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o céu, a terra, o fogo e o mar irado, não do confuso caos, como cuidou a falsa teologia e povo escuro, que nesta só verdade tanto errou; não dos átomos falsos de Epicuro; não do largo oceano, como Tales, mas só do pensamento casto e puro. Olha, animal humano, quanto vales, que por ti este grande Deus padece novo modo de morte, novos males. Olha que o sol no Olimpo se escurece, não por oposição doutro planeta, mas só porque virtude lhe falece. Não vês que a grande máquina inquieta do mundo se desfaz toda em tristeza, e não por natural causa secreta? Não vês como se perde a natureza; o ar se turba; o mar, batendo, geme, desfazendo das pedras a dureza? Não vês que os montes caem, a terra treme e que, até na remota e grande Atenas o sábio Dionísio sente e teme? Ó sumo Deus, tu mesmo te condenas, polo mal em que eu só sou tão culpado, a tamanhas afrontas, tantas penas! Por mim, Senhor, no mundo reputado por falso e por quebrantador da lei, a fama a ti se põe de meu pecado. 82