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Mas, pois que tenho acabado quanto lá cantei ao vento, fique a voz ao esquecimento, e c'o canto sepultado, fique também o instrumento. E, se eu, por vida cruel, idolatrar contra ti, ó Jerusalém fiel, dure eternamente em mi a confusão de Babel! EXEMPLO: ANTÔNIO BARBOSA BACELAR A uma ausência Sinto-me, sem sentir, todo abrasado No rigoroso fogo que me alenta; O mal, que me consome, me sustenta; O bem, que me entretém, me dá cuidado. Ando sem me mover, falo calado; O que mais perto vejo, se me ausenta, E o que estou sem ver, mais me atormenta; Alegro-me de ver-me atormentado. Choro no mesmo ponto em que me rio; No mor risco me anima á confiança; Do que menos se espera estou mais certo. Mas se de confiado desconfio, É porque, entre os receios da mudança, Ando perdido em mim como em deserto. EXEMPLO: JERÔNIMO MAIA Sonhando que via a Márcia Pintais, sono gentil, com belo ornato Meu claro sol na vossa sombra escura, Que posto que da morte sois retrato, Retrato sabeis ser da fermosura. Eu, vendo o grato rosto e peito ingrato, Quando fermosa a sigo a temo dura; Porém firme no amor, fácil no trato, Me coroa a esperança, a fé me jura. Cante pois por tal glória, por tal sorte, Cante vosso louvor, minha Talia No Ocaso, no Oriente, Sul e Borte; 147