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W BA 05 58 _V 2. 0 DIREITO TRIBUTÁRIO 2 Edmo Colnaghi Neves São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 DIREITO TRIBUTÁRIO 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Ana Carolina Gulelmo Staut Revisor Anderson Wanderley Casorla Pereira da Cunha Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Neves, Edmo Colnaghi Direito tributário / Edmo Colnaghi Neves. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 33 p. ISBN 978-65-5356-238-7 1. Direito tributário. 2. Tributos. 3. Legislação tributária. I. Título. 3. Técnicas de speaking, listening e writing. I. Título. CDD 340 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O N518d © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Introdução à legislação tributária. Princípios Constitucionais Tributários ___________________________________ 06 Competência Legislativa Tributária. Rol de Tributos constitucionais. Limites ao poder de tributar _________________ 17 Vigência, aplicação, integração e interpretação da lei tributária. Obrigação Tributária _________________________________________ 28 Crédito Tributário; Lançamento Tributário. Suspensão, Extinção e Exclusão do Crédito Tributário _____________________________ 39 DIREITO TRIBUTÁRIO 5 Apresentação da disciplina Seja bem-vindo(a) à disciplina de Direito Tributário! Nesta disciplina, iniciaremos com os princípios constitucionais gerais, os princípios constitucionais tributários e o rol de tributos. Seguiremos pelas competências legislativas tributárias dos entes da Federação, passando pelas imunidades tributárias, o conceito de tributo e as espécies tributárias. Trataremos também dos aspectos do tributo, da legislação tributária, vigência, aplicação, interpretação e integração. A obrigação tributária, o crédito tributário, as diversas espécies de lançamento também serão estudados. Relativamente aos sujeitos da relação tributária, avaliamos os sujeitos ativos e os sujeitos ativos. Por fim, trataremos do crédito tributário, analisando suas hipóteses de suspensão, exclusão e extinção. Ótimos estudos! 6 Introdução à legislação tributária. Princípios Constitucionais Tributários Autoria: Edmo Colnaghi Neves Leitura crítica: Anderson Wanderley Casorla Pereira da Cunha Objetivos • Compreender, analisar e refletir sobre: • Princípios Constitucionais Gerais. • Princípios Constitucionais Tributários. • Normas introdutórias sobre tributação. 7 1. Princípios Constitucionais Gerais O direito positivado no Brasil, ou seja, o sistema de normas válidas, publicadas e vigentes, está organizado segundo relações de subordinação e relações de coordenação e compreende um conjunto bem variado de espécies normativas. Temos normas constitucionais, emendas constitucionais, leis complementares, leis ordinárias, medidas provisórias, decretos legislativos, leis delegadas, resoluções do senado, decretos, convênios de ICMS, instruções normativas, circulares, portarias e uma série de atos concretos das autoridades públicas. Nas relações de subordinação uma norma inferior subordina-se à uma norma superior, por exemplo, uma lei ordinária se subordina à Constituição Federal, assim como um decreto subordina-se à uma lei ordinária e, por consequência, a espécie normativa inferior tem fundamento de validade na norma superior. Se não houver esta relação de subordinação, a norma não é válida, é o que se diz quando se afirma que uma lei é inconstitucional ou que um decreto é ilegal. Há também no sistema jurídico as relações de coordenação em que espécies normativas estão no mesmo patamar hierárquico, mas tendo cada qual naturalmente seu campo de atuação específica. Veja, por exemplo, a medida provisória e a lei ordinária ou decreto-legislativo como exemplos. Estabelecidos os elementos (as espécies normativas) e a estrutura (relações de subordinação e coordenação), temos o sistema jurídico se aplicando ao sistema jurídico tributário. A Constituição Federal, norma que se encontra no topo da hierarquia das normas, à qual todas as demais normas estão subordinadas, estabeleceu regras de competência legislativa aos entes da Federação 8 e no que diz respeito à competência legislativa tributária, desceu aos detalhes de estabelecer quais impostos são de competência da União Federal, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Princípios Constitucionais regem a competência legislativa tributária, a criação de tributos, limites à referida criação, o fato gerador, a obrigação tributária, lançamento, crédito tributário, sua extinção, suspensão, exclusão, privilégios, administração tributária e ainda a restituição dos tributos. Espraiam seus comandos e sua força por todo o sistema jurídico. Assim, uma vez esclarecido o que é tributo e suas espécies, passamos a discorrer a quais princípios estão submetidos. Estabelece o artigo 1º da Constituição Federal, que o Brasil é uma República Federativa e daí já decorrem princípios fundamentais para entender a tributação no Brasil, o princípio republicano e o princípio federativo. O termo república deriva de res publica, a coisa pública, a soberania popular, a emanação do poder diretamente do povo ou indiretamente pelos seus representantes, que, no exercício de seus mandatos, produzem leis, fonte única das obrigações dos cidadãos, inclusive das obrigações tributárias: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei estabelece a Lei Maior, fundamento do Estado de Direito. Há leis federais, estaduais, municipais e nacionais, uma vez que há a União Federal, Estados, Municípios, compondo a Federação, cada qual com sua competência legislativa discriminada, que tem elementos essenciais: pluralidade de entes, equipotência e autonomia política (mas não soberania, eis que esta somente tem o Estado brasileiro) e exercendo esta autonomia política, ou seja, produzindo leis, submetem- se à Constituição Federal. Leis estas que tratam de todos os temas, inclusive, sobre a criação e extinção de tributos e naturalmente também sobre a restituição de tributos pagos indevidamente. Escreve Ataliba (1995): 9 3. Princípios republicano e federal: Alguns princípios constitucionais foram tradicionalmente postos pelos sucessivos legisladores constituintes como fundamentais a todo o sistema e, por isso, em posição de eminência relativamente a outros. No Brasil, os princípios mais importantes são os da Federação e da República. Por isso, exercem função capitular da mais transcendental importância, determinando inclusive como se deve interpretar os demais, cuja exegese e aplicação jamais poderão ensejar menoscabo ou detrimento para a força, eficácia e extensão dos primeiros. (ATALIBA, 1995, p. 9) O texto inaugural da Constituição Federalé o que segue: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I–a soberania; II–a cidadania; III–a dignidade da pessoa humana; IV–os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (vide Lei n. 13.874); V–o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. (BRASIL, 1988) Estabelecidos estes dois princípios, Princípio Republicano e Princípio Federativo, que irradiam sua força por todo o ordenamento jurídico, e, consequentemente, por todo o sistema tributário, passemos aos demais princípios. 10 2. Princípios Constitucionais Tributários O Princípio da estrita legalidade tem sua base positivada no artigo 150, II da Constituição Federal, e deste decorre que o tributo somente pode ser criado ou aumentado por lei e, aqui, estamos nos referido à lei ordinária, em princípio, vez que existem tributos que demandam lei complementar. Lei ordinária é aprovada pelo legislativo, por maioria simples, ou seja, metade mais um dos presentes à sessão legislativa que, por sua vez, tem um quórum mínimo para se instalar. Lei complementar é aprovada pelo legislativo por maioria absoluta, ou seja, metade mais um da totalidade do congresso e é prevista para temas especificamente determinados pela Constituição Federal. Na área tributária, por exemplo, é exigência para a criação de empréstimo compulsório. Não havendo exigência específica da lei maior, o tributo será criado por lei ordinária. A Constituição Federal não cria tributos, a lei ordinária cria tributos. Este rigor específico para a criação de tributos pode ser esclarecido tomando- se como exemplo o imposto sobre grandes fortunas. Pesquisando a lei maior, ali entre os impostos federais, no artigo 153, encontramos que compete à União Federal criar impostos sobre grandes fortunas. Pergunta-se: existe o imposto sobre grandes fortunas no Brasil, atualmente? A resposta é que não existe. Não foi criada lei estabelecendo seus critérios ou aspectos, não foi estabelecida sua regra-matriz de incidência por lei ordinária. Existe somente a competência legislativa tributária, que até o momento não foi exercida, lembrando que entre as características da competência legislativa tributária está a facultativa, ou seja, cabe ao ente da Federação decidir se e quando exercê-la. Portanto, a Constituição Federal cria competência legislativa tributária e somente a lei cria o tributo. 11 Princípio da Igualdade: dentre os direitos e garantias fundamentais está assegurado que todos são iguais perante a lei, não sendo admitidas discriminações em razão do sexo, cor, religião ou outros motivos. O texto da Constituição Federal é o que segue: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]. (BRASIL, 1988, [n. p.]) Como já tivemos oportunidade de comentar e voltamos a lembrar, dado sua importância, estamos na seara das cláusulas pétreas, normas que não podem ser alteradas sequer por emendas constitucionais. Decorrente do Princípio da Igualdade, é seu desdobramento dentro do Sistema Constitucional Tributário, ao se estabelecer o Princípio da Isonomia Tributária, ou seja, a lei não deve dar tratamento diferenciado a contribuintes que se encontrem em situação equivalente. Este Princípio da Isonomia Tributária e o da Estrita Legalidade tem fundamento no artigo da Lei Maior, a seguir transcrito: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I–exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; II–instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos. (BRASIL, 1966, [n. p.]) Se é certo que todos devem ser tratados com igualdade, assim como todos os contribuintes, o fato é que são todos desiguais, inclusive em sua capacidade de contribuir com a sociedade pagando tributos. 12 Havendo a desigualdade também na capacidade de contribuir, a tributação deve considerar esta diferenciação, dando conteúdo ao chamado Princípio da Capacidade Contributiva: Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. (BRASIL, 1988, [n. p.]) Outros Princípios Constitucionais Tributários somam-se a estes mencionados, formando um mosaico de segurança jurídica ao contribuinte, destacando, entre eles: • Princípio da anterioridade. • Princípio da irretroatividade. • Princípio da vedação de efeitos confiscatórios. • Princípio da não limitação do tráfego. • Princípio da uniformidade nacional. • Princípio da vedação de distinção em razão de procedência ou destino. 3. Princípio da não cumulatividade Estabelece a Constituição Federal este princípio, com o objetivo de evitar o acúmulo de repasses da carga tributária sobre mercadorias e 13 serviços, tendo em vista uma cadeia produtiva em que, em cada elo da cadeia, o tributo incide, o que acarretaria efeitos econômicos danosos à economia. Veja, por exemplo, o ICMS: a lei maior determina que quanto a este imposto será não cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores; o mesmo aplicando-se ao IPI. Entre as normas infraconstitucionais e infralegais, em decorrência deste Princípio, criaram-se inúmeras obrigações acessórias e, entre elas, a obrigação da criação, registro e declaração de informações sobre os créditos e débitos de cada contribuinte, cada estabelecimento em determinados períodos. Aqui, temos, portanto, créditos dos contribuintes, em uma das modalidades que ora estudamos. 4. Princípio da Seletividade Determina a Constituição Federal sobre o IPI: Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: ... IV–produtos industrializados; ... § 3º O imposto previsto no inciso IV: I–será seletivo, em função da essencialidade do produto; E a seguir sobre o ICMS: Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: ...II–operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; 14 ... § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: ... III–poderá ser seletivo, em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços; (BRASIL, 1988, [n. p.]) 5. Introdução à legislação tributária Logo abaixo da Constituição Federal, na pirâmide das normas jurídicas, a temática da tributação está normatizada por algumas leis complementares, mas aqui, neste ponto, vale a pena explorar uma lei complementar central no estudo da tributação: Código Tributário Nacional (CTN). Este código foi criado na década de 1960, como lei ordinária, e, com o advento da atual Constituição Federal, foi parcialmente recepcionado como lei complementar, visto que trata de normas gerais de direito tributário. O que é um tributo? Adotamos o termo tributo em seu sentido técnico, como gênero, pelo fato de que, no Brasil, existem cinco espécies de tributos, a saber: impostos, taxas, contribuiçõesde melhoria, empréstimos compulsórios e contribuições sociais de interesse das categorias profissionais e econômicas, de intervenção no domínio econômico e de financiamento da seguridade social. Tributos são obrigações legais, não cabendo à empresa ou ao cidadão escolher se paga ou não o tributo, ainda que seja injusto. Certa vez, um contribuinte se manifestou no sentido de que estava cansado de pagar tributos, que já havia pago tributos a vida inteira e que, portanto, não informaria o recebimento de uma casa em sua declaração de Imposto de Renda (o que não necessariamente geraria tributação). O fato é que tal pretensão não estava amparada pela lei, caracterizando- se pura e simplesmente como sonegação fiscal, um crime previsto na legislação, para a qual estão assinaladas penalidades. 15 Ressalte-se que o fato de ser uma obrigação legal, em termos jurídicos, distingue-se de obrigação contratual ou volitiva. Nesta última, a empresa e o cidadão assumem uma obrigação por vontade própria, mediante um instrumento contratual, e tem caráter mandatório (pacta sunt servanda), lembrando que o contrato é lei entre partes. De outro lado, a obrigação legal decorre diretamente da lei, seja uma lei ordinária, uma lei complementar ou qualquer outra norma emanada pelo Estado. Tributos são criados por leis ordinárias e, em alguns casos, por lei complementar. Esta obrigação legal deve ser cumprida em dinheiro. É o que dispõe o artigo 3º do Código Tributário Nacional. Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. (BRASIL, 1966, [n. p.]) Cabe, desde logo, destacar um de seus artigos: Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias. (BRASIL, 1966, [n. p.]) Neste dispositivo, observa-se os limites do alcance da lei tributária sobre o Direito Privado. Referências AMARO, L. Direito Tributário Brasileiro. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. ANDRADE FILHO, E. O. Planejamento Tributário. São Paulo: Saraiva, 2016. 16 ATALIBA, G. Hipótese de Incidência Tributária. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975. ATALIBA, G. República e Constituição. 1. ed. São Paulo: RT, 1995. BALEEIRO, A. Limitações constitucionais ao poder de tributar. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1974. BECKER, A. A. Teoria Geral do Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Lejus, 1998. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 30 jun. 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. 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Limites ao poder de tributar Autoria: Edmo Colnaghi Neves Leitura crítica: Anderson Wanderley Casorla Pereira da Cunha Objetivos • Compreender, analisar e refletir sobre: • Competência legislativa tributária. • Rol de tributos. • Limites ao poder de tributar. 18 1. Competência legislativa tributária O Estado Poder Legislativo tem a competência para criar leis tributárias, e o Estado Poder Executivo tem a competência para fiscalizar e arrecadar os tributos, entre outros. O exercício desta competência é facultativo, indelegável, imprescritível, imutável e irrenunciável. Em outras palavras, podemos dizer que o ente federativo não é obrigado a exercer sua competência legislativa tributária, criando a lei tributária, como ocorre até o presente com o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF). Esta competência também não pode ser delegada, ou seja, não pode ser transferida a outro ente da Federação. O fato de não ser exercida, no entanto, não implica que o ente federativo perca esta competência por não exercer, pois não prescreve. Igualmente não pode ser alterada, uma vez que está entre as normas rígidas da lei maior e não pode renunciar a tais competências. Há competência privativa quando somente um ente da Federação pode instituir o tributo, como a União Federal quanto aos empréstimos compulsórios, contribuições sociais e seus impostos. Há competência concorrente quando atribuída a mais de um ente da Federação, como os impostos estaduais e municipais, que, além de competirem a estes entes, compete também ao distrito federal. Há, ainda, a competência residual dada à União Federal para criar outros impostos não previstos e, por fim, a competência extraordinária, atribuídos a União Federal em caso de guerra e calamidade pública. A competência tributária ou, melhor dizendo, a competência legislativa tributária, não se confunde com a capacidade tributária. Os entes da Federação e o Distrito Federal têm Poder Legislativo e, assim, podem criar leis e, portanto, também pode criar leis tributárias. Geralmente, também fiscalizam e arrecadam os tributos. No entanto, por vezes, esta 19 competência para fiscalizar e arrecadar é outorgado a um órgão da Administração Pública. Neste caso, o órgão tem capacidade tributária que, naturalmente, não tem poder de legislar, mas somente de fiscalizar e arrecadar o tributo. Exercendo a competência legislativa tributária, nos parâmetros estabelecidos pela Constituição Federal, o legislador ordinário cria a lei tributária, que deve estabelecer: a situação hipotética que descreve um fato que faz surgir: a obrigação de pagar tributo: aspecto material; o local onde ocorre esta situação: aspecto espacial; o momento em que ocorre esta situação: aspecto temporal.; o sujeito ativo da relação obrigacional tributária, quem fiscaliza e arrecada o tributo e o sujeito passivo, quem paga o tributo: o aspecto pessoal e, por fim, como se quantifica o tributo, base de cálculo e alíquota: o aspecto quantitativo. 2. Rolde tributos No Brasil, existem cinco espécies de tributos: impostos, taxas, contribuições de melhorias, empréstimos compulsórios e contribuições sociais, estas subdivididas em contribuições de intervenção no domínio econômico, contribuições de interesse das categorias profissionais e econômicas e contribuições para a seguridade social. Vale também lembrar que as taxas se subdividem em duas categorias: taxas de fiscalização ou em decorrência do exercício do poder de polícia e taxas em decorrência da prestação de serviços públicos. Esta divisão dos tributos em cinco espécies influencia a vida social causando várias consequências na administração da receita tributária pelo Estado e, consequentemente, na vida da população. Diferentemente são as taxas, que são tributos vinculados. Sua cobrança é a remuneração por uma ação específica do Estado, seja a taxa de 20 prestação de serviços públicos, por aqueles que demandam um serviço determinado do Estado, seja a taxa em razão do exercício do poder de polícia. Veja, por exemplo, Taxa de Fiscalização de Anúncios (TFA), cobrada por alguns municípios. Aqueles que apresentam anúncios em seus estabelecimentos devem ser fiscalizados e, para isso, pagam a taxa. Já quem não tem anúncio, não deve pagar a TFA, e se pagar, terá direito à restituição pelos meios discriminados neste livro. Portanto, temos, aqui, de início uma distinção: impostos são tributos não vinculados, taxas são tributos vinculados. a. Impostos Observe-se que o texto positivado da Lei Maior, artigo 145, não estabelece maiores detalhes quanto aos impostos, definindo somente várias espécies tributárias, mas, de outro lado, nos artigos 153, 155 e 156 define quais impostos cabem a cada um dos entes da Federação, ficando assim distribuída a competência sobre impostos: • União Federal: II- importação de produtos estrangeiros; IE–exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; IR–renda e proventos de qualquer natureza; II- produtos industrializados; IOF- operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; ITR– propriedade territorial rural; IGF–grandes fortunas, nos termos de lei complementar. • Estados e Distrito Federal: ITCMD- transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; ICMS–operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; IPVA– propriedade de veículos automotores. 21 • Municípios: IPTU - propriedade predial e territorial urbana; ITBI -transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; ISS–serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar. Passando ao plano da lei complementar, temos que esta espécie tributária, os impostos, definida como tributo sem nenhuma vinculação com uma atividade estatal específica, como se observa a seguir no artigo 16 do CTN. Assim, temos os impostos como uma espécie de tributo em que não há e não deve haver vinculação como uma atividade estatal específica. Nas últimas décadas foram criadas algumas exigências de impostos vinculados que, por este motivo, foram declaradas inconstitucionais, perdendo sua validade e, assim, gerando direito de restituição aos contribuintes que indevidamente pagaram tais tributos. Se havia vinculação, imposto não era. É importante ressaltar também, neste passo, que a denominação imposto, encargo ou qualquer outra adotada pelo legislador, tem importância secundária, devendo o intérprete antes desvendar a natureza jurídica da exação. O próprio CTN estabelece norma clara sobre este aspecto. O CTN, ao se referir às taxas, determina suas duas subespécies, antes mencionadas, taxas em razão do exercício do poder polícia e taxas pela utilização de serviços públicos. O CTN, também quanto às taxas, determina que esta utilização de serviços públicos poderá ser efetiva ou potencial e que os serviços públicos devem ser específicos e divisíveis, reiterando ao final que os 22 serviços podem ser prestados ao contribuinte ou somente postos à sua disposição. Referidas qualificações são muito importantes, pois no decorrer das décadas gerou-se muita controvérsia e milhares de ações judiciais e julgados, serviços públicos que não eram efetivamente prestados, mas que estavam à disposição do contribuinte, bem como serviços genéricos e que não podiam ser divididos, identificando-se os efetivos beneficiários. b. Contribuição de melhoria O artigo 145 da Constituição Federal, que inaugura o capítulo destinado ao sistema constitucional tributário, já aponta também a terceira espécie tributária: as contribuições de melhoria, em razão de obras públicas. Não se trata de tributo muito usual, havendo poucas situações em que o legislador tenha decidido pela sua criação, por vários motivos, entre eles, as dificuldades operacionais para estabelecer seus parâmetros e regras de cálculo. Se todos contribuem para o Estado, na medida de sua capacidade contributiva, e o Estado, utilizando-se desta receita, cria obras públicas que acarretam valorização do patrimônio de somente alguns particulares, detentores de imóveis próximos à obra pública, pareceu ao legislador justo que estes poucos privilegiados com a valorização imobiliária contribuíssem com um tributo, tendo por base esta valorização imobiliária. Além daquelas três espécies tributárias, há outras duas, conforme denunciam os seguintes dispositivos constitucionais: c. Empréstimos compulsórios Trata-se de um tributo, que alguns aspectos ressaltam: o primeiro deles é sua criação para que o Estado possa fazer frente a situações 23 extraordinárias como calamidade pública, guerra externa e investimento público de caráter urgente e relevante interesse nacional; outro aspecto é o fato de se tratar de um empréstimo, ou seja, terá de ser devolvido ao contribuinte após determinado período. Para o Estado, portanto, é uma entrada, mas não é uma receita, devido a seu caráter provisório. A doutrina tem se debatido se seria um contrato ou um tributo, mas tem prevalecido este último entendimento. d. Contribuições sociais Trata-se de tributos instituídos pela União Federal, com fundamento na competência legislativa federal atribuída pela Lei Maior, transcritos as seguir, em que se ressalta o aspecto de que são criadas para a obtenção de recursos para fins específicos relacionados com o interesse público, destinando à Administração Pública Direta, Indireta ou entidades que cooperam com a Administração, como se vê a seguir: Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I–do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; 24 b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II–do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuiçãosobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social; III–sobre a receita de concursos de prognósticos. IV–do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. (BRASIL, 1988, [n. p.]) Diante deste texto positivado, os estudiosos do tema, costumam subdividir as contribuições sociais em três categorias: • Contribuições de Intervenção no Domínio Econômicos (CIDE). • Contribuições Sociais de Interesse das Categorias Profissionais e Econômicas. • Contribuições para financiamento da Seguridade Social. 3. Limitações ao poder de tributar O Poder Constituinte Originário, ao criar a Constituição Federal, considerou como relevantíssimos alguns valores, como a liberdade religiosa, a existência de uma federação de fato, a difusão cultural e vários outros, e, assim, estabeleceu normas proibindo aos legisladores ordinários de adotar certas situações e certas pessoas como objeto de incidência tributária, limitando, assim, seu poder de tributar, sua competência legislativa tributária. 25 Determinou que os entes da Federação, União Federal, Estados- membros, Distrito Federal e Municípios não podem tributar uns aos outros, criando, assim, a denominada imunidade recíproca. Determinou também que não podem ser tributados os livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão numa época (1986), em que não eram comuns os tablets, e-book e outros meios eletrônicos de acesso à cultura, o que, com a evolução tecnológica, levou milhares de contribuintes ao Poder Judiciário para pleitear a imunidade tributária destes meios e não somente aos livros impressos, feitos de papel. Em decorrência desta evolução tecnológica, o artigo 150, VI da Constituição Federal que trata das imunidades tributárias foi objeto de emenda constitucional que acrescentou a línea “e” incluindo os seguintes objetos na imunidade tributária: e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser. (BRASIL, 1988, [n. p.]) Templos de qualquer culto também são objeto de imunidade tributária. O texto da Constituição é assim objetivo, dando margem a muitas interpretações e controvérsias. Naturalmente, aí está o valor liberdade religiosa, impedindo que uma determinada religião seja objeto de discriminação por meio da tributação de um legislador de outra religião, mas até onde vai esta imunidade é o que tem sido objeto de ações judiciais, especialmente sobre atividades religiosas que não estão diretamente ligadas ao culto. São igualmente livres da tributação por meio da imunidade o patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições 26 de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei. Cabe por fim, reiterar que a imunidade tributária é norma constitucional dirigida ao legislador ordinário, proibindo a criação do tributo diferentemente, por exemplo, da isenção em que existe a lei tributária, a hipótese de incidência e com a ocorrência do fato imponível surge a obrigação tributária, mas a lei tributária estabelece uma exceção ao lançamento e surgimento do crédito tributário. Referências AMARO, L. Direito Tributário Brasileiro. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. ANDRADE FILHO, E. O. Planejamento Tributário. São Paulo: Saraiva, 2016. ATALIBA, G. Hipótese de Incidência Tributária. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975. ATALIBA, G. República e Constituição. 1. ed. São Paulo: RT, 1995. BALEEIRO, A. Limitações constitucionais ao poder de tributar. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1974. BECKER, A. A. Teoria Geral do Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Lejus,1998. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 30 jun. 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto 9580 de 22 de novembro de 2018. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9580.htm. Acesso em: 30 jun. 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 5172, de 25 de outubro de 1966. Brasília, 1966. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172.htm. Acesso em: 30 jun. 2022. CARRAZA, R. A. ICMS. 16. ed. São Paulo: Mallheiros, 2012. CARVALHO, P. de B. Curso de Direito Tributário. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. CARVALHO, P. de B. Compliance no Direito Tributário. São Paulo: Thomson Reuters, 2018. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9580.htm. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9580.htm. 27 COELHO, S. C. N. Manual de Direito Tributário. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. CREPALDI, S. Planejamento Tributário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. LARA, D. S.; PISCITELLI, T.(coord.). Tributação da Economia Digital. 2. ed. São Paulo: Thomsom Reuters, 2020. MACHADO, H. de B. Curso de Direito Tributário. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. MACHADO, H. de B. Introdução ao Planejamento Tributário. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2019. MACHADO, H. de B. Planejamento Tributário. São Paulo: Malheiros 2016. MACHADO, H. de B. Tributação e novas tecnologias. Indaiatuba: Foco, 2021. MARTINS, I. G. da S.; MARTINS, R. V. G. da S. Compliance no Direito Tributário. São Paulo: Thonsom Reuters, 2020. SCHOUERI, L. E. Planejamento Tributário e o “Propósito Negocial”. São Paulo: Quartier Latin, 2010. SILVA, D. R.; ESTEVAM, P. L.; VASCONCELLOS, R. P. et al. Planejamento Patrimonial: família, sucessão e impostos. São Paulo: B18, 2018. 28 Vigência, aplicação, integração e interpretação da lei tributária. Obrigação Tributária Autoria: Edmo Colnaghi Neves Leitura crítica: Anderson Wanderley Casorla Pereira da Cunha Objetivos Compreender, analisar e refletir sobre: • Vigência e aplicação da lei tributária. • Interpretação e integração da lei tributária. • Obrigação tributária. 29 1. Vigência e aplicação A vigência e a aplicação das normas tributárias seguem as regras relativas às normas jurídicas em geral, salvo alguns comandos específicos estabelecidos pelo Código Tributário Nacional. A legislação deve obedecer aos limites territoriais em princípio, seja da União Federal, dos estados-membros, dos municípios e do Distrito Federal. Convênios, o CTN e leis sobre normas gerais podem ampliar essa territorialidade. A vigência e aplicação da lei tributária deve aplicar-se a eventos futuros. Aqui, há que recordar os princípios da irretroatividade, da anterioridade e da anterioridade nonagesimal ou noventena, conforme dispõe a lei maior: Constituição Federal Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: ... III–cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado. (BRASIL< 1988) Neste princípio, há que se destacar a importância de se estabelecer o início da vigência da lei e o dispositivo se refere não somente à lei que institui o tributo, mas também aquela que aumenta o tributo. Ocorrido o fato gerador antes da vigência os entes da Federação estão proibidos de cobrar tributos sobre tais fatos. 30 Publicada a lei que institui ou aumenta o tributo, sua aplicação somente poderá ocorrer no exercício financeiro seguinte. É o que dispõe a alínea b do mesmo dispositivo constitucional: b) no mesmo exercício financeiroem que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; Tendo em vista este dispositivo constitucional, estabeleceu limitações ao poder de tributar, com o objetivo de dar segurança e previsibilidade à atividade econômica do contribuinte, para o qual a carga tributária é fator decisivo nos negócios. No entanto, historicamente, por vezes, observou-se que ocorriam aumentos de tributos que eram publicados no último dia do exercício financeiro, no dia 31 de dezembro e, assim, poderiam alcançar fatos ocorridos no dia seguinte, 1 de janeiro, eis que já era outro exercício financeiro. Dessa forma, ficava frustrada, na prática, a intenção da Lei Maior de dar segurança e previsibilidade ao contribuinte. Emenda Constitucional foi proposta e aprovada, criando-se também outra norma sobre anterioridade, determinando que, simultaneamente à anterioridade do exercício financeiro, também deveria ser observado um prazo de 90 dias para aplicação da norma, como se observa na alínea c do mesmo dispositivo constitucional c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; Assim, após a aprovação deste dispositivo constitucional, resgatando o exemplo anterior, publicada a lei no dia 31 de dezembro, esta não poderá ser aplicada no dia seguinte, ainda que seja outro exercício financeiro, devendo também observar o prazo de noventa dias para entrar em vigor e ser aplicada, garantindo, assim, segurança e previsibilidade ao contribuinte, valor prestigiado pela Lei Maior. 31 A aplicação da lei tributária não somente deve ser sobre fatos futuros, mas também aos fatos pendentes, que são aqueles cuja ocorrência tenha tido início, mas não esteja completa. Há uma aplicação retroativa da lei tributária, como situação excepcional, quando se tratar de lei expressamente interpretativa, ou seja, lei que se destina à interpretação de outra lei, ressalvado, no entanto, o aspecto relativo à aplicação de penalidades. Sobre a aplicação retroativa da lei, deve se mencionar por fim outra exceção do CTN, discriminada a seguir: Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: ... II–tratando-se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. (BRASIL, 1966, [n. p.]) Dessa forma, prestigia-se o conceito da lei penal mais benéfica, permitindo sua retroatividade quando favorece o contribuinte. 2. Interpretação e integração da lei tributária O CTN estabelece meios para que a autoridade competente faça a interpretação da lei . Define que sejam utilizados a analogia, os 32 princípios gerais de direito tributário, os princípios gerais de direito público e a equidade. A utilização deve ser feita de modo sucessivo, começando pela analogia e terminando pela equidade. Ressalta o CTN, no entanto, que o uso da analogia não pode resultar na exigência de tributo não previsto em lei. Por meio da analogia, o intérprete, estando diante de uma lacuna, ou seja, uma situação não expressamente prevista pela legislação, busca construir um comando para uma determinada situação, a partir da comparação com outras situações similares, que estejam expressamente previstas em lei, para as quais já existe um comando expresso. Este comando pode ser uma permissão, uma proibição ou uma obrigação. De qualquer forma, seja qual for o comando, por semelhança, também será utilizado para àquela situação não expressamente prevista em lei e para a qual a legislação ainda não estabeleceu nenhum comando, ou seja, não determinou se é uma situação permitida, proibida ou obrigatória. Este dispositivo é muito importante e está na base do princípio da tipicidade e da reserva legal. Um fato para sofrer a incidência tributária deve ter sua hipótese descrita em lei de modo exato. Uma situação diferente, ainda que análoga àquela prevista em lei, não pode sofrer a incidência tributária. Assim, a analogia pode, eventualmente, ser utilizada na interpretação tributária, no entanto sua utilização não pode acarretar o surgimento e a exigência do cumprimento de obrigação tributária, seja ela uma obrigação principal, ou seja, ela uma obrigação acessória. Um exemplo que se pode mencionar diz respeito à incidência do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS). 33 Como o próprio nome do tributo indica, sua incidência também se dá sobre os serviços de comunicação. Assim, tudo que se conceitue como comunicação pode sofrer a incidência do ICMS, conforme a lei ordinária de cada Estado-membro sobre o tema ou leis complementares nacionais. No entanto, situações que não estejam no conceito restrito do que seja comunicação, não podem sofrer a incidência do ICMS, ainda que sejam semelhantes, ou seja, ainda que sejam análogas. As empresas de telefonia móvel celular prestam serviços de comunicação, oferecendo uma estrutura para que seus clientes se comuniquem e isso é um serviço de comunicação, sobre o qual incide ICMS. As empresas também prestam serviços de caixa postal, serviços de teleconferência e outros serviços de valor adicionado, cobram por estes serviços, mas estes serviços não são serviços de comunicação, portanto, sobre estes serviços não incide ICMS, ainda que sejam serviços análogos. De outro lado, a equidade não pode ser utilizada para obter a dispensa do pagamento de um tributo devido. No que se refere aos princípios gerais de direito privado, é importante ressaltar que se utilizam para “pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas”, como prescreve o artigo 109 do CTN (BRASIL, 1966, [n. p.]). No entanto, em se tratando dos respectivos efeitos tributários, não se prestam a esta definição, devendo ser utilizados os princípios gerais de direito público e de direito tributário. Da mesma forma, é de se destacar que lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado. Devem ser observados os conceitos próprios. Por esta razão, muitas vezes, afirma-se que o direito tributário, por vezes, 34 é um direito de sobrenormas, estabelece normas com base em outras normas. Sobre a interpretação literal, deve ser utilizada nos seguintes casos: • Suspensão ou exclusão do crédito tributário. • Outorga de isenção. • Dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias. Tratamos, anteriormente, da retroatividade da lei que estabelece penas mais brandas quando tratamos de vigência e aplicação. Aqui, no contexto das interpretações, novamente há um regramento específico sobre a lei que define infrações e penalidades. De acordo com o artigo 112 do CTN, nos seguintes casos a interpretação deve ser a mais favorável ao acusado, quando houver dúvida sobre: • Capitulação legal do fato. • Natureza ou circunstâncias materiais do fato, ou natureza ou extensão dos seus efeitos. • Autoria, imputabilidade ou punibilidade. • Natureza da penalidade aplicável, ou sua graduação. (BRASIL, 1966) 3. Obrigação tributária Ocorrendo um fato no mundo fenomênico, cuja descrição seja idêntica àquela constante da lei tributária para a hipótese de incidência, aspectos material, espacial e temporal, dá-se a incidência da lei tributária, subsumindo-se o fato à norma, surge, assim, a obrigação tributária, o 35 consequente da norma, onde estão os aspectos pessoais (sujeito ativo, que exige e arrecada o tributo e sujeito passivo que paga o tributo) e o quantitativo, que permite calcular o tributo, definindo a base de cálculo e a alíquota. O aspecto material diz respeito à situaçãoou atividade do contribuinte. Realizar operações de circulação de mercadorias, ser proprietário de imóvel urbano, adquirir disponibilidade jurídica ou econômica de rendas ou proventos são exemplos de aspecto material do ICMS, Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto de Renda (IR), respectivamente. O aspecto espacial diz respeito ao local onde estas situações ou atividades ocorrem. Exemplificativamente, o aspecto material do Imposto de Renda, sendo um tributo federal, pode ocorrer em qualquer lugar do território nacional ou mesmo no exterior, se o contribuinte tiver domicílio tributário no país e negócios no exterior. No que se refere ao ICMS, o aspecto espacial será o respectivo território do Estado-membro ou Distrito Federal que o tenha criado. O aspecto espacial do ICMS, criado pelo estado do Amazonas, será o território do Amazonas, o aspecto espacial do ICMS do Ceará será o território do Ceará, e assim por diante. Tratando-se de IPTU, que é um imposto municipal, o aspecto espacial será o respectivo território do município que o criou. Quanto ao aspecto temporal, diz respeito ao momento em que se verifica a ocorrência do fato gerador e, assim sendo, não deve ser confundido com o prazo para pagamento do tributo que é coisa distinta. Veja, por exemplo, novamente o IPTU. Cada município cria sua lei respectiva e estabelece suas normas sobre IPTU, conforme competência legislativa tributária recebida da Constituição Federal. Vários municípios estabelecem que o proprietário 36 obrigado a pagar o IPTU será aquele que for proprietário no dia 1 de janeiro de cada ano. Assim, temos o aspecto temporal do IPTU. No caso do ICMS sobre circulação de mercadorias, o aspecto temporal que deflagra o nascimento da obrigação tributária acontece quando a mercadoria saí do estabelecimento comercial com a emissão da nota fiscal-fatura, sendo este o aspecto temporal. No caso do Imposto de Renda das pessoas físicas, o aspecto temporal é o dia 31 de dezembro de cada ano. Ao preparar sua declaração de Imposto de Renda, as pessoas físicas prestam várias informações, como informações bancárias e saldos existentes no dia 31 de dezembro, bem como as variações ocorridas nos dozes meses anteriores, receitas do período e outras informações. Outro momento importante é a data para pagamento do tributo, que não se confunde com o aspecto temporal. A hipótese de incidência também é denominada como fato gerador, que estabelece que se trata de situação necessária à ocorrência da obrigação principal, bem como que as demais situações que gerem obrigações ao contribuinte que não sejam o pagamento de tributo ou multa, são fatos geradores de obrigações acessórias. Existe, a partir de então, a obrigação de pagar o tributo, obrigação principal, ou ainda a penalidade, no caso de não pagamento do tributo, além daquelas denominadas de obrigações acessórias ou deveres instrumentais, que implicam no dever de registrar operações tributáveis, produzir documentos e livros, bem como prestar informações ao Fisco sobre tais operações, documentos e livros. E se tais obrigações não forem cumpridas? Neste caso, serão aplicáveis penalidades que compõem a obrigação principal. Sobre o momento de ocorrência do fato gerador, há que se distinguir entre situação de fato e situação jurídica. Nos casos de situação de fato, considera-se ocorrido fato gerador e seus efeitos situação de fato 37 desde o momento em que o se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que, normalmente, são próprios. No caso da situação jurídica, é diferente: considera-se ocorrido o fato gerar e seus efeitos desde o momento em que esteja definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável. Muitos planejamentos tributários, com o objetivo de reduzir a carga tributária, tiveram como foco evitar a ocorrência do fato gerador e, assim, impedir o surgimento da obrigação tributária. Em virtude disso, para evitar este planejamento tributário, o Governo fez aprovar legislação que teria por objetivo combater o planejamento tributário, resultando na inserção do parágrafo único do artigo 116 do CTN: Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei. (BRASIL, 1966). Este dispositivo é conhecido como a norma geral elisiva, no entanto, observa-se, ao final de seu texto, que remete a procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária que, mas, até o ano de 2022, não havia sido criada, não tendo a norma sua plena eficácia. A obrigação tributária não é por si só exigível, é necessário que a administração fazendária realize um procedimento para definir o que se chamada de crédito tributário, no caso crédito tributário da Administração Pública e se trata de uma atividade privativa da administração fazendária, vale dizer, o contribuinte não faz tal procedimento denominado de lançamento. A atividade do lançamento tributário é que constituirá o crédito tributário, que será exigível. 38 Referências AMARO, L. Direito Tributário Brasileiro. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 30 jun. 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 5172, de 25 de outubro de 1966. Brasília, 1966. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172.htm. Acesso em: 30 jun. 2022. CARVALHO, P. de B. Curso de Direito Tributário. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. COELHO, S. C. N. Manual de Direito Tributário. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. MACHADO, H. de B. Curso de Direito Tributário. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172.htm. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172.htm. 39 Crédito Tributário; Lançamento Tributário. Suspensão, Extinção e Exclusão do Crédito Tributário Autoria: Edmo Colnaghi Neves Leitura crítica: Anderson Wanderley Casorla Pereira da Cunha Objetivos Compreender, analisar e refletir sobre: • Crédito tributário e lançamento tributário. • Suspensão e exclusão do crédito tributário. • Extinção do crédito tributário. 40 1. Crédito tributário Ocorrido o fato gerador, tal qual discriminado na hipótese de incidência da lei tributária, surge o crédito tributário do ente tributante, com competência ou pelo menos capacidade tributária para ocupar o polo ativo da relação obrigacional tributária. Aquele que tem o poder de fiscalizar e arrecadar o tributo, é denominado de sujeito ativo. Geralmente, é o ente da Federação que criou a lei tributária correspondente, a União Federal, Estados, Municípios e Distrito Federal. No entanto, por vezes, a União Federal cria alguns tributos por lei, mas quem fiscaliza e arrecada são órgãos da administração pública indireta como, por exemplo, as agências reguladoras. Nestes casos, ocorre o que se denomina de parafiscalidade (que não se confunde com extrafiscalidade, o que ocorre quando o Estado com lei tributária tem outros objetivos além daqueles meramente arrecadatórios como, por exemplo, incentivar as exportações) Veja, por exemplo, a taxa do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL), relativamente à taxa de fiscalização das empresas de telecomunicações. A União Federal criou esta taxa por meio de lei federal, mas quem fiscaliza e arrecada é o sujeito ativo, é a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL). De outro lado, o responsável pelo pagamento do crédito tributário ou da multa tributária, ou de ambos, é denominado de sujeito passivo. Geralmente, é aquele que realiza a atividade ou estána situação descrita na hipótese de incidência: ter propriedade predial territorial urbana (no caso do IPTU), realizar circulação de mercadorias (no caso do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e 41 de Comunicação–ICMS), adquirir disponibilidade jurídica ou econômica de rendas e proventos (no caso do Imposto de Renda–IR) e assim por diante. Entretanto, algumas vezes, por expressa disposição legal, o texto normativo atribui a condição de sujeito passivo a outras pessoas relacionadas com o fato gerador, distintas daquela que praticou o fato gerador. Assim, temos duas categorias de sujeitos passivos: os contribuintes (propriamente ditos), que têm relação direta com o fato gerador, e os responsáveis tributários, que têm relação indireta com o fato gerador, conforme hipóteses expressamente previstas em lei. A condição de sujeito passivo tributário, de qualquer forma, decorre sempre da lei. Acordos privados feitos por pessoas físicas ou jurídicas não podem alterar esta condição de sujeito passivo tributário, nem podem ser opostas ao Estados sob qualquer pretexto. Veja, por exemplo, o proprietário de um imóvel que aluga seu imóvel a outra pessoa e determina no contrato de locação fica estabelecido que o locatário deverá pagar o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Caso este imposto não seja pago e o município vier a cobrar o crédito tributário, o proprietário, que é o locador, não poderá contestar afirmando que por disposição contratual foi determinado que o locatário pagasse o IPTU. Perante o município, o proprietário locador continua sendo o sujeito passivo e responsável pela satisfação do crédito tributário. A capacidade tributária do sujeito passivo é independente da capacidade civil das pessoas naturais, ou seja, mesmo não tendo capacidade civil, se uma pessoa natural realizar o fato gerador, será sujeito passivo tributário e o tributo será devido. O mesmo ocorre com a pessoa jurídica que esteja em situação irregular quanto à sua constituição ou quanto a estar regularmente autorizada a realizar suas atividades. Realizando o 42 fato gerador, será sujeito passivo tributário e o crédito tributário deverá ser satisfeito. O Código Tributário Nacional (CTN) descreve várias hipóteses de sujeito passivo indireto (responsável tributário, distinto do contribuinte). Há responsável tributário por sucessão, por solidariedade e por substituição tributária. Nos casos de solidariedade, são estabelecidas situações em lei que se vierem a ocorrer causarão a transferência da condição de sujeito passivo do contribuinte para o responsável tributário, como, por exemplo, os pais pelos tributos devidos pelos filhos menores, os curadores e tutores pelos tributos devidos pelos curatelados e tutelados, o inventariante pelos tributos devidos pelos espólios e outros. Nos casos de responsabilidade tributária por sucessão, temos a responsabilidade pessoal do adquirente pelos tributos incidentes sobre os bens adquiridos, o espólio pelos tributos devidos pelo de cujos (o falecido), a empresa incorporadora pelos tributos devidos pela empresa incorporada e outras situações semelhantes previstas no Código Tributário Nacional. Por fim, temos o responsável tributário por substituição. Nestes casos, previstos em inúmeros casos na legislação esparsa, a lei determina, desde logo, que o sujeito passivo será o responsável tributário e não o contribuinte, independentemente da ocorrência de quaisquer fatos ou situação. Veja, por exemplo, o caso do empregado que recebe um salário. Ele é o contribuinte, adquiriu disponibilidade econômica de proventos, no entanto, caberá ao empregador reter de seu salário determinado valor e pagar à União Federal, o empregador, assim, é o responsável tributário, substituindo o empregado na relação jurídico tributária. 43 Não basta definir o sujeito ativo e o sujeito passivo da relação jurídico tributária, é necessária também uma atividade do Estado denominada de lançamento. Esta atividade especificará todos os detalhes do crédito tributário e é privativa do Estado, embora, muitas vezes, dependa de informações a serem prestadas pelos contribuintes e também ocorra, algumas vezes, de modo tácito. O lançamento tributário está previsto no artigo 142 do CTN (BRASIL, 1966) e pode se dar de ofício quando a autoridade já tem todas as informações necessárias e notifica o contribuinte para pagar o tributo, informando base de cálculo, alíquota, prazo de pagamento e outros aspectos. Pode-se dar também por homologação (ou tácita), situações em que o próprio contribuinte presta todas as informações necessárias para o cálculo do tributo, informa ao Estado e já paga o tributo. Nesses casos, passados cinco anos sem que o Estado se manifeste, considera-se o tributo lançado por homologação ou tacitamente. Há, ainda, uma terceira hipótese, lançamento por declaração em que o contribuinte presta informações ao Estado e este, com base nestas informações, calcula o tributo devido e notifica o contribuinte para fazer o pagamento. 2. Suspensão e exclusão do crédito tributário Constituído o crédito tributário pelo lançamento, referido crédito por vir a ser suspenso ou excluído por vários motivos. Uma das hipóteses é a apresentação de defesa ou recurso administrativo. Veja-se a situação em que um contribuinte, por algum motivo, deixa de pagar o tributo e é atuado, sendo exigido o pagamento. Apresentando defesa administrativa ou recurso administrativo, enquanto estes não forem julgados, estará suspensa a exigibilidade do crédito tributário. 44 Autoridades fiscais em determinada época adotaram a prática de, logo após lavrar o auto de infração, notificar ao Ministério Público, que promovia ações judiciais por sonegação fiscal. No entanto, os autos de infração estavam sujeitos à defesa administrativa e a recursos administrativos, hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Assim sendo, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou no sentido que a denúncia somente poderia ser oferecida quando não mais houvesse a suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Estabelece a respectiva súmula 24: não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1, incisos I a IV, da Lei n. 8.137/1990, antes do lançamento definitivo do tributo. (BRASIL, 1990, [n. p.]) Outra hipótese é a concessão de liminar em mandado de segurança. Caso o contribuinte impetre um mandado de segurança e seja concedida liminar, enquanto não for julgado que o tributo, é devido e vigorar a liminar, estará suspensa a exigibilidade de referido crédito. Da mesma forma, ocorre com a concessão de tutela antecipada em outras espécies de ações judiciais. Além disso, o crédito tributário também pode ser suspenso em virtude moratória ou parcelamento. Neste último, salvo disposição específica prevista em lei, serão devidos juros e correção monetária. Há também que se destacar que, embora o crédito tributário possa estar suspenso por estes motivos, o contribuinte deve continuar cumprindo suas obrigações acessórias, aquelas relativas ao registro de suas operações e o preparo de relatórios e informações ao Fisco. O depósito do montante integral também é uma das hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Suponhamos que um contribuinte tenha sido autuado, tenha apresentado defesa administrativa, sendo rejeitada sua defesa. Em seguida, apresenta 45 recurso administrativo e este recurso novamente vem a ser rejeitado, neste caso, o Estado, após inscrição na certidão da dívida ativa, poderá promover uma execução fiscal. No entanto, pode o contribuinte se antecipar e promover uma ação judicial anulatória de débito, na qual poderá fazer um depósito judicial do montante que está sendo discutido e assim suspender a exigibilidade do crédito tributário. Sobre a exclusão do crédito tributário,o CTN estabelece duas hipóteses: anistia e isenção. A isenção deve ser específica, definindo os tributos a a que se aplica, a região a que abrange, estabelecida em lei, podendo ser com ou sem encargos, por prazo determinado ou indeterminado e não poderá alcançar tributos criados após sua instituição. A interpretação da isenção deve ser literal, não comportando interpretações extensivas. A lei também pode estabelecer anistia a infrações tributárias, excluindo o crédito tributário correspondente, não podendo, no entanto, alcançar infrações ocorridas após sua instituição. A anistia também não pode alcançar crimes e contravenções e outras práticas, que, mesmo sem assim serem denominadas, tenham se realizado mediante dolo, fraude, simulação ou conluio, pelo contribuinte ou por terceiro em seu benefício. Ao conceder a anistia e excluir o crédito tributário, o Estado pode fazer isso em caráter geral ou de modo limitado. Nesta última hipótese, especificando quais infrações a quais tributos; limites de valor das penalidades anistiadas; regiões que serão beneficiadas e, ainda, sob a condição de pagamento de determinado tributo. 3. Extinção do crédito tributário A maneira mais simples e objetiva de extinguir o crédito tributário, é pelo seu pagamento. Constituído o crédito tributário pelo sujeito ativo, 46 realiza o sujeito passivo seu pagamento, no prazo, valor e condições estabelecidas, cumpre as obrigações acessórias e está extinto o crédito tributário. Por vezes, o contribuinte tem algum valor a receber do Estado pelo pagamento indevido de tributos e pode usar estes valores a receber para compensar com os créditos tributários que o Estado tem contra o contribuinte. Nestes casos, pode ser feita a compensação de créditos e débitos, extinguindo-se também o crédito tributário. A isso se dá o nome de extinção do crédito tributário por compensação. Por um longo período de tempo, contribuintes obtiveram liminares em ações judiciais para fazer compensações, no entanto, a legislação alterou para proibir tal prática e, assim sendo, por meio da Lei complementar n. 104, de 10 de janeiro de 2001 (BRASIL, 2001) vedada a compensação do tributo antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial. A prescrição e a decadência são outras hipóteses de extinção do crédito tributário. Nestes casos, em decorrência do decurso do tempo. No caso da decadência, o crédito ainda não foi constituído, não houve o lançamento e passaram-se cinco anos do primeiro dia do exercício seguinte aquele em que poderia ter sido lançado (CTN, 173, I) ou “da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. (CTN, 173, II), Lei n. 5172, de 25 de outubro de 1966 (BRASIL, 1966). Já no caso da prescrição, já ocorreu o lançamento, o crédito já foi constituído, porém, o Estado perde o prazo para demandar a cobrança judicial do crédito, prazo este contado da sua constituição definitiva e contado em cinco anos também. A legislação prevê hipóteses de interrupção da prescrição: pelo despacho judicial que ordena a citação da execução fiscal; pelo protesto judicial; por qualquer ação judicial que constitua em mora o devedor, ou ainda por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento judicial do débito pelo devedor. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lcp%20104-2001?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lcp%20104-2001?OpenDocument 47 Outras hipóteses de extinção do crédito tributário são a transação, a remissão, a conversão do depósito em renda, o pagamento antecipado e a homologação do lançamento, a consignação em pagamento, a decisão administrativa irreformável e que não possa ser objeto de ação anulatória, a decisão judicial passada em julgado e a dação em pagamento de bens imóveis. Nos casos de transação, deve a lei estabelecer, com indicação da autoridade competente para fazer a transação, os parâmetros por meio dos quais mediante concessões mútuas do sujeito ativo e do sujeito passivo deve ser terminado litígio e assim extinto o crédito tributário. Nos casos da remissão, o crédito é extinto, de modo integral ou parcial, atendendo a situação econômica do sujeito passivo, a ignorância ou erros escusáveis quanto à situação de fato, o valor diminuto do tributo, considerações de equidade, condições peculiares à determinada região do território do ente tributante., conforme o Código Tributário Nacional, Lei n. 5172 de 25 de outubro de 1966 (BRASIL, 1966). Nos casos em que um tributo esteja sendo questionado judicialmente e a parte tenha feito o depósito judicial, deste momento, poderá suspender a exigibilidade do crédito tributário e evitar uma execução fiscal. Se após vencidas as várias instâncias e vários recursos, a parte restar vencida, aquele valor poderá ser convertido em renda, extinguindo-se o crédito tributário. Uma outra maneira de se extinguir o crédito tributário é mediante a homologação do lançamento. Nos tributos em que cabe ao contribuinte prestar informações e declarações e já fazer o pagamento do tributo apurado, decorridos cinco anos a partir do exercício seguinte, considera- se o crédito homologado e, consequentemente, o crédito tributário estará extingo. 48 Temos, ainda, como outra hipótese de extinção do crédito tributário, a decisão administrativa irreformável, que não possa ser objeto de ação anulatória. Vencidos os recursos administrativos e proferida a decisão administrativa, ainda é possível que haja uma ação judicial anulatória. Decorrido o prazo para esta propositura, a decisão administrativa torna- se irreformável e extinto o crédito tributário. O contribuinte pode promover alguns tipos de ações judiciais para questionar o crédito tributário, caso venha a obter uma decisão favorável em primeira instância, o sujeito ativo proporá recursos até que seja proferida uma decisão final com trânsito julgado. Sendo esta decisão favorável ao contribuinte, o crédito tributário estará também extinto, sendo esta outra hipótese de extinção do crédito tributário, a decisão judicial com trânsito em julgado. Referências AMARO, L. Direito Tributário Brasileiro. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. ANDRADE FILHO, E. O. Planejamento Tributário. São Paulo: Saraiva, 2016. ATALIBA, G. Hipótese de Incidência Tributária. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975. ATALIBA, G. República e Constituição. 1. ed. São Paulo: RT, 1995. BALEEIRO, A. Limitações constitucionais ao poder de tributar. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1974. BECKER, A. A. Teoria Geral do Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Lejus, 1998. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. 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Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172.htm. Acesso em: 30 jun. 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 8137, de 27 de dezembro de 1990. Brasília, 1990. Disponívelem: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8137.htm. Acesso em: 1 jul. 2022. CARRAZA, R. A. ICMS. 16. ed. São Paulo: Mallheiros, 2012. CARVALHO, P. de B. Compliance no Direito Tributário. São Paulo: Thomson Reuters, 2018. CARVALHO, P. de B. Curso de Direito Tributário. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. CREPALDI, S. Planejamento Tributário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. COELHO, S. C. N. Manual de Direito Tributário. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. LARA, D. S.; PISCITELLI, T. (coord.). Tributação da Economia Digital. 2. ed. São Paulo: Thomsom Reuters, 2020. MACHADO, H. de B. Curso de Direito Tributário. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. MACHADO, H. de B. Introdução ao Planejamento Tributário. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2019. 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Introdução à legislação tributária Referências Referências 3. Limitações ao poder de tributar 1. Competência legislativa tributária Objetivos 2. Rol de tributos Vigência, aplicação, integração e interpretação da lei tributária. Obrigação Tributária Objetivos 1. Vigência e aplicação 2. Interpretação e integração da lei tributária 3. Obrigação tributária Referências Crédito Tributário; Lançamento Tributário. Suspensão, Extinção e Exclusão do Crédito Tributário Objetivos 1. Crédito tributário 2. Suspensão e exclusão do crédito tributário 3. Extinção do crédito tributário Referências