Buscar

47_RE_FC_8668650_Scapin Ferreira

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

© Rev. HISTEDBR On-line Campinas, SP v.22 1-7 e022047 2022 
 
[1] 
 
RESENHA 
FILGUEIRAS, V. A. “É tudo novo”, de novo: narrativas 
sobre grandes mudanças no mundo do trabalho como 
ferramenta do capital. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2021. 
207 p. 
AS NARRATIVAS SOBRE AS 
MUDANÇAS NO MUNDO DO 
TRABALHO: QUAIS “NOVIDADES” 
NA DINÂMICA DO CAPITAL? 
 Gislei José Scapin* 
Secretaria Municipal de Educação de Panambi 
 Liliana Soares Ferreira** 
Universidade Federal de Santa Maria 
 
 
 
 
 
 
A Revista HISTEDBR On-line 
publica artigos resultantes de 
estudos e pesquisas científicas 
que abordam a educação como 
fenômeno social em sua 
vinculação com a reflexão 
histórica 
 
 
 
Correspondência ao Autor 
Nome: Gislei José Scapin 
E-mail: gjscapin@gmail.com 
Instituição: Secretaria Municipal 
de Educação de Panambi, Brasil 
 
 
Submetido: 09/03/2022 
Aprovado: 03/05/2022 
Publicado: 06/12/2022 
 
 10.20396/rho.v22i00.8668650 
e-Location: e022047 
ISSN: 1676-2584 
 
 
Como citar ABNT (NBR 6023): 
SCAPIN, G. J.; FERREIRA, L. S. 
As narrativas sobre as mudanças no 
mundo do trabalho: quais 
“novidades” na dinâmica do 
capital? Revista HISTEDBR On-
line, Campinas, SP, v. 22, p. 1-7, 
2022. DOI: 
10.20396/rho.v22i00.8668650. 
Disponível em: 
https://periodicos.sbu.unicamp.br/o
js/index.php/histedbr/article/view/8
668650. Acesso em: 6 dez. 2022. 
 
Distribuído 
Sobre 
 
Checagem 
Antiplágio 
 
https://orcid.org/0000-0002-6996-2158
http://lattes.cnpq.br/8465343376412459
https://orcid.org/0000-0002-9717-1476
http://lattes.cnpq.br/4007512293061299
 
 
© Rev. HISTEDBR On-line Campinas, SP v.22 1-7 e022047 2022 
 
[2] 
 
RESENHA 
Como o capital articula suas forças e se mobiliza estrategicamente para legitimar, 
reproduzir e radicalizar as práticas empresariais e as políticas públicas para atacar aqueles 
que vivem do (seu próprio) trabalho? Qual é a tática utilizada pelos agentes do capital, no 
âmbito da disputa política, para convencer os trabalhadores e as instituições da urgente 
adaptação a uma suposta “nova” realidade? Propor alternativas para identificar e perquirir 
essas questões é tarefa assumida pelo Professor Vitor Araújo Filgueiras em sua nova 
elaboração teórica, tendo por suposto, também, elaborações empíricas, cujo título é “É tudo 
novo”, de novo: as narrativas sobre grandes mudanças no mundo do trabalho como 
ferramenta do capital. A obra foi lançada à crítica no intuito de estimular o debate acerca 
das mudanças e “novidades” no mundo do trabalho e alertar sobre a retórica do capital para 
preservar a sua hegemonia e o gerenciamento do status quo da sociedade. A referida obra, 
aqui resenhada, foi publicada pela Boitempo Editorial, no ano de 2021 (novembro), situada 
na Coleção “Mundos do Trabalho” e, embora não ocorra uma referência direta e explícita, 
ela tece e instrumentaliza, nas entrelinhas, elementos para reflexão sobre as “novidades” 
situadas também no campo da Educação e da formação da classe trabalhadora. 
Do ponto de vista dos arranjos estruturais e comentários externos à obra, ela 
apresenta em sua “periferia”, nas lapelas do livro, algumas considerações tecidas pelo 
sociólogo do trabalho, Ricardo Antunes, destacando a pertinência do trabalho desenvolvido 
por Vitor ao desvelar e contrapor as imposturas do capital em sua estratégia de construir 
narrativas para forjar o novo com intuito de manter a velha ordem. Na quarta capa ou 
contracapa, constam as considerações de Renata Dutra e Lys Sobral que, respectivamente, 
evidenciam a sagacidade do autor ao desnudar a estratégia de dominação do capital pela via 
da elaboração de discursos sobre o “novo” e ao reivindicar a defesa do trabalho e dos 
trabalhadores para construir uma sociedade menos injusta e desigual. O livro conta com o 
Prefácio de José Dari Krein (pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do 
Trabalho – Cesit/IE/Unicamp) que argumenta sobre a importante contribuição das 
elaborações de Vitor Filgueiras “[...] para a identificação e a desmistificação das narrativas 
dominantes que têm justificado e legitimado as políticas em favor do capital nos últimos 
quarenta anos.” (FILGUEIRAS, 2021, p. 11). Krein também destaca a preocupação didática 
do autor ao, por exemplo, apresentar à primeira vista as “novidades” mobilizadas pela 
narrativa do capital e, posteriormente, elevá-las ao confronto com os dados da realidade, 
buscando desmistificar o discurso e identificar o nexo causal entre ele e os objetivos do 
capital que suscitaram a sua elaboração. 
Feito esse preâmbulo de caracterização, encaminha-se para uma descrição e análise 
mais pontual da elaboração de Vitor. O autor explica, na seção da “Apresentação”, que a 
referida obra sintetiza “[...] achados e argumentos de minhas pesquisas e atividades 
profissionais nos últimos quinze anos. Parte fundamental das percepções e análises 
desenvolvidas nesse período decorre de minhas atividades como auditor fiscal do trabalho, 
cargo que ocupei entre 2007 e 2017.” (FILGUEIRAS, 2021, p. 9). Ademais, considera os 
resultados obtidos em suas pesquisas de doutoramento, defendida em 2012, e pós-
 
 
© Rev. HISTEDBR On-line Campinas, SP v.22 1-7 e022047 2022 
 
[3] 
 
RESENHA 
doutoramento, entre 2014 e 2016, uma na Unicamp e outra na Universidade de Londres; 
assim como considera os resultados, finais ou em andamento, dos seguintes projetos de 
pesquisa e extensão: “Caminhos do Trabalho: tendências, dinâmicas e interfaces, do local 
ao global” (2017 – em andamento); “Vida pós-resgate: trabalhadores resgatados em situação 
análoga à de escravos: investigação dos seus destinos e análise das políticas de assistência” 
(2017 e em andamento); “Os impactos jurídicos, econômicos e sociais da reforma 
trabalhista: análise teórica e empírica das experiências internacionais [...]” (2018 – 2019); 
atividades da “Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da Reforma Trabalhista – 
Remir (2018 e em andamento); e Impactos da Reforma Trabalhista: comparação entre Brasil 
e Espanha [...]”, em 2020. (FILGUEIRAS, 2021, p. 10). 
Para situar e contextualizar o objetivo de sua obra, Vitor inicia argumentando que 
“Sem dúvida, o mundo do trabalho tem passado por grandes transformações nas últimas 
décadas em escala global [...]” (FILGUEIRAS, 2021, p. 15), a taxa de desemprego, por 
exemplo, é um dado objetivo, grave e recorrente no pós-guerra. Entretanto, adverte o autor, 
que o debate acerca de tais transformações está sendo pautado pelas empresas e seus 
representantes como, por exemplo, os organismos multilaterais e as associações 
corporativas. O agravante disso, que é, inclusive, o objeto de análise do autor, é a difusão de 
narrativas produzidas no interior das forças corporativas e “[...] repetidas como ondas, que 
noticiam grandes transformações que afetariam radicalmente o mundo do trabalho. Em 
comum, todos os anúncios concluem que é necessário adaptar o mundo do trabalho às 
modificações por eles diagnosticadas.” (FILGUEIRAS, 2021, p. 16). Em suma, o autor 
agrupa as narrativas do grande capital em quatro eixos, expressando seu caráter didático: 1) 
novo cenário internacional; 2) novas tecnologias; 3) novas empresas; 4) novos trabalhadores. 
Tudo “novo” (!?). Diante disso, o compromisso de Vitor é “[...] analisar essas narrativas 
empresariais propagadas pelo mundo nas últimas décadas, apresentando-as, contrastando-as 
com as evidências empíricas, discutindo sua lógica, mostrando seus impactos [...]” para, por 
fim, elencar alternativas para contrapor as narrativas em voga pelo capital. (FILGUEIRAS, 
2021, p. 17). 
A tese do autor é que, a partir de recursos ideológicos de convencimento (e de 
chantagem, em certa medida), as narrativas do capital acerca das “novidades” no mundo do 
trabalho (flexibilização, terceirização, empreendedorismo, por exemplo), “[...] buscam 
legitimar políticas públicas e práticas que destroemdireitos e condições dignas de trabalho, 
ampliam a desigualdade e o desemprego.” (FILGUEIRAS, 2021, p. 18). Entende-se, com 
isso, que a tarefa assumida pelo autor e levada a cabo em “é tudo novo”, de novo está em – 
mediante a todo e qualquer discurso, retórica, narrativa ou anuncio1 produzido pelo capital 
para reivindicar alguma mudança, salto/avanço quali/quanti ou adequação – questionar: o 
que há de “novo”? E a quem interessa essas “mudanças” ou o/a discurso/narrativa sobre 
elas? Tomando como referência, para o embate/enfrentamento, os dados e fatos da realidade, 
que denunciam as contradições dissimuladas pelas narrativas capitalistas, o autor produz sua 
análise a partir das seguintes bases e dados, além dos resultados dos projetos de pesquisa e 
 
 
© Rev. HISTEDBR On-line Campinas, SP v.22 1-7 e022047 2022 
 
[4] 
 
RESENHA 
extensão mencionados: informações e indicadores internacionais (OCDE, OIT, Eurostat, 
INE, NOS, LFS) e nacionais (Pnad, IBGE, Rais, FGTS, Ipeadata); relatórios da Inspeção do 
Trabalho e decisões da Justiça, assim como documentos de entidades empresariais e 
empregadores específicos; casos estudados in loco nos estabelecimentos empresariais e 
entrevistas com trabalhadores, sindicalistas, agentes públicos e empresas no Brasil, Reino 
Unido, Espanha e Coreia do Sul. 
No primeiro capítulo, “1. É tudo novo”, Vitor Filgueiras apresenta de “forma 
telegráfica”, ou seja, tal como o próprio capital idealizou, projetou, emitiu e justificou suas 
narrativas nos anos 1980 e 1990, sistematizadas em quatro eixos (já citados) que se 
combinam e retroalimentam. O autor contextualiza o quadro histórico e a base material que 
suscitou a dinâmica e a necessidade das mudanças e a elaboração das narrativas. Nesse 
contexto, o “novo” que tangencia a narrativa do capital a partir dos quatro eixos supracitados, 
respectivamente, é: a) o receituário dos organismos internacionais do capitalismo (FMI, 
OCDE, Banco Mundial), que incide sobre o Estado (reforma trabalhista e flexibilização); b) 
nos anos 1980 e 1990, a Terceira Revolução Industrial propicia uma gestão do trabalho mais 
automatizada e uma produção enxuta, acentuando as oportunidades de “[...] emprego 
melhores, menos pesados e repetitivos, e mais criativos [...]” (FILGUEIRAS, 2021, p. 34); 
c) a terceirização é a chave do progresso e da competividade da empresa enxuta e flexível 
para “[...] garantir a sobrevivência das corporações no novo padrão de competição e, por 
conseguinte, a manutenção ou ampliação dos postos de trabalho” (FILGUEIRAS, 2021, p. 
38); d) o novo trabalhador reivindicado para o “novo” mundo do trabalho deverá ser capaz 
de “[...] achar e proteger o próprio emprego (ou se tornar empresário) e a própria vida.” 
(FILGUEIRAS, 2021, p. 38), uma vez que o Estado menos ativo (aliado ao enxugamento da 
empresa e ao avanço tecnológico) não dará conta de combater o desemprego com suas 
políticas (proteção e direitos do trabalho), o empreendedorismo é a chave e a qualificação é 
o caminho para o novo trabalhador em condição de empregabilidade. 
 No capítulo “2. De novo...”, Vitor Filgueiras empreende um movimento de 
continuidade às narrativas do capital sobre as “novidades” do mundo do trabalho, mas, desta 
vez, tendo como quadro histórico os anos 2000 e a base material do avanço neoliberal e a 
crise dos anos 2008. É sabido que “modernização”, “flexibilização” e “qualificação” são 
termos-chaves das narrativas do capital em ambas ondas ou blocos de elaborações acerca do 
“novo” mundo do trabalho. O que caracteriza a segunda onda é a intensificação dos arranjos 
preconizados pelo capital quando o assunto é legislação trabalhista, emprego e 
empregabilidade, formação e tecnologias. Nesse novo contexto, os quatros eixos se 
caracterizam, respectivamente: a) no pós-crise de 2008, o capital reivindica uma maior 
flexibilização no âmbito trabalhista, priorizando acordos individuais sobre os coletivos; b) a 
Indústria 4.0 configura o novo salto tecnológico; c) as empresas alegam uma relação de 
trabalho não mais pela via da contratação de serviços, mas pela compra de um produto, além 
de exigirem maior legalização do trabalho autônomo e da informalidade, uma vez que o uso 
das TIC (aplicativos e plataformas) viabilizam novas dinâmicas produtivas e de consumo; 
 
 
© Rev. HISTEDBR On-line Campinas, SP v.22 1-7 e022047 2022 
 
[5] 
 
RESENHA 
d) a narrativa sobre os novos trabalhadores trata da “[...] necessidade de cortes de direitos e 
o papel da qualificação e do empreendedorismo para resolver o problema do desemprego 
voltam com força redobrada [...]” (FILGUEIRAS, 2021, p. 61), novas habilidades cognitivas 
e socioemocionais são o substrato do “novo” trabalhador dono de seu próprio negócio 
(neoempreendedor) ou disposto a se adaptar ao trabalho cada vez mais tecnológico e digital, 
sem garantias de direitos, salário e suporte sindical. Diante do exposto, ambos capítulos 
abordam temas coincidentes, entretanto, em quadros históricos distintos e com arranjos 
discursivos cada vez mais intensos, além de, por ora, Vitor ainda não empreender um 
movimento de contraposição às narrativas supracitadas. 
É a partir do capítulo “3. É tudo novo? De novo?”, que o autor inicia um movimento 
de contraposição, de questionamento das narrativas mais convincentes e mais acentuadas no 
discurso dos representantes do capital. Vitor, seguindo a organização dos quatro eixos já 
citados que orientam toda a análise, destaca conceitos e categorias pontuais utilizadas, 
reiteradamente, pelo capital em suas investidas discursivas sobre as mudanças no mundo do 
trabalho e a necessidade do “novo”, tais como: desemprego, flexibilização, reformas, 
qualificação, tecnologia e criatividade, terceirização, autonomia e (neo)empreendedorismo. 
O autor não nega as mudanças que, de fato, ocorreram no mundo do trabalho nos últimos 
anos, entretanto, numa espécie de dialética do “novo”, Vitor apresentar as contradições 
dissimuladas nos discursos do capital a partir do contraste de suas narrativas com dados 
produzidos por estudos e pesquisas nacionais e internacionais, assim como os indicadores 
apresentados por órgãos de controle e fiscalização do trabalho. Nesse movimento, as 
promessas elaboradas pelo capital, numa espécie de jogo de linguagem, não encontram 
respaldo ou correspondência entre o “dito” (a narrativa) e a “coisa” (a realidade material), 
pois as narrativas “[...] apresentam o ‘novo’ para promover o ‘velho’ [...]” (FILGUEIRAS, 
2021, p. 117) e, nesse sentido, as “novidades” envernizam formas inéditas e modernas de 
relações de trabalho, produção e qualificação para preservar (ou resgatar) as velhas ofensivas 
do capital contra o trabalho. 
No capítulo “4. A assimilação do ‘novo’ e as profecias autorrealizáveis”, o autor 
direciona sua análise à tarefa de desvelar o mecanismo de propagação e o potencial de 
convencimento das narrativas elaboradas pelo capital, apropriadas e reproduzidas por setores 
e sujeitos que, em tese, representam o direito e a proteção do trabalho, quais sejam: os 
sindicatos, as instituições do direito do trabalho – inclusive as academias – e os próprios 
trabalhadores. Vitor empreende esforços para caracterizar o movimento de cooptação da 
subjetividade dos trabalhadores e da manipulação realizada sobre os setores sindicais, uma 
vez que ocorre uma espécie de “conciliacionismo” (FILGUEIRAS, 2021, p. 159), a fim de 
cumprir com a agenda empresarial no ataque à regulação protetiva do trabalho e na 
intensificação das formas precárias de contratação. O caráter mais emblemático desse 
movimento fica evidente nos argumentos dos próprios trabalhadores, conforme as 
entrevistas e os dados produzidos por Vitor, posto que, mesmo entendendo as contradições, 
não apresentam ou vislumbram alternativas para sua superação. As profecias se 
 
 
© Rev. HISTEDBR On-line Campinas, SP v.22 1-7 e022047 2022 
 
[6] 
 
RESENHAautorrealizam uma vez que “[...] aqueles que deveriam ou poderiam fazer oposição a esses 
ataques acreditam nelas.” (FILGUEIRAS, 2021, p. 159). A assimilação das narrativas do 
capital, legitimando a ausência de proteção do trabalho, se retroalimenta no discurso sobre 
as “novidades”. 
Ao fim e ao cabo, no capítulo “5. Precisamos de novidades”, uma vez constatadas 
as transformações no mundo do trabalho, Vitor reconhece a necessidade das “novidades”, 
mas não de forma ingênua e unilateral, situando o debate na centralidade da luta de classes 
e no horizonte formativo e protetivo do trabalho e dos interesses da classe trabalhadora. Ao 
identificar que a narrativa do capital sobre o mundo do trabalho, por meio de diferentes 
discursos, convence da urgência de “mudanças” que legitimam seus interesses e sua ofensiva 
sobre o trabalho, a empreitada do autor reivindica que as “[...] forças do trabalho criem suas 
próprias narrativas e proponham soluções alternativas às pautas dominantes.” 
(FILGUEIRAS, 2021, p. 161). Entretanto, adverte Vitor, é necessário, para além de 
identificar, “[...] explorar o potencial das contradições [...]” (FILGUEIRAS, 2021, p. 186), 
que o capital dissimula em seus discursos, compreendendo o caráter ideológico das 
narrativas e desmistificando sua inexorabilidade, apresentando um discurso propositivo e 
aproveitando a janela de oportunidades ao redor do mundo, tal como exemplifica o autor ao 
longo do capítulo. 
Por fim, se, de fato, o mundo do trabalho se modificou e há muito para ser atualizado, 
do ponto de vista político (o lócus de maior carência de vontade), no confronto de narrativas, 
o ponto de partida deve reivindicar a implementação de políticas protetivas do trabalho, isto 
é, o direito e a proteção do trabalho como condição mínima para idear e objetivar um projeto 
histórico de sociedade, não aceitando o discurso consensual que lança mão da negação total 
do vínculo de emprego e dos direitos dos trabalhadores como alternativa e solução ao 
desemprego. Desse modo, a democratização da produção e o trabalho associado são os 
fundamentos da ação política dos trabalhadores, ocupando e atuando, com sua coletividade, 
em/sobre todos os espaços e meios: “[...] na empresa, na associação, no bairro, no Estado, 
nos meios de comunicação [...]”, “O que você está fazendo? O que você pode fazer?” 
(FILGUEIRAS, 2021, p. 193). 
AUTORIA: 
 * Mestrado em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria. Professor de 
Educação Física da Secretaria Municipal de Educação de Panambi, RS. Contato: 
gjscapin@gmail.com 
 ** Doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora do 
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Maria. Contato: 
anaililferreira@yahoo.com.br 
 
 
mailto:anaililferreira@yahoo.com.br
 
 
© Rev. HISTEDBR On-line Campinas, SP v.22 1-7 e022047 2022 
 
[7] 
 
RESENHA 
COMO CITAR ABNT: 
SCAPIN, G. J.; FERREIRA, L. S. As narrativas sobre as mudanças no mundo do trabalho: quais 
“novidades” na dinâmica do capital? Revista HISTEDBR On-line, Campinas, SP, v. 22, p. 1-7, 
2022. DOI: 10.20396/rho.v22i00.8668650. Disponível em: 
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8668650. Acesso em: 6 dez. 
2022. 
Notas 
 
1 Aplicados pelo autor como sinônimos.

Mais conteúdos dessa disciplina