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sobre a observação positiva e a existência do romance experimental de maneira concreta fora do campo teórico, ou seja, há um afastamento do autor dos modelos literários realistas: Em literatura, estamos assistindo ao descrédito do naturalismo. O romance experimental, de observação positivista, todo estabelecido sobre documentos findou (se é que jamais existiu, a não ser em teoria), e o próprio mestre do naturalismo, Zola, é cada dia mais épico, à velha maneira de Homero. A simpatia, o favor, vão todos para o romance de imaginação, de psicologia sentimental ou humoristica, de ressureição arqueológica (e pré-histórica!) e até de capa e espada, com maravilhosos embróglios, como nos robustos tempos de Artagnan. (QUEIRÓS, 1951, p.251) A publicação de O Mandarim, em 1880, pode ser compreendida como um reflexo da modificação de direcionamento do estilo, mas não da crítica à sociedade. Salienta-se a presença da imaginação no recurso ao fantástico e do espaço exótico concretizado no Oriente, mas sua preocupação continua a recair sobre o burguês e sua ética voltada ao capital. Após um longo período de elaboração, o romance Os Maias é publicado em 1888. Nesse final de década, diversas manifestações artísticas emergiram na Europa, tais como, o Impressionismo, o Intuicionismo bergsoniano, o decadentismo. Essa mescla de variadas tendências certamente influenciou na elaboração desta obra prima. Enquanto nos romances naturalistas se sobressai um forte condicionamento do meio sobre as personagens, em Os Maias, apresenta-se uma relação inversa: as personagens influenciam o meio em que agem, os ambientes são moldados em consonância com as características das personagens, buscando melhor delinear o universo interior das personagens, a vida psicológica em causa, assim como a reflexão sobre as transformações da sociedade e do contexto português. Conforme explica Carlos Reis (2019): Os Maias revelam um aprofundamento notório dessas indagações: não é possível entender o trajeto pessoal das personagens mais relevantes sem aludirmos ao devir de uma família que, ao longo do século XIX, testemunha, em várias gerações, os acontecimentos históricos, políticos e culturais que decisivamente marcam a vida pública portuguesa. Para além disso, o protagonista do romance vive o destino trágico que, pela via do incesto, conduz a família à extinção. O que permite remeter esse destino, de novo pelo eixo das ponderações simbólico-históricas, para o plano das vivências coletivas; essas vivências envolvem a geração de Eça e, mais alargadamente, o Portugal decadente do fim do séc. XIX, que é aquele que Carlos da Maia observa em Lisboa, quando por algum tempo regressa, em 1887. Por fim, este Eça é o 149