Buscar

Estudo de Neuroanatomia e Genética


Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

GENÉTICA E 
NEUROANATOMIA 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Patrícia Carla de Oliveira 
 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
 Nesta aula, daremos início ao estudo da neuroanatomia, ramo da ciência 
responsável pela descrição das estruturas anatômicas complexas do sistema 
nervoso central e periférico. O sistema nervoso é o mais complexo e diferenciado 
sistema do organismo, logo, sua anatomia também é uma das mais complexas 
do corpo humano e, por isso, seu estudo merece uma atenção redobrada. 
Primeiramente, trabalharemos os principais conceitos referentes à 
anatomia microscópica do sistema nervoso e que envolvem o estudo das células 
que compõem o tecido nervoso, como os neurônios e as células da glia ou 
neuroglia. Com base no entendimento das características anatômicas e 
funcionais dessas células, será possível a compreensão dos mecanismos de 
transmissão dos impulsos nervosos por meio das sinapses, forma pela qual o 
sistema nervoso controla e coordena as funções corporais. 
Além disso, iniciaremos o entendimento sobre as consequências clínicas 
das lesões causadas por traumatismos, interferência no suporte sanguíneo e 
doenças infecciosas ou autoimunes no tecido nervoso. 
TEMA 1 – NEURÔNIOS 
Os neurônios são as unidades fundamentais do tecido nervoso e, por 
serem células excitáveis, são capazes de receber, interpretar e enviar impulsos 
nervosos, organizando e coordenando as funções do organismo por meio dos 
circuitos de condução formados por seus prolongamentos, no sistema nervoso 
central (SNC) e no sistema nervoso periférico (SNP). 
Todos os neurônios possuem como componentes básicos o corpo celular, 
dendritos e axônio, cada qual responsável por funções específicas (Figura 1). O 
corpo celular, também chamado de pericário, é o local onde se encontram o 
núcleo e o citoplasma com organelas normalmente também encontradas em 
outros tipos celulares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
Figura 1 – Componentes básicos de um neurônio 
 
Crédito: Logika600/Shutterstock. 
O núcleo é grande, granuloso e arredondado, normalmente ocupando a 
posição central do pericário. Nele, podem ser vistos um ou mais nucléolos, 
responsáveis pela alta taxa de síntese de proteínas nesse tipo de célula. No 
citiplasma destaca-se a presença de mitocôndrias, retículo endoplasmático 
granular e agranular, complexo golgiense e ribossomos, visto que essa estrutura 
é o centro metabólico do neurônio, além de microtúbulos e microfilamentos que 
fazem parte do esqueleto celular e participam dos processos de transporte de 
substâncias entre corpo celular e axônio. 
Os ribossomos podem se associar ao retículo endoplasmático rugoso e, 
em consequência, ao microscópio são identificados como grumos basófilos 
denominados corpúsculos de Nissl, responsáveis pela síntese de proteínas, que 
fluem ao longo dos dendritos e axônio e substituem as proteínas que foram 
degradadas durante a atividade celular. A observação dos corpúsculos de Nissl 
pode ser utilizada para a avaliação funcional dos neurônios, já que células 
lesadas ou exauridas costumam apresentar cromatólise, ou seja, diminuição ou 
desintegração dos corpúsculos de Nissl, juntamente com outros sinais de sofri- 
mento celular (Cosenza, 2013). 
Os dendritos são extensões, geralmente curtas e múltiplas, do corpo 
celular e têm como função receber estímulos, encaminhando-os para o corpo 
celular. Seu citoplasma é muito semelhante ao do corpo celular, seu diâmetro 
diminui à medida que se distanciam do corpo celular, e alguns dendritos emitem 
pequenas projeções chamadas espículas dendríticas, aumentando a superfície 
 
 
4 
de recepção do impulso nervoso vindo de outros neurônios. Dessa forma, as 
espinhas dendríticas estão relacionadas à plasticidade neural da memória e 
aprendizagem, ramificando-se ou diminuindo de acordo com estímulos 
ambientais (Figura 1). 
O axônio origina-se no cone de implantação do corpo celular e 
normalmente é único e de diâmetro uniforme. Pode ser curto ou longo e se 
ramifica na sua porção final, formando terminações nervosas que estabelecem 
conexões e encaminham a informação recebida do corpo celular para outros 
neurônios, células efetoras, músculos ou glândulas. O citoplasma se assemelha 
ao do corpo celular e a membrana plasmática pode ou não estar recoberta pela 
bainha de mielina, diferenciando os axônios em fibras mielínicas e fibras 
amielínicas (Figura 1). 
 O transporte de substâncias entre o corpo celular e as terminações do 
axônio pode acontecer de forma anterógrada ou retrógrada. No transporte 
anterógrado, substâncias como proteínas e neurotransmissores são levadas do 
corpo celular para as terminações nervosas; no transporte retrógrado, algumas 
substâncias são levadas na direção oposta. O transporte retrógrado explica 
como os corpos celulares das células nervosas respondem a alterações na 
extremidade distal dos axônios. Por exemplo, receptores de fatores de 
crescimento ativados podem ser levados ao longo do axônio até seu local de 
ação no núcleo (Snell, 2019). 
Morfologicamente, os neurônios podem ser classificados em 
multipolares, quando apresentarem vários polos de comunicação por meio de 
um axônio e vários dendritos; pseudounipolares, quando tiverem um só 
prolongamento dividido em dendrito e axônio; e bipolares, quando possuírem 
dois prolongamentos, um axônio e um dendrito de tamanhos semelhantes 
(Schmidt; Prosdócimi, 2017). De acordo com os mesmos autores, os neurônios 
multipolares são o tipo mais comum no organismo, existem em maior quantidade 
e correspondem funcionalmente a neurônios eferentes (motores) ou a neurônios 
de associação (ou interneurônios). Os pseudounipolares correspondem a 
neurônios aferentes (sensitivos) e ficam, em geral, no sistema nervoso periférico. 
Já os bipolares são o tipo mais raro do organismo e existem, por exemplo, na 
mucosa olfatória e na retina. A Figura 2 representa os tipos morfológicos dos 
neurônios. 
 
 
 
5 
Figura 2 – Tipos básicos de neurônios 
 
Crédito: Designua/Shutterstock. 
Em relação ao comprimento do axônio, os neurônios podem ser 
classificados em: neurônios do tipo I de Golgi ou de projeção, quando possuírem 
um axônio longo, e neurônios do tipo II de Golgi, quando possuírem axônio curto. 
Funcionalmente, podem ser sensitivos ou aferentes, quando se dirigem ao SNC, 
e motores ou eferentes, quando inervam os músculos estriados esqueléticos. 
Podem, ainda, ser interneurônios, se estiverem interpostos entre dois neurônios 
(Figura 3). Por fim, dependendo dos neurotransmissores que expressam, levam 
também o nome dessas substâncias. Assim, expressam acetilcolina ou 
serotonina, por exemplo, sendo chamados de neurônios colinérgicos ou 
serotoninérgicos, respectivamente (Martinez; Allodi; Uziel, 2014). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
Figura 3 – Neurônio sensitivo, neurônio motor e interneurônio 
 
Crédito: stihii/Shutterstock. 
TEMA 2 – NEUROGLIA 
As células da glia, ou simplesmente neuroglia, também estão presentes 
no tecido nervoso e dão suporte metabólico e estrutural aos neurônios, o que é 
vital para o desempenho adequado das funções neuronais. As células que 
formam a neuroglia, em geral, são menores e mais numerosas que os neurônios, 
compreendendo a metade do volume total do encéfalo e da medula espinal. 
Diferentemente dos neurônios, a neuroglia não produz impulso nervoso e não 
faz sinapse com outras células, mas é capaz de se multiplicar por mitose quando 
há danos no sistema nervoso, mesmo em adultos. 
Didaticamente, as células da glia são classificadas de acordo com sua 
localização no sistema nervoso. No SNC estão presentes astrócitos, 
oligodendrócitos, microgliócitos e células ependimárias. No SNP encontram-se 
as células satélites e as células de Schwann, que podem ser consideradas como 
um mesmo tipo celular, expressando dois fenótipos dependendo da parte do 
neurônio que se relacionam. A Figura4 apresenta as células que compõem a 
neuroglia. 
 
 
 
 
7 
Figura 4 – Neurônios e células da glia 
 
Crédito: LDarin/Shutterstock. 
Os astrócitos são as maiores e mais abundantes células da glia, 
possuindo vários prolongamentos citoplasmáticos que se ramificam em todas as 
direções. Morfologicamente são divididos em: astrócitos protoplasmáticos, 
presentes na substância cinzenta; e astrócitos fibrosos, encontrados na 
substância branca. Muitas funções estão relacionadas aos astrócitos, dentre as 
quais o suporte estrutural por meio do preenchimento de espaço entre neurônios 
e seus prolongamentos; síntese e degradação de compostos neuronais, além do 
armazenamento de glicogênio para reserva energética; reparo de lesões por 
meio do preenchimento do espaço no qual houve perda de neurônios; controle 
da composição iônica dos fluidos extracelulares por meio da captação de 
potássio e consequente tamponamento iônico; e degradação de 
neurotransmissores para nova síntese dessas moléculas. Os astrócitos também 
permitem a passagem de substâncias e matéria-prima dos capilares sanguíneos 
para os neurônios, bem como a liberação de resíduos dos neurônios para os 
capilares. Por fim, desempenham um papel importante na barreira 
hematoencefálica, impedindo que substâncias, toxinas e até medicamentos 
danifiquem os neurônios. 
Os oligodendrócitos, por sua vez, são menores e possuem poucos 
prolongamentos. Conforme sua localização, distinguem-se em: oligodendrócitos 
satélites, ao redor de corpos celulares de neurônios; e oligodendrócitos 
 
 
8 
fasciculares, junto às fibras nervosas. A função primordial dos oligodendrócitos 
é a produção de bainha de mielina nas fibras nervosas do SNC, conferindo aos 
axônios uma cobertura isolante que aumenta a velocidade de condução nervosa. 
Os microgliócitos são as menores células da glia e possuem poucos 
prolongamentos. Estão relacionados à fagocitose de detritos celulares, como 
resposta à lesão ou infecção no sistema nervoso, promovendo a reparação 
tecidual. Assemelham-se aos macrófagos do tecido conjuntivo, pois participam 
de respostas imunológicas que destroem microrganismos. Aumentam em 
número na presença de tecido nervoso lesionado por traumatismo e isquemia e 
em consequência de doenças como a doença de Alzheimer, doença de 
Parkinson, esclerose múltipla e Aids. Muitas dessas células novas são monócitos 
que migraram do sangue (Snell, 2019). 
As células ependimárias podem ter formato cuboide ou colunar e formam 
um epitélio simples de revestimento nas cavidades do encéfalo e no canal central 
da medula espinal, colocando essas cavidades em contato com o líquido 
cérebro-espinhal. Nos ventrículos cerebrais, um tipo de célula ependimária 
modificada recobre tufos de tecido conjuntivo, rico em capilares sanguíneos que 
se projetam da pia-máter, constituindo os plexos corioideos, responsáveis pela 
formação do líquido cérebro-espinhal (Machado; Raertel, 2014). 
As células de Schwann são responsáveis pela formação da bainha de 
mielina nos axônios do SNP e, por isso, são consideradas as principais células 
da glia presentes nessa divisão do sistema nervoso (Figura 5). Em caso de injúria 
de nervos, as células de Schwann desempenham importante papel na 
regeneração das fibras nervosas, fornecendo substrato que permite o apoio e o 
crescimento dos axônios em regeneração. Além disso, nessas condições 
apresentam capacidade fagocítica e podem secretar fatores tróficos que, 
captados pelo axônio e transportados ao corpo celular vão desencadear ou 
incrementar o processo de regeneração axônica (Machado; Raertel, 2014). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
Figura 5 – Célula de Schwann 
 
Crédito: Designua/Shutterstock. 
TEMA 3 – FIBRAS NERVOSAS E NERVOS 
Grande parte dos axônios encontrados no sistema nervoso está envolta 
pela bainha de mielina, uma substância adiposa associada a proteínas, que 
funciona como um isolante elétrico, aumentando a velocidade de transmissão do 
impulso nervoso. No SNC a mielina é formada pelos oligodendrócitos e no SNP 
é formada pelas células de Schwann. Nesse processo, várias camadas da 
membrana celular dessas células se enrolam ao redor do axônio e, em alguns 
casos, formam duas bainhas, a de mielina e a de neurilema. Em intervalos 
regulares, existem interrupções nessas bainhas chamadas nódulos de Ranvier 
e cada segmento de fibra situado entre eles é denominado internódulo. 
Fibras nervosas mielínicas são aquelas formadas por axônios envoltos 
pela bainha de mielina que, em associação à neuroglia, formam a substância 
branca encontrada no sistema nervoso central. A substância cinzenta, por sua 
vez, é constituída pelos corpos celulares de neurônios, associados às fibras 
amielínicas e à neuroglia. No SNC, as fibras nervosas agrupam-se em feixes ou 
fascículos e no SNP as fibras nervosas formam os nervos. 
As fibras mielinizadas conduzem o impulso nervoso várias vezes mais 
rapidamente que uma fibra amielínica, pois os fenômenos elétricos responsáveis 
 
 
10 
pela propagação do impulso terão lugar, nas fibras mielinizadas, apenas nas 
regiões da membrana axônica que não estiverem envolvidas pela mielina, os 
nódulos de Ranvier. Essa condução em saltos possibilita uma multiplicação da 
velocidade de condução do impulso nervoso em até cem vezes (Cosenza, 2013). 
A Figura 6 representa a condução saltatória nas fibras mielinizadas. 
Figura 6 – Condução saltatória do impulso nervoso nas fibras mielinizadas 
 
Crédito: Pikiru/Shutterstock. 
Na formação dos nervos, fibras mielínicas e amielínicas são envolvidas 
por delicadas fibrilas de colágeno do tecido conjuntivo formando o endoneuro, 
camada que envolve cada fibra nervosa e as organiza em fascículos. Ao redor 
de cada fascículo está uma camada denominada perineuro, composta por tecido 
conjuntivo denso e células epiteliais. Por fim, o nervo como um todo é formado 
pelo conjunto de fascículos cobertos por uma camada externa chamada 
epineuro, da qual fazem parte tecido conjuntivo e vasos sanguíneos que trazem 
oxigênio e outros metabólitos importantes (Figura 7). 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
Figura 7 – Estrutura do nervo 
 
Crédito: VectorMine/Shutterstock. 
Em sua porção distal, os nervos irão entrar em contato com os órgãos 
periféricos por meio de terminações nervosas, que podem ser sensoriais ou 
motoras. As terminações nervosas sensoriais, também chamadas de receptores 
sensoriais, serão sensíveis a determinado tipo de estímulo, a partir do qual 
desencadearão o aparecimento de impulsos nervosos nas fibras aferentes ao 
SNC. Existem, assim, receptores táteis, térmicos, dolorosos etc. (Figura 8). As 
terminações nervosas motoras vão estabelecer contato entre as fibras nervosas 
e os efetuadores: músculos ou glândulas (figura 9). Elas podem ser chamadas 
de junções neuromusculares ou junções neuroglandulares (Cosenza, 2013). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
Figura 8 – Receptores sensoriais da pele 
 
Crédito: Erebor Mountain/Shutterstock. 
Figura 9 – Junção neuromuscular 
 
Crédito: Designua/Shutterstock. 
TEMA 4 – CONDUÇÃO DO IMPULSO NERVOSO 
Os neurônios apresentam um potencial de membrana, à semelhança de 
outros tipos de células, cujo interior é eletricamente negativo em relação ao meio 
externo. As células nervosas têm a capacidade de utilizar esse potencial de 
membrana para a transmissão intercelular de sinais elétricos. No seu estado em 
 
 
13 
repouso, esse potencial é chamado potencial de repouso, e situa-se geralmente 
entre 70 e 90 milivolts. Os estímulos excitatórios despolarizam a membrana 
celular, enquanto os inibitórios hiperpolarizam-na. A despolarização, 
hiperpolarização, repolarização e restauração do potencial de membrana de 
repouso se fazem a expensas de trocas de íons (sódio, potássio, cloro, cálcio) 
através de canais iônicos voltagem-dependentes (Meneses, 2015). 
Nesse processo, estímulos elétricos, mecânicosou químicos alteram a 
permeabilidade da membrana plasmática dos neurônios aos íons Na+, os quais 
adentram o citoplasma celular, provocando a despolarização da membrana e a 
consequente produção de um potencial de ação de +40 mV. Ao cessar a 
permeabilidade aos íons Na+, a permeabilidade da membrana aos íons K+ 
aumenta e estes saem do citoplasma, retornando para a área localizada da 
célula em repouso. Esse mecanismo é chamado bomba de sódio e potássio e 
mantém as condições normais de repouso após o estímulo (Figura 10). 
Figura 10 – Bomba de sódio e potássio 
 
Crédito: Extender_01/Shutterstock. 
Uma vez gerado, o potencial de ação estende-se à membrana plasmática, 
afastando-se do ponto de início, e é conduzido ao longo do axônio como impulso 
nervoso. Esse impulso é autopropagado e seu tamanho e frequência não se 
modificam. Depois que o impulso nervoso se estendeu por dada região da 
membrana plasmática, outro potencial de ação não pode ser suscitado 
imediatamente. A duração desse estado não excitável denomina-se período 
 
 
14 
refratário e controla a frequência máxima que os potenciais de ação podem ser 
conduzidos ao longo da membrana plasmática (Snell, 2019). 
Quando o impulso nervoso chega até as terminações axonais, faz-se 
necessária uma sinapse nervosa para que a informação seja transferida para os 
próximos neurônios ou células efetoras. De acordo com Martin (2013), a sinapse 
consiste em três elementos distintos: (1) o terminal pré-ganglionar, a terminação 
axônica do neurônio pré-sináptico, (2) a fenda sináptica, o espaço intercelular 
estreito entre os neurônios e (3) a membrana receptora do neurônio pós-
sináptico (Figura 11). 
Figura 11 – Sinapse química 
 
Crédito: Designua/Shutterstock. 
Para enviar uma mensagem a seus neurônios pós-ganglionares, um 
neurônio pré-ganglionar libera neurotransmissores, embalados em vesículas, na 
fenda sináptica (Figura 11). Os neurotransmissores são compostos de peso 
molecular pequeno; entre estes encontram-se os aminoácidos (por exemplo, 
glutamato; glicina; e ácido Ƴ-aminobutírico [GABA]), acetilcolina e compostos 
monoaminérgicos, como a noradrenalina e a serotonina. Moléculas maiores, 
como peptídeos (por exemplo, acefalina e substância P) também atuam como 
neurotransmissores. Após a liberação na fenda sináptica, as moléculas do 
 
 
15 
neurotransmissor difundem-se pela fenda e ligam-se aos receptores na 
membrana pós-sináptica. (Martin, 2013). 
A maioria das sinapses envolve a liberação de neurotransmissores e são, 
por isso, denominadas sinapses químicas, podendo ser classificadas de acordo 
com suas características fisiológicas, bioquímicas e morfológicas. As sinapses 
excitatórias despolarizam a membrana do neurônio pós-sináptico, propagando o 
sinal elétrico, enquanto as sinapses inibitórias hiperpolarizam a membrana do 
neurônio pós-sináptico, bloqueando o sinal elétrico. Bioquimicamente, existem 
as sinapses colinérgicas, adrenérgicas, dopaminérgicas, entre outras, 
dependendo do neurotransmissor liberado na fenda sináptica. Segundo critérios 
morfológicos, na maioria das vezes, as sinapses são axodendríticas (entre as 
terminações axonais do neurônio pré-ganglionar e os dendritos do neurônio pós-
sináptico), axossomáticas (entre as terminações axonais do neurônio pré-
ganglionar e o corpo celular do neurônio pós-sináptico) ou axoaxônicas (entre 
axônios dos neurônios pré e pós-ganglionares). 
Além das sinapses químicas, existem ainda as sinapses físicas. Esse tipo 
de sinapse nervosa não faz uso de neurotransmissores e possibilita a passagem 
do impulso elétrico por meio do acoplamento de canais iônicos em junções 
comunicantes, garantindo rapidez e sincronização de descarga em vários 
neurônios, por exemplo, no centro respiratório do bulbo, onde esse disparo 
sincronizado é responsável pelo ritmo respiratório. Segundo Machado e Raertel 
(2014), ao contrário das sinapses químicas, as sinapses elétricas não são 
polarizadas, ou seja, a comunicação entre os neurônios envolvidos se faz nos 
dois sentidos (Figura 12) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
Figura 12 – Sinapse física 
 
Crédito: Designua/Shutterstock. 
TEMA 5 – CORRELAÇÕES ANATOMOCLÍNICAS 
Lesões nos neurônios devido a traumatismos, interferência no suprimento 
sanguíneo, doenças infecciosas ou autoimunes podem causar 
comprometimento total dos neurônios e nem sempre é possível sua 
regeneração. Como exemplo, podemos citar a herpes-zóster, um distúrbio 
relativamente comum causado pela reativação do vírus varicela-zóster latente 
em paciente que previamente teve varicela. A infecção é detectada no primeiro 
neurônio sensitivo de um nervo craniano ou espinal. A lesão se apresenta como 
inflamação e degeneração do neurônio sensitivo, com a formação de vesículas 
e inflamação da pele (Figura 13). O primeiro sintoma é dor na distribuição do 
neurônio sensitivo, seguida alguns dias depois por erupção cutânea (Snell, 
2019). 
 
 
 
 
 
 
 
17 
Figura 13 – Erupção cutânea por herpes-zóster 
 
Crédito: Anukool Manoton/Shutterstock. 
A desmielinização de fibras nervosas também pode acarretar patologias, 
como a esclerose múltipla (EM). Nesse caso, a doença tem origem autoimune, 
e a inflamação crônica é causada porque o sistema imune ataca, erroneamente, 
mielina, axônios mielinizados e oligodendrócitos no encéfalo, na medula e no 
nervo óptico. Dessa forma, a condução saltatória nos axônios é prejudicada, 
diminuindo a velocidade de condução nervosa até sua total parada. Essa doença 
é progressiva e os principais sintomas incluem perda de coordenação motora, 
fraqueza, dificuldades na visão e disfunção cognitiva. Ao longo dos anos ocorrem 
períodos sintomáticos cada vez mais graves seguidos por períodos de remissão 
(Figura 14). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
Figura 14 – Esclerose múltipla 
 
Crédito: Designua/Shutterstock. 
Na Síndrome de Guillain-Barré (figura 15), a desmielinização, também de 
origem autoimune, acomete os nervos periféricos e a sintomatologia decorre 
diretamente da redução ou ausência de condução do impulso nervoso que leva 
à contração da musculatura estriada esquelética, resultando em fraqueza 
muscular progressiva seguida de paralisia. No quadro típico, a paralisia evolui 
de forma ascendente, iniciando-se em membros inferiores e podendo levar à 
perda da marcha. Em casos mais graves, atinge a musculatura respiratória, com 
necessidade de ventilação mecânica (Machado; Raertel, 2014). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
Figura 15 – Síndrome de Guillain-Barré 
 
Crédito: Vector Mine/Shutterstock. 
Epilepsias são disfunções temporárias e normalmente reversíveis, 
resultantes de fatores hereditários, malformações cerebrais, erros inatos do 
metabolismo e até mesmo de fatores etiológicos desconhecidos, em que 
alterações na excitabilidade de um grupo de neurônios provocam atividade 
elétrica anormal e consequente perda da consciência e contração rítmica de toda 
a musculatura. A consciência se recupera progressivamente após cessarem as 
contrações musculares, mas, a longo prazo, podem ocorrer lesões cerebrais 
definitivas se os episódios não forem controlados (Figura 16). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
Figura 16 – Epilepsia 
 
Crédito: Vector Mine/Shutterstock. 
Raiva e hanseníase são exemplos de doenças infecciosas cujos 
microrganismos causadores penetram nas terminações nervosas e chegam ao 
corpo celular de neurônios da medula por meio do fluxo axoplasmático 
retrógrado. Isso é possível porque terminações nervosas sensoriais livres das 
placas motoras e autonômicas não possuem envoltórios e, portanto, não são 
protegidas por barreiras como ocorre nos nervos. Na raiva, o paciente apresenta 
comprometimento do cérebro, confusão mental, desorientação, agressividade, 
alucinações e hidrofobia. Na hanseníase, as fibras nervosas são degeneradas, 
o que causa formigamento, reduçãona sensação de tato ou perda da sensação 
de temperatura (Figura 17). 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
Figura 17 – Hanseníase 
 
Crédito: Vector Mine/Shutterstock. 
NA PRÁTICA 
Anestesia é o estado de total ausência de dor e outras sensações durante 
uma operação, exame diagnóstico ou curativo. Ela pode ser geral, isto é, para o 
corpo todo, ou parcial, também chamada regional, quando apenas uma região 
do corpo é anestesiada. Sob o efeito de uma anestesia geral, o paciente dorme. 
Com anestesia regional, o paciente pode ficar dormindo ou acordado, conforme 
a conveniência, embora parte de seu corpo fique anestesiada. 
Existem diversos tipos de anestésicos gerais e locais. Os locais são 
depositados perto dos nervos, enquanto anestésicos gerais são administrados 
pela veia ou através da respiração. Todos proporcionam anestesias adequadas. 
A escolha do anestésico varia com o tempo e o tipo de operação, e com as 
condições físicas e emocionais do paciente. Depois de conhecê-lo, avaliar seus 
exames pré-operatórios e saber a cirurgia proposta, o anestesiologista indicará 
a melhor opção. 
 
 
22 
Com base nessas informações, procure explicar quais são os anestésicos 
locais mais utilizados em procedimentos médicos e cirurgias. Descreva o 
mecanismo de ação dessas substâncias e sua interferência na condução do 
impulso nervoso, bem como a relação entre o tamanho das fibras nervosas e 
sua sensibilidade aos anestésicos. 
FINALIZANDO 
Ao final dessa aula é possível consolidar o conhecimento a respeito das 
estruturas que compõem o tecido nervoso e como o funcionamento dessas 
estruturas permite a transmissão dos impulsos nervosos que controlam e 
coordenam as funções corporais pelo sistema nervoso. 
O neurônio é a unidade fundamental do tecido nervoso e é responsável 
pela transmissão dos impulsos elétricos por meio das sinapses nervosas. 
Entretanto, essa célula tem apoio estrutural e metabólico das células presentes 
na neuroglia que permitem, por exemplo, a formação da bainha de mielina nos 
axônios dos neurônios e o reparo dessas estruturas depois de lesões e injúrias. 
Os axônios dos neurônios formam as fibras nervosas e os nervos 
presentes no sistema nervoso central e periférico. Sua porção final forma 
ramificações chamadas de terminações nervosas sensoriais ou motoras, que 
recebem ou encaminham os impulsos nervosos para órgãos efetores como 
músculos e glândulas, por meio da libração de neurotransmissores nas sinapses 
químicas ou junções comunicantes nas sinapses físicas. 
Por fim, lesões no tecido nervoso permitem o desenvolvimento de 
algumas patologias como a esclerose múltipla, a síndrome de Guillain-Barré, 
epilepsias, além de infecções. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
REFERÊNCIAS 
COSENZA, R. M. Fundamentos de neuroanatomia. 4. ed. Rio de Janeiro: 
Guanabara Koogan, 2013. 
FALAVIGNA, A.; VALENTIN NETO, J. G. Neuroanatomia. Caxias do Sul: 
Educs, 2012. Tomo III. 
MACHADO, A.; RAERTEL, L. M. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo: 
Atheneu, 2014. 
MARTIN. J. H. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH Editora 
LTDA, 2013. 
MARTINEZ. A.; ALLODI, S.; UZIEL, D. Neuroanatomia essencial. Rio de 
Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. 
MENESES, M. S. Neuroanatomia aplicada. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara 
Koogan, 2015. 
NOURELDINI, M. H. A. Fundamentos de neuroanatomia: um guia clínico. Rio 
de Janeiro: Elsevier, 2019. 
PEDROSO, J. L. et. al. Neurogenética na prática clínica. Rio de Janeiro: 
Atheneu, 2019. 
SCHIMIDT, A. G.; PROSDOCIMI, F. C. Manual de neuroanatomia humana: 
um guia prático. São Paulo: Roca, 2017. 
SNELL, R. S. Neuroanatomia clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara 
Koogan, 2019.

Mais conteúdos dessa disciplina