. Isso significa que a presença da temática apocalíptica em algum escrito não serve de prova que essa obra tenha origem em um movimento apocalíptico.5 As terminologias ‘apocalipse’, escatologia apocalíptica’ e apocalipticismo certamente tem valor heurístico e didático contanto que mantemos a ciência de que essas definições representam a mentalidade dos seus autores originais. Nesse sentido, o uso dessas ferramentas deve ser feito com cautela.6 Na antropologia social o termo êmico refere-se ao ponto de vista de dentro do grupo em questão (i.e., nativo) enquanto o termo ético diz respeito a perspectiva de fora (i.e., observador).7 2. Antecedentes a) Tradição sapiencial8 O centro da apocalíptica não está na escatologia, mas sim na interpretação determinista da história.9 O discurso apocalíptico usa uma ‘mistura conceitual’.10 Diálogo entre sabedoria e discursos apocalípticos.11 4 Jacob Neusner, ‘Preface’ to Judaisms and their Messiahs at the Turn of the Christian Era (Cambridge: Cambridge University Press, 1987), ix-xiv. 5 J. Block, On the Apocalyptic in Judaism. JQRMS 2 (1952). 6 Koch, 1975, Hanson, 1975 e Collins, 1998. 7 Kenneth L. Pike, Language in Relation to a Unified Theory of Structure of Human Behavior. Vol. 1 (Glendale, CA: Summer Institute of Linguistics, 1954), 8. 8 Benjamin G. Wright III, and Lawrence M. Wills (eds), Conflicted Boundaries in Wisdom and Apocalypticism. Society of Biblical Literature Symposium Series 35. (Atlanta: Society of Biblical Literature, 2005). 9 Gerhard von Rad, Wisdom in Israel (London: Bloomsbury, 1993). 10 Vernon K. Robbins, The Invention of Christian Discourse. Vol. 1, Rhetoric of Religious Antiquity (Leiden, The Netherlands: Deo, 2009). 11 Michael E. Stone, “Lists of Revealed Things in the Apocalyptic Literature.” In Magnalia Dei: The Mighty Acts of God: Essays on the Bible and Archaeology in Memory of G. Ernest Wright. Edited by Frank Moore Cross, Werner E. Lemke, and Patrick D. Miller (Garden City, NY: Doubleday, 1976), 414–452; Florentino García Martínez (ed), Wisdom and Apocalypticism in the Dead Sea Scrolls and in the Teologia do Antigo Testamento Seminário Teológico Jonathan Edwards & Unifil 3 Cético em relação as fronteiras entre as tradições apocalípticas, proféticas e de sabedoria.12 b) Tradição profética A diferença entre os eixos temporal e espacial no modo de revelação reflete o fato de que o ponto de vista da escatologia dos profetas é significativo nos primeiros apocalipses judaicos e cristãos. Isso fica claro pelos temas compartilhados. Por exemplo, relatos de jornadas sobrenaturais, listas de fenômenos naturais e sobrenaturais e especulações cósmicas e celestes variadas. Quando é levado em consideração a tensão contínua entre as categorias temporais e espaciais salvíficas, a justaposição entre os dois eixos dentro dos primeiros ou proto apocalipse parece apropriada.13 Quanto mais a apocalíptica judaica se aproxima da era helenística, mais complexa ela se torna. Isso pode ser explicado devido a sua livre exposição as ideias em ciências consideravelmente avançadas para o seu tempo ao lado da especulação intelectual sobre os fenômenos celestes e terrestres e reflexões sapienciais, indicando fortes ligações com as tradições mânticas da Mesopotâmia.14 Continuidade: Ezequiel 1:1 י בחמשה ויהי בשלשים שנח ברביע נהר־כבר לחדש ואני בתוך־הגולה על־ נפתחו השמים ואראה מראות אלהים No quinto dia do quarto mês do trigésimo ano, eu estava entre os exilados, junto ao rio Quebar; os céus se abriram, e tive visões Zacarias 1–6 1:7-17 Os cavalos 1:18-21 Os quatro chifres e os quatro ferreiros 2:1-5 Jerusalém é medida 3:1-10 As vestes do sumo sacerdote 4:1-14 O candelabro de ouro 5:1-4 O rolo que voava 5:5-11 A mulher e o cesto Biblical Tradition. Bibliotheca Ephemeridum Theologicarum Lovaniensium 168 (Leuven, Belgium: Leuven University Press, 2003) e Leo G. Perdue, “Wisdom and Apocalyptic: The Case of Qoheleth.” In Wisdom and Apocalypticism in the Dead Sea Scrolls and in the Biblical Tradition. Edited by F. García Martínez, Bibliotecha Ephemeridum Theologicarum Lovaniensium 168 (Leuven, Belgium: Leuven University Press, 2003), 231–258. 12 Lester L. Grabbe, “Prophecy and Apocalyptic: Time for New Definitions—and New Thinking.” In Knowing the End from the Beginning: The Prophetic, the Apocalyptic and Their Relationships. Edited by Lester L. Grabbe and RobertD. Haak. Journal for the Study of the Pseudepigrapha Supplement Series 46. (London: T&T Clark, 2003), 107–133. 13 J. J. Collins, “Cosmos and Salvation: Jewish Wisdom and Apocalyptic in the Hellenistic Age”. History of Religions 17/2 (1977). 14 Collins, (1977) e Stone, (1976). Teologia do Antigo Testamento Seminário Teológico Jonathan Edwards & Unifil 4 6:1-8 As quatro carruagens Descontinuidade: novos desdobramentos, nova substância.15 a) Mesopotâmia Paralelos entre a figura de Enoque e os lendários sábios mesopotâmicos (e.g., Enmeduranki).16 Contexto literário do livro de Daniel se passa na Babilônia, onde o protagonista é retratado como um sábio profissional com habilidades de interpretar sonhos semelhante a alguns caldeus. Isso poderia sugerir que o apocalipticismo judaico primitivo teria se desenvolvido na diáspora oriental.17 b) Dualismo persa Sem sombra de dúvidas algumas crenças na religião persa são consideravelmente antigas. Por exemplo, a ressurreição, a temática da jornada celestial e o dualismo.18 c) “Profecias” acadianas “Profecias” acadianas (e.g., Profecia dinástica e a profecia de Uruk): pseudo profecias vaticinia ex eventu, i.e., previsões feitas após o evento. Essas profecias apresentam uma sequência de reinados de forma cronológica e frequentemente usam frases como “um príncipe se levantará”. Geralmente a duração do reinado é dada ao da avaliação da sua avaliação. Essas profecias representam um fenômeno puramente literário sem rastro de oralidade. As profecias acadianas não representam uma realidade, mas sim o desejo dos seus autores que as escreveram com o objetivo de convencer seus leitores que alguma instituição etc. teria sido instituída pelos próprios deuses. Devido aos fortes traços semelhantes entre a escatologia apresentada nas profecias acadianas e a apocalíptica judaica é bem plausível que essas sejam as suas raízes.19 3. Teologia & Recepção a) Esperança e segurança b) Dualismo c) Noção determinista da história d) Cinema 15 Collins, (1977); Stone, (1976) e James Barr, Old and New in Interpretation: A Study of the Two Testaments (London: SCM Press,1966). 16 J. VanderKam, Enoch and the Growth of an Apocalyptic Tradition. CBQMS 16 (Washington, DC: Catholic Biblical Association, 1984). 17 W. G. Lambert, The Background of Jewish Apocalyptic (London: The Athlone Press, 1978). 18 P. Gignoux, “Apocalypses et voyages extra-terrestres dans l’Iran Mazdéen”. In Apocalypses et Voyages dans l’Au-Delà. Edited by. C. Kappler (Paris : Les éditions du Cerf, 1987). G. Widengren, “Leitende Ideen und Quellen der iranischen Apokalypik.” In Apocalypticism in the Mediterranean World and the Near East. Edited by D. Hellholm (Tübingen: Mohr-Siebeck, 1983),77-162. 19 A. Kirk Grayson, “Babylonian Prophecies, Astrology, and a New Source for “Prophecy Text B.” In Language, Literature and History. Edited by F. Rochberg- Halton. AOS 67 (New Haven, CT: Eisenbrauns, 1987), 1–14 Teologia do Antigo Testamento Seminário Teológico Jonathan Edwards & Unifil 5 e) Imaginário evangélico popular f) Retórica em discursos políticos voltados para as mudanças climáticas