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Richard Dawkins - O Gene Egoísta-9

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à primeira vista, corresponder a um ato altruísta pela nossa definição.
Os atas mais comuns e mais conspícuos de altruísmo animal são realizados pelos pais, 
especialmente pelas mães, em relação a seus filhos. Eles podem incubá-los, ou em ninhos ou em seus 
próprios corpos, alimentá-los com enormes sacrifícios para si e correr grandes riscos ao protegê-los de 
predadores. Para citar apenas um exemplo particular, muitos pássaros que nidificam no chão realizam o 
chamado "comportamento de distração" quando um predador, como uma raposa, se aproxima. Um dos 
pais afasta-se do ninho maneando, mantendo uma asa aberta como se ela estivesse quebrada. O predador, 
percebendo uma presa fácil, é atraído para longe do ninho contendo os filhotes. Finalmente a ave cessa 
seu fingimento e lança-se ao ar exatamente à tempo de escapar das mandíbulas da raposa. Ela 
provavelmente terá salvo a vida de seus filhotes, mas com algum risco para si.
Não estou tentando defender uma posição contando histórias. Exemplos escolhidos nunca são 
evidência séria de qualquer generalização importante. Essas histórias são dadas simplesmente como 
ilustrações do que quero dizer com comportamento altruísta e egoísta ao nível de indivíduos. Este livro 
mostrará como tanto o egoísmo como o altruísmo individuais são explicados pela lei fundamental que 
estou chamando de egoísmo do gene. Mas, primeiro devo tratar de uma explicação particular errônea de 
altruísmo, porque ela é amplamente conhecida e até mesmo amplamente ensinada nas escolas.
Esta explicação está baseada numa concepção errada que já mencionei, segundo a qual as criaturas 
vivas evoluem para fazer coisas "pelo bem da espécie" ou "pelo bem do grupo". É fácil ver como esta 
idéia teve origem na Biologia. Grande parte da vida de um animal é dedicada à reprodução e a maioria dos 
atas de auto-sacrifício altruísta observados na natureza são realizados pelos pais para com seus filhotes. 
"Perpetuação da espécie" é um eufemismo comum para reprodução e é, inegavelmente, uma conseqüência 
da reprodução. É necessário apenas uma ligeira deturpação da lógica para deduzir que a "função" da 
reprodução é "de" perpetuar a espécie. Daí basta um pequeno passo falso para concluir que os animais em 
geral se comportarão de forma a favorecer a perpetuação da espécie. O altruísmo em relação aos outros 
membros da espécie parecerá resultar.
Esta linha de pensamento pode ser posta em termos vagamente darwinianos. A evolução trabalha 
através da seleção natural e esta significa a sobrevivência discriminada do mais "apto". Mas, estamos 
falando sobre os indivíduos mais aptos, as raças mais aptas, as espécies mais aptas, ou sobre o que? Para 
alguns propósitos isto não importa muito, mas quando estamos falando sobre altruísmo é obviamente 
crucial. Se forem espécies que estão competindo no que Darwin chamou de luta pela existência, parece 
melhor considerar o indivíduo como um peão no jogo, a ser sacrificado quando o interesse mais 
importante da espécie como um todo o exigir. Expressando de maneira um pouco mais respeitável, um 
grupo, como uma espécie ou uma população dentro de uma espécie, cujos membros individuais estejam 
preparados para se sacrificar pelo bem-estar do grupo, poderá ter menos probabilidade de se extinguir do 
que um grupo rival cujos membros individuais coloquem seus próprios interesses egoístas em primeiro 
lugar. Conseqüentemente, o mundo torna-se povoado principalmente de grupos consistindo de indivíduos 
que se sacrificam a si próprios. Esta é a teoria da "seleção de grupo", há muito considerada verdadeira 
pelos biologistas não familiarizados com os detalhes da teoria da evolução, lançada em um livro famoso 
de V. C. Wynne-Edwards e popularizada por Robert Ardrey no livro The Social Contract. A alternativa 
ortodoxa é normalmente chamada "seleção individual", embora pessoalmente eu prefira falar em seleção 
de gene.
A resposta imediata dos adeptos da seleção individual ao argumento apresentado seria mais ou 
menos assim. Mesmo no grupo dos altruístas quase com certeza haverá uma minoria dissidente a qual se 
recusa a fazer qualquer sacrifício. Se houver apenas um rebelde egoísta, pronto a explorar o altruísmo dos 
demais, então ele, por definição, tem maior probabilidade do que os últimos de sobreviver e ter filhos. 
Cada um desses filhos tenderá a herdar suas características egoístas. Após várias gerações desta seleção 
natural, o "grupo altruísta" será sobrepujado pelos indivíduos egoístas e será indistinguível do grupo 
egoísta. Mesmo se assumirmos a existência casual inicial improvável de grupos altruístas puros sem 
rebeldes, é muito difícil imaginar o que impe-diria indivíduos egoístas de imigrar de grupos egoístas 
vizinhos e, por meio de cruzamentos mistos, de contaminar a pureza dos grupos altruístas.
O adepto da seleção individual admitiria que grupos realmente desaparecem e que o fato de um 
grupo extinguir-se ou não pode ser influenciado pelo comportamento dos indivíduos naquele grupo. Ele 
talvez até admita que se ao menos os indivíduos em um grupo tivessem o dom da previsão poderiam

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