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BC não é sádico e precisa de ajuda, diz Arminio _ Brasil _ Valor Econômico


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31/05/2023, 15:54 BC não é sádico e precisa de ajuda, diz Arminio | Brasil | Valor Econômico
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BC não é sádico e precisa de ajuda, diz Arminio
Para economista, cabe ao governo ajustar o fiscal para juro começar a cair
Por Liane Thedim e Catherine Vieira — De São Paulo e do Rio
23/05/2023 05h01 · Atualizado 
“A imprensa, a liberdade de expressão, o terceiro setor, a academia, a cultura. Essas defesas [da democracia] estão
ativadas no Brasil, e é bom que continuem” — Foto: Leo Pinheiro/Valor
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Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio fundador da Gávea
Investimentos, diz que pode estar chegando o momento de cortar os juros no Brasil,
mas frisa que o Banco Central depende de apoio fiscal. “O Banco Central em geral
faz um belo trabalho nessa área, ninguém lá é sádico. Tem gente que acha que o BC
está a serviço dos rentistas. Eu acho que quem está serviço dos rentistas é o
governo, que é o maior tomador de empréstimos e assim pressiona os juros.”
Para Arminio, “estamos sem margem de segurança” e por isso é preciso arrumar as
contas e reduzir as incertezas. Ele diz que a meta de inflação é adequada, mas um
prazo maior para que se cumpra o estabelecido poderia fazer o presidente do BC “se
sentir protegido” no manejo da política monetária.
O economista defende uma nova reforma da Previdência, apenas quatro anos após
a difícil aprovação da primeira, além da administrativa e da tributária. “Há uma
absurda falta de prioridade e qualidade nos gastos”, afirma. Ele critica as tentativas
de desfazer medidas da gestão Bolsonaro, como a revisão da privatização da
Eletrobras e do marco do saneamento, além da mudança na política de preços da
Petrobras: “Um jeito meio bolivariano, que faz parte de um desenho de país
fracassado”.
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https://valor.globo.com/empresas/valor-empresas-360/petrobras?360&interno_origem=multicontent
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Embora faça questão de reconhecer o esforço dos ministros da Fazenda, Fernando
Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, por darem sinais claros da intenção de
recuperar a credibilidade fiscal, Arminio diz que está decepcionado. “Imaginava que
as lições do PT no poder tivessem sido razoavelmente absorvidas.” Mas responde
com firmeza quando perguntado sobre seu apoio público a Luiz Inácio Lula da Silva
na campanha eleitoral, em decisão que atribuiu à defesa da democracia: “Não me
arrependo do meu voto. Foi uma ótima decisão, e foi por um triz”.
Nos Estados Unidos em uma pequena pausa para estar com a família, Arminio
conta que trabalha em um livro. “Estou sempre aprontando coisa para fazer, mais
do que eu deveria”, diz. ”E ainda trabalho bastante como motorista dos meus netos”,
brinca. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: Como o senhor avalia o novo governo até agora?
Arminio Fraga: Olhando para o lado econômico, confesso que esperava mais.
Imaginava que as lições do PT no poder, tanto as positivas quanto as negativas,
tivessem sido razoavelmente absorvidas. Do lado macroeconômico, desde as
eleições as falas do partido em geral, inclusive do próprio presidente, sobre temas
como a responsabilidade fiscal e a atuação do Banco Central, foram preocupantes,
até raivosas. Do lado micro, tem havido muito ruído em torno de assuntos onde
houve progresso nos últimos anos, sempre na direção contrária ao que seria
desejável. Exemplos importantes, como Previdência e regras trabalhistas, foram
descartados, mas o sinal do atraso foi dado. O marco do saneamento foi mutilado,
mas, felizmente, o Congresso achou por bem defender sua própria obra. Agora a
Petrobras aparece com um jeito meio bolivariano, que faz parte de um desenho de
país fracassado e despreocupado com o meio ambiente, posto que se trata de
subsidiar combustíveis fósseis. Há ainda incerteza quanto ao BNDES e aos bancos
públicos em geral. A área econômica vai mal.
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Valor: E qual é o impacto de todo esse discurso desencontrado?
Arminio: Os ministérios da Fazenda e do Planejamento deram um sinal correto na
questão fiscal, na direção de recuperação da credibilidade do Brasil. É um pilar
fundamental do tripé macroeconômico. Com as taxas de juros que temos, o Banco
Central está precisando é de ajuda. Nossa política macroeconômica está
desequilibrada, impondo muito peso ao monetário e pouco ao fiscal. Aí está a
principal causa do alto nível de juros no Brasil. A questão é o que fazer a respeito.
Para mim, o número 1 da lista é recuperar a responsabilidade fiscal perdida. Dou
crédito à área fiscal por se posicionar quando, claramente, o presidente da
República vem se mostrando contra, num falso dilema com a responsabilidade
social. Espero que ele esteja mudando de ideia. Ele parece acreditar que um país
que tem a sua própria moeda pode se endividar à vontade. A verdade é que
nenhum país recebe como um presente divino uma moeda forte. Uma moeda forte
é construída todo dia. E forte a nossa, infelizmente, não é. Está alicerçada em um
juro colossal, e ninguém pode achar isso bom e sustentável. Pelo menos a discussão
está agora com sinal certo, que é trabalhar para construir saldo primário. Falta o
lado do gasto.
Valor: Quando vamos conseguir sair dessa discussão para resolver o conflito
distributivo, enfrentar temas relevantes para o desenvolvimento e melhorias para a
população, como saúde e educação?
Arminio: O conflito distributivo é antiquíssimo e existe em função de demandas
legítimas e enormes, que todo mundo quer satisfazer. A questão é como. O gasto
público no Brasil nos últimos 30 anos subiu de algo em torno de um quarto do PIB
para um terço. Ao longo do tempo não houve, portanto, austeridade. O que houve
foi uma colossal falta de prioridade. E não é possível convencer a maioria das
pessoas de que essa situação para em pé. A reforma administrativa, por exemplo, é
um tema importantíssimo, mas é rejeitada pelo governo. Sofre o investimento
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público, que de fato está muito baixo há tempo, vítima de escolhas míopes. O que
dá pra fazer a curto prazo? Quais são as prioridades? Se o governo brasileiro
estivesse tomando dinheiro emprestado a 2% em termos reais, talvez até valesse a
pena arriscar um pouco. Como chegar lá? Há uma absurda falta de prioridade e de
qualidade nos gastos. O que fazer? Avaliar tudo o que se faz e eliminar o que não
está funcionando direito ou que não represente uma prioridade adequada.
Não me arrependo do meu voto. Foi uma ótima decisão, e foi
por um triz”
— Arminio Fraga
Valor: O sr. defende frequentemente a reforma administrativa, já que os gastos com
a máquina pública tomam muito do Orçamento. Mas é uma mudança mais
demorada, e o país precisa de uma solução urgente. Quais são os riscos de ascontas públicas entrarem em descontrole?
Arminio: Os riscos são elevados. O que poderia ser feito seria combinar o que dá
pra fazer agora com providências concretas que vão ter impacto a médio prazo, mas
que melhoram hoje as expectativas. Por exemplo, iniciar uma discussão sobre mais
uma reforma da Previdência. Um relatório do Ipea de novembro do ano passado
mostra com clareza que, mesmo em cenários otimistas, os números da Previdência
tendem a piorar bastante. Idem para uma reforma administrativa, que, além do
impacto fiscal a médio prazo, aumentaria a eficiência do Estado. Não estou nem
falando aprovada. Mas não está sendo sequer cogitada. E dá para aprovar por lei
complementar, não precisa nem mexer na Constituição. Outro exemplo é o da
revisão das benesses tributárias, mas recentemente, por exemplo, foi aprovada a
renovação dos benefícios para a Zona Franca por décadas. E aí, como é que se faz?
31/05/2023, 15:54 BC não é sádico e precisa de ajuda, diz Arminio | Brasil | Valor Econômico
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O cobertor é curto, mas é preciso abrir todas as frentes de trabalho para sinalizar
um futuro menos incerto e ajudar o país para crescer.
Valor: Dá para repetir o crescimento de 7% ao ano do período de 1950 a 1980?
Arminio: Em termos per capita, o crescimento foi de cerca de 4%. Visto dessa forma,
parece menos difícil. Quando se leva em conta que aquela estratégia de
desenvolvimento explodiu e desembocou na década perdida, e se inclui esse
período na conta, se chega a algo como 3% per capita. Se sustentado, seria um
enorme sucesso. Não é impossível, mas eu hoje vejo o governo caminhando na
direção oposta ao desejável. A realidade é que, das últimas quatro décadas, em duas
o Brasil teve queda no PIB per capita. Para um país que deveria estar encurtando a
distância para as economias mais avançadas, perder 20 anos é triste.
Valor: Como sair desse nível de juros, com inflação ainda tão resistente? É uma
equação difícil.
Arminio: Reformas fiscais estruturais e menos incerteza em geral. De fato, o juro é
muito alto, e não só a Selic. Brasil está pagando 6% reais em um prazo de 30 anos.
Não sei como alguém pode achar que a nossa dívida é pequena, sobretudo com
esse juro. Nesse momento, o que dá pra fazer é começar a arrumar as contas
públicas e tentar fazer a economia funcionar da forma mais justa e mais eficiente.
Estamos sem margem de segurança.
Valor: Já é o momento de baixar os juros?
Arminio: Pode ser, mas a política monetária deve seguir apertada. Faz muita falta o
apoio fiscal. Se confirmando um cenário de condições de crédito restritas o quadro
para algum corte seria mais sólido. O Banco Central em geral faz um belo trabalho
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nessa área, ninguém lá é sádico. Tem gente que acha que o BC está a serviço dos
rentistas. Eu acho que quem está serviço dos rentistas é o governo, que é o maior
tomador de empréstimos e assim pressiona os juros. Há uma maneira fácil de se
avaliar o BC: a inflação ficou abaixo da meta? Não. Então o problema é outro, é de
diagnóstico.
Valor: E a meta de inflação deve ser rediscutida?
Arminio: A meta é adequada, deveria ser de longo prazo. Eu apenas daria mais
prazo para ela ser cumprida, mais um ano. Essa alternativa merece reflexão do
CMN, que deveria dar esse mandato ao Campos Neto, para ele se sentir protegido.
Vejo muitos países no mundo implicitamente fazendo algo nessa linha. O sistema de
metas é de longe a melhor maneira de coordenar o que o BC e a área fiscal fazem:
governo define a meta, BC persegue e presta contas.
Valor: O sr. declarou voto no atual presidente, em defesa da democracia. Como vê a
decisão hoje?
Arminio: Eu não me arrependo do meu voto. Foi uma ótima decisão, e foi por um
triz. Quando Pedro Malan, Edmar Bacha e eu escrevemos carta aberta a Lula em
novembro, tínhamos a expectativa de que a política econômica fosse razoável. Nas
discussões da redação daquele texto curtinho, queríamos dar o sentido de
esperança, e não de crença de que aquilo fosse acontecer.
Valor: E o senhor ainda vê a nossa democracia em risco?
Arminio: Tem muita literatura recente defendendo que a democracia vai sendo
comida pelas beiradas. Para nós, que passamos tanto tempo sem, não dá para
brincar. É preciso um estado permanente de alerta. O Brasil está radicalizado, o
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mundo também. Há também um nível elevado de tensão entre os poderes. Mas me
parece que as defesas da democracia estão funcionando. Quais são? A imprensa
livre, o terceiro setor, atuando em várias áreas de maneira absolutamente crucial, a
academia, a cultura, que dá vida aos temas de uma maneira mais lúdica, que inspira.
Essas defesas estão ativadas no Brasil, e é bom que continuem.
Valor: O governo já mencionou o desejo de rever a privatização da Eletrobras. Isso
pode acontecer?
Arminio: No caso da Eletrobras, na capitalização recente, um governo eleito
legitimamente tomou a decisão criar um limite de voto para cada acionista, inclusive
para si próprio, e assim na prática vendeu o controle. Agora o novo governo quer
voltar a atrás, um inaceitável calote. Acho que não vai acontecer, porque o governo
deve saber que perderia no Judiciário.
Valor: Nesse cenário de forte crescimento do crédito privado nos últimos anos, com
alongamento de prazos e redução de custos, qual deve ser o novo papel do BNDES?
Arminio: O BNDES tem que justificar com rigor tudo o que faz. A despeito de eu ter
a maior admiração pelos quadros do banco, que são dos melhores que esse país
tem, eles frequentemente trabalharam com um modelo meio arcaico de
desenvolvimento, sem justificativa e avaliação de ações. E isso foi levado ao extremo
na gestão Dilma Rousseff. Depois houve uma correção de rumo. Nunca achei que
devesse ser definido um tamanho para o BNDES, mas acho que se deveria limitar a
partir de princípios de atuação e da existência de espaço orçamentário. No passado,
quando eu ouvia a frase “esse setor é estratégico”, já começava a me coçar.
Raramente era. Essa discussão é saudável, não sou contra tudo, mas é importante
justificar e avaliar.
31/05/2023, 15:54 BC não é sádico e precisa de ajuda, diz Arminio | Brasil | Valor Econômico
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Valor: O sr. tem se envolvido em áreas fora do seu habitat tradicional de economia e
finanças. Por que resolveu percorrer esse caminho?
Arminio: De uns anos para cá, tenho me dedicado mais ao tema da desigualdade e
da falta de oportunidades. Estou envolvido em três novas frentes. Duas por meio de
institutos sem fins lucrativos, voltados para a política pública: o IEPS (Instituto de
Estudos para Políticas de Saúde) e o IMDS (Instituto Mobilidade e Desenvolvimento
Social). Os dois estão de vento em popa. A terceira reflete o meu lado verde. Sempre
fui um verde. Adoraria que existisse um partido social, liberal, verde, ao qual algum
dia eu pudesse até me filiar. Sempre achei que o Brasil tinha que se atirar nessa área
para ajudar na questão da mudança climática, cuidar da biodiversidade do planeta e
também para zelar pela nossa qualidade de vida. Isto precisaria ficar claro para as
pessoas. Estou falando de ar, rios e praias limpas. Temos hoje exemplos
extraordinários da Costa Rica e da Nova Zelândia. Sou acionista da empresa
Re.green, um projeto maravilhoso, de reflorestamento com biodiversidade de áreas
degradadas, viabilizado pela venda de carbono. Tem grande potencial.  É um projeto
de execução muito difícil,arriscado, mas você não vai encontrar uma pessoa na
nossa empresa que não esteja vibrando, mesmo diante de todos os desafios.
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