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88 O dançarino e coreógrafo Merce Cunningham acreditava que o ser humano tem a propensão de organizar seus movi- mentos sempre de uma mesma maneira. Lembre-se de você escovando os seus dentes. Quando tiver uma oportunidade, experimente escová-los com a outra mão e fique atento ao que acontece. Ao fazer isso, repare se o hábito o levou a criar padrões de movimento com os quais você se acostumou. Em seguida, anote suas impressões em seu diário de bordo para compartilhá-las posteriormente com os colegas e com o professor. Cunningham estava disposto a perturbar e a mudar esses padrões de movimento e seus interesses o levaram a criar um modo peculiar de coreografar. Quatro eventos em sua vida o levaram a definir seus parâmetros de atuação. 1 O dançarino e coreógrafo Merce Cunningham nos Estados Unidos. Fotografia de 1975. Merce Cunningham em... JA C K M IT C H EL L/ G ET TY IM A G ES 88 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Nesta seção são apresentados detalhes e aprofundamentos sobre a trajetória do coreógrafo Merce Cunningham. Unidades temáticas da BNCC: Dança; Artes integradas. Objetos de conhecimento: Contextos e práticas; Elemen- tos da linguagem, Processos de criação; Arte e tecnologia. Habilidades em foco nesta seção: (EF69AR09) Pesquisar e analisar diferentes formas de expressão, representação e encenação da dança, reconhecendo e apre- ciando composições de dança de artistas e grupos brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas. (EF69AR10) Explorar elementos constitutivos do movimento co- tidiano e do movimento dança- do, abordando, criticamente, o desenvolvimento das formas da dança em sua história tradicio- nal e contemporânea. (EF69AR14) Analisar e experi- mentar diferentes elementos (figurino, iluminação, cenário, trilha sonora etc.) e espaços (convencionais e não conven- cionais) para composição cênica e apresentação coreográfica. (EF69AR35) Identificar e mani- pular diferentes tecnologias e recursos digitais para acessar, apreciar, produzir, registrar e compartilhar práticas e repertó- rios artísticos, de modo reflexi- vo, ético e responsável. Sobre Merce Cunningham Para Cunningham, coreografar utilizando câmeras de vídeo e, posterior- mente, programas de computador tornou mais complexos e aprofundados seus estudos sobre o espaço e a aleatoriedade. As câmeras permitem am- pliar ou recortar os movimentos ou o corpo de um bailarino de um modo impossível para o espectador no teatro. Assim, novas possibilidades de apre- ciação se apresentam – juntamente com novas possibilidades de criação para o coreógrafo. Com o recurso do programa de computador, as frases de movimento vão ganhar mudanças súbitas de direção e de intensidade, tornando-se mais desafiadoras para os intérpretes. O conteúdo abordado nesta seção contempla a habilidade (EF69AR14) da BNCC. 893o BIMESTRE BEACH Birds for Camera [Pássaros de praia para câmera, em tradução livre]. Direção: Elliot Caplan. Coreografia: Merce Cunningham. Estados Unidos, 1993. Fotograma. Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor. 1 Você consegue identificar quais são os padrões de movimento que executa no seu dia a dia? 2 Como você poderia modificar as dinâmicas e os jeitos de realizar as tarefas em que identifica esses padrões? Escreva sobre a sua experiência em seu diário de bordo e converse com os colegas a respeito. • Para assistir à videodança Beach Birds for Camera acesse o site abaixo (em inglês). Disponível em: <https://dancecapsules. mercecunningham. org/overview. cfm?capid=46030>. Acesso em: 5 jan. 2018. O primeiro aconteceu nos anos 1940, quando propôs separar música e dança e passou a estudar o ritmo de seu próprio movimento corporal em vez de seguir o ritmo da música. O segundo evento, na década de 1950, foi quando ele começou a trabalhar com o acaso, o que chamou de chance operation [operação do acaso]. Por meio de sorteios diversos (como cara ou coroa, jogos de dados etc.), ele decidia a ordem das frases de movimento, quantos e quais seriam os bailarinos a dançá-las e a sua distribuição no espaço. O terceiro evento foi um convite para criar uma coreografia para um programa de televisão na década de 1970. Essa oportu- nidade o fez perceber que poderia criar uma dança específica para ser exibida em uma tela, com tempos e espaços diferentes daqueles do palco. Em 1993, continuando os estudos de criação de danças para a tela, Cunningham criou uma coreografia para a videodança Beach Birds for Camera [Pássaros de praia para câmera, em tradução li- vre], dirigida por Elliot Caplan. Observe a imagem acima e note que só é possível ver perspectiva e o recorte do corpo do bailarino em primeiro plano porque foram captados por uma câmera. Se assistisse a essa dança em um teatro, quais outros pontos de vista você poderia ter? O quarto e último evento foi a possibilidade de usar um pro- grama de computador para captar os movimentos dos bailari- nos e criar combinações desafiadoras, como você viu na peça BIPED, apresentada no Sobrevoo. Merce Cunningham se tornou uma referência para os artis- tas da dança a partir da segunda metade do século XX devido à prática corporal que criou e à pesquisa que desenvolveu para coreografar seus trabalhos. 2 M E R C E C U N N IN G H A M T R U S T 89 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Sugestões para o professor Merce Cunningham criou uma ponte en- tre os artistas da dança moderna e pós- -moderna do século XX. Para visualizar essa ponte, sugerimos que você procure na internet por registros das danças: Frontier (1935) e Lamentation (1930), de Martha Graham, Roof piece (1971) e Walking on the wall (1971), de Trisha Brown (1936-2017), e Trio A (1978), de Yvonne Rainer (1934-). Se possível, reveja também o trabalho de Steve Paxton, no livro do 6o ano desta coleção. No site Merce Cunningham Trust (em in- glês), você encontrará registros de coreo- grafias, imagens, entrevistas e textos so- bre o coreógrafo e escritos por ele, além de um panorama de sua obra. Disponível em: <https://www.mercecunningham. org/merce-cunningham/>. Acesso em: 19 set. 2018. Sobre as atividades: Para refletir Contemplando a habilidade (EF69AR10) da BNCC, as perguntas 1 e 2 estimulam o estudante a se tornar consciente de suas ações cotidianas, dos seus hábitos e de que, ao provocar uma alteração neles, vai provocar novamente uma nova percepção – seja de si mesmo, seja do ambiente ou da sua relação com esse ambiente. Ao escrever sobre ou descrever sua experiência, o estudante pode se dar conta dos novos movimentos e das novas ma- neiras que encontrou de se relacionar com o espaço. https://dancecapsules.mercecunningham.org/overview.cfm?capid=46030 https://dancecapsules.mercecunningham.org/overview.cfm?capid=46030 https://dancecapsules.mercecunningham.org/overview.cfm?capid=46030 https://dancecapsules.mercecunningham.org/overview.cfm?capid=46030 https://www.mercecunningham.org/merce-cunningham/ https://www.mercecunningham.org/merce-cunningham/ 90 Altura Largura Profundidade Dimensões espaciais A coreografia é o conjunto dos elementos da dança, com- binados e organizados de acordo com o lugar onde a dança será realizada. Existem muitos modos de coreografar e de combinar os ele- mentos, mas todos eles levam em conta a dinâmica da dança no elemento espaço, portanto aqui vamos aprofundar os conheci- mentos das dimensões espaciais. Nas atividades realizadas ao longo do Sobrevoo, você explorou as dimensões espaciais, que são: • Altura: com as ações de emergir e afundar. • Largura: com as ações de alargar-se e estreitar-se. • Profundidade: com as ações de avançar e recuar. Observe a imagem à esquerda.Nas sequências coreográficas são feitos movimentos que percorrem as di- mensões espaciais. Elas podem ser percorridas sem que você saia do lugar ou se desloque. Experimente dançar atento a essas dimensões e como você as percorre. 1 O conhecimento espacial otimiza a ocupação do espaço no lugar onde a dança vai acontecer (o que Anne Teresa De Keersmaeker chamou de geometria), bem como ajuda a definir quais serão as trajetórias de deslocamento em uma coreografia. FE LI X R EI N ER S 9090 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . O conteúdo apresentado nesta seção estimula reflexões sobre o conceito de dimensões espaciais e seu uso na prática de coreo- grafar movimentos de dança. Unidade temática da BNCC: Dança. Objetos de conhecimento: Elementos da linguagem; Pro- cessos de criação. Habilidades em foco nesta seção: (EF69AR10) Explorar elementos constitutivos do movimento co- tidiano e do movimento dança- do, abordando, criticamente, o desenvolvimento das formas da dança em sua história tradicio- nal e contemporânea. (EF69AR11) Experimentar e analisar os fatores de movi- mento (tempo, peso, fluência e espaço) como elementos que, combinados, geram as ações corporais e o movimento dan- çado. (EF69AR14) Analisar e experi- mentar diferentes elementos (figurino, iluminação, cenário, trilha sonora etc.) e espaços (convencionais e não conven- cionais) para composição cênica e apresentação coreográfica. Sobre as atividades 1. O conceito de dimensões espaciais é tanto teórico quanto prático. Como se trata de um conceito de dança, o ideal é que a turma experimente e se movimente para facilitar a compreensão. Sugerimos, portanto, que essa aula seja realizada em uma sala onde os estudantes tenham espaço para se mover. Nas atividades propostas neste capítulo, utilizamos estratégias para nos re- lacionar com os sons e com a música. Relembre isso com a turma. Escolhe- mos focar no estudo do fator de movimento espaço, pois esse é o foco do capítulo. É ideal que as atividades propostas nas seções Para experimentar ao longo do Sobrevoo deste capítulo tenham sido realizadas antes da apre- sentação dos conceitos. 913o BIMESTRE Convidamos você a uma nova experimentação, que pode ser realizada sozinho ou com seus colegas. Sozinho, você pode se deslocar para explorar as dimensões do lugar onde está. Com os colegas, você pode formar linhas para marcar as dimensões do lugar onde está. Veja algumas sugestões abaixo. Observe as figuras a seguir. Os pontos representam os dan- çarinos e as linhas representam as trajetórias de deslocamento. 2 Vista frontal Linha diagonal Linha horizontal para o público Indicação de deslocamento Deslocamento por trajetória sinuosa Linha diagonal Linha vertical para o público Vista superior Vista superior Vista superior Boca de cena (frente) Boca de cena (frente) Vista superior Vista superior Boca de cena (frente) Boca de cena (frente) Boca de cena (frente) Boca de cena (frente) Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor. Respostas pessoais. 1 Ao explorar o conceito de dimensões espaciais, você percebeu em que momentos os movimentos dão ênfase às dimensões altura, largura e profundidade? Descreva. 2 Se você se deslocou durante a experimentação, conseguiu percorrer as três dimensões? De que maneira? 3 Ao experimentar dançar prestando atenção às dimensões do espaço, a sua dança se modificou? Como? 1 4 2 5 3 6 IL U ST R A Ç Õ ES : C LA U D IO V A N E R VE N R IP IN SK A S No palco italiano, os intérpretes podem desenhar uma linha diagonal entre si ou podem ficar um atrás do outro, formando uma linha vertical aos olhos do público. Também podem ficar um ao lado do outro, desenhando uma linha horizontal aos olhos do público, deslocando-se segundo as linhas descritas. 91 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Atividade complementar Você pode trazer músicas ins- trumentais para propor as se- guintes experimentações: • Experimentar diversos modos de: emergir e afundar (para a dimensão altura); alargar e estreitar (para a dimensão lar- gura); avançar e retrair (para a dimensão profundidade). • Experimentar essas ações em grandes deslocamentos: atra- vessar a sala de aula seguindo as linhas e trajetórias propos- tas nas figuras desta página. Esta atividade complementar retoma a análise dos fatores de movimento, empreendida na atividade 1 da página anterior, e propõe uma exploração prática dos movimentos, contemplan- do as habilidades (EF69AR10) e (EF69AR11) da BNCC. Sobre as atividades: Para refletir 1. O estudante pode ter percebido as correspondências entre: emergir/ afundar e a dimensão da altura; alargar/estreitar e a dimensão da largura; avançar/retrair e a dimensão da profundidade. O estudante pode ter criado outras ações similares que levem a perceber as dimensões. 2. O estudante pode demonstrar como percebeu no próprio corpo o conteú- do conceitual apresentado nesta seção. 3. A resposta é uma reflexão pessoal sobre a experiência vivida. Incentive comparações com as atividades de dança desenvolvidas anteriormente. 92 Que tal compor a sua coreografia utilizando o que realizou du- rante as atividades propostas no Sobrevoo e nas experimentações propostas na seção Foco no conhecimento? 1 Reúna-se com o colega com quem fez dupla nas atividades anteriores deste capítulo e, com o auxílio do professor, esco- lham um lugar para dançarem. 2 Decida com seu colega se vocês utilizarão música, os sons do ambiente ou se irão explorar as duas possibilidades. 3 Caso a sua sequência coreográfica não tenha deslocamentos, crie-os junto com seu par, a fim de criar linhas entre vocês que enfatizem as dimensões espaciais estudadas. 4 Explore oposições, por exemplo: um avança e o outro recua, um alarga e o outro estreita, um emerge e o outro afunda, um explora parado enquanto o outro se desloca. Experimente fazer tudo junto, ao mesmo tempo e igual ao seu par. Expe- rimente fazer os movimentos próximo e distante do colega. 5 Estude e ensaie a coreografia e apresente-a à turma. Assista atentamente às apresentações das outras duplas. 6 Se possível, registre as danças em vídeo para, com o auxílio do professor, alimentar o acervo digital da turma. Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor. Respostas pessoais. 1 Quais possibilidades de lidar com as dimensões espaciais você criou em sua coreografia? 2 Como você se relacionou com seu colega de dupla a partir das dimensões espaciais? 3 Ao assistir às coreografias dos colegas, você viu outras possibilidades de lidar com as dimensões espaciais, diferentes das exploradas por você e seu par? A N D R EA E B ER T 92 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 92 Nesta seção é proposto um tra- balho prático de composição de uma coreografia a partir dos elementos discutidos ao longo do capítulo. Unidade temática da BNCC: Dança. Objetos de conhecimento: Elementos da linguagem; Pro- cessos de criação. Habilidades em foco nesta seção: (EF69AR10) Explorar elementos constitutivos do movimento co- tidiano e do movimento dança- do, abordando, criticamente, o desenvolvimento das formas da dança em sua história tradicio- nal e contemporânea. (EF69AR11) Experimentar e ana- lisar os fatores de movimento (tempo, peso, fluência e espaço) como elementos que, combina- dos, geram as ações corporais e o movimento dançado. (EF69AR14) Analisar e experi- mentar diferentes elementos (figurino, iluminação, cenário, trilha sonora etc.) e espaços (convencionais e não conven- cionais)para composição cênica e apresentação coreográfica. Orientações Para que esta proposta de ati- vidade possa se realizar, o ideal é que as atividades das seções Para experimentar apresenta- das ao longo do Sobrevoo deste capítulo tenham sido realizadas. Para a realização da atividade, sugerimos que você siga as se- guintes diretrizes: • Organize com os estudantes os espaços onde eles farão suas criações. • Determine o tempo para en- saiar a coreografia. • Oriente os estudantes a com- por os deslocamentos, para que levem em conta o local esco- lhido e o lugar, ou lugares, de onde o espectador pode assistir à dança criada por eles. • Organize o momento da apresentação dos trabalhos. • Reserve um momento para conversar sobre o que foi vis- to e vivido. Orientações Sobre as etapas 3 e 4, no deslocamento, os estudantes podem seguir traje- tórias paralelas ou opostas; podem se aproximar e se afastar – e todas as combinações possíveis. Todos os modos de se deslocar devem fornecer ao espectador a sensação de tridimensionalidade do espaço. Por isso, os estudantes podem também se afastar e se aproximar do espectador; podem se posicionar em um lugar mais alto ou mais baixo que o espectador – posições que o obriguem a olhar para cima ou para baixo. Para explorar o espaço da escola, eles podem criar diferentes sensações se- gundo sua compreensão do conceito de dimensões espaciais. 933o BIMESTRE JA C K M IT C H E LL /G E T T Y IM A G E S S T E P H A N IE B E R G E R G U TO M U N IZ /F O C O IN C E N A A N N E V A N A E R S C H O T /C O M PA N H IA D E D A N Ç A R O S A S Neste capítulo, falamos sobre coreografia e espaço. Você viu danças criadas para o palco italiano, outras criadas para o espaço urbano e viu também a interação da dança com o vídeo e com a arte digital. Você explorou as dimensões espaciais e pôde criar a sua dança orga- nizando diferentes relações com o espaço. Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor. Respostas pessoais. 1 As atividades práticas ajudaram você a entender algum conceito? Qual? Como? 2 O que você aprendeu sobre coreografia? 3 O que mais o interessou neste capítulo? Por quê? 4 Quais descobertas você fez ao longo deste capítulo? O que você gostaria de continuar aprofundando? 93 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Unidade temática da BNCC: Dança. Objetos de conhecimento: Contextos e práticas. Habilidades em foco nesta seção: (EF69AR09) Pesquisar e analisar diferentes formas de expressão, representação e encenação da dança, reconhecendo e apre- ciando composições de dança de artistas e grupos brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas. Orientações Por meio dessas perguntas o estudante pode retomar seus conhecimentos prévios e refor- mulá-los, elaborando-os a par- tir dos conceitos apresentados, discutidos e experimentados ao longo dele. As questões apresentadas nesta seção promovem um exercício de rememoração dos conceitos e experimentações apresen- tados no capítulo. Aproveite essa oportunidade e convide os estudantes a pensar sobre preconceitos e estereótipos e sobre como lidaram com isso ao desenvolver as atividades. Eles também poderão perceber se suas opiniões e modos de lidar com a dança se modificaram de alguma forma. Sobre a atividade 1. Ao vivenciar as atividades práticas, os estudantes terão uma experiência cumulativa que visa promover a compreen- são dos conceitos por meio da ação e da criação. 94 6 Vista do alto da plateia do Teatro de Epidauro, na Grécia. Fotografia de 2017. 94 Este capítulo, “Espaço cênico: entre o real e o imaginário”, re- laciona-se à Unidade temática da BNCC: Teatro. De acordo com as Competên- cias específicas do Componente Curricular Arte, os conteúdos trabalhados neste capítulo bus- cam levar os estudantes a: 1. Explorar, conhecer, fruir e analisar criticamente práticas e produções artísticas e cultu- rais do seu entorno social, dos povos indígenas, das comuni- dades tradicionais brasileiras e de diversas sociedades, em dis- tintos tempos e espaços, para reconhecer a arte como um fenômeno cultural, histórico, social e sensível a diferentes contextos e dialogar com as di- versidades. 3. Pesquisar e conhecer distin- tas matrizes estéticas e culturais – especialmente aquelas ma- nifestas na arte e nas culturas que constituem a identidade brasileira –, sua tradição e ma- nifestações contemporâneas, reelaborando-as nas criações em Arte. 4. Experienciar a ludicidade, a percepção, a expressividade e a imaginação, ressignificando es- paços da escola e de fora dela no âmbito da Arte. 8. Desenvolver a autonomia, a crítica, a autoria e o traba- lho coletivo e colaborativo nas artes. 9. Analisar e valorizar o patri- mônio artístico nacional e inter- nacional, material e imaterial, com suas histórias e diferentes visões de mundo. Atividade complementar Com a autorização da direção da escola e dos responsáveis pelos estudantes, procure organizar uma excursão a algum teatro ou espaço ocupado por um grupo teatral em sua cidade. Caso os estudantes tenham realizado a pesquisa sobre os grupos teatrais da região, proposta no livro do 6o ano desta coleção, podem usá-la como referência. No entanto, trata-se agora de identificar e analisar a relação entre a poética desses grupos e os espaços em que atuam. Lance as seguintes questões à turma: “Como o grupo se relaciona com o espaço em que atua?”; “Qual é a importância do espaço para o trabalho de criação dos grupos?”; “E para seus espetáculos?”. 953o BIMESTRE ESPAÇO CÊNICO: ENTRE O REAL E O IMAGINÁRIO Quando pensamos em teatro, é comum imaginar um ambiente composto por um palco, uma plateia, luzes, cortinas, músicas, cenários e figurinos. Entretanto, o espaço teatral existe de diferentes formas. Observe a imagem do Teatro de Epidauro ao lado. Quais elementos você iden- tifica em sua arquitetura? Ele é parecido com a ideia que você tem de um espaço teatral? Respostas pessoais. Esse teatro foi construído na Grécia Antiga há mais de 2.400 anos, na cidade de Epidauro. Ele tem capacidade para receber até 13 mil espectadores. Não há nenhum espaço coberto: desde que foi criado, tanto os atores quanto o público permanecem ao ar livre. Mesmo com toda a sua imensidão e sem aparente proteção sonora, ele é famoso por sua qualidade acústica: devido ao seu formato circular, qualquer som emitido no palco pode ser ouvido com precisão até mesmo no lugar mais afastado da plateia. As peças apresentadas nesse teatro, tanto no passado como hoje, não utilizam muitos cenários, pois ele foi construído partindo do pressuposto de que muito do espaço e das paisagens cênicas podem acontecer na imaginação dos espectadores. Neste capítulo, você vai conhecer exemplos de teatros e obras nos quais o espaço é um dos principais elementos da proposta artística. A partir disso, você verá que, no teatro, o espaço imaginário e o real se entrecruzam e se potencializam um com o outro. 1 Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor. 1 Que elementos espaciais você considera que não podem faltar em um teatro? 2 Você já assistiu a alguma peça em que o palco não estivesse de frente para a plateia? 3 Quais são os espaços onde o teatro pode acontecer? Por quê? Respostas pessoais. Para refletir P H O TO G O LF E R /S H U T T E R S TO C K 95 Sobre o capítulo Neste capítulo, a pergunta- -eixo deste livro: “Como as ar- tes leem, representam e inte- ragem com as paisagens?” e a pergunta com a qual iniciamos o Capítulo 1: “Qual é o lugar da arte?” serão exploradas a partir da linguagem teatral. Para isso, abordaremos o conceito de espaço cênico que, no teatro, lida com duas perspectivas:a possibilidade material e a dimensão imaginária. Serão apresentadas algumas expe- riências distintas de trabalhos cênicos brasileiros e internacio- nais, assim como seus modos de interferência e intervenção em espaços preexistentes, sejam eles convencionais, como pal- cos e espaços teatrais reconhe- cíveis, ou não. Sobre a atividade 1. Partindo da observação da imagem escolhida para a aber- tura do capítulo, chame a aten- ção dos estudantes para o fato de o Teatro de Epidauro estar situado ao ar livre, rodeado pela natureza e ter uma dispo- sição circular da plateia. Além disso, aponte que os espectado- res ficam em um nível mais alto que o da cena (o oposto do que acontece em diversas outras ar- quiteturas teatrais a partir do século XVIII). Sobre as atividades: Para refletir 1. Liste na lousa os elementos apontados pelos estudantes. Incentive-os a imaginar espaços desde os mais clássicos até os mais alternativos. 2. Pergunte a eles se já assistiram a alguma peça na rua ou em algum espaço não convencional. Existem diversos exemplos de peças nas quais os especta- dores são distribuídos no próprio palco, casos de peças itinerantes e realiza- das em espaços não teatrais (como escolas, igrejas, prisões, rios, montanhas, cavernas, mar etc.). 3. Instigue os estudantes a imaginar o teatro acontecendo nos espaços mais inusitados possíveis. Retome a discussão iniciada no Capítulo 1, sobre os di- versos lugares onde a arte acontece. 96 O teatro aborda uma ampla variedade de histórias: ele pode nos apresentar situações do passado, do presente e do futuro; e pode também nos contar narrativas realistas ou mágicas, com personagens históricos, animais, seres inanimados e também inventados. De que forma o teatro nos convida a imaginar outros mundos ou nos transporta para paisagens, espaços e épocas diferentes? Quais elementos materiais podem ser usados para isso? Respostas pessoais. Observe a imagem acima e as imagens na página seguinte. O que elas sugerem? Que tipo de histórias poderiam acontecer nesses espaços? Uma das artes responsáveis por recriar ambientes e atmosfe- ras dentro do teatro é a cenografia. 1 2 Respostas pessoais. SALOMÉ. Concepção: Richard Strauss. Direção: Petr Weigl. Berlim, Alemanha, 1990. As paisagens no teatro Cenografia Arte da organização do palco e/ou do espaço teatral. O cenógrafo é, por sua vez, a figura responsável pela criação de seus elementos. Ao longo dos séculos XVI a XIX, a cenografia era entendida especificamente como uma forma de decorar e adereçar o espaço da cena. Hoje, a cenografia é muito mais do que isso: ela é uma maneira de pensar o espaço e de criar elementos materiais que auxiliem nos objetivos maiores do espetáculo teatral. JO SE F SV O B O D A 96 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Nesta seção, apresentamos re- ferências artísticas que têm o espaço como protagonista de suas poéticas ou nas quais ele cumpre um fator importante para o tipo de relação que se pretende estabelecer entre cena e público. Unidade temática da BNCC: Teatro. Objetos de conhecimento: Contextos e práticas; Elemen- tos da linguagem; Processos de criação. Habilidades em foco nesta seção: (EF69AR24) Reconhecer e apreciar artistas e grupos de teatro brasi- leiros e estrangeiros de diferentes épocas, investigando os modos de criação, produção, divulgação, cir- culação e organização da atuação profissional em teatro. (EF69AR25) Identificar e ana- lisar diferentes estilos cênicos, contextualizando-os no tempo e no espaço de modo a aprimo- rar a capacidade de apreciação da estética teatral. (EF69AR26) Explorar diferentes elementos envolvidos na com- posição dos acontecimentos cênicos (figurinos, adereços, ce- nário, iluminação e sonoplastia) e reconhecer seus vocabulários. (EF69AR27) Pesquisar e criar formas de dramaturgias e es- paços cênicos para o aconteci- mento teatral, em diálogo com o teatro contemporâneo. Sobre a palavra “teatro” De onde veio a palavra “teatro”? Atualmente, essa palavra pode ser usada para descrever um lugar no qual se assiste a uma peça; a própria peça; uma atividade exer- cida por profissionais ou não e também uma linguagem artística. Mas em sua origem grega, thea- tron, dava nome apenas ao local em que o público se sentava para ver a peça. Ou seja, a palavra “te- atro” tem origem no espaço ocu- pado pela plateia e não no palco. Isto pode levar a pensar que essa linguagem artística está relacio- nada ao papel desempenhado pelo espectador: muito da cena acontece em nossa imaginação. Sobre as atividades 1. Chame a atenção para o fato de que artistas de teatro não necessariamen- te se valem de recursos realistas em suas poéticas. Os espaços não precisam ser retratados tais como são na realidade, visto que elementos que sugerem determinado espaço podem aguçar a imaginação dos espectadores. 2. Você pode fazer uma comparação entre o simbolismo observado no ce- nário de Svoboda e o alto grau de realismo dos vitrais de Gianni Ratto, con- templando a habilidade (EF69AR25) da BNCC. Pergunte aos estudantes a respeito das diferentes sensações despertadas pelas atmosferas criadas pelos dois tipos de cenário. Pontue ainda a grandiosidade da igreja desenhada por Ratto em relação ao diminuto corpo dos atores em cena. 973o BIMESTRE Como vimos no capítulo anterior, um dos espaços mais tradicionais onde a arte teatral acontece é o palco italiano. No decorrer dos últimos dois séculos, a arte da cenografia encontrou nesse tipo de palco, no qual a cena está separada do público, um local privilegiado para a sua criação e desenvolvimento. Dentre os artistas que se destacaram pelo uso do palco italiano, apresenta- mos dois importantes cenógrafos: o tcheco Josef Svoboda (1920-2002) e o italiano radi- cado no Brasil, Gianni Ratto (1916-2005). Eles inovaram na criação de paisagens cênicas, partindo do princípio de que o espaço teatral não precisava ser decora- do ou ilustrado e sim ser um espaço que provocasse e aguçasse os sentidos e a ima- ginação dos espectadores. RATTO, Gianni. Desenho do interior da Catedral de San Miniato, Toscana, Itália, para a peça Assassinato na catedral (detalhe). 1948. ASSASSINATO na catedral. Direção: Giorgio Strehler. Dramaturgia: T.S. Eliot. Piccolo Teatro de Milão, Itália, 1948. O vitral foi construído especialmente para o cenário desse espetáculo, elaborado por Gianni Ratto. S U P E R IN T E N D Ê N C IA D E A R Q U E O LO G IA , A R T E S P LÁ S T IC A S E P A IS A G E M D A S P R O V ÍN C IA S D E P IS A E L IV O R N O PI C C O LO T EA TR O D E M IL Ã O 97 Sobre Josef Svoboda Nasceu em Caslav, na atual Re- pública Tcheca. Foi um dos pri- meiros a considerar o espaço e a cenografia como parte essen- cial da ação dramática, ou seja, do espetáculo como um todo. Suas inovações no espaço cê- nico envolvem a utilização de espelhos, laser, projeções e a iluminação cênica compondo desenhos e geometrias especí- ficas. Em sua carreira, concebeu mais de 700 cenografias para teatros e óperas do mundo todo. Acesse o site do cenógrafo (em inglês). Disponível em: <http:// www.svoboda-scenograf.cz/ en/>. Acesso em: 20 set. 2018. Sobre Gianni Ratto Nasceu em Milão, na Itália. Lu- tou na II Guerra Mundial e, pos- teriormente, tornou-se um dos principais cenógrafos do país por conta das inovações presen- tes em suas propostas. Em 1954, inaugurou, no Brasil, o Teatro Maria Della Costa. A partir de então, não deixaria mais o país, tendo se tornado um dos maio- res cenógrafos de nosso país. No Brasil, engajou-se também na militância que resistiu à dita- dura militar e participou como cenógrafo de uma série de pe- ças contestadoras e de temas políticos libertários, tais como Gota d´água, de Paulo Pontes e Chico Buarque; Se correr obi- cho pega, se ficar o bicho come, de Vianninha e Ferreira Gullar; e Dura lex, sed lex, no cabelo só gumex, de Vianninha. Atividade complementar Proponha à turma que expanda seu estudo sobre cenografia pesquisando e reconhecendo outros cenógrafos brasi- leiros. Alguns nomes que você pode sugerir para a pesquisa são: Carla Pompeu, Cyro del Nero, Daniela Thomas, Guto Lacaz, J. C. Serroni, Maria Carmem de Souza, Renato Theobaldo e Ruggero Jacobbi. Aconselhe os estudantes a pesquisar a biografia dos cenógrafos e a investigar sobre seus estilos e poéticas cenográficas. http://www.svoboda-scenograf.cz/en/ http://www.svoboda-scenograf.cz/en/ http://www.svoboda-scenograf.cz/en/ 98 ROMEU e Julieta. Direção: Gabriel Villela. Dramaturgia: William Shakespeare. Interpretação: Grupo Galpão. Belo Horizonte (MG), 2012. Tragédia Gênero de peça teatral originado na Grécia Antiga que apresenta experiências humanas repletas de sofrimento e perda. As tragédias geralmente encontram uma resolução para seus conflitos no final, mas que tende a ser sob a forma de morte ou de algum bom termo pacífico após um grave erro individual ou coletivo que gerou muita dor e aflição. Apesar de o palco italiano ser o espaço mais usado nas peças teatrais clássicas, elas nem sempre são representadas nele: às vezes, são levadas para a rua. Mas, enquanto o palco italiano permite vá- rias trocas de cenário (na frente do público ou detrás da cortina), como transpor as paisagens de uma peça com essas características para um espaço cênico não convencional? O Grupo Galpão en- carou esse desafio. Em 1992, a trupe mineira decidiu montar a sua própria versão da peça Romeu e Julieta, do dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616). Observe as imagens da montagem de Romeu e Julieta nesta página e na seguinte. Quais são os elementos cênicos utilizados pelos atores? Na tragédia de Shakespeare, a história se desenrola em uma sacada e em diversos outros cômodos de uma casa, nas ruas da ci- dade de Verona (Itália), em uma igreja e em um imenso salão de festas. O grupo contou com a proposta de encenação de Gabriel Villela (1958-) e resolveu a diversidade espacial proposta no texto original do seguinte modo: em vez de criar inúmeros cenários e 3 G U TO M U N IZ /F O C O IN C EN A O teatro na rua 98 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Sobre espaços cênicos e teatralidade Contemplando as habilida- des (EF69AR24), (EF69AR25) e (EF69AR26) da BNCC, o exem- plo do Grupo Galpão eviden- cia a utilização do espaço e de elementos cênicos com o in- tuito de sugerir ao espectador as paisagens e cenários evoca- dos pelo texto de Shakespea- re, mais do que os representar realisticamente. Nesse sentido, pode-se mobilizar o conceito de teatralidade que vem sendo utilizado para pensar a especi- ficidade da linguagem teatral. Esse conceito pretende nomear a enunciação material da lin- guagem teatral, ou seja, seu caráter alusivo e sem compro- misso com a representação da realidade tal como ela é. Nesse sentido, o teatro é tam- bém o espaço privilegiado da imaginação. Entretanto, como o teatro pode articular a ma- terialidade do espaço em que está inserido com a possibilida- de de atiçar a imaginação de seu público? É aí que o concei- to de teatralidade nos permite compreender que, no teatro, é importante que o desdobra- mento visual da cena permita ser preenchido pela leitura de seu público. Assim, não neces- sariamente o espaço de ação de Romeu e Julieta requer um palco preenchido com o cená- rio histórico de Verona. Pode-se fazer alusão a esses espaços por meio de elementos os mais di- versos possíveis que simbolizam as paisagens evocadas pelo tex- to shakespeariano. Sobre a atividade 3. Identifique e analise, junto com os estudantes, alguns dos elementos cênicos utilizados nessa montagem, contem- plando a habilidade (EF69AR26) da BNCC. Pode-se observar a presença do carro como centro da encenação, operando como uma espécie de palco; e escadas, que permitem que os atores assumam alturas diversas em relação à cena. O uso de instrumentos musicais também deve ser observado, assim como as varas que sustentam alguns elementos que fazem alusão a paisagens, como uma lua de papelão pendurada.