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Literatura Feminina e Afro-brasileira


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quanto porque há um aumento do número de mulheres que passam a 
escrever sem medo da rejeição ou recriminação, como também porque surge 
um interesse cada vez maior de resgate da produção feminina relegada ao 
esquecimento pelo cânone de uma sociedade patriarcal conservadora.
Esse fato pode ser visto, por exemplo, no Brasil, onde as aparições de 
poucas escritoras reconhecidas por volta dos anos 1930 e 1940 (Raquel de 
Queirós, Cecília Meireles e Clarice Lispector) abrem as portas para várias 
outras, a partir dos anos 1970: Lígia Fagundes Telles, Hilda Hilst, Nélida 
Piñon, Lya Luft, Adélia Prado, Patrícia Bins, Sônia Coutinho, Zulmira 
Tavares, Márcia Denser, Marina Colasanti, Judith Grossman e Patrícia Melo, 
dentre tantas outras.
Quanto à literatura negra ou literatura afro-brasileira, a questão 
é ainda mais recente e compreende a busca de autorreferencialidade, por isso 
há uma hesitação relacionada ao uso dos termos "literatura negra" ou a 
"literatura afro-brasileira". A pesquisadora Zilá Bernd considera que a 
primeira nomeação vai além da nacionalidade ou da língua, direcionando 
esta produção para "um espaço ou território supranacional e 
supraidiomático no qual os autores constituem uma mesma comunidade de 
destino" (BERND, 1987, p. 80), ao passo que a nomeação "literatura afro-
brasileira" refere-se apenas a uma "literatura empenhada em resgatar uma 
ancestralidade africana" (idem).
Como nosso objetivo é fornecer algumas informações iniciais 
sobre o assunto, não avaliaremos prós e contras de nenhuma 
destas, mas elencaremos alguns fatos e propostas sob a 
concepção dos Estudos Culturais que propõe o critério de 
transgressão, de questionamento e reivindicação de uma voz 
própria para sua comunidade. Dessa forma, a literatura negra ou 
literatura afro-brasileira, hoje, é aquela criada com o intuito de 
desconstruir as normas ou visão da literatura "branca" ou 
europeia dominante para apresentar uma linguagem própria, 
original que represente a identidade cultural do grupo. 
A partir da década de 1960 surgiram associações e movimentos 
organizados que buscam, por meio de discussões e afirmações de identidade, 
valorizar a cultura afro no Brasil, paulatinamente a discussão foi tomando os 
meios intelectuais e recentemente a inclusão do estudo das culturas africana 
e ameríndia foi oficializada no curriculo escolar brasileiro. Ação que exigiu a 
criação de disciplinas específicas que atendessem a necessidade de formação 
de professores especialistas no assunto. Atualmente vários Cursos de Letras 
de diferentes Instituições de Ensino Superior, bem como alguns de Pós-
Graduação, têm em sua grade curricular as disciplinas de Literaturas 
Africanas e Cultura Africana. 
Todavia, os escritores e poetas negros são pouco conhecidos, já que suas 
obras ainda não alcançaram penetração nos canais oficiais, como editoras, 
revistas, livrarias e bibliotecas e até mesmo nas universidades, 
diferentemente do meio musical que apresenta uma diversidade maior. 
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