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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO" UNESP - CAMPUS DE ASSIS FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS GRADUAÇÃO EM LETRAS CHARLIE KRAUSKOPH RODRIGUES SARAH MADELINE PEDREIRA DE OLIVEIRA VERMELHO AMARGO ASSIS 2022 Resenha apresentada ao Curso de graduação de Letras, como parte dos requisitos necessários à obtenção da nota do semestre na disciplina de Leitura e Produção de Textos na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Assis. Orientador(a): Eliane Aparecida Galvão Ribeiro CHARLIE KRAUSKOPH RODRIGUES SARAH MADELINE PEDREIRA DE OLIVEIRA ASSIS 2022 RESENHA DO LIVRO “VERMELHO AMARGO”, BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS O VERMELHO DEITADO SOBRE O PAPEL QUEIRÓS. Bartolomeu Campos de. Vermelho Amargo. São Paulo: Cosac Naify, 2011. Em Vermelho Amargo, romance publicado em 2011, o escritor mineiro Bartolomeu de Campos Queirós, revisita suas memórias de infância. De cunho autobiográfico e prosa poética, trata-se de uma narrativa memorialista evocada pela ausência e falta da figura materna por parte do personagem, em detrimento de sua morte e substituída pela apresentação de uma madrasta indiferente. Escritor premiado, Bartolomeu nos mostra o poder de uma faca e um tomate no seu último escrito lançado em vida, esse que foi vencedor in memoriam da categoria Melhor Livro do ano do prêmio São Paulo de Literatura 2012. Com aproximadamente 60 páginas e escrito no pretérito, o livro é repleto de aforismos, metáforas e metalinguagens enquanto fala da infância, de perdas, de partidas, de ausências e da verdadeira dor do existir. Poesia que se destaca numa escrita requintada e por vezes obscura, a prosa segue uma sucessão de memórias – tempo psicológico - sem divisão de capítulos e curso livre, fragmentada apenas em pequenos parágrafos como se fossem os gomos de tomates fatiados da trama. Tão duro quanto o que lhe é contado no interior se faz sua capa e o Vermelho é experimentado sensorialmente pelo leitor graças ao projeto editorial do livro, assim como a cor de sua fonte dialoga com o título. Narrada em primeira pessoa, a obra trata de um assunto delicado com precisão extrema fazendo com que os sentimentos do narrador-personagem sejam quase palpáveis, assim como o cuidado de suas palavras gera ao leitor uma relação de cumplicidade com o eu-lírico. Ainda que carregado de ressentimentos, como a própria epígrafe do livro denuncia sobre sua urgência de discorrer sobre suas angústias reprimidas, o narrador autodiegético não deixa de ser um personagem plano, uma vez que é marcado apenas por seu discurso elegíaco e seu excesso de amor. Se sucede o mesmo com cada personagem da história. Desde o irmão que come vidro, a irmã que vive bordando em cruz, a que nasce cada dia em um país diferente em suas brincadeiras, até a que faz o papel de miar no lugar de seu gato mudo. Apesar de suas características peculiares, são todos personagens planos. Cabe ao pai também apenas o cheiro de loção pós-barba e álcool - uma possível insinuação de vício em bebidas – e a madrasta, apenas sua faca decapitadora de tomates e sua incomoda presença contrapondo a da mãe do narrador-personagem. Eliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira extrema, fazendo... Há pontos cruciais a se destacar sobre a história, como, por exemplo, a contagem regressiva que marca um a um, o dispersar dos irmãos para longe de casa e que faz com que as já não agradáveis fatias de tomate ganhem dimensões maiores e o notável caráter antitético da obra sempre representando e pondo a mãe e a madrasta de lados opostos. Os tomates não eram incômodos ao personagem quando fatiados em cruz pela mãe, mas ver os mesmos em posse da madrasta os fatiando com movimentos finos e precisos lhe gera angústia. O amargor do tomate está intrinsecamente ligado a ausência da figura materna. É da índole do tomate manifestar-se apenas em cor e cólera. (p. 05). O vermelho que geralmente está atrelado ao amor e que poderia representar sua estima pela mãe, no romance é sinônimo de melancolia e demais sentimentos negativos: Desde sempre imaginei a raiva vestida de vermelho, empunhando uma faca. (p. 06). Na novela também é trabalhada a descoberta da efemeridade da vida e fora a perda central abordada ao longo da história, há a breve passagem do homem do guarda-chuva preto, que morre de nó nas tripas e deixa um grande nó na cabeça do narrador-personagem. O texto está sempre dialogando com a ausência e o espaço que ela ocupa, enquanto o personagem queixoso denuncia sobre sua dor em corpo e alma diante do luto, das mentiras que tem inventado a si mesmo para suportar e do recorrer do seu coração dolorido ao amor. O amor tem sido seu escape desde a fatídica manhã fria de maio em que sua mãe o deixara. Por fim, apesar de Bartolomeu Campos de Queirós ser um grande nome da literatura infanto- juvenil brasileira, Vermelho Amargo se sobressai como uma leitura mais madura. Denso e carregado, o livro cativa e ganha a empatia do leitor, uma vez que sua prosa refinada é passível de identificação. Recheado de lirismo, sua leitura se faz um deleite para os amantes de poesia e fomenta a vontade de seu leitor de estar sempre armado de uma caneta a marcar suas passagens, pois uma se faz mais bela que outra. O romance é indicado a todos aqueles que procuram uma leitura intensa e apaixonada e que estejam dispostos a revisitar, assim como o autor, suas próprias memórias. Vermelho Amargo não é um livro que trará arrependimentos, apenas o transbordar de amor. Eliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira à