Prévia do material em texto
ATHENA LAZ A ALQUIMIA dos SONHOS Como dominar a antiga arte dos sonhos lúcidos Tradução Alessandra Kormann e Maria Antônia Kormann Sumário introdução Eu durmo para poder enxergar capítulo 1 Qual é o seu porquê? capítulo 2 Emoções, instintos e todos os seus sonhos capítulo 3 A linguagem simbólica da interpretação de sonhos capítulo 4 Agindo na orientação dos seus temas e símbolos oníricos capítulo 5 Examinando paisagens oníricas simbólicas comuns capítulo 6 Abrindo-se para suas figuras oníricas capítulo 7 O espaço liminar entre estar acordado e dormindo capítulo 8 O sonhador consciente capítulo 9 Eu estou lúcido… E agora? capítulo 10 Manifestando o poder do sonho lúcido na sua vida desperta capítulo 11 A alma guiada capítulo 12 Um sonhador poderoso sonha para todos agradecimentos Sobre a autora Para Jed Introdução Eu durmo para poder enxergar Sem nenhuma memória de como chegou a este lugar ou a este ponto no tempo, ela só sabe que está parada, descalça, em uma estrada de cascalho. A escuridão ao seu redor reverbera com uma aparente cacofonia de silêncio e sussurros que somente a noite pode produzir. Ela examina o terreno, em uma tentativa de se situar e, enquanto o faz, a realidade se apresenta. Está completamente sozinha neste lugar... Este lugar. Onde é mesmo este lugar? A natureza granulada do cascalho sob seus pés frios e descalços a distrai de seus pensamentos. Ela olha para baixo, observa os pés – delicados e expostos – e, franzindo os olhos, vê que está em cima de um “X” feito com tinta vermelha. Curioso, ela pensa. Então, na escuridão fria e úmida, surge um pensamento reconfortante. Ela percebe que consegue enxergar à noite, com nitidez. Na verdade, ela sempre pôde enxergar no escuro. Outro estalo de consciência: ela sempre teve o poder da escolha. Com essa percepção, ela agora compreende que está diante de uma escolha: fique parada, estagnada, ou siga em frente, corajosamente, para o desconhecido. De repente, sua sonolência recua, acordando-a para a realidade de sua cama e do quarto ao seu redor. É a vida como de costume. Porém, com uma diferença sutil: agora ela carrega algo precioso consigo. Um presente trazido do sonho: • X marca o lugar. • X é onde está o tesouro. • X é este instante incandescente. O tesouro escondido que são os seus sonhos Todos os seus sonhos são presentes. Sim, até mesmo aqueles que te deixam morrendo de medo. Sonhos são presentes oferecidos pela sua própria psique e pelo seu espírito. Como a renomada escritora e analista Marie-Louise Von Franz proclamou: sonhos não “gastam saliva contando o que você já sabe”. E como eu gosto de acrescentar, os sonhos contam o que você precisa saber. Eles são o “X” que marca o lugar. Pela sua própria natureza, sonhos falam sobre coisas bem mais amplas e numinosas do que aquilo que já sabemos. Eles falam sobre tudo aquilo que não sabemos, sobre tudo o que nos recusamos a enxergar ou sobre aquilo que simplesmente não podemos ver. Ou tudo o que gostaríamos de ver. Sonhos dizem respeito à interconexão de toda a vida e ao nosso lugar exato nela. Os sonhos guiam o nosso olhar para nos mostrar a abundância de infinitas possibilidades. E, como vai descobrir ao longo deste livro, quando sonha, você é guiado por algo muito maior do que apenas a sua mente. Você é conduzido pelo seu espírito em conjunto com a sua psique. Como resultado, você pode obter sabedoria, inspiração criativa e soluções poderosas que podem (e vão) impulsioná-lo adiante, se você escolher agir na direção em que seu sonho apontou. Na vida real, é assim que os sonhos que levam a pessoa a agir são: Larry Page teve a ideia de criar o Google a partir de um sonho; Mary Shelley, a autora de Frankenstein, usou seus sonhos como inspiração – assim como Stephen King; Paul McCartney ouviu a melodia de “Yesterday” em um sonho; August Kekulé descobriu a estrutura em forma de anel do benzeno depois de sonhar com uma cobra comendo o próprio rabo (o símbolo do Ouroboros). Até mesmo Niels Bohr sonhou com a estrutura do átomo. E como todo terapeuta deve saber, sonhos ajudam no dia a dia (ou noite a noite), não apenas com ideias visionárias que mudam o mundo. Eles nos presenteiam com percepções fundamentais e transformadoras que nos ajudam a navegar pela vida terrena, com suas emoções, relacionamentos e desejos. Eles nos fazem sentir melhor. É provado cientificamente que sonhos ajudam a regular emoções negativas. Eles podem fornecer um pouco de encerramento e cura quando o luto toma conta de nós, oferecer respostas para problemas que parecem imutáveis quando estamos acordados e até mesmo ajudar a resolver conflitos internos. Você descobrirá que todos os seus sonhos são oferendas abundantes, mas isso não quer dizer que todos eles serão fáceis, como se fossem belas narrativas noturnas regadas a bênçãos e prazer. Isso porque os sonhos ajudam a prevenir o autoengano e, ao fazer isso, frequentemente eles dão socos metafóricos, levando ao questionamento: qual é a mensagem que eu não estou escutando? A “coisa” que não estou vendo? O caminho que eu tenho medo de seguir? O sentimento que não estou me permitindo sentir? Responder a essas perguntas durante a vida desperta requer uma profunda honestidade e uma resolução emocional que, na maioria das vezes, são mais fáceis de ignorar. No entanto, sonhos batem toda noite à porta da psique, acordando-nos para a nossa verdade interior. Uma verdade que pode se estender para uma vida bem vivida se você, o sonhador, corajosamente decide encarar suas intuições. E, assim, conhecer a “coisa”, os sentimentos, os padrões e os anseios que são obstáculos entre você e o alinhamento ideal na sua vida cotidiana. Uma porta de entrada para suas paisagens oníricas A intenção deste livro é ser uma porta de entrada que você possa atravessar corajosamente e descobrir suas próprias paisagens oníricas. Mas, antes de você cruzar o limiar, quero falar brevemente sobre a minha atuação nessa área, para apresentar uma visão geral da minha abordagem. Psicóloga por formação, eu trabalho com aconselhamento psicológico, sou especialista em sonhos e faço parte da quarta geração de intuitivos em minha família. Sou ainda uma ávida e autodidata sonhadora lúcida. Tenho sonhos poderosos desde criança e, enquanto crescia, eu me sentia cada vez mais atraída por eles. Na verdade, podem até dizer que os sonhos me escolheram para ser uma porta-voz deles, mas isso é uma história para outro momento. Então, por enquanto, vamos apenas dizer que eu escolhi me especializar em trabalho do sonho[1] porque descobri que os sonhos são o caminho mais direto para a transformação, o crescimento e o despertar espiritual. De modo simples, pelo fato de que pegamos um desvio do nosso próprio caminho quando dormimos, nossos sonhos podem ser de imensa ajuda. Trabalhei com milhares de pessoas incríveis ao redor do mundo durante meus cursos, programas de assinatura para membros, workshops presenciais e retiros, que foram todos voltados para ajudar pessoas a prestarem atenção nos seus sonhos, na sua psique e no seu conhecimento interior para conseguirem as respostas que elas buscavam. Eu direciono meu trabalho para o significado ancestral da palavra “psicoterapia”. Etimologicamente, a palavra deriva de “psique” (alma, espírito) e “terapia” (tratamento, cura). A raiz da palavra nos lembra que a psicoterapia é sobre a cura da alma. Em outras palavras, psicoterapia é mais do que curar apenas a mente e as emoções. É sobre a conexão e o bem-estar da alma. Acredito que devemos entrelaçar o espírito e a alma de volta às práticas psicológicas contemporâneas, a fim de ter um mundo interior e exterior mais equilibrados. Para que possamos experimentar mudanças profundas de verdade, intensas e duradouras na vida, nós devemos trabalhar com todos os aspectos que nos constituem. E eles são a mente, o corpo e o espírito. Por esse motivo, eu resolvi ir além do escopo da psicologia moderna, pois a considerei muito constritiva tanto para mim quanto paraos meus pacientes. No entanto, sou eternamente grata pela base sólida, enriquecedora e ética que a psicologia me proporcionou e pela qual muito do meu trabalho surgiu. A psicologia é um alicerce forte e essencial para se construir um ponto de partida. É uma peça vital no quebra-cabeça para a compreensão da consciência humana, assim como a ciência, o misticismo e a espiritualidade. Eu não acredito que os pioneiros da psicologia um dia pretenderam que esse campo fosse a “única resposta” ou que tivesse “todas as respostas” para a vida plena e para a consciência. A experiência humana é tão diversa quanto as pessoas que vivem neste planeta, e acreditar que apenas um método ou escola de pensamento é o certo, na minha opinião, é simplesmente sufocante. Já que você está lendo este livro, aposto que está interessado em um leque mais amplo de possibilidades para o que significa estar vivo, assim como em explorar o que quer que traga sentido existencial para a sua vida. Eu vou mergulhar e me aprofundar em diferentes escolas de pensamento, destacando aquelas que me pareceram mais precisas e úteis, partilhando-as aqui, na esperança de que sejam igualmente proveitosas para você. Por fim, como somos todos seres subjetivos, eu tentei fazer os exercícios práticos do livro da maneira mais variada e útil possível. Fiz isso para que todo sonhador pudesse ter uma chance maior de experimentar todas as diferentes facetas de sonhar para si mesmo. Dito isso, esta é a sua jornada. Se alguma coisa não fizer sentido para você, por favor, fique à vontade para pular para o próximo exercício e encontrar aqueles que funcionam melhor no seu caso! Vamos começar. O espectro do sonho Acredito que nos reconectamos com uma consciência superior unificada (o universo, o espírito, a fonte) todas as noites, quando dormimos. Explicando: eu uso as palavras “espírito”, “universo” ou “imaterial” alternadamente para me referir à força vital de todas as coisas. Você pode reconhecer essa força como Deus, energia, fonte ou simplesmente como um fluxo de consciência. Por favor, fique à vontade para escolher e usar quaisquer palavras ou frases com as quais você se sinta mais confortável no decorrer deste livro. A crença de que nos reconectamos com uma fonte espiritual quando dormimos não é exclusivamente minha. Hinduísmo, Judaísmo, Cristianismo, Budismo e Xintoísmo, para citar apenas algumas escolas do pensamento religioso, dialogam com essa ideia. Então, toda noite, somos presenteados com a habilidade de armazenar uma perspectiva maior, ao mesmo tempo que obtemos uma melhora significativa no nosso bem-estar físico através do sono reparador. Essa perspectiva maior gera muitos tipos diferentes de sonhos. Podemos experimentar sonhos comuns, sonhos de aviso, sonhos premonitórios ou proféticos, sonhos coletivos e sonhos lúcidos. Você descobrirá todos esses sonhos no decorrer deste livro. Dito isso, é importante diferenciar um sonho comum de um sonho lúcido desde já. Os sonhos comuns ou “normais” são ricos em imagens, símbolos e histórias. Esses sonhos são as excursões noturnas que geralmente você se encontra fazendo. Algumas vezes, esses sonhos são claros e vívidos, bem parecidos com a história do sonho que compartilhei no começo do livro. Outras vezes, eles são completamente esquecíveis – talvez como aquele sonho que você teve na última quarta-feira? No decorrer deste livro, eu usei os termos “comum” e “normal” para descrever esse tipo de sonho, apenas para facilitar a leitura e o entendimento. Desde o início, quero que você saiba que esses sonhos rotineiros vão muito além do comum ou mundano. Vou até me arriscar a dizer que os sonhos podem ser nossos maiores guias espiri tuais, ainda que a maior parte deles frequentemente seja descartada ao amanhecer. Sonhos comuns são os mais frequentes na nossa vida e, enquanto viajar por estas páginas, você descobrirá o quanto eles são generosos. E como eles sempre nos guiam. Recheados de pessoas, lugares, eventos e personagens familiares e estranhos, esses sonhos dialogam simbólica e metaforicamente com o sonhador. No Capítulo 3, você descobrirá a profundidade do insight disponível para você através dessa forma simbólica da interpretação de sonhos. Ao fazer o exercício, você também aprenderá exatamente como decodificar as mensagens emocionantes contidas nos sonhos para seu bem-estar e crescimento pessoal. Agora, eu gostaria de propor uma ponderação sobre uma coisinha: você já teve um sonho em que percebeu que estava sonhando? Se a resposta for sim, então você saiu de um sonho comum para um sonho lúcido! Você viajou através do espectro do sonho, por assim dizer. Se você respondeu não, então anime-se, pois sua exploração onírica está prestes a se tornar mais magistral a cada página deste livro! Para explicar: sonhos comuns são aqueles em que você não tem nenhuma ideia de que está sonhando. Somente quando acorda é que você percebe que estava, de fato, sonhando. Em um contraste gritante, sonhos lúcidos são aqueles em que você está ativamente consciente de que está sonhando enquanto você está dentro do sonho. Em outras palavras, você se encontra “acordado” em um sonho mesmo que psicologicamente seu corpo ainda esteja dormindo. Você pode então explorar o sonho com consciência cognitiva e força de vontade, alterando todo o cenário como desejar, coisas que não se pode fazer em um sonho comum. Vamos voltar à história do sonho comum que eu trouxe no início do livro, para que você possa entender ainda melhor. Uma mulher subitamente se vê em pé, descalça, em uma fria estrada de cascalho. Ela está desorientada. A mulher fita o horizonte à procura de uma pista de onde está. Cai a ficha: ela está sozinha, completamente sozinha neste lugar estranho. E, naquele momento, ela tem um pensamento muito esclarecedor e se pergunta: onde é este lugar? A pergunta autorreflexiva poderia tê-la feito “acordar” para o fato de que estava em um sonho! Que ela estava sonhando. Mas, no sonho, seus pés frios a distraem, então ela se esquece de sua pergunta, o que faz com que o sonho simplesmente continue seguindo, isto é, sem a sua percepção consciente. Se esse fosse um sonho lúcido, a experiência poderia ter transcorrido de outro modo. Uma mulher subitamente se vê em pé, descalça, em uma fria estrada de cascalho. Ela está desorientada. A mulher fita o horizonte à procura de uma pista de onde está. Ela percebe que está sozinha, completamente sozinha, neste lugar estranho. E, naquele momento, ela tem um pensamento muito esclarecedor e se pergunta: onde é este lugar? Esse pensamento, então, a leva a um momento de “ahá!”, e ela continua a se questionar: nunca estive neste lugar. Como eu poderia ter chegado aqui? Onde eu estava antes disso? E com essas perguntas autorreflexivas, uma memória (e a resposta!) aparece no primeiro plano da sua consciência: a última coisa que você fez foi ir para a cama. Essa resposta reveladora a faz pensar: eu devo estar sonhando. Isto é um sonho. Eu estou sonhando. Aí é que está a diferença fundamental entre um sonho lúcido e um sonho comum. Em um sonho lúcido, você está acordado dentro do sonho. Em um sonho comum, você sonha porque está dormindo. Agora você deve estar se questionando: já foi provado que sonhos lúcidos existem? E a resposta é um sonoro “sim”! O sonho lúcido foi provado cientificamente no Ocidente em 1975, quando dois pesquisadores, Hearne e Worsley, fizeram uma série de experimentos com sonhos em seu laboratório. Desde então, um crescente corpo de pesquisa acadêmica e científica emergiu, destinado a desmistificar a prática do sonho lúcido. Mas, antes mesmo dessas evidências científicas chegarem ao Ocidente, o sonho lúcido já era (e é) uma prática reverenciada em muitas fés e crenças como o Budismo, o Hinduísmo e o Xamanismo. Inclusive, essa é uma prática ancestral que se estende por milhares de anos. As pessoas têm tido sonhos lúcidos há séculos, e a ciência ocidental entrou para essa conversa apenas recentemente. Neste ponto, muitas vezes me perguntam: como o sonholúcido pode ser útil? E, mais importante ainda, como ele pode me ajudar? Este livro é, de muitas formas, dedicado a responder a essas perguntas. Falando de maneira prática, o sonho lúcido pode nos ajudar a transformar uma emoção que está estagnada, a curar fisicamente e ainda auxiliar na proficiência e no desenvolvimento de uma habilidade (como tocar algum instrumento ou meditar), além de incontáveis outros bene fícios. Você também pode desenvolver metacompaixão por meio do sonho lúcido, receber ensinamentos espirituais e até mesmo se preparar para os momentos após a morte. E mais, as palavras de Tenzin Wangyal Rinpoche, professor budista tibetano da tradição Bön, oferecem graciosamente um fragmento de ouro do penúltimo benefício: O primeiro passo na prática do sonho é bem simples: é preciso reconhecer o grande potencial que o sonho tem para a jornada espiritual. Normalmente, o sonho é visto como “irreal”, como o oposto daquilo que é “real” na vida desperta. Mas não há nada mais real do que um sonho. Sonhar de maneira lúcida é muito mais do que apenas controlar suas ações dentro de um sonho e obter benefícios rasos. É sobre conectar-se à fonte de quem você realmente é. É sobre a dança do visto com o não visto, o além, sobre o mundo desperto e o mundo onírico e sobre você como a ponte entre os dois. Através de todos os seus sonhos, é possível redescobrir os presentes já guardados nas profundezas do seu ser interior. Você perceberá como está ativamente criando a sua vida. Que você é o sonhador tanto no seu sonho quanto na sua vida desperta. Em toda noite, existe a capacidade de transitar entre a consciência desperta e a consciência adormecida por meio do veículo que é o sonho comum. Isso por si só já é muito incrível. Adicione o sonho lúcido à mistura e você está à beira de algo muito mágico: a habilidade de estar consciente (e movimentar-se) em ambas as formas de consciência ou “realidade”. Todos nós já tivemos sonhos que pareceram tão reais, tão vívidos que, naquele momento, pelo que nós sabíamos, eles eram reais. E só quando acordamos é que percebemos que estávamos sonhando. Mas, com o sonho lúcido, você de fato sabe que está explorando sua consciência. Experimentar o sonho lúcido traz à tona uma questão existencial ainda mais ampla: se você tem conhecimento sobre duas formas de consciência, então qual é essa terceira forma de consciência (ou metaconsciência)? Essa é uma questão que eu espero que você explore por iniciativa própria, assim que se tornar o viajante consciente da sua paisagem onírica. Eu acredito que todos os nossos sonhos se apresentam para nos mostrar infinitas possibilidades, realçando a vibração (tanto individual quanto coletiva) que estamos projetando para fora e para dentro ao mesmo tempo, sobretudo oferecendo-nos uma oportunidade de alterar o nosso alinhamento como for preciso. Em outras palavras, os nossos sonhos podem nos ajudar a entender como nos sentimos; a reconhecer que energia estamos expressando para o mundo e a mudar de curso quando e se necessário; a potencialmente ver o que pode acontecer; e a se reconectar com o espírito todas as noites. Durma bem sabendo que tudo tem seu valor Qualquer que seja o sonho que o trouxe até aqui – o sonho comum, o sonho premonitório, o sonho de aviso, o sonho simbólico ou o sonho lúcido –, é puramente o meu desejo que, ao chegar ao fim do livro, você se torne um sonhador consciente. Então, quer você já tenha sido capaz ou não de ter um sonho lúcido, por favor, saiba que todos os sonhos são importantes e podem oferecer insights incrivelmente valiosos. Se você tentar colocar seus sonhos em uma hierarquia de experiências melhores ou mais valiosas, pode ser que você perca a magia que acontece todos os dias quando está sonhando normalmente. E, apesar de este livro ensinar exatamente como ter um sonho lúcido, o objetivo principal é fazer despertar, dentro de você, um profundo amor por sonhar. Para que assim você possa experimentar o fenômeno que são os sonhos. No trabalho do sonho é importante que, primeiro, você desenvolva uma compreensão maior do sonho comum (simbólico) para que você tenha uma base sólida. O trabalho do sonho regular dá suporte ao processo de sonho lúcido. Você descobrirá exatamente como suas emoções, pensamentos e crenças influenciam todos os seus sonhos, o que é um entendimento crucial para se envolver com o sonho lúcido. Finalmente, sonhar é um caminho jubiloso, no qual você perceberá que não existe jeito certo ou errado pelo qual viajar. Dito isso, para despertar esse amor profundo por sonhar, você deve ser capaz de se lembrar dos seus sonhos quando acordar. Aqui vai como fazer isso. Antes de pegar no sono, é importante firmar a sua intenção de se lembrar dos sonhos quando acordar. Se você se comprometer a fazer isso todas as noites, vai começar a ver que a lembrança dos seus sonhos vai melhorar. Uma intenção é simplesmente um pensamento sincero no qual se deposita muita importância e energia. É uma declaração sussurrada que você joga para o universo. As intenções também são psicologicamente significativas, pois você está se comprometendo com o que quer que esteja pretendendo fazer também em um nível psíquico. Sua intenção pode ser uma expectativa que você tem sobre suas práticas de sonho ou sobre sua vida. Uma vez que você determinou sua intenção, feche os olhos. Então, respire profundamente algumas vezes, de modo revigorante, dizendo as seguintes palavras antes de ir dormir: Explorar o mundo dos meus sonhos esta noite é seguro para mim. Eu terei bons sonhos e lembrarei deles de manhã. Eu estou pronto para explorar todas as facetas da minha vida onírica. Estou completamente disposto a deixar que meus guias oníricos me auxiliem. Ao acordar, procure ao máximo não se mexer, apenas permaneça o mais imóvel possível – isso normalmente requer um pouco de prática! Permaneça com os olhos fechados e, enquanto ainda está deitado na cama, imóvel, você deve tentar reproduzir o sonho em sua mente. Isso é para que o seu cérebro (mais especificamente o hipocampo) possa alcançar e guardar esse sonho na memória. Assim que você sentir que o tem sob controle, anote o seu sonho em um diário. E é assim que se faz um diário de sonhos... Mantenha um caderno ao lado da cama e, ao acordar, anote exatamente aquilo que você se lembra do sonho. Inclua o máximo de informações possíveis: anote cada cenário, pessoas, sentimentos e figuras oníricas que apareceram. Também pode ser útil sublinhar o que parecer particularmente importante para você na hora. Anote seus sonhos da maneira mais detalhada que puder e procure lembrar de toda e qualquer coisa, mesmo que pareça insignificante. Detalhes ajudam porque você estará criando uma coleção dos seus símbolos oníricos ao documentar seus sonhos. Mais adiante, eu também vou mostrar como você pode decodificar esses símbolos. Então, se você começar agora, deve ter material suficiente para interpretar alguns dos seus sonhos quando chegar a esse capítulo específico. Um símbolo que pode parecer insignificante à primeira vista pode vir a ser, em longo prazo, algo significativo. Por exemplo, você pode não perceber que o sol está sempre presente nos seus sonhos. Ou talvez o oposto seja verdade: o sol nunca está presente. O sol é um símbolo que pode ser facilmente esquecido ou desconsiderado, mas lá está ele, iluminando seus sonhos todas as noites. Ele pode estar mostrando a você como se conectar à essência visível que sustenta a vida e que, inclusive, também simboliza sua luz interior. Pronto? 1 Qual é o seu porquê? Uma vasta extensão de areia tom de laranja queimado se estende à minha frente, até onde a vista alcança. Ondulando uma após a outra, as dunas criam um horizonte sem fim imitando a água, mas feito de terra. Cada grão sussurra uma história de um tempo já há muito esquecido, esperando para ser ouvido. Eu fico hipnotizada, inalando o silêncio e a beleza diante de mim. O vento sopra com gentileza, e eu balanço com ele, em seu ritmo. Completamente imersa nessa vastidãoa céu aberto, começo a me lembrar que já estive neste mesmo lugar antes. Lentamente, passo minhas mãos pela areia. Apanhando um punhado pesado de terra do deserto, olho para baixo e reparo que a areia é cintilante. As cores mudam com cada fractal de luz enquanto passo a areia de uma mão para a outra. Enquanto foco na sensação dos grânulos em contato com as minhas mãos, o tempo parece estar parado. Agora as minhas duas mãos estão abertas, e a areia escorrega entre meus dedos. A cada grão que cai, eu me descarrego de todo o peso da minha história. Eu me sinto leve, leve até demais, tanto que procuro focar a atenção nos meus pés descalços. Quando olho para baixo, eles começam a desaparecer na areia sob mim. Membro após membro, osso após osso, eu sou integrada ao deserto. Consciente dessa transformação, percebo que eu sou o deserto inteiro e, ao mesmo tempo, apenas um grão. Acordo com uma sensação impressionante de serenidade, apenas para ter esse momento interrompido em seguida pelo alarme do despertador, trazendo-me de volta na mesma hora para a minha experiência humana e cotidiana. E não é assim mesmo? Como o místico está tão bem embrulhado no mundano! Funcionando como um lembrete sagrado de que nossas vidas são feitas do momento presente, um após o outro, até que a morte nos transforme novamente. Antes de continuar a leitura, eu gostaria que você parasse por uns minutos e refletisse sobre o porquê de você estar motivado a fazer o trabalho do sonho. Pergunte a si mesmo: por que quero fazer isso? Escreva seus pensamentos no papel sem censurá- los. Então guarde bem o que tiver escrito, para que possa consultar depois. Uma vez que tiver feito isso, volte aqui e continue a leitura. Trabalho do sonho e a psique Sonhos nos auxiliam a questionar e alterar nossas crenças mais profundamente arraigadas e a tomar nota do que estamos criando e manifestando em nossa vida cotidiana. Eles servem para nos ajudar a viver de modo mais pleno e enriquecedor, enquanto também nos mostram quais partes da nossa psique são subdesenvolvidas, para que, assim, possamos trabalhar para integração psicológica e bem-estar emocional maiores. De uma perspectiva psicológica e do desenvolvimento pessoal, isso significa trabalhar com o inconsciente coletivo, seu inconsciente pessoal, emoções, motivações e as representações simbólicas equivalentes que aparecem na sua elaboração onírica. Algo que eu ativamente mostrarei a você como fazer no decorrer deste livro. No âmbito espiritual, isso significa trabalhar em conjunto com o espírito. Pegue o meu sonho do deserto como exemplo. Esse sonho me ajudou a descobrir de modo mais profundo, e então expressar, os meus sentimentos relativos à morte e a morrer. Naquele momento, eu estava com medo da morte em um nível emocional profundo. Mais especificamente, meu medo era não saber como isso iria acontecer. Até aquele sonho, eu nunca havia me dado espaço ou permissão para refletir com honestidade sobre por que isso acontecia e como isso fazia eu me sentir. Se alguém me perguntasse como eu me sentia a respeito de morrer, eu daria uma risada irreverente, dizendo que “todos nós temos que fazer isso um dia”. Ou mudaria de assunto. Em outras palavras, meus medos e sentimentos acerca da mortalidade realmente me assustavam muito, então, para neutralizar a minha ansiedade quando eu pensava a respeito, eu apresentava uma reação leve e alegre – o oposto do que eu estava sentindo internamente. Meu comportamento nessa circunstância era um típico mecanismo de defesa psicológico conhecido como formação reativa. Um mecanismo de defesa se configura quando sua mente responde de uma maneira específica para ajudar a minimizar um conflito interno. Todos nós temos mecanismos de defesa, e aprender com mais profundidade sobre eles pode ajudá-lo na sua jornada de crescimento pessoal. De maneira mais específica, uma formação reativa ocorre quando você converte o que sente de verdade em uma resposta mais aceita pessoalmente (ou socialmente), a fim de suavizar um desconforto interno. Isso não significa que você tenha aceitado como se sente, mas apenas que você se defende contra isso manifestando o oposto do que sente. Apesar de apresentar um exterior calmo quando o assunto da morte vinha à tona, meu medo original não desapareceu. Ele ainda existia, mas estava escondido da minha consciência através do meu mecanismo de defesa. Em outras palavras, meus pensamentos e minhas emoções relativas à morte, que haviam sido renegadas, permaneciam lá, mas fora da minha consciência. Isto é, inconscientemente. Então o meu sonho veio para me sacudir e me acordar. Para me ajudar a encarar a mim mesma. Assim como também os seus sonhos fazem. O conteúdo do sonho e o seu porquê escondido: sonhos revelam sua vida interior É útil trabalhar com conteúdo onírico. Por conteúdo onírico eu quero dizer as imagens, figuras oníricas, paisagens e símbolos que aparecem em seus sonhos. Eu acredito que o conteúdo onírico é influenciado pelo espírito, nossa vibração, o inconsciente coletivo e o inconsciente pessoal. Acredito que é necessário ter um entendimento desses termos (se você já não o tiver) para uma melhor prática do trabalho do sonho. A maioria dos comportamentos é muito influenciada por fatores inconscientes. Isto é, vontades, motivos e impulsos que estão fora da nossa consciência ativa. Por exemplo, você pode querer muito ter sucesso em algum objetivo relacionado à sua saúde ou às suas finanças, mas, toda vez que se compromete a fazer uma mudança, acaba se autossabotando ao longo do caminho. Em uma ocasião como essa, é provável que exista uma crença profundamente arraigada que está escondida da sua consciência, a qual entra no caminho do que você está tentando criar, manifestar e experimentar na vida. Você pode ter uma tendência a falhar, por exemplo, porque inconscientemente acredita que outras pessoas irão diminuí-lo caso se torne muito “bem-sucedido”, “atraente” ou “famoso”. (O sucesso pode assumir muitas formas; só estou destacando alguns exemplos comuns para ser breve.) A sua crença inconsciente entra no caminho. Por um lado, você tem o desejo de prosperar, mas, por outro, tem medo de ser bem-sucedido. Para mitigar esses dois impulsos, você se autossabota, procrastinando ou simplesmente nunca tomando a atitude certa para chegar aonde deseja. Ao mesmo tempo, a fim de te ajudar a se tornar uma pessoa mais completa e a criar uma vida que lhe faça bem, os seus sonhos vão oferecer imagens e cenários para torná-lo consciente dessas crenças profundamente arraigadas e inconscientes. Seus sonhos estarão em forma de imagens projetadas especialmente para alertá-lo sobre como você se sente em um nível mais profundo e no que você precisa prestar mais atenção em sua vida desperta. Por exemplo, você pode sonhar que está em um elevador que está levando-o ao último andar de um prédio, mas, quando chega lá, a porta não abre. Ou até mesmo sonhar que está em um elevador que, de repente, começa a descer com velocidade, fazendo com que você sinta medo e entre em pânico! Seu sonho está lhe contando de maneira simbólica que, enquanto você é a pessoa no sonho, suas crenças são o elevador. Em outras palavras: a porta do elevador abrirá automaticamente quando você parar e encarar as crenças que te sabotam. Seu sonho está alertando para a necessidade de voluntariamente escolher descer (simbolicamente: o elevador despenca rapidamente até os andares inferiores) até as profundezas da sua psique. Isso serve para que você possa enfrentar quaisquer crenças que o estejam atrapalhando. Se fizer isso, as portas da oportunidade (e do elevador) provavelmente também irão se abrir. Seu sonho está guiando você para uma maneira sustentável de seguir adiante, lidando de maneira positiva com qualquer questão que possa estar fora da sua consciência. Ou, ainda, você pode ter um sonho em que está em uma floricultura procurando por rosas, mas, em vez disso, acaba com um buquê de papoulas. Você queria muito um buquê de rosas, mas acabou ficando com um de papoulas.Que decepção! No contexto do sonho, as papoulas são um símbolo representativo do medo de experimentar a “síndrome da papoula alta”. Essa é uma expressão usada (muito comum na Austrália e na Nova Zelândia) para descrever a vontade de insultar ou diminuir as pessoas que são muito bem-sucedidas. A imagem da flor aqui apresentada é a mensagem do sonho. Ela mostra a diferença entre o que você quer (as rosas) e o que você está experimentando de verdade (as papoulas). O fato de você estar no controle de comprar as rosas e algo acontecer repentinamente (sem a sua consciência), deixando-o com as papoulas na mão, mostra duas coisas. A primeira é que as flores não foram um presente. Você foi comprá-las (isto é, o sonho é sobre o que está no seu controle). Se alguém no sonho tivesse lhe dado as flores, então é mais provável que você estivesse lidando com uma dinâmica de relacionamento. A segunda é que a imagem onírica mostra que de algum modo, no ato de ir comprar as flores, você acabou ficando com papoulas, isto é, algo aconteceu fora da sua consciência e que resultou em você ficando com flores que não queria. Em ambos os exemplos, o sonho exibe imagens que são criadas para ajudá-lo a desenterrar suas crenças e medos mais profundamente arraigados e inconscientes (e a sua vibração energética associada a eles), com o objetivo final de transformar a crença para melhor, para que você possa se manifestar e criar melhor. O sonhador, nesse caso, poderia se sair bem ao simplesmente permitir a si mesmo ser mais autêntico independentemente do que “as outras pessoas vão pensar”. Ele poderia permitir a si mesmo “crescer” com o sucesso, independentemente da ameaça iminente de críticas. Ele pode se tornar a rosa. Na maior parte do tempo, as pessoas atribuem esse tipo de crença limitante e arraigada aos trabalhos do subconsciente. A mente subconsciente delineia algum tipo de percepção logo abaixo da mente consciente. Mas, quando as pessoas fazem isso, elas estão, na verdade, se referindo (de uma perspectiva psicológica) a aspectos mais profundos dos aspectos inconscientes da mente. Eu prefiro usar a palavra “inconsciente” porque descreve mais precisamente do que se trata. Da mesma forma, uma diferenciação entre o inconsciente coletivo e o pessoal também pode ser feita. Essa diferenciação não é feita em referência à mente subconsciente e é o motivo de eu não usar ativamente esse termo no decorrer deste livro. Para trabalhar bem com o seu conteúdo onírico, é necessário compreender a diferença entre o seu inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. Isso porque o conteúdo onírico é influenciado por ambas as fontes. E eu acredito que cada uma pede por uma abordagem levemente diferente, tanto para fazer interpretação dos sonhos quanto para interagir em um sonho lúcido. E você descobrirá isso logo. Entendendo o seu inconsciente pessoal no trabalho do sonho A sua psique é o armazém de todas as experiências que você teve até hoje. Isso significa que todas as memórias e experiências que viveu, boas ou ruins, estão armazenadas dentro da sua mente, quer você se lembre ou não. Segundo a teoria analítica desenvolvida pelo notável psiquiatra Carl Jung, o inconsciente pessoal é o substrato da psique que contém essas memórias e experiências pessoais. Em outras palavras, seu inconsciente pessoal abriga qualquer memória que você possa ter expulsado da sua consciência e da qual não consegue se lembrar ativamente. Assim como qualquer memória (agradável ou desagradável) que você pode apenas ter esquecido com o passar do tempo. Quando me refiro ao inconsciente pessoal, eu quero destacar a informação que está presente dentro da sua mente e que diz respeito à sua experiência vivida. Seu inconsciente pessoal também é o lugar para quaisquer complexos com os quais você possa estar lidando. Basicamente, um complexo é uma coleção de pensamentos, imagens, ideias e memórias que possuem grande carga emocional e que se agrupam para formar um único tema. Por exemplo: amor, sexo, poder. Todos nós lidamos com complexos e, na maioria das vezes, eles só viram um problema sério quando nós negamos totalmente a sua existência. Nos seus sonhos, evidências de quaisquer complexos com os quais você possa estar lidando aparecerão em imagens, cenas e símbolos com que você sonha. Digamos que uma noite você sonha que está preso em um lugar apertado. Então, algumas noites depois, você sonha que está em um carro sendo perseguido por uma pessoa em outro carro. Uma semana depois você sonha que tem de fazer uma ligação importante, mas não encontra o seu telefone. E assim por diante. Apesar de todos os cenários, figuras e imagens serem diferentes nos três sonhos, eles estão todos carregados da mesma emoção: uma ansiedade excruciante. Isso é refletido pelos sentimentos de tensão e preocupação que aparecem nos três sonhos. O sonhador está tomando consciência sobre como se sente em um nível profundo e sobre o complexo com que ele está lidando. Um complexo aponta que talvez estejamos em um momento de tensão. Isso não significa que tem algo errado. Simplesmente significa que estamos resistindo a algo e que, ao fazer isso, estamos criamos uma tensão interna. Então os sonhos nos oferecem orientação sobre essa tensão. Eles nos oferecem um caminho melhor a seguir. Eles nos mostram aquilo a que estamos resistindo através de imagens e cenários oníricos, de formas bem específicas e sugestivas, para que assim possamos captar a mensagem para alterar nossa vida e nossa vibração de maneira adequada. Quando você sonha em relação a um complexo, o seu sonho tenta atrair a sua atenção para qualquer experiência ou conceito polarizado com os quais você possa estar se debatendo. Sonhar também aumenta sua consciência sobre o paradigma dos opostos ou dualidade. Quando você se dá conta dessas experiências polarizadas (bom/ruim, claro/escuro, estéril/fértil), pode então mudar como se sente e como se relaciona com elas. Como no meu sonho com o deserto e a areia. Naquele sonho, foi mostrado a mim como eu estava me debatendo com dois opostos: vida e morte. Uma tensão que existe a todo momento. Meu sonho foi fundamental para me ajudar a unificar o conflito interno entre viver e morrer. O sonho me deixou com uma sensação de serenidade e paz, ao contrário dos meus medos emocionais e mentais, mostrando-me que eu poderia aceitar meus sentimentos sobre a morte para alcançar um nível maior de aceitação. Por causa daquele sonho, eu aprendi que a morte pode ser uma grande motivação e libertação, e que eu poderia viver mais plenamente, e de um jeito mais autêntico, ao aceitar que ela é algo certo. A morte estará presente enquanto estivermos vivos. Opostos não deixam de existir, mas uma terceira maneira de viver aparece através da aceitação e da contenção radicais de um em relação ao outro, e vice-versa. Ao ler essas palavras, aparece a possibilidade de unir esses dois opostos, ao trazer a sua consciência para ambos. Observando a dicotomia sem sair correndo dela ou acabar pendendo para um dos lados, tornamo-nos mais integrados. E, ao fazer isso, nós começamos a alterar nosso nível de alinhamento de energia espontaneamente. Meu sonho me ajudou a me tornar mais integrada, e eu acredito que foi uma mensagem poderosa do espírito, mostrando-me que eu estava pronta para mudar meu modo de viver. Eu acredito fortemente que nós nunca vemos nada que não estejamos prontos espiritualmente para ver – apesar de psicologicamente nem sempre nos sentirmos dessa forma. Você tem consciência do que sonha por um motivo. Não importa o que descubra, apenas saiba que as informações apresentadas nos seus sonhos serão úteis se você escolher agir de acordo com a orientação deles. Quando chegarmos ao capítulo sobre como decodificar as mensagens dos sonhos, veremos como o seu inconsciente pessoal, e quaisquer outros complexos associados, interagem com você todas as noites. Isso em relação aos símbolos e às imagens com as quais se sonha. Então, mais uma vez, se você ainda não começou a fazer o seu diário de sonhos,eis aqui uma boa motivação para começar! Trabalhar com o material onírico nos ajuda porque não sonhamos apenas com problemas e complexos. Nós sonhamos com soluções e orientações profundas e emocionantes sobre o próximo passo a ser dado. Estamos sendo guiados através da atmosfera dos nossos sonhos para entender nossos corações e nossas mentes. Quando você decide trabalhar ativamente com seu material inconsciente, a vida fica interessante porque você embarca em uma jornada para descobrir o seu “verdadeiro eu”. Uma jornada de uma vida inteira que permite que você mude o que for preciso, a fim de fazer você se sentir melhor e criar melhor. Entendendo o inconsciente coletivo no trabalho do sonho O inconsciente coletivo é outro conceito que foi criado por Carl Jung. Em uma explicação colocada do modo mais simples possível, o inconsciente coletivo é toda informação herdada com a qual nós, humanos, nascemos. O inconsciente coletivo não é o seu inconsciente pessoal. Ele é o armazém de toda a experiência humana. No jargão espiritual, o inconsciente coletivo pode ser visto como nossa capacidade de acessar e de sermos influenciados por uma sabedoria universal. Começamos a entender o inconsciente coletivo mais nitidamente ao olhar para mitologia, rituais e histórias (e os símbolos associados a elas) de civilizações antigas. É evidente como as primeiras civilizações partiram de um inconsciente compartilhado em suas tentativas de explicar a própria existência e as interações com o mundo, tanto o que era fisicamente visto quanto o não visto. Isso também explica o porquê de muitas culturas terem mitos e contos de fada que traçam paralelos globalmente – apesar de estarem a centenas ou milhares de quilômetros distantes umas das outras. Por exemplo, existem muitas versões parecidas sobre o mito da criação, que se estendem por diferentes culturas e períodos temporais. Enfim, a sabedoria ancestral se origina do inconsciente coletivo e é passada para nós individualmente, através da contação de histórias e de comportamentos aprendidos. Algumas dessas histórias ou narrativas são úteis, enquanto outras acabam sendo limitantes. Por exemplo, uma mulher pode querer ser bem-sucedida financeiramente por conta própria, mas pode descender de uma linhagem em que isso não é feito. Ou onde todas as mulheres antes dela tiveram dificuldades financeiras em virtude de limites do sistema. Em decorrência disso, ela herda (implícita ou explicitamente) uma crença arraigada de que mulheres, em geral, não podem gerar riqueza. Ela mesma, sendo uma mulher, é, portanto, lançada em um conflito interno. Ela deseja criar abundância, mas foi ensinada que isso é impossível (ou muito difícil) de se fazer devido ao fato de ser uma mulher. Então, para lidar com essas crenças conflitantes, ela faz o papel de “princesa” em sua vida. (Seus sonhos irão reproduzir isso simbolicamente ou espelhar essa narrativa exibindo símbolos de autovitimização. Ela pode até sonhar com figuras régias e inferiores interagindo umas com as outras de diversas maneiras.) Então ela se transforma em uma princesa que agora precisa ser resgatada em sua vida desperta e, ao fazer isso, encontra um príncipe rico que a salva. (Inclusive, o príncipe muito provavelmente também está atuando em um papel herdado e também pode sair do papel se decidir fazer isso.) Suas crenças profundamente arraigadas acerca da riqueza originam-se tanto do inconsciente coletivo quanto de experiências de suas ancestrais e da sua própria vida. A qualquer momento, ela pode invocar sua coragem interior e resgatar a si mesma. Até que ela salve a si mesma, terá sonhos que chamam a sua atenção para essas crenças, para que assim ela possa mudá-las! Seus sonhos enviarão lembretes metafóricos todas as noites para que ela reivindique o seu poder interior. Para que ela possa criar riqueza e assim ser livre. Ela pode sonhar que está sendo perseguida por um monstro ou uma figura sombria, para que possa então se voltar e confrontá-la ou até mesmo destruí-la. (Esse sonho mostra como ela pode ser a heroína da sua própria vida e vencer seus medos.) Ela pode até sonhar que suas mãos estão quebradas e que precisa cuidar delas. (Sua vida está em suas mãos.) Ou então sonhar que uma mulher em sua linhagem é deficiente, está amarrada ou ferida em cenários oníricos que mimetizam suas próprias experiências de vida no presente. (Ela sonha com uma representação realista da avó mancando no dia a dia, no trabalho ou em casa.) As imagens nos sonhos serão altamente evocativas e específicas a fim de fazê-la se apropriar de seu poder interior na vida desperta. Até que ela encare suas crenças herdadas, internalizadas e mais profundamente arraigadas, ela estará refém delas. E isso é válido para todos nós. A maneira de sair de qualquer padrão não saudável é encarar a crença arraigada que tenhamos em torno da questão. Podemos fazer isso através do trabalho do sonho ou de qualquer outro tipo de trabalho ativo do inconsciente. Ao fazer esse tipo de trabalho de cura, nos encontramos em uma posição de escrever uma nova narrativa – uma que se adeque melhor ao que gostaríamos de experimentar de verdade. Por fim, você pode criar (ou manifestar) o que quer com mais facilidade ou rapidez ao tomar consciência das suas crenças herdadas e arraigadas e, mais importante ainda, transformar como você se sente em relação a elas. Isso porque você pode deixar de resistir e passar a se alinhar ao que você realmente quer criar em sua própria vida, e não ao que você foi simplesmente ensinado a recriar. Por sorte, nós todos temos acesso ao inconsciente através dos sonhos. Em nossos sonhos comuns, nós interagimos com o inconsciente simbolicamente. Em nossos sonhos lúcidos, nós interagimos com o inconsciente de forma ativa e consciente. Eu mergulharei nessa diferença fundamental no último capítulo, sobre figuras oníricas, então por enquanto apenas pergunte a si mesmo: o que é que eu quero vivenciar na minha vida? Mais dinheiro, tranquilidade, amor, saúde e segurança? O que quer que seja, você pode precisar olhar para as histórias e crenças que tem em torno do que está tentando obter. Você é digno de receber o bem apesar do que quaisquer programações culturais, padrões de trauma intergeracionais ou experiências pessoais tenham feito acreditar no contrário. E seus sonhos mostrarão a você como chegar lá. Quando você escolhe trabalhar com o inconsciente coletivo e o pessoal na sua vida e nos seus sonhos, começa a se libertar das amarras de quaisquer crenças limitantes e de longa duração. Com isso, fica mais fácil agir conforme os desejos do seu coração, e não pelos seus impulsos inconscientes, pois você se torna consciente do que eles são. Tanto em seus sonhos regulares quanto em seus sonhos lúcidos, existe a oportunidade de descobrir suas motivações implícitas – o seu “porquê”. E como você viu, saber o que elas são pode revolucionar a sua vida para melhor! Por exemplo, eu trabalhei com um cliente que queria muito vivenciar o sonho lúcido. Quando perguntei o porquê de ele querer ter um sonho lúcido, ele não conseguiu me dizer. Depois de conversar por um tempo, acabei descobrindo que ele queria controlar sua vida no sonho porque se sentia extremamente impotente e indefeso em sua vida desperta. Ele estava determinado a experimentar a sensação de expansão dos sonhos lúcidos. Isso porque a alegria de se sentir livre era exatamente o oposto do que ele estava passando naquele determinado momento da sua vida desperta. O sonho lúcido tornou-se uma ferramenta muito útil para ele recuperar sua habilidade de responder bem às situações, primeiramente em seus sonhos e depois em sua vida desperta. Era uma maneira positiva (e mais fácil) de ele criar experiências oníricas que provocavam a sensação de expansão para então transportar esses sentimentos à sua vida desperta. Em outras palavras, foi uma experiência emocional útil, que o levou a tomar atitude nas questões que o atrapalhavam. Através de seus sonhos lúcidos, ele descobriu que já tinha o poder interiorde agir com presença, disposição e propósito na sua vida. Ele reconheceu que precisava tomar uma atitude e deixar de acreditar na narrativa de vítima que ficava reproduzindo sem parar em sua vida desperta. Você pode descobrir que o motivo pelo qual quer ter sonhos lúcidos é igualmente útil e perspicaz. Ou sua motivação pode ser de uma natureza mais leve emocionalmente. Por exemplo, muitas pessoas querem apenas vivenciar sonhos lúcidos mais conscientes porque experimentaram alguns espontaneamente e sabem como eles são incríveis! Não importa sua motivação subjacente – isto é, o seu “porquê” oculto –, seus sonhos sempre levarão você adiante. Exercício prático: diário autorreflexivo Anteriormente neste capítulo, pedi que você escrevesse o que o motivou a começar a fazer o trabalho do sonho. Gostaria que agora você voltasse e lesse o que escreveu, com a intenção de perceber quaisquer crenças ou padrões que possam ter surgido. Você acha que possui crenças inconscientes que estão influenciando a sua motivação em fazer a elaboração onírica? Entender a sua própria motivação em fazer essa atividade de trabalho do sonho é, em todos os sentidos, útil e capaz de provocar insights. Você pode descobrir que, ao contrário do meu sonho do deserto, sua motivação subjacente vem de um lugar de integração, oposto a um lugar de medo e fuga. Independentemente do que descobrir, saiba que a informação nos seus sonhos lhe será útil se você resolver seguir a orientação. No fim das contas, você acaba por se conhecer melhor. E adquire o poder interior de alterar qualquer coisa que não lhe sirva mais na vida. Sonhos guiam você com ímpeto de volta à sua força e à sua sabedoria interiores. PERGUNTAS AUTORREFLEXIVAS 1. O que está funcionando bem em minha vida atualmente? 2. O que não está funcionando tão bem em minha vida? 3. As questões que você listou nos itens anteriores são problemas pontuais ou são padrões de dificuldade de longa duração, com os quais você lutou contra a vida inteira? Por exemplo: o dinheiro sempre foi um problema? Ou a inabilidade para encontrar um parceiro amoroso? 4. Se você respondeu sim para as questões anteriores, então é provável que você esteja lidando com um conjunto de crenças inconscientes. Sendo assim, você está pronto para deixar que seus sonhos, tanto os lúcidos quanto os regulares, mostrem como avançar positivamente em sua vida? 5. Você sente que está vivendo um papel ou padrão que lhe foi atribuído? Você é sempre a vítima, o cuidador, o protetor ou o provedor? 2 Emoções, instintos e todos os seus sonhos Muitos de nós já passamos por isso. Quando chegamos a um momento e não acreditamos como isso – como “nós”, “aquilo” ou “as coisas” – aconteceu. Há vários motivos para essa sensação e nenhum deles deve ser condenado. Talvez o seu relacionamento ou casamento não tenha terminado do jeito que você imaginou. Talvez algo muito sagrado para você tenha lhe sido tão constantemente roubado que a única opção pareceu ser se fechar. Talvez você tenha sido tão domesticado na infância que a boa educação tenha virado uma jaula que o atrapalha na sua vida adulta. Talvez você tenha se transformado, sem perceber, na imagem de parceiro, amante, criança ou chefe perfeito, e agora isso é tudo que os outros, incluindo você mesmo, podem ver. Por acaso você seguiu um caminho, mesmo que lá no fundo soubesse que era melhor não segui-lo, que o deixou em uma posição difícil. Ou talvez tenha perseguido obsessivamente um grande objetivo para, só depois de conquistá-lo, perceber que não valia a pena o preço alto que você teve de pagar durante a jornada. O que eu mais escuto como resposta a isso não é por que isso aconteceu, como você poderia imaginar. Mas, ao contrário e muito mais angustiante do que isso, é quando – quando isso aconteceu? Nós podemos perder a conexão com a nossa vida instintiva com muita facilidade se não formos cuidadosos. A natureza instintiva é a nossa parte não domesticada que sabe profundamente como navegar no terreno e nos ciclos da vida. Seja por causa das pressões sociais ou culturais, traumas ou escolhas próprias que nos causam mal, nós ficamos desconectados de nossos instintos e nossas emoções. Algumas vezes a perda acontece de maneira lenta. Como quando você se torna pai ou um CEO e, de repente, em uma manhã alguns anos depois, percebe que está infeliz. Você deixou as suas necessidades em segundo plano, não apenas as mais básicas, mas principalmente aquelas necessidades instintivas profundas que o fazem se sentir realizado. Você sacrificou o seu bem-estar por algo ou alguém. Em outros casos, a natureza instintiva é perdida no momento que um acordo é feito. Eu vejo isso com mais frequência em pessoas que estão em casamentos sem amor. Em que todas as suas necessidades financeiras estão sob controle, mas ao alto custo de ter de ser o parceiro aparentemente perfeito. Ou quando alguém vive um trauma tão profundo que sua conexão com a própria natureza instintiva fica danificada como consequência direta. Por sorte, a natureza instintiva não está preocupada com o que aconteceu ou não. Ela só está preocupada com onde você está agora e se está disposto a se reconectar com ela. A natureza instintiva não se importa se você é o pai, parceiro, amante ou chefe perfeito. E com certeza não se importa com quanto dinheiro você tem. A natureza instintiva só está preocupada com o quão bem você lida com a sua vida. Ela está esperando você perguntar: Eu estou bem cuidado e vivo? A vida onírica torna-se altamente provocativa quando perdemos contato com nossa natureza instintiva. Essa é a medida da psique para contrabalançar e restabelecer o seu bem-estar. E aqui uso “psique” em seu sentido original, alma. Sua alma vai chamá-lo para restaurar seus instintos criativos de vida antes que você passe a fazer parte dos mortos-vivos de vez. Ela vai falar em alto e bom som para resgatá-lo do seu torpor. Veja o exemplo a seguir de como a psique pode acenar através de nossos sonhos. Uma mãe e dona de casa tinha se tornado praticamente uma carcaça sonâmbula em sua vida. Em suas palavras, ela relatou para mim que havia caído em um abismo e já não se importava mais. Ela me contou (e reafirmou a si mesma) que estava alegremente casada e que não havia nada de “realmente errado”. Seus filhos eram felizes. Seu companheiro a amava. Eles tinham saúde. Então ela simplesmente se levantava pela manhã e fazia o que tinha de fazer! Mas o abismo ainda estava lá... E a sua vida? Bom, ela continuava com sua vida monótona, não sentindo absolutamente nada. Fria como gelo. Em uma noite, teve um sonho tão poderoso que a forçou a prestar atenção e, ao acordar, ela tinha de descobrir o seu significado de qualquer maneira. O sonho dela foi o seguinte: Abby*[2] está na academia. Ela anda por lá da mesma forma que faz em sua vida desperta, roboticamente, rotineiramente, com uma atitude sem brilho. Ela passa pela área de entrada fazendo um aceno rápido com a cabeça e então começa a seguir em direção à piscina. Enquanto continua andando, ela de repente percebe que a toalha está começando a sair da sua bolsa. Isso a incomoda. Continua seguindo em frente, mas diminui o passo, e tenta enfiar a toalha de volta dentro da bolsa cheia. Quando ela coloca a toalha mais para o fundo da bolsa, outros itens começam então a pular para fora. Ugh! Agora, totalmente focada, ela força tudo para dentro da bolsa. Depois de um pouco de resistência, tudo parece caber de maneira milagrosa dentro da bolsa estufada. Só agora, com tudo isso acontecendo, ela se dá conta de que já havia chegado às escadas que levam à piscina. Ela reconhece mentalmente as escadas e então começa a descer cada degrau com cuidado. Ao descer, degrau por degrau, olha para seus pés. Pé esquerdo, pé direito, pé esquerdo, pé direito: um depois do outro. Um pensamento então surge em sua mente. Ela conhece a academia tão bem (afinal, vai lá todo dia) que provavelmente poderia descer as escadas em segurança mesmo que estivesse vendada. Ela desce o último degrau e sabeque chegou à piscina porque o cheiro do cloro é tão penetrante que ataca seus sentidos. Antes que possa prestar muita atenção ao cheiro, ela percebe, com irritação, que a toalha está pulando para fora de novo. Ela tenta dar um jeito nisso reorganizando os objetos da bolsa com força, até que tudo esteja apertado lá dentro. Então, ela põe sua bolsa no chão e começa a vestir a touca de natação. Consegue colocar para dentro todo o seu abundante cabelo, desconfortavelmente, mas com todo o capricho. Enfim, levanta os olhos e vê a piscina. Mais especificamente, ela vê um lobo sentado na beira da piscina. Seus olhos então vão de um lado para o outro quando ela percebe que está em perigo. O lobo não está fazendo nada além de olhar para ela. Em um instante, ela percebe que ele deveria estar olhando para ela completamente quieto e parado durante todo esse tempo. Esse reconhecimento de que estava sendo observada a faz se sentir bastante perturbada. Ele olha para ela. E agora ela não pode fazer nada a não ser olhar de volta para ele. Ela quer correr, mas suas pernas simplesmente não se movem. Completamente incrédula, ela vê quando o lobo se levanta e fica em pé sobre as patas traseiras, gesticulando para ela pular na água e nadar. Ela acorda suando, aterrorizada. Mas finalmente está viva. O lobo de Abby e as emoções que não devem ser reprimidas Como você acabou de ler, Abby acordou do sonho se sentindo muito assustada. Seu medo era uma resposta visceral à sua psique finalmente a atingindo por intermédio do sonho. Nos meses anteriores, ela não estava sentindo absolutamente nada. Seu sonho, por mais incômodo que tenha sido, encheu-a de emoção, porque em sua vida cotidiana ela estava negando como se sentia. O sonho de Abby não significava um perigo iminente no futuro próximo. Não era premonitório em nenhum sentido. O sonho veio para protegê-la de continuar escolhendo seguir em frente da maneira que estava acostumada. Para ajudá-la a se reconectar com sua natureza instintiva e, ao fazer isso, convidar de novo para a sua vida a diversão, a alegria, a criatividade, o amor, as risadas e o sexo. O sonho falou com ela para quebrar as barreiras da vida e da psique de Abby. Curar a conexão com sua natureza instintiva não significa necessariamente destruir estruturas fundamentais. Pode significar apenas que você deve ter alguma alteração a fazer. Às vezes, isso diz respeito a construir (e comunicar) limites a algumas pessoas na sua vida. Outras vezes, só significa abandonar uma crença interior estagnada. Para muitas pessoas, isso significa cuidar da sacralidade espiritual abertamente. O controle extremo sempre suga a vida e, quando o faz, isso pode significar botar essas estruturas abaixo metaforicamente! Não há um “programa de sete passos” ideal sobre como mudar a vida para melhor quando você perdeu contato com seus instintos. É contraditório à própria natureza instintiva sequer tentar delinear isso. Você terá de navegar pelas suas próprias decisões em relação a quaisquer ciclos em que se encontre. Mas eu digo o seguinte: o tempo pode ser um aliado. Tire o tempo que precisar para se reconectar aos seus instintos e então faça as mudanças da maneira que achar melhor. Lembre-se de que sua natureza instintiva, selvagem e profundamente intuitiva testará seus limites de maneiras que sua mente racional pode não entender. Se você sentir que suas emoções estão fora de sintonia; caso se sinta perdido; se sentir raiva; caso se sinta amargurado; se estiver em ebulição; se se sentir estagnado; se estiver confuso; se não sentir nada; se sentir que seu coração se estilhaçou em pedaços de vidro bem pequenos, enchendo o peito de dor, então preste atenção aos seus sonhos, pois eles irão servir como um bálsamo curativo. Eles o guiarão através das imagens que você vê e, principalmente, das emoções que elas provocam dentro de você, redirecionando-o ao que mais precisa. Isto é, direcionando-o de volta à sua natureza mais instintiva e criativa. Se a imagem no sonho é difícil, violenta e turbulenta, há ainda mais motivos para prestar atenção ao que está engasgado, limitado e borbulhante debaixo dos alicerces da sua vida. Para Abby, isso significou redescobrir quem ela era, e foi extremamente útil pensar no que ela amava fazer antes de se tornar mãe e esposa. Ela se libertou da autoimposição de ser a “mãe perfeita”. Ela redescobriu sua sexualidade – um processo do qual desfrutou completamente. Ela acrescentou uma prática inegociável de, todos os dias, dedicar um tempo para checar como estava realmente se sentindo. Ela começou a comer sem se criticar e encontrou um grupo de outras mulheres que se tornaram verdadeiras amigas. Ela parou de competir e começou a se conectar. Nada disso aconteceu da noite para o dia; na verdade, levou muitos meses. Mas o tempo se tornou irrelevante, porque ela estava vivendo a vida, experimentando-a, e não seguindo de modo enfadonho, como a carcaça de uma mulher. É quando você admite a verdade de maneira radical para si mesmo que as coisas começam a mudar de fato. Você não pode fazer um laço em volta de um monte de mentiras e chamar isso de buquê. Desse modo, não importa em que ponto você esteja hoje em relação à sua natureza instintiva, saiba disto: sua vida onírica vai lhe mostrar o caminho de volta. Vai lhe dizer quando for hora de descansar, insistir, brigar, amar ou deixar para lá. Vai lhe dizer exatamente como transformar e transmutar o que quer que o esteja prendendo. A natureza instintiva é sobre sentir do seu jeito por completo. Talvez você possa passar uma tarde ao ar livre relaxando no sol. Ou uma noite dançando sob as estrelas para que o seu coração seja bem cuidado. Talvez você possa se permitir esquecer da sua aparência e só curtir o seu corpo. Lembre-se: cuidar da natureza instintiva não é algo que se faz uma única vez, mas fazer pelo menos uma ação cheia de intenção e criatividade pode despertar sua conexão com ela de novo. A natureza instintiva não está preocupada com gênero A natureza instintiva está dentro de todos nós – independentemente de como nos identificamos – e, apesar de eu ter apresentado a história anterior com um exemplo feminino, qualquer um pode perder sua conexão com a natureza instintiva. Muitas pessoas são socializadas com pensamentos estereotipados, como pensar somente em fazer dinheiro ou criar um lar. Isso pode resultar na perda da natureza instintiva se não há espaço para a pessoa explorar todas as suas facetas. Eu vi muitos homens sofrerem com a perda da natureza instintiva porque foram criados para serem “homens de verdade”, que não demonstravam vulnerabilidade. A sociedade também decepcionou os homens de muitas maneiras. Homens se esquecem de que também podem cultivar uma vida interior rica. Que eles podem ser mais do que apenas “homens de verdade” e que podem parar de focar na competição feroz por dominação, mesmo que momentaneamente, para poder alimentar as necessidades da alma. Se você está se convencendo de que começará a viver de verdade ou que vai fazer “X, Y e Z” depois de alcançar aquele objetivo, então talvez você possa simplesmente reconhecer como está se sentindo agora. Se você cuidar da sua vida interior, vai começar a se sentir mais vivo, não importa em que circunstâncias se encontre. Nunca haverá um momento certo em que tudo se alinhará e então, finalmente, você será capaz de desfrutar da vida. Quanto mais atenção você dedicar a ouvir a sua natureza instintiva, mais prazerosa será a jornada no caminho até o seu objetivo. Sua natureza instintiva é magnética, mas ela requer viver de maneira autêntica – e isso vale para todos nós. Sonhos facilitam a cura quando preciso, muitas vezes independentemente de você achar isso conveniente ou não Quando você se sente desconectado de sua natureza instintiva, é muito comum ter sonhos em que está sendo perseguido ou ameaçado de algum modo. Sobretudo quando você está se sentindo emocionalmente sobrecarregado no seu dia a dia. Também é comum sonhar com animais que estão em perigo ou de algumamaneira machucados e precisam de ajuda. Geralmente, a forma com que você cuida dos animais feridos é um indicativo da sua habilidade atual de facilitar a cura interior. De outra maneira, você pode sonhar com algo ou alguém de fora que o salva (ou tenta salvá-lo). Ambas as versões são indicativas de transmutação, isto é, um cordeiro machucado é tratado para que possa andar novamente. Uma águia voa sobre você e ataca uma figura oculta que está lhe perseguindo. A ajuda vem na forma de qualquer imagem onírica que seja mais tocante para a sua personalidade. Você também descobrirá que é bem comum sonhar com “experiên cias animais” incríveis quando estamos em sintonia com nossos instintos. Por exemplo, um sonho em que você está montando, confortavelmente, um lindo cavalo na direção que pretende ir. Por outro lado, se você não tem nem ideia de para onde está indo, e o cavalo está galopando a uma velocidade alarmante, o sonho pode estar te alertando para o fato de que você está sendo regulado por seus desejos e suas motivações internas. Que você precisa retomar o controle dos seus desejos mais básicos na vida desperta. Vamos dissecar o sonho de Abby para um maior entendimento, uma vez que ele é rico em mensagens e significados simbólicos. Ela está na academia, um lugar que conhece bem. (A academia é a representação de sua psique.) Ela não está preocupada com as pessoas ou distrações da academia. Ela está preocupada com a sua bolsa e todas as coisas que ficam pulando para fora. (A bolsa é a representação de seu estado emocional.) Ela está enfiando tudo para dentro. Em outras palavras, está tentando manter todas as emoções contidas. Mas aquela maldita toalha irritante, um item que a mantém quente e seca, continua saltando para fora. Suas emoções precisam ser libertadas e elas encontrarão um jeito de fazer isso, assim como a toalha faz. Ela desce as escadas para a piscina e tem o pensamento de que poderia ter feito isso de olhos vendados. (Ela pode navegar instintiva e intuitivamente na descida até as camadas de sua psique – ela não precisa ver efetivamente para onde está indo.) Ela prende o seu belo cabelo dentro de uma touca de natação desconfortável. (De maneira geral, o cabelo é uma representação de sexualidade e/ou força em sonhos e histórias.) Ela chega à piscina. (A piscina é um símbolo de seu inconsciente, porque ela teve de descer as escadas para chegar até lá. Se a piscina fosse no andar de cima, isso poderia significar outra coisa.) Então ela vê um lobo solitário que sinaliza para ela pular e nadar. Uma mensagem nítida para Abby prestar atenção ao seu inconsciente, às suas emoções, à sua intuição (a piscina e nadar) e encontrar seus instintos novamente (descobrir o lobo interior)! A mensagem central do sonho foi para ela reavivar a conexão com sua natureza instintiva. Assim como Abby, os seus sonhos também lhe oferecem orientação sobre como usar as emoções e os pensamentos para cura e bem-estar. O papel dos seus sonhos no processo de transformação e renascimento Na vida desperta de Abby, ela experimentou uma catarse. Ela se livrou de toda aquela emoção reprimida. Como resultado direto da orientação contida no sonho, ela fez as mudanças necessárias na sua vida para que pudesse parar de fingir e realmente se sentisse bem de verdade! E nós não queremos nos sentir bem o máximo que pudermos? Quando suas emoções estão bloqueadas, os seus instintos são naturalmente suprimidos e, com isso, a conexão com a intuição também é sufocada. Se você fechar ou represar a conexão com suas emoções, se sentirá preso. Esse também é o caso para o extremo oposto do espectro. Se expressar todas as suas emoções de qualquer jeito, sem considerar as consequências, você também se sentirá desconectado. No último caso, você está preso em uma purgação emocional. Apenas pense em alguém que não consegue conter as frustrações ou a raiva e sempre se arrepende depois. Ou pessoas cujas emoções são tão hostis que dominam suas interações e relações independentemente de emoções e sentimentos da outra pessoa. Em cenários como esse, o sonho mostrará ao sonhador símbolos que conversem com essas emoções desreguladas. Uma pessoa experimentando raiva descontrolada pode sonhar com um assassino em série que o persegue sem parar. Ou o símbolo onírico proverá ao sonhador regulação emocional na forma de uma simbologia oposta. Uma pessoa emocionalmente explosiva pode sonhar com cenários muito serenos e corpos d’água com os quais ela interage. (Se tiver um monstro espreitando na água, do qual o sonhador subitamente se dá conta, isso mostra que quem sonha está lidando com algo abaixo da superfície de sua consciência. O monstro interior agora está pronto para ser visto e testemunhado. Isto é, os sonhos o alertam para a possibilidade de encarar o “monstro emocional” ao invés de fugir dele.) Dito isso, símbolos oníricos que realçam o bem-estar emocional normalmente aparecem como recipientes. No sonho de Abby, a bolsa de academia é o recipiente simbólico! Pode ser qualquer tipo de recipiente, como carros, bolsas ou até mesmo um Tupperware. Há uma boa razão para isso: os recipientes são receptáculos que guardam conteúdo dentro deles. Nesse caso, conteúdo emocional. Quando não nos sentimos emocionalmente contidos, na maioria das vezes não nos sentimos seguros na presença do espectro total de nossas emoções e experiências da vida. Então nossos sonhos vêm nos alertar sobre a nossa própria habilidade de presenciar, experimentar e abraçar (conter) nossas emoções e experiências da vida. Assim, nós sonhamos com símbolos de contenção, como cestas, bolsas e até mesmo caixões – geralmente em formas e condições diferentes. Em outras palavras, imagens e símbolos oníricos revelam o quão seguro emocionalmente o sonhador se sente. Por exemplo, se os recipientes simbólicos no sonho estão quebrados, velhos e caindo aos pedaços, então os padrões emocionais do sonhador são muito provavelmente os mesmos. Ele pode se sentir ameaçado, quebrado, sobrecarregado, soterrado e emocionalmente desamparado. Nós todos precisamos ser emocionalmente vistos e ouvidos. Nossos sonhos conversam com o quanto nós sentimos que estamos ou não recebendo esse tipo de reconhecimento emocional, amor e apoio, tanto de nós mesmos quanto das pessoas com as quais nos relacionamos. Então, se você está emocionalmente fechado, ou à mercê de tudo aquilo que sente, há um desequilíbrio. Isso não significa que você não deva se sentir do jeito que sente. Na verdade, é o oposto disso. Sinta os seus sentimentos, mas saiba que eles são temporários na fluidez da sua expressão. Se você estiver preso em uma maneira crônica de se relacionar ou expressar emocionalmente, então você saiu do seu alinhamento. Isso acontece com todos nós de tempos em tempos, logo, não é algo que deve fazê-lo se sentir mal. Nosso trabalho do sonho simplesmente nos ajuda a voltar para o alinhamento com mais rapidez. Ficar em equilíbrio e alinhamento emocional geralmente requer um desbloqueio. Desapegar da maneira de lidar com as coisas do mesmo jeito de sempre. Uma libertação do que está guardado em excesso; uma variedade de catarses. Se permitirmos isso, nós seremos capazes de chegar a um ponto em que a transformação pode acontecer, uma vez que a emoção (aquela se escondendo atrás do gatilho, da expe riência, daquela pessoa ou do passado) for inteiramente reconhecida, sentida, confrontada e então liberada. Nós vemos isso nitidamente no caso dos sonhos de maremoto. O sonho de maremoto A essência do sonho de maremoto é centrada ao redor de uma imagem (chamada de imagem central) que deixa o sonhador se sentindo indefeso. Apesar do nome, a imagem central nem sempre precisa ser um maremoto (mas muitas vezes é!). Pode ser um incêndio, um grupo de militantes assustadores ou um tornado, por exemplo. É simplesmente uma imagem principal que domina o seu sonho e o torna angustiante de vivenciar. O termo foi cunhado pelo ilustre pesquisador Dr. Ernest Hartmann. A partir de suas pesquisas e do trabalho com incontáveis pacientes,ele percebeu que aqueles que haviam sofrido um trauma na vida desperta muitas vezes experimentavam um tipo de sonho que ele chamou de “sonho de maremoto”. Em sua forma mais verdadeira, a onda de maremoto no sonho não diz respeito a repetir um evento ou uma memória traumática. É sobre a habilidade da mente de criar uma nova imagem, para ajudar o sonhador a se adaptar emocionalmente ao que aconteceu, evidenciando a emoção e os sentimentos dominantes que estão permeando a sua vida. Uma onda gigantesca deixaria qualquer um indefeso, então a ideia não é vencer o medo, e sim processá-lo, e experimentar, ou reviver, sentimentos de vulnerabilidade de uma maneira que seja realmente útil, quando o sonhador reconhece e faz algum progresso sobre como se sente. Então, ter um sonho de maremoto é um sinal evidente de que você deve realmente despejar autocompaixão sobre si mesmo e olhar para o que precisa ser curado. Também pode ser útil obter assistência externa e profissional para ajudá-lo a lidar com o seu processo de cura. Se você estiver angustiado como consequência de ter vivido um trauma, por favor, saiba que seus sonhos não estão tentando machucá-lo. Sua mente não está contra você. Ao contrário, todo o seu ser está tentando se recuperar de um evento terrível e, nesse processo, tentando fazer você reestabelecer um estado de bem-estar. Seus sonhos são uma parte ativa do processo de se adaptar e se curar. Mais uma vez, nos nossos sonhos, frequentemente as emoções assustadoras e transbordantes são trazidas à nossa atenção, do jeito que for necessário, para que possamos transformá-las para melhor. Não me surpreende que esse tipo de sonho muitas vezes venha na forma de águas, pois quando você se torna indefeso, literalmente é inundado com emoções que são inescapáveis. O trabalho de cura então situa-se em liberar essa inundação de emoções antes que elas fiquem armazenadas no corpo. É importante trazer o seu material onírico à luz, começando a lidar com o que você passou e sabendo como realmente se sente. Você não precisa começar esse processo sozinho – peça ajuda e obtenha apoio. Saiba que existem muitos caminhos para a cura e ainda mais para sentir alegria e bem-estar novamente. Regulação emocional diária através dos sonhos Experiências comuns – isto é, aquelas que não são traumáticas – e as emoções ligadas a elas também influenciam nossos sonhos. Inclusive, muitos estudos científicos provaram que isso é real, especificamente o trabalho da Dra. Rosalinda D. Cartwright. Apenas pense em quantas vezes você viveu algo carregado emocionalmente (tanto positiva quanto negativamente) no decorrer do seu dia e então teve um sonho relacionado a isso naquela noite ou semana. Por exemplo, talvez você tenha conhecido alguém incrível na academia e mais tarde, naquela mesma noite, você sonha que foi a um show com aquela pessoa. Ou talvez o seu vizinho tenha feito um comentário inapropriado, do qual você riu no momento, para então depois se ver em seu sonho levando-o ao hospital. Seus sonhos ajudam a regular as emoções sem o seu esforço consciente. A pesquisa científica da Dra. Cartwright evidencia a importância e os benefícios disso: ao longo de uma noite, a maioria de nós tem tipos muito diferentes de sonhos, e eles reduzem de intensidade emocional com o decorrer da noite. Esse é o motivo de muitas vezes acordarmos nos sentindo melhor do que estávamos quando fomos dormir. Nossos sonhos nos ajudam a processar emoções durante a noite, diminuindo a intensidade delas e transformando-as em memórias (por sorte, isso acontece todas as noites, independentemente de conseguirmos lembrar dos sonhos no dia seguinte!). Por fim, nossos sonhos estão nos guiando para um bem-estar maior. Então, esteja você alinhado com o seu bem-estar ou não, verá que os seus sonhos o ajudarão a regular como se sente. Você pode simplesmente focar em ter um bom descanso durante a noite e deixar os sonhos fazerem o trabalho por você! Sentir-se bem e a honestidade das emoções Eu imagino que alguns de vocês, assim como eu, de vez em quando acham que é impossível se sentir bem. A morte de um ente querido, um dia ruim, uma doença, um bebê que nasce sem vida, uma perda de renda, uma pandemia – essas são todas experiências difíceis de atravessar. E a dificuldade delas não deve ser encoberta com chavões de positividade. Estar em contato com as emoções não é sobre fingir estar bem quando as coisas vão mal. Às vezes, sentir-se bem é só ser capaz de expandir o espaço entre os estímulos externos e suas reações. Muitas vezes, um maior bem-estar é simplesmente reconhecer que você tem o poder de escolher o bem-estar mesmo em situações devastadoras. Escolher autocompaixão ao invés de culpa debilitante e autocrítica porque, mais uma vez, você se encontra em uma situação em que não gostaria de estar. Não existe nenhuma emoção desnecessária. Força emocional é sobre ser capaz de se mover através da expressão da emoção sem ficar preso. A raiva é uma poderosa motivação e nos protege quando os limites são violados. Luto, uma forma de honrar um amor bem vivido. Tristeza, uma chave para a mudança. Fúria, um chamado para botar abaixo estruturas limitantes. Todas essas emoções nos direcionam para um bem-estar maior. Emoções não são destinos finais. Elas são indicadores fluidos da experiência de vida. Quando fazemos o trabalho emocional, nos sentimos naturalmente bem, sem ter de nos convencer mentalmente de que estamos bem. No momento em que se experimenta diversão, amor e alegria, você não precisa ficar reafirmando: “estou feliz”, “estou feliz”. Você simplesmente sente isso com toda a capacidade do seu ser. Ainda assim, quando estamos passando por momentos difíceis, é útil lembrar a nós mesmos: “eu conheço a alegria”. Eu conheço a alegria. Eu conheço a alegria. E escolher esse caminho várias vezes, permitindo que seus sentimentos fluam através de você, para se alinhar ao bem-estar, mesmo quando isso parece ser impossível. Sonhos de aviso e bem-estar No livro Dreams That Can Save Your Life: Early Signs of Cancer and Other Diseases[3], os autores, Dr. Larry Burk e Kathleen O’Keefe-Kanavos, compartilham histórias e evidências de pessoas que tiveram sonhos sinalizando que alguma coisa estava errada com a sua saúde, o que mais tarde se descobriu ser verdade. Uma história em particular vem de uma mulher chamada Diane. Diane teve um sonho incrivelmente vívido em que ela era operada para a retirada de um nódulo cancerígeno em seu seio. Tão vívido que, ao acordar, ela marcou uma mamografia. Alguns dias depois, Diane descobriu que estava de fato com câncer. Ela ficou perplexa, assim como o médico. O livro é recheado de exemplos de relatos de pessoas que tiveram sonhos que as alertaram para algum tipo de doença e que, mais tarde, se provaram precisos por meio de exames médicos. É possível reconhecer um fator essencial para esses sonhos de aviso: todas as pessoas no livro sabiam que havia algo significativo naquele sonho. Ele não se parecia com os outros sonhos. Não eram resultado de “resíduo do dia” ou ansiedade. O que significa que elas não assistiram a um filme ou falaram com algum amigo que tivesse câncer (por exemplo), o que então teria feito com que ficassem ansiosas, e mais tarde naquela noite sonhassem que elas mesmas viviam isso. Não, esses sonhos pareciam experiências diferentes do normal; pareceram importantes, mexeram profundamente com os sonhadores e, geralmente, aconteceram do nada. Não podemos provar definitivamente se os sonhos foram uma forte mensagem do universo ou simplesmente um conhecimento interno reprimido dando as caras na vida onírica. O que nós sabemos de fato, entretanto, é que esses sonhos literalmente salvaram a vida dessas pessoas, porque elas foram impulsionadas a tomar uma atitude por causa da orientação que receberam. Um conselho que pode chegar para todos nós. Em sonhos comuns, você também pode ser alertado sobre algo em que precisa prestar atenção e que deveria enfrentar. Não precisa ser necessariamente sobre sua saúde; pode ser sobre