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Professor Esp Erison de Moraes Valério LIVRO DO APOCALIPSE E LIVRO DO APOCALIPSE E ESCATOLOGIA ESCATOLOGIA REITOR Prof. Ms. Gilmar de Oliveira DIRETOR DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Ms. Daniel de Lima DIRETORA DE ENSINO EAD Prof. Dra. Geani Andrea Linde Colauto DIRETOR FINANCEIRO EAD Prof. Eduardo Luiz Campano Santini DIRETOR ADMINISTRATIVO Guilherme Esquivel SECRETÁRIO ACADÊMICO Tiago Pereira da Silva COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Prof. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Prof. Ms. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Ms. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE GESTÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS Prof. Dra. Ariane Maria Machado de Oliveira COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE T.I E ENGENHARIAS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE SAÚDE E LICENCIATURAS Prof. Dra. Katiúscia Kelli Montanari Coelho COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Caroline da Silva Marques Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Marcelino Fernando Rodrigues Santos Eduardo Alves de Oliveira Jéssica Eugênio Azevedo Kauê Berto PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO André Dudatt Carlos Firmino de Oliveira Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO Carlos Eduardo da Silva DE VÍDEO Carlos Henrique Moraes dos Anjos André Oliveira FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP V164L Valério, Erison de Moraes Livro do Apocalipse e escatologia/ Erison de Moraes Valério. Paranavaí: EduFatecie, 2023. 117 p. 1.Bíblia - Profecias. 2. Escatologia. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD:23.ed. 242.2 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9 /1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas dos bancos de imagens Shutterstock . 2023W by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ Prof. Esp. Erison de Moraes Valério ● Bacharel em Teologia (UniFil); ● Especialista em Teologia Sistemática Contextualizada (Fabapar); ● Especialista em Teologia e Interpretação Bíblica (Fabapar); ● Especializando em Docência no Ensino Superior (Unicesumar); ● Professor de Apocalipse e Escatologia no Curso de Teologia EAD (UniFate- cie); ● Professor de Noções de Grego e Hebraico no Curso de Teologia EAD (Uni- Fatecie); ● Professor de Grego e Exegese do Novo Testamento do Curso de Bacharel em Teologia e Tecnólogo em Ministério Pastoral EAD (UniFil); ● Professor de Hebraico e Exegese do Antigo Testamento do Curso de Bacharel em Teologia e Tecnólogo em Ministério Pastoral EAD (UniFil); ● Professor do Seminário Teológico Rogate (Str), nas disciplinas: Teologia Sis- temática, Interpretação Bíblica, História do Cristianismo, Homilética, Geografia e Cultura Bíblica, Caráter e Integridade. Trabalhou como coordenador do curso de Teologia com Aperfeiçoamento ministe- rial do Seminário Teológico Rogate, onde é professor desde 2018. Na área de pesquisa dedica-se aos estudos em Interpretação bíblica, exegese, e Teo- logia Sistemática. É pastor ordenado desde 2018 e atua na área pastoral e ensino teológico. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/4074326759508240 AUTOR http://lattes.cnpq.br/4074326759508240 4 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá Aluno (a)! Bem-vindo (a)! Iniciaremos nossos estudos sobre literatura bíblica que mais desperta curiosidade e atenção, afinal se trata de assuntos que na Teologia são conhecidos como estudo das “últimas coisas”. Espero que este material, proporcione o crescimento saudável e acrescente o conhecimento necessário para sua formação. O assunto, Apocalipse e Escatologia, é de suma importância para construir no estudante, os princípios necessários para a carreira teológica. Afinal, existe uma complexidade de assuntos que os envolvem tal ciência que são interdependentes de outras disciplinas. A interconexão que o tema faz com outras frentes teológicas, acontece tanto nos estudos sistemáticos como a Cristologia, Eclesiologia, Teontologia, como entre os demais livros da Bíblia como Daniel, Ezequiel, Mateus, Marcos e algumas cartas pastorais. Nosso material fornecerá subsídios necessários para entender de forma panorâmica todas as vertentes que formam essa área. Na unidade I, vamos aprender sobre os posicionamentos a respeito da autoria do Livro de Apocalipse, os panoramas histórico-cultural e religioso que auxiliarão na compreensão da situação histórica em que foi produzida a obra. Por fim, será apresentado a você a teologia do livro do Apocalipse, com uma abordagem das temáticas pertinentes a mensagem. Já na Unidade II, você irá aprender um pouco mais sobre o livro do Apocalipse, mais especificamente nas formas de interpretação, e na estrutura do livro. A partir do conhecimento da estrutura que se forma o livro, é possível realizar um esboço exegético das temáticas do livro. Em seguida, na Unidade III, estudaremos a respeito da Escatologia Individual com os pontos de vista a respeito da Morte, Estado Intermediário e Ressurreição. Bem como, as posições teológicas a respeito do arrebatamento e do Reino Milenar, que foram sendo formalizadas ao longo da história pelos estudiosos. Na Unidade IV, finalizaremos o conteúdo da disciplina com a abordagem do papel de Israel e a Igreja no panorama escatológico, as perspectivas a respeito da grande tribulação. Estudaremos também a respeito do Juízo Eterno, Galardão e Estado Eterno. Bons Estudos! SUMÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos ● Autoria; ● Propósito do Livro; ● O Contexto Histórico-Cultural; ● Teologia do Livro. Objetivos da Aprendizagem ●Compreender as perspectivas sobre a autoria e data da escrita do livro; ●Estudar a respeito do propósito da composição do livro; ●Entender a importância do contexto histórico cultural na interpretação do Apocalipse; ●Analisar os conceitos teológicos que envolvem a literatura do Apocalipse. 1UNIDADEUNIDADEProfessor Esp. Erison de Moraes Valério APOCALIPSEAPOCALIPSE 7UNIDADE 1 APOCALIPSE INTRODUÇÃO Olá, tudo bem? Seja bem-vindo a nossa Unidade I. Nesta oportunidade, estudaremos o Panorama do Apocalipse de João. Esperoque você esteja com boas expectativas para essa jornada que vamos iniciar. Gostariaque esta introdução aumentasse ainda mais seus anseios para aprender um pouco maissobre a literatura apocalíptica do Novo Testamento.O livro de Apocalipse traz consigo a história da consumação da redenção final.O Reino do Eterno Deus é estabelecido perante toda a criação. Apesar dos Evangelhose Epístolas conterem grande número de profecias, o Apocalipse é o único livro do NovoTestamento que dá ênfase principalmente aos aconte- cimentos proféticos. É conhecidocomo Apocalipse por conta da transliteração da palavra apokalypsis, que significa“revelação”. A linguagem do livro desperta a atenção e a curiosidade por relatar uma série de- visões. Além disso, possui uma linguagem repleta de símbolos e figuras quepotencializam nosso interesse. A pergunta que persiste é: Como entender a mensagemdo Apocalipse? Afinal, quem nunca tentou compreender sua mensagem e se deparoucom obstáculos? Para transpor esses obstáculos, é necessário aprender ascircunstâncias em que o livro foi produzido. Buscando compreender esse panorama queenvolve a história, a cultura e a literatura, podemos obter sucesso.Portanto, neste primeiro tópico da Unidade I, iremos conhecer sobre asperspectivas que envolvem a autoria do livro e o local em que acontecem as revelações.No segundo tópico, vamos analisar o propósito do livro e os motivos pelos quaisfoi escrito. Na ocasião, buscaremos os acontecimentos históricos, que motivaram arevelação e a escrita da literatura apocalíptica.Já no terceiro tópico, o objetivo é aprender sobre o contexto histórico-cultural e avivência religiosa no período histórico das sete igrejas da Ásia Menor. A vida cotidianada igreja, as seitas heréticas e a perseguição pelo Império Romano estão entre osassuntos abordados.Finalizando no quarto tópico, avançamos co- nhecendo a teologia do Livro de Apocalipse em sua mensagem central, estilos literários e análises comparativas entreoutras literaturas apocalípticas não canônicas. Então, vamos lá! Bons Estudos! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8UNIDADE 1 APOCALIPSE AUTORIA E DATA 1 TÓPICO O autor do Apocalipse se identifica simplesmente como João: “Revelação deJesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevementedevem acontecer; e, enviando-as pelo seu anjo, as notificou a seu servo João” (BÍBLIA,Apocalipse 1.1, ARA, 2004). Embora residente na Ásia Menor (ou, antes, Ásia proconsular), João assumeposi- ção de influência entre as igrejas na região. A tradição atribui que João, o filho deZebedeu que permaneceu em Éfeso, era a mesma pessoa identificada como “João, oapóstolo”. Como autor, foi ele que teria recebido a revelação, produzindo os escritos doApocalipse. Segundo afirma LADD (1986, p.8), como é apresentado “o estilo do livropodemos deduzir que ele era um cristão de origem hebraica, conhecendo de ponta aponta o Antigo Testamento. A igreja dos primeiros tempos em geral o aceitou comosendo o apóstolo de Jesus Cristo, o autor do quarto Evangelho.” Existem muitas similaridades notáveis de pensamento e redação entre oEvangelho, segundo João e o Apocalipse. As particularidades, também demonstram o reconhecimento de alguma ligação na autoria dos dois livros. O estilo, a simetria de Apocalipse demonstra que ele foi escrito por um único autor, quatro vezes denomi- nado“João” (Ap. 1.1,4,9; 22.8). Por causa de seu conteúdo e de sua referência às sete igrejas, o Apocalipsecirculou rapidamente e se tornou bastante conhecido e aceito na Igreja primitiva. Ele erafrequente- mente mencionado e citado pelos escritores cristãos dos séculos II e III. 9UNIDADE 1 APOCALIPSE Posteriormente, sendo recebido como parte do cânon dos livros do Novo Testa- mento.Apesar das evidências apontarem para o apóstolo João ser o autor doApocalipse, existem dois posicionamentos que se opõem em relação à sua autoria.Desde o início, o Apocalipse foi considerado uma obra autêntica do apóstoloJoão, que escreveu um Evan- gelho e três epístolas. Isso foi sustentado como verdadeiropor Justino, o Mártir, o Pastor de Hermas, Melito, Irineu, o Cânon Muratoriano,Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes (OSBOURNE, 2014).Esse ponto de vista foi amplamente aceito até a metade do terceiro século. Apartir deste momento, Dionísio apresenta vários argumentos contra a autoria de João ao Apocalipse. Ele observou uma clara diferença no estilo entre Apocalipse e os livros queeram reconhecidos como joaninos. Sua conclusão era que Apocalipse poderia ter si- doescrito por um “João diferente”. Segundo seus argumentos, as evidências internas apontariam algumasdivergên- cias do ponto de vista tradicional. O primeiro posicionamento contrário à autoriade João, fundamenta-se na diferença contida em relação à linguagem grega quandocomparada ao Evangelho de João. Segundo Guthrie (Citado por Osbourne, 2014, p. 4),o autor “faz oposição entre nominativos e outros casos, usa particípios de formairregular, forma orações fragmentadas, acrescenta pronomes desnecessários, fazmistura de gêneros, números e casos, além de introduzir diversas construções nadacomuns”. Conforme Champlim, a linguagem do grego contida nas duas obras, possuialgumas diferenças: O grego do evangelho de João é simples, quase infantil, emboragramatical- mente correto. Mas o grego do livro de Apocalipse é bárbaro, commuitos desacordos quanto ao gênero, além de erros verbais. Foi escrito poralgum judeu que tinha o grego como sua segunda língua, o qual não seinteres- sava especialmente pelos casos gregos, pela concordância em gênero,etc. Pensava ele em hebraico, e algumas de suas declarações só podem ser- compreendidas quando é reconstituído um ‘hebraico tentativo’ (ou aramaico) (CHAMPLIM, 2002, p. 354). Em segundo lugar, observa-se também diferenças no vocabulário e expressõesusa- das. No mais, o conteúdo teológico desse livro difere de outros escritos de João emrelação à ênfase e a apresentação. E em última instância, os outros escritos de Joãoevitam o uso de seu nome, mas nesse livro ele é encontrado quatro vezes (Osbourne,2014).Analisando que, essas dificuldades possam apresentar alguma divergência naautoria de João, obser- vemos dois fatores importantes: Primeiro, é perceptível inúmeras semelhanças notáveis entre Apocalipse e os 10UNIDADE 1 APOCALIPSE outros livros tradicionalmente associados ao apóstolo João. Como exemplo, acon- tece ouso distinto dos termos “verbo, cordeiro, verdade” e o desenvolvimento cuidadoso detemas como “luz e trevas”, “amor e ódio”, “bem e mal”. FIGURA 1 – JOÃO NA ILHA DE PATMOS Depois nota-se que, muitas das diferenças podem ser explicadas pelascircunstân- cias incomuns do livro. Devido à complexidade do conteúdo apocalíptico, aescrita reivindica um tratamento diferenciado. O conteúdo transmitido a João não foi porreflexão, mas sim através de uma série de visões arrebatadoras e espetaculares. Algunsestudiosos também aceitam a possibilidade de João ter um escriba para suavizar o estilogrego na sua forma de escrita. Porém, o exílio em Patmos era um obstáculo para uso detal escriba quando produziu o Apocalipse. 11UNIDADE 1 APOCALIPSE Assim, a evidência interna, embora problemática, não precisa anular o forte eantigo testemunho externo da origem apostólica desse importante livro.A respeito da possibilidade de outro “João” ter escrito o Apocalipse, Osbourne(p. 2) afirma que, “certamente é uma possibilidade, mas ela dependede uma decisãomais importante: será que as diferenças entre o Evangelho e Apocalipse são tãoextraordinárias a ponto de exigirem dois autores distintos?” Existem evidências que possam sustentar a literatura do Apocalipse do NovoTes- tamento, como resultado da escrita do apóstolo João. Quanto às diferenças quepossam conter o Apocalipse e o quarto Evangelho, tornam-se insuficientes quandocomparadas com as similaridades. Conforme já citado anteriormente, existem evidênciashistóricas da aceitação apostólica pelos pais da igreja primitiva (Justino Mártir, Irineu deLion, Tertuliano, Clemente de Alexandria). Tal quesito era fundamental para que o livrofosse considerado canônico (divinamente inspirado). Segundo os estudiosos, semelhanças entre o Evangelho e Apocalipse sãosuficien- tes para fundamentar essa decisão. João e Apocalipse são os únicos dois livrosdo Novo Testamento que defendem a divindade de Cristo, com base no “tema daunidade” entre Deus e Jesus. Segundo Ozanne (Citado por Osbourne, 2014, p.6), no Apocalipse “[...] encontra uma série de termos comuns a João e Apocalipse: ‘con- quistar’,‘guardar a palavra’, ‘guardar os mandamentos’, ‘habitar’, ‘sinal’, ‘testemunho’,‘ver- dadeiro’.” Por conclusão, defende que os elementos linguísticos e gramaticaisindicam grande compatibilidade entre o Evangelho de João e o Apocalipse(OSBOURNE, 2014). Algumas explicações são atribuídas para elucidar as possíveis diferençaslinguísti- cas entre as duas obras, como a presença de um escrevente, que poderia terauxiliado na construção de do gênero apocalíptico, além dos efeitos que as visõesteriam provocado no autor no momento em que registrava.Segundo Osbourne (2014, p. 5), as “[...] profundas experiências de visõesrecebidas em êxtase, logicamente afetariam o estilo do texto de uma pessoa [...], percebe que, entre João e Apocalipse, existe a mesma quantidade de semelhanças e dediferenças. Provavelmente, o livro de Apocalipse foi escrito por volta de 95 a 96 DC,durante a última metade do reino do Imperador Domiciano, o último dos doze CésaresRomanos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12UNIDADE 1 APOCALIPSE 2 PROPÓSITO DO LIVRO TÓPICO O propósito do livro de Apocalipse revela-se no prólogo, quando afirma: “[...] que- Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer, eque ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João” (BÍBLIA,Apocalipse 1,1 ARA, 1993). Apesar da grande maioria de seu conteúdo conter descrições de acontecimentosfuturos, percebemos um propósito histórico e contextual.A Revelação de João acontece no momento em que os cristãos, pela sua fé noCristo ressurreto como Senhor, eram alvos das perseguições do império Romano. Apreocupação contida na revelação, direcionada aos leitores primários das sete igrejas daÁsia, é proporcionar consolo, esperança, encorajamento e estimulá-los a permaneceremfiéis no tempo obscuro que viviam de perseguição e sofrimento.Casagrande (2017, p. 177), corrobora com a ideia e propósito da escrita emtrazer consolo e esperança à igreja, [...] ele desperta o leitor a esperança. Tais visõesrevelam que o futuro não está perdido, pelo contrário, será vitorioso sobre todas asvicissitudes”. Porém, a mensagem também possuía objetivos futuros, conforme oescritor revela: “Escreve, pois, as coisas que viste, e as que são, e as que hão deacontecer depois destas” (BÍBLIA, Apocalipse 1,1 ARA, 1993). Além de um desígnio histórico para o contexto da época, o Apocalipse possuium propósito superior demonstrando a soberania de Deus durante toda a história. Apromessa de Deus em uma redenção total e futura, cujos acontecimentos culminaramem torno de Sua pessoa. A autoridade universal de Cristo é apresentada em todo o livro,como o “Alfa e o Ômega” (Ap. 1.8 e 22.13) de toda a humanidade. 13UNIDADE 1 APOCALIPSE Outros propósitos do livro são associados ao propósito principal, fazendo ligaçãoentre os acontecimentos presentes e futuros. Primeiro, durante todo o livro, o próprio Jesus Cristo alerta para os princípiosmorais e a retidão que devem ser mantidos por parte da igreja. As promessas de reinovindouro contêm essas exortações, em expressões como, “Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (BÍBLIA, Apocalipse 3.11,ARA, 1993). “Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono”(BÍBLIA, Apocalipse 3.21, ARA, 1993). “[...], para que lhes assistam o direito à árvore davida, e entrem na cidade pelas portas. Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, osassassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira” (BÍBLIA, Apocalipse22.14-15, ARA, 1993). Segundo Champlim (2002, p. 220), o autor “[...] tencionava ensinar muitas liçõesmorais à igreja, corrigindo vários lapsos e erros, além de encorajar as igrejas da ÁsiaMenor, e através disso, a igreja cristã inteira.” Portanto, o autor revela as promessas derestauração completa por conta da vinda do Senhor (gr. parousia), concomitante àquelesque guardarem sua fé no Salvador. Em segundo lugar, intentava para os eventos dos “últimos dias” e a condiçõesque circundavam os acontecimentos horrendos relacionados a grande tribulação.Estudiosos afirmam que João acreditava que tais acontecimentos ocorreram naquelestempos apostólicos, por conta da terrível perseguição que viviam sob o Império Romano. Afinal, não se pode atualizar tal mensagem para a contemporaneidade, sem entenderseus objetivos para a época em questão. Pohl (1996, p.14) afirma, “com toda a certeza a palavra profética também sealonga para além daquela época, mas a interpretação do Apocalipse forçosamentefracassará se sua importância para os primeiros destinatários for negligenciada”. Com a finalidade de compreensão de seu propósito universal, é imprescindível oconhecimento do contexto oriundos da escrita do livro de Apocalipse. Desta forma,descortinará as circunstâncias de sua revelação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O CONTEXTO HISTÓRICO- CULTURAL TÓPICO UNIDADE 1 APOCALIPSE 14 3 O apóstolo João, inicia seu texto com uma mensagem oriunda do próprio Cristores- surreto às sete igrejas da província romana da Ásia. A série de mensagens àsigrejas, inicia nos capítulos 2 e 3. Começam com a igreja em Éfeso, uma das cidadesmais importantes da região, e prosseguem em sentido horário, finalizando com a igrejaem Laodicéia. Cada mensagem possuía em seu conteúdo, um significado particular aigreja que foi direcionada, porém, elas possuíam uma relevância para a igreja em suauniversalidade, “quem tem ouvi- dos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (BÍBLIA,Apocalipse 2.7, ARA, 1993). 3.1 O Culto ao Imperador Romano e a Perseguição O culto ao imperador é uma realidade no período histórico que governou oscésares. Nos anos que seguiram após a morte de Cristo, ocorreram perseguiçõesexclusivas e com destino aos cristãos. Contudo, o apóstolo João, vislumbrou uma novarealidade em relação à imposição ao culto do imperador e preparou a igreja para estanova realidade. Desde 86 d.C., o imperador Domiciano, exige para si a veneração como deus,orde- nando que se referisse a ele como “dominus et deus” (Senhor e Deus). A atribuiçãodivina requer a sua própria pessoa, tudo que é inerente a Deus. Tal confissãodemonstrava um teste de lealdade. [...] É possível que alguns cristãos tentaram evitar a situação difícil em que isso os colocava refugiando-se nas sinagogas, onde,nesse aspecto, ainda se aplicavam algumas exceções legais tradicionais concedidas aos judeus. Isso 15UNIDADE 1 APOCALIPSE talvez ajude a explicar as visíveis tensões entre judeus e cristãos nas cartas às sete igrejas (CARSON; MOO; MORRIS; 2007, p. 529). Com relação a Domiciano, Pohl, (1996, p. 15) declara: "no ano 86 deter- minou,como primeiro imperador romano, ser oficialmente chamado de Deus, o Senhor. Seupalácio era considerado um santuário, seu trono uma sede divina”. Por conta disso, o cristianismo torna-se uma religião perseguida. O estilo de vidados cristãos é contrário à cultura do império. Como consequência, praticavam o cultomonoteísta e não aceitavam o culto ao imperador. Por isso, tornam-se inimigos doImpério Romano. FIGURA 2: DE PEDRO NA IGREJA DE SAN PABLO POR ANTONIO GLACERAN E JERÔNIMO DE MORA (1596). Viver o cristianismo nessa época tornou-se um perigo mortal. Por conta da suafé, poderiam perder seus bens e sofrer martírio mediante uma simples acusação. O testemunho eficaz de João sobre Cristo, levou as autoridades romanas aexilarem na pequena e solitária ilha de Patmos, no mar Egeu (Ap. 1.9). Essa ilha de rocha vulcânica era um dos muitos lugares para onde os romanosbaniam os criminosos transgressores políticos. 16UNIDADE 1 APOCALIPSE 3.2 A Religião O livro do Apocalipse apresenta um retrato religioso e social, que proporciona aoleitor um ótimo panorama do contexto. Percebe-se que as sete igrejas da Ásia, sofriamhostilidade por dois aspectos distintos — no âmbito judaico e pelo Império Romano. As relações entre a religião judaica e a igreja, que não foram cordiais desde oinício, se agravaram nos últimos vinte anos do século I. O judaísmo desfrutava deprerrogativas especiais que os romanos favoreciam somente aos judeus: a liberdadepara exercer seu culto monoteísta não adorando os deuses romanos, nem participandodos cultos greco- romanos. O cristianismo era considerado uma ramificação do judaísmo,e se favoreceu desse privilégio até a Revolta Judaica (66-70 d.C.). O judaísmo, porém,procurava gradativamente romper as ligações com o cristianismo, com o objetivo defazer com que o Império Romano declarasse, que o cristianismo não estava desobrigadoem prestar culto ao imperador. Os cristãos padeciam com a intimidação econômica e social para envolver-se noestilo de vida romana, incluindo as organizações de classe, festas e cultos idólatras,além do culto ao imperador. Quando os cristãos se recusavam a participar, naturalmente atraíam muitaantipatia. Essa situação se reflete nas sete cartas, na “tribulação” que os cristãos deEsmirna estavam experimentando (Ap. 2.9). A tribulação se intensificara a ponto deserem presos e mortos (Ap. 2.10; 13.10). O Apocalipse apresenta uma realidade que contrariava a vivência predominanteno mundo romano. Numa esfera transcendente, a igreja apostólica era parte de umacontracul- tura e estava disposta a sofrer por ela. Por conta disso os cristãos eram também odiados por muitos, pois suas vidascons- tituíam permanente condenação dos costumes e da conduta moral dos pagãos. Em toda parte, havia muita coisa que distinguia um cristão dos vizinhos pagãos. Eles se tratavam mutuamente por irmãos em Cristo, e realmente agiam como irmãos.Cui- davam diligentemente dos órfãos, dos doentes, das viúvas, dos desamparados. Ascoletas e a administração dos fundos de caridade constituíam uma das partes maisimportantes da vida dessas igrejas primitivas. Dentro da Igreja todas as distinções foramabolidas. Escravos e senhores foram nivelados. As mulheres alcançaram uma posiçãode honra e de influência que jamais haviam conseguido na sociedade profana. Distinguiam-se também os cristãos por um fervor e pureza moral jamais conhecidos emqualquer parte.Duas influências levaram os cristãos do primeiro século a cair em alguns errosdoutrinários, que de certo modo, ameaçavam a pureza do Evangelho. 17UNIDADE 1 APOCALIPSE Nas sete cartas àsigrejas da Ásia, percebemos algumas repreensões oriundas do Cristo Ressurreto, pelaadesão a algumas dessas práticas que assolavam a igreja. Provavelmente, cristãojudeus provenientes de Jerusalém buscavam incorporar ao Cristianismo regras ecerimônias exigidas pela Lei judaica. Eles foram nomeados de “judaizantes”. Essadivergência doutrinária foi tratada nas décadas anteriores, em Atos 15, por conta dogrande número de conversões em Antioquia. A questão buscava entender, se um judeuconvertido ao cristianismo deveria cumprir alguns preceitos do Judaísmo. A decisão do Concílio de Jerusalém, descrito em Atos 15, resultou que, o judeunão necessitaria cumprir os ritos da lei judaica ao aderir ao Cristianismo. Vejamos: Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ído- los, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes (BÍBLIA, Atos 15.28,29, ARA, 1993). A divergência com a doutrina dos judeus é perceptível em todo NovoTestamento. Eles se tornaram o maior adversário dos cristãos, além de causarem muitasadversidades e superarem os romanos. Os judeus promoviam ações contra os cristãosjunto ao império, uma vez que este recebia a denúncia perseguia os cristãos. Na carta à igreja de Esmirna, em Apocalipse 2.9, Jesus Cristo utiliza o termo“sinagoga de Satanás”, com referência “a blasfêmia dos que se dizem judeus, mas nãosão”. Segundo Osbourne (2014, p. 145), [...] a alegação desses judeus de serem povode Deus é anulada pelo fato de eles serem instrumentos de Satanás contra o verdadeiropovo de Deus, a igreja. Essa afirmação é feita com frequência no Novo Testamento.” A palavra “blasfêmia” (gr. βλασφημίαν) empregado nesta descrição, pode terreferência a difamação da pessoa de Cristo e seus discípulos, por parte dos judeus daépoca. Champlim em sua obra Novo testamento Interpretado, cometa acerca dosignificado mais exato desta afirmação: Justino Mártir acusou que os judeus, nas suas sinagogas, amaldiçoavam em público a todos quantos confiassem em Cristo. Tertuliano mostra-nos como os judeus instigaram ativamente a perseguição contra os cristãos e, Eusébio em sua História Eclesiástica, demonstra a mesma coisa (CHAMPLIM, 2002, p. 396). 18UNIDADE 1 APOCALIPSE 3.3 Doutrinas divergentes ao Cristianismo 3.3.1 O Gnosticismo Encontramos no Novo Testamento advertências solenes contra os erros dochamado Gnosticismo. Esta seita surgiu no século I, tornando-se muito poderosa nosséculos vindouros. Seus ensinamentos construíam uma estranha mistura de ideiascristãs, judaicas e pagãs. Por combinar tais preceitos, era confundido com algumaspráticas cristãs, ocasionando problemas doutrinários expressivos à igreja dos primeirosséculos. Seus ideais consistem em alcançar um conhecimento autêntico maior, quepossibilitaria a salvação. Através de uma sabedoria esotérica proveniente das religiõesde mistério dos gregos, afirmavam que aqueles que tinham contato com o material, demodo nenhum poderiam alcançar algo espiritual. O objetivo era a salvação da alma.Champlim (2006, p. 919), explica que a alma “[...] é a parte imaterial do homem, destemundo material, incluindo nossos corpos físicos, seria inerentemente má, totalmenteincapaz de redenção”. Seus preceitos distanciavam-se da doutrina cristã, pois negava que Deus fosseo Criador do mundo e dos homens, como também negava que Cristo tivesse tido umavida física real. 3.3.2 A doutrina de Balaão A doutrina refere-se ao profeta gentio Balaão consultado por Balaque, rei deMoabe que ordenou proferir maldição ao povo hebreu. Essa história se encontra no Livrode Números capítulos 22 ao 24. Fazendo oposição a Balaque, o profeta Balaãopronunciou várias bênçãos, porém, o livrode Números 25.1-3, descreve os israelitassucumbindo a imoralidade, com mulheres pagãs e à idolatria pela adoração a Baal: Ora, Israel demorava-se em Sitim, e o povo começou a prostituir-se com as filhas de Moabe, pois elas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu, e inclinou-se aos seus deuses. Porquanto, Israel se juntou a Baal- Peor, a ira do Senhor acendeu-se contra ele (BÍBLIA, Números 25.1-3, ARA, 1993). Segundo Champlim (2002, p. 402), Balaão conduziu os hebreus a união com opa- ganismo: “[...] por não poder ‘amaldiçoar’ ao povo de Israel, Balaão tentou corrompê-lo, e isso levando seus varões a ter relações sexuais com mulheres moabitas”.Tal pecado foi atribuído ao conselho do profeta gentio: “Eis que estas foram asque, por conselho de 19UNIDADE 1 APOCALIPSE Balaão, fizeram que os filhos de Israel pecassem contra o Senhorno caso de Peor, pelo que houve a praga entre a congregação do Senhor” (Bíblia,Números 31.16, ARA, 1993). No contexto do Apocalipse, a doutrina de Balaão refere-se aos praticantes daimo- ralidade sexual e a liberalidade à prática da idolatria comum aos pagãos. A imoralidade tornou -se algo desejável, como se tivesse ‘finalidades boas’ no seio da igreja cristã. Em outras palavras, a ‘mentalidade pagã’, no tocante às questões sexuais e outras, tornou-se a mentalidade prática e a doutrina da igreja dali (CHAMPLIM, 2002, p. 402). As palavras gregas utilizadas na passagem de apocalipse 2.14 (gr. βαλεῖνσκάνδαλον, balein skandalon, “pedra de tropeço”), possui o sentido de induzir alguém aprática de apos- tasia, ou seja, induzir alguém ao erro. Osbourne (2014, p.159), interpretatal passagem da seguinte forma: “Os dois aspectos de seu ‘ensino’, idolatria eimoralidade, se relacionam mais com a prática do que com a doutrina [...]. O autor do livro descreve as práticas dos seguidores de Balão, fazendoreferência a “comer das coisas sacrificadas a ídolos”, “praticar idolatria” e “seprostituírem”. Tais atitudes remanescentes, foram consideradas proibidas aos novosconvertidos gentios pelo Concílio de Jerusalém conforme Atos 15. É bem provável queos seguidores da doutrina de Balaão procuravam incorporar esses comportamentos noCristianismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 TEOLOGIA DO LIVRO DE APOCALIPSE TÓPICO UNIDADE 1 APOCALIPSE 20 O tema teológico central do Apocalipse é a soberania de Deus nos eventos ao- longo da história. Percebemos essa evidência, através dos relatos de suatranscendência em relação ao mundo criado. O título “Todo-Poderoso”, ocorre novevezes designando a onipotência de Deus, não somente na história da humanidade, masem relação às forças do mal (OSBOURNE, 2014). O controle universal do Todo-Poderoso é declarado nas expressões queaparecem ao longo do livro, como, “daquele que é, e que era, e que há de vir” (Ap. 1.8)e, “Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, e que era, e que há devir, o Todo-Poderoso”. Além de que: Os primeiros capítulos colocam lado a lado dois cenários: celestial (cap. 1; 4; 5;7) e terreno (cap. 2; 3; 6; 8; 9). Os cenários do céu tipificam adoração, alegria,paz e triunfo, ao passo que os da terra evocam dificuldades, caos, apostasia ejuízo (OSBOURNE, 2014, p.35). A Cristologia no livro, reflete a obra final através da unificação das bênçãos desua obra redentora. Nos três primeiros capítulos encontramos as descrições em torno doCristo Glorificado. O livro retrata Jesus Cristo como “a Fiel e verdadeira Testemunha” (Ap 1.5),ex- pressão também utilizada nos capítulos (3.14) na carta a Laodicéia e, por fim, em(19.11) atribuindo a ele a qualidade de verdadeiro. 21UNIDADE 1 APOCALIPSE O termo grego aqui traduzido por testemunha, também pode significar ‘már- tir’embora seu significado original fosse, realmente, “testemunha”. O presen- te textonão parece indicar a ideia de “mártir”. Testemunha, porém, é palavra que secoaduna com as exigências do contexto. É mister que uma testemu- nha sejainerentemente veraz e fiel, cumprindo sua missão segundo essas qualidadespessoais. Uma testemunha de nada vale, se não disser a verdade (CHAMPLIM,2002, p. 430). O primogênito dentre os mortos refere-se a sua morte e ressurreição, sendo oprimei- ro dos mortos a ressurgir e ser glorificado, abre caminho para os demais. Assim,podemos trazer dois destaques em especial: [...] Jesus é soberano sobre a vida e a morte, ideia que nos prepara para verJesus como o juiz escatológico (20.14; 21.4), uma autoridade que elecom- partilha com o Pai, e também é o protótipo daqueles que com ele haverão deressuscitar (2.7,11; 20.6; 22.2,3,14,17) (OSBOURNE, 2014, p. 39). O título de “Cordeiro” é aplicado a Cristo no livro de Apocalipse 29 vezes, das 30menções encontradas no Novo Testamento. Osbourne (2014, p. 39), declara que “é um- título que se volta totalmente para a grandiosa vitória escatológica de Cristo comocordeiro pascal sobre a cruz.” A primeira citação acontece no capítulo 5.16: “um Cordeiroem pé, como se tivesse sido morto”, retratando a obra redentora na cruz. Portanto, a soberania de Deus confere ao Salvador ressurreto autoridade como“a- quele que reina sobre os reis da terra”. São eles, os inimigos de Cristo (Ap 10.11;17.18) que serão derrotados por ele (6.15; 18.9; 19.18) e no final levarão sua glória paraa Nova Jerusalém, em Apocalipse 21.24 (OSBOURNE, 2014). Outra característica manifesta no livro é o encorajamento à fidelidade por partedos santos. A ética e a moralidade são condutoras da mensagem apocalíptica. Éintrínseco, não apenas os incentivos, mas advertências ao homem mudar de atitude. EmApocalipse 1.19, a perseverança é atestada pelo autor em sua prisão na ilha de Patmos. A primeira menção acontece na mensagem dirigida à Éfeso, em Apocalipse2.2,3, como um elogio à perseverança em suportar os “homens maus”, ou seja, os falsosmestres. Na igreja de Tiatira, em Apocalipse 2.19, a perseverança é enaltecida pelasobras realizadas. A perseverança na mensagem das sete igrejas da Ásia referem-se aosvencedores, ou aos vitoriosos. Aos que mantêm o testemunho fiel e verdadeiro, sãodirigidas as promes- sas escatológicas: ● “O que vencer, de modo algum sofrerá o dado da segunda morte” (BÍBLIA, Apocalipse 2,11 ARA, 1993); 22UNIDADE 1 APOCALIPSE ● “Ao que vencer darei do maná escondido, e lhe darei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe” (BÍBLIA, Apocalipse 2,17 ARA, 1993); ● “E ao que guardar as minhas obras até o fim, eu lhe darei autoridade sobre as nações” (BÍBLIA, Apocalipse 2,26 ARA, 1993); ● “O que vencer será assim vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; antes confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos” (BÍBLIA, Apocalipse 3,5 ARA, 1993); ● “A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, donde jamais sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, da parte do meu Deus, e também o meu novo nome” ((BÍBLIA, Apocalipse 3,12 ARA, 1993); ● Ao vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono” (BÍBLIA, Apocalipse 3.21 ARA, 1993). Em outras passagens no livro de Apocalipse, são mencionados aqueles queperseveraram, e estes receberão a coroa por manter a santidade e os princípios morais do Eterno: Aquele que vencer herdará estas coisas; e eu serei seu Deus, e ele será meufilho. Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aoshomicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos osmentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segundamorte (BÍBLIA, Apocalipse 21.7-8, ARA, 1993). 4.1 O estilo literárioO início do livro de Apocalipse, transparece distinguir três estilos literários:“apocalipse”, “profecia” e “epístola”. Existem estudiosos defensores de cada um dosestilos, com uma importância ímpar dentro da literatura do Apocalipse. Embora reconheça claramente a diversidade entre a profecia e o estiloapocalíptico como dois gêneros literários, a semelhança leva os estudiosos a afirmaremque o apocalíptico seria uma espécie de “continuidade” da profecia. Esta nova forma deexpressão ocorre como um “substituto” que ocorreu no judaísmo, depois do períodoprofético. Há uma diferença notável entre as duas quanto à forma. Via de regra, a profeciaera composta de oráculos breves, orais e frequentemente poéticos, que eramproclamados e 23UNIDADE 1 APOCALIPSE só mais tarde escritos. O apocalíptico era literário quanto à forma desdeo princípio. “A profecia tem certo tom de otimismo (se a nação se arrepender, nãohaverá julgamento), mas a apocalíptica tende a ser pessimista (a única esperança estáno futuro e não no presente)” (OSBOURNE, 2014, p. 14). Além disso, o livro contém em sua literatura, a forma epistolar na mensagem asigrejas da Ásia nos capítulos 2 e 3. É predominante na linguagem, a conjugação doverbo em terceira pessoa, como característica da mensagem profética de Jesus Cristo.Por exemplo: “Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meiodos sete candeeiros de ouro” (BÍBLIA, Apocalipse 2.1 ARA, 1993). É manifesto que o Apocalipse é reconhecido com o estilo apocalíptico, apesar deconter outros aspectos literários. A apocalíptica tenta chegar aonde à profecia não mais consegue, ou melhor, éuma profecia de longo alcance que tenta trazer o céu para a terra ou levaralguém para espiar o céu e contar para os demais por meio de visões”(CASAGRANDE, 2017, p.128). O apóstolo João, autor do Apocalipse do Novo Testamento, apresenta umalinguagem que aparenta o dualismo, de conflito entre as forças do bem e do mal. Adiferença entre os outros apocalipses judaicos e pseudoepigráficos, está na abordagemdada a soberania e transcendência de Deus em relação aos poderes demoníacos. Alémdisso a literatura apocalíptica de João, possui uma linguagem que contém símbolos que,outrora, são interpretados pelo próprio autor: “e foi precipitado o grande dragão, a antigaserpente, que se chama o Diabo e Satanás, que engana todo o mundo; foi precipitadona terra, e os seus anjos foram precipitados com ele” (BÍBLIA, Apocalipse 12.9, ARA,1993). 4.2 Canonicidade do livro O Apocalipse do Novo Testamento é assegurado como obra canônica(divinamente inspirado) e apostólica, desde a época mais antiga da história da igreja,com início em Her- mas, no início do século II d.C, até Orígenes, no começo do século IIId.C. O livro de Apocalipse possuía grande aceitação como qualquer outro livro doNovo Testamento, porém, houve aqueles que o rejeitaram. Por exemplo, Apocalipse nãoconstava na lista do cânon do Concílio de Laodicéia no Ano de 360 d.C., além de nãoser incluído nas liturgias da igreja oriental da Peshita, a Bíblia siríaca. (OSBOURNE,2014). Acerca dessas rejeições da canonicidade do livro, D.A Carson e Leon Morrisafir- mam que: 24UNIDADE 1 APOCALIPSE [...] essas rejeições de Apocalipse ocorridas aqui e ali na igreja ocidental nãoafe- taram sua canonicidade, e a partir do momento não há, no Ocidente,nenhuma sombra de dúvida quanto à plena condição canônica de Apocalipse(CARSON; MORRIS, 2007, p. 536). No Concílio que aconteceu em Cartago no ano de 397 d.C, Atanásio inclui oApo- calipse de João como sendo parte do Cânon oficial do Novo Testamento, formandoassim, vinte e sete livros canônicos. Posteriormente, ocorre uma maior aceitação do livrono oriente e, no ano de 680 d.C., o Apocalipse foi considerado canônico no Concílio de Constantinopla. 4.3 Literaturas apocalípticas não canônicas A teologia encontrada no Apocalipse do cânon do Novo Testamento, éconsideravelmente diferente dos apocalipses não canônicos. O Apocalipse de João,assim como os outros não canônicos, foram escritos em épocas de perseguição.Entretanto, os não canônicos possuem uma narrativa que evidencia a pior situação desua cultura contemporânea, mas não atribui esses eventos a Deus. O Apocalipse de João é repleto de fé e esperança, de cânticos de alegria pelacerteza da vitória final. Em contrapartida, os apocalipses pseudoepígrafos, revelavamsomente uma avaliação pessimista da cultura contemporânea. O termo“pseudoepigráficos”, “[...] significa que ‘em honra’ a alguma antiga personalidadefamosa, um livro foi escrito por outrem, aproveitando-se do prestígio do nome daquelapersonalidade, a fim de perpetuar sua tradição” (CHAMPLIM, 2002 p. 352). Neste tipo de literatura apocalíptica, a maldade predominava em qualqueroportunidade, remetendo a ideia de triunfo sobre o povo de Deus. O controle totalaparentava ter sido obtido pelos poderes demoníacos.Essas literaturas não inspiradas consideravam um tipo de dualismo, poisapresentavam os acontecimentos apocalípticos como um conflito cósmico entre o bem eo mal. As literaturas apocalípticas não-canônicas mais conhecidas são: ● O livro de Enoque, que é geralmente designado como I Enoque, erao mais impor- tante dos livros pseudoepigráficos. Vejamos o que afirma CliftonAllen em seu comentário bíblico: [...] Deus lhe havia dado a revelação e um anjo lhe havia mostrado uma visão ehavia explicado tudo o que viria a acontecer no futuro. Os anjos haviam- seenamorado das filhas dos homens, e por isso haviam caído à terra e causado omal entre os homens. [...] Ele perscrutou o Sheol, e discerniu as suas divisões.Uma desordenada curiosidade a respeito do calendário levou 25UNIDADE 1 APOCALIPSE a uma divisão dahistória em dez períodos, dos quais o sétimo, caracterizado pela apostasia, haviachegado. O oitavo período era esperado para logo, e seria cheio de justiça. Osímpios seriam destruídos durante a nona era, em preparação para a décima, quetraria novos céus e terra (ALLEN, 1987, p. 286). ● Os Testamentos dos Doze Patriarcas haviam sido escritos no período de 109-107 a.C. Tipicamente pseudepigráficas, apresenta-se como sendo escrito pelos doze filhos de Jacó; ● O Apocalipse de Esdras, que recebe a nomenclatura de IV Esdras. Consiste de sete visões supostamente tidas por Esdras na Babilônia, mas, na verdade, relacionadas com a última parte do primeiro século cristão. Retrata o pensamento judeu à luz da queda de Jerusalém diante dos romanos, em 70 d.C. 4.4 Diferenças importantes As diferenças entre o Apocalipse de João e os outros apocalipses não canônicos- são mais acentuadas do que as possíveis similaridades. Vejamos: ● No apocalipse de João, o conflito dualista é apresentado de um ponto de vista inferior a pessoa de Deus, e nunca se abdica da soberania do Deus Eterno. A transcendência de Deus, apresentada é sublime e remete a exaltação. Portanto, não apresenta indícios de ausência ou desinteresse de Deus em relação a criação, como sugere algumas obras apocalípticas pseudoepigráficas; ● A linguagem de mistério que possam remeter a incompreensão no livro, não apontam para o esoterismo dos apocalipses não-canônicos. O autor se empenha para que haja entendimento apesar da complexidade de seu conteúdo (BROADMAN, 1987); ● Um dos critérios de canonicidade é que seu autor seja conhecido. No caso do Apocalipse, o autor é João. Ele utiliza o seu nome no início do livro e escreve aos cristãos das sete igrejas da Ásia, que anteriormente o conheciam. As literaturas pseudoepigráficas utilizavam o nome de um autor, que em sua maioria, constituía vários autores. Portanto, o Apocalipse de João não é pseudoepígrafo; 26UNIDADE 1 APOCALIPSE ● O Apocalipse de João demonstra a obra redentora em uma linguagem cristológica quedifere do apocalípticos que apresentam elementos do judaísmo; ● Em relação aos conceitos morais e éticos, Broadman afirma: “Uma ênfase diferente acerca da ética é perceptível. Os profetas tinham umaprofunda apreciação pelas escolhas e pelo procedimento dos homens comofatores determinantes do futuro. Os apocalípticos, crendo que o futuro já haviasido determinado conforme outros padrões, surpreendentemente ficavam adesejar em termos de exortações de natureza ética” (BROADMAN, p. 288); ● O sofrimento da humanidade tem uma abordagem diferente quando relacionado às literaturas apocalípticas não-canônicas. Nota-se uma espécie de dualismo com o confronto entre a ordem e o caos, o pecado e a queda dos homens e dos anjos. Além disso, ocorre o conflito de Deus e seus exércitos celestiais, contra Satanás e seus anjos. Além disso, a resultante do sofrimento ocorre através da atuação dos poderes malignos, tomando o ser humano como sendo indefeso; ● A revelação do Apocalipse de João, revela um conceito divergente acerca do sofrimento. As decisões morais baseadas na fé do Salvador Ressurreto, podem vencer o sofrimento. A obra redentora de Cristo obteve a vitória sobre o pecado e aqueles que permanecem fiéis, podem desfrutar da vitória final apesar do sofrimento. João estabelece equilíbrio entre a história da queda do homem e seus sofrimentos com a esperança escatológica. Tal conceito de esperança e vitória final é ausente nos apocalipses não-canônicos (BROADMAN, 1987); ● Inúmeros apocalipses judaicos e cristãos não-canônicos propiciam uma fonte literária ampla. Porém, O livro de Daniel é a fonte mais importante de informação para a interpretação do Apocalipse de João, visto que ele oferece uma similaridade grande com as figuras utilizadas pelo seu autor João. Os dois grandes livros que contém similaridades são Daniel e Apocalipse. Porémnu- merosas passagens apocalípticas aparecem na Bíblia, tais como Isaías 24-27, Marcos13 e II Tessalonicenses 2:1-12. Os Evangelhos do Novo Testamento têm um aspecto fortemente apocalíptico. 27UNIDADE 1 APOCALIPSE Você sabia que é possível visitar a ilha onde João escreveu o Apocalipse? Naprová- vel localização descrita no capítulo 1 e versículo 9, existe uma gruta que segundoa tradição local, acredita ser o local exato onde foi escrito o Apocalipse. Apesar de nãohaver compro- vação que o local seja exatamente onde acontecem as revelações, o vídeodisponível no link abaixo mostra detalhes dessa fascinante ilha. Acesse o Link:https://www.youtube.com/ watch?v=7rjHt7wjj0A Para cada carta às sete igrejas da Ásia, o nome e a representação de JesusCristo possuem uma aplicação prática para a realidade que viviam. Citações como: “Istodiz o primeiro e o último, que foi morto e reviveu”, “aquele que tem a espada aguda dedois gumes”, demonstram o senhorio e a soberania do Salvador, além de trazer umaexortação aos seus ouvintes. Fonte: O Autor (2022). https://www.youtube.com/watch?v=7rjHt7wjj0A https://www.youtube.com/watch?v=7rjHt7wjj0A 28UNIDADE 1 APOCALIPSE CONSIDERAÇÕES FINAIS Estamos encerrando nossa primeira unidade de estudo. Meu desejo é que vocêstenham aprendido bastante sobre o panorama do Apocalipse. Entendo que o assunto écomplexo e demanda muito mais dedicação e pesquisa. Com a finalidade de aprofundarseus conhecimentos, incentivo que se aprofundem um pouco mais no assunto, atravésde artigos científicos, dicionários teológicos, enciclopédias, livros e obras sistemáticas.Como consequência, você terá mais ferramentas para obter uma interpretação saudávelda mensagem do livro. Sendo assim, vamos finalizar alguns assuntos tratados, como por exemplo aperseguição dos cristãos e a religião da igreja primitiva. Estudamos o propósito e asquestões que impulsionaram João a escrita do texto. A revelação acontece no momentoem que os cristãos passavam por perseguições pelo império, portanto, conseguimosidentificar o propósito histórico da revelação do Apocalipse. Jesus Cristo se dirige,primeiramente, às sete igrejas da Ásia com uma mensagem contextual para suarealidade. Encontramos momentos de repreensão, conforto e elogios. Porém a mensagem traz revelações através das visões, que apontam paraacontecimentos majestosos que provavelmente acontecerão no futuro, ou seja, odesfecho da história da redenção com o Reino Eterno. Sobre este assunto falaremos umpouco mais na Unidade II. A mensagem teológica do Apocalipse trata como tema central a soberania deDeus nos momentos de perseguição, até o momento final. A obra redentora de Cristoressurreto é apresentada em diversos pontos da obra, como Deus sublime e exaltado. Oestilo apocalíptico presente na obra, apresenta o juízo não de forma pessimista, sob aperspectiva de um Deus ausente e distante. Além disso, revela a intenção dealinhamento moral segundo seus princípios, com a mensagem de arrependimento parasalvação que sobrepõe o sofrimento. Espero que tenha sido um tempo proveitoso e desejo a você ótimos estudos! Até a próxima unidade! 29UNIDADE 1 APOCALIPSE LEITURA COMPLEMENTAR O chamado para o martírio em Apocalipse: as sete igrejas da Ásia O artigo traz uma abordagem importante sobre o martírio e a perseguiçãopresentes no contexto da escrita do Apocalipse, em especial as sete igrejas da Ásia. Otrabalho elucida questões básicas dos motivos da perseguição e o posicionamento doscristãos da época em relação ao martírio. Fonte: LIMA, LEANDRO A. O chamado para o martírio em Apocalipse: as sete igrejas da Ásia. FidesReformata. São Paulo: Editora Mackenzie, v. 26, n. 1, 2021.Disponível em: https://cpaj.mackenzie.br/wp-content/uploads/2021/07/Fides-26-1-1-O-Chamado-pa- ra-o-Martirio-em-Apocalipse-Leandro-Lima.pdf Acesso em: 13 out. 2022. https://cpaj.mackenzie.br/wp-content/uploads/2021/07/Fides-26-1-1-O-Chamado-para-o-Martirio-em-Apocalipse-Leandro-Lima.pdf https://cpaj.mackenzie.br/wp-content/uploads/2021/07/Fides-26-1-1-O-Chamado-para-o-Martirio-em-Apocalipse-Leandro-Lima.pdf 30UNIDADE 1 APOCALIPSE MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Apocalipse para todos Autor: N.T. Wright. Editora: Thomas Nelson Brasil. Sinopse: Muitos consideram Apocalipse o livro mais difícil do Novo Testamento. Eleestá cheio de imagens estranhas, sinis- tras e, às vezes, violentas. Como resultado, aspessoas que se sentem seguras nos Evangelhos, em Atos e nas Cartas Paulinas seveem pisando em ovos em torno do último livro da Bíblia, com a sensação de que nãopertencem a esse lugar. Mas elas perten- cem! Apocalipse oferece uma das visões maisclaras e nítidas a respeito do propósito final de Deus para toda a criação. Nesse livrovemos como as poderosas forças do mal podem ser e estão sendo derrubadas por meioda vitória de Jesus, o Messias, que continua a inspirar e fortalecer seus seguidoresatualmente. FILME Título: O Apocalipse Ano: 2000. Sinopse: 90 d.C. O Imperador Romano Domitiano lançou uma campanha bárbara contra os cristãos. Mantido como refém pelos romanos na ilha de Patmos, o velho apóstolo João luta para salvar a Cristandade da extinção, en- viando cartas às comunidades cristãs. Determinada pela vontade de conhecer a última testemunha vivada paixão de Cristo, a jovem cristã Irene consegue ter acesso à cela de João.Confiando-lhe suas anotações escritas de suas visões, João implora a Irene para queespalhe a mensagem entre os cristãos. Estas visões formam o conteúdo do Livro dasRevelações. Para alguns, elas evocam o fim do mundo, para outros, apontam para asdificuldades espi- rituais que os cristãos enfrentam em todas as épocas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos ● Métodos de Interpretação; ● Estrutura; ● Esboço Exegético do Livro. Objetivos da Aprendizagem ●Estudar os métodos de interpretação para o livro de Apocalipse; ●Compreender a estrutura do livro e suas abordagens; ●Entender a mensagem e as divisões através de um esboço exegético do Apocalipse. 2UNIDADEUNIDADE INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURAINTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA Professor Esp Erison de Moraes Valério DO LIVRO DE APOCALIPSE DO LIVRO DE APOCALIPSE 32UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE INTRODUÇÃO Olá, tudo bem? Seja bem-vindo a mais uma unidade de estudo! Vamos aprender um pouco mais sobre o Apocalipse e os assuntos escatológicos. Para lidarmos com este assunto que, naturalmente é motivo de interpretações que partem de pressuposições, precisamos conhecer as mais diversas abordagens exegéticas para não cair em tentação. Como obra literária o livro é repleto de particularidades como lingua- gem simbólica, figuras e termos complexos da língua grega. O desafio para o estudante de teologia é analisar as linhas de pensamento quanto a interpretação, estruturando o conteú- do com a finalidade de extrair seu significado. Em se tratando de Apocalipse, essa tarefa demanda dedicação, pois estamos buscando compreender um dos livros mais difíceis do Novo Testamento. No primeiro tópico, estudaremos os métodos de interpretação que se formaram ao longo da história. Entre eles, o método preterista que entende os eventos do livro como exclusivos a época apostólica de João; o método histórico que tenta amoldar as revelações com o curso da história da humanidade; o método futurista busca o cumprimento das profecias em momentos que ainda estão por vir e, por fim a visão idealista que entendem a mensagem fora da linha temporal. Já no segundo tópico aprenderemos os pontos de vista sobre a estruturação do texto do Apocalipse que estão interligados com a linha de interpretação adotada. Como podemos entender a ordem dos acontecimentos do livro? É sequencial ou através de paralelos? Vamos aprender cada uma delas! Finalizando o conteúdo da unidade, compreenderemos a mensagem em suas particularidades através de um esboço exegético, eu irá tratar os mais diversos assuntos do Apocalipse. Desejo a todos bons estudos e sucesso em mais essa etapa! Vamos lá! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE 1 TÓPICO MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO Para a interpretação do Livro do Apocalipse de João, veremos as mais diversas frentes que se dedicam a estudá-lo. Alguns fatores se apresentam como influenciadores para a exegese do Apocalipse e da Bíblia como um todo. Ao longo da história as tradições religiosas construíram formas particulares de fazer análise interpretativa de vários assuntos bíblicos. Vamos conhecê-las! 1.1 Método Preterista O método preterista tem por pressuposto principal que os episódios e particularidades do livro de Apocalipse, referem-se ao período vivido pelos apóstolos e não tem relação com o futuro. Com referência a visão preterista, Osbourne afirma que “[...] os símbolos são referências a acontecimentos do primeiro século vivenciados pelos primeiros leitores, a quem João está dizendo como Deus haverá de livrá-los de seus opressores” (OSBOURNE, 2014, p. 21). Segundo o método, todas as passagens do livro fazem referência a acontecimen- tos que teriam ocorrido naquele período. Ainda exemplificando, o Apocalipse expressa as esperanças dos cristãos primitivos da Ásia. Eles em breve seriam libertados dos seus sofrimentos sob o domínio dos romanos (LADD, 1986). Três vertentes principais são próprias do método preterista. A primeira associa os acontecimentos relatados no livro do Apocalipse com a igreja e as perseguições de Roma no primeiro século. Como exemplo de interpretação preterista, podemos citar a associação de Roma aos eventos descritos no livro. “A besta, desse modo, poderia ser o Império Romano 34UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE ou o imperador, e os selos, trombetas e taças seriam juízos que Deus está derramando (ou logo derramará) sobre a própria Roma” (OSBOURNE, 2014, p. 21, 22). A segunda vertente preterista é oriunda de estudiosos críticos como Yarbro Collins e L. Thompson. Seus pressupostos se baseiam que a teologia escatológica do livro não aponta numa linha temporal para o futuro, mas na ressignificação do presente. A simbolo- gia contida no livro possibilitaria a suposição de duas realidades alternativas entre as quais os intérpretes precisam definir: a perspectiva transcendente que envolve Deus e a igreja ou, o mundo secular romano. O terceiro aspecto preterista acredita que o livro do Apocalipse de João teria sido produzido antes do ano 70 d.C. As profecias contidas no livro teriam relação com a queda de Jerusalém pelo juízo divino. Essa terrível consequência foi decorrente da rejeição do Messias pelo povo de Israel. Seguindo seus conceitos, a batalha do Armagedon se refere ao cerco da capital de Israel no ano 70 d.C. A besta do Apocalipse seria o Império Romano (OSBOURNE, 2014). Para dar credibilidade a esta última vertente, encontramos um problema na data- ção do livro de Apocalipse, que teria que ter sido escrito antes da destruição de Jerusalém. Porém, a data aproximada e aceita pela maioria dos estudiosos seria entre os anos de 95 a 96 d.C. Além dessas vertentes, precisamos destacar duas alas do preterismo. Simon Kiskemaker, citando o autor Phillip Schaff relaciona como “ala direita” e “ala esquerda”. A ala direita ensina que o Apocalipse é divinamente inspirado e tem um elevado posicionamento em relação as Escrituras. No caso da ala esquerda, existe uma rejeição da inspiração das Escrituras, colocando o Apocalipse de João similar aos apocalipses pseudoepígrafos (KISKEMAKER, 2004). Schaff define a ala direita como aqueles “que reconhecem uma profecia real e verdade permanente no livro [do Apocalipse]”, e a ala esquerda como os que o consideram como “um sonho de um visionário que foi falsificado pelos eventos”. Guthrie (SCHAFF, 1950, citado por OSBOURNE, 2014, p. 61). Resumindo, o método preterista afirma que todo registro do Apocalipse acontece na época de seus autores, portanto, para nós isso já aconteceu no passado. 35UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE 1.2 Método Histórico Esta forma de abordagem na interpretação busca moldar os acontecimentos do livro durante várias épocas distintas da história da humanidade. Os eventos descritos se referem à uma abordagem progressiva em relação ao início, até o destino da igreja e do mundo. Seus adeptos afirmam o cumprimento em parte de algumas profecias, e outras estariam ainda por cumprir. Além de buscar encaixar algumas dessas profecias e seu cumprimento no tempo presente. “A história secular e a história religiosa estão entrelaçadas, e os proponentes têm tentado interpretar os eventos de seu próprio período da história como predito no Apocalip- se” (SILVA, 2020, p.15). Joaquim de Fiore, no séculoXXII, foi quem instaurou este método, quando alegou receber uma visão que mostrava os 1260 dias descritos no Apocalipse uma profecia dos acontecimentos da história ocidental, iniciando nos tempos apostólicos até o presente. [...] há intérpretes que aplicam o livro à Igreja Ocidental, como se a Igreja Oriental não existisse. Além do mais, os adeptos do ponto de vista histórico às vezes recorrem a interpretações triviais que são não apenas fantasiosas, mas que estão desonrando a Escritura (KISKEMAKER, 2004, p. 63). Posteriormente, os Franciscanos, uma ordem mendicante dentro da Igreja Católica, aderiu a proposição de Joaquim interpretando a revelação do livro de Apocalipse da mesma forma. Eles indicavam o cumprimento da profecia com relação a Roma e seu paganismo da época (pela corrupção existente na igreja) (OSBOURNE, 2014). No século XVI, a reforma protestante através dos reformadores Lutero e Calvino, aderiu ao método apontando o papa como o Anticristo. A visão clássica dos dispensa- cionalistas utilizou essa interpretação, associando a mensagem às sete igrejas da Ásia com sete períodos da era da igreja. (OSBOURNE, 2014). Os dispensacionalistas também entenderam o Apocalipse capítulos 2 ao 19, que incluem os sete selos, as sete trombetas, as sete taças e os capítulos parentéticos, com o desenvolvimento da história da igreja ao longo dos séculos. Como consequência a Besta e o Anticristo foram associados como sendo o Papa, Napoleão, Mussolini ou Hitler. (SILVA, 2020) O método apresenta alguns pontos fracos, pela necessidade de ser reformulado a cada período em que falha a associação com eventos e personagens. Grant Osbourne afirma em seu comentário exegético do Apocalipse que: Em virtude de sua fragilidade intrínseca (a identificação com a história da igreja apenas ocidental, a especulação inerente contida nos paralelos traça- 36UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE dos com a história mundial), o fato de precisar ser reformulada a cada novo período histórico, a total falta de relevância do texto para João e para seus primeiros leitores (OSBOURNE, 2014, p. 21). 1.3 Método Futurista Os primeiros pais da igreja como Justino, Irineu e Hipólito, se valiam deste método. Porém, este método deixou de ser evidência na história do cristianismo por mais de um século. Isso aconteceu em decorrência da ascensão do método alegórico de interpretação, que enxergava algumas passagens de forma excessivamente figurada. Além disso, a visão amilenista predominou após Agostinho, sobrepujando o método (OSBOURNE, 2014). A interpretação futurista dos escritos do Apocalipse apresenta seus pressupostos na maior parte do livro. Essa perspectiva se inicia no capítulo 4 versículos 1, como aconte- cimentos que ainda estão por vir. Os adeptos dessa linha de interpretação propõem que as profecias do Apocalipse acontecerão num período anterior, durante e logo após o retorno de Jesus ao mundo. Segundo afirma Simon Kiskemaker, “[...] o escritor do Apocalipse, ao longo de todo o livro, aponta para o dia do regresso de Cristo. O elemento profético é um componente inegável [...]” (KISKEMAKER, 2004, p. 64). A mensagem é de perspectiva profética com cumprimento futuro, tendo em vista que o autor escreve concretizando o grande Dia do Senhor, onde acontecerá o retorno prometido. Os futuristas destacam o teor da mensagem de João, associando algumas coisas que aconteceram no presente e outras que sucederão no futuro. Na última parte de Apocalipse 4.1, João escreve: “Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer” (BÍBLIA, Apocalipse 4:1, ARA, 1993). Portanto, essa passagem apresentaria dois momentos. Primeiro se refere às coisas que aconteceram no presente (na época que João vivia). Num segundo momento, aquilo que estava previsto para acontecer no futuro “as coisas que devem acontecer”. O método exegético utilizado pelos futuristas é o literal que considera a parte final do livro como um testemunho das coisas do fim, inclusive com consequências cósmicas. Como ponto positivo, o método reconhece que existem acontecimentos futuros pela des- crição do texto, porém, alguns problemas exegéticos podem aparecer por conta da visão futurista. “Um deles é que ela faz com que os três primeiros capítulos do Apocalipse venham a ser irrelevantes para a Igreja contemporânea” (KISKEMAKER, 2004, p. 64). Assim sendo, os assuntos pertinentes à mensagem de Cristo para as sete igrejas da Ásia Menor, se restringem unicamente ao momento histórico que acontecem. Esse pensamento não dá margem para aplicar o sentido teológico da mensagem em nossos dias. Tal posicionamento 37UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE pode negligenciar a mensagem apocalíptica para a época do Século I, dando margem às especulações. Existem duas vertentes deste método: o dispensacionalismo e o pré-milenismo clássico. Os dispensacionalistas crêem que Deus conduz a história por alguns estágios que se concentram na eleição de seu povo. O momento histórico que vivemos compreende a era da igreja, ou seja, um interlúdio onde a atuação da igreja acontece, até que haja um avivamento nacional entre povo judeu, que rejeitou o Salvador. No final da era da igreja aconteceria o arrebatamento, e inicia-se a grande tribulação que duraria sete anos (Ap. 13). No final desse período se reserva a parousia, com a volta de Cristo para o julgamento, seguido de um milênio literal (Ap 20.1-10), o julgamento do grande trono branco (Ap. 20.11- 15) e o início do estado eterno (Ap 21.1-22.5). O pré-milenismo clássico é semelhante, exceto pelos períodos das dispensações. “Há somente uma volta de Cristo, após o período da tribulação (Mt 24.29-31; cf. Ap 19.11- 21), e toda a igreja, não somente a nação de Israel, passará pelo período de tribulação” (OSBOURNE, 2014, p. 23). FIGURA 1 – OS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DO APOCALIPSE Fonte: O Autor (2022). 1.1 Método Idealista O método idealista é bastante propagado e defende que os símbolos contidos no livro não estão relacionados com situações que acontecem na linha do tempo histórica, mas com princípios espirituais atemporais. O autor não teria recebido na ilha de Patmos a visão da Igreja no futuro ou acontecimentos relacionados ao final dos tempos, mas que fortificam os cristãos nos conflitos que enfrentavam. Eles interpretam o Apocalipse de João, como uma obra cujos princípios apontam Jesus Cristo vitorioso com seu povo, derrotando Satanás e seus anjos. Os idealistas dão evidência aos princípios apresentados na mensagem do Apocalipse, como aplicações aos cristãos de todos os momentos na história. 38UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE Representa a batalha entre o bem e o mal, a igreja e o mundo de todas as épocas da história da igreja (OSBORNE, 2014). Os sete selos, as sete trombetas e as sete taças apresentam os julgamentos de Deus aos pecadores ao longo da história. A Besta aponta aos impérios que aparecem ou se relacionam com a história no âmbito bíblico, e seus governantes contrários aos princípios bíblicos. Segundo o método, “o Apocalipse não é uma história de eventos que tenham ocor- rido no passado ou uma profecia de eventos que se concretizarão no futuro. É um livro que enche o povo de Deus com conforto e motivação para suportar até o fim” (KISKEMAKER, 2004, p. 65). O ponto positivo dessa linha de pensamento, está na abordagem da mensagem teológica central que apresenta o Apocalipse e a sua importância para a igreja no âmbito uni- versal. Além disso, considera possível a interpretação dos símbolos contidos no livro. O ponto negativo é que não faz associações históricas e não considera os aspectos relacionados ao futuro de algumas profecias. Em suma, os assuntos não possuem relação com a história.QUADRO 1 - EXEMPLO DOS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO Fonte: Voltemos ao Evangelho. Disponível em: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2017/08/ quatro-interpretacoes-de-apocalipse-teologia-visual/ Acesso em 28 Set 2022. 39UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE 1.2 Considerações finais O método literal associado ao contexto em que foram produzidos, seguidos da observação de possíveis alegorias existentes, dos simbolismos, constituem uma forma de interpretação a ser observada. Afinal, valorizam o texto como fonte principal e o objeto do estudo exegético. Para o estudo saudável das Escrituras, o pesquisador deve estar livre dos pressupostos que induzem a resultados que não estão claramente descritos no livro. “A história da interpretação mostra-nos que a adoção do método correto de interpretação não garante necessariamente conclusões corretas pelos usuários do método” (PENTECOST, 2012, p. 52). Afinal, qual método é correto e importante adotarmos? Antes de obtermos essa resposta, é necessário apontar que a Bíblia é um livro di- vinamente inspirado. Registra a história da revelação progressiva e do plano redentivo do Criador, desde o Gênesis ao livro de Apocalipse. Em segundo lugar, também se trata de uma obra literária, com diversos gêneros e narrativas, separadas por séculos em seus mais diversos autores. Portanto, também deve ser tratada como obra literária, passível de estudos exegéticos com a finalidade de obter o sentido contextual pretendido pelos seus autores. Para alcançar esse objetivo, precisamos analisar o texto abstendo-se de paradigmas e adições de pressuposições ao texto. O Apocalipse contém diversas narrativas históricas, passagens que contém simbolismos próprios do seu estilo literário. Cabe a nós identificarmos o que é literal e o que é figurado, para que assim seja alcançado o sentido correto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE 2 ESTRUTURA TÓPICO A estrutura do Apocalipse possui diversas abordagens que dependem da linha de interpretação que é adotada. Em geral, existem diversas formas que os intérpretes do Apocalipse adotam para esboçar o livro. Em relação aos outros livros bíblicos, o Apocalipse de João possui o maior número dessas variações. Vamos conhecer algumas delas: Com a abordagem de estrutura sequencial os assuntos aparecem em ordem sucessiva, dando entendimento cronológico aos eventos em momentos diferentes da história. Cada visão recebida pelo autor, dá continuação cronológica ao evento anterior. Por exemplo, a partir da abertura do último selo, desenvolve-se a série de julgamentos pelas trombetas, e a última trombeta inicia a sucessão dos juízos das taças, progredindo até o ponto final do livro. Outra forma conhecida é a de estrutura de paralelos progressivos (recapitulativa), onde o conteúdo do livro é dividido em seções que, mais tarde, recapitulam os temas abordados ao longo do livro em forma de paralelos. Assim, conforme acontece o paralelo da passagem, novos elementos são incluídos no texto. Podemos ressaltar que, seria uma história contada por diversos ângulos. Os maiores idealizadores da leitura de paralelos, como chave para compreender o livro do Apocalipse foram William Hendriksen e C.H. Giblin (OSBOURNE, 2014). Além disso, existem algumas outras formas que têm sido usadas para estruturar o livro, como: 41UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE A Estrutura de quiasmos As composições literárias baseadas no quiasmo são construídas de tal forma que a primeira parte do texto combina com a última, a segunda parte combina com a penúltima, etc. Perceba no exemplo abaixo como os elementos são repetidos em ordem inversa: A-B-C-C-B-A QUADRO 2 – EXEMPLO DE QUIASMOS EM JOSUÉ 1.5-9 Fonte: Adaptado de Texto Bíblico (BIBLIA, Josué 1.5-9, ARA, 1993). Desta forma, os estudiosos estruturam os capítulos do livro de Apocalipse nesta forma de quiasmos, na tentativa de compreender sua estrutura literária. 42UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE FIGURA 2 – MODELO ESTRUTURAL DE QUIASMOS Fonte: O Autor (2022). Como exemplo de estrutura e esboço do livro, segue um padrão e exegético do Apocalipse como obra literária, apresentando os assuntos conforme se encontram na or- dem dos capítulos do livro. Vejamos: I. Prólogo (1.1-8); II. Mensagens às igrejas (1.9—3.22); A. A primeira visão (1.9-20); B. Cartas às sete igrejas (2.1—3.22); 1. Carta a Éfeso (2.1-7); 2. Carta a Esmirna (2.8-11); 3. Carta a Pérgamo (2.12-17); 4. Carta a Tiatira (2.18-29); 5. Carta a Sardes (3.1-6); 6. Carta a Filadélfia (3.7-13); 7. Carta a Laodiceia (3.14-22); III. Deus em majestade e em juízo (4.1—16.21); A. A soberania de Deus no juízo (4.1—11.19); 1. A visão da sala do trono — Deus e o Cordeiro no céu (4.1—5.14); a. Deus, em seu trono (4.1-11); b. Cristo, o Cordeiro, digno de abrir os selos (5.1-14); 2. Os selos são abertos (6.1—8.1); a. Os seis primeiros selos (6.1-17); 43UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE b. Primeiro interlúdio: os santos na terra e no céu (7.1-17); i. Os santos são selados (7.1-8); ii. Uma grande multidão no céu (7.9-17); c. O sétimo selo (8.1); 3. As sete trombetas (8.2—11.19); a. Introdução aos juízos das trombetas (8.2-6); b. As primeiras quatro trombetas (8.7-12); c. A quinta trombeta e o primeiro “aí” (8.13—9.11); d. A sexta trombeta (9.12-21); e. Interlúdio: profecia e testemunho (10.1—11.13); i. João e o livrinho (10.1-11); ii. João mede o templo e o altar (11.1,2); iii. Ministério, morte e ressurreição das duas testemunhas (11.3-13); f. A sétima trombeta (11.14-19); B. O grande conflito entre Deus e as forças do mal (12.1—16.21); 1. Interlúdio: descrição do grande conflito (12.1—14.20); a. O conflito entre o dragão e Deus e seu povo (12.1—13.18); i. A mulher e o dragão (12.1-6); ii. A guerra no céu (12.7-12); iii. A guerra na terra (12.13-17); iv. As duas bestas fazem guerra (12.18—13.18); (1) A besta que veio do mar — o Anticristo (12.18—13.10); (2) A besta que veio da terra — o falso profeta (13.11-18); b. O cântico dos 144 mil (14.1-5); c. A mensagem dos três anjos (14.6-13); d. A colheita na terra (14.14-20); 2. O auge do grande conflito (15.1—16.21); a. Introdução às taças — os anjos com as últimas pragas (15.1-8); b. Os últimos sete juízos — as taças (16.1-21); IV - O juízo final (17.1—20.15); A. A destruição da grande Babilônia (17.1—19.5); 1. A grande prostituta montada sobre a besta vermelha (17.1-18); 2. A queda da grande Babilônia (18.1-24); 3. O cântico de alegria por causa do justo juízo de Deus (19.1-5); B. A vitória final: o fim do império do mal na parousia (19.6-21); 44UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE C. O reinado de Cristo por mil anos e a destruição final de Satanás (20.1-10); D. O julgamento do grande trono branco (20.11-15); V- O novo céu e a nova terra (21.1—22.5); A. O advento do novo céu e da nova terra (21.1-8); B. A Nova Jerusalém como o Lugar Santíssimo (21.9-27); C. A Nova Jerusalém como o último Éden (22.1-5); VI. Epílogo (22.6-21). Fonte: Adaptado de (OSBOURNE, 2014, p. 33,34) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 ESBOÇO EXEGÉTICO DO LIVRO TÓPICO UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE 45 Ap. 1.1-3 - O Apocalipse de João tem início revelando a autoridade proveniente do próprio Jesus Cristo. Essa declaraçãoímpar acontece exclusivamente no Apocalipse em relação às outras obras do Novo Testamento. “O processo pelo qual essa revelação chegou à igreja teve quatro estágios. Deusa transmitiu a Jesus; este a passou aos anjos; os anjos foram mediadores da revelação a João; e João a registrou por escrito para as igrejas” (OSBOURNE, 2014, p. 58). O termo grego (ha dei genesthai en tachei,) “as coisas que em breve devem acon- tecer”, demonstram o conteúdo da revelação e o controle divino acerca dos acontecimentos do futuro. A bem-aventurança, é recompensa para aqueles que ouvirem a mensagem, tanto pública para as igrejas locais, quanto para aqueles que lerem em todas as épocas. Ap. 1.4-8 – Neste período ocorre a saudação às sete igrejas da Ásia Menor, que receberiam num primeiro momento a revelação. Vemos a evidência da natureza gloriosa de Jesus Cristo, além de sua obra de redenção. O Alfa e o Ômega, demonstra o poder e a dignidade como verdadeiro alvo da adoração, contrastando com a autoproclamação de divindade por parte dos imperadores romanos, como Domiciano, que reivindicava a adoração de seus súditos. O versículo 8 deste capítulo, apresenta a soberania de Deus durante a história da humanidade, o controle dos poderes cósmicos e o clímax por conta de sua vinda. Ap 1.9-18 – Nos versículos de 9 a 11 acontece a descrição da situação de João e sua solicitude com aqueles que sofriam perseguição como experiências em comum. 46UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE A expressão ho adelphos hymon kai synkoinonos, que traduzido do grego quer dizer “vosso irmão e companheiro”, condiz com quem é solidário com o sofrimento dos destinatários. O versículo 9, “[...] situa o lugar onde foi recebida a visão, a ilha de Patmos, a cinquenta e seis quilômetros ao largo da costa da Ásia Menor (moderna Turquia) [...]” (CHAMPLIM, 2002, p. 360). Os versículos 10 mostra o estado profético que o autor se encontrava. Em espírito (gr. en pneumati) é uma expressão que ocorre quatro vezes em Apocalipse: - “Eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor” (BÍBLIA, Apocalipse 1.10, ARA, 1993). - “E logo fui arrebatado em espírito [...]” (BÍBLIA, Apocalipse 4.2, ARA, 1993). - “E levou-me em espírito a um deserto, e vi uma mulher assentada sobre uma besta de cor de escarlata” (BÍBLIA, Apocalipse 17.3, ARA, 1993). - “E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém” (BÍBLIA, Apocalipse 21.10, ARA, 1993). Dos versículos 12 a 16 percebemos a visão do Cristo Glorificado que ocorre em dois momentos. Primeiro, mostra a imagem total e detalhada dos aspectos gloriosos revelados a João. Num segundo momento, essa revelação é dirigida pormenorizada a cada igreja segundo a realidade que viviam. Apocalipse 2.1 a 3.22 - Nesta seção, a mensagem é dirigida às sete igrejas da Ásia Menor, que foram os que primeiro receberam o livro. Cada carta descreve as condições vividas pelas igrejas em seus contextos. QUADRO 3 – A REVELAÇÃO DE CRISTO AS IGREJAS DA ÁSIA MENOR Fonte: Adaptado de Kiskemaker (2004, p. 146). 47UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE A estrutura literária das cartas é apresentada por estudiosos da crítica da forma, como uma aproximação com algumas variações que ocorrem em cada carta. Existe um equilíbrio na estrutura apesar dos elementos variarem na ordem proposta, como as “con- clusões” e os “desafios”. QUADRO 4 – ESTRUTURA LITERÁRIA DAS SETE IGREJAS DA ÁSIA MENOR Fonte: Osbourne (2014, p. 117) As cartas endereçadas às igrejas de Esmirna e Filadélfia, não é apontado pelo autor nenhum ponto fraco. A carta a Laodiceia não possui nenhum ponto qualitativo. Outro detalhe é que, na maioria das cartas, os pontos fortes são enaltecidos por Cristo com a expressão “conheço suas obras”. Em Laodiceia a expressão é empregada para destacar os pontos fracos. Apocalipse 4.1–5.14. Depois da mensagem das igrejas da Ásia começa a revela- ção das coisas que breve hão de acontecer. Os estudiosos que aderem a divisão estrutural do Apocalipse em visões, atribuem os acontecimentos do capítulo 4, como o início da destruição das forças malignas, da morte e de Satanás (LADD, 1986). A soberania de Deus é apresentada pelo autor como absoluta em meio a terrível batalha, que incluem os “habi- tantes do céu” e na terra os que seguem a besta. A conclusão acontece no capitulo 16.11. “A segunda visão é semelhante a primeira, mas com uma diferença importante: em 1.10,11, João estava em Patmos, enquanto aqui ele é levado para o próprio céu.” 48UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE A palavra que aparece mais vezes neste capítulo é “trono” (gr. thronos) que aparece treze vezes nos 11 versículos. Seu emprego tem o propósito de demonstrar que Deus é o supremo governante deste universo. […] Θρόνος (thronos, trono) é uma das ênfases principais no livro, contrapondo o “trono de Deus” ao “trono” de Satanás e, provavelmente nesse capítulo,com o trono de César também […]. Originalmente designado como uma cadeira para convidados especiais, o “trono” se tornou um símbolo da majestade soberana do rei. Ele significava tanto governo como julgamento (OSBOURNE, 2014, p. 250). A visão continua detalhando de uma forma bem particular, o trono de Deus e sua majestade, em relação aos outros relatos do Apocalipse. O capítulo 5 é uma continuação da visão do trono, Deus está sobre seu trono e tem um livro escrito por dentro e por fora na palma de sua mão direita. Aqui, o livro está “sobre a” (έπί, epi) em vez de “na” (ἐν, en) mão de Deus. Possivelmente faz referência de estar “sobre” a palma aberta da mão de Deus. Ele é quem abre o rolo na passagem de Ezequiel 2.10, porém aqui o Cristo ressurreto é achado digno de abrir e desatar os selos desvendando os assuntos subsequentes. Apocalipse 6.1-17 - A divisão que narra os sete selos, engloba todo o capítulo 6 e o primeiro versículo do capítulo 8. Seis selos são detalhados de forma sequencial no capítulo 6, e o último selo é visto no capítulo 8.1, proclamando o silêncio no céu pelos eventos que estavam por vir. Os cinco primeiros selos abertos, iniciam juízos terríveis representados por quartos cavaleiros. Suas representações incluem fome, guerra e peste que são derramados no mundo. Entre o sexto e o sétimo selo, o capítulo exerce a função de interlúdio. Apocalipse 7.1-17 - O capítulo sete é nomeado pelos estudiosos como um “pa- rêntese” que destaca os mártires que receberão selos, cujo número é representado pelos cento e quarenta e quatro mil (CHAMPLIM, 2002). Apocalipse 8.1-13 -. O oitavo capítulo retoma com a abertura do sétimo selo, que a partir dele, inicia as sete trombetas. São quatro trombetas que continuam os julgamentos sobre a terra. As três últimas trombetas possuem algumas particularidades em relação aos outros juízos, pois acrescentam em seu anncio a advertência profética: “Ai, ai, ai”. Além disso, são mais conhecidos como “ais”, do que juízo de trombetas´. São mais severos por ferirem diretamente os ímpios. A palavra grega Ούαί (gr. ai), assemelha-se ao som produzido por uma águia e “são interjeições exclamativas que chamam a atenção. Mas são comumente usadas em situações de desespero ou na vinda de um juízo” (OSBOURNE, 2014, p. 405). 49UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE Apocalipse 9.1-21 O capítulo finaliza os juízos da quinta e sexta trombetas, com a destruição de um terço da população da terra. A quinta trombeta (9.1-11) discorre sobre a abertura do abismo e a terrível invasão dos gafanhotos que irão torturar os habitantes do mundo durante cinco meses. A nuvem de fumaça que sai do poço, por conta de sua abertura, é tão densa que encobre o sol e o céu. Em Êxodo 19.18, percebemos a conexão sobrenatural com a fumaça por conta dapresença de Yaweh: “e todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente” (BÍBLIA, Êxodo 19.18, ARA, 1993). A sexta trombeta apresenta cavalos que inflijam danos com sua “boca”. Suas carac- terísticas são claramente sobrenaturais e bestiais com a finalidade de destruir e atormentar. Os habitantes não se arrependeram mediante os mais terríveis flagelos sofridos. Apocalipse 10.1-11 O autor pausa novamente a descrição das trombetas para apresentar o julgamento mediante a aparição de um livrinho. O conteúdo do livro refere-se a total condenação dos ímpios. Era ‘doce’ em sua boca, quando o comia, porque os poderes malignos ha- veriam de ser transformados, o que será benéfico para toda a criação. Mas era ‘amargo’ em seu estômago, porque falava de terrores que serão sofridos pelos homens (CHAMPLIM, 2002, p. 360). Apocalipse 11.1-19 – O capítulo 11 também apresenta um episódio parentético, ou seja, que pausa os eventos descritos ao longo do livro. As duas testemunhas atuarão durante 1260 dias, serão mortas e ressuscitarão, demonstrando que o Anticristo matará aqueles que não aceitarem servi-lo. A sétima trombeta é relatada de Ap.11:15-19 resultando os juízos finais das taças de ira, com suas sete condenações. Apocalipse 12.1-17 e 13.1-18 - Os capítulos doze e treze descreve sete importantes personagens para os acontecimentos que estão por vir. Os personagens são: a mulher, o dra- gão, o filho da mulher, o Arcanjo Miguel e sua luta no âmbito celestial com as forças do mal, resultando na queda de Satanás e seus poderes angelicais; o remanescente judaico, a “besta que saiu do mar” e a besta que saiu da terra que falava como o dragão (CHAMPLIM, 2002). Apocalipse 14.1-20 - O capítulo catorze apresenta o cântico das 144 mil. A descri- ção se concentra no período final da história, com aqueles que possuem o sinal do Anticristo na testa, contrastando com os 144 mil que permaneceram fieis e têm o nome do Cordeiro e de Deus. 50UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE Os versículos de 14 à 20, relatam a ira de Deus derramada em juízo, [...] a referên- cia à seara é um símbolo do juízo vindouro. Isso é evidente à luz do corte e do ajuntamento dos cachos de uvas que são lançados no grande lagar da ira de Deus” (KISKEMAKER, 2004, p. 527). Apocalipse 15.1-8 - O décimo quinto capítulo introduz os relatos dos juízos das sete taças. O autor menciona os sete anjos empunhando as derradeiras sete pragas sobre a terra. Este último componente finaliza o ciclo que se conecta com os selos e as trombetas. João contempla o futuro e o resultado quando tudo terminar. A vitória é celebrada por um cântico definido por “cântico de Moisés” e cântico do Cordeiro, por aqueles que resistiram ao poder da besta. Apocalipse 16.1-21 – As sete taças se iniciam nesse novo período da narrativa. Os severos julgamentos destinados aos impiedosos demonstram a ira de Deus. Os primeiros selos e taças possuem algumas similaridades em seus objetivos, lembrando que ocorre uma intensificação da gravidade e intensidade dos juízos com as taças. Veja no quadro abaixo. QUADRO 5 – COMPARAÇÃO ENTRE AS TROMBETAS E TAÇAS Fonte: Adaptado de (KISKEMAKER, 2004, p. 349) e (OSBOURNE, 2014, p.380). Apocalipse 17.1-18 e 18.1-24 – Como resultado das sete taças surgem as conde- nações cujo alvo é a grande prostituta descrita nos versículos 3 ao 6. Vejamos o versículo 5: “e na sua testa estava escrito o nome: Mistério, a grande babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra” (BIBLIA, Apocalipse 17:5, ARA, 1993). 51UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE Em relação à visão, o autor é conduzido ao céu numa situação semelhante aos paralelos no Antigo Testamento. “Há paralelos veterotestamentários, pois o Espírito de Deus conduziu Ezequiel a Jerusalém, a Babilônia, ao vale de ossos secos e ao templo do Senhor (Ez 3.12, 14; 8.3; 11.1, 24; 37.1; 43.5)” (KISKEMAKER, 2004, p. 584). Apocalipse 19.1-21. O início do capítulo descreve os hinos de ação de graças, festejando a queda da Babilônia pelos julgamentos de Deus. O cântico de aleluia reúne as hostes celestiais na celebração: os vinte e quatro anciãos e as multidões como a voz de muitas águas (Ap. 19.4-6). Os versículos seguintes (Ap.19.7-10) é seguido pelo cântico que antecede as bodas do Cordeiro com sua noiva como recompensa para os justos pelas suas obras. Na seção que engloba os versículos 11 ao 21, vemos o relato da vinda de Cristo. No Apocalipse de João encontramos a descrição dos céus abertos em duas ocasiões (4.1 e 19.11-12). Nesta ocasião a visão mostra que o céu está aberto não para a entrada de João (como aconteceu em Ap. 4.1), mas para que o Senhor e seus exércitos saiam da batalha. A “parousia” ou segundo advento de Cristo, apresenta diversos eventos gloriosos que seguem até o final do capítulo 20: ● Jesus Cristo soberano (Ap. 19:11-16); ● A vitória de Cristo sobre o anticristo (Ap. 19:17-21); ● A prisão de Satanás por mil anos (Ap. 20:1-3); ● A instituição do reino milenar de Cristo (Ap. 20:4-6). No capítulo 20.1-15: ● Visão de Gogue e Magogue derrotados e lançados no lago de fogo. juntamen- te com Satanás, o que assinalará o fim de sua era e governo (Ap. 20:7-10); ● Desaparecimento dos céus e da terra e o julgamento e o grande trono branco (Ap. 20:11-15); ● Visão da nova criação e da era eterna de Deus (Ap. 21:1-8) (CHAMPLIM, 2002). As revelações dão continuidade às condenações nos capítulos 17 e 18. A primeira é a destruição de Babilônia; a segunda é a condenação da besta; a terceira é a condenação do falso profeta. A quarta é a condenação dos reis que apoiam o anticristo. O capítulo vinte encerra as condenações com o julgamento de Gogue e Magogue, seguida da sexta condenação: Satanás, o inferno e a morte sendo lançados no lago de fogo. Na sétima e última, os incrédulos e aliados de Satanás e do anticristo. 52UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE Apocalipse capítulos 21 e 22. Finalizando a revelação do Apocalipse vemos a criação de novos céus e nova terra, a Nova Jerusalém celestial como capital e morada eterna. Em Apocalipse. 22:6-21 percebe-se a mensagem final do Novo Testamento, si- nalizando que a volta de Cristo acontecerá em breve. Ele é o Alfa e o Ômega, chama ao arrependimento e adverte contra as subversões do livro da profecia de Apocalipse. 53UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE Sete bem-aventuranças perpassam, como um fio, o Livro do Apocalipse. São proclamações solenes da proximidade do Reino de Deus. Mesmo em outro gênero literário, o Apocalipse de São João também é boa nova, também é Evangelho. O número sete combina com a arquitetura fundante do livro. Fonte: CASAGRANDE, M. Escritos Joaninos e Apocalipse. Curitiba: Intersaberes, p.195, 2017. Não conseguimos fugir de nossas pressuposições, mas podemos estar plenamente conscientes delas e fazê-las se sujeitar à verdade revelada na Bíblia. Em nenhum campo, essa tentação de permitir que as pressuposições determinem o conteúdo da interpretação é mais forte do que na escatologia. Fonte: STURZ, R. J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, p. 762, 2012. 54UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE CONSIDERAÇÕES FINAIS Encerramos nossa segunda unidade! Como você está avançando no conhecimento do Apocalipse? Espero que você esteja aprendendo muito. No momento dessas últimas considerações, penso em quão importante se torna o conhecimento do Apocalipse. Nossa apostila serve como base para uma busca mais profunda. Cabe a você decidir se conectar com o conhecimento. Apresentamos linhas de pensamento, que trouxeram importantes abordagens exegéticas a serem aplicadas ao livro. Nossoobjetivo não é fazer apologia a nenhuma delas, mas que você tenha o senso critico de analisar e decidir qual é mais adequada. Porém, aconselho você a não adotar nenhuma vertente sem as devidas análises de pontos fortes e fracos. Busque através de uma interpretação saudável extrair o propósito de cada um deles, e a maneira como se relacionam com o texto. A estrutura do texto apresenta o fluxo de pensamento contido na revelação dada ao autor. Apesar de termos várias opiniões de estudiosos a respeito da unidade estrutural do livro, podemos aprofundar ainda mais no conhecimento, com o auxílio de gráficos e leitura adequados. Portanto, se proponha ler o livro inteiro para aprender ainda mais. O que estudamos até aqui fará ligação com os conteúdos de Escatologia que virão a seguir. Reveja o que foi aprendido e dedique ainda mais pesquisando e estudando as formas de analisar o Apocalipse. O livro possui ligações importantes com os demais livros do Antigo e Novo Testamento, afinal a escatologia abrange uma enormidade de passagens. O próprio Jesus Cristo pregava sua mensagem com âmbito escatológico. Na próxima unidade daremos início ao estudo da Escatologia e sua relação com o Apocalipse. Será um tempo muito produtivo. Espero ter ajudado vocês. Nos vemos na próxima unidade. Até mais! 55UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE LEITURA COMPLEMENTAR O Apocalipse Cânon, simbolismo, doutrina e parâmetro de avaliação histórica O artigo traz um panorama histórico e cultural do livro do Apocalipse abordando as particularidades do estilo literário, bem como, os simbolismos contidos em sua mensagem. O autor aborda como interpretar as figuras numéricas contidas no livro. Fonte: AGUIAR, H. H. O Apocalipse. Canon simbolismo, doutrina e parâmetro de avaliação histórica. Brasília: Revista Informação Legislativa, n. 178, abr./jun, 2008. Dispo- nível em https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/160252/Apocalipse.pdf?se- quence=1. Acesso em 20 set. 2022. https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/160252/Apocalipse.pdf?sequence=1 https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/160252/Apocalipse.pdf?sequence=1 56UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Apocalipse e Escatologia Autor: Antonio Carlos da Silva. Editora: Contentus. Sinopse: Este livro discute diversos temas escatológicos com base na literatura apocalíptica. Aborda a influência de pensa- mentos dispensacionalistas no estudo da escatologia e estuda algumas alianças de Deus com a humanidade. Também são trabalhados métodos de interpretação do Apocalipse, teorias sobre o arrebatamento e sinais da vinda de Jesus. FILME/VÍDEO Título: Entendendo o Apocalipse Ano: 2022. Sinopse: Neste vídeo o Prof. Luiz Sayão, teólogo, linguista, tradutor bíblico e hebraísta brasileiro, traz um panorama histó- rico do livro, além de apresentar os métodos de interpretação referentes às análises do livro de Apocalipse. Link: https://www.youtube.com/watch?v=wYkOBjEENfk&- t=1809s https://www.youtube.com/watch?v=wYkOBjEENfk&t=1809s https://www.youtube.com/watch?v=wYkOBjEENfk&t=1809s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos ● Escatologia individual (Pontos de vista acerca da Morte e Estado Interme- diário); ● Posições teológicas acerca do Arrebatamento; ● Posições teológicas acerca do Milênio; ● Ressurreição. Objetivos da Aprendizagem ●Analisar as principais abordagens acerca da Morte e Estado Intermediário; ●Estudar os pontos de vista acerca do Arrebatamento; ●Aprender as visões teológicas sobre o Milênio; ●Conceituar a respeito da ressurreição dos mortos. 3UNIDADEUNIDADE AVALIAÇÃOAVALIAÇÃO Professor Esp Erison de Moraes Valério 58UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS INTRODUÇÃO Olá, tudo bem? Seja bem-vindo a mais uma unidade de aprendizado nos estudos do Apocalipse e Escatologia! Nesta oportunidade daremos início aos estudos sistemáticos da Escatologia, cujo significado é o estudo das últimas coisas. Assim como o livro de Apocalipse, um livro basicamente escatológico, o assunto é alvo de vários tipos de pressupostos e interpretações. Ao longo da história do cristianismo várias correntes formularam suas doutrinas e pensamentos acerca do arrebatamento, milênio, ressurreição, dentre tantos. Nosso objetivo neste estudo é trazer as diversas linhas de pensamento e como elas se posicionam em seus pressupostos, sem fazer apologia a nenhum deles. No primeiro tópico, estudaremos os tipos distintos de morte e as principais linhas de pensamento acerca do estado intermediário. Nesta abordagem, aprenderemos o estado das almas após a morte e o local onde elas se encontram aguardando a ressurreição. Já no segundo tópico, aprenderemos as linhas de pensamento que se ocupam na explicação da doutrina do arrebatamento e suas bases bíblicas para seus pressupostos. Além disso, vamos entender as posições que defendem a duplicidade da vinda de Cristo em momentos distintos. As posições teológicas que tentam explicar como acontecerá o Reino Milenar, são objeto de estudo no terceiro tópico. Analisaremos as diversas linhas que tentam entender o posicionamento cronológico acerca do momento que acontecerá o milênio. Por último, buscaremos entender a respeito das ressurreições dos justos e dos ímpios, a natureza dos corpos ressurretos, bem como, as linhas de pensamento a respeito do momento de cada acontecimento. Lembrando que a Escatologia é um assunto complexo, que se estende não somente ao livro de Apocalipse, mas a maioria dos livros do Antigo e Novo Testamento. Espero que seja um tempo proveitoso de aprendizado. Bons Estudos! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS ESCATOLOGIA INDIVIDUAL (PONTOS DE VISTA ACERCA DA MORTE E ESTADO INTERMEDIÁRIO) 1 TÓPICO Ao longo da história da igreja, não houve consenso entre todas as religiões do mundo a respeito da morte e a situação que envolve onde as almas e onde estarão após morte. Vamos aprender neste estudo as mais conhecidas abordagens sobre o assunto, sem fazer apologia a qualquer um deles. Então, vamos iniciar nosso aprendizado. 1.1 Morte No grego a palavra que define a morte é thanathos, que tem o significado de sepa- ração. Ela separa as partes materiais e imateriais do ser humano. A matéria volta ao pó e a parte imaterial separa-se e vai ao mundo dos mortos. “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (BÍBLIA ONLINE, Eclesiastes 12:7, ARA, 1993). A morte ainda é uma realidade para todos os seres humanos, sendo oriunda de um resultado de viver em no mundo caído onde os efeitos do pecado culminam na morte física, não são removidos. Mesmo os que são santificados em Cristo experimentam o efeito da morte natural. A experiência relacionada à morte está entre os outros resultadosda queda. Tais consequências acontecem nos nossos corpos físicos e são um sinal da realidade da morte no mundo. Os que creem em Deus e os que não creem, inevitavelmente passarão pela experiência do envelhecimento, lesões, doenças e desastres naturais. Afinal, o "último inimigo" ainda não foi destruído. Diante de tal cenário, o homem mantém em si o desejo pela vida, porque não foi criado para morrer. 60UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS “[...] o desejo de imortalidade é mais do que instinto de sobrevivência ou es- forço por manter-se no ser, e está presente só no coração humano, desejo que é uma abertura e uma contradição radical: o ser humano deseja viver para sempre e sabe-se mortal e sem possibilidade de se dar imortalidade (SUZIN, 2018, p. 102). Richard J. Sturz afirma, que o ser humano não se preocupa em pensar na morte: “Todo mundo se acha ‘imortal’, imortal no sentido de que empurramos a morte para algum canto da nossa mente, como algo que não nos ocorrerá senão daqui a muito tempo” (STURZ, 2012, p. 699). Segundo as Escrituras, a vida e a morte não devem ser entendidos como existir ou o fim da existência, mas são duas formas de existência. Quando o homem pecou pela primeira vez no Jardim no Éden, estabeleceu-se o domínio da morte. Assim todos os homens pecaram: “mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (BÍBLIA ONLINE, Gênesis 2.17, ARA, 1993). A morte é o salário do pecado, conforme afirmam as Escrituras: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (BÍBLIA ONLINE, Romanos 5.12, ARA, 1993). O salário requerido pelo pecado é merecidamente a morte. A Bíblia nos comunica que a morte não é a simples cessação da existência física, mas é uma consequência do- lorosa pela prática do pecado e seu pagamento, a sua justa retribuição. Quando morre, o pecador está ceifando na forma de corrupção aquilo que plantou na forma de pecado. “Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência; então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pe- cado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Bíblia Online, Tiago 1:14-15, ARA, 1993). Pois todos os nossos dias vão passando na tua indignação; passamos os nossos anos como um conto que se conta. Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o or- gulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando (Bíblia Online, Salmos 90:9,10, ARA, 1993). Relacionado ao ser humano, a morte, é um termo usado na Bíblia para descrever 3 tipos de situações: 61UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS 1.1.1 Morte espiritual A morte espiritual é relatada nas Escrituras corresponde a separação entre os seres humanos e Deus, sendo que este é o atual estado de todos os perdidos em seus pecados e delitos. O termo bíblico “morte no pecado” é uma definição para a “morte espiritual”. Sig- nifica estar debaixo do pecado, sob o seu domínio: “[...] estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo” (Efésios 2:1,2). O seu efeito acontece no presente e no futuro. No presente, refere-se a uma con- dição temporal de quem está separado da vida de Deus. Conforme o relato de Paulo aos Efésios: “Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração” (Efésios 4:18). No futuro, refere-se ao estado de eterna separação de Deus, o que acontecerá no Juízo Final: “E irão estes para o tormento eterno” (Mt 25:46). 1.1.2 Morte física É a separação temporária entre o corpo, a alma e o espírito. Melhor seria dizer separação entre o corpo da alma mais o espírito. Porque tanto a alma como o espírito são imortais. “Então Raquel, ao sair-lhe a alma (porque morreu), chamou ao filho Benôni; mas seu pai chamou-lhe Benjamim” (Gn 35:18). “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago 2:26). O significado da morte física para a humanidade em geral é uma experiência inevitável. Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os ani- mais não é nenhuma, porque todos são vaidade. Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó (Ec 3:19,20). A morte física é caracterizada pelo término da vida biológica, como resultado lógico, a dissolução e corrupção total do corpo: “e o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus que o deu” (Ec 12:7). Segundo as Escrituras, para os perdidos é a perda de tudo o que possuem, e consideram ser valorosos. Há um grave mal que vi debaixo do sol, e atrai enfermidades: as riquezas que os seus donos guardam para o seu próprio dano; porque as mesmas riquezas se perdem por qualquer má ventura, e havendo algum filho nada lhe fica na sua mão. Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu tornará, indo-se como veio; e nada tomará do seu trabalho, que possa levar na sua mão (Ec 5:13-15). 62UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS 1.1.3 Segunda morte, a morte eterna Strong afirma em sua Teologia Sistemática, que a morte é a continuação da morte espiritual: “a segunda morte é a continuação da morte espiritual em outra existência sem limite de tempo” (STRONG, 2003, p. 1719). Isso não quer dizer que esta segunda morte representa a destruição de todos os ímpios eternamente, como apresentam algumas dou- trinas que não possuem respaldo das Escrituras Sagradas. A morte espiritual, na realidade, significa separação eterna e definitiva de Deus. A morte eterna leva o indivíduo perdido ao seu estado final e permanente. O mar entregou os mortos que nele havia; e a morte e o inferno (hades) entregaram os mortos que neles havia; e foram julgados, cada um segundo as suas obras. E a morte e o inferno (hades) foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E todo aquele que não foi achado inscrito no livro da vida, foi lançado no lago de fogo (Ap 20:13-15). Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte (Ap 21:8). 1.2 O Estado Intermediário Na maioria das religiões, culturas, épocas, crenças ou povos, o questionamento sobre o que acontece após a morte física, sempre rendeu grande especulação. Charles Hodge declara que “[...] as divergências existentes entres os cristãos não são acerca da realidade de um estado intermediário, mas acerca de sua natureza” (HODGE, 2001, p.1554). A pergunta que preocupa a maioria delas, que historicamente existiram desde os primeiros séculos da humanidade é: “onde estão os mortos?” Os gregos antigos assumem a posição que os mortos partiam para as “Ilhas dos Bem-Aventurados”, que por ocasião aguardavam um julgamento de três enviados do mundo subterrâneo. Se a pessoa mantivesse sua bondade durante a vida e fosse reconhecida pelos juízes tal retidão, então, era permitida a entrada no paraíso denominado Campos Elíseos. De acordo com a mitologia grega, os mortos permaneciam em um lugar de atmosfera doce e agradável com música e luz. As almas boas viveriam ali para sempre, entre as alegrias simples de flores e campinas verdejantes. Os romanos, segundo seus pressupostos, buscavam entender a eternidade como uma espécie de espelho desta vida. Já para os muçulmanos a morte traz, tanto recompensas, quanto punições. Na visão dos hindus e budistas, as almas retornam por diversasvezes ao mundo dos vivos até que mereçam a bem-aventurança da eternidade. 63UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS Para entendermos o tão importante tema teológico escatológico, vamos abordar os mais importantes pontos de vista que envolvem o estado intermediário. Vamos a eles! 1.2.1 O Conceito bíblico sobre o estado intermediário O que ensinam as Escrituras acerca do estado da alma do crente imediatamente depois da morte? Não é próprio decidir esta questão sobre bases psicológicas, argumentando que a natureza da alma é tal que não pode reter sua individualidade nem personalidade quando se separa do corpo; ou que é mera função do cérebro (HODGE, 2001). Na visão teológica cristã, todas as especulações ou teorias caem em descrédito, no caso de contraposição daquilo que está exegeticamente expresso nas Escrituras. 1.2.1.1 O Sheol e o Hades Vamos entender o que a Bíblia ensina acerca do lugar que, de maneira genérica, vão os mortos. Dois termos são utilizados para designar o lugar dos mortos. No Antigo Testamento, escrito majoritariamente em hebraico, utiliza-se a palavra palavra da utilizam se bíblicas traduções das maioria A lugar. este relatar para (Sheol) לואש “inferno”, “morte”, “sepultura” para traduzir a palavra Sheol. Vejamos alguns exemplos de tradução em português que aparecem sublinhados: “Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção” (BIBLIA, Salmos 16:10, ARC, 1995). “Pois tu não deixarás minha alma entre os mortos, nem permitirás que teu santo apodreça no túmulo” (BIBLIA, Salmos 16:10, NVT, 2016). “O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela” (BIBLIA, 1 Samuel 2.6, ACF, 1994). No grego do Novo Testamento, a palavra utilizada para identificar o lugar de ha- bitação dos mortos é Ἀδης (hades), que por vezes também é traduzido por sepultura, ou inferno: “pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção” (BIBLIA, Atos 2.27, ACF, 1994). Não se refere a sepultura onde os corpos são enterrados quando morrem. As línguas originais, tanto o grego quanto o hebraico, utilizam palavras específicas para identi- ficá-las. No hebraico a palavra “queber” significa sepultura. No grego a palavra “Mnemeion” identifica a sepultura com o sentido de túmulo. A palavra inferno é popularmente associada ao lugar de punição e sofrimento. As Escrituras afirmam que este lugar existe, porém não se deve entender que Hades e Sheol significa isso. O inferno final é referenciado pela nomenclatura “lago de fogo”, onde o próprio 64UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS Hades será lançado nele. Vamos conferir a citação de Apocalipse: “E a morte e o hades foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E todo aquele que não foi achado inscrito no livro da vida, foi lançado no lago de fogo” (BÍBLIA, Apocalipse 20.14-15, ARA, 1993). 1.2.1.3 O Sheol e o estado de consciência. Segundo os pressupostos bíblicos escatológicos, a alma preserva sua existência consciente, bem sua faculdade de interagir e de receber ações, no momento da separação do corpo. Os mortos, não perdem sua existência e consciência. Vamos estudar algumas passagens que pressupõem a existência contínua, de forma individual e pessoal da alma depois da morte. E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Do- minador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? (BÍBLIA, Apocalipse 6:9,10, ACF, 1994). Na passagem da visão de João no Apocalipse, o relato afirma sobre o clamor de um estado consciente de intercessão junto a Deus. Segundo Norman Geisler “[...] a alma (ima- terial) conscientemente sobrevive à morte desligada do corpo (material), com que espera reunir-se na ressurreição” (GEISLER, 2010, p. 688). Na Carta aos Filipenses, o apóstolo Paulo ensina que o homem que serve a Cristo, quando é separado da carne por conta da morte, "estará com Cristo” em um estado de consciência. “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne” (BÍBLIA, Filipenses 1:23,24, ACF, 1994). Para Geisler, “[...] a inconsciência entre a morte e a ressurreição dificilmente pode ser descrita como uma condição “muito melhor”; a não-existência é um estado de nada, de vazio” (GEISLER, 2010, p. 687). O Evangelho de Lucas, consta a história do Rico e Lázaro no capítulo 13, onde o próprio Jesus Cristo, apresenta detalhes importantes a serem observados, acerca da consciência no Hades. E aconteceu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico e foi sepultado. E, no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e envia-me Lázaro, para que molhe na água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque es- tou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que 65UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS em tua vida recebeste os teus bens, e Lázaro de igual modo os males; agora, porém, ele aqui é consolado, e tu atormentado. E além disso, entre nós e vós está posto um grande abismo, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem os de lá passar para nós (BÍBLIA, Lucas 16:22- 26, ARC, 1995). Esta passagem retrata a morte do mendigo e Lázaro apresentando detalhes importantes para análise exegética. Primeiro, percebemos os detalhes referentes ao Hades, que apresenta dois lugares distintos. Um lugar de consolo chamado de “Seio de Abraão” e, outro lugar com muitos tormentos separados por um abismo intransponível. Em segundo lugar, percebemos o estado consciente do rico que estava “vendo” Abraão e Lázaro, como também, tinha consciência de seus tormentos enquanto “clamava”. Além disso, ele tinha consciência daqueles que eram consolados (gr. parakletai) o oposto atormentado. FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO FIGURATIVA DO SHEOL/HADES Fonte: O Autor, 2022. Adaptado de fotos Pixabay. Nesta história do rico e Lázaro, a afirmação do rico era que sofria muito no fogo (v. 24). A palavra grega odynaō, significa sofrer “agonia física”. Isso é tão acentuado que ele não queria que seus familiares fossem a um lugar como aquele (STURZ, 2012). Sturz afirma que: [...] provavelmente não era um fogo literal, uma vez que nem ele nem seu corpo eram consumidos pelas labaredas. Mas o rico entendia que era fogo. A percepção é real, a dor e a agonia são reais, mas como no caso da ‘sar- ça ardente’ o corpo não é consumido. Observamos que, por extensão, esse mesmo odynaō também pode referir-se a dores mentais e espirituais reais (At 20.38) (STURZ, 2012, p. 749). 66UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS Normam Geisler em sua Teologia Sistemática também afirma que, “[...] esta passa- gem retrata não somente a felicidade consciente das almas salvas e desencarnadas, mas também o lamento consciente das não-salvas” (GEISLER, 2010, p. 686). A Bíblia ensina que após a morte e antes da ressurreição final, a alma e o espírito humano permanecem conscientes apesar da destruição do corpo sem vida. A aniquilação da alma ou um suposto estado de inconsciência não são perceptíveis pelas descrições bíblicas. 1.2.2 Doutrina Católica sobre o estado intermediário A doutrina católica acerca do estado em que se encontram as almas após a morte, se divide em três linhas de pensamento e suas particularidades. Vamos aprender um pouco dessas doutrinas e como elas ensinam a situação da alma após a morte. 1.2.2.1 O Limbus Patrum Também conhecido como “limbo dos pais”, é um lugar queequivale ao Seio de Abraão. Os estudiosos que defendem esse pressuposto adotam a doutrina judaica quanto à situação dos mortos no período do Antigo Testamento. Creem que as almas dos justos, antes da encarnação de Cristo, desceram ao Sheol, e permaneciam na espera da con- sumação da obra do Salvador. No momento em que Jesus consumou sua redenção e ressuscitou foi ao Hades, libertou as almas dos patriarcas rumando vitoriosos ao paraíso. Tal ponto de vista entra em contradição com sua doutrina dos sacramentos salvífi- cos, que afirmam ser os únicos meios que as bênçãos da salvação alcançam a humanidade. Portanto, os sacramentos representados na antiga dispensação personificavam a graça, porém não a transmitiram. Por conclusão, os que morreram antes da encarnação de Jesus Cristo não seriam salvos (HODGE, 2001). 1.2.2.2 O Limbus Infantum Conhecido também como o limbo de Infantes, refere-se ao lugar que abriga as almas das crianças que morrem sem o batismo. Essa doutrina trata que as crianças que morrem sem o batismo, ou ainda depois que participam dele, não são acolhidas nos céus. Portanto, em nenhum momento usufruirão os benefícios da redenção. Esta doutrina é explicitamente declarada assumida pelos teólogos romanistas e perceptível nos símbolos da igreja. O cardeal Gousset, defende que o pecado original, cuja descendência de Adão foi toda corrompida, tendo como terrível consequência, a morte da alma. O resultado na vida terrena é a ignorância e perturbação do entendimento, levando-os a ter sua vontade detur- 67UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS pada para aquilo que é espiritualmente agradável. Assim, sem o favor da graça divina, esta rebelião conduz o pecador à morte do corpo. Charles Hodge apresenta os pressupostos acerca desta doutrina e suas consequências na vida futura como sendo: “[...] a exclusão do reino do céu, a privação da vida eterna, da visão beatífica; “ninguém pode entrar no reino de Deus a menos que nasça de novo em Jesus Cristo, pelo batismo” (HODGE, 2001, p. 1569). Os teólogos romanistas apresentam duas linhas de pensamento como evidência bíblica desta doutrina. A primeira tem origem na doutrina do pecado original, que produziu a culpa e morte espiritual em todos os homens em todas as épocas. Desta forma, a solução para libertar a humanidade desta terrível consequência é o batismo. Por ser sacramento salvífico, os que não participam do batismo permanecem na condenação e culpa pelos seus pecados. Em segundo lugar, os teólogos defendem que a declaração contida no texto do Evangelho de João 3.5, afirma que os não batizados não alcançam a salvação: “Na verdade, te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (BÍBLIA, João 3.5. ARC, 1995). No ano de 2007, a Comissão Internacional da Igreja Católica publicou um documento que aboliu a doutrina do limbo para as crianças que não seriam salvas caso não fossem bati- zadas. O documento assinado pelo Papa Bento XVI, chamado de “A esperança de salvação para bebês que morrem sem ser batizados”, encerra definitivamente essa questão: A graça é totalmente gratuita, enquanto é sempre puro dom de Deus. A condenação, ao contrário, é merecida, porque é consequência da livre escolha humana. A criança que morre depois de ter sido batizada é salva pela graça de Deus e mediante a intercessão da Igreja, com ou sem a sua cooperação (COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL, 2007, não paginado). 1.2.2.3 O Purgatório A doutrina do purgatório tem seus fundamentos nos preceitos católico-romano, desta forma, vamos analisá-la de maneira contextual do dogma católico. O Catolicismo Romano baseia seu credo no purgatório na tradição e nas Escrituras. Na teologia católica, a condição da alma após a morte é consciente a respeito de sua condição diante de Deus, que através de um julgamento após a morte vai determinar seu destino. Os que morrem em estado de perfeita graça e penitência, alcançam a purifi- cação e vão diretamente aos céus. Aqueles que estão em paz com a igreja em estado de graça, porém, não estão perfeitamente purificados, vão para o purgatório. 68UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS Joseph Pohle, (1917, p. 18, apud ERICKSON, 2015, p. 1124) define o purgatório por “[...] um estágio de castigo temporário para aqueles que, partindo desta vida na graça de Deus, não são totalmente livres de pecados veniais ou ainda não pagaram plenamente a penitência devida às suas transgressões”. A respeito do purgatório os teólogos católicos ensinam que: É um lugar de sofrimento causado por fogo material, cujo propósito é a purificação e a expiação dos pecados. A duração e a intensidade dos sofrimentos do purgatório são na proporção da culpa e impureza dos pecadores. Não existe limite conhecido para o tempo de permanência da alma no purgatório. Com exceção para o dia do juízo, os que morreram podem ficar em estado de sofrimento por horas ou até milhares de anos (HODGE, 2001). Existe a possibilidade de auxílio às almas que se encontram no purgatório dimi- nuindo o tempo e a intensidade do sofrimento pelas orações dos santos e pelo sacrifício da missa. As autoridades da Igreja têm a prerrogativa de remissão total ou parcial das almas que ali se encontram (HODGE, 2001). FIGURA 2 - O ALÍVIO DA AJUDA DA ORAÇÃO ÀS ALMAS NO PURGATÓRIO - IGREJA MA- RIENKIRCHE EM VIENNA NA ÁUSTRIA 69UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS A obra de Cristo promoveu a libertação somente da “teatus culpa” e da conse- quência de morte eterna. O pecador deve ter todos os seus pecados cometidos depois do batismo, satisfeitos pelas penitências e através de boas obras. O sacrifício propiciatório da eucaristia tem a finalidade de garantir o perdão dos pecados após o batismo segundo a vontade do sacerdote. Desta forma, o sacerdote que quiser trazer benefício à alguma alma no purgatório, ela terá a bem-aventurança. O papa, legítimo vigário de Cristo na humanidade, tem perfeito poder para perdoar os pecados e eximir os pecadores da obrigação de realizar retratação por suas ofensas (HODGE, 2001). Millard Erickson afirma que é possível encontrar [...] uma clara afirmação dessa doutrina no Decreto de União adotado no Concílio de Florença, em 1439: ‘as almas são purificadas por aflições no pur- gatório depois da morte, a fim de que sejam resgatadas dessas aflições, elas são beneficiadas pelos votos da fé viva, isto é, o sacrifício da missa, orações, esmolas e outra obras de piedade (ERICKSON, 2015, p. 1125). Os reformadores rejeitaram a doutrina do purgatório afirmando que ela não possuía bases bíblicas suficientes para fundamentar seus preceitos. Segundo eles haveria contra- pontos importantes com a doutrina de justificação pela graça no sacrifício de Jesus Cristo. Segundo Ferreira e Myatt: “eles sustentavam que os que morriam no Senhor ingressavam imediatamente na bem-aventurança do céu, ao passo que os que morriam em seus peca- dos eram enviados imediatamente para o inferno” (FERREIRA; MYATT, 2007, p. 1054). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS 2 POSIÇÕES TEOLÓGICAS ACERCA DO ARREBATAMENTO TÓPICO Neste tópico trataremos sobre as questões que envolvem o arrebatamento e as prin- cipais discussões teológicas que se posicionam a respeito de “quando” tal evento acontecerá. Essa questão do momento no qual o arrebatamento aconteceria, ocupa discussões desde os tempos apostólicos. Na passagem de Atos 1.6-7, os discípulos indagaram a Jesus quando aconteceria a restauração do reino por conta do seu retorno: Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, res- taurarás tu neste tempo o reino a Israel? E disse-lhes: Não vos pertence sa- ber os tempos ou asestações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder (BIBLIA, Atos 1.6,7, ARC, 1995). A própria Escritura apresenta nas mais diversas passagens, o ensino do retorno do Messias e o estabelecimento do Reino de Deus. Percebe-se tanto nos Evangelhos, pelo ensino de Cristo, quanto nas cartas dos apóstolos nos mais diversos contextos. Vejamos alguns textos escriturísticos que tratam do assunto: Porém daquele Dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas unicamente meu Pai. E, como foi nos dias de Noé, assim será tam- bém a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem (BÍBLIA, Mateus 24:36-39, ARC, 1995). 71UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor (BÍBLIA, 1 Tessalonicenses 4:16,17, ARC, 1995). O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a tenham por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. Mas o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se queimarão (BÍBLIA, 2 Pedro 3:9,10, ARC, 1995). No Novo Testamento, a segunda vinda de Cristo é citada 318 vezes. Portanto, enquanto os debates escatológicos especulam o “quando” isso ocorrerá, a Bíblia apresenta claramente que certamente Ele voltará. Essa é a base da esperança do cristianismo. O próprio Jesus, em seu discurso sobre o fim, afirma que voltará no texto de Mateus 24 e 25. Em Atos 1.10-11, dois homens vestidos de branco relatam seu retorno: “[...] Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (BÍBLIA, Atos 1:11, ARC, 1995). O apóstolo Paulo escreve em suas cartas sobre a esperança da vinda. “Mas a nossa cidade está nos céus, onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (BÍBLIA, Filipenses 3.20, ARC, 1995). Essa esperança foi presente em todo o trabalho apostólico durante os primeiros séculos do cristianismo. Por muito tempo na história do cristianismo, não se perdeu a esperança da vinda de Cristo. As divergências escatológicas surgiram e formaram seus pensamentos sobre a cronologia dos eventos escatológicos e da consumação dos séculos. Algumas dessas questões poderão ser melhor compreendidas, através do estudo dos princípios e pressu- postos que envolvem cada uma. Vamos estudá-las! 2.1 Arrebatamento pré-tribulacionista A visão pré-tribulacionista consiste basicamente no arrebatamento antes do período da grande tribulação que aconteceu durante sete anos. Essa preservação da tribulação é sustentada pela passagem bíblica de Apocalipse 3.10 (ARC, 1995): [...] também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra”. Afinal a grande tribulação será o período da ira de Deus sobre a terra, e a igreja não passaria por tal julgamento (SILVA, 2020, p. 63). 72UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS Nesta visão a vinda de Cristo acontecerá em duas fases distintas. Em uma passa- gem demonstra que o encontro com Cristo será “nos ares” (1 Ts 4.17), em outra, vemos que ele pisará na terra (Zc 14.4). Uma passagem afirma que virá em secreto, “como ladrão” (1 Ts 5.2) em outro livro vemos que “todo olho o verá” (Ap 1.7). Um grupo de teólogos conservadores defendem que a vinda de Cristo acontecerá em duas fases distintas. Num primeiro momento, aconteceria o arrebatamento da Igreja fiel que aguarda a recompensa pela sua fidelidade. Segundo Erickson, o arrebatamento “[...] será secreto; não será percebido por ninguém exceto pela igreja” (ERICKSON, 2015, p. 1136). A vinda de Jesus neste segundo momento, se refere a uma vinda gloriosa, com a manifestação física e pessoal acompanhada de seus anjos e santos, conforme relata Apocalipse capítulo 19. Um terceiro aspecto importante a analisar é a iminência do arrebatamento. “Estes ensinos sugerem que a volta de Cristo poderia ocorrer a qualquer momento. Se tais eventos como a tribulação devem acontecer primeiro, é difícil perceber a razão de dizer ‘não sabeis a hora” (ERICKSON, 1986, p. 116). 2.2 Arrebatamento midi-tribulacionista O ensino Miditribulacionista defende que a igreja estará presente na grande tribulação aqui na terra, mas depois de três anos e meio ela será arrebatada. A preservação da igreja se dará no pior período tribulacional. A visão miditribulacional defende que a igreja será a arrebatada no momento que soar a sétima trombeta em Apocalipse 11.15 (SILVA, 2020). Da mesma maneira que o pré-tribulacionismo afirma, a igreja não passaria pela tribulação daqueles dias, afinal, a ira de Deus não é para a igreja. A diferença está em quando poderia ser considerada a tribulação, que para eles será no meio do período de sete anos. Erickson apresenta alguns argumentos a respeito desse pensamento: A igreja deve aguardar dos céus o seu (de Deus) Filho, a quem ele ressus- citou dentre os mortos, Jesus que nos livra da ira vindoura (1 Ts 1.10; cf Mt 3.7; Lc 3.7). “Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo” (ERICKSON, 1986, p. 134). 2.3 Arrebatamento pós-tribulacionista O ensino pós-tribulacionista teve bastante aceitação na história do cristianismo. Seu principal pressuposto é que a igreja participará da grande tribulação, mas não será alvo da ira divina. Ao final deste período, a igreja se encontra nos ares com Cristo e o acompanhará 73UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS na sua vinda gloriosa, conforme Millard Erickson: “[...] os crentes serão arrebatados para um encontro com o Senhor no fim da tribulação e, imediatamente, o acompanharão na sua descida triunfante para a terra” (ERICKSON, 1986, p. 126). Os juízos profetizados alcançarão somente com os não cristãos de todos os lugares do planeta. Segundo essa linha de pensamento, os fatos acontecerão semelhantemente aos hebreus no Egito. Vamos verificar a passagem de Êxodo: E naquele dia, eu separarei a terra de Gósen, em que meu povo habita, a fim de que nela não haja enxames de moscas, para que saibas que eu sou o Senhor no meio desta terra (BÍBLIA, Êxodo 8.22, ARC, 1995). Em Êxodo 9.26 vemos o mesmo livramento: “Somente na terra de Gósen, onde estavam os israelitas, não caiu granizo” (BÍBLIA, Êxodo 9.26, NVI, 2001). Para se obter uma decisão razoável acerca de cada ponto de vista é necessário responder: qual deles apresenta mais sustentabilidade bíblica? Para isso é preciso dedica- ção, com uma exegese livre de paradigmas para se chegar a uma conclusão. Com relação a tribulação, Geisler afirma: “[...] dentro da ortodoxia, não alcança uma certeza absoluta, nem mesmo moral. Simplesmente, não existem evidências suficientes para dirimir todas as dúvidas neste assunto” (GEISLER, 2010, p. 1037). FIGURA 2 – RESUMO DAS VISÕES ACERCA DO ARREBATAMENTO Fonte: Adaptado de NETO (2019, p. 149-155). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 POSIÇÕES TEOLÓGICAS ACERCA DO MILÊNIO TÓPICO UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS 74 Neste tópico trataremos de um importante tema na escatologia, o Reino Milenar de Cristo.Nossa análise tratará basicamente das três principais visões que envolvem o tema: o pré milenismo, o pós-milenismo e o amilenismo. O texto que diverge opiniões é o de Apocalipse 20.1-10, que fala da prisão de Satanás e depois de algum tempo será solto para enganar as nações. A questão está na interpretação do texto, se deve ser literal ou de forma simbólica. “Os que interpretam de forma literal são chamados de pré-milenistas, e os que interpretam de forma simbólica estão divididos em dois grupos: os amilenistas e os pós-milenistas” (NETO, 2019, p.127). 3.1 Pré-milenismo Consiste numa visão muito aceita entre os círculos teológicos mais conservadores, tornando o pré-milenismo muito popular. O primeiro pressuposto importante para uma abordagem é o fato de crerem em um reino na terra, em que Jesus estabelece o seu reinado por conta de sua vinda no final do período da grande tribulação. Outra questão importante, é que esse reino milenar acontecerá logo após a grande tribulação. 75UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS FIGURA 4 – VISÃO PRÉ-MILENISTA Fonte: Neto (2019, p.135). A cronologia dos eventos seria o término do período tribulacional de sete anos, a vinda gloriosa de Cristo, com o julgamento da obra dos santos salvos e o início do período de mil anos. Segundo José Ribeiro Neto, ao final do período “[...] os ímpios são julgados, Satanás será solto temporariamente para enganar as nações, mas por fim ele e todos os ímpios serão lançados no lago de fogo” (NETO, 2019, p. 68). 3.2 Pós-milenismo Nesta visão, muito difundida no século XVI, o milênio tem a ver com uma época conquistada pelos esforços e serviço da igreja. Será um tempo de paz e abundância mar- cada pelo aumento do período atual da igreja (NETO, 2019). Um dos pressupostos mais importantes dessa visão é a propagação do Evange- lho a um nível que culminará na conversão do mundo. Depois disso, acontece a volta de Cristo. Conforme Erickson, “essa interpretação se tornaria predominante no pensamento escatológico durante toda a Idade Média. [...] Os mil anos iniciaram com a vinda de Cristo” (ERICKSON, 1986, p. 1150). O período do milênio seria grande, porém não seria literalmente de mil anos. Ela não se baseia na passagem de Apocalipse 20, que os pré-milenistas defendem. FIGURA 5 – VISÃO PÓS-MILENISTA Fonte: Neto (2019, p.133). 76UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS 3.3 Amilenismo O amilenismo é bem simples de compreender, suas ideias defendem que não ha- verá milênio, tampouco reinado de Jesus Cristo na terra. Outro ponto importante está na questão das ressurreições, que acontecem em dois momentos: a primeira é espiritual e a segunda é física e espiritual. Segundo Millard Erickson, “[...] em Apocalipse 20.4-5: 'Viveram (a primeira ressurreição) e reinaram com Cristo durante os mil anos. O restante dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos (a segunda ressureição)” (ERICKSON, 1986, p. 65). FIGURA 4 – VISÃO AMILENISTA Fonte: Neto (2019, p.128). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 RESSURREIÇÃO TÓPICO UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS 77 A ressurreição representa uma doutrina básica do cristianismo que representa a esperança da eternidade futura. A obra da redenção seria incompleta se a ressurreição de Cristo não tivesse ocorrido, afinal a ressurreição do Salvador outorga a aprovação de Deus ao seu sacrifício. Segundo Richard Sturz, a ressurreição de Jesus está no centro da mensagem do Novo Testamento: “A ressurreição é o fato central para o qual todos convergem e do qual tudo se irradia” (STURZ, 2012 p. 717). Na época de Jesus, o grupo religioso dos saduceus eram contra a doutrina da ressurreição e da existência da alma após a morte. O Salvador argumenta sobre o assunto: E, acerca dos mortos que houverem de ressuscitar, não tendes lido no livro de Moisés como Deus lhe falou na sarça, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é de mortos, mas sim é Deus de vivos. Por isso, vós errais muito (BÍBLIA, Marcos 12.26,27, ARC, 1995). A afirmação de Marta a Jesus na passagem de Jo 11.24-25 a respeito de Lázaro, demonstra a crença na ressurreição dos mortos pelos judeus da época (STURZ, 2012). No Antigo Testamento vemos a declaração a respeito da ressurreição. “Os teus mortos viverão, os teus mortos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó, porque o teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos (BÍBLIA, Isaías 26.19, ARC, 1995). Outras passagens demonstram a doutrina da ressurreição do Antigo Testamento (Ez 37.12-14; Dn 12.2; Sl 49.15). 78UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS 4.1 O tempo da ressurreição Na passagem de Atos 24.15, parece indicar duas ressurreições distintas: As dos justos e injustos: “Tendo esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver ressurreição de mortos, tanto dos justos como dos injustos'' (BÍBLIA, Atos 24:15, ARC, 1995). Na visão de Paulo aos Coríntios percebemos a comparação entre a Colheita do Antigo Testamento com a ressurreição dos mortos em 3 momentos diferentes: Mas, agora, Cristo ressuscitou dos mortos e foi feito as primícias dos que dormem. Porque, assim como a morte veio por um homem, também a ressur- reição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda. Depois, virá o fim, quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo império e toda potestade e força (BÍBLIA, 1 Coríntios 15:20-24, ARC, 1995). No versículo 23, Paulo apresenta a forma como isso aconteceria com a expressão: “cada um por sua ordem”: com Cristo, na sua vinda e no fim. Os defensores da ordem proposta por Paulo, afirmam que a expressão “as primícias com Cristo” é uma alusão geral a todos salvos no período do Antigo Testamento. Já os “que são de Cristo, na sua vinda” aconteceria a ressurreição no arrebatamento (independente- mente da posição adotada). Por fim, aqueles que se mantiveram fiéis serão resgatados por conta da vinda gloriosa de Jesus, no final do período da tribulação (PENTECOST, 2012). A ressurreição dos ímpios aconteceria no final do reino milenar, por conta do julga- mento do grande trono branco. Segundo os defensores dessa interpretação, o julgamento final se encontra no livro de Apocalipse 20.11-15. Segundo Erickson (2015, p. 1145), “as Escrituras afirmam especificamente que o juízo ocorrerá depois da segunda vinda”. Vamos ler a passagem de Mateus 16.27: “Pois o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então recompensará a cada um de acordo com o que tenha feito (BÍBLIA, Mateus 16.27, NVI, 2001). As Escrituras descrevem outro momento da ressurreição, no que se refere aos incrédulos. Essa é a segunda ressurreição, ou a segunda morte. Vamos a elas: “E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurrei- ção da condenação” (BÍBLIA, João 5:29, ARC, 1995). 79UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono [...] Deu o mar aos mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia... (Ap 20.11-13). 4.1 O Sheol/Hades após a ressurreição de Cristo Alguns teólogos afirmam que a partir da ressurreição Jesus, os justos não descerão mais ao Hades. Diversas passagens afirmam a condição de mudançado local ao céu, por vezes identificado como “paraíso”. Entre as passagens que corroboram essa ideia está o relato do ladrão arrependido na crucificação: “em verdade, te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (BÍBLIA, Lucas 23.43, ARC, 1995). Nessa linha de pensamento o apóstolo Paulo afirma: Pelo que diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos ho- mens. Ora, isto — ele subiu — que é, senão que também, antes, tinha des- cido às partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas (BÍBLIA, Efésios 4:8-10, ARC, 1995). Pressupõe que Jesus, no momento da ressurreição, encaminhou aos Céus os fiéis do Antigo Testamento que se encontravam no “seio de Abraão”. Norman Geisler afirma que: “não existe evidência bíblica, nem fora da Bíblia, de que os espíritos dos santos do Antigo Testamento, depois da morte, tivessem ido a qualquer outro lugar, exceto o céu, entre a morte e a ressurreição” (GEISLER, 2010, p. 690). Em Apocalipse 6.9,10, vemos um relato semelhante, onde as almas dos mártires da Grande Tribulação aguardam no céu, “debaixo do altar”, esperando o fim do período tribulacional para ressuscitarem. 4.2 A natureza dos corpos ressurretos O pressuposto em relação a forma dos corpos ressuscitados, tem por referência as evidências nas Escrituras a respeito do corpo ressurreto de Cristo. Os estudiosos têm esse parâmetro no que diz respeito às ressurreições: Às vezes se presume que nossos corpos novos serão exatamente como o de Jesus no período imediatamente posterior a sua ressurreição. O seu corpo evidentemente carregava as marcas físicas de sua crucificação e podia ser visto e tocado (ERICKSON, 2015, p. 1143). Na passagem de João 21.9-15, traz a ideia de que poderia ter comido com seu discípulo Simão Pedro. 80UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS O interesse pelo inferno atingiu seu ápice na Idade Média, quando os artistas da época sentiam um certo deleite, conforme se supõe, ao retratar os justos observando os pecadores sendo atormentados pelo fogo do inferno e por outros tipos de tortura.O retrato mais impressionante da visão medieval do inferno é feito por Dante, noprimeiro dos três livros que compõe a Divina Comédia. Dante retrata o inferno como nove círculos, existentes no centro da terra, onde habita Satanás. No portão do inferno, Dante nota a presença de uma inscrição: “Abandonem a esperança,todos aqueles que aqui entram!”. Fonte: MCGRATH, Alister E. Teologia Sistemática Histórica e Filosófica: Uma introdução à teologia cristã. São Paulo: Sheed, 2055, p. 638 Em nossa sociedade moderna, o julgamento divino acaba sendo indiferente para muitos que deixam de dar relevância necessária para questões importantes, como o Céu e o Inferno. Levar esses conhecimentos ao próximo e advertir as pessoas sobre as consequências de seus atos é uma das muitas missões daqueles que pretendem levar a Palavra de Deus adiante. Fonte: OLSEMANN, Alexandre. Escatologia. Curitiba: Contentus, 2020. p. 8. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/ Publicacao/188314 Acesso em 13 Out 2022. https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/188314 https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/188314 81UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS CONSIDERAÇÕES FINAIS Encerramos mais uma unidade de estudo, com o início dos estudos sistemáticos em Escatologia. Meu desejo é que você tenha acrescentado ao seu conhecimento teológico importantes informações sobre a “doutrina das últimas coisas”. Aconselho que o aluno continue estudando este importante assunto através de autores que tratam de forma responsável os mais diversos assuntos aqui abordados. As divergências contidas nos estudos escatológicos se concentram na forma de interpretar das passagens bíblicas. Alguns autores entendem de forma literal, outros interpretam simbolicamente os textos. Como devemos nos posicionar a respeito disto? Os textos são literais? São simbolismos? A priori, a interpretação de qualquer parte das Escrituras vem da identificação do estilo que cada passagem se propõe. É necessário identificar cada passagem em particular e que tipo de interpretação ela se encaixa, tratando textos literais como literais e, textos simbólicos como sendo simbólicos. É uma tarefa difícil tal prática, pois partimos de nossas tradições religiosas para a compreensão das Escrituras. O desafio é deixar de lado nossas preconcepções e buscar extrair o sentido exegético proveniente do próprio texto. Em relação aos temas estudados aqui, como morte e estado intermediário, o ar- rebatamento e o milênio, fazem um panorama inicial de ligação para a próxima unidade. Na unidade final de nossa disciplina vamos buscar compreender as questões de Israel e a Igreja no plano escatológico. Num segundo momento abordaremos acerca da grande tribulação, com seus personagens e os acontecimentos importantes do período, além de, contextualizar a doutrina do juízo e galardão culminando no estado de eternidade. Crie boas expectativas, pois será um tempo prazeroso de estudo e aprendizado. Nos encontramos na próxima oportunidade! Até lá! 82UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS LEITURA COMPLEMENTAR Teologia e história da escatologia e da apocalíptica Este artigo objetiva estudar a origem, a natureza e o desenvolvimento da escatologia e da apocalíptica no judaísmo pós-exílio durante os séculos III e II a.C. Tem como referencial teórico duas análises científicas sobre os dois fenômenos: a análise histórico-crítica de Friedrich Dingermann e a análise a partir da história das religiões feita por Johann Maier. Fonte: JESUS, J. M. Teologia e história da escatologia e da apocalíptica. Revista Eletrônica Espaço Teológico. Vol. 10, n. 18, jul/dez, 2016, p. 100-111. Disponível em: https:// revistas.pucsp.br/index.php/reveleteo/article/download/31211/21660/83519 Acesso em 19 Out 2022. https://revistas.pucsp.br/index.php/reveleteo/article/download/31211/21660/83519 https://revistas.pucsp.br/index.php/reveleteo/article/download/31211/21660/83519 83UNIDADE 3 ESCATOLOGIA - POSIÇÕES TEOLÓGICAS MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Teologia Sistemática Autor: Charles Hodge. Editora: Hagnos. Sinopse: A obra faz uma abordagem ampliada dentro da teolo- gia sistemática, citando autores da Patrística, Reforma, Liberais e neo-ortodoxos, católicos romanos e ao mesmo tempo o autor aborda inúmeras escolas filosóficas, da psicologia e da socio- logia. Apresenta ao leitor reflexão doutrinária profunda sobre todos os assuntos teológicos e um índice temático e biográfico que torna a obra confiável, funcional e respeitável a todo que investe no estudo aprofundado da teologia cristã. FILME/VÍDEO Título: O Arrebatamento Ano: 1999. Sinopse: Michael enfrenta muitas barreiras para sustentar sua fé num mundo onde as inconsistências do mundo anticristão evidenciam os sinais apocalípticos da Bíblia. A esposa se sente traída pela dedicação de sua fé, e a sua sogra acha que ele per- deu a razão. Através de visões e uma experiência íntima com Deus, ele anuncia a todos sobre o arrebatamento, mas a difi- culdade que o incrédulo tem de enxergar a realidade também é um cumprimento profético. Link: https://www.youtube.com/watch?v=zOwo5H6io0E https://www.youtube.com/watch?v=zOwo5H6io0E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos ● Israel e a igreja; ● A Grande Tribulação; ● O Juízo e Galardão (recompensa e condenação); ● O Estado Eterno. Objetivos da Aprendizagem ●Contextualizar os pontos de vista escatológicos acerca de Israel e a igreja; ●Aprender os conceitos e características principais da grande tribulação; ●Estudar as definições sobre o juízo eterno e a eternidade. 4UNIDADEUNIDADE ESCATOLOGIAESCATOLOGIA Professor Esp Erison de Moraes Valério PARTE FINALPARTE FINAL 85UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL INTRODUÇÃO Olá aluno (a), tudo bem? Seja bem-vindo! Vamos iniciar mais uma unidade de estudo em Escatologia. Tratar dos assuntos relacionados à escatologia proporciona momentos de profunda reflexão para o estudante, pois estamos em contato com temas que estão relacionados com o futuro da humanidade e o destino eterno dos justos e ímpios. Isso tem sido causa de uma enormidade de discussões que buscam contextualizar seus desdobramentos. Aprender de forma isenta demanda desassociar os pressupostos culturais e religiosos, e voltar-se ao ponto epistemológico da pesquisa. Portanto, nesta nossa última unidade trataremos dos assuntos utilizando o método exegético buscando o sentido extraído dos textos bíblicos, apresentando as diversas linhas que se formaram na história. Com base nisso, aprenderemos no primeiro tópico a relação entre Israel e a igreja ao longo do plano escatológico histórico. As diversas teorias formulam suas convicções na questão da substituição ou permanência de Israel como nação representante do reino de Deus. No segundo tópico, estudaremos as perspectivas que envolvem o período conhecido como a grande tribulação. Entre os temas abordados estão a questão da duração do período tribulacional, as bestas do Apocalipse e sua atuação: o anticristo e o falso profeta, os juízos reservados ao período determinado. Prosseguindo no terceiro tópico, avançaremos com uma abordagem sobre o juízo eterno na perspectiva do destino final da humanidade. Os julgamentos finais são inevitáveis na perspectiva bíblica e buscaremos abordá-los segundo os pontos de vista existentes. Para encerrar a unidade, estudaremos sobre o estado eterno e seus conceitos sobre os novos céus e nova terra, a Nova Jerusalém e a condição de restauração da comunhão do novo homem com Deus. Desejo ao aluno (a) que seja um tempo proveitoso de aprendizado! Até mais! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL ISRAEL E A IGREJA 1 TÓPICO As questões que envolvem Israel e a Igreja nos estudos escatológicos ganharam a atenção de estudiosos de diversas frentes que procuram construir linhas de pensamento acerca do assunto. A fim de orientar tão importante estudo, precisamos abordar cada visão trazendo um entendimento claro sobre a diversidade de opções que se apresentam. Primei- ro, vamos entender um pouco a história de Israel. O Antigo Testamento narra a história dos hebreus, desde a chamada de Abraão até a construção de Israel como nação. A promessa de Deus feita a Abraão possuía um princípio: “[...] em ti serão benditas todas as famílias da terra” (BÍBLIA, Gênesis 12.3, ARC, 1995). Deus deseja que seu povo escolhido fosse uma nação de sacerdotes que alcan- çariam todos os povos, demonstrando e testemunhando a grandeza de seu Deus. “[...] se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes o meu concerto, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha. E vós me sereis reino sacerdotal e povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel (BÍBLIA, Êxodo 19.5-6, ARC, 1995). Portanto, independente da linha teológica que os estudiosos defendem, o que é unanimidade é o amor e o propósito divino ao povo e a nação de Israel. Podemos dividir a história de Israel com alguns pontos importantes: a convocação de Abraão, a história dos patriarcas (os filhos de Abraão), a multiplicação do povo hebreu no Egito, a trajetória do povo liberto da escravidão do Egito até Canaã, o período monár- quico até a divisão de Israel em reino do norte e sul, o período dos profetas, o cativeiro na babilônia, a volta do remanescente do exílio e, depois de alguns séculos a chegada do 87UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL Messias. A partir desse momento, vemos a história de Israel no Novo Testamento, onde o Messias diz: “[...] eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel (BÍBLIA, Mateus 15.24, ARC, 1995). FIGURA 1 – JERUSALÉM PALCO DE EVENTOS ESCATOLÓGICOS A questão ganha robustez entre as linhas teológicas que buscam entender o papel de Israel e da igreja, quando o povo alvo da primeira atuação do Cristo encarnado o rejeita como Messias. Vamos entender algumas delas: 1.2 Posições das dispensações Os defensores das dispensações são responsáveis por algumas vertentes acerca de Israel e a igreja no plano escatológico. Para compreender melhor esses pensamentos, pre- cisamos questionar: Afinal, o que significa “dispensação”? Por que precisamos estudá-las? Na perspectiva bíblica, o “[...] termo dispensação empregado no Novo Testamento pode ser entendido no sentido amplo de administração e, de forma mais específica, a admi- nistração divina” (EDITORA INTERSABERES, 2016, p. 104). Em outras palavras, o uso do termo dispensação foi empregado para representar épocas históricas diferentes a respeito da humanidade, “[...] em que Deus trata os seres humanos de uma forma distinta” (NETO, 2019, p. 168). Da criação até a consumação dos séculos da história da humanidade, os propó- sitos de Deus e seus tratamentos com o homem foram divididos em sete dispensações: da inocência, da consciência, do governo humano, patriarcal, da Lei, da graça e do Reino. Vamos analisar a seguir as dispensações que buscam entender a relação Israel e a igreja. 88UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL 1.2.1 Teoria da substituição É uma vertente do dispensacionalismo clássico que entende que Deus tem dois povos distintos: Israel e a Igreja. As mais importantes dispensações dentre as sete que vimos anteriormente, seriam as dispensações da lei, a dispensação da graça e por último, a dispensação do reino. Essa ideia apresenta que Deus tem dois propósitos separados para tratar primeiro Israel e depois, da igreja. Segundo afirma Millard Erickson sobre esse ponto de vista, “Israel foi tratado como nação em contraste com os gentios depois de a igreja ter sido estabelecida no Pentecoste” (ERICKSON, 1986, p. 142). Os estudiosos que defendem essa ideia se baseiam em algu- mas passagens bíblicas, como Atos 3.12: “E, quando Pedro viu isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?” (BÍBLIA, Atos 3.12, ARC, 1995). Outra passagem bíblica utilizada para fazer distinção entre Israel e a igreja, está na Primeira Carta de Paulo aos Coríntios: “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus” (BÍBLIA, 1 Coríntios 10.32, ARC, 1995). Sob a premissa de dois povos distintos, consideram que a igreja não possui menção no Antigo Testamento, portanto, sua atuação é evidenciada depois do Pentecostes através da pregação do Evangelho que começa em Israel e avança a todas asnações da terra. Essa ideia traz consigo a visão pré-milenista que acredita no arrebatamento pré- -tribulacionista. A igreja cumprirá sua missão no período reconhecido como “parêntese profético” que se refere ao intervalo entre a sexagésima nona e a septuagésima semana da profecia de Daniel 9.24-27. A interpretação dispensacionista da profecia, também conhecida como Setenta Semanas de Daniel, fala da substituição temporária de Israel no plano de escatologia, por conta da rejeição do Messias. Esse período abrange desde a morte do Messias até o arre- batamento da igreja, dando início ao período da septuagésima semana que compreende a grande tribulação. Vejamos a passagem do livro de Daniel: E, depois das sessenta e duas semanas, será tirado o Messias e não será mais; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão deter- minadas assolações. E ele firmará um concerto com muitos por uma semana; e, na metade da se- mana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; e sobre a asa das abo- 89UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL minações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determina- do será derramado sobre o assolador (BÍBLIA, Daniel 9.26,27, ARC, 1995). Alguns baseiam a teoria da substituição temporária de Israel pela igreja, na pará- bola dos lavradores maus em Mateus 21.33-46. O versículo 43 relata que o Reino seria dado a uma nova nação: “Portanto, eu vos digo que o Reino de Deus vos será tirado e será dado a uma nação que dê os seus frutos” (BÌBLIA, Mateus 21.43, ARC, 1995). Porém não há consenso entre os estudiosos e qual momento isso teria ocorrido (ERICKSON, 1986). Millard Erickson afirma que a substituição de Israel não é definitiva, apenas tempo- rária: “Para Israel, no entanto, o reino foi simplesmente adiado e será oferecido de novo ao povo de Deus, depois de ser completado o tempo dos gentios. Deus não se esqueceu do seu povo Israel nem o substituiu pela igreja” (ERICKSON, 1986, p. 146). Para o apóstolo Paulo, a igreja não deve entender que Deus tenha abandonado Israel. Depois da igreja ter completado o tempo dos gentios, acontecerá um período em que Israel será enxertado novamente. “[...] que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios tenha entrado. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades” (BÍBLIA, Romanos 11:25-26, ARC, 1995). A respeito de Israel não ser substituída definitivamente pela igreja, Walter Brunelli em sua Teologia Sistemática afirma: “Apesar da sua situação de incredulidade em relação a Cristo, Paulo exalta a posição dos judeus lembrando que eles são o tronco da oliveira no qual a Igreja está enxertada. Esse fato deve nos manter em humilde temor diante de Deus (Rm 11.18-21)” (BRUNELLI, 2016, p. 221). O Reino milênio é o período reservado para o cumprimento literal das promessas feitas por Deus ao seu povo Israel. 1.2.2 Teoria da dispensação progressiva O dispensacionalismo progressivo consiste em uma mudança de perspectiva da visão dispensacionalista da substituição de Israel pela igreja. Contudo, a visão dispensa- cionalista tradicional ainda possui muitos adeptos. Este pressuposto defende que Israel foi substituído pela igreja completamente. Os judeus encontram a salvação individual quando creem em Cristo, mas Israel como nação e os judeus como povo, não exercem nenhum papel na história da redenção humana. O conceito dispensacionalista tradicional separa os períodos da lei, da graça e do reino. Porém, aqueles que defendem a visão progressiva acreditam em uma consolidação da atuação de Deus. Craig A. Blaising afirma: 90UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL [...] os dispensacionalistas progressivos consideram a igreja como algo que está em continuidade com a obra de Deus em Israel, como algo que inau- gura as promessas dadas no Antigo Testamento, particularmente em Isaías, Jeremias e Ezequiel. A igreja não deve ser vista como um novo grupo de pessoas, mas sim, como a humanidade redimida, incluindo judeus e gentios (BLAISING; BOCK, 2000, P. 48-49, apud ERICKSON, 1986, p. 148). A relação entre Israel, o povo de Deus no Antigo Testamento, e a igreja no Novo Tes- tamento possui maior abrangência como um desenvolvimento orgânico e contínuo do que uma substituição radical. Nos momentos em que Israel praticava a idolatria desobedecendo o pacto divino, Deus sempre manteve um remanescente dentre o povo que permanecia em fidelidade. Conforme essa visão, o povo de Israel que rejeita a Cristo, não faz parte desse remanescente fiel. No dia de Pentecoste o verdadeiro Israel remanescente creu em Cristo, foi revestido do Espírito Santo e se tornou a igreja no Novo Testamento. 1.3 Teoria da Aliança Essa teoria é também conhecida como a “teologia dos dois pactos”, pressupõe a existência de duas alianças separadas: a aliança entre Deus e Israel e outra aliança com a Igreja de Jesus Cristo. Essa posição se opõem à ideia de um único caminho para a redenção pela fé em Jesus Cristo, tanto para judeus quanto para gentios. Essa proposta se contrapõe ao dispensacionalismo, enxergando o plano de reden- ção da humanidade em duas alianças, subdivididas ao longo da história. A aliança da criação, também conhecida como “pacto das obras”, iniciou-se no jardim do Éden. A obediência por parte de Adão e Eva, garantia a recompensa da eterni- dade e a comunhão com Deus. Os termos da aliança podem ser percebidos na passagem de Gênesis 2.16-17: “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (BÍBLIA, Gênesis 2.16-17, ARC, 1995). Contudo, o primeiro casal quebra a aliança e, como consequência, a morte e o pecado atingem toda a criação que agora precisa de um mediador. A partir desse momento, Deus através de sua misericórdia inicia a aliança da graça que garante a salvação com a promessa de um redentor vindouro. A teologia da aliança afirma que o pacto da graça é único, e todas as demais alianças encontradas nas Escrituras são alianças subdivididas e compreendem diferentes perspectivas de um único pacto. Todas as alianças do Antigo Testamento, como a Abraâmi- ca e a Mosaica fazem parte progressivamente da aliança da graça. 91UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL Finalizando a exposição da teologia dos pactos, o relacionamento de Deus com seu povo de forma progressiva, primeiro com Abraão, depois com os patriarcas e com Israel através da aliança mosaica, permanece até os dias atuais de forma separada. Desta forma a aliança é mantida com Israel, o povo escolhido de Deus. Por outro lado, no Novo Testamento, a igreja permanece separada desta aliança de Israel, experimentando uma aliança por meio do sacrifício redentivo de Jesus Cristo (PENTECOST, 2012). Portanto, as promessas concernentes à vida eterna são garantidas a Israel e à igreja mediante as duas alianças distintas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL 2 A GRANDE TRIBULAÇÃO TÓPICO Para analisar este período, que será o mais terrível na história da humanidade, fa- remos uma análise inicial das passagens bíblicas que abordam o tema. Apesar de algumas linhas teológicas preteristas não acreditarem que será um evento literal e futuro, a Bíblia associa os eventos deste período como os mais terríveis esperados: “porque, naqueles dias, haverá uma aflição tal, qual nunca houve desde o princípio da criação, que Deus criou, até agora, nem jamais haverá” (BÍBLIA, Marcos13:19, ARC, 1995). No Evangelho de Mateus, vemos detalhes desse período: Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo (quem lê, que entenda), então, os que estiverem na Judéia, que fujam para os montes; e quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa; e quem estiver no campo não volte atrás a buscar as suas vestes. Mas ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias! E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado, porque haverá, então, grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco haverá jamais (BÍBLIA, Mateus 24:15-21, ARC, 1995). A palavra na língua grega que se refere a grande tribulação, é θλίψις (gr. tlipsis) que aparecem em algumas passagens do Novo Testamento, como angustia, aflição, perseguição. 2.1 O tempo da grande tribulação Segundo os estudiosos pré-milenistas a grande tribulação tem início no momento em que aparece o assolador, um proeminente líder global que fará uma aliança com Israel por sete anos. Além disso, virá com a permissão de oferecer sacrifícios no templo reerguido em Jerusalém: “E ele firmará um concerto com muitos por uma semana; e, na metade da 93UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; e sobre a asa das abominações virá o assolador [...]” (BÍBLIA, Daniel 9.27, ARC, 1995). Em relação a palavra “semanas”, alguns teólogos entendem que a palavra cor- respondente no hebraico é ַעֻבְׁש (hb. shabua), que significa “sete” ou “período de sete”. Segundo Silva, “pode ter o sentido de um ‘sete’ de dias como também um ‘sete’ de anos. Precisamente nesta profecia tem o sentido profético de anos e não de dias” (SILVA, p. 178). No Antigo Testamento, vemos na passagem, que Jacó trabalhou sete anos por Lia, depois mais sete anos por Raquel, o uso da palavra shabua (Gênesis 29.21-30). Perceba que neste texto, Labão fala dos sete anos de trabalho de Jacó como sendo semanas: “cumpre a semana desta; então te daremos também a outra, pelo serviço que ainda outros sete anos servires comigo. E Jacó fez assim e cumpriu a semana desta; então, lhe deu por mulher Raquel, sua filha” (BÍBLIA, Gênesis 29.27-28, ARC, 1995). Outra importante questão a ser analisada está no fato de que este período de sete anos tribulacional, será dividido na metade dando início a perseguição de Israel. Vamos ver algumas passagens que demonstram isso: “Um tempo, e tempos, e metade de um tempo” (cada tempo representa um ano): “E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues nas suas mãos por um tempo, e tempos, e metade de um tempo (BÍBLIA, Daniel 7.25, ARC, 1995). O mesmo termo é utilizado no livro de Apocalipse: “e foram dadas à mulher duas asas de grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu lugar, onde é sustentada por um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente (BÍBLIA, Apocalipse 12.14, ARC, 1995). Outro termo utilizado é “42 meses”, que compreendem exatamente a 3 anos e meio: “E deixa o átrio que está fora do templo e não o meças; porque foi dado às nações, e pisarão a Cidade Santa por quarenta e dois meses” (BÍBLIA, Apocalipse 11.2, ARC, 1995). “E foi-lhe dada uma boca para proferir grandes coisas e blasfêmias; e deu-se-lhe poder para continuar por quarenta e dois meses” (BÍBLIA, Apocalipse 13.5, ARC, 1995). Por fim, algumas passagens utilizam-se de 1260 dias: “E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco” (BÍBLIA, Apocalipse 11.3, ARC, 1995). “E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias” (BÍBLIA, Apocalipse 12.6, ARC, 1995). 94UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL Expondo ainda o pensamento pré-tribulacionista, o Anticristo irá encerrar os sacrifí- cios e as ofertas oferecidos no templo em Israel (Dn 9.27), estabelecendo uma imagem de adoração a si mesmo com pena de morte para quem não o fizesse: E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia. E foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta (BÍBLIA, Apocalipse 13.14-15, ARC, 1995). Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da per- dição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus (BÍBLIA, 2 Tessalonicenses 2.3-4, ARC, 1995). No segundo período de três anos e meio, culminará com os juízos de Deus (no qual trataremos detalhadamente mais a frente) com a abertura dos selos, toque das trombetas e a ira derramada pelas taças. Os pré-tribulacionistas creem que este período será finalizado com a volta de Cristo visível a todos os homens (GRUDEM, 2001). Isto baseado na passagem de Mateus 24.29-30: E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória (BÍBLIA, Mateus 24.29-30, ARC, 1995). Os pré-tribulacionistas também afirmam que a nação de Israel, perseguida nesse período, será salva da destruição completa pela ação de Deus, conforme a interpretação das passagens de Zc 12.4-8; 14.4. Explicando este argumento, Charles Hodge afirma: “e assim as Escrituras, tais como são geralmente compreendidas na igreja, [...] também que haverá a conversão nacional dos judeus; mas não se deve inferir-se isso que todos os pagãos o todos os judeus hão de se tornar verdadeiros cristãos” (HODGE, 2001, p. 1617). 2.1.1 Visão preterista O preterismo, que deriva da palavra do latim “preter” (passado) é uma visão teo- lógica da Escatologia que entende que os eventos descritos por Jesus no Evangelho de Mateus capítulos 24 e 25, e em Apocalipse já se cumpriam no passado (GEISLER, 2010, p. 1015). 95UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL Existem duas subdivisões no pensamento preterista: o preterismo moderado ou parcial e o preterismo extremo. O preterismo parcial, defendido pelos teólogos Gary DeMar, R. C. Sproul, Kenneth Gentry, estabelece que a segunda vinda de Cristo e a ressurreição ainda estão por vir. Porém, as profecias do Sermão do Monte das Oliveira (Mt 24-25) e em Apocalipse capítulos 6-18, já foram cumpridos no século 1, no ano 70 d.C, com a queda de Jerusalém (GEISLER, 2010). O preterismo extremo afirma que todas as profecias do Novo Testamento, já estão cumpridas, inclusive a Segunda vinda, a ressurreição dos mortos e a grande tribulação, que teria acontecido por conta da guerra ocorrida antes da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. 2.1.2 Conclusão O preterismo busca uma perspectiva do passado acerca dos acontecimentos escatológicos ao longo das Escrituras. Como contraponto do preterismo encontramos os pontos de vistas futuristas, que afirmam que o cumprimento de profecias relacionadas com a Grande Tribulação, a Segunda Vinda de Cristo e o Reino milenar, ainda não se cumpri- ram. Em relação ao tempo dos acontecimentos desse terrível período, não é aconselhável assumir um determinado pensamento sem interpretar corretamente as passagens bíblicas buscando o sentido pretendido pelo autor. O livro do Apocalipse relata a Grande Tribulação noscapítulos 6 a 18, conectando com os eventos subsequentes a Segunda Vinda de Cristo e a ressurreição final, (19 à 22), como eventos futuros. O apóstolo Paulo alerta Timóteo sobre o ensino daqueles que afirmam que a ressurreição já tivera ocorrido: “os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns” (BÍBLIA, 2 Timóteo 2:18, ARC, 1995) Em segundo lugar, a história do cristianismo não registra a concretização literal no ano 70 d.C. para os episódios descritos em Mateus 24 e 25. Vamos elencar algumas delas levando em consideração a interpretação literal que se presta a este texto: As estrelas não caíram do céu (Mt 24.29); O Filho do Homem ainda não veio “sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória” (Mt 24.30); o templo ainda não foi profanado com “a abominação da desolação” (Mt 24.15); Cristo ainda não concretizou o Seu reino, separando as ovelhas de bodes em seu juízo eterno (Mt 25.34-41), enviando estes últimos para o lugar onde haverá pranto e ranger dentes (Mt 25.41) (GESLER, 2010). Os estudos são diversos e em muitos casos ocorre a preocupação do “quando” isso deve acontecer. Porém as Escrituras não apresentaram fatos especificando o momento exato de sua ocorrência. 96UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL 2.2 O Anticristo e o Falso profeta Para iniciar a grande batalha final contra Deus e seus fiéis, Satanás reproduz uma espécie de “trindade” em imitação ao Deus Pai, o Filho e o Espírito Santo. O dragão, identificado por João: “e foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo [...]” (Ap. 12:9), a besta que emerge do mar (o Anticristo) e a besta que sai da terra ou o falso profeta. As expressões “anticristo” e “pseudocristo” são mencionadas pela primeira vez na segun- da metade do primeiro século. O prefixo “anti”, tem o significado original “no lugar de”, “contra”. Na perspectiva bíblica, o termo “anticristo” é exatamente mencionado na primeira Epístola de João: “filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo” (1 João 2:18). Neste momento, encontramos o termo em diversas passagens dos escritos joaninos (1 Jo 2.18, 22; 4.3, 2 Jo 7). Na expressão contida na passagem de 1 João 2.18: “[...] como ouviste que vem o anticristo”, traz o entendimento que na tradição da igreja primitiva já compreendiam a existência do Anticristo. Provavelmente essas tradições são provenientes nos ensinos de Jesus Cristo em Mateus capítulo 24, além de algumas cartas do Novo Testamento serem conhecidas por conterem conteúdo que descrevam o Anticristo, como na segunda carta de Paulo aos Tessalonicenses: “porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, [...]” (BÍBLIA, 2 Tessalonicenses 2.3, ARC, 1995). No contexto histórico da produção das cartas de João, a igreja sofria com doutrinas heréticas como o gnosticismo. A menção plural de “anticristos” em 1 João 2.8 se referia aos chefes gnósticos. Seus preceitos negavam a humanidade de Cristo, afinal o corpo era mal e não poderia ser habitado pelo Filho de Deus. Segundo eles, no lugar de uma encarnação, na Páscoa acontece a fusão da identidade (logos) e o homem Jesus. Os gnósticos indicavam um “aeon”, uma propagação da essência angelical de Deus, através de diversos mediadores, salvadores ou ainda divindades inferiores, que assumiram esta função. Baseado nisso, eles afirmavam que Cristo nunca tinha encarnado. As Escrituras descrevem com algumas particularidades a respeito da representação do Anticristo. Se concluirmos que a pessoa citada é perfeitamente representada por seu desejo de ser Cristo, corretamente podemos compará-lo com a besta citada em Apocalipse 13.1-10 (CHAFER, 2003, p. 25). Mais especificamente no texto de Apocalipse 13.13-14, demonstra suas obras miraculosas que exigem sua posição. O autor se baseia como “obra de Satanás”, cuja atuação será por meio do engano. 97UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vista dos homens. E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia (BÍBLIA, Apocalipse 13:13-14, ARC, 1995). O apóstolo Paulo fala aos Tessalonicenses sobre a atitude do homem do pecado “[...] e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus” (BÍBLIA, 2 Tessalonicenses 2:3-4, ARC, 1995). FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO DA VISÃO DE APOCALIPSE 13.1-10 O segundo personagem da trindade que se opõe a Deus aparece como a “besta da terra” (Ap. 13.11-18), conhecido como o falso profeta segundo relato em Ap 16.13: “E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta vi sair três espíritos imundos” (BÍBLIA, Apocalipse 16:13, ARC, 1995). O objetivo do falso profeta é enganar através dos seus sinais e milagres levando o mundo a adorar o Anticristo. Possui uma função mais religiosa que a besta do mar. Vamos analisar a descrição bíblica contida no texto de Apocalipse 13.11-18. João descreve a visão da besta como quem tem [...] dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão” (BÍBLIA, Apocalipse 13:11, ARC, 1995). 98UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL Suas ações são descritas no versículo 12 do mesmo capítulo, o falso profeta exerce o poder da primeira besta: “E exerce todo o poder da primeira besta na sua presença, e faz que a terra e os que nela habitam adorem a primeira besta [...]” (BÌBLIA, Apocalipse 13:12, ARC, 1995). Seus milagres enganam e promovem a adoração a primeira besta que saiu da areia do mar: E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vis- ta dos homens. E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi per- mitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia. E foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta (BÍBLIA, Apocalipse 13:13-15, ARC, 1995). Conforme Kiskemaker (2004, p. 493), “o grande imitador realiza milagres compa- ráveis aos feitos por servos de Deus. Por exemplo, os sinais que Elias realizou foram de fato maravilhosos.” Esses sinais provocam uma espécie de testificação, embora falsa, da divindade da besta que leva a humanidade ao engano. Sobre a marca da besta descrita nos versículos 16 e 17, Osbourne relata em seu comentário exegético que, “[...] quando a segunda besta ‘faz’ todos receberem o χαραγμα (charagma, sinal) para identificar sua fidelidade para com o Anticristo. A ênfase está em παντας (pantas, todos), significando todo ser humano, crente e descrente (OSBORNE, 2014, p. 579). “E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome” (BÍBLIA, Apocalipse 13:16,17, ARC, 1995). Novamente notamos uma imitação com os fiéis a Jesus que recebem nas suas testas (22.14), e os não salvos recebem a marca da besta na testa. Provavelmente a passagem de maior especulação em toda a Escritura, seja Apo- calipse 13.18 que fala da marca da besta. A “gematria” era uma antiga prática que consiste no fato das letras do alfabeto serem utilizadas como números. “[...] cada nome ou palavra hebraicos tinham também um significado numérico e os antigosrabinos faziam conexões curiosas entre palavras ou expressões que tinham o mesmo valor numérico” (KISKEMAKER, 2014, p. 581). Provavelmente, o número relatado por João, faz referência a um nome e não a um termo. O que não é condizente com uma metodologia exegética saudável, é atribuir tal referência a algum personagem que venha de algum momento da história. O final do período tribulacional é marcado pela destruição final das duas bestas de Apocalipse 13, pela vinda gloriosa e visível do Filho de Deus à terra. Vejamos o relato de 99UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL João: “E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre” (BÍBLIA, Apocalipse 19.20, ARC, 1995). 2.3 Os eventos da grande tribulação Os estudiosos defensores do pré-milenismo, defendem que o período real da grande tribulação compreende os relatos entre Apocalipse capítulos 6 e 18. Existem duas posições que buscam ordenar os sete selos, trombetas e as taças: a perspectiva de eventos simultâneos e a perspectiva de eventos sequenciais. 2.3.1 A perspectiva de eventos simultâneos A partir do entendimento desta visão, cada série dos sete (os selos, as trombetas e as taças) acontece de forma simultânea uma com a outra. As ocorrências abrangeram os mesmos motivos e encerraram no final do período tribulacional com a abertura do sétimo evento de cada série. Segundo eles, em primeiro lugar existem algumas correspondências entre a ordem dos eventos em cada série. Entretanto, percebe-se algumas diferenças importantes, por exemplo: não existe uma correspondência total entre o primeiro, o quinto e o sétimo selo em relação às trombetas. Conforme relata Geisler (2010, p. 988) “Segundo, está escrito que o sétimo juízo, em todas as séries, é o fim da Tribulação (cf. 6.16,17; 11.15; 16.17)”. QUADRO 1 – COMPARAÇÃO ENTRE OS SELOS, TROMBETAS E TAÇAS Fonte: O Autor (2022). Não é possível correlacionar alguma correspondência literal com os últimos even- tos de cada série. As trombetas se iniciam no último selo e as taças estão contidas na última trombeta. Aqueles que se opõem a este ponto de vista afirmam que embora os 100UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL acontecimentos pareçam ser iguais, a proporção dos juízos e sua natureza são diferentes (GEISLER, 2010). A intensidade dos juízos das taças é maior que a dos selos e trombetas. 2.3.1 A perspectiva de eventos em sequência A sequência dos eventos da grande tribulação, ganha defensores que afirmam que os selos, trombetas e taças, acontecem uma depois da outra. Os argumentos exegéticos podem ser entendidos de forma prática, através de expressões que indicam a continuidade. Expressões como “vi” e “olhei”, ou ainda “ouvi”, associado com termos que indicam um futuro, como “depois disso”, resultam nessa conclusão. Isso se repete nos capítulos pa- rentéticos, que fazem uma pausa nos relatos, porém continuam sequencialmente os fatos. Os estudiosos defensores da sequência dos juízos também se baseiam no fato das taças serem denominadas a “consumação” da ira de Deus (GEISLER, 2010). Vejamos o que diz em Ap 15.1: “E vi outro grande e admirável sinal no céu: sete anjos que tinham as sete últimas pragas, porque nelas é consumada a ira de Deus” (BÍBLIA, Apocalipse 15.1, ARC, 1995). Portanto, a intensidade e abrangência demonstra uma sucessão nos eventos, mostrando que as trombetas não poderiam ocorrer simultaneamente com as taças: “[...] a segunda trombeta irá matar somente a terça parte das criaturas do mar (8.9), ao passo que a segunda taça irá matar toda alma vivente no mar (16.3)” (GEISLER, 2010, p. 989). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 O JUÍZO E GALARDÃO (RECOMPENSA E CONDENAÇÃO) TÓPICO UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL 101 O tema central da escatologia é a segunda vinda de Cristo, com alguns desdobra- mentos como a ressurreição e o juízo por conta dela. Neste tópico vamos aprender sobre o juízo eterno, também denominado julgamento final, tanto para os salvos, quanto para os separados de Cristo. Afinal, o que acontece com os ímpios e com os justos? O que está reservado para eles? Vamos entender todas estas questões. 3.1 Fundamento bíblico para o juízo eterno As Escrituras em sua totalidade afirmam que haverá um juízo eterno. No Antigo Testamento os profetas utilizavam o termo “o Dia do Senhor” para se referir ao julgamento: “O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor” (BÍBLIA, Joel 2:31, ARC, 1995). Porém, temos poucos detalhes desse assunto por conta do Antigo Testamento não conter uma doutrina totalmente formulada acerca da morte e estado dos mortos. No Novo Testamento o juízo eterno faz parte da doutrina fundamental do cristianis- mo. A carta aos Hebreus afirma sua importância: “Pelo que, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno” (BÍBLIA, Hebreus 6:1,2, ARC, 1995). 102UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL Todos os seres humanos serão julgados, tanto os justos quanto os injustos conforme a suas obras. “Porque Deus há de trazer a juízo toda obra e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau” (BÍBLIA, Eclesiastes 12:14, ARC, 1995). O livro de Apocalipse relata com detalhes esse momento após da vinda gloriosa de Cristo: E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram- -se os livros. E abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julga- dos pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. E deu o mar aos mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras. (BÍBLIA, Apocalipse 20:12,13, ARC, 1995) Os anjos maus também serão alvo do juízo reservado para a condenação: “Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o Juízo” (BÍBLIA, 2 Pedro 2:4, ARC, 1995). A finalidade do julgamento final será de retribuir a cada um, com base em suas obras, ou seja, será um julgamento de retribuição. “[...] e foram julgados cada um segundo as suas obras” (BÍBLIA, Apocalipse 20.13, ARC, 1995). Para os que possuem o nome no livro da vida, essa recompensa será a vida eterna, não por seus próprios méritos, mas como dom gratuito de Deus por Cristo. “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor” (BÍBLIA, Romanos 6:23, ARC, 1995). Além disso, haverá recompensa pelas obras que forem aprovadas, cuja recompensa será os galardões (1 Co 3.14-15). 3.2 Pontos de vista acerca da duração do juízo A respeito da duração do castigo futuro reservado aos ímpios, muitos pressupostos que buscam entender sobre o assunto se desenvolveram ao longo da história do cristianis- mo. Vamos estudar o que cada um defende. Em primeiro lugar, na igreja primitiva surge um ponto de vista que defendia a res- tauração final de todos os homens, conhecido como restauracionismo. Essa doutrina de Orígenes acredita que o propósito do castigo proveniente do juízo é reformar. Segundo essa ideia, haverá um momento em que todos os pecadores ficarão livres de toda a corrup- ção e poderão usufruir de comunhão com Deus. Uma segunda linha de pensamento afirma que o castigo é apenas figurado e hipo- tético. Os ímpios sofrerão castigo pela eternidade se continuarema pecar eternamente. A atuação do Espírito Santo poderá mudá-los através de sua insistência na conversão dos 103UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL homens no mundo vindouro. Assim, muitos poderão se arrepender e voltar a Deus ao longo da eternidade (HODGE, 2001). O aniquilacionismo defende que a recompensa dos justos é a vida eterna com Deus e o destino dos ímpios afastados do Criador é a extinção da vida, ou seja, o fim da consciência. Essa morte será eterna sem a possibilidade de voltar à existência. (HODGE, 2001). A doutrina comum aplicada pelo cristianismo é a existência consciente da alma tan- to daqueles que estão em castigo, quanto aos salvos por toda a eternidade, não existindo a possibilidade de arrependimento nem reabilitação na eternidade. Nas Escrituras o apóstolo Paulo fala aos tessalonicenses acerca do juízo eterno quando afirma: “como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais, por casti- go, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder” (BÍBLIA, 2 Tessalonicenses 1.8-9, ARC, 1995). Jesus Cristo ensina sobre a duração dos tormentos: “E irão estes para o tormento eterno, mas os justos, para a vida eterna” (BÍBLIA, Mateus 25:46, ARC, 1995). A doutrina da perpetuidade dos castigos foi ensinada pelos judeus e no tempo de Cristo, sendo defendida pela Igreja Cristã, pelos gregos, latinos e os grupos da religião protestante. 3.3 Galardão: a recompensa dos justos Como vimos anteriormente, a Bíblia afirma que todos serão julgados tanto justos como ímpios. Porém, o juízo se diferencia para os ímpios e para os justos com julgamentos separados. O julgamento para os que foram salvos, não se refere a salvação ou condenação e sim para galardoar as pessoas por suas obras em Cristo. Vejamos alguns relatos bíblicos: “[...] quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda. E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra” (Ap. 22.11-12) “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal” (2 Co 5:10) Os justos serão julgados após a sua ressurreição para receber os galardões (Hb 9.27), esse momento é conhecido como o Tribunal de Cristo. Segundo as diversas posições que envolvem o pensamento pré-milenista, esse evento acontece antes da vinda gloriosa de Cristo no final da grande tribulação e antes do milênio (STURZ, 2012). O tribunal de Cristo tem por base a vida e as obras realizadas pelos justos que serão preservadas ou queimadas, conforme relato de 1 Co 3.12-15: 104UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pe- dras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade, o Dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo (BÍBLIA, 1 Coríntios 3:12-15, ARC, 1995). 3.3.1 As Bodas do Cordeiro A relação da igreja e o Messias Ressurreto é comparada por diversas vezes a um casamento, com o uso dos termos “noivo” para Cristo e “noiva” para a igreja. Jesus faz referência a si próprio como o noivo (Mc 2.19,20). Segundo relato de Grant Osborne, “o contrato de casamento era elaborado e assinado antes do noivado e, no período entre ele e o casamento, as duas partes eram consideradas marido e mulher” (OSBORNE, 2014, p. 752). Os judeus também criam no banquete messiânico baseado na passagem de Isaías 25.6: “E o Senhor dos Exércitos dará, neste monte, a todos os povos uma festa com animais gordos, uma festa com vinhos puros, com tutanos gordos e com vinhos puros, bem purifica- dos” (BÍBLIA, Isaías 25:6, ARC, 1995). Tal tema perdurou nos tempos intertestamentários até o Novo Testamento. Os escritores do Novo Testamento fazem menção a esses termos, bem como, a imagem das bodas em celebração à união da igreja com Cristo. O texto de Apocalipse 19.6-9 faz menção desse momento: Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória, porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se ves- tisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos. E disse-me: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são cha- mados à ceia das bodas do Cordeiro. E disse-me: estas são as verdadeiras palavras de Deus (BÍBLIA, Apocalipse 19:7-9, ARC, 1995). Correlacionando esta passagem com o restante do Novo Testamento, vemos algu- mas parábolas que mostram a celebração de bodas de casamento. Em Mateus 22.1-14, onde fala que “o Reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho” (BÍBLIA, Mateus 22:2, ARC, 1995). Muitas outras passagens das Escrituras fazem menção as bodas, do noivo e da noiva: O banquete com as doze tribos (Lc 22.27-30); os servos vigilantes (Lc 12.36-40); a parábola das dez virgens (Mt 25.1-13); As vestes de casamento da noiva (Is 61.10); Jesus o noivo (Mc 2.19,20). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4O ESTADO ETERNO TÓPICO UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL 105 A condição futura que se reserva a humanidade está estritamente relacionada com esta vida. Suas decisões o afetarão por toda eternidade. Para os que são justificados pela obra redentiva de Cristo terão a morada eterna. Para os ímpios significa o banimento da presença celestial. O termo Estado Eterno, significa o momento final de consumação da eternidade, descrita logo após a vinda de Cristo em Apocalipse 19, e o julgamento do grande trono branco em Apocalipse 22. 4.1 Os novos céus e sua natureza A natureza no novo céu é perceptível pela presença de Deus, quando é relacionado no livro de Apocalipse ao tabernáculo do Antigo Testamento (ERICKSON, 2015). “E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus (BÍBLIA, Apocalipse 21:3, ARC, 1995). O conhecimento de Deus será perfeito, e com relação a isso “tradição católica deu muito valor a ideia de que, no céu, teremos uma visão beatífica de Deus”(ERICKSON, 2015, p. 1170). Paulo caracteriza esse conhecimento parcial de Deus nesta vida: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não manifestamos o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (BÍBLIA, 1 João 3:2, ARC, 1995). 106UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL Os novos céus possuem as características de ausência do mal em todas as suas representações, pois o próprio Deus “[...] limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas” (BÍBLIA, Apocalipse 21:4, ARC, 1995). Nova Jerusalém é uma cidade gloriosa que faz parte da descrição dessa nova con- dição celestial. Suas ruas são feitas de ouro puro e decoradas pedras preciosas e descerá dos céus da parte de Deus: E a fábrica do seu muro era de jaspe, e a cidade, de ouro puro, semelhante a vidro puro. E os fundamentos do muro da cidade estavam adornados de toda pedra preciosa. O primeiro fundamento era jaspe; o segundo, safira; o terceiro, calcedônia; o quarto, esmeralda” (BÍBLIA, Apocalipse 21.18-19, ARC, 1995). Não há consenso em relação à linguagem figurativa que João utiliza, porém o intér- prete deve entender que são materiais valiosos e que remetem à realeza. FIGURA 03 – REPRESENTAÇÃO DA NOVAJERUSALÉM (AP 22) Os luminares dos céus criados para governar o dia e a noite em Gênesis 1.14-18, já não existem mais, demonstrando a glória e grandeza contida neste lugar. “A cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada” (BÍBLIA, Apocalipse 21.23, ARC, 1995). Sturz (2012, p. 751) afirma, que “toda a vida e atividade girarão em torno dele''. “Ele mesmo é a luz do céu.” A comunhão com Deus é descrita na passagem será sem restrições. Durante o pro- cesso de revelação progressiva de Deus na história, as Escrituras afirmam que o homem não poderia ter comunhão com Deus por conta do pecado: “[...] Não poderás ver a minha 107UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá” (BÍBLIA, Êxodo 33.20, ARC, 1995). Com a restauração no Estado Eterno essa condição se reverte ao ponto de vê-lo “face a face”: E verão o seu rosto, e na sua testa estará o seu nome” (BÍBLIA, Apocalipse 22.4, ARC, 1995). O propósito de Deus com o jardim do Éden, era ter uma aliança com o homem, a fim de que ele pudesse usufruir da comunhão e cuidar do jardim. Quando desobedeceram tomando o fruto que Deus tinha proibido perdem a comunhão. A morte e o pecado atingem toda a criação. “No livro de Apocalipse, esse jardim desce novamente para se unir à terra renovada e agora é parte da cidade eterna. O Éden não somente é restaurado, como tam- bém é elevado e ampliado para o povo de Deus na eternidade” (OSBORNE, 2014, p. 849). As expressões novo céu e nova terra decretam o fim do passado da humanidade, e fazem com os que creram nas Escrituras Sagradas mergulhem no estado eterno. Os labores experimentados em vida pelos personagens bíblicos e extra-bíblicos ao longo da história humana foram uma semeadura. Fonte: SILVA, Antonio. Apocalipse e Escatologia. Curitiba: Contentus, 2020, p. 93. Em relação ao texto de Apocalipse 5, “a escolha do Cordeiro feita por Deus significa que ele não se volta para os poderosos, mas para as vítimas, não para o forte, mas para o fraco, dando outro rosto ao ‘sucesso’ e ao ‘exercício do poder’. Esta é uma mensagem importantíssima para ‘uma cultura de auto engrandecimento'. Apocalipse desmascara a cultura humana e a violência que ela institucionaliza.” Fonte: OSBORNE, Grant R. Apocalipse: comentário exegético. São Paulo: Vida Nova, 2014, p. 297-298. 109UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL CONSIDERAÇÕES FINAIS Encerramos nossa última unidade de estudo em Apocalipse e Escatologia! Em todo o período de aprendizado espero que você tenha acrescentado aos seus conhecimentos teológicos, informações importantes para a construção de sua carreira acadêmica. A escatologia traz consigo muitas barreiras a serem transpostas, que principalmente se concentram não em finalizar discussões intermináveis acerca do arrebatamento, tribulação e milênio, mas em buscar o entendimento do que pode ser respondido claramente pelas Escrituras Sagradas. Os temas aqui apresentados como a questão de Israel e a Igreja e seu papel na linha do tempo escatológica, a grande tribulação, a eternidade e os juízos passam por linhas de pensamentos que envolvem a filosofia, a religião e a cultura popular. Não somos os únicos na busca do entendimento desses temas. Os gregos buscaram entender a eternidade, os romanos a entendiam como um espelho da vida, para os hindus e os budistas as almas retornam ao mundo. Portanto o estudo demanda muita dedicação e pesquisa para elucidar tantas questões. Com isso podemos dizer que o estudo escatológico também abrange os mais diversos conhecimentos nas áreas teológicas como cristologia, Soteriologia, eclesiologia, etc.; afinal tratamos de assuntos referentes à igreja, salvação eterna e juízo. Como podemos aprender de forma eficaz diante de tantos assuntos e desafios? Simplesmente dando continuidade aos estudos através de pesquisas durante o curso de teologia e, ainda mais, indo além deste período. Finalizando, aproveite todo aprendizado desta unidade e prossiga na busca do conhecimento. Espero ter contribuído para o seu crescimento em tão importante assunto da teologia. Nos vemos em uma próxima oportunidade! Até logo! 110UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL LEITURA COMPLEMENTAR Artigo: A questão da temporalidade escatológica Autor: Laerte Tardeli Hellwig Voss Link de acesso: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/34543/34543_3.PDF Resenha: Em Oscar Cullmann, uma proposta significativa para resolver o problema da polarização da temporalidade escatológica. Cullmann, a partir de sua exegese do Novo Testamento, vê como o Reino de Deus e suas promessas reivindicam uma dupla aplicação temporal, um aspecto já inaugurado na pessoa e obra de Jesus Cristo, já presente entre nós, e outro ainda não consumado, o qual é esperado para o futuro, para a parusia. Nascia o insight já e ainda não. Fonte: VOSS, Laerte Tardeli Hellwig. A questão da temporalidade escatológica. In: VOSS, Laerte Tardeli Hellwig. A tensão já e ainda não em Oscar Cullmann: possibilidades e implicações para a missão da igreja. Rio de Janeiro: PUC-RIO, Departamento de Teologia, 2018. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/34543/34543_3.PDF . Acesso 04 Nov 2022. https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/34543/34543_3.PDF https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/34543/34543_3.PDF 111UNIDADE 4 ESCATOLOGIA - PARTE FINAL MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Apocalipse: Comentário Exegético Autor: Grant R. Osborne. Editora: Vida Nova. Sinopse: O Comentário de Osborne sobre Apocalipse tem como alvo interpretar o texto e, ao mesmo tempo, apresentar aos leitores as perspectivas da erudição contemporânea de ma- neira clara e acessível. O autor analisa diversas abordagens de comentaristas quanto a se Apocalipse se refere principalmente ao passado ou aos eventos que ainda estão no futuro. FILME/VÍDEO Título: Profecias do Fim do Mundo Ano: 2021 Sinopse: O Apocalipse, o livro mais impressionante e extremo da Bíblia, é um texto sagrado que profetiza o final dos tempos. Que segredos estão ocultos em suas páginas? Quanto tempo de vida resta à espécie humana? Segundo vários especialistas, dos sete selos que compõem o Apocalipse, cinco já foram abertos, e agora o sexto está prestes a se abrir, trazendo a destruição de grande parte da população mundial. Mas, afinal, o Apocalipse é o melhor roteiro de um filme de ficção ou é realmente um aviso de um final anunciado? Link: https://www.youtube.com/watch?v=Xhsk_MI9FJo https://www.youtube.com/watch?v=Xhsk_MI9FJo 112 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEN, Clifton J. Comentário bíblico Broadman: Novo Testamento. Tradução de Adiei Almeida de Oliveira, 2ª Edição, Rio de Janeiro: JUERP, 1987. BÍBLIA. Português. Bíblia Online. Versão ACF. 1994. (não paginado) Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/acf/index/. Acesso em 15 Out 2022. BÍBLIA. Português. Bíblia online. Versão ARA. 2ª Edição, 1993. (não paginado). Disponí- vel em: https://www.bibliaonline.com.br/ara. Acesso em: 10 Setembro 2022. BÍBLIA. Português. Bíblia Online. Versão ARC. 1995. 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Além disso, destacamos a perseguição por parte do Império Romano e as seitas religiosas e suas práticas heréticas. Em Escatologia tratamos sobre um assunto impopular para a maioria das pessoas, a morte e o estado intermediário. Diversas perspectivas religiosas formularam suas visões ao longo da história, desta forma abordamos suas principais linhas de pensamento buscando esclarecê-las. Tratamos também sobre as principais linhas teológicas a respeito do arrebatamento, o Reino Milenar, a Grande Tribulação, a ressurreição dos mortos e o Estado Eterno. Esse olhar para essas linhas teológicas, nos fazem estudar o assunto com um olhar bíblico, exegético, deixando de lado os paradigmas religiosos e opiniões pessoais. A partir de agora temos que nos posicionar como estudantes de teologia, no sentido de aprofundamento desses importantes conceitos. Afinal, a pesquisa deste importante conteúdo demanda tempo pela sua complexidade. Espero ter contribuído para seu crescimento e conhecimento desta importante temática: o Apocalipse de João e a Escatologia. Muito obrigado. Nos vemos numa próxima oportunidade! ENDEREÇO MEGAPOLO SEDE Praça Brasil , 250 - Centro CEP 87702 - 320 Paranavaí - PR - Brasil TELEFONE (44) 3045 - 9898 Shutterstock Site UniFatecie 3: Botão 11: Botão 8: Botão 9: Botão 10: