Prévia do material em texto
Direito Constitucional Unidade 2 Princípios constitucionais fundamentais e a eficácia da norma Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ELLEN THAYNNÁ MARA DELGADO BRANDÃO MILENA BARBOSA DE MELO AUTORIA Ellen Thaynná Mara Delgado Brandão Possuo graduação em Direito pela Universidade de Ciências Sociais Aplicadas (Unifacisa). Atualmente, sou professora conteudista e autora de cadernos de questões. Como jurista, atuo nas áreas de Direito Penal, Direito do Trabalho e Direito do Consumidor. Milena Barbosa de Melo Possuo graduação em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Sou Especialista e Mestra em Direito Comunitário e Doutora em Direito Internacional, todos esses títulos pela Universidade de Coimbra. Atualmente, sou professora universitária. Como jurista, atuo principalmente nas seguintes áreas: Direito Internacional – público e privado, Jurisdição Internacional, Direito Empresarial, Direito do Desenvolvimento, Direito da Propriedade Intelectual e Direito Digital. Com satisfação, fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Diante dessa oportunidade, estamos muito felizes em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Princípios do direito constitucional .................................................... 10 Princípios ............................................................................................................................................... 10 Princípios da Constituição ......................................................................................................... 11 Direito e as garantias fundamentais ................................................... 19 Conceito de direitos e as garantias fundamentais ................................................. 19 Características dos direitos e garantias fundamentais ....................................... 20 Dos direitos e deveres individuais e coletivos ........................................................... 21 Direitos sociais ...................................................................................................................................23 Direitos de nacionalidade ..........................................................................................................24 Dos direitos políticos.....................................................................................................................26 Dos partidos políticos ..................................................................................................................27 Formas de eficácia da norma constitucional ..................................29 Eficácia da norma constitucional .........................................................................................29 Normas de eficácia plena ......................................................................................29 Normas de eficácia contida ................................................................................. 30 Normas de eficácia limitada .................................................................................32 Classificação da norma constitucional .............................................. 37 A interpretação da Constituição ...........................................................................................37 Correntes da interpretação ..................................................................................................... 39 Métodos de interpretação ....................................................................................................... 40 Método jurídico ............................................................................................................. 40 Método tópico-problemático .............................................................................. 41 Método hermenêutico-concretizador .......................................................... 41 Método científico-espiritual ..................................................................................43 Método normativo-estruturante .......................................................................44 Interpretação comparativa ....................................................................................44 7 UNIDADE 02 Direito Constitucional 8 INTRODUÇÃO O Direito é um ramo que possui uma extensão de disciplinas, sendo o Direito Constitucional uma das principais, pois trata da Constituição Federal, norma norteadora dos demais ramos. Sendo assim, esta unidade será dedicada ao estudo dos princípios da Constituição Federal, relatando o que vem exposto no texto constitucional e a sua aplicabilidade. Ainda, como princípios essenciais à sociedade, estudaremos sobre os direitos e as garantias individuais, estabelecidas nas cláusulas pétreas contidas na norma. Sabendo da importância da norma, é necessário conhecer como se dá a sua eficácia e a sua interpretação. Vamos juntos nesta jornada? Direito Constitucional 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2 – Princípios constitucionais fundamentais e a eficácia da norma. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Entender de forma contextualizada os princípios do Direito Constitucional. 2. Identificar os princípios Constitucionais correlacionais aos direitos individuais. 3. Discernir sobre as formas de eficácia da norma Constitucional. 4. Assimilar a classificação da norma Constitucional. Você está preparado para adquirir conhecimento sobre um assunto fascinante e inovador como esse? Então, vamos lá! Direito Constitucional 10 Princípios do direito constitucional OBJETIVO: Você sabe que a Constituição Federal de 1988 exerce um papel essencial na vida do cidadão? Então, tanto é que ela é conhecida como a Carta Maior do Estado. Desse modo, abordaremos neste capítulo os princípios que norteiam essa norma máxima e a sua importância para a vida social. Prontos? Vamos lá! Princípios Iniciamos esta unidade fazendo o seguinte questionamento: você já ouviu falar sobre princípios? Sabe de fato o que eles representam e sua definição? E a sua importância no âmbito jurídico? A palavra “princípio” advém do latim, cujo significado, de forma simples, é de início, origem das coisas, começo. Com relação a esse assunto, é exposto por Silva (1989) que: No sentido jurídico, notadamente no plural, quer significar as normas elementares ou os requisitos primordiais instituídos como base, como alicerce de alguma coisa. E, assim, princípios revelam o conjunto de regras e preceitos, que se fixaram paraservir de norma a toda espécie de ação jurídica, traçando, assim, a conduta a ser tida em qualquer operação jurídica. Desse modo, exprimem sentido. Mostram a própria razão fundamental de ser das coisas jurídicas, convertendo-se em perfeitos axiomas. Princípios Jurídicos, sem dúvida, significam pontos básicos, que servem de ponto de partida ou de elementos vitais do próprio Direito. E, nesta acepção, não se compreendem somente os fundamentos jurídicos, legalmente instituídos, mas todo axioma jurídico derivado da cultura jurídica universal. Compreendem, pois, os fundamentos da Ciência Jurídica, onde se firmaram as normas originárias ou as leis científicas do Direito, que traçam as noções em que se estrutura o próprio Direito. Assim, nem sempre os princípios inscrevem-se nas leis. Mas, porque servem de base ao Direito, são tidos como preceitos fundamentais para a prática do Direito e proteção aos Direitos. (SILVA, 1989, p. 447) Direito Constitucional 11 Analisando o conceito exposto acima, podemos enxergar a importância dos princípios no ordenamento jurídico, não é mesmo? Os princípios representam uma base de suma importância do ordenamento jurídico, pois eles atuam como caminho de direção para elaboração e aplicação das normas jurídicas. Como forma de melhor compreensão do conceito de princípio, Silva (2003) traz os seguintes elementos que o definem: 1. São determinações nucleares e essenciais de um sistema normativo. 2. Agem como base da ordem jurídica. 3. São formados por elementos extraídos da cultura sociojurídica de uma sociedade. 4. Transmitem comandos que causam influência na composição e no funcionamento das demais normas jurídicas. Importante destacarmos que os princípios não se sobrepõem à lei, mas têm caráter normativo, pois possuem o condão de serem aplicados pela autoridade judicial. Eles também atuam como forma de orientação da lei, servindo de alicerce para o direito. Vendo a importância dos princípios e a sua definição, agora, cabe a nós estudar sobre os princípios do Direito Constitucional, tendo em mente que todos os ramos do Direito possuem princípios aplicáveis a eles. Princípios da Constituição Sendo considerados como normas abertas, os princípios constitucionais são aplicados como diretrizes de compreensão para as demais normas constitucionais. Pode-se dizer, então, que os princípios constitucionais possuem a finalidade de auxiliar na interpretação válida da Constituição, como também de suprir possíveis lacunas presentes no nosso diploma. Como sabemos, a Constituição Federal é norteadora do Direito Constitucional. Nesses termos, do 1º ao 4º artigo, a Carta Magna traz o rol dos princípios Constitucionais. Inicialmente, podemos dispor o texto do artigo 1º: Direito Constitucional 12 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. (BRASIL, 1988) Em que constitui cada um desses fundamentos? A soberania atribui ao Estado o poder de decisão, e esse fundamento vem acompanhado de dois requisitos: o território e o povo, pois são esses requisitos que permitem que ele exerça a sua soberania. Pode-se, ainda, dizer que essa soberania conferida ao Estado estabelece que não existe nenhum poder acima do Estado na ordem interna. No que tange à cidadania, quando o legislador utiliza essa expressão, ele a traz de forma abrangente e não apenas como um termo técnico-jurídico. Nesses termos, Paulo e Alexandrino (2017) asseguram que a cidadania não é satisfeita com a simples atribuição formal de direitos políticos ativos e passivos aos brasileiros que atendam aos requisitos legais. Essa cidadania estabelece que o Poder Público atue, de forma concreta, com a finalidade de incentivar e oferecer condições propícias à participação efetiva da política dos indivíduos na condução dos negócios do Estado, garantindo os seus direitos, controlando os atos dos órgãos públicos, cobrando dos seus representantes o cumprimento dos compromissos que foram assumidos em campanha eleitoral. IMPORTANTE: É por meio da cidadania que é assegurado ao indivíduo a sua integração de forma irrestrita na sociedade política. A dignidade da pessoa humana consagra o Brasil como uma organização centrada no ser humano, e não em qualquer outro referencial. Ela estabelece que a razão de o Estado existir não consiste na propriedade Direito Constitucional 13 nem nas classes, corporações, organizações religiosas, nem mesmo no próprio Estado, uma vez que a razão de ser tem como fundamento a pessoa humana. É da dignidade da pessoa humana que decorrem valores constitucionais como o direito à vida, à intimidade, à honra e à imagem. A dignidade da pessoa humana assenta-se no reconhecimento de duas posições jurídicas ao indivíduo. De um lado, apresenta-se como um direito de proteção individual, não só em relação ao Estado, mas, também, frente aos demais indivíduos. De outro, constitui dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes. (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 137) O quarto fundamento diz respeito aos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Esse fundamento configura o Brasil como um Estado que deve ser de forma obrigatória capitalista, mas, ao mesmo tempo, também assegura que, nas relações existentes entre o capital e o trabalho, deve ser reconhecido o valor social do labor. Esse fundamento é reforçado pelo art. 170 da Constituição Federal que dispõe: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social” (BRASIL, 1988, s/p). Por fim, existe o fundamento do pluralismo político, sendo estabelecido que a sociedade brasileira deve reconhecer e garantir a inclusão com relação ao processo de formação da vontade geral das várias correntes de pensamento e grupos representantes de interesses existentes na sociedade (PAULO; ALEXANDRINO, 2017). De forma sucinta, temos: Figura 1 – Fundamentos da Constituição Soberania Cidadania Dignidade da pessoa humana Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa Pluralismo político Fundamentos da república federativa do Brasil Fonte: Elaborado pelas autoras (2020). Direito Constitucional 14 Em seguida, o art. 2º da Constituição também faz parte dos princípios fundamentais, dispondo em seu texto: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” (BRASIL, 1988, s/p). Qual é, então, o princípio consagrado nesse artigo 2º? Como podemos observar, esse artigo é o responsável por consagrar o princípio da separação dos Poderes, também conhecido como princípio da divisão funcional do poder do Estado. A divisão de poder brasileira segue a tripartição dos poderes de Montesquieu, a qual, de acordo com Lenza (2020), separa as funções estatais em três órgãos diferentes, estando eles conectados, mas distintos, autônomos e independentes entre si: De acordo com essa teoria, cada Poder exercia uma função típica, inerente à sua natureza, atuando independente e autonomamente, não mais sendo permitido a um único órgão legislar, aplicar a lei e julgar, de modo unilateral, como se percebia no absolutismo. (LENZA, 2020, p. 376) A tripartição dos poderes de Montesquieu, então, determinou essa divisão em Legislativo, Executivo e Judiciário. Em tal divisão, o Poder Executivo é encarregado da função de governo e administração; o Poder Legislativo possui a função principal de elaborar as leis; e ao Poder Judiciário cabe o exercício da jurisdição. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre a separação dos poderes,assista ao vídeo “AGU Explica – Princípio da Separação dos Poderes”, disponível aqui. Nesse vídeo, é explicado sobre o princípio da separação dos poderes e a sua importância para a sociedade. Ainda, no que tange aos princípios do Direito Constitucional, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 3º, explicou quais são os objetivos que devem ser perseguidos pelo Estado Brasileiro. Quais são esses objetivos? Direito Constitucional https://www.youtube.com/watch?v=jia5lJfkkLY 15 De acordo com o artigo comentado, o Estado possui como objetivos fundamentais: 1. Construir uma sociedade livre, justa e solidária. 2. Garantir o desenvolvimento nacional. 3. Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. 4. Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, sexo, idade ou qualquer outra forma de discriminação. Você nota alguma similaridade entre esses objetivos? Podemos dizer que a similaridade deles é a de assegurar a igualdade material entre os indivíduos que compõem o Estado, possibilitando a todos oportunidades iguais para que possam alcançar o pleno desenvolvimento de sua personalidade, assim como para autodeterminar e atingir suas aspirações materiais e espirituais, condizentes com a dignidade que é garantida à pessoa humana. Figura 2 – Objetivos do Estado Construir uma sociedade livre, justa e solidária. Garantir o desenvolvimento nacional. Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, sexo, idade e qualquer outra forma de discriminação. Objetivos do Estado Fonte: Elaborado pelas autoras (2020). Por fim, o Título I da Constituição Federal, que trata dos princípios fundamentais, traz o seguinte texto em seu art. 4º: Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; Direito Constitucional 16 III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. (BRASIL, 1988) Como podemos observar, esses princípios orientam o Brasil nas suas relações internacionais, reconhecendo a soberania, no plano internacional, como um componente igualador dos Estados, além de reconhecer o indivíduo como o centro das preocupações do país. De forma a compreender melhor esses princípios, Paulo e Alexandrino (2017) remetem-nos a um contexto de modo aleatório, expondo que a independência nacional corresponde à manifestação da soberania na ordem internacional. Em contrapartida, a igualdade entre os Estados remete à não subordinação no plano internacional. Assim, essa igualdade é considerada formal, sendo essencialmente jurídica, tendo em vista que, quanto às economias, são totalmente diferentes as condições dos Estados. Entretanto, em busca de uma igualdade de forma, surge o princípio da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, tendo em vista a cooperação mútua entre os Estados em busca do progresso da humanidade. No que tange ao princípio da não intervenção, ele possui uma correlação com a autodeterminação dos povos e tem sua origem no reconhecimento da igualdade entre os Estados, devendo ser respeitada a soberania de cada um e respeitado que, em seu âmbito interno, os Estados não devem sofrer interferência na condução dos seus assuntos (PAULO; ALEXANDRINO, 2017). Direito Constitucional 17 IMPORTANTE: Não existem princípios absolutos, de forma que sua convivência deve seguir a lógica da cautela. No que tange ao princípio da prevalência dos direitos humanos, é exposto que, quando houver casos extremos de afronta aos direitos humanos por um Estado, o Brasil poderá declarar apoio à interferência de outros Estados naquele, com a finalidade de impedir a continuação de situações de grande degradação da dignidade da pessoa humana (PAULO; ALEXANDRINO, 2017). Nesses casos, podemos dizer que a dignidade da pessoa humana terá prevalência até mesmo sobre a soberania. Seguindo a linha do princípio da prevalência dos direitos humanos, o constituinte também, em sua normatização, consagra o princípio do repúdio ao terrorismo e ao racismo e a concessão de asilo político. Essa concessão de asilo político é concedida a pessoas que estejam sendo perseguidas por outro Estado, por motivos políticos ou de opinião. Figura 3 – Asilo político Fonte: Pixabay. Por fim, correspondem aos princípios que regem as relações internacionais a defesa da paz e a solução pacífica de conflitos, visando a um mundo mais justo e mais pacífico. Com a finalidade de formação de uma comunidade latino-americana de nações, o parágrafo único do art. 4º, o qual acabamos de estudar, traz, ao lado desses 10 princípios, o objetivo que o Brasil deve perseguir no plano internacional, que é o da integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina. Direito Constitucional 18 Observando esses princípios, podemos, então, enxergar a importância que a Constituição tem para o nosso país, seja como mecanismo de organização, seja como disciplina das regras para que nos tornemos cada vez mais uma nação igualitária e de direitos e deveres. RESUMINDO: Como forma de compreender a importância da Constituição Federal de 1988, estudamos, neste capítulo, os seus princípios, que se encontram elencados no Título I do texto normativo. Entretanto, inicialmente, dispomos o que são os princípios, demonstrando que eles correspondem à origem das coisas. Como princípios, que são fundamentos do Estado Democrático de Direito, temos: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. O Brasil tem seu poder dividido entre três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. O Estado possui direitos que devem ser perseguidos, a exemplo de uma sociedade livre, justa e solidária, o desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza, entre outros. Por fim, vimos os princípios norteadores das relações internacionais, sendo eles: independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político. Direito Constitucional 19 Direito e as garantias fundamentais OBJETIVO: Você já ouviu falar sobre os direitos e as garantias fundamentais? Eles são elementos importantes para os indivíduos e estão presentes na nossa Constituição Federal. Sabendo disso, que tal saber em que consistem esses direitos e garantias? Vamos lá! Conceito de direitos e as garantias fundamentais Em que consiste a diferença entre os direitos e as garantias fundamentais? Quem expõe essa distinção são Paulo e Alexandrino (2017), retratando que os direitos fundamentais correspondem aos bens em si mesmos considerados, declarados como tais nos textos constitucionais. Já as garantias correspondem aos instrumentos que são assegurados no exercício dos direitos fundamentais de forma preventiva ou no caso de sua violação. A Constituição Federal de 1988, em seu Título II, traz o gênero de direito e garantias fundamentais, sendo divididos em grupos correspondentes a: • Direitos e deveres individuais e coletivos. • Direitos sociais. • Direitos de nacionalidade. • Direitos políticos.• Partidos políticos. Esses grupos são divididos entre os artigos 5º ao 17 da Constituição Federal. Direito Constitucional 20 Características dos direitos e garantias fundamentais Os direitos e garantias fundamentais possuem características. Essas características são elencadas por Lenza (2020), consistindo em: • Historicidade – eles possuem caráter histórico, tendo nascido no cristianismo, passando pelas revoluções e chegado até os dias atuais. • Universalidade – eles são destinados a todos os indivíduos, sem distinção. • Limitabilidade – eles não são absolutos, pois, diversas vezes, dependendo do caso concreto, poderá haver confronto ou conflito de interesses. • Concorrência – eles podem ser exercidos de forma cumulativa. • Irrenunciabilidade – eles não podem ser renunciados, o que pode acontecer é o seu não exercício. • Inalienabilidade – eles são indisponíveis, não podendo aliená-los por não terem conteúdo econômico-patrimonial. • Imprescritibilidade – a prescrição corresponde a um instituto jurídico que só atinge a exigibilidade de direitos de caráter patrimonial, não a exigibilidade dos direitos personalíssimos, como é o caso dos direitos fundamentais. É importante ressaltarmos que os direitos fundamentais são considerados como normas abertas. O que isso quer dizer? Quer dizer que é permitido que sejam inseridos novos direitos que não estejam previstos na Constituição. IMPORTANTE: Não existe uma lista, de forma taxativa, de todos os direitos fundamentais, pois eles se constituem como um conjunto aberto, mutável no tempo e dinâmico. Direito Constitucional 21 O parágrafo segundo do art. 5º da Constituição Federal de 1988 afirma essa característica de norma aberta dos direitos e garantias fundamentais, estabelecendo que os direitos que são expressos na norma constitucional não excluem os demais que decorram do regime e dos princípios por ela adotados, ou, ainda, dos tratados internacionais de que o Brasil faça parte. Outro questionamento importante a ser feito é sobre a aplicabilidade das normas que definem os direitos e as garantias fundamentais. Assim, de que forma acontece a aplicação das normas definidoras dos direitos e das garantias fundamentais? O art. 5º, parágrafo primeiro, da Constituição Federal, estabelece que as normas que definem os direitos e as garantias fundamentais possuem aplicação imediata, o que quer dizer que essas normas são dotadas de todos os elementos e meios que são necessários para a sua incidência aos fatos, situações, condutas ou comportamentos que elas regulam. Entretanto, Paulo e Alexandrino (2017) observam que existe uma exceção a essa regra, que ocorre no caso dos direitos fundamentais, os quais se encontram previstos em normas de eficácia limitada, dependentes de regulamentação ordinária. Sabendo em que consiste os direitos e garantias fundamentais, assim como suas principais características, agora, cabe a nós estudar quais são esses direitos. Dos direitos e deveres individuais e coletivos O artigo 5º da Constituição Federal estabelece que todos são iguais perante a lei, sem haver qualquer distinção, sendo garantido a todos que residem no Brasil a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. • Direito à vida: o direito à vida é o mais importante de todos os direitos fundamentais, assim, a Constituição protege a vida de forma geral, tanto a extrauterina quanto a intrauterina. Direito Constitucional 22 • Direito à liberdade: deve ser tomada de forma ampla, compreendendo não somente a liberdade física, mas também a de locomoção, de crença, de convicções, de expressão de pensamento, de reunião, de associação, entre outros. • Direito à igualdade: a igualdade representa a base fundamental da democracia. Esse direito assegura um tratamento igual aos que se encontram em situações consideradas equivalentes e devendo ser tratados os desiguais de forma desigual, conforme a sua desigualdade. NOTA: Esse direito de igualdade tem como destino principal o legislador, sendo vedado a ele estabelecer um tratamento diferenciado entre as pessoas que mereçam tratamento idêntico. Entretanto, pode ser conferido um tratamento diferenciado às pessoas que possuem distinção, assim, é permitido uma discriminação entre indivíduos quando existir uma razão razoável para a discriminação. • Direito à segurança: a Constituição garante a todos o direito à segurança, sendo determinado pelo art. 144 da Constituição Federal: Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (BRASIL, 1988) Direito Constitucional 23 • Direito à propriedade: o direito de propriedade não é visto mais como um direito absoluto, mesmo o Brasil sendo um Estado Democrático Social de Direito, assegurando, então, que a propriedade deve atender à função social. Entretanto, o direito à propriedade funciona como uma norma de eficácia contida. Norma de eficácia contida é aquela em que o legislador regula os interesses relativos à determinada matéria, deixando margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária do Poder Público, de acordo com o que for estabelecido pela lei (PAULO; ALEXANDRINO, 2017). É importante destacarmos que esse direito de propriedade abrange tanto os bens corpóreos quanto os incorpóreos. SAIBA MAIS: Conheça todos os direitos e deveres individuais e coletivos lendo o artigo 5º da Constituição, rol que determina que os homens e as mulheres são iguais em direitos e obrigações; ninguém pode ser submetido à tortura; todos podem manifestar seu pensamento, sendo vedado o anonimato. Disponível aqui. Conhecendo os direitos e deveres individuais e coletivos, vamos estudar sobre os direitos sociais. Direitos sociais O artigo 6º da Constituição Federal estabelece que: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (BRASIL, 1988) É exposto por Paulo e Alexandrino (2017) que esses direitos constituem as liberdades positivas, devendo ser observados de forma obrigatória em um Estado Social de Direito, com a finalidade de melhorar as condições de vida dos mais pobres, visando concretizar a igualdade social. Direito Constitucional http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.html 24 A Constituição Federal cuida desses direitos em seus artigos 6º, 7º, 8º, 9º, 10 e 11, elencando, inclusive, os direitos dos trabalhadores. SAIBA MAIS: Leia os artigos 6º ao 11 da Constituição para compreender qual é o rol dos direitos sociais, podendo encontrar entre eles o seguro-desemprego, o piso salarial e a aposentadoria. Disponível aqui. Vendo em que consistem os direitos sociais, partimos agora para os direitos de nacionalidade. Direitos de nacionalidade O que vem a ser nacionalidade? De acordo com Paulo e Alexandrino (2017), a nacionalidade consiste no vínculo jurídico-político de direito público interno, que transforma a pessoa em um dos elementos que compõem a dimensão do Estado. É de responsabilidade de cada Estado definir quem são os seus nacionais, quem não for por ele determinado como nacional, é chamado de estrangeiro. Nessa concepção, também é importante definirmos o que vem a ser nação. Assim, é estabelecido por Paulo e Alexandrino (2017) que a nação corresponde a um agrupamento de indivíduos em que os membros, fixados em um território,são ligados por laços históricos, econômicos, culturais e linguísticos. Sabendo dessas definições, quando se trata da nacionalidade, a Constituição Federal traz duas figuras distintas: os brasileiros natos e os brasileiros naturalizados. Qual é a diferença existente entre essas figuras? A diferenciação dessas figuras pode ser encontrada no próprio texto constitucional, em seu art. 12, em que consta: Direito Constitucional http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 25 Art. 12. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; II - naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. (BRASIL, 1988) De forma geral, podemos notar que os brasileiros natos são aqueles que possuem natureza originária, já os naturalizados têm a aquisição da nacionalidade de forma secundária. Além de estabelecer a diferença entre os brasileiros natos e os naturalizados, a Constituição também dispõe quais cargos só podem ser exercidos pelos brasileiros natos, em seu art. 12, § 3º, sendo eles: • Presidente e vice-presidente da República. • Presidente da Câmara dos Deputados. • Presidente do Senado Federal. Direito Constitucional 26 • Ministro do Supremo Tribunal Federal. • Carreira diplomática. • Oficial das Forças Armadas. • Ministro de Estado da Defesa. Esses cargos são de suma importância para o Brasil e, em virtude disso, existe essa exceção. Dos direitos políticos Como já sabemos, um dos princípios da Constituição Federal é a soberania, que deve ser exercida por meio do sufrágio universal e do voto direto e secreto. É nessa perspectiva que surgem os direitos políticos, sendo determinados pelo art. 14 da Constituição Federal que: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. (BRASIL, 1988) Primeiramente, cabe a nós questionarmos: o que vem a ser o direito ao sufrágio? Esse direito corresponde à capacidade que o indivíduo possui de votar (capacidade eleitoral ativa) e de poder ser votado (capacidade eleitoral passiva), sendo essa capacidade a essência dos direitos políticos. E com relação ao artigo 14, acima mencionado, o que vem a ser plebiscito, referendo e iniciativa popular? Paulo e Alexandrino (2017) explicam que plebiscito e referendo correspondem às consultas que são formuladas ao povo para que se delibere sobre matéria de acentuada relevância. Assim, o plebiscito é ato convocado com anterioridade ao ato legislativo ou administrativo, sendo de responsabilidade dos indivíduos, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido. Já o referendo é um ato convocado de forma posterior ao ato legislativo ou administrativo, sendo dever do povo a sua ratificação ou rejeição. Direito Constitucional 27 No que tange à iniciativa popular, como o próprio nome já diz, corresponde ao ato da população por meio de assinaturas para apresentação de um projeto de leis. Assim, a quem esse projeto de lei é apresentado? O projeto de lei da iniciativa popular é apresentado à Câmara dos Deputados. O art. 15 da Constituição Federal ainda determina que: Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. (BRASIL, 1988) A perda dos direitos políticos corresponde à privação definitiva. Já a privação temporária é chamada de suspensão dos direitos políticos. Somente a Constituição pode prever as situações de perda ou de suspensão de direitos políticos. Dos partidos políticos Por fim, no que tange aos grupos dos direitos e garantias fundamentais, temos os partidos políticos. É determinado pelo art. 17 da Constituição Federal que é livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, devendo ser resguardada a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e ainda, devem-se respeitar alguns preceitos, sendo eles: • Ter caráter nacional. • Não receber recursos financeiros de entidades ou de governos estrangeiros ou de subordinação a esses. • Prestar contas à Justiça Eleitoral. Direito Constitucional 28 • Obedecer aos ditames da lei com relação ao funcionamento parlamentar. O parágrafo primeiro do art. 17 da nossa Carta Maior estabelece que, aos partidos políticos, é assegurado autonomia para definição de sua estrutura interna e para estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e no que diz respeito a sua organização e funcionamento. De forma sucinta, os partidos políticos são responsáveis por reger os ditames sobre os indivíduos a eles vinculados, indivíduos esses que serão eleitos por meio dos votos para representar a população. Estudados os direitos e garantias fundamentais, podemos perceber o quanto eles são essenciais à vida da nação e à organização do Estado. RESUMINDO: Estudamos, neste capítulo, sobre os direitos e as garantias fundamentais, estudando inicialmente, em que consiste a diferença entre esses dois elementos e as suas características. Vimos que esses direitos e garantias são divididos em grupos, na realidade, em cinco grupos, sendo eles: direitos e deveres individuais e coletivos; direitos sociais; direitos de nacionalidade; direitos políticos; e partidos políticos. Desse modo, podemos enxergar o quanto esses direitos e garantias atribuem mais segurança para os indivíduos que compõem o Estado Federativo. Direito Constitucional 29 Formas de eficácia da norma constitucional OBJETIVO: Todas as normas possuem uma eficácia. Elas são delimitadas e estabelecidas para atender os interesses da sociedade, mas nem todas contêm o dispositivo de forma completa, necessitando de leis ordinárias para complementação. Assim, neste capítulo, estudaremos quais são as formas de eficácia da norma. Empolgados? Vamos lá! Eficácia da norma constitucional Em regra, as normas constitucionais apresentam uma eficácia, que pode ser jurídica e social, sendo que outras possuem eficácia apenas jurídica. Nesse sentido, Lenza (2020) aponta que: [a] eficácia social se verifica na hipótese de a norma vigente, isto é, com potencialidade para regular determinadas relações, ser efetivamente aplicada a casos concretos. Eficácia jurídica, por sua vez, significa que a norma está apta a produzir efeitos na ocorrência de relações concretas; masjá produz efeitos jurídicos na medida em que a sua simples edição resulta na revogação de todas as normas anteriores que com ela conflitam. (LENZA, 2020, p. 121) Para que se compreenda a eficácia da norma, foi estabelecido, de acordo com Lenza (2020), uma divisão, sendo ela: norma de eficácia plena, norma de eficácia contida e norma de eficácia limitada. Importante destacar que essa divisão foi elaborada por José Afonso da Silva e é a utilizada pela maioria dos doutrinadores. Normas de eficácia plena Quando se diz que as normas possuem eficácia plena, o que queremos dizer? Direito Constitucional 30 De acordo com Lenza (2020), as normas constitucionais de eficácia plena são as normas da Constituição que, assim que entram em vigor, já se tornam aptas para produzir todos os seus efeitos, independentemente de norma integrativa infraconstitucional. Reforçando, essas normas são aquelas que recebem do constituinte valor normativo suficiente para sua incidência de forma imediata. NOTA: As normas de eficácia plena não necessitam de elaboração de novas normas para que as completem. Como exemplo de norma de eficácia plena, podemos citar o artigo 2º da Constituição Federal, que estabelece os poderes da União de forma autônoma e independente entre si. Normas de eficácia contida O que vêm a ser as normas constitucionais de eficácia contida? Lenza (2020) responde a essa pergunta determinando que as normas de eficácia contida possuem aplicabilidade direta e imediata, mas possivelmente não integrada. O que isso quer dizer? Quer dizer que as normas, ao serem promulgadas ou assim que entrarem em vigor, embora possuam condições de produzir todos os seus efeitos, poderão ser reduzidas no que concerne a sua abrangência. Nas normas constitucionais de eficácia contida, há uma limitação da eficácia e de aplicabilidade. Ainda, é ressaltado por Lenza (2020) que: A restrição de referidas normas constitucionais pode- se concretizar não só através de lei infraconstitucional mas, também, em outras situações, pela incidência de normas da própria Constituição, desde que ocorram certos pressupostos de fato, por exemplo, a decretação do estado de defesa ou de sítio, limitando diversos direitos. (LENZA, 2020, p. 172) Direito Constitucional 31 De forma sintética, podemos expor que as restrições de limitação à eficácia e à aplicabilidade das normas contidas são as que contêm na figura a seguir. Figura 4 – Restrições que limitam a eficácia e a aplicabilidade das normas de eficácia contida Uso de conceitos ético-jurídicos (segurança nacional, bons costumes etc.) Outras normas constitucionais Legislador infraconstitucional Restrições das normas de eficácia contidas Fonte: Elaborado pelas autoras (2020). Nesses termos, são enumerados os seguintes pontos: a) são normas que, em regra, solicitam a intervenção do legislador ordinário, fazendo expressa remissão a uma legislação futura; mas o apelo ao legislador ordinário visa a restringir-lhes a plenitude da eficácia, regulamentando os direitos subjetivos que delas decorrem para os cidadãos, indivíduos ou grupos; b) enquanto o legislador ordinário não expedir a normação restritiva, sua eficácia será plena; nisso também diferem das normas de eficácia limitada, de vez que a interferência do legislador ordinário, em relação a estas, tem o escopo de lhes conferir plena eficácia e aplicabilidade concreta e positiva; c) são de aplicabilidade direta e imediata, visto que o legislador constituinte deu normatividade suficiente aos interesses vinculados à matéria de que cogitam; d) algumas dessas normas já contêm um conceito ético juridicizado (bons costumes, ordem pública etc.), com valor societário ou político a preservar, que implica a limitação de sua eficácia; e) sua eficácia pode ainda ser afastada pela incidência de outras normas constitucionais, se ocorrerem certos pressupostos de fato (estado de sítio, por exemplo). (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 58) Um exemplo de norma de eficácia contida é citado por Lenza (2020): o art. 5º, XIII, da Constituição Federal, no qual é assegurado o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, devendo ser atendidas Direito Constitucional 32 as qualificações profissionais que a lei estabelecer. Analisando esse artigo, podemos ver que é garantido o direito do livre exercício. Mas uma lei como, por exemplo, o Estatuto do Conselho Regional de Medicina, pode exigir que, para se tornar médico, deve-se ser aprovado em um exame específico. Normas de eficácia limitada Quando nos deparamos com a expressão “eficácia limitada”, já pensamos que, para que a norma possa ter eficácia, é estabelecido um limite. Mas as normas de eficácia limitada realmente significam isso? O conceito de normas de eficácia limitada é exposto por Lenza (2020). Ele determina essas normas como aquelas que, de forma imediata, assim que a Constituição é promulgada ou começa a entrar em vigor, não possuem a força de produzir todos os seus efeitos. Se essas normas não possuem todos os seus efeitos, como, então, elas possuirão sua eficácia de forma plena? É determinado para as normas de eficácia limitada que exista norma regulamentadora infraconstitucional, a qual que deve ser editada por um Poder, órgão ou autoridade competente, ou até mesmo com uma integração por meio de emenda constitucional (LENZA, 2020). Paulo e Alexandrino (2017) retratam, ainda, que José Afonso da Silva classifica as normas de eficácia limitada em dois grupos diferentes, sendo eles: Figura 5 – Grupos de normas de eficácia limitada Princípio programático Princípio institutivo ou organizativo Normas de eficácia limitada Impositiva ImpositivaFacultativa Fonte: Elaborado pelas autoras (2020). Direito Constitucional 33 • As definidoras de princípio institutivo ou organizativo – são aquelas em que o legislador traça esquemas, de forma geral, da estruturação e das atribuições de órgãos, entidades ou institutos, para que, em um momento posterior, possa haver uma estruturação de forma definitiva, mediante lei. Exemplo desse grupo é o art. 33 da Constituição Federal: “A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios” (BRASIL, 1988, s/p). Essas normas de princípio institutivo ou organizativo podem ser tanto impositivas quanto facultativas. O que isso quer dizer? Quando dizemos que a norma é impositiva, referimo-nos às normas que são determinadas pelo legislador, de forma definitiva, para a emissão de uma legislação integrativa. Já quando se fala em normas facultativas, é quando não há a imposição de uma obrigação, limitando-se a conceder ao legislador ordinário a possibilidade de instituir ou de regular a situação contidas nelas. • As definidoras de princípio programático – correspondem às normas em que o constituinte, ao invés de regular de forma direta e imediata certos interesses, limita-se a traçar os princípios e as diretrizes para serem cumpridos pelos órgãos que integram os poderes constituídos, como programas das suas respectivas atividades, com a finalidade de realizar os fins sociais do Estado. NOTA: Quais são os órgãos integrantes dos poderes constituídos? Os órgãos são o Legislativo, o Executivo, o Judiciário e o Administrativo. Muitas pessoas confundem as normas constitucionais de eficácia contida com as de eficácia limitada. De forma a facilitar a distinção entre essas duas normas, Paulo e Alexandrino (2017) enumeram alguns pontos que devem ser considerados, sendo eles: Direito Constitucional 34 • Quando uma Constituição é promulgada, as normas de eficácia contida têm aplicação direta e imediata, ou seja, o direito nelas previsto é imediatamente exercitável; no que tange às normas de eficácia limitada, elas têm aplicabilidade indireta e mediata. Isso significa que o exercício do direito, que nelas está previsto, depende deuma regulamentação ordinária. • Tanto as normas de eficácia contida quanto as de eficácia limitada requerem uma normatização legislativa, mas o objetivo de cada uma dessas normatizações é diferente. Assim, temos que: nas normas de eficácia contida, a normatização ordinária deverá impor limites ao exercício do direito; nas normas de eficácia limitada, por sua vez, a regulamentação ordinária tem o condão de assegurar, para que se torne viável o pleno exercício do direito, até então não efetivo. • Quando não há regulamentação, as consequências são diferentes, assim: as normas de eficácia contida, até o momento em que não houver regulamentação ordinária, terão exercício do direito de forma ampla, portanto a legislação ordinária virá como forma de impor restrições ao exercício desse direito; nas normas de eficácia limitada, até o momento em que não houver regulamentação ordinária, não haverá efetivo exercício do direito. Desse modo, a legislação ordinária virá para tornar pleno o exercício desse direito. Assim, temos a seguinte divisão: Figura 6 – Formas de eficácia da norma Eficácia plena Eficácia contida Eficácia limitada De princípio institutivo ou organizativo De princípio programático Eficácia da norma Fonte: Elaborado pelas autoras com base em José Afonso da Silva (2020). Importante mencionarmos que, além dessa classificação de autoria de José Afonso da Silva (que é a mais utilizada), os doutrinadores também consideram a classificação de Maria Helena Diniz. Direito Constitucional 35 De acordo com Paulo e Alexandrino (2017), a classificação de Maria Helena Diniz combina os critérios de intangibilidade e de produção dos efeitos concretos das normas constitucionais, trazendo as seguintes categorias de normas constitucionais: • Normas de eficácia absoluta – são as normas constitucionais intangíveis, não podendo ser contrariadas ou emendadas nem mesmo por meio de emenda constitucional. Como exemplo de normas de eficácia absoluta, temos as cláusulas pétreas. • Normas de eficácia plena – correspondem às normas que são eficazes de forma plena desde o momento em que a constituição entra em vigor devido ao fato de conterem todos os elementos que são imprescindíveis para que haja a produção imediata dos efeitos que são previstos. As normas de eficácia plena diferem-se das de eficácia absoluta, pois, ao contrário das primeiras, estas podem ser atingidas por emenda constitucional. Um exemplo de norma de eficácia plena é o parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal, o qual dispõe que todo poder emana do povo, devendo ser exercido por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da norma Constitucional. • Normas de eficácia relativa restringível – são equivalentes às normas classificadas por José Afonso da Silva como normas de eficácia contida. Assim, são normas de aplicabilidade imediata, muito embora sua eficácia possa ser reduzida ou restringida nos casos em que for determinado pela lei. • Normas com eficácia relativa dependente de complementação legislativa – são normas que não têm aplicação imediata. Isso porque elas não dependem de uma norma posterior que lhes conceda sua eficácia para que, então, possam permitir o exercício do direito ou do benefício que estiver nelas consagrado. Assim, é uma norma de eficácia mediata, pois, enquanto não houver uma Direito Constitucional 36 legislação regulamentadora, não haverá a produção de efeitos positivos, mas a sua eficácia será paralisante de efeitos de normas precedentes incompatíveis e ainda será impeditiva de qualquer conduta contrária ao que será estabelecido. Figura 7 – Formas de eficácia da norma Eficácia absoluta Eficácia plena Eficácia relativa restringível Eficácia relativa dependente de complementação legislativa Eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais Fonte: Elaborado pelas autoras com base em Maria Helena Diniz (2020). Estas são, então, as classificações utilizadas pelos doutrinadores com relação às normas constitucionais. É válido destacar que elas são importantes para compreendermos os dispositivos contidos em nossa Constituição Federal. RESUMINDO: Estudamos, neste capítulo, as formas de eficácia da norma Constitucional. Vimos que as normas constitucionais apresentam uma eficácia, podendo ser elas jurídica e social, e outras possuindo eficácia apenas jurídica. De forma a compreender melhor a eficácia das normas, José Afonso da Silva elaborou uma divisão, sendo ela a mais utilizada pelos doutrinadores, essa divisão consiste em: norma de eficácia plena (normas aptas a produzirem efeito), norma de eficácia contida (normas que podem ter redução com relação a sua abrangência) e norma de eficácia limitada (não possuem a forma de produzir todos os seus efeitos). Além dessa divisão, estudamos a proposta de Maria Helena Diniz, a qual consiste em: normas de eficácia absoluta, normas de eficácia plena, normas de eficácia relativa restringível e normas de eficácia relativa dependente de complementação legislativa. Direito Constitucional 37 Classificação da norma constitucional OBJETIVO: Este capítulo se dedicará a explicar a interpretação da Constituição, porque o texto vai além do que está simplesmente escrito, devendo levar em consideração diversos fatores que envolvem o contexto social. Prontos para mais este conhecimento? Vamos lá! A interpretação da Constituição Já sabemos quais são os princípios da Constituição, os seus direitos e garantias assegurados e a eficácia da norma. No entanto, no que tange a sua forma de interpretação, você imagina como ela é feita? Por outro lado, na sua concepção, é só ler e fazer o que vem escrito no texto, sem a necessidade de fazer uma interpretação do dispositivo? As normas constituintes vão além de um simples texto que você lê e do qual extrai o conteúdo como está escrito, pois é necessário interpretá- las, ou seja, compreendê-las, investigá-las, analisando o conteúdo semântico dos enunciados. A interpretação da Constituição não é uma tarefa única do Poder Judiciário, já que é ele que aplica as determinações normativas. Essa tarefa é atribuída também aos Poderes Legislativo e Executivo. A gente já sabe que é de competência da Constituição proteger, de forma simultânea, os mais variados bens e direitos – como a liberdade de imprensa, a saúde, o trabalho, a integridade física e moral, entre outros – refletindo valores que podem, em determinadas relações, conflitar ou colidir. Exemplo: Como exemplo de direitos Constitucionais que podem entrar em confronto, temos o direito de liberdade de imprensa e a garantia da inviolabilidade do indivíduo. Direito Constitucional 38 Figura 8 – Liberdade das pessoas e da imprensa Fonte: Freepik. Assim, quando existe confronto ou conflito, é indispensável que sejam utilizadas técnicas de interpretação constitucional, não somente visando à solução dos conflitos no caso concreto, mas também para que possa ser conferida eficácia e aplicabilidade a todas as normas constitucionais. Sobre esse assunto, Lenza (2020) aponta que: A interpretação constitucional não tem natureza substancialmente diferente da que se opera em outras áreas. São, portanto, aplicáveis à interpretação constitucional os mesmos métodos de interpretação das demais normas jurídicas - gramatical, teleológico, sistemático, histórico etc. Ao lado destes, entretanto, como decorrência da superioridade hierárquica das normas constitucionais, existem alguns princípios e métodos próprios, que norteiam a interpretação das Constituições. (LENZA, 2020, p. 65) O Direito moderno determina ser imprescindível que haja a interpretação da Constituição em todos os casos, ou seja, em todas as leis, decretos, atos, emendas e componentes normativos. Nesses termos, Paulo e Alexandrino (2017) apontam que o constitucionalista Canotilho expôs que toda norma é significativa,no entanto o significado não constitui um dado prévio, pois é, sim, o resultado da tarefa interpretativa. Direito Constitucional 39 Correntes da interpretação Paulo e Alexandrino (2017) destacam que existem duas correntes responsáveis pela problematização da interpretação Constitucional, sendo elas: as correntes interpretativistas e as não interpretativistas. Mas em que consistem essas correntes? As correntes interpretativistas determinam que, quando os juízes interpretam a Constituição, eles devem se limitar à captura do sentido dos preceitos expressos no texto constitucional ou que estejam, pelo menos, nele implícitos de forma clara. Essa corrente aponta que existem limites para a interpretação, sendo esses limites a textura semântica e a vontade do legislador. De forma geral, para os interpretativistas, o controle judicial dos atos legislativos possui dois limites: 1. A própria Constituição escrita. 2. A vontade do poder político democrático. As correntes não interpretativistas atuam em defesa da possibilidade e da necessidade de os juízes trazerem a interpretação e aplicarem os valores e princípios substantivos contra práticas que são de responsabilidade do Legislativo e que estejam em desconformidade com o texto constitucional. Assim, devem-se utilizar os valores substantivos. NOTA: Você sabe quais são os princípios e os valores substantivos? Os princípios substantivos são os princípios da liberdade e da justiça, enquanto os valores são os da justiça, da igualdade e da liberdade. Saber em que consistem as correntes da interpretação é de suma importância para compreender o tema que será tratado a partir da próxima seção. Iremos, então, estudar em que consistem os métodos de interpretação. Direito Constitucional 40 Métodos de interpretação O Direito moderno enumera métodos de interpretação que foram desenvolvidos tanto pela doutrina quanto pela jurisprudência. Esses métodos foram baseados em critérios diferentes. Entretanto, de forma geral, são complementares de forma recíproca, caracterizando, assim, a natureza unitária que a interpretação possui. Lenza (2020) apresenta seis métodos de interpretação, sendo eles: método jurídico, método tópico-problemático, método hermenêutico- concretizador, método científico-espiritual, a metódica jurídica normativo- estruturante e a interpretação comparativa. Agora, iremos estudar as características de cada um desses métodos. Método jurídico O método jurídico considera a Constituição como uma lei. Assim, o ato de interpretar a Constituição corresponde ao ato de interpretar uma lei. Mas como ocorre essa interpretação? Para que essa interpretação possa existir, é necessário usar as regras de hermenêutica. Além disso, também é preciso utilizar elementos interpretativos, conforme citam Paulo e Alexandrino (2017): • Elemento filológico – literalidade do texto, considerando a parte gramatical e textual. • Elemento lógico – utilizando a sistematização. • Elemento histórico – devendo ser analisado o contexto em que o trabalho do constituinte aconteceu e os registros dos debates que foram travados para elaboração. • Elemento teleológico – analisando a finalidade da norma. • Elemento genérico – devem ser investigadas as origens dos conceitos que são utilizados no texto constitucional. Esse método possui a função de ser o ponto de partida para que seja realizada a interpretação, sendo, também, um ponto de limite para atuação do intérprete. Direito Constitucional 41 Método tópico-problemático Existem três premissas que são o ponto de partida do método tópico-problemático. Essas premissas são expostas por Paulo e Alexandrino (2017), sendo elas: 1. A interpretação constitucional deve ter um caráter prático, procurando sempre a resolução de problemas concretos. 2. As normas constitucionais possuem caráter fragmentário e indeterminado. O que isso quer dizer? Quer dizer que essas normas não abrangem todas as situações que podem ocorrer na vida em sociedade, tratando somente das mais importantes. Além disso, possuem muita abstração e generalidade. 3. As normas constitucionais são abertas. Devido a isso, não podem ser aplicadas por meio de uma simples operação de subsunção, e isso implica que deve ser dado preferência à discussão do problema. DEFINIÇÃO: Subsunção corresponde ao direto ao enquadramento de casos concretos nas hipóteses previstas na norma. De forma resumida, podemos dizer que o ponto central desse método é o de propor uma interpretação da Constituição por meio de um processo aberto de argumentação, envolvendo os mais diversos indivíduos, buscando sempre a adaptação ou adequação da norma constitucional ao caso concreto. Método hermenêutico-concretizador Destaca-se a importância do aspecto subjetivo da interpretação no método hermenêutico-concretizador, isto é, da compreensão prévia que o intérprete possui com relação aos elementos envolvidos no texto que deverá ser por ele interpretado. Direito Constitucional 42 Essa compreensão prévia faz com que o indivíduo que vai interpretar, na primeira leitura do texto, extraia dele um determinado conteúdo, o qual deve ser comparado com a realidade existente. É desse confronto que se resulta a reformulação, pelo indivíduo, da sua compreensão prévia, com a finalidade de harmonizar os conceitos por ele preconcebidos do texto constitucional, levando em consideração a realidade social. O intérprete deve sempre reler o texto constitucional e analisar a realidade social, com a finalidade de harmonizar os problemas sociais. Nessa perspectiva, Paulo e Alexandrino (2017) expõem que: Impõe-se, assim, um “movimento de ir e vir’’, do subjetivo para o objetivo - e, deste, de volta para aquele-, mediante comparação entre os diversos conteúdos que se extraem do texto, decorrentes de sucessivas reformulações da pré- compreensão do intérprete, e o contexto em que a norma deve ser aplicada (realidade social). Esse “movimento de ir e vir” é denominado “círculo hermenêutico”. (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 67) A base desse método é trazer uma concretização da norma, levando em consideração situações reais para que, assim, a norma possa ser aplicada. Apesar dessa liberdade de o intérprete poder trazer a situação social para a aplicação da norma, é importante frisar que não é permitida a criação de um sentido livre por meio dessa compreensão prévia. São elencados três pressupostos que esse método enseja para a tarefa de interpretar (PAULO; ALEXANDRINO, 2017): 1. Pressupostos subjetivos, devido ao fato de o intérprete desempenhar um papel criador na tarefa de obtenção do sentido do texto constitucional. 2. Pressupostos objetivos, ou seja, o contexto no qual o intérprete atua como operador de mediações entre o texto e a situação em que se aplica a norma. 3. Relação entre o texto e o contexto com a mediação criadora do intérprete, sendo a interpretação transformada em um movimento de ir e vir. Direito Constitucional 43 Esse método reconhece a prevalência da Constituição quando se deve partir da norma para reconhecer o problema. Método científico-espiritual Lenza (2020) aponta que esse método tem como fundamento a ideia de que a pessoa que irá interpretar deve levar em consideração os valores que estão implícitos no texto constitucional, devendo compreender o sentido da norma por meio de uma captação espiritual da realidade da sociedade. Assim, é adotada a ideia de que a finalidade da interpretação não é fornecer a resposta ao sentido dos conceitos do texto constitucional, mas, sim, de forma fundamentada, compreender o sentido e a realidade da Constituição em sua conexão com a integração espiritual real da sociedade. Figura 9 – Realidade Social Fonte: Freepik. De forma geral, então, podemos expor que o método científico- espiritual corresponde a um método sociológico, com a finalidade de analisar as normasconstitucionais levando em consideração não tanto o texto literal da norma, mas, sim, de forma precípua, a ordem de valores que ela possui, com a finalidade de visualizar a integração do texto Constitucional com a realidade social. Direito Constitucional 44 São os fatos que norteiam a sociedade que determinam a forma com que a norma deve ser interpretada. Método normativo-estruturante Esse método considera o fato de não existir identidade entre a norma jurídica e o texto normativo. Desse modo, é considerado que a norma jurídica tem em seu conteúdo um fragmento da realidade social, abrangendo não apenas a atividade legislativa, a atividade jurisprudencial e administrativa (LENZA, 2020). Sobre esse método, Paulo e Alexandrino (2017) retratam que O intérprete deve identificar o conteúdo da norma constitucional mediante a análise de sua concretização normativa em todos os níveis. A tarefa de investigação compreende a interpretação do texto da norma (elemento literal da doutrina clássica), e também a verificação dos modos de sua concretização na realidade social. (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 10) Assim, é necessária uma interpretação de modo a concretizar a norma Constitucional da realidade social, devendo ser aplicada para tomada de decisão nas resoluções de problemas. Interpretação comparativa Por fim, temos a interpretação comparativa. Em que consiste esse mecanismo de interpretação? Como o próprio nome já diz, esse tipo de interpretação funda-se na comparação, na qual o intérprete analisa a evolução normativa e os conceitos do ordenamento jurídico, com a finalidade de identificar as semelhanças e as diferenças e para que, assim, possa esclarecer qual é o significado que deve ser atribuído aos enunciados contidos nos textos constitucionais. Compreender esses métodos de interpretação é essencial para aplicabilidade das normas, principalmente das normas constitucionais, por serem elas as norteadoras de todo o Direito. Direito Constitucional 45 RESUMINDO: Estudamos, neste capítulo, que a interpretação vai além do que existe no texto da norma, existindo duas correntes: as interpretativistas e as não interpretativistas. Além disso, estudamos os métodos de interpretação existentes para facilitação da compreensão da norma, sendo eles: método jurídico, método tópico-problemático, método hermenêutico-concretizador, método científico-espiritual, a metódica jurídica normativo-estruturante e a interpretação comparativa. Esperamos que tenham gostado. Até o próximo encontro. Direito Constitucional 46 REFERÊNCIAS BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://bit.ly/36vujoQ. Acesso em: 22 nov. 2020. LENZA, P. Direito Constitucional esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2020. PAULO, V; ALEXANDRINO, M. Direito constitucional descomplicado. Rio de Janeiro: Forense, 2017. SILVA, I. L. da. Introdução aos princípios jurídicos. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 40, n. 160, out./dez. 2003. Disponível em: https://bit.ly/3qzeNFV. Acesso em: 17 nov. 2020 SILVA, P. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1989. Direito Constitucional art1 1 art1i 1I art1ii 1II art1iii 1III art1iv 1IV art1v 1V art2 2 art4i 4i art4ii 4II art4iii 4III art4iv 4IV art4v 4V art4vi 4VI art4vii 4VII art4viii 4VIII art4ix 4IX art4x 4X art4p 4PU art144i art144ii art144iii art144iv art144v art144vi 12I 12IA 12IB art12ic. art12ic.. 12II 12IIA art12iib. art12iib 12IIB art12§1. art12§1 12II§1 14I 14II 14III 15I 15II 15III 15IV 15V art33 Princípios do direito constitucional Princípios Princípios da Constituição Direito e as garantias fundamentais Conceito de direitos e as garantias fundamentais Características dos direitos e garantias fundamentais Dos direitos e deveres individuais e coletivos Direitos sociais Direitos de nacionalidade Dos direitos políticos Dos partidos políticos Formas de eficácia da norma constitucional Eficácia da norma constitucional Normas de eficácia plena Normas de eficácia contida Normas de eficácia limitada Classificação da norma constitucional A interpretação da Constituição Correntes da interpretação Métodos de interpretação Método jurídico Método tópico-problemático Método hermenêutico-concretizador Método científico-espiritual Método normativo-estruturante Interpretação comparativa