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24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 1/48 Justiça Digital Prof. Maurício Antonio Tamer false Descrição Justiça Digital a partir do estudo do aproveitamento das tecnologias da informação nos mecanismos de resolução de conflitos. Propósito O estudo sobre a Justiça Digital é absolutamente fundamental para que os estudantes estejam preparados para entender e trabalhar em todos os temas associados às resoluções de conflitos, da negociação a procedimentos judiciais sofisticados que se valem de mecanismos de inteligência artificial. Preparação Antes de iniciar os estudos, tenha em mãos o Código de Processo Civil e as Resoluções nº 345 e nº 372 do Conselho Nacional de Justiça. Objetivos 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 2/48 Módulo 1 Justiça 100% digital Analisar o que se propõe como uma Justiça 100% digital, suas características e principais mecanismos. Módulo 2 Inteligência arti�cial e atos processuais Reconhecer o uso dos mecanismos de inteligência artificial na resolução de conflitos e o estudo de possíveis limites. Módulo 3 Mediação e arbitragem on-line Identificar os diversos meios de resolução de conflitos que se valem das tecnologias, incluindo, as mediações e as arbitragens on-line. Introdução O estudo do uso das tecnologias da informação nos métodos de resolução de conflito é gratificante e desafiador. Quando se fala de Direito Digital, fala-se da existência de uma relação entre as tecnologias e o Direito, que se explica ou se manifesta em várias frentes. Uma das mais relevantes é a compreensão de como as tecnologias propõem a mudança de como os conflitos sociais são resolvidos. Conflitos estes que, em uma sociedade da 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 3/48 informação e de risco, são criados ou potencializados, muitas vezes pelas próprias tecnologias. Fala-se, então, de uma possível leitura em direção ao reconhecimento de uma quinta dimensão do Acesso à Justiça, com o uso das tecnologias a serviço da estabilidade jurídico- social. Essa tarefa, porém, demanda estudo e a correta compreensão sobre os fenômenos. Entre muitas questões, esse conteúdo se propõe responder a algumas: (i) o que é uma Justiça 100% Digital? (ii) quais são as principais resistências ao avanço das tecnologias nos sistemas de resolução de conflitos? (iii) como a inteligência pode ser utilizada nos procedimentos de resolução de conflitos; e (iv) a mediação e a arbitragem podem ser realizadas de forma on-line? 1 - Justiça 100% digital Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar o que se propõe como uma Justiça 100% digital, suas características e principais mecanismos. Ligando os pontos Inegavelmente, as tecnologias têm apoiado o desenvolvimento da atuação do Poder Judiciário de forma on-line ou de uma forma que implique o máximo aproveitamento das tecnologias da informação. Na 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 4/48 vanguarda dessas iniciativas, o Conselho Nacional de Justiça tem atuado de forma decisiva na regulação de como esse referido aproveitamento pode ocorrer nas estruturas de Justiça. Tal vanguarda se revela, inclusive, no superar de resistências jurídicas e sociais em prol do desenvolvimento de mecanismos tecnológicos. Nesse contexto, o CNJ editou a Resolução nº 345/2020, que dispõe sobre o chamado Juízo 100% Digital e a Resolução nº 372 de 2021, que trata da criação do Balcão Virtual. Dito isso, a empresa Orange Inc. lhe procura em razão de um problema contratual decorrente do contrato de desenvolvimento de software que possui com a empresa Megasoft Ltda. Esta teria sido contratada para o desenvolvimento de um SaaS customizado para a Orange, porém, houve atrasos e envolvimento de profissionais de qualidade e experiência inferior ao que o contrato previa, resultando em vultosos prejuízos para a Orange. O Diretor Jurídico desta empresa, coincidentemente, é um entusiasta das novas tecnologias e antes da propositura da demanda indenizatória no Poder Judiciário, lhe questiona sobre como o Poder Judiciário tem absorvido as novas tecnologias. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 O uso do procedimento judicial eletrônico no país já é uma realidade de muito tempo e os benefícios são absolutamente flagrantes. A ideia de uma Justiça Digital é diferente e você deseja explicar esse avanço proposto pelo CNJ ao cliente. Entao, você A esclarece que a ideia de Justiça 100% Digital é apenas um avanço do procedimento judicial eletrônico, sem qualquer novidade substancial. B indica que a principal característica é a resolução dos conflitos pelo uso exclusivo de algoritmos. C ressalta que a Justiça 100% Digital depende apenas de cada tribunal e não existe qualquer documento ou proposta de ação coordenada em nível nacional. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 5/48 Parabéns! A alternativa D está correta. Nos termos da Resolução nº 345 do CNJ, que perfaz uma proposta nacional de uniformização das iniciativas em prol de uma Justiça 100% Digital, esta se caracteriza, em termos administrativos, por procedimentos em que todos os atos processuais serão exclusivamente praticados por meio eletrônico e remoto por intermédio da rede mundial de computadores. Questão 2 Curioso, o mesmo cliente pergunta sobre como o atendimento aos advogados tem sido feito pelo Poder Judiciário. A demanda teria de ser proposta no foro de eleição da cidade de Curitiba/PR, mas ele gostaria que você despachasse com o juiz responsável, mesmo você estando na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Você, então, D esclarece que a Justiça 100% Digital é a proposta nacional da atuação do Poder Judiciário em aproveito às tecnologias da informação, com procedimentos judiciais cujos atos procedimentais sejam realizados exclusivamente pela internet. E desabafa sobre o fato de que o Brasil não possui qualquer iniciativa sobre o tema. A explica que apenas a arbitragem, pelas facilidades e custos envolvidos, permite o despacho de forma remota e orienta o cliente a inserir cláusulas arbitrais nos contratos futuros. B lamenta que o país ainda está muito atrasado no tema e que nenhum juiz se vale de mecanismos on- line de videoconferência para contato. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 6/48 Parabéns! A alternativa C está correta. Despachos, sustentações orais e demais atos síncronos (que envolvem todos os sujeitos de participação necessária ao mesmo tempo), como as audiências, já são uma realidade no Poder Judiciário brasileiro, sendo a instituição do chamado Balcão Virtual pelo CNJ uma realidade. Questão 3 A partir do case proposto e das ideias trazidas nas questões anteriores, explique com suas palavras o que você entende que seria uma Justiça 100% Digital? Digite sua resposta aqui Chave de resposta É esperado que você explique que a Justiça 100% Digital é assim caracterizada, especialmente, pelo desenvolvimento C lembra o cliente de que o CNJ determinou a criação do chamado Balcão Virtual, por meio do qual cada tribunal ficou incumbido de criar uma área de acesso aos advogados de forma remota para despacho ou para qualquer interessado. D esclarece que o procedimento judicial eletrônico por si só permite esse contato síncrono com o juiz ou os servidores do respectivo gabinete. E explica que mesmo em casos que envolvem disputas de software o despacho precisa ser presencial, detalhando os custos do deslocamento para o cliente. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 7/48 de procedimentos judiciais e demais métodosde resolução de conflito com o aproveitamento das tecnologias da informação, mencionando, como exemplo, as Resoluções indicadas na própria introdução do case. A implementação do Acesso à Justiça O princípio do Acesso à Justiça Historicamente, a ideia de Acesso à Justiça decorre dos avanços entre os mecanismos rudimentares de autotutela até a consolidação do protagonismo da jurisdição estatal e, hoje, pela adoção do modelo multiportas de resolução de conflitos. Com foco no tema, o essencial a ser dito é que a função jurisdicional constitui verdadeiro dever constitucional do Estado. E que, nesse sentido, não pode ignorar os aprimoramentos e as melhorias que as tecnologias da informação propõem. A Constituição Federal ao garantir, em seu art. 5º, XXXV, o acesso à função jurisdicional, cria um dever do Estado de oferecer respostas efetivas e adequadas às demandas que lhe são dirigidas: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Essa é na essência, a ratio decidendi do precedente da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal exarado no RE nº 204.305, segundo o qual: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Essa é na essência, a ratio decidendi do precedente da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal exarado no RE nº 204.305, segundo 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 8/48 o qual: “A atual Constituição, em seu artigo 5º, LXXIV, inclui, entre os direitos e garantias fundamentais, o da assistência jurídica integral e gratuita pelo Estado aos que comprovarem a insuficiência de recursos. – Portanto, em face desse texto, não pode o Estado eximir-se desse dever desde que o interessado comprove a insuficiência de recursos, mas isso não impede que ele, por lei, e visando a facilitar o amplo acesso ao Poder Judiciário que é também direito fundamental (art. 5º, XXXV, da Carta Magna), conceda assistência judiciária gratuita. (STF, Primeira Turma, RE nº 204.305/PR, Rel. Min. Moreira Alves, j. 05.05.1998, DJ 19.06.1998) Portanto, o Acesso à Justiça constitui um direito fundamental e nessa condição deve ser compreendido. Assume essa qualidade, especialmente, pela posição que ocupa no ordenamento jurídico brasileiro, por sua evolução histórica, constituindo preceito inerente ao próprio Estado de Direito e por sua íntima ligação com o princípio do devido processo legal. Como princípio, propõe a importante busca por um estado ideal das coisas, representado por uma situação de pleno acesso ou de plenitude de disposição dos meios de solução de conflitos mais adequados e efetivos, em que as pessoas devem ter à disposição o maior número de meios e possibilidades possíveis para as soluções efetivas e adequadas dos conflitos. Uma quinta dimensão do Acesso à Justiça Costumeiramente, foi convencionada, em especial a partir da famosa e ímpar obra de Mauro Cappelletti e Bryany Garth (CAPPELLETTI, 1988), a identificação de ondas do Acesso à Justiça. Na essência, a identificação de movimentos históricos de promoção e melhoria dos mecanismos de resolução de conflitos. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 9/48 Até esse momento, mais precisamente, poderiam ser identificadas quatro ondas: A primeira, caracterizada pela relativização dos custos financeiros. A segunda, caracterizada pelos mecanismos de tutela de direitos transindividuais. A terceira, caracterizada pela expansão dos métodos de resolução. A quarta, caracterizada pela promoção do acesso para os responsáveis por operar o Direito (proposta de Kim Economides). Mais que ondas, parece ser interessante e proveitoso o uso da expressão “dimensões”. Embora esses movimentos possam ser identificados em ordem cronológica ou histórica, isso não altera o fato de que eles seguem sendo observados na contemporaneidade. Por essa razão, prefere-se a expressão dimensões de Acesso à Justiça, ao passo que cada um desses movimentos gera uma nova e perene camada a ser sobreposta sobre os mecanismos de resolução dos conflitos sociais. Resumindo 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 10/48 As tecnologias da informação propõem um repensar do conteúdo normativo do Princípio do Acesso à Justiça consagrado em nossa Constituição Federal (art. 5°, XXXV), trazendo novos e consistentes aspectos práticos de discussão. Isso parece se dar, de forma destacada, de duas maneiras relacionadas entre si, não só porque têm nas tecnologias da informação as suas bases, como estão ligadas, em certo modo, por uma lógica de causa e efeito. O que se propõe é o entendimento de que as tecnologias da informação podem otimizar a forma como as resoluções dos conflitos se desenvolvem. Isso pode acontecer com a automação de procedimentos existentes e já feitos por humanos, com a transformação de meios existentes ou agregando novos métodos de solução. Em suma, a leitura do fenômeno é que as tecnologias da informação, na linha de que se relacionam com o Direito de várias maneiras, funcionam como verdadeiros mecanismos catalizadores do Acesso à Justiça, ao passo que: i. melhoram ou otimizam os meios existentes; ou ii. aumentam o cardápio de opções de meios de solução de conflitos à disposição das pessoas envolvidas no conflito, potencializando, por consequência, as chances de que o método seja mais adequado e efetivo ao conflito posto. Portanto, não parece mais ser possível ignorar que o Acesso à Justiça também tenha essa dimensão e assim deva ser trabalhado. Logo, além de se trabalhar na redução dos custos, na ampliação da tutela transindividual, no desenvolvimento de outros métodos de solução ao lado da jurisdição estatal e na melhoria do ensino jurídico e profissionalização dos sujeitos envolvidos nessa dinâmica, faz-se necessário aproveitar-se ao máximo as funcionalidades e ferramentas trazidas pelas tecnologias da informação na solução dos conflitos jurídico-sociais. Comentário As tecnologias da informação e a formatação social contemporânea (sociedade da informação ou pós-industrial, sociedade do risco e que permeia a quarta revolução industrial) geram toda espécie de riscos e, por consequência, conflitos sociais em maior diversidade e especificidade. Parece existir um dever ou um compromisso social de todos, com que o Direito lida de alguma forma, de utilizar essas mesmas ferramentas para solucionar tais situações. Um compromisso com o Acesso à Justiça 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 11/48 que parte da própria lógica de proporcionalidade. Se os conflitos são potencializados pelas tecnologias, estas também devem catalisar os meios para solução. Assim como uma vacina para uma doença, que pode se desenvolver a partir do seu agente causador, trata-se de reconhecer a necessidade de utilizar as próprias funcionalidades que têm modificado a sociedade para tentar sanar os conflitos e mazelas decorrentes dessa mesma modificação. O que seria Justiça Digital? O que é a Justiça 100% Digital? Neste vídeo, o professor Maurício Tamer explicará o que é Justiça 100% Digital. Neste contexto de necessário aproveitamento das tecnologias da informação nos métodos de resolução dos conflitos, como podemos entender a Justiça 100% Digital? Justiça 100% Digital, tecnicamente, são as chamadas cortes on-line. A prestação jurisdicional estatal de forma on-line não se trata, como visto, do mero uso de ferramentas digitais na atuação jurisdicional presencial, como o peticionamento eletrônico ou as citações e intimações eletrônicas, regulamentadas na Lei nº 11.419/06. Com efeito, está-se diante da atuação jurisdicional estatal integralmente por meio da tecnologia, sem a necessidade de encontro físico com os jurisdicionados, mas apenas por meio eletrônico. Ademais, como reflexo da atuaçãoamplamente digital, os atos do órgão jurisdicional passam a 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 12/48 ser realizados com o apoio da tecnologia e da inteligência artificial na sua elaboração e condução. A esse conceito podem ser adicionados outros dois para explicá-lo. Primeiro sentido Online judging ou julgamento on-line, refere-se à atuação totalmente on- line das partes e do órgão jurisdicional, apresentando suas alegações e provas, mas sem a realização de atos síncronos, especialmente audiências. Um procedimento assíncrono, ou seja, sem a necessidade de que as partes estejam presentes fisicamente. Segundo sentido Extended court ou tribunal estendido/extensão do tribunal, é referente à atuação dos tribunais com o apoio da tecnologia à entrega de um serviço de melhor qualidade. Por exemplo, com o uso da tecnologia para auxiliar as partes a saberem seus direitos e como apresentar mais facilmente suas alegações e provas, transcendendo a simples resolução do conflito. As cortes on-line representam mais um movimento disruptivo em relação ao Princípio do Acesso à Justiça. Já foi sustentado acima que este não significa o acesso a uma prestação jurisdicional estatal, a busca de um estado ideal das coisas, em que haja à disposição das partes um rol de possibilidades de mecanismos de solução para os conflitos de interesse. No entanto, caso a solução justa precise ser buscada por meio do Poder Judiciário, a Justiça não depende mais de uma estrutura física específica: o que é relevante é o serviço prestado, mas não o local em que é prestado. Inclusive, é preciso rever a ideia de Justiça associada a um lugar – uma sede física do Poder Judiciário, ou à realização de procedimentos com movimentos presenciais ou síncronos (simultâneos). A prestação jurisdicional estatal também pode ser exercida de forma on-line, eliminando atos de tais natureza e isso pode fazer muito sentido às partes, no caso concreto. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 13/48 Essa mudança está ligada à eficiência e à qualidade que se esperam de um serviço público. Sendo a atividade jurisdicional um serviço público, há um dever estatal de se buscar os meios mais eficientes de prestá-lo. Comentário É crucial notar que o princípio da eficiência (em seu aspecto) processual está positivado em todos os níveis. Da Constituição Federal, pode ser extraído inicialmente do artigo 37, a exemplo da eficiência administrativa, na medida em que a norma se dirige a todos os poderes estatais. Isso fica ainda mais claro nas atividades administrativas dos tribunais. Nessa linha, diversos benefícios podem ser extraídos da atuação de cortes digitais: 1. Conveniência Podem as partes e mesmo o magistrado praticar os atos de sua responsabilidade no momento que melhor se ajuste à sua rotina diária. 2. Eficiência, celeridade Na Justiça Digital, em regra, os sujeitos do processo não precisam se deslocar e podem praticar muitos atos de forma assíncrona. Ademais, o apoio da inteligência artificial possibilita que os magistrados apreciem mais casos em menos tempo, pois já recebem muitas informações devidamente indicadas pela máquina. Isso permite, então, que o processo tenha seu curso de maneira mais célere. 3. Custo No início de sua implantação, uma corte on-line gera custos com as ferramentas tecnológicas, os sistemas e os equipamentos, entretanto, em médio prazo, isso reduz custos com instalações físicas, que se tornam desnecessárias; com materiais (por exemplo, há uma redução drástica de consumo de papel); e com 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 14/48 pessoal, pois a atuação virtual torna despicienda, no mínimo, a atuação de uma série de agentes de setores de apoio administrativo dos tribunais, assim como a inteligência artificial vai aumentando a capacidade de atuação de servidores e magistrados, reduzindo a necessidade de novos concursos públicos. A Resolução nº 345 do Conselho Nacional de Justiça De forma emblemática e, diga-se, elogiável, o Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução nº 345, em 09/10/2020, que, segundo seu próprio texto, dispõe sobre “o Juízo 100% Digital e dá outras providências”. Inegavelmente impulsionada pela pandemia da Covid-19 e a necessidade de virtualização dos procedimentos por conta das medidas necessárias de isolamento social, fato é que a Resolução nº 345 representa verdadeiro marco das cortes on-line no país. Mais recentemente, demonstrando a dinâmica inerente da própria matéria, seu texto foi alterado pela Resolução nº 378, em 09/03/2021. Saiba mais A Resolução nº 345, em seu artigo inaugural, autoriza a adoção pelos tribunais das medidas necessárias à implementação do “Juízo 100% Digital”, explicando que o “Juízo 100% Digital” é aquele compreendido por procedimentos em que “todos os atos processuais serão exclusivamente praticados por meio eletrônico e remoto, por intermédio da rede mundial de computadores” (art. 1º). Há, assim, uma relação de sinonímia entre o que se entende aqui por “Corte On-line” e o que a Resolução define por “Juízo 100% Digital”: a jurisdição estatal exercida de forma integralmente eletrônica. Inclusive, nesta linha, diz o §1º que “no âmbito do “Juízo 100% Digital”, todos os atos processuais serão exclusivamente praticados por meio eletrônico e remoto por intermédio da rede mundial de computadores”. Na sequência, de forma equilibrada, diz que “inviabilizada a produção de meios de prova ou de outros atos processuais de forma virtual, a sua realização de modo presencial não impedirá a tramitação do processo no âmbito do “Juízo 100% Digital” (§2º), além disso, “o ‘Juízo 100% Digital’ poderá se valer também de serviços prestados presencialmente por outros órgãos do Tribunal, como os de solução adequada de conflitos, de cumprimento de mandados, centrais de cálculos, tutoria 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 15/48 dentre outros, desde que os atos processuais possam ser convertidos em eletrônicos” (§3º). Seguindo a Resolução, no seu art. 2º, sinaliza, com cautela e ciente das implicações decorrentes, que “as unidades jurisdicionais de que tratam este ato normativo não terão a sua competência alterada em razão da adoção do ‘Juízo 100% Digital’”. A consensualidade ou a faculdade da parte na eleição do procedimento do “Juízo 100% Digital” também é marcante na Resolução, mais uma vez, com sinais de cautela na adesão das partes. Inclusive, é elogiável tal cautela na eleição do método, dado que é necessário reconhecer a realidade brasileira de difícil e limitado acesso às tecnologias da informação por partes e seus representantes em relevante parcela da população. Diz seu art. 3º: Art. 3º - A escolha pelo “Juízo 100% Digital” é facultativa e será exercida pela parte demandante no momento da distribuição da ação, podendo a parte demandada opor-se a essa opção até o momento da contestação. (RESOLUÇÃO Nº 345) Inclusive, em disposição muito interessante, o CPC prevê que as partes podem, a qualquer tempo (antes ou durante o procedimento, portanto), celebrar negócio jurídico processual para a escolha do Juízo 100% Digital, reforçando o alcance procedimental da cláusula geral de negociação processual (CPC, art. 190). 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 16/48 Resolução nº 372 do Conselho Nacional de Justiça Nesse contexto, também é de suma relevância a menção da Resolução nº 372 do CNJ, de 12/02/2021, que regulamenta a criação da plataforma de videoconferência denominada “Balcão Virtual”. Saiba mais A Resolução nº 372 do CNJ determina a criação da plataforma com esse nome, dispondo que “os tribunais, à exceção do Supremo Tribunal Federal, deverão disponibilizar,em seu sítio eletrônico, ferramenta de videoconferência que permita imediato contato com o setor de atendimento de cada unidade judiciária, popularmente denominado como balcão, durante o horário de atendimento ao público” (art. 1º). Os tribunais poderão utilizar qualquer ferramenta tecnológica que se mostre adequada para o atendimento virtual, ainda que não seja a mesma utilizada em outros procedimentos das mesmas cortes (art. 2º). Relevante, então, que seja verificada a adequação e funcionalidade da ferramenta para a finalidade, independentemente de qual seja. De forma equilibrada, nas localidades e unidades judiciárias em que a deficiência de infraestrutura tecnológica for notória, o atendimento pode se dar de forma assíncrona, ou seja, não simultânea, com a resposta no atendimento em tempo razoável (§1º). Para ser efetivo, o Balcão Virtual deve refletir ao máximo a realidade do atendimento público presencial, sendo essa a premissa para considerar a ferramenta adotada como a adequada. Nesse sentido, diz a Resolução que: “O Balcão Virtual deverá funcionar durante todo o horário de atendimento ao público, de forma similar à do 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 17/48 balcão de atendimento presencial” (art. 3º) e seu link de acesso deve constar de forma facilitada no site do tribunal (art. 5º). 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 18/48 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Diante dos avanços das tecnologias da informação e do princípio constitucional do Acesso à Justiça, é correto dizer que A as tecnologias da informação não possuem relação com o Acesso à Justiça, não podendo contribuir com o seu melhor desenvolvimento. B as tecnologias da informação possuem relação com o Acesso à Justiça, pois, apenas, criam novos métodos de resolução dos conflitos. C as tecnologias da informação possuem relação com o Acesso à Justiça, pois, apenas, aprimoram o desenvolvimento de métodos de resolução de conflitos já existentes. D as tecnologias da informação possuem relação com o Acesso à Justiça, pois criam métodos de resolução de conflitos e aprimoram o desenvolvimento de métodos de resolução de conflitos já existentes. E considerando que as tecnologias criam métodos de resolução de conflitos e aprimoram o desenvolvimento de métodos de resolução de conflitos já existentes, relação esta que pode se manifestar como a quarta dimensão do Acesso à Justiça. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 19/48 Parabéns! A alternativa D está correta. Como visto, as tecnologias não só aprimoram a forma como os métodos de resolução de conflito se desenvolvem, como também criam novos métodos. Em uma espécie de contrapartida social, é possível a leitura de que esta influência se caracteriza como uma quinta dimensão do Acesso à Justiça. Questão 2 A respeito da chamada Justiça 100% Digital, assinale a alternativa correta: A O conceito de Justiça 100% Digital, diante da novidade do tema, é ainda legal e decorre de disposições inovadoras a este respeito pelo Código de Processo Civil de 2015. B O conceito de Justiça 100% Digital significa o desenvolvimento da prestação jurisdicional estatal de forma integralmente on-line. C Apesar de a Resolução nº 345 do CNJ fazer referência à expressão Justiça 100% Digital, não avança na correspondência do conceito com a ideia de cortes on-line, apenas reafirmando que a Justiça 100% Digital seria aquela em que a prestação jurisdicional se dá em parte de forma eletrônica, como no caso processo eletrônico há muito usado. D O conceito de Justiça 100% Digital significa tanto o desenvolvimento da prestação jurisdicional estatal de forma integralmente on-line, como o desenvolvimento de parte da prestação jurisdicional de forma eletrônica, como no caso processo eletrônico há muito usado. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 20/48 Parabéns! A alternativa B está correta. A partir do conceito adotado na Resolução nº 345 do CNJ, a Justiça 100% Digital pode ser considerada como uma corte on-line, ou seja, a prestação jurisdicional de forma integralmente digital. 2 - Inteligência arti�cial e atos processuais Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o uso dos mecanismos de inteligência arti�cial na resolução de con�itos e o estudo de possíveis limites. Ligando os pontos Muitas têm sido as iniciativas de aproveitamento da inteligência artificial no âmbito do Poder Judiciário e, logo, na prática dos atos processuais. Como aponta o estudo “Tecnologia Aplicada à Gestão de Conflitos no Poder Judiciário”, com ênfase em inteligência artificial, coordenado pelo Centro de Inovação, Administração e Pesquisa do Judiciário da FGV (CIAPJ), “há mais de 70 projetos diferentes em mais da metade dos tribunais do país” (FREITAS, 2020). Dentre essas iniciativas, destaca-se o exemplo do algoritmo Victor, do Supremo Tribunal Federal, “fruto de uma parceria entre o Supremo Tribunal E O conceito de Justiça 100% Digital, diante da novidade do tema, é ainda meramente doutrinário, não existindo qualquer lei ou norma administrativa que disponha a respeito. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 21/48 Federal (STF) e a Universidade de Brasília (UnB), um importante marco no Judiciário brasileiro e referência no cenário internacional, por seu pioneirismo na aplicação de inteligência artificial para resolver ou mitigar os desafios pertinentes a uma maior eficiência e celeridade processuais. Tal iniciativa encorajou os demais tribunais do país a buscarem na inovação e na tecnologia o auxílio necessário para apoiar a atividade jurisdicional. Iniciado no final de 2017, na gestão da ministra Cármen Lúcia na presidência da Corte, o Victor foi idealizado para auxiliar o STF na análise dos recursos extraordinários recebidos de todo o país, especialmente quanto a sua classificação em temas de repercussão geral de maior incidência” (STF, 2021). O algoritmo, então, propõe a análise da presença ou não do pressuposto de repercussão geral dos Recursos Extraordinários que chegam à Corte. O contexto, assim, inspira um estudo dedicado de entendimento. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 No case, há a afirmação de que o Victor é uma iniciativa baseada na inteligência artificial no Supremo Tribunal Federal. Embora a afirmação possa parecer até intuitiva, é importante reconhecer que ela demanda uma análise técnica cuidadosa, para se entender os processos compreendidos e, com isto, uma análise dedicada da sua legalidade e segurança. Diante disso, assinale a alternativa correta: A O Victor pode ser entendido como uma ferramenta de inteligência artificial pelo simples fato de a implementação de mecanismos dessa natureza ser uma atribuição legal do STF. B O Victor representa uma iniciativa isolada de uso da inteligência artificial no país, que ainda está em fase experimental. C A característica de inteligência artificial do Victor se revela pela técnica empregada de racionalização dos recursos e capacidade de identificar, como se humano fosse, os temas de repercussão geral. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 22/48 Parabéns! A alternativa C está correta. A inteligência artificial da ferramenta em uso pelo STF se caracteriza pela capacidade de análise e entendimento artificiais do mecanismo que é capaz de avaliar a existência ou não de temas de repercussão geral. Questão 2 Colocado o case, ligando os pontos deste módulo e feita referência ao cenário nacional do uso da inteligência artificial pelo Poder Judiciárioem atos processuais, é correto dizer que D Embora se afirme que o Victor é uma ferramenta de inteligência artificial, não há nenhuma atividade de inteligência em si mesmo, mas tão somente classificação de dados identificados nas petições recursais. E Em que pese seja uma iniciativa isolada no país, a característica de inteligência artificial do Victor se revela pela técnica empregada de racionalização dos recursos e capacidade de identificar, como se humano fosse, os temas de repercussão geral. A o uso dos mecanismos de inteligência artificial no país está consolidado, já estando claros os limites do seu emprego e a transparência e auditabilidade de todos os algoritmos empregados. B a inteligência artificial apenas pode ser aplicada no âmbito do Poder Judiciário e não em qualquer método de resolução de conflito, ao passo que no Poder Judiciário é garantida a revisão humana, condição sempre necessária. C a iniciativa do Victor no STF não representa exemplo de uso da inteligência artificial no país, ao passo 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 23/48 Parabéns! A alternativa D está correta. O algoritmo Victor é apenas um dos grandes exemplos dos muitos projetos de uso da inteligência artificial pelo Poder Judiciário no país que, é possível dizer, tem se revelado um grande pioneiro no uso dessas ferramentas em âmbito público. Questão 3 A partir do case proposto, discorra sobre possíveis limites no uso da inteligência artificial pela função jurisdicional estatal. Digite sua resposta aqui Chave de resposta Esperamos que você seja capaz, com base na sua experiência e aprendizados prévios, de identificar possíveis limites ao uso da inteligência artificial, provocando um diálogo sobre o tema do módulo, tais como o uso limitado da instrumentalidade das ferramentas, sem afastar decisões de natureza humana. que apenas representa uma ferramenta de catalogação de recursos. D o algoritmo Victor é um bom exemplo das muitas iniciativas de emprego da inteligência artificial nos atos processuais. E o uso dos mecanismos de inteligência artificial no país ainda é incipiente, identificando-se um ou outro projeto isolado. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 24/48 Inteligência arti�cial A ideia aqui não é detalhar o que seria necessário para uma compreensão técnica ou mesmo filosófica do tema. Porém, de uma maneira geral e tentando simplificar o que não é simples, se é que isso é possível, inteligência artificial (IA) parece ser uma ideia a ser extraída da junção lógica dos dois termos: inteligência e artificial. Resumindo Inteligência, em linhas muito gerais, decorre da ideia de reconhecer a capacidade de algo ou de alguém realizar a categorização de objetos e respectivas separando-os por características e propriedades que possuem, o que pode se dar em graus diferentes de capacidade e detalhe. O exercício subsequente da racionalidade vem pela capacidade de tal separação aliada à correta tomada de decisão a partir das categorizações feitas. Inteligente é aquilo ou quem consegue diferenciar o mundo à sua volta e tomar decisões decorrentes dessa diferenciação. É a soma das fases sequenciais de identificação, categorização, raciocínio e tomada de decisão. A percepção popular do “mais inteligente”, então, seria associada àquilo ou a quem melhor consegue racionalizar esse processo e em maior nível de detalhe ou categorização. Assim, é um processo de inteligência desde a simples diferenciação entre um livro e uma maçã, tomando a decisão de se alimentar apenas do segundo, como também complexos raciocínios pautados em lógica, a partir de premissas e resultados consequenciais respectivos. De um modo amplo, “ser inteligente”, na ideia média e popular e que interessa ao essencial de explicação desse trabalho, é saber lidar com 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 25/48 determinado objeto e extrair dele classificações e consequências lógicas e racionalmente válidas. Soma-se a isso os termos e as expressões que podem eventualmente categorizar a própria inteligência, seja porque dizem respeito ao próprio objeto sobre o qual se raciocina, seja porque dizem respeito à forma como as quatro etapas da inteligência se desenvolvem. Falar em “inteligência emocional” ou “inteligência jurídica” é falar de exemplos da primeira possibilidade. O raciocínio e a tomada de decisão sobre as emoções e sobre o Direito, respectivamente. Por sua vez, a “inteligência artificial” parece ser justamente exemplo do segundo, caracterizando uma forma não natural de identificar, categorizar, raciocinar e tomar a decisão. Resumindo Em linhas gerais, portanto, parece que a inteligência artificial pode ser entendida pela capacidade programada, técnica e não natural de identificar objetos, categorizá-los, aplicar em relação a eles uma lógica racional e, a partir dessas três fases anteriores, tomar as decisões respectivas com a apresentação dos resultados de toda essa atividade de inteligência. Adicionalmente, é importante dizer que a implementação prática dessa ideia se dá pelos mecanismos conhecidos como “algoritmos”, ou seja, os instrumentos práticos e concretos por meio dos quais as fases de identificação da tomada de decisão, de forma artificial, são elaboradas. Em termos mais simples e sem aprofundar nas impressões técnicas a respeito, algoritmo pode ser entendido como uma sequência de instruções técnicas que determinará o que um dispositivo eletrônico (destacadamente, um computador) terá de fazer. Para maior visibilidade, algoritmo é um passo a passo técnico e sequencial com um ou mais comandos para o que o dispositivo eletrônico deverá fazer. Algoritmos podem ser programados, com todas as etapas da sequência previamente definidas por programação humana, e não programados em que não há a programação do passo a passo, competindo aos próprios dispositivos eletrônicos desenvolvê-los com base nas informações inseridas (input) e resultados esperados (output). 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 26/48 A utilização da IA na resolução de con�itos Inteligência arti�cial e resolução de con�itos Neste vídeo, o professor trata da utilização da inteligência artificial na resolução de conflitos. Mais que um conceito abstrato, a inteligência artificial está presente em poderosas e práticas ferramentas para o dia a dia de todas as atividades na atual sociedade da informação, desde simples e, por vezes, não lembradas planilhas com fórmulas preestabelecidas, até as mais sofisticadas ferramentas de análise de bases de dados e apresentação de resultados. Atenção! Todo e qualquer mecanismo que hoje seja capaz de receber informações a partir de alimentação humana ou de extração automatizada, que trate tais informações de forma racional e automática e entregue resultados dessas etapas anteriores, pode ser entendido como um mecanismo de inteligência artificial. Com esse potencial, era esperado e natural que os mecanismos de resolução dos conflitos, sobretudo os judiciais, aproveitassem esses instrumentos para conduzir os procedimentos e auxiliar as decisões decorrentes. Uma das utilizações mais notáveis está na otimização da realização de procedimentos e naquilo que os mais representa concretamente: os atos procedimentais. A inteligência artificial tem um grande potencial para uma maior variabilidade de criação de documentos, de reprodução destes e para gerar maior capacidade da análise de seus conteúdos. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 27/48 Inclusive, a depender de como tais tarefas forem automatizadas, possibilitando a criação de padrões de associação de documentos a determinados resultados, o uso dasferramentas também pode agregar previsibilidade às resoluções, especialmente nas situações jurídicas de volume e que, por perfil e regra, não apresentam maiores individualidades. Igualmente, desde a década de 1980, existem ferramentas importantes que se valem da inteligência artificial para demonstração probatória de fatos ou construção de narrativa a partir das evidências indicadas. Algumas ferramentas podem ser citadas como exemplo: i. Stevie, que apresenta modelos a partir das evidências para possíveis reconstruções dos fatos. ii. Eco, que avalia possibilidades de julgamento, a partir das evidências, auxiliando na elaboração de teses de acusação e defesa na esfera criminal. iii. Alibi, que a partir das evidências desenvolve explicações alternativas daquelas associadas às provas para evitar ou mitigar responsabilidades. Adicionalmente, em relação à prova testemunhal, a tecnologia tem sido utilizada para analisar as circunstâncias e a credibilidade dos testemunhos de forma mais objetiva, sem depender dos aspectos subjetivos e emocionais de avaliação do conteúdo testemunhal. Também já há, por exemplo, sistemas que objetivam resultados preditivos, ou seja, que tenham como entrega a possível previsão de resultados a depender do órgão judicial envolvido. A ciência das chances de sucesso, com precisão, pode ser decisiva para potencializar as chances de acordo e de diminuição de disputas. A predileção de resultados também é importante, do ponto de vista estratégico, para entendimento da fundamentação judicial utilizada e na identificação de precedentes judiciais. A ideia é utilizar a inteligência artificial para identificar as ratio decidendi das decisões. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 28/48 É a espécie de visibilidade que não só facilita o trabalho das partes que precisam adequar a argumentação e estratégia aos posicionamentos consolidados (evitando ou diminuindo atos processuais inócuos), como também dos próprios órgãos jurisdicionais na prolação das decisões futuras, otimizando a prestação jurisdicional, pensada nesse aspecto no art. 927, CPC. Ainda, na seara da resolução judicial brasileira de conflitos, muitos outros exemplos podem ser mencionados. Uma das primeiras iniciativas é o projeto “Dra. Luzia” implementado junto à Procuradoria do Distrito Federal, para entender os processos de execuções fiscais. Curiosidade Também famoso é o projeto em andamento no Supremo Tribunal Federal conhecido como “Victor”, nomeado justamente em homenagem ao ex-ministro do próprio STF Victor Nunes Leal. O recurso extraordinário sobe bruto ao Supremo e era preciso que um servidor separasse e identificasse suas peças, tarefa que demandava em média 30 minutos de serviço. O Victor realiza essa tarefa em apenas cinco segundos. No Superior Tribunal de Justiça, a inteligência artificial não só tem sido implementada como festejada, sobretudo pela redução significativa da quantidade de processos. Veja alguns desses projetos: É de se destacar o projeto “Sócrates”, voltado para identificar previamente as controvérsias jurídicas presentes nos recursos especiais. Sócrates 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 29/48 Outra experiência importante na corte é o Sistema Athos, baseado em um modelo de IA, que identifica processos os quais possam ser submetidos à afetação para julgamento sob o rito dos recursos repetitivos. Além disso, o Athos monitora e aponta processos com entendimentos convergentes ou divergentes entre os órgãos fracionários da corte, casos com matéria de notória relevância e, ainda, possíveis distinções ou superações de precedentes qualificados. Limites da utilização da IA na resolução de con�itos Parece claro o valor que tais ferramentas agregam à prática dos atos procedimentais judiciais, especialmente aqueles de entregar uma solução adequada e efetiva às lides que lhe são apresentadas, sobretudo no aspecto de duração razoável. Por outro lado, como qualquer uso de tecnologia ou novidade no geral, surgem questionamentos sobre os limites a serem respeitados na utilização dos novos instrumentos. E nesse ponto talvez existam as maiores dúvidas científicas e as questões de maior profundidade acadêmica e prática sobre o tema. Para os mecanismos de resolução jurisdicionais e a realização de atos procedimentais, os limites parecem estar relacionados às características e expectativas constitucionais da própria resolução de conflitos por esse método. Atenção! O uso judicial dessas ferramentas de IA, assim, parece demandar um exercício de cuidado detido na implementação. A identificação precisa e detalhada dos limites, se possível, justifica vários debates acadêmicos dedicados ao tema. Os limites judiciais de todo modo parecem estar no respeito ao devido processo legal e às normas fundamentais do processo civil brasileiro que o integram (arts. 1º a 12, CPC) e na utilização instrumental das ferramentas de inteligência artificial, bem como no respeito das normas Athos 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 30/48 mais maduras de governança de tais ferramentas, antes, durante e depois do seu uso. Qualquer utilização que viole o conteúdo do devido processo não pode se sustentar. Não podem prevalecer ferramentas que, v.g., impeçam o contraditório concreto das partes. Igualmente, o uso não instrumental (quer dizer, ferramentas decidindo os conflitos no lugar de juízes humanos) parece também exceder os objetivos da função jurisdicional que tem na cognição, sensibilidade, empatia e experiência dos magistrados componentes intrínsecos. A utilização da inteligência artificial que resolva o mérito dos conflitos ou mesmo que antecipe efeitos de uma decisão final (tutelas de urgência ou evidência, que em termos práticos se mostram ainda mais carentes de sensibilidade do julgador) não parece ser possível. Agora, todo instrumental que estiver à disposição do julgador para levantamento de dados, identificação de elementos comuns, reunião de demandas repetitivas, maior agilidade de procedimentalização deve ser incentivado. É relevante dizer que essas condições são próprias e mais vinculadas ao exercício da função jurisdicional, apenas uma das possibilidades de resolução de conflitos postas à disposição das partes do conflito. Isso significa que, embora ninguém esteja obrigado a utilizá-la (princípio dispositivo), caso assim opte, aderirá a esse perfil de resolução. Até porque é essa vinculação a tal perfil (com a garantia constitucional de decisões humanas) que assegura, como face do Acesso à Justiça, que toda parte terá à sua disposição a função jurisdicional estatal. Igualmente, isso significa que a necessidade de decisão humana não necessariamente tem de estar presente em meios não jurisdicionais de resolução de conflitos. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 31/48 É perfeitamente possível e pode ser até recomendada a existência de meios de resolução com decisões automatizadas – como visto anteriormente (promovidas pelo Estado ou pelas empresas, conforme alguns exemplos mencionados nas outras partes deste trabalho) para as situações em que isso se mostre mais adequado e efetivo e desde que essa possibilidade e o caminho para tanto seja o mais transparente possível para as partes. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 32/48 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sobre uma proposta de entendimento de como mecanismos de inteligência artificial podem ser caracterizados, é correto dizer que A inteligência artificial pode ser entendida apenas pela capacidade artificial de classificar coisas ou informações. Binteligência artificial pode ser entendida pela capacidade artificial de classificar coisas ou informações e extrair delas premissas e resultados racionais, mas sempre com a participação de um processo de inteligência humana. C inteligência artificial pode ser entendida pela capacidade artificial de classificar coisas ou informações e extrair delas premissas e resultados racionais, de forma similar ao que é feito pelos seres humanos. D a inteligência artificial, embora não precise da participação humana nos processos de racionalização e de identificação dos resultados, sempre depende da tarefa humana de obtenção dos dados a serem catalogados. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 33/48 Parabéns! A alternativa C está correta. Como visto, os processos de inteligência artificial representam a capacidade artificial, de forma similar com o raciocínio humano, de reconhecer dados, classificá-los e extrair conclusões racionais. Questão 2 Acerca da existência de possíveis limites ao emprego dos mecanismos de inteligência artificial em atos processual, pode-se afirmar que E a inteligência artificial, embora não precise da participação humana no processo de obtenção dos dados a serem catalogados, sempre depende da tarefa humana nos processos de racionalização e de identificação dos resultados. A considerando que tais mecanismos são desenvolvidos e monitorados por humanos, é possível dizer que seu uso pode se dar sem limites, exceto em mecanismos de mediação e conciliação, ainda que on-line, em que a participação humana é essencial. B considerando o perfil constitucional da resolução de conflitos pela jurisdição estatal, neste método, há limites ao uso desses mecanismos, que são identificados no descumprimento do devido processo legal e no afastamento de decisões humanas. C considerando que tais mecanismos são desenvolvidos e monitorados por humanos, é possível dizer que seu uso pode se dar sem limites. D a princípio, apenas o exercício das funções jurisdicionais (estatal e arbitral) podem sofrer limites no uso de mecanismos dessa natureza. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 34/48 Parabéns! A alternativa B está correta. Os mecanismos de inteligência artificial podem ser utilizados na jurisdição estatal, desde que o devido processo legal seja estritamente observado e asseguradas as decisões humanas. 3 - Mediação e arbitragem on-line Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os diversos meios de resolução de con�itos que se valem das tecnologias, incluindo, as mediações e as arbitragens on-line. Ligando os pontos Reconhecidamente a plataforma Consumidor.gov é um caso de sucesso mundial. Criada em 2014, a plataforma Consumidor.gov é um serviço público monitorado pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), que permite, como o próprio site define, “a interlocução direta entre consumidores e empresas para solução de conflitos de consumo pela internet”. É uma das providências mais alinhadas com a Política E considerando o perfil constitucional da resolução de conflitos pela jurisdição estatal, neste método, há limites ao uso desses mecanismos que são identificados se a quantidade no emprego de tais mecanismos excede a participação humana nos procedimentos. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 35/48 Nacional de Relações de Consumo, focada na resolução de conflitos. Serviço público e gratuito, a plataforma se desenvolve de forma integralmente on-line (ODR) e de forma transparente. Permite que consumidores e empresas dialoguem diretamente para tentar solucionar questões associadas a produtos ou serviços prestados. A participação é voluntária de ambos os lados, devendo o consumidor se cadastrar e identificar adequadamente, com a apresentação dos detalhes da reclamação. A empresa, por sua vez, adere ao serviço mediante a assinatura de termo de adesão, documento formal que passa a sujeitá-la à plataforma e a apresentação de índices nela presentes. Tecnicamente, a plataforma funciona como um terceiro desinteressado no conflito e gera um ambiente de reaproximação das partes de forma tecnológica e a partir da credibilidade decorrente da própria atuação da Senacon e do desenvolvimento de seus resultados. Com isso e sem sugerir soluções, a plataforma funciona como uma verdadeira mediação on-line, promovendo o diálogo e resultados muito interessantes. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 Com base no case e no que já foi apresentado até aqui, pensando na ideia de Acesso à Justiça e suas dimensões, é correto dizer que A a mediação, a conciliação e até mesmo a arbitragem são métodos de resolução de conflitos, que promovem o conteúdo constitucional do Acesso à Justiça, apenas se desenvolvidos sem a utilização de meios digitais sob pena de comprometimento de suas características fundamentais. B a mediação, a conciliação e até mesmo a arbitragem são métodos de resolução de conflitos, que promovem o conteúdo constitucional do Acesso à Justiça. C apenas a jurisdição estatal, que se vale dos meios digitais para seu desenvolvimento, pode ser 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 36/48 Parabéns! A alternativa B está correta. A plataforma Consumidor.gov representa um importante mecanismo de mediação on-line, perfeitamente alinhado com a cláusula constitucional do Acesso à Justiça que determina a promoção de tantos mecanismos quanto forem possíveis para a resolução efetiva e adequada dos conflitos. Questão 2 Sobre a plataforma Consumidor.gov, as informações do case e considerando seu conhecimento acumulado até aqui, assinale a alternativa correta: considerada como um meio legítimo de resolução de conflitos. D a mediação, a conciliação e até mesmo a arbitragem são métodos de resolução de conflitos, que promovem o conteúdo constitucional do Acesso à Justiça, observada a garantia do devido processo legal, o que impede a implementação de mecanismos on-line de resolução. E a plataforma Consumidor.gov representa exemplo de arbitragem, ao passo que um terceiro desinteressado permite a reaproximação de partes em conflitos, facilitando que elas mesmas cheguem a uma solução. A A plataforma se caracteriza como uma modalidade de jurisdição estatal, ao passo que é sustentada por órgão vinculado ao Poder Executivo Federal (Senacon). B A plataforma se caracteriza como uma modalidade de jurisdição privada, ao passo que as próprias partes chegam, de forma privada, à solução para seus conflitos. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 37/48 Parabéns! A alternativa C está correta. A plataforma Consumidor.gov é um exemplo de mediação on-line gratuita, que permite a reaproximação das partes, hoje em conflito, para que cheguem, por si mesmas, a uma solução adequada do conflito. Questão 3 A partir do case proposto e de suas experiências prévias, discorra sobre os conceitos de mediação e arbitragem e como você vê a potencialidade de tais mecanismos na resolução de conflitos. Digite sua resposta aqui Chave de resposta C A plataforma se caracteriza como uma modalidade de mediação, ao passo que o ambiente on-line reaproxima partes distantes em conflito, permitindo que elas cheguem, por si sós, à solução de conflitos. D A plataforma se caracteriza como uma modalidade de conciliação, ao passo que o ambiente on-line reaproxima partes distantes em conflito, permitindo que elas cheguem, por si sós, à solução de conflitos. E A plataforma se caracteriza como uma modalidade de mediação, ao passo que o ambiente on-line reaproxima partes distantes em conflito, permitindo que elas cheguem, por si sós, à soluçãode conflitos. Porém, em razão dos custos envolvidos, em especial das taxas de utilização dos serviços, não é tão eficiente. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 38/48 É esperado que você explique que a mediação ocorre nas situações e estratégias de reaproximação das partes para que cheguem, por si mesmas, na solução de seus conflitos e que a arbitragem se caracteriza pela decisão jurisdicional privada feita por um terceiro desinteressado no conflito, ambos mecanismos que permitem a resolução mais efetiva e adequada de conflitos que demandam tais instrumentos. Online dispute resolutions (ODRs) e mediação on-line Online dispute resolution Neste vídeo, o professor explica o que é o Online Dispute Resolution e o surgimento da mediação on-line. Como gênero inclusive das cortes on-line, as ODRs (online dispute resolutions) podem ser integradas e compreendidas pelo uso de mecanismos que se valem do ambiente on-line ou virtual para solução das disputas jurídicas. Quer dizer, será considerado uma ODR um procedimento de solução do conflito que se desenvolva de forma on-line. Adicionalmente, como espécies, tem-se: i. As cortes on-line, se o desenvolvimento da jurisdição estatal ocorre de forma on-line. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 39/48 ii. Os demais métodos, paralelos à jurisdição estatal, de solução on- line dos conflitos (inclusive a arbitragem on-line tratada adiante). Aliás, desenvolveram-se, em primeiro lugar, no campo dos demais métodos (segunda espécie), e hoje a solução on-line já permeia a própria jurisdição estatal (primeira espécie). As ODRs iniciaram sua proliferação nos sistemas de solução de disputas como uma forma de e-ADR (eletronic alternative dispute resolution) porque estes, aliás, diante da complexidade social, não foram capazes de entregar o que prometeram, adotando-se a expressão “métodos alternativos” justamente na ideia de que eles serviriam como alternativa à clássica jurisdição estatal. Tendem a ser mais baratos ou mesmo gratuitos – esse último caso é o da plataforma Consumidor.gov.br, de que se tratará adiante. Exemplo Na Europa, muitos desses meios têm seu custeio a cargo do fornecedor ou são de baixo custo ao consumidor. Ademais, ainda quanto ao custo, cabe lembrar que esses meios on-line não reclamam a ida dos envolvidos a uma localidade específica para audiências ou outros atos presenciais. Destaque-se, também, que o fato de serem on-line amplia sua eficiência, já que muitas vezes sequer possuem intervenção humana de mediadores, sendo que podem comportar centenas ou milhares de negociações, mediações ou arbitragem simultaneamente. Outro benefício é a conveniência, que também converge para a mencionada redução de custos econômicos e pessoais não só do sistema, como das partes: ao lado de não ser necessário aos envolvidos comparecer a uma sala de sessões de negociação, conciliação, mediação ou arbitragem, não há, em princípio, a exigência de tais mecanismos serem síncronos – ou seja, não precisam contar com atos que demandam a presença simultânea dos sujeitos do processo, a depender do serviço de online dispute resolution utilizado: dessa forma, cada parte teria um prazo para acessar o sistema e efetuar suas propostas e considerações. Atenção! Importante dizer que como ODR não estão inseridos os processos judiciais eletrônicos que, embora se valham de procedimentos ou ferramentas de tecnologia e, algumas, on-line, não transformam por completo a prestação da jurisdição estatal, que continua com atos tradicionais ou, por assim dizer, “off-line”, como aqueles em que se dá o encontro físico entre sujeitos do processo ou seus representantes (v.g. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 40/48 audiências, sessões de julgamento, despachos presenciais, inspeção judicial etc.). A ODR não ocorre com a simples ou complexa automação de procedimentos, mas representa a transformação destes. Entre as ODRs, podem ser citados os mecanismos de mediação on-line. A premissa nesse método é a de que o procedimento de mediação é conduzido de forma integralmente on-line. A mediação, por si só, pode ser conceituada como o método pelo qual há a criação de um ambiente, com envolvimento humano ou não, de reaproximação das partes no conflito. Essa reaproximação é fundamental para que as partes cheguem, por si sós, a uma solução de conflitos. Isso tende a ser muito proveitoso para situações em que as partes eram muito próximas nos contratos firmados antes da geração do conflito e a reaproximação pode ser decisiva, a exemplo de lides em contexto familiar. Difere da conciliação, porque nesta há a sugestão pelo terceiro conciliador de uma solução às partes. Difere da jurisdição, estatal ou privada (arbitral), porque nestas um terceiro desinteressado decide o conflito com aptidão de definitividade. Naturalmente, como nos demais métodos, a mediação também é aprimorada pelo uso das tecnologias da informação e pode ser conduzida de forma on-line. Isso pode acontecer com participação humana como mediador, restabelecendo e promovendo o diálogo das partes, com atos síncronos (com todos participando ao mesmo tempo) ou apenas assíncronos. Pode também ser conduzida de forma on-line, em que o próprio ambiente on-line, por suas características, significa a reaproximação das partes, como é o exemplo da plataforma Consumidor.gov. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 41/48 Arbitragem on-line O princípio do Acesso à Justiça não tem como conteúdo apenas o acesso ao Poder Judiciário ou a uma decisão judicial estatal, mas o direito a uma solução adequada, efetiva e justa para o conflito de interesses. A arbitragem é técnica de solução de conflitos mediante a qual os conflitantes buscam em uma terceira pessoa, de sua confiança, a solução amigável e "imparcial" (porque não feita pelas partes diretamente) do litígio. É, portanto, mais um método ou mecanismo à disposição das partes para que essas possam por ele optar, se esse se apresentar de forma mais adequada e efetiva ao conflito. Em outras palavras, se ele fizer mais sentido ao conflito de direito material existente. Tradicionalmente, a arbitragem gera importantes benefícios para as partes que a escolheram, especialmente com relação à independência e à expertise dos árbitros, à privacidade dos envolvidos, à flexibilidade do procedimento e à celeridade na obtenção da sentença. As tecnologias possibilitaram, nesse contexto, um novo meio arbitral de resolver o conflito: a arbitragem on-line, que pode ser uma importante forma de atenuação de inconvenientes da arbitragem tradicional, como demora e custo, por meio do seu potencial de redução de custos e garantia de maior velocidade à arbitragem. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 42/48 A arbitragem on-line tem, assim, potencial para aprimorar o próprio método arbitral de resolver conflitos e, por consequência, potencializar o próprio conteúdo do princípio do Acesso à Justiça. Parece, então, ser possível conceituar a arbitragem on-line como a arbitragem que tenha seu procedimento integralmente desenvolvido por meio digital ou com os usos das tecnologias da informação. Nesse sentido, podem ser mencionadas algumas experiências relevantes. Experiências de destaque na arbitragem on- line Em primeiro lugar, cabe mencionar a Plataforma Europeia para resolução de disputas consumeristas, regulada pela Diretiva 2013/11/EU e pelo Regulamento EU nº 524/13, de 21 de maio de 2013, que cuida da resolução on-line de conflitos entre consumidores e fornecedores e traz a arbitragem entre as modalidades de mecanismos de solução de controvérsias. Saiba mais De acordo com oRegulamento EU nº 524/13, consumidores podem registrar reclamações na Plataforma de Resolução Online de Conflitos, cujo uso é facultativo, o que significa dizer que os consumidores podem optar por ingressar diretamente em juízo contra o fornecedor, ainda que a obtenção da resolução seja mais lenta e custosa. Vale salientar que a plataforma de consumo europeia tem obtido boa taxa de êxito. Ao longo do primeiro ano de implementação da Plataforma Europeia Consumerista ODR, uma pesquisa indicou que mais de 24.000 consumidores prestaram reclamação na Plataforma e mais de 40% alcançaram um acordo. Outro relevante sistema de arbitragem on-line é o Uniform Domain-Name Dispute Resolution Policy (UDRP), adotada por registradores credenciados pela ICANN em todos os gTLDs (Generic Top-Level Domain), a fim de analisar supostos abusos no uso do domínio de determinado site. Uma experiência interessante é a plataforma Kleros, a qual consiste em um protocolo de resolução on-line de conflitos que utiliza blockchain e 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 43/48 crowsourcing para resolver disputas de modo mais eficiente. Esse sistema visa resolver conflitos envolvendo áreas como e-commerce e economia compartilhada. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 44/48 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Considerando as ideias e definições de ODR, mediação e arbitragem on-line, assinale a alternativa correta: Parabéns! A alternativa A está correta. A A arbitragem on-line se caracteriza como uma ODR em que um terceiro desinteressado ao conflito decide o conflito pela condução de um procedimento integralmente on-line. B A mediação on-line se caracteriza como uma ODR em que um terceiro desinteressado ao conflito decide o conflito pela condução de um procedimento integralmente on-line. C A mediação on-line não se caracteriza como uma ODR em que um terceiro desinteressado ao conflito decide o conflito pela condução de um procedimento integralmente on-line. D A arbitragem on-line não se caracteriza como uma ODR em que um terceiro desinteressado ao conflito decide o conflito pela condução de um procedimento integralmente on-line. E A mediação on-line e a arbitragem on-line são métodos que se equivalem conceitualmente, apenas se diferenciando em razão dos custos envolvidos. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 45/48 A arbitragem on-line é caracterizada por um tipo de ODR, no qual o conflito é dirimido por um terceiro que não possui interesse no deslinde daquele litígio, sendo procedida inteiramente on-line. Questão 2 Assinale a alternativa que corresponda às principais vantagens da utilização da arbitragem on-line. Parabéns! A alternativa D está correta. A redução de custos e a maior celeridade dos procedimentos são as principais vantagens da arbitragem on-line em relação à arbitragem tradicional. A A aptidão de definitividade, característica típica do modelo on-line, e a celeridade dos procedimentos. B A aptidão de definitividade, característica típica do modelo on-line, e a redução de custos. C Aproximação das partes para resolverem por si sós o conflito e maior celeridade do procedimento. D Redução de custos e maior celeridade do procedimento. E Aproximação das partes para resolverem por si sós o conflito e redução de custos. 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 46/48 Considerações �nais Como vimos, o princípio do Acesso à Justiça pode ser compreendido em uma nova dimensão com a aplicação das tecnologias da informação no aprimoramento dos métodos de resolução de conflitos ou na criação de novos métodos. Dentro disto, estão as cortes on-line ou a Justiça Digital, caracterizada pela prestação da jurisdição estatal de forma integralmente on-line. No Brasil, destacam-se as Resoluções nº 345 e nº 372 do CNJ a esse respeito. Vimos também a crescente participação dos mecanismos de inteligência artificial nos atos procedimentais, sendo profícuas as iniciativas do país. Além do conceito, estudamos possíveis limites na utilização de tais mecanismos, especialmente a necessidade de preservação das decisões humanas. Por fim, vimos juntos as ODRs e as principais características dos mecanismos de mediação e arbitragem on-line. Podcast Neste podcast, o especialista tratará do surgimento da Justiça Digital e da resolução on-line de conflitos, destacando os benefícios e as críticas que lhes são dirigidas. Explore + 24/02/24, 23:14 Justiça Digital https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04140/index.html# 47/48 Conheça o projeto Dra. Luiza, implementado junto à Procuradoria do Distrito Federal para entender os processos de execuções fiscais. Saiba mais sobre o projeto em andamento no Supremo Tribunal Federal conhecido como Victor, nomeado justamente em homenagem ao ex- ministro do próprio STF Victor Nunes Leal. Conheça também sobre o projeto Sócrates, voltado para identificar previamente as controvérsias jurídicas presentes nos recursos especiais. Referências ALFORD, R. The Virtual World and the Arbitration World. In: Journal Of Arbitration, v. 449, p. 452, 2001. BRIGGS, L. J. Civil Courts Structure Review: Final Report, July 2016. CAPPELLETTI, M.; GARTH, B. Acesso à Justiça. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988. CORTÉS, P. Online dispute resolution for consumers in the European Union (Routledge Research in Information Technology and E-Commerce Law). London: Taylor and Francis, 2011. ECONOMIDES, K. Lendo as ondas do “movimento de acesso à justiça”: Epistemologia versus metodologia? In: PANDOLFI, D. [et al.] (orgs). Cidadania, justiça e violência. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1999. p. 61-76. 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