Prévia do material em texto
CapÍtULo 15 – saÚde e QUaLIdade de vIda 405 gp de HOje: o trabalho do Inca 8 O Instituto Nacional do Câncer (Inca) utiliza técnicas alternativas, como relaxamento, hidroginástica e acupun- tura em seus programas de controle do tabagismo nas empresas. A Petrobrás e os Correios aderiram prontamen- te ao programa. O Inca atua em mais de 500 empresas. estresse no trabalho Estresse é um conjunto de reações físicas, quími- cas e mentais de uma pessoa decorrente de estímu- los ou estressores que existem no ambiente. É uma condição dinâmica que surge quando uma pessoa é confrontada com uma oportunidade, restrição ou de- manda relacionada com o que ela deseja. O autorita- rismo do chefe, desconfiança, pressão das exigências e cobranças, cumprimento do horário de trabalho, chatice e monotonia de certas tarefas, o baixo-astral dos colegas, a falta de perspectiva de progresso profis- sional e a insatisfação pessoal não somente derrubam o bom humor das pessoas, como também provocam estresse no trabalho. O estresse é a soma das perturbações orgânicas e psíquicas provocadas por diversos agentes agresso- res, como: traumas, emoções fortes, fadiga, exposição a situações conflitivas e problemáticas, etc. O estresse provoca ansiedade e angústia. Certos fatores relacio- nados com o trabalho, como sobrecarga de atividade, pressão de tempo e urgência, relações problemáticas com chefes ou clientes provocam reações como ner- vosismo, inquietude, tensão, etc. Alguns problemas – como dependência de álcool e abuso de drogas – muitas vezes são decorrentes do estresse no trabalho ou na família. Existem duas fontes principais de estresse no traba- lho: causas ambientais e causas pessoais.9 1. Causas ambientais: envolvem uma variedade de fatores externos e contextuais que podem conduzir ao estresse no trabalho. Incluem a programação de trabalho intensivo, falta de tranquilidade no traba- lho, insegurança no trabalho, fluxo intenso de tra- balho e o número e natureza dos clientes internos ou externos a serem atendidos. Pesquisas revelam que o ruído ambiental decorrente de máquinas funcionando, pessoas conversando e telefones to- cando contribui para o estresse em 54% das ativi- dades de trabalho. 2. Causas pessoais: envolvem uma variedade de ca- racterísticas individuais que predispõem ao estres- se. Cada pessoa reage de diferentes maneiras na mes- ma situação aos fatores ambientais que provocam o estresse. Personalidades do tipo A – aquelas pessoas que são viciadas no trabalho (workaholics) e que são impulsionadas a alcançar metas – geralmente estão mais sujeitas ao estresse do que as outras. A pouca tolerância para a ambiguidade, a impaciência, a baixa autoestima, a saúde precária e a falta de exer- cícios físicos e os maus hábitos de trabalho e sono fazem com que reajam negativamente ao estresse, seja decorrente do trabalho ou de problemas pes- soais, familiares, conjugais, financeiros e legais. O estresse no trabalho provoca sérias consequên- cias tanto para o colaborador quanto para a organi- zação. As consequências pessoais do estresse incluem ansiedade, depressão, angústia e várias consequências físicas, como distúrbios gástricos e cardiovasculares, dores de cabeça, nervosismo e acidentes. Em certos ca- sos, levam ao abuso de drogas, alienação e redução de relações interpessoais. Por outro lado, o estresse tam- bém afeta a organização, ao interferir negativamente na quantidade e na qualidade do trabalho, no aumento do absenteísmo, na rotatividade e na predisposição a queixas, reclamações, insatisfação e greves (Figura 1). O estresse não é necessariamente disfuncional. Al- gumas pessoas trabalham bem sob alguma pressão e são mais produtivas em um esquema de cobrança de metas. Outras buscam incessantemente mais produ- tividade ou um melhor trabalho. Um nível modesto de estresse conduz à maior criatividade quando uma situação competitiva requer novas ideias e soluções.10 Como regra geral, muitas pessoas não se preocupam com uma pequena pressão, desde que possa conduzir a consequências desejadas ou a resultados positivos. vOltandO aO CasO IntrOdutórIO: a baterias máxima No decorrer das providências, Gabriela Passos per- cebeu que, quando não se adotam medidas preven- tivas, as corretivas ficam mais caras. A recuperação do 406 parte v – Mantendo pessoas e negativamente o astral das pessoas no trabalho. Cada grupo deve compor os itens em um questionário para a pesquisa, como: Aspectos positivos Aspectos negativos Confiança do chefe Autoritarismo do chefe Sinceridade dos colegas Desrespeito dos colegas Simpatia da equipe Desorganização Alegria no ambiente Baixo-astral e mau humor Flexibilidade nos procedimentos Rigidez nos procedimentos Reconhecimento e elogios Falta de consideração às pessoas Silêncio Ruído Cada grupo deve mostrar à classe os resultados de sua pesquisa. No final, os resultados de todos os grupos devem ser comparados entre si em uma mesa- -redonda. fIgura 1 Estressores na vida de cada pessoa.11 tempo perdido – e da saúde perdida – exige investi- mentos mais pesados. Mais vale prevenir do que reme- diar. Contudo, Gabriela aprendeu outra lição: de nada adianta mudar as condições físicas, se não houver uma mudança da organização do trabalho e da mentalida- de das pessoas. Gabriela percebeu que era necessário mudar métodos e processos de trabalho, fazer com que as pessoas se conscientizassem da importância de suas vidas e saúde e, principalmente, mudar a qualidade de vida no trabalho. Pediu ao RH que a ajudasse a resolver os problemas da empresa. Como o RH deve proceder? exerCíCIO: o que provoca estresse nas pessoas em situação de trabalho? Formar grupos de 5 ou 10 alunos. Cada grupo será incumbido de fazer uma pesquisa em uma ou mais classes da escola para revelar o que mais afeta positiva Cargo Sobrecarga Rigidez Monotonia Programação Papel Ambiguidade Conflito Responsabilidade Falta de apoio Estrutura Comunicação pobre Pouca participação Pouca coordenação Rigidez Cultura Iniquidade Bitolamento Pouco progresso Pouca participação Relacionamentos Superiores Subordinados Colegas Clientes Estressores ambientais Consequências disfuncionais Estressores individuais Necessidades Aspirações Estabilidade emocional Experiências Flexibilidade Tolerância à ambiguidade Autoestima Padrão de comportamento Subjetivo Fadiga Ansiedade Preocupação Culpa Comportamental Acidentes Erros Cognitivo Esquecimento Pouca concentração Erros de decisão Fisiológico Cansaço Pressão alta Insônia Doenças Organizacional Absenteísmo Rotatividade Baixa produtividade Baixa qualidade Fatores externos Família Economia vida particular Comunidade CapÍtULo 15 – saÚde e QUaLIdade de vIda 407 como reduzir o estresse no trabalho Existem várias maneiras de aliviar o estresse, indo desde maior tempo de sono a tratamentos exóticos, como biofeedback e meditação. Albrecht 12 sugere as se- guintes medidas para reduzir o estresse: •» Relações cooperativas, recompensadoras e agradá- veis com os colegas. •» Não tentar forçar mais do que cada um pode fazer. •» Relações construtivas e eficazes com o gerente. •» Compreender os problemas do chefe e ajudá-lo a compreender os seus. •» Negociar ou propor com o gerente metas realísti- cas para o trabalho. •» Estudar o futuro e aprender como se defrontar com eventos possíveis. •» Encontrar tempo para se desligar das preocupações e relaxar. •» Andar pelo escritório para manter a mente tranqui- la e alerta. •» Verificar os ruídos no trabalho e buscar meios para reduzi-los. •» Sair do escritório algumas vezes para mudar de cena e esfriar a “cuca”. •» Reduzir o tempo em que se concentra atenção. De- legar rotina e papelório. •» Limitar interrupções: programar períodos de isola- mento e de reuniões. •» Não ficar muito tempo lidando com problemas de- sagradáveis. •» Fazer uma relação de assuntos preocupantes. Lis- tar os prioritários e as providências sobre cadaum para que não fiquem rondando a memória. dICa: para reduzir o estresse no local de trabalho 13 A Northwestern National Life Insurance Co. dá algu- mas dicas a respeito do estresse: •» Permitir que os empregados conversem ami gavelmente entre si: colaboradores habituados a uma atmosfera livre e aberta em que possam se consultar com colegas sobre assuntos de trabalho enfrentam o estresse com mais humor. •» Reduzir conflitos pessoais no trabalho: colabora- dores podem resolver conflitos por meio de comuni- cações abertas, negociações e respeito mútuo. Duas coisas são básicas: tratar as pessoas com equidade e definir expectativas quanto ao trabalho. •» dar aos colaboradores o controle sobre como devem fazer o trabalho: os colaboradores sentem-se orgulho- sos e produtivos e são mais capazes de lidar com o estres- se quando têm controle sobre o que fazer no trabalho. •» assegurar adequada assessoria e orçamentos de despesas: as empresas necessitam reduzir custos e apertar orçamentos, mas as pessoas podem contri- buir com sugestões, conciliando a necessidade de economia com a de assessoria. •» falar abertamente com os colaboradores: os ge- rentes devem manter suas equipes informadas so- bre as boas ou más novidades e devem dar a opor- tunidade de participar e decidir sobre tais assuntos. •» apoiar os esforços dos colaboradores: perguntar regularmente como estão indo em suas atividades e indagar sobre assuntos relacionados e os níveis de estresse serão significativamente reduzidos. •» Proporcionar benefícios pessoais competitivos: as pessoas que dispõem de tempo para relaxar e recarre- gar energias após um trabalho duro são menos passí- veis de desenvolver doenças relacionadas com estresse. •» manter os níveis atuais de benefícios aos colabo radores: cortes em benefícios, como seguro-saúde, seguridade social, férias e afastamentos por doença acrescentam estresse nos colaboradores. Deve-se pesar e comparar economias de dinheiro com custos elevados de afastamentos e descontentamento. •» Reduzir a quantidade de papelório para os cola boradores: a empresa pode baixar os níveis de ab- senteísmo quando assegura que o tempo de seus co- laboradores não será gasto em procedimentos inúteis e papelório desnecessário. •» Reconhecer e recompensar os colaboradores: um tapinha nas costas, uma palavra pública de reconhe- cimento, uma promoção ou um bônus pelo desem- penho ou contribuição de um colaborador podem aumentar o moral e a produtividade do pessoal. gp de HOje: métodos para reduzir o estresse 6 O estresse pode ser reduzido por meio das seguin- tes providências: 408 parte v – Mantendo pessoas •» Planejamento: o estresse pessoal e da vida no tra- balho pode ser administrado com planejamento. Dispor de tempo para planejar objetivos pessoais e de carreira. No trabalho, ter tempo para planejar atividades do dia seguinte. Ou como relacionar ob- jetivos próprios com os da organização. •» Exercício físico: exercícios regulares contribuem para a saúde física e ajudam a reduzir o estresse como re- sultado do condicionamento físico. •» Dieta: estresse prolongado pode reduzir o supri- mento de vitaminas, tornando a pessoa suscetível a doenças. Uma boa dieta alimentar é essencial. •» Biofeedback: é uma técnica terapêutica utilizada no tratamento de dores de cabeça, pressão sanguínea elevada, tensão muscular e outros problemas. En- volve o monitoramento de uma ou mais funções orgânicas por meio de equipamentos eletrônicos que sinalizam com luzes ou sinais para que a pessoa aprenda a controlar ondas cerebrais, pulso, pressão sanguínea e temperatura dos pés ou das mãos. •» Meditação ou relaxamento: filosofias e técnicas orientais incluem meditação, meditação transcen- dental, yoga e zen. A pessoa fecha os olhos, relaxa e inspira e expira, ao mesmo tempo que repete uma palavra simples ou um mantra. A repetição ajuda a eliminar pensamentos negativos. O processo leva 20 minutos. Há variações, como tensionar e relaxar os músculos do corpo todo. •» Psicoterapia: uma variedade de técnicas interpes- soais é usada para reduzir o estresse com a ajuda de um psicoterapeuta (psicólogo). •» Psicanálise: é uma forma de psicoterapia, durante a qual um psicanalista (psiquiatra) analisa os estratos mais profundos da personalidade para descobrir as raízes do comportamento anormal. A organização, os gerentes de linha e os profissio- nais de RH podem colaborar com a identificação e a re- dução do estresse no trabalho. Para o gerente de linha, inclui monitorar cada colaborador para identificar sin- tomas de estresse e informar os “remédios” organiza- cionais disponíveis, como transferências de cargo ou aconselhamento. Os especialistas de RH podem fazer pesquisas de atitudes para identificar fontes organi- zacionais de estresse, refinando os procedimentos de seleção e colocação para assegurar a adequação entre pessoa e cargo, bem como propor um planejamento de carreiras em função de atitudes. gp de HOje: o papel da segurança no trabalho Algumas organizações tratam a segurança no traba- lho como uma prioridade fundamental. É o caso da Du- Pont, que começou como fabricante de explosivos no sé- culo XiX. Daí sua extrema preocupação com a segurança. Todas as manhãs na fábrica de poliéster, na Alemanha, o diretor-geral e todos os gerentes se reúnem às 8:45 horas para rever o que aconteceu no dia anterior. O principal item de discussão não é a produção, mas a segurança. Somente após terem analisado os relatórios de acidentes e as providências tomadas a respeito, é que os dirigentes começam a discutir os demais assuntos como qualidade, produção e custos.14 Os índices na DuPont são de 0,12 acidente por 100 empregados contra a média anual de 23 do National Safety Council estimada para todos os fa- bricantes norte-americanos. Se a DuPont estivesse nessa média geral, ela gastaria mais de US$ 26 milhões em despesas com acidentes, o que representaria 3,6% de seus lucros. Para cobrir essa diferença, a DuPont teria que aumentar as vendas em US$ 500 milhões e buscar um retorno líquido de 5,5%.15 Sem o total comprometimento da alta direção, qualquer tentativa de reduzir acidentes terá pouco sucesso. E os gerentes e supervisores consti- tuem o elo de ligação na cadeia administrativa para que o programa seja um sucesso. seguRança no tRabalHo Um programa de segurança no trabalho requer as seguintes etapas:6 •» Estabelecimento de um sistema de indicadores e estatísticas de acidentes. •» Desenvolvimento de sistemas de relatórios de pro- vidências. •» Desenvolvimento de regras e procedimentos de se- gurança. •» Recompensas aos gerentes e supervisores pela ad- ministração eficaz da função de segurança. dICa: conceitos de segurança do trabalho •» Segurança do trabalho é o conjunto de medidas de ordem técnica, educacional, médica e psicológica CapÍtULo 15 – saÚde e QUaLIdade de vIda 409 que são utilizadas para prevenir acidentes, quer eli- minando as condições inseguras do ambiente, quer instruindo ou convencendo as pessoas da implanta- ção de práticas preventivas.16 •» Segurança do trabalho está relacionada com condições de trabalho seguras e saudáveis para as pessoas.17 A segurança do trabalho envolve três áreas princi- pais de atividade: prevenção de acidentes, prevenção de incêndios e prevenção de roubos. A finalidade é profilática no sentido de antecipar e definir progra- mas preventivos para que os riscos de acidentes sejam minimizados. A seguir a primeira delas: prevenção de acidentes. dICa: perigo e risco A segurança do trabalho envolve dois conceitos in- timamente relacionados: perigo e risco. Perigo signifi- ca qualquer situação que tenha potencial para causar dano, lesão, doença ou avaria. Risco significa a combi- nação de dois aspectos: a probabilidade da ocorrência de um evento perigoso e da gravidade do dano ou prejuízo resultante, caso este evento venha a ocorrer. Assim, o risco é igual à exposição ao perigo multipli-cado pela gravidade do dano. Os riscos podem ser de natureza: •» Física: como ruído, calor intenso, iluminação precá- ria. •» Química: como lidar com produtos químicos tóxicos. •» Biológica: como lidar com vírus ou bactérias. •» Ergonômica: como executar movimentos repetiti- vos. •» Acidental: como lidar com máquinas ou com eletrici- dade sem proteção. Outros fatores de risco podem ser: •» Condição precária de morada. •» Alimentação precária ou insuficiente. •» Transporte difícil e demorado. •» Estrutura familiar conflitante. •» Falta de lazer. •» Alcoolismo ou drogas. •» Saúde debilitada. •» Imprudência, negligência ou imperícia. •» Jornada de trabalho prolongada. •» Pressões para aumentar a produção. •» Falta de treinamento. •» Falta de equipamento individual de segurança em atividade perigosa. A avaliação do risco é uma estimativa da magnitude do risco do ponto de vista quantitativo ou qualitativo. Para avaliar o risco, é preciso identificar e estimar todas as situações de não conformidade dos processos de tra- balho. Os graus de potencialidade de riscos ou criticida- de permitem saber quais são as condições de trabalho que precisam ser mapeadas para evitar acidentes em um processo com as seguintes etapas: •» identificar os agentes de risco. •» Verificar a intensidade ou a concentração de risco e os limites de tolerância. •» A forma de exposição de risco pelo funcionário. •» O tempo de exposição diante da situação de risco. •» Avaliar a eficácia das medidas de controle. •» Estimativa do grau de potencialidade dos riscos. •» Possíveis danos ou consequências para a saúde da pessoa. •» Propor medidas de controle dos riscos que sejam coleti- vas e organizacionais, e não simplesmente individuais. PReVenção de acIdentes Anualmente são divulgadas estatísticas de acidentes que ocorrem no país com o número de mortos, feridos, aleijados, incapacitados para o trabalho e incapacitados para a vida normal. São perdas desastrosas. Em um ano, os EUA presenciaram 6.200 mortes e mais de 6,5 milhões de pessoas com lesões corporais resultantes de acidentes no trabalho. No Brasil, ocorrem cerca de mil acidentes por dia em média, proporcionando 370 mil acidentes por ano. Acidente é um fato não premeditado do qual re- sulte dano considerável.17 O National Safety Council define acidente como uma ocorrência em uma série de fatos que, sem intenção, produzam lesão corporal, morte ou dano material.18 Essas definições consideram o acidente como um fato súbito, inesperado, impre- visto – embora algumas vezes previsível – e não pre- meditado ou desejado e, ainda como causador de dano considerável, embora não determinem se ocorre dano econômico (prejuízo material) ou dano físico à pessoa (como dor, sofrimento, invalidez ou morte).18