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Aula 14 - Teoria do desenvolvimento pela mudança estrutural

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Alice Andrade

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Teoria do Desenvolvimento pela mudança estrutural 
 
José de Arimatéia Dias Valadão 
 
Diferentemente da visão faseológica, tendo Rostow como teórico proeminente dessa 
abordagem, as perspectivas mais estruturalistas, como é o caso das teorias de Simon S. Kuznets, 
pressupõe que o desenvolvimento é uma relação intrínseca de variáveis como interdependência, 
acessibilidade e interesse. Kuznets além de ser um dos pais do PIB, elaborado a partir de uma 
equação que mostrava o somatório da produção econômica de uma pessoa ou país na década 
de 1930 e utilizada a partir da Conferência de Bretton Woods, em 19441, é destacadamente 
conhecido pela teoria da Curva do U invertido, ou Curva de Kuznets, onde é traçado uma 
relação direta entre renda e crescimento econômico. 
A ideia central do U Invertido é que inicialmente, em um processo de expansão 
econômica, as desigualdades tendem a aumentar haja vista que há uma migração da mão-de-
obra especializada da periferia para o centro mais dinâmico economicamente. Com o passar do 
tempo, após alcançar patamares mais elevados, há uma tendência de homogeneização regional, 
havendo uma diminuição nas desigualdades de renda, principalmente pela equivalência das 
mãos-de-obra empregadas em todas localidades. Com isso, “[...] durante o processo de 
desenvolvimento econômico, a desigualdade é um subproduto “natural” das fases iniciais e 
que esta irá, “naturalmente”, estabilizar-se para, finalmente, começar a cair nos estágios mais 
avançados de desenvolvimento”2. 
Se historicamente a discussão do U Invertido teve grande repercussão na literatura do 
desenvolvimento, mais recentemente ela tem estado novamente em destaque, na medida em 
que há uma crescente adoção dessa base teórica para explicar as problemáticas ambientais. O 
pressuposto ambientalmente é que, inicialmente, o desenvolvimento econômico provoca uma 
acentuada destruição ambiental, principalmente na periferia das localidades centrais desse 
crescimento, tendo em vista o escoamento acentuado de recursos e matérias-primas para atender 
à indústria e as bases produtivas. Contudo, o pressuposto é que quando a economia local alcança 
patamares mais elevados de renda e industrialização, inicia-se um processo de conservação e 
manutenção ambiental, tornando o desenvolvimento mais sustentável3. 
 
1 https://oglobo.globo.com/economia/ferramenta-para-calcular-pib-so-foi-criada-em-1937-13473427 
2 LINHARES F. Et all. Hipótese de Kuznets e mudanças na relação entre desigualdade e crescimento de renda no 
Brasil. Revista Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 42, n. 3, dez. 2012. 
3 CARVALHO, T. S. ALMEIDA, E. A hipótese da curva de Kuznets ambiental global: uma perspectiva 
econométrico-espacial. Estud. Econ. vol. 40, n.3, Sept. 2010. 
https://oglobo.globo.com/economia/ferramenta-para-calcular-pib-so-foi-criada-em-1937-13473427
Esses argumentos têm vários problemas, como pode ser visto de maneira imediata. O 
primeiro deles é a implicação de empobrecimento ou degradação ambiental de uma localidade 
e posterior necessidade de restauração. A segunda é a dificuldade de evidenciar um equilíbrio 
entre as várias localidades imbricadas regionalmente no desenvolvimento. Terceira, as medidas 
econométricas que medem as relações durante os vários estágios de desenvolvimento têm 
recebido críticas relevantes, tendo em vista a possibilidade de enganosas interpretações dos 
dados e correlações 4. E, dentre outras, as múltiplas implicações que um desenvolvimento 
setorial como o proposto pela Curva de Kuznets têm para territórios que possuem ampla 
diversidade e pluralidade de públicos e populações. 
Além dessa base teórica, Kuznets5 propôs uma visão estrutural de desenvolvimento em 
que o Estado Nação é a unidade básica onde se localizam as decisões que definem os 
direcionamentos de desenvolvimento de uma localidade. Para ele, aspectos como a) tamanho; 
b) riquezas naturais; c) realizações econômicas; d) estrutura econômica; e) organização política 
e social e; f) muitos outros aspectos de interesse econômico, e as diversidades que esses 
aspectos proporcionam em cada localidade definem, sobremaneira, as formas de 
desenvolvimento e transformações de uma nação. Para Kuznets, “existem no entanto relações 
entre as nações que tornam a diversidade entre elas não apenas um assunto de interesse do 
estudioso e um campo de análise, mas uma condição que afeta os problemas práticos imediatos 
de qualquer país”6. 
Desse modo, a interdependência é um aspecto central do desenvolvimento de um 
Estado-Nação, tendo em vista que ela se dá em função de uma questão de acessibilidade e 
interesse. Acessibilidade diz respeito à forma como os diversos fluxos como tecnologia, 
conhecimento, recursos, mão-de-obra, e muitos outros trafegam entre as localidades, seja no 
sentido de facilidade ou dificuldade com que esses fluxos ocorrem. Já o interesse relaciona-se 
à forma como se dão as tomadas de decisões de promover relações entre os Estados e de alcance 
de objetivos locais, tendo em vista os cenários globais. Como exemplo, Oliveira, Almeida, 
Freguglia e Barreto 7 estudaram o desmatamento da Amazônia brasileira e perceberam que os 
fatores determinantes do desmatamento relacionam-se com a: a)temática ambiental (qualidade 
de solos, pluviosidade, temperatura); b) socioeconômico (população urbana e rural, educação, 
 
4 WAGNER, M. The carbon Kuznets Curve: a cloudy picture emitted by bad econometrics? Resource and Energy 
Economics, v. 30, p. 388-408, 2008. 
5 KUZNETS, Simon. O crescimento econômico do pós-guerra. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1966. pp. 11-41. 
6 KUZNETS, Ibidem, p. 22-23. 
7 OLIVEIRA, R. C.; ALMEIDA E.; FREGUGLIA, R. S.; BARRETO, R.C. S. Desmatamento e crescimento econômico no 
Brasil: uma análise da curva de Kuznets ambiental para a Amazônia legal. Rev. Econ. Sociol. Rural, v.49, n. 3, 
July/Sept. 2011. 
renda, produção agrícola, preços de produtos agrícolas, características das propriedades rurais 
etc.) e c) acessibilidade (rodovias pavimentadas e não pavimentadas, distância de mercados 
locais e nacionais etc.). 
Assim, a perspectiva estrutural, como discutida aqui a partir de referências como de 
Simon Kuznets, pressupõe que a forma como a localidade se insere em cenários geopolíticos 
mais amplos define destacadamente as dinâmicas internas, como recursos, aspectos financeiros 
e organização política. Além disso, variáveis como conhecimento se tornam relevantes nas 
relações de interdependência, tendo em vista que quando partilhados, eles ampliam duplamente 
sua capacidade de uso e aplicação local, por outro lado, aspectos como poder pode produzir 
relações verticais de relação e exploração, aumentando as desigualdades regionais.

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