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NIVELAMENTO EM Língua Portuguesa Módulo 3 CONCORDÂNCIA VERBAL NIVELAMENTO EM Língua Portuguesa Módulo 3 CONCORDÂNCIA VERBAL Para dar início a este Módulo, leia a divertida crônica Eloquência singular, de Fernando Sabino: Mal iniciara seu discurso, o deputado embatucou: _ Senhor Presidente: não sou daqueles que... O verbo ia para o singular ou para o plural? Tudo indicava o plural. No entanto, podia perfeitamente ser o singular: _Não sou daqueles que... Não sou daqueles que recusam...No plural soava melhor. Mas era preciso precaver-se contra as armadilhas da linguagem – que recusa? – e ele tão facilmente caía nelas, e era logo massacrado com um aparte. Não sou daqueles que... Resolveu ganhar tempo: _ ...embora perfeitamente cônscio das minhas altas responsabilidades, como representante do povo nesta Casa, não sou... Daqueles que recusa, evidentemente. Como é que podia ter pensado em plural? Era um desses casos que os gramáticos registram nas suas questiúnculas de português: ia para o singular, não tinha dúvida. Idiotismo da linguagem, devia ser. _ ... daqueles que, em momentos de extrema gravidade, como este que o Brasil atravessa... Safara-se porque nem se lembrava do verbo que pretendia usar: _ Não sou daqueles que... Daqueles que o quê? Qualquer coisa, contanto que atravessasse de uma vez essa traiçoeira pinguela gramatical em que sua oratória lamentavelmente se havia metido logo de saída. Mas a concordância? Qualquer verbo servia, desde que conjugado corretamente, no singular. Ou no plural. _ Não sou daqueles que, dizia eu, _ e é bom que se repita sempre, senhor Presidente, para que possamos ser dignos da confiança em nós depositada... Intercalava orações e mais orações, voltando sempre ao ponto de partida, incapaz de se definir por esta ou aquela concordância. Ambas com aparência castiça. Ambas legítimas. Ambas gramaticalmente lídimas, segundo o vernáculo: _ Neste momento tão grave para os destinos da nossa nacionalidade... Ambas legítimas? Não, não podia ser. Sabia bem que a expressão “daqueles que” era coisa já estudada e decidida por tudo quanto é gramaticoide por aí, qualquer um sabia que levava o verbo para o plural: _ ...não sou daqueles que, conforme afirmava... Ou no singular? Há exceções, e aquela bem podia ser uma delas. Daqueles que. Não sou UM daqueles que. Um que recusa, daqueles que recusam. Ah! O verbo era recusar: _ Senhor Presidente. Meus nobres colegas. A concordância que fosse para o diabo. Intercalou mais uma oração e foi em frente com bravura, disposto a tudo, afirmando não ser daqueles que... _ Como? Acolheu a interrupção com um suspiro de alívio: _ Não ouvi bem o aparte do nobre deputado. Silêncio. Ninguém dera aparte nenhum. _ Vossa Excelência, por obséquio, queira falar mais alto, que não ouvi bem. _ e apontava, agoniado, um dos deputados mais próximos. _ Eu? Mas eu não disse nada... _ Terei prazer em responder ao aparte do nobre colega. Qualquer aparte. O silêncio continuava. Interessados, os demais deputados se qgrupavam em torno do orador, aguardando o desfecho daquela agonia, que agora já era, como no verso de Bilac, a agonia do herói e a agonia da tarde. _ Que é que você acha? _ cochichou um. _ Acho que vai para o singular. _Pois eu não: para o plural, é lógico. O orador prosseguia na sua luta: _ Como afirmava no começo do meu discurso, senhor Presidente... Tirou o lenço do bolso e enxugou o suor da testa. Vontade de aproveitar-se do gesto e pedir ajuda ao próprio presidente da mesa: por favor, apura aí pra mim como é que é, me tira desta... _ Quero comunicar ao nobre orador que seu tempo está esgotado. _Apenas algumas palavras, senhor Presidente, para terminar o meu discurso: e antes de terminar, quero deixar bem claro que, a esta altura de minha existência, depois de mais de vinte anos de vida pública... E entrava por novos desvios: _ Muito embora...sabendo perfeitamente...os imperativos de minha consciência cívica...senhor Presidente...e o declaro peremptoriamente... não sou daqueles que... O Presidente voltou a adverti-lo de que o tempo se esgotara. Não havia mais por onde fugir: _ Senhor Presidente, meus nobres colegas! Resolveu arrematar de qualquer maneira. Encheu o peito e desfechou: _ Em suma: não sou daqueles. Tenho dito. Houve um suspiro de alívio em todo o plenário, as palmas romperam. Muito bem! Muito bem! O orador foi vivamente cumprimentado. Aposto que você também ficou curioso quanto à concordância do verbo com o sujeito um daqueles que! No caso das expressões um dos que, uma das que – quando se deseja realçar a ação verbal, usa-se o verbo no plural e quando se deseja realçar o sujeito da ação verbal, em que haja a idéia de exclusividade, usa-se o verbo no singular. Então, Eu não sou um daqueles que recusa... OU Eu não sou um daqueles que recusam... NIVELAMENTO EM Língua Portuguesa Módulo 3 - CONCORDÂNCIA VERBAL Unidade 1 Regras gerais de concordância verbal Quando falamos em concordância verbal, estamos considerando a coerência entre o verbo e seu respectivo sujeito; assim como não podemos dizer “a gente vamos”, não podemos dizer “eu fomos” ou “nós foi”. No dia-a-dia, em nossa comunicação com as pessoas, para dar coerência ao nosso texto, precisamos praticar a concordância verbal e, naturalmente, obedecer a algumas regrinhas básicas. As regras gerais são: 1- Quando existe um único sujeito, o verbo deve concordar com o núcleo do sujeito: Eu falo. As meninas correm. Nós compramos. As empresas de São Paulo vendem diretamente seu produto. O índice de óbitos está acima do esperado. Bastam não mais do que alguns quilômetros para alcançá-lo. 2- No caso de sujeito composto, o verbo vai para o plural: As casas de veraneio e os pescadores compõem o cenário da região. Acabam o acúmulo de aposentadorias e a aposentadoria especial. 3- Quando há mais de um sujeito e aparece a 1ª pessoa, esta prevalece e a concordância se faz na 1ª pessoa do plural: Eu, tu e ele estudamos no UNIFEMM. 4- Embora a regra mande prevalecer a 2ª pessoa na ausência da 1ª, é a 3ª pessoa que tem prevalecido. Assim, é possível o uso do verbo tanto na 2ª pessoa quanto na 3ª pessoa do plural: Tu e ele (vós) estudais ou (vocês) estudam engenharia. 5- Quando o sujeito é indeterminado, o verbo fica na 3ª pessoa do plural: Assaltaram o banco. NIVELAMENTO EM Língua Portuguesa Módulo 3 - CONCORDÂNCIA VERBAL Unidade 2 Casos especiais de concordância do verbo com o sujeito simples Nesta Unidade, vamos estudar alguns casos especiais de concordância. Acompanhe o texto com atenção e verá que é tudo bastante simples. Vamos adiante. 1º caso Expressões partitivas (uma porção de..., a maioria de..., a maior parte de ..., grande parte de..., boa parte de ..., grande número de...) seguidas de termos que as especifiquem podem fazer a concordância de duas maneiras. O verbo pode ficar no singular (concordando com o núcleo do sujeito=maioria) como pode ficar no plural (concordando com o nome plural posposto à expressão partitiva=candidatos) A maioria dos candidatos já DESISIU ou DESISTIRAM. 2º caso 1- Quando o sujeito é o pronome relativo QUE, o verbo concorda com o antecedente dele. Não fomos nós que dissemos essa mentira. 2- Já quando o sujeito for o pronome relativo QUEM, o verbo pode concordar com o pronome quem e ficar na 3ª pessoa do singular ou concordar com o antecedente do quem. Fui eu quem chamou seu nome. Fui eu quem chamei seu nome. 3º caso Quando o sujeito for uma palavra que só se usa no plural, há duas diferentes situações a observar: 1- Se vier precedido de artigo, o verbo concordará com esse artigo; Os Estados Unidos estão apreensivos com a crise instaladana região. O Amazonas é um estado rico em paisagens naturais. 2- Se não vier precedido de artigo, o verbo ficará no singular. Montes Claros está em franco desenvolvimento. Santos fica em São Paulo. 4º caso Quando o sujeito é formado pelas expressões mais de um, cerca de, perto de, seguida de numerais, o verbo concorda com o numeral. Mais de um aluno foi envolvido no crime. Cerca de dez profissionais faltaram ao serviço. 5º caso Em caso de sujeito representado por fração, o verbo concorda com o numerador. Um terço compareceu. Três quartos das fraudes foram cometidos pelos empregados. 6º caso Em caso de sujeito coletivo: 1- O verbo fica no singular O casal não resistiu e caiu no samba. O bando assaltava quem passasse por ali. 2- Se o coletivo estiver acompanhado de expressão no plural, o verbo pode ficar no singular, concordando com o coletivo ou no plural concordando com a expressão. Um grupo de artistas iniciantes alugou o imóvel. Um grupo de artistas iniciantes alugaram o imóvel. 7º caso No caso das expressões um dos que, uma das que – quando se deseja realçar a ação verbal, usa-se o verbo no plural e quando se deseja realçar o sujeito da ação verbal, em que haja a ideia de exclusividade, usa-se o verbo no singular. Ele foi um dos que convocaram os funcionários para a assembleia. Senhora é um dos romances de José de Alencar que caiu no teste. NIVELAMENTO EM Língua Portuguesa Módulo 3 - CONCORDÂNCIA VERBAL Unidade 3 Casos especiais de concordância do verbo com o sujeito composto Agora, vamos conversar a respeito da concordância do verbo com o sujeito composto. É claro que você sabe que, de modo geral, o sujeito composto leva o verbo para o plural, como neste exemplo: O professor e os alunos fizeram uma visita técnica ontem. Observe: o sujeito tem dois núcleos – professor e aluno, trata-se de sujeito composto. Dessa forma, o verbo deverá ficar no plural. Essa é a regra geral.Vamos, agora, analisar casos de sujeito composto com maneiras diferentes de concordância verbal. 1º caso Quando os núcleos do sujeito composto forem resumidos por um pronome indefinido (tudo, nada, ninguém, nenhum, alguém), o verbo fica obrigatoriamente no singular. Alunos e professores, ninguém compareceu à cerimônia. Viagens, festas, nada o alegrava. 2º caso Em caso de sujeito composto posposto ao verbo, este concorda com o núcleo mais próximo ou vai para o plural. Do magro cardápio, consta feijão, arroz e farinha. (verbo concorda com feijão, núcleo mais próximo) Do magro cardápio, constam feijão, arroz e farinha. (verbo concorda com os três núcleos do sujeito) 3º caso Sujeito formado pelas seguintes expressões: 1- Um ou outro – leva o verbo para o singular Um ou outro terá que falar. 2- Um e outro, nem um nem outro, nem...nem – levam o verbo para o plural Nem um nem outro admitiram o erro. NIVELAMENTO EM Língua Portuguesa Módulo 3 - CONCORDÂNCIA VERBAL Unidade 4 Concordância do verbo haver, fazer e ser Vamos relembrar, nesta Unidade, alguns casos de concordância relacionados a verbos muito usados em nossa comunicação: o verbo haver, o fazer e o ser. Por serem muito usados, precisamos identificar as situações em que a concordância é especial para não cometermos deslizes. Preste atenção às regras e aos exemplos e tudo ficará mais fácil. 1- Verbo haver Quando usado no sentido de existir, ele só é usado no singular, nunca vai para o plural. Ele é impessoal. Em caso de locução verbal, ele passa a impessoalidade para o verbo auxiliar. Havia cobras e lagartos naquele ambiente. Em um jogo, sempre há titulares e reservas. Deve haver muitos empresários na reunião. 2- Verbo fazer No sentido de tempo decorrido, o verbo fazer só é usado no singular. Em caso de locução verbal, ele passa a impessoalidade para o verbo auxiliar. Faz dez minutos que houve o último gol. Vai fazer cinco anos que não tiro férias. 3- Verbo ser Quando o verbo ser indica tempo, ele vai concordar com o numeral que aparece no predicativo. É uma hora da tarde. Deve ser uma hora da tarde. São duas horas. Pode ser meio-dia e meia. Atenção: Na indicação de dia do mês, o verbo ser fica no singular quando a palavras dia anteceder o numeral. Hoje é dia quinze. Hoje são quinze. Quando o sujeito é constituído por expressões que indicam quantidade, valor, medida, preço, o verbo SER fica sempre no singular. Mil dólares é muito por esse trabalho. Dez quilômetros é demais para mim. Dois ovos é suficiente para um bolo. Se o sujeito estiver no singular e o predicativo estiver no plural (ou vice- versa), a concordância se fará com o que estiver no plural. O amor são sonhos. Se o sujeito ou o predicativo estiver se referindo a uma pessoa, o verbo SER concordará com a pessoa. Laura era as preocupações do chefe. Se o sujeito ou predicativo for pronome pessoal, o verbo concordará com o pronome. Os necessitados somos nós. Quando houver na função de sujeito e de predicativo um nome de pessoa e um pronome pessoal (ou vice-versa), o verbo deverá concordar com o pronome pessoal. Eu sou Paulo. Paulo sou eu. Quando o sujeito e o predicativo estiverem representados por pronomes pessoais, o verbo concordará com o pronome que exerce a função de sujeito. Eu não sou ele e ele não é eu.