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Crítica da Filosofia de Hegel

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FICHAMENTO ACADEMICO1 
 
Márcio Ricardo Oliveira dos Santos 2 
Referência da Obra: MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. Boitempo 
Editorial, 2015. 
 “[...] “as leis do direito privado” dependem “do caráter determinado do Estado”, que elas se 
modificam segundo ele, é algo que está subsumido na relação da “necessidade externa”, 
precisamente porque “sociedade civil e família”, em seu verdadeiro, quer dizer, autônomo e pleno 
desenvolvimento, são pressupostas ao Estado como “esferas” particulares. “Subordinação” e 
“dependência” são as expressões para uma identidade “externa”, forçada e aparente, para cuja 
expressão lógica Hegel utiliza, corretamente, a “necessidade externa”.” p.28 
“A família e a sociedade civil são partes do Estado. Nelas, a matéria do Estado é dividida “pelas 
circunstâncias, pelo arbítrio e pela escolha própria da determinação”. Os cidadãos do Estado 
(Staatsbürger) são membros da família e membros da sociedade civil.” p.30 
“[...] A realidade empírica é, portanto, tomada tal como é; ela é, também, enunciada como 
racional; porém, ela não é racional devido à sua própria razão, mas sim porque o fato empírico, 
em sua existência empírica, possui um outro significado diferente dele mesmo. O fato, saído da 
existência empírica, não é apreendido como tal, mas como resultado místico. O real torna-se 
fenômeno; porém, a Ideia não tem outro conteúdo a não ser esse fenômeno. Também não possui 
a Ideia outra finalidade a não ser a finalidade lógica: “ser espírito real para si infinito”. [...]” p.31 
“A passagem da família e da sociedade civil ao Estado político consiste, portanto, em que o 
espírito dessas esferas, que é em si o espírito do Estado, se comporte agora, também, como tal em 
relação a si mesmo e que ele seja, quanto a sua interioridade, real em si. A passagem não é, 
portanto, derivada da essência particular da família etc. e da essência particular do Estado, mas 
da relação universal entre necessidade e liberdade. p.32 
“A constituição política é o organismo do Estado, ou o organismo do Estado é a constituição 
política. Que os diferentes lados de um organismo se encontrem em uma coesão necessária e 
oriunda da natureza do organismo, é pura tautologia. Que, uma vez que a constituição política é 
determinada como organismo, os diferentes lados da constituição, os diferentes poderes, 
 
1 Trabalho solicitado como parte integrante dos requisitos para a aprovação na disciplina de filosofia 
juridica. 
2 Discentes do curso de Bacharelado em Direito-N01, da FAT, 2º semestre. 
 
relacionem-se como determinações orgânicas e se encontrem em uma relação racional recíproca, 
é, igualmente, tautologia. É um grande progresso tratar o Estado político como um organismo, 
tratar, por consequência, a distinção dos poderes não mais como uma distinção anorgânica7, mas 
como uma distinção viva e racional. [...]” p.33 
 “[...] “os diferentes poderes do organismo do Estado” ou o “organismo estatal dos diferentes 
poderes” é a “constituição política” do Estado. A ponte para a “constituição política” não é 
construída a partir do “organismo”, “da Ideia”, de suas “distinções” etc., mas a partir do conceito 
pressuposto de “diferentes poderes”, de “organismo do Estado”.” p.35 
 “Ela (a realidade abstrata, a substancialidade) é sua necessidade (do Estado), enquanto sua 
realidade se divide em atividades distintas, cuja distinção é racionalmente determinada e que são, 
com isso, determinações estáveis. A realidade abstrata do Estado, a sua substancialidade, é 
necessidade, na medida em que o fim do Estado e a existência do todo só se realizam na existência 
dos poderes distintos do Estado.” p.37 
“O “fim do Estado” e os “poderes do Estado” são mistificados, visto que são apresentados como 
“modos de existência” da “Substância” e aparecem como algo separado de sua existência real, do 
“espírito que se sabe e se quer”, do “espírito cultivado”.” p.38 
 “A constituição é, portanto, racional, na medida em que seus momentos podem ser dissolvidos 
em momentos lógico-abstratos. O Estado diferencia e determina sua atividade não segundo sua 
natureza específica, mas segundo a natureza do conceito, móbil mistificado do pensamento 
abstrato. A razão da constituição é, portanto, a lógica abstrata, e não o conceito do Estado. [...]” 
p.40 
“As funções e atividades do Estado estão vinculadas aos indivíduos (o Estado só é ativo por meio 
dos indivíduos), mas não ao indivíduo como indivíduo físico e sim ao indivíduo do Estado, à sua 
qualidade estatal. É, por isso, ridículo quando Hegel diz: elas estão “unidas à sua personalidade 
particular como tal de uma maneira exterior e acidental”. [...]” p.42 
 “Se Hegel tivesse partido dos sujeitos reais como a base do Estado, ele não precisaria deixar o 
Estado subjetivar-se de uma maneira mística. Diz Hegel: “Mas apenas como sujeito a 
subjetividade está em sua verdade, a personalidade apenas como pessoa”. Isto também é uma 
mistificação. A subjetividade é uma determinação do sujeito, a personalidade uma 5 determinação 
da pessoa. Em vez de concebê-las como predicados de seus sujeitos, Hegel autonomiza os 
predicados e logo os transforma, de forma mística, em seus sujeitos.” p.44 
 
“[...] soberania, a essência do Estado, é aqui, primeiramente, considerada como uma essência 
autônoma, é objetivada. Depois, compreende-se, esse objeto deve se tornar novamente sujeito. 
Mas, então, esse sujeito aparece como uma autoencarnação da soberania, enquanto que a 
soberania não é outra coisa senão o espírito objetivado dos sujeitos do Estado.” p.44 
“[...] Se o príncipe é a “soberania real do Estado”, então “o príncipe” pode, também externamente, 
valer como o “Estado autônomo”, mesmo sem o povo. Mas se ele é soberano porque representa 
a unidade do povo, então ele é apenas representante, símbolo da soberania popular. A soberania 
popular não existe por meio dele, mas ele por meio dela.” p.48 
 “Na monarquia o todo, o povo, é subsumido a um de seus modos de existência, a constituição 
política; na democracia, a constituição mesma aparece somente como uma determinação e, de 
fato, como autodeterminação do povo. Na monarquia temos o povo da constituição; na 
democracia, a constituição do povo. A democracia é o enigma resolvido de todas as constituições. 
Aqui, a constituição não é somente em si, segundo a essência, mas segundo a existência, segundo 
a realidade, em seu fundamento real, o homem real, o povo real, e posta como a obra própria deste 
último. A constituição aparece como o que ela é, o produto livre do 6 homem; poder-se-ia dizer 
que, em um certo sentido, isso vale também para a monarquia constitucional, mas a diferença 
específica da democracia é que, aqui, a constituição em geral é apenas um momento da existência 
do povo e que a constituição política não forma por si mesma o Estado.” p.50 
 “Em todos os Estados que diferem da democracia o que domina é o Estado, a lei, a constituição, 
sem que ele domine realmente, quer dizer, sem que ele penetre materialmente o conteúdo das 
restantes esferas não políticas. Na democracia, a constituição, a lei, o próprio Estado é apenas 
uma autodeterminação e um conteúdo particular do povo, na medida em que esse conteúdo é 
constituição política.” p.51 
 “A abstração do Estado como tal pertence somente aos tempos modernos porque a abstração da 
vida privada pertence somente aos tempos modernos. A abstração do Estado político é um produto 
moderno.” p.52 
“Na monarquia, na democracia e na aristocracia imediatas ainda não existe a constituição política 
como algo distinto do Estado real, material, ou do conteúdo restante da vida do povo. O Estado 
político ainda não aparece como a forma do Estado material. Ou a res publica16 é, como na 
Grécia, a questão privada real, o conteúdo real do cidadão (Bürger), e o homem privado é escravo; 
o Estado político como políticoé o verdadeiro e único conteúdo de sua vida e de seu querer; ou, 
como no despotismo asiático, o Estado político é apenas o arbítrio privado de um indivíduo 
singular, e o Estado político, assim como o Estado material, é escravo. [...]” p.52 
 
“Hegel pretende ter demonstrado que a subjetividade do Estado, a soberania, o monarca é 
“essencialmente como este indivíduo, abstraído de todo outro conteúdo, e este indivíduo 
destinado à dignidade do monarca de modo imediato, natural, por meio do nascimento natural”. 
A soberania, a dignidade do monarca seria, portanto, de nascença. O corpo do monarca determina 
sua dignidade. No ponto culminante do Estado, então, o que decide em lugar da razão é a mera 
physis. O nascimento determinou a qualidade do monarca, assim como ele determina a qualidade 
do gado. Hegel demonstrou que o monarca deve nascer, do que ninguém duvida; mas ele não 
demonstrou que o nascimento faz o monarca.” p.53 
“A “burocracia” é o “formalismo de Estado” da sociedade civil. Ela é a “consciência do Estado”, 
a “vontade do Estado”, a “potência do Estado” como uma corporação (em 8 contraposição ao 
particular, o “interesse universal” pode se manter apenas como um “particular”, tanto quanto o 
particular, contraposto ao universal, mantém-se como um “universal”. A burocracia deve, 
portanto, proteger a universalidade imaginária do interesse particular, o espírito corporativo, a 
fim de proteger a particularidade imaginária do interesse universal, seu próprio espírito. [...]” p.65 
“A burocracia é o Estado imaginário ao lado do Estado real, o espiritualismo do Estado. Cada 
coisa tem, por isso, um duplo significado, um real e um burocrático, do mesmo modo que o saber 
é duplo, um saber real e um burocrático (assim também a vontade). Mas o ser real é tratado 
segundo sua essência burocrática, segundo sua essência transcendente, espiritual. A burocracia 
tem a posse da essência do Estado, da essência espiritual da sociedade; esta é sua propriedade 
privada.” p.66 
 “Quando Hegel chama o poder governamental de lado objetivo da soberania inerente ao monarca, 
ele está correto no mesmo sentido de que a Igreja católica era a existência real da soberania, do 
conteúdo e do espírito da Santíssima Trindade. Na burocracia, a identidade do interesse estatal e 
do fim particular privado está colocada de modo que o interesse estatal se torna um fim privado 
particular, contraposto aos demais fins privados.” p.67 
“O Estado moderno, no qual tanto o “assunto universal” quanto o ato de ocupar-se com ele são 
um monopólio, e no qual, em contrapartida, os monopólios são os assuntos universais reais, 
realizou o estranho achado de apropriar-se do “assunto universal” como uma mera forma. (A 
verdade é que apenas a forma é assunto universal.) Com isso, ele encontrou a forma 
correspondente ao seu conteúdo, que somente na aparência é o assunto universal real.” p.83 
“O Estado constitucional é o Estado em que o interesse estatal, enquanto interesse real do povo, 
existe apenas formalmente, e existe como uma forma determinada ao lado do Estado real; o 
 
interesse do Estado readquiriu aqui, formalmente, realidade como interesse do povo, mas ele deve, 
também, ter apenas essa realidade formal. [...]” p.83 
“[...] O elemento estamental é a mentira sancionada, legal, dos Estados constitucionais: que o 
Estado é o interesse do povo ou o povo é o interesse do Estado. Essa mentira será revelada no 
conteúdo. Ela se estabeleceu como poder legislativo precisamente porque o poder legislativo tem 
como seu conteúdo o universal, é algo que diz mais respeito ao saber do que ao querer, é o poder 
metafísico do Estado, enquanto a mesma mentira como poder governamental etc. deveria 
dissolver-se imediatamente ou transformar-se numa verdade. O poder metafísico do Estado era a 
sede mais apropriada da ilusão metafísica, universal, do Estado.” p.83 
“A liberdade pública, universal, está pretensamente garantida nas outras instituições do Estado; 
os estamentos são pretensamente sua autogarantia. Pois o povo confere mais importância aos 
estamentos nos quais ele crê assegurar a si mesmo do que às instituições que, sem a sua ação, 
devem ser a garantia de sua liberdade, confirmação de sua liberdade sem ser confirmação de sua 
liberdade. [...]” p.84 
 “[...] os estamentos devem fazer a mediação contra o “isolamento” do poder soberano como um 
“extremo” (que, assim, apareceria “como simples poder dominante e como arbítrio”). Isto está 
correto na medida em que o princípio do poder soberano (o arbítrio) é limitado pelos estamentos, 
ou, ao menos, pode mover-se apenas dentro de entraves, e enquanto os próprios estamentos se 
tornam membros e cúmplices do poder soberano. Com isso, ou o poder soberano deixa realmente 
de ser o extremo do poder soberano (e o poder soberano existe apenas como um extremo, como 
uma unilateralidade, porque ele não é um princípio orgânico), tornando-se um poder aparente, um 
símbolo, ou, então, ele perde apenas a aparência do arbítrio e do simples poder dominante.” p.86

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