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CONTABILIDADE 
BÁSICA
Fabiana Tramontin Bonho
O método das 
partidas dobradas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer características do método das partidas dobradas.
  Usar o método das partidas dobradas.
  Analisar fatos registrados por meio do método das partidas dobradas.
Introdução
Os fatos contábeis na rotina das empresas precisam ser registrados e, no 
decorrer da história, teóricos da ciência da contabilidade criaram várias 
maneiras de escriturar. Em sua base, porém, foram trilhadas duas vias prin-
cipais: o método das partidas simples e o método das partidas dobradas. 
Neste capítulo, você vai aprender sobre o método das partidas dobra-
das, suas características e seu uso, além de analisar os fatos registrados 
por meio desse método contábil.
Partidas dobradas e suas características
A palavra método vem do grego methodos (caminho) e se refere ao meio 
utilizado para chegar a um fi m. É o caminho pelo qual se atinge um objetivo. 
Método de escrituração é o meio pelo qual se realizam os registros de fatos 
contábeis (LIMA, 2009, p. 2).
Embora existam diversas maneiras diferentes de escriturar os fatos contá-
beis, todas procedem de dois métodos fundamentais: o das partidas simples 
e o das partidas dobradas.
O método das partidas simples caiu em desuso por ser incompleto e defi-
ciente. Nele, registramos apenas as operações realizadas com pessoas, omitindo 
elementos do patrimônio e do resultado, tais como mercadorias, veículos, 
imóveis, despesas, receitas, etc., que são controlados extra contabilmente. É 
contabilizada apenas uma das operações: débito (D) ou crédito (C).
Segundo Iudicibus, um marco básico na evolução da contabilidade foi o Tra-
tactus de Computis et Scripturis (Tratado de Conta e Escrituração), de Frei Luca 
Pacioli, publicado em 1494, em Veneza/Itália, enfatizando que a teoria contábil 
do débito e do crédito corresponde à teoria dos números positivos e negativos. 
Pacioli é considerado, portanto, o “pai dos autores de contabilidade”, título 
a que fez jus pela obra Summa de arithmetica, geometria, proportioni et pro-
portionalitá, de onde destacamos o tratado XI, do título IX, denominado De 
computis et scripturis (Tratado particular de conta e escrituração). Foi a primeira 
apresentação por escrito do método das partidas dobradas (IUDICIBUS, 1997).
O processo de registros contábeis que se consagrou por uma “equação”, 
ou igualdade, entre o débito e o crédito de contas já havia surgido na Itália, 
acredita-se, entre os anos de 1250 e 1280. Ninguém conseguiu, até os nossos 
dias, identificar o autor das “partidas dobradas” nem apresentar provas das 
aplicações destas, tal como fizeram os italianos, antes da época referida. No 
entanto, existem documentos muito antigos autorizando a crença de que, 
pelo menos a intuição para o processo tenha nascido no Oriente. De qualquer 
forma, há mais de sete séculos, adota-se um critério que se tornou insuperável 
e cuja natureza é evidenciar “causa” e “efeito” de um ou mais fenômenos 
patrimoniais (SÁ, 2004).
Sobre o tema, Iudicibus, Martins e Kanitz (2010, p. 43) explicam que: 
A essência do método, universalmente aceito, é que o registro de qualquer 
operação implica que a um débito numa ou mais contas deve corresponder um 
crédito equivalente em uma ou mais contas, de forma que a soma dos valores 
debitados seja sempre igual à soma dos valores creditados. Não há débito(s) 
sem crédito(s) correspondente(s).
Esse método é também conhecido como método da causa e efeito, ou método 
da origem e aplicação. É o que se utiliza na contabilidade para a elaboração das 
demonstrações contábeis. Consiste no lançamento do mesmo valor a débito e a 
crédito. Ou seja, para cada valor lançado a débito, obrigatoriamente a empresa fará 
o lançamento do mesmo valor a crédito: não existe débito sem crédito e vice-versa. 
Assim, esse método prevê que, em cada lançamento, o valor total lançado 
nas contas a débito deve ser sempre igual ao total do valor lançado nas contas 
a crédito. Ou seja, não há devedor sem credor correspondente. A todo débito 
corresponde um crédito de igual valor e vice-versa. Se aumentar de um lado, 
deve, consequentemente, também aumentar do outro lado.
O método das partidas dobradas2
Como é mais comum uma transação conter somente duas entradas, sendo 
uma entrada de crédito em uma conta e uma entrada de débito em outra conta, 
temos aí a origem do nome "dobrado".
É essencial a compreensão do conceito de razonetes para que entenda 
como funciona o método das partidas dobras. As razonetes nada mais são 
do que uma representação, em forma resumida, do livro contábil obrigatório 
utilizado pela contabilidade, chamado de livro razão. As razonetes possuem 
a seguinte representação gráfica (Figura 1):
Figura 1. Razonete.
O lado esquerdo de uma conta é chamado de débito e o lado direito de 
crédito. Portanto, um movimento do lado esquerdo de uma conta é chamado 
de movimento ou lançamento a débito e um movimento do lado direito é 
chamado de movimento ou lançamento a crédito.
Leia sobre a contabilidade, que foi a primeira profissão regulamentada no Brasil.
https://goo.gl/8De7MX
O uso do método das partidas dobradas
Normalmente, uma transição possui duas entradas, sendo uma na conta de 
crédito e outra na de débito. Conta, portanto, é o nome técnico que identifi ca 
um componente patrimonial (ativo, passivo ou patrimônio líquido) ou um 
componente de resultado (receita ou despesa). 
3O método das partidas dobradas
Todos as ocorrências diárias na vida de uma empresa (compras, vendas, 
pagamentos, entre outros) são registradas em contas próprias. Assim, toda 
movimentação de dinheiro efetuada dentro da entidade é registrada em uma 
conta denominada “caixa” e os objetos comercializados pela entidade são 
registrados em uma conta intitulada “estoques”, e assim por diante.
Existem algumas maneiras como podem ser lançadas as contas:
Uma conta débito + uma conta crédito
Uma conta débito + várias contas crédito
Várias contas débito + uma conta crédito
Várias contas débito + várias contas crédito
Sendo assim, seguem quatro verdades que se podem afirmar a partir do 
método das partidas dobradas:
  Ativo = passivo + patrimônio líquido.
  Saldo devedor = saldo credor.
  Não há débito sem crédito.
  Não há crédito sem débito.
Tomemos como exemplo a seguinte situação: Carlos possui R$ 20.000 
em sua conta bancária. Desse valor, retira metade para comprar um carro 
usado. O patrimônio de Carlos continua o mesmo, isto é, R$ 20.000, mas 
parte assume a forma do valor do veículo e outra parte continua na forma de 
dinheiro na conta bancária.
O princípio básico do método das partidas dobradas é subdividir bens, 
direitos e obrigações em contas, que possam registrar os valores de cada item 
que compõem o patrimônio. Assim, esse ficará em perfeito equilíbrio, pois o 
método registra as movimentações ocorridas num determinado período, sejam 
elas saídas de recursos, entradas de novos bens ou pagamentos efetuados.
Para melhor compreensão desse método, é preciso entender o conceito de 
contas contábeis. O patrimônio é composto por uma série de itens (dinheiro, 
móveis, imóveis, veículos entre outros) que podem ter características bem 
diferentes uns dos outros. Para facilitar a compreensão, cada um desses itens 
recebe um nome de fácil associação, em que podemos registrar seu valor 
patrimonial. Portanto, “conta” é a nomenclatura usada para registrar o valor 
de cada item que compõe o patrimônio. 
O método das partidas dobradas4
As contas podem ser de duas naturezas: devedora ou credora. Segundo 
Müller (2009, p. 17) as contas do ativo são de natureza devedora, e as contas 
do passivo e do patrimônio líquido são de natureza credora. Assim, os saldos 
das contas são sempre:
Ativo = contas devedoras (saldo devedor).
Passivo e patrimônio líquido = contas credoras (saldo credor).
  Contas devedoras representam bens e direitos (Débitoou “D”);
  Contas credoras representam obrigações (Crédito ou “C”).
A representação de uma conta é mostrada na Figura 2.
Figura 2. Representação gráfica da conta.
Em consequência do método das partidas dobradas, a soma dos saldos das 
contas do ativo, no balanço patrimonial, deve ser sempre idêntica à soma dos 
saldos das contas do passivo e patrimônio líquido, de tal forma que, se esses 
dois saldos não "baterem no centavo", isso denuncia um erro de lançamento 
que precisa ser detectado e corrigido. Desse modo, o ativo deve ser sempre 
igual ao passivo total (MÜLLER, 2009, p. 17).
Em algum momento pode ocorrer uma modificação na composição quantita-
tiva ou qualitativa do ativo, sem que ele, como um todo, tenha sido aumentado. 
Nesse caso, ao aumento de um dos elementos do ativo corresponderá uma 
diminuição de igual valor em outro elemento do passivo. A mesma coisa se 
aplica ao passivo. É o que ocorreu no exemplo acima, pois Carlos possuía um 
patrimônio de R$20.000,00 em sua conta bancária e o método das partidas 
dobradas mostrou que, ao comprar o carro, ele continua possuindo o mesmo 
patrimônio de R$20.000,00.
5O método das partidas dobradas
Sobre a evolução histórica do método das partidas dobradas, esclarece Padoveze 
(2017, p. 15): 
Fundamentalmente, com o método das partidas dobradas criou-se 
a figura do patrimônio líquido. Nos primórdios da contabilidade, 
o registro era feito em partidas simples. A partida simples buscava 
contabilizar os bens e direitos, mas não dava a dimensão do princípio 
causa-efeito que fundamenta as partidas dobradas. Em linhas gerais, 
podemos dizer que o método de partidas simples era um método de 
inventariar, de contar os bens. Daí o nome da contabilidade como a 
ciência de contar.
Os fatos registrados por meio 
das partidas dobradas
A partir do princípio exposto, a contabilidade se utiliza de quatro fórmulas, 
designadas como simples, complexas (esta com duas possibilidades de ex-
pressão) e composta. 
A primeira pressupõe uma correspondência simples, um débito e um crédito 
de igual valor. 
Por sua vez, a fórmula complexa se subdivide em duas hipóteses: na pri-
meira, uma conta a ser debitada em contrapartida a duas ou mais contas a 
serem creditadas. Na segunda, uma conta a ser creditada em contrapartida a 
duas ou mais contas a serem debitadas. 
Por fim, na fórmula composta, duas ou mais contas são debitadas em 
contrapartida ao crédito de duas ou mais contas. 
Assim, os fatos contábeis poderão ser registrados por lançamento a “dé-
bito” ou lançamento a “crédito”. No livro razão, o lado do “débito” é sempre 
o esquerdo da tabela; e o lado do “crédito” é sempre o direito.
Há dois livros relevantes para a técnica contábil: o livro diário e o livro razão. 
O livro diário, como o nome indica, mantém o registro diário de todos 
os fatos contábeis pertinentes à empresa, segundo o método das partidas 
dobradas (Quadro 1). Os lançamentos exemplificativos acima serão sempre 
registrado nesse livro. 
O método das partidas dobradas6
Fonte: Adaptado de Müller (2009).
ATIVO (onde são registradas as 
aplicações de recursos)
PASSIVO (onde são registradas as origens 
dos recursos que entram na empresa)
COMPOSIÇÃO: 
BENS + DIREITOS
COMPOSIÇÃO: 
OBRIGAÇÕES COM TERCEIROS 
E RIQUEZA LÍQUIDA
PASSIVO EXIGÍVEL
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
NATUREZA: devedora NATUREZA: credora
MOVIMENTAÇÃO:
- aumenta por débito
- diminui por crédito
MOVIMENTAÇÃO:
- aumenta por crédito
- diminui por débito
Quadro 1. Resumo dos fatos registrados no método das partidas dobradas
Segundo Muniz e Ramos (2015, p. 11), a principal importância do livro 
diário é o fato de registrar toda e qualquer operação em ordem cronológica 
e sequencial. Entretanto, é um livro que não se presta para fins de análise 
contábil, haja vista que fazer pé e cabeça de seus lançamentos é uma tarefa 
inglória. Ou seja, sua função é primordialmente documental. Se houver uma 
desavença entre sócios ou uma auditoria fiscal, o perito ou fiscal certamente irá 
verificar no livro diário se todas as operações foram devidamente registradas.
Se o livro diário for escriturado atendendo todas as normas pertinentes, 
todo o passado financeiro da empresa estará ali, cronologicamente registrado, 
não permitindo a sua alteração salvo em casos de fraude. 
No entanto, quando chega a hora de utilizar a contabilidade como instru-
mento de análise e interpretação da empresa como negócio, o livro realmente 
relevante é o livro razão. 
Enquanto o livro diário tem o objetivo de registrar transação por transação, 
de forma cronológica e sequencial, o livro razão permite determinar o saldo 
de cada conta após o decurso de um período de tempo. 
Segundo Lima (2009, p. 13) ao registrarmos um fato contábil devemos 
observar dois aspectos: 
  a aplicação de recursos da entidade, por convenção contábil chamada 
“débito”;
  a origem dos recursos aplicados, por convenção contábil chamada “crédito”. 
7O método das partidas dobradas
Tomemos como exemplo a compra de um veículo à vista. O débito ocorrerá 
na conta "veículos", onde estão sendo aplicados os recursos da entidade. O 
crédito ocorrerá na conta "caixa" ou “bancos”, de onde se originam os recursos. 
Ainda por convenção contábil, como as contas possuem dois lados (esquerdo 
e direito), os aumentos de valor podem ser registrados num lado e as diminuições 
no outro, sendo que os débitos são colocados em primeiro lugar e os créditos 
em segundo lugar. Vale dizer que registramos a aplicação e logo após a origem. 
Assim: 
  DEBITAR significa lançar valores do lado esquerdo da razonete; 
  CREDITAR significa lançar valores do lado direito da razonete. 
Observe: esta relação é válida para a conta, mas não para o balanço patrimo-
nial, pelo menos não na íntegra, pois temos as chamadas contas retificadoras 
que funcionam de forma inversa.
Tomando por base as convenções anteriormente estabelecidas, chegamos 
ao funcionamento das contas.
Contas do ativo e despesas
Por representarem os investimentos da entidade (bens e direitos) e seus gastos 
(despesas), estas contas têm obrigatoriamente natureza devedora, apresentando 
sempre saldos devedores ou nulos. Assim, os aumentos de valor virão através 
de débitos e as diminuições por créditos. 
  Todo aumento de ativo ou de despesa lança-se no lado esquerdo: 
DEBITA-SE. 
  Toda diminuição de ativo ou de despesa lança-se no lado direito: 
CREDITA-SE.
Contas do passivo, patrimônio líquido e receitas
Por representarem as fontes de recursos da entidade que podem ser provenientes 
de terceiros (passivo), de sócios ou acionistas (patrimônio líquido) ou de suas 
próprias atividades (receitas), essas contas têm obrigatoriamente natureza 
credora, apresentando sempre saldos credores ou nulos. Assim, os aumentos 
de valor virão através de créditos e as diminuições por débitos.
O método das partidas dobradas8
Contas retificadoras de ativo e de passivo 
Essas contas, por representarem retifi cações de seus grupos, tem funcionamento 
inverso ao das contas dos grupos que retifi cam. 
Assim, as contas retificadoras de ativo são de natureza credora, aumen-
tando-se o seu saldo mediante crédito. Os exemplos mais característicos de 
contas dessa natureza são as contas que representam: provisão para devedores 
duvidosos; provisão para ajuste ao valor de mercado; provisão para perdas 
de investimento; amortização acumulada; depreciação acumulada e exaustão 
acumulada, entre outros. 
De modo contrário, as contas retificadoras de passivo e patrimônio líquido 
são de natureza devedora, devendo ser debitadas quando aumentam seu saldo e 
creditadas quando se extinguem ou diminuem seu saldo. Como exemplo, podemos 
citar a conta que registra as despesas no resultado de exercícios futuros; ações em 
tesouraria que retificam o patrimônio líquido, assim como prejuízos acumulados.
IUDICIBUS, S. Teoria da contabilidade. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
IUDICIBUS, S.; MARTINS, E.; KANITZ, S. C. Contabilidade introdutória. 11. ed. São Paulo: 
Atlas,2010. 
LIMA, Fábio Lúcio Moreira. Contabilidade geral [apostila]. Brasília: Faculdade Fortium, 2009.
MÜLLER, A. N. Contabilidade básica: fundamentos essenciais. São Paulo: Pearson 
Prentice Hall, 2009.
MUNIZ, I.; RAMOS, L. G. B. Introdução à contabilidade. Rio de Janeiro: FGV Direito Rio, 2015.
PADOVEZE, C. L. Manual de contabilidade básica: contabilidade introdutória e interme-
diária. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
SÁ, A. L. Luca Pacioli: um mestre do renascimento. 2. ed. Brasília: Fundação Brasileira 
de Contabilidade, 2004. 
9O método das partidas dobradas
Leituras recomendadas
AZEVEDO, M. C. (Org.). Estrutura e análise das demonstrações financeiras. Campinas: 
Alínea, 2015.
BÄCHTOLD, C. Contabilidade básica. Curitiba: Instituto Federal do Paraná, 2011.
CAVALCANTE, F. Demonstrações contábeis: elaboração e análise. Ceará: CRCSE, 2017. 
COSTA, L. A. Introdução a contabilidade. Rio de Janeiro: FGV Direito Rio, 2018.
PADOVEZE, C. L. Sistemas de informações contábeis. São Paulo: Atlas, 2002.
O método das partidas dobradas10
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