Buscar

Relação entre Macrofauna e Solo


Prévia do material em texto

UVA 
Resumo e Análise Crítica do artigo:
Relação entre macrofauna edáfica e atributos químicos do solo em diferentes agroecossistemas
Matheus do Rosário Pereira Martins
No trabalho de Lima et. al. (2010) foi realizado um estudo nos anos de 2006 e 2007 que tinha por objetivo “avaliar o efeito do uso do solo sobre a densidade e a diversidade da macrofauna invertebrada, e a relação destas com atributos químicos do solo em diferentes agroecossistemas”(LIMA et. al, 2010). Esta pesquisa foi feita no norte do Piauí, na comunidade de Vereda dos Analectos, no município de Esperantina. Na publicação é dito que o clima da região é tropical subúmido, com estação de seca e chuva bem definidas, sendo a chuvosa característica dos meses de janeiro a maio, com temperaturas que variam de 26 ºC a 34 ºC e cuja precipitação média anual é de 1400 mm. A vegetação natural é caracterizada pela transição entre cerrado e floresta secundária mista. O solo é descrito como sendo um argissolo vermelho-amarelo distrófico. 
Para chegar ao objetivo foram utilizadas áreas de um hectare para cada um dos tipos de manejo a seguir: sistema de manejo ecológico (SE3), sistemas agroflorestais com seis anos de adoção (SAF6), sistemas agroflorestais com dez anos de adoção (SAF10), área manejada com agricultura de corte e queima (ACQ) e floresta nativa (FN), sendo esta última usada como referência da vegetação local. Foram realizadas duas coletas dos animais em foco no estudo, uma em outubro de 2006 e outra em maio de 2007, nos períodos seco e chuvoso respectivamente. Todos os indivíduos com mais que 10 mm de comprimento ou com diâmetro corporal superior a 2 mm foram armazenados em solução de álcool 70%.
No sistema de manejo ecológico foi praticada corte e queimada até 2003. Em 2004 o manejo foi realizado com duas roçadas, uma na época seca, deixando o material sobre o solo e outra na época chuvosa para garantir o desenvolvimento das espécies plantadas. No manejo SAF6, a área foi mantida com agricultura de corte e queima até 2001, após esse ano, esse método foi trocado por duas roçadas da maior parte da vegetação secundária, uma na época seca, para que o material fosse utilizado como cobertura do solo, e outa na chuvosa para permitir o crescimento do que foi plantado, além disso, foi adicionado ao solo palha carnaúba como cobertura do solo. No SAF10 houve um manejo de corte e queima até 1997, o material da roçada que anteriormente era queimado serviu de cobertura do solo, após isso foram introduzidas espécies frutíferas e permitiu-se a regeneração natural de plantas pioneiras, podadas antes da roçada do período chuvoso, sendo que foi adicionado esterco de caprinos no solo. Em ACQ foi feito corte e queima da floresta nativa em 2005 e, em 2006, área foi cultivada com milho. Em FN havia uma vegetação de floresta semidecídua, caracterizada por ser uma região de transição entre cerrado e caatinga.
Os animais a serem estudado foram coletados junto ao solo das áreas de cada manejo estudado. Monólitos de área de 25x25 cm e 10 cm de profundidade em uma distância de 10 metros entre si, foram retirados do solo ao longo de um transecto determinado ao acaso. As amostras foram colocadas em sacos plásticos, de onde se retiraria os invertebrados do substrato. Além dessa coleta, foi feita outra com o objetivo de estudar as características químicas. A separação dos invertebrados das amostras de solo foi feita a mão, a identificação foi feita com auxílio de lua binocular. Houve classificação de acordo com classe e ordem e os espécimes foram separados de acordo com o nível de maturidade. Foram utilizados os índices de diversidade de Shannon e o índice de equitabilidade de Pielou, além do cálculo da riqueza média para cada área. Foram realizadas análises multivariadas de componentes principais relativas à fauna em estudo e as características químicas do solo. O método da coinércia foi utilizado para determinar a relação entre autovetores e as variáveis avaliadas. Os valores do total de indivíduos nas duas épocas de coletas foram comparados pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, por meio do programa Sisvar e a significância estatística das correlações entre as variáveis ambientais e as da macrofauna foi avaliada pelo teste de permutação de Monte Carlo.
Através desses métodos, foi observado que a maior densidade de indivíduos ocorreu na época chuvosa. O número de indivíduos nos sistemas SE3, SAF6 e SAF10 diferiu significativamente entre o período chuvoso e o seco. As maiores densidades foram observadas na época seca, com exceção de ACQ e FN, porém, esses dois possuíram as menores densidades observadas. Ocorreu grande presença de formigas, térmitas e minhocas em todos os sistemas, principalmente SAF6 e SAF10. SER, SAF6 e SAF10 possuíram os maiores índices de Shannon e Pielou e maior riqueza de espécies em ambas as épocas, porém nas SAF6 houve decréscimo no valor do índice de Shannon no período chuvoso. ACQ apresentou redução em todos esses valores. FN apresentou os menores valores, tanto nos índices de Shannon e Pielou, quanto na riqueza, sendo que os melhores valores foram observados no período chuvoso. Além disso, na análise da coinércia, foi detectada correlação significativa entre os atributos químicos e a macrofauna invertebrada e foi observado que os sistemas agroflorestais tiveram melhores características químicas, de abundância e de riqueza. 
A incrementação de matéria orgânica no solo pela ação humana, como a aplicação de adubo, a adição de palha de carnaúba e a manutenção do material de roçadas com posterior plantação e cultivo pode explicar os melhores valores nos índices estudados nos SAF do que em FN (LIMA et. al, 2010). Essa adição pode ser explicada pelas características do solo. O argissolo vermelho-amarelo é caracterizado por suas cores, causada pela presença de óxidos de ferro hematita e goethita, a textura é, principalmente, média/argilosa e possuem baixa fertilidade natural, com reação fortemente ácida. Além disso, pode ser necessário calagem (SILVA e NETO, 2024). O fato de ser distrófico, torna a ação humana ainda mais necessária para o aumento da produtividade (ZARONI, 2024). Nesse tipo de solo é muito comum o cultivo de frutíferas (SILVA e NETO, 2024), o que explica a introdução das diversas espécies citadas no trabalho e o sucesso de cajueiros nos sistemas agroflorestais.
De acordo com BROWN et al. (2012), “o solo, além de ser um substrato para o crescimento de plantas e produção de alimentos, também deve ser considerado um “ente” vivo, pois contém milhares de animais e micro-organismos". Em FROUZ et al. (2015), foi observado que a macrofauna do solo é importante na manutenção da matéria orgânica do substrato. Portanto, saber como o uso do solo afeta a macrofauna edáfica é importante para a manutenção do mesmo. Para que haja uma agricultura sustentável, tanto para a contínua produção, quanto para o meio ambiente, deve-se ter em mente esse “ente vivo” que é o solo. Os sistemas agroflorestais são muito mais capazes de ter um equilíbrio nesse sentido do que, por exemplo uma monocultura, preservando várias características necessárias ao bem-estar do ambiente, como a manutenção da matéria orgânica, retenção de água e o balanço dos nutrientes (PEZARICO, 2009). A maior abundância de macrofauna vista nesses sistemas mais estáveis não é surpreendente, visto que algumas espécies podem ser bioindicadores da qualidade do solo (TORRES et al., 2015). PORTILHO et al. (2011) também observam relação entre qualidade física e química do solo e a fauna invertebrada.
Foi observado nos manejos tipo SAF que houve maior ocorrência de formigas térmitas e minhocas. Esses organismos são importantes por serem engenheiros do ecossistema, chamados assim por sua capacidade de alterar as qualidades físicas do solo, dito no próprio artigo em questão. Esses animais, são capazes de criar galerias e outras estruturas no solo, o que afeta a infiltração de água e aeração do solo. Além disso, são capazes de produzir grande quantidade de excrementoque afetam a disponibilidade de minerais e nutrientes (TORRES et al., 2015). De acordo com Lima et. al. (2010), a grande quantidade desses seres nesses manejos seria devida, provavelmente, ao solo ser coberto com o material da poda e da roçada que auxiliaram promovendo melhores condições climáticas a eles.
Lima et. al. (2010) chega, no fim, as seguintes conclusões: “A abundância e riqueza de espécies dos grupos taxonômicos da macrofauna edáfica varia com a época de coleta, e são favorecidas na época chuvosa”; “Os sistemas de manejo e de preparo do solo afetam a estrutura dos grupos taxonômicos dominantes da macrofauna edáfica “; “Os sistemas agroflorestais propiciam melhores características químicas do solo e aumentos na abundância e riqueza de espécies da macrofauna invertebrada do solo”. Dado ao que foi citado nesta análise com relação ao manejo SAF, a qualidade do solo, a fauna invertebrada como sendo bioindicadora e a grande quantidade de engenheiros do ecossistema, não são conclusões surpreendentes. O manejo com sistemas agroflorestais é, através do que foi visto, a melhor opção para preservar a qualidade do solo e a biodiversidade, o que torna a produtividade agrícola mais sustentável.
Referências:
BROWN, G. G. et al. Biodiversidade da fauna do solo e sua contribuição para os serviços ambientais. In: PARRON, L.M.; GARCIA, J.R.; OLIVEIRA, E.B. de; BROWN, G.G.; PRADO, R.B. (Ed.). Serviços ambientais em sistemas agrícolas e florestais do Bioma Mata Atlântica. Brasília: Embrapa, 2015. p.121-154.
CORDEIRO, F. C.et al. Diversidade da macrofauna invertebrada do solo como indicadora da qualidade do solo em sistema de manejo orgânico de produção. Rev Univ Rural Ser Ci Vida, v. 24, p. 29-34, 2004.
 FROUZ, J. et al. Do soil fauna really hasten litter decomposition? A meta-analysis of enclosure studies. European Journal of Soil Biology, v. 68, p. 18-24, 2015.
 LIMA, Sandra Santana de et al. Relação entre macrofauna edáfica e atributos químicos do solo em diferentes agroecossistemas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 45, p. 322-331, 2010. 
NIVA, C. C. et al. Fauna edáfica como indicadora de contaminação do solo. In: Embrapa Florestas-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: reunião brasileira de ciência do solo e nutrição de plantas, 30.; reunião brasileira sobre micorrizas, 14.; simpósio brasileiro de microbiologia do solo, 12.; reunião brasileira de biologia do solo, 9.; simpósio sobre selênio no brasil, 1., 2012, Maceió. A responsabilidade socioambiental da pesquisa agrícola. Anais [...]. Viçosa, MG: SBCS, 2012. FERTBIO 2012., 2012.
PEZARICO, C. R.. Indicadores de qualidade do solo em sistemas agroflorestais. 2009. 54 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) –Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, MS, 2009.
PORTILHO, I. I. R. et al. Fauna invertebrada e atributos físicos e químicos do solo em sistemas de integração lavoura-pecuária. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 46, p. 1310-1320, 2011.
SILVA, M. S. L. e NETO, M. B. O. Argissolos Vermelhos-Amarelos. Território Mata Sul Pernanbucana. Brasília: Embrapa, 2021. Disponível em:< https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/territorios/territorio-mata-sul-pernambucana/caracteristicas-do-territorio/recursos-naturais/solos/argissolos-vermelho-amarelos>. Acesso em: 19 de abr. 2024.
TORRES, J. L. M. et al. Engenheiros do solo em sistemas agroecológicos. In: Encontro de Pesquisa e Iniciação científica da Universidade Positivo Epic 2015, 2015.
ZARONI, M. J. Latossolos Vermelhos. Solos tropicais. Brasília: Embrapa, 2021. Disponível em:< https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/tematicas/solos-tropicais/sibcs/chave-do-sibcs/latossolos/latossolos-vermelhos>. Acesso em: 19 de abr. 2024.

Continue navegando