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A alquimia dos sonhos - Athena Laz

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ATHENA LAZ
A
ALQUIMIA
dos SONHOS
Como dominar a antiga
arte dos sonhos lúcidos
Tradução
Alessandra Kormann e Maria Antônia Kormann
Sumário
introdução
Eu durmo para poder enxergar
capítulo 1
Qual é o seu porquê?
capítulo 2
Emoções, instintos e todos os seus sonhos
capítulo 3
A linguagem simbólica da interpretação de sonhos
capítulo 4
Agindo na orientação dos seus temas e símbolos oníricos
capítulo 5
Examinando paisagens oníricas simbólicas comuns
capítulo 6
Abrindo-se para suas figuras oníricas
capítulo 7
O espaço liminar entre estar acordado e dormindo
capítulo 8
O sonhador consciente
capítulo 9
Eu estou lúcido… E agora?
capítulo 10
Manifestando o poder do sonho lúcido na sua vida desperta
capítulo 11
A alma guiada
capítulo 12
Um sonhador poderoso sonha para todos
agradecimentos
Sobre a autora
Para Jed
Introdução
Eu durmo para poder enxergar
Sem nenhuma memória de como chegou a este lugar ou a este ponto no tempo, ela só
sabe que está parada, descalça, em uma estrada de cascalho. A escuridão ao seu redor
reverbera com uma aparente cacofonia de silêncio e sussurros que somente a noite
pode produzir. Ela examina o terreno, em uma tentativa de se situar e, enquanto o faz,
a realidade se apresenta. Está completamente sozinha neste lugar... Este lugar.
Onde é mesmo este lugar?
A natureza granulada do cascalho sob seus pés frios e descalços a distrai de seus
pensamentos. Ela olha para baixo, observa os pés – delicados e expostos – e,
franzindo os olhos, vê que está em cima de um “X” feito com tinta vermelha.
Curioso, ela pensa.
Então, na escuridão fria e úmida, surge um pensamento reconfortante. Ela percebe
que consegue enxergar à noite, com nitidez. Na verdade, ela sempre pôde enxergar
no escuro. Outro estalo de consciência: ela sempre teve o poder da escolha. Com essa
percepção, ela agora compreende que está diante de uma escolha: fique parada,
estagnada, ou siga em frente, corajosamente, para o desconhecido.
De repente, sua sonolência recua, acordando-a para a realidade de sua cama e do
quarto ao seu redor. É a vida como de costume. Porém, com uma diferença sutil:
agora ela carrega algo precioso consigo. Um presente trazido do sonho:
• X marca o lugar.
• X é onde está o tesouro.
• X é este instante incandescente.
O tesouro escondido que são os seus sonhos
Todos os seus sonhos são presentes. Sim, até mesmo aqueles que te deixam morrendo
de medo. Sonhos são presentes oferecidos pela sua própria psique e pelo seu espírito.
Como a renomada escritora e analista Marie-Louise Von Franz proclamou: sonhos
não “gastam saliva contando o que você já sabe”. E como eu gosto de acrescentar, os
sonhos contam o que você precisa saber.
Eles são o “X” que marca o lugar.
Pela sua própria natureza, sonhos falam sobre coisas bem mais amplas e numinosas
do que aquilo que já sabemos. Eles falam sobre tudo aquilo que não sabemos, sobre
tudo o que nos recusamos a enxergar ou sobre aquilo que simplesmente não podemos
ver. Ou tudo o que gostaríamos de ver. Sonhos dizem respeito à interconexão de toda
a vida e ao nosso lugar exato nela.
Os sonhos guiam o nosso olhar para nos mostrar a abundância de infinitas
possibilidades. E, como vai descobrir ao longo deste livro, quando sonha, você é
guiado por algo muito maior do que apenas a sua mente. Você é conduzido pelo seu
espírito em conjunto com a sua psique. Como resultado, você pode obter sabedoria,
inspiração criativa e soluções poderosas que podem (e vão) impulsioná-lo adiante, se
você escolher agir na direção em que seu sonho apontou.
Na vida real, é assim que os sonhos que levam a pessoa a agir são: Larry Page teve a
ideia de criar o Google a partir de um sonho; Mary Shelley, a autora de Frankenstein,
usou seus sonhos como inspiração – assim como Stephen King; Paul McCartney
ouviu a melodia de “Yesterday” em um sonho; August Kekulé descobriu a estrutura
em forma de anel do benzeno depois de sonhar com uma cobra comendo o próprio
rabo (o símbolo do Ouroboros). Até mesmo Niels Bohr sonhou com a estrutura do
átomo.
E como todo terapeuta deve saber, sonhos ajudam no dia a dia (ou noite a noite), não
apenas com ideias visionárias que mudam o mundo. Eles nos presenteiam com
percepções fundamentais e transformadoras que nos ajudam a navegar pela vida
terrena, com suas emoções, relacionamentos e desejos. Eles nos fazem sentir melhor.
É provado cientificamente que sonhos ajudam a regular emoções negativas. Eles
podem fornecer um pouco de encerramento e cura quando o luto toma conta de nós,
oferecer respostas para problemas que parecem imutáveis quando estamos acordados
e até mesmo ajudar a resolver conflitos internos.
Você descobrirá que todos os seus sonhos são oferendas abundantes, mas isso não
quer dizer que todos eles serão fáceis, como se fossem belas narrativas noturnas
regadas a bênçãos e prazer. Isso porque os sonhos ajudam a prevenir o autoengano e,
ao fazer isso, frequentemente eles dão socos metafóricos, levando ao
questionamento: qual é a mensagem que eu não estou escutando? A “coisa” que não
estou vendo? O caminho que eu tenho medo de seguir? O sentimento que não estou
me permitindo sentir?
Responder a essas perguntas durante a vida desperta requer uma profunda
honestidade e uma resolução emocional que, na maioria das vezes, são mais fáceis de
ignorar. No entanto, sonhos batem toda noite à porta da psique, acordando-nos para a
nossa verdade interior. Uma verdade que pode se estender para uma vida bem vivida
se você, o sonhador, corajosamente decide encarar suas intuições. E, assim, conhecer
a “coisa”, os sentimentos, os padrões e os anseios que são obstáculos entre você e o
alinhamento ideal na sua vida cotidiana.
Uma porta de entrada para suas paisagens oníricas
A intenção deste livro é ser uma porta de entrada que você possa atravessar
corajosamente e descobrir suas próprias paisagens oníricas. Mas, antes de você
cruzar o limiar, quero falar brevemente sobre a minha atuação nessa área, para
apresentar uma visão geral da minha abordagem. Psicóloga por formação, eu trabalho
com aconselhamento psicológico, sou especialista em sonhos e faço parte da quarta
geração de intuitivos em minha família. Sou ainda uma ávida e autodidata sonhadora
lúcida. Tenho sonhos poderosos desde criança e, enquanto crescia, eu me sentia cada
vez mais atraída por eles.
Na verdade, podem até dizer que os sonhos me escolheram para ser uma porta-voz
deles, mas isso é uma história para outro momento. Então, por enquanto, vamos
apenas dizer que eu escolhi me especializar em trabalho do sonho[1] porque descobri
que os sonhos são o caminho mais direto para a transformação, o crescimento e o
despertar espiritual. De modo simples, pelo fato de que pegamos um desvio do nosso
próprio caminho quando dormimos, nossos sonhos podem ser de imensa ajuda.
Trabalhei com milhares de pessoas incríveis ao redor do mundo durante meus cursos,
programas de assinatura para membros, workshops presenciais e retiros, que foram
todos voltados para ajudar pessoas a prestarem atenção nos seus sonhos, na sua
psique e no seu conhecimento interior para conseguirem as respostas que elas
buscavam.
Eu direciono meu trabalho para o significado ancestral da palavra “psicoterapia”.
Etimologicamente, a palavra deriva de “psique” (alma, espírito) e “terapia”
(tratamento, cura). A raiz da palavra nos lembra que a psicoterapia é sobre a cura da
alma. Em outras palavras, psicoterapia é mais do que curar apenas a mente e as
emoções. É sobre a conexão e o bem-estar da alma.
Acredito que devemos entrelaçar o espírito e a alma de volta às práticas psicológicas
contemporâneas, a fim de ter um mundo interior e exterior mais equilibrados. Para
que possamos experimentar mudanças profundas de verdade, intensas e duradouras
na vida, nós devemos trabalhar com todos os aspectos que nos constituem. E eles são
a mente, o corpo e o espírito.
Por esse motivo, eu resolvi ir além do escopo da psicologia moderna, pois a
considerei muito constritiva tanto para mim quanto paraos meus pacientes. No
entanto, sou eternamente grata pela base sólida, enriquecedora e ética que a
psicologia me proporcionou e pela qual muito do meu trabalho surgiu.
A psicologia é um alicerce forte e essencial para se construir um ponto de partida. É
uma peça vital no quebra-cabeça para a compreensão da consciência humana, assim
como a ciência, o misticismo e a espiritualidade. Eu não acredito que os pioneiros da
psicologia um dia pretenderam que esse campo fosse a “única resposta” ou que
tivesse “todas as respostas” para a vida plena e para a consciência. A experiência
humana é tão diversa quanto as pessoas que vivem neste planeta, e acreditar que
apenas um método ou escola de pensamento é o certo, na minha opinião, é
simplesmente sufocante.
Já que você está lendo este livro, aposto que está interessado em um leque mais
amplo de possibilidades para o que significa estar vivo, assim como em explorar o
que quer que traga sentido existencial para a sua vida. Eu vou mergulhar e me
aprofundar em diferentes escolas de pensamento, destacando aquelas que me
pareceram mais precisas e úteis, partilhando-as aqui, na esperança de que sejam
igualmente proveitosas para você.
Por fim, como somos todos seres subjetivos, eu tentei fazer os exercícios práticos do
livro da maneira mais variada e útil possível. Fiz isso para que todo sonhador pudesse
ter uma chance maior de experimentar todas as diferentes facetas de sonhar para si
mesmo. Dito isso, esta é a sua jornada. Se alguma coisa não fizer sentido para você,
por favor, fique à vontade para pular para o próximo exercício e encontrar aqueles
que funcionam melhor no seu caso! Vamos começar.
O espectro do sonho
Acredito que nos reconectamos com uma consciência superior unificada (o universo,
o espírito, a fonte) todas as noites, quando dormimos.
Explicando: eu uso as palavras “espírito”, “universo” ou “imaterial” alternadamente
para me referir à força vital de todas as coisas. Você pode reconhecer essa força como
Deus, energia, fonte ou simplesmente como um fluxo de consciência. Por favor, fique
à vontade para escolher e usar quaisquer palavras ou frases com as quais você se
sinta mais confortável no decorrer deste livro.
A crença de que nos reconectamos com uma fonte espiritual quando dormimos não é
exclusivamente minha. Hinduísmo, Judaísmo, Cristianismo, Budismo e Xintoísmo,
para citar apenas algumas escolas do pensamento religioso, dialogam com essa ideia.
Então, toda noite, somos presenteados com a habilidade de armazenar uma
perspectiva maior, ao mesmo tempo que obtemos uma melhora significativa no nosso
bem-estar físico através do sono reparador.
Essa perspectiva maior gera muitos tipos diferentes de sonhos. Podemos
experimentar sonhos comuns, sonhos de aviso, sonhos premonitórios ou proféticos,
sonhos coletivos e sonhos lúcidos. Você descobrirá todos esses sonhos no decorrer
deste livro. Dito isso, é importante diferenciar um sonho comum de um sonho lúcido
desde já.
Os sonhos comuns ou “normais” são ricos em imagens, símbolos e histórias. Esses
sonhos são as excursões noturnas que geralmente você se encontra fazendo. Algumas
vezes, esses sonhos são claros e vívidos, bem parecidos com a história do sonho que
compartilhei no começo do livro. Outras vezes, eles são completamente esquecíveis –
talvez como aquele sonho que você teve na última quarta-feira?
No decorrer deste livro, eu usei os termos “comum” e “normal” para descrever esse
tipo de sonho, apenas para facilitar a leitura e o entendimento. Desde o início, quero
que você saiba que esses sonhos rotineiros vão muito além do comum ou mundano.
Vou até me arriscar a dizer que os sonhos podem ser nossos maiores guias espiri tuais,
ainda que a maior parte deles frequentemente seja descartada ao amanhecer.
Sonhos comuns são os mais frequentes na nossa vida e, enquanto viajar por estas
páginas, você descobrirá o quanto eles são generosos. E como eles sempre nos
guiam.
Recheados de pessoas, lugares, eventos e personagens familiares e estranhos, esses
sonhos dialogam simbólica e metaforicamente com o sonhador. No Capítulo 3, você
descobrirá a profundidade do insight disponível para você através dessa forma
simbólica da interpretação de sonhos. Ao fazer o exercício, você também aprenderá
exatamente como decodificar as mensagens emocionantes contidas nos sonhos para
seu bem-estar e crescimento pessoal.
Agora, eu gostaria de propor uma ponderação sobre uma coisinha: você já teve um
sonho em que percebeu que estava sonhando?
Se a resposta for sim, então você saiu de um sonho comum para um sonho lúcido!
Você viajou através do espectro do sonho, por assim dizer. Se você respondeu não,
então anime-se, pois sua exploração onírica está prestes a se tornar mais magistral a
cada página deste livro!
Para explicar: sonhos comuns são aqueles em que você não tem nenhuma ideia de
que está sonhando. Somente quando acorda é que você percebe que estava, de fato,
sonhando. Em um contraste gritante, sonhos lúcidos são aqueles em que você está
ativamente consciente de que está sonhando enquanto você está dentro do sonho.
Em outras palavras, você se encontra “acordado” em um sonho mesmo que
psicologicamente seu corpo ainda esteja dormindo. Você pode então explorar o sonho
com consciência cognitiva e força de vontade, alterando todo o cenário como desejar,
coisas que não se pode fazer em um sonho comum.
Vamos voltar à história do sonho comum que eu trouxe no início do livro, para que
você possa entender ainda melhor.
Uma mulher subitamente se vê em pé, descalça, em uma fria estrada de cascalho. Ela
está desorientada. A mulher fita o horizonte à procura de uma pista de onde está. Cai
a ficha: ela está sozinha, completamente sozinha neste lugar estranho. E, naquele
momento, ela tem um pensamento muito esclarecedor e se pergunta: onde é este
lugar?
A pergunta autorreflexiva poderia tê-la feito “acordar” para o fato de que estava em
um sonho! Que ela estava sonhando. Mas, no sonho, seus pés frios a distraem, então
ela se esquece de sua pergunta, o que faz com que o sonho simplesmente continue
seguindo, isto é, sem a sua percepção consciente.
Se esse fosse um sonho lúcido, a experiência poderia ter transcorrido de outro modo.
Uma mulher subitamente se vê em pé, descalça, em uma fria estrada de cascalho. Ela
está desorientada. A mulher fita o horizonte à procura de uma pista de onde está. Ela
percebe que está sozinha, completamente sozinha, neste lugar estranho. E, naquele
momento, ela tem um pensamento muito esclarecedor e se pergunta: onde é este
lugar?
Esse pensamento, então, a leva a um momento de “ahá!”, e ela continua a se
questionar: nunca estive neste lugar. Como eu poderia ter chegado aqui? Onde eu
estava antes disso?
E com essas perguntas autorreflexivas, uma memória (e a resposta!) aparece no
primeiro plano da sua consciência: a última coisa que você fez foi ir para a cama.
Essa resposta reveladora a faz pensar: eu devo estar sonhando. Isto é um sonho. Eu
estou sonhando.
Aí é que está a diferença fundamental entre um sonho lúcido e um sonho comum. Em
um sonho lúcido, você está acordado dentro do sonho. Em um sonho comum, você
sonha porque está dormindo.
Agora você deve estar se questionando: já foi provado que sonhos lúcidos existem? E
a resposta é um sonoro “sim”! O sonho lúcido foi provado cientificamente no
Ocidente em 1975, quando dois pesquisadores, Hearne e Worsley, fizeram uma série
de experimentos com sonhos em seu laboratório. Desde então, um crescente corpo de
pesquisa acadêmica e científica emergiu, destinado a desmistificar a prática do sonho
lúcido.
Mas, antes mesmo dessas evidências científicas chegarem ao Ocidente, o sonho
lúcido já era (e é) uma prática reverenciada em muitas fés e crenças como o
Budismo, o Hinduísmo e o Xamanismo. Inclusive, essa é uma prática ancestral que
se estende por milhares de anos. As pessoas têm tido sonhos lúcidos há séculos, e a
ciência ocidental entrou para essa conversa apenas recentemente.
Neste ponto, muitas vezes me perguntam: como o sonholúcido pode ser útil? E, mais
importante ainda, como ele pode me ajudar? Este livro é, de muitas formas, dedicado
a responder a essas perguntas.
Falando de maneira prática, o sonho lúcido pode nos ajudar a transformar uma
emoção que está estagnada, a curar fisicamente e ainda auxiliar na proficiência e no
desenvolvimento de uma habilidade (como tocar algum instrumento ou meditar),
além de incontáveis outros bene fícios. Você também pode desenvolver
metacompaixão por meio do sonho lúcido, receber ensinamentos espirituais e até
mesmo se preparar para os momentos após a morte. E mais, as palavras de Tenzin
Wangyal Rinpoche, professor budista tibetano da tradição Bön, oferecem
graciosamente um fragmento de ouro do penúltimo benefício:
O primeiro passo na prática do sonho é bem simples: é preciso reconhecer o grande
potencial que o sonho tem para a jornada espiritual. Normalmente, o sonho é visto
como “irreal”, como o oposto daquilo que é “real” na vida desperta. Mas não há nada
mais real do que um sonho.
Sonhar de maneira lúcida é muito mais do que apenas controlar suas ações dentro de
um sonho e obter benefícios rasos. É sobre conectar-se à fonte de quem você
realmente é. É sobre a dança do visto com o não visto, o além, sobre o mundo
desperto e o mundo onírico e sobre você como a ponte entre os dois.
Através de todos os seus sonhos, é possível redescobrir os presentes já guardados nas
profundezas do seu ser interior. Você perceberá como está ativamente criando a sua
vida. Que você é o sonhador tanto no seu sonho quanto na sua vida desperta.
Em toda noite, existe a capacidade de transitar entre a consciência desperta e a
consciência adormecida por meio do veículo que é o sonho comum.
Isso por si só já é muito incrível.
Adicione o sonho lúcido à mistura e você está à beira de algo muito mágico: a
habilidade de estar consciente (e movimentar-se) em ambas as formas de consciência
ou “realidade”.
Todos nós já tivemos sonhos que pareceram tão reais, tão vívidos que, naquele
momento, pelo que nós sabíamos, eles eram reais. E só quando acordamos é que
percebemos que estávamos sonhando. Mas, com o sonho lúcido, você de fato sabe
que está explorando sua consciência.
Experimentar o sonho lúcido traz à tona uma questão existencial ainda mais ampla:
se você tem conhecimento sobre duas formas de consciência, então qual é essa
terceira forma de consciência (ou metaconsciência)? Essa é uma questão que eu
espero que você explore por iniciativa própria, assim que se tornar o viajante
consciente da sua paisagem onírica.
Eu acredito que todos os nossos sonhos se apresentam para nos mostrar infinitas
possibilidades, realçando a vibração (tanto individual quanto coletiva) que estamos
projetando para fora e para dentro ao mesmo tempo, sobretudo oferecendo-nos uma
oportunidade de alterar o nosso alinhamento como for preciso. Em outras palavras,
os nossos sonhos podem nos ajudar a entender como nos sentimos; a reconhecer que
energia estamos expressando para o mundo e a mudar de curso quando e se
necessário; a potencialmente ver o que pode acontecer; e a se reconectar com o
espírito todas as noites.
Durma bem sabendo que tudo tem seu valor
Qualquer que seja o sonho que o trouxe até aqui – o sonho comum, o sonho
premonitório, o sonho de aviso, o sonho simbólico ou o sonho lúcido –, é puramente
o meu desejo que, ao chegar ao fim do livro, você se torne um sonhador consciente.
Então, quer você já tenha sido capaz ou não de ter um sonho lúcido, por favor, saiba
que todos os sonhos são importantes e podem oferecer insights incrivelmente
valiosos. Se você tentar colocar seus sonhos em uma hierarquia de experiências
melhores ou mais valiosas, pode ser que você perca a magia que acontece todos os
dias quando está sonhando normalmente. E, apesar de este livro ensinar exatamente
como ter um sonho lúcido, o objetivo principal é fazer despertar, dentro de você, um
profundo amor por sonhar. Para que assim você possa experimentar o fenômeno que
são os sonhos.
No trabalho do sonho é importante que, primeiro, você desenvolva uma compreensão
maior do sonho comum (simbólico) para que você tenha uma base sólida. O trabalho
do sonho regular dá suporte ao processo de sonho lúcido. Você descobrirá
exatamente como suas emoções, pensamentos e crenças influenciam todos os seus
sonhos, o que é um entendimento crucial para se envolver com o sonho lúcido.
Finalmente, sonhar é um caminho jubiloso, no qual você perceberá que não existe
jeito certo ou errado pelo qual viajar. Dito isso, para despertar esse amor profundo
por sonhar, você deve ser capaz de se lembrar dos seus sonhos quando acordar. Aqui
vai como fazer isso.
Antes de pegar no sono, é importante firmar a sua intenção de se lembrar dos sonhos
quando acordar. Se você se comprometer a fazer isso todas as noites, vai começar a
ver que a lembrança dos seus sonhos vai melhorar.
Uma intenção é simplesmente um pensamento sincero no qual se deposita muita
importância e energia. É uma declaração sussurrada que você joga para o universo.
As intenções também são psicologicamente significativas, pois você está se
comprometendo com o que quer que esteja pretendendo fazer também em um nível
psíquico.
Sua intenção pode ser uma expectativa que você tem sobre suas práticas de sonho ou
sobre sua vida. Uma vez que você determinou sua intenção, feche os olhos. Então,
respire profundamente algumas vezes, de modo revigorante, dizendo as seguintes
palavras antes de ir dormir:
Explorar o mundo dos meus sonhos esta noite é seguro para mim. Eu terei bons
sonhos e lembrarei deles de manhã. Eu estou pronto para explorar todas as facetas da
minha vida onírica. Estou completamente disposto a deixar que meus guias oníricos
me auxiliem.
Ao acordar, procure ao máximo não se mexer, apenas permaneça o mais imóvel
possível – isso normalmente requer um pouco de prática! Permaneça com os olhos
fechados e, enquanto ainda está deitado na cama, imóvel, você deve tentar reproduzir
o sonho em sua mente. Isso é para que o seu cérebro (mais especificamente o
hipocampo) possa alcançar e guardar esse sonho na memória. Assim que você sentir
que o tem sob controle, anote o seu sonho em um diário.
E é assim que se faz um diário de sonhos...
Mantenha um caderno ao lado da cama e, ao acordar, anote exatamente aquilo que
você se lembra do sonho. Inclua o máximo de informações possíveis: anote cada
cenário, pessoas, sentimentos e figuras oníricas que apareceram. Também pode ser
útil sublinhar o que parecer particularmente importante para você na hora. Anote seus
sonhos da maneira mais detalhada que puder e procure lembrar de toda e qualquer
coisa, mesmo que pareça insignificante.
Detalhes ajudam porque você estará criando uma coleção dos seus símbolos oníricos
ao documentar seus sonhos. Mais adiante, eu também vou mostrar como você pode
decodificar esses símbolos. Então, se você começar agora, deve ter material
suficiente para interpretar alguns dos seus sonhos quando chegar a esse capítulo
específico.
Um símbolo que pode parecer insignificante à primeira vista pode vir a ser, em longo
prazo, algo significativo. Por exemplo, você pode não perceber que o sol está sempre
presente nos seus sonhos. Ou talvez o oposto seja verdade: o sol nunca está presente.
O sol é um símbolo que pode ser facilmente esquecido ou desconsiderado, mas lá
está ele, iluminando seus sonhos todas as noites. Ele pode estar mostrando a você
como se conectar à essência visível que sustenta a vida e que, inclusive, também
simboliza sua luz interior.
Pronto?
1
Qual é o seu porquê?
Uma vasta extensão de areia tom de laranja queimado se estende à minha frente, até
onde a vista alcança. Ondulando uma após a outra, as dunas criam um horizonte sem
fim imitando a água, mas feito de terra. Cada grão sussurra uma história de um tempo
já há muito esquecido, esperando para ser ouvido. Eu fico hipnotizada, inalando o
silêncio e a beleza diante de mim. O vento sopra com gentileza, e eu balanço com
ele, em seu ritmo. Completamente imersa nessa vastidãoa céu aberto, começo a me
lembrar que já estive neste mesmo lugar antes.
Lentamente, passo minhas mãos pela areia. Apanhando um punhado pesado de terra
do deserto, olho para baixo e reparo que a areia é cintilante. As cores mudam com
cada fractal de luz enquanto passo a areia de uma mão para a outra. Enquanto foco na
sensação dos grânulos em contato com as minhas mãos, o tempo parece estar parado.
Agora as minhas duas mãos estão abertas, e a areia escorrega entre meus dedos. A
cada grão que cai, eu me descarrego de todo o peso da minha história. Eu me sinto
leve, leve até demais, tanto que procuro focar a atenção nos meus pés descalços.
Quando olho para baixo, eles começam a desaparecer na areia sob mim. Membro
após membro, osso após osso, eu sou integrada ao deserto.
Consciente dessa transformação, percebo que eu sou o deserto inteiro e, ao mesmo
tempo, apenas um grão.
Acordo com uma sensação impressionante de serenidade, apenas para ter esse
momento interrompido em seguida pelo alarme do despertador, trazendo-me de volta
na mesma hora para a minha experiência humana e cotidiana. E não é assim mesmo?
Como o místico está tão bem embrulhado no mundano! Funcionando como um
lembrete sagrado de que nossas vidas são feitas do momento presente, um após o
outro, até que a morte nos transforme novamente.
Antes de continuar a leitura, eu gostaria que você parasse por uns minutos e refletisse
sobre o porquê de você estar motivado a fazer o trabalho do sonho. Pergunte a si
mesmo: por que quero fazer isso? Escreva seus pensamentos no papel sem censurá-
los. Então guarde bem o que tiver escrito, para que possa consultar depois. Uma vez
que tiver feito isso, volte aqui e continue a leitura.
Trabalho do sonho e a psique
Sonhos nos auxiliam a questionar e alterar nossas crenças mais profundamente
arraigadas e a tomar nota do que estamos criando e manifestando em nossa vida
cotidiana. Eles servem para nos ajudar a viver de modo mais pleno e enriquecedor,
enquanto também nos mostram quais partes da nossa psique são subdesenvolvidas,
para que, assim, possamos trabalhar para integração psicológica e bem-estar
emocional maiores.
De uma perspectiva psicológica e do desenvolvimento pessoal, isso significa
trabalhar com o inconsciente coletivo, seu inconsciente pessoal, emoções,
motivações e as representações simbólicas equivalentes que aparecem na sua
elaboração onírica. Algo que eu ativamente mostrarei a você como fazer no decorrer
deste livro. No âmbito espiritual, isso significa trabalhar em conjunto com o espírito.
Pegue o meu sonho do deserto como exemplo. Esse sonho me ajudou a descobrir de
modo mais profundo, e então expressar, os meus sentimentos relativos à morte e a
morrer. Naquele momento, eu estava com medo da morte em um nível emocional
profundo. Mais especificamente, meu medo era não saber como isso iria acontecer.
Até aquele sonho, eu nunca havia me dado espaço ou permissão para refletir com
honestidade sobre por que isso acontecia e como isso fazia eu me sentir.
Se alguém me perguntasse como eu me sentia a respeito de morrer, eu daria uma
risada irreverente, dizendo que “todos nós temos que fazer isso um dia”. Ou mudaria
de assunto. Em outras palavras, meus medos e sentimentos acerca da mortalidade
realmente me assustavam muito, então, para neutralizar a minha ansiedade quando eu
pensava a respeito, eu apresentava uma reação leve e alegre – o oposto do que eu
estava sentindo internamente.
Meu comportamento nessa circunstância era um típico mecanismo de defesa
psicológico conhecido como formação reativa. Um mecanismo de defesa se
configura quando sua mente responde de uma maneira específica para ajudar a
minimizar um conflito interno. Todos nós temos mecanismos de defesa, e aprender
com mais profundidade sobre eles pode ajudá-lo na sua jornada de crescimento
pessoal.
De maneira mais específica, uma formação reativa ocorre quando você converte o
que sente de verdade em uma resposta mais aceita pessoalmente (ou socialmente), a
fim de suavizar um desconforto interno. Isso não significa que você tenha aceitado
como se sente, mas apenas que você se defende contra isso manifestando o oposto do
que sente.
Apesar de apresentar um exterior calmo quando o assunto da morte vinha à tona, meu
medo original não desapareceu. Ele ainda existia, mas estava escondido da minha
consciência através do meu mecanismo de defesa. Em outras palavras, meus
pensamentos e minhas emoções relativas à morte, que haviam sido renegadas,
permaneciam lá, mas fora da minha consciência. Isto é, inconscientemente. Então o
meu sonho veio para me sacudir e me acordar. Para me ajudar a encarar a mim
mesma.
Assim como também os seus sonhos fazem.
O conteúdo do sonho e o seu porquê escondido: sonhos revelam sua vida interior
É útil trabalhar com conteúdo onírico. Por conteúdo onírico eu quero dizer as
imagens, figuras oníricas, paisagens e símbolos que aparecem em seus sonhos. Eu
acredito que o conteúdo onírico é influenciado pelo espírito, nossa vibração, o
inconsciente coletivo e o inconsciente pessoal. Acredito que é necessário ter um
entendimento desses termos (se você já não o tiver) para uma melhor prática do
trabalho do sonho.
A maioria dos comportamentos é muito influenciada por fatores inconscientes. Isto é,
vontades, motivos e impulsos que estão fora da nossa consciência ativa. Por exemplo,
você pode querer muito ter sucesso em algum objetivo relacionado à sua saúde ou às
suas finanças, mas, toda vez que se compromete a fazer uma mudança, acaba se
autossabotando ao longo do caminho. Em uma ocasião como essa, é provável que
exista uma crença profundamente arraigada que está escondida da sua consciência, a
qual entra no caminho do que você está tentando criar, manifestar e experimentar na
vida.
Você pode ter uma tendência a falhar, por exemplo, porque inconscientemente
acredita que outras pessoas irão diminuí-lo caso se torne muito “bem-sucedido”,
“atraente” ou “famoso”. (O sucesso pode assumir muitas formas; só estou destacando
alguns exemplos comuns para ser breve.) A sua crença inconsciente entra no
caminho. Por um lado, você tem o desejo de prosperar, mas, por outro, tem medo de
ser bem-sucedido. Para mitigar esses dois impulsos, você se autossabota,
procrastinando ou simplesmente nunca tomando a atitude certa para chegar aonde
deseja.
Ao mesmo tempo, a fim de te ajudar a se tornar uma pessoa mais completa e a criar
uma vida que lhe faça bem, os seus sonhos vão oferecer imagens e cenários para
torná-lo consciente dessas crenças profundamente arraigadas e inconscientes.
Seus sonhos estarão em forma de imagens projetadas especialmente para alertá-lo
sobre como você se sente em um nível mais profundo e no que você precisa prestar
mais atenção em sua vida desperta.
Por exemplo, você pode sonhar que está em um elevador que está levando-o ao
último andar de um prédio, mas, quando chega lá, a porta não abre. Ou até mesmo
sonhar que está em um elevador que, de repente, começa a descer com velocidade,
fazendo com que você sinta medo e entre em pânico!
Seu sonho está lhe contando de maneira simbólica que, enquanto você é a pessoa no
sonho, suas crenças são o elevador. Em outras palavras: a porta do elevador abrirá
automaticamente quando você parar e encarar as crenças que te sabotam. Seu sonho
está alertando para a necessidade de voluntariamente escolher descer
(simbolicamente: o elevador despenca rapidamente até os andares inferiores) até as
profundezas da sua psique.
Isso serve para que você possa enfrentar quaisquer crenças que o estejam
atrapalhando. Se fizer isso, as portas da oportunidade (e do elevador) provavelmente
também irão se abrir. Seu sonho está guiando você para uma maneira sustentável de
seguir adiante, lidando de maneira positiva com qualquer questão que possa estar
fora da sua consciência.
Ou, ainda, você pode ter um sonho em que está em uma floricultura procurando por
rosas, mas, em vez disso, acaba com um buquê de papoulas. Você queria muito um
buquê de rosas, mas acabou ficando com um de papoulas.Que decepção!
No contexto do sonho, as papoulas são um símbolo representativo do medo de
experimentar a “síndrome da papoula alta”. Essa é uma expressão usada (muito
comum na Austrália e na Nova Zelândia) para descrever a vontade de insultar ou
diminuir as pessoas que são muito bem-sucedidas.
A imagem da flor aqui apresentada é a mensagem do sonho. Ela mostra a diferença
entre o que você quer (as rosas) e o que você está experimentando de verdade (as
papoulas). O fato de você estar no controle de comprar as rosas e algo acontecer
repentinamente (sem a sua consciência), deixando-o com as papoulas na mão, mostra
duas coisas.
A primeira é que as flores não foram um presente. Você foi comprá-las (isto é, o
sonho é sobre o que está no seu controle). Se alguém no sonho tivesse lhe dado as
flores, então é mais provável que você estivesse lidando com uma dinâmica de
relacionamento.
A segunda é que a imagem onírica mostra que de algum modo, no ato de ir comprar
as flores, você acabou ficando com papoulas, isto é, algo aconteceu fora da sua
consciência e que resultou em você ficando com flores que não queria.
Em ambos os exemplos, o sonho exibe imagens que são criadas para ajudá-lo a
desenterrar suas crenças e medos mais profundamente arraigados e inconscientes (e a
sua vibração energética associada a eles), com o objetivo final de transformar a
crença para melhor, para que você possa se manifestar e criar melhor.
O sonhador, nesse caso, poderia se sair bem ao simplesmente permitir a si mesmo ser
mais autêntico independentemente do que “as outras pessoas vão pensar”. Ele
poderia permitir a si mesmo “crescer” com o sucesso, independentemente da ameaça
iminente de críticas. Ele pode se tornar a rosa.
Na maior parte do tempo, as pessoas atribuem esse tipo de crença limitante e
arraigada aos trabalhos do subconsciente. A mente subconsciente delineia algum tipo
de percepção logo abaixo da mente consciente. Mas, quando as pessoas fazem isso,
elas estão, na verdade, se referindo (de uma perspectiva psicológica) a aspectos mais
profundos dos aspectos inconscientes da mente. Eu prefiro usar a palavra
“inconsciente” porque descreve mais precisamente do que se trata.
Da mesma forma, uma diferenciação entre o inconsciente coletivo e o pessoal
também pode ser feita. Essa diferenciação não é feita em referência à mente
subconsciente e é o motivo de eu não usar ativamente esse termo no decorrer deste
livro.
Para trabalhar bem com o seu conteúdo onírico, é necessário compreender a
diferença entre o seu inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. Isso porque o
conteúdo onírico é influenciado por ambas as fontes. E eu acredito que cada uma
pede por uma abordagem levemente diferente, tanto para fazer interpretação dos
sonhos quanto para interagir em um sonho lúcido. E você descobrirá isso logo.
Entendendo o seu inconsciente pessoal no trabalho do sonho
A sua psique é o armazém de todas as experiências que você teve até hoje. Isso
significa que todas as memórias e experiências que viveu, boas ou ruins, estão
armazenadas dentro da sua mente, quer você se lembre ou não. Segundo a teoria
analítica desenvolvida pelo notável psiquiatra Carl Jung, o inconsciente pessoal é o
substrato da psique que contém essas memórias e experiências pessoais.
Em outras palavras, seu inconsciente pessoal abriga qualquer memória que você
possa ter expulsado da sua consciência e da qual não consegue se lembrar
ativamente. Assim como qualquer memória (agradável ou desagradável) que você
pode apenas ter esquecido com o passar do tempo. Quando me refiro ao inconsciente
pessoal, eu quero destacar a informação que está presente dentro da sua mente e que
diz respeito à sua experiência vivida.
Seu inconsciente pessoal também é o lugar para quaisquer complexos com os quais
você possa estar lidando. Basicamente, um complexo é uma coleção de pensamentos,
imagens, ideias e memórias que possuem grande carga emocional e que se agrupam
para formar um único tema. Por exemplo: amor, sexo, poder. Todos nós lidamos com
complexos e, na maioria das vezes, eles só viram um problema sério quando nós
negamos totalmente a sua existência.
Nos seus sonhos, evidências de quaisquer complexos com os quais você possa estar
lidando aparecerão em imagens, cenas e símbolos com que você sonha. Digamos que
uma noite você sonha que está preso em um lugar apertado. Então, algumas noites
depois, você sonha que está em um carro sendo perseguido por uma pessoa em outro
carro. Uma semana depois você sonha que tem de fazer uma ligação importante, mas
não encontra o seu telefone. E assim por diante.
Apesar de todos os cenários, figuras e imagens serem diferentes nos três sonhos, eles
estão todos carregados da mesma emoção: uma ansiedade excruciante. Isso é
refletido pelos sentimentos de tensão e preocupação que aparecem nos três sonhos. O
sonhador está tomando consciência sobre como se sente em um nível profundo e
sobre o complexo com que ele está lidando.
Um complexo aponta que talvez estejamos em um momento de tensão. Isso não
significa que tem algo errado. Simplesmente significa que estamos resistindo a algo e
que, ao fazer isso, estamos criamos uma tensão interna. Então os sonhos nos
oferecem orientação sobre essa tensão. Eles nos oferecem um caminho melhor a
seguir. Eles nos mostram aquilo a que estamos resistindo através de imagens e
cenários oníricos, de formas bem específicas e sugestivas, para que assim possamos
captar a mensagem para alterar nossa vida e nossa vibração de maneira adequada.
Quando você sonha em relação a um complexo, o seu sonho tenta atrair a sua atenção
para qualquer experiência ou conceito polarizado com os quais você possa estar se
debatendo. Sonhar também aumenta sua consciência sobre o paradigma dos opostos
ou dualidade. Quando você se dá conta dessas experiências polarizadas (bom/ruim,
claro/escuro, estéril/fértil), pode então mudar como se sente e como se relaciona com
elas.
Como no meu sonho com o deserto e a areia. Naquele sonho, foi mostrado a mim
como eu estava me debatendo com dois opostos: vida e morte. Uma tensão que existe
a todo momento. Meu sonho foi fundamental para me ajudar a unificar o conflito
interno entre viver e morrer. O sonho me deixou com uma sensação de serenidade e
paz, ao contrário dos meus medos emocionais e mentais, mostrando-me que eu
poderia aceitar meus sentimentos sobre a morte para alcançar um nível maior de
aceitação.
Por causa daquele sonho, eu aprendi que a morte pode ser uma grande motivação e
libertação, e que eu poderia viver mais plenamente, e de um jeito mais autêntico, ao
aceitar que ela é algo certo. A morte estará presente enquanto estivermos vivos.
Opostos não deixam de existir, mas uma terceira maneira de viver aparece através da
aceitação e da contenção radicais de um em relação ao outro, e vice-versa. Ao ler
essas palavras, aparece a possibilidade de unir esses dois opostos, ao trazer a sua
consciência para ambos.
Observando a dicotomia sem sair correndo dela ou acabar pendendo para um dos
lados, tornamo-nos mais integrados. E, ao fazer isso, nós começamos a alterar nosso
nível de alinhamento de energia espontaneamente. Meu sonho me ajudou a me tornar
mais integrada, e eu acredito que foi uma mensagem poderosa do espírito,
mostrando-me que eu estava pronta para mudar meu modo de viver.
Eu acredito fortemente que nós nunca vemos nada que não estejamos prontos
espiritualmente para ver – apesar de psicologicamente nem sempre nos sentirmos
dessa forma. Você tem consciência do que sonha por um motivo. Não importa o que
descubra, apenas saiba que as informações apresentadas nos seus sonhos serão úteis
se você escolher agir de acordo com a orientação deles.
Quando chegarmos ao capítulo sobre como decodificar as mensagens dos sonhos,
veremos como o seu inconsciente pessoal, e quaisquer outros complexos associados,
interagem com você todas as noites. Isso em relação aos símbolos e às imagens com
as quais se sonha. Então, mais uma vez, se você ainda não começou a fazer o seu
diário de sonhos,eis aqui uma boa motivação para começar!
Trabalhar com o material onírico nos ajuda porque não sonhamos apenas com
problemas e complexos. Nós sonhamos com soluções e orientações profundas e
emocionantes sobre o próximo passo a ser dado. Estamos sendo guiados através da
atmosfera dos nossos sonhos para entender nossos corações e nossas mentes.
Quando você decide trabalhar ativamente com seu material inconsciente, a vida fica
interessante porque você embarca em uma jornada para descobrir o seu “verdadeiro
eu”. Uma jornada de uma vida inteira que permite que você mude o que for preciso, a
fim de fazer você se sentir melhor e criar melhor.
Entendendo o inconsciente coletivo no trabalho do sonho
O inconsciente coletivo é outro conceito que foi criado por Carl Jung. Em uma
explicação colocada do modo mais simples possível, o inconsciente coletivo é toda
informação herdada com a qual nós, humanos, nascemos. O inconsciente coletivo
não é o seu inconsciente pessoal. Ele é o armazém de toda a experiência humana.
No jargão espiritual, o inconsciente coletivo pode ser visto como nossa capacidade de
acessar e de sermos influenciados por uma sabedoria universal.
Começamos a entender o inconsciente coletivo mais nitidamente ao olhar para
mitologia, rituais e histórias (e os símbolos associados a elas) de civilizações antigas.
É evidente como as primeiras civilizações partiram de um inconsciente
compartilhado em suas tentativas de explicar a própria existência e as interações com
o mundo, tanto o que era fisicamente visto quanto o não visto. Isso também explica o
porquê de muitas culturas terem mitos e contos de fada que traçam paralelos
globalmente – apesar de estarem a centenas ou milhares de quilômetros distantes
umas das outras. Por exemplo, existem muitas versões parecidas sobre o mito da
criação, que se estendem por diferentes culturas e períodos temporais.
Enfim, a sabedoria ancestral se origina do inconsciente coletivo e é passada para nós
individualmente, através da contação de histórias e de comportamentos aprendidos.
Algumas dessas histórias ou narrativas são úteis, enquanto outras acabam sendo
limitantes.
Por exemplo, uma mulher pode querer ser bem-sucedida financeiramente por conta
própria, mas pode descender de uma linhagem em que isso não é feito. Ou onde todas
as mulheres antes dela tiveram dificuldades financeiras em virtude de limites do
sistema. Em decorrência disso, ela herda (implícita ou explicitamente) uma crença
arraigada de que mulheres, em geral, não podem gerar riqueza. Ela mesma, sendo
uma mulher, é, portanto, lançada em um conflito interno.
Ela deseja criar abundância, mas foi ensinada que isso é impossível (ou muito difícil)
de se fazer devido ao fato de ser uma mulher. Então, para lidar com essas crenças
conflitantes, ela faz o papel de “princesa” em sua vida. (Seus sonhos irão reproduzir
isso simbolicamente ou espelhar essa narrativa exibindo símbolos de
autovitimização. Ela pode até sonhar com figuras régias e inferiores interagindo
umas com as outras de diversas maneiras.)
Então ela se transforma em uma princesa que agora precisa ser resgatada em sua vida
desperta e, ao fazer isso, encontra um príncipe rico que a salva. (Inclusive, o príncipe
muito provavelmente também está atuando em um papel herdado e também pode sair
do papel se decidir fazer isso.)
Suas crenças profundamente arraigadas acerca da riqueza originam-se tanto do
inconsciente coletivo quanto de experiências de suas ancestrais e da sua própria vida.
A qualquer momento, ela pode invocar sua coragem interior e resgatar a si mesma.
Até que ela salve a si mesma, terá sonhos que chamam a sua atenção para essas
crenças, para que assim ela possa mudá-las! Seus sonhos enviarão lembretes
metafóricos todas as noites para que ela reivindique o seu poder interior. Para que ela
possa criar riqueza e assim ser livre.
Ela pode sonhar que está sendo perseguida por um monstro ou uma figura sombria,
para que possa então se voltar e confrontá-la ou até mesmo destruí-la. (Esse sonho
mostra como ela pode ser a heroína da sua própria vida e vencer seus medos.) Ela
pode até sonhar que suas mãos estão quebradas e que precisa cuidar delas. (Sua vida
está em suas mãos.) Ou então sonhar que uma mulher em sua linhagem é deficiente,
está amarrada ou ferida em cenários oníricos que mimetizam suas próprias
experiências de vida no presente. (Ela sonha com uma representação realista da avó
mancando no dia a dia, no trabalho ou em casa.) As imagens nos sonhos serão
altamente evocativas e específicas a fim de fazê-la se apropriar de seu poder interior
na vida desperta.
Até que ela encare suas crenças herdadas, internalizadas e mais profundamente
arraigadas, ela estará refém delas. E isso é válido para todos nós.
A maneira de sair de qualquer padrão não saudável é encarar a crença arraigada que
tenhamos em torno da questão. Podemos fazer isso através do trabalho do sonho ou
de qualquer outro tipo de trabalho ativo do inconsciente. Ao fazer esse tipo de
trabalho de cura, nos encontramos em uma posição de escrever uma nova narrativa –
uma que se adeque melhor ao que gostaríamos de experimentar de verdade.
Por fim, você pode criar (ou manifestar) o que quer com mais facilidade ou rapidez
ao tomar consciência das suas crenças herdadas e arraigadas e, mais importante
ainda, transformar como você se sente em relação a elas. Isso porque você pode
deixar de resistir e passar a se alinhar ao que você realmente quer criar em sua
própria vida, e não ao que você foi simplesmente ensinado a recriar.
Por sorte, nós todos temos acesso ao inconsciente através dos sonhos. Em nossos
sonhos comuns, nós interagimos com o inconsciente simbolicamente. Em nossos
sonhos lúcidos, nós interagimos com o inconsciente de forma ativa e consciente. Eu
mergulharei nessa diferença fundamental no último capítulo, sobre figuras oníricas,
então por enquanto apenas pergunte a si mesmo: o que é que eu quero vivenciar na
minha vida? Mais dinheiro, tranquilidade, amor, saúde e segurança? O que quer que
seja, você pode precisar olhar para as histórias e crenças que tem em torno do que
está tentando obter. Você é digno de receber o bem apesar do que quaisquer
programações culturais, padrões de trauma intergeracionais ou experiências pessoais
tenham feito acreditar no contrário. E seus sonhos mostrarão a você como chegar lá.
Quando você escolhe trabalhar com o inconsciente coletivo e o pessoal na sua vida e
nos seus sonhos, começa a se libertar das amarras de quaisquer crenças limitantes e
de longa duração. Com isso, fica mais fácil agir conforme os desejos do seu coração,
e não pelos seus impulsos inconscientes, pois você se torna consciente do que eles
são. Tanto em seus sonhos regulares quanto em seus sonhos lúcidos, existe a
oportunidade de descobrir suas motivações implícitas – o seu “porquê”. E como você
viu, saber o que elas são pode revolucionar a sua vida para melhor!
Por exemplo, eu trabalhei com um cliente que queria muito vivenciar o sonho lúcido.
Quando perguntei o porquê de ele querer ter um sonho lúcido, ele não conseguiu me
dizer. Depois de conversar por um tempo, acabei descobrindo que ele queria
controlar sua vida no sonho porque se sentia extremamente impotente e indefeso em
sua vida desperta.
Ele estava determinado a experimentar a sensação de expansão dos sonhos lúcidos.
Isso porque a alegria de se sentir livre era exatamente o oposto do que ele estava
passando naquele determinado momento da sua vida desperta.
O sonho lúcido tornou-se uma ferramenta muito útil para ele recuperar sua habilidade
de responder bem às situações, primeiramente em seus sonhos e depois em sua vida
desperta. Era uma maneira positiva (e mais fácil) de ele criar experiências oníricas
que provocavam a sensação de expansão para então transportar esses sentimentos à
sua vida desperta. Em outras palavras, foi uma experiência emocional útil, que o
levou a tomar atitude nas questões que o atrapalhavam.
Através de seus sonhos lúcidos, ele descobriu que já tinha o poder interiorde agir
com presença, disposição e propósito na sua vida. Ele reconheceu que precisava
tomar uma atitude e deixar de acreditar na narrativa de vítima que ficava
reproduzindo sem parar em sua vida desperta.
Você pode descobrir que o motivo pelo qual quer ter sonhos lúcidos é igualmente útil
e perspicaz. Ou sua motivação pode ser de uma natureza mais leve emocionalmente.
Por exemplo, muitas pessoas querem apenas vivenciar sonhos lúcidos mais
conscientes porque experimentaram alguns espontaneamente e sabem como eles são
incríveis! Não importa sua motivação subjacente – isto é, o seu “porquê” oculto –,
seus sonhos sempre levarão você adiante.
Exercício prático: diário autorreflexivo
Anteriormente neste capítulo, pedi que você escrevesse o que o motivou a começar a
fazer o trabalho do sonho. Gostaria que agora você voltasse e lesse o que escreveu,
com a intenção de perceber quaisquer crenças ou padrões que possam ter surgido.
Você acha que possui crenças inconscientes que estão influenciando a sua motivação
em fazer a elaboração onírica?
Entender a sua própria motivação em fazer essa atividade de trabalho do sonho é, em
todos os sentidos, útil e capaz de provocar insights. Você pode descobrir que, ao
contrário do meu sonho do deserto, sua motivação subjacente vem de um lugar de
integração, oposto a um lugar de medo e fuga.
Independentemente do que descobrir, saiba que a informação nos seus sonhos lhe
será útil se você resolver seguir a orientação. No fim das contas, você acaba por se
conhecer melhor. E adquire o poder interior de alterar qualquer coisa que não lhe
sirva mais na vida. Sonhos guiam você com ímpeto de volta à sua força e à sua
sabedoria interiores.
PERGUNTAS AUTORREFLEXIVAS
1. O que está funcionando bem em minha vida atualmente?
2. O que não está funcionando tão bem em minha vida?
3. As questões que você listou nos itens anteriores são problemas pontuais ou são
padrões de dificuldade de longa duração, com os quais você lutou contra a vida
inteira? Por exemplo: o dinheiro sempre foi um problema? Ou a inabilidade para
encontrar um parceiro amoroso?
4. Se você respondeu sim para as questões anteriores, então é provável que você
esteja lidando com um conjunto de crenças inconscientes. Sendo assim, você está
pronto para deixar que seus sonhos, tanto os lúcidos quanto os regulares, mostrem
como avançar positivamente em sua vida?
5. Você sente que está vivendo um papel ou padrão que lhe foi atribuído? Você é
sempre a vítima, o cuidador, o protetor ou o provedor?
2
Emoções, instintos e todos os seus sonhos
Muitos de nós já passamos por isso. Quando chegamos a um momento e não
acreditamos como isso – como “nós”, “aquilo” ou “as coisas” – aconteceu. Há vários
motivos para essa sensação e nenhum deles deve ser condenado. Talvez o seu
relacionamento ou casamento não tenha terminado do jeito que você imaginou.
Talvez algo muito sagrado para você tenha lhe sido tão constantemente roubado que
a única opção pareceu ser se fechar. Talvez você tenha sido tão domesticado na
infância que a boa educação tenha virado uma jaula que o atrapalha na sua vida
adulta.
Talvez você tenha se transformado, sem perceber, na imagem de parceiro, amante,
criança ou chefe perfeito, e agora isso é tudo que os outros, incluindo você mesmo,
podem ver.
Por acaso você seguiu um caminho, mesmo que lá no fundo soubesse que era melhor
não segui-lo, que o deixou em uma posição difícil. Ou talvez tenha perseguido
obsessivamente um grande objetivo para, só depois de conquistá-lo, perceber que não
valia a pena o preço alto que você teve de pagar durante a jornada.
O que eu mais escuto como resposta a isso não é por que isso aconteceu, como você
poderia imaginar. Mas, ao contrário e muito mais angustiante do que isso, é quando –
quando isso aconteceu?
Nós podemos perder a conexão com a nossa vida instintiva com muita facilidade se
não formos cuidadosos. A natureza instintiva é a nossa parte não domesticada que
sabe profundamente como navegar no terreno e nos ciclos da vida. Seja por causa das
pressões sociais ou culturais, traumas ou escolhas próprias que nos causam mal, nós
ficamos desconectados de nossos instintos e nossas emoções.
Algumas vezes a perda acontece de maneira lenta. Como quando você se torna pai ou
um CEO e, de repente, em uma manhã alguns anos depois, percebe que está infeliz.
Você deixou as suas necessidades em segundo plano, não apenas as mais básicas,
mas principalmente aquelas necessidades instintivas profundas que o fazem se sentir
realizado. Você sacrificou o seu bem-estar por algo ou alguém.
Em outros casos, a natureza instintiva é perdida no momento que um acordo é feito.
Eu vejo isso com mais frequência em pessoas que estão em casamentos sem amor.
Em que todas as suas necessidades financeiras estão sob controle, mas ao alto custo
de ter de ser o parceiro aparentemente perfeito. Ou quando alguém vive um trauma
tão profundo que sua conexão com a própria natureza instintiva fica danificada como
consequência direta.
Por sorte, a natureza instintiva não está preocupada com o que aconteceu ou não. Ela
só está preocupada com onde você está agora e se está disposto a se reconectar com
ela. A natureza instintiva não se importa se você é o pai, parceiro, amante ou chefe
perfeito. E com certeza não se importa com quanto dinheiro você tem. A natureza
instintiva só está preocupada com o quão bem você lida com a sua vida. Ela está
esperando você perguntar:
Eu estou bem cuidado e vivo?
A vida onírica torna-se altamente provocativa quando perdemos contato com nossa
natureza instintiva. Essa é a medida da psique para contrabalançar e restabelecer o
seu bem-estar. E aqui uso “psique” em seu sentido original, alma.
Sua alma vai chamá-lo para restaurar seus instintos criativos de vida antes que você
passe a fazer parte dos mortos-vivos de vez. Ela vai falar em alto e bom som para
resgatá-lo do seu torpor. Veja o exemplo a seguir de como a psique pode acenar
através de nossos sonhos.
Uma mãe e dona de casa tinha se tornado praticamente uma carcaça sonâmbula em
sua vida. Em suas palavras, ela relatou para mim que havia caído em um abismo e já
não se importava mais. Ela me contou (e reafirmou a si mesma) que estava
alegremente casada e que não havia nada de “realmente errado”. Seus filhos eram
felizes. Seu companheiro a amava. Eles tinham saúde.
Então ela simplesmente se levantava pela manhã e fazia o que tinha de fazer! Mas o
abismo ainda estava lá... E a sua vida? Bom, ela continuava com sua vida monótona,
não sentindo absolutamente nada. Fria como gelo. Em uma noite, teve um sonho tão
poderoso que a forçou a prestar atenção e, ao acordar, ela tinha de descobrir o seu
significado de qualquer maneira.
O sonho dela foi o seguinte: Abby*[2] está na academia. Ela anda por lá da mesma
forma que faz em sua vida desperta, roboticamente, rotineiramente, com uma atitude
sem brilho. Ela passa pela área de entrada fazendo um aceno rápido com a cabeça e
então começa a seguir em direção à piscina.
Enquanto continua andando, ela de repente percebe que a toalha está começando a
sair da sua bolsa. Isso a incomoda. Continua seguindo em frente, mas diminui o
passo, e tenta enfiar a toalha de volta dentro da bolsa cheia. Quando ela coloca a
toalha mais para o fundo da bolsa, outros itens começam então a pular para fora.
Ugh! Agora, totalmente focada, ela força tudo para dentro da bolsa.
Depois de um pouco de resistência, tudo parece caber de maneira milagrosa dentro
da bolsa estufada. Só agora, com tudo isso acontecendo, ela se dá conta de que já
havia chegado às escadas que levam à piscina.
Ela reconhece mentalmente as escadas e então começa a descer cada degrau com
cuidado. Ao descer, degrau por degrau, olha para seus pés. Pé esquerdo, pé direito, pé
esquerdo, pé direito: um depois do outro. Um pensamento então surge em sua mente.
Ela conhece a academia tão bem (afinal, vai lá todo dia) que provavelmente poderia
descer as escadas em segurança mesmo que estivesse vendada.
Ela desce o último degrau e sabeque chegou à piscina porque o cheiro do cloro é tão
penetrante que ataca seus sentidos. Antes que possa prestar muita atenção ao cheiro,
ela percebe, com irritação, que a toalha está pulando para fora de novo. Ela tenta dar
um jeito nisso reorganizando os objetos da bolsa com força, até que tudo esteja
apertado lá dentro.
Então, ela põe sua bolsa no chão e começa a vestir a touca de natação. Consegue
colocar para dentro todo o seu abundante cabelo, desconfortavelmente, mas com todo
o capricho. Enfim, levanta os olhos e vê a piscina.
Mais especificamente, ela vê um lobo sentado na beira da piscina. Seus olhos então
vão de um lado para o outro quando ela percebe que está em perigo. O lobo não está
fazendo nada além de olhar para ela. Em um instante, ela percebe que ele deveria
estar olhando para ela completamente quieto e parado durante todo esse tempo. Esse
reconhecimento de que estava sendo observada a faz se sentir bastante perturbada.
Ele olha para ela. E agora ela não pode fazer nada a não ser olhar de volta para ele.
Ela quer correr, mas suas pernas simplesmente não se movem. Completamente
incrédula, ela vê quando o lobo se levanta e fica em pé sobre as patas traseiras,
gesticulando para ela pular na água e nadar.
Ela acorda suando, aterrorizada. Mas finalmente está viva.
O lobo de Abby e as emoções que não devem ser reprimidas
Como você acabou de ler, Abby acordou do sonho se sentindo muito assustada. Seu
medo era uma resposta visceral à sua psique finalmente a atingindo por intermédio
do sonho. Nos meses anteriores, ela não estava sentindo absolutamente nada. Seu
sonho, por mais incômodo que tenha sido, encheu-a de emoção, porque em sua vida
cotidiana ela estava negando como se sentia.
O sonho de Abby não significava um perigo iminente no futuro próximo. Não era
premonitório em nenhum sentido. O sonho veio para protegê-la de continuar
escolhendo seguir em frente da maneira que estava acostumada. Para ajudá-la a se
reconectar com sua natureza instintiva e, ao fazer isso, convidar de novo para a sua
vida a diversão, a alegria, a criatividade, o amor, as risadas e o sexo. O sonho falou
com ela para quebrar as barreiras da vida e da psique de Abby.
Curar a conexão com sua natureza instintiva não significa necessariamente destruir
estruturas fundamentais. Pode significar apenas que você deve ter alguma alteração a
fazer. Às vezes, isso diz respeito a construir (e comunicar) limites a algumas pessoas
na sua vida. Outras vezes, só significa abandonar uma crença interior estagnada.
Para muitas pessoas, isso significa cuidar da sacralidade espiritual abertamente. O
controle extremo sempre suga a vida e, quando o faz, isso pode significar botar essas
estruturas abaixo metaforicamente!
Não há um “programa de sete passos” ideal sobre como mudar a vida para melhor
quando você perdeu contato com seus instintos. É contraditório à própria natureza
instintiva sequer tentar delinear isso. Você terá de navegar pelas suas próprias
decisões em relação a quaisquer ciclos em que se encontre. Mas eu digo o seguinte: o
tempo pode ser um aliado.
Tire o tempo que precisar para se reconectar aos seus instintos e então faça as
mudanças da maneira que achar melhor. Lembre-se de que sua natureza instintiva,
selvagem e profundamente intuitiva testará seus limites de maneiras que sua mente
racional pode não entender.
Se você sentir que suas emoções estão fora de sintonia; caso se sinta perdido; se
sentir raiva; caso se sinta amargurado; se estiver em ebulição; se se sentir estagnado;
se estiver confuso; se não sentir nada; se sentir que seu coração se estilhaçou em
pedaços de vidro bem pequenos, enchendo o peito de dor, então preste atenção aos
seus sonhos, pois eles irão servir como um bálsamo curativo.
Eles o guiarão através das imagens que você vê e, principalmente, das emoções que
elas provocam dentro de você, redirecionando-o ao que mais precisa. Isto é,
direcionando-o de volta à sua natureza mais instintiva e criativa.
Se a imagem no sonho é difícil, violenta e turbulenta, há ainda mais motivos para
prestar atenção ao que está engasgado, limitado e borbulhante debaixo dos alicerces
da sua vida.
Para Abby, isso significou redescobrir quem ela era, e foi extremamente útil pensar
no que ela amava fazer antes de se tornar mãe e esposa. Ela se libertou da
autoimposição de ser a “mãe perfeita”. Ela redescobriu sua sexualidade – um
processo do qual desfrutou completamente.
Ela acrescentou uma prática inegociável de, todos os dias, dedicar um tempo para
checar como estava realmente se sentindo. Ela começou a comer sem se criticar e
encontrou um grupo de outras mulheres que se tornaram verdadeiras amigas. Ela
parou de competir e começou a se conectar.
Nada disso aconteceu da noite para o dia; na verdade, levou muitos meses. Mas o
tempo se tornou irrelevante, porque ela estava vivendo a vida, experimentando-a, e
não seguindo de modo enfadonho, como a carcaça de uma mulher.
É quando você admite a verdade de maneira radical para si mesmo que as coisas
começam a mudar de fato. Você não pode fazer um laço em volta de um monte de
mentiras e chamar isso de buquê. Desse modo, não importa em que ponto você esteja
hoje em relação à sua natureza instintiva, saiba disto: sua vida onírica vai lhe mostrar
o caminho de volta. Vai lhe dizer quando for hora de descansar, insistir, brigar, amar
ou deixar para lá. Vai lhe dizer exatamente como transformar e transmutar o que quer
que o esteja prendendo.
A natureza instintiva é sobre sentir do seu jeito por completo. Talvez você possa
passar uma tarde ao ar livre relaxando no sol. Ou uma noite dançando sob as estrelas
para que o seu coração seja bem cuidado. Talvez você possa se permitir esquecer da
sua aparência e só curtir o seu corpo. Lembre-se: cuidar da natureza instintiva não é
algo que se faz uma única vez, mas fazer pelo menos uma ação cheia de intenção e
criatividade pode despertar sua conexão com ela de novo.
A natureza instintiva não está preocupada com gênero
A natureza instintiva está dentro de todos nós – independentemente de como nos
identificamos – e, apesar de eu ter apresentado a história anterior com um exemplo
feminino, qualquer um pode perder sua conexão com a natureza instintiva. Muitas
pessoas são socializadas com pensamentos estereotipados, como pensar somente em
fazer dinheiro ou criar um lar. Isso pode resultar na perda da natureza instintiva se
não há espaço para a pessoa explorar todas as suas facetas.
Eu vi muitos homens sofrerem com a perda da natureza instintiva porque foram
criados para serem “homens de verdade”, que não demonstravam vulnerabilidade. A
sociedade também decepcionou os homens de muitas maneiras. Homens se esquecem
de que também podem cultivar uma vida interior rica. Que eles podem ser mais do
que apenas “homens de verdade” e que podem parar de focar na competição feroz
por dominação, mesmo que momentaneamente, para poder alimentar as necessidades
da alma.
Se você está se convencendo de que começará a viver de verdade ou que vai fazer
“X, Y e Z” depois de alcançar aquele objetivo, então talvez você possa simplesmente
reconhecer como está se sentindo agora. Se você cuidar da sua vida interior, vai
começar a se sentir mais vivo, não importa em que circunstâncias se encontre.
Nunca haverá um momento certo em que tudo se alinhará e então, finalmente, você
será capaz de desfrutar da vida. Quanto mais atenção você dedicar a ouvir a sua
natureza instintiva, mais prazerosa será a jornada no caminho até o seu objetivo. Sua
natureza instintiva é magnética, mas ela requer viver de maneira autêntica – e isso
vale para todos nós.
Sonhos facilitam a cura quando preciso, muitas vezes independentemente de
você achar isso conveniente ou não
Quando você se sente desconectado de sua natureza instintiva, é muito comum ter
sonhos em que está sendo perseguido ou ameaçado de algum modo. Sobretudo
quando você está se sentindo emocionalmente sobrecarregado no seu dia a dia.
Também é comum sonhar com animais que estão em perigo ou de algumamaneira
machucados e precisam de ajuda. Geralmente, a forma com que você cuida dos
animais feridos é um indicativo da sua habilidade atual de facilitar a cura interior.
De outra maneira, você pode sonhar com algo ou alguém de fora que o salva (ou
tenta salvá-lo). Ambas as versões são indicativas de transmutação, isto é, um cordeiro
machucado é tratado para que possa andar novamente. Uma águia voa sobre você e
ataca uma figura oculta que está lhe perseguindo. A ajuda vem na forma de qualquer
imagem onírica que seja mais tocante para a sua personalidade.
Você também descobrirá que é bem comum sonhar com “experiên cias animais”
incríveis quando estamos em sintonia com nossos instintos. Por exemplo, um sonho
em que você está montando, confortavelmente, um lindo cavalo na direção que
pretende ir.
Por outro lado, se você não tem nem ideia de para onde está indo, e o cavalo está
galopando a uma velocidade alarmante, o sonho pode estar te alertando para o fato de
que você está sendo regulado por seus desejos e suas motivações internas. Que você
precisa retomar o controle dos seus desejos mais básicos na vida desperta.
Vamos dissecar o sonho de Abby para um maior entendimento, uma vez que ele é
rico em mensagens e significados simbólicos.
Ela está na academia, um lugar que conhece bem. (A academia é a representação de
sua psique.) Ela não está preocupada com as pessoas ou distrações da academia. Ela
está preocupada com a sua bolsa e todas as coisas que ficam pulando para fora. (A
bolsa é a representação de seu estado emocional.)
Ela está enfiando tudo para dentro. Em outras palavras, está tentando manter todas as
emoções contidas. Mas aquela maldita toalha irritante, um item que a mantém quente
e seca, continua saltando para fora. Suas emoções precisam ser libertadas e elas
encontrarão um jeito de fazer isso, assim como a toalha faz.
Ela desce as escadas para a piscina e tem o pensamento de que poderia ter feito isso
de olhos vendados. (Ela pode navegar instintiva e intuitivamente na descida até as
camadas de sua psique – ela não precisa ver efetivamente para onde está indo.) Ela
prende o seu belo cabelo dentro de uma touca de natação desconfortável. (De
maneira geral, o cabelo é uma representação de sexualidade e/ou força em sonhos e
histórias.)
Ela chega à piscina. (A piscina é um símbolo de seu inconsciente, porque ela teve de
descer as escadas para chegar até lá. Se a piscina fosse no andar de cima, isso poderia
significar outra coisa.)
Então ela vê um lobo solitário que sinaliza para ela pular e nadar. Uma mensagem
nítida para Abby prestar atenção ao seu inconsciente, às suas emoções, à sua intuição
(a piscina e nadar) e encontrar seus instintos novamente (descobrir o lobo interior)! A
mensagem central do sonho foi para ela reavivar a conexão com sua natureza
instintiva.
Assim como Abby, os seus sonhos também lhe oferecem orientação sobre como usar
as emoções e os pensamentos para cura e bem-estar.
O papel dos seus sonhos no processo de transformação e renascimento
Na vida desperta de Abby, ela experimentou uma catarse. Ela se livrou de toda aquela
emoção reprimida. Como resultado direto da orientação contida no sonho, ela fez as
mudanças necessárias na sua vida para que pudesse parar de fingir e realmente se
sentisse bem de verdade! E nós não queremos nos sentir bem o máximo que
pudermos?
Quando suas emoções estão bloqueadas, os seus instintos são naturalmente
suprimidos e, com isso, a conexão com a intuição também é sufocada. Se você fechar
ou represar a conexão com suas emoções, se sentirá preso. Esse também é o caso
para o extremo oposto do espectro. Se expressar todas as suas emoções de qualquer
jeito, sem considerar as consequências, você também se sentirá desconectado.
No último caso, você está preso em uma purgação emocional. Apenas pense em
alguém que não consegue conter as frustrações ou a raiva e sempre se arrepende
depois. Ou pessoas cujas emoções são tão hostis que dominam suas interações e
relações independentemente de emoções e sentimentos da outra pessoa.
Em cenários como esse, o sonho mostrará ao sonhador símbolos que conversem com
essas emoções desreguladas. Uma pessoa experimentando raiva descontrolada pode
sonhar com um assassino em série que o persegue sem parar.
Ou o símbolo onírico proverá ao sonhador regulação emocional na forma de uma
simbologia oposta. Uma pessoa emocionalmente explosiva pode sonhar com cenários
muito serenos e corpos d’água com os quais ela interage. (Se tiver um monstro
espreitando na água, do qual o sonhador subitamente se dá conta, isso mostra que
quem sonha está lidando com algo abaixo da superfície de sua consciência. O
monstro interior agora está pronto para ser visto e testemunhado. Isto é, os sonhos o
alertam para a possibilidade de encarar o “monstro emocional” ao invés de fugir
dele.)
Dito isso, símbolos oníricos que realçam o bem-estar emocional normalmente
aparecem como recipientes. No sonho de Abby, a bolsa de academia é o recipiente
simbólico! Pode ser qualquer tipo de recipiente, como carros, bolsas ou até mesmo
um Tupperware. Há uma boa razão para isso: os recipientes são receptáculos que
guardam conteúdo dentro deles. Nesse caso, conteúdo emocional.
Quando não nos sentimos emocionalmente contidos, na maioria das vezes não nos
sentimos seguros na presença do espectro total de nossas emoções e experiências da
vida. Então nossos sonhos vêm nos alertar sobre a nossa própria habilidade de
presenciar, experimentar e abraçar (conter) nossas emoções e experiências da vida.
Assim, nós sonhamos com símbolos de contenção, como cestas, bolsas e até mesmo
caixões – geralmente em formas e condições diferentes.
Em outras palavras, imagens e símbolos oníricos revelam o quão seguro
emocionalmente o sonhador se sente. Por exemplo, se os recipientes simbólicos no
sonho estão quebrados, velhos e caindo aos pedaços, então os padrões emocionais do
sonhador são muito provavelmente os mesmos. Ele pode se sentir ameaçado,
quebrado, sobrecarregado, soterrado e emocionalmente desamparado.
Nós todos precisamos ser emocionalmente vistos e ouvidos. Nossos sonhos
conversam com o quanto nós sentimos que estamos ou não recebendo esse tipo de
reconhecimento emocional, amor e apoio, tanto de nós mesmos quanto das pessoas
com as quais nos relacionamos.
Então, se você está emocionalmente fechado, ou à mercê de tudo aquilo que sente, há
um desequilíbrio. Isso não significa que você não deva se sentir do jeito que sente.
Na verdade, é o oposto disso. Sinta os seus sentimentos, mas saiba que eles são
temporários na fluidez da sua expressão.
Se você estiver preso em uma maneira crônica de se relacionar ou expressar
emocionalmente, então você saiu do seu alinhamento. Isso acontece com todos nós
de tempos em tempos, logo, não é algo que deve fazê-lo se sentir mal. Nosso trabalho
do sonho simplesmente nos ajuda a voltar para o alinhamento com mais rapidez.
Ficar em equilíbrio e alinhamento emocional geralmente requer um desbloqueio.
Desapegar da maneira de lidar com as coisas do mesmo jeito de sempre. Uma
libertação do que está guardado em excesso; uma variedade de catarses. Se
permitirmos isso, nós seremos capazes de chegar a um ponto em que a transformação
pode acontecer, uma vez que a emoção (aquela se escondendo atrás do gatilho, da
expe riência, daquela pessoa ou do passado) for inteiramente reconhecida, sentida,
confrontada e então liberada. Nós vemos isso nitidamente no caso dos sonhos de
maremoto.
O sonho de maremoto
A essência do sonho de maremoto é centrada ao redor de uma imagem (chamada de
imagem central) que deixa o sonhador se sentindo indefeso. Apesar do nome, a
imagem central nem sempre precisa ser um maremoto (mas muitas vezes é!). Pode
ser um incêndio, um grupo de militantes assustadores ou um tornado, por exemplo. É
simplesmente uma imagem principal que domina o seu sonho e o torna angustiante
de vivenciar.
O termo foi cunhado pelo ilustre pesquisador Dr. Ernest Hartmann. A partir de suas
pesquisas e do trabalho com incontáveis pacientes,ele percebeu que aqueles que
haviam sofrido um trauma na vida desperta muitas vezes experimentavam um tipo de
sonho que ele chamou de “sonho de maremoto”.
Em sua forma mais verdadeira, a onda de maremoto no sonho não diz respeito a
repetir um evento ou uma memória traumática. É sobre a habilidade da mente de
criar uma nova imagem, para ajudar o sonhador a se adaptar emocionalmente ao que
aconteceu, evidenciando a emoção e os sentimentos dominantes que estão permeando
a sua vida.
Uma onda gigantesca deixaria qualquer um indefeso, então a ideia não é vencer o
medo, e sim processá-lo, e experimentar, ou reviver, sentimentos de vulnerabilidade
de uma maneira que seja realmente útil, quando o sonhador reconhece e faz algum
progresso sobre como se sente.
Então, ter um sonho de maremoto é um sinal evidente de que você deve realmente
despejar autocompaixão sobre si mesmo e olhar para o que precisa ser curado.
Também pode ser útil obter assistência externa e profissional para ajudá-lo a lidar
com o seu processo de cura.
Se você estiver angustiado como consequência de ter vivido um trauma, por favor,
saiba que seus sonhos não estão tentando machucá-lo. Sua mente não está contra
você. Ao contrário, todo o seu ser está tentando se recuperar de um evento terrível e,
nesse processo, tentando fazer você reestabelecer um estado de bem-estar. Seus
sonhos são uma parte ativa do processo de se adaptar e se curar.
Mais uma vez, nos nossos sonhos, frequentemente as emoções assustadoras e
transbordantes são trazidas à nossa atenção, do jeito que for necessário, para que
possamos transformá-las para melhor. Não me surpreende que esse tipo de sonho
muitas vezes venha na forma de águas, pois quando você se torna indefeso,
literalmente é inundado com emoções que são inescapáveis. O trabalho de cura então
situa-se em liberar essa inundação de emoções antes que elas fiquem armazenadas no
corpo.
É importante trazer o seu material onírico à luz, começando a lidar com o que você
passou e sabendo como realmente se sente. Você não precisa começar esse processo
sozinho – peça ajuda e obtenha apoio. Saiba que existem muitos caminhos para a
cura e ainda mais para sentir alegria e bem-estar novamente.
Regulação emocional diária através dos sonhos
Experiências comuns – isto é, aquelas que não são traumáticas – e as emoções
ligadas a elas também influenciam nossos sonhos. Inclusive, muitos estudos
científicos provaram que isso é real, especificamente o trabalho da Dra. Rosalinda D.
Cartwright. Apenas pense em quantas vezes você viveu algo carregado
emocionalmente (tanto positiva quanto negativamente) no decorrer do seu dia e então
teve um sonho relacionado a isso naquela noite ou semana.
Por exemplo, talvez você tenha conhecido alguém incrível na academia e mais tarde,
naquela mesma noite, você sonha que foi a um show com aquela pessoa. Ou talvez o
seu vizinho tenha feito um comentário inapropriado, do qual você riu no momento,
para então depois se ver em seu sonho levando-o ao hospital.
Seus sonhos ajudam a regular as emoções sem o seu esforço consciente. A pesquisa
científica da Dra. Cartwright evidencia a importância e os benefícios disso: ao longo
de uma noite, a maioria de nós tem tipos muito diferentes de sonhos, e eles reduzem
de intensidade emocional com o decorrer da noite. Esse é o motivo de muitas vezes
acordarmos nos sentindo melhor do que estávamos quando fomos dormir. Nossos
sonhos nos ajudam a processar emoções durante a noite, diminuindo a intensidade
delas e transformando-as em memórias (por sorte, isso acontece todas as noites,
independentemente de conseguirmos lembrar dos sonhos no dia seguinte!).
Por fim, nossos sonhos estão nos guiando para um bem-estar maior. Então, esteja
você alinhado com o seu bem-estar ou não, verá que os seus sonhos o ajudarão a
regular como se sente. Você pode simplesmente focar em ter um bom descanso
durante a noite e deixar os sonhos fazerem o trabalho por você!
Sentir-se bem e a honestidade das emoções
Eu imagino que alguns de vocês, assim como eu, de vez em quando acham que é
impossível se sentir bem. A morte de um ente querido, um dia ruim, uma doença, um
bebê que nasce sem vida, uma perda de renda, uma pandemia – essas são todas
experiências difíceis de atravessar. E a dificuldade delas não deve ser encoberta com
chavões de positividade.
Estar em contato com as emoções não é sobre fingir estar bem quando as coisas vão
mal. Às vezes, sentir-se bem é só ser capaz de expandir o espaço entre os estímulos
externos e suas reações.
Muitas vezes, um maior bem-estar é simplesmente reconhecer que você tem o poder
de escolher o bem-estar mesmo em situações devastadoras. Escolher autocompaixão
ao invés de culpa debilitante e autocrítica porque, mais uma vez, você se encontra em
uma situação em que não gostaria de estar.
Não existe nenhuma emoção desnecessária. Força emocional é sobre ser capaz de se
mover através da expressão da emoção sem ficar preso. A raiva é uma poderosa
motivação e nos protege quando os limites são violados. Luto, uma forma de honrar
um amor bem vivido. Tristeza, uma chave para a mudança. Fúria, um chamado para
botar abaixo estruturas limitantes. Todas essas emoções nos direcionam para um
bem-estar maior. Emoções não são destinos finais. Elas são indicadores fluidos da
experiência de vida.
Quando fazemos o trabalho emocional, nos sentimos naturalmente bem, sem ter de
nos convencer mentalmente de que estamos bem. No momento em que se
experimenta diversão, amor e alegria, você não precisa ficar reafirmando: “estou
feliz”, “estou feliz”. Você simplesmente sente isso com toda a capacidade do seu ser.
Ainda assim, quando estamos passando por momentos difíceis, é útil lembrar a nós
mesmos: “eu conheço a alegria”. Eu conheço a alegria. Eu conheço a alegria. E
escolher esse caminho várias vezes, permitindo que seus sentimentos fluam através
de você, para se alinhar ao bem-estar, mesmo quando isso parece ser impossível.
Sonhos de aviso e bem-estar
No livro Dreams That Can Save Your Life: Early Signs of Cancer and Other
Diseases[3], os autores, Dr. Larry Burk e Kathleen O’Keefe-Kanavos, compartilham
histórias e evidências de pessoas que tiveram sonhos sinalizando que alguma coisa
estava errada com a sua saúde, o que mais tarde se descobriu ser verdade. Uma
história em particular vem de uma mulher chamada Diane.
Diane teve um sonho incrivelmente vívido em que ela era operada para a retirada de
um nódulo cancerígeno em seu seio. Tão vívido que, ao acordar, ela marcou uma
mamografia. Alguns dias depois, Diane descobriu que estava de fato com câncer. Ela
ficou perplexa, assim como o médico. O livro é recheado de exemplos de relatos de
pessoas que tiveram sonhos que as alertaram para algum tipo de doença e que, mais
tarde, se provaram precisos por meio de exames médicos.
É possível reconhecer um fator essencial para esses sonhos de aviso: todas as pessoas
no livro sabiam que havia algo significativo naquele sonho. Ele não se parecia com
os outros sonhos. Não eram resultado de “resíduo do dia” ou ansiedade. O que
significa que elas não assistiram a um filme ou falaram com algum amigo que tivesse
câncer (por exemplo), o que então teria feito com que ficassem ansiosas, e mais tarde
naquela noite sonhassem que elas mesmas viviam isso. Não, esses sonhos pareciam
experiências diferentes do normal; pareceram importantes, mexeram profundamente
com os sonhadores e, geralmente, aconteceram do nada.
Não podemos provar definitivamente se os sonhos foram uma forte mensagem do
universo ou simplesmente um conhecimento interno reprimido dando as caras na
vida onírica. O que nós sabemos de fato, entretanto, é que esses sonhos literalmente
salvaram a vida dessas pessoas, porque elas foram impulsionadas a tomar uma
atitude por causa da orientação que receberam. Um conselho que pode chegar para
todos nós.
Em sonhos comuns, você também pode ser alertado sobre algo em que precisa
prestar atenção e que deveria enfrentar. Não precisa ser necessariamente sobre sua
saúde; pode ser sobre

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