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Todos os Módulos Aula 1: O gênero textual narrativo: da epopeia às narrativas midiáticas O Gênero textual narrativo: características gerais Características gerais da narrativa O que podemos concluir, então, sobre o que é uma narrativa? De acordo com Patrick Charaudeau e Dominique Maingueneau (2004), devemos considerar uma narrativa o texto com uma sucessão de ações e eventos em um determinado espaço de tempo, devendo haver uma determinada intriga que desencadeie essas ações e eventos "[...] para que haja narrativa, inicialmente é preciso a representação de uma sucessão de ações; em seguida, que uma transformação mais ou menos importante de certas propriedades iniciais dos actantes seja bem-sucedida ou fracassada, enfim é preciso que uma elaboração da intriga se estruture e dê sentido a essa sucessão de ações e de eventos no tempo. " • (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2004) A poética de Aristóteles Aristóteles (filósofo grego, nasceu em 384 a.C. e faleceu em 322 a.C.), em sua obra A poética, apresenta uma estrutura que caracteriza uma narrativa: • O prólogo (começo): Exposição não problemática; • O nó (meio): Introdução da tensão; • O desfecho (fim): Pode resolver ou não a tensão. Para desenvolver sua teoria, Aristóteles analisou mais atentamente o teatro grego e o gênero dramático da tragédia. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 1/68 "A tragédia é a imitação de uma ação importante e completa, de certa extensão; deve ser composta num estilo tornado agradável pelo emprego separado de cada uma de suas formas; na tragédia, a ação é apresentada, não com a ajuda de uma narrativa, mas por atores. Suscitando a compaixão e o terror, a tragédia tem por efeito obter a purgação dessas emoções. " • ARISTÓTELES, 1999 Além de apresentar essa estrutura para narrativas, Aristóteles desenvolveu os conceitos de mímesis, mito e catarse, estabelecendo relação entre esses conceitos e três gêneros narrativos: tragédia, epopeia e comédia. • Mímesis: Imitação (representação espelhada da realidade). Para Aristóteles, a poética (narrativa) seria uma das artes de imitação da realidade. • Mito (fábula): A imitação de uma ação. • Catarse: Purgação das emoções. Fonte: (ARISTÓTELES, 1999) Segundo o filósofo, “o que distingue a tragédia da comédia: uma se propõe imitar os homens, representando-os piores; a outra os torna melhores do que são na realidade”. (ARISTÓTELES, 1999) O Formalismo Russo: Vladimir Propp Nas primeiras décadas (1910–1930) do século XX, nascia, na Rússia, uma escola de crítica literária: o Formalismo Russo. Essa escola propunha distinguir análise literária de análise de outras artes, numa tentativa de definir Literatura ou o que poderia ser considerado literatura. Uma análise do texto literário descontextualizado, que não leva em conta a perspectiva histórica e qualquer relação com o autor. O texto literário deveria ser analisado por ele mesmo e em si mesmo, desconsiderando seus fatores externos, embora possa se reconhecer o contexto imediato em que ele estava inserido. Um nome que se destacou nessa escola foi Vladimir Propp. Leia o texto o sobre as 31 funções narrativas encontradas por Propp, a partir de uma análise comparativa entre 600 contos populares. 31 funções narrativas Propp analisou comparativamente 600 contos populares russos, a partir dos quais identificou 31 funções ou sintagmas narrativos – sequências narrativas em uma ordem invariável: 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 2/68 • Afastamento: O herói é apresentado e há um distanciamento de um membro da família (ele sai de casa ou da cidade, morre); • Interdição: O herói é proibido de fazer algo (ir a um lugar, por exemplo). Mas deixar de fazer esse algo pode ser danoso ao herói; • Transgressão: Há a entrada dos vilões (o herói viola a proibição); • Interrogação: O vilão pergunta sobre a vítima (às vezes, pergunta à própria vítima); • Informação: O vilão recebe informações sobre a vítima, inclusive sobre como poderia ser atacada; • Engano: O vilão tenta conquistar a vítima para conseguir seu intento (capturar a vítima); • Cumplicidade: A vítima, enganada pelo vilão, ajuda-o; • Dano/vilania: O vilão causa dano a membro da família da vítima ou alguém muito querido por ela (esse membro da família quer alguma coisa: uma joia, um objeto mágico, dinheiro); • Mediação: O herói ouve pedido de ajuda e tenta desfazer o dano; • Início da ação contrário: O herói decide revidar, concorda em lutar contra o vilão; • Partida: O herói deixa seu lugar; • Função do doador: Surge uma personagem que ajudará o herói. Para conseguir a ajuda, o herói deve passar por algumas provações; • Reação do herói: O herói consegue provar seu valor e recebe a ajuda do doador; • Recepção do objeto mágico: O herói ganha um objeto mágico; • Deslocamento: O herói desloca-se para o local do conflito; • Luta: Herói e vilão entram em conflito direto; • Marca: Durante a luta, o herói é ferido (recebe uma marca: um corte, recebe anel ou lenço); • Vitória: O vilão é derrotado; • Reparação: O infortúnio é resolvido (feitiço quebrado, alguém que morreu é revivido); • Volta: O herói retorna ao seu lugar; • Perseguição: O herói é perseguido; • Socorro: O herói é salvo da perseguição; 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 3/68 • Chegada incógnita: O herói, irreconhecível agora, chega ao lar o a outro país; • Pretensões falsas: Um falso herói se apresenta e faz reinvindicações infundadas; • Tarefa difícil: Uma tarefa difícil é proposta ao herói para que prove ser ele mesmo; • Tarefa cumprida: O herói cumpre a tarefa que lhe fora imposta; • Reconhecimento: O herói é reconhecido (uma marca, um objeto); • Desmascaramento: O falso herói ou vilão é exposto; • Transfiguração: O herói passa a ter uma nova aparência; • Punição: O vilão é punido; • Casamento: O herói casa-se. Você consegue se lembrar de alguma narrativa que tenha essas etapas, esses sintagmas? A lista de narrativas que segue essa proposta de estruturação é considerável, principalmente se ela for semelhante a dois tipos de conto: os de fadas e os fantásticos. Joseph Campbell: a jornada do herói Ainda no século XX, outras teorias sobre narrativa foram desenvolvidas e protagonizadas por: • J. Greimas, Roland Barthes e Gérard Gennet (perspectiva estruturalista); • Joseph Campbell (influência da psicologia de Jung). Em 1949, Joseph Campbell publicou seu livro O herói de mil faces. Com base no pensamento de Carl Jung – para o qual o homem deveria ser analisado em sua integridade e vida em comunidade, nunca isolado do contexto sociocultural e universal –, o autor propôs um modelo de análise de narrativa que combinava os conceitos da psicanálise moderna com os arquétipos mitológicos de culturas espalhadas por todo o globo terrestre: a jornada do herói ou Monomito. O modelo de análise de narrativa de Campbell apresenta uma sequência narrativa recorrente em textos do gênero narrativo, podendo ser aplicado a todo e qualquer texto, seja ficcional ou de narrativa do real. Outras correntes também surgiram baseadas nas ideias de Umberto Eco e Paul Ricouer. Elas garantiram a inclusão de textos não ficcionais, como os escritos jornalísticos. As etapas da jornada do herói: 1. Mundo comum 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 4/68 2. O chamado da aventura; 3. A recusa do chamado; 4. O encontro com o mentor (ou ajuda sobrenatural); 5. A travessia do primeiro limiar; 6. O ventre da baleia (testes, aliados e inimigos); 7. A aproximação da caverna oculta; 8. A provação suprema; 9. A recompensa; 10. O caminho de volta; 11. A ressurreição; 12. O retorno com o elixir (todas as tramas são resolvidas). Aula 2: Características textuais e linguísticasda narrativa Estrutura e linguagem da narrativa Você conhece Guimarães Rosa (1908 – 1967)? O escritor foi membro da Academia Brasileira de Letras e notabilizou-se por suas narrativas. Uma delas é o conto Desenredo. A estrutura do conto de Guimarães Rosa apresenta-nos mais de um clímax, ou seja, mais de um momento de grande tensão no texto, seguindo o que Aristóteles propôs como organização característica das narrativas: prólogo, nó e desfecho. Ao mesmo tempo, o conto segue as 12 etapas da jornada do herói, proposta por Campbell: Agora, observe que nem todas as etapas propostas por Campbell estão presentes no conto Desenredo do mesmo modo que em outras narrativas (Cinderela, Branca de Neve, João e Maria...), mas nem por isso deixa de ser uma narrativa de sucesso. Então, com base no conto de Guimarães Rosa, podemos apontar, de forma geral, quatro estágios progressivos da narrativa: 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 5/68 • Exposição Apresentação do herói em seu cotidiano, ainda sem tensão alguma. • Complicação Entrada de uma tensão; há um evento (ou mais de um) que inicia o processo de problematização da história, que seria o estágio mais longo. • Clímax Momento de mais tensão da narrativa, podendo haver mais de um. • Desfecho / desenlace As complicações se resolvem para a felicidade ou não de nosso herói. Observemos agora as características linguísticas da narrativa. Sistematizemos suas observações e definamos as características linguísticas dela. Características linguísticas da narrativa I. Quanto à gramática: todos os tempos do passado são utilizados, com especial incidência no pretérito perfeito (deparou, matou, expulsou). O imperfeito costuma começar a narrativa (“era bom como cheiro de cerveja”) e sobretudo é o tempo das descrições (“suas lágrimas corriam”; “era o seu um amor meditado”). Já o presente do indicativo pode surgir na narrativa para construir uma espécie de metáfora temporal. II. Quanto à pessoa do discurso: as narrativas podem ser da primeira e terceira pessoa (“Jó Joaquim e Vilíria retomaram-se, e conviveram, convolados”), com graus intermédios entre os dois tipos. III. Quanto aos aspectos da textualidade: há três requisitos exigidos comumente para a narrativa: a concisão ou máxima da quantidade (ou seja, deve-se oferecer ao leitor as informações necessárias para que este compreenda o texto), a clareza (precisão na informação) e a verossimilhança (o texto precisa ter coerência interna e externa; deve-se evitar a contradição). IV. Quanto ao uso de marcadores temporais: observa-se a utilização de advérbios, locuções adverbiais, expressões com valor de advérbio que sugerem a noção de tempo (respondendo à pergunta Quando? – “Foi Adão dormir, e Eva nascer”; “Era infinitamente maio”). 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 6/68 V. Quanto ao registro linguístico (variedade linguística): dependerá do gênero textual, ou seja, da situação de comunicação. No conto de Rosa, há o predomínio da norma culta formal e o uso da variedade literária (uso de metáforas, simbolismos, neologismos). Mas, em outros gêneros, como a crônica jornalística, por exemplo, pode haver o uso da norma culta coloquial. Portanto, de forma geral, haverá o uso da norma culta formal, mas não obrigatoriamente. Elementos da narrativa Retomemos o nosso conto Desenredo. Vimos que o autor iniciou apresentando-nos a Jó Joaquim e Irlívia (ou Rivília...): Jó Joaquim, cliente, era quieto, respeitado, bom como o cheiro de cerveja... Chamando-se Livíria, Rivília ou Irlívia, a que, nesta observação, a Jó Joaquim apareceu... Temos aí o primeiro elemento da narrativa: personagem. • Personagem é um ser ficcional ou não, com características próprias, que representa as pessoas, mesmo que seja um objeto, como no conto Um apólogo (de Machado de Assis), cujas personagens são uma agulha e um novelo de linha personificados. Dependendo do papel que tenham no texto, as personagens podem ser classificadas como: 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 7/68 • Personagens principais As personagens principais podem exercer o papel de protagonistas (personagens centrais da narrativa); ou de antagonistas (personagens que se opõem ao protagonista, agindo contra este e confrontando-o negativamente). Geralmente teremos uma personagem mais central, que se mantém durante a narrativa e que passará por modificações ao longo do percurso das ações, garantindo unidade ao texto. • Personagens secundárias As personagens secundárias são aquelas que participam da narrativa, mas não são o centro das ações, embora possam, dependendo de sua função no enredo, exercer um papel quase tão importante quanto o do protagonista. Quando personagens secundárias exercem papel importante durante a narrativa, são classificadas como coadjuvantes, como, por exemplo, Watson, na série Sherlock Holmes. No conto Desenredo, temos uma personagem central, protagonista das ações, que passou por transformações de estado em decorrência dessas ações: Jó Joaquim. Observe o diagrama: → Respeitado → → Conquista a Felicidade Devolvido ao barro → → Retoma o casamento Recuperado → → Criar nova realidade Deu-se a entrada dos demônios → ← Dedicou a endireitar-se Nosso herói inicia sua condição na história como alguém respeitado, bom; passa à condição de quase morte; recupera-se; volta à condição de tristeza; empenha-se em “endireitar-se”; desfaz o enredo em que se inscreveu; retoma o casamento; e, por fim, garante sua felicidade. Mas... você entendeu por que o nome de nossa personagem central é Jó Joaquim? Você conhece alguma personagem que tenha se notabilizado por sua paciência? O herói foi a personagem bíblica Jó, cuja paciência era sua característica maior – ele passou por provações terríveis, mas manteve-se fiel a Deus e retomou tudo o que perdera, em dobro. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 8/68 Falemos agora de outros elementos da narrativa: • Enredo É a narrativa propriamente, é o encadeamento das ações que levam as personagens a passar por transformações. Essas ações são narradas em determinada ordem cronológica, podendo ser linear ou seguir uma outra ordem qualquer, desde que haja uma integração das ações para constituir um todo significativo. Esse elemento da narrativa se caracteriza pela presença de uma problematização da ação (complicação), ou seja, é preciso que ocorra um fato que ponha em causa o percurso normal da ação. Durante o processo de problematização, pode haver repetições de equilíbrios e desequilíbrios, mas todos apontando para a resolução da problemática (desenlace). No enredo, podemos encontrar tanto trechos descritivos quanto argumentativos. As sequências descritivas normalmente aparecem no início do texto, no prólogo, como estratégia para situar os sujeitos participantes do processo interacional. Para garantir a coerência do enredo, devem-se usar adequadamente elementos coesivos que explicitem a unidade de sentido do texto: repetições lexicais, sinonímia lexical ou associativa, elipses, recursos de determinação. Esses elementos promovem a progressão temática, evitando que o texto se torne tautológico. O conto Desenredo caracteriza-se por um enredo que se desenvolve em ordem cronológica (conforme um espaço de tempo que pode ser medido por um relógio, calendário, estação do ano - “Era infinitamente maio”) e linear (iniciando a narrativa pelo fato mais remoto até concluir com a ação maisrecente – “Jó Joaquim e Vilíria retomaram-se, e conviveram, convolados, o verdadeiro e melhor de sua útil vida”). Mas há narrativas que se iniciam pelo fim, quebrando a linearidade temporal. Por exemplo: Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 9/68 • Tempo Quando afirmamos que o enredo se estabelece em determinada cronologia, estamos já discutindo sobre o elemento da narrativa tempo. Tempo diz respeito, então, a quando as ações acontecem e como se relacionam espacialmente numa linha cronológica ou psicológica. Vamos ler o conto Amor, de Clarice Lispector para exemplificarmos o tempo narrativo psicológico. Percebeu como a autora quebra a linearidade temporal? Temos um tempo que não se pode medir por um relógio ou calendário; as sequências de ações se dão de acordo com o fluxo de consciência. Sabia que o cinema também lança mão dessa estratégia narrativa? Assista ao filme As Horas e confira. Nesse filme, três mulheres narram suas histórias, e o espectador acompanha as narrativas, que podem parecer confusas a princípio, pois as mudanças temporais ocorrem em concordância com as lembranças, projeções e confusões presentes nas mentes das personagens. No entanto, essa quebra de paradigma da linearidade temporal termina por envolver a audiência de tal modo que esta passe por uma espécie de imersão nos pensamentos conturbados das personagens. Adaptação dos textos da Virgínia Woolf só poderia dar nisso mesmo: enredo envolvente e denso; personagens bem construídos; utilização de fluxo de consciência de forma primorosa. • Espaço É o elemento da narrativa que diz respeito ao lugar, físico ou não, em que as ações se sucedem. Portanto, responde à pergunta: Onde?. Se for um espaço físico, este pode ser uma cidade, uma casa, o espaço sideral... O importante é perceber que o espaço é um elemento que também determina como as ações devem acontecer. No filme Gravidade, do diretor Alfonso Cuarón, toda a narrativa se desencadeia no espaço sideral, dentro de uma nave à deriva. Porém, se for um espaço psicológico, não haverá um lugar especificamente; haverá apenas a mente das personagens. É um espaço característico do fluxo de consciência. Esse espaço psicológico pode ser observado no filme Clube da Luta, do diretor David Fincher. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 10/68 • Narrador É o elemento da narrativa responsável por contar a história. Ele pode fazer parte da história, sendo um personagem também, ou não. É importante não confundir narrador e autor, pois a voz que temos em um texto é necessariamente do narrador, embora o autor tenha criado esse narrador. No livro O morro dos ventos uivantes, o narrador é uma personagem (uma antiga empregada da casa) que narra a história a um viajante; e em Memórias póstumas de Brás Cubas, narrador e personagem se confundem. O narrador pode ser: Narrador-personagem, Narrador-observador e Narrador-onisciente. ◦ Narrador-personagem: é aquele que, além de contar a história, participa da narrativa. O texto, neste caso, é escrito normalmente em primeira pessoa, caso esse narrador seja o protagonista; caso seja um personagem secundário, o texto poderá vir em terceira pessoa ou ficar oscilando entre a primeira e a terceira pessoas. ◦ Narrador-observador: é aquele que narra a história em terceira pessoa, pois não participa do enredo. As ações são narradas sob o ponto de vista de quem apenas as observa. ◦ Narrador-onisciente: é aquele que sabe cada detalhe da narrativa, das personagens, dos ambientes. Esse narrador não apenas observa; ele interfere no enredo, revelando segredos e pensamentos das personagens, porque ele sabe de tudo em detalhes. Narrativa literária x narrativa midiática No dia 2 de maio de 2019, o jornal O Povo (Fortaleza-CE) publicou a seguinte notícia: Fãs e amigos se despedem de Beth Carvalho. Pense sobre as características da narrativa: organização textual, linguagem e seus elementos constitutivos. Você deve ter verificado que a notícia se caracteriza por: 1. Apresentar uma sequência de ações que constituem um todo significativo. Centenas de fãs e amigos se despediram... O velório do corpo da sambista ocorreu no salão nobre... Bandeiras do clube e da Mangueira, escola de samba do coração de Beth, foram posicionadas ao redor do caixão. 2. Ter personagens. Centenas de fãs e amigos; Beth Carvalho; o mangueirense Nelson Sargento; a cantora Teresa Cristina; Zeca Pagodinho. 3. Haver um espaço onde as ações aconteceram. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 11/68 No salão nobre da sede do clube Botafogo de Futebol e Regatas. 4. Haver uma definição temporal. Ontem; à tarde. 5. Uso do registro culto da língua. Um dos principais nomes do samba, Zeca Pagodinho lembrou o apoio que Beth deu a novos talentos da música. 6. Predominância do pretérito perfeito do indicativo. O corpo de Beth Carvalho deixou a sede do Botafogo à tarde e foi levado em cortejo dos Bombeiros até o cemitério do Caju, onde foi cremado no fim desta tarde. 7. Ordem cronológica linear. O texto inicia a narrativa pelo fato mais remoto (“fãs e amigos se despediram”) e termina com o fato mais recente (“foi levado em cortejo dos Bombeiros até o cemitério do Caju, onde foi cremado no fim desta tarde”). 8. Ser narrado em terceira pessoa, caracterizando um narrador-observador. A cantora Teresa Cristina lembrou...; ... time do qual Beth era torcedora. Mas observe: enquanto a narrativa literária se caracteriza pela utilização de metáforas, simbolismos, a midiática se caracteriza por evitar esses recursos estilísticos. Por isso, a notícia, embora seja uma narrativa, terá um caráter informativo. Além disso, a narrativa midiática jornalística tem como premissa a ideia de que há verdade em seus enredos e que a história narrada é efêmera (a notícia caduca em 24h, no máximo), por isso utiliza-se de referências temporais precisas (datas, horários). Já a narrativa literária, por seu caráter de permanência, não se vale necessariamente dessas referências. A narrativa publicitária em muito se assemelha à literária, pois precisa persuadir o interlocutor. Lembra-se do comercial dos mamíferos da Parmalat? Percebeu o cuidado nas escolhas lexicais e figuras de linguagem? Aliterações = “O elefante é fã de Parmalat / O porco-cor-de-rosa e o macaco” Rimas internas = elefante – Parmalat / trate – Parmalat Enumeração = a foquinha, o ursinho, o leão Onomatopeias = miau / au-au 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 12/68 Vocativo = “vamos lá” Diminutivos = vaquinha / cachorrinho / bichinhos O cinema e a televisão talvez sejam as mídias que mais se aproximam da literatura, pois suas narrativas, muitas vezes, são adaptações de enredos e personagens desenvolvidos em contos e romances. Uma das personagens que mais tem sido adaptada da literatura para o cinema e a televisão é Sherlock Holmes, o detetive criado pelo escritor Arthur Conan Doyle, em 1887. Sherlock Holmes tem sido referência para a criação de personagens do cinema e de algumas séries para televisão, como: Elementary; Monk; Dr. House. Sem contar sua participação em outras obras literárias, como no romance O Xangô de Baker Street, escrito por Jô Soares em 1995. Tema 3: Classificação Dos Gêneros Narrativos A teoria de Aristóteles: classificação dos gêneros narrativos O trabalho desse filósofo foi além dessa caracterização da narrativa: ele apresentou uma proposta de classificação de narrativas, nomeando-as por gênero, considerando três aspectos: • Meio Diz respeito à linguagem, através do ritmo, do canto e dos versos. • Objeto Refere àquilo que é imitado do mundo. • Modo Refere-se a como o texto será apresentado.Os gêneros narrativos dramáticos Os gêneros dramáticos abrangem os textos literários destinados à representação cênica. Esses textos tiveram sua origem nas festas em homenagem ao deus Dionísio 1. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 13/68 • Dionísio: Deus do vinho e da alegria. O teatro grego tem origem nas festas dionisíacas, quando eram encenadas tragédias e sátiras. Durante as encenações, usavam-se máscaras para representar os personagens. • A tragédia ◦ Tem origem nos contos dionisíacos e no conto do bode (sacrificado a Dionísio). ◦ É constituída por seis elementos: a fábula, o caráter, as falas, as ideias, o espetáculo e o canto. ◦ Fascina as plateias por causa das e do reconhecimento. peripécias 2 ◦ A duração apropriada de uma tragédia é aquela que permite. • A comédia ◦ Propõe-se a imitar os homens, representando-os piores. Atém-se à imitação de maus costumes, mas não de todos os vícios. ◦ Originou-se na Sicília. ◦ Era estruturada em quatro partes: prólogo, párodo (irrompimento festivo do coro, trajando máscaras e roupagens de vários tipos), episódios (cenas dialogadas entre dois atores, permeadas por intervenções do coro) e êxodo (desenlace). ◦ Seria oriunda dos solistas dos cantos fálicos. ◦ O objetivo era criticar a sociedade, fazendo uso do ridículo. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 14/68 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0237/aula3.html?brand=estacio https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0237/aula3.html?brand=estacio • Elementos da Tragédia Fábula : corresponde à sequência de ações que levam o protagonista ao infortúnio. Na história de Édipo, temos a seguinte sequência: Édipo se propõe a descobrir quem assassinou o rei Laio; O profeta acusa Édipo de matar o rei Laio; Tirésias revela a Édipo a verdade sobre seus pais; Jocasta narra a Édipo a morte de Laio; Édipo dá-se conta que pode ser mesmo o assassino de Laio; Édipo confirma que matara seu pai verdadeiro (Laio); Jocasta se mata; Édipo fura os olhos. Caráter (ou costumes) : são as ações que qualificam as personagens. A personagem Édipo, por suas ações, se caracteriza como alguém bom, correto, que luta contra o destino. As falas (elocução) : consiste na escolha dos termos, os quais têm o mesmo poder de expressão, tanto em prosa como em verso: Oh! Ai de mim! Tudo está claro! Ó luz, que eu te veja pela derradeira vez! Todos sabem: tudo me era interdito: ser filho de quem sou, casar-me com quem me caseie e eu matei aquele a quem eu não poderia matar! As ideias (pensamento) : “é tudo o que as palavras pronunciadas expõem o que quer que seja ou exprimem uma sentença.” (Aristóteles): Ai de mim! Receio que tenha proferido uma tremenda maldição contra mim mesmo, sem o saber! O espetáculo : corresponde à representação das personagens. O canto (melopeia) : é o ornamento principal: é a música, uma sucessão de sons para gerar uma sensação agradável ao ouvido. Ou seja, a força expressiva musical, desde que bem ouvida por todos. Os gêneros narrativos épicos Os gêneros épicos são textos que trazem narrações de feitos grandiosos, centrados na figura de um herói, tendo como pano de fundo a história de povos e civilizações. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 15/68 A epopeia • É um poema narrativo em terceira pessoa e dividido em cantos (ou livros). • O narrador (poeta) mantém distanciamento em relação aos acontecimentos, caracterizando-se como um poeta-observador voltado para o mundo exterior, tornando a narrativa objetiva. • Assim como na tragédia, seu objeto de imitação são os assuntos sérios. • Não emprega um só metro simples ou forma negativa. • Não é tão limitada quanto a tragédia em sua dimensão. • Todos os caracteres que a epopeia apresenta encontram-se na tragédia também. • Há a presença do maravilhoso: interferências dos deuses da mitologia greco- romana. • Dedica-se a narrar fenômenos históricos, lendários ou míticos considerados representativos de uma cultura – o livro Os Lusíadas é um exemplo desse gênero na literatura de língua portuguesa. Os gêneros narrativos líricos São gêneros centrados no caráter emocional, na subjetividade dos sentimentos da alma. Segundo Aristóteles, forma literária destinada ao canto, acompanhada do som de uma lira. Pertencem a esses gêneros os poemas que extravasam as emoções íntimas pela expressão verbal rítmica e melodiosa. O valor de uma poesia lírica está não apenas em sua capacidade de expressar as emoções, mas também em despertá-las. A poesia lírica constitui-se dos seguintes elementos: O eu lírico, a voz que expressa suas emoções no poema, um eu poético, inventado, que não se confunde com o poeta(autor). A subjetividade, que é a marca do lirismo. É a poesia da primeira pessoa e no tempo presente. A proposta de Bakhtin 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 16/68 Para Mikhail Bakhtin, a comunicação deve ser definida a partir da ideia de interação entre sujeitos, ou seja, um agir sobre o outro (o sujeito), num processo dialógico. Sendo assim, a linguagem seria também uma ação verbal (ou não verbal) com o fim de provocar no outro uma reação. Essa perspectiva amplia a teoria da comunicação baseada no envio e recepção da mensagem, pois passa-se a considerar todo o contexto em que a comunicação acontece: quem participa do processo (os sujeitos), quando acontece a interação, onde, em que sociedade, com que objetivos. Portanto, a comunicação pode ser definida como a interação entre sujeitos. Esses sujeitos (agentes da comunicação) produzem enunciados (textos/ atos de fala), que passam por um processo de mediação (os sujeitos estabelecem uma relação entre os enunciados, a linguagem e a cultura), utilizando-se da linguagem (um sistema constituído de signos que provocam efeitos de sentido) para garantir essa interação. Sob essa perspectiva, a situação de interação definirá como se dará esse processo comunicacional: determinando o que dizer e como dizer. Teríamos, então, o seguinte diagrama: Mediação (Espaço em que a cultura se concretiza) Sujeitos Enunciados Sujeito Participantes do processo Ato de fala Participantes do processo de comunicação de comunicação Linguagem Efeitos de Sentido Ação Verbal ou não Os sentidos se constroem ao longo da interação entre sujeitos • Situação de Interação → O papel dos sujeitos, o objetivo da interação; em qualquer sociedade; quando se dá interação • Processo de Comunicação Processo de ação sobre o outro: o que dizer e como dizer 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 17/68 Com base nessa concepção de comunicação, Bakhtin apresenta o conceito de gênero do discurso: um conjunto de enunciados, em uma dada situação de comunicação, com a função de garantir a interação e que possui características próprias constituídas historicamente, conforme as necessidades da sociedade. Gênero do discurso De acordo com o teórico, os gêneros discursivos (ou textuais) podem ser definidos como tipos de enunciados, relativamente estáveis e normativos, que estão vinculados a situações típicas da comunicação social. Os gêneros se constituem historicamente a partirde novas situações de interação verbal da vida social que vão (relativamente) se estabilizando, no interior das diferentes esferas sociais... Sendo assim, os gêneros também são formas de ação: na interação, eles funcionam como índices de referência para a construção dos enunciados, pois balizam o autor no processo discursivo, e como horizonte de expectativas para o interlocutor, no processo de compreensão e interpretação do enunciado (a construção da reação-resposta ativa). (BAKHTIN, 2011) Ou seja, os gêneros são os textos propriamente ditos que produzimos a cada nova situação de comunicação. Esses textos possuem características de composição e função comunicativas que se estabelecem social e historicamente. Pense assim: antes da tecnologia da escrita, o gênero carta não existia, pois o homem só produzia textos orais. Com o advento da internet, o gênero carta passa por uma adaptação e surge o e-mail pessoal. Talvez, daqui a uma década, a carta nem exista mais, dados os avanços tecnológicos na área da comunicação e a necessidade que temos de interagir de forma rápida. Portanto, os gêneros textuais (ou discursivos) são enunciados mutáveis e plásticos, ou seja, conforme as necessidades sociais, esses textos mudam e se moldam às diversas situações de comunicação. Imagine o gênero aula: apesar de se caracterizar, de forma geral, por ter como objetivo a exposição de determinado tema acadêmico, podemos afirmar que esse gênero se adapta às mais diversas situações de comunicação que exigem a produção dele. Ou seja, uma aula sobre língua portuguesa será diferente de uma cujo tema seja reprodução humana. Então, como apresentar uma classificação para os gêneros textuais? Quais critérios podemos usar para essa classificação? Com base na teoria de Bakhtin, podemos apresentar os seguintes aspectos para a classificação dos gêneros textuais: 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 18/68 1. Conteúdo temático - sobre o que trata o texto; 2. Plano composicional - a organização do texto, sua estrutura; 3. Estilo, a linguagem usada - os recursos linguísticos ou visuais. Portanto, são exemplos de gêneros textuais (discursivos): a notícia, o romance, a telenovela, o anúncio publicitário, a reportagem, a receita de bolo, a bula de remédio, a conversa no WhatsApp, a postagem no Facebook, o hangout no YouTube, o storie no Instagram, o cartão de aniversário etc. Os gêneros do cinema Ação: caracteriza-se por privilegiar estrelas famosas; sofisticados efeitos especiais; cenários suntuosos, exóticos ou grandiosos (já assistiu a algum filme da personagem 007?); cenas e sequências de intensa ação. Os heróis e os vilões são claramente caracterizados e contrapostos (Homem-Aranha x Duende Verde); simplismo e o maniqueísmo tendem a prevalecer (lembra-se do filme Rambo – programado para matar?). Comédia: tende a fazer ressaltar as fragilidades do ser humano; são diversos os recursos de que se vale: o exagero, o equívoco, o absurdo, o insólito, o escatológico, o anacrônico, o agravamento, o recrudescimento, a descontextualização, o imprevisto – assistiu a algum dos filmes Loucademia de polícia? Drama: o seu objeto é o ser humano comum, normal, em situações cotidianas mais ou menos complexas, mas sempre com grandes implicações afetivas ou causadoras de inescapável polêmica social; propensão ao realismo, com fim de reflexão sobre a sociedade. A caracterização das personagens adquire, no drama, contornos de especial complexidade – você assistiu ao filme Histórias Cruzadas? Fantástico: é aquele em que a causalidade mais se afasta das premissas realistas e das leis comuns do cotidiano; a magia e a religião surgem constantemente como motivo e como contexto deste gênero. Trata-se de um gênero que nos permite viajar ao passado, atravessar épocas e continentes, descobrir lugares puramente imaginários – lembra-se do filme História sem fim? Ficção científica: toda ficção criada neste gênero deve tomar como inalienáveis as premissas do conhecimento científico vigente ou expectável acerca de um determinado fato ou fenômeno. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 19/68 Podemos considerar ficção científica todo relato que discorre sobre mundos e acontecimentos possíveis a partir de hipóteses logicamente verossímeis — você viu o filme Mad Max – estrada da fúria? A narrativa centra-se muitas vezes em um questionamento das consequências dos avanços tecnológicos e científicos sobre o destino da humanidade — daí o cinema pós-apocalíptico, como em The day after. Film noir: visualmente, um aspecto se torna imediatamente perceptível: a fotografia em preto e branco, altamente contrastada, com nítidas influências do expressionismo alemão. Além disso, o lado sombrio das personagens torna-se, ironicamente, através do jogo de penumbras, o seu lado mais exposto e, paradoxalmente, transparente; como responsável principal da trama, encontramos a femme fatale, sensual e impecavelmente vestida — viu o clássico A dama de Shanghai? Há uma geração nova desse gênero (neo noir), como o cinema dos irmãos Cohen (Onde os fracos não têm vez). Musical: atribui à banda sonora uma extrema importância, que em nenhum outro gênero encontra paralelo — assistiu ao filme La La Land? A música não se sobrepõe à trama a partir do seu exterior, mas surge a partir da própria vivência das personagens e determina os seus comportamentos — lembra- se do musical Mama Mia? Os momentos, os números ou as sequências cantadas e dançadas pelos protagonistas são, portanto, o elemento formal distintivo do musical — viu Chicago? Os valores de produção usualmente se tornam mais manifestos, com coreografias de grande sofisticação e dimensão, cenários luxuriantes e grandiosos e uma paleta cromática de grande espetacularidade — assista ao filme Moulin rouge e observe essas características. Terror: o seu apelo e o seu fascínio para o espectador provêm, ironicamente, da incomodidade e do desconforto que provoca neste. Em termos iconográficos, este é, seguramente, um dos gêneros mais inventivos, ainda que um conjunto de clichês tenda a se estabelecer e permanecer ao longo de um ciclo de filmes determinado — como, por exemplo, o nevoeiro ou as lâminas — lembra-se de O Iluminado? Caracteriza-se pela centralidade narrativa e dramática da vítima, com a qual o espectador é convidado a identificar-se, muitas vezes através da assunção do seu ponto de vista; a tendência de muitos filmes para a apresentação explícita e muitas vezes exagerada dos efeitos físicos e psíquicos da violência sobre as vítimas – assistiu ao filme O Exorcista? E ao Bebê de Rosemary? 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 20/68 Thriller (suspense): cria-se no espectador uma intensa excitação e nervosismo; há uma instauração e perpetuação constante da dúvida sobre o desfecho dos acontecimentos e sobre o destino das personagens. Apresenta-se uma sugestão verossímil, mas enganosa, de expectativas; as personagens atravessam a história numa situação de risco quase fatal e de perigo iminente. A corrida contra o tempo e a deriva labiríntica desenham um gênero de jogo mental que é proposto ao protagonista — claro que temos que mencionar o nome Alfred Hitchcock, pai deste gênero, e, atualmente, Jordan Peele. Western: é um retrato do oeste americano, da expansão da fronteira da civilização, da instauração da lei e da ordem, muitas vezes à custa das populações indígenas, tantas vezes deturpadamente retratadas. Basta assistir ao filme A Conquista do Oeste. O herói (o caubói) impoluto, indomável e implacável conheceu no western a sua mais feliz encarnação nos tempos modernos. Temos o cavaleiro solitário rumo ao pôr do sol, as roupas de vaqueiro ou a farda do exército, as botas pontiagudas e o lenço no pescoço, o chapéu branco ou preto,símbolos do bem e do mal, as pistolas e os cantis, a indumentária e maquiagem características das tribos indígenas, dos seus gritos de guerra e das suas armas, o arco e a flecha. Estes são alguns dos gêneros que o cinema criou ao longo de sua história, considerando os seguintes critérios para classificá-los: • Narrativa: tramas, premissas e estruturas parecidas; situações, obstáculos, conflitos e resoluções previsíveis; • Caracterização das personagens: tipos semelhantes de personagens (próximos ao estereótipo), com qualidades, motivação, objetivos e aparência similares; • Temas básicos: os filmes são sobre temas semelhantes, frequentemente em contextos históricos, culturais e sociais semelhantes; • Ambiente: o lugar geográfico ou histórico onde a trama se passa é o mesmo; • Iconografia: uso de ícones semelhantes — objetos, atores, atrizes, cenários; uso de certos tipos de linguagem e terminologia; • Técnicas e estilo: iluminação, paleta de cores, movimentação de câmera e enquadramentos semelhantes. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 21/68 Tema 4: O Texto Jornalístico – Narrativo e Dissertativo O texto jornalístico: narrativo e dissertativo Texto jornalístico e representação simbólica da realidade A narrativa jornalística tem como premissa a ideia de que esta trata da verdade em seus enredos, de o texto jornalístico representar a realidade de modo imparcial e objetivo, caracterizando o jornalista como um narrador sem subjetividade, quase como um ser à parte do mundo em que vivemos. Será? Você acredita que o texto jornalístico é isento de qualquer parcialidade? Vamos refletir. • R7 Em 18 de agosto de 2018, no site R7, foi publicada a notícia: Brasileiros expulsam venezuelanos após assalto em cidade de Roraima. • Folha Nessa mesma data, o site do jornal Folha de São Paulo publicou a notícia: Venezuelanos e brasileiros se confrontam nas ruas de cidade de Roraima. Você deve ter verificado que as notícias tratam do mesmo fato: moradores de uma cidade em Roraima agridem imigrantes venezuelanos. Mas o modo de dizer é diferente. Vejamos: Analisando título e subtítulo No título, ao usar um verbo indicador de ação (expulsar) no tempo presente, a notícia sugere que o fato é recente e que há continuidade nesta ação, como se o ato de expulsar ainda estivesse acontecendo. Compare as orações: Brasileiros expulsaram/ Brasileiros expulsam. Quando flexionamos o verbo no pretérito perfeito, sugerimos que a ação é finda e que foi pontual, sem continuidade; diferente do presente do indicativo, que sugere certa persistência da ação. O título ainda destaca quando e onde aconteceu o fato: após assalto e em cidade de Roraima (sem especificar a cidade, apenas o estado). 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 22/68 Observe a ausência de artigo definido ou indefinido para determinar os substantivos (brasileiros, venezuelanos, cidade e Roraima), pois estes elementos estão sendo apresentados ao leitor pela primeira vez. No subtítulo, ao iniciar o texto com o sujeito (moradores de Pacaraima), enfatiza-se quem fez a ação (se revoltar), porém utilizando-se de um verbo (revoltar) mais o pronome se, sugerindo reflexividade desta ação (revoltar a si mesmos). Porque o adjunto adverbial (na fronteira com a Venezuela) foi deslocado de seu local sintático tradicional (o fim do período), provoca-se o efeito de sentido de que o local onde aconteceu o fato é tão importante quanto o sujeito. Mas veja que o verbo revoltar-se está flexionado no pretérito perfeito do indicativo, portanto trata-se de uma ação já concluída e pontual (se revoltaram). Agora, é importante observarmos a oração adverbial “após um comerciante ter sido roubado e agredido supostamente por refugiados”. Veja que os verbos roubar e agredir estão na voz passiva, indicando que o sujeito (um comerciante) é recebedor de duas ações; assim, este sujeito é colocado na posição de vítima (foi roubado e agredido). Nesta oração, o escritor fez questão de explicitar o agente da passiva (por refugiados) para reforçar a ideia de ele ser responsável pela ação, embora o vocábulo supostamente tenha sido usado, amenizando a certeza dessa culpa e esse agente da passiva seja nomeado pelo substantivo refugiados. Agora vejamos o primeiro parágrafo desta notícia do R7: Ao concluirmos a leitura do título, do subtítulo e do primeiro parágrafo, já somos capazes de comentar sobre o fato, ou pelo menos dizer o que houve, quando ocorreu, onde aconteceu, quem são os envolvidos e como o fato se deu. Neste primeiro parágrafo, a ênfase foi dada ao sujeito venezuelanos, pois o período começa com esse sujeito, atribuindo-lhe o papel de sofrer a ação verbal (ser agredido). 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 23/68 Veja que, ao se referir aos venezuelanos, o autor utiliza o substantivo refugiados, não apenas porque precisava de um outro vocábulo para substituir o sujeito, mas porque havia a necessidade de oferecer ao leitor uma nova informação: que os venezuelanos eram refugiados, não eram apenas imigrantes. Há, então, uma questão política a ser considerada, pois a palavra refugiado representa a ideia de migrante que sofre ou sofreu perseguição política. Se prestarmos um pouco mais de atenção, veremos que se pode criar um campo semântico referente ao fato, constituído pelos verbos: foram agredidos, foram expulsas e atirar. Analisando o sujeito Veja que o site Folha de São Paulo optou por classificar a notícia como sendo da Venezuela, e não do Brasil. Isso se comprova pelo vocábulo acima do título (Venezuela). O título enfatiza o sujeito, neste caso composto (Venezuelanos e brasileiros), sugerindo dois agentes para a ação verbal representada pelo verbo confrontar, que vem acompanhado do pronome se com o sentido de reciprocidade. Sendo assim, o sujeito composto é colocado na posição de agente e recebedor da ação verbal, provocando o efeito de sentido de responsável e, ao mesmo tempo, vítima do fato. Além disso, o verbo indicador de ação (confrontar) foi flexionado na voz ativa, reforçando o papel de agente que o sujeito exerce; e no presente do indicativo, ativando o aspecto permansivo que este verbo pode assumir, sugerindo então a ideia de uma ação que continua e de um fato recente. Comentário Permansivo: Diz-se de aspecto verbal cujo estado ou processo permanece em seus efeitos, como, por exemplo, nos verbos conservar, continuar, permanecer, em que a noção de permanência está implícita. O título informa ao leitor onde o fato aconteceu: nas ruas de cidade de Roraima. Observe que o substantivo rua está no plural, sugerindo uma espacialidade ampla para o fato; o substantivo cidade vem acompanhado apenas da preposição de, sem um determinante (de cidade), assim como o substantivo Roraima. Verificamos, então, que o título responde às questões: quem (Venezuelanos e brasileiros), o quê (se confrontam) e onde (nas ruas de cidade de Roraima). 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 24/68 O subtítulo acrescenta uma informação ao título: Secretaria de Segurança Nacional enviará contingente extra de 60 homens à região, levando o leitor a se perguntar sobre o porquê dessa ação, gerando o efeito de sentido de suspeita de que o confronto entre venezuelanos e brasileiros é grave. Para dar essa informação, o subtítulo traz uma oração constituída de um sujeito agente da ação verbal, pois o verbo está na voz ativa (enviará). Desta vez, o tempo verbal escolhido foi o futuro do presente, provocando o sentido de ação que ainda não aconteceu, mas que é certa. O futuro do presente do modo indicativo se caracteriza por referir-se a uma ação virtual, não concretizada ainda, mas que sugere ao leitor a certeza de acontecer. Comopudemos observar, embora a notícia tenha como objetivo narrar de modo imparcial um fato do cotidiano, verificamos que, conforme as escolhas vocabulares, sintáticas, morfológicas, essa imparcialidade se distancia da narrativa objetiva, abrindo espaço para uma parcialidade disfarçada justamente por essas escolhas. Assim, é possível estabelecermos a relação entre a função comunicativa do texto jornalístico — informar sobre um fato —, e a realidade. O texto jornalístico deve ser compreendido como uma representação possível da realidade, que segue determinações sociais, das empresas de comunicação e do próprio jornalista que produz o texto. Ou seja, dependendo da posição discursiva que se queira assumir, o texto jornalístico definirá como a realidade será apresentada a nós. Texto narrativo versus texto dissertativo: informação X opinião Observemos duas notas publicadas no jornal O Povo, em 21/04/2019: 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 25/68 Claudia Raia, uma das atrações do 12º Encontro de Mulheres Pague Menos, está impagável como a abelhuda e convencida Lidiane na novela Verão 90, das quase 20 horas da Globo. Esbanja sua veia humorística como ninguém. O Encontro de Mulheres será de 16 a 19 de maio no Centro de Eventos. O longa brasileiro Bacurau venceu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes em empate com o francês Os Miseráveis, de Ladj Ly. O anúncio aconteceu neste sábado (25), na França. Escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dorneles, o longa-metragem de aventura e ficção científica tem no elenco os cearenses Silvero Pereira, Rodger Rogério e Uirá dos Reis, carioca radicado no Ceará. 1. Qual desses textos podemos afirmar que teve como objetivo informar sem tecer comentário? R= o texto 2. Veja que o texto 1 (nota sobre Cláudia Raia) tece um comentário sobre a atuação da atriz – está impagável –, fazendo uma avaliação da performance de Cláudia Raia em novela da Globo. No título da nota esse comentário já é feito, ao nomear a atriz de Musa do Verão. E continua a dar opinião sobre a atriz: “esbanja sua veia humorística como ninguém”. A nota parece ter como objetivo central opinar sobre a competência de Cláudia Raia, no lugar de informar sobre o evento da Pague Menos. O texto 2 (nota publicada sobre o filme Bacurau) atém-se à informação, evitando o uso de vocábulos ou expressões que sugiram julgamento, opinião, comentário. Por ser um jornal publicado no Ceará, é óbvio que o jornalista informa, já no título, que o elenco conta com atores cearenses, para atrair o leitor local: Com cearenses no elenco, ‘Bacurau’ é premiado em Cannes. O último parágrafo apenas acrescenta uma informação que comprova o que foi dito no título sobre o elenco, fazendo uso do verbo flexionado no presente do indicativo (tem), sugerindo a ideia de algo permanente: Escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dorneles, o longa-metragem de aventura e ficção científica tem no elenco os cearenses Silvero Pereira, Rodger Rogério e Uirá dos Reis, carioca radicado no Ceará. Sendo assim, podemos afirmar que o texto 1 é uma narrativa, pois exprime uma opinião, enquanto o texto 2 é dissertativo, pois relata um fato apenas. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 26/68 Deu para distinguir o texto narrativo do texto dissertativo, informação de opinião? Mas por que conversamos sobre esses assuntos? Porque os textos jornalísticos se caracterizam pela narração e dissertação. Vamos ver esses gêneros? Gêneros textuais jornalísticos: a notícia, a nota, a reportagem, o editorial, a coluna, o ombudsman e a crônica Ao analisarmos as notícias, em nosso primeiro tópico, e as notas, no segundo, verificamos que esses textos se caracterizam pelo uso da narração, embora em uma das notas tenhamos verificado a opção do jornalista pela dissertação, descaracterizando o gênero. Vejamos as seguintes características: A dissertação tem como função comunicativa informar, relatar um fato de maneira breve, sem expor opinião, como vimos no exemplo 2 (nota sobre o filme Bacurau, fazendo uso da norma culta formal. Para isso, flexionam-se os verbos no pretérito perfeito e em terceira pessoa, para garantir a ideia de objetividade e o distanciamento entre o jornalista e o fato relatado, garantindo credibilidade à informação. A notícia é um gênero cujo objetivo é também relatar um fato do cotidiano, de modo objetivo, em terceira pessoa, evitando o uso de vocábulos ou expressões que transpareçam o ponto de vista do jornalista. É um texto informativo, que se qualifica pelo ineditismo do fato, por ser verdadeiro (representar a realidade), objetivo e de interesse do público. Para se caracterizar como verdadeira, a notícia lança mão de informações que garantem a reconstrução do universo de discurso em jogo: nomes de pessoas, ruas, cidades, referências temporais precisas, falas de outros (depoimentos transcritos de pessoas ou instituições). Outras características da notícia: uso da norma culta formal e ordem cronológica Linguagem 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 27/68 A linguagem deve ser culta e formal, podendo aproximar-se do registro coloquial da língua, dependendo do assunto e da sua audiência. Sobre seu conteúdo, a notícia deve responder às seguintes perguntas: • O que aconteceu? • Quem são os envolvidos no fato? • Quando aconteceu o fato? • Onde o fato aconteceu? • Como aconteceu? • Por que aconteceu? Ordem cronológica O texto pode ser narrado em ordem cronológica linear — iniciando pela ação mais remota e terminando com a ação mais recente; ou não linear — iniciando pelo fato mais recente e terminando com o mais remoto. Isso implica em três possíveis estruturações da notícia: • Pirâmide invertida - Começa-se pelo fato mais recente, de modo mais geral, e termina-se pelo fato mais distante, de modo mais específico, mais detalhado) — no caso da pirâmide invertida, os fatos principais são expostos no primeiro parágrafo, oferecendo um resumo; • Pirâmide normal - O texto apresenta detalhes da introdução, fatos de crescente importância (criando suspense), fatos culminantes e o desenlace; • Sistema misto - Neste caso, os fatos culminantes são apresentados na entrada e, depois, a narração segue em ordem cronológica linear. Reportagem x Notícia O gênero Reportagem não se confunde com a notícia, pois trata de fenômenos sociais e políticos, acontecimentos produzidos no espaço público e que são de interesse geral, ou seja, a reportagem extrapola a notícia, a narração de um fato especificamente. Além disso, este gênero é assinado pelo jornalista, enquanto a notícia não; podendo ser um texto mais subjetivo, a partir de um ponto de vista pessoal. Normalmente, a reportagem é veiculada em revistas, pois os fatos presentes no texto compõem uma narrativa mais abrangente, mais analítica em alguns casos. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 28/68 Para desenvolver a reportagem, o jornalista precisa investigar mais, fazer um levantamento de dados ainda maior que a notícia exige, pois a estrutura da reportagem é mais complexa, podendo conter separatas com entrevistas, gráficos, tabelas, enquetes etc. Gêneros marcados pela opinião Editorial Dentre os textos marcados pela opinião, está o editorial, que se caracteriza pela subjetividade. Sua função comunicativa é opinar sobre os assuntos, apresentando aos interlocutores a posição de determinado veículo de comunicação. Coluna Ao lado do editorial está um outro gênero opinativo: a coluna, que tem por objetivo discorrer sobre uma interpretação da realidade para orientar o leitor. Estrutura do texto dissertativo da coluna A estrutura é de um texto dissertativo, com o objetivo de convencer e persuadiro leitor, cuja redação pode ser em primeira pessoa; assinado pelo autor, que define o tom do texto e o ponto de vista a ser defendido. Cabe, então, ao jornalista “manifestar uma crítica à empresa jornalística, com o objetivo de ser um autorregulador dessa mídia”. Estrutura do gênero ombudsman Esse gênero se caracteriza pela seguinte estrutura organizacional: 1. Introdução do tema, juntamente com a opinião da audiência; 2. Apresentação da crítica ao jornal (criticar e defender o jornal, inserir exemplos, apresentar ideias e sínteses, reafirmar posicionamentos); 3. Concluir a crítica (apresentar sugestões à mídia); 4. Apresentar credenciais (indicar a próxima coluna, informar a credencial do autor, disponibilizar informações para o contato com o jornalista (também nomeado ombudsman). 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 29/68 Gênero flutuante entre informação e opinião: crônica jornalística Agora, há um gênero que parece flutuar entre a informação e a opinião: a crônica jornalística. Talvez seja este o gênero jornalístico mais flexível, menos institucionalizado, ou seja, o texto que mais deixa o jornalista livre de amarras estruturais, de conteúdo e de estilo. Vejamos algumas características da crônica jornalística: Aspectos da crônica jornalística Esse tipo de gênero em muito se assemelha ao texto literário, já que se caracteriza pelo uso de figuras de linguagem, jogo de palavras, personagens fictícios, uso da primeira pessoa — caracterizando uma subjetividade atrelada à crítica — e o tom de conversa com o interlocutor — dirigindo-se a ele diretamente ao fazer uso de pronomes de segunda pessoa do discurso (você). Podemos pensar a crônica como um gênero híbrido, que se constrói a partir de características da narrativa não ficcional, do gênero opinativo e do literário. É um texto com volume de informação em uma narrativa curta, pessoal e livre — tanto com relação ao processo de produção quanto ao conteúdo e à edição. Por ser um texto com características literárias, a linguagem flutua num contínuo entre o formal e o coloquial, aproximando-se bastante do registro da fala, como estratégia de aproximação com o interlocutor. (...) também se apropria da realidade do cotidiano, como o jornalismo factual, mas procura ir além e mostrar o que está por trás das aparências, o que o senso comum não vê (ou não quer ver). Aula 5: A linguagem radiofônica Os gêneros radiofônicos O rádio, diferente das mídias impressas, que se utilizam da linguagem verbal escrita, vale-se do registro oral da língua e, obviamente, de todos os recursos característicos da oralidade: • Frequência (grave, médio ou agudo) • Volume (intensidade, potência sonora – vibração do ar, pressão sonora) 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 30/68 • Duração, timbre (a “cor” do som – é a síntese dos dois primeiros), frequência Além desses elementos que constituem a fala, essa mídia faz uso de muitos outros recursos sonoros, como a música e amostras de sons que complementam o texto verbal. Observou como, a cada texto, o locutor foi modificando o modo de falar? 1. No primeiro texto, ele imposta a voz e fala em um ritmo mais lento, com mais pausas, a voz é mais grave e macia, quase sem contrastes (imagine João Gilberto cantando), sugerindo um certo drama e comoção, mais estabilidade. 2. No segundo texto, percebe-se um ritmo mais intenso, menos pausas e silêncios, a voz parece fazer mais curvas (tem um pico de volume e cai), sugerindo uma alegria, um entusiasmo na entonação, percebem-se mais contrastes entre as intensidades. 3. No terceiro texto, uma lista de ofertas, o ritmo se intensifica, reduzem-se mais ainda as pausas e silêncios, a voz tende a ficar menos grave e parece fazer apenas uma curva ascendente e não cai, há uma tendência a permanecer no alto até o final. 4. No último texto, o volume aumenta, o ritmo acelera, tudo se intensifica, para que se estabeleça uma relação entre a linguagem verbal, o que ela representa e a linguagem sonora, sugerindo euforia intensa, muito mais dramaticidade e contraste. A locução do repórter Esso é bem mais pausada, mais branda, o ritmo é mais estável, quase sem mudanças. É como se a voz não fizesse curvas, como se fosse horizontal, quase monótona, caracteristicamente grave, sugerindo seriedade. A linguagem radiofônica exige, portanto, domínio da oratória, a arte de falar, de proferir textos orais de forma clara, garantindo os efeitos de sentido desejados apenas com o uso da linguagem sonora: voz mais música e efeitos sonoros. Essa linguagem se faz presente nos gêneros que caracterizam o rádio, garantindo a interação com o público e provocando os mais diversos efeitos de sentido, incluindo aí o humor. Desde seu surgimento, o rádio tem produzido figuras extraordinárias. Graças a essas figuras, essa mídia criou gêneros específicos que influenciaram muitos dos programas de TV e, hoje, de plataformas da internet. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 31/68 Podemos, então, pensar em uma classificação dos gêneros radiofônicos baseada na função comunicativa que essa linguagem assume nas diversas situações de comunicação que configuram esse veículo: • Publicitário ou comercial Este gênero caracteriza-se pela função comunicativa de tentar persuadir e convencer a audiência, fazendo uso de uma linguagem que se aproxima dos interlocutores. Surgiu no Brasil na década de 1931, quando Getúlio Vargas liberou concessões a particulares. Ouça dois exemplos desse gênero: ◦ Jingle de Getúlio Vargas em 1931; ◦ Jingle de Ciro Gomes em 2018. Deu para observar a diferença? Em 1931, temos uma marchinha de carnaval, lançada por Lamartine Babo; em 2018, temos um axé. Percebeu que as músicas se adaptaram ao momento político, social e estético de seu tempo? Vamos ouvir mais um? Lembra-se deste? Esse jingle do Pão de Açúcar fez muito sucesso mesmo. Se compararmos com os jingles eleitorais, percebemos que a temática também definirá o gênero musical em que se apoia o jingle. • Jornalístico ou informativo Talvez este tenha sido o primeiro gênero de nosso rádio, pois a primeira transmissão radiofônica no Brasil foi um pronunciamento do então Presidente Epitácio Pessoa, em comemoração ao centenário da Independência do Brasil. O gênero jornalístico se caracteriza por ter como objetivo informar o ouvinte sobre assuntos do cotidiano que se tornaram notícia ou ainda opinar sobre os fatos. O primeiro programa jornalístico foi criado por Roquette-Pinto, O Jornal da Manhã. Esse programa informava e comentava sobre os fatos. Pensou que tinha sido A Voz do Brasil? Pois é, este programa só foi transmitido pela primeira vez em 1941, dez anos depois de O Jornal da Manhã. Mas este gênero se notabilizou mesmo com o programa Repórter Esso, pois foi o primeiro a não apenas ler as notícias impressas nos jornais do dia e comentá-las. O programa mesmo desenvolvia as notícias em texto dirigido. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 32/68 • Entretenimento Este gênero praticamente inicia-se com o primeiro momento das transmissões de rádio, pois, inicialmente, este veículo resumia-se a transmitir música (orquestras) e informação. No Brasil, este gênero se estabelece com uma programação voltada para a música. Já ouviu falar nas Cantoras do Rádio? É neste gênero que Carmem Miranda, Aracy de Almeida, Aurora Miranda, Dalva de Oliveira, Dolores Duran e Elizeth Cardoso, por exemplo, passam a ser conhecidas no Brasil e fora do país. Além da música, o teatro também se adapta e cria-se a radionovela. Ouça um trecho de O Direito de Nascer. Esse programa fez muito sucesso na década de 1950. Grandes autores de nossa dramaturgia começaram suas carreiras como autoresnesse momento: Dias Gomes, Mário Lago, Janete Clair e Ivani Ribeiro, só para mencionarmos alguns. • Educativo-cultural Este gênero tem por finalidade promover a educação da sociedade, não apenas com programas de alfabetização, como também com instruções os sobre assuntos mais diversos: desde biografias até documentários, relacionando-os a práticas sociais. É um gênero ainda não muito explorado no Brasil, pois ainda nos atemos a programas que visam apenas divulgar o que determinam os Parâmetros Curriculares Nacionais, com o fim pedagógico de alfabetizar a população, funcionando quase como um programa de educação a distância. Os formatos radiofônicos Os formatos dizem respeito aos modelos que os gêneros do rádio podem assumir, conforme o conteúdo, função comunicativa, audiência, linguagem e estilo. A classificação que apresentamos no item anterior é apenas uma proposta de criar uma categorização mais geral dos diversos programas que a mídia rádio nos possibilita. Sendo assim, a classificação a seguir tem como referência os gêneros mencionados anteriormente: informativo, educativo, entretenimento e comercial/ publicitário. Apresentaremos, portanto, alguns possíveis formatos para cada um desses gêneros. Formatos para cada gênero 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 33/68 • Os formatos do gênero publicitário ou comercial a. Spot: é uma peça publicitária que se caracteriza por utilizar um texto narrado (a voz) por um ou mais locutores, que pode ou não ter música acompanhando. Ouça o spot criado por alunos da Estácio. b. Jingle: é também uma peça publicitária, mas que se caracteriza pela música, pois é esta que prevalece como recurso sonoro para divulgar, convencer e persuadir o público. Ouça um jingle demonstrativo que foi criado para a Estácio. Observou que é diferente do spot? Enquanto o spot é uma peça falada, o jingle é cantado. c. Testemunhal: é um formato de texto narrado (lido) pelo apresentador de um programa ou uma figura pública que tenha credibilidade e possa garantir a qualidade do produto apresentado pela peça publicitária. Esse texto pode ter ou não fundo musical, mas geralmente há uma trilha sonora exclusiva que se mantém durante o testemunho. Ouça a peça publicitária do remédio Advil. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 34/68 • Os formatos do gênero jornalístico ou informativo a. Debate: é uma discussão entre diversas personalidades sobre determinado assunto ou fato, mediado por um dos participantes que se posiciona no centro e coordena o debate. Geralmente o debate ocorre em torno de uma mesa, daí seu outro nome: mesa-redonda, podendo incluir a participação do ouvinte. b. Programas esportivos: esses programas também podem se inserir no formato mesa-redonda, mas incluem também as transmissões de eventos esportivos, principalmente de futebol (no Brasil, então, só há transmissão de futebol praticamente). c. Entrevista: caracteriza-se pela utilização de uma grade de perguntas prévias, em que outras podem ser inseridas. Essas perguntas são elaboradas pelo repórter de acordo com o entrevistado e o assunto a ser tratado por este. O repórter deve tentar manter-se objetivo e imparcial — lembrando que a imparcialidade é uma busca —, garantindo o máximo de informação do entrevistado. A entrevista pode acontecer entre um repórter e um ou mais convidados ou entre mais de um repórter e um convidado, podendo, inclusive, abrir espaço para perguntas feitas pelos ouvintes. d. Boletim: é um formato que se caracteriza pela objetividade e brevidade, pois trata de um relato resumido das notícias mais importantes do dia. e. Crônica: é o formato mais livre, menos institucionalizado, pois o jornalista se apresenta, já que a subjetividade predomina. A crônica pode ser jornalística, esportiva, política, sobre comportamento etc. Ouça uma crônica da Rádio Bandeirantes, em 21 de novembro de 2018. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 35/68 • Os formatos do gênero entretenimento a. Programa musical: é um tipo de programa dedicado à divulgação de música, podendo o locutor falar mais ou menos durante a programação. Este tipo de formato pode permitir ou não a participação do ouvinte. b. Programa humorístico: é um programa que se caracteriza pela produção de mensagens de fácil compreensão, adequadas ao meio que conserva a característica de ser uma espécie de companheiro de lazer, de diversão. Os motes para este tipo de programa têm como referência o ridículo, a representação dos vícios, dos maus costumes, como forma de fazer uma crítica a determinados discursos sociais ou a determinadas situações relacionadas à política, por exemplo. Você já ouviu falar no programa do Mução? c. Programa de auditório: caracteriza-se pela presença de uma plateia que interage durante o programa, aplaudindo ou não, participando de provas e brincadeiras. Assim, dialogar com o público é a principal característica deste formato. Ouça a abertura de um antigo programa de auditório. d. Programa de dramatização: neste tipo de programa, o objetivo é representar uma ficção, seja uma radionovela, uma poesia, um conto ou um esquete (quadro cômico curto). A radionovela foi um formato de dramatização que tinha como referência a novela literária. Era uma narrativa sonora dramatizada nas rádios. Neste gênero, a figura do sonoplasta era fundamental para garantir os efeitos de sentido, sugerir as mais diversas emoções, ajudando o ouvinte a criar imagens sobre as personagens, ambientes, ações. Uma das radionovelas que mais fez sucesso foi Jerônimo, o Herói do Sertão, além de O direito de nascer. Ouça um trecho de Jerônimo, o Herói do Sertão. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 36/68 • Os formatos do gênero educativo-cultural a. Documentário: é um formato que exige uma apuração mais detalhada das informações, com um roteiro que trate exclusivamente de fatos; sem ficção, portanto. Este formato tem como objetivo abordar determinado tema de modo mais aprofundado, com o argumento baseado em documentos e entrevistas recentes. b. Biografias: programa dedicado a narrar a história sobre determinada pessoa, geralmente uma figura pública importante para a história política ou social, ou mesmo uma celebridade. c. Temáticos (ou especial): programa cujo objetivo é tratar sobre determinado tema, lançando mão tanto de fatos quanto de ficções (desde que essas ficções tenham o fim de elucidação do tema ou ilustrá-lo). O rádio na era digital O rádio não só permaneceu, como se adaptou muito bem às novas possibilidades que a internet proporcionou. Entrou nas redes sociais, nas plataformas de vídeo (como o YouTube), criou seus sites e blogs, enfim, sobreviveu aos que desacreditaram seu charme e competência. A web ofereceu a essa mídia mais mobilidade, alcance, interação, velocidade e instantaneidade. Hoje, temos narrações de jogos sendo transmitidas pelas emissoras no YouTube e mesmo programas musicais de rádio com imagem, como nos exemplos que seguem: As vozes do rádio, com a internet, passaram a ter rostos. E o alcance se tornou muito maior, pois o mundo agora é o limite para o rádio, pois qualquer emissora pode ser sintonizada na web em qualquer lugar e a qualquer hora. E, se você acha que os streamings de música conseguiram abalar as rádios, enganou-se, porque as emissoras de rádio também aderiram a eles e criaram suas playlists. Tente encontrar sua rádio preferida no Spotify, por exemplo. Para completar o serviço, a mídia rádio agora é que está mesmo conosco, já que os dispositivos móveis (celulares, tablets) permitem que ouçamos nossas rádios onde quer que estejamos, assim como o radinho de pilha que nossos pais levavam para os estádios em dia de clássico. Podemospensar, portanto, em dois tipos de rádios na internet: as rádios na web (off-line e online) e as web rádios. As rádios tradicionais, que estão na web, podem oferecer sua programação ao vivo ou em podcasts (gravações prévias). 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 37/68 A web rádio é um novo formato de rádio, pois existe apenas no ambiente virtual, utilizando-se de streamings e dos recursos que a web pode oferecer (vídeos, gráficos, fotografias, textos etc.). É o rádio vivendo a era da convergência das mídias. De acordo com Jenkins (2010, p. 29), convergência seria o: "(...) fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, a cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca de experiências de entretenimento que desejam." Ou seja, os limites que separavam as mídias estão sendo dissipados. O que se observa é uma adaptação das mídias tradicionais ao novo, há uma interconexão entre os meios de comunicação de massa e as redes de comunicação baseadas na tecnologia da internet. O papel do espectador também se ajusta a esta nova realidade, pois ele também passa a produzir conteúdo para as mídias e a interferir na grade de programas. É um público mais exigente porque tem acesso à informação, é mais preocupado com a qualidade, capacitando-se a assumir o papel de controlador do conteúdo midiático que consome, trazendo para si mais possibilidades de escolha. Esse espectador vê-se como um cidadão que exerce seus direitos e que se engaja em movimentos cívicos, participando como um ser político. Segundo Mazetti (2009): "A emergência do consumidor empoderado e a cultura participativa é uma história sobre comunidade e colaboração em uma escala nunca antes vista." Temos agora um público protagonista do processo comunicacional, que tem o poder de escolher o que consumir, onde e como, e ainda produzir seu próprio conteúdo e replicá-los. Vivemos em um contexto de construção de uma cultura participativa, ou seja, as pessoas têm sido incitadas pelas organizações a uma atitude mais participativa, assumindo o controle das mídias; de uma inteligência coletiva. Ou seja, o interlocutor/ ouvinte é valorizado, e isso faz com que ele se reconheça e se veja como alguém que detém conhecimento. Além disso, ao compartilhar esse conhecimento, amplia suas possibilidades e reconhece no outro essa potencialidade, desenvolvendo uma prática de construção compartilhada do conhecimento; e de uma cultura da convergência. Essa cultura da convergência quer dizer que as novas mídias se encontram e se imbricam com as mídias tradicionais, estabelecendo relação entre: 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 38/68 "O poder de quem produz a mídia com o poder das pessoas de interagirem de maneiras imprevisíveis."(SANTOS; CALAÇA, 2013) Aula 6: A linguagem da TV no século XXI Narrativas ficcionais televisivas Você conhece a história de Sherazade? Essa personagem salvou sua própria vida porque escolheu a estratégia perfeita para tornar-se indispensável dia após dia na vida de seu esposo, o rei Xariar: narrar histórias ao longo de 1001 noites, sempre interrompendo as histórias ao amanhecer, para continuar na próxima noite. Os objetos do mundo são representados de forma excepcional e, ao mesmo tempo, cotidiano. "As narrativas ficcionais da TV se valem de “personagens saídos de um pretenso ‘real’ e configurados pelo olhar de quem vive a existência que a TV veicula em situações sempre performáticas”."- Barbosa (2007) A construção do mundo ficcional Para a criação de narrativas (como histórias que são contadas para provocar na audiência uma resposta emocional através de efeitos dramáticos), a televisão constrói um mundo ficcional com base em uma premissa. Ou seja, o autor utiliza-se de uma ideia central que o faz aprofundar-se em um mundo narrativo. Essa ideia pode ser: • um tema: violência doméstica; abuso infantil; reforma agrária; • uma vontade: ajudar mães que tiveram seus filhos desaparecidos a receber a atenção da justiça; • uma pergunta: como se deu o processo de migração dos italianos para o Brasil?. A premissa será, assim, a motivação do autor para desenvolver a narrativa de modo inédito, criando uma trama inovadora. Com base na premissa, o autor constrói a trama da narrativa, ou seja, uma sequência de eventos que se caracteriza pela relação de causa e consequência, pois cada evento levará a outro, até a resolução do conflito. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 39/68 Como o público se identifica com o que assiste A identificação da audiência com o que assiste dá-se em decorrência de a televisão oferecer aquilo que o telespectador deseja, comparando o que assiste ao seu cotidiano, às suas experiências. Quando esse processo de identificação acontece, o público retorna e a televisão garante uma audiência fiel. Ou seja, quanto mais o telespectador se identificar com as imagens projetadas na tela do seu televisor, quanto mais houver nas narrativas da TV, mais audiência essa mídia terá. verossimilhança 2 • Verossimilhança: Representação espelhada do cotidiano das pessoas + coerência com o mundo representado pela narrativa. Novela × Minissérie ×Reality Show Novela Você já ouviu falar em: Sua vida me pertence (1951), Noivado das trevas (1952), Um beijo na sombra (1952), O drama de uma consciência (1953), Éramos seis (1958), Clarissa (1961), O tronco do Ipê (1963)? Esses eram os nomes das primeiras novelas da televisão brasileira, cuja periodicidade era de duas a três vezes por semana e cuja premissa era a oposição bem / mal. Vejamos alguns pontos sobre a trajetória da novela brasileira: • Gênero menor e desprestigiado Nesse primeiro momento, a novela era vista como um gênero menor, pois a tradição do teatro era muito forte, e os temas, “adocicados” demais para serem considerados pela elite, que percebia a novela como um gênero para o povo. Além disso, os atores, originários do rádio, eram tidos como desprovidos de capital cultural suficiente para participar da dramaturgia tradicional, eram o povo. Então, a novela inicia sua trajetória sendo desqualificada e desprestigiada, embora tivesse seu espaço na programação da TV brasileira. 27/05/2024, 08:21 Todos os Módulos https://www.notion.so/Todos-os-M-dulos-856ca454ece94d0ab6c87ee6dc7c55a5 40/68 https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0237/aula6.html?brand=estacio https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0237/aula6.html?brand=estacio • Primeira exibição diária Em 1963, a TV Excelsior arriscou mudar a periodicidade das novelas e lançou a novela 2-5499 ocupado, a primeira a ser exibida diariamente, de segunda a sexta. No ano seguinte, a novela no formato diário consolidava-se de vez graças a títulos como O Direito de Nascer (TV Tupi, 1964-1965). • Aumento de audiência Paulatinamente, a telenovela foi reafirmando seu espaço, à medida que sua audiência se tornava maior que a do telejornal e dos filmes, chegando, em 1965, a ocupar o horário nobre da TV, antes destinado a filmes e ao telejornalismo. Durante esse período, as tramas eram ambientadas em lugares distantes e o tempo era o passado, com personagens que não faziam parte de nosso contexto, como condes, príncipes, mocinhas ingênuas, com heróis que jamais usariam o registro coloquial da língua e que eram extremamente puros em seus sentimentos. Claro que houve tentativas de reformulação desse modelo com raízes nas novelas de rádio. • Quebra no paradigma do heroísmo Assim, em 1968, a TV Tupi exibiu a novela Beto Rockefeller. Foi a primeira vez que uma novela tinha como protagonista uma espécie de anti-herói, pois a dualidade bem/ mal estava no próprio personagem, que falava de modo coloquial e