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A HISTÓRIA CANTADA: HISTÓRIA, CULTURA E MÚSICA 
 
ANDRÉ LUIZ ROCHA MATTOS CAVIOLA1 
andrécaviola@live.com 
GUILHERME AMORMINO GOMES2 
guilherme.amormino@yahoo.com.br 
LUCAS ROMANO SILVA3 
lucasromano23@gmail.com 
 
Resumo: O presente trabalho teve como objetivo desenvolver novas metodologias em sala 
de aula para o ensino de História por meio da utilização da música. Realizado através da 
parceria entre o Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) e a E.E. Olegário 
Maciel, alunos do ensino médio foram convidados a participar do projeto desenvolvido 
entre os meses de outubro e novembro de 2016, através da audição de músicas, aulas 
expositivas e seminários. 
Palavras-Chaves: educação; história; cultura; música; 
Abstract: The present Project had as objective to develop new methodologies to teach 
history in classroom using music. Realized through the partnership between Centro 
Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) and E.E. Olegário Maciel, high school students 
were invited to join the projetct executed between October and November 2016, through 
the listening of music, lectures and seminars. 
Keywords: education; history; culture; music 
INTRODUÇÃO 
Para Clifford Geertz, ao adentrarmos no campo das práticas culturais, devemos 
indagar “o que está sendo transmitido com a sua ocorrência através da sua agência, seja 
ela um ridículo ou um desafio, uma ironia ou uma zanga, um deboche ou um orgulho.”4 
Logo, não devemos descartar nenhum tipo de representação realizada por determinada 
sociedade ou grupos culturais, pelo contrário, faz-se necessário a utilização dessas 
práticas como fonte interpretativa e de entendimento. 
 
1 Graduando em História pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) 
2 Graduando em História pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) 
3 Graduando em História pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) 
4 GEERTZ, Clifford, A Interpretação das culturas, p. 8. 
mailto:andrécaviola@live.com
mailto:guilherme.amormino@yahoo.com.br
mailto:lucasromano23@gmail.com
Ao pensar a música como uma representação cultural inserida em uma rede de 
significados e significantes dentro de um tempo histórico específico, é possível identificar 
nesse produto não só a criação artística de um autor ou compositor, mas uma manifestação 
legítima de seu tempo. Através de versos cantados, o cotidiano é contemplado. 
Sobre música como fonte histórica, Claudia de Assis, Jonas Lara e Marcos 
Cardoso, afirmam: 
(...) a música enquanto fonte histórica pode prover uma série de informações 
novas ou mesmo reinterpretações de fatos, possibilitando uma compreensão 
mais abrangente dessa rede de significados múltiplos, própria da cultura. A 
música não reflete a história. Ela atua com a história.5 
A partir da demanda por um ensino interdisciplinar na educação, que promova o 
diálogo entre as diversas disciplinas, o Ministério da Educação elaborou uma série de seis 
temas transversais – ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação sexual 
e temas locais – para serem trabalhados em sala de aula. 
Segundo o Ministério da Educação, 
o compromisso com a construção da cidadania pede necessariamente uma 
prática educacional voltada para a compreensão da realidade social e dos 
direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva e ambiental.6 
Utilizar a música como meio para o desenvolvimento da prática de ensino foi o 
objetivo buscado através da audição das canções, procurando entender como esses temas 
inerentes ao cotidiano foram significados pela sociedade. 
Neste trabalho, a música, no contexto de sua produção e seus significados ao longo 
do tempo, aparece como fonte principal para o ensino de História e o desenvolvimento de 
novas práticas didáticas, estabelecendo a relação entre o lúdico e o conteúdo teórico 
presente nos livros de ensino. 
Ao longo do trabalho escrito serão discutidas questões sobre como a História e 
suas metodologias de ensino precisaram ser repensadas ao longo dos anos. Sob essas 
novas diretrizes, uma nova relação foi proposta entre a História e a Música, ou seja, a 
música deixa de ser mero entretenimento e passa a ser encarada como uma representação 
cultural de determinada sociedade e em determinado tempo histórico. As pessoas 
utilizam-se da arte e de outras representações para constituírem-se sujeitos. 
 
5 ASSIS, Ana Cláudia; LANA, Jonas; CARDOSO, Marcos, Música e história: desafios da prática 
interdisciplinar in: Pesquisa em música no Brasil: métodos, domínios, perspectivas. Vol. 1, p. 14. 
6 BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, p. 15. 
Para realizar tal empreendimento, a metodologia foi pensada e dividida da 
seguinte forma: a) um questionário foi aplicado no primeiro encontro com a turma para 
um mapeamento das preferências musicais dos alunos; b) foi realizada uma aula 
expositiva sobre a relação entre História, cultura e música e a música como representação 
cultural; c) após o levantamento dos dados do questionário, foram escolhidas três canções 
a partir da preferência dos alunos (os compositores ou músicas que mais se repetiram) e 
mais três canções por nossa parte. Esta etapa foi dividida em três aulas e a cada encontro 
eram trabalhadas duas músicas; d) no último dia, os alunos dividiram-se em grupos e 
realizaram um relatório sobre os encontros e os assuntos debatidos em forma de 
seminários; 
A escola escolhida para o desenvolvimento do projeto foi a Escola Estadual 
Olegário Maciel, situada na Avenida Olegário Maciel, número 422, no Centro de Belo 
Horizonte. A instituição oferece o ensino médio e a educação de jovens e adultos em 
forma de supletivo. Trabalhamos no turno da tarde, tendo como público alunos do ensino 
médio, escolhidos pelo diretor Michael Rodrigues e pela coordenadora pedagógica 
Luciana Franca. 
DA NECESSIDADE DE REPENSAR A HISTÓRIA E SUAS PRÁTICAS DE 
ENSINO 
A História é reescrita porque o presente muda7. Admitindo que a 
contemporaneidade é pós-moderna, deve-se perguntar: Como fazer História neste 
contexto? O que a História pode oferecer para o ocidente neste tempo? O que deve ser 
valorizado, negado e/ou problematizado? Como escrever História? 
Para responder as seguintes questões, primeiro é necessário definir o que é pós-
modernidade. Keith Jenkins apresenta o conceito de pós-modernidade construído por 
Lyotard como o fim daqueles 
velhos quadros de referência que pressupunham a posição privilegiada de 
diversos centros (coisas que eram, por exemplo, anglocêntricas, eurocêntricas, 
etnocêntricas, logocêntricas, sexistas) já não são mais considerados legítimos 
e naturais (...), mas temporários, ficções úteis para formular interesses que, ao 
invés de universais, eram muito particulares.8 
 
7
 REIS, José Carlos, As identidades do Brasil: de Varnhagem a FHC, p. 7. 
8 JENKINS, Keith. A História Repensada, p. 94. 
Estes antigos centros, ao entrarem em crise, fazem “surgir novas identidades 
fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado”9. 
Desta maneira, a ideia de um sujeito que emerge no nascimento, sempre em 
evolução, dotado de uma razão que determina sua vida e está acima de todas as coisas, 
cai por terra. No mundo pós-moderno (e consequentemente globalizado) o indivíduo está 
em constante construção de si, adotando de diversas culturas – antes inimaginavelmente 
conciliáveis – características para a formação de sua identidade. 
Essas novas identidades culturais fazem pensar o historiador: essa identidade 
fragmentada é exclusividade do presente? 
Partindo do último questionamento, surgem novas abordagens para a História, que 
valorizam o sujeito enquanto construtor de si, analisando o campo no qual está inserido, 
a relação deforças neste e a influência desta dinâmica na sua formação, anunciando um 
sujeito que seja agente ativo da História. O historiador passa a buscar no passado os 
indícios deste movimento no cotidiano, nas relações estabelecidas por estes sujeitos. 
Para esta abordagem, as fontes são ampliadas: literatura, música, cinema, cartas, 
e tudo mais onde houver ação do homem, pois nestes vestígios há indícios para a atividade 
de reconstruir mundos, que é 
uma das tarefas essenciais do historiador, e ele não a empreende pelo estranho 
impulso de escarafunchar arquivos e farejar papel embolorado – mas para 
conversar com os mortos. 10 
Além de repensar a História e suas abordagens, é necessário também pensar a sua 
docência e suas possibilidades dentro do ambiente escolar. 
A instituição escolar, embora goze de maior prestígio que as demais instituições 
modernas no mundo pós-moderno, vive uma crise de sua credibilidade. Como 
(...) é característica das instituições sociais, a escola, quase sempre, nos aparece 
naturalizada, como se sempre tivesse existido, como se não fosse uma criação 
social e histórica recente, como se não fosse pensável o seu desaparecimento. 
Ao mesmo tempo, vozes de todos os lugares da sociedade enunciam a crise da 
escola e, como também é comum na história das instituições modernas, 
propõem a sua urgência e necessária reforma. 11 
 
9 HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade, p.7. 
10 DARNTON, Robert. Boemia Literária e Revolução, p.7. 
11 ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. Por um ensino que deforme: o docente na pós-modernidade, 
p.p 1-2. 
Embora apareça naturalizada, é evidente a necessidade de repensar o espaço escolar 
e as práticas em seu ambiente. O modelo tradicional há muito é incapaz de responder às 
demandas da sociedade. 
Portanto, o que deve fazer a escola na contemporaneidade? Dayrell, ao discutir a 
escola como espaço sociocultural, mostra a importância dela na formação do educando 
como cidadão, por ser 
o lugar de encontrar e conviver com os amigos; o lugar onde se aprende a ser 
"educado"; o lugar onde se aumenta os conhecimentos; o lugar onde se tira 
diploma e que possibilita passar em concursos. Diferentes significados, para 
um mesmo território, certamente irão influir no comportamento dos alunos, no 
cotidiano escolar, bem como nas relações que vão privilegiar.12 
Então, para que vai servir a História na escola, já que “o conhecimento do passado 
parece inútil, pois o atual não repete o acontecido”13? José Carlos Reis responde 
que o conhecimento do acontecido é uma referência para o atual, que deixa de 
experimentar sua atualidade em silêncio e isolamento. A História tem, 
portanto, uma utilidade pragmática de valor incalculável: estabelece o diálogo 
entre os homens passados, em suas situações e soluções específicas, e os 
homens do presente, em seus problemas específicos. Esse diálogo entre 
presente e passado aumenta, no presente, o número de participantes no debate 
e o das capacidades inventivas, pela introdução dos homens e das criações 
passadas.14 
Portanto, assim como a História muda, a escola também o faz. Essa mudança cria a 
necessidade de novas abordagens e práticas da História para a formação dos sujeitos que 
frequentam essa instituição, mostrando-lhes, no tempo, seus possíveis pares. 
HISTÓRIA E MÚSICA 
Se a História é o estudo dos homens no tempo, como afirma Marc Bloch, podemos 
considerar que as suas produções ao longo do tempo também o são. Tratam-se de recortes 
de determinadas sociedades que nos trazem como essas pessoas se apropriavam das 
canções como forma de denúncia e manifestação cotidiana, tornando-se fontes históricas 
para trabalharmos em sala de aula. 
A nova História Cultural, ciente da necessidade de repensar a História, 
propõe uma reviravolta na abordagem histórica: expansão de temas e de 
objetos da história; novos tipos de fontes (partituras, fonograma, 
documentários, programas de TV, filmes, fontes orais; ver PINSKY 2005) e a 
 
12 DAYRREL, A escola como espaço sociocultural, p. 6. 
13 REIS, José Carlos. A História Entre a Filosofia e a Ciência, p. 115. 
14 Ibidem, p. 115. 
mudança na leitura do documento (LE GOFF, 2003); retorno da narrativa; 
interesse por temas marginais (a história vista de baixo); ênfase nos conceitos 
do imaginário, representação, mentalidades, ideias; estudos focados nas 
práticas sociais, dentre outras questões. Nessa perspectiva, a história cultural 
representa um potencial campo de trabalho também para os estudos musicais. 
Não é à toa que, diante de um panorama tão prolífero de trocas entre música e 
a história, Peter Burke – historiador inglês – afirmará que, “para um estudo de 
caso na história das representações, a musicologia é uma disciplina em que 
alguns praticantes agora se definem como historiadores culturais”. (BURKE, 
2005, p. 86).15 
Dentro da dinâmica do ensino médio, o livro didático é incapaz de trabalhar todos 
os elementos propostos pela micro história. Alguns trazem indicações sobre músicas, 
espetáculos de teatros e filmes, mas muitas vezes essas indicações passam despercebidas 
aos olhos do professor e dos alunos. 
Reproduzir as canções em sala de aula (seja através da execução ou da 
reprodutibilidade) é acenar para novas possibilidades de ensino. É dar voz para os alunos 
interpretarem e dialogarem diretamente com um outro tipo de fonte – tão comum a eles, 
mas sob condições diferentes – e assim construírem suas próprias percepções e olhares. 
Para Edgar Morin, “vivemos em um mundo de incompreensão entre estranhos, 
mas também entre membros de uma mesma sociedade, de uma mesma família, entre 
parceiros de um casal, entre filhos e pais”.16 Para ele, a saída deste mundo de 
incompreensão está na ética da compreensão humana e nos seus campos de 
possibilidades, ou seja, a interdisciplinaridade entre as diversas áreas do saber, como a 
Literatura, a Filosofia, a História, o Cinema e a Psicologia, possibilitará essa ética. 
Seguindo esta lógica, um ensino interdisciplinar entre a História e música, pode 
fornecer as seguintes perspectivas: 
a) Estudar a composição através da poética utilizada na letra, possibilitando ao 
adolescente apropriar-se dessas riquezas e utilizá-las na relação com o outro. 
b) Estudar a composição como documento histórico, elucidando as diversas 
formas de resistências e denúncias utilizadas por outras pessoas para 
reivindicarem suas pautas. 
 
15 ASSIS, Ana Cláudia; LANA, Jonas; CARDOSO, Marcos, Música e história: desafios da prática 
interdisciplinar in: Pesquisa em música no Brasil: métodos, domínios, perspectivas. Vol. 1, pp. 12-13. 
16 MORIN, Edgar, A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento, p. 51. 
c) Estudar os ritmos, a musicalidade e os instrumentos, trabalhando questões 
sobre as matrizes culturais brasileiras e suas contribuições na área de cultura 
e na construção da sociedade brasileira. 
d) Estudar a partir de uma construção do cotidiano, expondo as relações sociais 
existentes, os diálogos propostos e as narrativas em foco e, ao mesmo tempo, 
estabelecendo relações com o cotidiano e questões atuais. 
Por fim, a música “pressupõe condições históricas especiais que na realidade 
criam e instituem as relações entre som, criação musical, instrumentalista e o 
consumidor/receptor”17. Levar a música para a sala de aula e utilizá-la como auxílio à 
prática didática possibilita novas realidades na relação entre o ensino e o aprendizado, 
podendo oferecer uma prática mais lúdica em diálogo com diversas áreas do saber, 
incentivando a análise crítica por parte do aluno e uma compreensão dos acontecimentos 
através do viés cultural. 
Como afirma José Geraldo Vince de Moraes, “a canção é uma expressão artística 
que contém um forte poder de comunicação,principalmente quando se difunde pelo 
universo urbano, alcançando ampla dimensão da realidade social”18. Traçar este 
panorama e possibilitar que os alunos recebam informações para articularem em forma 
de conhecimento foi o um dos objetivos deste trabalho. 
A HISTÓRIA CANTADA 
A história cantada foi o nome pelo qual decidimos chamar a prática didática, pois 
através das canções falamos sobre os acontecimentos históricos partindo da perspectiva 
da nova História Cultural e Social como abordados nos capítulos anteriores do trabalho. 
A primeira etapa do desenvolvimento, depois do contato inicial com a escola e a 
escolha dos alunos por parte da instituição, consistiu na aplicação de um questionário para 
conhecimento dos alunos por parte do grupo, onde pedia-se resposta às seguintes 
perguntas: 
1) Você toca algum instrumento musical, canta, dança ou participa de algum 
grupo artístico? Especifique. 
2) Escreva os cinco artistas brasileiros de que mais gosta. 
 
17 MORAES, José Geraldo Vince, História e música: canção popular e conhecimento histórico in: Revista 
Brasileira de História. São Paulo, v.20, nº 39, p. 203-221, p. 211. 
18 Ibidem, p. 204. 
3) Escreva as cinco músicas brasileiras de que mais gosta. 
4) Qual a importância da música na sua vida? 
5) Para você, o que é cultura? 
6) Para você, o que é representação cultural? 
7) Você acha que existe alguma relação entre História e música? Justifique. 
Ao aplicar o questionário, tivemos as músicas e artistas da escolha dos alunos, e 
assim escolhemos a metodologia utilizada. A ordem natural de como funciona o processo 
de ensino e aprendizado, em algumas situações, foi restruturado. 
A prática de ensino partiu do próprio entendimento da turma sobre as questões 
propostas em forma de questionário. As músicas escolhidas foram de acordo com o que 
mais se repetiu no questionário, relacionadas à outras canções selecionadas pelo grupo. 
 As abordagens sobre o “O que é cultura?”, “O que é representação cultural?” e 
“Qual a relação existente entre História e música?” foram realizadas com base nas 
respostas dos alunos. Utilizou-se da resposta e entendimento dos alunos para inserirem-
se novos conceitos pautados em referências acadêmicos. 
Se a música é uma “fonte para compreender certas realidades da cultura popular 
e desvendar a História de setores da sociedade pouco lembrados pela historiografia”19, 
nada mais justo do que começarmos a partir da necessidade dos alunos, já que as 
experiências individuais são pouco lembradas por parte de alguns professores, lançando 
um olhar homogeneizante sobre os estudantes. 
Após esse primeiro encontro e com base no estudo realizado dos questionários, 
foram escolhidas as seguintes canções e os respectivos temas transversais: Panis et 
Circense20 e Geração Y21 para o primeiro encontro, onde foi trabalhado o tema 
“Cidadania”; Índios22 e A Peste23 para o segundo encontro, com o tema “Minorias”; e 
Comportamento Geral24 e O Portão do Céu25 para o terceiro encontro, onde foram 
trabalhados os temas “Política Atual” e “Conflitos Sociais”. 
 
19 MORAES, José Geraldo Vince, História e música: canção popular e conhecimento histórico in: Revista 
Brasileira de História. São Paulo, v.20, nº 39, p. 203-221, p. 205. 
20 Caetano Veloso e Gilberto Gil. 
21 Tom Zé. 
22 Renato Russo. 
23 Ângela Carneosso e a Peste. 
24 Gonzaguinha. 
25 Projota. 
O contexto da produção da canção e as apropriações ao longo do tempo foram 
trabalhados em sala de aula, junto aos temas transversais. Ao falar das canções Panis et 
Circenses e Comportamento Geral, por exemplo, os anos da ditadura e as formas de 
resistências foram discutidos. Ao falar de Índios, o período da redemocratização e o 
projeto de um país democrático, libertário e inclusivo que estava em jogo foram 
abordados. Quanto às canções Geração Y, A Peste e Portão do Céu, situações atuais 
foram trabalhadas, como as manifestações de junho de 2013, eleições presidenciais, golpe 
jurídico-parlamentar, reforma da educação via medida provisória, PEC 241 e ocupação 
das escolas. 
A metodologia utilizada para explorar as canções deu-se da seguinte maneira: as 
canções eram reproduzidas via equipamento de som, e depois dava-se início aos 
seminários, no qual os alunos expunham seus pontos de vista, dialogavam entre si e 
conosco sobre suas percepções sobre a letra das canções, as prováveis intenções do autor 
e as múltiplas interpretações possibilitadas pela obra onde discutíamos também sobre o 
autor, o período da composição e o contexto histórico em questão. 
Para os autores Ana Claudia de Assis, Jonas Lara e Marcos Cardoso, ao falarem 
da relação entre História e música, “a prática musical deixa de ser tratada como algo 
isolado e desconectado de sua realidade exterior, exigindo da musicologia a incorporação 
de conhecimentos desenvolvidos em outras áreas”26. Logo, foi utilizado da capacidade de 
conectar pessoas que a música possui - seja através da amizade, das preferências, do afeto 
e do interesse – a sua relação com a realidade exterior e o diálogo com outras áreas do 
saber, como norteadores para o desenvolvimento da metodologia. 
Passados os encontros, os alunos foram divididos em grupos, de acordo com suas 
preferências, e produziram um relato da experiência em sala de aula através das 
discussões pautadas na relação entre o ensino de História por meio da música. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Para Nietzsche, na sua II Consideração Intempestiva sobre a utilidade e os 
inconvenientes da História para a vida, “não queremos servir à história senão na medida 
em que ela sirva a vida”27. Uma História sem relação com o cotidiano, que não expresse 
 
26 ASSIS, Ana Cláudia; LANA, Jonas; CARDOSO, Marcos, Música e história: desafios da prática 
interdisciplinar in: Pesquisa em música no Brasil: métodos, domínios, perspectivas. Vol. 1, p. 13. 
27 NIETZSCHE, Friedrich, II Consideração Intempestiva sobre a utilidade da História para a vida in: 
Escritos sobre história, p. 68. 
as demandas atuais, não teria motivo de existir, já que “temos a necessidade dela para 
viver e para agir, não para nos afastarmos comodamente da vida e da ação e ainda menos 
para enfeitar uma vida egoísta e as ações desprezíveis e funestas”28. 
Ao utilizarmos da música como fonte histórica e como uma nova forma para 
pensarmos a relação entre ensino e aprendizado, procuramos nos aproximar da vida e da 
ação. Utilizamos de um hábito comum a maioria das pessoas. A música ilustra a vida. 
Existem programas de TV, jingles publicitários, festas, filmes, espetáculos teatrais, 
discos, e infinitas situações onde a música possui participação e/ou, pelo menos, está 
presente. 
Ao pensarmos a relação sobre História e música, “poderíamos dizer que Música é 
História, inclusive na reprodução da relação circular com o homem: também a Música o 
submete em sua trama temporal ao mesmo tempo em que pelo homem é criada”29. 
Portanto, como fim último deste trabalho, está a tentativa de propor novas 
abordagens para a relação entre História, música e práticas de ensino. E com a sua 
finalização, resta o prazer de termos desenvolvido este projeto com a certeza de que novas 
metodologias não são apenas possíveis, mas necessárias. 
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28 Ibidem, p. 68. 
29 ASSIS, Ana Cláudia; LANA, Jonas; CARDOSO, Marcos, Música e história: desafios da prática 
interdisciplinar in: Pesquisa em música no Brasil: métodos, domínios, perspectivas. Vol. 1, p. 7. 
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