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A participação da comunidade na gestão democrática da Escola

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A participação da comunidade na gestão democrática da 
escola 
 
DZIOBA, Dalciana Gessi1 
BARION, Isabel Francisco de Oliveira2 
 
 
RESUMO 
 
Este artigo tem por finalidade contribuir com a discussão acerca da participação de 
todos os segmentos e membros da comunidade escolar na gestão democrática da 
escola. Tais discussões podem contribuir para a melhoria da relação e organização 
do trabalho diretivo e pedagógico no ambiente escolar, buscando a conectividade, 
coesão e cooperação entre os membros da equipe escolar, por meio da participação 
da comunidade na gestão democrática. O artigo discorre a teoria que envolve todo o 
entendimento do conceito da gestão democrática e suas implicações no seio 
escolar, por meio da fundamentação teórica e do conceito de participação e trabalho 
coletivo. O interesse por debater tal assunto, partiu da constatação de que no 
contexto escolar, existe pouco entendimento teórico sobre o assunto, e o 
envolvimento prático se limita em debates cotidianos que não se efetivam em ações 
práticas na proposta pedagógica da escola. Além do embasamento teórico, o artigo 
explana a trajetória transcorrida durante estes dois anos de PDE, passando pelo viés 
da teoria e chegando ao árduo trabalho do chão da escola, com professores, 
funcionários, equipe pedagógica e diretiva do Colégio Estadual Pe José Canale, do 
município de Apucarana – Paraná, na busca de uma nova visão e ação de todo o 
colegiado em relação à melhoria da participação na gestão escolar, elegendo a 
democracia e a participação como ferramentas primordiais para a efetivação de um 
envolvimento significativo de todos neste processo. 
 
Palavras-chave: Democracia. Gestão Democrática. Participação. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Este texto é resultado do trabalho desenvolvido no PDE (Programa de 
Desenvolvimento de Educação) do estado do Paraná e tem como objetivo discutir a 
Gestão Democrática e a sua efetivação a partir da participação da comunidade, 
elegendo o diálogo como item indispensável para o fortalecimento e acerto prático 
 
1
 Professor da Rede Estadual do Paraná – Graduada em Química – UNOPAR/PR. Especialista 
em Gestão Escolar e Educação Especial. E-mail: dalciana.dzioba@escola.pr.gov.br. 
 
2 Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá; Professora do Departamento 
de Educação da Universidade Estadual de Londrina/PR; Professora do Ensino Fundamental no 
Município de Londrina. E-mail: isabelbarion@hotmail.com. 
 
mailto:dalciana.dzioba@escola.pr.gov.br
mailto:isabelbarion@hotmail.com
da teoria objetivada. Para Bordenave (1983), o processo de diálogo e colaboração 
deve permear todos os setores, com participação ativa entre os sujeitos envolvidos, 
com a democracia guiando as possibilidades, decisões e atuações desses sujeitos 
nas decisões que acorrem no interior da escola. 
E para que estas ações estejam em consonância tanto com as Leis de 
Diretrizes e Bases da Educação (LDB. 1996) como com a Constituição Federal 
(BRASIL, 1988), é necessário se apoderar da gestão democrática como alavanca 
inicial de toda e qualquer discussão, decisão e ação dentro da escola. 
A necessidade de participação da comunidade se deve à responsabilidade 
de todos na tomada de decisões, o que colabora para a abertura de espaços de 
debate entre os profissionais da educação e comunidade em geral, visto que, os 
vários problemas enfrentados na escola, tanto os de nível pedagógico quanto os 
burocráticos, não devem ficar à margem do conhecimento dos sujeitos envolvidos no 
processo. Assim, o aprofundamento do estudo sobre este tema, mostrou a 
necessidade de expor e evidenciar a gestão democrática para todos os segmentos 
da escola, confiando ao conhecimento a chave que abre as portas para o “fazer”, 
pois aquele que conhece mais afundo sobre um assunto, se encontra mais apto a 
fazer algo melhor em prol daquela situação. 
Por isso, durante todo esse período de estudos do PDE, a busca pela 
elucidação do termo democracia foi sempre o foco inicial do processo, caracterizado 
como um princípio norteador e que nos inicia neste processo de cidadania, quando 
dependemos de mais vozes para se eleger um líder ou tratar de assuntos que estão 
à nossa volta, para que a partir desse 'líder', possamos continuar a exercer uma 
participação apurada, eficaz e respeitosa. 
A escolha do tema se baseia em toda essa necessidade e busca pela 
participação da comunidade escolar, através da gestão democrática, desmistificando 
a atuação de uma direção centralizada em um só indivíduo, o que culminou com a 
projeção e aplicação de um grupo de estudos realizado com professores, 
funcionários, equipe pedagógica, equipe diretiva e comunidade em um colégio 
estadual da cidade de Apucarana; além de um outro grupo de estudo virtual, o GTR 
online, realizado com cerca de 20 professores da rede estadual de educação do 
estado do Paraná, de diversas cidades, onde buscou-se o entendimento sobre o 
assunto, explicações sobre o porquê na teoria (documental) a ação democrática 
funciona e na prática muitas vezes ela é embebecida de problemas; gerando ideias 
e possíveis caminhos para a efetivação da gestão democrática quando esta não 
estiver evidenciada na escola, sabendo que o esforço deve partir de todos e que, 
somente por meio de uma equipe unida é possível construir uma escola democrática 
capaz de formar cidadãos conscientes, críticos e prontos para atuarem na sociedade 
e no mundo do trabalho. 
A metodologia de elaboração deste artigo, baseou-se em textos, teses e 
dissertações de alguns autores que destacam a participação como elemento 
essencial para se alcançar a tão sonhada gestão democrática, como Dalila Andrade 
de Oliveira, Vitor Henrique Paro e Ruan Bordenave, iniciando por estudos 
referenciais sobre o tema e a legislação que normatiza a gestão democrática dentro 
da escola, passando pela necessidade da participação efetiva de todos na atuação 
desta gestão e pelo entendimento sobre a função de cada, culminando em 
resultados e ações que já estão sendo colocadas em prática em nossa comunidade 
escolar. 
 
1. Da democracia e gestão democrática à participação dos agentes no 
processo escolar 
 
A implementação de práticas de participação coletiva em todos os processos 
educativos dentro da escola é fundamental para se romper com qualquer prática 
autoritária e ideológica da gestão escolar nos dias atuais. Porém, essa efetivação 
ainda é uma prática que surge do aprendizado coletivo e da necessidade de se 
repensar a organização escolar como um bem que serve ao interesse do bem estar 
de todos. Paro (2001), analisa a influência positiva da escola na vida das pessoas, 
indicando elementos para pensarmos e rediscutirmos a escola autoritária com a 
finalidade de direcioná-la para uma escola voltada para a emancipação e a 
participação democrática. 
Portanto, ao iniciar os estudos dessa temática proposta, verificou-se a 
necessidade de se buscar o entendimento do termo 'democracia' antagônico ao 
autoritarismo, o que guiou todo o pressuposto deste artigo e que surgiu pela primeira 
vez no pensamento de políticos e filósofos gregos na cidade de Atenas, durante a 
Antiguidade Clássica, onde atenienses liderados por Clístenes estabeleceram o que 
é tido como primeira experiência democrática (em 508 – 509 a.C.), eles se reuniam 
em praça pública para tratar de vários assuntos, tomando decisões conjuntas, a 
chamada Democracia Direta. Com o crescimento das reuniões, um novo tipo surgiu, 
a Democracia Representativa, onde se elegiam líderes para tomar as decisões em 
nome da população, ou de uma parte dela. 
O termo “democracia‟ do grego significa: demos, “povo”, e kratos, 
“autoridade”, e segundo o dicionário Aurélio: “1- Governo do povo; soberania 
popular; democratismo. 2-Doutrina ou regime político baseado nos princípios da 
soberania popular e da distribuição equitativa do poder”. Vallim (2004) identifica eresume como “o governo do povo, para o povo, pelo povo”, pois é o povo quem toma 
as decisões políticas importantes, direta ou indiretamente por meio de seus 
representantes eleitos. 
Porém, será que conhecer a definição de democracia e respeitá-la, garante 
sermos cidadãos democráticos? A busca pelo „ser democrático‟ passa pelo respeito 
aos ritmos, dificuldades, linguagem e a cultura de cada um, enfim, pelas suas 
diferenças e igualdades. As propostas não podem ser impostas, precisam ser 
construídas e reconstruídas com as pessoas envolvidas. (VALLIM, 2004). 
Assim, partindo da definição de democracia e buscando uma resposta 
sempre voltada para a democratização escolar e gestão democrática, surge a 
necessidade de se estabelecer essa relação nas tramas educacionais a partir da 
Constituição de 1988 e da LDB de 1996, podemos resumir o seu papel 
administrativo e social, como sendo relevante nas últimas décadas, se 
transformando num eixo central de participação da sociedade na política escolar. 
Porém a sua efetivação ainda depende de mudanças substanciais nas organizações 
escolares e na comunidade que a envolve, visto que muitas práticas na escola ainda 
estão embasadas em princípios autoritários de nosso passado político. 
A afirmação da gestão democrática na educação foi iniciada no Brasil, com a 
reabertura político-democrática, pós Ditadura Militar (1964 - 1985), e a construção da 
Constituição Federal de 1988, que apresentou para a sociedade o princípio da 
“gestão democrática do ensino público, na forma da lei”, disposto no Art. 206, Inciso 
VI. Alguns anos mais tarde, uma lei específica para a educação, a LDB (Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação) de 1996, vem reforçar esse princípio. A partir de 
então, o tema “Gestão Democrática” se tornou um dos mais discutidos, debatidos e 
estudados na área educacional. 
A Lei 9.394/96 que dispõe sobre as Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional, sobretudo no seu artigo 3º, que trata do princípio da gestão democrática, e 
no seu artigo 14 e 15, que trata das normas de gestão democrática para a escola, 
traz ratificado o princípio da gestão democrática. Porém, ela não assegura a sua 
universalização em todos os sistemas de ensino e, ainda, não especifica os 
caminhos para a efetivação desse princípio. (PARO, 1995). 
Observamos as seguintes determinações, sobre gestão democrática, na 
LDB, em seus artigos 14 e 15: 
 
Art. 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão 
democrática do ensino público na educação básica, de acordo com 
as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: 
I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do 
projeto pedagógico da escola; 
II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos 
escolares ou equivalentes. 
 
Art. 15 - Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares 
públicas de educação básica que os integram progressivos graus de 
autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, 
observadas as normas de direito financeiro público. 
 
Os artigos, acima citados, explanam que a “Gestão Democrática do ensino 
público na educação básica, oferece ampla autonomia às unidades federadas para 
definirem em sintonia com suas especificidades, as formas de operacionalização da 
gestão, com a participação dos profissionais da educação envolvidos e de toda a 
comunidade escolar e local”. (PARO, 2005). Mas, na busca pela democracia e por 
uma gestão embasada em tal princípio, precisamos saber definir o seu real 
significado e quais são os caminhos que permeiam essa prática dentro da escola. 
Autores como Dalila Andrade Oliveira (2008, p. 95) e Vitor Henrique Paro 
(2005, p. 16), se referem à questão da democratização da educação, que embora 
não seja nova, efetivamente não está concretizada e precisa para eles, ser 
estudada, formalizada e concretizada na escola. Para Cury (2005), “a gestão 
democrática nos sistemas públicos de ensino e na própria administração dos 
serviços públicos vem sendo objeto de reflexões e indagações”. (CURY, 2005, p.15). 
Nesta linha, é pertinente assinalar mais uma exposição de Cury (2005, p. 
19), para quem a "gestão democrática é um princípio de Estado nas políticas 
educacionais que espelha o próprio 'Estado Democrático de Direito', postulando a 
presença dos cidadãos no processo e no produto de políticas de governo”. 
Concluindo que, os cidadãos querem ser ouvidos e querem ter a presença ratificada 
em ações políticas da comunidade, pois estes estão tendo, cada dia mais, 
consciência de que a construção e a transformação da sociedade, deve partir das 
suas necessidades, assim os mesmos, devem participar da elaboração e dos 
momentos de tomada de decisão. 
Portanto, podemos afirmar que, a gestão democrática educacional, tem 
como eixo fundamental a busca pela efetivação da educação como direito social e 
uma prática político-pedagógica que procura a participação de todos os agentes que 
fazem parte desta trama educativa, requerendo um engajamento coletivo na 
formulação das diretrizes escolares, no planejamento e execução das ações, assim 
como na sua avaliação e reestruturação, quando necessário. Mas concretizar essa 
participação não é nada fácil e demanda de múltiplas relações sociais com a 
comunidade, o que pode gerar um embate entre as mesmas, se não for iniciado de 
forma cordial e estimulado no dia a dia do trabalho escolar. 
 E esse foi o ponto central de todo o debate prático acerca da democracia na 
gestão escolar, realizado com todos os participantes, tanto do GTR, à nível estadual, 
quanto do Grupo de Estudos realizado com professores locais. Pois, após uma boa 
reflexão teórica do conteúdo inicial, adentrarmos nas discussões práticas das ações 
de uma gestão democrática, e sempre chegávamos ao consenso de que a 
'participação' deve ser tomada como 'carro-chefe' de nossas angústias, frustrações e 
vitórias nos processos já experimentados. Mas o que é efetivamente, participação? 
Será que temos conhecimento deste termo? E será que sabemos praticá-lo? 
O conceito de participação social é um conceito, segundo Bordenave (1983), 
que simboliza a influência dos indivíduos na organização de uma sociedade, 
promovendo a subida da população à níveis mais altos de hierarquia, sendo 
transferida assim, da mera dimensão do ativismo superficial para o âmago das 
estruturas sociais, políticas e econômicas da sociedade. (BORDENAVE, 1983, p. 
25). Sendo entendido como um princípio de integração e elevação dos indivíduos 
nos diversos ramos da sociedade, discutindo, elaborando, diagnosticando, 
resolvendo e disseminando assuntos pertinentes ao contexto social em prol de todos 
os assuntos e grupos que compõem a localidade. 
Neste contexto, a participação torna-se um instrumento primordial para o 
funcionamento de um Estado Democrático, quisá da gestão democrática, além de 
que, Bordenave (1983, p. 13) também indica que a participação garante o controle 
das autoridades por parte do povo, visto que as lideranças centralizadas podem ser 
levadas mais facilmente à corrupção. 
Mas, para que se tenha, de fato, uma gestão democrática participativa, a 
comunidade deve estar comprometida com a proposta da escola, assim, o termo 
“gestão democrática” passaria do nível de discussão teórica para um nível de real 
envolvimento das várias instâncias da escola, no planejamento, nas decisões e 
ações. Nessas instâncias citadas, eleva-se o valor da participação da comunidade 
dentro da escola, através dos conselhos escolares, o grêmio escolar, as APMF‟s 
(Associações de Pais, Mestres e funcionários da escola), da boa elaboração e 
efetivação do Projeto Político Pedagógico, da divulgação e transparência na 
prestação de contas; da avaliação institucional da escola, da eleição de diretores 
(prática iniciada na década de 70, mas que ainda não se encontra efetivada em 
todas as unidades federativas), entre outros. 
 
2. Do aprofundamento teórico àmudança de postura frente à participação de 
todos na gestão democrática 
 
Após horas de estudo e aprofundamento teórico sobre os principais termos e 
temas que norteiam a ideia central de debate desta tese entre os envolvidos nos 
grupos de estudo realizados, partiu-se para a idealização de como prosseguiríamos 
com o trabalho proposto. E ficou clara a necessidade de todos em fazer acontecer e 
buscar ações que concretizem a participação dos envolvidos no processo escolar 
para a efetivação da gestão democrática na escola. 
Posterior à pesquisa teórica, foi adotada uma prática de pesquisa 
participativa e colaborativa entre professores, equipe diretiva, equipe pedagógica e 
demais funcionários da escola, para a coleta de dados e informações pertinentes ao 
desenvolver dos próximos passos e finalização da fundamentação teórica. Logo 
após, em cada encontro, a proposta passou a ser o destrinchamento dos dados para 
o surgimento de estratégias de ação, que poderiam contribuir para a melhoria da 
dinâmica de ação de todos no cotidiano da escola. 
As conclusões foram surgindo encontro a encontro, e um consenso geral 
surgiu, de que devemos buscar em nossas ações dentro da escola, o fortalecimento 
da gestão escolar democrática, organizando o trabalho pedagógico numa vertente 
onde as ações sejam tomadas levando em conta as relações pessoais e o 
envolvimento dos que compõem o grupo, pois como afirma Paro (2006, p.25), “não 
pode haver democracia plena sem pessoas democráticas para exercê-las”, e que a 
gestão deve ser compartilhada entre os membros ativos da escola, como cita abaixo: 
 
O gestor escolar tem de se conscientizar de que ele, sozinho, não 
pode administrar todos os problemas da escola. O caminho é a 
descentralização, isto é, o compartilhamento de responsabilidades 
com alunos, pais, professores e funcionários. Isso na maioria das 
vezes, decorre do fato de o gestor centralizar tudo, não compartilhar 
as responsabilidades com os diversos atores da comunidade escolar. 
Na prática, entretanto, o que se dá é a mera rotinização e 
burocratização das atividades no interior da escola, e que nada 
contribui para a busca de maior eficiência na realização de seu fim 
educativo. (PARO, 2008, p.130). 
 
Porém, durante todos os encontros, observou-se de forma clara, que a 
proposta dessa mudança é complexa e passa por boas práticas administrativas e 
pedagógicas, evoluindo com a vontade de mudar e a participação homogênea dos 
membros da escola sempre se respaldando nos pressupostos de que toda mudança 
requer compreensão, dentro de uma crítica reflexiva nas discussões e debates sobre 
gestão democrática. 
Considerando os aspectos já mencionados, o desacerto entre teoria e 
prática apareceu também como grande protagonista dos debates em defesa da 
gestão democrática, pois ainda se observam muitas dificuldades de conciliação entre 
teoria e prática nas gestões vivenciadas na atualidade. A desarmonia entre esses 
dois contextos devem ser trabalhados na elaboração de uma alternativa 
metodológica que inclua um efetivo trabalho na busca da coletividade e cooperação 
para que ações estratégicas sejam incorporadas e assim a aproximação do grupo 
culmine em melhorias no trabalho educacional, com a resolução dos problemas. 
Mas, como alcançar, ou pelo menos ver surgir, uma gestão democrática e 
participativa na escola? Se a gestão democrática se faz por todos, todos devem 
saber falar e ouvir, discutir e ter disciplina nas decisões, ser bons profissionais: bons 
professores, bons alunos, bons cidadãos, bons funcionários, bons diretores, para 
que o rumo tomado não se perca e o direcionamento do trabalho coletivo, continue 
com liderança, autoridade e não autoritarismo, não fugindo assim, às 
responsabilidades com diplomacia e profissionalismo. 
Uma grande conclusão alcançada foi de que a gestão escolar democrática 
deve ser pautada realmente na democracia, e de que devemos nos guiar pela busca 
de um comunitarismo que surge para alcançar e aprimorar os serviços prestados 
pelo governo, que na realidade são gerenciados pela comunidade para a 
transformação e emancipação do ser humano, papel esse onde o Estado é 
considerado um pai-omisso que procura não perder o controle e a vigilância em 
função de uma pseudodemocracia. (GOHN, 2004, p.63). 
As propostas precisam ser construídas e reconstruídas com as pessoas 
envolvidas, e isso demanda de mais reuniões e encontros entre gestores e 
comunidade escolar, maior engajamento na resolução dos problemas que vão 
surgindo, maior compreensão das decisões tomadas e, sobretudo, de um maior 
aprofundamento teórico sobre o assunto, para que a prática seja consolidada com 
fundamentação, como explana Gadotti: 
 
A gestão democrática [...] se constituirá numa ação prática a ser 
construída na escola. Ela acontecerá à elaboração do projeto político 
pedagógico da escola, à implementação de conselhos escolares que 
efetivamente influenciam a gestão escolar como um todo e as 
medidas que garantam a autonomia administrativa, pedagógica e 
financeira da escola, sem eximir o Estado de suas obrigações com o 
ensino público (GADOTTI, 2004, p.96). 
 
Paro (2005) também acredita nessa relação, afirmando a relevância da 
participação da comunidade e da necessidade de se superar limites e avançar nesta 
participação: 
 
Mas a participação da comunidade na gestão da escola pública 
encontra um sem-número de obstáculos para concretizar-se, razão 
pela qual um dos requisitos básicos e preliminares para aquele que 
se disponha a promovê-la é estar convencido da relevância e da 
necessidade dessa participação, de modo a não desistir diante das 
primeiras dificuldades [...] (PARO, 2005, p. 16). 
 
Além disso, o mesmo explana que é neste contexto que se ganha 
importância a participação da comunidade na escola, no sentido, de partilha do 
poder por parte daqueles que se supõe serem os mais interessados na qualidade de 
ensino. 
Porém, a participação de todos os membros colegiados e da comunidade em 
geral, não é garantia de resolução de todos os problemas do estabelecimento de 
ensino. Gadotti (2004), diz que não podemos pensar que a gestão democrática 
resolverá todos os problemas de ensino ou da educação, mas a sua implementação 
é, hoje, uma exigência da própria sociedade que a enxerga como um dos possíveis 
caminhos para a democratização do poder na escola e na própria sociedade. 
(GADOTTI, 2004, p. 92). 
A partir destas considerações, concluiu-se que é possível conceber uma 
gestão democrática no qual a escola e sua comunidade tenham um papel relevante, 
desde que repensado e colocado em discussão as verdadeiras barreiras que estão 
postas à implantação de uma gestão escolar democrática tão sonhada. Embora 
possa parecer utopia pensar neste tipo de gestão, compreendemos que são os 
sonhos e as buscas incessantes que movem a humanidade, e se o homem é um ser 
racional e transformado pelo trabalho, ele pode trabalhar de forma a racionalizar 
seus relacionamentos e seus envolvimentos, pois é possível a construção desta por 
sujeitos concretos que lutam e constroem a história. 
 
3. Das conclusões aos resultados 
 
Um grande avanço do grupo foi a percepção de que a gestão democrática 
educacional, tem como eixo fundamental a busca pela efetivação da educação como 
direito social e uma prática político-pedagógica que procura a participação de todos 
os agentes que fazem parte desta trama educativa, requerendo um engajamento 
coletivo na formulação das diretrizes escolares, no planejamento e execução das 
ações, assim como na sua avaliação e reestruturação, quando necessário. Mas 
concretizar essa participação não é nada fácil e demanda de múltiplas relações 
sociais com a comunidade escolar, como já descrito anteriormente. 
Os resultados obtidos foram satisfatórios, visto que todo o trabalho 
desenvolvido durante as reuniões do grupo de estudo, iam sendo levadas por um ou 
outro integrantedo grupo, para o grupo maior da escola e comunidade em geral, em 
momentos de descontração de início de aula, do lanche, horas atividades e reuniões 
com colegiados ou com professores; sempre enaltecendo o dever e o direito de cada 
membro na participação das decisões da escola, fortalecendo assim e auxiliando 
cada dia mais a efetivação do poder conjunto de todos no bem maior que é a busca 
pela melhoria da educação para todos. 
A partir de uma correta distribuição da participação escolar, entre todos os 
integrantes da escola, podemos contar com a oportunidade de opinar e participar de 
decisões importantes no processo de ensino-aprendizagem. Fazendo com que a 
participação torne-se um instrumento primordial para o funcionamento de uma 
escola democrática. E essa prezada gestão democrática, deve ter como objetivo, a 
qualidade da educação, assumindo a responsabilidade social de formar para a 
cidadania e incentivando a participação de todos, em quaisquer setores e níveis da 
sociedade. 
Outro importante fator relacionado ao lado positivo de toda esse estudo, 
foram as ações realizadas, como reuniões e palestras com alunos, pais e 
comunidade em geral, para informações e orientações gerais sobre o que é a gestão 
democrática, sobre as leis e diretrizes que norteiam este princípio, procedimentos, 
qual é o papel de cada um na gestão da escola, direitos e deveres da democracia 
escolar, entre outros. Além de um grande trabalho de incentivo à participação da 
comunidade na gestão escolar, tornando-a realmente democrática, pelo incentivo de 
uma maior interação da comunidade nas reuniões escolares, com horários 
diferenciados, para se contar com um maior número de participantes; além da 
abertura para os pais da prestação de contas dos gastos financeiros da escola, entre 
outros. 
Uma boa sugestão, para viabilizar toda essa participação e interação da 
comunidade com a escola, que surgiu durante os encontros, foi a proposta de 
construção de um site da escola, para tornar qualquer situação, convite, informação, 
prestação de contas ou deliberação, mais aberta e próxima da comunidade, 
contando com a agilidade da tecnologia que atrai, aproxima e une a todos. 
A atuação desses sujeitos individuais e coletivos no movimento de 
participação do cotidiano escolar, desconstrói a lógica autoritária e burocrática de 
uma gestão pública, com a possibilidade da família e da comunidade de usufruírem 
das instalações da escola e interagirem no processo de ensino-aprendizagem, 
desenvolvendo a cidadania em sua plenitude, pois a participação eleva a 
responsabilidade e o valor da atuação e ação dos sujeitos envolvidos. 
Assim, a articulação fundamental entre participação e gestão democrática, 
além de ter embasado nossos encontros, em um processo de construção coletiva, 
criou um clima de motivação que fez surgir a perspectiva de mudanças de atitudes, 
que eram objetivadas inicialmente nesse projeto, sendo considerado o resultado 
mais importante alcançado neste processo de estudo, formação e desenvolvimento 
escolar tanto dos gestores, professores, alunos e comunidade em geral de nossa 
escola. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Chegando ao final deste período de estudos teóricos, além do trabalho 
dinâmico e prático realizado durante esta formação do PDE, posso garantir que o 
trabalho não se encerra por aqui, pois, partindo do pressuposto de que esse era um 
trabalho investigativo e mesmo analisando que chegamos a determinadas 
conclusões e ações concretas, ainda existem limitações de ordem teórica e/ou 
metodológica que indicam possibilidades de novos estudos de casos e novas 
perspectivas acerca do tema proposto, visto que a escola é um espaço dinâmico 
onde os pressupostos estão sendo construídos no decorrer do caminho que é 
percorrido por muitos. 
Porém, este estudo produziu algumas considerações que valem à pena 
serem observadas, como o estudo teórico acerca do tema proposto e da 
organização pedagógica, que foi realizado com alguns membros da comunidade 
escolar, que realizaram o grupo de estudos e souberam em inúmeras outras 
oportunidades levar o conhecimento adquirido e debatido a um grupo maior de 
professores, funcionários, alunos e comunidade da escola. 
Outro ponto interessante foi o debate realizado com pais e alunos sobre o 
que é a gestão escolar e qual é a função de cada membro e de cada colegiado 
neste importantíssimo setor da escola, e de como a 'participação' dos envolvidos é 
tida como a chave para se efetivar a legislação vigente que indica a gestão 
democrática como princípio norteador da gestão escolar. 
Com a oportunidade de debater sobre esses assuntos a escola se fortaleceu 
e ganhou em grau de comprometimento e de participação na gestão, transformando 
alguns pontos e corrigindo outros que apenas estavam fora dos eixos, afinando 
assim o diálogo entre os sujeitos atuantes no processo ensino-aprendizagem e 
buscando constantemente a união de ideias e a melhoria no ambiente de escolar. 
No início era um grande desafio, agora apesar dos percalços, observo que 
este trabalho contribuiu com a efetivação da gestão democrática na escola em 
estudo, concretizando o espaço de cada um nas relações entre os sujeitos atuantes 
no processo ensino-aprendizagem, com seus direitos e deveres distribuídos, 
gerando um grande fortalecimento nas ações e decisões de cada situação problema 
que aparece no interior da escola e que nos afeta diretamente nos processos de 
ensino-aprendizagem. 
 
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