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Professor Esp Erison de Moraes Valério LIVRO DO APOCALIPSE E LIVRO DO APOCALIPSE E ESCATOLOGIA ESCATOLOGIA REITOR Prof. Ms. Gilmar de Oliveira DIRETOR DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Ms. Daniel de Lima DIRETORA DE ENSINO EAD Prof. Dra. Geani Andrea Linde Colauto DIRETOR FINANCEIRO EAD Prof. Eduardo Luiz Campano Santini DIRETOR ADMINISTRATIVO Guilherme Esquivel SECRETÁRIO ACADÊMICO Tiago Pereira da Silva COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Prof. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Prof. Ms. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Ms. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE GESTÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS Prof. Dra. Ariane Maria Machado de Oliveira COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE T.I E ENGENHARIAS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE SAÚDE E LICENCIATURAS Prof. Dra. Katiúscia Kelli Montanari Coelho COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Caroline da Silva Marques Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Marcelino Fernando Rodrigues Santos Eduardo Alves de Oliveira Jéssica Eugênio Azevedo Kauê Berto PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO André Dudatt Carlos Firmino de Oliveira Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO Carlos Eduardo da Silva DE VÍDEO Carlos Henrique Moraes dos Anjos André Oliveira FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP V164L Valério, Erison de Moraes Livro do Apocalipse e escatologia/ Erison de Moraes Valério. Paranavaí: EduFatecie, 2023. 117 p. 1.Bíblia - Profecias. 2. Escatologia. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD:23.ed. 242.2 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9 /1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas dos bancos de imagens Shutterstock . 2023W by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ Prof. Esp. Erison de Moraes Valério ● Bacharel em Teologia (UniFil); ● Especialista em Teologia Sistemática Contextualizada (Fabapar); ● Especialista em Teologia e Interpretação Bíblica (Fabapar); ● Especializando em Docência no Ensino Superior (Unicesumar); ● Professor de Apocalipse e Escatologia no Curso de Teologia EAD (UniFate- cie); ● Professor de Noções de Grego e Hebraico no Curso de Teologia EAD (Uni- Fatecie); ● Professor de Grego e Exegese do Novo Testamento do Curso de Bacharel em Teologia e Tecnólogo em Ministério Pastoral EAD (UniFil); ● Professor de Hebraico e Exegese do Antigo Testamento do Curso de Bacharel em Teologia e Tecnólogo em Ministério Pastoral EAD (UniFil); ● Professor do Seminário Teológico Rogate (Str), nas disciplinas: Teologia Sis- temática, Interpretação Bíblica, História do Cristianismo, Homilética, Geografia e Cultura Bíblica, Caráter e Integridade. Trabalhou como coordenador do curso de Teologia com Aperfeiçoamento ministe- rial do Seminário Teológico Rogate, onde é professor desde 2018. Na área de pesquisa dedica-se aos estudos em Interpretação bíblica, exegese, e Teo- logia Sistemática. É pastor ordenado desde 2018 e atua na área pastoral e ensino teológico. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/4074326759508240 AUTOR http://lattes.cnpq.br/4074326759508240 4 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá Aluno (a)! Bem-vindo (a)! Iniciaremos nossos estudos sobre literatura bíblica que mais desperta curiosidade e atenção, afinal se trata de assuntos que na Teologia são conhecidos como estudo das “últimas coisas”. Espero que este material, proporcione o crescimento saudável e acrescente o conhecimento necessário para sua formação. O assunto, Apocalipse e Escatologia, é de suma importância para construir no estudante, os princípios necessários para a carreira teológica. Afinal, existe uma complexidade de assuntos que os envolvem tal ciência que são interdependentes de outras disciplinas. A interconexão que o tema faz com outras frentes teológicas, acontece tanto nos estudos sistemáticos como a Cristologia, Eclesiologia, Teontologia, como entre os demais livros da Bíblia como Daniel, Ezequiel, Mateus, Marcos e algumas cartas pastorais. Nosso material fornecerá subsídios necessários para entender de forma panorâmica todas as vertentes que formam essa área. Na unidade I, vamos aprender sobre os posicionamentos a respeito da autoria do Livro de Apocalipse, os panoramas histórico-cultural e religioso que auxiliarão na compreensão da situação histórica em que foi produzida a obra. Por fim, será apresentado a você a teologia do livro do Apocalipse, com uma abordagem das temáticas pertinentes a mensagem. Já na Unidade II, você irá aprender um pouco mais sobre o livro do Apocalipse, mais especificamente nas formas de interpretação, e na estrutura do livro. A partir do conhecimento da estrutura que se forma o livro, é possível realizar um esboço exegético das temáticas do livro. Em seguida, na Unidade III, estudaremos a respeito da Escatologia Individual com os pontos de vista a respeito da Morte, Estado Intermediário e Ressurreição. Bem como, as posições teológicas a respeito do arrebatamento e do Reino Milenar, que foram sendo formalizadas ao longo da história pelos estudiosos. Na Unidade IV, finalizaremos o conteúdo da disciplina com a abordagem do papel de Israel e a Igreja no panorama escatológico, as perspectivas a respeito da grande tribulação. Estudaremos também a respeito do Juízo Eterno, Galardão e Estado Eterno. Bons Estudos! SUMÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos ● Autoria; ● Propósito do Livro; ● O Contexto Histórico-Cultural; ● Teologia do Livro. Objetivos da Aprendizagem ●Compreender as perspectivas sobre a autoria e data da escrita do livro; ●Estudar a respeito do propósito da composição do livro; ●Entender a importância do contexto histórico cultural na interpretação do Apocalipse; ●Analisar os conceitos teológicos que envolvem a literatura do Apocalipse. 1UNIDADEUNIDADEProfessor Esp. Erison de Moraes Valério APOCALIPSEAPOCALIPSE 7UNIDADE 1 APOCALIPSE INTRODUÇÃO Olá, tudo bem? Seja bem-vindo a nossa Unidade I. Nesta oportunidade, estudaremos o Panorama do Apocalipse de João. Esperoque você esteja com boas expectativas para essa jornada que vamos iniciar. Gostariaque esta introdução aumentasse ainda mais seus anseios para aprender um pouco maissobre a literatura apocalíptica do Novo Testamento.O livro de Apocalipse traz consigo a história da consumação da redenção final.O Reino do Eterno Deus é estabelecido perante toda a criação. Apesar dos Evangelhose Epístolas conterem grande número de profecias, o Apocalipse é o único livro do NovoTestamento que dá ênfase principalmente aos aconte- cimentos proféticos. É conhecidocomo Apocalipse por conta da transliteração da palavra apokalypsis, que significa“revelação”. A linguagem do livro desperta a atenção e a curiosidade por relatar uma série de- visões. Além disso, possui uma linguagem repleta de símbolos e figuras quepotencializam nosso interesse. A pergunta que persiste é: Como entender a mensagemdo Apocalipse? Afinal, quem nunca tentou compreender sua mensagem e se deparoucom obstáculos? Para transpor esses obstáculos, é necessário aprender ascircunstâncias em que o livro foi produzido. Buscando compreender esse panorama queenvolve a história, a cultura e a literatura, podemos obter sucesso.Portanto, neste primeiro tópico da Unidade I, iremos conhecer sobre asperspectivas que envolvem a autoria do livro e o local em que acontecem as revelações.No segundo tópico, vamos analisar o propósito do livro e os motivos pelos quaisfoi escrito. Na ocasião, buscaremos os acontecimentos históricos, que motivaram arevelação e a escrita da literatura apocalíptica.Já no terceiro tópico, o objetivo é aprender sobre o contexto histórico-cultural e avivência religiosa no período histórico das sete igrejas da Ásia Menor. A vida cotidianada igreja, as seitas heréticas e a perseguição pelo Império Romano estão entre osassuntos abordados.Finalizando no quarto tópico, avançamos co- nhecendo a teologia do Livro de Apocalipse em sua mensagem central, estilos literários e análises comparativas entreoutras literaturas apocalípticas não canônicas. Então, vamos lá! Bons Estudos! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8UNIDADE 1 APOCALIPSE AUTORIA E DATA 1 TÓPICO O autor do Apocalipse se identifica simplesmente como João: “Revelação deJesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevementedevem acontecer; e, enviando-as pelo seu anjo, as notificou a seu servo João” (BÍBLIA,Apocalipse 1.1, ARA, 2004). Embora residente na Ásia Menor (ou, antes, Ásia proconsular), João assumeposi- ção de influência entre as igrejas na região. A tradição atribui que João, o filho deZebedeu que permaneceu em Éfeso, era a mesma pessoa identificada como “João, oapóstolo”. Como autor, foi ele que teria recebido a revelação, produzindo os escritos doApocalipse. Segundo afirma LADD (1986, p.8), como é apresentado “o estilo do livropodemos deduzir que ele era um cristão de origem hebraica, conhecendo de ponta aponta o Antigo Testamento. A igreja dos primeiros tempos em geral o aceitou comosendo o apóstolo de Jesus Cristo, o autor do quarto Evangelho.” Existem muitas similaridades notáveis de pensamento e redação entre oEvangelho, segundo João e o Apocalipse. As particularidades, também demonstram o reconhecimento de alguma ligação na autoria dos dois livros. O estilo, a simetria de Apocalipse demonstra que ele foi escrito por um único autor, quatro vezes denomi- nado“João” (Ap. 1.1,4,9; 22.8). Por causa de seu conteúdo e de sua referência às sete igrejas, o Apocalipsecirculou rapidamente e se tornou bastante conhecido e aceito na Igreja primitiva. Ele erafrequente- mente mencionado e citado pelos escritores cristãos dos séculos II e III. 9UNIDADE 1 APOCALIPSE Posteriormente, sendo recebido como parte do cânon dos livros do Novo Testa- mento.Apesar das evidências apontarem para o apóstolo João ser o autor doApocalipse, existem dois posicionamentos que se opõem em relação à sua autoria.Desde o início, o Apocalipse foi considerado uma obra autêntica do apóstoloJoão, que escreveu um Evan- gelho e três epístolas. Isso foi sustentado como verdadeiropor Justino, o Mártir, o Pastor de Hermas, Melito, Irineu, o Cânon Muratoriano,Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes (OSBOURNE, 2014).Esse ponto de vista foi amplamente aceito até a metade do terceiro século. Apartir deste momento, Dionísio apresenta vários argumentos contra a autoria de João ao Apocalipse. Ele observou uma clara diferença no estilo entre Apocalipse e os livros queeram reconhecidos como joaninos. Sua conclusão era que Apocalipse poderia ter si- doescrito por um “João diferente”. Segundo seus argumentos, as evidências internas apontariam algumasdivergên- cias do ponto de vista tradicional. O primeiro posicionamento contrário à autoriade João, fundamenta-se na diferença contida em relação à linguagem grega quandocomparada ao Evangelho de João. Segundo Guthrie (Citado por Osbourne, 2014, p. 4),o autor “faz oposição entre nominativos e outros casos, usa particípios de formairregular, forma orações fragmentadas, acrescenta pronomes desnecessários, fazmistura de gêneros, números e casos, além de introduzir diversas construções nadacomuns”. Conforme Champlim, a linguagem do grego contida nas duas obras, possuialgumas diferenças: O grego do evangelho de João é simples, quase infantil, emboragramatical- mente correto. Mas o grego do livro de Apocalipse é bárbaro, commuitos desacordos quanto ao gênero, além de erros verbais. Foi escrito poralgum judeu que tinha o grego como sua segunda língua, o qual não seinteres- sava especialmente pelos casos gregos, pela concordância em gênero,etc. Pensava ele em hebraico, e algumas de suas declarações só podem ser- compreendidas quando é reconstituído um ‘hebraico tentativo’ (ou aramaico) (CHAMPLIM, 2002, p. 354). Em segundo lugar, observa-se também diferenças no vocabulário e expressõesusa- das. No mais, o conteúdo teológico desse livro difere de outros escritos de João emrelação à ênfase e a apresentação. E em última instância, os outros escritos de Joãoevitam o uso de seu nome, mas nesse livro ele é encontrado quatro vezes (Osbourne,2014).Analisando que, essas dificuldades possam apresentar alguma divergência naautoria de João, obser- vemos dois fatores importantes: Primeiro, é perceptível inúmeras semelhanças notáveis entre Apocalipse e os 10UNIDADE 1 APOCALIPSE outros livros tradicionalmente associados ao apóstolo João. Como exemplo, acon- tece ouso distinto dos termos “verbo, cordeiro, verdade” e o desenvolvimento cuidadoso detemas como “luz e trevas”, “amor e ódio”, “bem e mal”. FIGURA 1 – JOÃO NA ILHA DE PATMOS Depois nota-se que, muitas das diferenças podem ser explicadas pelascircunstân- cias incomuns do livro. Devido à complexidade do conteúdo apocalíptico, aescrita reivindica um tratamento diferenciado. O conteúdo transmitido a João não foi porreflexão, mas sim através de uma série de visões arrebatadoras e espetaculares. Algunsestudiosos também aceitam a possibilidade de João ter um escriba para suavizar o estilogrego na sua forma de escrita. Porém, o exílio em Patmos era um obstáculo para uso detal escriba quando produziu o Apocalipse. 11UNIDADE 1 APOCALIPSE Assim, a evidência interna, embora problemática, não precisa anular o forte eantigo testemunho externo da origem apostólica desse importante livro.A respeito da possibilidade de outro “João” ter escrito o Apocalipse, Osbourne(p. 2) afirma que, “certamente é uma possibilidade, mas ela dependede uma decisãomais importante: será que as diferenças entre o Evangelho e Apocalipse são tãoextraordinárias a ponto de exigirem dois autores distintos?” Existem evidências que possam sustentar a literatura do Apocalipse do NovoTes- tamento, como resultado da escrita do apóstolo João. Quanto às diferenças quepossam conter o Apocalipse e o quarto Evangelho, tornam-se insuficientes quandocomparadas com as similaridades. Conforme já citado anteriormente, existem evidênciashistóricas da aceitação apostólica pelos pais da igreja primitiva (Justino Mártir, Irineu deLion, Tertuliano, Clemente de Alexandria). Tal quesito era fundamental para que o livrofosse considerado canônico (divinamente inspirado). Segundo os estudiosos, semelhanças entre o Evangelho e Apocalipse sãosuficien- tes para fundamentar essa decisão. João e Apocalipse são os únicos dois livrosdo Novo Testamento que defendem a divindade de Cristo, com base no “tema daunidade” entre Deus e Jesus. Segundo Ozanne (Citado por Osbourne, 2014, p.6), no Apocalipse “[...] encontra uma série de termos comuns a João e Apocalipse: ‘con- quistar’,‘guardar a palavra’, ‘guardar os mandamentos’, ‘habitar’, ‘sinal’, ‘testemunho’,‘ver- dadeiro’.” Por conclusão, defende que os elementos linguísticos e gramaticaisindicam grande compatibilidade entre o Evangelho de João e o Apocalipse(OSBOURNE, 2014). Algumas explicações são atribuídas para elucidar as possíveis diferençaslinguísti- cas entre as duas obras, como a presença de um escrevente, que poderia terauxiliado na construção de do gênero apocalíptico, além dos efeitos que as visõesteriam provocado no autor no momento em que registrava.Segundo Osbourne (2014, p. 5), as “[...] profundas experiências de visõesrecebidas em êxtase, logicamente afetariam o estilo do texto de uma pessoa [...], percebe que, entre João e Apocalipse, existe a mesma quantidade de semelhanças e dediferenças. Provavelmente, o livro de Apocalipse foi escrito por volta de 95 a 96 DC,durante a última metade do reino do Imperador Domiciano, o último dos doze CésaresRomanos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12UNIDADE 1 APOCALIPSE 2 PROPÓSITO DO LIVRO TÓPICO O propósito do livro de Apocalipse revela-se no prólogo, quando afirma: “[...] que- Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer, eque ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João” (BÍBLIA,Apocalipse 1,1 ARA, 1993). Apesar da grande maioria de seu conteúdo conter descrições de acontecimentosfuturos, percebemos um propósito histórico e contextual.A Revelação de João acontece no momento em que os cristãos, pela sua fé noCristo ressurreto como Senhor, eram alvos das perseguições do império Romano. Apreocupação contida na revelação, direcionada aos leitores primários das sete igrejas daÁsia, é proporcionar consolo, esperança, encorajamento e estimulá-los a permaneceremfiéis no tempo obscuro que viviam de perseguição e sofrimento.Casagrande (2017, p. 177), corrobora com a ideia e propósito da escrita emtrazer consolo e esperança à igreja, [...] ele desperta o leitor a esperança. Tais visõesrevelam que o futuro não está perdido, pelo contrário, será vitorioso sobre todas asvicissitudes”. Porém, a mensagem também possuía objetivos futuros, conforme oescritor revela: “Escreve, pois, as coisas que viste, e as que são, e as que hão deacontecer depois destas” (BÍBLIA, Apocalipse 1,1 ARA, 1993). Além de um desígnio histórico para o contexto da época, o Apocalipse possuium propósito superior demonstrando a soberania de Deus durante toda a história. Apromessa de Deus em uma redenção total e futura, cujos acontecimentos culminaramem torno de Sua pessoa. A autoridade universal de Cristo é apresentada em todo o livro,como o “Alfa e o Ômega” (Ap. 1.8 e 22.13) de toda a humanidade. 13UNIDADE 1 APOCALIPSE Outros propósitos do livro são associados ao propósito principal, fazendo ligaçãoentre os acontecimentos presentes e futuros. Primeiro, durante todo o livro, o próprio Jesus Cristo alerta para os princípiosmorais e a retidão que devem ser mantidos por parte da igreja. As promessas de reinovindouro contêm essas exortações, em expressões como, “Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (BÍBLIA, Apocalipse 3.11,ARA, 1993). “Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono”(BÍBLIA, Apocalipse 3.21, ARA, 1993). “[...], para que lhes assistam o direito à árvore davida, e entrem na cidade pelas portas. Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, osassassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira” (BÍBLIA, Apocalipse22.14-15, ARA, 1993). Segundo Champlim (2002, p. 220), o autor “[...] tencionava ensinar muitas liçõesmorais à igreja, corrigindo vários lapsos e erros, além de encorajar as igrejas da ÁsiaMenor, e através disso, a igreja cristã inteira.” Portanto, o autor revela as promessas derestauração completa por conta da vinda do Senhor (gr. parousia), concomitante àquelesque guardarem sua fé no Salvador. Em segundo lugar, intentava para os eventos dos “últimos dias” e a condiçõesque circundavam os acontecimentos horrendos relacionados a grande tribulação.Estudiosos afirmam que João acreditava que tais acontecimentos ocorreram naquelestempos apostólicos, por conta da terrível perseguição que viviam sob o Império Romano. Afinal, não se pode atualizar tal mensagem para a contemporaneidade, sem entenderseus objetivos para a época em questão. Pohl (1996, p.14) afirma, “com toda a certeza a palavra profética também sealonga para além daquela época, mas a interpretação do Apocalipse forçosamentefracassará se sua importância para os primeiros destinatários for negligenciada”. Com a finalidade de compreensão de seu propósito universal, é imprescindível oconhecimento do contexto oriundos da escrita do livro de Apocalipse. Desta forma,descortinará as circunstâncias de sua revelação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O CONTEXTO HISTÓRICO- CULTURAL TÓPICO UNIDADE 1 APOCALIPSE 14 3 O apóstolo João, inicia seu texto com uma mensagem oriunda do próprio Cristores- surreto às sete igrejas da província romana da Ásia. A série de mensagens àsigrejas, inicia nos capítulos 2 e 3. Começam com a igreja em Éfeso, uma das cidadesmais importantes da região, e prosseguem em sentido horário, finalizando com a igrejaem Laodicéia. Cada mensagem possuía em seu conteúdo, um significado particular aigreja que foi direcionada, porém, elas possuíam uma relevância para a igreja em suauniversalidade, “quem tem ouvi- dos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (BÍBLIA,Apocalipse 2.7, ARA, 1993). 3.1 O Culto ao Imperador Romano e a Perseguição O culto ao imperador é uma realidade no período histórico que governou oscésares. Nos anos que seguiram após a morte de Cristo, ocorreram perseguiçõesexclusivas e com destino aos cristãos. Contudo, o apóstolo João, vislumbrou uma novarealidade em relação à imposição ao culto do imperador e preparou a igreja para estanova realidade. Desde 86 d.C., o imperador Domiciano, exige para si a veneração como deus,orde- nando que se referisse a ele como “dominus et deus” (Senhor e Deus). A atribuiçãodivina requer a sua própria pessoa, tudo que é inerente a Deus. Tal confissãodemonstrava um teste de lealdade. [...] É possível que alguns cristãos tentaram evitar a situação difícil em que isso os colocava refugiando-se nas sinagogas, onde,nesse aspecto, ainda se aplicavam algumas exceções legais tradicionais concedidas aos judeus. Isso 15UNIDADE 1 APOCALIPSE talvez ajude a explicar as visíveis tensões entre judeus e cristãos nas cartas às sete igrejas (CARSON; MOO; MORRIS; 2007, p. 529). Com relação a Domiciano, Pohl, (1996, p. 15) declara: "no ano 86 deter- minou,como primeiro imperador romano, ser oficialmente chamado de Deus, o Senhor. Seupalácio era considerado um santuário, seu trono uma sede divina”. Por conta disso, o cristianismo torna-se uma religião perseguida. O estilo de vidados cristãos é contrário à cultura do império. Como consequência, praticavam o cultomonoteísta e não aceitavam o culto ao imperador. Por isso, tornam-se inimigos doImpério Romano. FIGURA 2: DE PEDRO NA IGREJA DE SAN PABLO POR ANTONIO GLACERAN E JERÔNIMO DE MORA (1596). Viver o cristianismo nessa época tornou-se um perigo mortal. Por conta da suafé, poderiam perder seus bens e sofrer martírio mediante uma simples acusação. O testemunho eficaz de João sobre Cristo, levou as autoridades romanas aexilarem na pequena e solitária ilha de Patmos, no mar Egeu (Ap. 1.9). Essa ilha de rocha vulcânica era um dos muitos lugares para onde os romanosbaniam os criminosos transgressores políticos. 16UNIDADE 1 APOCALIPSE 3.2 A Religião O livro do Apocalipse apresenta um retrato religioso e social, que proporciona aoleitor um ótimo panorama do contexto. Percebe-se que as sete igrejas da Ásia, sofriamhostilidade por dois aspectos distintos — no âmbito judaico e pelo Império Romano. As relações entre a religião judaica e a igreja, que não foram cordiais desde oinício, se agravaram nos últimos vinte anos do século I. O judaísmo desfrutava deprerrogativas especiais que os romanos favoreciam somente aos judeus: a liberdadepara exercer seu culto monoteísta não adorando os deuses romanos, nem participandodos cultos greco- romanos. O cristianismo era considerado uma ramificação do judaísmo,e se favoreceu desse privilégio até a Revolta Judaica (66-70 d.C.). O judaísmo, porém,procurava gradativamente romper as ligações com o cristianismo, com o objetivo defazer com que o Império Romano declarasse, que o cristianismo não estava desobrigadoem prestar culto ao imperador. Os cristãos padeciam com a intimidação econômica e social para envolver-se noestilo de vida romana, incluindo as organizações de classe, festas e cultos idólatras,além do culto ao imperador. Quando os cristãos se recusavam a participar, naturalmente atraíam muitaantipatia. Essa situação se reflete nas sete cartas, na “tribulação” que os cristãos deEsmirna estavam experimentando (Ap. 2.9). A tribulação se intensificara a ponto deserem presos e mortos (Ap. 2.10; 13.10). O Apocalipse apresenta uma realidade que contrariava a vivência predominanteno mundo romano. Numa esfera transcendente, a igreja apostólica era parte de umacontracul- tura e estava disposta a sofrer por ela. Por conta disso os cristãos eram também odiados por muitos, pois suas vidascons- tituíam permanente condenação dos costumes e da conduta moral dos pagãos. Em toda parte, havia muita coisa que distinguia um cristão dos vizinhos pagãos. Eles se tratavam mutuamente por irmãos em Cristo, e realmente agiam como irmãos.Cui- davam diligentemente dos órfãos, dos doentes, das viúvas, dos desamparados. Ascoletas e a administração dos fundos de caridade constituíam uma das partes maisimportantes da vida dessas igrejas primitivas. Dentro da Igreja todas as distinções foramabolidas. Escravos e senhores foram nivelados. As mulheres alcançaram uma posiçãode honra e de influência que jamais haviam conseguido na sociedade profana. Distinguiam-se também os cristãos por um fervor e pureza moral jamais conhecidos emqualquer parte.Duas influências levaram os cristãos do primeiro século a cair em alguns errosdoutrinários, que de certo modo, ameaçavam a pureza do Evangelho. 17UNIDADE 1 APOCALIPSE Nas sete cartas àsigrejas da Ásia, percebemos algumas repreensões oriundas do Cristo Ressurreto, pelaadesão a algumas dessas práticas que assolavam a igreja. Provavelmente, cristãojudeus provenientes de Jerusalém buscavam incorporar ao Cristianismo regras ecerimônias exigidas pela Lei judaica. Eles foram nomeados de “judaizantes”. Essadivergência doutrinária foi tratada nas décadas anteriores, em Atos 15, por conta dogrande número de conversões em Antioquia. A questão buscava entender, se um judeuconvertido ao cristianismo deveria cumprir alguns preceitos do Judaísmo. A decisão do Concílio de Jerusalém, descrito em Atos 15, resultou que, o judeunão necessitaria cumprir os ritos da lei judaica ao aderir ao Cristianismo. Vejamos: Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ído- los, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes (BÍBLIA, Atos 15.28,29, ARA, 1993). A divergência com a doutrina dos judeus é perceptível em todo NovoTestamento. Eles se tornaram o maior adversário dos cristãos, além de causarem muitasadversidades e superarem os romanos. Os judeus promoviam ações contra os cristãosjunto ao império, uma vez que este recebia a denúncia perseguia os cristãos. Na carta à igreja de Esmirna, em Apocalipse 2.9, Jesus Cristo utiliza o termo“sinagoga de Satanás”, com referência “a blasfêmia dos que se dizem judeus, mas nãosão”. Segundo Osbourne (2014, p. 145), [...] a alegação desses judeus de serem povode Deus é anulada pelo fato de eles serem instrumentos de Satanás contra o verdadeiropovo de Deus, a igreja. Essa afirmação é feita com frequência no Novo Testamento.” A palavra “blasfêmia” (gr. βλασφημίαν) empregado nesta descrição, pode terreferência a difamação da pessoa de Cristo e seus discípulos, por parte dos judeus daépoca. Champlim em sua obra Novo testamento Interpretado, cometa acerca dosignificado mais exato desta afirmação: Justino Mártir acusou que os judeus, nas suas sinagogas, amaldiçoavam em público a todos quantos confiassem em Cristo. Tertuliano mostra-nos como os judeus instigaram ativamente a perseguição contra os cristãos e, Eusébio em sua História Eclesiástica, demonstra a mesma coisa (CHAMPLIM, 2002, p. 396). 18UNIDADE 1 APOCALIPSE 3.3 Doutrinas divergentes ao Cristianismo 3.3.1 O Gnosticismo Encontramos no Novo Testamento advertências solenes contra os erros dochamado Gnosticismo. Esta seita surgiu no século I, tornando-se muito poderosa nosséculos vindouros. Seus ensinamentos construíam uma estranha mistura de ideiascristãs, judaicas e pagãs. Por combinar tais preceitos, era confundido com algumaspráticas cristãs, ocasionando problemas doutrinários expressivos à igreja dos primeirosséculos. Seus ideais consistem em alcançar um conhecimento autêntico maior, quepossibilitaria a salvação. Através de uma sabedoria esotérica proveniente das religiõesde mistério dos gregos, afirmavam que aqueles que tinham contato com o material, demodo nenhum poderiam alcançar algo espiritual. O objetivo era a salvação da alma.Champlim (2006, p. 919), explica que a alma “[...] é a parte imaterial do homem, destemundo material, incluindo nossos corpos físicos, seria inerentemente má, totalmenteincapaz de redenção”. Seus preceitos distanciavam-se da doutrina cristã, pois negava que Deus fosseo Criador do mundo e dos homens, como também negava que Cristo tivesse tido umavida física real. 3.3.2 A doutrina de Balaão A doutrina refere-se ao profeta gentio Balaão consultado por Balaque, rei deMoabe que ordenou proferir maldição ao povo hebreu. Essa história se encontra no Livrode Números capítulos 22 ao 24. Fazendo oposição a Balaque, o profeta Balaãopronunciou várias bênçãos, porém, o livrode Números 25.1-3, descreve os israelitassucumbindo a imoralidade, com mulheres pagãs e à idolatria pela adoração a Baal: Ora, Israel demorava-se em Sitim, e o povo começou a prostituir-se com as filhas de Moabe, pois elas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu, e inclinou-se aos seus deuses. Porquanto, Israel se juntou a Baal- Peor, a ira do Senhor acendeu-se contra ele (BÍBLIA, Números 25.1-3, ARA, 1993). Segundo Champlim (2002, p. 402), Balaão conduziu os hebreus a união com opa- ganismo: “[...] por não poder ‘amaldiçoar’ ao povo de Israel, Balaão tentou corrompê-lo, e isso levando seus varões a ter relações sexuais com mulheres moabitas”.Tal pecado foi atribuído ao conselho do profeta gentio: “Eis que estas foram asque, por conselho de 19UNIDADE 1 APOCALIPSE Balaão, fizeram que os filhos de Israel pecassem contra o Senhorno caso de Peor, pelo que houve a praga entre a congregação do Senhor” (Bíblia,Números 31.16, ARA, 1993). No contexto do Apocalipse, a doutrina de Balaão refere-se aos praticantes daimo- ralidade sexual e a liberalidade à prática da idolatria comum aos pagãos. A imoralidade tornou -se algo desejável, como se tivesse ‘finalidades boas’ no seio da igreja cristã. Em outras palavras, a ‘mentalidade pagã’, no tocante às questões sexuais e outras, tornou-se a mentalidade prática e a doutrina da igreja dali (CHAMPLIM, 2002, p. 402). As palavras gregas utilizadas na passagem de apocalipse 2.14 (gr. βαλεῖνσκάνδαλον, balein skandalon, “pedra de tropeço”), possui o sentido de induzir alguém aprática de apos- tasia, ou seja, induzir alguém ao erro. Osbourne (2014, p.159), interpretatal passagem da seguinte forma: “Os dois aspectos de seu ‘ensino’, idolatria eimoralidade, se relacionam mais com a prática do que com a doutrina [...]. O autor do livro descreve as práticas dos seguidores de Balão, fazendoreferência a “comer das coisas sacrificadas a ídolos”, “praticar idolatria” e “seprostituírem”. Tais atitudes remanescentes, foram consideradas proibidas aos novosconvertidos gentios pelo Concílio de Jerusalém conforme Atos 15. É bem provável queos seguidores da doutrina de Balaão procuravam incorporar esses comportamentos noCristianismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 TEOLOGIA DO LIVRO DE APOCALIPSE TÓPICO UNIDADE 1 APOCALIPSE 20 O tema teológico central do Apocalipse é a soberania de Deus nos eventos ao- longo da história. Percebemos essa evidência, através dos relatos de suatranscendência em relação ao mundo criado. O título “Todo-Poderoso”, ocorre novevezes designando a onipotência de Deus, não somente na história da humanidade, masem relação às forças do mal (OSBOURNE, 2014). O controle universal do Todo-Poderoso é declarado nas expressões queaparecem ao longo do livro, como, “daquele que é, e que era, e que há de vir” (Ap. 1.8)e, “Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, e que era, e que há devir, o Todo-Poderoso”. Além de que: Os primeiros capítulos colocam lado a lado dois cenários: celestial (cap. 1; 4; 5;7) e terreno (cap. 2; 3; 6; 8; 9). Os cenários do céu tipificam adoração, alegria,paz e triunfo, ao passo que os da terra evocam dificuldades, caos, apostasia ejuízo (OSBOURNE, 2014, p.35). A Cristologia no livro, reflete a obra final através da unificação das bênçãos desua obra redentora. Nos três primeiros capítulos encontramos as descrições em torno doCristo Glorificado. O livro retrata Jesus Cristo como “a Fiel e verdadeira Testemunha” (Ap 1.5),ex- pressão também utilizada nos capítulos (3.14) na carta a Laodicéia e, por fim, em(19.11) atribuindo a ele a qualidade de verdadeiro. 21UNIDADE 1 APOCALIPSE O termo grego aqui traduzido por testemunha, também pode significar ‘már- tir’embora seu significado original fosse, realmente, “testemunha”. O presen- te textonão parece indicar a ideia de “mártir”. Testemunha, porém, é palavra que secoaduna com as exigências do contexto. É mister que uma testemu- nha sejainerentemente veraz e fiel, cumprindo sua missão segundo essas qualidadespessoais. Uma testemunha de nada vale, se não disser a verdade (CHAMPLIM,2002, p. 430). O primogênito dentre os mortos refere-se a sua morte e ressurreição, sendo oprimei- ro dos mortos a ressurgir e ser glorificado, abre caminho para os demais. Assim,podemos trazer dois destaques em especial: [...] Jesus é soberano sobre a vida e a morte, ideia que nos prepara para verJesus como o juiz escatológico (20.14; 21.4), uma autoridade que elecom- partilha com o Pai, e também é o protótipo daqueles que com ele haverão deressuscitar (2.7,11; 20.6; 22.2,3,14,17) (OSBOURNE, 2014, p. 39). O título de “Cordeiro” é aplicado a Cristo no livro de Apocalipse 29 vezes, das 30menções encontradas no Novo Testamento. Osbourne (2014, p. 39), declara que “é um- título que se volta totalmente para a grandiosa vitória escatológica de Cristo comocordeiro pascal sobre a cruz.” A primeira citação acontece no capítulo 5.16: “um Cordeiroem pé, como se tivesse sido morto”, retratando a obra redentora na cruz. Portanto, a soberania de Deus confere ao Salvador ressurreto autoridade como“a- quele que reina sobre os reis da terra”. São eles, os inimigos de Cristo (Ap 10.11;17.18) que serão derrotados por ele (6.15; 18.9; 19.18) e no final levarão sua glória paraa Nova Jerusalém, em Apocalipse 21.24 (OSBOURNE, 2014). Outra característica manifesta no livro é o encorajamento à fidelidade por partedos santos. A ética e a moralidade são condutoras da mensagem apocalíptica. Éintrínseco, não apenas os incentivos, mas advertências ao homem mudar de atitude. EmApocalipse 1.19, a perseverança é atestada pelo autor em sua prisão na ilha de Patmos. A primeira menção acontece na mensagem dirigida à Éfeso, em Apocalipse2.2,3, como um elogio à perseverança em suportar os “homens maus”, ou seja, os falsosmestres. Na igreja de Tiatira, em Apocalipse 2.19, a perseverança é enaltecida pelasobras realizadas. A perseverança na mensagem das sete igrejas da Ásia referem-se aosvencedores, ou aos vitoriosos. Aos que mantêm o testemunho fiel e verdadeiro, sãodirigidas as promes- sas escatológicas: ● “O que vencer, de modo algum sofrerá o dado da segunda morte” (BÍBLIA, Apocalipse 2,11 ARA, 1993); 22UNIDADE 1 APOCALIPSE ● “Ao que vencer darei do maná escondido, e lhe darei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe” (BÍBLIA, Apocalipse 2,17 ARA, 1993); ● “E ao que guardar as minhas obras até o fim, eu lhe darei autoridade sobre as nações” (BÍBLIA, Apocalipse 2,26 ARA, 1993); ● “O que vencer será assim vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; antes confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos” (BÍBLIA, Apocalipse 3,5 ARA, 1993); ● “A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, donde jamais sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, da parte do meu Deus, e também o meu novo nome” ((BÍBLIA, Apocalipse 3,12 ARA, 1993); ● Ao vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono” (BÍBLIA, Apocalipse 3.21 ARA, 1993). Em outras passagens no livro de Apocalipse, são mencionados aqueles queperseveraram, e estes receberão a coroa por manter a santidade e os princípios morais do Eterno: Aquele que vencer herdará estas coisas; e eu serei seu Deus, e ele será meufilho. Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aoshomicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos osmentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segundamorte (BÍBLIA, Apocalipse 21.7-8, ARA, 1993). 4.1 O estilo literárioO início do livro de Apocalipse, transparece distinguir três estilos literários:“apocalipse”, “profecia” e “epístola”. Existem estudiosos defensores de cada um dosestilos, com uma importância ímpar dentro da literatura do Apocalipse. Embora reconheça claramente a diversidade entre a profecia e o estiloapocalíptico como dois gêneros literários, a semelhança leva os estudiosos a afirmaremque o apocalíptico seria uma espécie de “continuidade” da profecia. Esta nova forma deexpressão ocorre como um “substituto” que ocorreu no judaísmo, depois do períodoprofético. Há uma diferença notável entre as duas quanto à forma. Via de regra, a profeciaera composta de oráculos breves, orais e frequentemente poéticos, que eramproclamados e 23UNIDADE 1 APOCALIPSE só mais tarde escritos. O apocalíptico era literário quanto à forma desdeo princípio. “A profecia tem certo tom de otimismo (se a nação se arrepender, nãohaverá julgamento), mas a apocalíptica tende a ser pessimista (a única esperança estáno futuro e não no presente)” (OSBOURNE, 2014, p. 14). Além disso, o livro contém em sua literatura, a forma epistolar na mensagem asigrejas da Ásia nos capítulos 2 e 3. É predominante na linguagem, a conjugação doverbo em terceira pessoa, como característica da mensagem profética de Jesus Cristo.Por exemplo: “Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meiodos sete candeeiros de ouro” (BÍBLIA, Apocalipse 2.1 ARA, 1993). É manifesto que o Apocalipse é reconhecido com o estilo apocalíptico, apesar deconter outros aspectos literários. A apocalíptica tenta chegar aonde à profecia não mais consegue, ou melhor, éuma profecia de longo alcance que tenta trazer o céu para a terra ou levaralguém para espiar o céu e contar para os demais por meio de visões”(CASAGRANDE, 2017, p.128). O apóstolo João, autor do Apocalipse do Novo Testamento, apresenta umalinguagem que aparenta o dualismo, de conflito entre as forças do bem e do mal. Adiferença entre os outros apocalipses judaicos e pseudoepigráficos, está na abordagemdada a soberania e transcendência de Deus em relação aos poderes demoníacos. Alémdisso a literatura apocalíptica de João, possui uma linguagem que contém símbolos que,outrora, são interpretados pelo próprio autor: “e foi precipitado o grande dragão, a antigaserpente, que se chama o Diabo e Satanás, que engana todo o mundo; foi precipitadona terra, e os seus anjos foram precipitados com ele” (BÍBLIA, Apocalipse 12.9, ARA,1993). 4.2 Canonicidade do livro O Apocalipse do Novo Testamento é assegurado como obra canônica(divinamente inspirado) e apostólica, desde a época mais antiga da história da igreja,com início em Her- mas, no início do século II d.C, até Orígenes, no começo do século IIId.C. O livro de Apocalipse possuía grande aceitação como qualquer outro livro doNovo Testamento, porém, houve aqueles que o rejeitaram. Por exemplo, Apocalipse nãoconstava na lista do cânon do Concílio de Laodicéia no Ano de 360 d.C., além de nãoser incluído nas liturgias da igreja oriental da Peshita, a Bíblia siríaca. (OSBOURNE,2014). Acerca dessas rejeições da canonicidade do livro, D.A Carson e Leon Morrisafir- mam que: 24UNIDADE 1 APOCALIPSE [...] essas rejeições de Apocalipse ocorridas aqui e ali na igreja ocidental nãoafe- taram sua canonicidade, e a partir do momento não há, no Ocidente,nenhuma sombra de dúvida quanto à plena condição canônica de Apocalipse(CARSON; MORRIS, 2007, p. 536). No Concílio que aconteceu em Cartago no ano de 397 d.C, Atanásio inclui oApo- calipse de João como sendo parte do Cânon oficial do Novo Testamento, formandoassim, vinte e sete livros canônicos. Posteriormente, ocorre uma maior aceitação do livrono oriente e, no ano de 680 d.C., o Apocalipse foi considerado canônico no Concílio de Constantinopla. 4.3 Literaturas apocalípticas não canônicas A teologia encontrada no Apocalipse do cânon do Novo Testamento, éconsideravelmente diferente dos apocalipses não canônicos. O Apocalipse de João,assim como os outros não canônicos, foram escritos em épocas de perseguição.Entretanto, os não canônicos possuem uma narrativa que evidencia a pior situação desua cultura contemporânea, mas não atribui esses eventos a Deus. O Apocalipse de João é repleto de fé e esperança, de cânticos de alegria pelacerteza da vitória final. Em contrapartida, os apocalipses pseudoepígrafos, revelavamsomente uma avaliação pessimista da cultura contemporânea. O termo“pseudoepigráficos”, “[...] significa que ‘em honra’ a alguma antiga personalidadefamosa, um livro foi escrito por outrem, aproveitando-se do prestígio do nome daquelapersonalidade, a fim de perpetuar sua tradição” (CHAMPLIM, 2002 p. 352). Neste tipo de literatura apocalíptica, a maldade predominava em qualqueroportunidade, remetendo a ideia de triunfo sobre o povo de Deus. O controle totalaparentava ter sido obtido pelos poderes demoníacos.Essas literaturas não inspiradas consideravam um tipo de dualismo, poisapresentavam os acontecimentos apocalípticos como um conflito cósmico entre o bem eo mal. As literaturas apocalípticas não-canônicas mais conhecidas são: ● O livro de Enoque, que é geralmente designado como I Enoque, erao mais impor- tante dos livros pseudoepigráficos. Vejamos o que afirma CliftonAllen em seu comentário bíblico: [...] Deus lhe havia dado a revelação e um anjo lhe havia mostrado uma visão ehavia explicado tudo o que viria a acontecer no futuro. Os anjos haviam- seenamorado das filhas dos homens, e por isso haviam caído à terra e causado omal entre os homens. [...] Ele perscrutou o Sheol, e discerniu as suas divisões.Uma desordenada curiosidade a respeito do calendário levou 25UNIDADE 1 APOCALIPSE a uma divisão dahistória em dez períodos, dos quais o sétimo, caracterizado pela apostasia, haviachegado. O oitavo período era esperado para logo, e seria cheio de justiça. Osímpios seriam destruídos durante a nona era, em preparação para a décima, quetraria novos céus e terra (ALLEN, 1987, p. 286). ● Os Testamentos dos Doze Patriarcas haviam sido escritos no período de 109-107 a.C. Tipicamente pseudepigráficas, apresenta-se como sendo escrito pelos doze filhos de Jacó; ● O Apocalipse de Esdras, que recebe a nomenclatura de IV Esdras. Consiste de sete visões supostamente tidas por Esdras na Babilônia, mas, na verdade, relacionadas com a última parte do primeiro século cristão. Retrata o pensamento judeu à luz da queda de Jerusalém diante dos romanos, em 70 d.C. 4.4 Diferenças importantes As diferenças entre o Apocalipse de João e os outros apocalipses não canônicos- são mais acentuadas do que as possíveis similaridades. Vejamos: ● No apocalipse de João, o conflito dualista é apresentado de um ponto de vista inferior a pessoa de Deus, e nunca se abdica da soberania do Deus Eterno. A transcendência de Deus, apresentada é sublime e remete a exaltação. Portanto, não apresenta indícios de ausência ou desinteresse de Deus em relação a criação, como sugere algumas obras apocalípticas pseudoepigráficas; ● A linguagem de mistério que possam remeter a incompreensão no livro, não apontam para o esoterismo dos apocalipses não-canônicos. O autor se empenha para que haja entendimento apesar da complexidade de seu conteúdo (BROADMAN, 1987); ● Um dos critérios de canonicidade é que seu autor seja conhecido. No caso do Apocalipse, o autor é João. Ele utiliza o seu nome no início do livro e escreve aos cristãos das sete igrejas da Ásia, que anteriormente o conheciam. As literaturas pseudoepigráficas utilizavam o nome de um autor, que em sua maioria, constituía vários autores. Portanto, o Apocalipse de João não é pseudoepígrafo; 26UNIDADE 1 APOCALIPSE ● O Apocalipse de João demonstra a obra redentora em uma linguagem cristológica quedifere do apocalípticos que apresentam elementos do judaísmo; ● Em relação aos conceitos morais e éticos, Broadman afirma: “Uma ênfase diferente acerca da ética é perceptível. Os profetas tinham umaprofunda apreciação pelas escolhas e pelo procedimento dos homens comofatores determinantes do futuro. Os apocalípticos, crendo que o futuro já haviasido determinado conforme outros padrões, surpreendentemente ficavam adesejar em termos de exortações de natureza ética” (BROADMAN, p. 288); ● O sofrimento da humanidade tem uma abordagem diferente quando relacionado às literaturas apocalípticas não-canônicas. Nota-se uma espécie de dualismo com o confronto entre a ordem e o caos, o pecado e a queda dos homens e dos anjos. Além disso, ocorre o conflito de Deus e seus exércitos celestiais, contra Satanás e seus anjos. Além disso, a resultante do sofrimento ocorre através da atuação dos poderes malignos, tomando o ser humano como sendo indefeso; ● A revelação do Apocalipse de João, revela um conceito divergente acerca do sofrimento. As decisões morais baseadas na fé do Salvador Ressurreto, podem vencer o sofrimento. A obra redentora de Cristo obteve a vitória sobre o pecado e aqueles que permanecem fiéis, podem desfrutar da vitória final apesar do sofrimento. João estabelece equilíbrio entre a história da queda do homem e seus sofrimentos com a esperança escatológica. Tal conceito de esperança e vitória final é ausente nos apocalipses não-canônicos (BROADMAN, 1987); ● Inúmeros apocalipses judaicos e cristãos não-canônicos propiciam uma fonte literária ampla. Porém, O livro de Daniel é a fonte mais importante de informação para a interpretação do Apocalipse de João, visto que ele oferece uma similaridade grande com as figuras utilizadas pelo seu autor João. Os dois grandes livros que contém similaridades são Daniel e Apocalipse. Porémnu- merosas passagens apocalípticas aparecem na Bíblia, tais como Isaías 24-27, Marcos13 e II Tessalonicenses 2:1-12. Os Evangelhos do Novo Testamento têm um aspecto fortemente apocalíptico. 27UNIDADE 1 APOCALIPSE Você sabia que é possível visitar a ilha onde João escreveu o Apocalipse? Naprová- vel localização descrita no capítulo 1 e versículo 9, existe uma gruta que segundoa tradição local, acredita ser o local exato onde foi escrito o Apocalipse. Apesar de nãohaver compro- vação que o local seja exatamente onde acontecem as revelações, o vídeodisponível no link abaixo mostra detalhes dessa fascinante ilha. Acesse o Link:https://www.youtube.com/ watch?v=7rjHt7wjj0A Para cada carta às sete igrejas da Ásia, o nome e a representação de JesusCristo possuem uma aplicação prática para a realidade que viviam. Citações como: “Istodiz o primeiro e o último, que foi morto e reviveu”, “aquele que tem a espada aguda dedois gumes”, demonstram o senhorio e a soberania do Salvador, além de trazer umaexortação aos seus ouvintes. Fonte: O Autor (2022). https://www.youtube.com/watch?v=7rjHt7wjj0A https://www.youtube.com/watch?v=7rjHt7wjj0A 28UNIDADE 1 APOCALIPSE CONSIDERAÇÕES FINAIS Estamos encerrando nossa primeira unidade de estudo. Meu desejo é que vocêstenham aprendido bastante sobre o panorama do Apocalipse. Entendo que o assunto écomplexo e demanda muito mais dedicação e pesquisa. Com a finalidade de aprofundarseus conhecimentos, incentivo que se aprofundem um pouco mais no assunto, atravésde artigos científicos, dicionários teológicos, enciclopédias, livros e obras sistemáticas.Como consequência, você terá mais ferramentas para obter uma interpretação saudávelda mensagem do livro. Sendo assim, vamos finalizar alguns assuntos tratados, como por exemplo aperseguição dos cristãos e a religião da igreja primitiva. Estudamos o propósito e asquestões que impulsionaram João a escrita do texto. A revelação acontece no momentoem que os cristãos passavam por perseguições pelo império, portanto, conseguimosidentificar o propósito histórico da revelação do Apocalipse. Jesus Cristo se dirige,primeiramente, às sete igrejas da Ásia com uma mensagem contextual para suarealidade. Encontramos momentos de repreensão, conforto e elogios. Porém a mensagem traz revelações através das visões, que apontam paraacontecimentos majestosos que provavelmente acontecerão no futuro, ou seja, odesfecho da história da redenção com o Reino Eterno. Sobre este assunto falaremos umpouco mais na Unidade II. A mensagem teológica do Apocalipse trata como tema central a soberania deDeus nos momentos de perseguição, até o momento final. A obra redentora de Cristoressurreto é apresentada em diversos pontos da obra, como Deus sublime e exaltado. Oestilo apocalíptico presente na obra, apresenta o juízo não de forma pessimista, sob aperspectiva de um Deus ausente e distante. Além disso, revela a intenção dealinhamento moral segundo seus princípios, com a mensagem de arrependimento parasalvação que sobrepõe o sofrimento. Espero que tenha sido um tempo proveitoso e desejo a você ótimos estudos! Até a próxima unidade! 29UNIDADE 1 APOCALIPSE LEITURA COMPLEMENTAR O chamado para o martírio em Apocalipse: as sete igrejas da Ásia O artigo traz uma abordagem importante sobre o martírio e a perseguiçãopresentes no contexto da escrita do Apocalipse, em especial as sete igrejas da Ásia. Otrabalho elucida questões básicas dos motivos da perseguição e o posicionamento doscristãos da época em relação ao martírio. Fonte: LIMA, LEANDRO A. O chamado para o martírio em Apocalipse: as sete igrejas da Ásia. FidesReformata. São Paulo: Editora Mackenzie, v. 26, n. 1, 2021.Disponível em: https://cpaj.mackenzie.br/wp-content/uploads/2021/07/Fides-26-1-1-O-Chamado-pa- ra-o-Martirio-em-Apocalipse-Leandro-Lima.pdf Acesso em: 13 out. 2022. https://cpaj.mackenzie.br/wp-content/uploads/2021/07/Fides-26-1-1-O-Chamado-para-o-Martirio-em-Apocalipse-Leandro-Lima.pdf https://cpaj.mackenzie.br/wp-content/uploads/2021/07/Fides-26-1-1-O-Chamado-para-o-Martirio-em-Apocalipse-Leandro-Lima.pdf 30UNIDADE 1 APOCALIPSE MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Apocalipse para todos Autor: N.T. Wright. Editora: Thomas Nelson Brasil. Sinopse: Muitos consideram Apocalipse o livro mais difícil do Novo Testamento. Eleestá cheio de imagens estranhas, sinis- tras e, às vezes, violentas. Como resultado, aspessoas que se sentem seguras nos Evangelhos, em Atos e nas Cartas Paulinas seveem pisando em ovos em torno do último livro da Bíblia, com a sensação de que nãopertencem a esse lugar. Mas elas perten- cem! Apocalipse oferece uma das visões maisclaras e nítidas a respeito do propósito final de Deus para toda a criação. Nesse livrovemos como as poderosas forças do mal podem ser e estão sendo derrubadas por meioda vitória de Jesus, o Messias, que continua a inspirar e fortalecer seus seguidoresatualmente. FILME Título: O Apocalipse Ano: 2000. Sinopse: 90 d.C. O Imperador Romano Domitiano lançou uma campanha bárbara contra os cristãos. Mantido como refém pelos romanos na ilha de Patmos, o velho apóstolo João luta para salvar a Cristandade da extinção, en- viando cartas às comunidades cristãs. Determinada pela vontade de conhecer a última testemunha vivada paixão de Cristo, a jovem cristã Irene consegue ter acesso à cela de João.Confiando-lhe suas anotações escritas de suas visões, João implora a Irene para queespalhe a mensagem entre os cristãos. Estas visões formam o conteúdo do Livro dasRevelações. Para alguns, elas evocam o fim do mundo, para outros, apontam para asdificuldades espi- rituais que os cristãos enfrentam em todas as épocas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos ● Métodos de Interpretação; ● Estrutura; ● Esboço Exegético do Livro. Objetivos da Aprendizagem ●Estudar os métodos de interpretação para o livro de Apocalipse; ●Compreender a estrutura do livro e suas abordagens; ●Entender a mensagem e as divisões através de um esboço exegético do Apocalipse. 2UNIDADEUNIDADE INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURAINTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA Professor Esp Erison de Moraes Valério DO LIVRO DE APOCALIPSE DO LIVRO DE APOCALIPSE 32UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE INTRODUÇÃO Olá, tudo bem? Seja bem-vindo a mais uma unidade de estudo! Vamos aprender um pouco mais sobre o Apocalipse e os assuntos escatológicos. Para lidarmos com este assunto que, naturalmente é motivo de interpretações que partem de pressuposições, precisamos conhecer as mais diversas abordagens exegéticas para não cair em tentação. Como obra literária o livro é repleto de particularidades como lingua- gem simbólica, figuras e termos complexos da língua grega. O desafio para o estudante de teologia é analisar as linhas de pensamento quanto a interpretação, estruturando o conteú- do com a finalidade de extrair seu significado. Em se tratando de Apocalipse, essa tarefa demanda dedicação, pois estamos buscando compreender um dos livros mais difíceis do Novo Testamento. No primeiro tópico, estudaremos os métodos de interpretação que se formaram ao longo da história. Entre eles, o método preterista que entende os eventos do livro como exclusivos a época apostólica de João; o método histórico que tenta amoldar as revelações com o curso da história da humanidade; o método futurista busca o cumprimento das profecias em momentos que ainda estão por vir e, por fim a visão idealista que entendem a mensagem fora da linha temporal. Já no segundo tópico aprenderemos os pontos de vista sobre a estruturação do texto do Apocalipse que estão interligados com a linha de interpretação adotada. Como podemos entender a ordem dos acontecimentos do livro? É sequencial ou através de paralelos? Vamos aprender cada uma delas! Finalizando o conteúdo da unidade, compreenderemos a mensagem em suas particularidades através de um esboço exegético, eu irá tratar os mais diversos assuntos do Apocalipse. Desejo a todos bons estudos e sucesso em mais essa etapa! Vamos lá! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE 1 TÓPICO MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO Para a interpretação do Livro do Apocalipse de João, veremos as mais diversas frentes que se dedicam a estudá-lo. Alguns fatores se apresentam como influenciadores para a exegese do Apocalipse e da Bíblia como um todo. Ao longo da história as tradições religiosas construíram formas particulares de fazer análise interpretativa de vários assuntos bíblicos. Vamos conhecê-las! 1.1 Método Preterista O método preterista tem por pressuposto principal que os episódios e particularidades do livro de Apocalipse, referem-se ao período vivido pelos apóstolos e não tem relação com o futuro. Com referência a visão preterista, Osbourne afirma que “[...] os símbolos são referências a acontecimentos do primeiro século vivenciados pelos primeiros leitores, a quem João está dizendo como Deus haverá de livrá-los de seus opressores” (OSBOURNE, 2014, p. 21). Segundo o método, todas as passagens do livro fazem referência a acontecimen- tos que teriam ocorrido naquele período. Ainda exemplificando, o Apocalipse expressa as esperanças dos cristãos primitivos da Ásia. Eles em breve seriam libertados dos seus sofrimentos sob o domínio dos romanos (LADD, 1986). Três vertentes principais são próprias do método preterista. A primeira associa os acontecimentos relatados no livro do Apocalipse com a igreja e as perseguições de Roma no primeiro século. Como exemplo de interpretação preterista, podemos citar a associação de Roma aos eventos descritos no livro. “A besta, desse modo, poderia ser o Império Romano 34UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE ou o imperador, e os selos, trombetas e taças seriam juízos que Deus está derramando (ou logo derramará) sobre a própria Roma” (OSBOURNE, 2014, p. 21, 22). A segunda vertente preterista é oriunda de estudiosos críticos como Yarbro Collins e L. Thompson. Seus pressupostos se baseiam que a teologia escatológica do livro não aponta numa linha temporal para o futuro, mas na ressignificação do presente. A simbolo- gia contida no livro possibilitaria a suposição de duas realidades alternativas entre as quais os intérpretes precisam definir: a perspectiva transcendente que envolve Deus e a igreja ou, o mundo secular romano. O terceiro aspecto preterista acredita que o livro do Apocalipse de João teria sido produzido antes do ano 70 d.C. As profecias contidas no livro teriam relação com a queda de Jerusalém pelo juízo divino. Essa terrível consequência foi decorrente da rejeição do Messias pelo povo de Israel. Seguindo seus conceitos, a batalha do Armagedon se refere ao cerco da capital de Israel no ano 70 d.C. A besta do Apocalipse seria o Império Romano (OSBOURNE, 2014). Para dar credibilidade a esta última vertente, encontramos um problema na data- ção do livro de Apocalipse, que teria que ter sido escrito antes da destruição de Jerusalém. Porém, a data aproximada e aceita pela maioria dos estudiosos seria entre os anos de 95 a 96 d.C. Além dessas vertentes, precisamos destacar duas alas do preterismo. Simon Kiskemaker, citando o autor Phillip Schaff relaciona como “ala direita” e “ala esquerda”. A ala direita ensina que o Apocalipse é divinamente inspirado e tem um elevado posicionamento em relação as Escrituras. No caso da ala esquerda, existe uma rejeição da inspiração das Escrituras, colocando o Apocalipse de João similar aos apocalipses pseudoepígrafos (KISKEMAKER, 2004). Schaff define a ala direita como aqueles “que reconhecem uma profecia real e verdade permanente no livro [do Apocalipse]”, e a ala esquerda como os que o consideram como “um sonho de um visionário que foi falsificado pelos eventos”. Guthrie (SCHAFF, 1950, citado por OSBOURNE, 2014, p. 61). Resumindo, o método preterista afirma que todo registro do Apocalipse acontece na época de seus autores, portanto, para nós isso já aconteceu no passado. 35UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE 1.2 Método Histórico Esta forma de abordagem na interpretação busca moldar os acontecimentos do livro durante várias épocas distintas da história da humanidade. Os eventos descritos se referem à uma abordagem progressiva em relação ao início, até o destino da igreja e do mundo. Seus adeptos afirmam o cumprimento em parte de algumas profecias, e outras estariam ainda por cumprir. Além de buscar encaixar algumas dessas profecias e seu cumprimento no tempo presente. “A história secular e a história religiosa estão entrelaçadas, e os proponentes têm tentado interpretar os eventos de seu próprio período da história como predito no Apocalip- se” (SILVA, 2020, p.15). Joaquim de Fiore, no séculoXXII, foi quem instaurou este método, quando alegou receber uma visão que mostrava os 1260 dias descritos no Apocalipse uma profecia dos acontecimentos da história ocidental, iniciando nos tempos apostólicos até o presente. [...] há intérpretes que aplicam o livro à Igreja Ocidental, como se a Igreja Oriental não existisse. Além do mais, os adeptos do ponto de vista histórico às vezes recorrem a interpretações triviais que são não apenas fantasiosas, mas que estão desonrando a Escritura (KISKEMAKER, 2004, p. 63). Posteriormente, os Franciscanos, uma ordem mendicante dentro da Igreja Católica, aderiu a proposição de Joaquim interpretando a revelação do livro de Apocalipse da mesma forma. Eles indicavam o cumprimento da profecia com relação a Roma e seu paganismo da época (pela corrupção existente na igreja) (OSBOURNE, 2014). No século XVI, a reforma protestante através dos reformadores Lutero e Calvino, aderiu ao método apontando o papa como o Anticristo. A visão clássica dos dispensa- cionalistas utilizou essa interpretação, associando a mensagem às sete igrejas da Ásia com sete períodos da era da igreja. (OSBOURNE, 2014). Os dispensacionalistas também entenderam o Apocalipse capítulos 2 ao 19, que incluem os sete selos, as sete trombetas, as sete taças e os capítulos parentéticos, com o desenvolvimento da história da igreja ao longo dos séculos. Como consequência a Besta e o Anticristo foram associados como sendo o Papa, Napoleão, Mussolini ou Hitler. (SILVA, 2020) O método apresenta alguns pontos fracos, pela necessidade de ser reformulado a cada período em que falha a associação com eventos e personagens. Grant Osbourne afirma em seu comentário exegético do Apocalipse que: Em virtude de sua fragilidade intrínseca (a identificação com a história da igreja apenas ocidental, a especulação inerente contida nos paralelos traça- 36UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE dos com a história mundial), o fato de precisar ser reformulada a cada novo período histórico, a total falta de relevância do texto para João e para seus primeiros leitores (OSBOURNE, 2014, p. 21). 1.3 Método Futurista Os primeiros pais da igreja como Justino, Irineu e Hipólito, se valiam deste método. Porém, este método deixou de ser evidência na história do cristianismo por mais de um século. Isso aconteceu em decorrência da ascensão do método alegórico de interpretação, que enxergava algumas passagens de forma excessivamente figurada. Além disso, a visão amilenista predominou após Agostinho, sobrepujando o método (OSBOURNE, 2014). A interpretação futurista dos escritos do Apocalipse apresenta seus pressupostos na maior parte do livro. Essa perspectiva se inicia no capítulo 4 versículos 1, como aconte- cimentos que ainda estão por vir. Os adeptos dessa linha de interpretação propõem que as profecias do Apocalipse acontecerão num período anterior, durante e logo após o retorno de Jesus ao mundo. Segundo afirma Simon Kiskemaker, “[...] o escritor do Apocalipse, ao longo de todo o livro, aponta para o dia do regresso de Cristo. O elemento profético é um componente inegável [...]” (KISKEMAKER, 2004, p. 64). A mensagem é de perspectiva profética com cumprimento futuro, tendo em vista que o autor escreve concretizando o grande Dia do Senhor, onde acontecerá o retorno prometido. Os futuristas destacam o teor da mensagem de João, associando algumas coisas que aconteceram no presente e outras que sucederão no futuro. Na última parte de Apocalipse 4.1, João escreve: “Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer” (BÍBLIA, Apocalipse 4:1, ARA, 1993). Portanto, essa passagem apresentaria dois momentos. Primeiro se refere às coisas que aconteceram no presente (na época que João vivia). Num segundo momento, aquilo que estava previsto para acontecer no futuro “as coisas que devem acontecer”. O método exegético utilizado pelos futuristas é o literal que considera a parte final do livro como um testemunho das coisas do fim, inclusive com consequências cósmicas. Como ponto positivo, o método reconhece que existem acontecimentos futuros pela des- crição do texto, porém, alguns problemas exegéticos podem aparecer por conta da visão futurista. “Um deles é que ela faz com que os três primeiros capítulos do Apocalipse venham a ser irrelevantes para a Igreja contemporânea” (KISKEMAKER, 2004, p. 64). Assim sendo, os assuntos pertinentes à mensagem de Cristo para as sete igrejas da Ásia Menor, se restringem unicamente ao momento histórico que acontecem. Esse pensamento não dá margem para aplicar o sentido teológico da mensagem em nossos dias. Tal posicionamento 37UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE pode negligenciar a mensagem apocalíptica para a época do Século I, dando margem às especulações. Existem duas vertentes deste método: o dispensacionalismo e o pré-milenismo clássico. Os dispensacionalistas crêem que Deus conduz a história por alguns estágios que se concentram na eleição de seu povo. O momento histórico que vivemos compreende a era da igreja, ou seja, um interlúdio onde a atuação da igreja acontece, até que haja um avivamento nacional entre povo judeu, que rejeitou o Salvador. No final da era da igreja aconteceria o arrebatamento, e inicia-se a grande tribulação que duraria sete anos (Ap. 13). No final desse período se reserva a parousia, com a volta de Cristo para o julgamento, seguido de um milênio literal (Ap 20.1-10), o julgamento do grande trono branco (Ap. 20.11- 15) e o início do estado eterno (Ap 21.1-22.5). O pré-milenismo clássico é semelhante, exceto pelos períodos das dispensações. “Há somente uma volta de Cristo, após o período da tribulação (Mt 24.29-31; cf. Ap 19.11- 21), e toda a igreja, não somente a nação de Israel, passará pelo período de tribulação” (OSBOURNE, 2014, p. 23). FIGURA 1 – OS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DO APOCALIPSE Fonte: O Autor (2022). 1.1 Método Idealista O método idealista é bastante propagado e defende que os símbolos contidos no livro não estão relacionados com situações que acontecem na linha do tempo histórica, mas com princípios espirituais atemporais. O autor não teria recebido na ilha de Patmos a visão da Igreja no futuro ou acontecimentos relacionados ao final dos tempos, mas que fortificam os cristãos nos conflitos que enfrentavam. Eles interpretam o Apocalipse de João, como uma obra cujos princípios apontam Jesus Cristo vitorioso com seu povo, derrotando Satanás e seus anjos. Os idealistas dão evidência aos princípios apresentados na mensagem do Apocalipse, como aplicações aos cristãos de todos os momentos na história. 38UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE Representa a batalha entre o bem e o mal, a igreja e o mundo de todas as épocas da história da igreja (OSBORNE, 2014). Os sete selos, as sete trombetas e as sete taças apresentam os julgamentos de Deus aos pecadores ao longo da história. A Besta aponta aos impérios que aparecem ou se relacionam com a história no âmbito bíblico, e seus governantes contrários aos princípios bíblicos. Segundo o método, “o Apocalipse não é uma história de eventos que tenham ocor- rido no passado ou uma profecia de eventos que se concretizarão no futuro. É um livro que enche o povo de Deus com conforto e motivação para suportar até o fim” (KISKEMAKER, 2004, p. 65). O ponto positivo dessa linha de pensamento, está na abordagem da mensagem teológica central que apresenta o Apocalipse e a sua importância para a igreja no âmbito uni- versal. Além disso, considera possível a interpretação dos símbolos contidos no livro. O ponto negativo é que não faz associações históricas e não considera os aspectos relacionados ao futuro de algumas profecias. Em suma, os assuntos não possuem relação com a história.QUADRO 1 - EXEMPLO DOS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO Fonte: Voltemos ao Evangelho. Disponível em: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2017/08/ quatro-interpretacoes-de-apocalipse-teologia-visual/ Acesso em 28 Set 2022. 39UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE 1.2 Considerações finais O método literal associado ao contexto em que foram produzidos, seguidos da observação de possíveis alegorias existentes, dos simbolismos, constituem uma forma de interpretação a ser observada. Afinal, valorizam o texto como fonte principal e o objeto do estudo exegético. Para o estudo saudável das Escrituras, o pesquisador deve estar livre dos pressupostos que induzem a resultados que não estão claramente descritos no livro. “A história da interpretação mostra-nos que a adoção do método correto de interpretação não garante necessariamente conclusões corretas pelos usuários do método” (PENTECOST, 2012, p. 52). Afinal, qual método é correto e importante adotarmos? Antes de obtermos essa resposta, é necessário apontar que a Bíblia é um livro di- vinamente inspirado. Registra a história da revelação progressiva e do plano redentivo do Criador, desde o Gênesis ao livro de Apocalipse. Em segundo lugar, também se trata de uma obra literária, com diversos gêneros e narrativas, separadas por séculos em seus mais diversos autores. Portanto, também deve ser tratada como obra literária, passível de estudos exegéticos com a finalidade de obter o sentido contextual pretendido pelos seus autores. Para alcançar esse objetivo, precisamos analisar o texto abstendo-se de paradigmas e adições de pressuposições ao texto. O Apocalipse contém diversas narrativas históricas, passagens que contém simbolismos próprios do seu estilo literário. Cabe a nós identificarmos o que é literal e o que é figurado, para que assim seja alcançado o sentido correto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE 2 ESTRUTURA TÓPICO A estrutura do Apocalipse possui diversas abordagens que dependem da linha de interpretação que é adotada. Em geral, existem diversas formas que os intérpretes do Apocalipse adotam para esboçar o livro. Em relação aos outros livros bíblicos, o Apocalipse de João possui o maior número dessas variações. Vamos conhecer algumas delas: Com a abordagem de estrutura sequencial os assuntos aparecem em ordem sucessiva, dando entendimento cronológico aos eventos em momentos diferentes da história. Cada visão recebida pelo autor, dá continuação cronológica ao evento anterior. Por exemplo, a partir da abertura do último selo, desenvolve-se a série de julgamentos pelas trombetas, e a última trombeta inicia a sucessão dos juízos das taças, progredindo até o ponto final do livro. Outra forma conhecida é a de estrutura de paralelos progressivos (recapitulativa), onde o conteúdo do livro é dividido em seções que, mais tarde, recapitulam os temas abordados ao longo do livro em forma de paralelos. Assim, conforme acontece o paralelo da passagem, novos elementos são incluídos no texto. Podemos ressaltar que, seria uma história contada por diversos ângulos. Os maiores idealizadores da leitura de paralelos, como chave para compreender o livro do Apocalipse foram William Hendriksen e C.H. Giblin (OSBOURNE, 2014). Além disso, existem algumas outras formas que têm sido usadas para estruturar o livro, como: 41UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE A Estrutura de quiasmos As composições literárias baseadas no quiasmo são construídas de tal forma que a primeira parte do texto combina com a última, a segunda parte combina com a penúltima, etc. Perceba no exemplo abaixo como os elementos são repetidos em ordem inversa: A-B-C-C-B-A QUADRO 2 – EXEMPLO DE QUIASMOS EM JOSUÉ 1.5-9 Fonte: Adaptado de Texto Bíblico (BIBLIA, Josué 1.5-9, ARA, 1993). Desta forma, os estudiosos estruturam os capítulos do livro de Apocalipse nesta forma de quiasmos, na tentativa de compreender sua estrutura literária. 42UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE FIGURA 2 – MODELO ESTRUTURAL DE QUIASMOS Fonte: O Autor (2022). Como exemplo de estrutura e esboço do livro, segue um padrão e exegético do Apocalipse como obra literária, apresentando os assuntos conforme se encontram na or- dem dos capítulos do livro. Vejamos: I. Prólogo (1.1-8); II. Mensagens às igrejas (1.9—3.22); A. A primeira visão (1.9-20); B. Cartas às sete igrejas (2.1—3.22); 1. Carta a Éfeso (2.1-7); 2. Carta a Esmirna (2.8-11); 3. Carta a Pérgamo (2.12-17); 4. Carta a Tiatira (2.18-29); 5. Carta a Sardes (3.1-6); 6. Carta a Filadélfia (3.7-13); 7. Carta a Laodiceia (3.14-22); III. Deus em majestade e em juízo (4.1—16.21); A. A soberania de Deus no juízo (4.1—11.19); 1. A visão da sala do trono — Deus e o Cordeiro no céu (4.1—5.14); a. Deus, em seu trono (4.1-11); b. Cristo, o Cordeiro, digno de abrir os selos (5.1-14); 2. Os selos são abertos (6.1—8.1); a. Os seis primeiros selos (6.1-17); 43UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE b. Primeiro interlúdio: os santos na terra e no céu (7.1-17); i. Os santos são selados (7.1-8); ii. Uma grande multidão no céu (7.9-17); c. O sétimo selo (8.1); 3. As sete trombetas (8.2—11.19); a. Introdução aos juízos das trombetas (8.2-6); b. As primeiras quatro trombetas (8.7-12); c. A quinta trombeta e o primeiro “aí” (8.13—9.11); d. A sexta trombeta (9.12-21); e. Interlúdio: profecia e testemunho (10.1—11.13); i. João e o livrinho (10.1-11); ii. João mede o templo e o altar (11.1,2); iii. Ministério, morte e ressurreição das duas testemunhas (11.3-13); f. A sétima trombeta (11.14-19); B. O grande conflito entre Deus e as forças do mal (12.1—16.21); 1. Interlúdio: descrição do grande conflito (12.1—14.20); a. O conflito entre o dragão e Deus e seu povo (12.1—13.18); i. A mulher e o dragão (12.1-6); ii. A guerra no céu (12.7-12); iii. A guerra na terra (12.13-17); iv. As duas bestas fazem guerra (12.18—13.18); (1) A besta que veio do mar — o Anticristo (12.18—13.10); (2) A besta que veio da terra — o falso profeta (13.11-18); b. O cântico dos 144 mil (14.1-5); c. A mensagem dos três anjos (14.6-13); d. A colheita na terra (14.14-20); 2. O auge do grande conflito (15.1—16.21); a. Introdução às taças — os anjos com as últimas pragas (15.1-8); b. Os últimos sete juízos — as taças (16.1-21); IV - O juízo final (17.1—20.15); A. A destruição da grande Babilônia (17.1—19.5); 1. A grande prostituta montada sobre a besta vermelha (17.1-18); 2. A queda da grande Babilônia (18.1-24); 3. O cântico de alegria por causa do justo juízo de Deus (19.1-5); B. A vitória final: o fim do império do mal na parousia (19.6-21); 44UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE C. O reinado de Cristo por mil anos e a destruição final de Satanás (20.1-10); D. O julgamento do grande trono branco (20.11-15); V- O novo céu e a nova terra (21.1—22.5); A. O advento do novo céu e da nova terra (21.1-8); B. A Nova Jerusalém como o Lugar Santíssimo (21.9-27); C. A Nova Jerusalém como o último Éden (22.1-5); VI. Epílogo (22.6-21). Fonte: Adaptado de (OSBOURNE, 2014, p. 33,34) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 ESBOÇO EXEGÉTICO DO LIVRO TÓPICO UNIDADE 2 INTERPRETAÇÃO E ESTRUTURA DO LIVRO DE APOCALIPSE 45 Ap. 1.1-3 - O Apocalipse de João tem início revelando a autoridade proveniente do próprio Jesus Cristo. Essa declaração