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PROJETO DE 
ARQUITETURA E 
URBANISMO III
Anna Carolina Manfroi Galinatti
Análise do contexto urbano: 
estudo de quadra e entorno
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer as características das diferentes zonas urbanas.
 � Justificar a escolha de uma quadra para a implantação de uma de-
terminada edificação.
 � Avaliar o impacto da escolha de um terreno para o entorno.
Introdução
Uma cidade é composta por inúmeros elementos, animados e inanimados. 
As pessoas, as ruas, os espaços abertos e os espaços fechados compõem 
uma peça cuja harmonia é essencial para o funcionamento do cotidiano. 
Atualmente há uma tendência, fortemente defendida pelos urbanistas, 
de miscigenação de uso dos espaços. Apesar de estarem divididos em 
zonas — demarcações virtuais criadas pelos governos — a cidade e suas 
porções menores, os bairros, possuem uma heterogeneidade de usos. 
Dentro de bairros considerados residenciais, encontram-se regiões onde 
o comércio aparece de maneira mais pronunciada. Da mesma forma, em 
bairros centrais, onde o fluxo de pessoas normalmente é maior, também 
é possível identificar zonas residenciais.
Os projetos arquitetônicos de edificações, quaisquer sejam seu ta-
manho e uso, devem ser pautados pelo local de inserção. A escolha do 
terreno e o estudo do impacto do projeto sobre ele e sobre o entorno 
imediato são, talvez, o passo mais importante na implementação de um 
projeto. A relação projeto–terreno deve ser de colaboração.
Neste capítulo você estudará diferentes zonas da cidade, analisando as 
características plásticas e funcionais de cada uma delas. Você aprenderá a 
analisar o terreno e seu entorno imediato, antes e depois da implantação 
de um projeto, sempre buscando melhorar a qualidade do espaço urbano.
Zonas urbanas: identificação e análise
O conceito de uma cidade zoneada, as zonas urbanas, é uma herança do 
movimento moderno. Usando-se das mesmas diretrizes racionalistas, o urba-
nismo moderno, referenciado na Carta de Atenas (1933), descreve uma cidade 
dividida de acordo com suas funções. Este conceito é facilmente identificado 
no Plano Piloto de Brasília (BRAGA, 2010), onde os setores são divididos em 
monumental, residencial, gregário e bucólico.
É importante destacar que tal conceito permanece impregnado nos con-
ceitos urbanísticos até hoje, mesmo sofrendo diversas críticas, como as de 
Jane Jacobs (2000), que defende não a unificação de usos dentro de uma 
mesma região, diferenciando-a através de seu uso, e sim regiões autossus-
tentáveis, com um ecossistema que englobe os vários usos da sociedade de 
maneira simultânea.
O Congresso Internacional da Arquitetura Moderna (CIAM) (na sigla em francês) 
foi um congresso realizado na Europa em 1928 e 1959 para discutir o movimento 
moderno na arquitetura, no urbanismo e no design. Foi responsável pela difusão e 
popularização dos ideais modernos capitaneados por arquitetos como Le Corbusier, 
Sigfried Giedion e Walter Gropius.
Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno2
O zoneamento do território urbano é um instrumento de fragmentação 
virtual da cidade. Através dele, são criadas áreas cujas normas e leis de uso 
e ocupação do solo são diferentes entre si. Na grande maioria das cidades, 
essa divisão faz parte de um documento mais amplo, o Plano Diretor, que 
incorpora, além do zoneamento, outras estratégias de condução do desenvol-
vimento urbano.
Os principais objetivos do zoneamento urbano são:
 � reduzir conflitos de uso e atividades, impedindo a coexistência de 
usos conflitantes;
 � determinar atividades cabíveis à cada região;
 � controlar o crescimento urbano: deve ser compatível com a infraestrutura 
instalada e a capacidade de suporte do meio ambiente;
 � proteger áreas de preservação ambiental e áreas que possam oferecer 
riscos à ocupação;
 � controlar o tráfego, alocando equipamentos com maior potencial de 
adensamento em determinadas regiões da cidade.
O uso do solo e a forma (tamanho, altura, recuos, aproveitamento) são os 
dois principais elementos controlados pelo zoneamento, que normalmente 
se apresenta na forma de um mapa ilustrado com cores e siglas. Confira um 
exemplo de mapa de zonas na Figura 1.
Leitores do material impresso, para visualizar as figuras 
deste capítulo em cores, acessem o link ou o código QR 
a seguir.
https://qrgo.page.link/fgPnZ
3Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno
Figura 1. Exemplo de mapa de zonas: trecho do mapa de zoneamento da cidade de São Paulo.
Fonte: São Paulo (2016, documento on-line).
É importante ressaltar que o mapa de zonas é uma simplificação da rea-
lidade. As zonas são consideradas homogêneas, apesar de, na prática, não o 
serem. Essa simplificação faz-se necessária para que o tecido urbano não fique 
demasiadamente recortado e seja possível trabalhar. As normas incidentes 
sobre cada região representam um diálogo sobre o que existe e o que pode 
vir a existir.
Usos e atividades principais
As zonas são identificadas por siglas. Cada zona pode incorporar uma ou 
mais características de uso. Por exemplo: uma mesma zona pode abrigar uso 
residencial e possuir comércio de pequeno porte, sem que seja permitida a 
instalação de equipamentos industriais. 
De maneira geral, os principais usos e atividades categorizados são:
 � residencial: residências unifamiliares, casas, prédios, condomínios;
 � comercial: lojas, supermercados, livrarias;
 � industrial: fábricas de pequeno e grande porte;
 � institucional: instituições públicas;
 � cultural: cinemas, museus, teatros, casas de shows;
 � parque natural: parques, praças;
 � educacional: escolas e universidades.
Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno4
No que diz respeito à inserção de projetos de arquitetura e equipamentos 
urbanos dentro de uma cidade, as atividades existentes em uma zona tornam-se 
parâmetros de escolha de lote e de decisões de projeto. Cada uso e atividade 
traz consigo uma série de características, inerentes ao seu funcionamento, 
que influenciam no comportamento do entorno. Além disso, o zoneamento 
de atividades carrega consigo questões econômicas relacionadas ao mercado 
imobiliário.
Nas cidades dinâmicas, o preço e a acessibilidade de cada terreno são me-
canismos naturais de zoneamento de atividades. Altos valores imobiliários 
e ruas estreitas, por exemplo, impedem a implementação de atividades que 
exigem uso intensivo de área e acessibilidade a redes logísticas, como grandes 
centros de distribuição e atividades industriais intensivas (LING, 2017, p. 30).
Assim, a setorização das cidades recebe influência de diferentes esferas 
da sociedade, e a exerce da mesma forma. Embora importantes, as questões 
políticas e econômicas não serão o foco deste estudo, que será direcionado ao 
relacionamento da quadra e do terreno com o contexto urbano.
As atividades exercidas em uma edificação geram interferências em seu 
entorno imediato. A poluição, sonora e do ar, e as alterações de fluxo, de 
pedestres e de veículos, são consequências comuns a muitas atividades. Casas 
noturnas e bares podem causar distúrbios sonoros; teatros e museus, por serem 
equipamentos de grande porte e acumuladores de grande público, podem 
causar intensos congestionamentos; casas de show, por sua vez, podem causar 
tanto distúrbios sonoros quanto aumento do tráfego. É por esse motivo que a 
análise do entorno e das zonas da cidade exerce papel fundamental quando 
da implantação de uma nova edificação.
Em áreas predominantemente residenciais, o fluxo de veículos normal-
mente é menor e feito por vias locais, de baixa velocidade. O deslocamento e 
as atividades do cotidiano dos indivíduos são favorecidos pelas calçadas mais 
generosas, mais arborizadas e mais bem equipadas com mobiliário urbano. 
Nessas zonas, comércio e serviços costumam aparecer em formas compactas, 
como mercados de bairro, postos de saúde e pequenas escolas. 
Shopping centers, grandes redes de supermercadose hospitais se apropriam 
de zonas da cidade cujo acesso, através de transporte público ou privado, é 
facilitado. A proximidade com grandes avenidas e vias de fluxo intenso é 
observada na grande maioria dos casos. Nas áreas com grandes equipamentos 
e zonas industriais, a interface das edificações com a via pública não é priori-
5Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno
dade; as ruas são mais largas, para passagem de veículos grandes e pesados, 
e as calçadas, mais estreitas.
Além dos aspectos funcionais que podem ser observados pelo impacto 
das atividades na cidade, cada uso carrega consigo uma contribuição mais 
subjetiva ao entorno: o usuário. Uma região da cidade que concentre diversas 
casas noturnas pode ser encontrada vazia durante o dia, enquanto que à noite 
poder estar lotada de pessoas a caminhar pelas calçadas e conversar em frente 
aos estabelecimentos. Uma rua onde o comércio predomina, por sua vez, 
tem seu pico de público em horário comercial, ficando vazia à noite. O fator 
usuário é importante não só para a animação e movimentação das regiões, 
mas também para a segurança.
O conceito de zoneamento mais restrito, defendido pelo urbanismo, carrega 
consequências pesadas para o funcionamento das cidades. Levada ao extremo, 
a setorização de cidades ou bairros tende a criar vazios de baixa densidade 
demográfica, sem a necessária provisão de comércios e serviços para atender 
a esses bairros, que dependem de bairros adjacentes.
Assim, apesar de existir forte demanda por esses serviços, as legislações 
municipais não permitem a instalação de atividades comerciais. Os bairros, 
então, tornam-se monofuncionais, com ruas vazias, inseguras e que incentivam 
o uso desenfreado do automóvel para acesso às necessidades mais básicas, 
como uma ida à padaria ou à farmácia (LING, 2017, p. 29).
Tal visão sobre a segurança é compartilhada pela escritora e jornalista 
Jane Jacobs, autora de um dos grandes livros de urbanismo mundial, Morte e 
Vida de Grandes Cidades (2000), as pessoas são os olhos da rua. Jacobs (2000) 
afirma ser de suma importância que as ruas e calçadas tenham indivíduos 
transitando ininterruptamente ao longo do dia, em diferentes horários, de forma 
a aumentar o número de olhos atentos e induzir os usuários dos edifícios a 
observar o movimento da rua.
Forma e ocupação edílica
As limitações de forma e ocupação impostas pelo Plano Diretor para cada 
zona da cidade acabam definindo a paisagem, as vistas e a volumetria de 
cada região. De certa forma associada ao uso e atividade, a ocupação do lote 
confere atributos plásticos ao entorno.
Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno6
Dentre os principais critérios de construção que variam entre as zonas, 
podemos destacar os listados a seguir.
 � Índice de aproveitamento de cada lote, que representa a área máxima 
possível de ser construída. Ele é obtido multiplicando-se um coeficiente 
(que também muda conforme a zona) pela área do terreno.
 � Recuos laterais, frontal e de fundos: dizem respeito ao afastamento 
mínimo que as edificações devem ter das divisas do terreno com os 
outros lotes e com a rua.
 � Taxa de ocupação, que representa a proporção entre a projeção da 
construção e o tamanho do lote, ou seja, a porcentagem do terreno 
sobre a qual há edificação.
 � Altura máxima da construção ou número máximo de pavimentos. A 
altura máxima é medida do ponto mais alto da edificação até a cota do 
nível de referência preestabelecida.
 � Taxa de permeabilidade, que diz respeito à área do terreno que deve 
ser permeável à água, livre de qualquer edificação.
O papel do arquiteto, ao estudar as condições impostas para o uso de um 
lote, vai muito além de atender às exigências das leis e normas. É fundamental 
que haja uma compreensão do entorno como um todo, observando o padrão 
de comportamento das edificações vizinhas e projetando uma edificação que 
conviva em harmonia com as demais.
A variedade de edificações dentro de uma quadra confere a ela determi-
nadas características estéticas e funcionais. Uma quadra com maior hete-
rogeneidade de usos possui aspecto mais irregular. Tipologias comerciais, 
de lazer e serviço normalmente fazem interface com ruas mais estreitas e 
calçadas mais largas, favorecendo o pedestre. Quadras destinadas a usos 
industriais possuem maior homogeneidade visual e, normalmente, fazem 
divisa com ruas menos agradáveis, cuja área de circulação de veículos é 
muito maior que a de pedestres. Áreas institucionais, por sua vez, podem 
apresentar edificações formalmente distintas, de grande porte, e grandes 
áreas para aglomeração de pessoas.
7Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno
As definições de Plano Diretor não são consenso absoluto na literatura. No entanto, 
um dos conceitos mais difundidos atribui a ele o papel de orientador das ações de 
intervenção sobre a cidade. Essas ações são concretas e aplicáveis a indivíduos, ao 
setor público, a empresas ou a outro tipo de agente qualquer.
Plano diretor é um documento que sintetiza e torna explícitos os obje-
tivos consensuados para o Município e estabelece princípios, diretrizes 
e normas a serem utilizadas como base para que as decisões dos atores 
envolvidos no processo de desenvolvimento urbano convirjam, tanto 
quanto possível, na direção desses objetivos (SABOYA, 2007, p. 39).
Conforme o Estatuto da Cidade, Lei nº. 10.257, de 10 de julho de 2001 (BRASIL, 
2001), cada cidade com mais de 20 mil habitantes deve ter seu Plano Diretor. Nele, são 
listadas as regras e normas julgadas pertinentes ao desenvolvimento urbano. São elas 
que direcionam as iniciativas de intervenção urbana, de modo que as ações tenham 
objetivos em comum. 
Quadra: como fazer a melhor escolha?
Uma vez esgotada a análise do entorno dos pontos de vista físico, de sensações 
e de legislação, chega o momento de diminuir o grão do estudo e concentrar 
esforços na escolha de uma quadra para intervenção. Para tal escolha, mais 
importante que os aspectos legislativos, uma vez que esses serão os mesmos 
para todas as quadras dentro de uma zona, são os aspectos físicos do local. 
A facilidade de acesso, a proximidade com outros equipamentos que possam 
dar suporte à nova edificação, a topografia, a vegetação local e a morfologia 
da quadra são pontos a serem observados. Deve-se observar o espaço de 
maneira global, verificando se há suporte ao pedestre e a todas as formas não 
motorizadas de transporte. Ruas e calçadas não devem ser somente vias de 
tráfego, mas também espaços de estar (LING, 2017).
O arquiteto precisa se colocar no papel de futuro usuário da edificação e 
se fazer as perguntas elencadas a seguir.
 � Como é o acesso de veículos a essa quadra?
 � Como funciona o transporte público na região? É possível acessá-la 
facilmente?
 � Se há necessidade de estacionamento, as ruas adjacentes permitem?
Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno8
 � Qual a altura das edificações vizinhas? Se a nova construção utilizar 
o máximo dos índices construtivos permitidos por lei, ela ainda estará 
em harmonia visual com os vizinhos?
 � A quadra escolhida, dentro da zona, é a de melhor conexão com as 
demais regiões?
 � O que acontece nas quadras imediatamente ao lado? Qual o caráter 
do entorno?
 � Qual a dimensão da quadra? Qual a relação dela com o espaço aberto?
 � Quem vai frequentar meu projeto? Quais facilidades o usuário precisa 
ter?
Dentro de uma mesma zona, as subdivisões (bairros e quadras) podem ter 
características muito diferentes entre si.
Nas zonas consideradas de uso misto não há predominância de um único tipo de 
ocupação. São regiões que comportam uma pluralidade de atividades, convivendo, 
na maior parte do tempo, harmoniosamente. Nelas, é possível encontrar ruas calmas 
com moradias, edifícios com mais de cinco andares de moradia, edificações de uso 
misto (com térreo comercial e andares residenciais), grandes edifícios de escritórios, 
hospitais, núcleos de restaurantes, núcleosde casas noturnas e mais uma infinidade 
de atividades.
Mesmo com toda variedade edílica que pode ser encontrada nessas regiões, as 
quadras, que são grãos menores das zonas, podem ter bastante variação. Imagine 
que em uma zona de uso misto encontra-se um grande hospital da rede pública. 
Ele ocupa uma porção de terreno significativa, uma quadra inteira. Na frente dele, há 
edificações de uso misto, com comércio no térreo, que servem de apoio ao público 
do hospital. Em seu entorno imediato, observam-se vias de fluxo intenso e grande 
concentração de pessoas.
A 5 km de distância dessa mesma quadra, é possível encontrar outra, de mesmas 
dimensões, mas que comporta diversas moradias, casas e prédios de até quatro andares. 
Enquanto a primeira era inteiramente ocupada por um único tipo de edificação, cujo 
caráter influencia diretamente no entorno, a última comporta um grande número de 
lotes e caracteriza-se como um local de menor movimento, de vias mais lentas e de 
aspectos formais diferentes, mais próximos à escala humana. 
Embora contidas em uma mesma zona, onde incidem as mesmas normas e regras 
de uso, ocupação e forma, as quadras e seus entornos imediatos têm personalidades 
muito diferentes entre si. 
9Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno
Considerando, então, que cada quadra possui suas peculiaridades, são 
fatores a serem analisados, quando da escolha de um local, os listados a seguir.
 � Localização da quadra: se a posição, em relação à zona, for mais cen-
tralizada, seu entorno imediato (conformado pelas quadras adjacentes) 
será constituído por edificações que obedecem às mesmas normas e 
regras. Já uma quadra localizada nos limites de uma zona pode fazer 
fronteira com um entorno completamente diferente, se a zona vizinha 
tiver outro caráter. Zonas de fronteira entre usos únicos e de grande 
proporção podem ser complicadas. Segundo Jacobs (2000), o encontro 
de usos muito distintos origina fronteiras, nas quais criam-se lugares 
potencialmente decadentes.
 � Atividades do entorno imediato: uma quadra cujo entorno é composto, 
quase exclusivamente, de residências, possivelmente manterá seu uso 
também como residencial. Isso significa que essa quadra herdará as 
peculiaridades de funcionamento de suas vizinhas. Já uma quadra cujo 
entorno é predominantemente composto de grandes edifícios comerciais, 
herdará desse suas características de funcionamento, como fluxo intenso 
de transeuntes, por exemplo. Edificações construídas em uma quadra 
que faça fronteira com um parque da cidade certamente terão como vista 
uma bela paisagem natural. Como contrapartida, a movimentação de 
pessoas na região, em determinados dias e horários, pode ser intensa.
 � Acessos: algumas quadras são conformadas por vias pequenas, de 
velocidade baixa, em ambas testadas. Outras, abrem uma ou mais de 
suas frentes a grandes avenidas, de velocidade alta. Transportes públicos 
podem atender mais a algumas quadras do que a outras, dependendo 
das suas posições dentro das rotas preestabelecidas.
 � Características físicas e naturais do entorno: é importante observar a 
estrutura do sistema viário local, como a largura e o sentido das vias e 
o tamanho, tipo e condições da pavimentação das calçadas. Também, 
a arborização das ruas e suficiência de mobiliário urbano, bancos e 
postes de iluminação, são dados importantes a se considerar.
 � Morfologia da quadra: o tamanho, o tipo e o formato das quadras 
talvez sejam os elementos com maior variação dentre as cidades que 
conhecemos. Algumas cidades possuem uma malha urbana comple-
tamente regular, com quadras cujas dimensões pouco variam entre si. 
Em outras, o sistema de divisão segue outra ordem de distribuição, 
como um sistema radial, ou, até mesmo, não seguem nenhuma lógica 
de divisão, tornando os espaços, vias e quarteirões, completamente 
Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno10
irregulares. Quadras cujos lados possuem dimensões semelhantes, 
assemelhando-se a quadrados, podem ter uma configuração de lotes 
em sua periferia e um espaço interno, que pode configurar pátios, como 
é o caso da cidade de Barcelona.
 � Quadras muito alongadas, em formato semelhante a um retângulo com-
prido, podem ser interessantes do ponto de vista do loteamento, porém 
podem dificultar a passagem entre vias. No clássico Morte e Vida das 
Grandes Cidades, Jane Jacobs (2000) coloca a necessidade de quadras 
curtas como uma das condições para a diversidade urbana. Segundo a 
autora, quadras muito longas fazem com que os moradores se isolem e 
acabem por não conhecer seus vizinhos. As quadras mais curtas, por 
outro lado, permitem um número maior de caminhos possíveis para 
chegar de um ponto a outro.
Figura 2. Superquadras de Barcelona: o formato configura pátios internos.
Fonte: marchello74/Shutterstock.com.
Para o arquiteto e teórico italiano Aldo Rossi, no clássico "A Arquitetura 
da Cidade" (1995), arquitetura e local formam um par indissociável apesar das 
diferentes interpretações ao longo da história. No mundo clássico, a escolha 
de um lugar — tanto para uma construção como para uma cidade — estava 
11Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno
associada à divindade que o governava, seu “genius loci”, logo tinha caráter 
sagrado. Já na Idade Contemporânea, o teórico francês Viollet-le-Duc se 
esforçava para entender a arquitetura como uma série de operações lógicas 
baseadas em poucos princípios. Ainda assim, reconhecia a dificuldade da 
transposição da obra de arquitetura de um local para outro. Rossi (1995) 
afirma que faz parte da ideia geral da arquitetura justamente o lugar em que 
está situada, como espaço singular e concreto. Arquitetura forma e conforma 
o seu local, constituindo um todo inseparável. Dessa forma, a escolha do lugar 
para arquitetura não deve ser obra do acaso, tampouco deve ser encarada com 
leviandade.
Definição do terreno: impacto no entorno
O estudo do local de implantação de um projeto acontece em diferentes etapas, 
indo da macro à microescala. O que inicia pelo estudo das zonas da cidade e 
passa pela análise das quadras de uma região, culmina na determinação de 
um lote específico dentro de uma quadra.
Nessa etapa, os aspectos legislativos do terreno já devem ter sido estudados. 
Índice de aproveitamento, taxa de ocupação, recuos, entre outros critérios, já 
devem ter sido considerados. No entanto, mesmo estando localizados em um 
mesmo quarteirão, dois terrenos podem ter características físicas diferentes, 
que devem ser analisadas. Além disso, como acontece com elementos maiores, 
cada lote tem seus vizinhos, terrenos imediatamente aos lados e ao fundo, 
que podem ou não já estar edificados. Um terreno vazio pode receber interfe-
rências completamente diferentes dependendo da construção que está ao seu 
lado. Ter como vizinho um prédio de cinco andares com térreo comercial é 
completamente diferente de fazer divisa com uma residência unifamiliar de 
dois andares, tanto do ponto de vista do uso (o fluxo de pessoas é muito maior 
em frente ao prédio) quanto do ponto de vista físico (o prédio projeta uma 
sombra muito maior do que a residência de dois pavimentos).
Da mesma forma como as construções adjacentes podem influenciar o 
projeto de um arquiteto, este, por sua vez, também tem impacto sobre seu 
entorno. A instalação de um determinado tipo de equipamento pode trazer 
mudanças radicais para as vias locais e mudar completamente o fluxo de 
pessoas no local. Mesmo que seja permitido, pelas normas vigentes, a implan-
tação de um determinado tipo de uso no terreno, deve-se avaliar com cautela 
o impacto dessa alteração na paisagem urbana e no cotidiano dos moradores 
e usuários. Uma edificação não existe por si só. Algumas das melhores lições 
Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno12
de arquitetura, segundo Montaner (2009), encontram-se nos espaços criados 
entre os edifícios. 
[…] no desenvolvimento dos conceitos espaciais em arquitetura e urbanismofalamos tão frequentemente em continuidade no espaço. […] as relações 
entre as coisas e seu interior são mais importantes do que as próprias coisas 
(BAKEMA, 1951 apud MONTANER, 2009, p. 31).
Aspectos físicos de um terreno
A análise do terreno e seu entorno é o processo das forças contextuais que 
influenciam na implantação de uma edificação, orientando seus espaços, confi-
gurando articulações e estabelecendo relações com a paisagem (CHING, 2017.)
Entre os principais aspectos físicos que podem ser analisados em um lote, 
destacam-se os elencados a seguir.
 � Topografia: influencia diretamente no custo da construção e na com-
plexidade do projeto. Podem ser:
 ■ planos: terrenos que mantém, da frente aos fundos, praticamente o 
mesmo nível da rua;
 ■ com aclive: lotes cuja parte posterior é mais alta em relação à parte 
anterior;
 ■ com declive: lotes cujo fundo é mais baixo em relação ao nível da 
rua. Para esse tipo de terreno pode ser necessário buscar soluções 
para a saída de esgoto e de águas pluviais.
 � Solo: o tipo de solo entre lotes de uma mesma quadra não costuma sofrer 
tanta variação. Dessa forma, esse aspecto não se torna relevante na 
escolha entre um lote A e um lote B que estejam no mesmo quarteirão. 
No entanto, o tipo de solo sempre deve ser levado em consideração dentro 
de um projeto. Um solo arenoso ou com estrutura fraca demanda um 
projeto de fundações mais caro e mais elaborado, um solo com muita 
umidade pode trazer uma série de problemas não só no momento da 
construção, como durante a vida útil da edificação, e um solo muito 
compactado pode ser de difícil escavação.
 � Orientação solar: é de suma importância a observação da posição que 
o terreno se encontra em relação à trajetória do sol. Nesse aspecto, a 
diferença entre um terreno A e um terreno B, dentro de uma mesma 
quadra, pode ser grande, pois um deles pode ter a sua frente voltada 
para uma direção mais interessante que o outro.
13Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno
 � Posição em relação à quadra: lotes de esquina são vantajosos em re-
lação à iluminação natural e à ventilação; no entanto, a presença de 
duas frentes e, logo, dois recuos frontais obrigatórios, pode diminuir o 
aproveitamento do espaço. 
 � Geometria do terreno: a relação entre largura e profundidade do terreno 
deve ser avaliada tendo-se em mãos os parâmetros legislativos do ter-
reno. Se o lote for muito estreito e os recuos obrigatórios muito grandes, 
o perímetro da construção pode ficar muito limitado, dependendo do 
tipo de edificação que se deseja construir. Certos tipos de construções, 
como edifícios comercias, podem possuir uma volumetria mais estreita 
e alta; equipamentos educacionais, por sua vez, são beneficiados de uma 
área de pavimento mais ampla. Terrenos com muitos recortes exigirão 
um projeto mais setorizado e um tipo de uso que comporte tal divisão. 
 � A largura dos lotes (sua testada) e sua profundidade condicionam os 
tipos edílicos que podem ser implantados e são condicionados por 
elas. O lote estreito corresponde a uma casa em fita ou a um edifício 
de pequena altura (lote gótico); e os lotes maiores permitem as vilas 
e pavilhões, as casas com pátio interno e os edifícios de apartamento 
(PANERAI; CASTEX; DEPAULE, 2013, p. 209).
 � Ainda sobre a dimensão dos lotes, observa-se que terrenos com grande 
testada, porém pouca profundida, demandam investimentos mais ex-
pressivos em infraestrutura (mais canalizações para atender menos 
lotes em uma quadra), enquanto lotes estreitos são atendidos em maior 
número com menos canalização.
Uma vez que há a definição de um lote de intervenção e que esse terreno 
já tenha sido estudado sob os aspectos físicos e legais, inicia-se o momento 
de estudo da pertinência de edificação ao local. Cada uso atribuído ao solo 
traz consigo uma série de alterações às suas interfaces. Se um projeto é de-
masiadamente diferente das edificações que o cercam, tende-se a criar um 
caos visual. Essa desordem pode ser interessante em casos específicos, mas, 
no geral, costuma ser prejudicial para a harmonia da vizinhança.
Em tecidos urbanos mais consolidados e em áreas que já são densamente 
povoadas, o diálogo com as construções próximas é uma abordagem projetual 
muito adequada. São boas práticas de projeto tentar trazer melhorias, objeti-
vas e subjetivas, à vizinhança. Grandes construções vêm junto com grandes 
públicos, usos e demandas. Escolher um terreno para a implantação de um 
projeto indica que as edificações adjacentes também sofrerão impactos, bem 
como a interface delas com as ruas. A compreensão do entorno e de como o 
Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno14
projeto o impacta é fundamental para o desenvolvimento saudável da região 
e para que todos convivam em harmonia.
A inserção de um artefato arquitetônico — edifício, conjunto de edifícios 
ou espaço aberto planejado — em um sítio qualquer nunca se dá sem conse-
quências importantes. Se, por um lado, a arquitetura é sempre construída em 
um lugar, por outro lado, ela constrói esse lugar, isto é, modifica a situação 
existente em maior ou menor grau (MAHFUZ, 2003, documento on-line).
Figura 3. Museu Guggenheim, em Bilbao, projeto de Frank Gehry. Por sua aparência única e 
contrastante, acabou transformando a região em ponto turístico, atraindo grande público.
Fonte: Guggenheim Museum Bilbao (2018, documento on-line).
BRAGA, M. O concurso de Brasília: sete projetos para uma capital. São Paulo: Cosac 
Naify, 2010.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei nº. 10.257, de 10 de julho de 2001. Re-
gulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da 
política urbana e dá outras providências. Brasília, DF, 2001. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm. Acesso em: 29 abr. 2019.
15Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno
CARTA de Atenas. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE ARQUITETURA MODERNA, 4., 
1933. Anais […]. Atenas: CIAM, 1933. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/
ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Atenas%201933.pdf. Acesso em: 29 abr. 2019.
CHING, F. D. Técnicas de construção ilustradas. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017.
GUGGENHEIM Museum Bilbao. 2018. Disponível em: https://basquinginthesun.
com/2018/04/01/guggenheim-museum-bilbao/. Acesso em: 29 abr. 2019.
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Análise do contexto urbano: estudo de quadra e entorno16

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