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Unidade 4 A modernização da gestão dos serviços em saúde Hermínio Oliveira Medeiros Modelos e Gestão de Serviços em Saúde Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autor HERMÍNIO OLIVEIRA MEDEIROS Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS Hermínio Oliveira Medeiros Olá! Meu nome é Hermínio Oliveira Medeiros. Sou graduado em Farmácia (Universidade Federal de Ouro Preto, 2005) e em Sociologia (UNIP, 2018). Sou mestre em Administração em Saúde (Udelmar, 2014), pós-graduado com MBA em Gestão de Negócios (Univiçosa, 2012) e especializado em Gestão em Logística Hospitalar (FINOM, 2009), em Qualidade e Acreditação Hospitalar (FCMMG, 2014) e em Qualidade em Saúde e Segurança do Paciente pela (ENSP/FIOCRUZ, 2017). Atuo na docência de cursos superiores da saúde e na gestão de saúde pública e hospitalar. Por isso, fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! O AUTOR Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: ICONOGRÁFICOS INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova com- petência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Ferramentas de diagnóstico situacional em saúde .....................11 Auditoria, fiscalização e avaliação .................................................................................... 11 O conceito de auditoria ............................................................................................................ 12 O processo de fiscalização .................................................................................................... 16 As avaliações em saúde........................................................................................................... 17 Tipos de auditoria ......................................................................................................................... 18 Diagnóstico nos serviços de saúde: gestão de custos e saúde pública .............................................................................................................22 Diagnóstico em serviços de saúde pública ............................................................... 22 Auditoria no SUS e em serviços conveniados ......................................................... 23 Auditoria e custos em saúde ................................................................................................ 25 Fontes de dados sobre saúde ............................................................................................ 28 Gestão de riscos e do trabalho em saúde ........................................33 O gerenciamento de risco ..................................................................................................... 33 O gerenciamento de risco e o controle da infecção relacionadas à assistência à saúde (IRAS) ...................................................................................................... 35 A segurança do paciente ......................................................................................................... 36 Gestão do trabalho em saúde ............................................................................................. 39 Instrumentos de gestão do SUS ........................................................................................ 41 A humanização na gestão dos serviços de saúde ........................44 Humanização no cuidado à saúde ................................................................................... 44 Do Programa à Política Nacional de Humanização ............................................. 46 Ambiência .......................................................................................................................................... 47 Acolhimento ..................................................................................................................................... 49 Modelos e Gestão de Serviços em Saúde8 UNIDADE 04 A MODERNIZAÇÃO DA GESTÃO DOS SERVIÇOS EM SAÚDE Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 9 Prezado aluno! Ainda hoje em nosso país a gestão dos sistemas e serviços públicos de saúde acaba, por questões de cunho político, sendo delegada a pessoas sem à devida qualificação para atribuição de tamanha complexidade e responsabilidade. Sabe-se também que, historicamente, os sistemas públicos de saúde do Brasil são marcados pela carência de recursos, tidos sempre como insuficientes para suprir a demanda crescente da população. Nesse contexto, será a especialização dos profissionais da gestão a solução para os problemas atuais da saúde no país? Vamos discutir a legislação, os modelos e a gestão dos serviços de saúde no Brasil e como a profissionalização da gestão contribui de forma inequívoca para o alcança de eficácia, eficiência e efetividade administrativa em saúde. Vamos lá! Bons estudos! INTRODUÇÃO Modelos e Gestão de Serviços em Saúde10 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4 – A modernização da gestão dos serviços em saúde.. Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Conhecer a aplicação de ferramenta de diagnóstico situacional em serviços de saúde; 2. Aprender a implantar a gestão de riscos em serviços de saúde; 3. Relacionar a Política Nacional de Humanização à gestão dos serviços em saúde; 4. Verificar a importância da gestão do trabalho em saúde. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! OBJETIVOS Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 11 Ferramentas de diagnóstico situacional em saúde INTRODUÇÃO: Prezado aluno, ao concluirmos esse capítulo você será capaz de compreender a auditoria como importante ferramenta aplicada no diagnóstico das organizações de saúde bem como planejar e executar auditorias dentro das necessidades dos serviços. Também desenvolverá as suas habilidades e competências para promover a melhoria contínua dos processos internos por meio do monitoramento e avaliação que a auditoria proporciona. Preparados? Vamos lá! Auditoria, fiscalização e avaliação De acordo com Chiavenato (2006): A auditoria é um sistema de revisão de controle, que fornece informações para a gestão sobre a eficiência e sobre a eficácia dos programas e serviços que estão em desenvolvimento. Sua função não é indicar apenas problemas e falhas, mas, também sugerir e apontar soluções. Desta forma, assume, um caráter também educacional junto à organização. Ao levantar dados e informações sobre um serviço de saúde, o profissional que realiza uma auditoria, chamado de auditor, busca, por meio da análise de indicadores, documentos, questionários, entrevistas,verificações e inspeções, interagir com o mesmo e sentir o que precisa ser expresso sobre a realização de seus processos internos, a oferta e o cuidado à saúde. Para a realização eficiente de uma auditoria os seguintes critérios precisam estar presentes no trabalho do auditor, principalmente a imparcialidade. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde12 A auditoria assume na atualidade uma importância ímpar nas organizações de saúde que buscam a sustentabilidade e a eficiência administrativa em um cenário marcado historicamente pela precariedade administrativa e o subfinanciamento. IMPORTANTE: Desse modo, aluno, a auditoria configura uma ferramenta utilizada por aquelas organizações e sistemas de saúde que buscam se conhecer e promover melhorias contínuas na segurança e qualidade de seus processos de assistência aos pacientes. Veremos também que as organizações de saúde passam por constantes processos de auditoria, fiscalização e avaliações por órgãos sanitários reguladoras, fontes pagadoras de serviços, certificadoras de qualidade, dentre outras. Mesmo entre os profissionais que se dedicam à realização de auditoria, existe a confusão conceitual entre auditoria, fiscalização e avaliação, suas diferentes tipologias e características. O principal motivo dessa disfunção conceitua se deve ao fato de que os três processos são amplamente aplicados nas organizações inclusive no setor saúde. O conceito de auditoria Vimos que a auditoria propicia à organização o monitoramento permanente sobre a execução de seus processos, seja ele qual for. Controlar é submeter a exame e vigilância detalhado determinado objeto ou assunto. Desse modo, por meio da auditoria pode-se rever examinar determinado objeto ou assunto nos serviços de saúde. Observe que a auditoria visa informar à gestão sobre o cumprimento de normas e Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 13 diretrizes, metas e regularidade, evidenciando a eficiência e eficácia das atividades executadas. IMPORTANTE: Você deve compreender que em saúde pública, as auditorias fornecem informações sobre a alocação de recursos, a aplicação de tecnologias bem como da oferta de serviços à população, a humanização e o respeito aos princípios constitucionais e do SUS. As auditorias são contratadas pela gestão da organização de saúde para que esta possa ter visão ampla sobre um processo de interesse. Logo, se tornam uma importante ferramenta de avaliação e diagnóstico, subsidiando o planejamento. É importante frisar que a auditoria não evidencia apenas falhas e erros, mas proporciona informações para que propostas, sugestões e soluções de melhorias sejam elaboradas para a realização daquele processo ou assunto em questão. A auditoria não se trata de um processo meramente punitivo, mas deve possuir caráter focado no aspecto educativo. Figura 1: A auditoria aplicada à saúde. Fonte: Freepik Modelos e Gestão de Serviços em Saúde14 Nos sistemas de saúde modernos, a auditoria representa uma ferramenta de gestão, muito focada na qualidade e, em saúde, na segurança e gerenciamento de riscos, permitindo à gestão e às equipes o aprimoramento contínuo da assistência à saúde. De acordo com a INTOSAI, congregada das Entidades Fiscalizadoras Superiores (2015 apud BRASIL 2017): • A auditoria é o exame das operações, atividades e sistemas de determinada entidade, com vistas a verificar se são executados ou funcionam em conformidade com determinados objetivos, orçamentos, regras e normas. Já em Brasil (2001): • A auditoria é um conjunto de técnicas para avaliar a gestão, pelos processos e resultados gerenciais, e a aplicação de recursos, mediante a confrontação entre uma situação encontrada com um determinado critério pré-estabelecido, que pode ser técnico, operacional ou legal. De um modo geral, note que todos os conceitos de auditoria, apresentados por órgãos reguladores ou executores de auditorias em diversos setores e organizações, demonstram que se trata de uma ferramenta de controle de processos amplamente aplicável nos serviços e sistemas de saúde. A auditoria é uma ferramenta de gestão que fornece importantes parâmetros gerenciais para a tomada de decisão, principalmente na correção e melhoria de processos, na alocação de recursos e demais problemas de ordem administrativa e assistencial em qualquer tipo de organização. O principal objetivo da auditoria é comparar o cenário vigente em uma organização com relação ao respeito a uma norma pré-estabelecida como requisito legal, diretrizes internas ou normas de qualidade. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 15 Um outro conceito presente em Brasil (2011) afirma que: • Auditar é examinar, de forma independente e objetiva uma situação ou processo, comparando-o com um critério estabelecido preliminarmente, para que, dessa forma, se consiga emitir uma opinião ou um comentário a respeito dessa comparação entre a situação e o critério, e encaminhar para um destinatário predeterminado (BRASIL, 2011). O processo de auditoria é composto por cinco etapas fundamentais: 1. Planejamento dos objetivos e dos recursos necessários; 2. Exame e avaliação dos dados 3. Apresentação dos resultados; 4. Divulgação dos resultados; 5. Sugestão de ações de melhoria (recomendações). As auditorias se operacionalizam por meio de entrada, processamento e saída. Entrada de informações sobre situações evidenciadas, critérios e normas da auditoria, processados em produtos, como achados e relatos de auditoria, propostas de ações corretivas e recomendações. O produto final da auditoria é entregue por meio da comunicação dos resultados encontrados durante a realização da auditoria e encaminhados ao respectivo destinatário, que pode ser o auditado ou não. O relatório de auditoria deve conter os atributos (BRASIL, 2011): • Coerência; • Oportunidade; • Convicção; • Integridade; Modelos e Gestão de Serviços em Saúde16 • Apresentação; • Objetividade; • Tempestividade; • Clareza; • Conclusão. O relatório de auditoria é um instrumento formal e técnico por meio do qual a equipe de auditoria comunica o objetivo da auditoria, a metodologia que foi utilizada, constatações, evidências encontradas, as conclusões e as propostas de encaminhamentos e melhorias. Desse modo, deve ser elaborado em documento forma e padronizado e, para cumprir com seu objetivo, direcionado aos interessados para que possam proceder sua análise e intervir de maneira conveniente. Como vimos, nas organizações de saúde permite melhorias nos aspectos assistenciais e administrativos. O processo de fiscalização Auditoria e fiscalização são processos diferentes quanto aos seus objetivos. Assim, é importante saber diferenciá-los. A auditoria é reconhecida como um sistema, um conjunto de elementos, onde há uma entrada de dados, sua análise ou processamento, que resulta em informações precisas. A fiscalização, por sua vez, consiste apenas na verificação se algum processo está sendo executado de acordo com o previamente preconizado e definido como regra ou lei. Figura 2: A fiscalização é utilizada por órgãos reguladores. Fonte: Pixabay Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 17 Figura 3: Avaliar é emitir uma opinião. Fonte: Pixabay A auditoria é (um sistema, um processo de trabalho. A fiscalização é uma verificação com o que foi pré-determinado. As avaliações em saúde Além das auditorias e fiscalizações temos também que apresentar o conceito de avaliação: Avaliar é emitir uma opinião, um julgamento, sobre determinado assunto ou objeto ou ainda sobre um processo, ou mesmo sobre uma organização. EXEMPLO: Os serviços de ouvidoria são exemplos em que os usuários emitem a sua opinião sobre determinados serviços ou produtos. As auditorias, de acordo com o objetivo a qual se destinam podem ser realizadas por equipes internas ou externas às organizações de saúde.Caro aluno, as ferramentas da auditoria e avaliação não substituem, de forma alguma, a utilização de indicadores nos serviços de saúde. Pelo contrário, se valem da análise crítica destes como fonte fundamental de informação. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde18 Tipos de auditoria As auditorias podem ser classificadas em auditoria de conformidade, operacional, de gestão e de qualidade, de acordo com o tipo de atividade que será executada no serviço de saúde. Em cada tipo de auditoria o planejamento será diferente bem como os recursos necessários e os critérios a serem observados. As auditorias de conformidade visam determinar se um estabelecimento, processo, assunto ou objeto está em conformidade com as normas que foram previamente estabelecidas como critérios de verificação. As normas, requisitos legais e demais critérios a serem observados pela equipe auditora durante a execução da auditoria irão compor o checklist conhecido como lista de verificação, elaborado na etapa do planejamento. A auditoria de conformidade é realizada para se verificar se os seus processos cumprem, nos aspectos de interesse, as normas e demais critérios que regem a organização de saúde auditada. Esse tipo de auditoria busca principalmente verificar a legalidade, legitimidade e se existem erros e fraude nas organizações, de acordo com o requisito legal e demais critérios relevantes. Na auditoria operacional verifica-se se as atividades e processos internos da organização de saúde estão sendo executadas, operacionalizadas de maneira correta, de acordo com os critérios estabelecidos. Esse tipo de auditoria também é conhecido como auditoria de desempenho, de eficiência e ainda, por alguns autores, como auditoria de gestão. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 19 Figura 4: A lista de verificação da auditoria. Fonte: Pixabay O objetivo dessa auditoria é descobrir se os processos estão sendo bem executados e se existe a possibilidade de melhoria em algum aspecto (assistencial ou administrativo). A auditoria de avaliação de gestão conhecida também apenas como auditoria de gestão tem por objeto o trabalho do gestor. Nela é verificada a execução das atividades, os resultados obtidos, a regularidade das contas e das prestações de contas, o adequado cumprimento dos contratos e convênios firmados pela gestão de saúde. A auditoria de gestão verifica como uma organização de saúde está a gestão da organização em questão. Por esse motivo é muito utilizado por contratantes da organização, acionistas e diretores. Por meio desse tipo de auditora pode-se avaliar o desempenho da organização, sua eficiência e eficácia. A auditoria de qualidade tem por objetivo verificar o cumprimento das normas de um sistema de gestão da qualidade certificável e voluntariamente implantado pela organização de saúde. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde20 EXEMPLO: São exemplos de normas de qualidade certificáveis aplicáveis às organizações prestadoras de serviços de saúde: NB ISO 9001, NBR ISO 14001, acreditação ONA, Joint Comission International e Accreditation Canada. De acordo com Luongo (2011) a auditoria da qualidade em serviços de saúde passa pela análise de diversos parâmetros gerenciais. Nas organizações de saúde é muito importante que esses parâmetros sejam monitorados de maneira contínua através de indicadores de resultado. De acordo com Bittar (2001): O indicador é uma unidade de medida que tem como alvo os resultados, processos e estrutura em saúde e que pode ser usado como um guia para monitorar e avaliar a qualidade e a quantidade da assistência ofertada aos usuários, imprescindível para o planejamento, organização, coordenação, avaliação e controle das atividades desenvolvidas em um determinado processo ou no todo. Os indicadores dos serviços de saúde precisam ser monitorados para fins de verificação da legalidade, qualidade, segurança da assistência prestada as usuários. Alguns indicadores se relacionam à gestão da qualidade e outros são de monitoramento obrigatório de acordo com a legislação sanitária vigente como aqueles relacionados à segurança do paciente e ao controle de infecção hospitalar (BRASIL, 1998; BRASIL, 2013a). Caro aluno reflita sobre a importância de todas as ferramentas de gestão apresentadas na avaliação, monitoramento e consequente melhoria dos serviços de saúde, tanto nos aspectos assistenciais quanto administrativos. Note que uma aplicação correta dessas ferramentas fornecerá importantes parâmetros gerenciais para os gestores em saúde, subsidiando a tomada de decisões. Cabe ressaltar que o cumprimento ao requisito legal é um critério dos sistemas de gestão da qualidade nos serviços de saúde. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 21 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Nessa capítulo você foi direcionado a auditoria é um processo sistemático, baseado em análises e evidências, avaliações e comparações com critérios previamente estabelecidos e que se finaliza com a comunicação de seus resultados ao destinatário, por meio da emissão de um relatório detalhado. Vimos que a auditoria é uma ferramenta que visa identificar se a organização está funcionando de maneira satisfatória, desde sua estrutura organizacional, legalidade, custos, processos e rotina, sendo por isso muito utilizado pelos órgãos de regulação. Assim, cabe aos gestores dos serviços de saúde aprenderem a utilizar os conceitos e técnicas apresentados para que seja capaz de manter os serviços de saúde sob constante monitoramento buscando a melhoria contínua dos serviços aos usuários da saúde. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde22 Diagnóstico nos serviços de saúde: gestão de custos e saúde pública INTRODUÇÃO: Neste capítulo veremos como funciona o diagnóstico nos serviços de saúde pública e privados valendo-se da ferramenta de auditoria e da utilização de banco de dados oficiais de órgãos governamentais. Discutiremos também, nesse contexto, a gestão dos custos nos serviços de saúde. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Diagnóstico em serviços de saúde pública Gerir e financiar o sistema de saúde brasileiro é um grande desafio. Seus princípios e o modo como foi idealizado, claramente visível através da leitura de sua legislação de constituição e posteriores, faz com que a sua redação seja considerada como um exemplo para o mundo. Porém, os gestores precisam se atentar se esses fundamentos estão sendo respeitados ou o SUS não passará de um sistema teórico e impraticável, com serviços e qualidade não que não chegam até a população. Esse fato já seria um objeto de verificação importante a ser realizado por meio de auditorias nos serviços de saúde públicos do Brasil. Com a criação do SUS e a posterior expansão do setor de saúde suplementar (planos de saúde) a aplicação de grandes volumes de recursos financeiros trouxeram a necessidade de verificações para se avaliar os resultados do setor. Assim, por meio de auditorias nos serviços públicos de saúde pode- se verificar se os recursos estão sendo bem aplicados e se os usuários do SUS estão tendo o seu direito à saúde respeitado, dentro do que Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 23 preconiza a Constituição Federal, a Lei Orgânica da Saúde e documentos normativos posteriores, principalmente no que tange aos princípios e diretrizes do SUS (BRASIL, 1988; BRASIL, 1990). A saúde pública não pode ser sinônimo de precariedade administrativa e baixa qualidade dos serviços ofertados aos usuários do SUS. Por ser em serviços públicos, a auditoria segue os mesmos padrões de quando é realizada em organizações privadas. É importante lembrar que as Redes de Assistência à Saúde (RAS) que prestamserviços de saúde aos usuários do SUS são compostas por estabelecimentos públicos e privados, muitos desses últimos filantrópicos, e importantes na composição do sistema dentro da complexidade da atenção em saúde. Auditoria no SUS e em serviços conveniados A auditoria dos serviços do SUS surgiu com o intuito de realização da verificação quanto ao cumprimento e respeito aos princípios do SUS, sendo criado o Sistema Nacional de Auditoria do SUS (SNA) para a execução dessa atribuição (SANTOS et al., 2012). SAIBA MAIS: Saiba mais sobre o SNA acessando o site: <http://bit.ly/2MKmljq>. De acordo com o SNA (BRASIL, 2017): A auditoria é um instrumento de gestão para fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS), contribuindo para a alocação e utilização adequada dos recursos, a garantia do acesso e a qualidade da atenção à saúde oferecida aos cidadãos e conceitualmente é o conjunto de técnicas que visa avaliar a gestão pública, de forma preventiva e operacional, sob os aspectos da aplicação dos recursos, dos processos, das atividades, Modelos e Gestão de Serviços em Saúde24 do desempenho e dos resultados mediante a confrontação entre uma situação encontrada e um determinado critério técnico, operacional ou legal. O SNA possui a atribuição de realizar a verificação técnico-científica, contábil, financeira e patrimonial do SUS. As suas ações de auditoria visam o diagnóstico e a transparência, com estímulo ao controle social (BRASIL, 2017). Na atenção básica, destaca-se o Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atenção Básica – PMAQ-AB, que tem como principal meta incentivar os gestores e as equipes de saúde a melhorar a qualidade dos serviços oferecidos aos usuários no âmbito do SUS. Para tal, propõem-se um grupo de estratégias de qualificação, acompanhamento e avaliação das ações e do trabalho das equipes de saúde. O programa baseia-se no incentivo financeiro federal para os municípios participantes que atingirem melhorias no padrão de qualidade no atendimento verificadas por meio de auditorias periódicas, realizadas em ciclos (BRASIL, 2015). Alguns pontos se destacam entre os objetivos gerais e específicos do PMAQ: inicialmente, explicita objetivos finais como a promoção da mudança, tanto no modelo de atenção quanto de gestão, impactando no cenário da saúde da população, promovendo o desenvolvimento dos trabalhadores e orientando quanto aos serviços em função das necessidades e satisfação dos usuários do SUS (PINTO; SOUSA; FERLA, 2014). Pode-se observar claramente na política do PMAQ a busca da implementação de ações de saúde de qualidade, baseadas em um modelo assistencial em coerência com as necessidades dos usuários e respeitando os princípios e diretrizes do SUS. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 25 A auditoria nos serviços públicos de saúde deve ser realizada nas unidades de saúde que possuem gestão pública propriamente dita, mas também se aplica aos serviços particulares e conveniados que compõem a RAS. Por participarem da rede de atenção à saúde destinada a prover os serviços de saúde aos usuários do SUS, as instituições, hospitais e demais empresas particulares, filantrópicas e conveniadas também estão sujeitas as auditorias. Auditoria e custos em saúde As auditorias desenvolveram uma importância ímpar nos serviços de saúde nas avaliações institucionais, seja na apuração de cumprimento de alguma norma de qualidade ou mesmo na conformidade de operações cotidianas da organização. As auditorias em saúde, além de focarem na verificação do respeito à legislação e no atendimento de normas de qualidade certificáveis, são muito utilizadas atualmente por essas organizações no faturamento e no controle de custos operacionais. Esse tipo de auditoria, por sua vez, tem sido amplamente utilizado pelos hospitais e por operadoras de planos de saúde suplementar para avaliar as cobranças hospitalares, minimizando prejuízos e, obviamente, maximizando os lucros nos processos de assistência e faturamento. IMPORTANTE: A caracterização dos hospitais envolve a competência da organização para se manter eficiente, sustentável, e permitir o bom desenvolvimento e desempenho da mesma no mercado competitivo da saúde. Assim sendo, a dinâmica dos hospitais exige um rigoroso controle de seu faturamento e custos (LUONGO, 2011). Modelos e Gestão de Serviços em Saúde26 Figura 5: A gestão de custos em saúde. Fonte: Freepik Os crescentes gastos e custos na área da saúde geram preocupação, principalmente para os gestores públicos. Estudos demonstram que os gestores em saúde pública possuem pouco conhecimento sobre os custos, sendo as informações e relatórios disponibilizados pouco aproveitados na gestão. Inicialmente, percebe-se que a alteração desse cenário abarca uma evidente necessidade de capacitação e conscientização dos gestores quanto aos custos operacionais, processos e ferramentas de gestão a serem implantados na cultura gerencial praticada (BONACIM; ARAÚJO, 2010). IMPORTANTE: Realizar a gestão de custos dentro de orçamentos restritos e, principalmente, de recursos escassos, característicos de serviços públicos de saúde, significa buscar o equilíbrio entre despesas, custos e receitas, garantindo a sobrevivência da organização e a manutenção da prestação de serviços à população. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 27 Devemos encarar os serviços de saúde como empresas, mesmo que se trate de organizações públicas. Assim, a gestão dos custos (indiretos e diretos, fixos e variáveis) pelos gestores representa a manutenção ou não da oferta de serviços de saúde nas unidades públicas e privadas (SILVA; SILVA; PEREIRA, 2016) Não se confunda: a gestão de custos não tem como objetivo somente gastar menos, mas sim otimizar os gastos! A gestão de custos no setor da saúde pública, como em qualquer organização privada, proporciona ao gestor uma visão fina da realidade financeira por permitir analisar como são aplicados os recursos disponíveis, identificando os exageros e destinando os recursos na quantidade certa para serem aplicados nas atividades primordiais. Vale refletirmos que os gastos são definidos pelo modelo de assistência que norteou a elaboração das políticas. A gestão de custos no ente público é critério fundamental na tomada de decisão, pois é indispensável na programação adequada dos limitados recursos financeiros disponíveis para a execução das políticas de saúde, sem que uma otimização de gastos reflita no aumento da quantidade e qualidade dos serviços prestados (ALMEIDA; BORBA; FLORES, 2009). EXPLICANDO MELHOR: Podemos dizer que, no setor público, a gestão de recursos permite melhor visualização do cenário financeiro e a busca pela melhoria contínua no direcionamento dos recursos e aplicação nas estratégias e ações de saúde (SILVA; SILVA; PEREIRA, 2016). A análise de custos auxilia no gerenciamento dos resultados organizacionais uma vez que proporciona o cálculo e a análise de todos os aspectos relacionados aos custos operacionais do cuidado, como margens por procedimento, recursos humanos, espaços e serviços Modelos e Gestão de Serviços em Saúde28 ociosos, dentre outros. Uma vez que a apuração dos custos hospitalares é uma atividade complexa, ferramentas como a auditoria são largamente utilizadas e com ampla efetividade nesse sentido (BONACIM; ARAÚJO, 2010). SAIBA MAIS: Peter Drucker (1909 – 2005) é um escritor e administrador austríaco, considerado o pai da administração moderna e responsável por grandes avanços, ferramentas e metodologias adaptados para a gestão em saúde. Leia mais em: <https://goo.gl/2MEm6q>. Espera-se que a auditoria auxilie na conferência e controle dos custos e faturamento com a finalidade de verificar os gastos, os processos de pagamentos, estatísticas, os indicadores específicos, além de conferir a metodologia do faturamento das contas médicas,proporcionando, além de redução de custos, maximização da receita (RODRIGUES et al., 2018; POSSOLI, 2017). Fontes de dados sobre saúde Na extração de dados fidedignos para avaliação e diagnóstico em saúde podem ser utilizados sistemas e bancos de dados oficiais. Diversos sistemas podem ser utilizados como fontes de dados como sistemas integrados de gestão do serviço de saúde auditado, sistemas e bancos de dados de órgãos governamentais, por exemplo. No Brasil, diversos sistemas foram criados para fornecer, de forma rápida e prática, uma ferramenta de publicização de informações de saúde. Podemos citar, pela relevância, os seguintes sistemas e bancos de dados oficiais. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 29 • CNES: O Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES: Fornece informações sobre todos os estabelecimentos de saúde cadastrados sendo eles públicos, privados ou filantrópicos. Disponibiliza informações de infra-estrutura, tipo de atendimento prestado, serviços especializados, credenciamentos e profissionais de saúde existentes nos estabelecimentos de saúde. Acesse: https://bit.ly/3eLkNBL • SIOPS: Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde. É um instrumento que permite o acompanhamento da aplicação mínima de recursos em ações e serviços públicos de saúde. Acesse: https://bit.ly/3fOxugz • TABNET: Sistema que permite elaborar relatórios diversos contendo informações em saúde. Acesse: https://bit.ly/32BiT4m • FNS (Fundo Nacional de Saúde): informa os repasses de verbas federais, destinadas à saúde, para os municípios. Acesse: https://bit.ly/2CBOVCx • SARGSUS: Sistema de Apoio à Construção do Relatório de Gestão. Neste sistema, além do Relatório de Gestão, encontramos o Plano Municipal de Saúde e a Programação Anual de Saúde. Acesse: https://bit.ly/30wjTnz • e-SUS: referência a um SUS eletrônico, cujo objetivo é sobretudo facilitar e contribuir com a organização do trabalho dos profissionais de saúde, elemento decisivo para a qualidade da atenção à saúde prestada à população. Existem o e-SUS AB, e-SUS Hospitalar o e-SUS SAMU. Acesse: https://bit.ly/2CAmIvR Modelos e Gestão de Serviços em Saúde30 • DIGISUS: a estratégia do Ministério da Saúde (MS) de incorporação da saúde digital (e-Saúde) como uma dimensão fundamental para o Sistema Único de Saúde (SUS) para a da disponibilização e uso de informação abrangente, de forma precisa e segura. Acesse: https://bit.ly/3hnznBk • Sala de Situação Municipal: Consiste numa consolidação de dados em saúde de base municipal voltada para consulta pública e de interesse de múltiplos atores, tanto dos gestores e técnicos municipais quanto dos profissionais de saúde, pesquisadores, estudantes e cidadãos. Acesse: https://bit.ly/2DZAdpi • SICONV (Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse: O SINCOV é o sistema aberto à consulta pública, disponível na internet, e que tem por objetivo permitir a realização dos atos e procedimentos relativos a formalização, execução, acompanhamento, prestação de contas e informações acerca de tomada de contas especial dos convênios, contratos de repasse e termos de parceria celebrados pela União. NOTA: O SICONV é uma ferramenta online que agrega e processa informações sobre as transferências de Recursos Federais para Orgãos Públicos e Privados sem fins lucrativos. Para entender melhor, esses repasses ocorrem por meio de contratos e convênios indicados à execução de programas, projetos e ações de interesse comum. Acesse: https://bit.ly/2OMblUh Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 31 • Plataforma + Brasil: O Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (SICONV) será integrado à Plataforma + Brasil, ferramenta web que vai integrar as bases de gestão de transferências de recursos da União. O objetivo é que o sistema online seja também um instrumento de acompanhamento das políticas públicas. Dessa forma, o SICONV será incorporado à plataforma e permanecerá em seu ciclo de evolução como um módulo. O objetivo é que, com uma base única, sejam aprimoradas as medidas de integridade e transparência. A Plataforma +Brasil nasce como uma resposta à necessidade de melhoria da gestão dos diversos tipos de transferências de recursos pela União. A Plataforma +Brasil nasce como uma resposta à necessidade de melhoria da gestão dos diversos tipos de transferências de recursos pela União: • Para o gestor: O acesso a uma plataforma centralizada promove uma gestão pública mais íntegra, integrada, inovadora, simples, efetiva e transparente. • Para o cidadão: Com dados abertos atualizados diariamente, o cidadão poderá acompanhar a execução de políticas públicas. Acesse: https://bit.ly/3eJeDCc BPS (Banco de preços em saúde): O Banco de Preços em Saúde é um sistema criado pelo Ministério da Saúde com objetivo de registrar e disponibilizar on line as informações das compras públicas e privadas de medicamentos e produtos para a saúde. O BPS é gratuito e qualquer cidadão, órgão ou instituição pública ou privada pode acessá-lo para consultar preços de medicamentos e produtos para a saúde. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde32 O BPS foi desenvolvido a partir de quatro objetivos prioritários: • Atuar como ferramenta de acompanhamento do comportamento dos preços no mercado de medicamentos e produtos para a saúde; • Fornecer subsídios ao gestor público para a tomada de decisão; • Aumentar a transparência e a visibilidade no que se refere à utilização dos recursos do SUS para a aquisição de produtos para a saúde; • Disponibilizar dados que possam subsidiar o controle social quanto aos gastos públicos em saúde. Acesse: https://bit.ly/2OIdoZg RESUMINDO: Neste capítulo apresentamos as variações conceituais da auditoria, mas vimos que todas, a definem como um processo de trabalho com planejamento e metodologia padronizada, baseado em verificações, avaliações e gerando, como produto, a emissão de pareceres, relatórios e a comunicação de seus resultados. Analisamos também os tipos de auditoria e seus objetivos, tanto quando aplicados nas organizações privadas quanto nos serviços públicas de saúde que compõem o SUS. Também se apresentou bancos de dados oficiais de órgãos governamentais que devem ser utilizados como fonte de informação no diagnóstico, planejamento e prestação de contas em saúde. Vimos a importância da gestão de custos para os serviços e sistemas de saúde na manutenção da saúde financeira proporcionando a oferta e a qualidade dos serviços de saúde aos usuários. Assim, concluímos que as importantes ferramentas de gestão apresentadas permitem a visualização dos processos organizacionais e a análise críticas de dados relevantes auxiliando os gestores na avaliação, diagnóstico e planejamento. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 33 Gestão de riscos e do trabalho em saúde INTRODUÇÃO: Neste capítulo estudaremos a gestão de riscos, importante foco dos modelos de gestão em saúde em todos os serviços que prestam assistência na manutenção da segurança de seus usuários. Discutiremos também a relevância e os desafios da gestão do trabalho e das equipes de saúde. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! O gerenciamento de risco As ferramentas de diagnóstico também permitirão à organização de saúde identificar, analisar e gerenciar os riscos tanto assistenciais quanto administrativos relacionados à sua atividade. Sendo assim, seus clientes e a organização serão beneficiados nesse processo, que envolve segurança, eficácia, eficiência e garantia de qualidade. IMPORTANTE: Por meio das auditorias, além de realizar a verificação e controle de conformidade a leis sanitárias, normas de qualidade e normativas internas, as organizações prestadoras de serviços de saúde podem realizar a importante tarefa de identificar e, dessa forma, gerenciaros riscos inerentes à prestação de serviços aos usuários. Essa atividade, conhecida como gerenciamento de risco, culmina na minimização dos riscos assistenciais e administrativos na organização de saúde. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde34 O gerenciamento de risco representa um processo multidisciplinar que busca identificar e monitorar as prováveis fontes de eventos adversos, suas consequências, propor medidas interventivas e executar ações que possibilitem aos gestores antecipar-se à ocorrência de falhas que possam levar a danos aos pacientes, profissionais e à instituição (KUWABARA, 2010). Para Cedraz et al. (2018) o gerenciamento de risco permeia as relações econômicas, sociais, políticas e legais dos serviços de saúde. A responsabilidade pela decisão de gerenciar efetivamente os riscos intra- hospitalares deve responder a, no mínimo, duas questões: quais são as alternativas hospitalares para as ações de gerenciamento de risco e quais são os impactos dessas ações sobre as instituições. IMPORTANTE: Considera-se risco a possibilidade de ocorrer algo inesperado na realização de um processo ou atividade. Em todas as etapas do atendimento ao cliente/paciente existem riscos inerentes aos processos. Deve-se, portanto, conhecê-los, listá-los e gerenciá-los, ou seja, tomar as medidas de segurança necessárias para minimizá-los, aumentando a segurança dos usuários. Portanto, deve-se analisar e evitar os seguintes riscos: sanitários e ambientais (relacionados à saúde, higiene e ao meio ambiente); ocupacionais e biossegurança (relacionados à atividade profissional); responsabilidade civil (relacionados à organização hospitalar, normas legais e normas internas); assistenciais (relacionados ao paciente), e; financeiro(relacionados à saúde financeira da instituição). No Brasil, importantes aspectos da gestão de risco são apresentadas e normatizadas por meio da legislação sanitária, que preconiza o controle da infecção hospitalar e institui os protocolos da segurança do paciente. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 35 O gerenciamento de risco e o controle da infecção relacionadas à assistência à saúde (IRAS) Na gestão de risco, é extremamente importante o monitoramento, as intervenções e o gerenciamento relativo às infecções relacionadas à assistência (IRAS), tema recorrente e ainda fator gerador de problemas no ambiente institucional. Segundo a Portaria n° 2616, de 12 de maio de 1998, do Ministério da Saúde, o termo IRAS (ou mesmo infecção hospitalar) relaciona-se “àquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares” (BRASIL, 1998, p. 8). Logo, toda a equipe de assistência está relacionada à prevenção de IRAS, que envolve os diversos setores das instituições, além de demandar uma comissão específica para atividades, levantamento e análise de dados, que deve, em termos gerenciais, culminar no desenvolvimento de indicadores, parametrizando a tomada de decisão. Malagón-Londoño e Laverde (2003) afirmam que prevenção é a melhor estratégia para lidar com a IRAS. Isso porque, uma vez instalada, ela acarreta em pontos como o aumento do tempo de permanência hospitalar, aumento dos custos diretos de assistência à saúde, aumento dos riscos de mortalidade, probabilidade adicional de comprometer a saúde da comunidade do serviço de saúde e, muitas vezes, da comunidade, em geral. Nesse caso, por meio dos indicadores, pode-se mensurar o impacto das ações de prevenção sobre o controle institucional de infecção. Conforme a norma NR MA 4/3, contida no Manual Brasileiro de Acreditação (ONA, 2018), referência muito utilizada nos sistemas de gestão da qualidade em saúde, em que as organizações podem avaliar Modelos e Gestão de Serviços em Saúde36 o cumprimento das diretrizes e ações sistemáticas destinadas a prevenir, controlar, reduzir ou eliminar riscos com vistas à redução máxima possível da incidência e da gravidade das infecções e eventos adversos. No aspecto legal, o Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH) surge como estratégia de redução da incidência e gravidade das infecções hospitalares, atuando principalmente por meio da capacitação dos recursos humanos do hospital (TURRINI; LACERDA, 2004). A segurança do paciente Em 1999, o Instituto de Medicina dos EUA publicou “To Err Is Human: Building a Safer Health System”, artigo que proporcionou o aumento do conhecimento e conscientização acerca dos eventos adversos que geralmente ocorrem em serviços de saúde, acelerando as deliberações governamentais para a prevenção de sua ocorrência. Já no ano de 2007, o Instituto americano realizou uma publicação relevante sobre erros relacionados à medicação na qual apresenta dados alarmantes e declara inadmissível esta ocorrência devido às graves consequências desses eventos para os pacientes e instituições de saúde (ANACLETO et al., 2010). VOCÊ SABIA? Um estudo identificou que em 2.869 incidentes relacionados à medicação em uma unidade de saúde, 45,5% aconteceram na fase da prescrição, sendo que, dentre esses, 99% dos registros não apresentavam a conduta dos profissionais de saúde frente ao incidente (AZEVEDO FILHO et al., 2015). No Brasil, em 2013 foi sancionada a Portaria nº 2.095, aprovando os Protocolos Básicos de Segurança do Paciente que “visam instituir ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e a melhoria Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 37 da qualidade em caráter nacional, devendo ser utilizada em todas as unidades de saúde do Brasil, podendo ser ajustados a cada realidade” (BRASIL, 2013a, p.1). A partir desse momento foi criada uma norma sobre a obrigatoriedade e as ações de segurança do paciente a serem implantadas. De acordo com Toso et al., (2016), demonstra-se, por meio desse protocolo, a importância de mensurar a situação global da segurança por meio de diagnósticos de avaliações que abordem as percepções e as atitudes dos profissionais relacionadas à segurança, identificando os pontos com necessidade de intervenção e subsidiando a implementação de ações de melhoria de acordo com a legislação sanitária. NOTA: Estudos apresentados por Sousa et al., (2014, p. 96), realizados internacionalmente, concluem que as tipologias dos eventos adversos mais descritos, ou seja, de maior ocorrência nos serviços de saúde são: “o medicamento (nas diferentes fases do circuito do medicamento, desde a prescrição até a administração); a cirurgia (por exemplo, cirurgia no local errado, deiscência); as infecções; os danos por quedas; as úlceras por pressão; e o atraso ou falha no diagnóstico ou no tratamento”. Desse modo, para suprir a necessidade de realização da práticas seguras em saúde, descritas por estudos e apresentadas na literatura, a Portaria 2.095/13 apresenta seis protocolos básicos (BRASIL, 2013a): • Identificação do paciente; • Prevenção de úlcera por pressão; • Segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos; • Cirurgia segura Modelos e Gestão de Serviços em Saúde38 • Prática de higienização das mãos; • Prevenção de quedas. Esses protocolos, apresentados como Anexos à Portaria 2.095/13 apresentam os conceitos, a justificativa e orientam quanto à sua aplicabilidade e implementação nos serviços de saúde para adoção de práticas seguras no resguardo à saúde dos pacientes, não esquecendo a responsabilidade dos profissionais e organização nesse processo. IMPORTANTE: De acordo com Brasil (2017), os protocolos são sistêmicos e gerenciados, promovem a melhoria da comunicação entre os profissionais da equipe multidisciplinar, oportunizam a vivência do trabalho em equipe e constroem instrumentos para a prática assistencial segura e gerenciando riscos. Figura 6: A higienização das mãos. Fonte: Freepik Dessa forma, foi possível a obtençãoe acompanhamento de informações por meio da vigilância contínua e monitoramento de indicadores de processo, antes inexistentes. Assim, podem-se identificar os riscos assistenciais e promover intervenções em momento oportuno. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 39 Gestão do trabalho em saúde O debate acerca da gestão do trabalho em saúde vem, de forma crescente, ganhando proporção na agenda de gestores e pesquisadores da saúde pública, por se constituir de ponto chave para a implantação efetiva do Sistema Único de Saúde. Dimensionar e adequar a força de trabalho às demandas do setor nos critérios de formação, qualificação, liderança e relações interpessoais é ainda um grande esforço a ser realizado (MARTINS, 2016). Busato (2017) enfatiza que os processos multidisciplinares de trabalho em equipe na saúde devem pautar-se na integração entre os serviços por meio da complementaridade e continuidade no cuidado integral e basear-se na efetividade dos processos comunicativos interpessoais. O SUS pressupõe o trabalho de equipes multidisciplinares na execução das ações de saúde como diretriz basal em suas políticas de saúde. Assim, fomentar a autonomia no trabalho multidisciplinar, agir solidariamente, compartilhar informações de modo que as opiniões dos membros da equipe tenham sempre pesos iguais são desafios para os profissionais e gestores de saúde (BASSINELLO, 2014). Precisamos refletir sobre a importância do cuidado integrado na assistência à saúde e como essa forma de integração se dá no cotidiano dos serviços de saúde. Considerando-se os diversos níveis de integração disciplinar que podem ocorrer entre os profissionais de saúde e seus trabalhos, podemos encontrar abordagens, nas políticas de saúde, sobre as equipes multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. A partir dessa conceituação identificam-se os gargalos que dificultam o exercício pleno da integração disciplinar impedindo uma prática mais coesa e completa na promoção da saúde (GALVAN, 2007). Bourdieu (1989 apud Luz, 2009) e Almeida Filho (2005), assim definiram os níveis de integração disciplinar nas equipes de saúde: Modelos e Gestão de Serviços em Saúde40 • O trabalho da equipe multidisciplinar tem por objetivo avaliar o paciente de maneira independente de modo que os planos de tratamento se sobrepõem sem que haja um trabalho coordenado por parte dessa equipe ficando a decisão sobre a terapêutica regulada pela demanda do paciente e as decisões do médico; • Já na interdisciplinar a abordagem em equipe deve ser comum a toda a assistência à saúde dada ao paciente pela colaboração de vários profissionais e especialidades, aplicando-se conhecimentos, habilidade e competências distintas, alcançando-se uma maior amplitude do ser humano; • A transdisciplinaridade surgiu da necessidade do desenvolvimento dos conhecimentos, da cultura e da complexidade humana, coexistindo biologia, psicologia, sociologia, espiritualidade e demais aspectos da natureza humana, se preocupando com a interação entre esses aspectos e promovendo diálogo entre eles. Obviamente, pela complexidade da natureza e das relações humanas, o trabalho em equipe, por si só já representa um grande desafio para os profissionais de saúde. Podemos aqui apontar alguns dos grandes desafios do trabalho em equipe na consolidação das políticas públicas de saúde. Um importante desafio se refere a uma necessidade de transformação dos cursos da área da saúde de modo que a grade curricular incorpore e pratique a aprendizagem para o trabalho em equipes integradas pautado em uma concepção ampla de saúde, incluindo a subjetividade do indivíduo e suas interações com os a sociedade, o ambiente e o seu próprio corpo (GALVÁN, 2007). Outro ponto muito discutido principalmente no que tange à consolidação da estratégia de saúde da família seria a revisão do papel do médico como central e hegemônico na equipe de saúde. Essa posição hierárquica historicamente definida pelo modelo assistencial biomédico Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 41 gera grandes desigualdades entre os trabalhadores de saúde, criando abertura para um trabalho com interação social entre os trabalhadores, com maior horizontalidade e flexibilidade dos diferentes profissionais, possibilitando autonomia, criatividade e integração da equipe. Essa complementação dos trabalhados de cada um dos profissionais da equipe impede a manutenção do modelo de atenção desumanizado, fragmentado, individualizado, focado na cura de doenças e com inflexível divisão do trabalho (ALMEIDA; MISHIMA, 2001). Desse contexto de trabalho em equipe surge o conceito de apoio matricial em saúde, base dos trabalhos nos Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), já estudados por nós. Instrumentos de gestão do SUS • Os seguintes instrumentos são obrigatórios aos municípios para o diagnóstico, planejamento e a prestação de conta das ações de saúde e dos recursos envolvidos: • Conferência Municipal de Saúde: deve ser realizada a cada 4 anos com a participação ativa da comunidade. No evento serão discutidas a situação de saúde no município e construídas as prioridades e para a elaboração do Plano Municipal de Saúde. Marco legal: Lei nº 8080/1990. • Plano Municipal de Saúde – PMS: elaborado após a realização da Conferência Municipal de Saúde. Trata-se de um planejamento da saúde para quatro anos e elaborada com base nas diretrizes dispostas pelo Conselho Municipal de Saúde oriundos das deliberações da Conferência Municipal de Saúde. Marco legal: Lei nº 8080/1990. • Plano anual de Saúde – PAS: elaborado anualmente, respeitando as diretrizes do Plano Municipal de Saúde. Deve ser aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde. Marco legal: LC nº 141/2012. • Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO: a LDO deve ser encaminhada à Câmara Municipal de Vereadores para Modelos e Gestão de Serviços em Saúde42 aprovação e execução no ano subsequente. Marco legal: CF 1988. • SISPACTO: registro anual da pactuação das diretrizes, objetivos, metas e indicadores da saúde municipal. Marco legal: Resolução nº 5/2013. • Relatório Detalhado do Quadrimestre Anterior - RDQA: relatório de indicadores de ações e recursos deve ser apresentado, com periodicidade quadrimestral, para o Conselho de Saúde e a Câmara Municipal de Vereadores. Deve apresentar os dados inseridos no SIOPS. Marco legal: LC nº 141/2012. • Relatório Anual de gestão - RAG: relatório detalhado de todas as ações de saúde, incluindo os indicadores assistenciais, administrativos e financeiros do exercício anterior. Deve ser encaminhado ao Conselho Municipal de Saúde e à Câmara Municipal de vereadores. Deve apresentar os dados inseridos no SIOPS. Marco legal: LC nº 141/2012. • Programação Pactuada e Integrada PPI: define, quantifica e direciona as ações de saúde para população dentro de um território, considerando pelo PDR (Plano Diretor de Regionalização). Muito importante para organizar e direcionar os recursos destinados ao apoio ao diagnóstico e procedimentos hospitalares. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 43 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Concluindo esse capítulo foi possível apresentar como o gerenciamento de riscos podem auxiliar no aumento da eficácia e eficiência da organização, promovendo a redução de eventos adversos no cuidado, como preconizado, por exemplo, nas diretrizes de controle de infecção hospitalar e protocolos de segurança do paciente. Pudemos apresentar os instrumentos de gestão obrigatórios aos serviços de saúde do SUS que precisam ser utilizados pelos gestores no planejamento, execução e avaliação das ações de saúde com grande sucesso na melhoria da saúde pública. Também, o profissional da gestão em saúde será capaz de compreender as complexas relações profissionais e o trabalho em equipe em saúde e como a suaintegração eficiente é foco de políticas de saúde por serem a chave do sucesso do cuidado integral. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde44 A humanização na gestão dos serviços de saúde INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender o conceito e os princípios da humanização e discutir a sua importância enquanto requisito fundamental do paciente na qualidade do atendimento em saúde, contida na Política Nacional de Humanização. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Humanização no cuidado à saúde A humanização em saúde envolve a relação entre os profissionais e os usuários, focadas na valorização dos indivíduos, através do fomento à conduta ética, empática e humana. Nesse sentido, a humanização se relaciona à qualidade do cuidado, buscando valorizar trabalhadores e usuários no que tange o respeito aos seus direitos durante o contato que caracteriza o vínculo da atenção à saúde (MOREIRA et al., 2015). Uma vez que a sociedade torna-se cada vez mais formal distanciando as pessoas, a humanização surge como um projeto de oposição a essa tendência competitiva e mercantil do atual mundo globalizado. Assim, objetiva reiterar a necessidade, no cuidado à saúde, da solidariedade, apoio social, proteção aos vulneráveis e contrário à violência e os maus-tratos. Para isso é necessário melhorar a comunicação entre os diversos atores envolvidos no processo do cuidado em saúde (GOULART; CHIARI, 2010). Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 45 Figura 7: A humanização é responsabilidade da gestão. Fonte: Freepik Inicialmente, o termo humanização aplicada à saúde era entendida como a ação de movimentos religiosos, filantrópicos e paternalistas. Atualmente o conceito foi ampliado para englobar a capacidade de organizações e profissionais de oferecer uma assistência de qualidade, com acolhimento, ambiência e atenção às condições de trabalho dos profissionais (SILVA; SILVEIRA, 2011). No SUS, um dos principais gargalos para a efetivação da humanização é a forte presença do modelo de assistência na formação acadêmica e na práxis dos profissionais de saúde (que foca na doença) aliados à precariedade das condições de trabalho, o acesso ineficiente aos serviços, a pequena participação social na gestão do sistema, refletindo, de maneira conjunta e maximizada na criação do cenário ainda distante do idealizado no exercício cotidiano do cuidado em saúde no Brasil (COTTA, 2013). Modelos e Gestão de Serviços em Saúde46 Desse modo, devido à necessidade de alteração dessa situação, instituiu-se a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão no Sistema Único de Saúde (PNH) como uma estratégia de melhoria da qualidade do cuidado e fortalecimento do SUS. Do Programa à Política Nacional de Humanização Humanizar é buscar uma transformação cultural tanto nas práticas assistenciais quanto na gestão em saúde, exercendo uma conduta ética, respeitosa, acolhedora do usuário, tratando-o como um cidadão e não apenas como um cliente de serviços de saúde (SILVA; SILVEIRA, 2011). IMPORTANTE: Com esse propósito, a Política Nacional de Humanização (PNH) surge no intuito de contribuir para a melhoria da qualidade da atenção e da gestão da saúde no Brasil, pautado no fortalecimento da humanização como política pública que associa o modelo de atenção ao de gestão (BRASIL, 2013b). Assim, temos como principais prioridades alvo da Política Nacional de Humanização (PNH), de acordo com BRASIL (2003): • - transversalidade, promovendo a comunicação entre as diferentes especialidades e práticas de saúde; • - indissociabilidade entre atenção e a gestão em saúde; • - protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos; • - acolhimento através da escuta qualificada; • - ambiência, tornando os espaços saudáveis, acolhedores e confortáveis; Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 47 • - clínica ampliada e compartilhada; • - valorização dos trabalhadores; • - melhoria das condições de trabalho e atendimento; • - defesa dos direitos dos usuários; • - respeito às questões de gênero, etnia, orientação sexual e às populações específicas. No ano de 2003, a humanização deixou de ser um programa e tornou-se uma política nacional, na busca da efetivação do direito e dos princípios constitucionais da saúde no Brasil (BRASIL, 2004). Nesse contexto da humanização nos serviços de saúde, surgem importantes olhares temáticos como o Parto Humanizado e a Humanização da Atenção Hospitalar. De maneira geral, a Política Nacional de Humanização revela uma estratégia de valorização da dimensão humana no cuidado em saúde (MOREIRA et al., 2015). Figura 8: A humanização do atendimento. Fonte: Freepik. Ambiência A PNH define ambiência como tratamento dado ao espaço físico entendido como espaço social, profissional e de relações interpessoais que deve proporcionar atenção acolhedora, humana e resolutiva. Em Modelos e Gestão de Serviços em Saúde48 interface com os demais dispositivos da PNH, esse conceito envolve questões relativas a conforto, privacidade, acolhimento, integração, espaços de “estar”, assim como espaços que propiciem processo reflexivo, inclusão e participação (BRASIL, 2013b). Na composição da Ambiência estão presentes elementos como: forma, cor, luz, cheiro, som, texturas etc. Considerando essa conceituação, a PNH propõe atenção à busca dos seguintes objetivos (BRASIL, 2013b, SÃO PAULO, 2019): • Oferecer espaços de acesso e espera que diferenciem atendimentos preferenciais, que facilitem a priorização do atendimento e a movimentação de usuários e profissionais - diferenciação de urgências e emergências, entradas separadas para criança/gestante, priorização do atendimento a idosos, atenção especial aos grupos vulneráveis vítimas de violência e pessoas com necessidades especiais; • Oferecer espaços de atendimento ao paciente com privacidade e conforto; • Dispor de mobiliários confortáveis e colocados de forma a permitir a interação entre os usuários e destes com os profissionais; • Contribuir para que os espaços sejam contíguos ou permitam integração do trabalho multiprofissional; Figura 9: A empatia deve ser parte da conduta de profissionais da saúde. Fonte: Freepik. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 49 Garantir fácil orientação e fluxo de deslocamento dos usuários entre as áreas e serviços; • Favorecer o acolhimento ao visitante oferecendo espaços de escuta, recepção e orientação; • Facilitar a participação do acompanhante ou familiar, disponibilizando conforto e acolhimento, áreas informes aos familiares, áreas de espera, convivência e descanso com assentos confortáveis e em quantidade compatível; • Respeitar peculiaridades culturais, sociais e religiosas; • Oferecer áreas de trabalho em grupo e espaços para reuniões interprofissionais; • Oferecer áreas de apoio em número e condições adequadas a todos os profissionais; • Oferecer áreas externas que favoreçam o acesso, a espera e o descanso de acompanhantes e trabalhadores. Acolhimento O acolhimento precisa estar presente nos serviços de saúde e ser realizada pelos seus colaboradores de modo a qualificar a construção do vínculo entre as partes. O acolhimento pode amenizar a condição desfavorável física e emocional do paciente e seus acompanhantes potencializando assistência e gerando valor para os usuários (BRASIL, 2003). O acolhimento é uma diretriz da Política Nacional de Humanização (PNH), que não tem local nem hora certa para acontecer, nem um profissional específico para fazê-lo: faz parte de todos os encontros do serviço de saúde (BRASIL, 2013b). O acolhimento é uma postura ética que implica na escuta do usuário em suas queixas, no reconhecimento do seu protagonismo no processo de saúde e adoecimento, e na responsabilização pela resolução, com ativação de redes de compartilhamentode saberes. Acolher é um Modelos e Gestão de Serviços em Saúde50 compromisso de resposta às necessidades dos cidadãos que procuram os serviços de saúde (BRASIL, 2003). Não devemos minimizar o conceito de acolhimento como sendo somente a recepção da demanda espontânea nas portas dos serviços de saúde. O acolhimento deve ser entendido como um encontro que prepara o cliente cria o vínculo e abre espaço para a produção da saúde (BRASIL, 2004). IMPORTANTE: A PNH deve se fazer presente e estar inserida em todas as ações e prestação de serviços em saúde. Acolhimento, promoção da comunicação, relações interpessoais, escuta qualificada e ambiência devem ser implantadas de maneira efetiva para proporcionar uma melhor forma de cuidar e organizar o trabalho. Note que a PNH é a melhor referência para ser utilizada nos treinamentos com os funcionários por tratar dos pontos de melhoria identificados na ouvidoria e que geraram reclamações por parte dos clientes. Observando a PNH a equipe gestora pode perceber se está havendo desrespeito as diretrizes da humanização. Baseando-se em seu diagnóstico situacional deve divulgar para corrigir os problemas identificados. Nesse contexto, os serviços de ouvidoria e as pesquisas de satisfação demonstraram-se de grande importância como instrumento de comunicação e expressão da percepção dos clientes quanto aos serviços prestados pelos serviços de saúde. Essa importante dimensão das práticas em saúde, a humanização representa hoje um importante requisito dos clientes a ser atendido pelas organizações de saúde, presente nas políticas de qualidade. Sua análise, Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 51 através da percepção dos clientes pode ser coletada através dos serviços de ouvidoria hospitalar. Pelo que estudamos, vimos que a Política Nacional de Humanização trabalha nas instituições de saúde, possuindo como foco principal os conceitos de transversalidade; comunicação efetiva entre a equipe do cuidado; indissociabilidade entre atenção e gestão em saúde, protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos; acolhimento através da escuta qualificada; ambiência, tornando os espaços saudáveis, acolhedores e confortáveis; clínica ampliada e compartilhada; valorização dos trabalhadores; melhoria das condições de trabalho e atendimento; defesa dos direitos dos usuários, dentre outros aspectos que desenvolva a valorização dos indivíduos, através do fomento à conduta ética, empática e humana. Figura 10: A PNH e a equipe de saúde. Fonte: Freepik. A gestão em saúde precisa se atentar às diretrizes da PNH, principalmente no que tange a humanização do atendimento e na busca da ambiência, contribuindo sobremaneira na recuperação da saúde dos clientes. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde52 RESUMINDO: Concluindo esse capítulo foi possível apresentar a humanização hospitalar e discutir a sua importância enquanto requisito fundamental do paciente na qualidade do atendimento em saúde, contida na Política Nacional de Humanização. Assim, analisamos como a gestão deve utilizar-se das ferramentas disponíveis para a identificação e o controle de falhas, não somente relacionadas à assistência, mas envolvendo questões relacionadas à humanização do atendimento. Analisamos como as diretrizes da PNH, principalmente no que tange a humanização do atendimento e na busca da ambiência, contribuem sobremaneira na recuperação da saúde dos clientes, sobretudo em ambiente hospitalar. Neste capítulo, você teve a oportunidade de refletir sobre o atendimento focado no ser humano e sua ligação com a gestão em saúde além de discutir sobre essa imprescindível política voltada à regular a relação tão importante entre os profissionais, os serviços de saúde e seus usuários. Modelos e Gestão de Serviços em Saúde 53 Modelos e Gestão de Serviços em Saúde54 REFERÊNCIAS ALMEIDA FILHO, N. Transdisciplinaridade e o paradigma pós-disciplinar na saúde. Saude soc., São Paulo , v. 14, n. 3, p. 30-50, Dec. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 12902005000300004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 24 fev de 2020. ALMEIDA, A. G.; BORBA, J. A.; FLORES, L. C. S. A utilização das informações de custos na gestão da saúde pública: um estudo preliminar em secretarias municipais de saúde do estado de Santa Catarina. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 43, n. 3, p. 579-607, 2009. Disponível em: <https://goo.gl/mYdUKV>. Acesso em: 24 fev de 2020. 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