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Sindrome Nefrotica e Proteinuria Definicao: Consiste no conjunto de doenças glomerulares relacionadas ao aumento de permeabilidade da membrana basal glomerular às proteínas plasmáticas, perdendo a função de barreira da superfície de ultrafiltração, levando á proteinúria maciça. Portanto, é algo estrutural. Caracterizada pela presença de proteinúria nefrótica, hipoalbuminemia e anasarca. A síndrome nefrótica pode ser primária e idiopática, ou pode ser causada por uma condição subjacente conhecida, como o diabetes, amiloidose ou lúpus eritematoso sistêmico. Veja as principais etiologias: • doença por lesão mínima; • glomeruloesclerose segmentar e focal; • nefropatia membranosa; • glomerulonefrite membranoproliferativa; • amiloidose renal. A principal etiologia da síndrome nefrótica em crianças é a doença por lesão mínima, chegando a representar 90% dos casos em crianças com menos de 10 anos, enquanto em adultos é a glomeruloesclerose segmentar e focal. Fisiopatologia: A hipoalbuminemia, que é a consequência principalmente da perda de proteína urinária, pode também resultar do catabolismo tubular proximal da albumina filtrada, da redistribuição da albumina dentro do corpo e da síntese hepática reduzida da albumina. Como resultado, a relação entre a perda urinária de proteína, o nível sérico de albumina e outras consequências secundárias à albuminúria maciça são inexatos. Na síndrome nefrótica, a retenção de sal e de volume pode ocorrer por meio de, pelo menos, dois mecanismos importantes e distintos. O ensinamento clássico é que a hipoalbuminemia reduz a pressão oncótica do plasma, a depleção volêmica intravascular resultante leva à ativação do eixo renina-angiotensina-aldosterona, e essa ativação aumenta a retenção de sódio e fluido renal. No entanto, a retenção primária de sal no néfron distal também pode ocorrer independentemente do eixo renina- angiotensina-aldosterona. A trombose venosa ocorre em pacientes com síndrome nefrótica. As causas incluem a perda urinária de antitrombina III, proteína C e proteína S que previnem a trombose, bem como a síntese aumentada de reagentes de fase aguda que a promovem. Manifestacoes Clinicas: A proteinúria nefrótica é sinônimo de lesão glomerular e é definida, em adultos, como níveis acima de 3,5g/dia e, em crianças, acima de 50mg/kg/ dia ou 40mg/h/m2. A hipoalbuminemia é definida com níveis abaixo de 3,5g/dL em adultos e 3,0 (alguns citam 2,5) g/dL em crianças. Os pacientes podem apresentar ganho de peso, edema periférico e edema periorbital. Os pacientes com síndrome nefrótica têm risco aumentado de complicações ateroscleróticas. Em sua maioria, os pacientes nefróticos apresentam níveis elevados de colesterol total e de lipoproteína de baixa densidade (LDL), e valores baixos ou normais de lipoproteína de alta densidade (HDL). Os níveis de lipoproteína (a) [Lp(a)] também estão elevados e normalizam-se com a remissão da síndrome nefrótica. Diagnostico: O melhor exame para avaliação da proteinúria é a própria proteinúria de 24 horas, na qual toda a urina é coletada e enviada ao laboratório. Uma alternativa é coletar uma amostra isolada de urina, dosar a pro- teína e a creatinina nessa mesma amostra e dividir uma pela outra – proteína/ creatinina na amostra isolada de urina. O resultado dessa divisão costuma ser próximo à proteinúria de 24 horas. Como vimos anteriormente, um resultado de proteinúria maior que 3,5 gramas/dia e uma hipoalbuminemia fecham o diagnóstico de síndrome nefrótica. Indicação de biópsia: ausência de remissão clínica e laboratorial após 8 semanas de corticoterapia; idade < 1 ano ou > 10-12 anos; hematúria macroscópica; hematúria microscópica persistente; hipertensão grave; disfunção renal; queda do complemento; sintomas extrarrenais (púrpura, exantema). Complicacoes: DISLIPIDEMIA: Ocorre aumento da síntese hepática de lipoproteínas por estímulo da queda da pressão oncótica induzida pela hipoalbuminemia, ocorre aumento da síntese de lipoproteína de baixa densidade e muito baixa densidade, como a primeira é carreadora de colesterol e a segunda de triglicerídeos ocorre a hipercolesterolemia e a hipertrigliceridemia. Além disso, ocorre diminuição do catabolismo periférico, redução de Apo B. A urina apresentará corpos ovalares graxos, podendo formar cilindros graxos. TROMBOSE: Com frequência, os pacientes nefróticos apresentam um estado de hipercoagulabilidade e estão predispostos à trombose venosa profunda, embolia pulmonar e trombose de veia renal. Ocorre perda de antitrombina III e proteína S. Principalmente trombose de veia renal (29%) e TEP (17-28%).Sintomas de trombose de veia renal: hematúria, assimetria renal, varicocele, dor lombar, piúria. INFECÇÃO: Ocorre perda urinária de imunoglobulina IgG e fatores de complemento, defesa do sistema humoral diminuída, perda nefrótica inibe funções dos linfócitos. As infecções mais frequentes e severas são peritonite e celulite. Tratamento: Independentemente da etiologia, existe um manejo da síndrome nefrótica para reduzir os riscos das complicações, melhorar o edema e reduzir a proteinúria. A redução da pressão intraglomerular é capaz de reduzir a proteinúria e reduzir a velocidade de perda da função renal. Por isso, os medicamentos de escolha são os IECA ou BRA II. O tratamento inicial do edema é a restrição de sódio para um máximo de 2 gramas/dia (equivalente a 5 gramas/ dia de cloreto de sódio) e o uso de diurético de alça (furosemida). É comum um estado de resistência ao diurético de alça, principalmente naqueles indivíduos com hipoalbuminemia severa. A dislipidemia é reversível com uma resposta adequada ao tratamento da etiologia da síndrome nefrótica. Contudo, em alguns indivíduos é necessário o uso de estatinas, principalmente naqueles não respondedores ao tratamento imunossupressor. Em indivíduos internados ou com algum fator de risco adicional, como imobilização ou gestação, é necessário o uso de heparina de baixo peso molecular ou heparina não fracionada para prevenção de tromboembolismo venoso. Doenca Por Lesao Minima: A doença por lesões mínimas (DLM) é a principal causa de síndrome nefrótica em pacientes de 1 a 10 anos de idade, respondendo por até 85% dos casos. O pico de incidência ocorre entre os 2 e 3 anos de idade. Sua denominação vem do fato de, na microscopia óptica, os glomérulos apresentarem-se inalterados ou com mínimas alterações. Quase sempre a DLM é uma doença primária, porém pode estar associada a neoplasias hematológicas, principalmente Linfoma de Hodgkin, e Anti- Infla- matórios Não Esteroides (AINEs). A DLM é uma doença que acomete os podócitos, células fundamentais na manutenção da arquitetura da barreira de filtração do glomérulo. A teoria mais aceita atualmente é que uma desregulação das células T seja o ponto- chave no surgimento da doença. Essa desregulação levaria à produção de um fator circulante responsável pela lesão nos processos podocitários, promovendo seu apagamento ou fusão e culminando em dano glomerular. O fator circulante, além do dano podocitário, teria a capacidade de neutralizar a carga aniônica natural da membrana basal glomerular, levando à perda maciça de albumina na urina. É uma doença que cursa habitualmente com síndrome nefrótica pura e seu quadro clínico envolve a presença de edema generalizado de instalação insidiosa, presença de derrames cavitários (ascite e derrame pleural principalmente) e queixa de urina espumosa (que remete à presença de proteinúria maciça). Nas crianças, a pressão arterial é caracteristicamente normal ou baixa. A função renal dos pacientes na apresentação clínica é, geralmente, normal. Ainda na população pediátrica, a doença pode manifestar-se com sinais de gravidade, principalmente hipotensão, ascite importante com restrição da mecânica ventilatória levando a dispneia e edema escrotal, alterações resultantes da queda acentuada da pressão oncótica do plasma. Em adultoscom síndrome nefrótica (situação em que a biópsia é necessária) ou em crianças nas quais a biópsia é realizada, a microscopia óptica é caracteristicamente normal ou exibe mínimas alterações inespecíficas. A microscopia eletrônica exibe uma fusão ou apagamento dos processos podocitários, que justifica o quadro laboratorial de proteinúria. Costuma apresentar uma excelente resposta à corticoterapia e ter um bom prognóstico quanto à preservação da função renal, porém a recidiva é comum. • Prednisona 1 mg/kg/dia (máximo 80 mg/dia) durante 8 a 16 semanas. • Desmame gradual de prednisona durante mais 6 meses. • Remissão em 90% dos pacientes em até 4 meses. • Recidiva em 50% dos pacientes. Na primeira recidiva está indicado reiniciar o tratamento com prednisona. Contudo, quando ocorrem recidivas frequentes ou resistência ao corticoide, os portadores de síndrome nefrótica deverão utilizar medicamentos imunossupressores, como inibidores da calcineurina (ciclosporina ou tacrolimus), ciclofosfamida ou rituximabe. Glomeruloesclerose Segmentar e Focal: A glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF) é um padrão histológico de lesão glomerular que pode ser causado por diversas condições. Quando não há causa identificada, é denominada de GESF primária. A GESF primária é a principal causa de síndrome nefrótica em adultos jovens, com predominância em indivíduos de raça negra. Distúrbios dos linfócitos T, que secretariam uma citocina (ainda não confirmada), responsável pela lesão do epitélio visceral glomerular (podócitos). O termo esclerose se refere ao acúmulo de material homogêneo hialino, derivado de proteínas plasmáticas que extravasam pelo epitélio visceral lesado, levando ao colapso dos capilares. Os primeiros glomérulos lesados são os mais próximos à região medular “justamedulares”. GESF colapsante: é uma esclerose segmentar seguida de colapso do tufo glomerular, com hipertrofia e hiperplasia das células epiteliais de revestimento. Alterações túbulo-intersticiais e rápida deterioração da função renal. Idiopática ou relacionado ao HIV. A apresentação clínica clássica é de uma síndrome nefrótica, habitualmente com semanas de evolução, que vem acompanhada de hipertensão arterial em metade dos casos e pode ter piora de função renal ao diagnóstico. A hematúria glomerular é um achado comum na GESF e ocorre em 30% a 50% dos pacientes. Os pacientes portadores de HIV, que desenvolvem a variante colapsante, principalmente com altos níveis de carga viral e baixa contagem de CD4 costumam ter um pior prognóstico e, caso o vírus não seja tratado, existe alta chance de evolução para doença renal crônica em estágio terminal. Na microscopia de luz, inicialmente, apenas alguns glomérulos exibem áreas de fibrose segmentar. Com o declínio da função renal, a repetição das biópsias revela a existência de mais glomérulos com lesões esclerosantes segmentares e o aumento do número de glomérulos com esclerose global. Na imunofluorescência, nota-se a presença de depósitos de imunoglobulina M (IgM) e C3, comumente retidos nas áreas de esclerose glomerular. A microscopia eletrônica, contudo, não revela nenhum depósito de tipo imune, e observa-se apenas o apagamento dos processos podocitários das células epiteliais viscerais. As variantes histopatológicas de GESF estão associadas a diferenças prognósticas, clínicas e epidemiológicas. Por exemplo, a variante de “lesão de ponta” tem um curso relativamente benigno, enquanto a variante colapsante progride mais rapidamente para a falência renal. O tratamento específico das formas primárias é feito com corticoterapia em dose imunossupressora, ou seja, 1mg/kg/dia de prednisona até que haja remissão, por um período máximo de 16 semanas. Os pacientes que não atingem remissão, considerado corticorresistentes, têm pior prognóstico renal. Quando há contraindicação ao uso dos corticoides ou na corticorresistência, outras alternativas de tratamento são os inibidores de calcineurina (ciclosporina, tacrolimo), ciclofosfamida via oral e o micofenolato de sódio. Convém ressaltar que não está indicado o tratamento imunossupressor para as formas secundárias da doença. Glomerulonefrite/Nefropatia Membranosa: A glomerulopatia membranosa (GM) é uma das principais causas de síndrome nefrótica em adultos, seja na forma primária ou secundária, sendo mais frequente em pacientes caucasianos acima dos 40 anos de idade, em especial do gênero masculino, é basicamente o idoso com síndrome nefrótica. A glomerulopatia membranosa manifesta-se com proteinúria em níveis nefróticos, com ou sem síndrome nefrótica (edema, hipoalbuminemia, dislipidemia) associada. Pode ser a apresentação inicial de suas causas secundárias, principalmente quando se trata de neoplasias sólidas. O diagnóstico definitivo da glomerulopatia membranosa é realizado através da biópsia renal, que revela um espessamento da membrana basal glomerular com presença de projeções da membrana denominadas de espículas na microscopia óptica . A imunofluorescência revela um depósito granular fino de IgG e C3 na porção externa das alças capilares. Na microscopia eletrônica, o principal achado é a presença de depósitos eletrodensos na região subepitelial. O manejo da NM secundária tem como principal pilar o tratamento da doença de base ou a suspensão do medicamento culpado. Já na NM primária, é necessário graduar o risco de perda crônica da função renal para decidir sobre a utilização do tratamento antiproteinúrico (IECA ou BRA II) sem ou com o imunossupressor. Nos indivíduos com creati- nina maior que 1,5 mg/dL, hipoalbuminemia severa (< 2,0 g/dL), edema refratário ou complicações da síndrome nefrótica, como eventos trombóticos, está indicado o uso de imunossupressores. • NM de baixo risco: IECA ou BRA II durante 3 a 6 meses. • NM de alto risco com função renal normal: Rituximabe. • NM de alto risco com perda de função renal: Corticoide em pulsoterapia com metilprenisolona 1 g + ciclofosfamida. Glomerulonefrite Membranoproliferativa: A glomerulonefrite membranoproliferativa idiopática era, antigamente, dividida em três tipos (tipos I, II e III) com base na localização dos depósitos eletrodensos. Atualmente, contudo, a classificação é baseada nos achados de imunofluorescência, dividindo-se em glomerulonefrite membranoproliferativa mediada por imunoglobulinas e por complemento. A glomerulonefrite membranoproliferativa mediada por imunoglobulinas está associada a doenças causadas por imunocomplexos, incluindo o lúpus eritematoso sistêmico, infecções como a hepatite C e as gamapatias monoclonais. A glomerulonefrite membranoproliferativa mediada pelo complemento inclui a doença de depósitos densos e a glomerulonefrite C3. Acredita-se que todos esses agentes estimulem a proliferação das células mesangiais glomerulares, fazendo com que elas cresçam ao longo da parede capilar e causem a fragmentação da MBG. A maioria dos pacientes com glomerulonefrite membranoproliferativa idiopática compreende crianças ou adultos jovens atendidos por apresentarem proteinúria ou síndrome nefrótica. Níveis séricos intermitentemente baixos de proteínas do sistema complemento são observados na glomerulonefrite membranoproliferativa associada à imunoglobulina, enquanto o nível de C3 está geralmente reduzido na doença de depósito denso. O diagnóstico de doença de depósito denso requer uma biópsia renal que mostra o complemento C3 em um padrão característico de laço ao redor das alças capilares. As medidas utilizadas para tratar a glomerulonefrite membranoproliferativa idiopática tipo I incluem corticosteroides e outras medicações imunossupressoras, agentes anticoagulantes e antiplaquetários. Nenhum tratamento comprovou ser eficiente em um estudo randomizado em adultos, mas os corticosteroides apresentam algum sucesso em crianças. A doença de depósito denso e a glomerulonefrite C3 foram recentemente tratadas com eculizumabe, um bloqueador do sistema do complemento,com eficácia variável. Alguns podem também responder aos tratamentos imunossupressores. Amiloidose: Amiloidose é um termo utilizado para descrever uma série de doenças sistêmicas nas quais há deposição tecidual de fibrilas amorfas. Sua nomenclatura depende do subtipo de proteína que gerou essas fibrilas, sendo as principais: amiloidose AL (“L” de Light chain), derivada das cadeias leves de imunoglobulina e amiloidose AA (“A” de proteína amiloide), comumente secundária a doenças inflamatórias crônicas. A amiloidose AL ou amiloidose primária é o principal subtipo de amiloidose e frequentemente está relacionada com outras gamopatias monoclonais, como o mieloma múltiplo ou a gamopatia monoclonal de significado indeterminado. Do ponto de vista epidemiológico, sua incidência aumenta consideravelmente a partir da sexta década de vida. Apesar de ter outros mecanismos de lesão renal, o acometimento glomerular é típico da amiloidose, sendo a principal apresentação clínico- laboratorial a síndrome nefrótica. Nesses pacientes a dislipidemia é menos comum que em outros nefróticos. Uma parcela dos pacientes evolui para doença renal crônica que, por tratar-se de doença infiltrativa, exibe rins de tamanho aumentado na ultrassonografia. Em um paciente com suspeita de amiloidose com acometimento glomerular, a biópsia renal deve ser realizada. Na análise da microscopia óptica, são encontrados depósitos de material acelular que, ao serem submetidos ao reagente vermelho- congo, exibem uma birrefringência em cor de maçã-verde, patognomônica da doença. Nefroesclerose Hipertensiva: • Nefroesclerose benigna: espessamento da parede das artérias por deposição de matriz extracelular; hiperplasia das células musculares lisas da média ou hipertrofia da média. • Nefroesclerose maligna: lesão predominante de arteríolas aferentes e artérias interlobulares, às vezes estendendo-se aos capilares glomerulares, com necrose fibrinóide da parede dos vasos, obliteração da luz, focos de edema, necrose e hemorragias intersticiais e glomerulopatia isquêmica. No início do quadro, os rins podem apresentar volume normal ou discretamente reduzido, com a superfície finamente granulada. Com a evolução da doença, há grande redução no tamanho renal, que pode chegar a menos da metade do volume inicial constituindo o chamado “rim contraído primário”. A cicatrização da túnica íntima por meio da proliferação conjuntivo-fibrosa resulta num aspecto de “casca de cebola”, caracterizando uma lesão irreversível de endarterite obliterante. Referencias Bibliograficas: • Riella, M. C. Principios de Nefrologia e Distúrbios Hidroeletrolítico – 6a Edição. Guanabara Koogan, 2018 • Apostila Medcurso Nefrologia 2024 • Apostila EstratégiaMed Nefrologia 2024 • Resumos da Med • Apostila SanarFlix - Nefrologia (Bases-do-dia-a-dia) - Sd. Nefrótica