Buscar

Angústia da Linguagem

Prévia do material em texto

Assim como o ser humano não pode satisfazer seu desejo de ter completa consciência da morte, da 
mesma forma, a angústia da linguagem advém de que ela evoca sem cessar sua morte, sem poder morrer 
jamais. Não poder morrer é recusar a possibilidade de fim, e a noção de fim está ligada ao pensamento 
iluminista. Segundo Blanchot, 
Nous découvrons qu'il y eut un temps sans histoire, auquel ne convient pas 
la terminologie propre aux temps historiques, termes et notions que nous 
connaissons bien: liberté, choix, personne, conscience, verité et originalité, d'une 
maniere général l'État comme affirmation de la structure politique". 
(BLANCHOT, 1969, p. 396) (Tradução: Descobrimos que houve um tempo sem 
história, ao qual não convém a terminologia própria aos tempos históricos, 
termos e noções que conhecemos bem: liberdade, escolha, indivíduo, 
consciência, verdade e originalidade, de uma maneira geral o Estado como 
afirmação da estrutura política.) 
Para Blanchot, o começo da história teria sido o fim dos tempos mítico-heróicos, das narrativas 
homéricas, que falam de deuses movidos por querelas, tempos que de alguma maneira penetraram pela 
história adentro, ou como identificação ou como oposição. "L'homme historique préserve le mythe et se 
préserve contre lui"(EI 40 I) (O homem histórico preserva o mito e se preserva contra ele.). Esse homem 
histórico tenta construir e preservar a lógica racional do mundo: 
Em nossa nova era, presenciamos os fenômenos de massa, a supremacia do jogo maquinal, a energia 
atômica. O homem faz o que só as estrelas podiam fazer, tornando-se o astro presunçoso. A vida hoje não 
está mais na natureza, nem em Deus, mas na ciência, esse saber grosseiro e inconfiável que determina a 
nova direção, e que não é da ordem do saber absoluto nem da sociedade fora do poder. 
Para Blanchot, a escrita da História a partir do testemunho não escapa a uma falsificação, a uma 
deturpação. Se Adorno considera Auschwitz o desastre derradeiro, após o qual é impossível escrever um 
poema, para Blanchot, não se pode esquecer o que nunca se chegará a saber, um acontecimento sem 
resposta, porque não há como narrar Auschwitz. A história não detém o sentido, não mais que o sentido, 
sempre ambíguo, sempre plural, não se deixa reduzir a sua realização histórica, seja ela a mais trágica ou 
a mais considerável. A narrativa não se traduz. Blanchot descarta qualquer tipo de ascendência da História 
sobre a narrativa, porque a narrativa precede a história, a narrativa perpetua a palavra, abrigando-a da 
hecatombe, da fúria, da destruição.
CHAT
Este tópico vai ficar nas reflexões sobre o Pós-modernismo, que não são poucas. Novos textos 
literários virão nos tópicos a seguir. Como reflexão, sua tarefa neste chat é ler atentamente o texto 
apresentado, anotar suas dúvidas e questionamentos e partir para a discussão com seus colegas e 
professor. Desejamos a vocês um bom diálogo, boas reflexões sobre o Pós-modernismo!
68