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MANUAL CLÍNICO E TERAPÊUTICO LESÕES MAIS COMUNS NA ODONTOLOGIA LESÕES MAIS COMUNS NA ODONTOLOGIA MANUAL CLÍNICO E TERAPÊUTICO Professoras Participantes Ana Catarina Bosh Loivos Bruna Lavinas Sayed Picciani Karla Bianca Fernandes da Costa Fontes Maria Carolina de Lima Jacy Monteiro Barki Juliana Tristão Werneck Coordenadora Professora Adjunta do Departamento de Formação Específica - UFF Professora de Estomatologia do ISNF/ UFF Doutora e Mestre em Patologia pela UFF Especialista em Estomatologia pela UFRJ Habilitada em Laserterapia pela LELO/ USP Professora Adjunta do Departamento de Formação Específica - UFF Professora de Saúde Coletiva do ISNF/ UFF Doutora em Saude Públical pela ENSP/Fiocruz Mestrado em Clínica Odontológica pela UFF Especialização em Saúde Coletiva pela UFRJ. Especialização em Saúde da Família pela UERJ Professora Adjunta do Departamento de Formação Específica - UFF Professora de Estomatologia do ISNF/ UFF Doutora e Mestre em Patologia pela UFF Especialista em Estomatologia pela UERJ Professora Associada do Departamento de Formação Específica - UFF/ISNF Professora de Estomatologia - UFF/ISNF Especialista, Mestre e Doutora em Patologia Bucal - UFF Especialista em Estomatologia - UNIGRANRIO Habilitada em Laserterapia (LELO/USP) e Ozonioterapia (FACOP) Professora Adjunta do Departamento de Formação Específica - UFF/ISNF Professora de Estomatologia - UFF/ISNF Mestre em Odontologia (Patologia Bucal) - São Leopoldo Mandic Doutora em Ciências Odontológicas/Patologia Bucal - São Leopoldo Mandic Especialista em Estomatologia - UNIGRANRIO Habilitada em Laserterapia (LELO/USP) e Ozonioterapia (FACOP) Revisor Arley Silva Júnior Especialista em Patologia Oral - UFRJ Mestre em Patologia Buco dental - UFF Doutor em Ciências Diagnósticas - Universidade de Baltimore - Maryland Pós doc em Medicina Oral - Universidade da Califórnia, São Francisco Odontológo da Faculdade de Odontologia da UFRJ Prof. Associado da UFF COLABORADORES Graduando em Odontologia - ISNF - Universidade Federal Fluminense; - Bolsista do Projeto de Extensão: Manual Clínico e Terapêutico das lesões mais comuns na Odontologia; - Membro da Liga Acadêmica de Implantodontia e Periodontia (LAIMP - UFF/NF). Graduanda em Odontologia - ISNF- Universidade Federal Fluminense - Voluntária do Projeto de Extensão: Manual Clínico e Terapêutico das lesões mais comuns na odontologia - Monitora Voluntária de Patologia Oral (2019) - Bolsista PIBIC - CNPq (2019) -Membro Júnior da liga de cirurgia bucomaxilofacial e estomatologia (LACITE - UFF/NF) (2019) -Monitora Voluntária de Estomatologia (2021 - 2022) -Membro da Diretoria da LACITE - UFF/NF (2021 - 2022) -Monitora Bolsista de Estomatologia (2022) Graduanda em Odontologia - ISNF- Universidade Federal Fluminense - Bolsista PIBIC - CNPq - Voluntária do Projeto de Extensão: Manual Clínico e Terapêutico das lesões mais comuns na odontologia Graduanda em Odontologia - ISNF- Universidade Federal Fluminense - Voluntária do Projeto de Extensão: Manual Clínico e Terapêutico das lesões mais comuns na Odontologia - Monitora Bolsista de Estomatologia - Presidente da liga de cirurgia bucomaxilofacial e estomatologia (LACITE - UFF/NF) Graduanda em Odontologia - ISNF- Universidade Federal Fluminense - Voluntária do Projeto de Extensão: Manual Clínico e Terapêutico das lesões mais comuns na Odontologia - Monitora Voluntária de Estomatologia (2020 e 2021) - Monitora Bolsista de Biologia celular e molecular (2022) - Diretora de Ensino da Liga Acadêmica de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial e Estomatologia (LACITE - UFF/NF) Graduanda em Odontologia - ISNF- Universidade Federal Fluminense - Voluntária do Projeto de Extensão: Manual Clínico e Terapêutico das lesões mais comuns na odontologia - Monitora Voluntária de Estomatologia Graduanda em Odontologia - ISNF- Universidade Federal Fluminense - Voluntária do Projeto de Extensão: Manual Clínico e Terapêutico das lesões mais comuns na odontologia - Monitora Voluntária de Estomatologia (2022) Graduanda em Odontologia - ISNF- Universidade Federal Fluminense - Voluntária do Projeto de Extensão: Manual Clínico e Terapêutico das lesões mais comuns na odontologia Graduanda em Odontologia - ISNF- Universidade Federal Fluminense - Voluntária do Projeto de Extensão: Manual Clínico e Terapêutico das lesões mais comuns na odontologia - Monitora Voluntária de Estomatologia Luiza Ornellas Thainá Cassiano Fernandes Juliana Leal Furtado Jade Rocha Vasconcellos Ribeiro Patrick Cardoso Squitino Mattos Beatriz Vasconcellos Ferreira Nicolly Duarte de Abreu Izabella de Oliveira Pereira Beatriz Guimarães Jardim Graduanda em Odontologia - ISNF- Universidade Federal Fluminense - Ex- Voluntária do Projeto de Extensão: Manual Clínico e Terapêutico das lesões mais comuns na odontologia - Monitora Voluntária de Estomatologia Graduando em Odontologia - ISNF - Universidade Federal Fluminense - Voluntário do Projeto de Extensão: Manual Clínico e Terapêutico das Lesões Mais Comuns na Odontologia - Bolsista do PET Odontologia UFF-NF - Membro Ligante da Liga Acadêmica de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial e Estomatologia (LACITE - UFF/NF) Matheus Carvalho Teles Filgueiras Marina Capichoni PREFÁCIO O Manual Clínico e Terapêutico de Lesões na Odontologia é um e-book originado a partir do projeto fomentado pela Pró-Reitoria de Extensão - Universidade Federal Fluminense (PROEX-UFF) com as lesões mais prevalentes no Ambulatório de Estomatologia do Instituto de Saúde de Nova Friburgo (ISNF). Sabe-se que a cavidade oral pode ser acometida por inúmeras lesões que podem ser diagnosticadas e tratadas pelos próprios Cirurgiões-Dentistas. Logo, reconhecer estas alterações requer um olhar cuidadoso por parte do profissional, que deve ser capaz de identificar a anormalidade, assumindo a conduta clínica adequada. No entanto, com a ausência de políticas públicas de detecção precoce e manejo de lesões orais, somado à dificuldade do profissional na conduta e diagnóstico do paciente, tem-se um impasse quanto ao que fazer para auxiliá-lo. Diante disso, a equipe do projeto pesquisou na literatura por meio de bases como PubMed, Periódicos CAPES e redigiu os capítulos com o objetivo de facilitar a detecção, conduta e tratamento das lesões orais mais prevalentes no cotidiano clínico. Logo, este manual dedica-se aos profissionais de saúde e graduandos que desejam obter uma melhor conduta clínica, do diagnóstico ao tratamento, das lesões orais mais comuns na Odontologia. Juliana Tristão Werneck Coordenadora do Projeto AGRADECIMENTOS Os autores do Manual Clínico e Terapêutico de Lesões na Odontologia, agradecem à PROEX pelo fomento ao projeto, às docentes da disciplina de Estomatologia do ISNF/ UFF pela experiência proporcionada a partir do acompanhamento da prática clínica, aos discentes envolvidos no projeto pela elaboração e edição do manual, aos pacientes por autorizarem as imagens para fins científicos e educativos, aos revisores e editores pela edição e revisão. DEDICATÓRIA O Manual Clínico e Terapêutico de Lesões na Odontologia foi idealizado a fim de facilitar a conduta do cirurgião-dentista, dos graduandos em Odontologia e profissionais da saúde diante de lesões orais mais prevalentes na prática clínica. Este ebook é resultado do projeto fomentado pela PROEX e dedicado a todos que desejam aprender e otimizar o tratamento dos nossos pacientes, principalmente os mais carentes da rede pública de saúde . Capítulo 01 FIBROMA TRAUMÁTICO Páginas Marina Capichoni, Thainá Cassiano Fernandes ..................................................................................................................... 01 Capítulo 02 GRANULOMA PIOGÊNICO Beatriz Vasconcellos e Izabella Oliveira ....................................................................................................................................... 03 Capítulo 03 ÚLCERA TRAUMÁTICA BeatrizGuimarães Jardim, Nicolly Duarte de Abreu, Patrick Cardoso Squitino Mattos ........................... 07 Capítulo 04 HIPERPLASIA FIBROSA INFLAMATÓRIA Luiza Ornellas ................................................................................................................................................................................................ 13 Capítulo 05 CANDIDÍASE ORAL Beatriz Guimarães Jardim, Nicolly Duarte de Abreu, Patrick Cardoso Squitino Mattos ........................... 16 Capítulo 06 ESTOMATITE PROTÉTICA Beatriz Vasconcellos Ferreira e Luiza Ornellas ....................................................................................................................... 22 Capítulo 07 HERPES SIMPLES Nicolly Duarte de Abreu, Patrick Cardoso Squitino Mattos .......................................................................................... 26 Capítulo 08 MUCOCELE Nicolly Duarte de Abreu, Patrick Cardoso Squitino Mattos .......................................................................................... 30 Capítulo 09 SIALOLITÍASE Nicolly Duarte de Abreu, Patrick Cardoso Squitino Mattos .......................................................................................... 35 Capítulo 10 PAPILOMA ESCAMOSO Nicolly Duarte de Abreu, Patrick Cardoso Squitino Mattos .......................................................................................... 38 Capítulo 11 CONDILOMA ACUMINADO Nicolly Duarte de Abreu, Patrick Cardoso Squitino Mattos .......................................................................................... 41 Capítulo 12 SÍNDROME DA ARDÊNCIA BUCAL Juliana Leal Furtado e Matheus Carvalho Teles Filgueiras ............................................................................................ 43 Capítulo 13 CISTO DE ERUPÇÃO Nicolly Duarte de Abreu, Patrick Cardoso Squitino Mattos .......................................................................................... 46 Capítulo 14 QUEILITE ACTÍNICA Beatriz Vasconcellos e Izabella Oliveira ....................................................................................................................................... 48 Capítulo 15 LEUCOPLASIA Beatriz Vasconcellos Ferreira e Luiza Ornellas ....................................................................................................................... 52 Capítulo 16 ERITROPLASIA Beatriz Vasconcellos Ferreira ............................................................................................................................................................. 55 Capítulo 17 CÂNCER ORAL Beatriz Vasconcellos Ferreira e Luiza Ornellas ....................................................................................................................... 58 Capítulo 18 TÉCNICAS DE BIÓPSIA Jade Rocha Vasconcellos Ribeiro e Matheus Carvalho Teles Filgueiras ............................................................... 66 Capítulo 19 ACONDICIONAMENTO Jade Rocha Vasconcellos Ribeiro e Matheus Carvalho Teles Filgueiras ............................................................... 69 Capítulo 20 REQUISIÇÃO HISTOPATOLÓGICA Jade Rocha Vasconcellos Ribeiro e Matheus Carvalho Teles Filgueiras ............................................................... 71 SUMÁRIO FIBROMA01 Capítulo (Fibroma de irritação; Fibroma traumático; Hiperplasia fibrosa focal; Nódulo fibroso) É discutido se o fibroma é a neoplasia verdadeira ou uma hiperplasia reacional. Caracteriza-se por ser uma resposta do tecido conjuntivo fibroso à irritação local ou trauma constante e de baixa intensidade (Imagem 1.1), sendo uma das lesões mais comuns na mucosa oral. Foi reportado pela primeira vez na literatura como pólipo fibroso em 1846 (BOUQUOT; GUNDLACH, 1986). Sua ocorrência pode se dar em qualquer lugar da boca, sendo comum em mucosa jugal e ao longo da linha de oclusão. Normalmente, a lesão se apresenta como um nódulo de superfície lisa e coloração rosa/ normocrômica. Em alguns casos, a superfície pode se apresentar branca em decorrência da hiperceratose, resultante da irritação contínua (como trauma). Em pacientes negros, o aumento de volume pode demonstrar uma pigmentação cinza-acastanhada. Podem apresentar-se mais redondos ou ovóides, sésseis ou pediculados, com tamanhos variados, dificilmente ultrapassando 1,5 cm de diâmetro. Devido ao seu crescimento lento e gradual, os pacientes geralmente notam a presença da lesão em boca. Geralmente é assintomática, a menos que ocorram ulcerações traumáticas secundárias em sua superfície. (NEVILLE et al., 2016) Embora na literatura seja mais comum a descrição de discreta prevalência em mulheres e restrição a terceira à sexta décadas de vida, consideramos que o fibroma traumático pode ocorrer em qualquer sexo ou idade, pois é uma lesão traumática e de prevalência bastante variada. O diagnóstico é realizado a partir de biópsia excisional com encaminhamento para análise histopatológica. A maioria das lesões de fibroma traumático são características em sua apresentação, deixando pouca dúvida em seu diagnóstico (AGARWAL; KHAN; AJAZ, 2017), mas, apesar disso, o exame microscópico é importante, já que outras neoplasias benignas e malignas da mucosa oral podem ser consideradas no diagnóstico diferencial desta lesão, como o lipoma, granuloma piogênico, e o fibroma de células gigantes. (NEVILLE et al., 2016). O tratamento do fibroma ocorre pela remoção do agente causador do trauma combinado à excisão cirúrgica, podendo ser com bisturi convencional, elétrico ou laser de alta potência. A cirurgia com bisturi convencional é a primeira escolha pela maior parte dos cirurgiões pois é de fácil execução, a cicatrização da ferida ocorre em poucos dias e o pós-operatório é satisfatório. 1 Características Clínicas Diagnóstico Tratamento e Prognóstico Imagem 1.1 - Fibroma. Lesão normocrômica em borda lateral de língua direita. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF Marina Capichoni Thainá Cassiano Fernandes 2 Capítulo Fibroma01 A literatura tem apontado o laser diodo como uma alternativa eficiente para remoção do fibroma traumático, reduzindo o sangramento ao longo do procedimento e proporcionando um ótimo pós cirúrgico, embora a técnica seja desfavorável pelo alto custo do aparelho e necessidade de destreza do operador. Este procedimento precisará de anestesia local prévia e utilização de um comprimento de onda de cerca de 810 nm e potência 4 W, o modo de irradiação será continuado, pelo tempo necessário para remoção da lesão (BAKHTIARI et al., 2015; JAIN et al., 2018). É importante salientar que a amostra retirada na cirurgia deve sempre ser enviada para análise histopatológica, para confirmar o diagnóstico, quanto às recidivas, com remoção da causa traumática são extremamente raras. BAKHTIARI, S.; TAHERI, J. BIGOM; SEHATPOUR, M.; ASNAASHARI, M.; ATTARBASHI MOGHADAM, S. Removal of an Extra-large Irritation Fibroma With a Combination of Diode Laser and Scalpel. Journal of Lasers in Medical Sciences, v. 6, n. 4, p. 182-184, 3 Nov. 2015. JAIN, Praveenraj; JAIN, Shefali; AWADHIYA, Shilpi; SETHI, Priyank. Excision of traumatic fibroma by diode laser. Journal Of Dental Lasers, [S.L.], v. 12, n. 2, p. 67-69, 2018. Medknow. http://dx.doi.org/10.4103/jdl.jdl_9_18. Disponível em: https://www.jdentlasers.org/article.asp? issn=2321- 1385;year=2018;volume=12;issue=2;spage=67;epage=69;aul ast=Jain. Acesso em: 27 Abr. 2021. NEVILLE, Brad W.; DAMM, Douglas D.; ALLEN, Carl M.; CHI, Angela C. Patologia Oral e Maxilofacial. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2016. KUHN-DALL'MAGRO, A.; LAUXEN, J. R.; SANTOS, R.; PAULETTI, R. N.; DALL'MAGRO, E.. Laser cirúrgico no tratamento de hiperplasia fibrosa. RFO UPF. v. 18, n.2, 2013. VASANT, R.; JAISWAL, P.. Traumatic Fibroma: A Case Report. European Journal of Molecular & Clinical Medicine. v. 7, n. 7. 2020. CARVALHO, C. O.; SANTOS, F. A. O. S.; MIQUELLETO, D. E. C.. FIBROMA TRAUMÁTICO: RELATO DE CASO.Rev. Gestão & Saúde. v. 21, n. 2, pag. 38-46. 2019. CORTELETII, J. F.; OTA, C. M.; HESSE, D; NOVAES, T. F.; RAGGIO, D. P.; IMPARATO, J. C. P.. Remoção cirúrgica de fibroma lingual e gengival em crianças. Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent.. v. 69 n. 1, 2015. AGARWAL, Mamta; KHAN, Tayyeb s; AJAZ, Tarannum. 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Segundo a literatura, o granuloma piogênico é mais comum no sexo feminino e possui ampla faixa etária abrangendo da segunda a quinta década de vida e o local mais acometido é a gengiva superior (BUCHNER, SHNAIDERMAN‐ SHAPIRO e VERED, 2010; CASTRO, BOTELLO e RIVERA, 2008; SARAVANA, 2009). Em relação as características clínicas a maior parte das lesões possui coloração avermelhada, é pediculada, apresentando pequeno diâmetro e na grande maioria dos casos é assintomática, mas pode apresentar sangramento (Imagem 2.2) (AVELAR et al., 2008; FORTES et al., 2002) Características Clínicas O GP é uma das lesões proliferativas mais comuns. (LEAL et al., 2004) Embora seja uma lesão hiperplásica não neoplásica, realizar o diagnóstico adequado é muito importante. Somente através do procedimento de biópsia excisional e posteriormente a análise histopatológica do espécime que se terá um diagnóstico preciso. (OLIVEIRA et al., 2012). Esse procedimento é imprescindível já que o granuloma piogênico é diagnóstico diferencial de uma série de lesões presente em tecido mole como a lesão periférica de células gigantes, fibroma ossificante periférico e fibroma traumático (Imagem 2.3) (FORTES et al., 2002). Diagnóstico 02 Imagem 2.2 - Granuloma piogênico. Lesão eritematosa, lobular, sangrante, em gengiva dos dentes 34/35. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF Imagem 2. 1- Granuloma piogênico. Aumento de volume eritematoso em fundo de vestíbulo superior. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF. Beatriz Vasconcellos Ferreira Izabella de Oliveira Pereira 4 Capítulo Granuloma Piogênico02 A excisão cirúrgica também permite que a lesão seja levada ao histopatológico em sua totalidade e oferece uma baixa taxa de recorrência. Entretanto, novas abordagens têm sido discutidas na literatura, abordagens essas que podem ser preferíveis quando há impossibilidade de se realizar um tratamento cirúrgico. Outras modalidades também são descritas na literatura como: a excisão por laser Nd: YAG, tetradecil sulfato de sódio e escleroterapia, injeção de etanol ou corticosteróide e laser de corante pulsado com lâmpada de flash (JAFARZADEH et al., 2006; GHOLIZADEH et al., 2020) A crioterapia com nitrogênio líquido, laser de Co2 e laser de corante pulsado oferecem baixas taxas de recorrência e são uma destas opções principalmente quando trata-se de áreas estéticas ou estruturas vitais. (LEE et al., 2010) De acordo com a literatura, nem todos os pacientes podem passar por esse procedimento sendo a intolerância ao frio, urticária ao frio, crioglobulinemia, agamaglobulinemia, disfibriogemia, doenças de Raynaud, pioderma gangrenoso, paciente submetido a hemodiálise ou terapia imunossupressora, paciente com alteração plaquetária e casos de mieloma múltiplo, contra indicações para este procedimento (BENAGLIA, JARDIM e MENDONCA, 2014). A excisão por laser Nd: YAG promove uma menor intensidade de sangramento e um tempo cirúrgico reduzido (RAMEIRO, 2017), e de forma geral, Vescovi (2010) afirma que essa modalidade não interfere na análise histopatológica. O tetradecil sulfato de sódio utilizado junto à escleroterapia pode ser, também, uma alternativa para o tratamento do GP, porém acredita-se que mais estudos ainda sejam necessários. A abordagem requer um menor conhecimento técnico, entretanto é necessário cuidados com os efeitos colaterais (dor e edema após a injeção, superficial ulceração e equimoses leves). Além disso, o uso desta técnica impossibilita a análise histopatológica. (ALAKAILLY et al, 2014; RAHMAN H, 2014; REGMEE et al, 2017) Uma das modalidades da crioterapia é a cirocirurgia, sendo o mecanismo de ação baseada no uso de baixas temperaturas que ocasionará uma isquemia local, resultando em um dano tecidual e por fim a morte celular (BENAGLIA, JARDIM e MENDONCA, 2014). É uma técnica segura, eficaz, com pouco ou nenhum sangramento, poucos casos de infecção secundária e relativamente indolor (LEOPARD, 1975; LUBRITZ, 1976). Como desvantagens é possível citar o edema e a possibilidade de lesar estruturas nobres (LUBRITZ, 1976; ISHIDA e RAMOS‐E‐SILVA, 1998). O tratamento para o granuloma piogênico geralmente é simples, por se tratar de uma lesão causada por agentes irritantes, a cirurgia excisional, com incisão abaixo do periósteo, raspagem dos dentes adjacentes e a remoção da causa é a principal linha de tratamento para evitar a recidiva. (JAFARZADEH et al., 2006) Tratamento e Prognóstico Imagem 2.3 - Granuloma piogênico. Lesão em gengiva na regiào dos dentes 23, 24, 25. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF. 5 Capítulo Granuloma Piogênico02 3ª SESSÃO dilua o Ethamolin com anestésico em uma concentração de 25%. Reavaliar o paciente em 7 ou 14 dias, se necessário, realizar mais sessões com esta concentração, até redução da lesão. O laser de alta potência pode ser utilizado para remoção do granuloma piogênico, tendo como vantagens controle da hemostasia, com melhor visualização do campo operatório e consequentemente, redução do tempo cirúrgico, menor desconforto no trans e pós-operatório, minimizando a quantidade de anestésico, assim como, melhora da cicatrização. No ambulatório utiliza-se o laser de diodo Thera Lase surgery (DMC equipamentos, São Carlos/ SP, Brasil), de 980 nm, Gallium- Indium-Arsenide (InGaAs), 1500mW e com emissão contínua. A técnica consiste em anestesia infiltrativa ao redor da lesão, com distância de cerca de 1cm da lesão, não necessitando de uma grande quantidade de anestésico, em seguida é feita a “incisão" através Fixação do material coletado em formol 10% com volume de 10 vezes o tamanho da amostra 04 Hemostasia e sutura. Em mucosa, é usual utilizar fios de seda 4.0 Repassar orientações pós- operatórias 05 06 Medicação indicada: Oleato de monoetanolamina - Ethamolin® 1ª SESSÃO dilua o Ethamolin com anestésico em uma concentração de 5%. (Imagem 2.4) Reavaliar o paciente em 7 ou 14 dias, se necessário, realizar a 2ª sessão. 2ª SESSÃO dilua o Ethamolin com anestésico em uma concentração de 10%. Reavaliar o paciente em 7 ou 14 dias, se necessário, realizar a 3ª sessão. Protocolo para Excisão Cirúrgica Realizar a antissepsia do local Realizar anestesia local de acordo com a localização do GP 01 02 Realizar uma incisão na base do granuloma. O bisturi com lâmina n° 15 é o mais utilizado 03 Imagem 2.4 - Tratamento com a escleroterapia. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF. Protocolo de Escleroterapia do Ambulatório de Estomatologia ISNF *Caso seja necessária a realização de novas sessões, dilua o Ethamolin com anestésico em uma concentração de 25%. Reavaliar o paciente em 7 ou 14 dias, se necessário, realizar mais sessões com esta concentração, até redução da lesão. **O medicamento deve ser aplicado lentamente por pontos na periferia e centro da lesão. Aplicar 0,2 mL por ponto com agulha de insulina, não ultrapassando 2 mL de solução por sessão.Durante a aplicação na periferia da lesão, a agulha deve estar voltada para o centro da área. ***O paciente deve ser orientado sobre a possibilidade de ardência ou qualquer outro desconforto. Deve-se também recomendar o uso de compressa frio ou gelo (protegendo a pele) sobre o local de aplicação após a sessão. Ambulatório Estomatologia ISNF/ UFF 6 ALAKAILLY, Xena et al. The Use of Sodium Tetradecyl Sulphate for the Treatment of Venous Malformations of the Head and Neck. J. Maxillofac. Oral Surg. v. 14, n. 02, p. 332-338, Apr/June. 2015. AVELAR, Rafael Linard et al. Granuloma piogênico oral: um estudo epidemiológico de 191 casos. RGO, v. 56, n. 2, p. 131-135, abr/jun. 2008. BENAGLIA, M. 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Referências Bibliográficas Capítulo Granuloma Piogênico02 do contato da fibra óptica com o tecido, removendo toda a lesão, sendo esta enviada para análise histopatológica. O laser de alta potência além de otimizar a cirurgia favorece à fotobiomodulação dos tecidos, proporcionando menor dor e edema e maior bioestímulo de reparo, tornando o pós operatório mais confortável. 03 Capítulo ÚLCERA TRAUMÁTICA 7 As úlceras traumáticas são regiões com perda de epitélio e/ ou tecido conjuntivo, comumente associadas a lesões agudas e crônicas da mucosa oral. As ulcerações podem permanecer por longos períodos de tempo, mas geralmente cicatrizam em dias. Além disso, ulcerações sublinguais semelhantes podem ocorrer em bebês como resultado do traumatismo crônico da mucosa pelos dentes decíduos anteriores, muitas vezes associado à amamentação, sendo chamadas de doença de Riga-Fede (NEVILLE et al., 2016). Os locais de acometimento mais comuns são língua, lábios e mucosa jugal (Imagem 3.1) — sítios que podem ser lesionados pelos dentes. As lesões da gengiva, palato e fundo de vestíbulo podem ocorrer por outras fontes de irritação, como hábitos deletérios, uso de próteses e aparelhos ortodônticos (LIMA, A. A. S. et al., 2015). Características Clínicas Uma anamnese bem detalhada, seguida de um exame físico minucioso são fatores essenciais para encontrar o diagnóstico adequado, uma vez que, identificando e removendo o fator causal (irritante), ocorrerá regressão e minimização da lesão ulcerada, sendo também uma forma de tratamento (LIMA, A. A. S. et al., 2015). Diagnóstico Individualmente, as lesões aparecem como áreas de eritema circundando uma área central recoberta por uma membrana fibrinopurulenta amarelada destacável (Imagem 3.2). Pode estar associada a uma pseudomembrana esbranquiçada, desenvolvendo uma borda endurecida branca de hiperceratose, imediatamente adjacente à área de ulceração (NEVILLE et al., 2016). A presença da vermelhidão ao redor da região ulcerada e bordos planos são características de trauma local, auxiliando na confirmação do diagnóstico. Imagem 3.2 - Úlcera Traumática. Área ulcerada com halo eritematoso, recoberta por membrana fibrinopurulenta em fundo de vestíbulo superior direito. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF. Imagem 3.1- Úlcera Traumática. Lesão extensa em borda lateral de língua direita. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF. Nicolly Duarte de Abreu Patrick Cardoso Squitino MattosBeatriz Guimarães Jardim 8 Estomatite Aftosa Alergias, predisposição genética, anormalidades hematológicas, influências hormonais, fatores imunológicos, agentes infecciosos, deficiências nutricionais, suspensão do fumo, estresse (mental e físico), trauma, além de desordens sistêmicas. Maior: Ulceração entre 1 e 3 cm de diâmetro, mais profunda e irregular, sendo mais frequente em mucosa labial, palato mole e as faces amigdalianas. O número de lesões pode variar de um a 10. Menores curam-se de 7 a 14 dias. Maiores de 2 a 6 semanas. Herpetiformes de 7 a 10 dias Menor: Ulceração entre 3 e 10 mm de diâmetro, principalmente em mucosa não ceratinizada, precedidas por uma mácula eritematosa, apresentam-se como uma membrana fibrinopurulenta removível, branco- amarelada, que é circundada por um halo eritematoso, com sintomas prodrômicos como queimação, prurido ou pontadas. Herpetiforme: Ulceração entre 1 a 3 mm de diâmetro, apresentam uma grande quantidade de tais úlceras e maior frequência de recidivas, podendo manifestar até 100 lesões em uma só recidiva. Apesar de a mucosa móvel não ceratinizada ser afetada com mais frequência, qualquer superfície da mucosa oral pode ser acometida. Nome da Lesão Características ClínicasFatores Etiológicos Tempo de Evolução As úlceras traumáticas agudas são facilmente diagnosticadas por meio do exame clínico, incluindo o histórico de trauma no local da lesão. Contudo, as úlceras traumáticas crônicas apresentam maior complexidade em seu diagnóstico, devido ao seu tempo de evolução e suas características clínicas, como bordas elevados (REGEZI et al., 2016). No entanto, se a lesão evoluir ou não regredir frente à primeira conduta em cerca de duas semanas, uma biópsia do tipo incisional deve ser realizada para verificar o correto diagnóstico, já que devemos considerar como hipóteses diagnósticas: estomatite aftosa, sífilis, tuberculose, paracoccidioidomicosee, com teor maligno, o carcinoma de células escamosas. [Tabela 1] (NEVILLE et al., 2016) Tabela 1 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Capítulo Úlcera Traumática03 9 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Nome da Lesão Sífilis Tuberculose Bactéria- Treponema pallidum, transmitido sexualmente, durante a gestação, ou pelo sangue Mycobacterium tuberculosis A disseminação da infecção pelo M. tuberculosis acontece por pequenas gotículas transportadas pelo ar, que carregam o microrganismo para os alvéolos pulmonares A lesão primária é denominada cancro, normalmente são solitárias e apresentam-se como pápulas com ulceração central, de base clara e indolor (raramente, como proliferação vascular semelhante a um granuloma piogênico). São frequentes em lábios, língua, palato, gengiva e amígdalas. As lesões orais que podem surgir como sinal de tuberculose secundária são incomuns, porém quando surgem acometem principalmente língua, apresentando-se como úlceras indolores e endurecidas que não cicatrizam. São comuns sinais e sintomas como: febre baixa, mal-estar, anorexia, perda de peso, aumento de volume dos linfonodos cervicais, sudorese noturna e tosse produtiva, frequentemente associada a hemoptise ou dor torácica. De 3 a 8 semanas Indeterminado Características ClínicasFatores Etiológicos Tempo de Evolução Tabela 1 Capítulo Úlcera Traumática03 Paracoccidioi- domicose Fungo Paracoccidioides brasiliensis. Transmitido por inalação de esporos fúngicos presentes em solo contaminado (atividades agrícolas, jardinagem, terraplanagem). Geralmente, o estágio inicial da doença é caracterizado por infecções pulmonares. As lesões orais apresentam- se como ulcerações eritematosas, com superfícies similares a amoras, granulares, afetando principalmente mucosa alveolar, gengiva, palato e língua. Frequentemente mais de um sítio da mucosa oral pode ser afetado 1 ano 10 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Nome da Lesão Herpes Simples Vírus HSV do tipo 1 (HSV- 1 ou HHV-1) e HSV do tipo 2 (HSV- ou HHV-2) transmissível por meio do contato com a saliva infectada ou lesões ativas, gotículas respiratórias, água e objetos contaminados. As lesões podem ser reativadas por imunossupressão, estresse, gestação, ciclo menstrual, luz ultravioleta, idade avançada, alteração na temperatura, neoplasias malignas, doenças sistêmicas, alergia, tratamento odontológico, doenças respiratórias, febre, fadiga e trauma. As lesões intra-orais geralmente encontram-se em mucosa ceratinizada, (gengiva inserida e palato duro). Apresentam-se inicialmente como vesículas, medindo de 1 a 3 mm, que se rompem rapidamente formando máculas eritematosas exibindo em seu centro área de ulceração amarelada. Entretanto, as lesões mais comuns são as extra-orais, presentes, principalmente, em vermelhão de lábio e pele ao redor. 7 a 10 dias Características ClínicasFatores Etiológicos Tempo de Evolução A remoção da causa é o principal fator de diagnóstico e tratamento da lesão ulcerada. Nos pacientes com sintomatologia dolorosa, o uso de analgésicos tópicos podem ser uma alternativa, assim como os corticosteróides (ex.: Triancinolona Acetonida) que devem ser utilizados 3 vezes ao dia. Sendo esses considerados de fácil manuseio e tendo um ótimo custo benefício, embora não devam ser considerados para uso prolongado (LIMA et al., 2005). Além disso, a orientação de higiene bucal é essencial para evitar o agravamento da lesão. Tratamento e Prognóstico A laserterapia de baixa potência é uma terapia alternativa, a qual auxilia na analgesia, com ação anti- inflamatória e reparação de tecidos, minimizando os efeitos causados pela lesão, além de atuar também regredindo-a (VALLE et al., 2016; AGGARWAL et al., 2014). A literatura aponta sua utilização com comprimentos de onda tanto 660nm, quanto 880nm, com uma irradiação pontual e por contato (LAGO et al., 2021). Ademais, faz-se necessário o acompanhamento e utilização do laser em mais de uma sessão. Tabela 1 Capítulo Úlcera Traumática03 Carcinoma de células escamosas Possui causa multifatorial, incluindo principalmente tabagismo, alcoolismo, exposição solar, deficiência nutricional, HPV, imunossupressão, microbiota da cavidade oral, radiação e predisposição genética. Exofítica, aumento de volume de aparência nodular, superfície papilar ou verrucosa, de massa fungiforme; ou endofítica, invasiva, escavada, destrutiva, crateriforme e/ou ulcerada. As lesões de características leucoplásica (mancha branca), eritroplásica (mancha vermelha) eritroleucoplásica (combinação de áreas vermelha e branca) possuem potencial de malignidade. Indeterminado 11 Destaca-se como desvantagem a necessidade de adquirir o aparelho que tem um custo relativamente elevado, sendo de difícil acesso aos profissionais da saúde pública e necessidade de destreza do operador. Outro fator relevante é a diversificação de protocolos de laserterapia, não havendo um consenso, além de ser indicado apenas quando há certeza do diagnóstico, já que em lesões malignas e em fase vesicular de herpes simples pode prejudicar o quadro do paciente. Além disso, tem-se estudado também fitoterápicos como forma de tratamento das úlceras traumáticas, tendo como exemplo soluções que contenham extrato de própolis em sua composição, que atuaria na cicatrização das lesões, analgesia e, principalmente, no infiltrado inflamatório. (GREGÓRIO et al., 2005; MARTINEZ, 2011; LIMA et al., 2005) Por fim, é importante frisar que a úlcera traumática é uma lesão autolimitante, a qual regride espontaneamente em cerca de 15 dias. No caso de crianças, pode prejudicar sua nutrição, devido à sintomatologia dolorosa que dificulta sua alimentação. Logo, vale ressaltar a relevância do tratamento no alívio da dor, visto que é o principal incômodo dos pacientes. AGGARWAL, Hersheal. Efficacy of Low-Level Laser Therapy in Treatment of Recurrent Aphthous Ulcers – A Sham Controlled, Split Mouth Follow Up Study. Journal Of Clinical And Diagnostic Research, [S.L.], p. 218-221, fev. 2014. JCDR Research and Publications. http://dx.doi.org/10.7860/jcdr/2014/7639.4064. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24701539/. Acesso em: 14 maio 2021. GRÉGIO, Ana Maria Trindade; LIMA, Antônio Adilson Soares de; RIBAS, Marina de Oliveira; BARBOSA, Andréia Priscila Monteiro; PEREIRA, Ana Cristina Preto; KOIKE, Fernando; REPEKE, Carlos Eduardo Palanch. EFEITO DA PROPOLIS MELLIFERA SOBRE O PROCESSO DE REPARO DE LESÕES ULCERADAS NA MUCOSA BUCAL DE RATOS. Estudos de Biologia, [S.L.], v. 27, n. 58, p. 43-47, 24 nov. 2005. Pontificia Universidade Catolica do Parana - PUCPR. http://dx.doi.org/10.7213/reb.v27i58.21912. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/estudosdebiologia/ article/view/21912. Acesso em: 21 maio 2021. LAGO, Andréa Dias Neves et al. Laser na Odontologia: conceitos e aplicações clínicas. São Luís: Editora da Universidade Federal de São Luís do Maranhão, 2021. 315 p. LIMA, Antonio Adilson Soares de; GRÉGIO, Ana Maria Trindade; TANAKA, Orlando; MACHADO, Maria Ângela Naval; FRANÇA, Beatriz Helena Sottile. Tratamento das ulcerações traumáticas bucais causadas por aparelhos ortodônticos. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, [S.L.], v. 10, n. 5, p. 30-36, out. 2005. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1415- 54192005000500005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/dpress/a/LtRsk8Mp5zynDLbzg69Z JRN/?lang=pt. Acesso em: 21 maio 2021. MARTINEZ, Clarissa Rocha. CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E CITOTOXICIDADE DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE FIBROBLASTOS DE MUCOSA BUCAL HUMANA: ESTUDO IN VITRO. 2011. 141 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Odontologia, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2011. Disponível em: https://repositorio.ufms.br/handle/123456789/315. Acesso em: 21 maio 2021. NEVILLE, Brad W.; DAMM, Douglas D.; ALLEN, Carl M.; CHI, Angela C. Patologia Oral e Maxilofacial. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2016. . Referências Bibliográficas Capítulo ÚlceraTraumática03 Em nosso ambulatório, com o intuito de promover uma redução significativa da dor, assim como proporcionar uma cicatrização mais rápida, dependendo da intensidade da dor do paciente, geralmente, opta-se por utilizar os comprimentos de onda vermelho e infravermelho individualmente. Para proporcionar maior bioestímulo de reparo, irradia-se a úlcera com fonte de laser vermelho, 660nm, Índio-Gálio-Alumínio-Fósforo (InGaAlP), 2J de energia/ponto, 20 segundos/ponto, 100mW, de modo contínuo, com aplicação pontual e em contato, irradiando toda a extensão da lesão e distanciando cerca de 1cm entre os pontos. Para favorecer a analgesia, o protocolo baseia-se na irradiação com fonte de laser infravermelho, 808nm, arseneto de gálio- alumínio (AlGaAs), 4-6J de energia/ponto, 40-60 segundos/ponto, 100mW. A mensuração da dor, Ambulatório Estomatologia ISNF/ UFF através da Escala Visual Analógica, imediatamente antes e após a irradiação, é fundamental para avaliar o protocolo ideal para o paciente. Capítulo 12 Úlcera Traumática03 SHIKANAI-YASUDA, Maria Aparecida et al . II Consenso Brasileiro em Paracoccidioidomicose - 2017. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília , v. 27, n. esp, e0500001, ago. 2018 . Disponível em <http://scielo.iec.gov.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1679- 49742018000500002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 31 ago. 2021. Epub 30-Jul-2018. http://dx.doi.org/10.5123/s1679-49742018000500001. VALLE, Luísa Andrade. Laser de baixa intensidade no tratamento de úlceras traumáticas e queilite angular: relatos de casos. Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent, São Paulo, v. 1, n. 71, p. 30-34, jan. 2017. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio- 832075. Acesso em: 14 maio 2021. http://dx.doi.org/10.5123/s1679-49742018000500001 Características Clínicas Caracteriza-se como um aumento de volume do tecido conjuntivo fibroso, devido à má adaptação de uma prótese removível. É uma lesão benigna, traumática, exofítica, normocrômica ou eritematosa, de base séssil ou pediculada (Imagem 4.1), de consistência fibrosa e normalmente assintomática (Imagem 4.2 A- C) (SANTOS; COSTA;SILVA NETO, 2004). Localiza-se na região em que a prótese está em contato, principalmente na face vestibular do rebordo alveolar, formando única ou múltiplas pregas (REGEZI, 2008). Quando está presente na mucosa palatina, comumente é causada pelo vácuo de uma câmara de sucção, a qual se encaixa perfeitamente na lesão. Além disso, quando eritematosa, pode estar associada à estomatite protética (capítulo 06) (BASSI; VIEIRA; GABRIELLI, 1998). 13 Luiza Ornellas Imagem 4.1 - Hiperplasia fibrosa inflamatória em palato. Nódulo em região de palato duro, do lado esquerdo. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF. Imagens 4.2- Hiperplasia fibrosa inflamatória. (A e B) Nódulos em rebordo inferior em forma de rolete; (C) Encaixe da prótese total inferior nas lesões. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF. 04 Capítulo HIPERPLASIA FIBROSA INFLAMATÓRIA (Epúlide fissurada) A B C Capítulo 14 Hiperplasia Fibrosa Inflamatória04 Diagnóstico Imagem 4.5 - Biópsia excisional. (A) Mucosa apresentando uma depressão após a remoção da lesão; (B) Peça cirúrgica. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF. Tratamento e Prognóstico O diagnóstico é principalmente clínico, sendo realizada biópsia excisional e avaliação anatomopatológica para o descarte de diagnósticos diferenciais, como: lipofibroma, neurofibroma, granuloma piogênico e fibroma ossificante periférico (COUTINHO; SANTOS, 1998). O tratamento baseia-se na realização da biópsia excisional da lesão, além da substituição ou reembasamento da prótese, uma vez que deve-se remover a causa da lesão. Para a total remoção cirúrgica, inicialmente aplica-se a anestesia local e, após, utiliza-se o bisturi convencional, o eletrocautério ou o laser de alta potência (Imagem 4.5 A e B). Com o bisturi convencional, deve-se realizar a incisão ao redor da lesão, seguindo seu formato para total excisão. Em seguida, realiza-se a sutura, a qual será removida de acordo com a cicatrização. Já com o eletrocautério, inicialmente aciona- se o eletrodo reto, em potência 7, no modo corte e remove-se a lesão em sua margem. Após, pode-se utilizar o eletrodo em alça, no mesmo modo, sob a forma de raspagem, para obter um melhor acabamento das feridas operatórias e remanescentes das hiperplasias. Em seguida, alterna-se para o modo coagulação, utilizando o eletrodo apropriado para obter hemostasia das feridas nos pontos sangrantes, por meio da eletrocoagulação. Logo, dispensa as suturas, além de possuir fácil manuseio e apresentar-se como ótima alternativa principalmente para o SUS, pelo custo relativamente baixo comparado ao laser de alta potência, apresentando eficácia semelhante. (MARTORELLI et al., 2021) Com o laser cirúrgico, a luz é incidida em modo contínuo a fim de realizar a incisão, com uma potência específica de acordo com o tipo de laser e luz. Com o laser de dióxido de carbono (CO2), por exemplo, indica-se o uso entre 9.600nm e 10.600nm, com potência de 6W (LAGO, 2020). Já com o laser diodo, indica-se o uso entre 798 nm e 818 nm, com potência de 3,5W. Ambos são usados para obter incisão e hemostasia local, dispensando suturas.(DE JESUS et al., 2020) Após a cirurgia, o uso da prótese no pós imediato deve ser avaliado pelo cirurgião dentista, considerando não só a cicatrização, mas também possíveis danos estéticos e funcionais. Além disso, é necessário refazer a prótese ou reembasá-la. Para o reembasamento em consultório, utiliza-se a resina soft, enquanto o cimento de óxido de zinco eugenol é usado para envio ao laboratório (reacrilização). Capítulo Hiperplasia Fibrosa Inflamatória04 15 Referências Bibliográficas BASSI, A.P.F.; VIEIRA, E.H.; GABRIELLI, M.A.C. Hiperplasia fibrosa inflamatória. RGO, Porto Alegre, v.4, n.46, p.209- 211, out./dez. 1998. COUTINHO, T.C.L.; SANTOS, M.E.O. Hiperplasia fibrosa inflamatória. RGO, Porto Alegre, v.1, n.46, p.27-34, jan./mar. 1998. DE JESUS, Alessandro Oliveira et al. Diode laser surgery versus electrocautery in the treatment of inflammatory fibrous hyperplasia: a randomized double-blind clinical trial. Clinical Oral Investigations, [S.L.], v. 24, n. 12, p. 4325- 4334, 30 abr. 2020. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1007/s00784-020-03296-3. LAGO, Andréa Dias Neves et al. Laser na Odontologia: conceitos e aplicações clínicas. São Luís: Editora da Universidade Federal de São Luís do Maranhão, 2021. MARTORELLI, Sérgio Bartolomeu de Farias et al. Hiperplasia fibrosa inflamatória por uso de prótese desadaptada: considerações terapêuticas e relato de caso. Research, Society And Development, [S.L.], v. 10, n. 9, p. 1-10, 20 jul. 2021. Research, Society and Development. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i9.17633. NEVILLE, Brad W.; DAMM, Douglas D.; ALLEN, Carl M.; CHI, Angela C. Patologia Oral e Maxilofacial. 3ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, p. 512-514, 2009. REGEZI, Joseph A.; SCIUBBA, James J.; JORDAN, Richard C. K. Patologia Oral: Correlações Clinicopatológicas. 5ª ed. Elsevier Editora Ltda, p. 159 e 160, 2008 SANTOS, Marconi Eduardo Sousa Maciel; COSTA, Wilson Rodrigo Muniz; SILVA NETO, Joaquim Celestino da. Terapêutica Cirúrgica da Hiperplasia Fibrosa Inflamatória: relato de caso. Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, [s. l], v. 4, n. 4, p. 241- 245, out. 2004. Disponível em: http://www.revistacirurgiabmf.com/2004/v4n4/pdf/v4n4. 6.pdf. Acesso em: 08 ago. 2022 SANTOS, Danielly Porphirio da Mata et al. Hiperplasia fibrosa inflamatória em mucosa oral: relato de caso. Archives Of Health Investigation, [S.L.], v. 10, n. 2, p. 292- 295, 22 out. 2020. Archives of Health Investigation. http://dx.doi.org/10.21270/archi.v10i2.4879. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i9.17633 Beatriz Guimarães Jardim Nicolly Duarte de Abreu 05 Capítulo CANDIDÍASE ORAL Características Clínicas A candidíaseé uma doença fúngica causada principalmente pela infecção da Candida albicans de forma patogênica. Pode se apresentar em seis tipos: pseudomembranosa, eritematosa (atrófica aguda e crônica), crônica hiperplásica e candidíase associada à queilite angular e à glossite rombóide mediana (LEWIS, M. A. O., et al., 1991). Pacientes que sofreram mutação fisiológica (infância e envelhecimento), imunossupressão, diminuição das células de defesa como neutrófilos e linfócitos (associado ao HIV, tratamento de quimioterapia), a administração prolongada de medicamentos esteroidais e indivíduos que utilizam próteses dentárias ou aparelhos ortodônticos são grupo de risco para candidíase oral. (ANDRIOLE, Vincent T, 1999) Os pacientes que fazem o uso constante da prótese muco-suportada ou prótese dento- suportada, devem ter o máximo de cuidados possíveis para evitar que causem danos aos tecidos da cavidade oral, ao qual a higienização tanto da prótese quanto do tecido se faz necessária diariamente. (FALCÃO et al., 2004). Candidíase Pseudomembranosa A candidíase pseudomembranosa, conhecida popularmente como “sapinho”, possui como sítios comuns: mucosa jugal, língua e palato. Apresenta-se como placas branco-creme removíveis (destacáveis), halitose e sensação de queimação. Pode estar associada ao tratamento com antibióticos e à imunossupressão (Imagens 5.1 A e B).(NEVILLE, 2016); 16 Imagem 5.1 - Candidíase pseudomembranosa. (A) Placas esbranquiçadas destacáveis e presença de múltiplas petéquias eritematosas em palato mole. e palato duro; (B) Placa esbranquiçada destacável em dorso de língua. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF. A B Patrick Cardoso Squitino Mattos Candidíase Eritematosa A candidíase eritematosa pode apresentar-se de forma aguda ou crônica, tendo como sítios mais comuns a região posterior do palato duro, mucosa jugal e dorso de língua. Caracteriza-se clinicamente como uma lesão de máculas vermelhas, com sensação de queimação, podendo levar a uma perda difusa de papilas filiformes do dorso da língua. 17 Fatores associados a esse tipo de cândida incluem terapias com antibióticos, quando falamos do tipo atrófica aguda; xerostomia, seja ela causada por medicamentos, síndrome de Sjögren ou terapia pós-radiação e imunossupressão (Imagens 5.2 A-C). (NEVILLE, 2016) língua e frequentemente assintomática. O eritema surge devido à perda das papilas filiformes nessa área. A lesão geralmente é simétrica e sua superfície varia de lisa a lobulada. Normalmente a lesão é resolvida com terapia antifúngica, embora em alguns casos a resolução seja apenas parcial (Imagens 5.3 A e B). (NEVILLE, 2016). Imagem 5.2 - Candidíase eritematosa. (A) Máculas eritematosas em palato duro. (B) Mácula levemente eritematosa na região medial do palato. (C) Petéquias eritematosas em palato. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF. Alguns pacientes com Glossite romboidal mediana, podem também exibir lesões por Candida em outros sítios, sendo então denominada Candidíase multifocal crônica. As áreas que exibem envolvimento são o limite entre palato duro e mole, comissura labial, além do dorso da língua. A lesão no palato se apresenta como uma área eritematosa frequentemente associada a placas brancas destacáveis, assintomáticas ou com sensação de queimação, que, quando a língua está em repouso, entra em contato com a lesão do dorso da língua, sendo denominada lesão “beijada”. (NEVILLE, 2016). Imagem 5.3 - Glossite romboidal mediana. (A) Área despapilada na região medial de dorso de língua. (B) Área despapilada na região medial posterior de dorso de língua. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF. A B A B Capítulo Candidíase Oral5 C Glossite Romboidal Mediana A Glossite romboidal mediana é caracterizada como uma zona eritematosa bem delimitada localizada na linha média do dorso posterior da 18 Queilite Angular A queilite angular é uma manifestação clínica que pode ser desencadeada pelo fungo Candida, que acomete a região de comissura labial. A saliva tende a se acumular nessas áreas, mantendo-as úmidas, favorecendo uma infecção pela levedura. Caracteriza-se como lesões vermelhas eritematosas e fissuradas, podendo apresentar como sintomatologia ardência. Sem uma razão aparente, pode ter como fatores associados imunossupressão e a perda de dimensão vertical (Imagens 5.4 A e B). (NEVILLE, 2016). Em casos em que há leucoplasia associada à candidíase, a lesão apresenta uma mescla de áreas vermelhas e brancas, resultando na chamada “leucoplasia manchada”. O diagnóstico da candidíase hiperplásica crônica é confirmado pela presença de hifas de Candida associadas à lesão, além da resolução completa da lesão após a terapia antifúngica. (NEVILLE, 2016). Imagem 5.4 - Queilite angular. (A) Fissuras em comissura labial com crostas bilateral; (B) Fissuras em comissura labial bilateral. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF. Diagnóstico O diagnóstico da candidíase é composto essencialmente pela avaliação clínica da lesão. A análise para identificação de áreas eritematosas e/ou presença de placas esbranquiçadas destacáveis (removíveis à raspagem) direcionam seu subtipo. Se houver uma placa esbranquiçada, o direcionamento será dado através da raspagem, uma vez que a remoção sugere o tipo pseudomembranosa e a permanência indica a crônica hiperplásica. Além disso, para a confirmação da etiologia e do consequente diagnóstico é comum o exame citopatológico, a qual consiste em um método não invasivo a partir da coleta por meio de um esfregaço (NEVILLE, 2016). Neste último tipo, a hiperplásica, geralmente apresenta também com um aumento de espessura do epitélio e, por ser diagnóstico diferencial de lesões que apresentam displasia epitelial, carcinoma de células escamosas e leucoplasia, por exemplo, a biópsia incisional, apesar de invasiva, é indicada. Se a região estiver eritematosa (avermelhada) na localização correspondente à prótese do paciente, pode caracterizar a candidíase atrófica aguda. Se a localização for no palato e na língua com despapilamento local, pode indicar a candidíase atrófica crônica, também conhecida como lesão beijada. Caso haja uma região atrófica em dorso de língua e na região posterior, pode caracterizar a glossite romboidal mediana. Quando a lesão localiza-se na comissura bucal e a etiologia for fúngica, corresponderá à queilite angular. Capítulo Candidíase Oral5 Candidíase Hiperplásica Crônica (Leucoplasia por Cândida) A candidíase hiperplásica crônica é a forma de candidíase menos comum e caracteriza-se como uma mancha branca que não pode ser removida por raspagem. Essa lesão, geralmente, localiza-se na mucosa jugal e não pode ser diferenciada clinicamente de uma leucoplasia. A B Capítulo Candidíase Oral5 19 O cetoconazol é um medicamento antifúngico que possui boa absorção pelo trato gastrintestinal e por isso é utilizado como tratamento sistêmico para a candidíase. Entretanto, apresenta desvantagens, já que não é indicado que os pacientes tomem antiácidos ou agentes bloqueadores de H2, para não comprometer a acidez do trato gastrointestinal; aproximadamente um em 10.000 indivíduos sofre toxicidade hepática idiossincrática associada ao fármaco, e por essa razão, a US Food and Drug Administration (FDA) afirma que o cetoconazol não deve ser utilizado como tratamento inicial da candidíase. Além de apresentar interações medicamentosas com macrolídeos (p.ex., eritromicina), podendo causar arritmias cardíacas potencialmente fatais. (NEVILLE, 2016). São geralmente utilizados comprimidos de 200mg, com posologia de 1 comprimido ao dia, durante 7-14 dias. (DE ANDRADE, 2014). Nistatina A nistatina é o medicamento de primeira escolha para o tratamento da candidíase em pacientes usuários de prótese ou irradiados na região da cabeça e pescoço, por não ser absorvida pelo trato gastrintestinal, tendo assim um bom perfil de segurança. É geralmente utilizada na concentraçãode 1.000.000.000 UI/ml para uso tópico. A posologia indicada é de 5-10 ml, 4 vezes ao dia, para uso durante 7-14 dias, podendo se estender até 21 dias. É indicado que o paciente retenha a solução na boca durante 1-2 minutos antes de iniciar o bochecho. (DE ANDRADE, 2014) Miconazol O miconazol é um componente Azólico, de apresentação gel em bisnaga com 40g sendo comercializado como Daktarin®. O profissional deve recomendar ao paciente que aplique o medicamento sobre a área afetada com o auxílio de uma gaze 3 vezes ao dia, durante 7 à 14 dias. O miconazol não é indicado para pacientes que fazem uso da varfarina, uma vez que potencialiaza o seu efeito anticoagulante (DE ANDRADE, 2014). Fluconazol Este agente antifúngico tem como modo de ação sistêmica, sendo considerado da classe dos Azóis. Sua apresentação são cápsulas variando entre 50, 100 ou 150 mg. O fluconazol deve ser administrado como dose única diária. A dose recomendada de fluconazol para candidíase de mucosa é de 3 mg/kg uma vez por dia. Uma dose de ataque de 6 mg/kg pode ser utilizada no primeiro dia para alcançar os níveis de equilíbrio (steady state) mais rapidamente. Mostra-se bem absorvido sistemicamente, não necessitando de um ambiente ácido. É preciso maior atenção para possíveis interações medicamentosas, porque eles potencializam os efeitos da fenitoína, a qual é uma medicação anticonvulsivante dos compostos de varfarina (anticoagulante) e das sulfonilureias (agentes hipoglicêmicos orais) (DE ANDRADE, 2014). Itraconazol O itraconazol é um fármaco de uso sistêmico que apresenta-se em cápsulas de 100 mg, via oral, com posologia de 1 cápsula a cada 24h durante 14 dias contínuos. Por ser um antifúngico com eficácia equivalente à do clotrimazol e do fluconazol, é contraindicado para os pacientes que tomam eritromicina, triazolam e midazolam, devido a interações medicamentosas Terapia Fotodinâmica A terapia fotodinâmica é utilizada como tratamento para diversas patologias na Odontologia, incluindo as infecções fúngicas. Consiste em uma nova abordagem que pode substituir o uso de agentes antimicrobianos, os quais podem desenvolver resistência dos microrganismos e alteração da microbiota oral e gastrointestinal (WILSON, 1994). Essa alternativa de tratamento utiliza uma fonte de luz aliada a uma substância fotossensibilizadora para destruir as células microbianas (Imagem 5.5). (DONNELLY, 2008). Tratamento e Prognóstico Cetoconazol Capítulo 20 Candidíase Oral5 Imagem 5.5 - Aplicação de TFD para tratamento de queilite angular. (A) Aplicação do azul de metileno a 0,01%; (B) Aplicação do laser de baixa potência vermelho. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF. A B Ozonioterapia O ozônio apresenta um significativo efeito sobre leveduras do gênero Candida, logo, estudos têm sugerido a terapia com ozônio como uma alternativa de atenuar sua infecção. Atualmente, propõe-se que a variação de 10 a 80 μg/mL de ozônio seja benéfica, levando a efeitos positivos e sem toxicidade, dependendo do tecido, demonstrados in vitro e in vivo em modelos animais. Nos estudos em seres humanos, a faixa de dose segura varia entre 15 e 50 μg/mL e depende do tipo e objetivo do tratamento, bem como do local de aplicação (Pivotto et al., 2020). Apesar de seus benefícios, novas investigações e comparações de perfil de toxicidade, por meio de ensaios laboratoriais e clínicos, são necessários para estabelecer corretos protocolos de uso. (ROQUE; LOTH; BAEZA, 2021) Produtos Naturais A literatura tem apontado o potencial de produtos naturais (mel, óleos essenciais, extratos de plantas e probióticos/prebióticos) como agentes antifúngicos. Tais produtos seriam interessantes por conta do baixo custo e por serem naturais. Apesar disso, todos esses estudos ainda são preliminares e precisam ser explorados, mas podem ser uma boa fonte de novos medicamentos antifúngicos para tratar a candidíase oral. (RODRIGUES, RODRIGUES, HENRIQUES, 2019) . Ambulatório Estomatologia ISNF/ UFF A candidíase pode ser tratada através de antifúngicos orais ou tópicos (solução oral de nistatina 100.000 U.I./ gel oral de Miconazol 2%), ozonioterapia, ou, preferencialmente, através da terapia fotodinâmica antimicrobiana. Esta técnica consiste em: secagem da área com gaze; aplicação do fotossensibilizador azul de metileno a 0,01% (podendo ser sob a forma de gel ou líquido); aguardar 5 minutos como tempo de pré-irradiação; remoção do excesso de azul de metileno a 0,01% com gaze; irradiação da área com fonte de luz vermelha, 660nm, InGaAlP, 9J de energia/ponto, 90 segundos/ponto, 100mW, de modo contínuo, com aplicação pontual e em contato, irradiando toda a extensão da lesão e distanciando cerca de 1cm entre os pontos. As sessões precisam ser repetidas até a remissão completa da lesão. Além da terapia fotodinâmica antimicrobiana, como orientação para uso domiciliar, utiliza-se a ozonioterapia (caso o paciente não apresente contra-indicações) através da aplicação de óleo de girassol (ou de oliva) ozonizado, 2 vezes ao dia, até a remissão completa da lesão. Capítulo 21 Candidíase Oral5 LEWIS, M. A. O.; SAMARANAYAKE, L. P.; LAMEY, P.-J. Diagnosis and treatment of oral candidosis. 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Newton realizou uma classificação dessa desordem em 1962 e segundo o autor o Grau I apresenta eritemas pontuais, Grau II eritema difuso envolvendo grande parte ou toda a mucosa e o Grau III hiperplasia papilar inflamatória (HANNAH et al., 2017). A Tabela 2 abaixo esquematiza essa classificação. Tabela 2 - Características clínicas de acordo com o grau da Estomatite Protética. Fonte: Próprio autor. Grau Grau I Grau II Grau III Eritemas pontuais Eritemas difusos Hiperplasia papilar inflamatória Característica O mais comum é ser assintomática, no entanto, é possível observar sintomas como sangramento na mucosa, sensação de ardência, dor, halitose, sensação de boca seca e sabor desagradável (ARENDORF e WALKER, 1987). Possui etiologia multifatorial envolvendo infecção por Candida spp., próteses mal adaptadas, trauma, tabagismo, próteses usadas durante muitos anos, alergia causada pelo material da prótese, uso contínuo da prótese e principalmente cuidados inadequados e higiene deficiente. (GENDREAU e LOEWY, 2011; HANNAH et al., 2017) Devido a variedade de fatores etiológicos é importante realizar o reconhecimento para um tratamento mais individualizado e direcionado (Imagens 6.1 A, B, C, D) . 22 A B C Capítulo 23 Estomatite Protética06 Imagem 6.1 (A, B, C, D)- Estomatite Protética Grau I. (A) Palato duro sob a área chapeável da prótese com áreas avermelhadas; (B) palato e rebordo superior bastante avermelhados e um pouco edemaciados por conta das lesões; (C) petéquias difusas por todo palato duro, conferindo o avermelhado sem delimitações; (D) petéquias em palato duro. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF Diagnóstico O diagnóstico da estomatite protética pode ser realizado clinicamente e conta com o auxílio de exames laboratoriais como cultura microbiológica, citopatologia e exames imunológicos (JEGANATHAN e LIN, 1992), principalmente para excluir outros diagnósticos. Apesar das diversas possibilidades o mais comum é o diagnóstico ser realizado de forma clínica sendo os exames realizados para fins de pesquisa na maioria dos casos. Tratamento e prognóstico As abordagens mais conhecidas para o tratamento são a remoção de fatores traumáticos, correção das próteses, emprego de medicamentos e correta higienização. Dessa forma, é importante que o cirurgião-dentista forneça instruções adequadas sobre cuidados com as próteses em casa e marque consultas de retorno para avaliar e reforçar a higiene, visando preservar a saúde do tecido que suporta a prótese. (JEGANATHAN e LIN, 1992; GENDREAU e LOEWY, 2011; YARBOROUGH et al., 2016). No estudo de Hannah et al., (2017) os autores estabelecem cuidados com a prótese para os pacientes como: remove-la sempre que possível, dormir sem a mesma, higienizá-la, assim como a mucosa, duas vezes por dia com clorexidina, dieta com menor ingestão de carboidrato, deixar a prótese imersa em clorexidina durante 15 minutos e de um dia para o outro na água. Cuidados periódicos com os dentes naturais presentes, Limpar todas as superfícies da prótese por dentro e por fora após todas as refeições principalmente no período noturno, Utilizar escova de cerdas duras, sabão de coco ou neutro Remover as próteses no período noturno ou algumas horas por dia. Enquanto isso deixa- la em um recipiente com água oxigenada a 10 V, água sanitária ou Corega Tabs® diluido em água, na proporção de uma colher de sobremesa para meio copo de água. Antes de colocar a prótese na boca é necessário escová-la para remover os resíduos de líquido de limpeza Comparecer em consultas de revisão com o dentista a cada seis meses O dentista deve realizar aconselhamento quanto a dieta e higienização, corrigir ou substituir as próteses se necessário e consultas de revisão. O Ambulatório de Estomatologia INSF confere aos pacientes com estomatite protética as seguintes instruções: Em relação à terapia medicamentosa, a primeira linha de escolha são as suspensões com base de Nistatina, Anfotericina B, Miconazol e Fluconazol. Nos casos de pacientes não colaborativos se faz necessário o emprego de antifúngicos sistêmicos sendo o Fluconazol e o Itraconazol os mais utilizados (SHARMA e SHARMA, 2015). De acordo com a literatura as desvantagens do tratamento com antifúngico é a resistência, a hepatotoxicidade e o fato de muito dos antifúngicos atuarem como fungiostáticos e não fungicidas o que dificulta a remissão total (WHITE, MARR e BOWDEN, 1998; LEITE, PIVA e MARTINS-FILHO, 2015). No entanto, é necessário compreender que a utilização da medicação deveria estar associada ao exame citopatológico positivo para candidíase, o que nem sempre ocorre. A revisão sistemática de Fang, Huang e Ding (2021) teve como objetivo investigar a eficácia dos antifúngicos na candidíase oral. Segundo esse estudo, o Fluconazol foi o medicamento responsável pela maior redução da infecção fúngica na cavidade oral, demonstrando assim a maior eficácia entre os medicamen- D tos avaliados. Capítulo 24 Buscando entender se substâncias naturais tópicas como por exemplo própolis, chá verde e gengibre são eficazes e seguras em comparação com os antifúngicos convencionais no tratamento da estomatite protética, a revisão sistemática de Silveira et al. (2021) aponta que apesar da melhora dos aspectos clínicos, ainda há pouca certeza no corpo de evidências de que os produtos naturais podem ser usados adequadamente no tratamento da estomatite protética, sendo necessário futuros ensaios clínicos randomizados e bem desenhados. Devido às desvantagens da terapia medicamentosa e os avanços na área biomédicas a literatura relata novas formas de tratamento como a utilização de lasers (SHARMA e SHARMA, 2015; YARBOROUGH et al., 2016) e a ozonioterapia (MURAKAMI et al., 1996). A terapia fotodinâmica utiliza-se da combinação entre um agente fotossensibilizador, uma fonte de luz que possua um comprimento de onda correto e a presença de oxigênio o que origina a formação de espécies reativas de oxigênio as quais causam a inativação microbiana tendo como consequência a morte dos microrganismos. Devido seu mecanismo de ação não foi mencionado na literatura casos de resistência à terapia fotodinâmica ou efeitos mutagênicos nas células humanas (DONELLY, MCCARRON e TUNNEY, 2008; DOVIGO et al., 2010). O protocolo adotado pelo ambulatório de Estomatologia ISNF para terapia fotodinâmica nos casos de estomatite protética é o mesmo para candidíase quando o paciente utiliza prótese total, e será descrito a seguir: Secagem da mucosa e da superfície interna da prótese com gaze estéril01 Aplicação da solução de azul de metileno a 0,01%02 Aguardar 5 minutos03 Remoção do excesso do azul de metileno a 0,01%04 Irradiação com fonte de laser Arseneto de Gálio e Alumínio (GaAlAs), de comprimento de onda de 660nm (MMOptics, Brasil), 9J de energia/ponto, densidade de energia de 225J/cm2, 90 segundos/ponto, 100mW, modo contínuo, aplicação pontual distanciando 1 cm entre os pontos 05 Estomatite Protética06 Ozonioterapia A ozonioterapia vem se destacando na odontologia. Em diversos tratamentos o ozônio é utilizado já que possui efeito bactericida, virucida e fungicida. Isso ocorre decorrente da alta atividade oxidativa e seres como bactérias, fungos e vírus não possuem sistemas complexos de reparo de estruturas nobres (OLIVEIRA e MENDES, 2009; BOCCI, 2006; PATTANAIK et al., 2011). Crastechini et al.(2018) em seu estudo com testes in vitro, analisou o efeito do óleo ozonizado sobre os níveis orais de Candida spp. em pacientes com estomatite protética. Como resultado, observou-se que o óleo de oliva ozonizado mostra-se promissor como uma nova alternativa para o controle do biofilme em pacientes com estomatite protética. Ambulatório Estomatologia ISNF/ UFF Diante das inúmeras causas de estomatite protética, torna-se relevante identificar a presença de candidíase, uma vez que nem semprea estomatite protética tem associação com esse fungo. Na presença ou na ausência da possibilidade dessa associação, pode optar pelas terapias citadas no item candidíase (vide Capítulo 5). Caso seja realizado a terapia fotodinâmica antimicrobiana, os antifúngicos tópicos ou a ozonioterapia através do oléo de girassol ozonizado, as terapias precisam ser realizadas tanto na mucosa oral subjacente à prótese quanto na superfície interna da prótese que fica em contato com a mucosa. Vale ressaltar que a adequada orientação de higiene oral e da prótese precisa ser enfatizada para o sucesso do tratamento. Capítulo 25 DOVIGO, Lívia Nordi et al. Photodynamic inactivation of four Candida species induced by photogem®. Brazilian Journal of Microbiology, v. 41, p. 42-49, 2010. DE OLIVEIRA, André Frutuoso; MENDES, Haroldo José. Aplicações clínicas do ozônio na odontologia. Revista Saúde. Com, v. 5, n. 2, p. 128-140, 2009. MURAKAMI, Hiroshi et al. Disinfection of removable dentures using ozone. Dental materials journal, v. 15, n. 2, p. 220-225,255, 1996. FANG, Jiaying; HUANG, Bin; DING, Zan. 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(STOOPLER, 2005). 26 O herpes labial é uma doença infecto- contagiosa comum causada pelo vírus herpes simples tipo 1 (HSV-1) e caracteriza-se clinicamente por lesões extragenitais, disseminando-se através da saliva infectada, lesões periorais ativas, gotículas respiratórias, água e objetos contaminados. Já o vírus herpes simples tipo 2 (HSV-2) está relacionado a lesões perigenitais.(NEVILLE, 2016) (TRINDADE et al., 2007). Geralmente esse vírus se mantém em estado de latência nas células neurais atingidas e replica-se nas células epiteliais, sendo reativado sob estímulos de luz UV, traumas, períodos menstruais, imunodepressão e estresse. Apresenta-se clinicamente como múltiplas e pequenas pápulas eritematosas, formando agrupamentos de vesículas preenchidas por líquido (Imagens 7.1 A- D) , as quais se rompem e formam crostas dentro de aproximadamente dois dias (Imagem 7.2 A e B). Os sítios mais acometidos são lábios e pele adjacentes, embora possam acometer outras regiões, como palato (Imagem 7.3). Características Clínicas Diagnóstico O diagnóstico é realizado a partir de um adequado exame clínico. Para lesões atípicas, pode ser complementado pela cultura/biópsia de vesículas intactas, sorologia entre 4 a 8 dias após o período de exposição ou exame citopatológico, (NEVILLE, 2016) que é simples, rápido e barato. Nicolly Duarte de Abreu Patrick Cardoso Squitino Mattos 07 Capítulo HERPES SIMPLES A B C 27 Capítulo Herpes Simples07 Imagem 7.2 - Lesão de herpes simples em estágio de crostas. (A) Lesão em lábio superior; (B) Lesão em região perioral. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF Imagem 7.3 - Lesão de herpes simples em palato mole. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF Tratamento e Prognóstico Sendo o herpes labial uma doença autolimitante, alguns tratamentos paliativos podem ser utilizados, a fim de minimizar os sintomas dolorosos e suprimir a replicação viral. Ao iniciarem os sintomas prodrômicos, como: dormência, pontadas, prurido, eritema e dor, o medicamento de escolha principal é o Aciclovir, uma vez que possui ação antiviral seletiva e potente. O uso via oral de 200 mg, adulto e pediátrico, é indicado cinco vezes ao dia, pulando a dose noturna, durante dez dias em caso de episódio inicial, e durante cinco dias, em caso de episódio recorrente. Também há a versão tópica de 50 mg que pode ser aplicada em lábio e pele adjacente até a regressão da lesão. (SANTOS et al., 2012) Se não houver resposta eficaz ao tratamento com esse fármaco entre 5 a 10 dias, existe a possibilidade das lesões serem formas resistentes. Nessa situação, inicialmente pode-se aumentar as doses do primeiro tratamento e, caso haja falha na intervenção, deve-se utilizar o hexaidrato fosfonoformato trissódio (Foscarnet). (NEVILLE, 2016) O laser de baixa intensidade deve ser usado apenas na ausência de vesículas, uma vez que auxilia na cicatrização com ação analgésica e anti inflamatória. (SANTOS et al., 2012). O protocolo para o uso do laser varia de acordo com a fase na qual a lesão se manifesta, como indicado na Tabela 3. Imagens 7.1- Lesões de herpes simples em estágio vesicular. (A) Em lábio inferior; (B) Em lábio inferior esquerdo; (C) Em lábio superior esquerdo e (D) Em lábio inferior direito. Fonte: Ambulatório de Estomatologia do ISNF - UFF D A B 28 PROTOCOLO DE LASERTERAPIA / TFD Fase P R O D R Ô M I C A P R É - V E S I C U L A R U L C E R A D A V E S I C U L A R Dormência, pontadas, prurido, eritema e dor Eritema intenso e edemaciado Vesículas Lesões ulceradas Inibir o desenvolvimento subsequente da lesão Diminuição do edema e dor Estimular a cicatrização Estimular a cicatrização Vermelho: 660 nm Vermelho: 660 nm Vermelho: 660 nm Vermelho: 660 nm 120 J/cm2 (40mW e 2 minutos) ou 4,8 J por ponto 30J/cm2 (40mW, 30 segundos) ou 1,2 J por ponto 40J/cm2 (40 mW e 40 segundos) ou 1,6 J por ponto 10J/cm2 (40mW, 10 segundos) ou 0,4 J por ponto 20 J/cm2 (40 mW, 20 segundos) ou 0,8J por ponto 10 J/cm2 (40 mW e 10 segundos) ou 0,4 J de energia total por ponto Um único ponto central Um ponto central e 4 ou 5 pontos periféricos Um ponto central