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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E DIREITO: O USO DA TECNOLOGIA NA GESTÃO DO PROCESSO NO SISTEMA BRASILEIRO DE PRECEDENTES Artificial Intelligence and the Law: the use of technology for case management in the Brazilian System of Precedents Revista de Direito e as Novas Tecnologias | vol. 3/2019 | Abr - Jun / 2019 DTR\2019\35395 Ricardo Dalmaso Marques Advogado. Mestre e Doutorando em Direito Processual pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). In-house counsel em empresas de tecnologia. ricardodalmaso5@gmail.com Área do Direito: Digital Resumo: O uso da tecnologia para otimização e aprofundamento das práticas jurídicas já é uma realidade, em especial, no sistema processual brasileiro, onde a padronização e a burocracia que caracterizam a litigância repetitiva funcionam como um demand pull de tecnologias que possam acelerar procedimentos e reduzir custos. Abordamos as recentes iniciativas nesse sentido, com foco nas propostas pelos tribunais brasileiros para convalidação e operacionalização do sistema de precedentes do Código de Processo Civil/2015. Defendemos, sobretudo, que se trata de área fértil – porém, com limites – para a evolução das técnicas de gerenciamento de processos que visam aumentar o acesso e a efetividade do sistema processual – tais como, na esfera judicial, a seleção e triagem de demandas, a abertura para outros meios de resolução de disputas, o planejamento de andamentos procedimentais, e a organização da estrutura judiciária. Palavras-chave: Inteligência Artificial – Tecnologia – Resolução de disputas – Precedentes – Gestão do processo Abstract: The use of technology to optimize and strengthen the legal practice is already a reality, in particular in the Brazilian procedural system, where the standardization and bureaucracy that characterize the mass litigation area work as a demand pull for technologies aiming to expedite proceedings and reduce costs. We address the recent initiatives available in the matter, with focus on the proposals made by the Brazilian courts to validate and operationalize the system of precedents brought by the 2015 Code of Civil Procedure. We sustain essentially that this consists of a fertile area – although with limits – for the evolution of case management techniques that aim to increase the access and the effectiveness of the procedural system – such as, in the judicial field, the selection and triage of claims, the opening for other dispute-resolution methods, the planning of procedural developments, and the organization of the courts' structure. Keywords: Artificial Intelligence – Technology – Dispute resolution – Precedents – Case management Sumário: 1.Introdução: os rumos da tecnologia no Direito Processual - 2.Inteligência Artificial: os usos no ramo do Direito - 3.A tecnologia no Direito Processual: A ferramenta “Victor” do Supremo Tribunal Federal e outras propostas recentes - 4.Os prós (eficiências) e contras (riscos) das propostas: como e até onde prosseguir no exercício e na gestão do processo - 5.Conclusão: o eficiente uso da tecnologia para as atividades de gestão (burocráticas e repetitivas) que já se estabeleceu podem – e devem – ser automatizadas na gestão do processo 1.Introdução: os rumos da tecnologia no Direito Processual 1Historicamente, exercer alguma profissão jurídica sempre exigiu habilidades relacionadas à leitura, à escrita e à fala, principalmente. Estudiosos acreditam, aliás, que o sucesso do homo sapiens em comparação com outras espécies de seres humanos que Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 1 coexistiam conosco milhares de anos atrás se deu justamente em uma revolução cognitiva, guiada pela criação de uma linguagem, dos sapiens, muito mais versátil que todas as dos demais2. Essas (a leitura, a escrita e a fala) são capacidades, portanto, que há muito foram destacadas nos seres humanos como os conhecemos hoje. E, sendo o Direito uma ciência social, a prática jurídica por advogados, juízes, promotores, entre outros sujeitos, foi também, de acordo com a história, amplamente tida por exclusiva do ser humano. Por isso, inclusive, o raciocínio e a hermenêutica jurídicos são consideradas por muitos atividades tão complexas que poucos seriam capazes de desempenhar, e também a advocacia, ainda hoje, é considerada em muitos países uma atividade privativa3. Há, porém, uma fração relevante das atividades desempenhadas pelos seres humanos que praticam alguma atividade jurídica que nada ou muito pouco têm de jurídico em si, e há outra parcela, também importante, de medidas que sequer tinham sido pensadas para o Direito – ao menos não com tanta profundidade – até recentemente. Para as primeiras, de forma adequada ou não, fez-se – e ainda se faz em muitos foros – uso de estagiários, paralegais, cartorários, entre outros, para o desempenho de atividades consideradas “administrativas”, como o arquivamento, a triagem e a classificação de documentos, a análise formal de peças simples e repetitivas e a elaboração de relatórios. São todas atividades que, em outras áreas (em especial as de negócios), seriam e têm sido otimizadas com sucesso por meio do uso de tecnologia. Como indica Harry Surden, são quanto a essas atividades “burocráticas”, por assim dizer, que resultados vindos de sistemas computacionais têm se provado bastante úteis, pois, nesse campo, ainda que com imperfeições, “fortes aproximações” podem ser consideradas aceitáveis4. Quanto às segundas, o desenvolvimento na criação e na análise de dados trouxe uma série de possibilidades que antes não existiam para o Direito. A prática jurídica, de certa forma, passa por e exige a análise de dados e informações produzidos socialmente, já existentes, para se buscar dar respostas – de maneira normativa ou adjudicatória – a questões que se considera relevantes para a sociedade. As formas como esses dados têm sido analisados e interpretados, porém, estão evoluindo e afetando também a hermenêutica jurídica. O uso de analytics e de big data analytics5 para fins de compreensão da certos temas com mais amplitude e, mais longe ainda, de (tentativa de) previsão das consequências de determinada conduta, pode também ter impacto direto na forma como o Direito é visto e aplicado. Hoje, advogados e instituições são mais capazes de analisar e aconselhar sobre os riscos de certo ato ou estratégia, e legisladores e julgadores podem ser munidos de mais elementos, também mais precisos, para desempenhar suas respectivas funções6. Há também para o Direito, desta feita, uma ciência de dados sendo desenvolvida7, e a relação entre esses dois (o Direito e os dados) está sendo rapidamente transformada ou mesmo totalmente restabelecida. No âmbito do processo – judicial, arbitral ou administrativo – as possibilidades são ainda maiores, uma vez que são feitos invariavelmente compostos de uma miríade de documentos (em sua maioria públicos); ou seja, processos são ricos em dados, e dados que podem ser analisados, interpretados e utilizados para fins intra e extraprocessuais. Com efeito, os dados extraídos de processos podem ser – e têm sido – utilizados para desenvolver a gestão do próprio processo, por juízes, serventuários, e também pelos advogados e pelas partes (até para aumentarem suas chances de êxito)8. Trata-se, pois, de área fértil, em especial, para a evolução das práticas e técnicas de gerenciamento de processos (case management) que visam aumentar o acesso e a efetividade de todo o sistema processual – tais como, no judicial, a seleção e a triagem de demandas, a abertura para outros meios de resolução de conflitos, o planejamento dos andamentos procedimentais, a organização da estrutura judiciária, entre muitos outros há tempos estudados pela doutrina mesmo que ainda sem referência ao uso da tecnologia9. Nesse ponto, como bem observa Bruno Meyerhof Salama, a padronização e a burocracia que caracterizam uma parte importante do processo judicial brasileiro – o chamado “contencioso de massa”,caracterizado por uma litigância repetitiva – funcionam como um demand pull; ou seja, incitam a demanda por tecnologias que possam otimizar Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 2 procedimentos e reduzir custos, dirigidas tanto aos jurisdicionados como ao próprio Poder Judiciário. O direito brasileiro – considerando, sobretudo, o formato das decisões judiciais e a “superlitigância” que lhe é peculiar – “possui características [...] que o tornam receptível ao law tech ”.10 Para os tribunais, em especial, há incentivos substanciais a que se crie e implemente “ferramentas que otimizem o burocrático trabalho de redigir decisões judiciais muito parecidas”11. O que é claro é que a área jurídica é – e sempre foi – marcada por ineficiências ou, ao menos, por uma carência de reflexão generalizada sobre como atingir a eficiência, principalmente na gestão do processo. A partir disso, já há anos, têm surgido inúmeras propostas de uso da tecnologia para otimizar as mais diversas atividades jurídicas, das mais simples às mais complexas. No Brasil, destacamos as iniciativas do Poder Judiciário de estabelecer parcerias com pesquisadores para o uso de inteligência artificial que auxilie na classificação e na identificação de causas e objetos, e mesmo na realização de atos administrativos necessários para o julgamento de causas repetitivas, como o projeto “Victor”, do Supremo Tribunal Federal (STF)12. Segundo se tem reportado, os graus de precisão de tais ferramentas têm sido altíssimos – maiores do que se a mesma atividade tivesse sido desempenhada por seres humanos, manual e individualmente, sem o uso dessas tecnologias – e com a ressalva de que “quem julga é o juiz, e não a máquina”13. Já há também menções à possibilidade de que a tecnologia seja usada para preparar “uma proposta de voto”14, mas aí suscitando importantes dúvidas em termos de legitimidade e mesmo de conveniência, como se verá. Entendemos, como se detalhará adiante, que não há espaço ou motivo razoável para se afastar o uso de novas tecnologias para otimizar (e não necessariamente instruir e executar por completo) determinadas atividades no ramo jurídico, em especial as mais simples, burocráticas e repetitivas. Tal como uma atividade desempenhada por um ser humano, aquelas realizadas com o auxílio de soluções tecnológicas possuem também uma margem de erro, um risco, que pode ser maior ou menor, a depender das premissas em que são fundadas. O que cabe à comunidade jurídica nesse momento é, sobretudo, avaliar, quanto a cada iniciativa, (i) o que deve e o que não deve ser (ou tentar que seja) automatizado; e (ii) quais os riscos de se fazê-lo ou não. Algumas respostas serão dadas no campo da ética profissional, se necessário15, mas a maioria delas deverá se dar no âmbito da política pública, mormente para se decidir se, na linha de Harry Surden, as aproximações trazidas pela tecnologia são ou não aceitáveis em cada atividade específica16. Quer-nos parecer que já há atividades na gestão do processo que há décadas e anos poderiam – e deveriam – ser otimizadas, porquanto, na prática, mostram-se repetitivas e mais tendentes a erros quando executadas exatamente por humanos, sem o uso de tecnologia; são elas justamente as atividades meramente burocráticas e repetitivas (ou seja, que não se alteram ou pouco se modificam de uma para a outra, como as relacionadas à identificação, triagem e mesmo reprodução de peças ou decisões). Para passos mais largos que esse, de outro lado, os limites desse “auxílio” se encontram onde os riscos ainda são bastante altos de não se atingir soluções efetivas ou compatíveis com a segurança jurídica, como ocorre com o ato de julgar em si. Aí, as “aproximações” propostas ainda não parecem ser suficientes ou valerem o risco. É igualmente no campo da automatização de gestão do processo como um todo, ou na sua resolução também repetitiva no chamado “contencioso de massa”, que os maiores benefícios hoje se verificam. Nesse âmbito, trata-se de escolha que inclusive facilita e convalida a opção feita no Brasil por um sistema de precedentes, que corretamente prima por decisões idênticas para casos idênticos. 2.Inteligência Artificial: os usos no ramo do Direito “Inteligência artificial” é expressão que busca refletir, talvez de forma exagerada, as capacidades das novas tecnologias, mais especificamente as máquinas e os sistemas cada dia mais capazes. Há quem prefira expressões como “máquinas inteligentes” ( smart machines) ou “superinteligência” (superintelligence), mas também para se referir Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 3 a essa evolução dos sistemas computacionais, que hoje podem, por exemplo, aprender com experiências passadas para descobrir padrões, identificar tendências e, assim, fazer previsões mais precisas do que poderá ocorrer em situações semelhantes (o já referido big data analytics)17. A inteligência artificial, conceitualmente, também incluiria iniciativas de que sistemas realizem atividades que antes exigiriam a inteligência humana (IBM Watson)18, máquinas que podem interagir fisicamente (a robótica), e sistemas que podem detectar e expressar emoções (o affective computing)19. Trata-se a inteligência artificial, de toda forma, de conceito em constante desenvolvimento, o que significa que “o que é considerado AI ontem pode não mais sê-lo hoje” 20, mas normalmente se referindo a máquinas que podem aprender, raciocinar e agir por si próprias quando postas diante de novas situações com padrões semelhantes a algumas anteriores21: Fonte: “Is this AI? We drew you a flowchart to work it out.” (MIT Technology Review, 10 de novembro de 2018).22 O aprendizado de máquinas (machine learning) é um dos principais exemplos dessas novas capacidades; considerado um braço da inteligência artificial, ele pode ser utilizado para, por meio de algoritmos, possibilitar que programas de computador possam “aprender” com suas experiências prévias e, assim, melhorar gradativamente sua performance23. Sua aplicação prática se destaca, por exemplo, em buscas de resultados na internet, reconhecimento facial, detecção de fraudes e mineração de dados. Trata-se, com efeito, de tecnologia que busca antecipar ou prever resultados, com determinado grau de segurança, a partir da análise de dados existentes, como faria um filtro de spam em uma caixa de e-mails24. Os algoritmos utilizados nessas tecnologias consistiriam em sequências predefinidas de comandos automatizados que, com base em dados, chegam a conclusões que podem sujeitar alguém a uma determinada ação, como, em tese, poderia fazer um ser humano. Em alguns sistemas mais complexos, essas sequências predefinidas podem ser alteradas de acordo com as variáveis usadas como base Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 4 (substrato) e também pelas conclusões intermediárias obtidas25: “O machine learning consiste na capacidade de os sistemas se adaptarem a novas circunstâncias e extrapolar padrões previamente estabelecidos, isto é, aprendendo com os dados já conhecidos e, assim, produzindo novas informações capazes de subsidiar tomadas de decisão futuras. Em outras palavras, tal conceito diz respeito ao uso de algoritmos para (i) analisar dados, (ii) aprender com eles, e, então, (iii) apresentar resultados e/ou fazer previsões a respeito de algo. Desse modo, as máquinas são inteligentes no sentido funcional: capazes de alterar e/ou melhorar seu comportamento a partir da experiência.” No âmbito jurídico, há anos vêm surgindo propostas, em sua maioria privadas, das mais diversas e também para muitas áreas da prática jurídica – as chamadas lawtechs e legaltechs. São já centenas de empresas que se dedicam a propor inovações ou otimizações em alguma frente da área jurídica – que, evidentemente, é destacada por atividades que, tais comomuitas outras, podem e devem ser tornadas mais eficientes e criativas, também pelo uso de inteligência artificial, como se introduziu supra. Por isso, no âmbito do Direito, o uso de tecnologia – e, dentro dela, também da inteligência artificial – tem dado origem a ferramentas com focos, por exemplo, em a) automação e gestão de documentos; b) monitoramento e extração de dados; c) analytics e jurimetria; d) resolução de conflitos on-line (ODR – Online Dispute Resolution), entre outros. Veja-se alguns exemplos nesse novo “ecossistema”: Fonte: “Legal Tech Startups: Not Just for Silicon Valley Anymore”. (Thomsom Reuters. 02 de agosto de 2016.)26 Nota-se, em especial, que essas aplicações podem ser voltadas a diferentes mercados e usuários finais, tais como consumidores, escritórios de advocacia, departamentos jurídicos, Poder Judiciário, entes públicos em geral e Faculdades de Direito. E as tecnologias envolvidas são muitas daquelas propostas também para as áreas não jurídicas, como a “computação cognitiva” (que inclui o processamento de linguagem natural, o aprendizado de máquina e os sistemas cognitivos), o blockchain, a computação em nuvem, big data analytics etc.27. Trata-se de tendência que já há tempos chegou também ao cenário nacional, a partir de empresas estrangeiras e também de locais, conforme acompanhamento feito pela AB2L, a Associação Brasileira de Lawtechs & Legaltechs: Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 5 Fonte: “Radar de Lawtechs e Legaltechs”, versão 4.1, de 6 de dezembro de 201828. E, embora tenham menor apelo na mídia, as propostas que mais têm se mostrado úteis e ganhado mercado são justamente as relacionadas à gestão, automação e análise de documentos, tendo em vista que muitos fluxos e atividades de trabalho – tais como operações de compra e venda de empresas, elaboração de peças e decisões e produção de prova em processos judiciais e arbitrais – são responsáveis pelo tratamento massivo de bases e conjuntos de dados. Isso significa que tecnologias que eliminem ou diminuam práticas repetitivas e poucos criativas por seres humanos são as mais indicadas29. Também, por isso, o termo “eficiência” talvez nunca tenha sido tão enfatizado no ramo do Direito como ocorre hoje. Especificamente para o direito processual, o foco – a busca pela eficiência – dessas iniciativas ademais tem sido agilizar procedimentos e economizar recursos. E isso também, como se disse, porque processos judiciais, arbitrais e administrativos são ricos na geração de dados, que podem e devem ser tratados e analisados para se refletir se os procedimentos têm sido desenhados e implementados de forma eficiente e efetiva. Reitere-se que as características do contencioso judicial brasileiro exigem e empurram (um demand pull) o desenvolvimento tecnológico30, como também indicaram os entrevistados mencionados no relatório da Pesquisa Qualitativa “Tecnologia, Profissões e Ensino Jurídico”, realizada pela FGV31: Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 6 Fonte: “O futuro das profissões jurídicas: Você está preparad@?” Sumário Executivo da Pesquisa Qualitativa 'Tecnologia, Profissões e Ensino Jurídico. FGV Direito SP, 3 de dezembro de 201832. Nesse aspecto, a tecnologia também possibilita a análise dos dados produzidos no processo para diversos fins: para empresas, o campo é fértil para a jurimetria, por meio do big data analytics, que permite ao advogado e ao jurisdicionado que antecipem ou busquem prever os riscos de suas escolhas e estratégias, levando em conta, por exemplo, a esperada duração daquele processo ou mesmo as chances de sucesso (parcial ou total) a partir daquele determinado julgador33. Essa prática não é mais tão incomum e pode já ser considerada realidade34, como indicam Dierle Nunes e Nathália Medeiros35: “O emprego, por exemplo, de Analytics para previsão de resultados de casos mediante a nominada análise preditiva promove o reforço das vantagens dos litigantes habituais. Ordinariamente, advogados aconselham clientes a tomar atitudes baseado (sic) em suas intuições e limitado à sua experiência direta ou indireta do direito em casos anteriores. No entanto, já é tecnicamente possível se promover essa análise jurídica mediante a estruturação de informações mediante algoritmos que trabalham com padrões de fatos, julgados e precedentes para prever o resultado de um processo numa infinidade de decisores e órgãos jurisdicionais. Uma das potencialidades da inteligência artificial é a de lidar com big data em bancos de dados desestruturados e deles extrair subsídios decisórios. A vantagem da análise preditiva é que ela fornece um mecanismo para acessar uma vasta quantidade de informações e sistematizá-las de modo a extrair um resultado provável do caso em questão. Como informam McGiniss e Pearce 'o poder computacional permite que dados substanciais sejam coletados e organizados' de modo a se extrair padrões entre os dados, sendo que de um adequado aprendizado de máquina (machine learning) se possa analisar regularidades dentro dos padrões.” Nos pontos mais extremos, algumas empresas têm oferecido serviços que se Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 7 sobreporiam não às atividades administrativas intermediárias realizadas pelos advogados (como a gestão de documentos) ou mesmo atividades inovadoras que os auxiliariam no trabalho criativo (como ferramentas que ofereçam estatísticas e dados úteis para análise e soluções inovadoras), mas à própria atividade-fim do advogado, que seria a consultoria jurídica ou a postulação em representação de partes em processos judiciais, arbitrais ou administrativos. Isso significa que, também na área jurídica, tem-se aos poucos proposto a realidade apontada por Richard e Daniel Susskind de que as máquinas não mais se resumiriam ao trabalho pesado e duro como a administração básica do escritório e a “cortar biscoitos” em fábricas modernas36. A ferramenta Ross Intelligence, por exemplo, baseada na tecnologia Watson, da IBM, seria capaz de entender consultas de cunho jurídico e de respondê-las a partir da análise prévia de bilhões de documentos de texto. O sistema funciona como se as perguntas estivessem sendo dirigidas a um advogado, que as responderia com base em precedentes e já tendo acompanhado as possíveis evoluções daquele tema na legislação. Por se tratar de uma ferramenta criada em um país advindo da common law, a ferramenta é, portanto, fortemente ancorada em pesquisas jurisprudenciais e na análise detida dos precedentes e no próprio texto da lei37. O que se tem visto é que, ainda que se possa questionar se seria prudente e adequado confiar algumas atividades hoje consideradas por alguns privativas do advogado a uma ferramenta, é inquestionável que para algumas delas a precisão é, sim, alcançável e supera as capacidades de um ser humano, sem tecnologia, de atingir resultados semelhantes. Não se trata, para os mais cautelosos, de substituir o ser humano ou as formas tradicionais, mas de combiná-las, como concluiu estudo feito sobre a efetividade do Ross Intelligence quando aliado com métodos tradicionais de pesquisa jurídica (ainda que também fazendo uso de alguma tecnologia mais simples) nos Estados Unidos38. Uma das principais perguntas a serem respondidas, com efeito, é quanto e o quê do trabalho jurídico deve ser automatizado. Se a proposta não é a de “substituir” o advogado, mas atuar como um complemento a ele39, a questão é se compreender quando e qual trabalho seria aceitável que fosse auxiliado pelo aprendizado de máquina, por exemplo. Parece claro que o modelo preditivo é extremamente útil para que advogados e clientes tomem decisões informadas sobre os riscos de suas atitudes40, mas essa mesma escolha se mostraria acertada para a tomada de decisões pelo Poder Público, ou mesmo na prestação jurisdicional,seja exercida por juízes ou por árbitros? Os riscos associados e mesmo os questionamentos de transparência hoje existentes em diversos setores (crédito, seguro, transportes etc.)41 tornariam tal prática não recomendável, ao menos por ora? É o que se passa a avaliar, com base nas propostas recentes do Poder Judiciário brasileiro. 3.A tecnologia no Direito Processual: A ferramenta “Victor” do Supremo Tribunal Federal e outras propostas recentes Uma das iniciativas nesse tema mais comentadas em 2018 – e umbilicalmente relacionada ao tema de gestão do processo – foi a do “Projeto Victor”, ferramenta contratada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por sua Secretaria da Tecnologia da Informação (TI), em parceria com a Universidade de Brasília – UnB (UnB), e que propõe a utilização de Inteligência Artificial “para aumentar a eficiência e a velocidade de avaliação judicial nos processos que chegam ao tribunal”42. O nome do projeto é uma homenagem ao falecido ministro Victor Nunes Leal, o principal responsável pela sistematização da jurisprudência do STF em súmulas. Note-se, já nesse ponto, a direta relação pretendida entre o incentivo às ferramentas de tecnologia no processo e “a aplicação dos precedentes judiciais aos recursos”43. Na fase inicial do projeto, a ferramenta passou a ser utilizada para (i) converter imagens em textos no processo digital (já que muitas petições ainda são apresentadas em formato de imagem); (ii) separar cada documento que consta dos autos (peça, decisão, acórdão etc.); (iii) separar e classificar as peças processuais mais comuns na prática do Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 8 STF; e (iv) identificar os temas de repercussão geral de maior incidência44. A triagem dos processos – uma das principais, senão a principal função do Victor nesse momento inicial – para fins de identificação de temas de repercussão geral (e a consequente admissão ou não de recursos) foi indicada como de precisão de 84%, e que poderia chegar a 95% em semanas.45 Enfatize-se, pois, a proposta de que o uso da Inteligência Artificial acelere a análise dos processos, mormente por meio da digitalização, classificação e organização dos processos – atividades historicamente feitas manual e individualmente por serventuários. Essa “aceleração”, da forma que se tem divulgado, dar-se-ia, sobretudo, pela a) separação e classificação das peças do processo judicial e b) identificação dos principais temas de repercussão geral (para a devolução do recurso à origem ou sua rejeição); em fase posterior, também se mencionou que a ferramenta poderá buscar e identificar jurisprudência46. Veja-se que não se falou, ao menos até aqui, em decisões jurisdicionais automatizadas ou algoritmos utilizados para fins decisórios, mas, no máximo, em ferramenta que identifique “o tema de repercussão geral veiculado em cada processo e o [indique] ao presidente do STF, para o fim de devolução do recurso à origem ou rejeição do processo”47. Isso seria feito por meio de “redes neurais” criadas48, que aprendem a partir da análise de decisões anteriores do próprio STF sobre a aplicação de temas de repercussão geral – sempre com a ressalva feita pelos responsáveis de que “[a] máquina não decide, não julga; isso é atividade humana”49. E já se trata de um trabalho hercúleo, porquanto a maioria dos documentos juntados aos autos consistem em um único arquivo em formato PDF (formato portátil de documento) contendo diversos documentos relevantes dentro dele – daí a dificuldade e a relevância da sua classificação por meio de ferramentas de análise de documentos e de processamento de linguagem natural50. As técnicas envolvem passos como (i) a extração de texto dos documentos em PDF; e (ii) o pré-processamento do conjunto de dados, para reduzir sua complexidade e aumentar a precisão do modelo – com a posterior utilização das redes neurais para escolher as porções de dados mais relevantes para fins de classificação51. Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 9 Fonte: "Document type classification for Brazil’s Supreme Court using a Convolutional Neural Network”. Legal AI. 30 de outubro de 2018.52 De todo modo, a divulgação pelos pesquisadores e pelo STF foi categórica em esclarecer que o uso do Victor, também por outros tribunais, ocorreria para “pré-processar os recursos extraordinários logo após sua interposição”, e, desta feita, antecipar o juízo de admissibilidade quanto a temas com repercussão geral53. O que se está propondo e também implementando, com efeito, é ferramenta que facilite a identificação e a classificação de processos que já tenham – ou sejam semelhantes ou estejam relacionados a outros já em vias de formar – um precedente vinculante. Está se tratando, sobretudo, de processos repetitivos e a proposta solução que o Código de Processo Civil/2015 trouxe para o tema, como indicou o Ministro Dias Toffoli, Presidente do STF e também do Conselho Nacional de Justiça – CNJ54. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), igualmente em 2018, por meio da Secretaria Judiciária (SJD), da Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação (STI) e da Coordenadoria de Auditoria de Tecnologia da Informação, iniciou proposta semelhante, também para utilização de Inteligência Artificial para separação e classificação de processos. No STJ, deu-se foco, em particular, à “localização de processos em que sejam aplicáveis os mesmos precedentes do tribunal” e à “extração automática de dispositivos legais apontados como violados (indexação legislativa)” 55. A Presidente do STJ e do Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 10 Conselho da Justiça Federal (CJF), Ministra Laurita Vaz, foi além e sustentou a possibilidade de utilização da Inteligência Artificial também “tanto para a área cartorária quanto para a atividade jurisdicional propriamente”56. O exemplo do STJ é mais um com relação íntima com o sistema de precedentes, tendo em vista a sinalização do Ministro Raul Araújo de que a criação do Centro Nacional de Inteligência da Justiça Federal tem como objetivo “monitorar e racionalizar a identificação de demandas repetitivas ou com potencial de repetitividade, além de aperfeiçoar o gerenciamento de precedentes"57. Nas palavras do Ministro, não se trata mais de resolver os conflitos “caso a caso”, mas de que “sejam tratados de forma coletiva quando as demandas envolverem um mesmo problema jurídico” – além do acompanhamento de alterações legislativas e jurisprudenciais58. A medida mais avançada até o momento parece ter sido a tomada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG) que, em sessão de sua 8ª Câmara Cível, julgou 280 processos de uma só vez, “com apenas um click ”, depois de a ferramenta “Radar” ter identificado e separado recursos com pedidos idênticos e se ter utilizado “votos-padrão” (aparentemente preparados, inicialmente, pela forma tradicional), a partir de teses fixadas pelos Tribunais Superiores e pelo próprio TJMG, pelo Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR)59. Os processos julgados, reportou-se, tratavam de temas como (i) a legitimidade do Ministério Público para pleitear remédios e tratamentos para beneficiários individuais (Súmula 766 do STJ); e (ii) efeitos jurídicos do contrato temporário firmado em desconformidade com o art. 37, IX, da Constituição Federal (Súmula 916 do STF)60. Aos poucos, ventila-se que, além de preparar minutas de relatórios de decisões, “a inteligência artificial já pode fazer uma proposta de voto para o juiz decidir”, como cogitou o Ministro Presidente do STF, Dias Toffoli61. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Tribunal de Contas da União (TCU) já estariam desenvolvendo programas nesse sentido, inicialmente para triagem automática e processamento de jurisprudência, utilizando o software chamado “Dra. Luzia”, da startup LegalLabs, que já seria capaz de revisar arquivos, preparar petições e identificar documentos mais relevantes62, com o propósito de otimizar o rito de execuções fiscais, por exemplo63. E não é só: já há iniciativas e propostas de algoritmos que auxiliariam tribunais – por meio de seus centros próprios de estudo e fomento da Inteligência Artificial – na realização de penhoras on-line, atualizações de valores exequendos, conferência de prazos prescricionais, identificação de fraudes e sugestões de decisões que se mostrem mais recorrentes no âmbito de execuções fiscais64. Em linha com as ponderações dos Capítulos I e II supra, com efeito, as perguntas que devem ser feitas são, especificamente quanto à gestão do processo, (i) o que deve e o que não deve ser automatizado; e (ii) quais os riscos envolvidos de se fazê-lo ou não – tendo em vista as propostas vindas de tribunais, por exemplo, de “automação para rotinas judiciais com o uso de robôs e o outro o uso de inteligência artificial para criar soluções de apoio à decisão do magistrado” 65. A utilização de tecnologia para a identificação, classificação e julgamento de causas repetitivas deveria ser aceita e validada pela sociedade civil, como forma adequada de gestão do processo a partir do sistema de precedentes trazido pelo CPC/2015 (LGL\2015\1656)? E isso valeria da mesma forma para sistemas que cuidassem de redigir primeiras versões de relatórios e votos para utilização pelos juízes? Ou, de outro lado, seriam todas atividades que deveriam ser necessariamente feitas por seres humanos em sua maior parte, seja pelos riscos de falhas ou mesmo de falta de transparência? Vejamos. 4.Os prós (eficiências) e contras (riscos) das propostas: como e até onde prosseguir no exercício e na gestão do processo Logo de início, parece-nos não haver dúvidas de que algumas atividades que estão sendo realizadas mediante auxílio substancial das tecnologias anteriormente mencionadas são de legitimidade evidente: são aquelas, na organização judiciária, Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 11 relacionadas à gestão do processo de uma forma geral, como têm feito o STF, o STJ, o TJMG e tantos outros, de forma semelhante ao que também se tem visto em escritórios de advocacia e empresas no tocante à gestão de suas carteiras de processos, em especial, os relacionados ao chamado “contencioso de massa”. A identificação, a classificação e o agrupamento de causas repetitivas são algumas dessas atividades que não só não mais deveriam ser executadas por seres humanos, manual e individualmente, como certamente possuem grau de acerto e precisão maior66 mediante o uso de aprendizado de máquina, por exemplo. Trata-se de medida condizente, ademais, com o aumento dos poderes do juiz dos tribunais que se tem visto e defendido há quase décadas para fins de gerenciamento do processo67. Nesse ponto, o que se está fazendo é nada mais do que concretizando e convalidando o sistema de precedentes trazido pelo CPC/2015 (LGL\2015\1656), que atribui ao juiz, como gestor, o tratamento e a gestão dos precedentes considerados vinculantes. A identificação desses precedentes, e também de casos em que seriam aplicados, é trabalho que, ainda que “por forte aproximação”68, tem grandes chances de ser (mais) corretamente executado mediante o uso de Inteligência Artificial. Entendemos que andam bem os tribunais – principalmente, os tribunais superiores, que têm como função nomofilácica a criação e a segura implementação desses precedentes como forma de zelar pela uniformização da interpretação e da aplicação do Direito – que se propõem a tornar o processo judicial mais eficiente em termos de tempo e recursos, por meio de algoritmos que se mostram “úteis para fins de compilação de decisões judiciais e identificação de teses ou argumentos mais convincentes (estruturação de dados)”, por exemplo69. Aqui, está-se implementando a visão, nada recente, de que “[a] estabilidade jurisprudencial e as técnicas de aceleração do procedimento contribuem para gerar maior eficiência à prestação jurisdicional, e nesse aspecto interessam para o gerenciamento do processo”70. Nesse âmbito, a tecnologia pode contribuir de forma decisiva para oferecer aos litigantes, advogados e juízes uma visão mais precisa e objetiva de como determinado tema tem sido visto e julgado. Trata-se, assim, de possibilitar a segurança jurídica por meio de decisões judiciais que se mostrem coerentes e estáveis, e também “diminuir o déficit brasileiro no manejo de precedentes judiciais (anarquia interpretativa)”,71 mormente em um país em que as ações coletivas ainda se têm reportado com efetividade aquém da desejada72. Por isso, grande parte das matérias antes indicadas quanto ao “Victor” e outros projetos similares estava sempre referida no contexto do sistema de precedentes; são iniciativas diretamente relacionadas a uma “gestão dos precedentes qualificados”, entendidos como aqueles advindos do regime de repetitivos, do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) e do Incidente de Assunção de Competência (IAC)73 , e “das decisões liminares e nos pronunciamentos finais de acolhimento ou improcedência do pedido na ação direta de inconstitucionalidade, na ação declaratória de constitucionalidade, na arguição de preceito fundamental e na súmula vinculante”74. Trata-se de uma decisão de política pública já tomada em termos conceituais, mas que agora está sendo estudada e executada para fins operacionais em busca de eficiência. Ademais, o tratamento de causas repetitivas de forma idêntica ou semelhante não só é a escolha já feita pelo legislador, como permitir que se faça de forma diversa poderia ser tido como uma irresponsabilidade do gestor. Vemos como louvável a tentativa de se retirar alguns elementos que, infelizmente, ainda são característicos do Poder Judiciário brasileiro, como uma subjetividade jurisdicional exacerbada75 – que, na prática, leva a uma falta de acesso à justiça no seu sentido mais amplo e moderno (ou, como ensina o Professor Kazuo Watanabe, uma falta de acesso à ordem jurídica justa que buscamos)76. Está-se diante, no caso dos tribunais antes mencionados, de políticas públicas alinhadas com as práticas de gestão mais modernas, e que têm em vista não só a eficiência no processo (mediante, evidentemente, a redução do gigantesco acervo de processos judiciais entrantes e em curso), mas, principalmente, a segurança jurídica que o sistema de precedentes busca atingir77. E tudo isso no âmbito da litigância repetitiva e Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 12 multitudinária, que, reitere-se, permite uma ampla base de dados com possibilidades múltiplas de se acelerar o seu processo de aprendizagem e até de reformulação. Nesse ponto, repita-se que essas são práticas em que, mediante o aprendizado de máquinas, os algoritmos são capazes de realizar correlações estatísticas aprendidas pela verificação de padrões nos dados analisados previamente e que chegam a soluções idênticas ou muito similares – mas em muito menos tempo – àquelas que seriam produzidas por uma pessoa utilizando processos cognitivos treinados78. No processo, isso significa que juízes, cartorários, advogados, estagiários ou qualquer outro ser humano – ainda que altamente capacitado – dificilmente realizariam, em sua atuação manual, a mesma atividade no tempo e com a qualidade que são atingidos por esses verificadores de padrões79. E quanto a essas atividades, de gestão, parece impossível sustentar que não deveriam ser utilizadas também no campo do Direito, em tribunais, em escritórios de advocacia e em departamentos jurídicos (como já se tem feito nesses dois últimos, aliás); aqui, está-se tratando de práticas gerenciais que devem estar em linha com o ritmo e as expectativas da sociedade também em outros setores. São bastante expressivas, nesse sentido, as previsões indicadas pelo Ministro LuizFux de que o “Victor”, ao identificar os 27 temas mais comuns (dentre todos os 2.010 de repercussão geral), pode dar rápida solução a aproximadamente dez mil processos por ano (que sequer subiriam ao STF de qualquer forma, mas seriam processados de forma muito mais lenta e burocrática)80. Para a advocacia, inclusive, embora hoje ainda sejam as ferramentas mencionadas mais utilizadas pelos “litigantes habituais”, não se pode ignorar que, com o tempo, os algoritmos baseados nesse tipo de inteligência para fins de elaboração de petições, indicação de precedentes, entre outros, serão úteis para prestar serviços de qualidade a um custo muito menor81; ou seja, também estarão disponíveis aos “litigantes eventuais” propriamente ditos ou a quem lhes possa fazer as vezes. No futuro, se prosperar essa louvável iniciativa dos tribunais judiciais, haverá grandes chances de o serviço jurídico em si se tornar menos custoso e até mais democrático, quebrando barreiras que existem há séculos para as classes mais baixas da população. Richard e Daniel Susskind, por exemplo, preveem que as atividades de muitos advogados – da forma como existem hoje – serão provavelmente substituídas por sistemas avançados, por funcionários mais baratos com apoio em tecnologia, ou mesmo por leigos que façam uso de ferramentas de simples acesso on-line82 – e que sejam os tribunais a adotar essa posição de vanguarda, a nosso ver. E se o algoritmo for além e auxiliar o magistrado a “identificar a legislação e a jurisprudência aplicáveis ao caso concreto, oferecendo, também, um diagnóstico de tendências de resultados em julgamentos de casos similares”,83 tanto melhor para o jurisdicionado, que menos – ou nada – dependerá de uma defesa mais técnica84. Além disso, tal movimento auxiliará os mais diversos agentes a trabalhar mais fortemente na prevenção de litígios, e não só na sua solução. Essa tendência, bastante mencionada atualmente, tornar-se-á ainda mais eficaz em conjunto com uma prática multidisciplinar, que envolverá também contadores, consultores e especialistas tributários, por exemplo85. Essa atuação preventiva poderá se dar, também, pelos métodos on-line de resolução de conflitos (ODR – Online Dispute Resolution), surgidos do mercado de e-commerce e que hoje são utilizados mundo afora também por tribunais estatais e pela Administração Pública para possibilitar a resolução de conflitos preventiva, de forma extrajudicial, por modelos online surgidos e evoluídos a partir de métodos alternativos (adequados) como a negociação, a conciliação, a mediação e a arbitragem, por exemplo86. E, ainda no campo da prevenção de conflitos, como aponta o Ministro Luiz Fux, projetos como o “Victor” contribuirão para que se formem bases de dados úteis para maior reflexão – a partir de uma retroalimentação – sobre como o Poder Judiciário pode ser ainda mais eficiente, ao tomar conhecimento de “a) quem são os litigantes mais frequentes perante o STF, no âmbito recursal; b) quais temas de repercussão geral possuem maior volume de processos vinculados; c) quais questões constitucionais têm sofrido maior judicialização, etc.”87. Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 13 No entanto, a cautela é, sim, necessária. Alguma preocupação ainda deve existir, de outro lado, quanto a possíveis práticas em que se pretenda que as conclusões obtidas pelo uso de tais tecnologias tenham atribuído algum caráter ou efeito decisório absoluto. Isso, a um, pois, mesmo no âmbito privado, ainda há dúvidas quanto aos riscos de se confiar por completo em decisões algorítmicas, que podem ser eivadas de premissas incorretas e “reproduzir padrões deturpados e de preconceito sob uma aura de neutralidade que foge da preocupação dos programadores” 88. E, a dois, pois atos decisórios – mormente quando há o efeito jurisdicional envolvido – ainda são demasiadamente complexos para serem programados com um grau suficientemente reduzido de risco89. Possibilitar que sistemas que fazem uso de Inteligência Artificial preparem propostas de votos ou acórdãos significa, vale salientar, permitir que o façam com base nos precedentes que foram utilizados como substrato (dados)90; caberá aos humanos indicar o que seria o suposto entendimento correto, por exemplo, o que já se mostra desafiador ou até impossível em certas circunstâncias – e também há dúvidas razoáveis, inclusive, se não se estaria correndo o risco de julgar mais por estatística do que por cognição. Como ilustração desses riscos, pode-se mencionar ferramentas que se encontram talvez ainda em “zonas cinzentas”, como o COMPAS – Correctional Offender Management Profiling for Alternative Sanctions, software utilizado por tribunais nos Estados Unidos para determinar o risco de reincidência de determinado preso e para auxiliar na fixação da pena (em um modelo que pode ser comparado a avaliações de risco, atuariais, feitas por empresas de seguro, que identificam riscos a partir de grupos de motoristas e alocam seus recursos conforme suas conclusões). Embora um preso tenha, recentemente, alegado que a utilização de tal ferramenta violaria o devido processo legal – porquanto lhe impossibilitaria de questionar o valor científico e a precisão do teste, e também porque alegadamente levaria em consideração gênero e raça como critérios decisivos –, a Suprema Corte de Wisconsin rejeitou sua impugnação. O fundamento da decisão – mantido pela Suprema Corte dos Estados Unidos, que denegou o writ of certiorari impetrado em seguida – foi primordialmente o de que os elementos fornecidos pela ferramenta não foram as únicas e não foram determinantes para se decidir sobre os riscos que o preso ofereceria à comunidade91: “98. Thus, a sentencing court may consider a COMPAS risk assessment at sentencing subject to the following limitations. As recognized by the Department of Corrections, the PSI [Presentence Investigation Report] instructs that risk scores may not be used: (1) to determine whether an offender is incarcerated; or (2) to determine the severity of the sentence. Additionally, risk scores may not be used as the determinative factor in deciding whether an offender can be supervised safely and effectively in the community. [...] 104. As discussed above, if used properly with an awareness of the limitations and cautions, a circuits court's consideration of a COMPAS risk assessment at sentencing does not violate a defendant's right to due process. The circuit court here was aware of the limitations. Two limitations were set forth by the DOC in the PSI containing the COMPAS report. Thus, when Loomis was sentenced, the circuit court was aware that 'risk scores are not intended to determine the severity of the sentence or whether an offender is incarcerated.' The third limitation, that a COMPAS risk assessment may not be determinative in deciding whether a defendant may be supervised safely and effectively in the community is a corollary limitation to those already set forth in the PSI.” Há, portanto, limitações que podem e devem ser impostas, sobretudo com a consciência de que “um algoritmo criado por seres humanos enviesados provavelmente padecerá do mesmo ‘mal’, não de forma proposital, mas em decorrência das informações fornecidas ao sistema” 92. E, nesse passo, concordamos que, ao menos por ora, deve-se circunscrever, no processo, o uso da tecnologia – e da Inteligência Artificial mais especificamente - à análise de dados para fins de gestão da informação e do processo como um todo (separação e classificação das peças, identificação dos principais temas, Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 14 análise e sugestão de jurisprudência e até retroalimentação e jurimetria). As dúvidas que ainda existem sobre as consequências dos vieses cognitivos trazidos pelos humanos na configuração da Inteligência Artificial parecem ser um impeditivo momentâneo para um passo mais audacioso comrelação aos atos decisórios. Um ponto interessante aí é que, para que se compreenda possíveis vieses cognitivos das máquinas, deve-se antes compreender os vieses cognitivos dos próprios seres humanos 93. É imprescindível que se decida com antecedência quais tipos de racionais são admissíveis no sistema jurídico e quais deveriam (e poderiam) ser razoavelmente reproduzidos por máquinas. Antes, deve-se avaliar, por exemplo, se os fatores pessoais, políticos e legalistas indicados por Richard Posner são razoáveis e deveriam ser mitigados ou mesmo potencializados nessa nova fase tecnológica94, para depois concluir se devem ser (e se é factível que sejam) reproduzidos pelo uso de Inteligência Artificial. Para que sejamos claros, parece-nos legítima e possível a automatização de gestão das atividades de identificação, classificação e agrupamento dos processos judiciais, como se têm feito. A exemplo do que fez o TJMG, porém, o voto condutor de todos os julgamentos realizados deve ser idealmente preparado da forma convencional, no máximo com a sugestão de jurisprudência pelo algoritmo, com o fito de representar, de uma vez por todas, o posicionamento do tribunal sobre aqueles determinados temas escolhidos e cuja decisão se considerou vinculante naquele âmbito. Nessas, a padronização na aplicação da decisão, além de reflexo da prática contenciosa pretendida, como já se mencionou, é formato compatível com a escolha legislativa feita. Julgar de forma distinta causas repetitivas é que se mostraria um contrassenso e uma decisão antidemocrática nesse âmbito. Afinal, como aponta o ex-Ministro Arnaldo Esteves Lima, a ideia é justamente a de que “a observância do precedente configure rotina comum, no dia a dia da jurisdição, pois os benefícios institucionais e particulares que encerra são muitos”95. O que não nos parece apropriado, por enquanto, é se permitir que a redação por completo das decisões, em seu mérito, tenha como base fundamental aproximações feitas a partir de algoritmos computacionais. Nesse ponto, os riscos são ainda demasiadamente altos, tendo em vista o histórico recente, fora do âmbito jurídico, de máquinas que fizeram associações “com vieses sexistas, racistas e classistas que prometiam resolver”, por exemplo96. Aqui, poderiam se materializar talvez decisões hegemônicas e a marginalização de minorias, com prejuízos principalmente aos “litigantes eventuais”, que poderiam ter dificuldades bastante relevantes de alegar e provar as falhas cometidas na elaboração da decisão. Nesse ponto, é evidente que os números gritantes de processos judiciais entrantes e em curso no Brasil não podem, per se, ser justificativa para se acolher “toda e qualquer técnica ou tecnologia que prometa reduzir o acervo de casos a serem decididos”97. Alguns poderiam alegar, de todo modo, que, ao identificar e classificar determinada causa como atrelada a um determinado precedente ou idêntica a tantas outras, a ferramenta estaria sendo dotada de função decisória, no momento em que “decidiria” qual recurso deveria ser afetado ou, de outro lado, qual deveria ser processado de forma individual; seria, pois, uma decisão de caráter procedimental, que somente poderia ser tomada por um ser humano, sob pena de violação do dever de motivação, previsto na legislação constitucional e infraconstitucional brasileira. Não nos parece ser um argumento vencedor, porém, porquanto as premissas em termos de fundamentos – o mérito – da decisão já terão sido estabelecidas, e por seres humanos, de modo que eventual equívoco procedimental – que pode ocorrer, ainda que com menor grau de risco – poderá (e deverá) ser corrigido no âmbito do sistema recursal. Não é um sistema infalível, mas, no mínimo, mais efetivo e eficiente se comparado com aquele em que seres humanos dedicavam muito mais tempo para atingir resultados qualitativamente inferiores ou, no melhor dos casos, bastante similares. Nesse ponto, não se pode ignorar que há décadas e anos – mesmo já na vigência do Código de Processo Civil/2015 – tribunais já têm julgado a grande maioria dos casos de Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 15 forma “robótica”, com menor apreço ao caso individual, como qualquer um que já participou de uma sessão de julgamento seria capaz de atestar. As iniciativas que se mencionou ao menos trarão a possibilidade de que se identifique com mais precisão quais são as demandas efetivamente repetitivas e quais os precedentes (corretos) aplicáveis. Aplicar as técnicas de distinção e superação de precedentes será, sem dúvida, um desafio, mas não um impeditivo absoluto – e isso com ou sem o uso de tecnologia98. E vale reiterar que a identificação desses precedentes pelos tribunais pode trazer (ou ao menos aumentar) uma isonomia aos litigantes habituais e eventuais que atualmente não existe, já que esses últimos, hoje, no modelo tradicional, dificilmente obtêm representação jurídica de qualidade a ponto de lhes indicar os fundamentos e fontes de direito aplicáveis ou com maiores chances de sucesso em juízo. Por fim, aponta-se que, independentemente do formato adotado, para as ferramentas utilizadas pelo setor público – como o “Victor” e as demais similares –, a transparência dos algoritmos é medida que pode se impor. Uma demanda por transparência já tem surgido mesmo no cenário privado, sob o argumento de que a opacidade com a qual os dados pessoais podem ser tratados pelos algoritmos impediria que os titulares de tais dados pessoais tivessem total compreensão de como suas vidas são impactadas99. Embora não haja ainda consenso, invoca-se um verdadeiro “direito à explicação” 100, entendido como o direito a receber informações suficientes e inteligíveis que permitam ao titular dos dados e à sociedade entenderem a lógica, a forma e os critérios utilizados para tratar dados pessoais e prever os seus impactos com o fim de evitar práticas indesejadas que podem ter impacto no plano individual e coletivo101. Sem adentrar a discussão a respeito da configuração e da extensão do direito à explicação no âmbito privado (que são pontos bastante mais complexos), parece irrefutável que ele já existe no setor público. Nesse âmbito, a divulgação do código-fonte dos sistemas, em determinados casos, pode se mostrar decisão acertada e em linha com o princípio da publicidade, aplicável ao direito administrativo102. É o que recomendou um grupo de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) depois de analisar o sistema de distribuição de processos do STF: concluiu que não há risco na divulgação do algoritmo, que se resume a possibilitar a distribuição de forma aleatória, e porque “parece ser o caminho correto para a evolução do sistema” 103 – e vale lembrar que “muitos sistemas realmente seguros publicam voluntariamente seu algoritmo para corroborar sua segurança”, tais como tokens usados por clientes de bancos e o próprio bitcoin104. Como já mencionamos, há, sim, o desafio – plenamente ultrapassável com profícuos estudos e práticas – de “garantir que os algoritmos sejam alimentados com parâmetros éticos e legais, de modo que, efetivamente, no exercício de tomada de decisões, sirvam de apoio à efetivação do ideal de justiça”105. 5.Conclusão: o eficiente uso da tecnologia para as atividades de gestão (burocráticas e repetitivas) que já se estabeleceu podem – e devem – ser automatizadas na gestão do processo No contexto apresentado, defendemos que a solução consiste, neste momento, em automatizar as parcelas do trabalho jurídico que se mostram seguras em termos técnicos e também éticos – que são, em sua maioria, as atividades burocráticas e repetitivas que já se fez a escolha de que assim o sejam e se mantenham. É o caso de determinadas atividades de gestão do processo, como a identificação, a classificação e o agrupamento de causas repetitivas, nos termos das propostas feitas pelo STF, pelo STJ e pelo TJMG, por exemplo. Reitere-se que (i) se trata de uma decisão de política pública já tomada em termosconceituais, mas que agora está sendo operacionalizada em busca de real eficiência (que não existe hoje, mesmo anos após a vigência do Código de Processo Civil de 2015); e (ii) o tratamento de causas repetitivas de forma idêntica ou semelhante não só é a escolha feita pelo legislador, como fazer de forma diversa seria uma irresponsabilidade do gestor. Enfatizamos que são medidas que demonstram uma saudável evolução com relação à forma que a maioria dos casos era (e ainda é) julgada por nossos tribunais; essas Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 16 iniciativas ao menos convalidam e otimizam a escolha legislativa que prioriza a resolução consistente dos conflitos massificados. Quanto a muitos conflitos, como bem salientou o Ministro Raul Araújo, a política pública imposta não é a de resolver casos massificados “caso a caso”, mas de que “sejam tratados de forma coletiva quando as demandas envolverem um mesmo problema jurídico” – e isso também com o uso da tecnologia para o acompanhamento de alterações legislativas e jurisprudenciais106. Além do mais, iniciativas como essas, prudentes e gradativas, permitirão que ocorra um desenvolvimento das novas tecnologias no âmbito do Direito – e, dentro dele, do processo – mediante análises de risco mais precisas, como se espera hoje do Poder Judiciário e do juiz na qualidade de gestores do processo. Nessa toada, ao invés de se alarmar a sociedade com a utilização de expressões como “juízes robôs” – ou mesmo de se propor a redação de decisões ou votos de forma inteiramente automatizada –, serão produzidos, aos poucos, estudos e análises aprofundados do eficiente (e seguro) uso da Inteligência Artificial e suas ferramentas por entes públicos e privados – algo que ainda precisa ser feito em maior quantidade e com mais qualidade antes de se seguir ao passo posterior107. Como disse o ex-Presidente da IBM, Thomas John Watson Jr., “[n]ossas máquinas não devem ser nada além do que ferramentas para empoderar ainda mais os seres humanos que as usam”. E para que se certifique a precisão dessas técnicas e ferramentas, a transparência de seus algoritmos é medida que pode ser necessária no setor público – por meio, por exemplo, de mecanismos de audibilidade, como recomendou o grupo de pesquisadores da UnB108. Também nesse estudo, aliás, é interessante notar que os principais comentários feitos pelo grupo de pesquisadores não se referiram ao algoritmo em si, mas, sim, às regras de distribuição estabelecidas e que guiavam o sistema (o número de ministros de plantão a quem a competência poderia ser conferida); ou seja, eventuais melhorias sugeridas diziam respeito a uma questão “não tecnológica”: as premissas jurídicas estabelecidas pelos seres humanos e que embasavam o algoritmo109. É esse, com efeito, o momento e o contexto de se discutir a extensão e os limites, éticos e de risco dessa relação, com foco, quanto a cada iniciativa, (i) no que deve e no que não deve ser automatizado; e (ii) em quais os riscos de se fazê-lo ou não. Afinal, “nem tudo é uma questão tecnológica”110. 1 Artigo adaptado de trabalho entregue perante a Pós-Graduação da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Departamento de Direito Processual, a título de conclusão da matéria “Litigiosidade Repetitiva: Diagnóstico, Causas e Possibilidades de Tratamento Adequado”, ministrada pelos Professores Carlos Alberto de Salles, Susana Henriques da Costa, Daniela Monteiro Gabbay, Paulo Eduardo Alves da Silva, Maria Cecília de Araújo Asperti e João Eberhardt Francisco, em 2018. 2 HARARI, Yuval Noah. Sapiens: Uma breve história da humanidade. 26. ed. Porto Alegre: L&PM, 2017. p. 28-33: “Podemos conectar uma série ilimitada de sons e sinais para produzir um número infinito de frases, cada uma delas com um significado diferente.” 3 No Brasil, nos termos do art. 1º da Lei 8.906/1994, o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), “[s]ão atividades privativas de advocacia: I – a postulação a órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais; e II – as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas." Inglaterra e Austrália são exceções a essa regra – nesses dois países, por exemplo, não há mais um “monopólio” sobre a prática jurídica. Nesse sentido, ver: SUSSKIND, Richard; SUSSKIND, Daniel. The future of the professions: How technology will transform the work of human experts. Oxford: Oxford University Press, 2015. p. 67. Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 17 4 SURDEN, Harry. Machine Learning and Law. Washington Law Review, v. 89, n. 1, p. 88, 2014. Available at SSRN: [https://ssrn.com/abstract=2417415]. Acesso em: mar. 2019: “Consider that outside of law, non-cognitive AI techniques have been successfully applied to tasks that were once thought to necessitate human intelligence — for example language translation. While the results of these automated efforts are sometimes imperfect, the interesting point is that such computer-generated results have often proven useful for particular tasks where strong approximations are acceptable.” 5 Analytics é considerado um ramo de Business Intelligence (BI) – comumente utilizado por áreas de negócio, finanças e marketing, por exemplo – que se refere à utilização de dados, análises e raciocínio sistemático para embasar as decisões que são tomadas. O big data analytics significa o uso dessas técnicas avançadas de análise em grandes volumes de dados, gerados em alta velocidade e variedade. Ver: IBM – Big Data Analytics. Disponível em: [www.ibm.com/analytics/hadoop/big-data-analytics]. Acesso em: mar. 2019]: “Big data analytics is the use of advanced analytic techniques against very large, diverse data sets that include structured, semi-structured and unstructured data, from different sources, and in different sizes from terabytes to zettabytes.” 6 SURDEN, Harry. Op. cit., p. 108: “Machine learning as a technique — since it excels at ferreting out correlations — may help to supplement the attorney intuitions and highlight salient factors that might otherwise escape notice. The discovery of such embedded information, combined with traditional attorney analysis, could potentially impact and improve the actual advice given to clients.” 7 ZAVAGLIA COELHO, Alexandre. O limite para os robôs são os limites éticos e as prerrogativas de cada profissão. Consultor Jurídico, 05 nov. 2017. Disponível em: [ www.conjur.com.br/2017-nov-05/entrevista-alexandre-zavaglia-coelho-advogado-diretor-idp-sp ]. Acesso em: mar. 2019: “Em áreas ligadas à administração de empresas e a economia, a tomada de decisões é sempre a partir de estudos empíricos, de dados concretos sobre diversas situações. Em Direito, até por causa da quantidade de informações diferentes de áreas diferentes, antes de ter essa tecnologia disponível, não se conseguia organizar esse tipo de informação. Vemos advogados, juízes e até tribunais falando que determinada jurisprudência é dominante, mas quem tem de fato esse dado? Os advogados criavam suas teses a partir de estudos que não conseguiam enxergar o todo, até porque era impossível ver todos os processos sobre aquele assunto. Então é isso que tem a ver: com essa tecnologia é possível filtrar a informação para a melhor tomada de decisões.” 8 Ver: GIACAGLIA, Giuliano. How Machine Learning is transforming Law. Medium, 26 mar. 2019 Acesso em: mar. 2019: “Judicata, a startup focused on helping lawyers with Artificial Intelligence, helps identify statistics for each judge. It identifies how a judge is likely to rule on a case. It takes into account their ruling based on plaintiff or defendant as well as provides a glimpse of what other aspects might change what the judge will do, like the cause of action or in an appeal.” 9 Ver: ALVES DA SILVA, Paulo Eduardo. Gerenciamento de processos judiciais. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 137: “O gerenciamento de processos judiciais busca omelhor aproveitamento do sistema de justiça e de processo por meio do aumento do acesso e da efetividade, da redução de morosidade, e da equalização das condições das partes. Na verdade, não é um receituário de técnicas, mas uma racionalidade organizacional que todo o sistema de justiça incorpora para otimizar seu funcionamento.” 10 SALAMA, Bruno M. O Demand Pull por Tecnologia no Direito Brasileiro. Distrito – Legaltech Mining Report, p. 36, out. 2018. Disponível em: [https://works.bepress.com/bruno_meyerhof_salama/139/download/]. Acesso em: mar. 2019. 11 Ibid. Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 18 12 Ministra Cármen Lúcia anuncia início do fundamento do Projeto Victor, de inteligência artificial. Notícias STF, 30 ago. 2018. Disponível em: [ www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=388443]. Acesso em: mar. 2019. 13 Inteligência artificial vai agilizar a tramitação de processos no STF. Notícias STF, 30 maio 2018. Disponível em: [www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=380038]. Acesso em: mar. 2019. 14 Judiciário desenvolve tecnologia de voto assistido por máquinas. Jota, 05 jan. 2018. Disponível em: [ www.jota.info/justica/judiciario-desenvolve-tecnologia-de-voto-assistido-por-maquinas-05012018 ]. Acesso em: mar. 2019. 15 ZAVAGLIA COELHO, Alexandre. O limite para os robôs são os limites éticos e as prerrogativas de cada profissão, cit.: “Minha grande preocupação é que a tecnologia não ultrapasse o que é a prerrogativa dos profissionais. O robô não deve fazer o trabalho do advogado. No caso do médico, o software pode dar informações e até sugerir o diagnóstico, mas a decisão quem toma é o ser humano. Não acredito que o robô possa fazer o trabalho do advogado. O limite dessa tecnologia é dar melhores informações e sugerir situações, mas não peticionar no lugar do profissional, por exemplo.” 16 SURDEN, Harry. Op. cit., p. 88. 17 SUSSKIND, Richard; SUSSKIND, Daniel. Op. cit., p. 160. 18 Ver detalhes a esse respeito mais adiante nesse mesmo Capítulo. 19 Ibid. 20 Is this AI? We drew you a flowchart to work it out. MIT Technology Review, 10 nov. 2018. Disponível em: [www.technologyreview.com/s/612404/is-this-ai-we-drew-you-a-flowchart-to-work-it-out/]. Acesso em: março de 2019: “In the broadest sense, AI refers to machines that can learn, reason, and act for themselves. They can make their own decisions when faced with new situations, in the same way that humans and animals can. [...] Some experts believe that machine learning and deep learning will eventually get us to AGI with enough data, but most would agree there are big missing pieces and it’s still a long way off. AI may have mastered Go, but in other ways it is still much dumber than a toddler. In that sense, AI is also aspirational, and its definition is constantly evolving. What would have been considered AI in the past may not be considered AI today.” 21 Ibid. Ver também: FUX, Luiz. Fux mostra benefícios e questionamentos da inteligência artificial no Direito. Consultor Jurídico, 14 mar. 2019. Disponível em: [ www.conjur.com.br/2019-mar-14/fux-mostra-beneficios-questionamentos-inteligencia-artificial ]. Acesso em: mar. 2019: “Sob uma perspectiva mais geral, a Inteligência Artificial ( Artificial Intelligence) é um ramo da Ciência da Computação que se propõe a elaborar dispositivos capazes de ir além da mera concretização de ordens específicas. Nesse sentido, segundo Stuart J. Russell (professor de Ciência da Computação na University of California, Berkeley) e Peter Norvig (diretor de pesquisa da Google Inc.), 'máquinas inteligentes' funcionam a partir de algoritmos que as tornam aptas a raciocinar, perceber, tomar decisões e resolver problemas de forma autônoma, via de regra, baseando-se na análise de informações e de padrões presentes em um banco de dados prévio ou a partir da coleta progressiva dos dados disponíveis no ambiente.” 22 Is this AI? We drew you a flowchart to work it out. MIT Technology Review, 10 nov. Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 19 2018. Disponível em: [www.technologyreview.com/s/612404/is-this-ai-we-drew-you-a-flowchart-to-work-it-out/ ]. Acesso em: mar. 2019. 23 SURDEN, Harry. Op. cit., p. 89-90. 24 A expressão “aprendizado de máquina” faz referência a um método algorítmico que permite a um sistema chegar a certas conclusões mediante tentativas e erros até alcançar o resultado almejado. O sistema aprende com seus erros, em uma espécie de inteligência artificial. Entre as modalidades de aprendizado de máquina, está o “aprendizado profundo” (deep learning), que utiliza sistemas em paralelo para aprender, e se reporta que, muitas vezes, seu resultado final pode ser diferente do antevisto por quem desenvolveu o algoritmo. Ver: BURRELL, J. How the machine ‘thinks’: Understanding opacity in machine learning algorithms Big Data & Society, 2016. Disponível em: [http://ssrn.com/abstract=2660674]. Acesso em: março de 2019. Algoritmos baseados em metodologias de machine learning e deep learning podem chegar a várias conclusões intermediárias antes de atingir o seu resultado final. Elas servem para “ensinar” o algoritmo a atingir o resultado correto, numa forma de tentativa e erro, ou até mesmo alterar o algoritmo para se atingir outros resultados. 25 FUX, Luiz. Op. cit. 26 Legal Tech Startups: Not Just for Silicon Valley Anymore. Thomsom Reuters, 02 ago. 2016. Disponível em: [www.legalexecutiveinstitute.com/legal-tech-startups/]. Acesso em: mar. 2019. 27 Legal Tech Startups: Not Just for Silicon Valley Anymore, cit. Ver também: NUNES, Dierle; RUBINGER, Paula Caetano; MARQUES, Ana Luiza. Os perigos do uso da inteligência artificial na advocacia. Consultor Jurídico, 09 jul. 2018. Disponível em: [ www.conjur.com.br/2018-jul-09/opiniao-perigos-uso-inteligencia-artificial-advocacia]. Acesso em: mar. 2019: “Nos últimos anos, no entanto, o número das mesmas cresceu significativamente, e novos ramos começaram a ser explorados. A IA tem sido direcionada para monitorar dados públicos, fazer juízos preditivos das decisões judiciais, automatizar petições, pronunciamentos judiciais, contratos e demais documentos jurídicos, contatar profissionais do Direito para diligências específicas, propor resolução on-line de conflitos, compilar dados e aplicar a estatística ao Direito.” 28 Radar de Lawtechs e Legaltechs, versão 4.1, 06 dez. 2018. Disponível em: [www.ab2l.org.br/radar-lawtechs/]. Acesso em: mar. 2019: “Analytics e Jurimetria – Plataformas de análise e compilação de dados e jurimetria. Automação e Gestão de Documentos – Softwares de automação de documentos jurídicos e gestão do ciclo de vida de contratos e processos. Compliance – Empresas que oferecem o conjunto de disciplinas para fazer cumprir as normas legais e políticas estabelecidas para as atividades da instituição. ConteúdoJurídico, Educação e Consultoria – Portais de informação, legislação, notícias e demais empresas de consultoria com serviços desde segurança de informação a assessoria tributária. Extração e monitoramento de dados públicos – Monitoramento e gestão de informações públicas como publicações, andamentos processuais, legislação e documentos cartorários. Gestão – Escritórios e Departamentos Jurídicos – Soluções de gestão de informações para escritórios e departamentos jurídicos. IA – Setor Público – Soluções de Inteligência Artificial para tribunais e poder público. Redesde Profissionais – Redes de conexão entre profissionais do direito, que permitem a pessoas e empresas encontrarem advogados em todo o Brasil. Regtech – Soluções tecnológicas para resolver problemas gerados pelas exigências de regulamentação. Resolução de conflitos online – Empresas dedicadas à resolução online de conflitos por formas alternativas ao processo judicial como mediação, arbitragem e negociação de acordos. Taxtech – Plataformas que oferecem tecnologias e soluçõespara todos os seus desafios tributários.” Ver, a esse respeito, O futuro das profissões jurídicas: Você está preparad@? Sumário Executivo da Pesquisa Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 20 Qualitativa 'Tecnologia, Profissões e Ensino Jurídico, FGV Direito SP, p. 7-12, 03 dez. 2018. Disponível em: [https://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/arquivos/cepi_futuro_profissoes_juridicas_quali_v4.pdf]. Acesso em: dez. 2018. 29 Legal Tech Startups: Not Just for Silicon Valley Anymore, cit. 30 SALAMA, Bruno M. Op. cit. 31 Ver: O futuro das profissões jurídicas: Você está preparad@? Sumário Executivo da Pesquisa Qualitativa 'Tecnologia, Profissões e Ensino Jurídico, cit., p. 19: “Por reiteradas vezes, entrevistados fizeram menção à adoção e ao desenvolvimento tecnológico no contexto das atividades do contencioso de massa. Entre as causas mencionadas estão: (i) a crescente pressão de clientes pela redução do preço pago por processos; (ii) os elevados custos de gestão associados ao grande volume de processos; (iii) grande repetição nos argumentos jurídicos apresentados nas demandas; (iv) expectativa de que a automação de rotinas reduziria o número de erros humanos; e (v) interesse em melhorar a visualização de processos e produção de relatórios para clientes.” 32 O futuro das profissões jurídicas: Você está preparad@? Sumário Executivo da Pesquisa Qualitativa 'Tecnologia, Profissões e Ensino Jurídico. FGV Direito SP, 03 dez. 2018. Disponível em: [https://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/arquivos/cepi_futuro_profissoes_juridicas_quali_v4.pdf]. Acesso em: dez. 2018. 33 NUNES, Dierle; VIANA, Aurélio. Deslocar função estritamente decisória para máquinas é muito perigoso. Consultor Jurídico, 22 jan. 2018. Disponível em: [ www.conjur.com.br/2018-jan-22/opiniao-deslocar-funcao-decisoria-maquinas-perigoso]. Acesso em: mar. 2019: ”[...] grandes escritórios no exterior e no Brasil vêm percebendo os potenciais do uso dos serviços de soluções de lawtechs para otimizar suas atividades, em especial para o trato da litigiosidade repetitiva (de massa), e vem se apostando inclusive na utilização dessas ferramentas com função preditiva (de antecipação de resultados) para estruturar grandes bases de dados decisórios.” Ver também: VON SIMSON, Charlie. Could artificial intelligence help settle cases. Ross, 25 mar. 2019. Disponível em: [https://blog.rossintelligence.com/post/could-artificial-intelligence-help-settle-cases?utm_source=Email&utm_medium=Blog&utm_campaign=New%20Blog%20Post ]. Acesso em: mar. 2019: “Ultimately, machine learning might reveal what many lawyers suspect: very few disputes are truly unique and enormous sums of money are sometimes spent discovering facts that don’t really change either party’s view of the value of the case. As machine learning becomes more accurate, parties could start to view the algorithm as a trusted guide to settlement value.” 34 Ver: Legaltech Mining Report, out. 2018. Distrito. Disponível em: [https://distrito.me/dataminer/]. Acesso em: mar. 2019. 35 NUNES, Dierle; MEDEIROS, Nathália. Inteligência artificial – litigantes habituais e eventuais. Consultor Jurídico, 20 nov. 2018. Disponível em: [www.conjur.com.br/2018-nov-20/opiniao-tecnologia-direito-litigantes-habituais-eventuais]. Acesso em: mar. 2019. Ver, em especial, GALANTER, Marc. Why the “Haves” Come out Ahead: Speculations on the Limits of Legal Change. Law & Society Review, v. 9, n. 1, Litigation and Dispute Processing: Part One, p. 95-160, 1974. 36 SUSSKIND, Richard; SUSSKIND, Daniel. Op. cit., p. 159. 37 Ver em: Ross. On-Demand Research Associate – Get precise answers to your legal questions. Disponível em: [https://rossintelligence.com/ross/]. Acesso em: mar. 2019. 38 Ross Intelligence. Artificial Intelligence in Legal Research. Blue Hill Research, jan. Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 21 2017. Disponível em: [https://rossintelligence.com/whitepaper/]. Acesso em: mar. 2019: “Blue Hill’s benchmark research reveals a concurrent improvement in effectiveness and efficiency compared to established approaches to legal research. In this way, AI-assisted tools such as ROSS Intelligence represent a clear response to the present market needs, delivering value through both cost of ownership and contributed value vectors. It is this combination that permits these tools to demonstrate net business gains and ROI in use cases that enhance, rather than replace, traditional research strategies.” 39 SURDEN, Harry. Op. cit., p. 101. 40 Id., p. 102. 41 KOBIE, Nicole. Who do you blame when algorithm gets you fired? Wired, 26 jan. 2016. Disponível em: [www.wired.co.uk/article/make-algorithms-accountable]. Acesso em: mar. 2019: “Algorithms run everything from Uber to advertising. They're used to sift through our CVs, check our credit and decide whether we get health insurance. But when they turn into “black boxes” that don't offer up their secrets, we can't hold them accountable. Only now is this issue starting to be taken seriously.” 42 Ministra Cármen Lúcia anuncia início do fundamento do Projeto Victor, de inteligência artificial. Notícias STF, 30 ago. 2018. Disponível em: [www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=388443]. Acesso em: mar. 2019. 43 Ibid. 44 Ibid. 45 Ibid. Estudo feito no final do mês de outubro de 2018 indicou 90,035% de precisão a partir de uma base de dados experimental. Ver: DA SILVA, Nilton Correia. Document type classification for Brazil’s Supreme Court using a Convolutional Neural Network. Legal AI, 30 out. 2018. Disponível em: [https://legal-ai.co/classificacoes-victor]. Acesso em: mar. 2019. 46 Projeto VICTOR do STF é apresentado em congresso internacional sobre tecnologia. Notícias STF, 26 set. 2018. Disponível em: [www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=390818]. Acesso em: mar. 2019. 47 Ibid. 48 Redes neurais artificiais consistem em um método preditivo que se baseia na forma como o cérebro atua; são “neurônios artificiais, que desenvolvem cálculos similares sobre suas entradas” e “podem resolver uma variedade de problemas, como reconhecimento de caligrafia, e detecção facial”. São muito usadas no deep learning. Ver: GRUS, Joel. Data Science do Zero. Trad. Wellington Nascimento. Rio de Janeiro: Alta Books, 2016. p. 213. 49 Inteligência artificial vai agilizar a tramitação de processos no STF. Notícias STF, 30 maio 2018. Disponível em: [www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=380038]. Acesso em: mar. 2019. 50 DA SILVA, Nilton Correia. Document type classification for Brazil’s Supreme Court using a Convolutional Neural Network, cit.: “The aim of VICTOR is to speed up the analysis of lawsuit cases that reach the supreme court by using document analysis and natural language processing tools. Most of the cases reach the court in the form of Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes Página 22 unstructured PDF volume which encloses several documents that have not been indexed. Therefore, in the first phase of this project, our goal is to classify these documents within PDF volumes.” 51 Ibid. 52 DA SILVA, Nilton Correia. Document type classification for Brazil’s Supreme Court using a Convolutional Neural Network. Legal AI, 30 out. 2018. Disponível em: [https://legal-ai.co/classificacoes-victor]. Acesso em: mar. 2019. 53 Inteligência artificial vai agilizar a tramitação de processos no STF, cit. 54 Inteligência artificial: Trabalho judicial de 40 minutos pode ser feito em 5 segundos. Agência CNJ de Notícias, 23 out. 2018. Disponível em: [ www.cnj.jus.br/noticias/cnj/87869-inteligencia-artificial-trabalho-judicial-de-40-minutos-pode-ser-feito-em-5-segundos ]. Acesso em: mar. 2019: “Caracterizar determinadas ações como tendo repercussão geral vai contribuir para desafogar