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147 A produção audiovisual no Distrito Federal nasce com as imagens realizadas sobre a construção da capital do país, Brasília. Para além destas imagens documentais e da cidade como cenário para a produção de diversos filmes, temos a criação do curso de cinema da Universidade de Brasília, que comentamos quando apresentamos um de seus fundadores, o crítico e professor Paulo Emílio Salles Gomes. Gomes, junto a outros professores, como Jean- Claude Bernardet, criou, em 1965, a “Semana do Cinema Brasileiro”, que depois chamaria “Festival de Brasília do Cinema Brasileiro”, um dos mais importantes espaços de exibição, fórum de debates e encontro com a nova produção cinematográfica nacional. O festival foi um espaço de resistência cultural durante a ditadura, tanto que, entre 1972 e CURTE AÍ! "Branco sai, preto fica" (2014). Dir.: Adirley Queirós 148 1974, suas atividades foram suspensas. Ao retornar as exibições, o festival foi responsável por apresentar novos cineastas e reunir os principais debates sobre cinema no país, além de fomentar a produção local. Um dos mais importantes, dentre estes realizadores, é o paraibano Vladimir Carvalho, oriundo do Cinema Novo, que é convidado a residir e a trabalhar em Brasília no final dos anos 1960. Carvalho realizou diversos documentários importantes para a cinematografia nacional, como o clássico “O país de São Saruê” (1971), “Brasília segundo Feldman” (1979), “O Evangelho segundo Teotônio” (1984) e o grande clássico sobre a dura história dos candangos que construíram a capital do país, “Conterrâneos velhos de guerra” (1991). Vamos assistir a este que é um dos mais importantes documentários brasileiros, vencedor do Festival de Brasília: https://youtu.be/j36zqDpzCHs Carvalho foi professor do curso de cinema da UnB, assim como Geraldo Moraes, outro importante cineasta radicado no Distrito. Ele dirigiu os filmes “A semente do pão” (1973) e “Os mensageiros da aldeia” (1976), antes de dirigir os longas, “A difícil viagem” (1980), “Círculo do fogo” (1990) e “No coração dos deuses” (1999). Outras produções são “Brasiliários” (1986), de Zuleica Porto e Sérgio Bazi, baseado na obra de Clarice Lispector de Brasília; “Mínima cidade” (1984), de João Lanari; assim como “Brasília, última utopia” (1987), longa em episódios dirigidos por Geraldo Moraes, Vladimir Carvalho, Moacir Oliveira, Pedro Anísio, Roberto Pires e Pedro Jorge. "Conterrâneos velhos de guerra" (1991). Dir.: Vladimir Carvalho 149 A formação da seção regional da Associação Brasileira de Documentaristas (que depois seria acrescida de “e Curtas-Metragistas), a entidade nacional ABD, em 1978, foi fundamental na organização dos profissionais da área e das demandas de setor por políticas públicas. Malgrado o projeto do “Polo de Cinema”, parque audiovisual que tinha como função ser base para uma produção industrial audiovisual brasiliense, no qual foram investidos milhões, e foi desativado, o audiovisual no DF cresceu com a instituição, em 1991, do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), promovendo uma nova geração de cineastas locais. Dentre eles, podemos citar o cineasta do período do Cinema Marginal, André Luiz Oliveira, que dirigiu neste período, “Meteorango Kid – O herói intergaláctico” (1969). Este cineasta radicou-se em Brasília nos anos 1990 e dirigiu o premiado “Louco por cinema” (1994). Os documentários realizados pela cineasta e professora do curso de audiovisual da UnB, Dácia Ibiapina, com “Palestina do norte: o Araguaia passa por aqui” (1998), “Vladimir Carvalho: conterrâneo velho de guerra” (2004), “Ressurgentes: um filme de ação direta” (2014); assim como a também professora e cineasta Erika Bauer, com o premiado “Dom Hélder – O santo rebelde” (2006) e “Flor do moinho” (2017). "Don Hélder Câmara - O santo rebelde" (2004). Dir.: Erika Bauer 150 No campo da ficção, temos os filmes de José Eduardo Belmonte, o iconoclasta “A concepção” (2005) e “Subterrâneos” (2003). Mais recentemente, temos a obra de Adirley Queirós, filmes inventivos e críticos, que se colocam entre o documentário e a ficção, como “A cidade é uma só?” (2011) e “Branco sai, preto fica” (2014). A obra de Queirós coloca em debate a segregação de Brasília, entre o Plano Piloto e as Regiões Administrativas (RAs) que, anteriormente, eram chamadas de cidades-satélites. A história do audiovisual no Distrito Federal é longa, rica e diversa e aqui apenas tecemos algumas aproximações. Há produções, cineclubes, festivais e mostras, ao longo de toda a sua história. Caso você se interesse, há o livro “Cinema: apontamentos para uma história”, de Sérgio Moriconi, que relata e ilustra com detalhes toda esta trajetória. Por fim, vamos assistir a um trecho de “A cidade é uma só?”, filme de Adirley Queirós, que lida de forma crítica, irônica e inventiva com as desigualdades históricas do Distrito Federal: https://youtu.be/J-oSeF_aJbs "A concepção" (2005). Dir.: José Eduardo Belmonte