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AULA 2 - CESSAO DE DIREITOS HEREDITARIOS - ACEITACAO - RENUNCIA

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CURSO INTENSIVO 
PRÁTICA EM DIREITO SUCESSÓRIO 
 
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AULA 2 
CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS, ACEITAÇÃO E RENÚNCIA 
 
1. CESSÃO DE DIREITO HEREDITÁRIO 
 
1.1. Previsão legal 
 
Nos termos do art. 1.793 do CC, “o direito à sucessão aberta, bem como o 
quinhão de que disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura 
pública”. A cessão de herança não transfere ao cessionário a qualidade de herdeiro, mas 
apenas lhe outorga os direitos pertencentes ao cedente. 
 
1.2. Requisitos 
 
A cessão de direito hereditário se sujeita a quatro requisitos. São eles: 
 
 Requisito temporal: a cessão deve ocorrer entre a abertura da sucessão e a 
partilha. Antes da abertura da sucessão não é possível, porque não se admite 
cessão de herança de pessoa viva, conforme art. 426 do CC (“Não pode ser 
objeto de contrato a herança de pessoa viva”). Após a partilha, o titular 
disporá de um direito próprio, configurando, assim, verdadeiro contrato de 
compra e venda; 
 Requisito formal: a lei exige que a cessão de direito hereditário seja 
realizada por escritura pública. Isso decorre do fato de que a herança é, por 
disposição legal, um bem imóvel (art. 80, II, do CC); 
 
 
 
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 Requisito subjetivo: exige-se capacidade do agente. Se o cedente for 
incapaz, deverá obter autorização judicial prévia, ouvindo-se, ainda, o 
Ministério Público. Se o cedente for casado, necessitará do consentimento 
do seu cônjuge, haja vista que a herança é considerada bem imóvel (art. 80, 
II, do CC), salvo se casado sob o regime da separação absoluta de bens (art. 
1.647 do CC); 
 Requisito objetivo: a cessão não pode ter por objeto bem singular. Isso 
porque a herança goza de indivisibilidade e universalidade. A ideia é, 
basicamente, a seguinte: com a morte do autor da herança, os herdeiros 
passam a ser coproprietários de todo o patrimônio. Justamente por isso é 
que não se pode admitir cessão de bem singular, sob pena de se ferir o 
direito dos demais herdeiros sobre o bem cedido. A cessão, portanto, deve 
recair sobre uma fração. Para que seja possível a cessão de um bem singular, 
será necessária a concordância expressa de todos os demais herdeiros, da 
Fazenda Pública, eventuais credores, assim como autorização judicial. A 
inobservância desse requisito torna a cessão ineficaz em relação aos demais 
coerdeiros (art. 1.793, §§ 2º e 3º, do CC). 
 
Realizada a cessão, o cessionário se sub-rogará nos direitos do cedente, 
assumindo, ao lado dos demais herdeiros, a titularidade das relações jurídicas 
patrimoniais que compõem a herança. 
Se após a cessão, novos direitos forem conferidos ao herdeiro cedente, em 
consequência, por exemplo, de substituição ou direito de acrescer, esses novos direitos 
não estarão abrangidos na cessão (art. 1.793, § 1º, do CC). 
 
 
 
 
 
 
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1.3. Renúncia translativa 
 
Não raras vezes, o herdeiro “renuncia” em favor de outro herdeiro os seus 
direitos hereditários. Fala-se, nesse caso, em renúncia translativa. Tal renúncia pode ser 
gratuita ou onerosa. 
Além dos requisitos já elencados, é preciso ter em mente, ainda, os seguintes 
pontos: 
 
a) Cessão gratuita a herdeiro não necessário: se o cessionário não for 
herdeiro necessário do cedente, será nula a cessão quanto à parte que 
exceder à de que o cedente, no momento da liberalidade, poderia dispor 
em testamento (art. 549 do CC); 
b) Cessão gratuita a herdeiro necessário: Se o cessionário for descendente ou 
cônjuge do cedente, a cessão importará adiantamento da legítima (art. 544 
do CC); 
c) Cessão onerosa a descendente: se o cessionário for descendente do 
cedente, será necessário o consentimento dos demais descendentes e do 
cônjuge, salvo se casados sob o regime da separação absoluta de bens, sob 
pena de anulabilidade. Isso porque a cessão onerosa equivale a uma 
compra e venda (art. 496 do CC); 
d) Cessão onerosa a terceiro não herdeiro: é possível que a cessão de direitos 
hereditários tenha como cessionário terceiro não herdeiro. Quando a 
cessão for onerosa, o herdeiro deverá, antes de ceder ao terceiro, notificar 
os demais herdeiros, a fim de que eles exerçam o seu direito de preferência. 
Isso porque, nos termos do art. 1.794 do CC, “o co-herdeiro não poderá 
ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à sucessão, se outro co-
herdeiro a quiser, tanto por tanto”. Se o herdeiro cedente não observar 
 
 
 
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essa regra, qualquer herdeiro poderá impedir a cessão. Para tanto, deverá 
ajuizar uma ação de adjudicação de quinhão hereditário, demonstrando ao 
juiz a inobservância da regra do art. 1.794 do CC e pleiteando, ao final, a 
declaração da ineficácia da cessão e a adjudicação do quinhão hereditário. 
Mas é preciso que o autor da ação a proponha no prazo de 180 (cento e 
oitenta) dias da cessão e deposite em juízo o valor pago pelo cessionário 
(não herdeiro) ao cedente, conforme previsão contida no art. 1.795, caput, 
do CC (“Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da 
cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a 
estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a transmissão”)1. 
Sendo vários os co-herdeiros a exercer a preferência, entre eles se 
distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas 
hereditárias (art. 1.793, parágrafo único, do CC). Caso o herdeiro 
 
1 RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SUCESSÕES. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO 
CPC/1973. NÃO OCORRÊNCIA. INVENTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ART. 522 DO CPC/1973. CESSÃO 
ONEROSA DE QUOTA HEREDITÁRIA À TERCEIRO. DIREITO DE PREFERÊNCIA DOS COERDEIROS. ARTS. 1.794 
E 1.795 DO CÓDIGO CIVIL. AQUISIÇÃO TANTO POR TANTO. NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. NECESSIDADE. 
INDICAÇÃO DE PREÇO E CONDIÇÕES DE PAGAMENTO. IMPRESCINDIBILIDADE. 1. É permitido ao herdeiro 
capaz ceder a terceiro, no todo ou em parte, os direitos que lhe assistem em sucessão aberta. 2. A 
alienação de direitos hereditários a pessoa estranha à sucessão exige, por força do que dispõem os arts. 
1.794 e 1.795 do Código Civil, que o herdeiro cedente tenha oferecido aos coerdeiros sua quota parte, 
possibilitando a qualquer um deles o exercício do direito de preferência na aquisição, "tanto por tanto", 
ou seja, por valor idêntico e pelas mesmas condições de pagamento concedidas ao eventual terceiro 
estranho interessado na cessão. 3. À luz do que dispõe o art. 1.795 do Código Civil e em atenção ao 
princípio da boa-fé objetiva, o coerdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado 
o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até 180 (cento e oitenta) dias após ter sido 
cientificado da transmissão. 4. No caso, apesar de o recorrente ter sido chamado a se manifestar a 
respeito de eventual interesse na aquisição da quota hereditária de seu irmão, não foi naquele ato 
cientificado a respeito do preço e das condições de pagamento que foram avençadas entre este e terceiro 
estranho à sucessão, situação que revela a deficiência de sua notificação por obstar o exercício do direito 
de preferência do coerdeiro na aquisição, tanto por tanto, do objeto da cessão. 5. Recurso especial 
provido. 
 
 
 
 
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interessado tenha ciência da cessão apenas em momento posterior, poderá 
ajuizar a ação e alegar a aplicação da teoria da actio nata; 
e) Cedente casado: se o cedente for casado, salvo pelo regime da separação 
absoluta de bens, a cessão dependerá do consentimento do seu cônjuge, 
conforme previsão do art. 1.647, I e IV, do CC (“art. 1.647. Ressalvado o 
disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do 
outro, exceto no regime da separação absoluta: I - alienar ou gravar de ônus 
real os bens imóveis; (...); IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de 
bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação”). 
 
Cumpre destacar que a cessão de direitos hereditários gera uma verdadeira 
sub-rogação, ou seja, o cessionário se sub-roga no direito do herdeiro cedente, com as 
mesmas qualidades e defeitos. Assim, o patrimônio deixado pelo falecido deve primeiro 
responder pelas dívidas e, somente após, o cessionário receberá o quinhão adquirido. 
Em outras palavras, assim como ocorreria com o herdeiro cedente, o cessionário 
responderá pelo passivo nas forças da herança. 
Nota-se, assim, que a cessão de direitos hereditários é um negócio jurídico 
aleatório, não sendo possível determinar, desde logo, as vantagens do negócio. Há risco. 
Logo, é possível que, na prática, o cessionário, após o pagamento das dívidas deixadas 
pelo falecido, nada receba. Nesse caso, o cessionário não poderá reclamar do cedente 
perdas e danos ou ressarcimento do valor pago. 
 
1.4. Cessão por termo nos autos 
 
A cessão também pode ser feita nos próprios termos do inventário, tendo a 
mesma força e eficácia de uma escritura pública. Nesse caso, os herdeiros cedente e 
cessionário devem apresentar uma petição formalizando a cessão dos direitos 
 
 
 
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hereditários. O juiz, então, determinará a expedição do termo de cessão, o qual será 
assinado pelas partes. 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO – Arrolamento – Decisão 
determinando a juntada de escritura pública de cessão de 
direitos hereditários – Inadmissibilidade – Renúncia simples ou 
translativa que pode ser tomada por termo nos autos – 
Inteligência do art. 1.806 do Código Civil – Recurso 
provido. (TJSP; Agravo de Instrumento 2302461-
37.2020.8.26.0000; Relator (a): José Carlos Ferreira Alves; Órgão 
Julgador: 2ª Câmara de Direito Privado; Foro de Bauru - 1ª Vara 
de Família e Sucessões; Data do Julgamento: 13/01/2021; Data 
de Registro: 13/01/2021) 
 
É possível que a cessão seja feita por procurador, desde que tenha poderes 
especiais para tanto. 
 
2. ACEITAÇÃO DA HERANÇA 
 
2.1. Generalidades 
 
Conforme estudado, aberta a sucessão, transferem-se, automaticamente, a 
posse e propriedade dos bens deixados pelo de cujus aos herdeiros legítimos e 
testamentários (art. 1.784 do CC). Não obstante, o código impõe que o herdeiro aceite 
a herança. Nos termos do art. 1.804 do CC, “aceita a herança, torna-se definitiva a sua 
transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão”. 
A aceitação da herança não é ato constitutivo, ou seja, não é a aceitação que 
fará com que os bens deixados sejam transmitidos aos herdeiros. A transmissão, como 
dito, opera-se de forma automática com o óbito (abertura da sucessão – princípio da 
saisine). A aceitação é ato meramente confirmatório. 
 
 
 
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A aceitação pode ser expressa, tácita ou presumida (art. 1.805, caput, do CC): 
 
 Expressa: manifestada por declaração escrita; 
 Tácita: manifestada pela prática de atos próprios da qualidade de herdeiro. 
Vale lembrar, nos termos do § 1º do art. 1.805 do CC, que “não exprimem 
aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os 
meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória”. 
Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da 
herança, aos demais coerdeiros (art. 1.805, § 2º, do CC). 
 Presumida: é possível que algum interessado ajuíze uma ação contra o 
herdeiro ou formule requerimento nos autos do inventário, a fim de forçá-
lo a dizer se aceita ou não a herança. Em ambos os casos, a 
demanda/interpelação deve ser promovida no prazo de 20 (vinte) dias após 
a data da abertura da sucessão. A inércia do herdeiro faz presumir a 
aceitação. Nesse sentido, dispõe o art. 1.807 do CC que “o interessado em 
que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte dias após 
aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, 
para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por 
aceita”. 
 
2.2. Irrevogabilidade 
 
A aceitação da herança é ato irrevogável, conforme prevê o art. 1.812 do CC 
(“Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança”). Aceita 
a herança, seus efeitos defluem automaticamente, por força de lei, inclusive os efeitos 
tributários. Exatamente por isso é que, após a aceitação, o herdeiro poderá apenas 
 
 
 
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ceder o seu quinhão hereditário, fato que não o isentará do recolhimento do imposto 
sobre transmissão causa mortis – ITCMD. 
 
2.3. Quem pode aceitar a herança 
 
Trata-se de ato a ser praticado pelo próprio herdeiro. Exige-se, evidentemente, 
capacidade. Sendo incapaz o herdeiro, a aceitação será realizada por seu representante 
legal. Estando o herdeiro sujeito a tutela ou curatela, a aceitação dependerá de 
autorização judicial (art. 1.748, II, do CC)2. 
Se o herdeiro for casado, a aceitação não depende do consentimento do seu 
cônjuge, haja vista não se tratar de ato de alienação ou oneração de bens. 
Se o sucessor falecer antes de aceitar a herança, seus herdeiros serão 
chamados. Segundo o art. 1.809, caput, do CC, “falecendo o herdeiro antes de declarar 
se aceita a herança, o poder de aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que se trate de 
vocação adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada”. O parágrafo único 
desse dispositivo prevê, ainda, que “os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes 
da aceitação, desde que concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou 
renunciar a primeira”. 
 
2.4. Aceitação indireta da herança 
 
É possível que herdeiro, objetivando prejudicar seus credores, renuncie a 
herança. Quando isso ocorrer, os credores, no prazo de trinta dias seguintes ao 
 
2 Art. 1.748. Compete também ao tutor, com autorização do juiz: (...); II - aceitar por ele heranças, 
legados ou doações, ainda que com encargos. 
 
 
 
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conhecimento do fato, poderão requerer ao juiz autorização para aceitar a herança em 
nome do renunciante. Trata-se de aceitação indireta. 
Aceita a herança pelos credores e pagas as dívidas, valerá quanto ao 
remanescente a renúncia realizada pelo herdeiro. 
Vejamos como a questão está disciplinada no código civil: 
 
Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, 
renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, 
aceitá-la em nome do renunciante. 
§ 1 o A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias 
seguintes ao conhecimento do fato. 
§ 2 o Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia 
quanto ao remanescente, que será devolvido aos demais 
herdeiros. 
 
3. RENÚNCIA 
 
3.1. Generalidades 
 
A renúncia da herança, diferentementedo que ocorre com a aceitação, será 
sempre expressa, devendo constar expressamente de instrumento público ou termo 
judicial (art. 1.806 do CC). Com a renúncia à herança, a transmissão das relações jurídicas 
patrimoniais tem-se por não verificada. Vê-se, assim, que a renúncia produz efeitos ex 
tunc, ou seja, é como se o herdeiro nunca tivesse herdado. Tratando-se de sucessão 
legítima, a parte do renunciante acrescerá à dos outros herdeiros da mesma classe e, 
sendo ele o único desta, devolve-se aos da classe subsequente (art. 1.810 do CC). 
Trata-se de ato solene, não admitindo sua realização por instrumento 
particular. 
 
 
 
 
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AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. 
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. DIREITO DAS SUCESSÕES. 1. A parte 
agravante refutou, nas razões do agravo em recurso especial, a 
aplicação da Súmula 83/STJ, não incidindo, portanto, o óbice da 
Súmula 182/STJ. 2. Não há falar em violação ao art. 1.022 do 
Código de Processo Civil, pois o Tribunal a quo dirimiu as 
questões pertinentes ao litígio, afigurando-se dispensável que 
tivesse examinado uma a uma as alegações e os fundamentos 
expendidos pelas partes. 3. A natureza jurídica da ação não se 
determina pela denominação atribuída pelo autor no momento 
da propositura da demanda, mas pelo objeto perseguido 
efetivamente, com análise sistemática do pedido e da causa de 
pedir deduzidos na inicial, nascendo justamente dessa análise a 
definição do prazo de prescrição ou decadência. 4. Na espécie, a 
pretensão autoral refere-se à declaração de nulidade de partilha 
efetivada pela inobservância de formalidades essenciais, 
devendo ser afastada a incidência do prazo ânuo previsto nos 
arts 2.027, parágrafo único, do Código Civil e 1.029, parágrafo 
único, do CPC/1973. 5. A renúncia da herança é ato solene, 
exigindo o art. 1.806 do Código Civil, para o seu reconhecimento, 
que conste "expressamente de instrumento público ou termo 
judicial", sob pena de nulidade (art. 166, IV) e de não produzir 
qualquer efeito, sendo que "a constituição de mandatário para 
a renúncia à herança deve obedecer à mesma forma, não tendo 
validade a outorga por instrumento particular" (REsp 
1.236.671/SP, Rel. p/ Acórdão Ministro Sidnei Beneti, Terceira 
Turma, julgado em 09/10/2012, DJe 04/03/2013). 6. Agravo 
interno provido para reconsiderar a decisão de fls. 880-881. 
Agravo em recurso especial não provido. (AgInt no AREsp 
1585676/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA 
TURMA, julgado em 20/02/2020, DJe 03/03/2020). 
 
Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo 
(art. 1.808, caput, do CC). Caso o autor da herança teste algum legado (bem singular), o 
herdeiro pode aceitá-lo e renunciar a herança. Em outras palavras, a renúncia à herança 
não impede a aceitação de legado e vice-versa. Da mesma forma, o herdeiro, chamado, 
 
 
 
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na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, 
pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia. 
Conforme já estudado, não se pode confundir a renúncia abdicativa com a 
chamada “renúncia translativa”, por meio da qual um herdeiro renuncia seu quinhão 
hereditário “em favor de outro herdeiro” (ex.: o herdeiro João renuncia seu quinhão 
hereditário em favor do seu irmão José). Nesse caso, não há, propriamente, renúncia. O 
que há, em verdade, é a aceitação da herança e cessão gratuita a outro herdeiro. 
 Conforme já estudado, se a renúncia do herdeiro prejudicar seus credores, 
poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante (art. 1.813, 
caput, do CPC). A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao 
conhecimento do fato. Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao 
remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros. 
Se o herdeiro falecer antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitar 
passará aos seus herdeiros, a menos que se trate de disposição testamentária sujeita a 
uma condição suspensiva, ainda não verificada. Naturalmente que se a condição não se 
operou, ficará sem efeito a disposição testamentária. 
Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação, desde que 
concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira. Em 
outras palavras, a transmissão do poder de aceitar a herança somente ocorrerá se os 
herdeiros do herdeiro falecido aceitarem a herança dele3. 
Se o herdeiro falecer após ter renunciado a herança, seus herdeiros não 
poderão sucedê-lo em relação à herança renunciada. Se, porém, ele for o único legítimo 
da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem a herança, poderão 
os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça. 
 
3 Cf. ANTONINI, Mauro. Código civil comentado: doutrina e jurisprudência. Coordenador: Cezar Peluzo. 8ª 
ed. rev. e atual. Barueri: Manole, 2014, p. 2021. 
 
 
 
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3.2. Requisitos 
 
De uma forma geral, a doutrina aponta para três grandes requisitos: 
 
 Requisito subjetivo: por ser ato de disposição de direito, exige-se 
capacidade do agente. Tratando-se de incapaz, somente com autorização 
judicial, ouvido o Ministério Público, é que será admitida a renúncia. Se o 
herdeiro for casado, dependerá do consentimento do seu cônjuge, salvo 
se casados sob o regime da separação absoluta (convencional) de bens; 
 Requisitos formal: a renúncia será sempre expressa, por escritura pública 
ou termo judicial. Trata-se de forma solene exigida pela lei (art. 1.806 do 
CC). Há, contudo, uma hipótese de renúncia presumida admitida pelo 
código civil. Trata-se da renúncia de herança decorrente de disposição 
testamentária. Nos termos do art. 1.913 do CC, “se o testador ordenar 
que o herdeiro ou legatário entregue coisa de sua propriedade a outrem, 
não o cumprindo ele, entender-se-á que renunciou à herança ou ao 
legado”; 
 Requisito temporal: assim como ocorre na aceitação, a renúncia da 
herança somente pode ocorrer após a abertura da sucessão e antes da 
partilha. 
 
3.3. Consequências da renúncia 
 
A renúncia da herança gera as seguintes consequências: 
 
 
 
 
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 Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros 
herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da 
subsequente (art. 1.810 do CC). Exemplo: se o falecido deixou apenas três 
filhos e um deles renunciar, o seu quinhão será repassado para os dois 
outros irmãos herdeiros. Se todos os irmãos renunciar, a herança passará 
aos seus respectivos filhos. Contudo, se o renunciante for o único de sua 
classe (ex.: único descendente) ou se todos os herdeiros dessa classe 
(todos os descendentes), a herança passará aos herdeiros da classe 
subsequente (ascendentes) e assim sucessivamente; 
 Não há direito de representação na renúncia. É por isso que o quinhão do 
renunciante será acrescido ao quinhão dos demais herdeiros do mesmo 
grau e da mesma classe. Nos termos do art. 1.811 do CC, “ninguém pode 
suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele for o único 
legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe 
renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito 
próprio,e por cabeça”. O dispositivo contém uma impropriedade técnica. 
Onde se lê “classe”, deve-se ler “grau”. Os filhos dos renunciantes são da 
mesma classe (classe dos descendentes), mas de grau subsequente 
(netos do autor da herança). O dispositivo quis dizer o seguinte: Se, 
porém, ele for o único legítimo do seu grau, ou se todos os outros do 
mesmo grau renunciarem a herança, poderão os filhos (grau 
subsequente) vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça. Se todos 
dessa classe (dos descendentes), serão chamados os da classe 
subsequente (ascendentes). Vale lembrar, por fim, que no caso de 
renúncia, diferentemente do que ocorre na indignidade, o renunciante 
pode administrar os bens transmitidos a seus filhos, bem como ter o 
usufruto deles. 
 
 
 
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3.4. Irrevogabilidade 
 
Assim como ocorre na aceitação, a renúncia é ato irrevogável, conforme 
preceitua o art. 1.812 do CC (“São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da 
herança”). 
 
Se você chegou até aqui, parabéns! Isso demonstra que você faz parte de um grupo 
muito pequeno de pessoas: as que são comprometidas profissionalmente e investem 
no próprio conhecimento. Lembre-se: somente o estudo e a dedicação poderão 
promover as mais grandiosas transformações na sua vida e na de sua família. 
O conhecimento liberta, transforma e empodera! 
Com carinho, 
Jaylton Lopes Jr.

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