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17/03/24, 14:38 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/17
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS
FÍSICOS
AULA 2
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Prof.ª Milene Dutra da Silva
CONVERSA INICIAL
O MECANICISMO COMO BASE FUNDAMENTAL DA FÍSICA
O objetivo geral desta etapa é reconhecer o mecanicismo como prerrogativa da física com seus
sucessos e fracassos. O estabelecimento dele como base para explicação dos fenômenos se deu
gradativamente e ao longo de um período no qual a física ficou reconhecida como uma ciência sólida
e capaz de solucionar problemas.
Assim, lembrando que temos como fio condutor os elementos da epistemologia e da história da
ciência, vamos explorar cinco temas. No primeiro, acompanharemos aspectos que fizeram parte da
construção da teoria cinética dos gases; especial atenção será dada ao papel do físico Ludwig
Boltzmann nesse processo. Para melhor compreensão do contexto cultural, abordaremos inicialmente
o rico período conhecido como Iluminismo, visto que compreender a filosofia e os ideais iluministas é
primordial para entendermos os motivos do crescimento no interesse científico que permeou a
segunda metade do século XVIII.
No segundo tópico, buscaremos eventos históricos que contribuíram para ratificar o sucesso do
mecanicismo, retomando algumas ideias próprias da teoria atomista de Dalton. Sabemos que a física
clássica teve as bases abaladas no início do século XX por conta dos artigos publicados por Einstein.
Essas publicações continham ideias novas que exigiram uma mudança de paradigma na Física.
Nesse período, houve um cisma entre os cientistas que aderiram à nova teoria e outros que
permaneceram sem adotá-la. Esse é o assunto do terceiro tema, no qual refletiremos sobre a
participação de Paul Langevin, um dos físicos que trabalhou na divulgação científica em defesa da
teoria da relatividade.
No quarto tópico, discutiremos aspectos epistemológicos relacionados com as manifestações da
luz, especialmente o período em que havia a teoria corpuscular e ondulatória em divergência. Para
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finalizar, retomaremos as ideias contidas em alguns experimentos que foram determinantes, como o
da dupla fenda de Young, capaz de fechar uma polêmica longa sobre a natureza corpuscular ou
ondulatória da luz.
Esperamos que os recortes no tempo e os autores selecionados contribuam para que sua
perspectiva da história da ciência se alargue e possibilitem reflexões duradouras e aprofundadas.
TEMA 1 – TEORIA CINÉTICA DOS GASES: O GÁS IDEAL E A
DISTRIBUIÇÃO DE MAXWELL-BOLTZMANN
Este tópico está dividido em três partes. Inicialmente contextualizamos o ambiente sociocultural
do século XVIII. Essa etapa é necessária, uma vez que entendemos que a ciência não cresce por conta
de ideias inovadoras que nascem do nada na cabeça de indivíduos privilegiados, e sim de acordo com
o contexto no qual esses atores estão inseridos. Depois retomamos a temática principal da teoria
cinética dos gases, que teve entre outros grandes cientistas a participação do excepcional físico
teórico L. Boltzmann, foco da parte final do tema.
Seja bem-vindo e desfrute a empolgante história da ciência!
1.1 UM MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO
O século XVIII foi palco de intensas transformações sociais, culturais e econômicas que trouxeram
consequências de várias ordens, incluindo a aceleração de inovações e descobertas na ciência e na
tecnologia.
Saiba mais
Lembre-se de que a tecnologia envolve tudo o que é produzido pelo homem para estender
sua força e para lhe trazer conforto, praticidade e alcance. Isso abrange desde as primeiras
ferramentas de pedra, móveis e utensílios até os equipamentos eletrônicos.
O suporte filosófico que possibilitou que tudo isso acontecesse foi o movimento conhecido por
Iluminismo. Entretanto, o marco inicial foi a Revolução Francesa (1789), cujos ideais eram igualdade,
liberdade e fraternidade (Blainey, 2008, p. 259). Ela ocorreu na França, mas também influenciou outros
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países, especialmente a Inglaterra. Até então, todos os indivíduos eram como reféns de seu
nascimento: se nasciam plebeus, jamais seriam nobres, e se nasciam em determinada família, suas
condições de vida estavam determinadas nos aspectos de trabalho, bens, religião, casamento etc.
A população francesa estava oprimida pela nobreza e por parte da igreja, que também defendia
os direitos e o poder dos nobres. A revolução aconteceu para dar um basta a essa situação e colocar
o homem como centro da própria vida, dando-lhe direitos sobre a posse de bens e dos recursos
advindos de seu trabalho.
O Iluminismo tem essa conotação de “iluminar”, no sentido de “sair das trevas” da opressão e
indicar que os sujeitos sejam donos do seu destino. É lógico que na realidade as coisas não se deram
com essa objetividade que resumimos aqui, mas salientamos que essas transformações sociais,
somadas à Revolução Industrial, foram determinantes para as mudanças no mundo do trabalho.
Sociedades eminentemente rurais e confinadas a pequenas regiões começaram a enfrentar a
produção de bens e serviços para a qual não estavam preparadas. Os meios de produção, que eram
artesanais, foram substituídos por conta do aumento das necessidades (de calçados, roupas,
ferramentas), e assim foram surgindo as primeiras oficinas, carvoarias e lojas. Essa realidade fez
nascerem a produção industrial e uma classe que aos poucos enriqueceu com seu trabalho e o de
seus empregados. Era o estabelecimento da burguesia (Blainey, 2008, p. 260).
Maiores quantidades de produtos exigem escoamento da produção, transporte e comércio. Foi
desse contexto que o interesse pelo vapor, pelas máquinas e posteriormente pela eletricidade se
alimentou.
Essa transformação social teve repercussão em todas as dimensões da cultura: na literatura, na
ciência e nas artes. Joseph Wright, nascido em Derby (Inglaterra), foi um pintor que retratou com
maestria o novo interesse pelas ciências e as novas condições de produção de bens. Na Figura 1,
podemos observar o trabalho intitulado “A forja de ferro” produzido por ele.
Figura 1 – Óleo sobre tela “A forja de ferro”, de Joseph Wright
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Crédito: Wright, 1772.
1.2 O INTERESSE PELO COMPORTAMENTO DOS GASES
Um dos descobrimentos mais importantes foi o do vapor como força motriz, uma fonte de
energia capaz de superar homens e animais que logo foi utilizada como meio de transporte. A
máquina a vapor representou uma das realizações mais transformadoras do século XVIII, pois
possibilitou o transporte de cargas e pessoas que antes ficavam isoladas em suas cidades de origem.
Saiba mais
Você sabe a diferença entre invenção e descoberta? Invenção é algo novo, criado com base
em conhecimentos anteriormente não utilizados. Já a descoberta é algo feito com base em
conhecimentos disponíveis, apenas rearranjados de forma a possibilitar a construção desse
“objeto novo”.
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O exemplo da máquina a vapor demonstra a relação direta entre o contexto social e o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Não é que a ciência não caminhe desatrelada da
realidade social, mas é que é muito mais raro que isso aconteça. O motivo é que o progresso dela se
dá com base em recursos (materiais, humanos, de tempo e de interesses), e são necessárias as
condições (políticas, culturais, sociológicas) para que o conhecimento avance.
Assim, é lógico pensar que a termodinâmica foi um foco de interesse que moveu importantes
cientistas em busca de entender o comportamento dos gases. A historiadora da ciência Maria J.
Aragão (2006, p. 43-44) aponta que no século XVIII existiam duas teorias que explicavam o calor:
a teoria do calórico (o calor quasecomo um fluido capaz de passar de um corpo a outro);
a teoria que explicava o calor com base no movimento das partes constituintes da matéria.
Em princípio, elas combinavam com a realidade observada, e foi com Rumford (1753-1814) que a
teoria do calórico começou a perder força. Rumford observou cavalos girando e fazendo girar uma
peça metálica, e com esse movimento surgia o calor que aquecia a água do equipamento. O olhar de
qualidade e a capacidade de dedução de Rumford o fizeram pensar que seria impossível o calor “fluir”
por si de um corpo para o outro sem que houvesse um movimento envolvido no processo (Aragão,
2006, p. 44).
Outras contribuições foram decisivas para que a teoria do calórico fosse substituída, como a de L.
S. Carnot (o trabalho pode ser convertido em calor, e vice-versa), a de J. R. von Mayer (primeira lei da
termodinâmica) e a de J. P. Joule. Em 1843, Joule “deduziu pela primeira vez o valor equivalente
mecânico da unidade de calor e estabeleceu a lei que tem seu nome, Lei de Joule” (Aragão, 2006, p.
46), conforme ilustrado na Figura 2.
Figura 2 – Unidade joule no Sistema Internacional de Unidades
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Créditos: Drawhunter/Shutterstock.
1.3 O GRANDE BOLTZMANN E SUAS CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS
Vimos anteriormente que a construção da ciência acontece coletivamente e que é reflexo de
condições materiais e sociais. Isso não significa que não se valorizem os grandes personagens, e, no
caso da física, um homem que marcou a história foi Ludwig Boltzmann (1844-1906). Suas
contribuições foram valiosas para o campo da física teórica, para a teoria cinética dos gases e para a
articulação entre a física e a filosofia (Aragão, 2006, p. 48). Além da imensa dedicação e capacidade de
abstração, ele dominava uma matemática “pesada” e foi quem originou a cadeira de Física Teórica na
formação inicial dos físicos.
Articulado com as grandes questões da física de seu tempo, Boltzmann foi influenciado pelos
trabalhos de Maxwell, com quem se correspondia, e também por Charles Darwin, que mudou o
paradigma vigente na biologia e na própria concepção de ser humano daquele período (Videira,
2013, p. 373).
São questões profundas com dimensões epistemológicas e filosóficas que dialogavam com a
visão plural e integrada de ciência de Boltzmann. Ele entendia a importância de se integrar nas
discussões de seu tempo, alargando o diálogo entre as teorias anteriores e as novas proposições. Foi
um defensor da ideia de “modelo” na ciência, especialmente na física, como um instrumento mental
necessário para se estabelecerem conceitos (Videira, 2013, p. 373).
A aceitação da ideia de “modelo” implica assumir que a ciência descreve um fenômeno
idealizado e, para isso, se utiliza da linguagem matemática e dos teoremas, sendo assim uma
representação da realidade complexa (Videira, 2013, p. 374).
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O físico foi ainda um defensor da divulgação científica, entendendo que o esforço por uma
linguagem acessível era condição essencial para o progresso da ciência.
TEMA 2 – EVIDÊNCIAS EXPERIMENTAIS DAS DISTRIBUIÇÕES
MOLECULARES
Na segunda metade do século XVIII e na primeira parte do século XIX, a ciência estava
fortemente marcada pela investigação experimental, e nesse período a teoria atômica era uma
questão aberta. De acordo com a historiadora Maria da Conceição Oki (2009, p. 1072), ao refletirmos
sobre uma teoria científica precisamos nos atentar para variados fatores, tais como:
a forma como um problema surge na cabeça do cientista e os caminhos que ele pressupõe
como geradores de possíveis soluções (ciência privada);
a forma como as ideias são justificadas, caminho que se reflete na aceitação ou não de uma
teoria pela comunidade científica (o que a autora denomina ciência pública).
A pesquisadora também chama nossa atenção para os elementos não científicos, mas que
interferem nas controvérsias e questões que envolvem a aceitação de uma teoria ou descoberta, tais
como:
o relacionamento interpessoal do pesquisador com a comunidade científica;
fatores psicológicos (do indivíduo) e fatores sociológicos (da comunidade);
recursos materiais e tecnológicos;
contexto geográfico e cultural.
Na teoria atômica de Dalton, que assumimos como recorte e que exemplifica toda essa
complexidade, esses foram elementos que pesaram, ora a favor (por exemplo, com Rumford), ora
contra (por exemplo, com Dumas) para o desenvolvimento e aceitação da teoria atomista.
A seguir, veremos que a teoria da relatividade sofreu o mesmo processo de avaliação entre pares,
sendo assumida por alguns e rejeitada por outros.
TEMA 3 – O COMEÇO DA QUEDA: MOVIMENTO ALEATÓRIO E AS
CONTRIBUIÇÕES DE EINSTEIN E LANGEVIN
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A teoria da relatividade foi um marco na ciência e na cultura e parte da história do mundo,
independentemente de estarmos falando de ciência ou não. Isso demonstra a relevância que fatores
acientíficos de interferência têm na aceitação de uma teoria.
No início do século XX, o mundo passou pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o que
modificou a organização sociopolítica da Europa. Era um mundo cujo equilíbrio estava abalado, e o
ambiente da ciência como produto cultural de sua época refletia esse contexto.
Quando publicada, a teoria da relatividade abalou a estrutura da física que, até então, gozava das
prerrogativas de uma ciência consolidada, pois era capaz de resolver problemas e gerar soluções. A
divulgação do relativismo chacoalhou as ideias deterministas newtonianas aceitas havia mais de dois
séculos. De acordo com tais ideias, dados como velocidade, tempo, localização no espaço e massa
eram suficientes para determinar o comportamento de um corpo. A relatividade destruiu essa certeza,
pois ideias dessa magnitude implicam questões epistemológicas e filosóficas e levam tempo para ser
interpretadas. Mais do que isso, são fundadas em bases teórica e matemática, rompendo os limites da
investigação experimental tão valorizada até o século XIX.
Einstein sustentou sua teoria ao publicar cinco artigos que transformaram o ambiente científico
do século XX e deram margem para o nascimento da mecânica relativística.
3.1 AS CONTRIBUIÇÕES DE PAUL LANGEVIN
Apesar de o nome de Albert Einstein ser até hoje lembrado como o principal cientista do século –
ao lado de outros como H. Poincaré, Niels Bohr e Max Planck com a mecânica quântica –, é perfeito
afirmar que outros participaram dessa reforma científica. Paul Langevin foi um físico francês
contemporâneo a Einstein que assumiu a teoria da relatividade e trabalhou pela sua divulgação e
aceitação. Ele também se dedicou à reforma educacional francesa (reforma Langevin-Wallon),
debatendo sobre o espaço da educação científica na formação dos jovens franceses para
compreensão e interpretação do mundo à sua volta (Cestari Junior, 2020, p. 3).
Langevin foi editor da revista La Pensée, que publicava artigos de relevância na formação cultural
dos cidadãos franceses, instrumento de comunicação que usou para divulgar e explicar a teoria da
relatividade para o público em geral (Cestari Junior, 2020, p. 3).
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O esforço por uma divulgação científica de qualidade da teoria da relatividade chamado
Campanha Relativística envolveu vários meios de comunicação, como:
palestras em ambientes formais e não formais;
publicação de artigos na revista La Pensée e em outras;
discursos reproduzidos por radiofusão e imprensa (Cestari Junior, 2020, p. 44).
O interesse pela ciência em todas as suas dimensões fez com que Langevin propusesse uma
organização da cultura científica que tinha quatro diferentes dimensões, todas da mesma importância:
cultura gerada pela ciência;
cultura por meio da ciência;
cultura voltada à produção da ciência;
cultura voltada à socializaçãoda ciência (Cestari Junior, 2020, p. 45).
Uma de suas preocupações era a qualidade dos manuais escolares utilizados para se ensinar
física, que, na sua crítica, eram pouco interessantes e dogmáticos. Ele defendeu o uso da história da
ciência no ensino como forma de se vivenciar uma ciência mais viva, com dificuldades, incertezas e
questionamentos, e não apenas com respostas.
Langevin também foi parceiro da cientista Marie Curie numa cooperativa de ensino liderada por
ela. Sua trajetória foi marcada pelo compromisso social, pela coerência entre discurso e ação e pelo
reconhecimento do papel do cientista como agente a favor de uma educação científica de qualidade
e contra o dogmatismo na ciência.
TEMA 4 – A NATUREZA DA LUZ DISCRETA OU CONTÍNUA
Uma das polêmicas que mais perduraram na física foi a que envolveu a natureza da luz. Dessa
história fizeram parte grandes nomes como Galileu, Descartes e Isaac Newton e até Young e Fresnel.
Durante esse longo período, a forma de se fazer ciência também mudou, e foram alguns
experimentos específicos que se mostraram determinantes para que a divergência acabasse.
Hooke (1635-1703), no século XVII, foi um pesquisador que afirmava que a luz era composta por
pulsações de pequenas partículas que vibravam na mesma velocidade (Aragão, 2006, p. 88). Ele era
um dos defendiam a teoria corpuscular da luz. Com o tempo e com os questionamentos acerca da
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natureza da luz perdurando, outras explicações eram dadas, inclusive por Isaac Newton, que estava
entre os que defendiam tal teoria.
No entanto, ela não explicava com exatidão, por exemplo, o fenômeno da refração da luz ao
passar por um prisma, havendo a separação da luz branca em cores. Por se tratar de um corpo, seria
necessário um meio de propagação, e a resposta para essa “incompletude” da teoria era dada pela
existência de um éter, um meio incolor, homogêneo e inodoro que não seria percebido pelos
instrumentos disponíveis. A resposta não satisfazia aos que entendiam ser a luz um fenômeno
ondulatório.
Ao apresentar esses assuntos em sala de aula, o professor demonstra que os grandes
personagens da ciência tinham suas dúvidas e propunham soluções baseados em seus
conhecimentos, observação da natureza e investigação experimental. Ao ensinar uma ciência que não
tem apenas respostas, o docente abre espaço para questionamentos e curiosidades. Por exemplo, a
refração da luz pode ser observada fora do ambiente de laboratório, com experimentos simples ou
mesmo acompanhando fenômenos climáticos. Essa natureza de atividade aproxima o cotidiano da
sala de aula e beneficia a relação conteúdo-aluno-aprendizagem.
TEMA 5 – A POLÊMICA ENTRE NEWTON E HUYGENS E OS
EXPERIMENTOS DE YOUNG E FRESNEL
Sendo a aceitação entre os pares um dos critérios de validação de uma teoria, é lógico
pensarmos que, dependendo de quem assume uma ideia, esta será mais ou menos facilmente
confiável. No caso da polêmica que envolveu a natureza da luz, o nome de Newton pesou a favor da
teoria corpuscular, mas é fundamental que entendamos esse aspecto como uma disputa científica
pela melhor explicação ou pelo melhor modelo, e não como uma simples disputa de autoridade.
Huygens foi quem levantou argumentos que tendiam para a teoria ondulatória. Em geral, essa
parte da história da óptica é mal explorada nos livros didáticos de física, que se detêm aos conceitos,
sem explicar seu contexto de produção. O assunto foi bem discutido por Araújo e Silva (2009) em
artigo no qual apresentam trechos traduzidos do texto original de Cristhian Huygens, o Traité de la
Lumiére, de 1690.
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Segundo os autores, no Capítulo 1 de seu tratado, Huygens “vincula o trabalho à tradição
geométrica desenvolvida no Renascimento”:
Como acontece em todas as ciências nas quais a geometria é aplicada à matéria, as demonstrações
relativas à Óptica são fundamentadas sobre verdades tiradas da experiência – tais como a de que os
raios de luz se propagam em linha reta; que os ângulos de reflexão e de incidência são iguais; e que
nas refrações o raio se desvia de acordo com a regra dos senos (agora tão conhecida) e que não é
menos certa do que as precedentes. (Araújo; Silva, 2009, p. 325)
Justificando que os efeitos naturais acontecem por razões mecânicas, Huygens (1986, p. 12,
citado por Araújo; Silva, 2009, p. 325) assume a teoria ondulatória fazendo uma “analogia com as
ondas sonoras no ar”.
Sabemos que, por meio do ar, que é um corpo invisível e impalpável, o som se propaga em torno
do lugar onde foi produzido, por um movimento que passa sucessivamente de uma parte do ar a
outra. A propagação desse movimento se faz com igual velocidade para todos os lados e devem se
formar como superfícies esféricas que crescem sempre e que chegam a atingir nossas orelhas. Ora,
não há dúvida de que a luz não venha do corpo luminoso até nós por algum movimento impresso à
matéria que está entre os dois – pois já vimos que isso não pode ocorrer pelo transporte de um
corpo que passe de um até o outro.
Em defesa de sua teoria, Huygens passa a exemplificar de forma muito consistente e a retomar a
ideia de éter vigente à época, diferenciando as ondas luminosas das ondas sonoras. Acompanhe a
explicação que resume partes de sua teoria:
Quanto ao movimento, enquanto as ondas sonoras seriam produzidas pelo tremor de um corpo
inteiro, ou de uma parte considerável dele, que agita todo o ar à sua volta; a luz, ao contrário, deve
nascer do movimento de cada ponto do objeto luminoso, para que se possam perceber todas as
diferentes partes desse objeto. Os pontos da superfície do corpo comunicariam essa agitação aos
corpúsculos do éter que os envolvem. (Araújo; Silva, 2009, p. 326)
Ele ainda retoma as ideias de Boyle e de Torricelli para elaborar questionamentos relacionados ao
vácuo (Figura 3) e ao comportamento da luz em diferentes circunstâncias.
Essa matéria que serve à propagação da luz a partir dos corpos luminosos, ou seja, o éter, não pode
ser o ar que sentimos e respiramos, pois, quando o ar é extraído de um local, o éter permanece. Isso
pode ser demonstrado encerrando-se um corpo sonoro em um recipiente de vidro e retirando-se o
ar por meio da bomba de vácuo inventada por Boyle. Ao retirar o ar, o som deixa de ser ouvido, mas
a luz não deixa de atravessar o vidro, tal como antes. Da mesma forma, na experiência de Torricelli,
ao inverter o tubo de vidro na cuba com o mercúrio, surge o vácuo na extremidade fechada do
tubo, mas a luz continua a atravessar a porção evacuada. Isso prova que uma matéria diferente do
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ar deve atravessar o vidro, sabendo-se que tanto o mercúrio quanto o vidro são impenetráveis ao ar.
(Araújo; Silva, 2009, p. 326-327)
O texto de Huygens é muito rico, e somente a ele poderíamos dedicar um capítulo, mas os
recortes aqui selecionados nos permitem identificar que a argumentação foi baseada nas teorias
passadas e vigentes, na investigação empírica e experimental, na dedução lógica e na abstração
curiosa e criativa do cientista.
Figura 3 – Óleo sobre tela “Um experimento com um pássaro numa bomba de ar”, de Joseph Wright
Crédito: Wright, 1768.
Certamente a publicação do Traité de la Lumiére possibilitou o aprofundamento das questões
que permaneciam como divergência entre os físicos que pesquisavam a natureza e o comportamento
da luz.
Entretanto foi com o médico inglês Thomas Young (1773-1829), no século XIX, que algumas
respostas foram alcançadas. Ao dedicar-se a compreender o funcionamento do olho humano, Young,
que também é considerado um grande físico, fez pesquisas que culminaram no experimento da dupla
fenda, no qual o fenômeno da interferência demonstra a natureza ondulatória da luz.
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Um físico cuja contribuiçãofoi fundamental para as questões da luz, especialmente no que diz
respeito à existência do éter, foi A. Fresnel, que viveu apenas 39 anos e deixou um legado de
conhecimento científico que só com a teoria da relatividade pôde ser de fato explicado. Ele trabalhou
sobre a hipótese do éter considerando o mecanicismo clássico e chegou a conclusões que eram
inexplicáveis para a época.
O físico e historiador da ciência Maurício Pietrocola (1993, p. 170) nos ensina que:
Fresnel confrontou-se com um problema impossível de resolver dentro da concepção científica de
sua época. As incoerências que sua hipótese apresentava eram fruto dessa impossibilidade [...] é
admirável o fato que Fresnel tenha resolvido (parcialmente) um problema que somente a chegada
da relatividade permitiria tratar logicamente. Era preciso que ele tivesse capacidades excepcionais
para obter conclusões tão brilhantes e tão ricas de perspectivas por vias tão suspeitas. A grande
ciência transcende a lógica.
À época, Fresnel chegou a conclusões que chamou de “arrastamento do éter” sem deixar que
esse fator diminuísse sua dedicação a uma ideia que poderia ter sido deixada de lado se não
acreditasse que a ciência é um campo de conhecimento dinâmico, que questiona mais do que
responde.
O que causa mais estranheza é o fato da hipótese do éter arrastado que dá origem a fórmula de
Fresnel já nascer refutada, visto as incoerências de ordem mecânica, conhecidas mesmo por seu
autor. Mesmo assim, este prefere não dar importância a este fato, atendo-se à fórmula que lhe
parecia boa e sugerindo que a mesma poderia vir a ser justificada futuramente. Neste evento a
“intuição física” de Fresnel parece ter falado mais alto, preservando o efeito em detrimento da causa
Fresnel tinha razão, pois o eletromagnetismo num primeiro momento, e a Relatividade mais tarde
realizaram esta tarefa, mostrando os fundamentos teóricos de tal fórmula. (Pietrocola, 1993, p. 170-
171)
Com essa declaração, concluímos essa etapa. Estamos certos de que foram postos exemplos e
questões que demonstram que a ciência é muito mais criativa e apaixonante do que querem mostrar
os nossos manuais escolares, como já apontado por Langevin no começo do século passado.
NA PRÁTICA
Estabeleceu-se 2005 como o Ano Internacional da Física, e no mundo todo houve
comemorações, eventos, exposições e palestras. Dentre os muitos discursos, um foi feito na Biblioteca
Pública de Braga, em Portugal, pelo professor L. Chainho Pereira. Na oportunidade, ele homenageou
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Einstein como homem do mundo, não apenas cientista, mas pacifista, humanista e poeta. O discurso
rendeu o artigo “Einstein visto pela poesia”, disponível em: <https://revistas.uminho.pt/index.php/foru
m/article/view/2074/2242>. Acesso em: 30 ago. 2022.
O idioma natural de Einstein era o alemão, e a poesia que segue foi escrita por ele, dedicada a
Newton e traduzida para o inglês por Alice Calaprice (2005). Convidamos você para se divertir e fazer
uma tradução livre desse trecho:
Watch the stars, and from them learn,
To the Master's honor all must turn,
each in its track, without a sound,
forever tracing Newton's ground.
FINALIZANDO
O século XVIII sofreu intensas transformações sociais, políticas, culturais e econômicas por conta
da Revolução Francesa e posteriormente da Revolução Industrial.
O Iluminismo foi o movimento com base histórico-filosófica para que as transformações sociais
ocorressem.
O interesse pelos temas científicos nasceu do contexto social e cultural predominante em cada
lugar e momento, como aconteceu, por exemplo, com a máquina a vapor.
Boltzmann foi um grande físico que contribuiu com a teoria cinética dos gases, com a
articulação entre filosofia e física e com o surgimento do campo da física teórica.
Boltzmann foi autor do verbete “Modelo” na Enciclopédia Britânica e defendeu a ideia de
modelo na física, entendendo a ciência como forma de descrição idealizada dos fenômenos da
natureza.
A teoria da relatividade de Einstein foi uma mudança de paradigma na física. Dentre os
cientistas que assumiram sua defesa, estava Paul Langevin, físico que participou da Campanha
Relativística e se dedicou à produção da ciência, à divulgação da cultura científica e ao ensino.
A natureza da luz foi alvo de muitas pesquisas que divergiam em torno do modelo corpuscular
ou ondulatório. Huygens publicou o Traité de la Lumiére, no qual defendeu o modelo
ondulatório.
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17/03/24, 14:38 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/17
A experiência da dupla fenda feita por Young foi capaz de demonstrar que a luz apresentava o
fenômeno de interferência próprio do comportamento ondulatório.
Os trabalhos de Fresnel foram fundamentais para a teoria de Young e, à frente de seu tempo,
demonstraram a inconsistência da ideia de éter.
A ciência é uma atividade humana coletiva, dinâmica, criativa e questionadora.
REFERÊNCIAS
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ARAÚJO, S. M.; SILVA, F. W. O. A Teoria Ondulatória de Huygens em livros didáticos para cursos
superiores. Ciência & Educação, v. 15, n. 2, p. 323-341, 2009. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/ciedu/a/HhNQmjJ9gQj8VrjLHHpCt8Q/?format=pdf&lang=pt>. Acesso em:
29 ago. 2022.
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(Doutorado em História da Ciência) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2020.
OKI, M. C. M. Controvérsias sobre o atomismo no século XIX. Química Nova, v. 32, n. 4, p. 1072-
1082, 2009.
PEREIRA, L. C. Einstein visto pela poesia. Forum, n. 37, p. 91-114, jan./jun. 2005. Disponível em:
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PIETROCOLA, M. O. Fresnel e o arrastamento parcial do éter: a influência do movimento da Terra
sobre a propagação da luz. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 10, n. 2, p. 157-172, ago. 1993.
VIDEIRA, A. A. P. Modelo: a noção de síntese das concepções filosóficas de Boltzmann. Scientiae
Studia, v. 11, n. 2, p. 373-380, 2013.
WRIGHT, J. A forja de ferro. 1772. 1 óleo sobre tela; color. Museu e Galeria de Derby/CC-PD,
Derby.
_____. Um experimento com um pássaro numa bomba de ar. 1768. 1 óleo sobre tela; color.
Museu e Galeria de Derby/CC-PD, Derby.
17/03/24, 14:38 UNINTER
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