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Precursores de Adam Smith Paris sec. XVIII Tradição Continental Contexto Histórico Francês • Monarquia absoluta na França com regime mercantilista, conhecido como Colbertismo • Jean Baptiste Colbert (1619-83): – ministro de Luiz XIV – promoção da industria por subsídios e tarifas comerciais – intervencionismo de preços e regulação de qualidade – sistema tributário complexo • Expansão dos gastos – Guerras • Luiz XIV :Devolução (1667-1668), franco-holandesa (1672-1678), reuniões (1683- 1684), liga de Augsburg (1688-1697), secessão espanhola (1701-1713) • Luiz XV: Quadrupla aliança (1718-1720), Sucessão Polonesa (1733-1735), Sucessão Austríaca (1740–1748), 7 anos (1756 – 1763) – Outros gastos, como corte • Versailles: festas de Mme. Pompadour, amante de Luiz XV • Distorções tributárias – Nobres isentos, produtores menores arcam com tributos Pierre de Boisguilbert (1645-1714) • Biografia – nasce em Rouen, educação jesuíta – atua como advogado e fazendeiro – juiz em Montivilliers (em 1678) – compra posto fiscal e jurídico (baillage) em Rouen (1690) – exílio de 6 meses (em 1707) e proibição de livro sobre imposto • Obras – Le détail de la France; la cause de la diminution de ses biens et la facilité du remède (1695) – Factum de la France (1706) – Supplément au détail de la France (1707) – Dissertation de la nature des richesses (1707) • Idéias – oponente do colbertismo (mercantilismo) – é um espécie de panfletista mercantilista as avessas: petições aos ministros – Defende supressão de restrições comerciais e impostos distorcivos – precursor da fisiocracia: importância da agricultura e liberdade comercial – Teoria: propõe modelo de trocas Boisguilbert • Détail – investiga causas da pobreza no país – diagnóstico: consequências não intencionais do colbertismo sob Luiz XIV – medidas defendidas: reforma fiscal, abolição de alfândegas e tarifas internas, livre comércio de grãos • taille: propriedade pessoal e de terra, nobreza isenta – proprietários pobres pagam, coleta arbitrária • aides: imposto sobre circulação de mercadorias, em especial vinho – produção e consumo de vinho quase desaparece • douanes: imposto entre países e entre províncias da França – restringiam comércio e encareciam produtos para os mais pobres • Factum – elabora mesmo diagnóstico – Propõe imposto único de 10% sobre terra – Mesma proposta encontrada Dixime Royal (1707) de Sebastien de Vauban • reação: – Luiz XIV rejeita proposta de Vauban – Boisbuilbert ataca ministros em Suplemento ao Detail – censura e exílio (1707) – Ministro Nicolas Desmarets cria o novo imposto, dixième (10%), sem suprimir nenhum (1710) Idéias desenvolvidas por Boisguilbert • riqueza deve ser avaliada pela satisfação da população, não pelo dinheiro “O ouro e a prata não são e nunca foram riquezas em si mesmos, e só têm valor em relação a, e na medida em que possam produzir, as coisas necessárias para a vida, para as quais servem meramente como medidor e avaliação.” (Détail) • deve-se estudar as atividades produtivas de riqueza em sociedade • importância especial da agricultura (indústria não deve ser estimulada à custa da agricultura) • contra proibição de exportar grãos imposta por Colbert • comércio livre traria estabilização do preço dos grãos • Prosperidade agrícola sustenta atividade econômica em geral • defende controle governamental para garantir preço agrícola • consumo (demanda efetiva) mais importante do que moeda metálica • moeda se refere a circulação, não geração de riqueza • leis naturais: sem bloqueio estatal do comércio, existe possibilidade de interação econômica benéfica • modelo de troca: – dois produtores especializados: trigo e lã: utilidades subjetivas de excedentes – Extensão para cidades e para o mundo Richard Cantillon (1680 – 1734) • Biografia: pouco se sabe – enriquece com a bolha gerada pelo esquema da Companhia do Mississipi proposto por John Law – morre em incêndio de sua casa, talvez causado por cozinheiro demitido • Obra – Ensaio sobre a Natureza do Comércio em Geral (1755) – Primeiro tratado sistemático de Economia • Estrutura do livro – 1ª. Parte: valor, produção e distribuição – 2ª. Parte: troca, moeda e juros – 3ª. Parte: comércio, câmbio e bancos • Idéia central: existem regularidades na economia – Exemplo: tamanho da população depende da demanda pelo trabalho e atuação do sistema de preços (salários) Richard Cantillon (1680 – 1734) • Valor – Terra é fonte ou matéria da riqueza e trabalho a forma que a produz (causas de Aristóteles) – Medida de valor – quantidade de trabalho e terra: reduz trabalho à terra • Valor do trabalhador igual ao dobro da terra necessária para sustentá-lo – Valor intrínseco: custo real no longo prazo – invariante – Valor de mercado: “frequentemente ocorre que muitas coisas que de fato têm esse valor não é vendido no mercado a esse valor: isso irá depender dos humores e imaginação dos homens e do seu consumo” • Processo de ajustamento: coordenação de planos. – Uso da hipótese de auto-interesse – Lucros leva a aumento da produção que reduz preço até valor intrínseco tempo Valor de mercado Valor intrínseco Cantillon • Classes: proprietários de terra (nobres), empresários (entrepreneurs) e trabalhadores • O que é produzido? – Preferências dos proprietários de terras determina demanda e portanto padrão de produção e migração • Exemplo: se aumenta demanda dos nobres por cavalos, sobre menos terra para sustentar trabalhadores, o que causa imigração. Mesmo efeito se aumentar demanda por bens importados de luxo em troca de exportação dos frutos da terra. – Todos se sustentam às custas dos proprietários, a única classe independente: esboço de teoria da soberania do consumidor • Competição e Atividade empresarial – Competição: rivalidade empresarial. – Empresários decidem rumo da produção sob incerteza: • “Quem pode prever o número de nascimentos e mortes no decorrer do ano? Quem pode prever o aumento ou a redução dos gastos que pode sobrevir nas famílias? E, no entanto, o preço dos gêneros que o arrendatário vende depende naturalmente destes acontecimentos que ele não pode prever e, por conseguinte, é em meio a incertezas que ele leva a cabo o seu empreendimento.” – Seu rendimento não é fixo, como o dos trabalhadores, mas residual – Lucro: remuneração pela antevisão empresarial – Modelo de circulação de riqueza • Estimativa no espírito da “aritmética política” de Petty • Apêndice estatístico da obra foi perdido • Precursor do Quadro Econômico de Quesnay • Ajuste pelos custos devido a capital humano Renda dos proprietários Custos da produção Lucros do empreendimento Ajuste pelos custos Valor do produto da terra Três rendas 2/6 1/6 3/6 Padrão de gastos > ½ Cidades < ½ Campo Cantillon • Moeda – Efeito Cantillon (Hayek): • ponto de injeção monetária importa na definição dos efeitos: via saldo comercial ou criação de moeda • Aumentos de preços atingem pontos da economia em diferentes momentos: “Concluo que um aumento efetivo de dinheiro em um Estado sempre introduz um aumento no consumo e o hábito de uma maior despesa. Mas os aumentos de preços que esse dinheiro causa não se espalham igualmente em todos os tipos de bens e mercadorias, proporcionalmente à quantidade deste dinheiro; a menos que o dinheiro novo seja introduzido nos mesmos canais de circulação que o dinheiro original.” – Sofistica portanto a teoria de Locke, que apresenta relação fixa entre P e M • Juros – Crítica à idéia que o juros é um fenômeno puramente monetário: não existe relação necessária entre escassez de dinheiro e juros • Em 1720 M aumentou, mas juros também subiram porque havia expectativa alta de retorno de investimentos – bolha de John Law. • Determinado no mercado de fundos emprestáveis: poupança e investimento • “Do mesmo modo, os juros do dinheiro se estabelecem pela proporção numérica entre os que pedem e os que oferecem empréstimos de dinheiro” • População – Demandados nobres > quantidade de alimentos > Trabalho no campo > crescimento populacional • Economia espacial – Distribuição espacial das atividades econômicas – Cidade e campo e o custo de transporte Ferdinando Galiani (1728-1789) • Della Moneta (1751) – Estrutura: • Livro 1 - Dos Metais: teoria do valor, discussão do valor dos metais • Livro 2 – Da Natureza da Moeda: funções, tipos, cunhagem • Livro 3 – Do Valor da Moeda: valores de diversos metais monetários, variações no valor da moeda, suas conseqüências • Livro 4 – Da Circulação da Moeda: no reino e no comércio exterior • Livro 5 – Dos Frutos da Moeda: juros, dívida pública e câmbio. – Livro 1, capítulo 2: teoria do valor • definição: “é a idéia da relação entre a posse de uma coisa a de outra na mente dos homens” → aspecto subjetivo – Elementos componente: utilidade e raridade • Utilidade: capacidade que tem uma coisa de nos proporcionar felicidade – Necessidades básicas e necessidades advindas do desejo de reputação (Veblen) • Raridade: a relação que existe entre a quantidade de uma coisa e o uso que dela se faz. Ferdinando Galiani • Paradoxo do Valor: – Davanzati: “um bezerro vivo é mais nobre do que um bezerro de ouro, mas vale menos.” – Resposta: “se um bezerro vivo fosse tão raro como um de ouro, teria um valor maior que o de um bezerro de ouro exatamente na mesma proporção em que a utilidade e a necessidade do primeiro é maior do que a do segundo.” Além disso, ainda bem que o que tem valor custa pouco!! • Convívio das duas teorias do valor: – TEORIA NEOCLÁSSICA: “É evidente que o ar e a água, que são elementos utilíssimos para a vida humana, não têm valor algum, porque não são raros; e, ao contrário, um saquinho de areia das praias do Japão é uma coisa rara, mas, não tendo utilidade específica, não tem valor – TEORIA CLÁSSICA: “Vou falar agora do trabalho, que é o único a conferir valor às coisas. ... Assim, se alguém perguntar por que nas margens de muitos rios, onde a areia está misturada ao ouro, vale mais o ouro do que a areia, pode-se-lhe responder que se ele quiser encher de areia um saco, pode fazê-lo tranquilamente em quinze minutos; mas se quiser enchê-lo de ouro, precisará de muitos anos para juntar os raríssimos grãozinhos de ouro que aquela areia contém.” Os Fisiocratas • Principais Autores: – Quesnay, Mirabeau, Mercier de la Rivière, Dupont de Nemours, Le Trosne, Baudeau, (Turgot) • segunda escola de pensamento: les economistes – Obs: primeira é a escola de Salamanca • Fisiocracia = governo da natureza • Criticas ao mercantilismo: produção, não dinheiro – venda pressupõe compra – ouro é conseqüência da produção real A Fisiocracia • Políticas Defendidas: – agricultura como a fonte de riqueza – Ordem natural x ordem positiva: a segunda deve se adaptar à primeira. – laissez-faire: auto organização, propriedade privada – desregulação (exceto manutenção do preço de bens agrícolas: manutenção do bom preço) – imposto único: taxação da propriedade de terra. • Deve-se evitar taxação indireta (sempre recai sobre o proprietário) • Teoria – modelo de fluxo circular da renda, conhecido como o Quadro Econômico François Quesnay (1694-1774) • biografia – Médico pessoal de Luiz XV e Mme. Pomopadour – líder da escola dos fisiocratas • Obras – Tableau Economique; Maximes générales du governement économique d´un royaume agricole; Droit Nature; Du commerce • Quadro Econômico – classes: produtiva (agricultores) , estéril (artesãos) e distributiva (proprietários) – produit net: o produto líquido é o excedente gerado na agricultura. Classe estéril apenas transforma, não cria. – Idéia de fluxo circular capital e tempo • Capital como adiantamento à atividade produtiva – Recursos poupados em safra anterior viabiliza negócios no presente CLASSE PRODUTIVA CLASSE ESTÉRILCLASSE DOS PROPRIETÁRIOS ADIANTAMENTOS anuais desta classe, no montante de dois bilhões, que produziram cinco bilhões, dos quais dois bilhões são produto líquido ou renda. RENDA de dois bilhões para esta classe, gasta um bilhão em compras junto à classe produtiva e outro bilhão em compras junto à classe estéril. ADIANTAMENTOS desta classe na soma de um bilhão que é gasto pela classe estéril na compra de matérias- primas da classe produtiva. O Quadro Econômico gasto produtivo: agricultura gasto da renda gasto estéril: indústria avanço anual para produzir renda anual avanço anual para os uma renda de $2000: trabalhadores da indústria: 2000 produto líquido: 2000 1000 • . 1000 1000 1000 • . 500 500 500 • . 250 250 250 • . 125 125 125 • . etc. etc. etc. • . 2000 2000 2000 Classe produtiva Classe estéril Classe distributiva a Imput (compras) Fazendeiros Proprietários Artesãos Total Output Fazendeiros 2000 1000 2000 5000 (vendas) Proprietários 2000 0 0 2000 Artesãos 1000 1000 0 2000 Total 5000 2000 2000 9000 O Quadro Econômico como uma tabela imput-output: O Quadro Econômico como um fluxo circular: Anne Robert-Jacques Turgot (1727 – 1781) • biografia – Estuda em Sorbone para sacerdócio – Carreira como funcionário público, Intendente em Limoges – acompanha as viagens de Gournay, intendente do comércio – Ministro das finanças de Luiz XVI • obra – Quadro Filosófico dos Progressos sucessivos do Espírito Humano (1750) – Elogio a Gournay (1759) – Valores e Dinheiro (1769) – Reflexões sobre a Produção e Distribuição de Riqueza (1770) • idéias – evolução histórica das sociedades – individuo como melhor juiz de seus interesses, crítico da regulação – retornos decrescentes – teoria do capital Turgot: Reflexões sobre a Produção e Distribuição de Riqueza (1770) • teoria do capital: – capital possibilita negócios pelos adiantamentos – avanços de capital: fundo para manter trabalho antes da geração de receita – proprietários geram poupança (renda - consumo) – todo setor gera excedente – Pelo que acaba de ser dito, vemos como o cultivo da terra, as fábricas de todos os tipos e todos os ramos do comércio avançam por uma massa de capital ou riqueza acumulada que, tendo sido em primeiro lugar antecipada pela os empresários em cada uma dessas diferentes classes de trabalho, devem retornar a elas anualmente com um lucro constante; ou seja, o capital a ser reembolsado e avançado novamente na continuação das mesmas empresas, e o lucro para a subsistência mais ou menos fácil dos empreendedores. É esse avanço e esse retorno contínuo de capital que constitui o que deve ser chamado de circulação de dinheiro, esta circulação útil e frutífera que anima todas as obras da sociedade, que mantém o movimento e a vida no corpo político, e esse tem uma ótima razão para se comparar com a circulação do sangue no corpo animal. – outras classes não geram poupança, pois renda se encontra no nível de subsistência – poupança não é vazamento, é investida na compra de bens de capital Turgot: Reflexões sobre a Produção e Distribuição de Riqueza (1770) • teoria do capital: – empregos do capital: compra de terra, empréstimo a juros, investimento em agricultura, manufatura e comercio – equalização dos retornos ajustado ao prêmio de risco: uso do conceito de equilíbrio (vasos comunicantes) – juros: custo de oportunidade de emprestar dinheiro é investir na produção; portanto, merece compensação Observations on a Paper by Saint-Péravey on the Subject of Indirect Taxation (1767) • Produto marginal decrescente dos fatores produtivos “A fecundidade do solo pode ser comparada neste caso com uma mola que é comprimida carregando-a sucessivamente com pesos iguais. Se os pesos forem leves e a mola for bastante rígida, o efeito dos primeiros pesos pode ser quase insignificante. Quando o peso total é suficientemente grande para superar a resistência inicial, a mola cederá visivelmente e comprimirá; mas quando foi comprimida até certo ponto, ela oferecerá mais resistência à força que a comprime, e os pesos que a teriam comprimido uma polegada, podem comprimi-lo não mais do que uma fração depolegada.” Turgot: Elogio a Gournay • Marquês de Gournay (1712-1759) – intendente do comércio • Texto compara dois sistemas institucionais – livre competição – privilégios monopolísticos • Regulação: independente das intenções, na prática efeito é restrição do comércio no “espírito do monopólio” • Conhecimento disperso e regulação: – Ele [Gournay] não podia ver a utilidade de estabelecer que um pedaço de tecido fabricado deva envolver procedimentos legais e discussões tediosas para determinar se ele está de acordo com um sistema extensivo de regulação, muitas vezes difícil de entender, nem pensou ele que tais discussões deveriam a ser realizadas entre um fabricante que não sabe ler e um inspetor que não sabe fabricar, nem que esse inspetor ainda seja o juiz final da fortuna do desafortunado homem. – Não há necessidade de provar que cada indivíduo é o único juiz competente deste uso mais vantajoso de suas terras e de seu trabalho. Ele sozinho tem o conhecimento particular sem o qual o homem mais iluminado só poderia argumentar cegamente. 23 Turgot como Ministro • Ministro das finanças de Luís XVI entre 1774 e 1776 – Tentativa de desregular economia • Proibições existentes nos mercados de grãos: 1. Atuar no mercado sem permissão de funcionários nomeados para essa atividade; 2. Formação de associação entre mercadores sem autorização; 3. Comércio de grão ainda não colhido; 4. Venda fora dos mercados designados; 5. Estoque; 6. transporte entre províncias, sem autorização prévia • Medidas que Turgot tenta adotar: – Extinção de monopólios nos mercados de grãos – 6 éditos: 1. Supressão da corveia (obrigação de trabalhar certo número de dias do ano em obras públicas) e construção de estradas cobradas por valor em dinheiro, pago por imposto sobre propriedade de terra; 2. Supressão das guildas de produtores; 3. Supressão de impostos sobre certos gêneros alimentícios e modificações de outros impostos. 4. Supressão da Caisse de Poissy, instituição financeira criada para assegurar a provisão de carne em Paris, que financiava açougues e cobrava taxas sobre as operações nos mercados de carne; 5. Modificações nos impostos sobre banha animal; 6. Supressão de cargos associados à administração de portos, cais, depósitos e mercados de Paris. 24 Étienne Bonnot, abade de Condillac (1714-1780) • biografia – filósofo iluminista – tutor do príncipe herdeiro de Parma (1758-1768) • obras – Traité des systèmes (1749) – Traité des sensations (1754) – Comércio e Governo (1776) • Filosofia: sensacionalismo – tradição do empirismo inglês – fenômenos mentais explicados pelas impressões sensoriais – analogia da estátua – base para modelo de agente econômico em termos de escolhas 25 Condillac: Governo e Comércio (1776) • Pioneiro da catalática: economia como trocas • Teoria do valor subjetivo: utilidade do bem para cada indivíduo “Agora, devido ao fato que o valor das coisas é baseado na necessidade, é natural que uma necessidade percebida mais fortemente confira as coisas maior valor, e que necessidades menos sentidas gerem menor valor. O valor das coisas portanto aumenta com a escassez (rareté) e diminui com a abundância. O valor pode até se reduzir a nada com a abundância.” “... o valor não está no objeto, mas em como nós o estimamos, e essa estimativa é relativa às nossas necessidades: cresce e diminui, assim como a nossa própria necessidade cresce e diminui” • Modelo: produtores trocam excedentes sem valor para si por bens com valor maior • Troca gera valor “Uma fonte que desaparece nas rochas e areia para mim não é riqueza; mas nela se transforma se eu construir um aqueduto para atraí-lo para os meus prados. Essa fonte representa os produtos excedentes pelos quais estamos em dívida com os agricultores e o aqueduto representa os comerciantes” • Estrutura da obra – Primeira parte: geração de valor pelas trocas • valor, preços, trocas, moeda, juros, competição, monopólio, consumo direcionando produção, usos da terra, bens de luxo, impostos – Segunda parte: destruição de valor pelas restrições às trocas • guerras, barreiras comerciais, impostos, privilégios legais, companhias monopolistas, adulteração da moeda, intervenção em preços e produção de grãos Condillac: análise das reformas de Turgot • preço do pão subiu após reformas • explicação: formação de mercados requer tempo “De fato, para ter sucesso em qualquer tipo de comércio, não basta ter a liberdade de exercê-lo; é preciso, já observamos, ter obtido contatos, e esses contatos só podem ser fruto da experiência, que muitas vezes é lenta. É preciso também ter capital, lojas, transportadores, agentes, correspondentes: em uma palavra, é preciso ter tomado muitas precauções e muitas medidas. Assim, a liberdade restaurada ao comércio de grãos era um benefício que não podia ser desfrutado. Uma palavra do monarca foi suficiente para acabar com essa liberdade; uma palavra não a restaurou e preços altos ocorreram alguns meses depois.” • gradualismo x terapia de choque • Gradualismo • Vantagem: tempo de adaptação • Desvantagem: reagrupamento político dos privilegiados • Terapia de choque • Vantagem: readaptação em vários pontos da cadeia produtiva ao mesmo tempo • Desvantagem: incerteza diante de muitas mudanças institucionais 27 Tradição Britânica William Petty (1623 – 1687) • Biografia – professor de anatomia, médico no exército de Cromwell, inventor (barcos), estatístico, membro da Royal Society. • Obra principal: Political Aritimetik • Metodologia: defesa de método empírico, indutivo. Ênfase na mensuração. – Buscou estimar a população de Londres, estimar a balança comercial. – Distinção entre ciência normativa e positiva • Conceitos teóricos: – Teoria do valor • “O trabalho é o Pai e princípio ativo da Riqueza, assim como a Terra é a mãe”. • Valor dado pelos custos: terra + trabalho • Tentativa de medida de valor: busca do “par” entre terra e trabalho: quantidade de terra para sustentar família igual ao trabalho do mesmo – Relação entre divisão do trabalho e tamanho do mercado – Contabilidade nacional: • Indicação dos fatores produtivos • Identidade entre renda e gasto – Tributação: regras claras e coleta econômica – Defesa de população grande: produção maior e economia de custos do governo. – Importância do capital: • ...se eu pudesse cavar e preparar para semear 100 acres, em mil dias, suponha, então , que eu passe cem dias estudando uma maneira mais eficiente, conseguindo, inclusive, ferramentas para o mesmo propósito, e em todos esses cem dias eu não cave nada, mas nos 900 dias restantes eu cave 200 acres. Então eu digo que a arte que gasta cem dias de concepção vale o trabalho de um homem para sempre, pois a nova arte e um homem fizeram o mesmo que dois homens poderiam ter feito sem isso. – Teoria monetária: • Conceito de velocidade de circulação da moeda • Funções da moeda: meio de troca, reserva de valor e unidade de conta. http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6e/William_Petty.png/220px-William_Petty.png&imgrefurl=http://pt.wikipedia.org/wiki/William_Petty&usg=__-CcJPlsgUh-1p8C6yCRtPb_1dd8=&h=279&w=220&sz=66&hl=pt-BR&start=6&tbnid=twtTxTy9gGxZHM:&tbnh=114&tbnw=90&prev=/images?q=william+petty&gbv=2&hl=pt-BR John Locke (1632 – 1704) • Teoria monetária: – Teoria quantitativa: causa da inflação é aumento da quantidade de moeda. • Teoria do valor: – Mesma ambigüidade de Galiani: teoria do valor subjetivo e valor trabalho • Teoria de propriedade: – Direito de propriedade derivado do trabalho empregado no bem. – Semelhança com doutrina marxista O Iluminismo Escocês • Tradição cultural continental, em especial influência do racionalismo francês • Pensadores escoceses com interesse em filosofia moral, história e economia – Filosofia moral: relação entre moral tradicional e mercado. Mandeville acreditava que oposição era falsa. Hume acreditava que moral evolui com instituições. – História: evolução da civilizaçãopor estágios – Economia: centralidade do comércio para a civilização (Hume). Germe da Escola Clássica • Autores: – Independentes: – David Hume (1711- 1776) – Sir James Steuart (1713-1780 ) – Em Glasgow: – Francis Hutcheson (1694-1746) – Adam Smith (1723-1790) – Em Edimburg: – Adam Ferguson (1723-1815) – Dugald Stewart (1753-1828) Bernard de Mandeville • Biografia – nasceu em Roterdam, na Holanda, migra para Inglaterra – foi médico – Polemista • A Fábula das Abelhas ou A Colméia Murmurante ou Os Velhacos que se Tornaram Honestos (1714) • Interpretações – Mercantilismo (interpretação de J. Viner) • Prosperidade depende de estímulos à demanda – Iluminismo Escocês (interpretação de F. A. Hayek) • Ordem espontânea • Conseqüências não intencionais da ação humana • Importância para o pensamento de Smith – auto-interesse, – ‘mão invisível’ ou auto-organização A Fábula das Abelhas (trechos) Uma grande colmeia, repleta de abelhas, Que viviam com luxo e comodidade, Porém eram tão famosas por leis e armas Quanto por copiosos e precoces enxames, Era tida como o grande berço Das ciências e das indústrias. Não havia abelhas que possuíssem governo melhor, Maior volubilidade ou menos contentamento; Não eram escravas da tirania, Nem governadas pela desenfreada Democracia, E sim por reis, que não podiam errar, Pois seu poder era restrito por leis. ... Grandes números abarrotavam a fértil colméia, Porém essa multidão fazia com que prosperassem; Milhões empenhavam-se em satisfazer Mutuamente sua cupidez e vaidade, Enquanto outros milhões labutavam Para ver destruídas suas obras. Porém tinham mais trabalho do que trabalhadores. ... Médicos valorizavam fama e riqueza Acima da saúde dos depauperados pacientes... Entre os muitos sacerdotes de Júpiter, Contratados para invocar as benções do céu, Alguns havia sábios e eloqüentes, Mas milhares lascivos e ignorantes... Os soldados, que eram forçados a lutar, Até que, totalmente inválidos, eram postos de lado, E viviam com a metade do soldo, Enquanto outros nunca apareciam no campo de batalha, E ficavam em casa recebendo em dobro. ... Assim o vício imperava em cada parte, Embora o todo fosse um paraíso; Incensados na paz, temidos na guerra, Tinham o respeito dos estrangeiros, E, na abundância de riqueza e vidas, Eram a força preponderante entre todas as colméias. ... Era essa a estatística que regia O todo, do qual cada parte reclamava; Isso, como na harmonia musical, Conciliava as dissonâncias no geral. Grupos diretamente opostos Ajudavam-se mutuamente, como por perversidade, E a temperança e a sobriedade Serviam à embriaguez e à gula. A avareza, raiz do mal, Esse maldito, perverso, pernicioso vício, Era escrava da prodigalidade, O pecado nobre; enquanto o luxo Empregava um milhão de pobres. ... Assim, o vício fomentava a engenhosidade Que, unida ao tempo e ao trabalho, Propiciava as comodidades da vida, Seus verdadeiros prazeres, confortos e facilidades, A tal ponto que mesmo os pobres Viviam melhor que os ricos de outrora... Como é vã a felicidade dos mortais! Tivessem eles noção dos limites da bem-aventurança E de que a perfeição, cá em baixo, Está acima do que os deuses podem conceder, E os queixosos animais ter-se-iam contentado Com ministros e governos. Porém eles, a cada sobre vento, Como caricaturas irremediavelmente perdidas, Maldiziam os políticos, o exército, as frotas, Enquanto cada um gritava “Abaixo os desonestos!”, Apesar de cônscio dos próprios defeitos, dos demais, barbaramente, não toleravam nenhum. ... A menor coisa feita incorretamente, Ou que obstasse aos negócios públicos, E já todos os velhacos gritavam disfarçadamente: “Ó, Deus! Se ao menos houvesse honestidade!”... Porém Júpiter, cheio de indignação, Finalmente, irritado, jurou livrar Da fraude a vociferante colmeia. E assim o fez. No mesmo momento, ela se foi E a honestidade encheu seus corações... ... Porém, ó deuses! Que consternação! Quão grande foi a alteração! ... O tribunal ficou silencioso a partir de então Com o que, já que ninguém prospera menos Do que advogados em uma colmeia honesta, Todos, exceto os que tinham grandes posses, Partiram, levando consigo seus tinteiros. Somente uns poucos permaneceram com o sumo-sacerdote, A quem os demais juraram obediência; Ele próprio ocupou-se de assuntos divinos, Cedendo a outro os negócios de estado. ... Evitou-se o gasto inútil tanto quanto a fraude; não mais mantiveram exércitos no exterior; ... Olhai agora a gloriosa colméia e vede Como se conciliam honestidade e negócios: O espetáculo terminou; esvaiu-se rapidamente, E apresentou-se com face bastante diversa, Pois não só foram-se aqueles Que somas vultosas gastavam anualmente, Mas multidões, que nelas tinham seu ganha-pão, Foram diariamente forçadas a fazer o mesmo; Inutilmente buscaram outros ofícios, Pois estavam todos superlotados. ... Os que permaneceram tornaram-se moderados, Esforçando-se não para gastar, mas para viver, E, tendo pago a conta da taverna, Resolveram lá não mais aparecer. ... Assim, poucos permaneceram na vasta colméia; Não puderam manter nem a centésima parte Contra as afrontas dos numerosos inimigos ... MORAL Portanto, não reclamai: Somente tolos esforçam-se Por criar uma colméia grandiosa e honesta. ... A fraude, o luxo e o orgulho devem existir, Enquanto recebemos seus benefícios. ... Assim é o vício tornado benéfico Quando pela justiça desbastado e restrito. ... Francis Hutcheson (1694-1746) • Biografia – Estuda literatura, clássicos e filosofia na U. de Glasgow (1710-1718) – Professor de Filosofia Moral na mesma instituição (1729-1746) – escreve sobre metafísica, lógica e ética – Influencia Hume e Smith, que o sucede no posto de professor de Filosofia Moral • Obra – A System of Moral Philosophy – Investigação sobre Nossas Idéias de Beleza e Virtude • Idéias sobre ética – sensos: audição, tato, visão, paladar, olfato, consciência, beleza, honra, ridículo, público, moral – oposição a Mandeville e Hobbes • moral não se reduz a cálculo de prazeres e dores • além de auto-interesse, existe benevolência desinteressada – ética considera prazeres alheios: cálculo da soma total de benefícios • Influência sobre Smith em Teoria dos Sentimentos Morais David Hume (1711-1776 ) • biografia – Nasceu em Edimburgo, trabalhou no comércio, viajou para França, amigo de Smith – Filósofo do empirismo inglês • Conhecimento adquirido via observação – Obras principais: Tratado da Natureza Humana (1739) e Investigação sobre o Entendimento Humano (1748) • Discussões econômicas em: Discursos Políticos (1752) • Anti-mercantilista – Crítico da preocupação com dinheiro e não com o bem estar • Teoria quantitativa e neutralidade da moeda: “It is none of the wheels of trade: it is the oil which renders the motion of the wheels more smooth and easy”. (Of Money, 1752) • Teoria dos juros pelo mercado de fundos emprestáveis. Contrário portanto a associação entre juros baixos e dinheiro abundante • Teoria de comércio internacional: não é jogo de soma zero. Prosperidade depende do volume de comércio: "I shall therefore venture to acknowledge that not only as a man, but as a British subject I pray for the flourishing commerce of Germany, Spain, Italy and even France itself." (Of the Jealousy of Trade, 1758) • Crítica a política de superávits comerciais: specie-flow mechanism – Superavit comercial → entrada de ouro → preços internos maiores → mais importações e menos exportação = saída de ouro. Adam Ferguson (1723-1815) • Biografia – capelão no exército britânico, viaja Europa – professor de filosofia e moral em Edinburgo • Obras – An Essay on the History of Civil Society (1767) • Idéias – perspectiva evolucionária (em contraposição a conceitos como contrato social) – fenômenos sociais são “frutos da ação, mas não da intenção humana” – Além do cálculo utilitário, enfatiza impulsos como animosidade, desejo de poder – Divisão do trabalho impulsiona expansão do comércio – Divisão do trabalho causa alienaçãoe desigualdade Ferguson – citação do Essay on the History of Civil Society Os homens, em geral, estão suficientemente dispostos a formar projetos e esquemas. Mas quem planeja e projeta para os outros, encontrará um oponente em cada pessoa disposta a planejar para si mesmo. Como os ventos que vêm, não sabemos de onde, e soprando onde quer que eles estejam, as formas da sociedade derivam de uma origem obscura e distante; Eles surgem, muito antes da filosofia, dos instintos, não das especulações dos homens. A multidão da humanidade, são dirigidos em seus projetos pelas circunstâncias em que são colocados; E raramente se desviam de seu caminho para seguir o plano de qualquer planejador central. Todos os passos e todos os movimentos da multidão, mesmo nos chamados tempos iluminados, são feitos com a mesma incerteza em relação ao futuro; e as nações se deparam com instituições que são de fato o resultado da ação humana, mas não a execução de nenhum planejamento humano.