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Síntese entre Filosofia e Economia

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Universidade de São Paulo
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto
Economia Política Clássica
 REC2401 / 2023
Da crítica da economia ao materialismo histórico
9ª aula
Manuscritos Econômico-Filosóficos
Primeira tentativa de síntese entre a filosofia alemã e a economia política inglesa.
Estuda a transformação do capitalismo (movimento da realidade) seguindo o movimento dos conceitos.
Propriedade privada como a raiz de todos os tipos de alienações.
O papel subsequente da teoria da alienação na trajetória de Marx
“... para que os filósofos possam compreender” ou “para agradar aos filósofos”.
Em 1844, não é a expressão definitiva de seu pensamento.
Diferentes significados de alienação, em especial, a alienação como subordinação da vida genérica à vida empírica.
Em que condições o trabalho não seria mais alienado?
Não trabalhar.
Não se submeter ao trabalho assalariado => supressão da propriedade privada e esquemas de contrapartidas pelo trabalho. 
Não trabalhar para produzir mercadoria => planificação geral. O trabalho produz um objeto concebido como diretamente útil à satisfação das necessidades.
Superar a divisão do trabalho => fim da atividade parcelar, não escolhida livremente. A Ideologia Alemã: é possível conceber ir pescar pela manhã, caçar à tarde e dedicar-se em seguida a outra atividade etc.
Como superar a divisão do trabalho?
Formação politécnica: não aprisionar o indivíduo a uma única atividade parcelar por toda a vida.
Superar o caráter acidental dela => escolha do trabalho que corresponda a disposições e capacidades
Desalienação como a realização total do homem
No capitalismo, cada pessoa é capaz de recolher ou absorver apenas um pequena parte da imensa riqueza gerada.
Como os indivíduos poderiam alcançar a riqueza criada pela humanidade globalmente? 
O papel de Feuerbach na síntese entre filosofia e economia
A economia política clássica é abstrata (mais conceitos que estatísticas)
Marx encontra na obra dos economistas as contradições do capitalismo (dismal science).
Conceito de trabalho no centro do pensamento tanto de Hegel quanto nos economistas clássicos.
Os economistas clássicos extraem a propriedade do trabalho.
Qual a filosofia de Marx em 1844?
A transfiguração filosófica da revolução comunista
Comunismo: “Ele é o enigma resolvido da história e é como tal solução que ele se conhece”.
Em 1844, Marx está bastante influenciado pro Feuerbach e Hegel.
“Feuerbach é o único a ter uma atitude séria, crítica, com a dialética hegeliana, tendo feito verdadeiras descobertas nesse domínio; ele, em suma, é o verdadeiro vencedor da antiga filosofia.”(MEF) 
As façanhas de Feuerbach, segundo Marx:
A filosofia é a religião em forma de ideias, é uma outra forma de alienação => a filosofia explica o sentido da religião => Hegel permaneceu no mundo religioso ou alienado porque não toma como ponto de partida o homem concreto. 
Homem ser biológico e ser social:
Faz da relação social do homem ao homem o princípio básico da teoria 
Funda assim o materialismo e a ciência real
Homem concreto, homem ser natural como base para toda filosofia 
O verdadeiro materialismo é o naturalismo 
O homem concreto ou o homem ser biológico é o sujeito, a substância
Ao enfatizar a relação entre os homens, o homem é ao mesmo tempo um ser social. 
O positivo absoluto não está na negação da negação, mas está fundado em si próprio.
Sobre o terceiro ponto:
Hegel: movimento dos conceitos sob a forma tese, antítese e síntese. A filosofia converge para o saber absoluto em que todas as verdades anteriores, todos os momentos anteriores são ao mesmo tempo conservados e superados.
O ateísmo de Feuerbach não é a negação do teísmo, mas o absoluto positivo: o homem concreto, que voltou a si e tomou consciência do que é, não precisa negar nada, apenas parte do positivo do homem, ser natural que cria a si próprio através da história. 
A influência de Hegel
Testos de Hegel comentados por Marx: A Filosofia do Direito; A Fenomenologia do Espírito e Enciclopédia. Nunca discutiu a Filosofia da história.
Não há nos textos de Marx referências diretas à dialética do senhor e do escravo. 
MEF: “A grandeza de A fenomenologia de Hegel e de seu resultado final – a dialética da negatividade como princípio motor e criador – consiste, de um lado, nisso de Hegel apreender a produção do homem por si mesmo como um processo, a objetivação como desobjetivação, como alienação e supressão da alienação; nisso, então, de ele apreender a essência do trabalho e conceber o homem objetivo, verdadeiro porque real, como resultado de seu próprio trabalho”.
Visão da história...
É a criação do homem por si mesmo: o homem como história do homem. 
O homem cria realidades objetivas que se tornam exteriores e estranhas.
O homem se aliena no processo de criação.
Solução do enigma da história: desemboca da autocriação em uma autoalienação, depois em uma retomada das alienações...
A criação se opera por intermédio do trabalho (homem cria a si mesmo através da objetivação, da alienação e da retomada das alienações).
Trabalho como essência em Hegel
Essência verificada do homem.
Vê apenas o lado positivo do trabalho e não seu lado negativo.
“O trabalho é o devir para si do homem no interior da alienação ou enquanto homem alienado”. (MEF)”
“O único trabalho que Hegel conhece e reconhece é o trabalho abstrato do espírito”.(MEF)
Marx enfatiza o trabalho verdadeiro do homem concreto.
Processo metafísico versus processo real do homem concreto
Processo abstrato em Hegel: espírito (a ideia) envolvido no processo de objetivação; na fase final (saber absoluto) retoma e conserva as aquisições anteriores.
Marx: processo real, concreto e histórico. 
Objetivação e alienação
Nem sempre é a mesma coisa.
Em Hegel: toda objetivação é afinal alienação, pois o espírito só se satisfaz quando se encontra a si mesmo em seus objetos (quando a subjetividade coincide com a objetividade).
Em Marx: a objetivação é um processo histórico concreto que se torna alienação em certas circunstâncias. Pode não existir quando se compreende o processo real.
A retomada das alienações
Por meio da revolução, em Marx.
Em Hegel: “O ato de autoengendramento e de auto-objetivação do homem foi concebido [por Hegel] de maneira formal e abstrata” => a alienação não fora suprimida => todas a fases anteriores e todas as situações são conservadas ao serem simplesmente pensadas. => a retomada das alienações se opera simplesmente pelo fato de os objetos serem pensados.
Mas pensar os objetos não significa transformá-los: em Hegel, tudo permanece em seu estado. Em Marx, haveria a verdadeira transformação.
O naturalismo de Marx
Naturalismo consequente ou humanismo.
Oposição ao idealismo.
Só o naturalismo é capaz de compreender o ato da história.
Combina os pensamentos de Hegel e de Feuerbach.
Marx substitui com o ser concreto, o ser natural, a substância ou ideia hegelianas => Marx o feuerbachiano! 
Teses sobre Feuerbach
As 11 famosas teses
Um pouco posteriores aos MEF.
A melhor aproximação da filosofia de Marx nessa época.
Marx retoma as três críticas fundamentais de Feuerbach a Hegel.
Agora, Marx é um crítico de Feuerbach, pois o naturalismo deste teria um caráter não histórico.
Marx: não existe uma essência do homem definida de maneira eterna, pois o homem é criado na e pela história
A essência humana é o conjunto das relações sociais
 Homem ser natural mas também social!
Feuerbach faz abstração da marcha histórica e trabalha apenas com um indivíduo humano abstrato isolado.
A essência não pode ser tomada enquanto gênero, universalidade interior, reatando naturalmente os diversos indivíduos.
O próprio sentimento religioso é um produto social. O individuo pertence sempre a uma determinada forma social. Não existe essência supra- histórica do homem.
O homem é o conjunto das relações sociais, e essas relações se transformam continuamente através da história
A alienação em pensamento só se explica pela alienação real
“Uma vez que se descobriu na famíliaterrestre o mistério da sagrada família, é preciso que aquela primeira seja aniquilada na teoria e na prática”. (Marx)
Destruir o que há de falso na família terrestre para eliminar a alienação religiosa.
A falsidade da consciência religiosa se explica pela falsidade da existência vivida.
Prática e práxis
Nas Teses sobre Feuerbach.
Práxis: ação revolucionária (“Os filósofos simplesmente interpretaram o mundo de diferentes maneiras, trata-se de mudá-lo ou modificá-lo”(11ª tese)). 
Sentido tradicional de prática: caráter ativo da percepção, da atividade intelectual (tese idealista).
Novo sentido (práxis): atividade sensível-humana prática (primeira tese) => compatível com a interpretação idealista, mas além de ativo (reconhece-se o caráter ativo da percepção ou da apreensão da realidade exterior) há um segundo sentido da práxis: atividade industrial que consiste em mudar o mundo.
O efeito da práxis...
Humaniza a natureza e naturaliza o homem.
Por intermédio do trabalho as coisas exteriores tomam uma forma humana (realidades objetivas e humanizadas).
Mundo dos objetos ao mesmo tempo naturais e humanos.
Naturalizar o homem: ele cumpre sua natureza e se encontra mergulhado em uma natureza que ele próprio humanizou.
Três sentidos de práxis:
Prática revolucionária.
Atividade incluída na percepção e em toda atividade dos sentidos e do espírito.
Atividade industrial que muda o mundo.
Contribuição dos economistas clássicos na formação do pensamento de Marx
A origem de toda riqueza está no trabalho.
Ênfase no trabalho industrial como a forma mais abstrata e mais indiferenciada do trabalho (aumenta a alienação). 
A questão da verdade
Não é uma questão teórica, mas prática (2ª tese).
“A querela sobre a realidade ou não-realidade do pensamento – isolada da prática – é uma questão puramente escolástica” (Marx)
Doutrina pragmatista da verdade (Aron): é pela capacidade de manuseio, de manipulação ou pela eficácia do pensamento que se resolve a questão da verdade.
A questão da verdade é uma questão prática (eficácia da ação)!
Outra noção defendida: o conteúdo da percepção é transformado pela indústria.
Tese algo obscura que aponta no sentido da reconciliação do homem com a natureza no comunismo.
Visão decorrente:
O mundo está humanizado e o homem está desumanizado, pois cada um não participa ou mal participa das riquezas criadas objetivamente no mundo.
Na retomada da alienação haveria uma possibilidade de se reintegrarem ao homem as riquezas criadas pela própria humanidade no decorrer de sua história.
Nesse momento, estando a natureza humanizada e o homem naturalizado, haveria também uma espécie de reconciliação de termos hoje opostos.
Três teses gerais do jovem Marx:
Homem como ser sensível, natural e ativo. Como parte da natureza. Define-se como um animal ou um ser social, criador de si mesmo na e pela história.
O homem ainda se encontra perdido. Pois os objetos que criou o mantém prisioneiro. Ele se tornou estranho a si mesmo em um universo que é criação sua. É necessário uma revolução para que ele reintegre as riquezas que materializou.
A perda do homem na história tem como origem a propriedade privada que acarreta a alienação do trabalho. A retomada das alienações tem como condição uma revolução incidindo sobre as forças de produção e a propriedade.
Por que haverá revolução?
Ver o desenvolvimento das forças produtivas.
Com esse desenvolvimento, as relações sociais se tornam insustentáveis.
Mais do que a necessidade da retomada das alienações.
Período final do jovem Marx: de 1845 ao Manifesto Comunista
Perda de importância do tema da alienação.
Encontro com Engels.
O que levou à crítica econômico-filosófica? => alienação do trabalho como um processo histórico (não é apenas o processo metafísico da objetivação) => da crítica à interpretação da história!
O papel da história
Marx identifica no devir histórico o mecanismo que torna necessária a retomada das alienações.
Hegel: movimento dos conceitos, movimento racional que explica a própria análise dos conceitos, movimento hegeliano de objetivação-alienação.
Marx: movimento histórico de alienação não ligado essencialmente ao movimento de objetivação. Por que o desenvolvimento histórico tomou a forma da alienação? Por que o movimento de alienação se resolverá a si mesmo na revolução? 
Natureza histórica do processo de autocriação do homem => teoria da história que mostre a necessidade (determinismo) dos movimentos de alienação e de retomada das alienações (será enunciada no Manifesto Comunista).
Encontro com Engels em Paris
Engels oferece a Marx um conhecimento mais direto e mais detalhado da realidade de seu tempo.
Engels tinha uma estatura intelectual bem menor que a de Marx.
Duas obras de coautoria: A Sagrada Família e A Ideologia Alemã.
Crítica aos jovens hegelianos.
Mudança de estilos: menos fórmulas filosóficas, necessidades internas de desenvolvimento do pensamento de Marx, ênfase na interpretação da história.
A Ideologia Alemã oferece uma concepção menos rígida da interpretação materialista da história. 
Pontos essenciais de A Ideologia Alemã
Retomada do naturalismo.
Etapas da evolução da história (necessidades prioritárias, criação de necessidades novas, relações familiares, força de produção, consciência como expressão superior da atividade humana, análise da dialética da história e das contradições da realidade).
Análise da dialética histórica. Tríade: forças produtivas, estado social e formas da consciência.
Desenvolvimento histórico caracterizado como divisão do trabalho (manual/intelectual, cidade/campo).
Uma só história geral (inclui política, moral e religião) explicada a partir das forças de produção.
O papel das ideias da classe dominante.
Emergência do comunismo (desenvolvimento das forças produtivas, universalização do proletariado).

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