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Teoria do Desenvolvimento pela mudança estrutural José de Arimatéia Dias Valadão Diferentemente da visão faseológica, tendo Rostow como teórico proeminente dessa abordagem, as perspectivas mais estruturalistas, como é o caso das teorias de Simon S. Kuznets, pressupõe que o desenvolvimento é uma relação intrínseca de variáveis como interdependência, acessibilidade e interesse. Kuznets além de ser um dos pais do PIB, elaborado a partir de uma equação que mostrava o somatório da produção econômica de uma pessoa ou país na década de 1930 e utilizada a partir da Conferência de Bretton Woods, em 19441, é destacadamente conhecido pela teoria da Curva do U invertido, ou Curva de Kuznets, onde é traçado uma relação direta entre renda e crescimento econômico. A ideia central do U Invertido é que inicialmente, em um processo de expansão econômica, as desigualdades tendem a aumentar haja vista que há uma migração da mão-de- obra especializada da periferia para o centro mais dinâmico economicamente. Com o passar do tempo, após alcançar patamares mais elevados, há uma tendência de homogeneização regional, havendo uma diminuição nas desigualdades de renda, principalmente pela equivalência das mãos-de-obra empregadas em todas localidades. Com isso, “[...] durante o processo de desenvolvimento econômico, a desigualdade é um subproduto “natural” das fases iniciais e que esta irá, “naturalmente”, estabilizar-se para, finalmente, começar a cair nos estágios mais avançados de desenvolvimento”2. Se historicamente a discussão do U Invertido teve grande repercussão na literatura do desenvolvimento, mais recentemente ela tem estado novamente em destaque, na medida em que há uma crescente adoção dessa base teórica para explicar as problemáticas ambientais. O pressuposto ambientalmente é que, inicialmente, o desenvolvimento econômico provoca uma acentuada destruição ambiental, principalmente na periferia das localidades centrais desse crescimento, tendo em vista o escoamento acentuado de recursos e matérias-primas para atender à indústria e as bases produtivas. Contudo, o pressuposto é que quando a economia local alcança patamares mais elevados de renda e industrialização, inicia-se um processo de conservação e manutenção ambiental, tornando o desenvolvimento mais sustentável3. 1 https://oglobo.globo.com/economia/ferramenta-para-calcular-pib-so-foi-criada-em-1937-13473427 2 LINHARES F. Et all. Hipótese de Kuznets e mudanças na relação entre desigualdade e crescimento de renda no Brasil. Revista Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 42, n. 3, dez. 2012. 3 CARVALHO, T. S. ALMEIDA, E. A hipótese da curva de Kuznets ambiental global: uma perspectiva econométrico-espacial. Estud. Econ. vol. 40, n.3, Sept. 2010. https://oglobo.globo.com/economia/ferramenta-para-calcular-pib-so-foi-criada-em-1937-13473427 Esses argumentos têm vários problemas, como pode ser visto de maneira imediata. O primeiro deles é a implicação de empobrecimento ou degradação ambiental de uma localidade e posterior necessidade de restauração. A segunda é a dificuldade de evidenciar um equilíbrio entre as várias localidades imbricadas regionalmente no desenvolvimento. Terceira, as medidas econométricas que medem as relações durante os vários estágios de desenvolvimento têm recebido críticas relevantes, tendo em vista a possibilidade de enganosas interpretações dos dados e correlações 4. E, dentre outras, as múltiplas implicações que um desenvolvimento setorial como o proposto pela Curva de Kuznets têm para territórios que possuem ampla diversidade e pluralidade de públicos e populações. Além dessa base teórica, Kuznets5 propôs uma visão estrutural de desenvolvimento em que o Estado Nação é a unidade básica onde se localizam as decisões que definem os direcionamentos de desenvolvimento de uma localidade. Para ele, aspectos como a) tamanho; b) riquezas naturais; c) realizações econômicas; d) estrutura econômica; e) organização política e social e; f) muitos outros aspectos de interesse econômico, e as diversidades que esses aspectos proporcionam em cada localidade definem, sobremaneira, as formas de desenvolvimento e transformações de uma nação. Para Kuznets, “existem no entanto relações entre as nações que tornam a diversidade entre elas não apenas um assunto de interesse do estudioso e um campo de análise, mas uma condição que afeta os problemas práticos imediatos de qualquer país”6. Desse modo, a interdependência é um aspecto central do desenvolvimento de um Estado-Nação, tendo em vista que ela se dá em função de uma questão de acessibilidade e interesse. Acessibilidade diz respeito à forma como os diversos fluxos como tecnologia, conhecimento, recursos, mão-de-obra, e muitos outros trafegam entre as localidades, seja no sentido de facilidade ou dificuldade com que esses fluxos ocorrem. Já o interesse relaciona-se à forma como se dão as tomadas de decisões de promover relações entre os Estados e de alcance de objetivos locais, tendo em vista os cenários globais. Como exemplo, Oliveira, Almeida, Freguglia e Barreto 7 estudaram o desmatamento da Amazônia brasileira e perceberam que os fatores determinantes do desmatamento relacionam-se com a: a)temática ambiental (qualidade de solos, pluviosidade, temperatura); b) socioeconômico (população urbana e rural, educação, 4 WAGNER, M. The carbon Kuznets Curve: a cloudy picture emitted by bad econometrics? Resource and Energy Economics, v. 30, p. 388-408, 2008. 5 KUZNETS, Simon. O crescimento econômico do pós-guerra. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1966. pp. 11-41. 6 KUZNETS, Ibidem, p. 22-23. 7 OLIVEIRA, R. C.; ALMEIDA E.; FREGUGLIA, R. S.; BARRETO, R.C. S. Desmatamento e crescimento econômico no Brasil: uma análise da curva de Kuznets ambiental para a Amazônia legal. Rev. Econ. Sociol. Rural, v.49, n. 3, July/Sept. 2011. renda, produção agrícola, preços de produtos agrícolas, características das propriedades rurais etc.) e c) acessibilidade (rodovias pavimentadas e não pavimentadas, distância de mercados locais e nacionais etc.). Assim, a perspectiva estrutural, como discutida aqui a partir de referências como de Simon Kuznets, pressupõe que a forma como a localidade se insere em cenários geopolíticos mais amplos define destacadamente as dinâmicas internas, como recursos, aspectos financeiros e organização política. Além disso, variáveis como conhecimento se tornam relevantes nas relações de interdependência, tendo em vista que quando partilhados, eles ampliam duplamente sua capacidade de uso e aplicação local, por outro lado, aspectos como poder pode produzir relações verticais de relação e exploração, aumentando as desigualdades regionais.