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Doutrina de Deus Um Estudo Bíblico e Teológico do Ser de Deus. DOUTRINA DE DEUS Introdução O campo teológico é muito amplo e precisamos demarcar algumas áreas fundamentais para um estudo sério e legítimo. Para isso, usamos a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada, como fonte única e fundamental para conhecermos a Deus. Algumas perguntas devem ser formuladas, mas devemos ter o cuidado de não limitarmos Deus aos padrões referenciais que conhecemos. Portanto, o que precisamos saber sobre Deus nos é revelado em sua própria Palavra. Devemos, primeiramente, estudar sua natureza, depois, sim, seu relacionamento com sua criação. Deus é o nome da suprema divindade que os homens cultuam e adoram. Nos lábios cristãos, portanto, a palavra DEUS designa fundamentalmente o “Espírito Poderoso que é adorado e cujo auxílio invocamos. O estudo de Deus é da máxima importância, pois Ele é o bem maior do homem; Ele é a fonte da vida e sustento: “pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos...” (Atos.17:28ª). O apóstolo Paulo, em seu sermão aos atenienses, afirmou: “... de um só fez toda raça humana para habitar sobre a face da terra... para buscarem a Deus se, porventura tateando o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós.” (Atos. 17:26,27). João Calvino certa vez disse: << Quase toda sabedoria que possuímos, ou seja, a sabedoria verdadeira e sadia, consiste em duas partes: o conhecimento de Deus e de nós mesmos.>> É muito duvidoso que possamos conhecer realmente a nós mesmos e ao nosso propósito na vida sem algum grau de conhecimento de Deus e de sua vontade. As noções que tivermos do Ser Divino e suas obras serão o fundamento para todas as doutrinas da fé cristã. Tudo o que estudarmos em teologia estará associado à nossa concepção de Deus. O que cremos sobre Deus determinará nossos padrões de moralidade, porque a Palavra de Deus é o padrão da moralidade. Tudo o que viermos a saber sobre Deus determinará todos os outros relacionamentos nos vários campos da teologia. A EXISTÊNCIA DE DEUS A existência de Deus é a base fundamental da Bíblia Sagrada, que não tece argumentos para firmá-la ou comprová-la, os textos bíblicos trabalham de forma que todos estejam certos de que Deus exista. Portanto, nossa fé se baseia, principalmente, que a realidade de Deus se encontra na Bíblia Sagrada. Alguns afirmam que Deus não existe e dizem: "é necessário que sua existência seja cientificamente comprovada, então poderemos crer". Esse argumento não é legítimo, pois falha em relação à capacidade do homem em possuir ferramentas apropriadas para conhecer Deus. Podemos exemplificar: enquanto a humanidade desconhecia o mecanismo da Lei da gravidade, isso jamais a invalidou na prática. A ignorância não anula a realidade. A Bíblia não apresenta argumentos ou evidências para a existência de Deus. Ela já parte do princípio de que Ele existe “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gen. 1:1). A Bíblia em si traz o registro da ação de Deus na vida de vários indivíduos e do seu povo, coletivamente. As Escrituras também afirmam que crer na existência de Deus é condição essencial para agradá-lo (Heb 11:6). O Salmo 19 nos diz que a natureza é uma prova da existência de Deus (Slms. 19:1-4). O apóstolo Paulo, em Romanos 1:19-20, está de acordo com a mesma afirmação do Salmo 19 e diz ainda, a respeito dos incrédulos, que “tais homens são indesculpáveis”. Berckhof diz algo muito importante quanto a existência de Deus Há boas razões para começar com a Doutrina de Deus, se partirmos da admissão que a Teologia é o conhecimento sistematizado de Deus de quem, por meio de quem, e para quem são todas as coisas. Em vez de surpreender-nos de que a dogmática comece com a Doutrina de Deus, bem poderíamos esperar que seja completamente um estudo de Deus, em todas as suas ramificações, do começo ao fim. Como uma questão de fato, é isto exatamente o que se pretende que seja, embora somente o primeiro locus ou capítulo teológico trate diretamente de Deus, enquanto que as partes ou loci subsequentes tratam dele de maneira mais indireta. Iniciamos o estudo de teologia com duas pressuposições a saber: (1) Que Deus existe; (2) Que Ele se revelou em Sua Palavra divina. E por esta razão não nos é impossível começar com o estudo de Deus. Podemos dirigir-nos a Sua revelação para aprender o que Ele revelou a respeito de Si mesmo e a respeito de Sua relação para com as Suas criaturas. No desejo de se provar a existência de Deus, estudiosos elaboraram alguns argumentos. Embora saibamos que esses argumentos não provem definitivamente a existência de Deus, podem, apesar disso, ser considerados como provas cooperadoras. São eles 1. A Prova Cosmológica O argumento cosmológico origina-se da lei da causa e efeito. Todas as coisas têm uma causa. Isso pode ser considerado uma lei universal. Portanto também o universo, o cosmos como conjunto orgânico, precisa ter uma causa. Essa causa do universo como um todo é a causa última ou final, Deus. 2. Argumento Teleológico: Analogia do Relojoeiro, de William Paley. “Todo relógio tem um relojoeiro”. Todo projeto tem um projetista. No universo existe muita complexidade e organização para ter sido produzido pelo acaso. O acaso não produz nada organizado. Se há organização, há inteligência e vontade. 3. Argumento Moral: Existe, no ser humano, uma idéia inata sobre o que é certo e errado. Há uma lei moral “gravada” no coração do homem (Rom. 2.12-15). Se há uma lei moral, logo, há um Legislador Moral (Deus). 4. Argumento Ontológico Uma crença universal intuitiva entre os homens deve ser verdadeira. A crença que há um deus é intuitiva e universal entre os homens. A crença que há um deus deve ser verdadeira. Ao avaliar estes argumentos racionais, deve-se assinalar antes de tudo que os crentes não precisam deles. Sua convicção a respeito da existência de Deus não depende deles, mas, sim, da confiante aceitação da auto-revelação de Deus na Escritura. Eles são importantes como interpretações da revelação geral de Deus e como elementos que demonstram o caráter razoável da fé em um ser divino. Além disso. Podem prestar algum serviço na confrontação com os adversários. Embora não provem a existência de Deus além da possibilidade de dúvida e a ponto de obrigar o assentimento, podem ser elaborados de maneira que estabeleçam uma forte probabilidade e, por isso, poderão silenciar muitos incrédulos. Wayne Grudem diz muito acertadamente que: “Dependemos de Deus para remover a cegueira e a irracionalidade provocada pelo pecado, possibilitando assim que avaliemos corretamente as evidências, creiamos no que dizem as Escrituras e venhamos a ter a fé salvadora em Cristo.” O CONHECIMENTO DE DEUS Para conhecer a Deus é de algum modo necessário para ele se revelar a nós. Mesmo quando se fala sobre a revelação de Deus que vem através da natureza, Paulo diz que o que se pode conhecer de Deus é clara para o homem "para ele mesmo revelou "(Rm 1:19). A criação natural revela Deus porque ele escolheu para revelar isso. Em relação ao conhecimento pessoal de Deus vem a salvação, esta ideia é ainda mais explícito. Jesus diz: "Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém sabe o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar "(Mt 11, 27). Este tipo conhecimento de Deus não é por esforço ou sabedoria humana, e “Deus em Seu conselho sábio, decidiu que o mundo pela sua sabedoria conhecia humano " (1 Co 1:21, cf 1 Co 2:14; 2 Co 4:3-4, Jo 1:18). A necessidade de Deus para revelar-se a nós é o fato de pecadores malha interpretar a revelação de Deus é na natureza. Aqueles que "por sua maldade suprimir a verdade" são aqueles que "se perdeu em suas especulações inúteis, eo seu coração insensato se obscureceu.... Mudouverdade de Deus pela mentira "(Rm 1, 18, 21, 25). Portanto, precisamos Bíblia para interpretar corretamente a revelação natural. Centenas de religiões falsa no mundo são evidências do caminho dos pecadores, sem direção da Bíblia, sempre entendem mal e distorcem a revelação de Deus que é encontrado na natureza. Mas somente a Bíblia nos diz como entender o testemunho de Deus na natureza. Portanto, contamos com uma comunicação ativa de Deus para nós na Bíblia a um verdadeiro conhecimento de Deus. 1. Nós nunca podemos compreender plenamente Deus. Porque Deus é infinito e nós somos finitos ou limitados, não podemos nunca compreender plenamente Deus. Neste sentido, é dito que Deus é incompreensível onde o termo é usado no sentido mais antigo e menos comum, "não se pode entender completamente." Não é verdade dizer que pode entender a Deus, mas é verdade que você não pode compreender plenamente. O Salmo 145 diz: "Grande é o Senhor e mui digno de louvor, a sua grandeza é insondável "(Salmo 145:3). A grandeza de Deus está além de qualquer busca ou descoberta; é muito grande para ser totalmente conhecida. Respeito a compreensão de Deus, Salmo 147 diz: "Exaltado é o nosso Senhor e seu grande poder: seu entendimento é infinito "(Salmo 147:5). Nós nunca podemos medir ou sabendo plena compreensão de Deus é muito grande para pode igualar ou compreender. Da mesma forma, a pensar que Deus sabe todos os seus caminhos, David diz: "Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; tão sublime que não posso compreendê-la "(Sl 139:6, cf. v. 17). Paul implica essa incompreensibilidade de Deus diz que "o Espírito pesquisa em todas as coisas, mesmo as profundezas de Deus "e, em seguida, continua a dizer que" nenhum conhece as “coisas de Deus senão o Espírito de Deus" (1 Co 2: 10-12, RVR 1960). No final um longo relato sobre a história do grande plano divino de redenção, Paulo explode em louvor: "profundidade Que da riqueza da sabedoria e conhecimento de Deus! O que impenetráveis inescrutáveis os seus juízos e os seus caminhos! "(Rm 11, 33). Não só é verdade que nunca podemos compreender plenamente a Deus, também é verdade que nunca podemos compreender uma única coisa sobre Deus. Sua grandeza (Salmos 145:3), o seu entendimento (Sl 147:5), o conhecimento (Salmo 139:6), a riqueza, a sabedoria, julgamentos e as estradas (Ro 11:33), tudo está além de nossa capacidade de compreender completamente. 2. No entanto, podemos conhecer a Deus verdadeiramente. Embora nós não possamos conhecer a Deus exaustivamente, podemos conhecer as coisas certas de Deus. Na verdade, tudo o que a Bíblia nos diz que Deus é verdadeiro. Verdadeiro que Deus é amor (1 Jo 4:8), Deus é luz (1 Jo 1:5), Deus é espírito (Jo 4:24), Deus é justo (Romanos 3:26), e assim por diante. a Bíblia não fala assim. Várias passagens falam que conhecemos a Deus. Lemos as palavras de Deus Jeremias "Não se glorie o sábio na sua sabedoria nem o forte na sua força ou a riqueza de sua riqueza. Se alguém tem que se gabar, se gabar de conhecer e compreender Eu sou o Senhor, que eu sou a terra com amor, justiça e justiça, é o que eu escolher, diz o Senhor” (Jer 9:23-24). Aqui, Deus diz que a fonte de nossa alegria e senso de importância deve vir não nossas habilidades ou posses, mas o fato de que nós sabemos. Da mesma forma, por meio da oração ao Pai, Jesus podia dizer: "E esta é a vida eterna, que te conheçam a ti o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste "Jo 17:3). “A promessa da nova aliança é que todos venham a conhecer a Deus “, do menor até o maior "(Hb 8:11), e a Primeira Epístola de João diz que "o Filho de Deus veio e nos deu entendimento para que saibamos o verdadeiro Deus "(1 Jo 5:20; ver também Gálatas 4:9, Filipenses 3: 10, 1 Jo 2:3; 4.8). John poderia dizer, "eu escrevo para vocês, queridos filhos, porque eles cumpriram o Pai "(1 Jo 2:13). O fato de que conhecemos a Deus, de fato, é ainda demonstrada a perceber que a riqueza da vida cristã inclui uma relação com Deus. Como está implícito por estas passagens, temos um privilégio muito mais do que conhecimentos factuais simples sobre Deus. Falar com Deus na oração, e ele nos fala através da sua palavra. Temos comunhão com ele em sua presença, cantam seus louvores, e percebemos que ele pessoalmente habita entre nós e nos abençoe Gn 14:23). De fato, este relacionamento pessoal com Deus Pai, Deus Filho e Deus, o Santo pode dizer é a maior de todas as bênçãos da vida Cristã. QUEM É DEUS? Antes de darmos diversas boas definições de Deus, queremos levantar a questão sobre se Deus pode ser definido. Alguns dizem que Ele não pode ser definido, pois ao fazê-lo, assumimos conhecer tudo a Seu respeito. Mas respondemos como Smith: “Se, por definição, queremos dizer uma visão completa, de maneira que o assunto possa ser apropriadamente apreendido, para que possamos compreender e, por assim dizer, cobrir todos os aspectos, temos todos que dizer que não podemos dar uma definição de divindade. Neste sentido, definir Deus seria restringi-Lo. Mas a palavra definição é usada em outros sentidos” Assim, podemos dizer que Deus é um Ser e então indicar as maneiras em que Ele difere dos outros seres. ➢ O Breve Catecismo de Westminster diz: “Deus é espírito, infinito, eterno, imutável, em seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade, verdade”. ➢ Martensen declara os elementos de sua definição de Deus assim: Deus é um Espírito (João 4: 24). Sendo um Espírito, Ele Se revela em primeiro lugar como “o Senhor”, porém não apenas “o Senhor que Se mantém distinto e separado do mundo”, mas “Amor” eterno que reconcilia o mundo Consigo mesmo (1 João 4: 16). ➢ Miley diz: “Deus é um Ser pessoal eterno, de conhecimento, poder e bondade absolutos”. ➢ H.B. Smith diz: “Deus é um Espírito, absoluto, pessoal e santo, infinito e eterno em seu ser e atributos, a razão e causa do universo”. ➢ Strong diz: “Deus é o Espírito infinito e perfeito em quem todas as coisas têm a sua fonte, apoio e fim”. 1. DEUS É UM SER TRANSCENDENTE E IMANENTE Um importante par de ênfases que devemos preservar com toda certeza é a doutrina da imanência de Deus em sua criação e de sua transcendência em relação ela. Ambas as verdades são ensinadas na Escritura. Jeremias 23.24, por exemplo, destaca a presença de Deus em todas as partes do universo: “Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? - diz o SENHOR; porventura, não encho eu os céus e a terra? - diz o SENHOR”. Nesse mesmo contexto, entretanto, tanto a imanência como a transcendência aparecem juntas: “Acaso, sou Deus apenas de perto, diz o SENHOR, e não também de longe?” (v. 23). Paulo disse aos filósofos no Areópago em Atenas: “... embora não esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos’, como disseram alguns dos poetas de vocês: ‘Também somos descendência dele” (At 17. 27b,28, NVI). Por outro lado, lemos em Isaías 55.8,9 que os pensamentos e os caminhos de Deus transcendem os nossos: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos”. Em Isaías 6.1-5, Deus é descrito sentado num trono, elevado e exaltado, e os serafins clamam: “Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos”. Isaías está bem consciente de sua impureza e indignidade. Mesmo aqui existe um testemunho da imanência de Deus, pois os serafins cantam: “toda a terra está cheia da sua glória” (v. 3). O significado da imanência é que Deus está presente e ativo dentro de sua criação e dentro da raça humana, mesmo naqueles membros que não crêem nele ou não lhe obedecem. Sua influênciaestá em toda parte. Ele age nos processos naturais e por meio deles. O significado da transcendência é que Deus não é uma mera qualidade da natureza ou da humanidade; ele não é simplesmente o mais elevado dos seres humanos. Ele não é limitado à nossa capacidade de compreendê-lo. Sua santidade e bondade vão muito além, infinitamente além das nossas, e isso também é verdade em relação a seu conhecimento e poder. É importante manter juntas essas duas doutrinas, mas nem sempre é fácil fazê-lo, pois há problemas em saber como entendê-las. A maneira tradicional de pensar na transcendência de Deus tem sido espacial quanto à natureza: Deus está no céu, muito acima do mundo. Essa é a figura encontrada na Bíblia, mas agora reconhecemos que “em cima” e “embaixo” não se aplicam de fato a um espírito, que não se localiza em algum ponto específico do universo. Além disso, com nosso entendimento da terra como uma esfera, “em cima” e “embaixo” não são termos significativos. Haveria outras imagens que poderiam ser usadas para transmitir correta mente a verdade da transcendência e imanência de Deus? Deus está presente e ativo dentro de sua criação, ainda assim ele também a transcende, pois ele é um tipo de ser totalmente diferente. Ele é divino. Não podemos nunca cair no erro de supervalorizar uma doutrina em detrimento da outra, ou estaremos sujeitos a heresias, como as que veremos no próximo ponto da apostila. Desta feita duas vertentes podem existir: 1. Aquele que despreza a Transcendência – acaba por tomar uma atitude Panteísta, enfatizando excessivamente a presença de Deus ativamente na criação, acabando por espiritualizar por demais os acontecimentos. Sendo todos os acontecimentos fruto da intervenção direta de Deus, tornando o sobrenatural, natural; banalizando assim o milagre. 2. Aquele que despreza a Imanência – acaba por tomar uma atitude Deísta, afirmando que Deus está distante demais de sua criação, nos deixando ao nosso bel prazer, sendo todos os acontecimentos fruto da vontade humana, somente. Implicações da Imanência A imanência divina de grau limitado ensinada nas Escrituras envolve várias implicações: 1. Deus não se limita a agir somente por meios de milagres, para cumprir seus objetivos. Embora seja bem óbvio que Deus está agindo quando seu povo ora e acontece uma cura milagrosa, é também ação de Deus quando, pela aplicação de conhecimentos e práticas medicinais. 2. Deus pode usar pessoas e organizações que não sejam declaradamente cristãs. Nos tempos bíblicos, Deus não se limitava a atuar por intermédio da nação da aliança, Israel, ou por intermédio da igreja. Ele chegou a usar a Assíria, uma nação pagã, a fim de punir Israel. Ele é capaz de usar organizações seculares ou nominalmente cristãs. Mesmo os não-cristãos fazem algumas coisas genuinamente boas e louváveis. 3. Devemos ter apreço por todas as coisas criadas por Deus. O mundo é de Deus, e Deus está presente e ativo no mundo. Embora o mundo tenha sido dado à humanidade para ser usado na satisfação de suas legítimas necessidades, ela não pode explorá-lo a seu bel prazer ou por cobiça. A doutrina da imanência divina tem, por conseguinte, uma aplicação ecológica. Também possui implicações no que se refere às nossas atitudes para com outras pessoas. Deus está genuinamente presente em todos. Portanto, ninguém deve ser desprezado ou tratado com desrespeito. 4. Podemos obter algum conhecimento acerca de Deus por meio de sua criação. Toda criação veio à existência por intermédio de Deus e, além disso, Deus nela habita de modo ativo. Podemos, então, detectar indícios da personalidade de Deus observando o comportamento do universo criado. Por exemplo, parece que um padrão definido de lógica se aplica à criação. Existe nela uma ordem, uma regularidade. 5. A imanência de Deus significa que há pontos em que o evangelho pode fazer contato com o descrente. Se Deus está de alguma forma presente e ativo em todo o mundo criado, está presente e ativo dentro de seres humanos que não lhe entregaram pessoalmente a vida. Assim, há pontos em que estarão sensíveis à verdade da mensagem do evangelho, aspectos em que já estão em contato com a obra de Deus. A evangelização tem por alvo encontrar esses pontos e dirigir a mensagem a eles. Implicações da transcendência A doutrina da transcendência possui várias implicações que afetam nossas outras crenças e nossas práticas. 1. Existe algo mais elevado que os seres humanos. O bem, a verdade e o valor não são determinados pelo fluxo inconstante deste mundo e pela opinião humana. Existe algo que, de cima, confere valor à humanidade. 2. Deus nunca pode ser completamente determinado pelos conceitos humanos. Isso significa que todas as nossas ideias doutrinárias, por mais que sejam úteis e corretas em sua base, não podem explicar plenamente a natureza de Deus. Ele não é limitado pela compreensão que temos dele. 3. Nossa salvação não é conquista nossa. Não somos capazes de nos elevar ao nível de Deus, preenchendo os padrões dele para nós. Mesmo que fôssemos capazes de fazê-lo, ainda não seria conquista nossa. O próprio fato de sabermos o que ele espera de nós é um fruto de sua autorrevelação, não de descoberta nossa. Mesmo à parte do problema complementar do pecado, portanto a comunhão com Deus é estritamente unia questão de uma dádiva sua para nós. 4. Sempre haverá uma diferença entre Deus e os seres humanos. O abismo entre nós não é apenas uma disparidade moral e espiritual que se originou com a queda. É metafísica, tendo raízes em nossa criação. Mesmo depois de redimidos e glorificados, ainda seremos criaturas humanas. Nunca nos tomaremos Deus. 5. A reverência é adequada em nosso relacionamento com Deus. Algumas adorações, salientando legitimamente a alegria e a confiança que o crente tem no relacionamento com um Pai Celeste amoroso, passam desse ponto e chegam a uma familiaridade excessiva, tratando-o como igual ou, ainda pior, como um servo. Se compreendermos, no entanto, o fato da transcendência divina, isso não acontecerá. Embora a expressão de entusiasmo até, talvez, exuberante tenha seu lugar e seja necessária, ela nunca deve nos levar à perda do respeito. Nossas orações também serão caracterizadas pela reverência. Em vez de fazer exigências, oraremos como Jesus: “Não seja o que eu quero, e sim o que tu queres”. 6. Buscaremos a obra genuinamente transcendente de Deus. Desse modo, não esperaremos que aconteça apenas o que pode ser realizado por meios naturais. Mesmo usando todas as técnicas disponíveis da aprendizagem moderna para cumprir as metas divinas, nunca cessaremos de depender de sua obra. Nunca negligenciaremos a oração, pedindo sua orientação e intervenção especial. Assim como na questão da imanência de Deus, também no caso da transcendência precisamos cuidar contra os perigos da ênfase excessiva. Não buscaremos a Deus apenas no religioso ou devocional; também o buscaremos nos aspectos “seculares” da vida. Não buscaremos exclusivamente os milagres, mas também não os desconsideraremos. Alguns dos atributos divinos, tais como a santidade, a eternidade e a onipotência são expressões do caráter transcendente de Deus. Outros, como a onipresença, são expressões de imanência. Se todos esses aspectos da natureza de Deus receberem a ênfase e a atenção que a Bíblia lhes confere, o resultado será um entendimento plenamente harmonioso da pessoa de Deus. Embora Deus nunca seja totalmente compreendido por nós por estar muito além de nossas idéias e formas, ele está sempre ao nosso alcance quando nos voltamos para ele. 2. DEUS É ESPIRITO A Bíblia não nos dá uma definição de Deus. O que mais se aproxima disso é a palavra dita por Jesus à mulher samaritana: “Deus é Espírito”, Jo 4.24. Trata- se, ao menos, de uma declaração que visa a dizer-nos numa única palavrao que Deus é. O Senhor não diz meramente que Deus é um espírito, mas que Ele é Espírito. E devido a esta clara declaração, é simplesmente próprio discutir primeiro a espiritualidade de Deus. Pelo ensino da espiritualidade de Deus, a teologia salienta o fato de que Deus tem um Ser substancial exclusivamente Seu e distinto do mundo, e que este Ser substancial é imaterial, invisível, e sem composição nem extensão. A espiritualidade de Deus inclui o pensamento de que todas as qualidades que pertencem à perfeita ideia de Espírito se acham nele: que Ele é um Ser autoconsciente e autodeterminante. Desde que Ele é Espírito no sentido mais absoluto e mais puro da palavra, não há nele nenhuma composição de partes. A ideia de espiritualidade exclui necessariamente a atribuição de qualquer coisa semelhante a corporalidade a Deus e, assim, condena as fantasias de alguns antigos gnósticos e dos místicos que a Bíblia fala de mãos e pés, olhos e ouvidos, boca e narinas de Deus, mas, ao fazê-lo, está falando antropomórfica ou figuradamente daquele que, de longe, transcende o nosso conhecimento humano, e de quem só podemos falar aos gaguejos, à maneira dos homens. Atribuindo espiritualidade a Deus, podemos afirmar que Ele não tem nenhuma das propriedades pertencentes à matéria, e que os sentidos corporais não O podem discernir. Paulo fala dele como o “Rei eterno, imortal, invisível” (1 Tm 1.17), e como “o Rei dos reis e Senhor dos senhores; o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver. A ele honra e poder eterno. Amém”. (1 Tim 6. 15, 16). 3. DEUS É UM SER PESSOAL Deus é vivo e pessoal (Js 3.10): O Deus que luta por Israel contra os seus inimigos é o Deus vivo e ativo. Sl 42.1-2: Somente o Deus vivo pode satisfazer a alma. A experiência de Deus não é uma experiência mística de um absoluto impessoal, mas é um relacionamento com o Deus vivo. João 6.57: A promessa da vida eterna só faz sentido no caso de Deus ser pessoal e vivo. A personalidade de Deus é vista nos demais atributos dEle: infinidade (Sl 90.2), santidade (1Pd 1.15-16), amor (1Jo 4.8,16), fidelidade (1Jo 1.9), justiça (Sl 92.15),etc. A Escritura atesta a personalidade de Deus de diversas maneiras. A presença de Deus, como descrita pelos escritores do Velho e do Novo Testamentos, é uma, é uma presença claramente pessoal. E as representações antropomórficas (atribuição de formas humanas a Deus; pés, mãos, etc.) e antropopáticas (atribuição de sentimentos humanos a Deus; arrependimento, cólera etc.) de Deus na Escritura, embora devam ser interpretadas de modo que não militem contra a pura espiritualidade e santidade de Deus só pode justificar-se com o pressuposto de que o Ser a quem se aplicam é uma pessoa real, com atributos pessoais, muito embora sem limitações humanas. De capa a capa Deus é apresentado como um Deus pessoal, com quem os homens têm capacidade e permissão de conversar, em quem podem confiar, que os sustenta nas suas provações, e enche os seus corações da alegria da libertação e vitória. E finalmente, a mais alta revelação de Deus de que a Bíblia dá testemunho é uma revelação pessoal. Jesus Cristo revela o Pai de maneira tão perfeita que pôde dizer a Filipe: “Quem me vê a mim, vê o Pai”, Jo 14.9. 4. DEUS É TRIUNO A doutrina da Trindade depende decisivamente da revelação. É verdade que a razão humana pode sugerir algumas ideias para consubstanciar a doutrina, e que os homens, fundada em bases puramente filosóficas, por vezes abandonaram a ideia de uma unidade nua e crua em Deus, e apresentaram a ideia do movimento vivo e de autodistinção. Também é verdade que a experiência cristã parece exigir algo parecido com esta construção da doutrina de Deus. Ao mesmo tempo, é uma doutrina que não teríamos conhecido, nem teríamos sido capazes de sustentar com algum grau de confiança, somente com base na experiência, e que foi trazida ao nosso conhecimento unicamente pela autorrevelação especial de Deus. Portanto, é de máxima importância reunir suas provas escriturística. a . Provas do Velho Testamento. Alguns dos primeiros pais da igreja, assim chamados, e mesmo alguns teólogos mais recentes, desconsiderando o caráter progressivo da revelação de Deus, opinaram que a doutrina da Trindade foi revelada completamente no Velho Testamento. Por outro lado, o socinianos e os arminianos eram de opinião que não há nada desta doutrina ali. Tanto aqueles como estes estavam enganados. O Velho Testamento não contém plena revelação da existência trinitária de Deus, mas contém várias indicações dela. É exatamente isto que se poderia esperar. A Bíblia nunca trata da doutrina da Trindade como uma verdade abstrata, mas revela a subsistência trinitária, em suas várias relações, como uma realidade viva, em certa medida em conexão com as obras da criação e da providência, mas particularmente em relação à obra de redenção. Sua revelação mais fundamental é revelação dada com fatos, antes que com palavras. E esta revelação vai tendo maior clareza, na medida em que a obra redentora de Deus é revelada mais claramente, como na encarnação do Filho e no derramamento do Espírito. E quanto mais a gloriosa realidade da Trindade é exposta nos fatos da história, mais claras vão sendo as afirmações da doutrina. Deve-se a mais completa revelação da Trindade no Novo Testamento ao fato de que o Verbo se fez carne, e que o Espírito Santo fez da igreja Sua habitação. Têm-se visto, por vezes, provas da Trindade na distinção entre Jeová e Elohim, e também no Plural Elohim, mas a primeira não tem nenhum fundamento, e a última é, para dizer o mínimo, duvidosa, embora ainda defendida por Rottenberg, em sua obra sobre De Triniteit in Israels Godsbegrip. É muito mais plausível entender que as passagens em que Deus fala de Si mesmo no plural, Gn 1.26; 11.7, contêm uma indicação de distinções pessoais em Deus, conquanto não surgiram uma triplicidade, mas apenas uma pluralidade de pessoas. Indicações mais claras dessas distinções pessoais acham-se nas passagens que se referem ao Anjo de Jeová que, por um lado, é identificado com Jeová e, por outro, distingue-se dele. Ver Gn 16.7-13; 18.1.21; 19.1-28; Ml 3.1. E também nas passagens em que a Palavra e a Sabedoria de Deus são personificadas, Sl 33.4, 6; Pv 8.12-31. Em alguns casos mencionam-se mais de uma pessoa, Sl 33.6; 45.6, 7 (com. Hb 1.8,9), e noutros quem fala é Deus, que menciona o Messias e o Espírito, ou quem fala é o Messias, que menciona Deus e o Espírito, Is 48.16; 61.1; 63. 9,10. Assim, o Velho Testamento contém clara antecipação da revelação mais completa da Trindade no Novo Testamento. b. Provas do Novo Testamento. O Novo Testamento traz consigo uma revelação mais clara das distinções da Divindade. Se no Velho Testamento Jeová é apresentado como o Redentor e Salvador do Seu povo, Jó 19.25; Sl 19.14; 78.35; 106.21; Is 41.14; 43.3, 11, 14; 47.4; 49.7, 26; 60.16; Jr 14.3; 50.14; Os 13.3, no Novo Testamento e o Filho de Deus distingue-se nessa capacidade, Mt 1.21; Lc 1.76-79; 2.17; Jo 4,42; At 5.3; Gl 3.13; 4.5; Fl 3.30; Tt 2.13, 14. E se no Velho Testamento é Jeová que habita em Israel e nos corações dos que O temem, Sl 74.2; 135.21; Is 8.18; 57.15; Ez 43.7-9; Jl 3.17, 21; Zc 2.10, 11, no Novo testamento é o Espírito Santo que habita na igreja, At 2.4; Rm 8.9, 11; 1 Co 3.16; Gl 4.6; Ef 2.22; Tg 4.5 O Novo Testamento oferece clara revelação de Deus enviando Seu filho ao mundo, Jo 3.16; Gl 4.4; Hb 1.6; 1 Jo 4.9; e do pai e Filho enviando o Espírito, Jo 14.26; 15.26; 16.7; Gl 4.6. Vemos o pai dirigindo-se ao Filho, Mc 1.11; Lc 3.22, o Filho comunicando-se com o Pai, Mt 11.25, 26; 26.39; Jo 11.41; 12.27, 28, e o Espírito Santo orando a Deus nos corações dos crentes, Rm 8.26. Assim, as pessoas da Trindade, separadas, são expostas com clareza às nossas mentes.No batismo do Filho, o pai fala, ouvindo-se do céu a Sua voz, e o Espírito Santo desce na forma de pomba, Mt 3.16, 17. Na grande comissão Jesus menciona as três pessoas: “batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, Mt 28.19. Também são mencionadas juntamente em 1 Co 12. 4-6; 2 Co 13.13; e 1 Pe 1.2. A única passagem que fala de tri-unidade é 1. Jo 5.7, mas sua genuinidade é duvidosa, razão pela qual foi eliminada das mais recentes edições críticas do Novo Testamento. TRÊS DECLARAÇÕES QUE RESUMEM O ENSINO BÍLICO Em certo sentido a doutrina da trindade é um mistério que jamais seremos capazes de entender plenamente. Podemos, todavia, compreender parte de sua verdade resumindo o ensinamento da Escrituras em três declarações: 1. Deus é três pessoas. 2. Cada pessoa é plenamente Deus. 3. Há só um Deus A seção seguinte desenvolverá mais detalhadamente cada uma dessas declarações. 1. Deus é três pessoas. O fato de ser Deus três pessoas significam que o Pai não é o Filho; são pessoas distintas. Significa também que o Pai não é o Espírito Santo, mas são pessoas distintas. E significa que o Filho não é o Espírito Santo. Essas distinções se mostram em várias das passagens citadas na seção anterior, bem como em muitas outras passagens do Novo Testamento. Jo 1.1-2 nos diz: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.". O fato de o "Verbo" (que se revela Cristo nos v. 9-18) estar "com" Deus prova que ele é distinto de Deus Pai. Em João17.24, Jesus fala a Deus Pai da "minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo", revelando assim distinção de pessoas, compartilhamento de glória e uma relação de amor entre o Pai e o Filho antes que o mundo fosse criado. Lemos que Jesus continua agindo como nosso Sumo Sacerdote e Advogado perante Deus Pai: "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo." (1 Jo 2.1). Cristo é aquele que "pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles."(Hb 7.25). Porém, a fim de interceder por nós perante Deus Pai, é necessário que Cristo seja uma pessoa distinta do Pai. Além disso, o Pai não é o Espírito, tampouco o Filho é o Espírito Santo. Distinguem-se em vários versículos. Diz Jesus: "Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" (Jo 14.26). O Espírito Santo também ora ou "intercede" por nós (Rm 8.27), indicando uma distinção entre o Espírito Santo e Deus Pai, a quem se faz a intercessão. Finalmente, o fato de o Filho não ser o espírito Santo também está indicado em várias passagens trinitárias mencionadas anteriormente, como a Grande Comissão (Mt 28.19), e em passagens que indicam que Cristo voltou ao céu e então enviou o Espírito Santo à igreja. Disse Jesus: "Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei." (Jo 16.7). Alguns já questionaram se o espírito Santo é de fato uma pessoa distinta, e não simplesmente o "poder" ou a "força" de Deus em ação no mundo. Mas as evidências do Novo Testamento são bem claras e fortes. Primeiro há os diversos versículos mencionados acima, em que o Espírito Santo é revelado em coordenada relação com o Pai e o Filho (Mt 28.19; 2 Co 12.4-6; 2 Co 13.13ou14; Ef 4.4-6; 1 Pe 1.2): como o Pai e o Filho são ambas pessoas, a expressão coordenada indica fortemente que o Espírito Santo também é uma pessoa. Depois há trechos em que o pronome masculino ele (gr. ekeinos) se refere ao Espírito Santo (Jp 14.26; 15.26; 16.13-14), o que não seria de esperar em face das regras da gramática grega, pois a palavra "espírito"(gr. pneuma) é neutra, não masculina, e a ela normalmente se alude com o pronome neutro ekeino. Além do mais, o nome consolador ou confortador (gr. parakeltos) é um termo comumente usados para falar de uma pessoa que ajuda ou dá consolo ou conselho a outra pessoa ou pessoas, mas se refere ao Espírito Santo no evangelho de João (Jo 14.16, 26; 15.23; 16.7). Outras atividades pessoais são atribuídas ao Espírito Santo, como ensinar (Jo 14.26), dar testemunho (Jo 15.26; Rm 8.16), interceder ou orar em nome de outros (Rm 8.26-27), sondar as profundezas de Deus (1 Co 2.10), conhecer os pensamentos de Deus (2 Co 2.11), decidir conceder dons para alguns, e outros para outros (1 Co 12.11), proibir ou não permitir determinadas atividades (At 16.6-7), falar (At 8.29; 13.2; e muitas vezes no Antigo como no Novo Testamento), avaliar e aprovar um proceder sábio (At15.28) e se entristecer diante do pecado dos cristãos (Ef 4.30). Por fim, se o Espírito Santo é interpretado meramente como o poder de Deus, e não como pessoa distinta, então várias passagens simplesmente não fariam sentido, pois nelas se mencionam tanto o Espírito Santo quanto o seu poder, ou o poder de Deus. Por exemplo, Lucas 4.14 ("Então, Jesus, no poder, regressou para Galiléia") significaria então "Jesus, no poder do poder, regressou para a Galileia". E atos 10.38 ("Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder") significaria "Deus ungiu a Jesus com o poder de Deus e com poder" (ver também Rm 15.13; 1 Co 2.4). Embora tantas passagens distingam claramente o Espírito Santo dos outros membros da Trindade, 2 Coríntios 3.17 se revela um versículo desconcertante: "Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.". Os interpretes muitas vezes supõem que "Senhor" aqui só pode ser Cristo, pois Paulo usa frequentemente "Senhor" para referir a Cristo. Mas provavelmente não é esse o caso aqui, pois a gramática e o contexto nos fornecem bons argumentos para dizer que esse versículo tem melhor tradução com o Espírito Santo o sujeito: "Ora, o Espírito é o Senhor ...". Nesse caso, Paulo estaria dizendo que o Espírito Santo é também "Jave" (ou "Jeová), o Senhor do Antigo Testamento (repare o claro pano de fundo do Antigo Testamento que se revela nesse contexto, a partir do v. 7). Teologicamente, isso seria aceitável, pois sem dúvida se pode dizer qua assem como Deus Pai é "Senhor" e Deus Filho é "Senhor" (no pleno sentido de "Senhor" no Antigo Testamento como nome de Deus), também o Espírito Santo é chamado "Senhor" no Antigo Testamento - e é o Espírito Santo que nos manifesta especialmente a presença do Senhor na era da nova aliança. 2. Cada pessoa é plenamente Deus. Além do fato de serem as três pessoas distintas as Escrituras dão farto testemunho de cada pessoa é plenamente Deus. Primeiro, Deus Pai é claramente Deus. Isso se evidencia desde o primeiro versículo da Bíblia no qual Deus cria o céu e a terra. É evidente em todo o Antigo e Novo Testamento, no quais Deus Pai é retratado nitidamente como Senhor soberano de tudo e onde Jesus orar ao seu Pai Celeste. Também, o Filho é plenamente Deus. Embora esse ponto seja desenvolvido com mais por menores no capítulo 26 [da Teologia Sistemática deste autor, donde tiramos este estudo] ("A Pessoa de Cristo"), podemos aqui mencionar de passagem vários trechos explícitos. João 1.1-4 afirma claramente a plena divindade de Cristo: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. Aqui, Cristo é o "Verbo", e João diz que ele estava "com Deus" e também que ele "era Deus". O texto grego repete as palavras iniciais de Gênesis 1.1 ("No princípio...") e nos lembra de que João está falando de algo que já era verdadeantes que o mundo fosse criado. Deus Filho sempre foi plenamente Deus. A tradução "o Verbo era Deus" foi contestada pelas testemunhas-de-jeová, que vertem "o Verbo era um deus", implicando que o Verbo era simplesmente um ser celestial, mas não plenamente divino. Eles justificam essa tradução salientando que o artigo definido (gr. ho, "o") não aparece antes da palavra grega theos ("Deus). Dizendo que theos deve ser traduzido como "um deus". Porém, tal interpretação nunca foi acatada por nenhum estudioso grego de lugar algum, pois é sabido que a frase segue uma regra normal da gramática grega, e ausência do artigo definido indica meramente que "Deus" é o predicado, e não o sujeito da frase. (Uma publicação recente das testemunhas- de-jeová reconhece hoje esse relevante gramatical, mas assim mesmo persiste na sua posição a respeito de João 1.1). A incoerência da posição das testemunhas-de-jeová pode ser vista na tradução que dão ao restante do capítulo. Por diversas outras razões gramaticais, a palavra theos também dispensa o artigo definido em outros pontos do capítulo, como no versículo 6 (Houve um homem enviado por Deus"), no versículo 12 ("poder de serem feitos filhos de Deus"), no versículo 13 ("mas de Deus") e no versículo 18 ("Ninguém jamais viu a Deus"). Se as testemunhas-de-jeová fossem coerentes no seu argumento sobre a ausências do artigo definido, teriam de traduzir todos esses versículos com a expressão "um deus”, mas usaram "Deus" em todos eles. João 20.28, no seu contexto, também é uma sólida prova em favor da divindade de Cristo. Tomé duvidava dos relatos dos outros discípulos, de que haviam visto Jesus ressuscitado, e disse que não acreditaria se não visse as marcas dos cravos nas mãos de Jesus e não lhe tocasse com a mão na ferida do lado (jo 20.25). Então Jesus apareceu novamente aos discípulos, estando agora Tomé com eles. Disse a Tomé: "Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe no me lado; não seja incrédulo, mas crente"" (Jo 20.28). Aqui Tomé chama Jesus de "Deus meu". A narrativa mostra que tanto João no modo com escreveu o seu evangelho quanto o próprio Jesus aprovam o que Tomé disse e incentivam todos os que ouvirem falar de Tomé a crer nas mesmas coisas em que Tomé creu. Jesus imediatamente disse a Tomé: "Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram" (Jo 20.29). Quanto a João, esse é o momento dramático mais forte do evangelho, pois ele logo a seguir diz ao leitor - já no versículo seguinte - que esta é a razão pela qual ele o escreveu: "Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome. "(Jo 20.30-31) Jesus fala daqueles que, mesmo sem o ver crerão, e João logo diz ao leitor que ele registrou os acontecimentos no evangelho para que todos também creiam assim, imitando Tomé na sua confissão de fé. Em outras palavras, todo o evangelho foi escrito para convencer as pessoas a imitar Tomé, que sinceramente chamou Jesus de "Senhor meu e Deus meu". Como esse é o motivo exposto por João como propósito do seu evangelho, a afirmação se reveste de autoridade. Outras passagens afirmam a plena divindade de Jesus, como Hebreus 1, onde diz que Cristo é a "expressão exata" (gr. charakter, "reprodução exata") da natureza ou ser (gr.hypostasis) de Deus - significando que Deus Filho reproduzia o ser ou a natureza de Deus Pai em todos os aspectos: todos os atributos ou poderes que Deus Pai tem, Deus Filho também os tem. O autor ainda se refere ao Filho como "Deus" no versículo 8 ("Mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre") e atribui a criação dos céus a Cristo ao dizer dele: "No princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra, e os céus são obras das tuas mãos" (Hb 1.10; citando Sl 102.25). Tito 2.13 refere-se ao "nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus" e 2 Pedro 1.1 fala da "justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo". Romanos 9.5, falando do povo judeu, diz: "Deles são os patriarcas, e a partir deles se traça a linhagem humana de Cristo, que é Deus acima de tudo, bendito para sempre! Amém" (NVI). No Antigo Testamento, Isaías 9.6 profetiza: Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte ... Aplicando a Cristo, essa profecia refere-se a ele como "Deus Forte". Observe aplicação semelhante dos títulos "Senhor" e "Deus" nas profecias da vinda do Messias em Isaías 40.3: "Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus", citada por João Batista na preparação para vinda de Cristo em Mateus 3.3. Muitas outras passagens serão discutidas nos capítulos 26, [da Teologia Sistemática deste autor], abaixo, mas essas já devem ser suficientes para demonstrar que o Novo Testamento claramente se refere a Cristo como Deus pleno. Como diz Paulo em Colossenses 2.9, "Porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade." Além disso, O Espírito Santo é também plenamente Deus. Uma vez que entendemos que Deus Pai e Deus Filho são plenamente Deus, então as expressões trinitárias em versículos com Mateus 28.19 ("batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo") se revestem de relevância para a doutrina do Espírito Santo, pois mostram que o Espírito Santo está classificado no mesmo nível do Pai e do Filho. Isso se verifica quando percebemos quão impensável seria que Jesus dissesse algo como "batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do arcanjo Miguel", dando a um ser criado uma posição totalmente descabida, mesmo para um arcanjo. Os crentes de todas as épocas sempre foram batizados em nome (assumindo, portanto, o caráter) do próprio Deus. (Note também as outras passagens trinitárias mencionadas acima: 1 Co 12.4-6; 2 Co 13.14; Ef 4.4-6; 1 Pe 1.2; Jd 20-21.) Em atos 5.3-4, Pedro pergunta a Ananias: "Por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo [...]? Não mentiste aos homens, mas a Deus". Segundo as palavras de Pedro, mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus. Paulo diz em 1 Coríntios 3.16: "Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" O templo de Deus é o local onde o próprio Deus habita, o que Paulo explica pelo fato de que o "Espírito de Deus" ali habita, aparentemente igualando o Espírito de Deus ao próprio Deus. Davi pergunta em Salmos 139.7-8: "Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua presença? Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também." Essa passagem atribui a características divina da onipresença ao Espírito Santo, algo que não se aplica a nenhuma das criaturas de Deus. Parece que Davi faz equivaler o Espírito de Deus à presença de Deus. Ausentar-se do Espírito de Deus é ausentar-se da sua presença, mas se não há lugar para onde Davi pode fugir do Espírito de Deus, então ele sabe que aonde quer que vá terá de dizer: "Tu estás aí". Paulo atribui a característica divina da onisciência ao Espírito Santo em 1 Coríntios 2.10-11: "Porque Deus no-las revelou pelo seu Espírito; pois o Espírito esquadrinha todas as coisas, mesmos as profundezas de Deus. Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? assim também as coisas de Deus [ou os pensamentos de Deus], ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.". Além disso, o ato de dar novo nascimento a todo aquele que nasce de novo é obra do Espírito Santo. Disse Jesus:"... quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não teadmires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo" (Jo 3.5-7). Mas o ato de dar nova vida espiritual às pessoas quando se tornam cristãs é algo que só Deus pode fazer (cf. 1 Jo 3.9, "nascido de Deus"). Essa passagem, portanto, dá nova indicação de que o Espírito Santo é plenamente Deus. Até aqui temos duas conclusões, ambas fartamente ensinadas em toda a Bíblia: 1. Deus é três pessoas. 2. Cada pessoa é plenamente Deus. Se a Bíblia ensinasse somente esses dois fatos, não haveria nenhuma dificuldade lógica em emparelhá-los, pois a solução óbvia seria que existem três Deuses. O Pai é plenamente Deus, o Filho é plenamente Deus e o Espírito santo é também plenamente Deus. Teríamos um sistema com três seres igualmente divinos. Tal crença se chamaria politeísmo - ou, mais especificamente, "triteísmo", ou crença em três Deuses. Mas isso passa bem longe do que ensina a Bíblia. 3. Só há um Deus. As Escrituras deixam bem claro que só existe um único Deus. As três diferentes pessoas da Trindade são um não apenas em propósito e em concordância no que pensam, mas um em essência, um na sua natureza essencial. Em outras palavras, Deus é um só ser. Não existem três Deuses. Só existe um Deus. Uma das passagens mais conhecidas do Antigo Testamento é Deuteronômio 6.4-5: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças." Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, admirável em louvores, realizando maravilhas? (Ex 15.11), a resposta obviamente é: "ninguém. Deus é único, e não há ninguém como ele nem pode haver ninguém como ele. De fato, Salomão ora "para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus, e que não há outro." (1 Rs 8.60). Quando Deus fala, repetidamente deixa claro que ele é o único Deus verdadeiro; a idéia de que existem três Deuses a adorar, e não um só, seria impensável diante de declarações tão veementes. Só Deus é o únicos Deus verdadeiro, e não há nenhum outro como ele. Quando ele fala, só ele fala - não fala como um Deus dentre três que devem ser adorados. Mas diz: Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; Para que se saiba desde a nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. (Is 45.5-6). Do mesmo modo, ele convoca toda a terra a olhar para ele: Não há outro Deus, senão eu, Deus justo e Salvador não há além de mim. Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra; porque eu sou Deus, e não há outro (Is 45.21-22; cf. 44.6-8). O Novo Testamento também afirma que só há um Deus. Escreva Paulo: "Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem." (1 Tm 2.5). Paulo afirma que "Deus é um só" (Rm 3.30) e que "há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos" (1 Co 8.6). Por fim, Tiago admite que até os demônios reconhecem que só há um Deus, ainda que essa aceitação intelectual do fato não seja suficiente para salvá-los: "Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem." (Tg 2.19). Mas nitidamente Tiago afirma que "faz bem" quem crê que "Deus é um só". 4. As soluções simplistas necessariamente negam um dos ensinamentos bíblicos. Agora temos três proposições, todas elas ensinadas nas Escrituras. 1. Deus é três pessoas. 2. Cada pessoa é plenamente Deus. 3. Só há um Deus. Ao longo de toda a história da igreja houve tentativas de encontrar uma solução simples para doutrina da Trindade pela negação de uma ou outra dessas proposições. Caso se negue a primeira proposição [1. Deus é três pessoas.], então resta-nos simplesmente o fato de que cada uma das pessoas mencionadas nas Escrituras (Pai, Filho e Espírito Santo) é Deus, e há um só Deus. Mas se não precisamos dizer que são pessoas distintas, então há uma solução fácil: não passam de nomes diferentes para uma pessoa que age de modos diversos em situações distintas. Às vezes essa pessoa se chama Pai, às vezes se chama Filho, às vezes se chama Espírito. Não temos dificuldade para compreender isso, pois sabemos por experiência própria que a mesma pessoa pode agir em dada situação como advogado (por exemplo), noutra como pai dos seus filhos e noutra como filho diante dos seus pais; a mesma pessoa é advogado, pai e filho. Mas tal solução negaria o fato de que as três pessoas sejam indivíduos distintos, de que Deus Pai envia Deus Filho ao mundo, de que o Filho ora ao Pai e de que o Espírito santo intercede junto ao Pai por nós. Outra solução simples surge pela negação da segunda proposição [2. Cada pessoa é plenamente Deus.], ou seja, negar que algumas das pessoas mencionadas nas Escrituras são de fato plenamente Deus. Se simplesmente sustentamos que Deus é três pessoas e que só há um Deus, então podemos ser tentados a dizer que algumas dessas "pessoas" desse Deus único não são plenamente Deus, mas apenas partes subordinadas ou criadas de Deus. Essa solução seria adorada, por exemplo, por aqueles que negam a plena divindade do Filho (e do Espírito Santo). Mas, como vimos acima, essa solução teria de negar toda uma classe de ensinamentos bíblicos. Por fim, como já observamos acima, uma solução simples poderia vir pela negação da existência de um só Deus. Mas isso resultaria na crença em três Deus, algo claramente contrário às Escrituras. Embora o terceiro erro não seja comum, como veremos abaixo, cada um dos dois primeiros erros já apareceu num momento ou noutro da história da igreja, e ainda persiste hoje dentro de alguns grupos. 5. Todas as analogias têm falhas. Se não podemos adotar nenhuma dessas soluções simplistas, então como juntar as três verdades bíblicas para assim sustentar a doutrina da Trindade? As pessoas já usaram várias analogias retiradas da natureza ou da experiência humana para tentar explicar essa doutrina. Embora tais analogia sejam úteis num nível elementar de compreensão, todas elas se revelam inadequadas ou ilusórias numa reflexão mais aprofundada. Dizer, por exemplo, que Deus é como um trevo de três folhas, que mesmo tendo três partes é apenas um trevo, não é satisfatório, pois cada folha apenas faz parte do trevo, e não se pode dizer que nenhuma das folhas é todo o trevo. Mas na Trindade, cada uma das pessoas não é apenas uma parte separada de Deus, mas plenamente Deus. Além disso, a folha de um trevo é impessoal e não tem, portanto, personalidade distinta e complexa como cada pessoa da Trindade. Outros já usaram a analogia das três partes de uma árvore: raiz, tronco e ramos constituem uma só arvore. Mas surge um problema semelhante, pois trata-se somente de partes de uma árvore, e não se pode dizer que nenhuma dessas partes é a árvore inteira. Além do mais, nessa analogia as partes têm propriedades distintas, diferentemente das pessoas da Trindade, que possuem todos os atributos de Deus em igual medida. E a ausência de personalidade em cada uma das partes é outra deficiência. A analogia das três formas de água (vapor, água e gelo) é também inadequada, porque: (a) nenhuma quantidade de água jamais é ao mesmo tempo todas as três formas, (b) as três formas têm propriedades ou características diferentes, (c) a analogia nada tem que corresponda ao fato de existir somente um Deus (mas existe algo como "uma só água" ou "toda a água do universo") e (d) falta o elemento da personalidade inteligente. Outras analogias foram derivadas da experiência humana. Poder-se-ia dizer que a Trindade é como um homem que é ao mesmo tempo fazendeiro, prefeito da sua cidade e presbítero da sua igreja. Ele desempenha papéis diferentes em momentos distintos, mas é um só homem. Porém, essaanalogia é bastante falha, pois só uma pessoa executa essas três atividades em momento diferentes, e o modalismo não contempla a relação pessoal entre os membros da Trindade. (Na verdade, essa analogia simples ensina a heresia chamada modalismo, discutida abaixo.) Outras analogias retiradas da vida humana é a união entre intelecto, emoções e vontade numa pessoa. Embora sejam componentes de uma personalidade, nenhum desses fatores constitui a pessoa inteira. E as partes não são de características idênticas, mas têm capacidades distintas. Então que analogia usaremos para explicar a Trindade? Embora a Bíblia use muitas analogias derivadas da natureza e da vida para nos ensinar aspectos diversos do caráter de Deus (Deus é como uma rocha na sua fidelidade, como um pastor no seu cuidado, etc.), é interessante notar que nenhum trecho das Escrituras se acha alguma analogia que explique a doutrina da Trindade. O mais próximo que chegamos de uma analogia se encontra nos próprios títulos "Pai" e "Filho", títulos que nitidamente dizem respeito a pessoas distintas e à íntima relação que existe entre os dois numa família. Mas no plano humano, logicamente, temos dois seres totalmente distintos, nenhum deles formado de três pessoas distintas. É melhor concluir que nenhuma analogia explica adequadamente a Trindase, que todas são ilusórias em aspectos importantes. 6. Deus existe eterna e necessariamente como Trindade. Quando o universo foi criado, Deus Pai proferiu as potentes palavras criadoras que o gerarem; Deus Filho foi o agente divino que executou essas palavras (Jo 1.3; 1 Co 8.6; Cl 1.16; Hb 1.2) e o Espírito de Deus "pairava por sobre as águas" (Gn 1.2). Então é como seria de esperar: se os três membros da Trindade são iguais e plenamente divinos, então todos eles existiram desde a eternidade, e Deus sempre existiu eternamente como Trindade (cf. também Jo 17.5,24). Além disso, Deus não pode ser diferente do que é, pois é imutável. Portanto, parece correto concluir que Deus existe necessariamente como Trindade - não pode ser diferente do que é. A importância da doutrina da Trindade Por que a igreja estava tão preocupada com a doutrina da Trindade? Será que ela é realmente essencial para sustentar a plena divindade do Filho e do Espírito Santo? Sim, pois seu ensino tem implicações para o coração da fé cristã. Primeira, a expiação está em jogo aqui. Se Jesus fosse meramente um ser criado, e não plenamente Deus, então é difícil ver como ele, uma criatura, poderia suportar plenamente a ira de Deus devida por todos os nossos pecados. Poderia qualquer criatura, não importa quão grande ela fosse realmente salvar-nos? Segunda, a justificação somente pela fé é ameaçada se negamos a plena divindade do Filho. (Isso é visto hoje no ensino das testemunhas de Jeová, que não crêem na justificação somente pela fé.) Se Jesus não fosse plenamente Deus, seria correto duvidarmos de sua capacidade de salvar-nos e não confiaríamos nele completamente. Poderíamos na verdade depender plenamente de qualquer criatura para nossa salvação? Terceira, se Jesus não fosse o Deus infinito, nós oraríamos a ele ou o adoraríamos? Quem senão o infinito e onisciente Deus poderia ouvir e responder a todas as orações de todo o povo de Deus? E quem, além do próprio Deus, é digno de adoração? De fato, se Jesus fosse meramente uma criatura, não importa quão grande, seria idolatria adorá-lo - todavia, o NT ordena que o adoremos (Fp 2.9-11; Ap 5.12-14). Quarta, se alguém ensina que Cristo é um ser criado, mas, ainda assim, alguém que nos salvou, tal ensino começa erroneamente a atribuir crédito pela salvação à criatura e não ao próprio Deus. De forma errônea, esse ensino exalta à criatura em lugar do Criador, algo que a Escritura nunca nos permite fazer. Quinta, a independência e a natureza pessoal de Deus estão em jogo: Se não há Trindade, então não houve relacionamento pessoal dentro do ser de Deus antes da criação, e, sem relacionamento pessoal, é difícil ver como Deus poderia ser genuinamente pessoal ou existir sem a necessidade de uma criação com quem pudesse relacionar-se. Sexta, a unidade do universo está em jogo: Se não há perfeita pluralidade e perfeita unidade no próprio Deus, então também não temos base alguma para pensar que possa haver qualquer unidade suprema entre os diversos elementos do universo. Claramente, na doutrina da Trindade, o coração da fé crista está em jogo. OS ATRIBUTOS DE DEUS O que são Atributos? Os atributos são “qualidades”, “propriedades”, “virtudes” ou “perfeições” de uma pessoa particular ou um ser. Como Deus é um ser, ele possui qualidades ou características que fazem com ele seja o que é. Os atributos não são alguma coisa acrescida a Deus, mas são qualidades essenciais dele. Berkhof define atributos como “as perfeições atribuídas ao Ser Divino nas Escrituras, ou as que são visivelmente exercidas por Ele nas obras da Criação, Providência e Redenção”. Classificações dos Atributos de Deus Várias classificações têm sido sugeridas na história da teologia sistemática: 1. Atributos Naturais e Morais - os naturais são atributos como auto- existência, simplicidade e infinidade, que não dependem da vontade de Deus. Os morais são atributos como bondade, verdade, misericórdia, justiça e santidade, que caracterizam Deus corno um ser moral. A objeção a essa classificação é que todos os atributos são naturais em Deus e fazem parte de sua constituição. 2. Atributos Absolutos e Relativos - os primeiros correspondem à essência de Deus considerado em si mesmo (auto-existência, imensidão, eternidade, etc.). ao passo que os atributos relativos correspondem à essência divina em relação à criação (onipresença, onisciência). A objeção contra essa classificação é que todas as qualidades de Deus têm de algum modo a ver com o mundo que ele criou, embora já existissem em Deus antes de o mundo ser criado. Todas fazem parte do ser de Deus. 3. Atributos Imanentes (intransitivos) e Emanentes (transitivos) — os primeiros são os atributos que não se projetam nem operam fora da essência divina (imensidão, simplicidade eternidade, etc.); os segundos são aqueles que se irradiam e produzem efeitos externos a Deus (onipotência, benevolência, justiça, etc). A objeção contra essa classificação é que se alguns atributos fossem estritamente imanentes, o conhecimento dos mesmos seria totalmente impossível. 4. Atributos Comunicáveis e Incomunicáveis - os últimos são aqueles que não encontram nenhuma analogia no ser humano, e tem a ver com o Ser Absoluto de Deus (auto-existência, imensidão, simplicidade etc.), apontando para Deus como o Deus escondido; os primeiros são os que encontram alguma ressonância nos seres humanos. Eles são transmitidos, em algum grau aos seres humanos, e têm a ver com o Ser Pessoal de Deus (amor, bondade, justiça, etc.), apontando para o Deus revelado, que se nos dá a conhecer mais facilmente. 1. OS ATRIBUTOS INCOMUNICÁVEIS 1.1 ONIPOTÊNCIA Deus é onipotente. (Gn 1.1;17.1;18.14;Ex 15.7;Is 40.12;Dn 3.17;Mt 19.26;Ap 15.3;19.6) A onipotência de Deus significa duas coisas: (1) Sua liberdade e poder para fazer tudo que esteja em harmonia com a sua natureza. Isto não significa que ele possa ou queira fazer alguma coisa contraria a sua natureza - por exemplo, mentir ou roubar. Isso não quer dizer, jamais, que Deus empregue todo o seu poder e autoridade em todos os momentos. Por exemplo, Deus tem poder para exterminar totalmente o pecado, mas optou por não fazer assim até o final da história humana (ver 1Jo 5.19 nota). Em muitos casos, Deus limita o seu poder, quando o emprega através do seu povo (2Co 12.7-10); em casos assim, o seu poder depende do nosso grau de entrega e de submissão a Ele (Ef 3.20).(2) Seu controle e sabedoria sobre tudo que existe ou que possaexistir. Toda a vida é sustentada por Deus (Hb 1.3;At 17.25,28;Dn 5.23). 1.2 ONIPRESENÇA Deus é onipresente, isto é, o espaço material não o limita em ponto algum.(Gn 28.15,16;Dt 4.39;Js 2.11;Is 66.1;At 7.48,49 e Ef 1.23). No Antigo Testamento, as nações serviam a deuses regionais, ou nacionais, cujo poder limitava-se à localidade ou ritual. Na maioria dos casos, os devotos achavam que tais deidades tinham poder somente nos domínios habitados pelos povos. Embora Deus esteja em todo lugar, ele não habita em todo lugar somente ao entrar em relação pessoal com o grupo ou com um indivíduo se diz que Ele habita com eles. O salmista afirma que, não importa para onde formos, Deus está ali (Sl 139.7-12; cf. Jr 23.23,24; At 17.27,28); Deus observa tudo quanto fazemos. 1.3 ONISCIÊNCIA Deus é onisciente, porque conhece todas as coisas. (Gn 18.18;II Rs 8.10;Jr 1.4-5;Dn 2.22;At 15.8;Rm 8.27;II Tm 2.19;I Jo 3.20). O conhecimento de Deus é perfeito, ele não precisa arrazoar, ou pesquisar as coisas, nem aprender gradualmente - seu conhecimento do passado, do presente e do futuro é instantâneo. Sendo Deus conhecedor de todas as coisas, ele sabe quem se perdera, mas a presciência de Deus sobre o uso que a pessoa fará do livre arbítrio não obriga a escolher este ou aquele destino. Deus prevê sem intervir. Ele sabe todas as coisas (Sl 139.1-6; 147.5). Ele conhece, não somente nosso procedimento, mas também nossos próprios pensamentos (1Sm 16.7; 1 Rs 8.39; Sl 44.21; Jr 17.9,10). Quando a Bíblia fala da presciência de Deus (Is 42.9; At 2.23; 1Pe 1.2), significa que Ele conhece com precisão a condição de todas as coisas e de todos os acontecimentos exeqüíveis, reais, possíveis, futuros, passados ou predestinados (1Sm 23.10-13; Jr 38.17-20). A presciência de Deus não subentende determinismo filosófico. Deus é plenamente soberano para tomar decisões e alterar seus propósitos no tempo e na história, segundo sua própria vontade e sabedoria. Noutras palavras, Deus não é limitado à sua própria presciência (ver Nm 14.11-20; 2Rs 20.1-7) 1.4 INFINITUDE Deus é infinito, isto é, não esta sujeito as limitações naturais e humanas. A sua infinitude é vista de duas maneiras: (1) Em relação ao espaço. A natureza da Divindade esta presente de modo igual em todo o espaço infinito e em todas as suas partes. Nenhuma parte existente esta separada da sua presença ou de sua energia, e nenhum ponto do espaço escapa a sua influencia. Mas , ao mesmo tempo, não devemos esquecer que existe um lugar especial onde sua presença e glória são reveladas duma maneira extraordinária; esse lugar é o céu. (2) Em relação ao tempo, Deus é eterno (Ex. 15.18;Dt 33.27;Jr 10.10 e Ap 4.8-10). Ele existe desde a eternidade e existira por toda a eternidade, o passado, o presente e o futuro são todos como o presente à sua compreensão. Sendo eterno, Ele é imutável. 1.5 ESPIRITUALIDADE Deus é espirito (Jo 4.24). Deus é espirito com personalidade; ele pensa, sente e fala. Sendo espírito Deus não esta sujeito as limitações as quais estão sujeitos os seres dotados de corpo físico. Ele não possuiu partes corporais nem está sujeito as paixões; sua pessoa não se compõe se nenhum elemento material. Portanto não pode ser visto com os olhos naturais nem apreendido pelos sentidos naturais. Isto não implica que Deus leve uma existência sombria e irreal. Deus é uma pessoa real mas de natureza tão infinita que não se pode aprende-lo pelo conhecimento humano nem tampouco descreve-lo em linguagem humana. 1.5 IMUTABILIDADE Deus é imutável, isto é, Ele é inalterável nos seus atributos, nas suas perfeições e nos seus propósitos para a raça humana (Nm 23.19; Sl 102.26-28; Is 41.4; Ml 3.6; Hb 1.11,12; Tg 1.17). Isso não significa, porém, que Deus nunca altere seus propósitos temporários ante o proceder humano. Ele pode, por exemplo, alterar suas decisões de castigo por causa do arrependimento sincero dos pecadores (Jn 3.6-10). Além disso, Ele é livre para atender as necessidades do ser humano e às orações do seu povo. Em vários casos a Bíblia fala de Deus mudando uma decisão como resultado das orações perseverantes dos justos ( Nm 14.1-20; 2Rs 20.2-6; Is 38.2-6; Lc 18.1-8;) 1.6 SOBERANIA Deus é soberano, isto é, Ele tem o direito absoluto de governar suas criaturas e delas dispor como lhe apraz (Dn 4.35;Mt 20.15;Rm 9.21). Ele possui esse direito em virtude de sua infinita superioridade em sua posse absoluta de todas as coisas, e da absoluta dependência delas perante ele para que continue existindo. Desta maneira, tanto é insensatez, como transgressão, censurar os seus caminhos. 1.7 UNIDADE Deus é o único Deus (Êx 20.3;Dt 4.35;Is 44.6-8;I Tm 1.17). "Houve, Israel o Senhor nosso Deus é o único Senhor". Este era um do fundamento da religião do Antigo Testamento, Haverá contradição entre este ensino da unidade de Deus e o ensino da trindade no Novo Testamento? É necessário distinguir entre duas qualidades de unidade, existe a unidade absoluta e a unidade composta. A expressão "Um homem" traz a idéia de unidade absoluta, por que se refere a uma só pessoa. Mas quando lemos que homem e mulher serão "Uma só carne" (Gn 2.24) essa é uma unidade composta, visto que se refere a união de duas pessoas. A qual classe de unidade se refere Deuteronômio 6.4 ? Pelo fato de a palavra "Nosso Deus" estar no plural (ELOHIM no hebraico) concluímos que se refere a unidade composta. A doutrina da trindade ensina a unidade de Deus como unidade composta, inclusive de três pessoas divinas unidas na essencial unidade eterna. 1.8 ETERNIDADE Deus não esta limitado pelo tempo. Os termos eterno, perpetuo e para sempre, são freqüentemente empregados pelos tradutores da Bíblia na tentativa de capitar o sentido das expressões hebraicas e gregas que colocam a Deus dentro da nossa realidade temporal e finita. Ele existia antes da criação: "Antes que os montes nascessem ou que Tu formaste a Terra e o mundo, sim de eternidade a eternidade, Tu és Deus" (Sl 90.2). 1.9 INDEPENDÊNCIA Deus é transcendente — Ele é diferente e independente da sua criação (Êx 24.9-18; Is 6.1-3; 40.12-26; 55.8,9). Seu ser e sua existência são infinitamente maiores e mais elevados do que a ordem por Ele criada (1Rs 8.27; Is 66.1,2; At 17.24,25). Ele subsiste de modo absolutamente perfeito e puro, muito além daquilo que Ele criou. Ele mesmo é incriado e existe à parte da criação (ver 1Tm 6.16 nota). A transcendência de Deus não significa, porém, que Ele não possa estar entre o seu povo como seu Deus (Lv 26.11,12; Ez 37.27; 43.7; 2Co 6.16). 2. ATRIBUTOS COMUNICÁVEIS 2.1 FIDELIDADE Deus é fiel. Ele é absolutamente digno de confiança; as suas palavras não falharão. Os deuses das religiões do oriente próximo eram volúveis e caprichosos. A grande cessão era o Deus de Israel. Ele é fiel na sua natureza e nas suas ações. A palavra hebraica (AMEN), "verdadeiramente, é derivada de uma das mais notáveis descrições do caráter de Deus, que reflete a sua certeza e fidedignidade. O senhor comprova a sua fidelidade ao cumprir as suas promessas (Dt 7.9;Js 23.14 e Sl 89.2) 2.2 BONDADE Deus é bom. A bondade de Deus é o atributo em razão do qual ele concede a vida e outras bênçãos as suas criaturas (Sl 25.8;Mt 5.45). Tudo quanto Deus criou originalmente era bom, era uma extensão da sua própria natureza (Gn 1.4,10,12,18,21,25,31) . Ele continua sendo bom para sua criação, ao sustenta-la, para o bem de todas as suas criaturas. Deus cuida até dos ímpios (Mt 5.45). Deus é bom principalmente para os seus, que o invocam em verdade (Sl 145.18-20). 2.3 SANTIDADE Deus é santo (Êx 15.11;Js 24.19;Is 6.3;I Pe 1.15,16 e Ap 15.3). A santidade de Deus significa a sua absoluta pureza moral; Elenão pode pecar nem tolerar o pecado. O sentido original da palavra santo é separado. Deus está separado do homem no espaço - Ele esta no céu , o homem na Terra ; separa do homem quanto a natureza e caráter - Ele é perfeito, o homem é imperfeito; Ele é divino, o homem é humano; Ele é moralmente perfeito, o homem é pecaminoso. Somente Deus é santo em si mesmo , o povo, os edifícios e os objetos são descritos como santos porque Deus os fez santos e os tem santificado. Os homens santificam a Deus quando o honram e o reverenciam como divino (Nm 20.12 e Lv 10.3) . Quando o desonram, pela violação de seus mandamentos se diz que profanam seu nome. (Mt 6.9) 2.4 JUSTIÇA Deus é justo. Justiça é santidade em ação, a santidade de Deus é manifestada no tratar retamente com suas criaturas. A justiça é obediência a uma norma reta. Deus manifesta este atributo quando livra o inocente, condena o ímpio, quando perdoa o penitente (Sl 51.14), quando julga e castiga seu povo (Is 8.17), quando da vitória a causa dos seus servos fieis (Is 50.4-9). Deus não somente trata justamente como também requer justiça. Quando o homem peca Deus graciosamente justifica o penitente (Rm 4.5). 2.5 VERACIDADE "Deus não é homem para que minta" (Nm 23.19). Deus é perfeitamente fiel as suas promessas e aos seus mandamentos (Sl 33.4). Sua integridade moral é sua característica pessoal permanente (Sl 119.160). A veracidade estável e permanente do senhor é o meio através do qual somos santificados, porque a verdade proclamada tornou-se a verdade encarnada (Jo 1.14). Tudo quanto Deus nos revelou é a mais absoluta verdade. Tudo quanto ele fez até agora, no que se fere ao cumprimento de suas promessas, é a garantia definitiva de que ele cumprira tudo o que prometeu (Jo 14.6;T1.1). 2.6 AMOR Deus é amor. O amor é o atributo de Deus em razão do qual ele deseja relação pessoal com aqueles que possuem a sua imagem e, mui especialmente, com aqueles que foram santificados em caráter, feitos semelhantes a ele. O amor de Deus é altruísta pois abraça ao mundo inteiro, composto de humanidade pecadora (Jo 3.16;Rm 5.8). A manifestação principal desse seu amor foi a de enviar seu único filho, Jesus para morrer em lugar dos pecadores (I Jo 4.9,10). Alem disso, Deus tem amor paternal especial a aqueles que estão reconciliados com ele por meio de Jesus (Jo 16.27). 2.7 MISERICÓRDIA Deus é misericordioso. "A misericórdia de Deus é a divina bondade em ação com respeito as misérias de suas criaturas, bondade que se comove a favor deles, provendo o seu alivio, e , no caso de pecadores impenitentes, demonstrando paciência longânima" (Tt 3.5;Lm 3.22;Is 49.13). Experimentar a misericórdia de Deus significa ser preservado do castigo a que se faz jus. Deus é o juíz supremo que detém o poder para determinar, em última analise, a punição a quem merece. Quando ele nos perdoa do pecado e a culpa, experimentamos a sua misericórdia. A misericórdia de Deus manifestou-se de maneira eloqüente ao enviar Cristo ao mundo (Lc 1.78). 2.8 SABEDORIA A sabedoria (Hb. Hochnah) reúne o conhecimento da verdade com a experiência do cotidiano. A sabedoria como conhecimento pode capacitar a pessoa a encher sua mente com uma enorme quantidade de fatos, mas sem qualquer entendimento do seu significado ou aplicação. A verdadeira sabedoria porém orienta. O conhecimento que Deus possuí da-lhe o discernimento de tudo quanto existe e o que poderá a vir existir. Tendo em vista o fato que Deus existe por si mesmo seus conhecimentos estão além de nossa simples imaginação; são ilimitados (Sl 147.5). Ele aplica com sabedoria o seu conhecimento. Todas as obras das suas mãos são feitas pela sua grande sabedoria (Sl 104.24), e assim Ele tirar e colocar reis, mudar o tempo e as estações, conforme lhe parecer bem (Dn 2.21) Muito se pode dizer de um ser tão grande como Deus. Compreender a Deus em sua plenitude seria tão difícil como colocar o Oceano num copo, mas Ele tem revelado a si mesmo o suficiente para esgotar a nossa capacidade. Depois de estudarmos os atributos de Deus, entendemos que Ele existe por si mesmo, pois não depende de nenhuma fonte originária para existir. Seu próprio nome Yahweh, declara: "Ele é e continuará sendo". Deus não depende de ninguém para aconselhá-lo ou para ensiná-lo. Ele não necessitou de outro ser para ajudá-lo na criação e na providência. Agora que sabemos um pouco mais sobre a grandeza de Deus, resta-nós louvá-lo, agradecê-lo e nos momentos difíceis acreditarmos que Ele está cuidando de nós. DECRETO DE DEUS Por “Decreto de Deus” entendemos a luz da Escritura Sagrada que Deus determinou soberanamente, desde toda a eternidade, tudo quanto há de suceder, e executa a Sua soberana vontade em Sua criação toda, natural e espiritual, de conformidade com o Seu plano predeterminado. Isso está em plena harmonia com Paulo, quando ele diz que Deus “faz todas as cousas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11). Por essa razão. É simplesmente natural que, ao passar da discussão do Ser de Deus para a das obras de Deus, deve-se começar com um estudo dos decretos divinos. Este é o único método teológico apropriado. Uma discussão teológica das obras de Deus deve ter seu ponto de partida em Deus, tanto na obra de criação como na de redenção ou de recriação. É somente como provenientes de Deus e com Ele relacionadas que as obras de Deus são submetidas a consideração como parte da teologia. Nomes Bíblicos para os Decretos Divinos. Das obras puramente divinas de Deus (opera ad intra) devemos distinguir as que redundam diretamente nas criaturas (opera ad extra). Para evitarem mal-entendidos, alguns teólogos preferem falar em opera immanentia e opera exeuntia, e subdividem a primeira categoria em duas classes, opera immanentia per se, que são as opera personalia (geração, filiação, espiração), e as opera immanentia donec exeunt, que são as opera essentialia, isto é, as obras do Deus triúno, em distinção das obras de qualquer das pessoas da Divindade, mas imanentes em Deus até se concretizarem nas obras da criação, da providencia e da redenção. Os decretos divinos constituem esta classe de obras divinas. Não são descritas abstratamente na Escritura, mas são colocadas diante de nós em sua concretização histórica. A Escritura emprega diversos termos para o eterno decreto de Deus. 1. TERMOS DO VELHO TESTAMENTO. Há alguns termos que acentuam o elemento intelectual do decreto, como ’etsah, de ’ya’ats, aconselhar, dar aviso, Jó 38.2; Is 14.26; 46.11; sod, de yasad, sentar-se junto para deliberação (nifal), Jr 23.18, 22; e mezimmah, de zamam, meditar, ter em mente, propor-se a, Jr 4.28; 51.12; Pv 30.32. Além destes, há termos que salientam o elemento volitivo, como chaphets, inclinação, vontade, beneplácito, Is 53.10; e ratson, agradar, deleitar-se, e, assim, denotar deleite, beneplácito, ou vontade soberana, Sl 51.19; Is 49.8. 2. TERMOS DO NOVO TESTAMENTO. O Novo Testamento também contem certo número de vocábulos significativos. A palavra mais geral é boule, que designa o decreto em geral, indicando também o fato de que o propósito de Deus se baseia num conselho e deliberação, At 2.23; 4.28; Hb 6.17. Outra palavra um tanto geral é thelema que, quando aplicada ao conselho de Deus, dá ênfase ao elemento volitivo, e não ao elemento deliberativo, Ef 1.11. O vocábulo eudokia acentua mais particularmente a liberdade do propósito de Deus, e o prazer de que vem acompanhada, embora nem sempre esta idéia esteja presente, Mt 11.26; Lc 2.14; Ef 1.5, 9. Outras palavras são empregadas mais especificamente para designar aquela parte do decreto divino que pertence num sentido muito especial às criaturas morais de Deus, e é conhecida como predestinação. Estes termos serão considerados em conexãocom a discussão desse assunto. A Natureza dos Decretos Divinos. Pode-se definir o decreto de Deus, com o Breve Catecismo de Westminster, como “o Seu eterno propósito, segundo o conselho da Sua vontade, pelo qual, para a Sua própria glória, Ele predestinou tudo o que acontece”. 1. O DECRETO DIVINO É SOMENTE UM. Apesar de muitas vezes falarmos dos decretos de Deus no plural, em sua própria natureza o decreto é somente um único ato de Deus. Já o segure o fato de que a Bíblia fala dele como prothesis, um propósito ou conselho. Isto se segue também da natureza mesma de Deus. O Seu conhecimento é de todo imediato e simultâneo, e não sucessivo como o nosso, e a Sua compreensão desse conhecimento é sempre completa. E o decreto que nele se funda é também um ato absolutamente compreensivo e simultâneo. Como decreto eterno e imutável não poderia ser doutro modo. Não existe, pois, uma série de decretos de Deus, mas somente um plano compreensivo, que abrange tudo o que se passa. Contudo, a nossa compreensão limitada força-nos a fazer distinções, e isto explica por que muitas vezes falamos dos decretos de Deus no plural. Esta maneira de falar é perfeitamente legítima, desde que não percamos de vista a unidade do decreto divino, e da inseparável ligação entre os vários decretos como os concebemos. 2. A RELAÇÃO DO DECRETO COM O CONHECIMENTO DE DEUS. O decreto de Deus tem a mais estreita relação com o conhecimento divino.Há em Deus,como vimos, um conhecimento necessário, que inclui todas as causas e resultados possíveis. Este conhecimento fornece o material para o decreto; é a fonte perfeita da qual Deus extraiu os pensamentos que Ele desejava objetivar. Deste conhecimento de todas as coisas possíveis, Ele escolheu, por um ato da Sua vontade perfeita, levado por sábias considerações, o que desejava levar à realização, e assim formulou o Seu propósito eterno. O decreto de Deus é, por sua vez, o fundamento do Seu livre conhecimento, ou scientia libera. É o conhecimento das coisas conforme se realizam no curso da história. Enquanto que o conhecimento necessário de Deus precede logicamente ao decreto, o Seu conhecimento livre segue-se logicamente a ele. Deve-se sustentar isto contra todos os que crêem numa predestinação condicional (como os semipelagianos e os arminianos), desde que eles tornam as predeterminações de Deus dependentes da Sua presciência. Algumas das palavras utilizadas para denotar o decreto divino indicam um elemento de deliberação do propósito de Deus. Seria um erro inferir disto, porém, que o plano de Deus resulta de alguma deliberação que implica falta de perspicácia ou hesitação, pois é simplesmente uma indicação do fato de que não há decreto cego de Deus, mas somente propósito inteligente e deliberado. 3. O DECRETO SE RELACIONA TANTO COM DEUS COMO COM O HOMEM. O decreto se refere primeiramente às obras de Deus. Limita-se, porém, às opera ad extra de Deus, ou a Seus atos transitivos, e não pertence ao Ser essencial de Deus, nem às atividades imanentes dentro do Ser Divino que resultam nas distinções trinitárias. Deus não decretou ser santo e justo, nem existir como três pessoas numa essência, nem gerar o Filho. Estas coisas são como são necessariamente, e não dependem da vontade optativa de Deus. Aquilo que é essencial ao Ser interno de Deus não pode fazer parte do conteúdo do decreto. Este inclui somente as opera ad extra ou exeuntia. Mas, conquanto o decreto pertença primariamente aos atos realizados pessoalmente por Deus, não se limita a estes, mas abrange também as ações das Suas criaturas livres. E o fato de estarem incluídas no decreto as torna absolutamente certas, conquanto não sejam efetuadas todas da mesma maneira. No caso de algumas coisas, Deus decidiu, não meramente que viessem a acontecer, mas que Ele as faria acontecer, quer imediatamente, como na obra da criação, quer por intermédio de causas secundárias, continuadamente vitalizadas e fortalecidas pelo Seu poder. Ele mesmo assume a responsabilidade da realização delas. Há, porém, outras coisas que Deus inclui no Seu decreto e pelo qual tornou certas, mas que não decidiu efetuar pessoalmente, como os atos pecaminosos das Suas criaturas racionais. O decreto, no que se refere a estes atos, é geralmente denominado decreto permissivo. Este nome não implica que a futurição destes atos não é certa para Deus, mas simplesmente que Ele permite que aconteçam pela livre ação das Suas criaturas racionais. Deus não assume a responsabilidade por estes atos, sejam quais forem. 4. O DECRETO PARA AGIR NÃO É O ATO PROPRIAMENTE DITO. Os decretos são uma manifestação e um exercício internos dos atributos divinos que se tornam certa a futurição das coisas, mas não se deve confundir este exercício da inteligente volição de Deus com a realização dos seus objetivos na criação, na providência e na redenção. O decreto para criar não é a criação mesma, nem o decreto para justificar é a justificação propriamente dita. Deve- se fazer uma distinção entre o decreto e a sua execução. Ordenar Deus de tal modo o universo, que o homem seguirá certo curso de ação, também,é uma coisa bem diferente de ordenar-lhe Ele que aja desse modo. Os decretos não são dirigidos ao homem, e não são da natureza de uma lei estatutária; tampouco impõem compulsão ou obrigação às vontades dos homens. As Características do Decreto Divino. 1. TEM SEU FUNDAMENTO NA SABEDORIA DIVINA. A palavra “conselho”, um dos termos com os quais é designado o decreto, sugere cuidadosa consulta e deliberação. Pode conter a sugestão de uma intercomunhão entre as três pessoas da Divindade. Falando da revelação que Deus fez do mistério anteriormente oculto nele, Paulo declara que foi assim “para que, pela igreja,a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida agora dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus nosso Senhor”, Ef 3.10, 11. Também se depreende a sabedoria do decreto da sabedoria demonstrada na realização do propósito eterno de Deus. O poeta canta no Sl 104.24, “Que variedade, Senhor, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste”. A mesma idéia é expressa em Pv 3.19, “O Senhor com sabedoria fundou a terra, com inteligência estabeleceu os céus”. Cf. também Jr 10.12; 51.15. A sabedoria do conselho do Senhor também pode ser inferida do fato de que ele dura para sempre, Sl 33.11; Pv. 19.21. No decreto pode haver muita coisa que ultrapasse o entendimento e que seja inexplicável para a mente finita, mas não contem nada que seja irracional ou arbitrário. Deus compôs a Sua determinação com sábio discernimento e conhecimento. 2. É ETERNO. O decreto divino é eterno no sentido de que esta internamente na eternidade. Num certo sentido, pode-se dizer que todos os atos de Deus são eternos, desde que não há sucessão de momentos no Ser divino. Mas alguns deles terminam no tempo, como, por exemplo, a criação e a justificação. Daí, não podemos chamar-lhes atos eternos de Deus, mas, sim, temporais. Contudo, embora o decreto se relacione com coisas externas a Deus, continua sendo em si mesmo um ato dentro do ser Divino e portanto, é eterno no sentido mais estrito da palavra. Daí, ele participa também da simultaneidade e da ausência de sucessão do eterno, At 15.18; Ef 1.4; 2 Tm 1.9. A eternidade do decreto implica também que a ordem em que se acham os diferentes elementos, uns para com os outros, não pode ser considerada temporal, mas somente lógica. Há uma ordem realmente cronológica nos eventos quando efetuados, não porem no decreto concernente a eles. 3. É EFICAZ. Não significa que Deus determinou fazer que acontecessem, por uma direta aplicação do Seu poder, todas as coisas incluídas em Seu decreto, mas somente que aquilo que Ele decretou certamente sucedera; que nada pode frustrar o Seu propósito. Diz o dr.A. A. Hodge: “O decreto providencia em cada caso que o evento será efetuado por causas que agirão de maneira perfeitamente coerente com a natureza do evento em questão. Assim, no caso de todo ato livre de um agente moral, o decreto provê ao mesmo tempo – (a) Que o agente seria um agente livre. (b) Que os seus antecedentes e todos os antecedentes do ato em questão seriam o que são. (c) Que todas as presentes condições do ato seriam o que são. (d) Que o ato seria perfeitamente espontâneo e livre, da parte do agente. (e) Que certamente seria um ato futuro. Sl 33.11; Pv 19.21; Is 46.10”.1 4. É IMUTÁVEL. O homem pode alterar, e muitas vezes altera os seus planos, por varias razões. Pode acontecer que, ao fazer o seu plano, lhe tenha faltado seriedade quanto ao propósito, que não tenha realizado plenamente o que o plano envolvia, ou que lhe tenha faltado poder para levá-lo a cabo. Mas em Deus coisa nenhuma desse tipo é concebível. Ele não tem deficiência em conhecimento, veracidade e poder. Portanto, não tem necessidade de mudar o Seu decreto devido a algum engano ou à ignorância, nem por falta de capacidade de executa-lo. E não o mudará, porque Ele é o Deus imutável e porque é fiel e verdadeiro. Jó 23.13, 14; Sl 33.11; Is 46.10; Lc 22.22; At 2.23. 5. É INCONDICIONAL OU ABSOLUTO. Quer dizer que o decreto não depende, em nenhuma das suas particularidades, de nada que não esteja nele. A execução do plano pode exigir meios ou depender de certas condições, mas, nesse caso, estes meios ou condições também foram determinados no decreto. Deus não decretou simplesmente salvar os pecadores sem determinar os meios para efetuar o decreto. Os meios conducentes ao fim predeterminado também foram decretados, At 2.23; Ef 2.8; 1 Pe 1.2. O caráter absoluto do decreto segue-se da sua eternidade, sua imutabilidade e sua exclusiva 1 Outlines of Theology, p. 203. dependência do beneplácito de Deus. Isto é negado por todos os semipelagianos e arminianos. 6. É UNIVERSAL OU TOTALMENTE ABRANGENTE. O decreto inclui tudo que se passa no mundo, quer na esfera do físico ou na do moral, quer seja bom ou mau, Ef 1.11. Ele inclui: (a) as boas ações dos homens, Ef 2.10; (b) seus atos iníquos, Pv 16.4; At 2.23; 4.27, 28; (c) eventos contingentes, Gn 45.8; 50.20; Pv 16.33; (d) os meios bem como o respectivo fim, Sl 119.89-91; 2 Ts 2.13; Ef 1.4; (e) a duração da vida do homem. Jó 14.5; Sl 39.4, e o lugar da sua habitação, At 17.26. 7. COM REFERÊNCIA AO PECADO, O DECRETO É PERMISSIVO. É costume dizer que o decreto de Deus, no respeitante ao mal moral, é permissivo. Por Seu decreto, Deus tornou as ações pecaminosas do homem infalivelmente certas de acontecerem, sem decidir efetuá-las agindo imediatamente sobre a vontade finita e nela. Quer dizer que Deus não opera positivamente no homem “tanto o querer como o realizar”, quando o homem vai contra a Sua vontade revelada. Deve-se observar cuidadosamente, porem, que este decreto permissivo não implica uma permissão passiva de algo que não está sob o controle da vontade divina. É um decreto que garante com absoluta certeza a realização do ato pecaminoso futuro, em que Deus determina (a) não impedir a autodeterminação pecaminosa da vontade finita; e (b) regular e controlar o resultado dessa autodeterminação pecaminosa. Sl 78.29; 106.15; At 14.16; 17.30. Objeções à Doutrina dos Decretos. Como foi dito acima, somente a teologia reformada (calvinista) faz plena justiça à doutrina dos decretos. Em regra, os teólogos luteranos não a elaboram teologicamente, mas, sim, soteriologicamente, com o propósito de mostrar como os crentes podem auferir consolação dela. Os pelagianos e os socinianos a rejeitam, alegando que é antibíblica; os semipelagianos e os arminianos não mostram para com ela quase nenhum favor: uns a ignoram totalmente; outros a expõem somente para combatê-la; e ainda outros defendem apenas um decreto condicionado pela presciência de Deus. As objeções levantadas são, no essencial, sempre as mesmas. 1. É INCOERENTE COM A LIBERDADE MORAL DO HOMEM. O homem é um agente livre, com capacidade de autodeterminação racional. Ele pode refletir sobre uma inteligente escolha de certos fins, e também pode determinar sua ação com respeito a eles.2 Contudo, o decreto leva necessidade consigo. Deus decretou realizar todas as coisas, ou, se não as decretou, ao menos determinou que isso viesse a acontecer. Ele decidiu qual o curso da vida do homem por meio disso. Em resposta a esta objeção, pode-se dizer que a Bíblia certamente não parte da suposição de que o decreto divino é incoerente com a livre ação de homem. Ela revela claramente que Deus decretou os atos livres do homem, mas também que os seus fatores não são menos livres e, portanto, responsáveis por seus atos, Gn 50.19, 20; At 2.23; 4.27, 28. Foi determinado que os judeus levassem a efeito a crucificação de Jesus; todavia, foram perfeitamente livres em seu procedimento, e foram responsabilizados por este crime. Não há nem uma só indicação na Escritura de que os escritores vêem alguma contradição quanto a esses pontos. Eles jamais procuram harmonizar ambos. Isto bem poderia levar-nos a conter-nos, não supondo uma contradição aqui, mesmo que não consigamos conciliar as duas verdades. Além disso, deve-se em mente que Deus não decretou realizar por Sua ação pessoal e direta o que quer que venha a acontecer. O decreto divino só dá certeza aos eventos, mas não implica que Deus os realizará ativamente, de modo que a questão se reduz a isto: se a certeza prévia se coaduna com a livre ação. Ora, a experiência nos ensina que podemos estar razoavelmente certos quanto ao curso de ação que alguém que conhecemos seguira, sem infringir em nada a sua liberdade. O profeta Jeremias predisse que os caldeus tomariam Jerusalém. Para ele, o evento por vir era uma certeza e, contudo, os caldeus seguiram livremente os seus desejos ao cumprirem a predição. Essa certeza é, na verdade, incoerente com a liberdade da indiferença, no conceito pelagiano, segundo o qual a vontade do homem não é determinada de modo 2 Cf. Watson, Theological Institutes, Part II, Chap. XXVIII; Miley, Systematic Theology, II, p.271 s. algum, mas é inteiramente indeterminada, de sorte que, em cada volição, ela pode decidir, não somente face a toda indução externa, mas também a todos os desejos, inclinações, julgamentos e considerações internos, e mesmo a todo o caráter e estado interior do homem. Mas agora se reconhece em geral que tal liberdade da vontade é uma ficção psicológica. Todavia, o decreto não é necessariamente incoerente com a liberdade humana no sentido de autodeterminação racional, segundo a qual o homem age livremente em harmonia com os seus pensamentos e julgamentos anteriores, suas inclinações e desejos, e com todo o seu caráter. Esta liberdade também tem suas leis, e quanto mais familiarizados estivermos com elas, mais seguros poderemos estar do que um agente livre fará em certas circunstâncias. Foi Deus que estabeleceu essas leis. Naturalmente, devemos precaver-nos contra todo determinismo - materialista, panteísta e racionalista – em nossa concepção da liberdade no sentido de autodeterminação racional. O decreto não é mais incoerente com a livre ação que a presciência e, contudo, os seus oponentes, que geralmente são dos tipos semipelagiano e arminiano, professam a fé na presciência divina. Por Sua presciência Deus conhece desde toda a eternidade a futurição certa de todos os eventos. Ela está baseada em Sua predeterminação, pela qual Deus determinou a certeza futura deles. Naturalmente, o arminiano dirá que não acredita numa presciência baseada num decreto que torna certas todas as coisas, mas numa presciência de fatos e eventos contingentes, que dependem do livre arbítrio do homem e, portanto, são indeterminados. Pois bem, tal presciência das livresações do homem é possível, se o homem, mesmo com a sua liberdade, age em harmonia com as leis divinamente estabelecidas, o que de novo introduz o elemento de certeza; mas, ao que parece, é impossível conhecer antecipadamente eventos que dependem por completo da decisão casual de uma vontade alheia a principio que podem em qualquer ocasião, independentemente do estado de espírito, das condições existentes, e dos motivos que se apresentam à mente, seguir diferentes direções. Eventos dessa natureza só podem ser conhecidos previamente como puras possibilidades. 2. O DECRETO ELIMINA TODOS OS MOTIVOS PARA ESFORÇO. Esta objeção tem que ver com aquelas pessoas que dizem com naturalidade que, se todas as coisas têm que acontecer como Deus as determinou, elas não necessitam preocupar-se com o futuro e não precisam fazer nenhum esforço para obter a salvação. Mas isso não está certo. No caso das pessoas que falam desse modo, geralmente a coisa não passa de mera desculpa para indolência e desobediência. Os decretos divinos não são dirigidos aos homens como uma regra de ação, e não podem constituir uma regra assim, visto que o conteúdo deles só se torna conhecido pela sua concretização, e depois desta. Há, porem, uma regra de ação incorporada na Lei e no Evangelho, e essa regra dá aos homens a obrigação de empregar os meios que Deus ordenou. Esta objeção também ignora a relação lógica, determinada pelo decreto de Deus, entre os meios e o fim a ser obtido. O decreto inclui não somente os diversos fatos da vida humana, mas também as livres ações humanas, logicamente anteriores aos resultados e destinadas a produzi-los. Era absolutamente certo que os que estavam no navio com Paulo (At 27) seriam salvos,mas era igualmente certo que, para assegurar este fim, os marinheiros tinham que permanecer a bordo. E desde que o decreto estabeleceu uma interrelação entre os meios e os fins, os fins são decretados somente como resultados dos meios, o decreto incentiva esforço, em vez de desestimula-lo. A firme crença no fato de que, segundo o decreto divino, o sucesso será a recompensa do labor, estimula esforços corajosos e perseverantes. Com base direta no decreto, a Escritura nos concita a utilizar diligentemente os meios designados, Fp 2.13; Ef 2.10. 3. O DECRETO FAZ DE DEUS O AUTOR DO PECADO. Esta, se fosse verdadeira, seria naturalmente uma objeção insuperável, pois Deus não pode ser o autor do pecado. Isto se infere igualmente na Escritura, Sl 92.15; Ec 7.29; Tg 1.13; 1 Jo 1.5, da lei de Deus que proíbe todo pecado, e da santidade de Deus. Mas a acusação não é verdadeira; o decreto simplesmente faz de Deus o Autor de seres morais livres, eles próprios os autores do pecado. Deus decreta sustentar a livre agencia deles, regular as circunstâncias da sua vida, e permitir que a livre agencia seja exercida numa multidão de atos, dos quais alguns são pecaminosos. Por boas e santas razões, Ele dá certeza ao acontecimento desses atos, mas não decreta acionar efetivamente esses maus desejos ou más escolhas no homem. O decreto concernente ao pecado não é um decreto efetivo mas permissivo, ou seja, um decreto para permitir o pecado, em distinção de um decreto para produzir o pecado sendo Deus a sua causa eficiente. Não há dificuldade ligada ao decreto que não se ligue a uma simples permissão passiva daquilo que Ele poderia muito bem impedir, como os arminianos, que geralmente levantam essa objeção, supõem. O problema da relação de Deus com o pecado continua sendo um mistério para nos, mistério que não somos capazes de resolver. Pode-se dizer, porem, que o Seu decreto para permitir o pecado, embora as segure a entrada do pecado no mundo, não significa que Ele tem prazer nele; significa somente que Ele considerou sábio, com o propósito da Sua auto-revelação, permitir o mal moral, por mais detestável que seja à Sua natureza. APOSTILA ORGANIZADA PELO PROF. ELCIAS MARTINS, A PARTIR DA COLEÇÀO DE TEXTOS DOS SEGUINTES AUTORES: 1. GRUDEM, Wayne – Teologia Sistemática, Editora Vida Nova, 1999 2. ERICKSON, Millard J. – Introdução a Teologia Sistemática, Editora Vida Nova, 1997 3. CAMPOS, Heber Carlos de, - O Ser de Deus e s Seus Atributos, Editora Cultura Cristã, 1999 4. MYATT, Alan; Franklin Ferreira, Teologia Sistemática, Editora Vida Nova, 2000 5. BERKHOF, Lous. Teologia Sistemática, Luz Pra o Caminho. São Paulo. 1990. 6. SANTOS, Maria José, Apostila de Doutrina de Deus, STPN Extensão Caruaru 7. CAMARA, Tiago Arruda, Apostila de Doutrina de Deus, STPN Extensão Caruaru 8. http://www.monergismo.com/textos/apologetica/o-ser- Deus_hoeksema.pdf, Acessado em Agosto de 2011 9. http://odiscipuloeomestre.sites.uol.com.br/atributosdedeus.htm, Acessado em Agosto de 2011-08-26 http://www.monergismo.com/textos/apologetica/o-ser-Deus_hoeksema.pdf http://www.monergismo.com/textos/apologetica/o-ser-Deus_hoeksema.pdf http://odiscipuloeomestre.sites.uol.com.br/atributosdedeus.htm DOUTRINA DE DEUS ANOTAÇOES _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________