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1 TERAPIA DA CONSTELAÇÃO FAMILIAR SISTÊMICA 2 PSICOTERAPIA 3 SUMÁRIO HISTÓRIA ................................................................................................................... 6 DIFERENÇAS ENTRE PSICOLOGIA, PSICANÁLISE E PSICOTERAPIA ............... 11 PRINCIPAIS LINHAS DE ABORDAGEM PSICOTERÁPICA .................................... 14 PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA .............................................. 15 PSICOTERAPIA ANALÍTICA .................................................................................... 15 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL .......................................................... 20 Indicações ................................................................................................................. 21 Tipos de Terapia ........................................................................................................ 22 PERFIL DO PSICOTERAPEUTA .............................................................................. 23 PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA .............................................. 25 DIFERENÇAS ENTRE PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA E PSICANÁLISE 25 A ENTREVISTA PSICANALÍTICA ............................................................................. 27 ENQUADRE TERAPÊUTICO .................................................................................... 29 ALIANÇA TERAPÊUTICA ......................................................................................... 31 PRINCIPAIS TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS ........................................................... 32 PSICOTERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL ............................................... 45 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITOS BÁSICOS ......................................... 45 TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL ................................................................ 53 FOBIAS ESPECÍFICAS ............................................................................................. 54 TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA ................................................. 55 TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO .......................................................... 56 TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO .............................................. 57 TRANSTORNOS AFETIVOS .................................................................................... 57 TRANSTORNOS ALIMENTARES ............................................................................. 58 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE LIMÍTROFE OU BORDERLINE ................. 60 ADICÇÃO AO JOGO ................................................................................................. 61 TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE E IMPULSIVIDADE ....................................................................................................... 61 DISFUNÇÕES SEXUAIS .......................................................................................... 62 TRANSTORNOS DO SONO ..................................................................................... 63 4 PRINCIPAIS TÉCNICAS COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS ................................ 64 TÉCNICAS DE RELAXAMENTO .............................................................................. 65 DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA ..................................................................... 65 TREINO DE ASSERTIVIDADE ................................................................................. 66 PARADA DO PENSAMENTO ................................................................................... 66 AUTOINSTRUÇÃO ................................................................................................... 66 INOCULAÇÃO DO ESTRESSE ................................................................................ 66 TREINO EM HABILIDADES SOCIAIS ...................................................................... 67 SOLUÇÃO DE PROBLEMA ...................................................................................... 67 EXPOSIÇÃO ............................................................................................................. 67 EXPOSIÇÃO E PREVENÇÃO DE RESPOSTAS ...................................................... 68 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 69 PSICOTERAPIA DE GRUPO .................................................................................... 69 FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS .................................................................. 71 CONCEITO DE GRUPO E DE CAMPO GRUPAL .................................................... 73 GRUPOS OPERATIVOS ........................................................................................... 76 A FORMAÇÃO DE UM GRUPO ................................................................................ 81 PERFIL DO GRUPOTERAPEUTA ............................................................................ 90 PSICOTERAPIA BREVE ........................................................................................... 91 HISTÓRICO .............................................................................................................. 91 CONCEITO ............................................................................................................... 92 FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS .................................................................. 93 TÉCNICA ................................................................................................................. 100 O FATOR TEMPO ................................................................................................... 100 A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA E O CONTRATO TERAPÊUTICO ......................... 102 O TRATAMENTO PROPRIAMENTE DITO ............................................................. 105 O TÉRMINO DO TRATAMENTO ............................................................................ 106 AS CONSIDERAÇÕES DE FIORINI E A TÉCNICA EM HOSPITAIS ..................... 109 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 110 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 112 5 INTRODUÇÃO No decorrer da vida, passamos por fases em que estamos bem. Parece que encontramos o estado de felicidade. Mas em outras, encontramos dificuldades para seguir nossa vida adiante. Nestas fases nos damos conta de que, sozinhos não conseguimos caminhar. Reconhecemos que precisamos da ajuda de outro. Mas não pode ser outro qualquer, é preciso que este outro esteja disposto a nos assumir do modo como somos, sem julgar, e que nos dê a atenção devida. Pressupõe-se que este outro tenha algo mais que o diferencie que é o conhecimento da psique. Para cuidar dos sentimentos e emoções, temos o profissional especialista em teorias psicológicas: o psicólogo. As pessoas procuram psicoterapia por várias razões. Geralmente há um motivo subjacente: o sentimento de que nem tudo vai bem com a própria vida, faltando sentido e propósito mais profundo. Freud já dizia que o desejo de se tratar deve ser primeiro do paciente, na medida em que existe um sofrimento mental que justifique a necessidade. Quando o paciente procura um tratamento por si só revela o desejo de amenizar seu sofrimento. A palavra “terapia” vem de “theraplia” e quer dizer “cuidado, apoio”. Se juntarmos à palavra “terapia” o prefixo “psico”, temos então “psicoterapia”, que significa o “cuidado da psique, da alma, da mente”. Para tanto, o psicólogo pode utilizar-se da abordagem teóricaque lhe faça sentido (psicanalítica, comportamental, humanista, etc.). A escolha da abordagem depende da forma que este profissional entende o homem e o mundo, da sua filosofia de vida. A Psicoterapia é uma técnica psicológica, fundamentada e embasada cientificamente para auxiliar as pessoas que buscam conforto para seu sofrimento emocional. Seu objetivo não é o de prometer ao paciente um impossível estado de felicidade eterna, mas sim ajudá-lo a adquirir firmeza e paciência filosófica diante do sofrimento, auxiliando-o a lidar com seus conflitos. Nesse sentido, a vida acontece em um equilíbrio entre a alegria e a dor. A Psicoterapia pode ser realizada em indivíduos de todas as faixas etárias, desde a infância, passando pela adolescência, fase adulta e até a velhice. Pode ser 6 realizada individualmente, em grupo, em casal ou família, no âmbito público ou privado. O terapeuta é um grande fator curativo da psicoterapia. Ele é afetado pelas emoções do paciente, portanto ele deve aceitá-las e servir de espelho para elas (as emoções). Dessa forma, o terapeuta deve sentar-se à frente do paciente de modo que possa também expressar suas emoções. O contágio das emoções acentua-se quando os conteúdos projetados pelo paciente são idênticos aos conteúdos inconscientes do terapeuta. Mas para que isso ocorra, ele também precisa fazer terapia (JUNG, 1985). Segundo Hall.; Nordby (2000), para ser eficaz, a psicoterapia deve provocar o crescimento do paciente. Uma compreensão do que significa crescer, da natureza dos processos de crescimento e da maneira de ativar esse crescimento, constitui um conhecimento essencial para o psicoterapeuta. Isso inclui conhecer, dentre outros, o desenvolvimento da personalidade, os estágios da vida (infância, juventude, maturidade, meia-vida e velhice) e as influências do meio externo. Isso porque estes processos de crescimento são influenciados tanto positivamente quanto negativamente por vários fatores, como a hereditariedade, as experiências da criança com os pais, a educação, a cultura, a sociedade e a idade. HISTÓRIA Historicamente, a psicoterapia é muito mais antiga do que imaginamos, claro, de forma não sistematizada. Suas raízes estão desde a Antiguidade, das mais diversas formas culturais, por meio do curandeiro, danças xamanísticas, poções, Buda, etc. (STONE, 2005). A igreja, conforme relata Stone (2005), também exerceu grande influência na cura do sofrimento mental, muitas vezes, com características sobrenaturais, primeiramente com a Igreja Católica que tinha como pressuposto a luta entre o bem e o mal (Deus e o diabo). Mais tarde o protestantismo de Martinho Lutero conquistou milhares de fiéis, desafiando a autoridade da igreja, influenciando no rumo da história. Assim, a possibilidade da crítica e do diálogo propiciou a separação entre a Igreja e o estado, contribuindo com a ciência. Segundo Stone (2005), já nos séculos XVI e XVII começou a surgir os hospitais psiquiátricos, que nada mais eram que “depósito” de doentes mentais. Mas foi um século mais tarde, com o movimento do Iluminismo que a psicoterapia começou a ser modelada conforme hoje a conhecemos. Filósofos importantes (como Voltaire e 7 Rousseau) contribuíram com a antropologia e o progresso do esclarecimento humano, inclusive no esclarecimento psicoterapêutico. Na área da Psiquiatria, o médico Pinel, influenciado por Rousseau deu início ao movimento antimanicomial, passando a compreender e a tratar os doentes mentais de forma humanizada. Iniciam-se também escritos sobre estudos de caso e relatos da história de vida de pacientes (STONE, 2005). É na psiquiatria francesa, no final do século XVII e início do séc. XIX, com Pinel e Esquirol, que a terapia psicanalítica teve sua origem, como aponta Stone (2005). O método de cura do sofrimento mental era, dentre outros, o da sugestão, que 50 anos mais tarde foi chamado de hipnose. Além desses médicos, o neurologista Charcot foi um grande nome, especialmente porque teve forte influência nas teorias da psicanálise de Sigmund Freud. Foi ele quem orientou Freud nos estudos sobre histeria. De acordo com Stone (2005), o francês d’Hervery Saint-Denis, que registrava seus sonhos em um livro, acreditava que os sonhos eram mensagens obscuras de dentro de cada pessoa, passíveis de tradução. Assim, ele trabalhava com o simbolismo dos seus pacientes, por meio de frequentes e prolongadas sessões. Essa concepção fez com que Freud, em seus estudos sobre histeria, mudasse da hipnose para um tratamento no qual o paciente está em alerta, associando livremente. Assim, Freud foi se destacando e criando uma teoria acerca do inconsciente, sólida e muito difundida que foi se configurando como a psicanálise clássica que hoje conhecemos, juntamente com seus colaboradores Karl Abraham, Sander Ferenczi e Ernest Jones, que, juntos, compunham o Círculo Secreto. Encontravam-se nas noites de quarta-feira na casa de Freud para discutir sobre aspectos teóricos e técnicos da psicanálise (STONE, 2005). No século XX, no período da Primeira Guerra Mundial, a psicanálise estava se tornando cada vez mais estruturada e enraizada, tanto na Europa quanto na América. Surgiram grandes centros e institutos psicanalíticos. Foram realizados muitos encontros, congressos e publicações na área. O primeiro congresso psicanalítico ocorreu em 1908, em Salzburg, dirigido por Freud (STONE, 2005). Ocorre que, conforme relata Stone (2005), esses centros e institutos diferenciavam-se entre si, uma vez que os autores divergiam de opiniões teóricas e técnicas. Quanto mais a psicanálise ia se expandindo mais as escolas de terapia iam se diferenciando, com teorias e métodos próprios. 8 Segundo Stone (2005) havia os seguidores de Freud e de sua tradição “ortodoxa”, assim como Carl Gustav Jung que rompeu com Freud e criou sua “psicologia analítica”, a qual considerava a natureza místico-religiosa dos fenômenos psíquicos. Além disso, foram delineando também os tipos de pacientes atendidos na psicanálise e em outras técnicas de psicoterapia. Assim, cada autor foi se destacando em algum tipo de patologia e paciente. Melanie Klein, Anna Freud e Margareth Mahler estudaram pacientes psicóticos. Otto Kernberg se destacou no estudo de borderlines. Já John Bowlby seguiu seu trabalho sobre o apego, ansiedade de separação e perda, dentre muitos outros (STONE, 2005). Da mesma forma, acrescenta Stone (2005), vários tipos de psicoterapias foram surgindo. Como exemplo, temos: Carl Rogers, que desenvolveu a teoria humanista, Wilhelm Reich e sua teoria do “caráter” e Jacob Moreno introduziu o psicodrama. Já Aaron Beck se distanciou da psicanálise de Freud, criando a teoria cognitivo- comportamental. Então, Freud foi um dos inauguradores da psicoterapia. Mas depois dele vieram outros tantos; alguns o seguiram, outros acrescentaram e outros ainda se distanciaram radicalmente. A psicanálise, a psicoterapia de orientação analítica, a psicoterapia de apoio, a psicoterapia de grupo, a psicoterapia humanista, a existencial, a cognitivo-comportamental, além de outras, são exemplos descritos por Stone (2005). O mais importante é que todas têm o seu valor, suas indicações e contraindicações. Uma não é melhor que a outra. Como afirma Stone (2005) em qualquer uma das psicoterapias é importante que o terapeuta tenha empatia, simpatia e inteligência, minimamente. 9 CONCEITO/DEFINIÇÃO FIGURA– CONCEITO/DEFINIÇÃO http://marciocandiani.site.med.br/fmfiles/index.asp/::XPRWTT::/ps1.jpg Segundo Knobel (2002), a psicoterapia é um procedimento técnico de um vínculo humano, baseado num referencial teórico da estrutura da personalidade e dos comportamentos das relações interpessoais, mediante o qual uma pessoa tenta ajudar a outraque necessita de algum tipo de assistência para aliviar ou melhorar suas condições atuais de vida, e assim, atingir um melhor nível de desenvolvimento enquanto ser humano. Laplanche e Pontalis (2008, p. 393) definem psicoterapia como “qualquer método de tratamento dos distúrbios psíquicos ou corporais que utilize meios psicológicos e, mais precisamente, a relação entre o terapeuta e o doente”. Para estes autores a hipnose, a sugestão, a psicanálise são exemplos de psicoterapia. Nesse sentido, a Psicoterapia é uma prática que está dentro da Psicologia Clínica. Envolve conhecimento da Psicopatologia, da Psicologia do Desenvolvimento. Segundo Dolto, in Mannoni (1983), a relação psicoterápica permitirá que as “forças emocionais encobertas, em jogo conflitivo”, encontre uma saída, ou seja, a descoberta de processos inconscientes contribui para que o paciente perceba o que está limitando sua liberdade. Entendendo que esta liberdade significa o indivíduo conseguir ser criativo, e não apenas submisso às exigências, livre da dependência do desejo de outrem, conseguindo comunicar os seus sentimentos, amar e ser amado, http://marciocandiani.site.med.br/fmfiles/index.asp/::XPRWTT::/ps1.jpg http://marciocandiani.site.med.br/fmfiles/index.asp/::XPRWTT::/ps1.jpg 10 enfrentar frustrações e as dificuldades cotidianas. Assim, estamos entendendo saúde mental, não enquanto um processo de adaptação, mas enquanto possibilidade criadora, na qual o paciente consiga transitar na relação dialética princípio da realidade versus princípio do prazer, com certa maleabilidade. Antes do início do processo psicoterápico, faz necessário um bom psicodiagnóstico, isto é, a avaliação psicológica. Nessa fase, como aponta Ocampo (1974), o objetivo principal é o de conseguir uma compreensão o mais profunda possível do psiquismo do paciente. Abrange aspectos passados e presentes (diagnóstico), assim como também os aspectos futuros (prognóstico). Investiga aspectos sadios e doentes do paciente e possibilita dar encaminhamentos terapêuticos (psicoterapia individual, de grupo, casal, se será realizado trabalho multiprofissional com psiquiatra, neurologista,...). O psicodiagnóstico já é em si terapêutico, na medida em que o psicólogo vai fazendo devoluções parciais. Além disso, o paciente tem a possibilidade de falar sinceramente de si mesmo, sem atitude de julgamento, mas de compreensão. Contribui também para o levantamento de hipóteses diagnósticas acerca do caso, para o processo psicoterápico (OCAMPO, 1974). Nesta etapa o psicólogo pode-se utilizar de diversos instrumentos, tais como: entrevistas, testes e técnicas projetivas, desenhos e a hora do jogo diagnóstica (nesta última técnica, quando se tratar de criança). Encerra-se com a entrevista devolutiva, que “é a oportunidade que se dá ao paciente para que integre o que apareceu dissociado entre o conteúdo manifesto e o latente” (OCAMPO, 1974, p. 32). Inclui também a devolução dos aspectos saudáveis, adaptativos, bem como dos patológicos. É o momento no qual são ditos os encaminhamentos e, quando necessário, a indicação de psicoterapia. Didaticamente falando, após encerrar o psicodiagnóstico inicia-se o processo psicoterápico propriamente dito. Muitas vezes, é difícil delimitar uma fronteira entre esses dois processos, uma vez que as ansiedades da dupla estão em jogo. O primeiro passo na psicoterapia é realizar novo contrato terapêutico, ou seja, o esclarecimento dos papéis (paciente e terapeuta), local e horário da sessão, além dos honorários quando se tratar de consultório particular. A seguir inicia-se o processo psicoterápico propriamente dito. 11 DIFERENÇAS ENTRE PSICOLOGIA, PSICANÁLISE E PSICOTERAPIA Inicialmente a Psicologia designava o “estudo da alma”. Com o passar do tempo, foi mudando para o estudo do comportamento humano. A Psicologia é uma ciência que investiga o comportamento humano, os aspectos emocionais e sua inter-relação com a sociedade. Apresenta uma diversidade de áreas de atuação: Psicologia clínica, organizacional, escolar; Psicologia da saúde, hospitalar, jurídica, do esporte. O psicólogo atua também em programas da área da assistência social (Centro de Referência da Assistência Social; Centro de Referência Especializado da Assistência Social, etc.). De acordo com Serra (2004) a maior parte dos psicólogos brasileiros (cerca de 80%) encontra-se atuando na área clínica, exercendo a prática da psicoterapia. A palavra “análise”, de “psicanálise”, vem do grego “ana” (partes) e “lysis” (decomposição, dissolução). Então, juntando “psi” com “análise” temos a decomposição das partes psicológicas. Conforme Laplanche e Pontalis (2008, p. 384), a Psicanálise é “um método de investigação que consiste essencialmente em evidenciar o significado inconsciente das palavras, das ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios)”. Na “era Freud”, a primeira era denominada por Wallerstein (2005), permeou a concepção de que apenas a psicanálise era a psicoterapia verdadeira de cura e científica. As demais eram consideradas como o “cobre da sugestão”, enquanto a psicanálise era vista como o “ouro puro”, conforme Freud e outros afirmavam. Freud, no texto de 1905, “Sobre a Psicoterapia” (1976), faz uma analogia, relacionando o trabalho das Artes e a análise, utilizando-se da expressão de Leonardo da Vinci, per via di levare, que se refere ao trabalho de esculpir, no qual se retira da pedra o que encobre a superfície da escultura nela contida. A arte da interpretação tem como objetivo abrir uma via de acesso para o conhecimento do inconsciente. Ao considerar as questões inconscientes que permeiam as relações, o psicanalista apresenta uma especificidade ao escutar o paciente, pois não considera somente o fenômeno manifestado, mas também os conteúdos latentes que estão presentes. Esta prática acompanhada de uma contextualização histórica e econômica investiga qual o sentido que determinados acontecimentos têm para o indivíduo, trabalhando não com uma verdade absoluta, mas com uma verdade individual, construída e reconstruída nas relações. 12 Acontece que, como narra Wallerstein (2005), nem todos os tipos de pacientes podiam se beneficiar da psicanálise na época. Logo, a psicoterapia de orientação psicanalítica começou a entrar em cena. Emprestava os conceitos da psicanálise e os aplicava nos pacientes que não podiam ser tratados por esta última. Segundo Wallerstein (20005) no final da década de 1930 até início de 1950 ocorreu o que chamou de segunda era, ou seja, a “era do consenso”, quando houve um crescimento da psicanálise norte-americana, com psicanalistas europeus refugiados de Hitler e com o aumento das clínicas psiquiátricas no país. Pacientes com transtornos mentais não podiam ser tratados pela psicanálise, havendo a necessidade de se adaptarem a outras psicoterapias, especialmente à psicoterapia de base analítica, que teve como pioneiro Robert Knight. Este pioneiro, conforme Wallerstein (2005) ocupou-se primeiramente em delinear o que ele chamou de “ciência básica da psicologia dinâmica”. Para tanto, fez a primeira distinção dentro do referencial psicanalítico: ele definiu as psicoterapias em dois grandes grupos. São as psicoterapias de apoio, que visa à supressão dos sintomas e as psicoterapias expressivas. Para Knight a psicanálise tem como objetivo a modificação da estrutura da personalidade. Já a psicoterapia de apoio propõe ao paciente a reconstrução dos mecanismos de defesa utilizados antes da descompensação. E por fim, a psicoterapia expressiva, de caráter exploratório, visa tratar as descompensações recentes (WALLERSTEIN, 2005). Após a década de 1950, como aponta Wallerstein (2005), outros pontos de vista começaram a surgir. Alguns psicanalistas propuseram a unificação da psicanálisecom a psiquiatria. Dessa forma, passou-se a entender que havia uma grande proximidade entre a psicanálise e a psicoterapia de base analítica. Outro grupo de psicanalistas compartilhava de outro ponto de vista, segundo Wallerstein (2005). Sugeriu modificações na técnica psicanalítica, uma revisão da teoria clássica, modernizando-a. Esses pontos de vista tiveram uma repercussão pouco significativa. Entretanto, como salienta Wallerstein (2005), a preocupação maior era a de selecionar, dentre a variedade de métodos terapêuticos, o mais adequado para a estrutura psicológica de cada paciente. Então, continua Wallerstein (2005), para selecionar o método mais adequado, faz-se necessário delinear as diferenças dentre as psicoterapias de orientação 13 analítica. Com este intuito, vários autores deram sua contribuição. Dentre eles podemos citar Gill, Rangell e Stone, além de Anna Freud. Entretanto, segundo Wallerstein (2005), foi a partir de 1979, com o simpósio em Atlanta, patrocinado pelas sociedades psicanalistas regionais que houve significativos avanços sobre as diferenças e semelhanças entre a psicanálise e a psicoterapia. Neste simpósio, protagonizado por Gill, Rangel e Stone, ficou definida a posição de manter marcadas as diferenças entre elas, cada qual com sua aplicação e indicação específica. Essa é a terceira era, denominada por Wallerstein (2005) de “era do consenso fragmentado”, pois cada um dos três protagonistas possuía divergências em suas concepções sobre psicanálise e psicoterapia. Atualmente, Wallerstein (2005) chama de era de “um mundo sem consenso”, pois se torna cada vez mais difícil definir tais diferenças. Difícil, mas não inexistentes. Schestatsky et al. (2005) salienta a importância de se considerar as diferenças entre psicanálise e psicoterapia, porém uma não é “menor” que a outra. Conforme as pesquisas de Wallerstein, em 1986, o mesmo concluiu que a psicoterapia de orientação psicanalítica e a psicanálise estão muito próximas. Tanto a psicanálise quanto a psicoterapia de orientação psicanalítica são métodos de tratamento psicológico do inconsciente. Enquanto a primeira visa à mudança da estrutura psíquica, trabalhando o conteúdo latente, a psicoterapia tem por objetivo o alívio dos sintomas, incluindo também o conteúdo manifesto. Nesse sentido, o que diferencia essencialmente psicanálise e psicoterapia é a técnica utilizada, uma vez que a escuta analítica está presente em ambas. Na psicoterapia há uma escuta do latente, e a tradução para o manifesto no momento da interpretação junto ao paciente. Na Psicanálise a transferência é um dos conceitos-chave, utilizado com grande frequência, enquanto que na psicoterapia acontece com menor frequência. A técnica principal na psicanálise é a interpretação, na psicoterapia além da interpretação transferencial há também a extratransferencial, confrontação, pontuação, sugestão (SCHESTATSKY et.al., 2005). Para Laplanche e Pontalis (2008) a “psicoterapia analítica” empresta princípios teóricos e técnicos da psicanálise, sem realizar as condições de um tratamento psicanalítico rigoroso. 14 Segundo Schestatsky et al. (2005) a psicoterapia de orientação psicanalítica é uma “aventura a dois” em que um deles está em sofrimento psíquico (paciente) e o outro domina uma certa técnica científica (terapeuta). Eis os objetivos essenciais da psicoterapia de orientação psicanalítica, segundo Schestatsky et al.(2005, p. 18): [...] Questões sobre o lugar mais ou menos privilegiado de conceitos como crescimento psíquico, expansão da mente, integração de aspectos dissociados, tolerância à dor mental, alterações de formações de compromisso, oportunidade da experiência com um novo objeto, reparação de danos do ego, ressignificações de danos de narrativas ou reconstrução de mitos pessoais [...]. Sendo assim, enquanto um especialista que domina a técnica científica de tratamento, o terapeuta deve realizar um amplo treinamento em termos diagnósticos e terapêuticos, compondo o clássico “tripé”: estudo, supervisão com um profissional experiente e análise pessoal. Tudo isso baseado sempre no amor à verdade (SCHESTATSKY et.al., 2005). PRINCIPAIS LINHAS DE ABORDAGEM PSICOTERÁPICA É difícil definir qual a melhor abordagem teórica a ser usada para cada tipo de paciente ou de patologia. Mesmo porque todas elas têm um objetivo em comum, que é o de ajudar a minimizar o sofrimento do paciente, favorecendo seu crescimento pessoal. A diferença está na técnica, isto é, no modo como se alcançarão os objetivos. Desde que o profissional conheça bem sua abordagem, todas elas serão valiosas. Às vezes, o fator decisivo é a instituição na qual o psicólogo trabalha. Em se tratando de postos de saúde ou outras instituições públicas, algumas técnicas são sugeridas como mais adequadas. Por exemplo, em hospitais a psicoterapia de apoio e psicoterapia breve são as mais indicadas. Em postos de saúde também, além de ser uma tendência a psicoterapia de grupo, em razão da grande demanda e do pouco tempo disponível. A escolha da abordagem psicoterápica dependerá do estilo pessoal do terapeuta, assim como sua visão de homem e de mundo, suas crenças e valores. Cada um irá identificar-se com aquela que lhe fará mais sentido. O importante é que todas elas têm o seu valor. O estudo teórico, a supervisão e a análise pessoal devem ser feitas seguindo sempre a mesma linha teórica. Não conseguiremos atender cada 15 paciente com uma abordagem diferente. Quando entendemos que não é o caso, devemos encaminhá-lo para outro profissional. Atualmente, há uma variedade de abordagens psicoterápicas. Dentre elas, as mais conhecidas são: psicanálise, psicoterapia de orientação psicanalítica, psicoterapia analítica; terapia cognitiva, terapia comportamental, psicoterapia cognitivo-comportamental. Há também o psicodrama, a gestalt-terapia; a psicoterapia humanista e a humanista-existencial. A abordagem existencialista, fenomenológica, etc. A seguir, foram descritas algumas delas: PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA A Psicoterapia de Orientação Psicanalítica é uma abordagem que tem como pressupostos teóricos a Psicanálise, mas que se diferencia desta basicamente pela técnica utilizada. Enquanto na Psicanálise o objetivo principal é a mudança da estrutura da personalidade, na psicoterapia o objetivo é mais modesto: visa o alívio do sintoma. Historicamente foi criada para tornar a Psicanálise, método este desenvolvido por Sigmund Freud, acessível a mais pessoas e em menor tempo. Enquanto representantes, além do próprio Freud, temos Bion, Klein, Winnicott, dentre outros. Alguns conceitos são fundamentais em Psicoterapia de Orientação Psicanalítica, conceitos estes emprestados da Psicanálise. Primeiramente temos o conceito de inconsciente, isto é, o material de trabalho são os processos inconscientes. Ao falar sobre si, por meio da associação livre, o paciente expressará seus conteúdos inconscientes. Por meio da transferência e da contratransferência o terapeuta poderá interpretar tais sentimentos e dar um novo sentido para o sintoma do paciente. A mudança ocorre quando é possível dar um novo sentido para o seu sofrimento, quando seu sintoma pôde ser elaborado. PSICOTERAPIA ANALÍTICA Carl Gustav Jung foi um autor que concordou, pelo menos na fase inicial de seu trabalho, em muitos pontos da teoria de Sigmund Freud, mas teve seus próprios pensamentos e ideias, tornando a sua psicologia conhecida como “Psicologia 16 Analítica” (em 1913, no 4º Congresso Internacional de Psicanálise, em Munique, Jung chama sua psicologia de Psicologia Analítica). É inegável a contribuição que Jung deu à arte da psicoterapia. Suas ideias e pensamentos se tornaram conhecidos e reconhecidos por muitas pessoas, da áreada Psicologia ou não. Entretanto, como ele próprio dizia, seus escritos são de difícil compreensão, e talvez por este motivo sua obra não é tão lida quanto a de Freud, por exemplo (STORR, 1993). Antes de falarmos especificamente de psicoterapia, faz-se necessário uma breve caracterização da psique, da forma como Jung a entende. Para Jung, a psique ou personalidade total envolve aspectos conscientes e aspectos inconscientes. É um sistema dinâmico, em constante movimento, e ao mesmo tempo, autorregulado. Está dividida em três níveis: 1) consciente, 2) inconsciente pessoal e 3) inconsciente coletivo. É importante considerar que, ao contrário do que pensava Freud, para Jung a consciência surge do inconsciente, reconhecendo que o inconsciente não é um mero depósito de desejos reprimidos, mas é uma parte tão vital de um indivíduo quanto o é a consciência. O indivíduo é um todo e não uma reunião de partes. A vida consiste em desenvolver esse todo até chegar ao mais alto grau possível de diferenciação e harmonia, de modo que sua personalidade não se dissocie. Nesse sentido, o trabalho da psicoterapia analítica tem como meta ajudar o paciente a recuperar a unidade perdida, fortalecendo a psique. Como pontua Jacobi (in CLARET, s/ano, p.45), a psicologia de Jung ajuda “o indivíduo a descer conscientemente às profundezas da própria alma, a reconhecer os conteúdos dela e integrá-los na consciência”. Jung possuía um penetrante sentido histórico. Ele achava que a natureza do homem não tinha mudado grande coisa no decurso de muitos séculos. Estudou mitologia, antropologia, religião e alquimia. Por isso, desenvolveu o conceito de inconsciente coletivo. Uma das mais importantes contribuições de Jung é o conceito de inconsciente coletivo. Este é o “responsável pela produção espontânea de mitos, visões, ideias religiosas e certas variedades de sonhos que são comuns a diversas culturas e períodos da história” (STORR, 1993, p. 39). É o nível da psique que inclui experiências comuns a todas as pessoas em uma maior ou menor intensidade, e que tem suas origens na evolução da história. 17 As pessoas passam pelas mesmas etapas do desenvolvimento: infância, adolescência, vida adulta e velhice. Isso ocorre devido à herança da humanidade, algo que lhe é coletivo. Se não existisse a herança da espécie, as pessoas não passariam pelas mesmas etapas do desenvolvimento, seriam, portanto, diferentes. Quando se transporta uma doença pessoal a um nível mais alto e geral, há um efeito curativo. Às vezes, o consolo espiritual ou a influência psíquica podem ajudar ou até curar uma doença. Assim, o fato do paciente perceber que o sofrimento não é só seu, mas sim geral, já lhe causa um alívio, um consolo (JUNG, 1985). Jung foi o primeiro a insistir em que o próprio analista seja também analisado. Entre 1914-1918 ele fez sua autoanálise, o que influenciou muito em sua teoria. Ele parte da solução de seus próprios problemas para a solução dos problemas dos outros. Desse modo, o paciente vai se desenvolver até o nível em que seu terapeuta tiver se desenvolvido. Na psicoterapia junguiana, os conceitos principais são: projeção, transferência, sonhos e imaginação ativa. O indivíduo procura psicoterapia porque necessita de ajuda para curar o seu sofrimento. O paciente espera que alguém vá ouvi-lo, vai poder ajudá-lo, vai poder curá-lo. É o Complexo do Salvador, ou seja, a esperança de que o terapeuta o cure, o salve de seu sofrimento. O paciente “projeta o complexo de salvador no analista, bem como as expectativas religiosas e a esperança de que talvez o analista, munido de conhecimentos secretos, possuísse a chave perdida pela Igreja, podendo revelar- lhe a verdade redentora” (JUNG, 1985, p. 143). Os elementos projetados no analista também são de natureza impessoal, arquetípica. Portanto, o complexo do salvador é uma ideia universal, uma esperança de todo mundo, em qualquer época da história. O causador de seu sofrimento é sempre o outro: problemas de relacionamento com o pai, a mãe, com o marido, filhos, escola, trabalho, etc. Nesse sentido, ele projeta no outro o seu sofrimento. Logo, o primeiro ponto a ser trabalhado em psicoterapia é a projeção. Paralelamente, temos a transferência, que é um conceito semelhante ao da projeção. Segundo Jung (1985) a projeção é um mecanismo psicológico inconsciente geral, que carrega conteúdos subjetivos sobre o objeto. O termo transferência significa “carregar alguma coisa de um lugar para o outro” (p. 127). O conceito de projeção é mais generalizado, é um mecanismo que ocorre entre o sujeito humano e o objeto físico. A transferência de um mecanismo específico da 18 projeção, uma vez que se refere ao processo que se dá entre duas pessoas (terapeuta e paciente). Na transferência o paciente projeta no terapeuta imagens derivadas de sua experiência de figuras significativas do passado (geralmente figuras parentais). Quanto mais o terapeuta for uma figura desconhecida, mais provável é que as imagens do mundo interior do paciente se liguem àquele. Freud também concorda com esse conceito, mas Jung vai além, e acrescenta a observação de que não são apenas as imagens pessoais da infância do paciente que se projetavam, mas também as figuras arquetípicas. Para Freud a transferência é o que move o tratamento, se ela não existir, não há cura. Mas para Jung ela não é necessária, chegando até ser indesejável. “Uma transferência é sempre um estorvo, jamais uma vantagem. Cura-se apesar da transferência e não por causa dela” (JUNG, 1985, p.141). Para Jung não é preciso que o paciente ame ou odeie o terapeuta, porque o problema central do paciente é que ele aprenda a viver a sua própria vida, sem que o terapeuta se intrometa nela. Em psicoterapia, o fato de o paciente ter emoções, por si só, exerce efeito no analista. Assim, o terapeuta serve de função especular, isto é, aceita as emoções do paciente sendo um espelho para elas. Nesse sentido Jung não aceita a ideia do uso do divã. Para cumprir a função especular, o terapeuta deve estar de frente ao paciente, de modo que este primeiro tenha liberdade para reagir às emoções do segundo. Temos também o conceito de contratransferência, que se refere aos sentimentos do analista em relação ao seu paciente (o processo inverso da transferência). Os conteúdos projetados pelo paciente são idênticos aos elementos do inconsciente do próprio terapeuta. Entretanto, se o terapeuta não conhecer seu inconsciente, pode ser que o paciente caia no inconsciente de seu terapeuta, e então o processo terapêutico pode travar. Assim, fica mais uma vez confirmada à importância do terapeuta em fazer análise. (JUNG, 1985). Como já foi pontuado, a transferência e a projeção são os pontos iniciais a serem trabalhados na psicoterapia. O analista não pode forçar uma transferência, devendo ela ser tratada como qualquer projeção. No caso dela aparecer, o que é muito comum, Jung distingue quatro estágios para que ela seja tratada em psicoterapia. De acordo com Jung (1985), no início de um tratamento, as projeções são experiências pessoais do paciente. Neste primeiro estágio devem-se trabalhar todos os níveis de relacionamento que o paciente já teve, conscientizando-o de que ele 19 ainda olha o mundo como se fosse criança: tudo projeta e espera das figuras autoritárias de sua experiência pessoal. Para estabelecer uma imagem madura o paciente deverá enxergar o lado subjetivo das imagens que criem empecilhos para sua vida. O segundo estágio da terapia da transferência consiste na discriminação entre conteúdos pessoais dos impessoais. As projeções pessoais podem ser dissolvidas por meio de realização consciente, já as impessoais não podem ser destruídas por pertencerem aos elementos estruturais da psique. O que pode ser dissolvido é o atoda projeção, e não seu conteúdo (JUNG, 1985). Temos, conforme Jung (1985), o terceiro estágio, que consiste em diferenciar o relacionamento pessoal com o analista dos fatores impessoais. É comum que o paciente goste do terapeuta, e quando o trabalho foi bom, que o terapeuta também goste de seu paciente. Logo, reações emocionais são aceitáveis. E isso não quer dizer que se trata, ainda, de transferência. Finalmente, o quarto estágio da terapia da transferência é denominado de objetivação das imagens pessoais. É uma parte fundamental do processo de individuação. Seu objetivo é desprender a consciência do objeto para que o indivíduo não coloque a garantia de sua felicidade em fatores externos - em outras coisas ou pessoas (JUNG, 1985). Jung enfatiza a vida interior e acredita na existência do inconsciente. Assim, a linguagem do inconsciente são os símbolos e o material de trabalho são: 1) a associação de palavras, 2) a análise dos sonhos e 3) a imaginação ativa. Quanto ao teste da associação de palavras, Jung (1985) afirma que está um tanto ultrapassado, por isso não o utiliza mais em seus pacientes. Este teste consiste em uma lista de mais ou menos cem palavras. Explica-se à pessoa que se submete ao teste que, após a apresentação da palavra estímulo, o mais rápido possível ela tem que dizer qual a palavra que surge na cabeça. Marca-se o tempo de cada resposta e depois se tira a média deste tempo. Após, parte-se para uma segunda etapa: repetem- se as palavras estímulos e o indivíduo tem que repetir suas respostas. Em alguns momentos a memória falha, e tais erros é que são significativos. Os sonhos, segundo Storr (1993), são a “estrada real” para o inconsciente. A linguagem dos sonhos é uma linguagem natural, simbólica, que talvez seja difícil de 20 compreender, mas não constitui uma tentativa de esconder coisa alguma. Podem-se ler os sonhos como se aborda uma língua estrangeira. Muitos sonhos originam-se no inconsciente pessoal, isto é, dizem respeito aos problemas emocionais cotidianos, às relações interpessoais e aos resíduos da infância. Jung estava mais interessado nos sonhos que se originavam no inconsciente coletivo. Nesses casos ele não hesitava em fornecer suas próprias associações, filtradas do seu próprio e extenso conhecimento de mitologia, religião e alquimia. Essa técnica é chamada de amplificação, isto é, a prática de fornecer ao paciente analogias e comparações. Durante a sua autoanálise, Jung desenhava e pintava suas próprias visões e sonhos. Ele encorajou seus pacientes a fazerem o mesmo, ou, escrever poemas, fazer modelagens ou esculturas, ou mesmo dançar suas próprias fantasias. Embora um paciente possa tratar um sonho dessa forma e fosse estimulado a fazê-lo, Jung estava mais interessado na espécie de fantasia que acode à mente das pessoas quando elas não estão despertas nem adormecidas, mas num estado de divagação em que o raciocínio está suspenso, mas não se perdeu a consciência (STORR, 1993). A descrição acima se refere à técnica da imaginação ativa, que se destina a mobilizar a criatividade do paciente. É uma forma de desenvolver as possibilidades criadoras latentes no próprio paciente. Jung fundamentou sua teoria na psicanálise freudiana, nos seus conhecimentos de mitologia, alquimia e religião. Mas, especialmente, em sua experiência clínica, experiência pessoal e em viagens que fez pelo México, China, África, dentre outros países. Apesar de dar muita atenção à teoria propriamente dita, ele estava mais interessado em ajudar o seu paciente. Jung deixava as pessoas livres a lidarem com os fatos a sua maneira, e encorajava aos analistas que encontrassem seus próprios caminhos. TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL Segundo Bahls; Navolar (2004), essa abordagem utiliza pressupostos do modelo behaviorista ou comportamental e do modelo cognitivista. Uma teoria não é contrária à outra, mas complementam-se. 21 No behaviorismo o foco é a análise do comportamento e suas contingências. O ambiente interfere diretamente no comportamento, e o tema central é a aprendizagem. Seus principais representantes são Pavlov, Skinner e Thorndike. Nesse sentido, para Bahls; Navolar (2004) existem dois tipos de comportamento: o comportamento respondente (que tem um caráter involuntário) e o comportamento operante (com caráter voluntário). O primeiro é aquele capaz de modificar o ambiente, e sofre influências sobre o próprio ambiente. Já o comportamento clássico ou respondente está associado ao conceito de estímulo- resposta. No modelo cognitivo dá-se mais relevância para as situações subjetivas, como a memória, percepção, atenção, etc. Utiliza-se mais das “crenças” do que do “conhecimento”, uma vez que o cliente atua de acordo com o que ele acredita ou percebe, mesmo que elas estejam distorcidas. Aaron Beck, um dos principais representantes do cognitivismo, construiu sua teoria estudando pacientes deprimidos. Ele observou que essas pessoas tinham em comum, crenças negativas em relação a si mesmas. Assim, na terapia cognitiva as crenças que cada pessoa tem irão influenciar seu comportamento, podendo surgir alguma patologia. Como salienta Bahls.; Navolar (2004), a terapia cognitivo-comportamental tem indicação de tratamento para vários problemas emocionais, como a ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, transtorno obsessivo-compulsivo e conflitos sexuais. O objetivo da psicoterapia cognitivo-comportamental, de acordo com Bahls; Navolar (2004, p. 09), é auxiliar o cliente a “aprender novas estratégias para atuar no ambiente de forma a promover mudanças necessárias; (...) é corrigir as distorções cognitivas que estão gerando problemas ao indivíduo e fazer com que este desenvolva meios eficazes para enfrentá-los”. Indicações A psicoterapia é um processo orientado para o crescimento, independência e maturidade do paciente (RIBEIRO, 1988). Nesse sentido é indicada para diversos tipos de problemas ou situações, que estão classificados da seguinte forma: 1. Tratamento de transtornos mentais (conforme CID-10). 22 • Doença de Alzheimer, demência vascular, doença de Parkinson. • Dependência química: uso de álcool, cigarro e outras drogas. • Transtornos psicóticos, esquizofrenias. • Transtornos do humor: maníaco, bipolar, depressivo. • Transtornos neuróticos: fobias, ansiedade, síndrome do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático, somatização, hipocondria e histeria. • Transtornos alimentares: anorexia, bulimia, obesidade. • Transtornos do sono: insônia, pesadelos, sonambulismo. • Transtorno sexual: ejaculação precoce, vaginismo, falta de desejo sexual. • Transtornos de hábitos e impulsos: jogo patológico, cleptomania. • Retardo mental. • Dificuldade de aprendizagem. • Distúrbio de conduta. • Déficit de atenção e hiperatividade. 2. Problemas existenciais. Busca de crescimento pessoal, autoconhecimento. Sensação de que falta sentido de vida, vazio existencial. 3. Conflitos de relacionamento interpessoal. Casos de conflito conjugal, familiar ou profissional, nos quais a convivência torna-se difícil. 4. Elaboração de momentos específicos ou fases do desenvolvimento. Situações como luto, doença ou hospitalização, adolescência, menopausa, velhice. Tipos de Terapia Quanto ao tipo, a psicoterapia pode ser classificada da seguinte forma: • Individual; • Grupal; • Casal; • Familiar. 23 PERFIL DO PSICOTERAPEUTA A psicoterapia é um processo que envolve a relação humana, em que estão presentes sentimentos, crenças e valores de duas pessoas. A neutralidade (um dos critérios de exigência científica) não pode ser absoluta. Entretanto, cabe ao psicólogo saber manejar tais sentimentos inconscientes quepossam interferir no bom andamento da psicoterapia, até para evitar uma possível interrupção. Nossa personalidade só se expressa na relação. Eu me reconheço a partir do outro. A construção da identidade só é feita na relação com o outro. Portanto, é na relação que a pessoa se trata. Atualmente, o foco na psicoterapia está voltado para a dupla terapêutica (paciente-terapeuta) e não apenas para as características somente do paciente. Estão em jogo as ansiedades, expectativas e o inconsciente da dupla. Na psicoterapia, Santiago (1995) aponta que a relação da dupla terapêutica é assimétrica. Isso significa que cada um da dupla tem funções diferentes. Neste momento o terapeuta sabe mais que o paciente. É ele quem delimita os honorários, horários, assim como é ele quem pode compreender o sofrimento do paciente. Quando o paciente toma a iniciativa de procurar ajuda por si só, esse já é um bom prognóstico. Supõe que a pessoa percebe que está sofrendo, não concorda com seus sintomas e tem o desejo de mudança. Este tipo de paciente é chamado de egodistônico. Em contrapartida, aquela pessoa que vem ao consultório, encaminhada por outros profissionais ou pelos pais, supõe-se que se trata de um paciente do tipo egosintônico. Isto é, ele não sente que está sofrendo, as queixa é o do outro. Nesse sentido o prognóstico já não é bom, pois não está disposto à mudança. É importar, enquanto terapeutas, nos atentarmos para os desejos, as necessidades e as expectativas nossas e as do paciente. Nem sempre elas coincidem. O desejo interno do tratamento não ocorre só por parte do paciente, mas também por parte do psicólogo. O terapeuta deve identificar as expectativas do paciente em relação à psicoterapia, à disponibilidade interna para se tratar, às fantasias e ansiedades durante o tratamento. Esses sentimentos são constantes o tempo todo. 24 Quanto ao paciente, este também tem suas expectativas, uma vez que buscou ajuda porque está sofrendo. Algumas expectativas estão relacionadas a algumas questões: será que o paciente vem buscar a solução mágica para seus problemas? Será que está disposto a ter uma postura ativa no tratamento, ou espera mais do psicólogo? No terapeuta, segundo Santiago (1995) as suas atitudes podem oscilar entre a onipotência e a impotência. O psicólogo, especialmente quando é iniciante, sente-se muitas vezes inseguro para atender determinado caso. Na prática da Psicoterapia espera-se do profissional o clássico tripé: embasamento teórico, análise pessoal e supervisão. O primeiro requisito trata-se da formação profissional. Serra (2004) sugere que o psicoterapeuta tenha um amplo conhecimento acerca de sua abordagem teórica, psicopatologia, desenvolvimento humano, além de conhecer áreas afins, como a psicofarmacologia, psiquiatria, dentre outras. Além disso, faz-se necessário também compreender como funciona a cultura e os hábitos de vida dos seus pacientes. O instrumento de trabalho do psicoterapeuta é seu inconsciente, sua própria personalidade. Portanto, sua mente precisa estar tratada. No processo de análise pessoal – que é o segundo requisito – ele passará pelas etapas psicossexuais do desenvolvimento descritas por Freud: fase oral, anal, fálica, genital, complexo de édipo. Conforme afirma Jung (1985), no processo de análise, o paciente irá se desenvolver até onde a mente do terapeuta estiver desenvolvida. Os conteúdos inconscientes do paciente e do terapeuta estão em jogo, claro que cada qual com sua função. Com isso, torna-se cada vez mais importante a análise pessoal do terapeuta, de modo que seus “pontos cegos” passem a se tornar claros. Vale o alerta de Keidann (2000): nem todos os terapeutas estão em condições de tratar todos os tipos de pacientes. O terapeuta precisa ter claro quais são suas limitações, pontos-cegos, enfim, suas dificuldades internas. Do contrário, poderá ocorrer a interrupção do tratamento. Finalizando o tripé, é de fundamental importância que o profissional realize supervisão dos seus casos clínicos com um profissional mais experiente, que lhe possibilitará um novo olhar para seu trabalho. Segundo Ribeiro (1988) a empatia também é considerada uma ferramenta importante. Trata-se da capacidade de colocar-se no lugar do outro, sendo sensível ao sofrimento, sem, entretanto, misturar-se com esse outro. É a flexibilidade de estar 25 junto do outro, mantendo uma distância ótima, suficiente para ajudar e não sofrer como a pessoa. Outros requisitos valiosos constam no Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005). São eles: a ética, o sigilo, a responsabilidade e o respeito ao ser humano. PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA DIFERENÇAS ENTRE PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA E PSICANÁLISE A primeira diferença reside na formação profissional. Para tornar-se um psicoterapeuta a formação inicial é a graduação em Psicologia. Esse é o requisito mínimo, mas há também o desejável, que é uma pós-graduação específica, de Psicoterapia de Orientação Psicanalítica, que inclui a análise pessoal e as supervisões na mesma abordagem teórica. O psicanalista não precisa ter, necessariamente, a graduação em Psicologia. Geralmente interessa-se por esta área, além dos próprios psicólogos, psiquiatras ou áreas afins. Entretanto, a formação obrigatória tem duração de seis anos. No primeiro ano inicia a análise do profissional por um psicanalista didata, membro da Sociedade Internacional de Psicanálise. Os anos subsequentes consistem, além da continuidade da análise, os seminários clínicos (estudo teórico) e as supervisões. A participação em congressos e outros eventos da área e/ou publicações de trabalhos científicos fazem parte da formação. A Psicanálise é, enquanto teoria da personalidade, uma técnica de investigação científica que procura entender o homem como um todo, considerando essencialmente o inconsciente. FIGURA - SIGMUND FREUD 26 http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/Sigmund_Freud_LIFE.jp g/200pxSigmund_Freud_LIFE.jpg Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, deixou um grande legado à sociedade quando nos mostrou que é possível mudar a estrutura psíquica por meio da análise, técnica esta que vem se adaptando ao longo dos anos às mudanças da sociedade. Isso ocorreu de acordo com a necessidade de tratamentos mais rápidos, surgindo então às psicoterapias. Enquanto a Psicanálise busca a mudança da estrutura psíquica, trabalhando o conteúdo latente, a psicoterapia tem por objetivo o alívio do sintoma, incluindo também o conteúdo manifesto. Nesse sentido, o que diferencia essencialmente a psicanálise da psicoterapia de orientação psicanalítica é a técnica utilizada, uma vez que a escuta analítica está presente em ambas. Na psicoterapia há a escuta do latente, e a tradução para o manifesto no momento da interpretação junto ao paciente. Por latente entende-se um conjunto de conteúdos inconscientes que se referem às defesas psíquicas, sentimentos transferenciais e contratransferenciais, características das fases psicossexuais (fase oral, fálica, genital, complexo de Édipo, latência). Já os conteúdos manifestos são aqueles que são expressos claramente pelo paciente. A psicoterapia de orientação psicanalítica se baseia nos conceitos da Psicanálise, diferenciando-se desta última basicamente pela técnica utilizada, ou seja, é mais breve e com objetivos delimitados. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/Sigmund_Freud_LIFE.jpg/200px-Sigmund_Freud_LIFE.jpg http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/Sigmund_Freud_LIFE.jpg/200px-Sigmund_Freud_LIFE.jpg http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/Sigmund_Freud_LIFE.jpg/200px-Sigmund_Freud_LIFE.jpg http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/Sigmund_Freud_LIFE.jpg/200px-Sigmund_Freud_LIFE.jpghttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/Sigmund_Freud_LIFE.jpg/200px-Sigmund_Freud_LIFE.jpg 27 Para Laplanche e Pontalis (2008, p. 393) a psicoterapia analítica é “uma forma de psicoterapia que se apoia nos princípios teóricos e técnicos da psicanálise, sem, todavia realizar as condições de um tratamento psicanalítico rigoroso”. Freud, na sua obra “Sobre a Psicoterapia”, discorre sobre as indicações e contraindicações de seu método psicanalítico. Segundo ele não é recomendado tratar de pessoas que não vêm com espontaneidade ao consultório, ou seja, que não desejam se tratar, pois “a força motivadora primária na terapia é o sofrimento do paciente e o desejo de ser curado que deste se origina” (FREUD, p. 186). O analista não pode fazer nada ao paciente, se este último não demonstrar um mínimo de interesse pela sua cura (isto é, vir até o consultório). Nesse sentido não é recomendado que o analista vá até a casa do paciente. Outra contraindicação, segundo Freud, refere-se aos pacientes idosos e pessoas mais próximas. O tratamento psicanalítico é longo e custoso, portanto, a idade seria um fator que prolongaria ainda mais o processo terapêutico. Nessa perspectiva, os casos urgentes, como a anorexia, por exemplo, também não deveriam recorrer à psicanálise em função do tempo. Não é recomendado também aceitar pacientes com quadros graves, como os psicóticos, pois a capacidade simbólica está prejudicada. Para Freud, estão indicadas para o tratamento psicanalítico as pessoas mais desenvolvidas, os casos de histeria, estados obsessivos e as abulias (falta de motivação ou vontade). Essas indicações e contraindicações mencionadas acima se referem à Psicanálise. No caso da psicoterapia de base psicanalítica, o fator tempo é significante, uma vez que neste caso, o tratamento é em menor duração. Outra diferença reside no atendimento aos quadros psicóticos, que podem ser tratados pela psicoterapia de orientação psicanalítica, bem como os mais urgentes, desde que o trabalho seja em conjunto com outros profissionais, como psiquiatra, neurologista, nutricionista (no caso de transtornos alimentares), etc. A ENTREVISTA PSICANALÍTICA A entrevista é um dos instrumentos do psicodiagnóstico, sendo o principal na psicoterapia de orientação psicanalítica, e tem como objetivo principal conhecer a personalidade do paciente. 28 De acordo com Cunha (1993), na entrevista psicanalítica é importante avaliar: • A motivação inconsciente, isto é, o desejo do paciente em se tratar, sua disponibilidade interna e expectativas. • O funcionamento psíquico: medos inconscientes, modo de perceber a realidade externa, os vínculos afetivos, etc. • A organização da personalidade, identificando os quadros neuróticos, psicóticos ou borderlines. Recomenda-se realizar duas ou três entrevistas. Na primeira é interessante agendar um horário mais flexível, pois pode durar entre uma e uma hora e meia, sem que comprometa o horário do próximo paciente. Para Freud, o assunto para iniciar a entrevista geralmente é de escolha do paciente. Mas a história de vida, história da doença e as recordações da infância são informações indispensáveis para o terapeuta nortear a hipótese diagnóstica e o plano terapêutico. Sobre isso Keidann; Dal Zot (2005, p. 194) apontam que é importante favorecer a expressão dos conteúdos inconscientes, e, portanto, “devemos deixá-lo tanto quanto possível à vontade para mostrar seu modo de ser e de interagir conosco”. Para que isso aconteça, a escuta atenta é condição imprescindível. Entretanto, Keidann; Dal Zot (2005, p. 194) alerta para o fato que a escuta não implica no silêncio absoluto do terapeuta. Ao contrário, ele “deve agir com cordialidade, discrição e sensibilidade”. Pode iniciar a entrevista identificando-se e solicitando ao paciente que fale sobre sua queixa. Além disso, outros pontos são fontes ricas para compreender o psiquismo do paciente. Dentre eles, destacam-se: • Análise de como o paciente relaciona-se com os objetos significamente afetivos, como os pais, irmãos, cônjuges, filhos. • Observação das contradições, fantasias e mecanismos de defesa. • Análise do ego e superego. Trata-se de um ego estruturado ou desestruturado. Um superego rígido ou frouxo. • Exame das funções mentais, como humor, vontade, atenção, percepção, sono, etc. É importante ainda avaliar nas entrevistas: • Tendências suicidas; 29 • Uso de dependências químicas; • Compulsões (alimento, jogo, sexo, etc.); • Sintomas somáticos; • Fobias; • Uso de medicação, especialmente as de uso psiquiátrico, como os ansiolíticos, antidepressivos e anticonvulsivantes. Considerando que o processo terapêutico, de alívio do sintoma, diz respeito à dupla (terapeuta – paciente), na entrevista está em jogo o inconsciente de ambos. É preciso levar em conta os pontos favoráveis e desfavoráveis do par. Pode ser que um terapeuta não consiga atender determinado tipo de patologia, ou determinada faixa etária, em função de seus pontos cegos, isto é, de seus próprios conteúdos internos que não estão trabalhados. Para atender criança, por exemplo, é necessário que os conteúdos infantis do terapeuta estejam trabalhados. Para atender quadros de dependência química é importante trabalhar os sentimentos relacionados à impotência. ENQUADRE TERAPÊUTICO O contrato é uma das primeiras etapas do processo terapêutico, vindo após o psicodiagnóstico. É considerado o ponto mais concreto da relação terapêutica. É realizado verbalmente, devendo ser claro, objetivo para ambos, pois é o que orienta a dupla. O enquadre ou contrato inclui os seguintes pontos: • Esclarecimento dos papéis; • Lugar; • Horários; • Honorários. No que concerne ao esclarecimento dos papéis, é importante delimitar a função de cada um da dupla (terapeuta – paciente). A tarefa do paciente é a de falar – falar o que quiser. A do terapeuta é a escuta. Não se trata de uma escuta qualquer, mas uma escuta do material latente. No caso de atendimento à criança, é importante delimitar algumas situações de organização, como por exemplo, não rabiscar ou sujar as paredes, não sair da sala de atendimento, dentre outras. 30 Freud diz no texto em que faz recomendações aos psicanalistas que os aspectos importantes no início do tratamento são os acordos quanto a tempo e dinheiro, ou seja, o contrato. Está incluído ainda o diagnóstico e indicação terapêutica realizados pelo terapeuta. Quanto ao tempo, Freud] alerta que “a cada paciente é atribuída uma hora específica de meu dia de trabalho disponível, pertence a ele que é responsável por ela, mesmo que não faça uso da mesma” (p. 168). Nesse sentido, a recomendação é a de que, no momento do contrato, a dupla tenha acordado a respeito das faltas. Cada terapeuta tem seu estilo pessoal, a maneira com a qual consegue trabalhar mais confortavelmente. Há controvérsias entre os autores. Mas é comum alertar ao paciente que as faltas previamente avisadas poderão ser compensadas, remanejando a agenda do terapeuta, quando possível, atendendo em outro dia ou horário. Em contrapartida, as faltas não avisadas costumam ser cobradas. Isso quando se tratar de clínica privada. Quando se tratar de instituição pública, em função da grande demanda, pode- se negociar um máximo de faltas que o paciente pode ter sem perder sua vaga. Por exemplo, duas faltas seguidas ou três intercaladas, sem avisar. Em relação ao número de sessões, Freud atendia os seus pacientes seis vezes na semana, que seriam todos os dias, à exceção dos domingos e feriados. Atualmente esta frequência não é apropriada nem para a psicanálise ortodoxa. Em psicoterapia de base analítica indicam-se duas sessões semanais e, em algumas situações, uma, no caso de motivos financeiros,residência em outra cidade, desemprego. Mas não é uma regra, vai depender de cada caso. Situações mais graves (como por exemplo, depressão severa) requerem um acompanhamento mais próximo. Pode-se atender três vezes na semana inicialmente, e à medida que a estrutura egoica do paciente vai se fortalecendo, diminui o número de sessões. As sessões podem durar quarenta e cinco minutos. De preferência, o tempo precisa ser rígido. Além disso, não é aconselhado mudar muitas vezes os dias e horários, tampouco a sala de atendimento. É importante que o setting terapêutico seja preservado. Ainda quanto ao tempo, o paciente geralmente tem curiosidade de saber quanto tempo vai durar o tratamento. Freud faz uma comparação com o tempo de construção de uma casa: “na verdade, a pergunta relativa à duração provável de um tratamento é quase irrespondível” (...) e acrescenta: “mesmo pessoas inteligentes 31 esquecem que uma proporção necessária tem de ser observada entre tempo, trabalho e sucesso” (p. 170). Freud orienta para a importância de não dar prazos para o fim do tratamento. Além disso, pode ser conveniente, em algumas situações, informar ao paciente sobre a interrupção do tratamento. Este autor compara a interrupção de uma análise com a interrupção de uma cirurgia, sendo, portanto, insatisfatório. Outro fator a ser discutido no contrato refere-se aos honorários do terapeuta, quando se tratar de clínica privada. Freud faz uma associação entre dinheiro e fatores sexuais. Sugere que os honorários sejam tratados de forma espontânea e sincera, sem vergonha. Os honorários correspondem à parte prática da terapia. O psicólogo tem gastos com aluguel, água, luz, telefone, impostos, livros para seu estudo e preparação profissional. É recomendado que o paciente pague mensalmente, e o valor deve ser reajustado anualmente. Há que se identificar o simbolismo que o dinheiro tem para cada paciente. Assim, o terapeuta deve ser responsável por receber os honorários, de modo que possa realizar as interpretações quando necessário. Portanto, é ideal que não seja função da secretária. Atualmente, nos deparamos com os planos de saúde, que determinam previamente e de forma padrão o número de sessões e o valor a ser cobrado, além de ser pago indiretamente ao terapeuta. Nesses casos, convém informar ao paciente sobre as dificuldades que se tem para trabalhar com prazos predefinidos. Algumas vezes é possível combinar com o paciente sobre a continuidade do tratamento, quando necessário, de modo que ele fique responsável pelos honorários. Quanto ao tratamento, Freud conclui: “nada na vida é tão caro quanto a doença e a estupidez” (p. 176). ALIANÇA TERAPÊUTICA A aliança terapêutica, também chamada de vínculo, diz respeito a uma relação dual: paciente e terapeuta. Segundo Keidann; Dal Zot (2005) refere-se à capacidade de estabelecer uma relação de trabalho entre a dupla. Ocorre após o contrato e é à base do processo psicoterápico. 32 Ocorre após a dissociação do ego do paciente. Ou seja, parte do paciente deseja falar do problema e a outra não quer, porque lhe causa sofrimento. Ao realizar a dissociação, o paciente irá se identificar com o terapeuta. Trata-se de um processo importante na psicoterapia: o paciente irá se identificar com a parte do ego saudável do terapeuta (já que a mente desse está mais saudável, após ter realizado sua análise). Então, a melhora se dá quando está incorporado o ego saudável do terapeuta no paciente (DEWALD, 1981). É considerada como a base do tratamento porque, a partir da postura de acolhimento e escuta atenta do terapeuta, favorecendo um clima de confiança e respeito. Sentir-se compreendido é condição essencial para que o paciente continue seu tratamento. PRINCIPAIS TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS De acordo com Freud o aparelho psíquico está dividido em: consciente, pré- consciente e inconsciente. Uma das principais características da psicanálise e da psicoterapia de base analítica é o inconsciente. Este é regido, segundo Freud, pelo princípio do prazer e é composto de ideias desorganizadas (ideias reprimidas, por exemplo). O inconsciente é atemporal e, portanto, sempre atual. Apesar de não termos consciência dos conteúdos inconscientes, poderemos vir a ter por intermédio da psicoterapia. Isso pode ocorrer por meio da associação livre e dos sonhos. No processo da psicoterapia a comunicação se dá de inconsciente do terapeuta para inconsciente do paciente. Portanto, estão envolvidos os sentimentos da dupla. Nesse sentido, dizemos que, em psicoterapia de orientação psicanalítica, assim como na psicanálise, o inconsciente é o objeto principal a ser trabalhado. De acordo com Luz (2005) a psicoterapia passa por três fases, sendo elas: início, fase intermediária e término. Quanto ao início do tratamento, Luz (2005) salienta que compreende desde o primeiro contato com o paciente até o estabelecimento da aliança terapêutica, que pode variar de sessões a meses, conforme cada caso. Sendo assim, nesse momento o principal objetivo é o de estabelecer e fortalecer a aliança terapêutica, por meio de um contrato claro e objetivo, identificando os motivos inconscientes do sofrimento do paciente. A intervenção, portanto, precisa 33 ser de acolhimento e focada na interpretação das ansiedades paranoides, isto é, na dicotomia confiança-desconfiança (LUZ, 2005). “É importante que o terapeuta ‘ensine’ o paciente a se tratar, auxiliando-o a despertar seu interesse pelos conflitos e pelas formas de funcionamento de sua personalidade” (LUZ, p. 257). Nesse sentido, a postura do terapeuta não deve ser de silêncio exagerado e nem tão amistosa. O maior risco nessa fase, como aponta Luz (2005), é a interrupção precoce do tratamento. Para tanto, um recurso útil diz respeito aos conteúdos contratransferênciais, ou seja, os sentimentos que o paciente desperta no terapeuta. As fantasias iniciais, por parte da dupla, são inúmeras. Quanto às fantasias do paciente, este pode ter medo de entrar em contato com seus conflitos mais infantis porque foram desastrosos, pode ter medo de ficar dependente do terapeuta. Pode ainda ter medo de perder o controle de suas emoções ou de aflorar fantasias eróticas. De qualquer forma, cabe ao terapeuta interpretar tais fantasias, para que deixem de ser um obstáculo ao tratamento, ou seja, deixem de ser resistências (LUZ, 2005). Já a fase intermediária da psicoterapia é definida por Luz (2005, p. 258) como a fase mais longa, que compreende desde o estabelecimento da aliança terapêutica até o momento da alta. O objetivo desse momento é o de “examinar, analisar, explorar e resolver os sintomas e as dificuldades emocionais do paciente”. Quanto à técnica, a interpretação das resistências iniciais e dos conflitos inconscientes do paciente é a principal delas. Ao comparar o processo de psicoterapia com um jogo de xadrez, Freud diz que existem, basicamente, técnicas para o início e para o fim do tratamento. O decorrer do mesmo é sempre um desafio. Trata-se da etapa mais árdua, uma vez que é nela que ocorrem as principais mudanças. Em relação à temática abordada nesta fase, o foco são os assuntos trazidos pelo próprio paciente durante as sessões. Geralmente são temas referentes às situações vividas no dia a dia, como conflitos de relacionamento familiar, no trabalho; ambições, planos e decepções. Enfim, sofrimentos cotidianos (LUZ, 2005). Quanto à postura do terapeuta, Luz (2005) recomenda que seja atenta e respeitosa, de modo que o paciente possa sentir-se à vontade para falar. Dessa forma, à medida que vai surgindo o momento oportuno, o terapeuta poderá intervir, seja pontuando, assinalando ou interpretando. 34 Ocorre que, como aponta Luz (2005), na fase intermediária nem sempre o processo evolui tão bem. Às vezespode ocorrer uma estagnação temporária, em função das resistências, impasses, acting out, perturbação da aliança terapêutica, etc. Em relação à alta, ou ao término da psicoterapia, este não ocorre em uma única sessão. A fase final perdura por várias sessões, nas quais são trabalhadas as ansiedades de separação. De acordo com Luz (2005) esta fase inicia com a primeira comunicação da alta e culmina com a última sessão em que a dupla terapeuta- paciente se encontra. O objetivo principal é o de trabalhar os sentimentos de luto vivenciados pelo término do tratamento, bem como avaliar os ganhos e benefícios conquistados durante o mesmo (LUZ, 2005). A alta é uma questão de comum acordo entre a dupla. Para o terapeuta, alguns indicadores subsidiam seu trabalho, segundo Luz (2005). São eles: • A melhora ou supressão do sintoma trazido inicialmente pelo paciente. • Alguma mudança nos vínculos afetivos, com os familiares. • Alguma alteração nos processos de trabalho, de modo que possa almejar novos projetos. • Ampliação dos contatos sociais. • Maior satisfação na vida sexual. • Mudança no contato com a realidade, de modo que o paciente a suporte melhor. Ocorre que nem sempre o processo psicoterápico tem êxito. Então se depara com o fenômeno do abandono do tratamento, que é sempre indesejável. Percorrendo a literatura, encontramos algumas explicações acerca do abandono do tratamento psicoterápico. Segundo Etchegoyen (2004), na fase do contrato do processo psicoterápico está incluída a ideia de que o tratamento deve finalizar por acordo de ambas as partes e, por isso, se apenas um lado decide, não se fala em término da análise, mas sim em interrupção. O analisado tem liberdade para rescindir o contrato a qualquer momento, assim como o analista. Em alguns casos, salienta Etchegoyen (2004), pode ser que os motivos que levaram à interrupção de tratamento sejam de ordem externas, porém não é o mais comum. Os motivos internos são mais frequentes, e quando isso acontece, chamamos 35 de resistências, que pode vir do analisando, ou até mesmo do analista, que não conseguiu manejá-la. De acordo com Laplanche e Pontalis (2008, p. 458) “chama-se resistência a tudo o que nos atos e palavras do analisando, durante o tratamento psicanalítico, se opõe ao acesso deste ao seu inconsciente”. Um segundo fenômeno relacionado ao abandono do tratamento é o chamado acting out. Chamado por Freud de “agieren” e apresenta o sentido de “atuar”. Termo usado em Psicanálise para designar as ações que apresentam, quase sempre, um caráter impulsivo, relativamente isolável no decurso das suas atividades, e que torna muitas vezes uma forma auto ou hetero-agressiva. Para o psicanalista, o aparecimento do acting out é a marca da emergência do recalcado. Quando aparece no decorrer de uma análise (durante a sessão ou fora dela, o acting out tem de ser compreendida na sua conexão com a transferência, e frequentemente como uma tentativa para ignorá-la radicalmente. (LAPLANCHE e PONTALIS, 2008, p. 6) Segundo Francisco (1995) o acting out pode estar a serviço ao que Freud chamou de “lembranças encobridoras”. Ao invés de lembrar, o indivíduo atua, uma vez que se trata de experiências infantis bastante remotas e que não foram compreendidas na ocasião. Pode se referir a várias situações que se opõem ao processo analítico, como o silêncio, esquecimento de sessões, decisão súbita de deixar a análise, dentre outros. Laplanche e Pontalis (2008, p. 264) definem lembrança encobridora: Lembrança infantil que se caracteriza ao mesmo tempo pela sua especial nitidez e pela aparente insignificância do seu conteúdo. A sua análise conduz a experiências infantis marcantes e a fantasias inconscientes. Como o sintoma, a lembrança encobridora é uma formação de compromisso entre elementos recalcados e a defesa. De acordo com Gus (2005) atuações e encenações (enactments) refere-se a sensações e sentimentos pré-verbais, portanto anterior a palavra, denotando expressões primitivas. Em um estágio primitivo do desenvolvimento psíquico, narra Gus (2005), quando a linguagem ainda não existia (pré-verbal), não era possível expressar os sentimentos por meio da palavra. Sendo assim, o ato é a única forma de expressão de vivências emocionais primitivas e afetos perigosos da dupla terapêutica. Trata-se de uma obstrução ao processo de crescimento e desenvolvimento psicoterápico, uma vez que, ao invés de atingir o insight, o indivíduo realiza um ato. 36 Entretanto, como aponta Gus (2005), o fenômeno do acting out pode ser útil ao tratamento, desde que compreendidos e bem encaminhados àqueles pacientes de difícil acesso, em que predominam o pré-verbal, a desorganização psíquica, o caos e o vazio mental. A realidade psíquica é resultante das percepções que o indivíduo tem do mundo externo, somado às fantasias do mundo interno. Portanto, é uma experiência subjetiva, individual e nem sempre traduz a realidade externa (GUS, 2005). Sendo assim, afirma Gus (2005) que, no acting out e enactment a realidade psíquica ganha expressão, por meio do ato, de vivências primitivas dolorosas (como ansiedades persecutórias, etc.), as quais o indivíduo não se lembra e que podem ser percebidas por meio da transferência e da contratransferência. Portanto, trata-se de revivências de conflitos primitivos da dupla terapêutica. Nesse sentido, Gus (2005) entende que as vivências primitivas são da dupla terapeuta-paciente. As experiências de fantasias inconscientes destrutivas, arcaicas, de ansiedade persecutória e situações traumáticas são reeditadas por ambos. Então, o psicoterapeuta também possui papel fundamental: há que se compreender e manejar adequadamente o fenômeno do acting out e enactment. Atualmente há um consenso entre os psicanalistas de que o processo psicoterápico não está focado apenas no paciente, mas sim na dinâmica do campo analítico. Assim, são levadas em conta as condições emocionais do terapeuta e do paciente, bem como o inconsciente de ambos (ZIMERMAN, 2004). Quando o terapeuta, segundo Gus (2005), consegue compreender a realidade psíquica do setting, conter e interpretar acting e enactment é possível dar novo significado às fantasias primitivas. Ao contrário, acrescenta Gus (2005), quando não se compreende a realidade psíquica do par terapêutico no setting, chega-se ao “ponto cego” ou conluios inconscientes, de natureza narcísica. Podem ocorrer ainda, piora do quadro clínico, impasses e interrupção do tratamento. Longos silêncios, faltas e atrasos podem se configurar como acting out, que, caso ocorram de forma intensa no início do tratamento, podem levar à interrupção do tratamento (GUS, 2005). Há também o fenômeno do impasse que, segundo Pires (2005) pode estar relacionado à interrupção no tratamento psicoterápico. Trata-se de uma estagnação do desenvolvimento da terapia, que implica num cessamento da elaboração, 37 perceptíveis no processo transferocontratranferencial, caracterizada por intensas repetições de conflitos não resolvidos envolvendo a dupla terapêutica. Quando o impasse não é superado, pode ocorrer a interrupção do tratamento. Torna-se então inevitável reavaliar o próprio trabalho do terapeuta. De alguma forma, acrescenta Pires (2005), o paciente confirma a validade das teorias. Nesses casos é importante a supervisão do caso, já que fica mais difícil o terapeuta, no momento da sessão, ter uma visão mais crítica. Além disso, como o supervisor não está envolvido diretamente com o impasse, possivelmente terá melhor condição de ajudar o terapeuta. O fenômeno do impasse muitas vezes é confundido com o acting out, como sinaliza Pires (2005). A diferença reside no momento em que ocorrem: o acting out pode ocorrer já no início do tratamento, enquanto que o impasse geralmentedeve ocorrer em fases posteriores do processo psicoterápico. Além disso, Pires (2005) afirma que a probabilidade de ocorrer impasse na psicoterapia é menor que na psicanálise. Isso acontece porque na psicoterapia o número de sessões é menor, o objetivo é mais focal e as situações extratransferenciais são menos intensas. Conforme Pires (2005, p. 342), alguns autores defendem a ideia de que, nas situações de impasse seria indicado marcar a data para interrupção do tratamento. Isso suscita muitos questionamentos. Entretanto: [...] em defesa de, pelo menos parte dessa ideia, é preciso dizer que uma interrupção é sempre mais ética do que a manutenção de um tratamento interminável, pois esta última opção configura uma espoliação emocional e econômica do paciente por parte do terapeuta. No decorrer do processo psicoterapêutico duas pessoas estranhas (terapeuta- paciente), numa relação assimétrica, irão se encontrar frequentemente estabelecendo uma relação única. Para Keidmann (2000) a experiência com cada novo paciente mobiliza no terapeuta ansiedades, resistências e outras emoções inconscientes. Pode então ocorrer abandono por erros, incompetência, hostilidade ou sedução do terapeuta. Freud alerta sobre a oportunidade de aprender com as experiências de pacientes abandonantes na medida em que se pode pensar sobre o fato, o mesmo que ocorre muitas vezes quando se perde uma partida de xadrez. Aprende-se com os erros também. 38 Ferenczi, citado em Freud, afirma que o êxito depende muito do analista ter aprendido com seus próprios erros e de ter levado a melhor sobre os pontos fracos de sua própria personalidade. O tripé clássico da técnica psicanalítica consiste na transferência, resistência e interpretação. Segundo Laplanche e Pontalis (2008, p. 514) a transferência é um “processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação analítica”. Dewald (1981, p. 213) define a transferência como “uma forma de deslocamento na qual o indivíduo dirige para um objeto presente todos aqueles impulsos, defesas, atitudes, sentimentos e respostas” vivenciados nos primeiros relacionamentos infantis com as figuras parentais. O fenômeno da transferência refere-se aos conteúdos inconscientes do paciente para o analista. Já a contratransferência vai do analista para o paciente. No fenômeno da transferência, parte dos impulsos eróticos do indivíduo vai para a consciência, dirigida para a realidade. A outra parte fica retida, ou permanece inconsciente. Então, se a necessidade de amar não está totalmente satisfeita pela realidade, o indivíduo vai aproximar-se de cada nova pessoa que encontrar. Esta pessoa pode ser até seu terapeuta. Isto é natural, mesmo porque é a transferência que move o tratamento. Em Psicanálise trabalha-se com a perda de um objeto. Nesse sentido, a transferência ocorre porque o paciente acredita que o analista é esse objeto perdido. Ele acredita que o analista detém o saber, sabe algo dele que o próprio paciente não sabe. E esse fenômeno move o tratamento. É necessário certo “enamoramento”, ou seja, admiração pelo analista, para que o paciente suporte um longo tempo na terapia. Vai chegar um dia em que, assim como a criança quando cresce descobre que seu pai não é não perfeito e poderoso quanto pensava, o paciente também vai chegar a essa conclusão. E nesse momento não vai mais haver motivo para continuar o tratamento. É quando pode ser dada a alta. Mas o que o paciente transfere para o terapeuta? Transfere sentimentos inconscientes infantis vivenciados com as figuras parentais. A transferência é sempre inconsciente. É o resultado de um desejo. O ser humano tem dois caminhos: a saúde e o sintoma. Os que fazem sintoma são pessoas 39 que estão doentes. Pode estar doente porque direciona seu sintoma para uma meta impossível (está sempre esperando, insatisfeito). Nesse sentido, a pessoa desqualifica a saúde. O trabalho do psicoterapeuta é conscientizar a pessoa disso. O sintoma implica num ganho secundário. Funciona como uma “bola de neve”, isto é, quanto mais o tempo passa, mais fica prejudicial. É uma metáfora de uma resolução sexual e implica numa homeostase (equilíbrio) do aparelho psíquico. Este equilíbrio é dinâmico (em alguns momentos é bom, mas em outros é ruim). Acontece que o sintoma toma bastante libido (energia) do indivíduo, impedindo, assim, que ele não tenha energia para outras coisas. Então o paciente procura o terapeuta porque essa situação é desconfortável. Mas aí vem a resistência, pois o sintoma implica em alguns momentos, equilibrar seu aparelho psíquico. Na medida em que seu sintoma é retirado, há uma piora de seu quadro – e isto é sinal da cura, primeiro piora para depois melhorar. Segundo Freud a transferência pode ser positiva ou negativa. A primeira refere- se aos sentimentos amorosos, de amizade e confiança, enquanto que a segunda diz respeito aos sentimentos hostis, agressivos. A transferência que move o tratamento é a positiva (o paciente tem confiança no terapeuta, acredita que ele é o detentor do saber), enquanto a transferência negativa prejudica o tratamento, pois funciona como resistência. Esta última precisa ser interpretada ou assinalada. Algumas vezes a transferência negativa é silenciosa ou muito sutil. Por exemplo: quando o paciente chega atrasado à sessão ou falta. Quando no dia do pagamento esquece-se de assinar o cheque, etc. A contratransferência, como já foi dito, diz respeito ao “conjunto das reações inconscientes do analista à pessoa do analisando e, mais particularmente, à transferência deste” (LAPLANCHE E PONTALIS, 2008, p. 102). É fundamental e faz parte da técnica atentar para os sentimentos que o paciente desperta no terapeuta. Na relação com o paciente o terapeuta pode experimentar diversos sentimentos, como raiva, prazer, desconfiança, preocupação, etc. (DEWALD, 1981). Quando se trata de pacientes com quadros psicossomáticos, é comum o psicólogo sentir sensações físicas, como alguma dor, por exemplo. Prestar atenção 40 nesses sentimentos auxiliará no processo de avaliação, bem como no momento adequado de interpretar. O fenômeno da resistência é definido por Dewald (1981, p. 240) como “funções psíquicas do paciente que se opõem ativamente à tarefa terapêutica de trazer o material inconsciente ao conhecimento”, e, consequentemente, opondo-se às mudanças. A resistência expressa à forma de como o ego se mobiliza para enfrentar as suas angústias diante da vida. Resiste como forma de se proteger contra os ataques que sofreu no passado (carência, abandono, incompreensão, humilhação, etc.). É o grande obstáculo ao tratamento. Algumas situações dentro do setting terapêutico podem ser interpretadas como resistência, tais como: faltas, atrasos, esquecimentos, silêncio, dificuldades em falar sobre determinados assuntos que causam angústia, etc. O terceiro componente que faz parte do tripé da técnica psicanalítica é a interpretação. Esta é uma técnica valiosa, em que o psicoterapeuta permite que seu paciente entre em contato com seus conteúdos inconscientes, ajudando-o a “traduzir” seus sentimentos (RIBEIRO, 1988). É nesse momento, para Freud, que é favorecida a mudança. A arte da interpretação identifica as resistências e as torna conscientes. Esta é uma técnica que deve ser usada com cautela, uma vez que tem seu momento oportuno. A recomendação é que o terapeuta possa identificar quando seu paciente estiver próximo de tornar o conteúdo consciente. É difícil saber se uma interpretação está correta. Mas alguns indícios podem ser observados. Ao interpretar, é importante avaliar a reação do paciente, o assunto ou material seguinte que ele vai trazer.Dewald (1981) discorre sobre a técnica em psicoterapia de base analítica, elegendo a escuta, o esclarecimento e a confrontação, além da interpretação como formas de intervenção. Segundo este autor é importante deixar o paciente falar, mas cabe ao terapeuta a função da escuta especializada. “A atividade do terapeuta em escutar representa muito mais que a simples recepção passiva e compilação do material verbalizado pelo paciente” (DEWALD, 1981, p. 198). Esta escuta significa priorizar o significado dos conteúdos latentes, além 41 de observar o comportamento não verbal é importante observar o conteúdo que foi dito pelo paciente, mas também o que foi omitido. A comunicação na psicoterapia pode ser: • Verbal: por meio da palavra, linguagem falada. • Não verbal: por meio de comportamentos como a expressão corporal, por exemplo. O silêncio também é uma forma de comunicação, que pode simbolizar várias situações: ansiedade, vazio mental, resistências, etc., podendo ser do tipo paranoide, depressivo, fóbico, confusional, etc. Em oposição, tem também aquele paciente que fala muito, como uma espécie de descarga emocional. Entretanto, deixa de falar o mais importante. Pode ser inclusive, um tipo de resistência. Segundo Dewald (1981), o esclarecimento é uma forma de intervenção que tem por objetivo esclarecer alguma situação específica da experiência e do comportamento do paciente. Está mais no nível consciente e pré-consciente. Já a confrontação “implica dirigir a atenção do paciente para elementos da experiência ou comportamento nele observados pelo terapeuta, mas sem retirar qualquer inferência dos seus possíveis significados” (DEWALD, 1981, p. 202). É interessante apontar diferenças, semelhanças ou repetições nas experiências vividas pelo paciente. Assim, como o esclarecimento a confrontação também ocorre a nível consciente e pré-consciente. FIGURA - DIVÃ http://www.greiceklem.psc.br/images/diva_freud.jpg?546 http://www.greiceklem.psc.br/images/diva_freud.jpg?546 42 Quanto ao uso do divã, este é uma herança do método da hipnose, utilizado por Freud, no início de seus trabalhos. O divã servia para afastar os olhos do terapeuta e do paciente, já que Freud atendia muitos pacientes num mesmo dia, e, por sua vez, ficava mais à vontade. Ajudava também favorecendo a ocorrência dos pensamentos involuntários, já que permitem a associação livre, além de propiciar a regressão. O paciente não inicia o tratamento logo deitando no divã. O momento de deitar é aquele em que de fato inicia-se a análise, ou seja, quando o paciente não tem nada mais para contar sobre sua história de vida. O ato de apenas descrever fatos não significa necessariamente que está sendo terapêutico. Há que se avaliar os casos em particular, mas às vezes pode demorar mais de um ano para iniciar o processo de análise propriamente dito e poder deitar no divã. Na psicoterapia de orientação psicanalítica o divã não é usado, principalmente porque a regressão não é tão profunda quanto na psicanálise. Faz-se necessário a interação face a face do terapeuta e do paciente, especialmente nos quadros psicóticos. Em relação à técnica, em sua obra “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise”, Freud sugere que não há necessidade de memorizar a história de vida do paciente como datas, nomes ou outros pormenores. O importante é o que está marcado afetivamente, que pode ser observado por meio dos sentimentos, entonação de voz, etc. O mais importante é a relação terapeuta/paciente. Outra recomendação de Freud que também se aplica a psicoterapia, diz respeito às anotações das sessões. É melhor que os registros sejam feitos em outro momento, que não durante o atendimento. A atenção do terapeuta, ou melhor, sua escuta deve ser o foco, em detrimento dos registros. Além disso, caso esteja diante de um paciente com personalidade paranoide, a desconfiança poderá ser reforçada. Freud, p. 129] dá ênfase na necessidade de o terapeuta realizar sua análise. “Deve-se insistir, antes, que tenha passado por uma purificação psicanalítica e ficado ciente daqueles complexos seus que poderiam interferir na compreensão do que o paciente lhe diz”. E acrescenta: “(...) todos que desejam efetuar análise em outras pessoas terão primeiramente de ser analisados por alguém com conhecimento técnico” (p. 130). Uma das funções do psicoterapeuta, conforme aponta Freud, refere-se à função especular, isto é, o terapeuta deve mostrar ao paciente somente o que lhe é 43 mostrado. Nesta mesma linha de raciocínio, o psicólogo deve orientar-se pelas capacidades do paciente e não pelos seus desejos (do terapeuta), valorizando qualquer evolução do paciente. A psicoterapia é um processo árduo, em que não há ausência de sofrimento. Muitas vezes, a fantasia é a de que são ditas apenas palavras de conforto, como se a pessoa quisesse ficar na zona de conforto o tempo todo, como rege o princípio do prazer. Ocorre que o princípio da realidade é condição para a superação do sintoma, rompendo o ciclo doentio, patológico. Como afirma Luz (2005, p. 260), na terapia o paciente “vai sofrer pelo motivo adequado e de forma adequada”. Para Freud, a doença significa a incapacidade de amar, o paciente vive mendigando amor dos outros. E a função do profissional é a de ajudar esse paciente a amar. Freud conclui que tem saúde mental aquela pessoa capaz de amar e de trabalhar, em seus vários aspectos. A relação com o outro é saudável para a Psicanálise, uma vez que há investimento de libido (ou energia). Uma pessoa que se isola do mundo reveste-se em seu próprio narcisismo, e consequentemente, surgirão os sintomas. Todo amor tem sua origem nas fontes primitivas, de contato com a pele (inicialmente, da mãe com o bebê). Com o passar do tempo, a sociedade exige que esse amor mude de direção, passando para um amor genital. Nesse sentido, Freud usou o termo “sexualidade” em alemão “lieben”, que significa “amar”. Portanto, este autor utiliza esse conceito em praticamente toda sua obra. Nesse sentido, não se limita ao sexo no sentido genital, como entende o senso comum. Ainda com relação à técnica, em sua obra “Recordar, repetir e elaborar”, Freud, orienta o caminho do processo psicoterápico. O processo de recordar tem suas origens na hipnose, método esse utilizado na primeira fase da Psicanálise. Freud diz que recordar não é tão simples, principalmente se forem experiências muito primitivas, conhecidas como amnésia infantil. Lembrar pode ser extremamente doloroso, portanto, muitas vezes distorcemos para ficar suportável. Quanto mais precoce, mais difícil de ser retirada a marca, porque menos recursos têm o ego para lidar com a intensidade do trauma. Menos simbolismo tem, e maior é a desorganização psíquica. Quanto mais primitivas as experiências 44 vivenciadas, mais fica em nível das sensações, e, portanto, não há simbolismo, apenas registro mnêmico. As lembranças remotas, segundo Freud, caso não possam ser compreendidas na ocasião, mas poderão vir à tona quando forem interpretadas. Recordar significa contar o que sabe da experiência ou evento traumático. Mas Freud salienta que nem sempre o indivíduo recorda de suas experiências infantis, mas as reproduz por meio da ação (acting out), repetindo-as. Não é tão importante que o paciente se lembre das suas experiências, porque ele vai repeti-las na terapia. Mas o que o paciente repete? “Repete ao invés de recordar e repete sob as condições da resistência” (FREUD [1914(1976) p. 198]). O paciente repete ou atua seus conteúdos reprimidos, traços patológicos, seu sintoma e as resistências. A doença do paciente, como sinaliza Freud, é atual, e dessa forma deve ser tratada. As origens da doença é que estão associadas às experiências passadas. Portanto, o paciente irá repetirfragmentos da vida real, atual. O principal instrumento para trabalhar as repetições em psicoterapia é, para Freud, o manejo da transferência. Assim, é possível superar as resistências para então elaborá-las. Elaborar é trocar a atuação e as repetições por discernimento. É dar um novo sentido ao sofrimento. Quando o paciente elabora não há mais repetição. Segundo Freud [1914(1976), p. 202]: Deve-se dar ao paciente tempo para conhecer melhor esta resistência com a qual acabou de familiarizar, para elaborá-la, para superá-la, pela continuação, em desafio a ela, do trabalho analítico segundo a regra fundamental da análise. Nesse processo de recordar, repetir e elaborar, para Freud, a função do terapeuta é a de “completar aquilo que foi esquecido a partir dos traços que deixou atrás de si ou, mais corretamente, construí-lo” (p. 293). A técnica da construção diferencia-se da interpretação, segundo Freud. A interpretação é quando o analista interpreta um único fato da vida do paciente. Já a construção refere-se a vários fatos da vida do indivíduo. É algo final, um processo mais longo. O trabalho de construção é o objetivo e a etapa final da psicoterapia de orientação psicanalítica. Trata-se da tarefa de ajudar o paciente a construir uma nova história de vida. 45 PSICOTERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITOS BÁSICOS Segundo Milhollan e Forisha (1972), no século XIX a Psicologia começa a evoluir como disciplina independente, apesar dos problemas psicológicos de mente e conhecimento serem de domínio de filósofos. Fisiologistas e físicos contribuíram para a Psicologia por meio do estudo do sistema nervoso e da sensação. Para que a Psicologia pudesse se tornar uma ciência (até então era estudada como disciplina da Filosofia) era importante torná-la mais objetiva. Era importante que seu objeto de estudo pudesse ser mensurado, observado. Nesse sentido, alguns nomes foram muito importantes. Dentre eles, destacam-se: Wundt, Thorndike, Pavlov, Watson e Skinner. Em 1879, Wilhelm Wundt (1832-1920) fundou seu laboratório psicológico em Leipzig, Alemanha, estabelecendo a Psicologia como ciência. Refere-se à psicologia de Wundt como estruturalismo, tentativa de estudar a estrutura da mente. WUNDT http://files.segredosdapsicologia.webnode.com.pt/20000000615ff916f97/Wund t3.jpg Edward L. Thorndike (1874-1949) desenvolveu princípios e conceitos de importante influência, como o estudo do comportamento animal, chamado de Lei de http://files.segredosdapsicologia.webnode.com.pt/200000006-15ff916f97/Wundt3.jpg http://files.segredosdapsicologia.webnode.com.pt/200000006-15ff916f97/Wundt3.jpg http://files.segredosdapsicologia.webnode.com.pt/200000006-15ff916f97/Wundt3.jpg http://files.segredosdapsicologia.webnode.com.pt/200000006-15ff916f97/Wundt3.jpg 46 Efeito (estímulo e resposta no comportamento de pacientes experimentais – a aprendizagem era uma questão de gravar respostas corretas e eliminar incorretas, como resultado de suas consequências agradáveis ou desagradáveis, isto é, recompensas ou punições). FIGURA – CAIXA http://www.jornallivre.com.br/images_enviadas/a-caixa-de-skinner- caixa2-jpg.jpg> . Ivan P. Pavlov (1849-1936) e o condicionamento clássico: o processo de aprendizagem consistia na formação de uma associação entre um estímulo e uma resposta aprendida por meio de contiguidade (lembrança de algo que no passado foi experimentado junto com alguma outra coisa). Estudo de secreções gástricas em cães. 47 FIGURA - CONDICIONAMENTO http://3.bp.blogspot.com/_nLGqF2OyrH0/S_nhFmYNx4I/AAAAAAAAACI/QnV 0c3oORM4/s320/experimento+de+pavlov>. John B. Watson (1878-1958) e o behaviorismo – psicologia como ciência de comportamento objetiva, com a finalidade de prever e controlar o comportamento dos indivíduos. Aceitou o condicionamento clássico como explicação para toda aprendizagem. http://3.bp.blogspot.com/_nLGqF2OyrH0/S_nhFmYNx4I/AAAAAAAAACI/QnV0c3oORM4/s320/experimento+de+pavlov http://3.bp.blogspot.com/_nLGqF2OyrH0/S_nhFmYNx4I/AAAAAAAAACI/QnV0c3oORM4/s320/experimento+de+pavlov http://3.bp.blogspot.com/_nLGqF2OyrH0/S_nhFmYNx4I/AAAAAAAAACI/QnV0c3oORM4/s320/experimento+de+pavlov http://3.bp.blogspot.com/_nLGqF2OyrH0/S_nhFmYNx4I/AAAAAAAAACI/QnV0c3oORM4/s320/experimento+de+pavlov 48 FIGURA - WATSON http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b- watson-1-sized.jpg B. F. Skinner e o condicionamento operante – um dos principais behavioristas, com a publicação de “Behavior of Organisms”, em 1938. Estudou o comportamento manifesto ou mensurável. O condicionamento operante relaciona o comportamento às consequências, é controlado pelos estímulos que se seguem à resposta. FIGURA- SKINNER http://1.bp.blogspot.com/- L_p3nVe5Wqc/Taz13t5ktAI/AAAAAAAAACo/ZLRkpo4pTRU/s1600/skinner.jpg > http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-watson-1-sized.jpg http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-watson-1-sized.jpg http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-watson-1-sized.jpg http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-watson-1-sized.jpg http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-watson-1-sized.jpg http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-watson-1-sized.jpg http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-watson-1-sized.jpg http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-watson-1-sized.jpg http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-watson-1-sized.jpg http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-watson-1-sized.jpg http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-watson-1-sized.jpg http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-watson-1-sized.jpg 49 Guimarães (2001) ressalta que a teoria comportamental ganhou espaço na década de 30 e graças a trabalhos como os de Pavlov, Skinner e Thorndike contribuíram para que a Psicologia fosse vista sob enfoque científico e definida como ciência do comportamento. Suas aplicações foram desenvolvidas a partir dos princípios da teoria da aprendizagem e da análise experimental do comportamento. A partir da década de 50 é reconhecida como abordagem sistemática de intervenção em saúde mental, em oposição à psicanálise. Enfoca diretamente os comportamentos a ser modificado e o ambiente onde o comportamento ocorre, valorizando a forma como o organismo interage com o meio. O foco principal é dirigido ao que pode ser observado, lida com eventos mensuráveis. O desenvolvimento da teoria comportamental permitiu o conhecimento a respeito das leis gerais do comportamento tornando-o mais previsível. Dentro da perspectiva comportamental são apontados o comportamento respondente, que responde a um determinado estímulo (involuntário) e o comportamento operante (voluntário), que modifica o ambiente e está sujeito a alterações a partir das consequências dessa atuação. O “condicionamento” tem papel fundamental nesta abordagem e significa que os comportamentos podem ser alterados realizando-se mudanças nas condições do ambiente. No condicionamento operante uma consequência reforçadora aumenta a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente e uma situação aversiva, como a punição, diminui ou extingue determinado comportamento. A “modelagem” é utilizada no condicionamento operante e consiste em modificar comportamentos de forma progressiva, por meio de reforços sistemáticos de comportamentos que se assemelham ao comportamento final que se deseja atingir. Segundo Falcone (2001), a psicoterapia cognitiva começou a ser desenvolvida por Aaron Beck no início da década de60, a partir de insatisfações com as formulações psicodinâmicas sobre a depressão. Seus estudos verificaram uma tendência de pacientes em interpretar os acontecimentos de forma negativista e demonstraram que alguns apresentaram melhora em resposta a experiências bem- sucedidas – construiu o modelo cognitivo da depressão, estendendo a outros transtornos. Foi influenciado por várias abordagens, como a abordagem cognitiva de Ellis -1962 -, estudos sobre modelação e autoeficácia de Bandura -1977 - e pesquisas sobre o controle cognitivo de Mahoney - 1974. 50 FIGURA – BECK http://www.atccl.org.ar/articulos/Beck4.jpg Para o modelo cognitivo os transtornos psicológicos decorrem de um modo distorcido ou disfuncional de perceber os acontecimentos, influenciando afeto e comportamento. Sua prática terapêutica visa à mudança dos processos cognitivos, como pensamentos e emoções. São identificados três níveis de pensamento: 1. Pensamentos automáticos: são os espontâneos, a partir de acontecimentos do dia-a-dia; 2. Crenças intermediárias: ocorre sob a forma de suposições ou regras; refletem ideias ou entendimentos mais profundos e são mais resistentes à mudança; 3. Crenças centrais: nível mais profundo da estrutura, compostas por ideias absolutistas, rígidas e globais sobre si mesmo, os outros e o mundo. Desenvolvem-se na infância e, a partir de circunstâncias traumáticas ou de experiências frequentes, tornam-se convincentes na vida adulta. Também conhecidas como esquemas. Os três níveis estão interligados no funcionamento cognitivo de uma pessoa com transtorno psicológico. O objetivo da terapia cognitiva é produzir mudanças no pensamento e no sistema de crenças, para que ajam mudanças emocionais e comportamentais duradouras. É uma técnica breve, estruturada, educativa e orientada para o presente. Estratégias comportamentais são utilizadas pela terapia cognitiva por produzirem mudanças cognitivas. http://search.babylon.com/imageres.php?iu=http://www.psicoterapiaintegrativa.com/therapists/images/Aaron_Beck2.jpg&ir=http://www.psicoterapiaintegrativa.com/therapists/htms/Aaron_Beck.htm&ig=http://images.google.com/images?q=tbn:HaNkS_lB0sJTaM::www.psicoterapiaintegrativa.com/therapists/images/Aaron_Beck2.jpg&h=599&w=502&q=aaron%20beck&babsrc=home http://www.atccl.org.ar/articulos/Beck4.jpg 51 A terapia cognitivo-comportamental concilia procedimentos utilizados nas técnicas comportamentais com os utilizados na modificação de processos cognitivos; desenvolvimento e reconhecimento na década de 70, com o surgimento de novas técnicas e a utilização de conceitos e técnicas cognitivos. Apesar das diferenças, a integração das duas abordagens vem demonstrando resultados satisfatórios. Segundo Sudak (2008), a terapia cognitivo-comportamental é um tratamento de curta duração, com objetivos específicos e voltados para problemas baseados no modelo de que mudar cognições é possível e leva às mudanças comportamentais. Enfatiza que os seres humanos são capazes de controlar suas crenças e ações e se comportam de acordo com a compreensão de suas experiências. É fundamentalmente uma terapia de problemas específicos e que estão interferindo na vida do paciente. Indicações Serão apontados os problemas mais comuns da prática clínica. Transtorno de pânico e agorafobia (Rangé; Bernik, 2001) Este é um dos problemas mais frequentes e incapacitantes entre os transtornos de ansiedade. Há uma enorme ansiedade e tudo é feito para que não aconteça mais, como comportamentos de fuga ou evitação, que afetam a vida desses pacientes. Envolve reações súbitas e intensas como taquicardia, falta de ar, tremores, sudorese, vertigens, ideações de morte, loucura, perda de controle, entre outros. O termo agorafobia foi proposto em 1871 por Westphal (1822-1890), que significa medo de lugar amplo e movimentado (ágora, em grego – assembleia de pessoas, praça do mercado). Transtorno de pânico começou a ser conceituado por Freud, em seus escritos sobre neuroses de ansiedade. No tratamento são associados psicoterapia com medicamentos. Estudos mostram que no tratamento psicológico deve estar incluído um repertório de manejo das crises, como a exposição aos estímulos temidos e treino em relaxamento. Muito eficaz no tratamento é a estratégia A.C.A.L.M.E.-S.E, descrita a seguir: 52 A.C.A.L.M.E.-S.E. A chave para lidar com um estado de ansiedade é aceitá-lo totalmente. Permanecer no presente e aceitar sua ansiedade a faz desaparecer. Para lidar com sucesso com sua ansiedade você pode utilizar a estratégia “A.C.A.L.M.E.-S.E.”, de oito passos. Usando-a você estará apto(a) a aceitar sua ansiedade até que ela desapareça. 1. Aceite a sua ansiedade. Um dicionário define aceitar como dar “consentimento em receber”. Concorde em receber as suas sensações de ansiedade. Mesmo que lhe pareça absurdo no momento, aceite as sensações em seu corpo, assim como você aceitaria em sua casa um hóspede inesperado e desconhecido ou uma dor incômoda. Substitua seu medo, sua raiva e sua rejeição por aceitação. Não lute contra as sensações. Resistindo, você estará prolongando e intensificando o seu desconforto. Ao invés disso, flua com ela. 2. Contemple as coisas à sua volta. Não fique olhando para dentro de você, observando tudo e cada coisa que sente. Deixe acontecer com o seu corpo o que ele quiser, sem julgamento: nem bom nem mau. Olhe à sua volta, observando cada detalhe da situação em que você está. Descreva-os minuciosamente para você, como um meio de afastar-se de sua observação interna. Lembre-se: você não é sua ansiedade. Quanto mais puder separar-se de sua experiência interna e ligar-se nos acontecimentos externos, melhor se sentirá. Esteja com ansiedade, mas não seja ela: seja apenas observador. 3. Aja com sua ansiedade. Aja como se você não estivesse ansioso (a), isto é, funcione com suas sensações de ansiedade. Diminua o ritmo, a velocidade com que você faz as suas coisas, mas mantenha-se ativo(a)! Não se desespere, interrompendo tudo para fugir. Se você fugir, a sua ansiedade diminuirá, mas o seu medo aumentará, onde na próxima vez a sua ansiedade será pior. Se você ficar onde está – e continuar fazendo as suas coisas – tanto a sua ansiedade quanto o seu medo diminuirão. Continue agindo, bem devagar! 4. Libere o ar de seus pulmões, bem devagar! Respire bem devagar, calmamente, inspirando pouco ar pelo nariz e expirando longa e suavemente pela boca. Conte até três, devagarinho, na inspiração, outra vez até três prendendo um pouco a respiração e até seis na expiração. Faça o ar ir para o seu abdômen, estufando-o ao inspirar e deixando-o contrair-se ao expirar. Não encha os pulmões. 53 Ao exalar, não sopre: apenas deixe o ar sair lentamente pela boca. Procure descobrir o ritmo ideal de sua respiração, nesse estilo e nesse ritmo, e você descobrirá como isso é agradável. 5. Mantenha os passos anteriores. Repita cada um, passo a passo. Continue a: (1) 64 aceitar sua ansiedade; (2) contemplar; (3) agir com ela e (4) respirar calma e suavemente até que ela diminua e atinja um nível confortável. E ela irá, se você continuar repetindo estes quatro passos: aceitar, contemplar, agir e respirar. 6. Examine seus pensamentos. Talvez você esteja antecipando coisas catastróficas. Você sabe que elas não acontecem. Você já passou por isso muitas vezes e sabe que nunca aconteceu nada do que pensou que aconteceria. Examine o que você está dizendo para si mesmo (a) e reflita racionalmente para ver se o que você pensa é verdade ou não: você tem provas sobre se o que pensa é verdade? Há outras maneiras de entender o que está lhe acontecendo? Lembre-se: você está apenas ansioso (a) - isto pode ser desagradável, mas não é perigoso. Você está pensando que está em perigo, mas temprovas reais e definitivas disso? 7. Sorria, você conseguiu! Você merece todo o seu crédito e todo o seu reconhecimento. Você conseguiu, sozinho (a), e com seus próprios recursos, tranquilizar-se e superar este momento. Não é uma vitória, pois não havia um inimigo, apenas um visitante de hábitos estranhos que você passou a compreender e aceitar melhor. Você agora saberá como lidar com visitantes estranhos. 8. Espere o futuro com aceitação. Livre-se do pensamento mágico de que você terá se livrado definitivamente, para sempre de sua ansiedade. Ela é necessária para você viver e continuar vivo (a). Em vez de considerar-se livre dela, surpreenda- se pelo jeito como a maneja, como acabou de fazer agora. Esperando a ocorrência de sua ansiedade no futuro, você estará em uma boa posição para lidar com ela novamente. FONTE: Rangé; Bernik, 2001. TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL De acordo com Falcone.; Figueira (2001), ansiedade frente a várias situações sociais é normal e adaptativa, pois permite comportar-se de maneira adequada. Mas quando a ansiedade é muito intensa interfere no funcionamento social e na vida da pessoa. A fobia social, como 65 também é chamada, manifesta-se como medo 54 excessivo de comportamentos humilhantes e embaraçosos e consequente desaprovação e rejeição pelas outras pessoas. As situações mais temidas são: falar em público, comer e beber na frente dos outros, falar com estranhos e ao telefone, participar de reuniões sociais, interagir com o sexo oposto, lidar com figuras de autoridade, entre outros. Alguns apresentam manifestações físicas, como tremor, sudorese, palpitações, e outros relatam apenas autoconsciência e medo. A evitação fóbica pode ser sutil ou extrema. São utilizados no tratamento os psicofármacos e estratégias terapêuticas, como a exposição ao vivo combinada com reestruturação cognitiva. FIGURA – TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL https://lh6.googleusercontent.com/--t- Qz2lcaXQ/TX81KILKPJI/AAAAAAAAADw/H_4ypwyU1aM/s200/Fobia+Social+ 6.jpg>. FOBIAS ESPECÍFICAS Costa; Lanna, (2001), caracteriza as fobias específicas por medo acentuado, persistente e excessivo ou irracional de determinado objeto ou situação, geralmente são medos aprendidos. Para a abordagem cognitivo-comportamental as fobias simples são explicadas por: condicionamento clássico, condicionamento operante, https://lh6.googleusercontent.com/--t-Qz2lcaXQ/TX81KILKPJI/AAAAAAAAADw/H_4ypwyU1aM/s200/Fobia+Social+6.jpg https://lh6.googleusercontent.com/--t-Qz2lcaXQ/TX81KILKPJI/AAAAAAAAADw/H_4ypwyU1aM/s200/Fobia+Social+6.jpg https://lh6.googleusercontent.com/--t-Qz2lcaXQ/TX81KILKPJI/AAAAAAAAADw/H_4ypwyU1aM/s200/Fobia+Social+6.jpg https://lh6.googleusercontent.com/--t-Qz2lcaXQ/TX81KILKPJI/AAAAAAAAADw/H_4ypwyU1aM/s200/Fobia+Social+6.jpg https://lh6.googleusercontent.com/--t-Qz2lcaXQ/TX81KILKPJI/AAAAAAAAADw/H_4ypwyU1aM/s200/Fobia+Social+6.jpg https://lh6.googleusercontent.com/--t-Qz2lcaXQ/TX81KILKPJI/AAAAAAAAADw/H_4ypwyU1aM/s200/Fobia+Social+6.jpg https://lh6.googleusercontent.com/--t-Qz2lcaXQ/TX81KILKPJI/AAAAAAAAADw/H_4ypwyU1aM/s200/Fobia+Social+6.jpg 55 modelação, cognições, generalização, predisposições pessoais e filogenéticas e ganhos secundários. Tratamento: dessensibilização sistemática, exposição ao vivo, reestruturação cognitiva, modelação, terapia implosiva ou inundação, hipnose, relaxamento, tarefas de casa e uso de medicamentos. FIGURA – FOBIAS ESPECÍFICAS http://4.bp.blogspot.com/_PgIvOxUzJFY/SXm1CbbH0mI/AAAAAAAAA84/wIN CNLVAML0/s400/fobias%5B1%5D.JPG>. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA É um transtorno crônico de ansiedade, incapacitante, que tem como características preocupações irreais ou excessivas, constantes, e apresenta sintomas somáticos persistentes. O sexo feminino é mais acometido. Prejudica o desempenho social, familiar e profissional. Medidas terapêuticas eficazes são a farmacoterapia e psicoterapia (reestruturação cognitiva, relaxamento e exposição, aplicados em conjunto) (Schinohara; Nardi, 2001). http://4.bp.blogspot.com/_PgIvOxUzJFY/SXm1CbbH0mI/AAAAAAAAA84/wINCNLVAML0/s400/fobias%5B1%5D.JPG http://4.bp.blogspot.com/_PgIvOxUzJFY/SXm1CbbH0mI/AAAAAAAAA84/wINCNLVAML0/s400/fobias%5B1%5D.JPG http://4.bp.blogspot.com/_PgIvOxUzJFY/SXm1CbbH0mI/AAAAAAAAA84/wINCNLVAML0/s400/fobias%5B1%5D.JPG http://4.bp.blogspot.com/_PgIvOxUzJFY/SXm1CbbH0mI/AAAAAAAAA84/wINCNLVAML0/s400/fobias%5B1%5D.JPG 56 FIGURA – TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA. http://blog.opovo.com.br/cartasdetododia/files/2010/04/ANSIEDADE.gif>. TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO O TOC, como é conhecido, é classificado como transtorno de ansiedade e tem como característica as obsessões (ideias intrusivas, recorrentes e persistentes) ou compulsões (comportamentos repetitivos, sem propósito) excessivas ou irracionais, que acarretam grande estresse, consomem considerável tempo e interferem na rotina normal. São pessoas que dão muita atenção a detalhes, autodisciplinadas, emocionalmente controladas, confiáveis, perseverantes, perfeccionistas e rígidas. Procedimentos comportamentais integrados com intervenções farmacológicas mostram-se eficazes no tratamento desse transtorno. (Rangé; Asbahr; Moritz; Ito, 2001) FIGURA - TOC http://blog.opovo.com.br/cartasdetododia/files/2010/04/ANSIEDADE.gif http://blog.opovo.com.br/cartasdetododia/files/2010/04/ANSIEDADE.gif 57 http://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4 wFfymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpg>. TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO O TEPT consiste na exposição a uma experiência traumática (guerra, abuso sexual e/ou físico, acidentes e desastres, entre outros) e como resultado a pessoa apresenta revivência da experiência e intenso sofrimento. O objetivo principal do tratamento é recuperar o senso de controle e estabilidade. Tratamento: farmacológico e técnicas como: exposição prolongada, dessensibilização, apoio social, relaxamento e reestruturação cognitiva (RANGÉ; MASCI, 2001). TRANSTORNOS AFETIVOS São principalmente as síndromes depressivas e o transtorno bipolar. A depressão é caracterizada por ideação suicida, delírios e alucinações e incapacitação social e ocupacional. No transtorno bipolar a pessoa apresenta períodos de depressão e de euforia intensa (mania). A terapia cognitivo-comportamental ajuda o paciente a adquirir novo modo de pensar, a ampliar sua consciência, de modo a interpretar a realidade de forma realista e colabora para a reconstrução de seu sistema de crenças. As principais técnicas usadas são: mapeamento da vida, folha de resumo dos sintomas, gráfico do humor, afetivograma, solução de problemas, treino de habilidades sociais, diário de atividades, reestruturação do pensamento e modificação de crenças. Muito importante também é a utilização de medicamentos (NETO et.al. 2001). http://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4wF-fymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpg http://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4wF-fymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpg http://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4wF-fymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpg http://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4wF-fymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpg http://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4wF-fymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpg http://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4wF-fymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpg http://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4wF-fymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpg http://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4wF-fymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpg http://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4wF-fymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpghttp://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4wF-fymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpg 58 FIGURA – TRANSTORNOS AFETIVOS http://exame.abril.com.br/assets/pictures/10593/size_380_depressao- tristeza-getty-jpg.jpg?1286683257>. TRANSTORNOS ALIMENTARES Caracterizado por grave perturbação de o comportamento alimentar, trazendo prejuízos à pessoa. São eles: anorexia nervosa (medo extremo de engordar, apresentando distúrbio da imagem corporal), bulimia nervosa (episódios de ingestão incontrolável de alimentos seguido de vômito auto induzido, uso inadequado de laxantes, diuréticos ou moderadores de apetite, jejum e exercícios excessivos), transtorno da compulsão alimentar periódica – TCAP (episódios de comer compulsivo, sem os comportamentos compensatórios da bulimia). O tratamento exige equipe multiprofissional (psicólogo, psiquiatra, nutricionista, endocrinologista, entre outros) e interação medicamentosa. A principal técnica utilizada é a reestruturação cognitiva (DUCHESNE.; APPOLINÁRIO, 2001). http://exame.abril.com.br/assets/pictures/10593/size_380_depressao-tristeza-getty-jpg.jpg?1286683257 http://exame.abril.com.br/assets/pictures/10593/size_380_depressao-tristeza-getty-jpg.jpg?1286683257 http://exame.abril.com.br/assets/pictures/10593/size_380_depressao-tristeza-getty-jpg.jpg?1286683257 http://exame.abril.com.br/assets/pictures/10593/size_380_depressao-tristeza-getty-jpg.jpg?1286683257 http://exame.abril.com.br/assets/pictures/10593/size_380_depressao-tristeza-getty-jpg.jpg?1286683257 http://exame.abril.com.br/assets/pictures/10593/size_380_depressao-tristeza-getty-jpg.jpg?1286683257 http://exame.abril.com.br/assets/pictures/10593/size_380_depressao-tristeza-getty-jpg.jpg?1286683257 http://exame.abril.com.br/assets/pictures/10593/size_380_depressao-tristeza-getty-jpg.jpg?1286683257 59 FIGURA - DISTORÇÃO DA IMAGEM CORPORAL http://pesfrei.files.wordpress.com/2011/06/anorexia.jpg>. DEPENDÊNCIA QUÍMICA A terapia comportamental busca modificar as crenças permissivas e as crenças intermediárias e centrais, por intermédio de técnicas como: identificação de pensamentos automáticos, avaliação e questionamento dos pensamentos automáticos, registro diário dos pensamentos automáticos disfuncionais e identificação, avaliação e modificação das crenças (KNAPP.; LUZ JR.; BALDISSEROTTO, 2001). <http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao -abertadesfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg>. http://pesfrei.files.wordpress.com/2011/06/anorexia.jpg http://pesfrei.files.wordpress.com/2011/06/anorexia.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg 60 TABAGISMO Apesar de todo mal que o cigarro faz à saúde, seu consumo continua aumentando. Fumar é um comportamento reforçado por meio de estímulos externos e internos. Estratégias úteis no tratamento são a retirada gradual e métodos aversivos e terapia de reposição de nicotina (GIGLIOTTI et.al. 2001) http://4.bp.blogspot.com/_oHVtojKEmN4/TK- VYcdsI/AAAAAAAAAq8/uZcZvVDHeSw/s400/cigarro4.jpg>. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE LIMÍTROFE OU BORDERLINE Formas de abuso, como sexual, físico e emocional, estão relacionados a esse transtorno, que se caracteriza por instabilidade nos relacionamentos interpessoais, autoimagem e afeto e muita impulsividade. Costumam infringir ferimentos a si mesmos, abusam de substâncias, principalmente medicamentos e tem alto risco de suicídio. São pacientes que costumam abandonar a terapia, principalmente devido a sua instabilidade e medo de abandono. No tratamento são utilizadas técnicas da terapia cognitiva padrão e medicamentos (VENTURA, 2001) FIGURA- TRANSTORNO DE PERSONALIDADE LIMÍTROFE OU BORDERLINE 61 http://3.bp.blogspot.com/_lrmtSsR0EQ/TTjcpWWL6rI/AAAAAAAAAZA/WIMxz Hx9L8c/s1600/borderline_hintergrund.jpg>. ADICÇÃO AO JOGO Caracteriza-se pela dificuldade em controlar o comportamento de jogar. As técnicas terapêuticas empregadas envolvem terapia aversiva, técnicas cognitivas e tratamento farmacológico(PRIETO, 2001). TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE E IMPULSIVIDADE O TDAHI caracteriza-se por dificuldade na regulação da atenção e/ou impulsividade e hiperatividade frequente. O uso de medicamentos melhora significativamente os sintomas e as técnicas cognitivo-comportamentais minimizam os sintomas (treino em resolução de problemas, treino em habilidades sociais, reestruturação do sistema de crenças, estratégias para estimulação da atenção e grupos) (DUCHESNE; MATTOS, 2001). http://3.bp.blogspot.com/_lrmt-SsR0EQ/TTjcpWWL6rI/AAAAAAAAAZA/WIMxzHx9L8c/s1600/borderline_hintergrund.jpg http://3.bp.blogspot.com/_lrmt-SsR0EQ/TTjcpWWL6rI/AAAAAAAAAZA/WIMxzHx9L8c/s1600/borderline_hintergrund.jpg http://3.bp.blogspot.com/_lrmt-SsR0EQ/TTjcpWWL6rI/AAAAAAAAAZA/WIMxzHx9L8c/s1600/borderline_hintergrund.jpg http://3.bp.blogspot.com/_lrmt-SsR0EQ/TTjcpWWL6rI/AAAAAAAAAZA/WIMxzHx9L8c/s1600/borderline_hintergrund.jpg 62 FIGURA - TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE E IMPULSIVIDADE http://www.wallstreetfitness.com.br/imgs/Fotos/transtorno_deficit_atencao_hip eratividade_tdah.jpg DISFUNÇÕES SEXUAIS Principais transtornos sexuais: disfunção erétil, ejaculação precoce, baixo desejo ou inibição do desejo sexual, anejaculação e anorgasmia masculina, anorgasmia feminina, vaginismo e dispareunia. Terapia associada de medicamentos e terapia sexual apresenta melhores resultados (CARVALHO, 2001). FIGURA - DISFUNÇÕES SEXUAIS http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ec d9u9wRE/s1600/terapia-sexual-31-252.jpg>. http://www.wallstreetfitness.com.br/imgs/Fotos/transtorno_deficit_atencao_hiperatividade_tdah.jpg http://www.wallstreetfitness.com.br/imgs/Fotos/transtorno_deficit_atencao_hiperatividade_tdah.jpg http://www.wallstreetfitness.com.br/imgs/Fotos/transtorno_deficit_atencao_hiperatividade_tdah.jpg http://www.wallstreetfitness.com.br/imgs/Fotos/transtorno_deficit_atencao_hiperatividade_tdah.jpg http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ecd9u9wRE/s1600/terapia-sexual-31-252.jpg http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ecd9u9wRE/s1600/terapia-sexual-31-252.jpg http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ecd9u9wRE/s1600/terapia-sexual-31-252.jpg http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ecd9u9wRE/s1600/terapia-sexual-31-252.jpg http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ecd9u9wRE/s1600/terapia-sexual-31-252.jpg http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ecd9u9wRE/s1600/terapia-sexual-31-252.jpg http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ecd9u9wRE/s1600/terapia-sexual-31-252.jpg http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ecd9u9wRE/s1600/terapia-sexual-31-252.jpg http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ecd9u9wRE/s1600/terapia-sexual-31-252.jpg http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ecd9u9wRE/s1600/terapia-sexual-31-252.jpg 63 TRANSTORNOS DO SONO A insônia e a apneia do sono são os transtornos mais frequentes. O tratamento inclui a administração de fármacos e intervenções cognitivas (reestruturação cognitiva e comprovação de hipóteses (BUELA-CASAL.; SÁNCHEZ, 2001). FIGURA – TRANSTORNO DO SONO http://notapajos.globo.com/gifwrap.asp?id=694 Segundo Beck et.al. (2005), a abordagem cognitivo-comportamental também é utilizada no tratamento de transtornos de personalidade, como: • Paranoide – interpretam as intenções e ações dos outros como humilhantes ou ameaçadoras, mas não apresentam sintomas psicóticos persistentes. • Esquizoide – indiferença em relação aos relacionamentos interpessoais, sem alterações no humor; buscam muito pouco o contato com os outros e restringem manifestações de afeto. Não apresentam sintomas psicóticos. • Esquizotípica – evitam relacionamentos interpessoais, mas apresentam sintomas psicóticos. • Antissocial – comportamentos irresponsáveis e socialmente ameaçadores. Geralmente são trazidos ao tratamento por força externa, contra sua vontade e sem vontade de mudar. Tratamento de grande desafio, pois se limita a leves alterações de comportamento. • Histriônica – apresentam excessiva emotividade, lábil e superficial e buscam ser o centro das atenções. Comportamento excessivamente reativo, intenso e descontrolado e relacionamentos pouco gratificantes. Apresenta complicações como abuso de substâncias, alcoolismo e risco de suicídio. • Narcisista - padrão distorcido de auto preocupação em relação a si mesmo, autocentrado e indiferente aos sentimentos e necessidades dos outros e não http://notapajos.globo.com/gifwrap.asp?id=694 64 aceitam limites ou críticas. A crença central do narcisista é de inferioridade, por isso a atitude compensatória de superioridade. • Dependente – dependência excessiva dos outros, necessidade extrema de ser cuidado, sentimento de desamparo e medo de abandono. Comumente apresentam ansiedade e depressão. • Esquiva – evitação global comportamental, emocional e cognitiva. Apresentam muita ansiedade nos relacionamentos pessoais por medo de rejeição. Podem desenvolver depressão, abuso de substâncias, ansiedade e transtornos do sono. • Negativista ou passivo-agressiva – comportamentos resistentes, não cumprem obrigações e frustram expectativas, negativistas, oposicionistas, descontentes e hostis, humor irritável, resultando em prejuízo social. Terapeutas cognitivos utilizam os princípios básicos da terapia cognitiva no tratamento dos transtornos de personalidade como base do tratamento, mas modificam algumas características, pois esses indivíduos utilizam estratégias disfuncionais para lidar com os outros e o mundo, que são usadas de forma inflexível e inadequada, e são pacientes incapazes de ter comportamentos apropriados e funcionais quando essas estratégias não funcionam. Nesse caso, a terapia tem duração mais longa, principalmente porque o processo de formar um relacionamento é mais gradual e difícil (SUDAK, 2008). PRINCIPAIS TÉCNICAS COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS Para Guimarães (2001), o terapeuta e o paciente trabalham juntos para identificar crenças que a pessoa tem de si e utilizam técnicas que incluem: identificar pensamentos ou cognições disfuncionais, auto monitoração de pensamentos negativos, identificação da relação entre pensamentos e crenças e sentimentos subjacentes, identificar e aprender padrões de pensamentos funcionais e adaptativos, teste de realidade dos pressupostos básicos mantidos pela pessoa sobre si mesma, o mundo e o futuro. Segue as principais técnicas utilizadas sob enfoque integrado comportamental cognitivo. 65 TÉCNICAS DE RELAXAMENTO A ansiedade é uma resposta de proteção, que prepara o organismo para atacar ou fugir de perigos reais ou não. Substâncias são liberadas pelo organismo nessa situação que promovem alterações fisiológicas, que viabilizam respostas de luta ou fuga. O relaxamento é um processo psicofisiológico, de aprendizagem das respostas biológicas de relaxamento e inclui: • Exercícios de respiração – treino em padrões de baixas taxas de respiração, inspiração-expiração profundas e amplas e respirações diafragmáticas. Esse treino distrai o paciente, dando-lhe sensação de controle sobre o organismo. • Treino em relaxamento – tensionar e relaxar diferentes grupos musculares para obtenção de um estado de conforto e bem-estar. • Relaxamento muscular progressivo - essa técnica deve ser feita num ambiente adequado e o paciente posicionado confortavelmente. TÉCNICAS DE RELAXAMENTO http://www.possibilidades.com.br/meditacao/img/relaxamento.gif> DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA Consiste em remover ou enfraquecer aansiedade por meio da inibição recíproca, que se chama supressão condicionada (estabelecer uma resposta antagonista à ansiedade na presença do estímulo provocador da ansiedade, que é o relaxamento). Utiliza-se o treino em técnicas de relaxamento e o paciente deve ser http://www.possibilidades.com.br/meditacao/img/relaxamento.gif http://www.possibilidades.com.br/meditacao/img/relaxamento.gif 66 capaz de visualizar as situações temidas. Uma das principais técnicas utilizadas no tratamento da fobia social e específica e síndrome do pânico. TREINO DE ASSERTIVIDADE É feito orientando-se o paciente a emitir respostas adequadas em situações específicas ou pelo ensaio comportamental (procedimento para o treino da assertividade). Técnica eficaz no tratamento da fobia e da ansiedade social. PARADA DO PENSAMENTO É uma técnica de autocontrole, que consiste em formular um pensamento indesejado e com um comando de “pare” em voz alta, impedir a evolução do pensamento. Outras palavras ou imagens também podem ser usadas, como visualizar uma placa, escrito “Pare”. Essa técnica é muito útil porque a presença de pensamentos incômodos favorece a ocorrência de comportamentos indesejáveis. Muito utilizada no tratamento do estresse pós-traumático. AUTOINSTRUÇÃO Utilizada para modificar cognições com o objetivo de mudar comportamentos, ensinando o paciente a desenvolver pensamentos adequados e realísticos à situação temida. Aplicada principalmente no tratamento da ansiedade, impulsividade e hiperatividade infantil. INOCULAÇÃO DO ESTRESSE Consiste em treinar o paciente na vivência de uma situação estressante, para que ele desenvolva recursos de enfrentamento a serem utilizados na situação temida real. Muito utilizada no tratamento do pânico, fobias específicas, transtorno do estresse pós-traumático, ansiedade generalizada, alcoolismo, entre outros. 67 TREINO EM HABILIDADES SOCIAIS O objetivo da técnica é capacitar o paciente a emitir respostas adequadas a situações específicas. Pode ser usada no tratamento de grupos especiais como portadores de transtornos de personalidade evitativa e esquizofrenia. SOLUÇÃO DE PROBLEMA A técnica consiste em ensinar o paciente, maneiras adequadas de enfrentar situações da vida real. Deverá aprender a manejar e adaptar procedimentos e estratégias aprendidos na terapia, por meio de modelagem de habilidades, em sua vida. Situações são simuladas durante as sessões. A técnica pode ser aplicada no tratamento da depressão, terapia de casal, transtorno de conduta, hiperatividade e déficit de atenção. SOLUÇÃO DE PROBLEMAS. http://1.bp.blogspot.com/_SUOtG6MIDug/TJPy4IP7BzI/AAAAAAAAAGU/DnQ ucZGQycQ/s320/analise_solucao_problemas.jpg> EXPOSIÇÃO Consiste em expor o paciente, repetidamente, ao vivo ou na imaginação, diretamente a situação temida, que são evitadas por desencadearem ansiedade. Muito apropriada para tratamento de fobias. http://1.bp.blogspot.com/_SUOtG6MIDug/TJPy4IP7BzI/AAAAAAAAAGU/DnQucZGQycQ/s320/analise_solucao_problemas.jpg http://1.bp.blogspot.com/_SUOtG6MIDug/TJPy4IP7BzI/AAAAAAAAAGU/DnQucZGQycQ/s320/analise_solucao_problemas.jpg http://1.bp.blogspot.com/_SUOtG6MIDug/TJPy4IP7BzI/AAAAAAAAAGU/DnQucZGQycQ/s320/analise_solucao_problemas.jpg http://1.bp.blogspot.com/_SUOtG6MIDug/TJPy4IP7BzI/AAAAAAAAAGU/DnQucZGQycQ/s320/analise_solucao_problemas.jpg 68 EXPOSIÇÃO E PREVENÇÃO DE RESPOSTAS Inclui a exposição mais bloqueio da resposta compulsiva para tratamento do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). EXPOSIÇÃO INTEROCEPTIVA Técnica de exposição mais provocação de respostas fisiológicas, como tonteira, taquicardia, tensão muscular, por meio de exercícios e técnicas específicas. Utilizada no tratamento da síndrome do pânico, com o objetivo de diminuir ou romper a associação entre indicadores fisiológicos e reações de pânico. Para Beck et al. (2005), no tratamento dos transtornos de personalidade algumas técnicas cognitivas e comportamentais são úteis, como: • “Sondagem Cognitiva” – utilizada para aliciar e avaliar pensamentos automáticos. • Confrontando os Esquemas – deve-se tratar de todos os esquemas: cognitivos, comportamentais e afetivos. As distorções cognitivas do paciente apontam para os esquemas e o terapeuta o ajuda na identificação de regras disfuncionais que dominam sua vida e trabalha com ele para realizar as alterações necessárias a um funcionamento mais adaptativo. • Tomando decisões – ajuda o paciente a aprender a tomar decisões importantes. • Revivendo experiências da infância – situações da infância podem levar ao entendimento das origens dos padrões desadaptativos. Recriando certas situações o paciente tem a oportunidade de reestruturar atitudes formadas naquele período e suavizar atitudes em relação a si mesmo. • Uso da imaginação – permite que o paciente reviva eventos traumáticos passados, possa reestruturar a experiência e suas atitudes decorrentes. Sudak (2008) aponta a importância da colaboração no relacionamento entre terapeuta e paciente. O paciente deve tornar-se coinvestigador e uma aliança terapêutica forte é essencial para bons resultados. 69 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste módulo foi apresentar de maneira resumida uma introdução ao estudo da psicoterapia cognitivo-comportamental, suas aplicações e técnicas mais utilizadas, trazendo também conceitos das terapias, cognitiva e comportamental. Atualmente é uma das abordagens mais utilizadas no tratamento de problemas psicológicos e psiquiátricos. Apresenta resultados significativos e comprovados, tanto para crianças, quanto para adultos ou adolescentes, individualmente ou em grupo. É também uma terapia de caráter educativo, já que o paciente também aprenderá sobre o processo da terapia. PSICOTERAPIA DE GRUPO http://2.bp.blogspot.com/_hMMo_ibkBt0/TSXqOWtUjI/AAAAAAAAAI0/4Gm- 4x_koA0/s1600/roda.jpg. Há uma tendência do indivíduo em se agrupar ou juntar-se espontaneamente com outras pessoas, como os amigos da escola, os colegas de trabalho, do clube; com os membros da igreja e/ou de outras instituições, ou simplesmente com a família. As crianças gostam de brincar entre si. Os adolescentes ligam-se em grupos, “tribos”, na tentativa de construir sua identidade. Pessoas com personalidade http://2.bp.blogspot.com/_hMMo_ibkBt0/TSXqO-WtUjI/AAAAAAAAAI0/4Gm-4x_koA0/s1600/roda.jpg http://2.bp.blogspot.com/_hMMo_ibkBt0/TSXqO-WtUjI/AAAAAAAAAI0/4Gm-4x_koA0/s1600/roda.jpg http://2.bp.blogspot.com/_hMMo_ibkBt0/TSXqO-WtUjI/AAAAAAAAAI0/4Gm-4x_koA0/s1600/roda.jpg http://2.bp.blogspot.com/_hMMo_ibkBt0/TSXqO-WtUjI/AAAAAAAAAI0/4Gm-4x_koA0/s1600/roda.jpg http://2.bp.blogspot.com/_hMMo_ibkBt0/TSXqO-WtUjI/AAAAAAAAAI0/4Gm-4x_koA0/s1600/roda.jpg http://2.bp.blogspot.com/_hMMo_ibkBt0/TSXqO-WtUjI/AAAAAAAAAI0/4Gm-4x_koA0/s1600/roda.jpg 70 antissocial se reúnem em gangues. Homens e mulheres se casam para terem filhos e construírem famílias. Os idosos participam de grupos da terceira idade. Enfim, a necessidade de ligar-se a outras pessoas é algo natural do ser humano. Osório (2003) ressalta que, desde os primórdios, o homem já havia descoberto as vantagens de agrupar-se. Entretanto, a Psicologia Grupal só se efetivou enquanto ciência no último século, tendo sido resultado da inter-relação com outras disciplinas, especialmente da Psicologia Social e da Sociologia. Considera-se Psicoterapia de Grupo qualquer forma de terapia coletiva. Suas ações têm como base fatores como a interação e a comunicação. É um modelo terapêutico que nasceu após a Segunda Guerra Mundial, por meio de Kurt Lewin. Para Lewin, o fato de ouvir as pessoas falando de seus próprios problemas já era em si terapêutico.Dessa concepção resultou uma das características atuais, que é o “fator da universalidade”, isto é, em grupo, os pacientes não sentem que estão sozinhos e que são os únicos que sofrem. Além desses fatores, Yalom (2006) menciona outros, como o altruísmo e a socialização. A modalidade da Psicoterapia de Grupo vem de encontro a essa necessidade do ser humano. Ocorre que um grupo terapêutico não se restringe a um somatório de pessoas. Trata-se de um grupo organizado, com objetivos e tarefas comuns, que possui acordos e funcionamentos próprios e tem uma finalidade terapêutica. Há diversos tipos de grupos: operativos, terapêuticos, de suporte, de elaboração. Podem ser abertos ou fechados, homogêneos ou heterogêneos. Quanto à abordagem teórica podem ser de orientação psicanalítica, cognitivo- comportamental, psicodrama e sistêmico. É importante ressaltar que a Psicoterapia de Grupo pode ser tão eficaz quanto a Psicoterapia Individual. Cada uma possui suas especificidades que podem trazer benefícios terapêuticos para o paciente. De qualquer forma vale a recomendação clássica de qualquer tratamento, que considera que a formação, teórico-prático do profissional é indispensável: conhecimento, supervisão e análise pessoal. A terapia de grupo é uma planta curiosa no jardim da psicoterapia. Ela é forte: as melhores pesquisas disponíveis estabeleceram que a terapia de grupo é efetiva e tão robusta quanto a terapia individual. Mesmo assim, necessita de cuidados constantes. Seu eterno destino é ser sufocada periodicamente pelas mesmas velhas ervas daninhas: ‘superficial’, ‘perigosa’, ‘secundária para ser usada apenas quando 71 não houver terapia individual disponível ou se esta não for acessível (YALOM, 2006, p. 421). FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS FREUD E A PSICOLOGIA DE GRUPO Na sua obra “Psicologia de grupo e análise do ego”, de 1920-22, Freud discute algumas ideias sobre grupos a partir dos estudos de Le Bon. Ele utiliza o termo “grupo” como equivalente a “massa” e “multidão”. Nessa obra não vamos encontrar referência a técnica grupal, mas algumas concepções preliminares sobre grupos. Freud concorda que há influência dos fenômenos sociais na constituição do sujeito. Uma relação que envolva no mínimo duas pessoas já pode ser considerada como uma relação social, ao contrário do que se costuma pensar, ou seja, que a Psicologia Social estuda as influências de várias pessoas sobre o indivíduo; além de estudar um grupo de pessoas ou multidão. O interesse dessa ciência é estudar o indivíduo como fazendo parte de um grupo, de uma profissão, de uma instituição ou de um grupo de pessoas reunidas momentaneamente para atingir um determinado objetivo. Isto porque o instinto social vem à luz nessas situações. Mas o que a Psicologia Social tem a ver com a Psicologia de Grupo? Já foi dito anteriormente que a segunda nasceu da primeira, além disso, Freud utiliza essas expressões como sinônimas. Para este autor “a psicologia de grupo interessa-se assim pelo indivíduo como membro de uma raça (...) ou como parte componente de uma multidão que se organizam em grupo, numa ocasião determinada, para um intuito definido” (p. 92). Le Bon, citado em Freud menciona algumas características de um grupo. A primeira delas diz respeito à “mente coletiva”, ou seja, a maneira de pensar e de agir de uma pessoa é diferente de quando está no grupo. A tendência é se comportarem de forma diferente. Zimerman (2000) ampliou esta ideia e desenvolveu o que ele chamou de “campo grupal”: num grupo os fenômenos encontrados são reflexos da interação entre os participantes, e não uma somatória de cada um. 72 No grupo, o indivíduo tem um “sentimento de poder invencível”, segundo Le Bon, citado em Freud. Seus instintos são aflorados às vezes até de forma irresponsável. Além disso, há o fenômeno do contágio, que faz com que os sentimentos e atos sejam contagiosos quando o indivíduo está no grupo. Muitas vezes o interesse coletivo sobrepõe ao interesse individual. Yalom (2006) faz menção a essa teoria do contágio, quando revela, a partir de suas pesquisas, que uma parte dos pacientes que desistem da grupoterapia teme que o sofrimento do outro os contagie de alguma forma. Nesse sentido, os fenômenos inconscientes exercem mais influência que nossa vida consciente. A maior parte de nossos comportamentos é regida pelas leis da instância psíquica que não temos conhecimento – o inconsciente. Outra característica evidenciada por Le Bon, citado em Freud refere-se aos elementos heterogêneos do grupo. Pessoas com história de vida diferente reúnem-se entre si, provisoriamente, porque possuem algum objetivo em comum. Por isso mesmo devem estar ligadas por um elo. Zimerman (2000) e Pichon-Rivière (1991) compartilham dessa ideia quando classificam os grupos como homogêneos e heterogêneos. A primeira expressão designa as características em comum encontradas nos membros do grupo, enquanto que a segunda refere-se às características diferentes. A necessidade de haver um líder no grupo já era um tema discutido por Le Bon, citado em Freud. Este autor faz uma associação do grupo com um rebanho obediente, o qual precisa de um pastor. Mas salienta que o líder deve ter algumas qualidades, como “prestígio”, acreditar fielmente nas suas ideias, além de ser imponente. McDougall, também citada em Freud dá sua contribuição quando afirma que um grupo não é uma mera reunião de pessoas. Um grupo psicológico é formado de pessoas que têm algo em comum, objetivos em comum e, principalmente, precisa haver organização. Dessa forma, os grupos podem ser muito produtivos. O autor cita como exemplo a criação de folclores e canções populares, produzidas por um grupo de pessoas. De uma forma ou de outra, as características descritas acima serviram de ponto de partida para o desenvolvimento da técnica grupal a qual se apresenta hoje, podemos dizer que tais ideias foram esculpidas e aprimoradas, pois não são contrárias à literatura atual sobre grupos psicológicos. 73 CONCEITO DE GRUPO E DE CAMPO GRUPAL CAMPO GRUPAL http://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.html É da natureza do homem interagir entre si. Para tanto, alguns conceitos estudados nas relações humanas dizem respeito à interação social, comunicação e grupo. A Psicologia Grupal apropria-se justamente desta necessidade que o indivíduo tem de agrupar-se, inicialmente espontaneamente – família, grupo na escola, creche, cursos, trabalho, clube, etc. Segundo Zimerman (2000), “grupo” pode ser definido como um conjunto de pessoas. Um conjunto de pessoas refere-se a uma “comunidade”, que por sua vez, um conjunto de comunidades constitui uma sociedade. Entretanto, o grupo que interessa (o grupo terapêutico) tem que ter alguns requisitos, como salienta Zimerman (2006). Um simples aglomerado de pessoas não forma um grupo propriamente dito. Este autor ilustra claramente essa concepção quando compara um grupo com uma orquestra: antes de iniciar o concerto os músicos, isoladamente, são simples músicos. Mas quando o maestro inicia a regência, a orquestra se torna um grupo de fato, pois cada um tem seu papel, lugar e posição, além de um objetivo em comum: tocar uma canção. Nesse mesmo sentido, um grupo terapêutico possui um objetivo, uma tarefa a cumprir e uma organização própria. Quando as pessoas estão num grupo forma-se o que Zimerman (2000) chama de “campo grupal”, que constitui numa “estrutura que vai além da soma dos componentes” (p. 84). É resultante de alguns fenômenos subjetivos que são reflexos http://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.html http://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.html http://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.html http://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.htmlhttp://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.html http://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.html http://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.html http://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.html http://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.html http://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.html 74 da interação de todos os membros. São eles: fantasias, mecanismos de defesas, ansiedades, resistências, transferência e contratransferência, vínculos, etc. Os fenômenos grupais acontecem em todos os grupos, espontâneos ou terapêuticos. A diferença reside no fato de que no segundo há um coordenador (terapeuta) que irá identificar e trabalhar tais fenômenos. Vale ressaltar que o campo grupal refere-se à dinâmica de interação entre todos os participantes e ao terapeuta. Entretanto, as identidades específicas de cada membro precisam ser respeitadas. A FAMÍLIA CONSIDERADA COMO GRUPO PRIMORDIAL Embora não aja evidência científica de que a família nuclear (pai, mãe e irmãos) seja considerada como o grupo primordial ou primeiro, uma associação com o grupo terapêutico permite observar algumas semelhanças. Em qualquer família, percebe-se que cada membro desempenha papel e função definidos, assim como nos grupos terapêuticos. A associação vai além e permite analisar que no grupo familiar há regras e maneiras próprias de organização e funcionamento, muitas vezes implícitas. Estão envolvidos sentimentos ambivalentes, como os de amor (segurança, aconchego, carinho) e de ódio, ciúme, inveja, rivalidade e rejeição. As figuras, materna e paterna constituem nos primeiros modelos de identificação para o indivíduo (RAVAZZOLA, 1997). A família, para Osório (1997, p. 50) “é uma unidade grupal onde se desenvolvem três tipos de relações pessoais – aliança (casal), filiação (pais/filhos) e consanguinidade (irmãos)”. É uma instituição universal, presente em todas as culturas e épocas históricas. O que varia com a contemporaneidade é a estrutura, formando novas configurações. A família tradicional – pai, mãe e filhos – é cada vez menos comum, ao passo que a união entre homossexuais, produções independentes, (re) casamentos, adoções e filhos de casamentos anteriores são cada vez mais frequentes. De qualquer forma, destaca Zimerman (2000), a função da família é a de prover a segurança, ou como ele mesmo diz: “função continente”. O cenário atual de transformações não tem favorecido que a família cumpra sua função. 75 Segundo Zimerman (2000) o grupo familiar lembra não só a estrutura do grupo terapêutico, mas também a relação que o paciente desenvolve com o terapeuta e vice- versa. Assim, o campo grupal é constituído de sentimentos e de tipos de vínculos muito semelhantes. Em Psicanálise chamamos de relações objetais: a forma com a qual o indivíduo se relaciona com as pessoas em geral é influenciada por suas vivências e experiências com as figuras infantis, inicialmente pai, mãe e irmãos e/ou outros cuidadores (como avós, babás, etc.). A função materna pode ser resumida pelo conceito de Winnicott, isto é, da mãe suficientemente boa. Refere-se àquela mãe que é capaz de gratificar e de frustrar seu bebê na medida certa. É aquela mãe que consegue prover as necessidades físicas e emocionais – de alimento, calor, amor, carinho, ... Sua função é a de ser continente, ou seja, acolher as angústias e ansiedades da criança e depois devolvê-la modificada. Por outro lado, essa mãe pode frustrála na medida certa, sabendo estar ausente (ZIMERMAN, 2000). A função paterna, segundo Zimerman (2000), também é muito importante. Está relacionada a proporcionar estabilidade, segurança e apoio à mãe, na tarefa de cuidar e de educar a criança. É, especialmente, do pai a função de colocar limites, auxiliando no processo de separação-individuação, necessária para o desenvolvimento saudável do filho. Quanto aos irmãos, estes também têm sua influência na dinâmica do grupo familiar. Para Zimerman (2000) é entre os irmãos que se experimenta a capacidade de lidar com sentimentos ambivalentes, que são vivenciados em relacionamentos futuros. Referem-se aos sentimentos fraternais, de cuidado, carinho e zelo com o irmão, assim como também aos sentimentos marcados por rivalidade, ciúme e inveja. CLASSIFICAÇÃO DOS GRUPOS São amplas e ricas as possibilidades de grupo que fica difícil listar e definir exatamente cada modalidade, mesmo porque muitas delas se entrelaçam ou se complementam. A seguir está descrita uma classificação proposta por Zimerman (2000, p. 90) referente ao critério da finalidade. Eis a divisão: 76 TERAPÊUTICOS GRUPOS OPERATIVOS Segundo Pichon-Rivière (1991), o grupo operativo assemelha-se ao funcionamento do grupo familiar (como também propõe Zimerman, 2000) e pode ser 77 definido como um “conjunto de pessoas reunidas por constantes de tempo e espaço, articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe, implícita ou explicitamente, uma tarefa que constitui sua finalidade” (p. 157). Um dos objetivos da técnica dos grupos operativos, como sinaliza Pichon- Rivière (1991) é o de auxiliar na minimização dos medos básicos e o de favorecer o rompimento dos estereótipos que funcionam como barreira à mudança. “A tarefa na terapia de grupo é se envolver em uma comunicação significativa com os outros membros do grupo, revelar-se, dar feedback válido e examinar os aspectos ocultos e inconscientes dos próprios sentimentos, comportamentos e motivação” (YALOM, 2006, p. 197). Grupos operativos voltados ao ensino-aprendizagem. Zimerman (2000) resume essa modalidade em “aprender a aprender” (p. 91). Parte-se do pressuposto de que a finalidade é a de treinar o grupo para desenvolver uma tarefa comum. Grupos institucionais. Referem-se a grupos realizados em instituições em geral. Nas empresas, o psicólogo organizacional desenvolve trabalhos com colaboradores; nas escolas podem ser realizados grupos de pais, de alunos e/ou de professores (ZIMERMAN, 2000). Grupos comunitários. Um exemplo clássico são os grupos na área de saúde mental, como ilustra Zimerman (2000). Podem ser com adolescentes, gestantes, líderes comunitários, etc.; de caráter preventivo, de tratamento ou reabilitação. É importante ressaltar que os grupos operativos também resultam em benefícios terapêuticos. GRUPOS TERAPÊUTICOS Grupos de autoajuda. Assim como os demais, essa modalidade grupal apresenta benefícios terapêuticos. Segundo Zimerman (2000) possui esse nome porque consiste de pessoas que apresentam o mesmo tipo de necessidades, isto é, são considerados grupos homogêneos. Como exemplos há: alcoólicos anônimos (A. A.), narcóticos anônimos (N.A.) e neuróticos anônimos (N.A.). 78 São grupos formados espontaneamente e que preservam o anonimato. A característica fundamental, como ressalta Zimerman (2000) está na liderança do grupo: “costumam operar sob a liderança de pessoas pertencentes a mesma categoria diagnóstica dos demais integrantes e que passaram, ou estão passando, pelas mesmas dificuldades e experiências afetivas destes” (p. 212). Grupos psicoterápicos propriamente ditos. Este item refere-se basicamente ao enfoque teórico-técnico ao qual cada abordagem teórica está fundamentada: psicanalítica, cognitivo-comportamental, psicodrama e sistêmica. Tipos de grupos Homogêneo. Segundo Zimerman (2000) destina-se àquele grupo de pessoas que possuem características comuns. São exemplos: grupos de obesos, deprimidos, psicossomatizadores, etc. Heterogêneo. Refere-se a pessoas que tenham características diferentes entre si. Por exemplo: um grupo formado por uma pessoa obsessiva- compulsiva, outra histérica, eassim por diante. Aberto. Caracteriza-se por não ter um prazo para o término, além do que permite que entrem e saiam pessoas do grupo. Fechado. Entende-se que as mesmas pessoas iniciam e terminam juntas, com prazo definido, não podendo entrar novos membros. Papéis nos grupos Na nossa vida, costumamos desempenhar vários tipos de papéis: de mãe, de filha, de profissional, etc. Essa natureza flexível, de mudança de papéis é um indicativo saudável. Em cada grupo que se forma, espontâneo ou terapêutico, percebe-se que cada membro desempenha um papel ou uma posição diferente. Na maioria das vezes é uma “escolha” inconsciente e que faz parte da configuração do campo grupal. Diz Zimerman (2000) que “em cada papel se condensam as expectativas, necessidades 79 e crenças irracionais de cada um e que compõem a fantasia básica inconsciente comum ao grupo todo” (p. 137). O papel que o indivíduo desempenha no grupo geralmente é o mesmo evidenciado na sua vida de forma geral: seja na escola, no trabalho, na família, numa festa, etc. Nesse sentido, Zimerman (2000) e Pichon-Rivière (1991) apontam que, muitas vezes, esses papéis são rígidos e estereotipados, funcionando, portanto, de forma patológica. No processo terapêutico esses papéis devem ser identificados e modificados, de forma que se tornem mais flexíveis, deixando sua natureza patológica. Os papéis mais comuns, encontrados na literatura, são os seguintes: Bode expiatório. É aquela pessoa que representa tudo o que é “ruim”, os aspectos negativos de todo o grupo. É comum essa pessoa sair do grupo. Mas Zimerman (2000) alerta para o fato de que tão logo o próprio grupo se encarregará de encontrar outro. Por outro lado, pode ser que esse indivíduo permaneça no grupo, servindo como o “bobo da corte”. Portanto, é uma situação que deverá ser trabalhada pelo terapeuta. Porta-voz. Refere-se àquela pessoa do grupo que denuncia, que comunica os sentimentos, necessidades, pensamentos e ansiedades inconscientes do grupo. Essa comunicação, segundo Zimerman (2000) pode ocorrer de várias formas. Pode ser feita verbalmente, por meio de manifestos, reivindicações, contestações. Mas pode ser também de forma não verbal, por meio de atuações, dramatizações, silêncios, etc. Para Pichon-Rivière (1991) o doente costuma ser o porta-voz das angústias e conflitos do grupo. Inconscientemente, o grupo “elege” essa pessoa porque é insegura, característica essa que tende a deixar o indivíduo paralisado e doente (quando a natureza do papel for patológica). Radar. Esse papel costuma ser assumido por aquela pessoa do grupo que capta, antes dos demais, os primeiros sinais de angústias e ansiedades do grupo. Geralmente, esses conflitos são expressos por intermédio de abandono do tratamento, somatizações e outras atuações; ou seja, de forma não verbal (ZIMERMAN, 2000). 80 Instigador. Executa o papel de instigador, conforme Zimerman (2000), aquele membro do grupo que costuma fazer intrigas e que acaba perturbando o campo grupal. Sabotador. Geralmente é um papel, segundo Zimerman (2000), que é executado por pessoas invejosas e narcísicas, que procuram criar obstáculos e prejudicam o bom andamento do grupo. Para Pichon-Rivière (1991) o sabotador representa a resistência à mudança, característica esta que faz parte de qualquer processo psicoterápico, seja ele individual ou grupal. Apaziguador. É aquele papel conhecido como “colocar pano quente”. Como afirma Zimerman (2000) é desempenhado por pessoas que apresentam dificuldades de lidar com situações tensas, ou de agressividade. Líder. Finalmente, o papel de líder, que é, geralmente, o mais fácil de identificar e é observável em todos os grupos. Pichon-Rivière (1991) descreve quatro tipos de lideranças: autocrática, democrática, demagógica e laissez-faire. A liderança autocrática é, costumeiramente, executada por pessoas narcísicas, rígidas, cujos seguidores são pessoas inseguras e dependentes. A democrática é aquele tipo de liderança considerada mais saudável, uma vez que os papéis, funções e limites estão organizados. Já a do tipo laissez-faire caracteriza-se pela ausência de agente continente para as angústias e ansiedades. E por fim, a liderança demagógica, que consiste na figura de um líder que prega falsas ideologias, permanecendo num discurso distante da prática. Pichon-Rivière (2000) atenta para o fato de que o terapeuta também desempenha um papel e posição no grupo, que pode ser diferente em cada grupo que se forma. Por exemplo: um paciente emocionalmente fragilizado pode atribuir ao terapeuta o papel maternal, isto é, de uma pessoa que provê a segurança de uma mãe. Esse papel orienta Pichon-Rivière (2000), pode ser de natureza boa (maternal, paternal, etc.) ou má, nas situações em que predominam fantasias paranoides, persecutórias, etc. 81 A tarefa do grupoterapeuta, como aponta Pichon-Rivière (2000) e Zimerman (2000), é a de identificar e trabalhar esses papéis no grupo. FIGURA – TÉCNICA GRUPAL http://www.psicomed.net/Images/t_grupo.gif. A FORMAÇÃO DE UM GRUPO Conforme Zimerman (2000), qualquer que seja a finalidade de um grupo terapêutico, seja em instituições públicas ou privadas, a formação desse grupo segue, basicamente, quatro etapas: planejamento, encaminhamento, seleção e composição. A primeira delas é o planejamento, que é indispensável para a obtenção de bons resultados terapêuticos. Refere-se à base estrutural, que exige conhecimento teórico-técnico prévio de quem irá conduzir o grupo. Segundo Zimerman (2000) é importante avaliar e definir algumas questões, sendo as principais: • Quem será o coordenador? • Qual a finalidade desse grupo? • Qual a técnica mais adequada (psicanalítica, comportamental, sistêmica, etc.)? • Qual o tipo de grupo mais apropriado para essa finalidade (psicoterápico, de autoajuda, de ensino-aprendizagem, etc.)? • Quem são e quantas são as pessoas que participarão do grupo? • Será um grupo homogêneo ou heterogêneo? • Será aberto ou fechado? • Como será feito o contrato (local, dia, horário, honorário, regras específicas)? http://www.psicomed.net/Images/t_grupo.gif http://www.psicomed.net/Images/t_grupo.gif 82 Vale lembrar que um bom planejamento contribuirá significativamente para o bom andamento do grupo. A segunda etapa é o encaminhamento. Conforme Zimerman (2000) refere-se à fase de divulgação do grupo que foi planejado. Na etapa anterior buscou-se ter claro “para quê; para quem; como; onde; quando?” (p. 105). Pensando nas respostas para essas perguntas é que o terapeuta saberá onde poderá encontrar os pacientes que espera. É necessário ter, no mínimo, quatro pessoas para iniciar um grupo. Assim, em se tratando de consultório particular, pode-se divulgar aos colegas profissionais para que possam fazer os encaminhamentos. Quando se tratar de instituições públicas, geralmente, já há uma fila de espera de pessoas aguardando vaga. Portanto, torna-se uma tarefa mais simples, e então se passa para a etapa seguinte. A etapa da seleção deve ser realizada individualmente. Dependendo da situação, os pacientes serão atendidos por algumas sessões para depois formarem um grupo. Na fase da seleção é ideal que se faça duas ou mais entrevistas psicológicas, de modo que se possa ter uma avaliação da personalidade de cada paciente; e assim analisar se poderá adaptar-se num determinado tipo de grupo. Esta etapa será detalhada no item seguinte. Finalmente a quarta etapa, que é a da composição do grupo propriamente dito. Zimerman (2000) denomina de “agrupamento”. Consiste em um “arranjo, um ‘encaixe’ das peças isoladas, sendo que no caso de uma grupoterapia se refere a uma visualizaçãode como será a participação interativa de cada um dos indivíduos selecionados na nova organização gestáltica” (p. 107). A SELEÇÃO DE PACIENTES A indicação para psicoterapia de grupo deve ser feita com cautela. Nem todos os pacientes podem se beneficiar dessa modalidade terapêutica. Uma seleção acertada implicará em bons resultados. Pesquisas revelam, segundo Yalom (2006), que a psicoterapia de grupo é tão benéfica quanto à modalidade individual. Além disso, alguns benefícios podem ser 83 adquiridos mais com a terapia de grupo, principalmente aqueles relativos às questões sociais, como melhorar as redes sociais e a aprendizagem social. O trabalho em grupo tem seus benefícios peculiares que não são observados na Psicoterapia Individual. Em algumas situações, como por exemplo, na dependência química, a grupoterapia com os pacientes e com a família é muito eficaz. Diz Ravazzola (1997, p. 301) que “a interação entre pares torna-se facilitadora da mudança. Escutar um par não é o mesmo que um terapeuta. As pessoas se aliviam ao descobrir que outros compartilham seu problema e que transitam por caminhos semelhantes”. Pichon-Rivière (1991) afirma que algumas características são universais, isto é, fazem parte de todas as pessoas. São elas: medos básicos (perda e ataque); sentimento de insegurança; fantasias básicas (doença, tratamento e cura) e processos de aprendizagem e comunicação. Nas instituições públicas (Sistema Único de Saúde), a exemplo das Unidades Básicas de Saúde (UBS), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), há uma tendência em se trabalhar com grupos. A demanda de pacientes é muito grande, o que torna a fila de espera cada vez maior. Em grupo, num mesmo espaço de tempo e por um mesmo profissional, podem ser atendidas mais pessoas. No caso dessas instituições, muitas vezes, o critério de seleção de pacientes para a formação do grupo surge da necessidade de atender um número grande de pacientes em um tempo menor, o que nem sempre vem de encontro com as características individuais do paciente. A grupoterapia não pode ser um mero aglomerado de pessoas, escolhidas aleatoriamente. Precisa haver critérios seletivos. Nessas situações, um trabalho anterior ao início do grupo pode ser o de sensibilizar o paciente para essa modalidade, podendo atendê-lo individualmente por algumas sessões até prepará-lo para o grupo. Nas Unidades Básicas de Saúde, que têm por objetivo a atenção primária da saúde, de caráter preventivo, alguns grupos temáticos são interessantes. O trabalho em grupo de acordo com as fases do desenvolvimento, como crianças, orientação aos pais, gestantes e idosos, por exemplo. A formação dos grupos pode ocorrer também por patologias, como: grupo de pacientes deprimidos, ansiosos, psicossomáticos, dentre outros. Outra modalidade de 84 trabalho com grupos pode ser numa perspectiva interdisciplinar, quando o psicólogo atua junto aos demais profissionais da saúde. Como exemplo, temos: grupo de hipertensos, diabéticos, obesos e dependentes químicos. Yalom (2006) salienta que é muito difícil selecionar os pacientes mais indicados para a grupoterapia, e já adianta que é mais fácil estabelecer critérios de exclusão do que de inclusão. Mesmo porque existem vários tipos de grupos. Assim, determinado paciente não está indicado para um tipo, mas pode estar para outro. Um primeiro sinal de indicação parece ser a motivação e o desejo do próprio paciente em ser atendido em grupo. Ao serem convidados, alguns costumam resistir inicialmente, mas quando informados sobre o funcionamento do grupo podem sentir- se estimulados; ao passo que outros podem se recusar a participar da modalidade grupal. Alguns argumentam que não gostariam de expor sua vida e seus sentimentos para outras pessoas. Outros se sentem ameaçados em dividir o terapeuta com outras pessoas, pela sua personalidade narcísica. Outros ainda, de forma inconsciente, sentem-se desencorajados por terem dificuldade de relacionamento. Yalom (2006) recomenda que determinados tipos de pacientes não se beneficiariam de um grupo do tipo heterogêneo. É o caso dos sociopatas, dependentes químicos, psicóticos agudos, paranoides e aqueles com lesão cerebral. Acrescentam-se ainda aqueles que não possuem disponibilidade para participarem frequentemente das sessões. Zimerman (2000) lista um grupo de pacientes que são contraindicados para a terapia de grupo. São eles: • Pessoas que não têm motivação ou interesse para mudanças internas. • Pacientes que já interromperam tratamentos anteriores com razoável frequência. • Deficientes mentais graves. • Pacientes que apresentam risco de suicídio. • Quadros mais sérios de depressão, paranoia e narcisismo. Segundo Yalom (2006), estudos sobre desistência de pacientes em psicoterapia grupal revelam que o término prematuro é sempre indesejado, por isso entender os motivos que os levam a abandonar a terapia auxilia no processo de seleção mais acertada. Quando um membro sai do grupo já altera a dinâmica do mesmo, que acaba resultando em prejuízo quanto aos benefícios terapêuticos. “O 85 desenvolvimento adequado de um grupo exige estabilidade de participantes, e uma onda de abandono pode retardar a maturação de um grupo por meses” (p. 193). Os estudos demonstram que os principais motivos de abandono do tratamento são, conforme Yalom (2006): Fatores considerados externos, tais como: dificuldade de horário, residência em outra cidade, mudança, etc. Yalom (2006) alerta para o fato de que, quando a justificativa dada pelo paciente é de ordem externa, é necessária uma análise mais detalhada. Muitas vezes, o motivo externo pode estar a serviço de conflitos internos, como por exemplo, mecanismo defensivo de negação, do qual o paciente tende a evitar porque percebe algo no grupo como sendo perigoso. Desvios comportamentais no grupo. Yalom (2006) refere-se ao tipo de paciente que não apresenta comportamento compatível com o grupo. Acrescenta que é difícil definir um perfil desses pacientes, mas fala em características: pessoas que não têm sensibilidade interpessoal, aquelas que não têm motivação interna para o tratamento e que não participam das tarefas propostas. Outra característica citada pelo autor diz respeito à classe econômica baixa e o que ele chama de pessoas com inteligência inferior. Vale ressaltar que essa característica foi evidenciada nas pesquisas de Yalom (2006), mas não pode ser generalizada para todos os pacientes de baixa renda com ou pouca escolaridade. Problemas de intimidade. Os pacientes que apresentam maior dificuldade com problemas de intimidade, como inibição, introversão, retraimento social, características autistas ou personalidade esquizoide tendem a abandonar mais facilmente um tratamento grupal, revela Yalom (2006). Quando a dificuldade é maior que o desejo de mudança, essas pessoas costumam ser tomadas por uma ansiedade de tal forma que bloqueiam no momento de falar. Medo de contágio emocional. Essa é uma questão muito difícil de ser detectada logo nas entrevistas de triagem (seleção). Entretanto, nas pesquisas realizadas por Yalom (2006), foi concluído que alguns pacientes tendem a abandonar a grupoterapia porque têm dificuldade para ouvir o problema do outro e diferenciá-lo de si mesmas. São pacientes que procuram evitar a proximidade de pessoas doentes e até ouvir sofrimento de outros. Motivos por parte do terapeuta. Estão relacionados ao despreparo teórico-técnico do profissional, como a dificuldade de manejar as situações de conflitos no grupo; falta planejamento, falhas na seleção, dentre outras questões, 86 podem contribuir para que pacientes desistam. Vale ressaltar que, assim como na terapia individual, conteúdos internosda dupla (paciente-terapeuta) estão em jogo. Resumindo, os motivos citados anteriormente auxiliam o terapeuta a selecionar melhor os membros para o grupo. Trata-se de critérios de exclusão. Nas palavras de Yalom (2006): “a seleção de pacientes para a terapia de grupo, na prática é um processo de exclusão: os terapeutas de grupo excluem certos pacientes da sua consideração e aceitam todos os outros” (p. 208). O interesse e a disponibilidade são os principais critérios de inclusão. O CONTRATO TERAPÊUTICO Assim como na psicoterapia Individual, na Grupoterapia também precisa haver um contrato ou enquadre. É comum delimitá-lo juntamente com as pessoas do grupo, pois diz respeito às questões práticas que visam manter uma organização. Deve-se definir o local, horário, férias, duração do tratamento quando houver necessidade e honorários do terapeuta (quando for o caso de consultório particular). Pode-se também combinar com o grupo outras questões que possam contribuir com o bom andamento da terapia, como o uso do celular, respeito a individualidade e as diferenças, sigilo, etc. É também chamado de enquadre (setting) grupal. Segundo Zimerman (1997), referem-se ao conjunto de limites, regras e combinados que são realizados pelo grupo. Serve não só para manter a organização, mas também como um fator terapêutico, funcionando como “continente”. Zimerman (1997) lista alguns elementos que precisam ser considerados: • Homogêneo ou fechado. • Aberto ou fechado. • Número de pacientes. Para Zimerman (1997) seis pessoas é um bom número, sendo quatro o mínimo e nove o máximo. • Sexo e idade. Zimerman (1997) relata que não há regra. Entretanto, um grupo misto quanto ao gênero parece ser mais vantajoso. E quanto à idade, o ideal é que a diferença não seja tão grande. • Número de sessões por semana e tempo de duração da sessão. Dependerá do referencial teórico-técnico do profissional. 87 • Tempo de duração do grupo. Irá variar conforme o tipo de grupo. Se for aberto, terá o que Zimerman (1997) denominou de “duração ilimitada”; e se for fechado, “duração limitada”. • Participação do coterapeuta ou supervisor. É aquele profissional, segundo Zimerman (1997) que assume o papel de observador do grupo. Ele intervém pouco e deve estar em sintonia com o outro terapeuta. O autor destaca que essa técnica costuma apresentar bons resultados nos casos de grupos com crianças, adolescentes e famílias. • Entrada de um novo elemento. Zimerman (1997) orienta que convém pedir a autorização prévia para os demais do grupo. Afinal, sua entrada precisa ser receptiva. • Outras combinações, caso sejam necessárias. Assim como na terapia individual, os fenômenos da: resistência, transferência, contratransferência, comunicação e interpretação são aspectos a serem discutidos em uma grupoterapia de base psicanalítica. São aspectos referentes à técnica. Entretanto, vale lembrar que um grupo não significa uma mera junção de pessoas; portanto não é somente fazer uma simples transposição da técnica, da natureza individual para a coletiva. MANEJO DAS RESISTÊNCIAS Consideram-se resistência todos os elementos que atrapalham o bom andamento da grupoterapia. Zimerman (1997) alerta para que o profissional possa analisar se a resistência é individual ou possui caráter coletivo. São algumas situações de resistência, conforme Zimerman (1997): • Faltas; • Atrasos; • Solicitações de mudança de horário; • Longos silêncios; • Combinados de não falar em determinado assunto; • Solicitação por terapia individual; • Dificuldades com honorários, etc. 88 Quanto aos motivos principais, para Zimerman (1997), que possam evocar as resistências, podem ser: • Medo do desconhecido; • Medo da humilhação; • Vergonha; • Presença da inveja; • Medo da depressão; • Falhas técnicas do terapeuta. Muitas vezes, a resistência se expressa mediante aos papéis desempenhados pelas pessoas no grupo, especialmente representadas pelo sabotador, monopolizador e silencioso. Quanto à técnica, Zimerman (1997) recomenda que o primeiro passo seja a identificação e compreensão das resistências. O segundo é avaliar se a resistência é individual ou coletiva. No terceiro passo, o terapeuta deverá assinalar ao grupo a função da resistência. E, por fim, cabe ao profissional analisar as suas próprias resistências quanto ao grupo. TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA É uma técnica que já foi abordada no módulo II deste curso. Recapitulando, a transferência refere-se aos sentimentos do paciente em relação ao terapeuta, e a contratransferência, do terapeuta em relação ao paciente. Neste caso, o paciente é o grupo. Tais sentimentos podem ser positivos ou negativos. Na Psicoterapia de Grupo a técnica adapta-se ao caráter coletivo. Zimerman (1997) aponta que os fenômenos da transferência devem ser analisados e identificados sob vários vértices: • Do indivíduo para o grupoterapeuta; • Do grupo para o terapeuta; • Entre os membros do grupo; • Do indivíduo para o grupo. Já o fenômeno da contratransferência consistirá na avaliação feita pelo grupoterapeuta sobre quais sentimentos o grupo lhe desperta. Para tanto, a 89 supervisão clínica e a análise pessoal são ferramentas indispensáveis para identificar e manejar tais sentimentos. COMUNICAÇÃO Zimerman (1997) afirma que as dificuldades encontradas no processo da comunicação numa terapia de grupo ficam mais evidentes do que na terapia individual. Uma análise deste fenômeno permite observar que a forma de comunicação tende a revelar sobre a patologia de cada um. A fala do obsessivo- compulsivo é mais detalhista, a do histérico é exagerada. A do narcisista é arrogante, já a do fóbico tende a ser evitativa. INTERPRETAÇÃO É especialmente pela técnica que ocorre a cura propriamente dita. Digo “especialmente” porque ela não é a única ferramenta. Além dela, há também: assinalamento e pontuação. Zimerman (1997) reporta-se à técnica de grupo inicial, mas avisa que sua experiência permite fazer algumas modificações. Anteriormente, orientava-se que não era adequado interpretar referindo-se individualmente aos membros; era melhor que evitasse fazer interpretações relacionando aos fatos infantis e que essa técnica deveria ser feita com base no “aqui-agora”. A técnica atual, proposta por Zimerman (1997), permite algumas modificações, como: • Nomear os indivíduos do grupo, desde que seja assunto comum ao grupo; • Não é necessário interpretar apenas no “aqui-agora”; • Uso de assinalamentos, pontuações e clareamentos para se referir as formas de comunicação, aos papéis desempenhados pelos indivíduos no grupo e as percepções de fatos; • Interpretação dos papéis estereotipados e rígidos no grupo e que são repetidos na vida em geral; • Assinalamento de questões contratransferenciais. 90 TÉRMINO E RESULTADOS TERAPÊUTICOS O término pode significar duas situações, como aponta Zimerman (1997): pode ser que o grupo todo encerre, seja pelo que ficou estabelecido no contrato, seja por outros motivos (grupo fechado), mas pode ser também que o término seja individual, isto é, que uma pessoa conclua sua participação no grupo (são situações comuns de grupos abertos). Zimerman (1997) prefere falar em “crescimento mental” do que em “cura”, pois o segundo é um termo da Medicina, e está mais associado com a supressão de sintomas. Espera-se que, ao final da grupoterapia, possam ser identificadas algumas mudanças psíquicas. Dentre elas, destacam-se: • Maior flexibilidade dos papéis estereotipados e rígidos; • Melhor possibilidade de interação com outras pessoas; • Melhor habilidade de comunicação; • Minimização das ansiedades paranoides e depressivas;• Capacidade para fazer diferenciação entre si e dos outros; • Capacidade de ser “continente”. Cada membro poderá se beneficiar de formas diferentes. Entretanto, as experiências vividas no grupo devem favorecer o indivíduo a “adquirir liberdade para fantasiar, desejar, sentir, pensar, comunicar, sofrer, gozar e estar junto com os outros” (ZIMERMAN, 1997, p. 142). PERFIL DO GRUPOTERAPEUTA O profissional que exercita qualquer modalidade psicoterapêutica deve ter em mente que está lidando com “relações humanas”. Relacionar-se implica na presença de outro, que possui seus próprios sentimentos, dores, dificuldades, crenças, etc., além de lidar com seus próprios sentimentos e conflitos. A Psicanálise valoriza um pressuposto fundamental: o de que os sentimentos da dupla (paciente-terapeuta ou grupo) estão em jogo. Sendo assim, falar de técnica em grupoterapia também remete a abordar o perfil do profissional. Zimerman (1997) utiliza a expressão “coordenador” para se referir ao grupoterapeuta, e acrescenta que é uma figura importantíssima no processo 91 terapêutico, já que é a pessoa que conduz. O coordenador representa a figura de transferência, motivada pelas expectativas de cada membro do grupo. Sendo tão importante, é esperado que o coordenador possua alguns atributos desejáveis e/ou indispensáveis. Isso não significa que deva ser uma pessoa “perfeita”, afinal de contas também é provido de sentimentos, sofrimentos e dificuldades. Espera- se que tenha minimamente se submetido à experiência de análise pessoal e uma maior maturidade emocional. Zimerman (1997) destaca alguns atributos, uma parte indispensável e outra desejável, os quais se esperam do terapeuta de grupo. Dentre eles: • Gostar e acreditar em grupos; • Ser verdadeiro; • Coerente; • Ético; • Respeitoso; • Paciente; • Continente; • Função de pensar; • Comunicativo; • Empático; • Senso de humor. Finalizando, a regra fundamental e indispensável para o profissional consiste no clássico “tripé”: conhecimento teórico-técnico, supervisão com um profissional mais experiente e análise pessoal. PSICOTERAPIA BREVE HISTÓRICO De acordo com Braier (2000) a Psicoterapia Breve surgiu principalmente da necessidade da crescente demanda das pessoas que precisavam de atendimento e da quantidade insuficiente de terapeutas, especialmente em hospitais e centros de saúde. Além disso, muitos dos que procuravam ajuda terapêutica eram pessoas de 92 poucos recursos econômicos, e, portanto, que não tinham condições financeiras para arcar com despesas numa terapia em longo prazo. Tal terapia caracteriza-se por ter objetivos limitados, é bastante interpretativa ou de insight, e é empregada em pessoas com capacidade egoica suficiente para serem tratadas por ela. Contextualizando a Psicoterapia Breve em sua evolução histórica, os primeiros trabalhos referentes a essa terapia se deram logo no início dos estudos de Freud, por ele mesmo: “...na etapa pré-analítica e no começo da analítica eram, de certo modo, terapias breves, pois duravam só alguns meses” (BRAIER, 2000, p. 09). Freud estava empenhado em encontrar curas rápidas para a solução de alguns conflitos e sintomas. Mas, gradualmente, o tratamento foi se tornando mais prolongado. Ao mesmo tempo, outros autores (como S. Ferenczi, O. Rank, e posteriormente T. French e F. Alexander) desenvolvem estudos referentes à Psicoterapia Breve. Segundo Braier (2000), a partir da década de 80, surgiu a necessidade de recorrer a psicoterapias. Devido a dificuldades financeiras e de tempo, as pessoas sentiam necessidade de uma psicoterapia menos custosa que a análise, tanto em dinheiro quanto em tempo. Segundo Braier (2000) Freud, numa conferência em Budapeste, em 1918, adiantou-se a fatos que posteriormente resultariam nas chamadas psicoterapias breves. Freud falou da importância de desenvolver tratamentos breves para que um número maior de pessoas se beneficiasse da assistência psicológica, especialmente que fossem criados estabelecimentos estatais, para que o serviço psicológico fosse gratuito. Nessa perspectiva, Freud aponta a necessidade de modificar a técnica a ser utilizada nas psicoterapias breves. CONCEITO A psicoterapia breve, segundo Knobel (2002), é uma espécie de Psicanálise condensada, cujo tempo e objetivos são limitados. Trata-se de uma psicoterapia com objetivos mais modestos. Braier (2000) prefere usar o termo “Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica”. Primeiro porque, a denominação “Psicoterapia Breve” implica em dizer que a terapia é breve. E este autor aponta que ela é breve apenas do ponto de vista do terapeuta e quando comparada ao tratamento psicanalítico. Braier fundamenta-se no referencial psicanalítico. 93 Os termos “Psicoterapia breve” e “Psicoterapia focal” são usados como sinônimos por Knobel (1986), que conclui: “o máximo no mínimo de tempo”. D. Malan, considerado o pai da “Psicoterapia Focal”, também concorda que são sinônimos. Além do fator tempo, o foco é um dos elementos que melhor caracterizam as terapias breves. O foco, que se refere basicamente à queixa trazida pelo paciente, diz respeito ao objetivo, que acaba sendo o centro do tratamento e não pode ser perdido de vista. Nas palavras de Knobel (1986, p. 13): A Psicoterapia breve se apoia para ajudar o indivíduo humano a ter uma real visão de suas dificuldades, uma verdadeira apreciação de seus problemas e um ponto de referência para correções positivas de uma conduta que resulta de um funcionamento psicológico perturbado. Alguns autores são referências em Psicoterapia Breve, sendo eles: M. Knobel, H. Fiorini, D. Malan, M. Balint, E. Braier. FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS Na Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica, para Braier (2000), são trabalhados: o inconsciente, conflitos psíquicos, mecanismos de defesas, sonhos, transferência, resistência, e outros, assim como na Psicanálise. Entretanto, há diferenças entre a Psicanálise e a Psicoterapia Breve. As diferenças podem ser agrupadas em três aspectos: 1) fins terapêuticos, 2) temporalidade, 3) técnica. No que se refere aos fins terapêuticos, de acordo com Braier (2000), a Psicanálise tem como meta tornar consciente o inconsciente. Tal meta implica numa reconstrução da estrutura da personalidade do analisando, que por sua vez envolve a resolução de conflitos mediante a elaboração, acarretando bem-estar ou alívio dos sintomas. Já na Psicoterapia Breve, como afirma Braier (2000), os objetivos precisam ser limitados. Tem como meta principal a superação dos sintomas e problemas atuais da realidade do paciente, de modo que este possa enfrentar adequadamente situações 94 conflitivas. Tal meta implica em que o paciente deve ter um princípio de insight a respeito de seus conflitos. Nesse sentido cabe dizer que nem todas as pessoas podem se beneficiar da Psicoterapia Breve, mas sim aquelas que possuem boa capacidade de insight. No que diz respeito à temporalidade, Braier (2000) assinala que a duração do tratamento na Psicanálise não é predeterminada, e pode se prolongar por anos. Na Psicoterapia Breve é determinada previamente, e em geral leva alguns meses. Diz-se que há um início, meio e fim previamente determinados, realidade esta que tanto analista quanto analisando devem lidar. E com relação à técnica, Braier (2000) faz menção a alguns fenômenos psicoterapêuticos: os conflitos psíquicos; regressão, neurose de transferência e transferência; resistência; insight e elaboração; fortalecimento da função egoica. Na Psicanálise “as situações conflitivas atuais do indivíduo estão relacionadas a conflitos infantis, dos quais, em realidade, decorrem”. (BRAIER, 2000, p. 22). E no tratamento psicanalítico o analisandoreviverá seus conflitos infantis, por meio da transferência, e serão analisados profundamente até ser elaborado. Na Psicoterapia Breve há primeiramente uma escolha dos conflitos a serem trabalhados, de acordo com sua urgência. Tais conflitos serão os focos do tratamento, sendo que não é possível aprofundar em elementos mais primitivos de modo que não mobilize o analisando em demasia. Conforme Braier (2000) a regressão é o processo no qual o indivíduo se reporta a etapas anteriores de seu desenvolvimento para reviver seus conflitos infantis. Esse processo é muito importante no tratamento psicanalítico, uma vez que consiste numa etapa para elaboração dos conflitos atuais. A neurose de transferência “é a reprodução da neurose infantil na relação com o analista” (BRAIER, 2000, p. 26). E a transferência é o processo no qual os desejos inconscientes se atualizam sobre certos objetos, na relação analítica. Braier (2000) assinala que na Psicoterapia Breve deve-se evitar o desenvolvimento da regressão, da neurose de transferência e da transferência. Tais mecanismos terapêuticos não constituem como objetivos neste tipo de tratamento, na medida em que o objetivo é resolver conflitos atuais do indivíduo. De acordo com Braier (2000), no tratamento psicanalítico, a resistência refere- se aos diversos obstáculos que o analisando opõe ao tratamento. Na Psicoterapia 95 Breve surgem resistências também, entretanto a interpretação das mesmas não pode assumir um caráter intenso como na Psicanálise, em função da limitação do tempo. É importante também discorrer sobre insight e elaboração. No tratamento analítico Insight é “... a aquisição do conhecimento da própria realidade psíquica”. (Grinberg, citado em Braier, 2000, p. 30). Trata-se de uma compreensão no sentido intelectual e afetivo, do contato com os aspectos inconscientes. A finalidade das interpretações do analista, que são, por excelência, seu instrumento terapêutico, é promover o insight dos conflitos no paciente (BRAIER, 2000, p. 30). A elaboração, segundo Braier (2000), é o processo no qual o paciente descobre as conotações do insight. Isto é um trabalho exaustivo, que demanda tempo, implica em regressão e superação das resistências do paciente. Desse modo, na Psicoterapia Breve, tanto o insight quanto a elaboração ocorrem, mas de forma restrita e menos profunda se comparada ao tratamento analítico. Além do mais o insight se dá muito mais a nível intelectual que afetivo. Considero que a aquisição de insight por parte do paciente, por meio de interpretações do terapeuta, seja a forma mais apreciada de se conseguir o fortalecimento de seu ego (BRAIER, 2000, p. 34). Entretanto, conforme Braier (2000), esta não é a única maneira de ativar as funções egoicas. Há também outra, que se baseia no apoio. Na Psicoterapia Breve, algumas vezes é necessário utilizar de técnicas de apoio, especialmente quando a função egoica do paciente está bastante debilitada e este não consegue suportar uma terapia interpretativa. Na Psicoterapia Breve o tempo é limitado, o que faz com que os objetivos também o sejam, caracterizando-se como as necessidades mais ou menos imediatas do indivíduo, com o que se apresentar com mais urgência e/ou importância, almejando o fortalecimento e ativação de suas funções egoicas para que ele consiga recuperar seu autodesenvolvimento e solucionar seus conflitos (BRAIER, 2000). Faz-se necessária a delimitação de um ou dois focos prioritários de dificuldades, sendo que a solução fará com que o indivíduo se fortaleça emocionalmente. Segundo Braier (2000), em Psicoterapia Breve “... se tenta basicamente delimitar zonas da problemática geral do paciente e/ou dos episódios de sua vida, dirigindo preferencialmente para aí, a partir desse momento, a exploração terapêutica” (p. 42). 96 Diante dessas colocações vale dizer que a cura nunca se realiza durante o tratamento. Segundo Braier (2000) “... um tratamento curto adequadamente conduzido pode desencadear, a partir da solução de um aspecto do problema do paciente, um processo evolutivo, uma reação em série, que com o avançar dos anos promova uma mudança interior...” (p. 54). É nesse sentido que se pode falar em fortalecimento e ativação de funções egoicas para autodesenvolvimento interior. É valido dizer que a Psicoterapia Breve recebe muitas críticas, até mesmo dentro da área psicanalítica. Birman (2000) diz que se não houvesse o tratamento de curto prazo, as pessoas com perturbações psíquicas se entregariam a tratamentos psicofarmacológicos, sendo esquecida, dessa maneira, sua subjetividade e individualidade. “Com efeito, é preferível que as individualidades possam ser simbolicamente reconhecidas como subjetividade, mediante as psicoterapias breves, do que serem reduzidas à brutalidade de sua condição animal, pelo tratamento psicofarmacológico...” (p. 16). Além de tudo isso, existe a relação entre tempo e subjetividade, a qual sofreu influências das novas tecnologias de comunicação, da nova forma de existência. Atualmente as pessoas são induzidas a agir de forma rápida, diferentemente do que ocorria há algumas décadas, quando as pessoas podiam permanecer em intermináveis reflexões. Vale dizer também que essas pessoas que se entregavam a reflexões profundamente intermináveis e relegavam a ação em si, a segundo plano acabavam se tornando obsessivas em função do investimento narcísico que faziam. Braier (2000, p. 33), afirma que Devemos ativar muito especialmente as funções egoicas do paciente essenciais para o trabalho terapêutico, tais como, a percepção, a atenção, a memória, etc., ativação que adquire muita importância porque acelera e facilita o caminho em direção ao insight. É importante ressaltar, que ao se falar em fortalecimento egoico, entende-se que um trabalho neste sentido, com um embasamento psicanalítico, tem como objetivo desenvolver recursos egoicos para que o próprio paciente tenha insights, considerando que toda a relação está permeada de conteúdos latentes, para que não se “caia na armadilha de um trabalho superficial”, que ao invés de promover a autonomia do paciente, acabe formando uma relação simbiótica, na qual o paciente não entra em contato com os sentimentos que permeiam determinados conflitos. 97 Segundo Dolto, in Mannoni (1983), a relação psicoterápica permitirá que as “forças emocionais encobertas, em jogo conflitvo”, encontre uma saída, ou seja, a descoberta de processos inconscientes contribui para que o paciente perceba o que está limitando sua liberdade. Entendendo, que esta liberdade significa o indivíduo conseguir ser criativo, e não apenas submisso às exigências, livre da dependência do desejo de outrem, conseguindo comunicar os seus sentimentos, amar e ser amado, enfrentar frustrações e as dificuldades cotidianas. Assim, estamos entendendo saúde mental, não enquanto um processo de adaptação, mas enquanto possibilidade criadora, na qual o paciente consiga transitar na relação dialética princípio da realidade versus princípio do prazer, com certa maleabilidade. Entendendo que a relação terapêutica, na maioria das vezes, acontece a nível inconsciente, é fundamental que o psicoterapeuta faça supervisão e análise pessoal, para que esteja conseguindo amadurecer enquanto pessoa, e enquanto profissional, considerando que estes estão intimamente ligados. Na Psicoterapia Breve, é importante que o psicoterapeuta perceba algumas limitações que o aspecto tempo coloca, pois pode ocorrer deste desejar inconscientemente mobilizar alguns conflitos que não seriam viáveis trabalhar numa Psicoterapia Breve. Percebe-se a importância, de estar entrando em contato com alguns conteúdos latentes que estão permeando o trabalho, e que se referem 123 ao desejo do próprio terapeuta, conteúdos estes que não favorecem nem o crescimento doterapeuta, nem do paciente. Identificar as diferenças entre Psicanálise e Psicoterapia Breve é indispensável para aplicar adequadamente a técnica. No quadro abaixo estão descritas as principais diferenças: 98 Técnica Psicanálise Psicoterapia Breve Fins terapêuticos A exploração do inconsciente. Resolução de conflitos básicos e seus derivados. Reestruturação da personalidade. Limitados. Superação de sintomas e problemas atuais. Duração Prolongada. Indeterminada. Limitada. Trabalhos com os conflitos Refere-se especialmente conflitos básicos. a o s Limita-se habitualmente a conflitos derivados. Regressão Dependência São favorecidas. Não são favorecidas. Desenvolvimento e análise da neurose de transferência. Sim. Não. Análise de resistência Intensiva. Limitada. Insight Sim. Sim. Limitado. Mais cognitivo que afetivo. Elaboração Sim. Não. Processos geradores de mudanças. Fortalecimento e ativação das funções egoicas. Não (ou muito pouco). Sim. Focalização Não. Sim. Multiplicidade dos recursos terapêuticos Não. Sim. Planejamento Não. Sim. FONTE: Braier, 2000. 99 INDICAÇÕES Braier (2000) recomenda que a Psicoterapia Breve poderá ser indicada em várias situações. Vejamos algumas delas: • Situações referentes aos ciclos de vida, tais como casamento, maternidade, menopausa, aposentadoria, etc. • Fatos traumáticos como o luto, separações, desemprego, acidentes, dentre outros. • Enfrentamento de doença, hospitalização e processo cirúrgico. • Tratamento de neuroses. Já em relação ao tipo de paciente, o ideal, segundo Braier (2000, p. 209) seriam aquelas pessoas que possuem: A) Força e plasticidade do ego, com funções em bom estado. B) Alto grau de motivação para o tratamento. C) Capacidade de insight. D) Determinação e boa delimitação focal desde o início. Em contrapartida, seriam contraindicados, de acordo com Braier (2000), aqueles casos mais graves, como: psicopatia, borderline, perversões e casos graves de psicoses. É importante considerar que a Psicoterapia Breve, assim como as demais psicoterapias, não é indicada para todas as pessoas. Nesse sentido é necessário ser feito um processo psicodiagnóstico de modo a indicar quais pessoas podem se beneficiar da psicoterapia Breve, ou não. E mais, qual o direcionamento do trabalho a ser dado no tratamento. Por outro lado, Braier (2000) considera que em muitas situações a Psicoterapia Breve visa atender mais a uma questão de ordem assistencial, no sentido de que há pessoas que não podem custear seu tratamento. É o caso de pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), através de instituições públicas, Organizações Não Governamentais (ONGs) e até mesmo as chamadas clínicas-escola, isto é, as clínicas de Universidades. Nesse sentido, Braier (2000) aponta que quase todas as pessoas têm indicação de Psicoterapia Breve, mesmo sendo grave sua doença. Entretanto faz uma ressalva: 100 “desde que se recorra, com critério e segundo cada caso, à técnica interpretativa e à de fortalecimento do ego” (p. 207). De qualquer forma, é importante considerar que nem todos os tipos de pacientes apresentarão bons resultados terapêuticos. TÉCNICA O FATOR TEMPO A essência da Psicoterapia Breve está justamente na brevidade de um tratamento psicológico, isto é, o fator tempo. Por esse motivo este tema merece um destaque especial. Na Psicanálise a questão do tempo e da frequência das sessões são fatores que estão associados e consistem na essência deste método científico. Na era pós- Freud aspectos econômicos e de tempo foram se contrapondo com a Psicanálise, dando origem às psicoterapias breves. Neste cenário, Birman (2000) levanta a indagação de como é possível tratar de questões subjetivas em um curto espaço de tempo? Para este autor, a experiência psicanalítica exige uma posição estratégica do tempo para a subjetividade, portanto, um longo tempo e maior frequência semanal seriam condições para bons resultados terapêuticos. Ele compara a Psicoterapia Breve com a ponta de um iceberg, o que significa que, assim como no iceberg, o que fica dentro da água é a maior parte dele, no processo terapêutico breve poderá ser tratado apenas uma parte dos conteúdos psíquicos. Os processos subjetivos também foram se transformando com o tempo, assim como os valores, crenças e modos de vida. Pensando assim, é que, segundo Birman (2000), justificam-se as Psicoterapias Breves, que entraram em cena enquanto possibilidade terapêutica, por diversas razões. Inicialmente por questões de ordem econômica e de tempo, especialmente nos campos da Psiquiatria e da Psicologia Clínica (décadas de 1950 e 1960). Os hospitais e outras instituições de saúde foram crescendo, principalmente na área pública, mantidas pelo Estado. A proposta da Psicanálise foi ficando inviável para muitas pessoas, principalmente em função do alto custo financeiro e de ser um tratamento longo. Nos setores públicos o Estado não conseguia manter o tratamento. Dessa forma, a Psicoterapia Breve vem para atender a essa demanda. 101 Inicialmente, a Psicoterapia Breve era conhecida como um tratamento inferior quando comparada à Psicanálise. Diz Birman (2000) que os psicanalistas eram considerados como verdadeiros analistas e os demais como pseudoanalistas. É como se a Psicanálise fosse privilégio para as pessoas de classe alta e as demais psicoterapias, de segunda linha. Entretanto, aponta Birman (2000) que nas décadas de 1960 e 1970 havia críticas em relação à longa duração de um tratamento psicanalítico; questionava-se, inclusive, se era eficaz permanecer tanto tempo em análise. É importante mencionar que a grande frequência das sessões semanais na Psicanálise tem motivo de ser. Para Freud o intervalo longo entre uma sessão e outra poderia aumentar as resistências no paciente. Voltando a eficácia terapêutica, segundo Birman (2000), trata-se de um assunto complexo e polêmico. “O que pode ser eficaz, num certo ponto de vista, não é o mesmo que é valorizado num outro, na análise dos efeitos terapêuticos de certo procedimento” (p. 17). Além disso, temos que considerar as expectativas e ambições do próprio paciente. Muitas vezes, suas ambições em tratar seus conteúdos internos, em falar de sua subjetividade são mais modestas que a proposta da Psicanálise. O valor que cada pessoa atribui a sua subjetividade pode ser diferente. Atualmente, além dos espaços públicos de tratamento de saúde mental, há também os convênios de saúde que funcionam como um terceiro na relação terapeuta/paciente. Estas instituições delimitam o número de sessões e a duração do tratamento, tornando um padrão único para todos os pacientes, independente de suas necessidades, patologias e benefícios terapêuticos. Nesse sentido, Birman (2000) afirma que a frequência semanal das sessões acabou se tornando uma espécie de “instituição”, já que satisfaz mais as necessidades da própria instituição do que as do paciente. Finalizando, é importante considerar ainda que diversas mudanças ocorreram dos tempos de Freud até os dias atuais. O processo da globalização, a inclusão digital e o mundo do trabalho agitado levaram a uma aceleração do tempo, fazendo com que as pessoas tenham pressa. Consequentemente, os pacientes e as patologias também mudaram. São marcadas por patologias narcisistas e pelo vazio mental. Este cenário requer uma (re)leitura dos processos subjetivos. 102 A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA E O CONTRATO TERAPÊUTICO Na Psicoterapia Breve o primeiro passo diz respeito ao psicodiagnóstico, assim como nas demais psicoterapias. Segundo Braier (2000), o processo avaliativo consisteem entrevistas, 129 testes psicológicos e entrevista devolutiva. Tem como objetivos principais: a construção da aliança terapêutica, o diagnóstico e prognóstico e a formulação do plano terapêutico. Faz parte também desse processo o estabelecimento do contrato terapêutico, ocasião em que é explicado ao paciente sobre o método de trabalho e a duração do tratamento. É também o momento onde é eleito um foco de trabalho. O estabelecimento da aliança terapêutica, conforme Braier (2000) inicia-se já nas primeiras entrevistas, isto é, nos primeiros contatos paciente/terapeuta, e é condição essencial para qualquer tratamento. Nesse primeiro momento, Braier (2000) recomenda informar diretamente ao paciente sobre os objetivos iniciais – que são de avaliação e delineamento do contrato -, bem como dos passos a serem dados no decorrer do tratamento. A postura do psicólogo, na Psicoterapia Breve e já nas entrevistas, como aponta Braier (2000), é mais ativa. Em alguns momentos é ele quem dirige a entrevista, seja formulando questões para fins diagnósticos, ou até mesmo assinalando e interpretando. Vale ressaltar que a técnica da interpretação precisa ser usada com muita cautela e segurança, especialmente no início do tratamento. Nesse sentido, Braier (2000) orienta usá-la basicamente em três situações: 1) Quando surgirem obstáculos que possam culminar com a interrupção do tratamento; 2) Na entrevista devolutiva, quando o psicólogo fornecer uma visão geral do caso; e/ou 3) Com a finalidade de avaliar a capacidade de insight do paciente. Ainda quanto às entrevistas, Braier (2000) afirma que é fundamental realizar uma boa anamnese, a fim de colher dados necessários para a história clínica do paciente. Detalhar o motivo da consulta é valiosíssimo, uma vez que na grande maioria das vezes está relacionado ao foco de trabalho que será eleito para o tratamento. Delimitar um foco ou a situação-problema não é tarefa fácil, pois muitos pacientes como aponta Braier (2000), apresentam patologias mais generalizadas, que 103 muitas vezes estão relacionadas a vários aspectos. Torna-se, portanto, difícil de eleger um ponto de urgência. Em contrapartida, outros pacientes apresentam quadros mais focais, mais fáceis de serem delimitados. É o caso de quadros agudos, tais como eventos traumáticos, depressões, luto, processo de internação ou surgimento de doença, etc. Em relação ao que avaliar num psicodiagnóstico em Psicoterapia Breve, alguns pontos, segundo Braier (2000), merecem destaque. Trata-se de critérios mínimos que precisam ser considerados para indicação ou contraindicação para essa modalidade de psicoterapia. O resultado satisfatório do tratamento depende disso. Um ponto refere-se à avaliação das funções básicas do ego do paciente, isto é, pensamento, atenção, percepção, fala, memória, etc. Um paciente com ego muito desestruturado dificilmente se beneficiará de um tratamento breve. A capacidade de insight e de simbolização precisa estar preservada (BRAIER, 2000). Outro ponto está ligado às relações objetais, ou seja, aos tipos de vínculos que o paciente estabelece com as pessoas mais próximas, como os pais, filhos, cônjuge, colegas de trabalho, etc. Segundo Braier (2000) é importante que estes pacientes consigam ter razoável tolerância à frustração, habilidade para lidar com as situações de separação e de perdas em condições razoáveis, minimamente. Isto porque são pessoas que permanecerão por pouco tempo com o terapeuta, que necessitam ter uma postura ativa diante do tratamento que logo se encerrará, ocorrendo à separação. Um terceiro ponto diz respeito às motivações do paciente em se tratar. Braier (2000) salienta que precisa haver um alto grau de desejo de mudança e, de preferência, que a terapia ocorra num momento favorável a essas mudanças. Pacientes que vêm encaminhados por desejos ou necessidades de outras pessoas, pouco ou nada poderão se beneficiar de um tratamento que requer muito envolvimento por parte da dupla terapêutica. Na entrevista devolutiva, Braier (2000) recomenda que seja feita de forma clara e objetiva, procurando devolver o que foi investigado do paciente, tanto seus aspectos sadios quanto os patológicos. Criar um clima de compreensão do sofrimento do paciente fortalecerá a aliança terapêutica. O contrato terapêutico sinaliza o fim de uma etapa (psicodiagnóstico) e início de outra (o tratamento propriamente dito). 104 Na Psicoterapia Breve, assim como nas outras, há necessidade de realizar o contrato terapêutico, isto é, um compromisso entre a dupla. Nele algumas questões, segundo Knobel (2002) precisam estar claras. São elas: • Questões práticas como: estabelecimento de local, dias, horários, feriados, faltas e honorários (este último quando for o caso de clínica particular); • Delimitação do número, tempo e duração das sessões e do tratamento. • Delimitação dos objetivos terapêuticos a serem alcançados; Explicação da função e dos objetivos terapêuticos. Braier (2000) orienta que a definição do foco a ser trabalhado deve ser feito junto ao paciente, de comum acordo, de forma clara e objetiva. Este foco está relacionado com as expectativas do paciente em relação ao tratamento. Entretanto, “toda terapia breve de insight pressupõe a existência de fins terapêuticos inerentes à natureza mesma do processo, por exemplo, que o paciente alcance maior consciência da enfermidade ou eleve sua autoestima” (p. 74). Esse é, portanto, o objetivo geral da Psicoterapia Breve. Quanto à duração do tratamento, segundo Braier (2000), na maioria das vezes, convém delimitar um prazo para o término da terapia, que poderá variar conforme algumas situações: 1) Quando se tratar de uma instituição o tempo já estará definido (3, 6, 12 meses); 2) Por conveniências do próprio paciente: em se tratando de mudança, viagem ou outros; 3) Quando se tratar de consultório particular pode-se definir o prazo de comum acordo com o paciente, sempre observando os riscos e os benefícios terapêuticos. Algumas características em Psicoterapia Breve, segundo Knobel (2002), são essenciais. Algumas delas são: • Sigilo profissional; • Confiança mútua; • Avaliação honesta e compreensiva junto ao paciente. 105 O TRATAMENTO PROPRIAMENTE DITO Diz Braier (2000) que a organização do planejamento terapêutico é um dos aspectos que diferenciam as psicoterapias breves. Elaborar uma estratégia auxilia no cumprimento dos objetivos delimitados. É evidente que não se trata de um projeto estático, rígido, mas ao contrário, requer flexibilidade por parte do terapeuta de modo que o mesmo possa ser readaptado quando necessário. Após a avaliação diagnóstica e o planejamento terapêutico, dá-se início ao tratamento propriamente dito. Nesta fase, algumas características são essenciais na relação terapeuta/paciente, principalmente porque se diferencia do método psicanalítico. A postura do terapeuta na Psicanálise é mais neutra e distante, procurando preservar o anonimato. Já na Psicoterapia Breve o vínculo é mais próximo. É importante que o terapeuta possa expressar interesse em relação ao sofrimento do paciente, favorecendo um clima de confiança (BRAIER, 2000). Nesse sentido, salienta Braier (2000, p. 86), que o papel do terapeuta é mais ativo do que na Psicanálise. Em algumas situações ele poderá responder as perguntas do paciente, favorecendo um “equilíbrio entre gratificação e privação do paciente”. Um tratamento breve não permite tempo suficiente para tratar as resistências oriundas de sentimentos hostis, agressivos, no processo de transferência negativa. Quanto à técnica, Braier (2000) propõe que se evite a transferência, ou melhor, que não ocorra com tanta intensidade. Realizar assinalamentos, formular questões, oferecer sugestões e informaçõessão parte da técnica em Psicoterapia Breve. A interpretação também é utilizada, mas precisa ter relação com o foco de trabalho que foi eleito como objetivo no tratamento. Algumas vezes o terapeuta faz perguntas que vêm de encontro a este foco. Sua atenção deve estar voltada para ele (o foco). Em relação à técnica da associação livre, defendida por Freud, há controvérsias na Psicoterapia Breve. Alguns autores (dentre eles Bellak e Small) apontam que ela não deve ser usada exatamente como na Psicanálise (BRAIER, 2000). Esta é uma técnica empregada para facilitar a expressão do inconsciente, como aponta Braier (2000), mas que tende a conduzir à regressão, o que não seria interessante na Psicoterapia Breve. Pode ser que, associando livremente o paciente falará de outros temas que não estarão relacionados ao foco principal. Assim, poderia 106 ser desperdiçado tempo, uma vez que este é fator decisivo em tratamentos breves. Cabe ao terapeuta a tarefa de auxiliar o paciente a voltar para o foco. Diante dessa problemática, orienta Braier (2000) que a associação livre não seja usada com tanta frequência, mas em algumas situações durante o tratamento, nas quais estejam voltadas para o foco. Isto exige flexibilidade por parte do terapeuta. Este autor recomenda que, no início do tratamento, deve-se orientar o paciente a falar tudo o que sabe sobre seu sofrimento ou que tenha relação com ele, podendo ser situações atuais, recordações anteriores, pensamentos, etc. Falando mais especificamente sobre as sessões, Braier (2000) recomenda que, em Psicoterapia Breve sejam realizadas duas sessões semanais, na maioria dos casos. Entretanto, em algumas situações basta uma apenas. A duração de cada sessão pode ser de quarenta minutos. Paralelamente à Psicoterapia Breve, na tentativa de potencializar os benefícios terapêuticos, pode-se recorrer ao trabalho de outros profissionais, por intermédio de encaminhamentos. Braier (2000) cita a participação do psiquiatra (uso de psicofármacos), terapeuta ocupacional, psicoterapeuta grupal, etc. Além disso, muitas vezes, a participação e o envolvimento dos familiares do paciente fazem-se necessário e favorável ao tratamento. Em algumas situações os familiares podem auxiliar na fase diagnóstica, contribuindo com informações valiosas para a compreensão do caso. Em outros momentos a família poderá ajudar assumindo determinadas responsabilidades quanto ao tratamento (BRAIER, 2000). Já no caso de crianças e adolescentes, a participação dos pais e/ou cuidadores é de suma importância, em todos os momentos do tratamento, como aponta Braier (2000). Primeiro porque cabe aos pais, geralmente, a função de levar o paciente e arcar com os custos financeiros. Segundo porque é comum que a enfermidade do paciente tenha relação com os conflitos do núcleo familiar. O TÉRMINO DO TRATAMENTO O término do tratamento ou a alta geralmente implica num processo marcado por muitas ansiedades, tanto por parte do terapeuta quanto por parte do paciente. Lidar com o luto oriundo do término do vínculo terapêutico constitui tarefa essencial, porém difícil. Por parte do paciente, as ansiedades com o fim do tratamento costumam estar relacionadas desde a sensação de abandono e de vazio até o medo da morte ou de 107 enlouquecer (numa intensidade maior). Geralmente neste último caso trata-se de pacientes com estrutura egoica menos fortalecida e que vivenciam vínculos mais simbióticos, isto é, de dependência afetiva (BRAIER, 2000). Segundo este autor, é possível observar tais ansiedades do final do tratamento de diversas formas: • Quando o paciente começa a trazer novos focos de problemas, numa tentativa inconsciente de seduzir o terapeuta, permanecendo vinculado a ele. • Quando se percebe piora do paciente em algumas situações, como forma de obter ganho secundário. • Quando o paciente demonstra atitudes hostis em relação ao terapeuta ou começa a atuar (acting out). • Finalmente, quando o paciente desenvolve uma relação terapêutica negativa e acaba por interromper o tratamento antes de seu desfecho. De tão dolorosa a separação, o paciente opta, inconscientemente, por terminar antes. Nessas situações, Braier (2000) recomenda que o terapeuta poderá dispor da técnica do manejo da transferência a fim de vencer as resistências despertadas com a alta. É adequado, por exemplo, assinalar ao paciente sua tentativa de visar ganho secundário com suas recaídas. Braier (2000, p. 169) menciona que “a manutenção da melhora certamente dependerá em grande parte de suas possibilidades de introjetar e conservar uma boa imagem do terapeuta”. Isso ocorre quando a transferência é positiva. Já foi mencionado anteriormente que, no processo psicodiagnóstico, um dos pontos a serem avaliados refere-se à capacidade de lidar com situações de luto e separação. Isto seria critério, junto com outros fatores, de indicação ou contraindicação de um tratamento breve. Entretanto, como aponta Braier (2000), mesmo identificando esta característica, muitas vezes, o terapeuta não tem outra escolha a não ser atender o paciente da mesma forma. Pensando, sobretudo, em instituições públicas, que adotam a psicoterapia breve como técnica de trabalho, comumente não há possibilidade de encaminhá-lo para outra instituição. Para tentar superar essa dificuldade, Braier (2000) propõe que, no momento de planejar o tratamento, o terapeuta já disponibilize um tempo maior para destiná-lo ao processo de elaboração do luto vivenciado pela separação. 108 Por parte do terapeuta, Braier (2000) alerta que as ansiedades costumam repercutir ainda mais. “A separação significa, para ele, ver-se privado de gratificações simbióticas; o luto provoca sentimentos de desvalorização e perda” (p. 170). Sentimentos de impotência e de fracasso também podem ocorrer. De qualquer forma, finaliza Braier (2000), espera-se que, ao término do tratamento, o paciente possa caminhar por conta própria a partir dos benefícios que obteve com a psicoterapia. RESULTADOS TERAPÊUTICOS A avaliação dos resultados ao final do tratamento, segundo Braier (2000), deve ser feita pelo paciente e pelo terapeuta, isto é, em conjunto. Esse autor propõe um método de avaliação que consiste basicamente de dois recursos: entrevista com o paciente e um psicodiagnóstico. Em relação ao primeiro recurso, Braier (2000) salienta que podem ser feitas duas entrevistas. Uma logo após ter finalizado o processo psicoterápico, que pode durar em torno de quarenta minutos e tem por objetivo solicitar uma auto avaliação do paciente. E a segunda entrevista, que deve ser feita após alguns dias depois da primeira, objetiva fazer uma devolução pelo terapeuta, comunicando ao paciente suas impressões. Na primeira entrevista é o momento que o paciente tem de poder falar da experiência da terapia, de possíveis benefícios e mudanças que identificou. Poderão falar também de críticas, sugestões, enfim, são as impressões do paciente (BRAIER, 2000). Já na segunda entrevista é o espaço para o terapeuta fazer sua devolução, confrontando suas impressões, inclusive, com a auto avaliação do paciente. De acordo com Braier (2000), alguns pontos devem ser considerados: • Melhora do sintoma; • Resolução da problemática focal; • Consciência da enfermidade; • Melhora da autoestima; • Mudanças em outros aspectos da vida do indivíduo, como relacionamentos interpessoais, vida sexual, etc.; • Planos para o futuro. 109 Quanto ao psicodiagnóstico, Braier (2000) usa a expressão reteste. Refere-se a (re)aplicação de testes que foram realizados no início da terapia. Mas orienta que precisa ter um intervalo mínimo de seis meses. Os testes revelam o momento de vida atual do paciente e, portanto, o resultado poderá variar. O objetivoé fazer uma comparação entre esses dois momentos, ou seja, o início e o fim do tratamento. Falando ainda sobre o término do tratamento, algumas possibilidades podem ocorrer, conforme aponta Braier (2000, p. 194): 1. A finalização do processo psicoterápico propriamente dito; 2. A realização de entrevistas de acompanhamento (são as entrevistas de avaliação mencionadas anteriormente); 3. Um novo contrato; 4. Encaminhamento para outro tipo de tratamento. Em relação à quarta possibilidade, o fato de sugerir outro tipo de tratamento não significa, como aponta Braier (2000), que a terapia breve não teve êxito ou benefícios. Algumas vezes, funciona como uma motivação para o paciente iniciar uma terapia em longo prazo, por exemplo. AS CONSIDERAÇÕES DE FIORINI E A TÉCNICA EM HOSPITAIS Salienta Fiorini (1993) que algumas instituições, por si só, demandam intervenções mais breves e urgentes. É o caso de hospitais: geral e psiquiátrico. O paciente internado anseia pela alta o quanto antes. Assim, o atendimento psicológico ocorre durante o período de internação. Deve ser focal, isto é, ter como objetivo o processo de doença e internação. O hospital é uma instituição caracterizada pelo binômio saúde/doença. As pessoas internadas passam apenas um período de suas vidas no hospital, que pode durar dias ou até meses, dependendo da problemática apresentada e do procedimento realizado (cirurgia, antibiótico-terapia, etc.). Nesse sentido, muitas vezes, não é possível prever quando o paciente sairá do hospital. Às vezes a saída ocorre pela alta (melhora clínica) e outras, pelo óbito. 110 A técnica mais adequada deve ser a Psicoterapia Focal, ou também chamada de emergencial, pois como o nome já diz, o conflito é urgente, não dá para esperar. O atendimento deve ocorrer no “aqui-agora”. Delimita-se a problemática do paciente, uma dificuldade central, um “problema foco”, que é eleito como primordial e que na maioria das vezes é o processo de doença, bem como os conteúdos que estejam relacionados a ela (internação, exames, cirurgias, cuidados paliativos, etc.). Conforme Fiorini (1993), muitas pessoas reagem ainda com certa desconfiança em relação aos tratamentos breves, uma vez que eles carecem de maiores estudos teóricos e técnicos e, principalmente, em relação aos resultados terapêuticos. Para tanto, torna-se necessário elaborar um esquema referencial próprio. Nesse sentido, um ponto a ser considerado nesse esquema referencial diz respeito à enfermidade ou crise do paciente. Segundo Fiorini (1993), um tratamento breve deve ter como foco os determinantes atuais da queixa do paciente. Isso significa que não é possível estimular conflitos infantis do indivíduo, mas ajudá-lo a (re)organizar sua vida atual, nas diversas áreas: família, trabalho, social, etc. Isso não quer dizer que os aspectos e conflitos históricos infantis não sejam considerados. Eles simplesmente não devem ser estimulados, pois não haverá tempo hábil para elaborá-los. Outro ponto abordado por Fiorini (1993) refere-se ao trabalho de uma equipe multiprofissional. Aliar a psicoterapia breve com outros tratamentos, em muitos casos, potencializa o efeito terapêutico. É o caso de profissionais como psiquiatras e neurologistas (medicação), nutricionistas (transtornos alimentares), assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, etc. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Psicoterapia Breve é ainda um campo que carece ser mais bem explorado, justamente porque não possui uma identidade própria. É confundida muitas vezes com a Psicanálise e/ou outros métodos de tratamento mais longos. Atualmente, ainda permeia a crença de que se trata de uma psicoterapia inferior à Psicanálise, por uma herança histórica. Uma não se contrapõe a outra, mas diferencia-se, sobretudo, pela técnica empregada. 111 Nesse sentido, Braier (2000) sugere que a formação do terapeuta deve contemplar a análise pessoal, a supervisão com profissional mais experiente e conhecimentos teóricos. Para este autor, a formação em Psicanálise seria um critério ideal, mas não é a realidade atual. Então, para suprir esta carência, é importantíssimo que o terapeuta tenha como uma de suas metas em seu treinamento conhecer com muita destreza as diferenças entre Psicoterapia Breve e Psicanálise. Isso porque um dos erros mais frequentes está relacionado com a confusão da técnica. Os tratamentos breves consistem em uma tendência na atualidade. Bons resultados terapêuticos têm sido alcançados com esta técnica, quando utilizada com a seriedade e o rigor científico que demanda. Mensagem final “Pois fica decretado a partir de hoje, que terapeuta é gente também. Sofre, chora, ama e sente e, às vezes, precisa falar. O olhar atento, o ouvido aberto, escutando a tristeza do outro, quando, às vezes, a tristeza maior está dentro do seu peito. Quanto a mim, fico triste, fico alegre e sinto raiva também. sou de carne e sou de osso e quero que você saiba isto de mim. E agora, que já sabes que sou gente, quer falar de você para mim?” Cyro Martins (Psicanalista e escritor) 112 REFERÊNCIAS ____. Fundamentos básicos das grupoterapias. Porto Alegre: Artmed, 2000. BAHLS, S. C.; NAVOLAR, A. B. B. Terapia cognitivo-comportamental: conceitos e pressupostos teóricos. In: Revista eletrônica de Psicologia. n. 04, jul. 2004. Disponível em: <www.utp.br/psico.utp>. Acesso em: 05. Ago. 2011. BECK, A.T. [et.al.]. Terapia cognitiva dos transtornos da personalidade. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. BIRMAN, J. Subjetividade, tempo e psicanálise. 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