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CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 1 DIREITO PENAL – PARTE GERAL Ponto 2 – Teoria Geral do Crime Parte I CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 2 SUMÁRIO 1.EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO ............................................................................... 3 1.1.SUCESSÃO DE LEIS PENAIS NO TEMPO....................................................................... 3 1.2.TEMPO DO CRIME (tempus commissi delicti)........................................................... 10 2.EFICÁCIA DA LEI PENAL NO ESPAÇO ............................................................................ 11 2.1.LUGAR DO CRIME ..................................................................................................... 11 2.2.TERRITORIALIDADE ................................................................................................... 12 2.3.EXTRATERRITORIALIDADE ........................................................................................ 13 3.VALIDADE DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS ................................................... 16 3.1.IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS ................................................................................... 16 3.2.IMUNIDADES PARLAMENTARES ............................................................................... 17 4.DISPOSIÇÕES FINAIS (Aplicação da Lei Penal) ............................................................. 20 4.1.EFICÁCIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA .................................................................... 20 4.2.CONTAGEM DE PRAZO ............................................................................................. 21 4.3.FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA .................................................................. 21 4.4.CONFLITO APARENTE DE NORMAS .......................................................................... 21 5.TEORIA GERAL DO CRIME ............................................................................................ 24 5.1.CONCEITO DE CRIME ................................................................................................ 24 5.2.SUJEITOS ATIVO E PASSIVO DO CRIME ..................................................................... 25 5.3.OBJETOS JURÍDICO E MATERIAL DO CRIME ............................................................. 28 5.4.DISTINÇÃO ENTRE CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL .............................................. 29 5.5.CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS CRIMES............................................................ 32 6.JURISPRUDÊNCIA ......................................................................................................... 44 CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 3 DOUTRINA 1. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO 1.1. SUCESSÃO DE LEIS PENAIS NO TEMPO 1.1.1. Retroatividade e ultratividade. CP, art. 2º, parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (irretroatividade da lei penal ou retroatividade da lei penal benéfica). Regra à Aplicação da lei vigente à época dos fatos (tempus regit actum). Exceção à extratividade - Aplicação da lei a fatos ocorridos antes ou depois de sua vigência. É admissível desde que para favorecer o acusado. A extratividade se divide em: a) Retroatividade: aplicação da lei nova benéfica a fato anterior à sua vigência. Ex.: Sob a égide da lei “A”, sujeito pratica um furto. Sobrevém a lei “B”, que reduz a pena do furto. A lei “B” retroagirá para beneficiar o acusado. [...] A Lei 13.654/18 extirpou o emprego de arma branca como circunstância majorante do delito de roubo. Em havendo a superveniência de novatio legis in mellius, ou seja, sendo a nova lei mais benéfica, de rigor que retroaja para beneficiar o réu (art. 5º, XL, da CF/88). 4. Recurso parcialmente provido a fim de reduzir a pena imposta ao recorrente ao patamar de 2 anos, 1 mês e 18 dias de reclusão, mais o pagamento de 5 dias-multa, mantidos os demais termos da condenação. (AgRg no AREsp 1249427/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ªT., j. 19/06/2018, DJe 29/06/2018). Embora a causa de aumento alusiva à “arma branca” tenha sido restabelecida pela Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime), agora constando do artigo 157, §2º, VII, do Código Penal, tal disposição só passou a ser aplicável aos roubos cometidos a partir da sua vigência (25.01.2020), restando assim favorecidos todos os réus que, anteriormente, tivessem se valido desse meio para a cometer o delito. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 4 b) Ultratividade: aplicação da lei já revogada após o seu período de vigência. Ex.: Sob a égide da lei “A”, agente pratica um furto. Sobrevém a lei “B”, que aumenta a pena do furto. No momento da sentença, o juiz aplicará a lei “A” (já revogada, mas vigente à época do fato) que terá, portanto, ultratividade. Logo: Novatio legis incriminadora NÃO retroage Novatio legis in pejus (lei nova prejudicial) Lex gravior (lei mais grave) Novatio legis in mellius (lei nova favorável) Retroage Lex mitior (lei mais suave) Abolitio criminis (revogação da conduta criminosa) Cuidado com crime permanente e crime continuado, sobre os quais haverá exposição a seguir. Exemplo (1): Sujeito pratica os furtos “1”, “2” e “3”, nas mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução, configurando-se o crime continuado (art. 71 do CP). Imaginemos que os furtos “1” e “2” foram praticados sob a égide da lei “A”, que é mais benéfica. Sobrevém a lei “B”, prejudicial ao réu, e, sob a égide dela, ele pratica o furto 3. Qual lei se aplica? Lei “A” Lei “A” Lei “B” (prejudicial ao réu) Furto 1 Furto 2 Furto 3 A Lei “B” é aplicada aos 3 furtos praticados em continuidade delitiva. O mesmo vale nos casos de crime permanente, vejamos. Exemplo (2): Sujeito sequestra a vítima sob a égide da Lei “A”. Enquanto a vítima está em cativeiro, sobrevém Lei “B”, prejudicial ao acusado. Qual lei se aplica? Lei “A” Lei “B” (prejudicial ao réu) Sequestro (começa sob a égide da Lei “A” e se prolonga até o advento da Lei “B”) CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 5 Aplica-se a Lei “B”. Nesse sentido é a súmula 711 do STF: Súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. Como aprofundamento e crítica à redação da Súmula, a sua literalidade leva a crer que a superveniência de uma lei penal benéfica, antes de cessada a permanência ou continuidade delitiva, sucumbiria à lei mais grave então vigente, o que não é verdade (ex. lei nova que gera abolitio criminis para o sequestro – valeria para todos aqueles em andamento). A frase “A lei penal mais graveaplica-se” só é correta caso a lei mais grave seja posterior àquela mais benéfica (e caso a continuidade ou a permanência não tenham cessado, obviamente). Atenção: O STF analisou se a mudança na ação penal do crime de estelionato promovida pela lei 13.924/2019 retroagirá para alcançar processos que já estavam em curso (info 1023): • O STJ entende e a 1ª Turma do STF entende que não retroage para os processos que já tenha havido oferecimento de denúncia; • A 2ª STF| entende que a alteração promovida pela lei 13.924/2019, que introduziu o §5º ao art. 171 do CP, ao condicionar o exercício da pretensão punitiva do Estado à representação da pessoa ofendida, deverá ser aplicada de forma retroativa a abranger tanto as ações penais não iniciadas quanto as ações penais em curso até o trânsito em julgado (HC 180421 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/06/2021). 1.1.2. Abolitio criminis (descriminalização) CP, art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. É a revogação de lei penal incriminadora, beneficiando o acusado. A abolitio criminis afasta a tipicidade da conduta. Nos termos do art. 107, III, do CP, extingue-se a punibilidade do agente “pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso”. Ex.: o crime de sedução foi revogado pela Lei 11.106/2005. Efeitos: apaga os efeitos penais da condenação (elimina o dever de cumprimento de pena, não gera reincidência etc.). Porém, os efeitos civis (extrapenais) permanecem (ex: a obrigação de reparar o dano continua intacta). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 6 Instituto interessante surgiu, por exemplo, com o advento do Estatuto do Desarmamento. Isso porque, visando estimular o uso regular de armamentos, o art. 30 e seguintes do Estatuto trouxeram o que a doutrina denomina de abolitio criminis temporária (descriminalização temporária ou vacatio legis indireta). A Lei 10.826/03 fixou prazo para que os possuidores e proprietários de armas de fogo as entregassem ou regularizassem os seus registros. Com isso, o sujeito que, durante o período fixado, fosse encontrado com arma de fogo não estaria cometendo os crimes do art. 12 ou 16 do Estatuto (Vide Súmula 513 do STJ). Observação: Princípio da continuidade normativo-típica: Por vezes, determinada figura delitiva é revogada, porém, o seu conteúdo é transferido para outro tipo penal (houve apenas uma alteração topográfica da conduta incriminadora). Ex.: o artigo 214 do CP, que punia o crime de atentado violento ao pudor, foi revogado. Todavia, seu conteúdo foi transferido para o art. 213 do CP (estupro). Não houve, portanto, abolitio criminis, que para ocorrer exige a revogação material e formal da lei. Confira-se, na jurisprudência: STJ: O princípio da continuidade normativa típica ocorre quando uma norma penal é revogada, mas a mesma conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário (HC 187.471, Rel. Min. Gilson Dipp, 5ª T., j. 04.11.11). 1.1.3. Competência para aplicação da lei nova mais favorável Em princípio, cabe ao juiz do conhecimento. Se o processo estiver em grau de recurso, cabe ao Tribunal. Se estiver em fase de execução, cabe ao juiz da execução. Em síntese: a lei nova mais favorável será aplicada pelo órgão do Poder Judiciário em que a ação penal estiver em trâmite. Súmula 611 do STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna. 1.1.4. Combinação de leis penais. Indaga-se se é possível a combinação de leis penais. Ex.: Imaginemos que um indivíduo praticou tráfico de drogas sob a égide da Lei 6.368/1976. Por ocasião da sentença, já havia sido editada a Lei 11.343/2006. Poderia o juiz combinar as duas leis, aplicando a pena cominada na Lei 6.368/1976 (mais benéfica) com a causa de diminuição prevista no § 4º da Lei 11.343/2006? Lei 6.368/1976, Lei 11.343/2006, art. 33: Combinação de leis CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 7 art. 12: (possível?) Pena – 3 a 15 anos de reclusão. Pena – 5 a 15 anos de reclusão (mais gravosa que a lei anterior). Pena – 3 a 15 anos de reclusão. Não existia a figura privilegiada. Figura privilegiada (art. 33, § 4º). Possibilidade de redução da pena de 1/6 a 2/3 (benéfica em relação à lei anterior). Figura privilegiada (art. 33, § 4º) – Possibilidade de redução da pena de 1/6 a 2/3. Duas correntes: a) Majoritária - Não pode. O juiz, ao criar uma terceira norma (lex tertia), estaria legislando, usurpando a competência do Poder Legislativo (Teoria da Ponderação Unitária ou Global). STF: [...] TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. CRIME COMETIDO NA VIGÊNCIA DA LEI 6.368/1976. APLICAÇÃO RETROATIVA DO § 4º DO ART. 33 DA LEI 11.343/2006. COMBINAÇÃO DE LEIS. INADMISSIBILIDADE. PRECEDENTES. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I – É inadmissível a aplicação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006 à pena relativa à condenação por crime cometido na vigência da Lei 6.368/1976. Precedentes. II – Não é possível a conjugação de partes mais benéficas das referidas normas, para criar-se uma terceira lei, sob pena de violação aos princípios da legalidade e da separação de Poderes. III – O juiz, contudo, deverá, no caso concreto, avaliar qual das mencionadas leis é mais favorável ao réu e aplicá-la em sua integralidade. [...] (RE 600817/MS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Pleno, j. 07/11/2013) Súmula 501 do STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis. b) Possível. O juiz, ao combinar as leis, extrai a posição mais benéfica ao réu, agindo de acordo com os princípios constitucionais da retroatividade da lei penal mais CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 8 benéfica e irretroatividade da lei penal mais gravosa (Teoria da Ponderação Diferenciada). Trata-se, na verdade, apenas de um processo de integração da lei penal (Basileu Garcia). 1.1.5. Vacatio legis Lei benéfica em vacatio legis é aplicável? Duas correntes: • - Majoritária – Não. Deve-se aguardar entrar em vigor (Damásio, Frederico Marques, Nucci). • - Minoritária – Vacatio legis é um instituto benéfico, para as pessoas tomarem conhecimento da norma. Se o intuito é benéfico, assim como o da retroatividade da lei benéfica, deve-se aplicar (Alberto Silva Franco, Paulo José da Costa Jr.). 1.1.6. Jurisprudência Alteração jurisprudencial benéfica retroage? O entendimento clássico é no sentido de que não retroage. Recentemente, tem-se modificado esse panorama. Edição de súmulas vinculantes e decisões em sede de controle abstrato de constitucionalidade benéficas ao acusado retroagem. Há tendência de se admitir a retroatividade mesmo em se tratando de decisões tomadas em sede de controle concreto proferidas pelo STF (abstrativização do controle difuso) ou edição/cancelamento de súmulas em geral, benéficas ao acusado. 1.1.7. Leisintermitentes Lei excepcional ou temporária CP, Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. São leis elaboradas para terem curta duração. São leis ULTRATIVAS E AUTORREVOGÁVEIS. Leis intermitentes é gênero, do qual são espécies as leis temporárias e as leis excepcionais: • a) Leis temporárias – Normas cujo prazo de vigência vem determinado CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 9 no próprio texto. São dotadas de autorrevogação. Ex.: até o dia “X”. • b) Leis excepcionais – Normas editadas para serem aplicadas durante uma situação ou período de excepcionalidade. Ex.: calamidade pública. O art. 3o, ao prever a ultratividade das leis excepcionais ou temporárias, é constitucional? Duas correntes: • a) O art. 3o é inconstitucional, pois o art. 5o, XL, da CF estabelece a retroatividade da lei penal benéfica, sem exceções (“a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”). Sempre foi minoritária, mas tem crescido (Nucci). • b) O art. 3o é constitucional. Não há violação ao princípio da retroatividade da lei penal benéfica. Nas leis excepcionais e temporárias, o tempo de vigência é elemento do tipo penal. Ex.: Falsificar produtos entre janeiro e dezembro de 2012. Há a introdução do elemento temporal na tipicidade. Há dois tipos penais: falsificar e falsificar entre janeiro e dezembro de 2012. (Luis Flavio Gomes). Observação: Em provas objetivas, marcar de acordo com o texto do art. 3º. 1.1.8. Norma penal em branco Alteração do complemento da norma penal em branco, benéfica ao acusado, retroage? Há basicamente três correntes: • a) Retroage, pois a CF é clara (“a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”) (Paulo José da Costa Jr.); • b) Não retroage. A revogação do complemento não atinge a norma (Frederico Marques); • c) Depende. Se o complemento não possuir caráter excepcional ou temporário, haverá abolitio criminis. Ex.: no crime de tráfico, a retirada de uma determinada droga (ex.: lança-perfume) do rol de substâncias proibidas. Por outro lado, se o complemento possuir caráter excepcional ou temporário, aplica-se o art. 3o, isto é, o complemento terá ultratividade. Ex.: mudança de tabela em crime de transgressão de tabelamento de preços (Alberto Silva Franco). Nesse sentido, confira dois julgados do STF: PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. LEI 6368/76, ARTIGO 36. NORMA PENAL EM BRANCO. PORTARIA DO DIMED, DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 10 CONTENEDORA DA LISTA DE SUBSTÂNCIAS PROSCRITAS. LANCA-PERFUME: CLORETO DE ETILA. I. O paciente foi preso no dia 01.03.84, por ter vendido lança-perfume, configurando o fato o delito de tráfico de substância entorpecente, já que o cloreto de etila estava incluído na lista do DIMED, pela Portaria de 27.01.1983. Sua exclusão, entretanto, da lista, com a Portaria de 04.04.84, configurando-se a hipótese do "abolitio criminis". A Portaria 02/85, de 13.03.85, novamente inclui o cloreto de etila na lista. Impossibilidade, todavia, da retroatividade desta. II. Adoção de posição mais favorável ao réu. III. H.C. deferido, em parte, para o fim de anular a condenação por tráfico de substância entorpecente, examinando-se, entretanto, no Juízo de 1º grau, a viabilidade de renovação do procedimento pela eventual prática de contrabando. (HC 68904/SP, Rel. Min. Carlos Velloso, j. 17/12/1991) Habeas corpus. - Em princípio, o artigo 3º do Código Penal se aplica a norma penal em branco, na hipótese de o ato normativo que a integra ser revogado ou substituído por outro mais benéfico ao infrator, não se dando, portanto, a retroatividade. - Essa aplicação só não se faz quando a norma, que complementa o preceito penal em branco, importa real modificação da figura abstrata nele prevista ou se assenta em motivo permanente, insusceptível de modificar-se por circunstâncias temporárias ou excepcionais, como sucede quando do elenco de doenças contagiosas se retira uma por se haver demonstrado que não tem ela tal característica. "Habeas corpus" indeferido. (HC 73168 / SP, Min. Moreira Alves, j. 21/11/1995) 1.2. TEMPO DO CRIME (tempus commissi delicti) Trata-se do estudo da aplicação da lei penal no tempo. Em regra, os doutrinadores apresentam três teorias acerca do tema: • a) Teoria da Atividade: considera praticado o crime no momento da conduta (ação ou omissão), ainda que outro seja o resultado. • b) Teoria do Resultado ou do Evento: considera praticado o crime no momento da produção do resultado. • c) Teoria Mista ou da Ubiquidade: considera praticado o crime no momento da conduta e da produção do resultado. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 11 Para o CP, quando o crime se considera praticado? É importante saber, pois o momento do crime determina qual a lei penal a ser aplicada ao caso concreto. CP, Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. CP adota a teoria da atividade. Ex.: Agente, antes de completar 21 anos, atira na vítima, que fica 2 semanas internada e morre após aquele completar 21 anos. Vale o momento da ação, de modo a incidir a atenuante da menoridade relativa (“Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - ser o agente menor de 21, na data do fato, ou maior de 70 anos, na data da sentença”). Assim, o estudo das teorias acerca do tempo do crime tem relevância quando a conduta é praticada em um determinado momento, mas o resultado só ocorre em momento posterior. Observação: não confundir tempo do crime com competência criminal, cujas regras encontram previsão no CPP. 2. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO ESPAÇO 2.1. LUGAR DO CRIME CP, art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir- se o resultado. Em regra, os doutrinadores apresentam três teorias acerca do tema: • a) Teoria da Atividade ou da Ação: considera praticado o crime no lugar em que ocorreu a conduta (ação ou omissão). • b) Teoria do Resultado ou do Evento: considera praticado o crime no lugar em que ocorreu a produção do resultado. • c) Teoria Mista, Unitária ou da Ubiquidade: considera praticado no lugar em que ocorreu a conduta, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. É a adotada pelo nosso Código Penal. A adoção da Teoria da Ubiquidade visa viabilizar a aplicação da lei penal brasileira sempre que os efeitos da prática delitiva sejam de alguma forma sentidos/sofridos pela sociedade nacional, quer quando a conduta (ação ou omissão) seja aqui praticada, quer quando o resultado de conduta iniciada fora do território nacional opere aqui seus efeitos. O dispositivo legal se refere, então, aos crimes à CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 12 distância ou de espaço máximo (abrange território de dois ou mais países), tema de Direito Penal Internacional. Destaque-se que alei brasileira será aplicável com a prática, em território nacional, de qualquer ato executório, sendo assim também em relação à tentativa. Atenção! Não se confunde com crimes plurilocais (abrangem dois ou mais territórios do mesmo país – ex.: capital e interior do Estado). Nesse último caso, aplicam-se as regras de competência do art. 70 do Código de Processo Penal (estudaremos oportunamente no tópico “competência”). L ugar U biquidade T empo A tividade 2.2. TERRITORIALIDADE Territorialidade CP, Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. Territorialidade (aplica-se a lei brasileira ao crime cometido no território nacional) temperada (sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional). Assim, de acordo com o princípio da territorialidade temperada ou mitigada, é possível a existência de fatos criminosos que, mesmo ocorridos no território brasileiro, não ensejarão a aplicação da nossa lei penal. Trata-se do instituto da intraterritorialidade (Ex.: Diplomatas). § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 13 Território brasileiro por equiparação: § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. Em suma: • a) Embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, em território nacional ou estrangeiro são consideradas parte do território brasileiro; • b) Embarcações e aeronaves estrangeiras privadas, em território nacional é aplicável a lei brasileira; • c) Embarcações e aeronaves privadas, em alto-mar ou espaço aéreo correspondente seguirão a lei do país conforme a bandeira que ostentam. Assim, conforme Rogério Sanches (Manual de Direito Penal, 2020) território nacional é a soma do espaço físico (ou geográfico), com o espaço jurídico (espaço físico por ficção, por equiparação, por extensão ou território flutuante). 2.3. EXTRATERRITORIALIDADE Aplicação da lei brasileira a crimes cometidos no estrangeiro. A Extraterritorialidade da lei penal brasileira pode ser: incondicionada, condicionada e hipercondicionada. CP, Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: Princípio/Extraterritorialidade a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União/ DF/ Estado/ Território/ Município/ Empresa púb./ Sociedade de econ. mista/ Autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; Princípio da defesa, real ou da proteção (considera o bem jurídico protegido ser nacional). Extraterritorialidade incondicionada (o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 14 c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; Princípio da justiça universal, da justiça cosmopolita, da competência ou da jurisdição universal, da jurisdição ou da repressão mundial ou da universalidade do direito de punir (bem jurídico de interesse transnacional). Extraterritorialidade incondicionada (o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro). e) genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; Princípio do Domicílio: não importa a nacionalidade do sujeito - ele é julgado pela lei do país do seu domicílio. Extraterritorialidade incondicionada (o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro). II - os crimes:* a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; Princípio da justiça universal, da justiça cosmopolita, da competência ou da jurisdição universal, da jurisdição ou da repressão mundial, ou da universalidade do direito de punir (bem jurídico de interesse transnacional). Extraterritorialidade condicionada.* b) praticados por brasileiro; Princípio da nacionalidade (ou personalidade) ativa (autor brasileiro). Extraterritorialidade condicionada.* CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 15 c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. Princípio da representação, bandeira, pavilhão, subsidiário ou da substituição (não havendo outro critério, prevalece o fato de ser a bandeira brasileira). Extraterritorialidade condicionada.* * Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no par. anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição b) houve requisição do Ministro da Justiça Princípio da nacionalidade (ou personalidade) passiva (vítima brasileira) Extraterritorialidade (hiper)condicionada Observação: Não basta uma leitura superficial. É preciso memorizar as tabelas acima. Quando essa matéria é cobrada, exige-se que o candidato tenha decorado os princípios, os requisitos e se a extraterritorialidade é condicionada, incondicionada ou hipercondicionada. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 16 2.3.1. Pena cumprida no estrangeiro CP, Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. 3. VALIDADE DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS 3.1. IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS Fonte: Convenções de Viena (1961, sobre relações diplomáticas; 1963, sobre relações consulares), aprovadas pelos Decretos 56.435/1965 e 61.078/1967. Trata-se de prerrogativa de direito público internacional. Quem possui? • - Chefe de governo ou de Estado estrangeiro e sua família e membros da comitiva; • - Embaixador e sua família; • - Funcionários do corpo diplomático e sua família; • - Funcionário de organizações internacionais, quando em serviço (ex.:ONU). Observação: A imunidade abrange os membros do pessoal administrativo e técnico da missão, assim como os membros de suas famílias que com eles vivam, desde que não sejam nacionais do Estado acreditado nem nele tenham residência permanente (art. 37, 2, Convenção de Viena). Observação: Estão excluídos das imunidades os empregados particulares dos diplomatas (exemplo: faxineira, cozinheiro etc.). Características: • a) Inviolabilidade pessoal - Não podem ser presos ou detidos, nem obrigados a depor como testemunhas. • b) Isenção da jurisdição - O agente diplomático goza de imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado. Por essa razão, o fenômeno é denominado intraterritorialidade (aplica-se a lei estrangeira a fato ocorrido no Brasil). Se o fato for impunível no país de origem, o agente não será responsabilizado. O diplomata não pode abrir mão de sua imunidade, mas o país que o envia sim (Estado acreditante). • c) Inviolabilidade de domicílio - A Convenção de Viena estabelece que CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 17 as sedes diplomáticas e as residências dos membros da missão são invioláveis. Contudo, não são consideradas extensões do território estrangeiro. Já a imunidade do agente consular restringe-se aos atos de ofício (imunidade funcional relativa). Nos termos do art. 43, I, da Convenção de Viena sobre Relações Consulares (1963), “os funcionários consulares e os empregados consulares não estão sujeitos à Jurisdição das autoridades judiciárias e administrativas do Estado receptor pelos atos realizados no exercício das funções consulares”. Logo, se praticar crime ----- ***comum, responde de acordo com a lei brasileira; se praticar crime funcional, relacionado com a sua função, ficará sujeito à lei do país de origem. 3.2. IMUNIDADES PARLAMENTARES 3.2.1. Imunidade parlamentar absoluta (substancial, material, real, inviolabilidade) – freedom from speech. CF, art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. Natureza jurídica das Inviolabilidades: Corrente majoritária, adotada, inclusive, pelo STF, esclarece que é causa de atipicidade. A imunidade material serve para assegurar a democracia. A imunidade parlamentar é uma proteção adicional ao direito fundamental de todas as pessoas à liberdade de expressão, previsto no art. 5º, IV e IX, da CF/88. Assim, mesmo quando desbordem e se enquadrem em tipos penais, as palavras dos congressistas, desde que guardem alguma pertinência com suas funções parlamentares, estarão cobertas pela imunidade material do art. 53, caput, da CF. (STF. 1ª T., Inq 4088/DF e 4097/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 01/12/2015, Info 810). Observação: Diz a súmula nº 45 do STF que “A imunidade parlamentar não se estende ao corréu sem essa prerrogativa”. Segundo boa parte da doutrina, a súmula somente é cabível no caso de imunidade formal (ver abaixo) e não é aplicável na hipótese de imunidade material (inviolabilidade parlamentar), prevista no caput do art. 53 da CF. Deve, no entanto, existir nexo entre as opiniões, palavras ou votos e o exercício da função desempenhada pelo agente. Esse vínculo é presumido de forma absoluta se o parlamentar estiver nas dependências da casa legislativa. Já quanto aos fatos ocorridos fora da Casa, mas relacionados com a função parlamentar, a presunção quanto ao nexo funcional é relativa, sendo possível a produção de prova em contrário CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 18 de eventual ofendido e a consequente responsabilização do parlamentar por suas opiniões, palavras e votos. RECURSO ESPECIAL Nº 1.642.310/DF. REL. MIN. NANCY ANDRIGHI. CASO JAIR MESSIAS BOLSONARO x MARIA DO ROSARIO NUNES. “A imunidade parlamentar não é absoluta, pois, conforme jurisprudência do STF, “a inviolabilidade dos Deputados Federais e Senadores, por opiniões palavras e votos, prevista no art. 53 da CF, é inaplicável a crimes contra a honra cometidos em situação que não guarda liame com o exercício do mandato”. 6. Na hipótese dos autos, a ofensa perpetrada pelo recorrente, segundo a qual a recorrida não “mereceria” ser vítima de estupro, em razão de seus dotes físicos e intelectual, não guarda nenhuma relação com o mandato legislativo do recorrente. 7. Considerando que a ofensa foi veiculada em imprensa e na Internet, a localização do recorrente, no recinto da Câmara dos Deputados, é elemento meramente acidental, que não atrai a aplicação da imunidade. 8. Ocorrência de danos morais nas hipóteses em que há violação da cláusula geral”. Segundo a jurisprudência do STF a imunidade não abrange crimes eleitorais (injúria, calúnia, difamação em época de eleição). STF: A jurisprudência do STF é no sentido de que a imunidade parlamentar material incide de forma absoluta quanto às declarações proferidas no recinto do Parlamento e os atos praticados em local distinto escapam à proteção absoluta da imunidade somente quando não guardarem pertinência com o desempenho das funções do mandato parlamentar. 2. Esta Corte entende que, embora indesejáveis, as ofensas pessoais proferidas no âmbito da discussão política, respeitados os limites trazidos pela própria Constituição, não são passíveis de reprimenda judicial. Imunidade que se caracteriza como proteção adicional à liberdade de expressão, visando a assegurar a fluência do debate público e, em última análise, a própria democracia. [...] (RE 443953 ED, Rel. Min. Luis Roberto Barroso, 1ª T., j. 19/06/2017) CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 19 3.2.2. Imunidade parlamentar relativa (formal, processual, adjetiva) – freedom from arrest. a) Relativa em relação à prisão (art. 53, § 2º, CF) Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. Regra: parlamentares não poderão ser presos provisoriamente (prisão em flagrante, preventiva, temporária). Exceção: poderão ser presos em flagrante por crime inafiançável. Neste caso o auto de prisão será remetido à casa respectiva que resolverá, no prazo de 24 horas, em juízo político, sobre a conveniência e oportunidade da prisão, podendo relaxá-la, por meio de voto aberto. Observação 1: A prisão decorrente de sentença definitiva não está abrangida por esta imunidade relativa. Observação 2: Ver caso prisão do ex-senador Delcídio do Amaral antes da condenação definitiva por embaraço à operação lava-jato. O Min. relator do caso destacou a excepcionalidade da prisão preventiva e, mais ainda, que em caso de prisão de parlamentar no exercício do mandato só é permitida em situação de flagrante por crime inafiançável, conforme o artigo 53, § 2º, da CRFB. Porém, o relator observou que no caso em questão caracteriza-se um estado de crime permanente, a partir de formação de associação criminosa com o objetivo de atrapalhar as investigações. Esse estado de permanência, para o relator, mantém presente o flagrante para fins de prisão cautelar. b) Relativa em relação ao processo Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o STF daráciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato. Atenção! A imunidade não se estende e nem alcança os inquéritos instaurados contra os congressistas. c) Relativa em relação à condição de testemunha (art. 53, § 6º, da CF) CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 20 Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. Observações finais: • 1 - Deputados estaduais gozam dos mesmos privilégios que os federais (imunidade substantiva e processual) (art. 27, § 1º, CF). • 2 - Vereadores somente têm imunidade substantiva, desde que suas opiniões, palavras e votos sejam proferidos no exercício do mandato (nexo material) e na circunscrição do Município (critério territorial) (art. 29, VIII, CF). • 3 – SV nº 45: “A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual”. 4. DISPOSIÇÕES FINAIS (Aplicação da Lei Penal) 4.1. EFICÁCIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA Eficácia de sentença estrangeira CP, Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; II - sujeitá-lo a medida de segurança. Parágrafo único - A homologação depende: a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. O artigo é autoexplicativo, cabendo apenas remeter o aluno ao CPP (arts. 787 e ss.), onde se encontram as regras do processo de homologação, que tramitará perante o STJ (art. 105, I, “i”, CF/88), cabendo apenas alertar que, segundo doutrina (por todos, Rogério Sanches e Damásio de Jesus), a homologação para efeitos de reincidência, é dispensável. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 21 4.2. CONTAGEM DE PRAZO Contagem de prazo CP, Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. CPP, art. 798, § 1º Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento. Atenção! A contagem de prazos processuais penais segue a regra do art. 798, caput, do CPP: “Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado”. 4.3. FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA CP, Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. 4.4. CONFLITO APARENTE DE NORMAS 4.4.1. Conceito O conflito aparente de normas ocorre para hipótese em que, ao mesmo fato, pareçam ser aplicáveis duas ou mais normas, embora somente uma delas efetivamente o seja. Exemplo: sujeito efetua disparo de arma de fogo contra o seu desafeto, matando-o. Poderia haver dúvida se responderia somente pelo crime de homicídio (art. 121 do CP) ou também pelo disparo de arma (art. 15 da Lei 10.826/2003). No caso, o disparo é meio para a prática do homicídio, ficando por este absorvido. Veja-se que o conflito é meramente aparente ou ilusório, pois existem critérios determinantes de qual das normas deve ser aplicada. São eles: • a) especialidade; • b) subsidiariedade; • c) absorção ou consunção. Alguns autores incluem ainda os seguintes critérios: • d) sucessividade; CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 22 • e) alternatividade. 4.4.2. Critério da especialidade A norma especial tem preferência sobre a norma geral (lex specialis derogat legi generali). É especial a norma que possui certa particularidade objetiva ou subjetiva. Contém todos os requisitos da geral, além de elementos especializantes. Exemplo: o homicídio culposo está disciplinado no art. 121, § 3º, do Código Penal. Porém, se a conduta tiver sido praticada na particular situação de estar o agente na direção de veículo automotor, passará a incidir o tipo previsto no art. 302 do CTB (Lei 9.503/1997), que é especial em relação à figura do CP. 4.4.3. Critério da subsidiariedade Significa que a norma principal deve ser aplicada em detrimento da subsidiária (lex primaria derogat subsidiariae). Norma subsidiária é a que está prevista, inserida em outra. Tem-se um tipo acessório e outro principal. A subsidiariedade pode ser explícita/expressa (como o nome diz, expressamente prevista na norma) ou implícita/tácita (não se autoproclama subsidiária, mas é). Exemplos: Subsidiariedade expressa: Subtração de incapazes Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial: Pena - detenção, de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de outro crime. Subsidiariedade tácita: Art. 148 em relação ao art. 159, ambos do CP: Sequestro e cárcere privado Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: Pena - reclusão, de um a três anos. Extorsão mediante sequestro Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de oito a quinze anos. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 23 Art. 155 em relação ao art. 157, ambos do CP: Furto Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Roubo Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 4.4.4. Critério da absorção ou da consunção Significa que a norma que prevê o fato de forma menos abrangente deve ser preterida em relação a outra que contenha o mesmo fato, mas de maior amplitude (lex consumens derogat consumptae). Assim, significa que o crime-meio deve ser absorvido pelo crime-fim. Aqui, a relevância está na existência de um fato da vida real que engole outro. Enquanto na subsidiariedade, há um fato disputado por duas normas, na absorção há dois fatos, com um absorvendo o outro. Não há, necessariamente, uma relação de delito mais grave abarcando o menos grave, ou seja, não é relação de espécie e gênero, mas de parte a todo, de meio e fim (Rogério Sanches, Manual de DP, 2020, pág. 193). Eis um exemplo de absorção pelo crime menos grave: Súmula 17 do STJ: Quando o falso se exaureno estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. O critério da absorção, na prática, depende da política criminal. Em alguns casos, entende-se que há absorção; em outros, que há concurso de crimes. Algumas hipóteses em que há consunção: • - Antefactum não punível – hipótese em que um crime é praticado como meio necessário para a realização de outro crime. Na aplicação do princípio da consunção, é imprescindível que o crime meio e o crime fim tenham ocorrido no mesmo contexto fático. Ex.: súmula 17 acima. • - Post factum não punível – Aqui, o fato posterior é que fica absorvido. Após consumar o crime, há agressão contra o mesmo bem jurídico. Ex.: após furtar o celular da vítima, o agente o danifica. Responderá CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 24 apenas pelo furto. 4.4.5. Critério da sucessividade Diz respeito à sucessão de leis penais no tempo. Significa que lei posterior tem preferência à lei anterior que cuide do mesmo fato (lex posterior derogat legi priori). O correto seria o legislador revogar expressamente a lei anterior, mas, em muitas vezes, não o faz. Ex.: art. 32 da LCP derrogado pelo art. 309 do CTB. Súmula 720 do STF: O art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que reclama decorra do fato perigo de dano, derrogou o art. 32 da Lei das Contravenções Penais no tocante à direção sem habilitação em vias terrestres. 4.4.6. Critério da alternatividade Aplicável em se tratando de crime de ação múltipla ou tipo misto alternativo. Nesses casos, mesmo que o agente pratique mais de uma conduta, no mesmo contexto fático, responderá por um só crime. Ex.: agente adquire e conduz coisa produto de crime. Responderá por um crime de receptação, mesmo tendo praticado duas condutas (“CP, art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte”). 5. TEORIA GERAL DO CRIME 5.1. CONCEITO DE CRIME O crime pode ser examinado sob 4 enfoques: • Material (substancial): Leva em consideração a própria essência da conduta, tida como perniciosa pela sociedade. Nessa visão, crime é o comportamento humano causador de lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico tutelado. • Formal (sintético): Considera a contradição do fato à norma penal. O crime é a conduta (ação ou omissão) devidamente prevista em lei como tal, sob ameaça de sanção penal. • Analítico (dogmático): Leva em consideração a concepção da ciência do Direito. Sob tal enfoque analisa-se os elementos estruturais que compõem a infração penal. Majoritariamente, entende-se que o crime é fato típico, antijurídico e culpável. • Legal: Leva em consideração o conceito trazido pelo legislador, na CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 25 forma do art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal: “Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.” Temos, então, um sistema dicotômico que estabelece uma diferença de grau ou quantitativa e não ontológica entre crime e contravenção penal. 5.2. SUJEITOS ATIVO E PASSIVO DO CRIME 5.2.1. Sujeito ativo Sujeito ativo é aquele que pratica a infração penal. Denomina-se crime comum aquele que não exige sujeito ativo especial ou qualificado (ex.: homicídio), e crime próprio aquele que exige sujeito ativo qualificado ou especial (ex.: a qualidade de mãe é essencial para a configuração do crime de infanticídio). Pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de crime? Diz o art. 225, § 3º/CF: Art. 225 (...) § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Na esteira da CF, diz o art. 3º da Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais): Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato. Nesse contexto, existem basicamente duas correntes sobre a possibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica. Vejamos: NÃO (societas delinquere non potest) SIM (majoritária) Pessoa jurídica é uma ficção jurídica, não Pessoa jurídica é um ente autônomo, CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 26 tem vontade, não atua com dolo ou culpa. Admitir a responsabilidade penal da pessoa jurídica seria uma forma de responsabilidade penal objetiva. tem vontade própria. Ainda que assim não fosse, é possível admitir, excepcionalmente, a responsabilidade penal objetiva. O Direito Penal tem como característica essencial a possibilidade de aplicação de pena privativa de liberdade. Pessoa jurídica não pode sofrer privação de liberdade. Logo, a utilização do Direito Penal é desnecessária, podendo-se empregar outros instrumentos, como multas administrativas. Ainda que não possa sofrer privação de liberdade, a PJ pode sofrer outras espécies de sanções no âmbito penal, como multas, suspensão das atividades, interdição, etc. A condenação criminal é mais grave, repercutindo de forma mais intensa e negativa que a aplicação de multa civil. Punir a pessoa jurídica é uma violação ao princípio da responsabilidade pessoal. Afinal, quem vai sofrer as consequências não será a pessoa jurídica, mas os seus empregados (ex.: vão perder o emprego). A punição é dirigida contra a pessoa jurídica, não contra os empregados. Logo, não há ofensa ao princípio. Efeitos reflexos da pena sempre atingem terceiros. Ex.: ao se condenar o chefe de família, pode-se estar atingindo os seus dependentes. Não há amparo legal. O art. 225, § 3º, da CF, que trata dos crimes ambientais, permite a aplicação de sanções penais às pessoas físicas e apenas sanções administrativas às pessoas jurídicas. O art. 225, § 3º, da CF, permite a aplicação de sanções penais às PJs (“As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”). O STJ admitia a responsabilidade penal da pessoa jurídica, desde que houvesse simultaneamente a imputação à pessoa física que atua em seu nome ou em seu benefício. É a chamada teoria da dupla imputação. O fundamento é o art. 3º da Lei n. 9.605/98, segundo o qual “as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade”. (EDcl no REsp 865.864/PR, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu, 5ª T., j. 20/10/2011).CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 27 Atualmente, STF e STJ admitem a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais, sendo desnecessária a responsabilização simultânea da pessoa física que agia em seu nome. (STF. 1ª Turma. RE 548181/PR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/8/2013 - Info 714; STJ. 6ª Turma. RMS 39.173-BA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 6/8/2015 - Info 566). Pessoa jurídica de Direito Público pode ser sujeito ativo de crime ambiental? Duas correntes, não havendo por hora uma que se sobressaia: • 1C - Não. As pessoas jurídicas de direito público, por sua própria natureza, só agem em prol do interesse coletivo e destinam-se, somente, a buscar fins lícitos, não podendo receber o mesmo tratamento das pessoas jurídicas de direito privado. Do contrário, não estará o administrador agindo “no interesse ou benefício da entidade”, conforme preceitua o art. 3º da Lei 9.605/98, devendo apenas a pessoa física ser responsabilizada criminalmente por delito ambiental. • 2C – Sim. A CF não traz qualquer distinção entre a natureza jurídica da pessoa jurídica, assim, tanto a pessoa jurídica de direito público quanto a de direito privado podem ser responsabilizadas criminalmente. A única observação é que, dependendo do caso concreto, algumas das sanções previstas na Lei Ambiental poderão se revelar inaplicáveis, como a “proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações” (art. 22, III, Lei 9.605/1998). 5.2.2. Sujeito passivo Sujeito passivo é o titular do bem jurídico atingido pela infração. É a pessoa ou ente que sofre as consequências da infração penal. Divide-se em: • a) Sujeito passivo constante, mediato, formal, geral ou genérico – É sempre o Estado (por isso “constante”), por seu interesse na manutenção da paz pública e na ordem social. • b) Sujeito passivo eventual, imediato, material, particular ou acidental – É o titular do bem jurídico diretamente atingido pela infração. Pode coincidir com o sujeito passivo constante. Ex: crimes contra a Administração Pública. O sujeito passivo eventual pode ser comum ou próprio. Diz-se que o sujeito passivo é comum quando o tipo penal não exige qualquer qualidade especial da vítima, ou seja, aquele delito que pode ser praticado contra CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 28 qualquer pessoa (ex.: homicídio). Por outro lado, o sujeito passivo é próprio quando o tipo penal demanda alguma qualidade da vítima (ex.: ser o filho no crime de infanticídio, a vulnerabilidade no estupro de vulnerável, etc.). Nessa linha, crimes bipróprios são aqueles que exigem uma qualidade especial do sujeito ativo e também do sujeito passivo. Um exemplo é o próprio crime de infanticídio (“art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após”). O sujeito ativo é qualificado (a mãe) e o sujeito passivo também é qualificado (o filho). Obs. 1: Crimes de dupla subjetividade passiva são aqueles que têm, obrigatoriamente, pluralidade de vítimas. Obs. 2: Morto não é sujeito passivo de crime, nem animais. Obs. 3: A mesma pessoa não pode figurar, ao mesmo tempo, como sujeito ativo e passivo do crime, caso contrário haveria violação ao princípio da alteridade. (Rogério Greco traz o crime do art. 137 do CP como única exceção). Obs. 4: Pessoa jurídica pode ser vítima de crime (ex: para o STF e STJ, a PJ poderá ser vítima nos crimes de difamação). 5.3. OBJETOS JURÍDICO E MATERIAL DO CRIME a) Objeto Jurídico Objeto jurídico é o bem jurídico tutelado pela norma penal incriminadora. (ex: no homicídio, o objeto jurídico é a vida; no furto, protege-se o patrimônio). Não existe crime sem objeto jurídico, a missão do direito penal é a tutela dos bens jurídicos indispensáveis à convivência humana. Há crimes, inclusive, que protegem pluralidade de bens jurídicos. São os chamados crimes pluriofensivos (ex.: latrocínio protege a vida e o patrimônio). b) Objeto Material Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. (ex: o objeto material do homicídio é a vítima; do furto, a coisa alheia subtraída). O Objeto material pode coincidir com o sujeito passivo da infração penal (ex: no homicídio a vítima é o sujeito passivo e também o objeto material). A doutrina majoritária ensina que é possível a existência de crime sem objeto material, como nos crimes de mera conduta. Ex.: Omissão de socorro. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 29 5.4. DISTINÇÃO ENTRE CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL Infração penal é um gênero, tendo como espécies o crime e a contravenção (que também recebe o nome de delito liliputiano ou “crime-anão”). Confira a distinção axiológica ou de valor – fatos mais graves são rotulados como crime e os menos graves como contravenção, por opção legislativa: Infração penal (gênero) Crime Contravenção penal Principal diploma Código Penal Lei das Contravenções Penais (DL nº 3.688/1941) Tipo de pena privativa de liberdade aplicável Reclusão, Detenção ou multa Prisão simples ou multa (art. 5º, LCP) Regime inicial cabível Reclusão Fechado, semiaberto ou aberto Detenção Semiaberto ou aberto Possível a regressão para o fechado (art. 33, caput, CP) Prisão simples Semiaberto ou aberto Inadmissível a regressão para o fechado (art. 6º, LCP) Local de cumprimento de pena privativa de liberdade Regime fechado penitenciária (art. 87, LEP) Semiaberto colônia agrícola, industrial ou similar (art. 91, LEP) Aberto casa do albergado (art. 93, LEP) Prisão simples deve ser cumprida sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semiaberto ou aberto (art. 5º, LCP) Divisão dos sentenciados LEP, art. 84, § 1º (com redação dada pela Lei 13.167/2015): Os presos provisórios ficarão separados de acordo com os CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 30 seguintes critérios: I - acusados pela prática de crimes hediondos ou equiparados; II - acusados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa; III - acusados pela prática de outros crimes ou contravenções diversos dos apontados nos incisos I e II. § 3º Os presos condenados ficarão separados de acordo com os seguintes critérios: I - condenados pela prática de crimes hediondos ou equiparados; II - reincidentes condenados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa; III - primários condenados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa; IV - demais condenados pela prática de outros crimes ou contravenções em situação diversa das previstas nos incisos I, II e III. Tipo de ação penal Pública (incondicionada ou condicionada) ou privada (art. 100, CP) A contravenção penal só admite a Ação Penal Pública incondicionada (art. 17, LCP) Tentativa Punível (art. 14, II, CP) Não é punível (art. 4º, LCP) Competência Justiça Federal ou Estadual Justiça Estadual – art. 109, IV da CF (exceto se o autor da contravençãofor detentor de foro por prerrogativa de função no âmbito da JF) Súmula 38 do STJ: “Compete à Justiça Estadual comum, na vigência da CF/1988, o CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 31 processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades”. Limite de cumprimento de pena 30 anos (até 22/01/20) 40 anos (pós pacote anticrime - art. 75, CP) 5 anos (art. 10, LCP) Período de prova do sursis Regra: 2 a 4 anos (art. 77, caput, CP) Exceção: 4 a 6 anos (art. 77, § 2º, CP) 1 a 3 anos (art. 11, LCP) Reincidência Ocorre quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior (art. 63, CP) Ocorre quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por contravenção (art. 7º, LCP) Extraterritorialidade Admite (art. 7º, CP) Não admite Prisão preventiva e temporária Admissível nos casos do art. 313, CPP e art. 1º, III, Lei 7.960/1989 Não admite Confisco Instrumentos ou produto do crime podem ser confiscados (art. 91, II, a, CP) e Confisco Alargado Instrumentos de contravenção não podem ser confiscados CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 32 (art. 91-A, CP - anticrime) Habeas corpus. Penal. Princípio da consunção. Alegação de que o crime de falso (art. 304 do CP) constitui meio de execução para a consumação da infração de exercício ilegal da profissão (art. 47 do DL nº 3.688/41). Não ocorrência. Impossibilidade de um tipo penal previsto no CP ser absolvido por uma infração tipificada na Lei de Contravenções Penais. Ordem denegada. “1. O princípio da consunção é aplicável quando um delito de alcance menos abrangente praticado pelo agente for meio necessário ou fase preparatória ou executória para a prática de um delito de alcance mais abrangente. 2. Com base nesse conceito, em regra geral, a consunção acaba por determinar que a conduta mais grave praticada pelo agente (crime-fim) absorve a conduta menos grave (crime-meio). 3. Na espécie, a aplicabilidade do princípio da consunção na forma pleiteada encontra óbice tanto no fato de o crime de uso de documento falso (art. 304 do CP) praticado pelo paciente não ter sido meio necessário nem fase para consecução da infração de exercício ilegal da profissão (art. 47 do DL nº 3.688/41) quanto na impossibilidade de um crime tipificado no Código Penal ser absorvido por uma infração tipificada na Lei de Contravenções Penais. 4. Habeas corpus denegado”. (HC 121652, Rel. Min. Dias Toffoli, 1ª T., j. 22/04/2014) 5.5. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS CRIMES 5.5.1. Crime comum e próprio e crime de mão própria Comum - Pode ser praticado por qualquer pessoa (ex.: homicídio, furto). Próprio - Exige sujeito ativo qualificado ou especial. Essa qualidade pode ser de direito (ex.: ser funcionário público, no crime de corrupção passiva – art. 317) ou de fato (ex.: ser a mãe, no crime de infanticídio – art. 123). De mão própria - É aquele que somente pode ser praticado pelo próprio agente, diretamente. Exigem atuação pessoal. A conduta da pessoa exigida pela lei, para a caracterização do crime, é infungível. Ex.: falso testemunho. Somente a própria testemunha pode ir ao juiz e praticar o crime. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 33 Os crimes de mão própria admitem participação, mas não coautoria (examinaremos melhor isso oportunamente). 5.5.2. Crime instantâneo, permanente e instantâneo de efeitos permanentes É classificação quanto ao momento consumativo. De acordo com a definição contida no art. 14, I, do CP, o crime considera-se consumado quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal. Crime instantâneo - Aquele que se consuma num momento específico, determinado, ou seja, não se prolonga no tempo. Ex.: homicídio, furto. Crime Permanente - Aquele cuja consumação se arrasta, prolongando-se no tempo, por vontade do agente. Caracteriza-se por ter momento consumativo duradouro. Ex.: sequestro ou cárcere privado. Enquanto a vítima está em cativeiro, o crime está se perpetuando. O crime permanente admite prisão em flagrante a todo tempo, enquanto durar a sua realização. A prescrição da pretensão punitiva somente começa a ser contada a partir da cessação da permanência (art. 111, III, do CP). Além disso, nos crimes permanentes há aplicação da súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica- se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. Crime instantâneo de efeitos permanentes - Aquele que se consuma num momento específico, ou seja, instantaneamente, porém os seus efeitos se prolongam no tempo, mas independentemente da vontade do agente. A subsistência dos efeitos do crime é inerente ao fato praticado. Ex.: bigamia. Ao se casar pela segunda vez, está consumado o crime. A manutenção do segundo casamento é o efeito do crime, que se prolonga no tempo. 5.5.3. Crime comissivo e omissivo (omissivo impróprio e comissivo impróprio) Classificação quanto à forma pela qual a conduta é praticada. A conduta compreende a ação ou omissão consubstanciada no verbo nuclear. Crime Comissivo ou de ação - A conduta configura-se com uma ação do agente (ex.: roubo). A conduta positiva viola norma penal proibitiva. Crime Omissivo ou de omissão - A conduta ocorre com uma omissão do agente, um não fazer. Ex.: omissão de socorro (art. 135). Nos crimes omissivos a norma violada pelo agente tem natureza imperativa ou mandamental. O crime omissivo subdivide-se em: CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 34 Crime Omissivo impróprio ou impuro ou comissivo por omissão Omissivo próprio ou puro São crimes comissivos (descrevem uma ação) praticados por meio de uma inatividade. É o que se dá nos casos em que está presente o dever jurídico de agir (dever específico) para evitar o resultado (art. 13, § 2º, do CP). Logo, o sujeito ativo da omissão imprópria somente são as pessoas elencadas nos incisos I a III, do § 2º, art. 13 do CP. São crimes próprios, materiais e admitem a tentativa. A natureza jurídica do citado artigo é de norma de extensão e a adequação típica se dá por subordinação indireta. O tipo penal descreve uma omissão: para identificá-los, basta a leitura da norma. Há violação do dever genérico de agir, desta feita, o sujeito ativo da omissão pode ser qualquer pessoa (ex. art. 135 do CP). São crimes unissubsistentes: a conduta é composta de um único ato e, por isso, são crimes que não admitem a forma tentada. 5.5.4. Crime de dano e de perigo Classificação quanto ao resultado jurídico ou normativo (lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado). Crime de dano ou de lesão - Crime de dano é aquele que se consuma com a efetiva ocorrência de um dano ao bem jurídico tutelado. É assim com a maior parcela das infrações penais. Ex.:homicídio, roubo, furto, estupro. Crime de perigo - Crime de perigo é aquele que se consuma com a simples exposição do bem jurídico tutelado a um perigo de lesão. São criados como anteparo, justamente para evitar o dano. Dividem-se em crimes de perigo abstrato e crimes de perigo concreto. • Crimes de perigo abstrato ou presumido - São aqueles em que o perigo é absolutamente presumido pelo legislador. Consumam-se com a prática da conduta, dispensando a comprovação do perigo real no caso concreto. Ex.: porte ilegal de arma de fogo. Atenção! Súmula 575 do STJ: Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB, independentemente da ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na condução do veículo. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 35 Para a configuração do crime do art. 310 do CTB, não é exigida a demonstração de perigo concreto de dano. Isso porque, no referido artigo, não há previsão, quanto ao resultado, de qualquer dano no mundo concreto, bastando a mera entrega do veículo a pessoa que se sabe inabilitada, para a consumação do tipo penal. Trata-se, portanto, de crime de perigo abstrato (STJ. 6ª T., REsp 1.468.099-MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/3/2015, Info nº 559). • Crimes de perigo concreto - São aqueles em que o perigo ao bem jurídico deve ficar comprovado nos autos, pois a lei exige que a conduta do agente provoque perigo real. Ex.: expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente (art. 132). A acusação precisa provar, no caso concreto, que a conduta do agente gerou o perigo direto e iminente. 5.5.5. Crime unissubjetivo e plurissubjetivo Classificação quanto à pluralidade de sujeitos como requisito típico. Crime unissubjetivo (monossubjetivo ou de concurso eventual) - É aquele que pode ser cometido por um só agente ou por várias pessoas, em concurso de agentes (art. 29, CP). Ex.: homicídio. A maioria dos crimes são unissubjetivos. Crimes plurissubjetivos (de concurso necessário ou coletivo) - É aquele que exige a presença de mais de um agente para se configurar: a conduta descrita no verbo nuclear sempre deve ser praticada por duas ou mais pessoas, sem necessidade do socorro da norma de extensão do art. 29 do CP. Exemplo: associação criminosa, rixa. Subdivide-se em: • Crimes de condutas paralelas - os agentes colaboram mutuamente para um resultado comum. Ex.: associação criminosa (art. 288). • Crimes de condutas convergentes ou bilaterais - as condutas partem de pontos opostos, encontrando-se, com a consequente produção do resultado. Ex.: bigamia (art. 235). • Crimes de condutas divergentes ou contrapostas - as condutas se desenvolvem umas contra as outras. Ex.: rixa (art. 137). Observação: Crimes acidentalmente ou eventualmente coletivos - São crimes em que a presença de mais de um agente provoca elevação da pena. Ex.: furto qualificado pelo concurso de agentes (art. 155, § 4º, IV). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 36 Observação: Sob o enfoque processual, se uma infração é praticada por várias pessoas, seja em concurso eventual, seja em concurso necessário, dar-se-á o vínculo de continência por cumulação subjetiva que, em regra, motivará a reunião dos processos para julgamento conjunto (art. 77, I, do CPP). 5.5.6. Crime simples e complexo Crimes simples - São aqueles constituídos simplesmente por uma conduta típica. Ex.: homicídio. Crimes complexos - Os crimes complexos se dividem em: Crimes complexos em sentido estrito - São aqueles constituídos pela junção de mais de uma conduta típica. Ex.: roubo = constituído pelo furto (subtração de coisa alheia móvel) + lesão corporal ou ameaça. Crimes complexos em sentido amplo – São aqueles constituídos pela junção de uma conduta típica e outras condutas que, em si consideradas, não são típicas. Ex.: estupro = constrangimento ilegal (conduta típica) + conjunção carnal ou outro ato libidinoso (não são condutas típicas se isoladamente consideradas). Alguns ainda mencionam os crimes ultra complexos – Crime complexo ao qual é acrescido outro crime, que funciona como qualificadora ou causa de aumento de pena. Ex.: roubo com causa de aumento por conta do emprego de arma de fogo. Tem-se um crime complexo (roubo) acrescido de uma causa de aumento que, isoladamente, constitui um tipo autônomo (porte ilegal de arma). 5.5.7. Crimes progressivos e progressão criminosa Crime progressivo (de passagem) – Ocorre quando o agente, para chegar a um crime mais grave, precisa passar por um crime menos grave. Ex.: para atingir a consumação do homicídio, precisa passar pela lesão corporal. Neste caso, desde o início a vontade era a de praticar o crime mais grave - no caso, matar. Progressão criminosa - Ocorre quando o agente, logo após praticar um crime menos grave, delibera e alterando seu dolo inicial, vem a praticar um crime mais grave. Há uma evolução criminosa na vontade do agente. Ex.: sujeito decide agredir a vítima e faz isso. Em seguida, fica ainda com mais raiva dela e decide matá-la, vindo a eliminar sua vida. Em ambos os casos há incidência do princípio da consunção. O agente responderá, somente, pelo crime mais grave, que absorverá a infração mais branda. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 37 5.5.8. Crime habitual A habitualidade consiste, em matéria penal, na prática de um só crime mediante a reiteração da conduta delitiva. Ex: art. 282, CP (exercício irregular da medicina). Se uma pessoa se faz passar por médico e de modo habitual, começa a clinicar, incorre nas penas do art. 282, mas saliente-se que haverá um só crime, o qual abrange todas as falsas consultas médicas por ele realizadas. A prática de uma só consulta, de forma isolada, não configura o crime. Requisitos do crime habitual: • a) Repetição de atos; • b) Identidade entre tais atos; • c) Nexo de habitualidade entre eles. Crimes habituais admitem tentativa? • Primeira Corrente - Não. Ou se forma um conjunto de atos, consumando o crime, ou não se forma, e o fato será atípico. (Nucci, majoritária). • Segunda corrente - Sim. Se o agente der início aos atos executórios e for possível identificar a finalidade de habitualidade, pode-se configurar o crime tentado. Como registrado por Mirabete, “não há que se negar, porém, que se o sujeito, sem ser médico, instala um consultório e é detido quando de sua primeira consulta, há caracterização da tentativa de crime previsto no artigo 282”. Crimes habituais admitem prisão em flagrante a qualquer tempo? • 1ª Corrente - Sim. Nesse sentido, Mirabete: “não é incabível a prisão em flagrante em ilícitos habituais se for possível, no ato, comprovar-se a habitualidade. Não se negaria a situação de flagrância no caso da prisão de responsável por bordel onde se encontram inúmeros casais para fim libidinoso, de pessoa que exerce ilegalmente a medicina quando se encontra atendendo vários pacientes etc.”. • 2ª corrente - Não. O delito habitual, quando se consuma, não se transforma em permanente. São classificações distintas. Veja-se, por exemplo, que o crime permanente não exige repetição de atos, cada um tem requisitos próprios. (Nucci) CPF: 860.542.154-18PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 38 Crime habitual próprio ou crime necessariamente habitual - é o crime habitual propriamente dito. A habitualidade é requisito do fato típico, de maneira expressa ou implícita. É o crime estudado acima. Crime habitual impróprio ou acidentalmente habitual – neste caso, a existência do crime não depende da reiteração da conduta; se esta ocorrer, entretanto, haverá um só crime. Nesse sentido: “O crime de gestão fraudulenta pode ser visto como crime habitual impróprio, em que uma só ação tem relevância para configurar o tipo, ainda que a sua reiteração não configure pluralidade de crimes. Portanto, a sequência de atos fraudulentos perpetrados já integra o próprio tipo penal, razão pela qual não há falar, na espécie, em crime continuado” (STJ, AgRg no AREsp 608646 / ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª T., j. 20/10/2015). Observação: crime habitual distingue-se de crime profissional, que é um crime habitual com exclusiva intenção de lucro. Ex: art. 230 do CP (Rufianismo). 5.5.9. Crimes de atividade e de resultado Crimes de atividade - se consumam com a mera prática da conduta, mesmo sem resultado naturalístico. Dividem-se em formais e de mera conduta. Formais (ou crimes de resultado cortado) - São aqueles que se consumam com a mera prática da conduta, embora seja possível a ocorrência de resultado naturalístico como consequência direta da conduta. Exemplo: prevaricação (art. 319). Para sua consumação, basta que o agente deixe de praticar o ato de ofício para satisfazer interesse pessoal, sendo desnecessário resultado naturalístico. Porém, é possível que o crime provoque mudanças no mundo dos fatos (ex.: causando efetivo prejuízo ao Estado). O crime formal é espécie do gênero crime de intenção ou de tendência interna transcendente. Veja que no crime de resultado cortado ou separado, o resultado naturalístico (dispensável para a consumação do delito), não está na esfera de decisão do agente, ou seja, NÃO DEPENDE de sua vontade. Outro exemplo é a extorsão mediante sequestro, cuja vantagem ilícita visada depende de terceiros, com o pagamento do resgate. Crime Mutilado de dois atos: outra espécie de crime intenção, mas, nesse, o resultado visado, igualmente dispensável para a consumação do delito, DEPENDE de um novo comportamento seu, como ocorre coma falsificação de moeda, que já se CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 39 configura pela falsificação em si, mas que é praticado visando colocar o numerário falso em circulação. De mera conduta - São os crimes que se consumam com a mera prática da conduta, não admitindo resultado naturalístico como consequência direta da ação. Ex.: violação de domicílio. Crimes de resultado (causais ou materiais) - Dependem da ocorrência de resultado naturalístico para se consumarem. Ex.: homicídio, estupro. 5.5.10. Crime unissubsistente e plurissubsistente Classificação que diz respeito ao número de atos executórios que integram a conduta criminosa. Unissubsistente – Pode ser praticado via um só ato executório, apto a produzir a consumação. Ex.: injúria verbal. São crimes em que não cabe tentativa. Plurissubsistente – Exige a prática de diversos atos executórios. Ex.: roubo, estupro. É possível a tentativa, já que a conduta pode ser fracionada. 5.5.11. Crime de forma livre e forma vinculada Crime de forma livre é aquele que não pressupõe uma maneira específica para sua prática. Ex.: furto. Crime de forma vinculada é aquele cuja configuração pressupõe que seja cometido de uma maneira específica. Ex.: art. 284 do CP - Exercer o curandeirismo: I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância; II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio; III - fazendo diagnósticos. 5.5.12. Crime vago ou de vítimas difusas Não possui sujeito passivo determinado. O sujeito passivo é a coletividade. 5.5.13. Crime remetido Remete a outro tipo penal - a sua compreensão depende da consulta a essa figura remetida. Exemplo: uso de documento falso (art. 304 do CP – “Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302”). 5.5.14. Crime condicionado Aquele que depende do advento de determinada condição externa para o início da persecução penal. Exemplo: crimes falimentares (Lei 11.101/2005, art. 180 - “A sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou concede a CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 40 recuperação extrajudicial de que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais descritas nesta Lei”). 5.5.15. Crime de atentado ou de empreendimento É aquele que equipara a punição da forma tentada à da forma consumada. Exemplo: Evasão mediante violência contra a pessoa (art. 352 do CP - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência). 5.5.16. Crime militar próprio e impróprio Classificação tradicional acerca dos delitos previstos no Código Penal Militar. Dividem-se em: Crime militar próprio – Aqueles previstos apenas no Código Penal Militar. Exemplo: Deserção (Art. 187 – “Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias”). Crime militar impróprio – Aqueles previstos no Código Penal Militar e também em outros diplomas. Exemplo: estupro. Se praticado por militar nas condições do art. 9º do CPM, configura o crime do art. 232 do CPM. Do contrário, configura o crime do art. 213 do CP. Atenção: Após a Lei 13.491/17, caso atendidos os requisitos legais, também podem ser considerados crimes militares aqueles não tipificados diretamente no CPM (ex.: abuso de autoridade, lavagem de dinheiro). É o que alguns chamam de crime militar por extensão, ou crime militar extravagante. 5.5.17. Crime comum e político Em razão do atentado contra vida do então candidato Jair Bolsonaro à Presidência da República, atenção para esta classificação. Políticos são os crimes praticados com propósitos políticos; por exclusão, crimes comuns são todos os demais. Para configuração do crime político, exige-se motivação ou finalidade política (critério subjetivo ou finalidade especial) e que a conduta esteja enquadrada na lei de Segurança Nacional (requisito objetivo). Diz a lei 7.170/83: Art. 1º - Esta Lei prevê os crimes que lesam ou expõem a perigo de lesão: I - a integridade territorial e a soberania nacional; CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 41 Il - o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito; Ill - a pessoa dos chefes dos Poderes da União; Art. 2º - Quando o fato estiver também previsto como crime no Código Penal, no Código Penal Militar ou em leis especiais, levar-se-ão em conta, para a aplicação desta Lei: I - a motivação e os objetivos do agente; II - a lesão real ou potencial aos bens jurídicos mencionados no artigo anterior. Art. 20 - Devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cárcereprivado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até o dobro; se resulta morte, aumenta-se até o triplo. 5.5.18. Crime exaurido Refere-se a resultados ocorridos posteriormente à consumação. Ex.: A extorsão mediante sequestro está consumada com a restrição da liberdade da vítima, sendo o pagamento do resgate apenas mero exaurimento. 5.5.19. Crime a prazo É aquele cuja configuração depende do advento de um prazo. Exemplo: Apropriação de coisa achada (art. 169, II, CP) – ”Quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias”. 5.5.20. Crimes funcionais Praticados por funcionário público, conforme o art. 327 do CP. Podem ser: Crimes funcionais próprios – Ausente a qualidade de funcionário público, o fato é atípico (ex.: prevaricação). Crimes funcionais impróprios ou mistos – Ausente a qualidade de funcionário público, o fato continua sendo típico, porém constituindo outro delito (ex.: quando um funcionário público subtrai para si, da repartição que trabalha, determinado objeto, CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 42 comete peculato; se um trabalhador subtrai para si, de seu local de trabalho, algum bem, comete furto). 5.5.21. Crime à distância, crime em trânsito, crime de trânsito e crime plurilocal Crime à distância (ou de espaço máximo) - É aquele que abrange o território de dois ou mais países. Aplica-se a teoria da ubiquidade ou mista (art. 6º - “Considera- se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”). Mnemônico: Veja que o crime à Distância perpassa por Dois ou mais países. Crime plurilocal - São aqueles cujo iter criminis abrange dois ou mais territórios do mesmo país – ex.: capital e interior do Estado. Aplicam-se as regras de competência do art. 70 do CPP (firmada pelo local da consumação). Crime em trânsito (em circulação) - Dá-se quando o agente pratica o fato em mais de um país, mas em um ou mais deles não atinge nenhum bem jurídico de seus cidadãos. Também se denomina passagem inocente. O exemplo que costuma ser trazido pela doutrina é o da carta injuriosa que é apenas elaborada em um país ou passa por ele antes de chegar ao seu destino. Crime de trânsito (de circulação) – É aquele praticado na utilização de veículos automotores em vias terrestres, aplicando-se o CTB. 5.5.22. Crime de tendência ou de atitude pessoal Cuidam-se de infrações penais cuja caracterização é condicionada à intenção do agente. A análise do comportamento objetivo, isoladamente, não revela correspondência entre o fato e a norma penal, exigindo-se investigação acerca da finalidade do agente. São crimes que trazem como elementar uma finalidade especial, a qual não precisa ser alcançada para a caracterização do delito. Ex. o ato do médico que toca a região genital de uma mulher pode caracterizar apenas um exame ginecológico ou o crime de violação sexual mediante fraude, a depender da sua vontade. 5.5.23. Crime de opinião ou de palavra Abrange todas as infrações penais decorrentes do abuso de liberdade do pensamento. Não importa o meio pelo qual é praticado (por palavras, imprensa, ou qualquer outro veículo de comunicação). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 43 5.5.24. Crimes transeuntes ou de fato transitório (delicta facti transeuntis) e crimes não transeuntes ou de fato permanente (delicta facti permanentis) Crime transeunte ou de fato transitório: é aquele que não deixa vestígios materiais. Ex: injúria verbal. Não é preciso perícia. Crime não transeunte ou de fato permanente: é aquele que deixa vestígios materiais. Ex: homicídio. Há necessidade de perícia (exame de corpo de delito), nos termos do art. 158 do CPP. 5.5.25. Crime gratuito Aquele praticado sem motivo algum. Entende-se que a falta de motivo não configura motivo fútil. 5.5.26. Crime multitudinário Aquele cometido por um grande número de pessoas, num contexto de tumulto (ex: briga generalizada entre duas torcidas de futebol). Quando o agente pratica o fato sob influência de multidão em tumulto, se não foi provocador, recebe uma atenuante na hipótese de condenação (art. 65, III, ”e”, CP). 5.5.27. Crime de ímpeto e crime premeditado Crime de ímpeto é aquele cometido por impulso, sem prévia racionalização ou planejamento. Crime premeditado, ao contrário, é aquele precedido de prévia racionalização e planejamento. 5.5.28. Crimes de acumulação São crimes cuja conduta, isoladamente praticada, aparenta ser inofensiva. Porém, quando praticadas reiteradamente, conforme análise conjunta, lesionam o bem jurídico. Ex.: morador joga uma diminuta quantidade de dejetos em córrego. Porém, todos os moradores da comunidade fazem o mesmo, poluindo o rio. Ex2: sujeito colhe pequena quantidade de palmito. Porém, toda a população de determinada região decide fazer o mesmo, comprometendo a vegetação. É um fundamento para se afastar, em tais casos, o princípio da insignificância. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 44 6. JURISPRUDÊNCIA RECURSO ESPECIAL. ROUBO MAJORADO. PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO ENTRE A DENÚNCIA E A SENTENÇA. OFENSA. NÃO OCORRÊNCIA. DESCRIÇÃO. ROUBO CONSUMADO. POSSE MANSA E PACÍFICA. DESNECESSIDADE. RECURSO PROVIDO. [...] 5. Extrai-se dos autos, ainda, que o delito foi praticado com emprego de arma branca, situação não mais abrangida pela majorante do roubo, cujo dispositivo de regência foi recentemente modificado pela Lei n. 13.654/2018, que revogou o inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal. 6. Diante da abolitio criminis promovida pela lei mencionada e tendo em vista o disposto no art. 5º, XL, da Constituição Federal, de rigor a aplicação da NOVATIO LEGIS IN MELLIUS, excluindo-se a causa de aumento do cálculo dosimétrico. 7. Recurso provido para reconhecer a forma consumada do delito de roubo, com a concessão de ordem de habeas corpus de ofício para readequação da pena. (Resp. 1519860/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª T., j. 17/05/2018, DJe 25/05/2018). [Importante lembrar que a majorante do roubo por emprego de arma branca foi restabelecida pelo legislador na Lei nº 13.964/19 – pacote anticrime. O raciocínio do julgado acima segue válido, e a nova sistemática do delito será tratada no material de Direito Penal Especial]. DIREITO PENAL. HIPÓTESE EM QUE O FALSO PODE SER ABSORVIDO PELO CRIME DE DESCAMINHO. RECURSO REPETITIVO. TEMA 933. Quando o falso se exaure no descaminho, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido, como crime- fim, condição que não se altera por ser menor a pena a este cominada. Conforme entendimento doutrinário, na aplicação do critério da consunção, verifica-se que “o conteúdo de injusto principal consome o conteúdo de injusto do tipo secundário porque o tipo consumido constitui meio regular (e não necessário) de realização do tipo consumidor”. Nesse contexto, o STJ jáse pronunciou no sentido de não ser obstáculo para a aplicação da consunção a proteção de bens jurídicos diversos ou a absorção de infração mais grave pela de menor gravidade (REsp 1.294.411-SP, 5ª T., DJe 3/2/2014). O STJ, inclusive, já adotou, em casos análogos, orientação de que o delito de uso de documento falso, cuja pena em abstrato é mais grave, pode ser absorvido quando não constituir conduta autônoma, mas mera etapa preparatória ou executória do descaminho, crime de menor gravidade, no qual o falso exaure a sua potencialidade lesiva (AgRg no REsp 1.274.707-PR, 5ª T., DJe 13/10/2015; e REsp 1.425.746-PA, 6ª T., DJe 20/6/2014). No mesmo sentido, mutatis mutandis, a Súmula n. 17 do STJ, segundo a qual “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”. REsp 1.378.053-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 3ª Seção, j. 10/8/2016 (Info 587). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 45 DIREITO PENAL. HIPÓTESE DE CONSUNÇÃO DO CRIME DO ART. 33 DA LEI DE DROGAS PELO CRIME DO ART. 273 DO CP. Ainda que alguns dos medicamentos e substâncias ilegais manipulados, prescritos, alterados ou comercializados contenham substâncias psicotrópicas capazes de causar dependência elencadas na Portaria n. 344/1998 da SVS/MS – o que, em princípio, caracterizaria o tráfico de drogas –, a conduta criminosa dirigida, desde o início da empreitada, numa sucessão de eventos e sob a fachada de uma farmácia, para a única finalidade de manter em depósito e vender ilegalmente produtos falsificados destinados a fins terapêuticos ou medicinais enseja condenação unicamente pelo crime descrito no art. 273 do CP – e não por este delito em concurso com o tráfico de drogas (art. 33, caput, da Lei de Drogas). Por um lado, os tipos penais previstos no art. 273 do CP – cujo bem jurídico tutelado é a saúde pública – visam a punir a conduta do agente que, entre outros, importa, vende, expõe a venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto “falsificado, corrompido, adulterado ou alterado”, “sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente” ou “de procedência ignorada”. Por outro lado, o art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006 apresenta-se como norma penal em branco, porque define o crime de tráfico a partir da prática de dezoito condutas relacionadas a drogas – importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer –, sem, no entanto, trazer a definição do elemento do tipo “drogas”. A partir daí, emerge a necessidade de se analisar o conteúdo do preceito contido no parágrafo único do art. 1º da Lei n. 11.343/2006, segundo o qual “consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”. Em acréscimo, estabelece o art. 66 da referida lei que, “para fins do disposto no parágrafo único do art. 1º desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998”. Diante disso, conclui-se que a definição do que sejam “drogas”, capazes de caracterizar os delitos previstos na Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas), advém da Portaria n. 344/1998 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (daí a classificação doutrinária, em relação ao art. 33 da Lei n. 11.343/2006, de que se está diante de uma norma penal em branco heterogênea). Em verdade, o caso em análise retrata típica hipótese de conflito aparente de normas penais, a ser resolvido pelo critério da absorção (ou princípio da consunção). Nesse contexto, mister destacar que um dos requisitos do concurso aparente de normas penais e do princípio da consunção consiste, justamente, na pluralidade de normas aparentemente aplicáveis a uma mesma hipótese. Isso acarreta a necessidade de que o caso concreto preencha, aparente e completamente, a estrutura essencial de todas as normas incriminadoras. Na espécie, não obstante, à primeira vista, a valoração dos fatos postos em discussão aponte, em tese, para o possível cometimento, em concurso, dos crimes de tráfico de CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 46 drogas e de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, certo é que o fato rendeu a prática de um único crime. Com efeito, há de se analisar o contexto fático em uma perspectiva axiológica da realidade, de modo a se admitir serem várias as interpretações possíveis dessa realidade em confronto com as condutas que venham a ensejar a intervenção penal. Em uma análise global (conjunta) dos fatos criminosos, um deles se mostra valorativamente insignificante – embora não insignificante, se isoladamente considerado – diante de outro (ou de outros), de modo a perder seu significado autônomo. Nesse contexto, não se mostra plausível sustentar a prática de dois crimes distintos e em concurso material quando, em um mesmo cenário fático, se observa que a intenção criminosa era dirigida para uma única finalidade, visto que, no caso em apreço, a conduta criminosa, desde o início da empreitada, era orientada para, numa sucessão de eventos e sob a fachada de uma farmácia, falsificar e vender produtos falsificados destinados a fins terapêuticos ou medicinais. Essa unidade de valor jurídico da situação de fato justifica, no caso concreto, a aplicação de uma só norma penal. Perfeitamente factível, portanto, a consunção, aplicável quando a intenção criminosa una é alcançada pelo cometimento de mais de um crime, devendo o agente, no entanto, ser punido por apenas um delito, de forma a, também e principalmente, obviar a sobrecarga punitiva, incompatível com a proporcionalidade da sanção, princípio regente no processo de individualização da pena. Inequívoco, assim, que o fato aparentemente compreendido na norma incriminadora afastada (art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006) encontra-se, na inteireza da sua estrutura e do seu significado valorativo, na estrutura do crime regulado pela norma que, no caso, será prevalecente (art. 273 do CP). REsp 1.537.773-SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. p/ acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 16/8/2016, DJe 19/9/2016 (Info 590). Deputados Estaduais gozam das mesmas imunidades formais previstas para os parlamentares federais no art. 53 da CF/88 São constitucionais dispositivos da Constituição do Estado que estendem aos Deputados Estaduais as imunidades formais previstas no art. 53 da Constituição Federal para Deputados Federais e Senadores. A leitura da Constituição da República revela, sob os ângulos literal e sistemático, que os Deputados Estaduais também têm direito às imunidades formal e material e à inviolabilidade que foram conferidas pelo constituinte aos congressistas (membros do Congresso Nacional). Isso porque tais imunidades foram expressamente estendidas aos Deputados pelo § 1º do art. 27 da CF/88. STF. Plenário. ADI 5823 MC/RN, ADI 5824 MC/RJ e ADI 5825 MC/MT, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgados em 8/5/2019 (Info 939). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF:860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 47 7. QUESTÕES 1. (2018 Banca: VUNESP - Delegado de Polícia - PCSP) João comete um crime no estrangeiro e lá é condenado a 4 anos de prisão, integralmente cumpridos. Pelo mesmo crime, João é condenado no Brasil à pena de 8 anos de prisão. João a) cumprirá 8 anos de prisão no brasil, uma vez que para essa quantidade de pena não se reconhece o cumprimento no estrangeiro. b) não cumprirá pena alguma no brasil caso de trate de país com o qual o brasil tem acordo bilateral para reconhecer cumprimento de pena. c) não cumprirá pena alguma no brasil, uma vez já punido no país em que o crime foi cometido. d) cumprirá 8 anos de prisão no brasil, uma vez que o brasil não reconhece pena cumprida no estrangeiro. e) ainda deverá cumprir 4 anos de prisão no brasil. 2. (2014 Banca: VUNESP - Delegado de Polícia - PCCE) Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, mas desde que presentes algumas condições (entrar o agente no território nacional; ser o fato punível também no país em que foi praticado; estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável), os crimes: A) contra a administração pública, por quem está a seu serviço. B) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. C) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República. D) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir. E) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 48 3-(DELEGADO-RJ – 2022 – CEBRASPE)Em viagem ao Rio de Janeiro, Paolo, italiano, filho do embaixador da Itália no Brasil, registrado como dependente deste, com quem vive, foi à Lapa, onde se embriagou. Com a capacidade psicomotora comprometida, assumiu a direção de um veículo e, em seguida, devido à embriaguez, atropelou e matou uma pessoa. Nessa situação hipotética, a) Paolo não possui imunidade diplomática, devendo a lei do Estado acreditante ser aplicada com primazia sobre a lei brasileira. b) Paolo não poderá ser punido pela lei brasileira, pois, salvo em caso de renúncia, possui imunidade diplomática, embora possa ser punido pelas leis do Estado acreditante. c) Paolo será isento de pena, seja no Brasil, seja no Estado acreditante, pois possui imunidade diplomática, salvo se renunciá-la. d) embora Paolo possua imunidade diplomática, excetuada a hipótese de renúncia, ela se restringe aos atos de ofício, razão pela qual ele poderá ser punido pela lei brasileira. e) como Paolo não fazia parte de missão diplomática, ele não possui nenhum tipo de imunidade penal, razão pela qual poderá ser punido pela lei brasileira. 4-(DELEGADO-RJ – 2022 – CEBRASPE) Passando-se por funcionária de certa instituição financeira, Helena usou um aplicativo de mensagens para fazer contato com a idosa Abigail, informando-lhe falsamente que o cartão bancário desta fora clonado e pediu que a idosa fornecesse seus dados qualificativos e senha do cartão para cancelamento. Abigail, confiando na suposta funcionária, repassou os dados. Em seguida, Helena disse para Abigail cortar seu cartão ao meio e entregar ambas as partes a outra funcionária, que iria até sua casa para buscá-las. A própria Helena, então, usando camiseta da instituição financeira e um crachá falso, foi até a casa de Abigail, em Niterói, e pegou as duas partes do cartão. Como o chip se encontrava preservado, Helena o utilizou para a confecção de um novo cartão, com o qual transferiu dinheiro da conta de Abigail, sediada em uma agência de São Gonçalo, para conta diversa, com agência em CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 49 Rio Bonito. Além disso, Helena fez compras em uma loja virtual, tendo recebido as mercadorias adquiridas em sua casa, em Maricá. Considerando essa situação hipotética, assinale a opção que indica o local em que se consumaram os crimes patrimoniais decorrentes da transferência bancária e da aquisição de mercadorias, respectivamente. a) São Gonçalo e Niterói b) Rio Bonito e São Gonçalo c) São Gonçalo e Maricá d) Ambos em Niterói e) Rio Bonito e Maricá 7.1 GABARITO 1- letra E. 2- letra D. 3- letra B 4- letra C