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Prévia do material em texto

Dados	Internacionais	de	Catalogação	na	Publicação	(CIP)
Angélica	Ilacqua	CRB-8/7057
Battles,	Ford	Lewis
Análise	das	Institutas	da	Religião	Cristã	de	João	Calvino	/	Ford	Lewis	Battles;
tradução	de	Pedro	Henrique	R.	de	O.	Issa.	—	São	Paulo:	Vida	Nova,	2022.
ePub3.
ISBN	978-65-5967-143-4
Título	original:	Analysis	of	the	Institutes	of	the	Christian	religion	of	John	Calvin
1.	Calvino,	João	—	1509-1564.	Institutas	cristãs	2.	Reforma	da	Igreja	—
Doutrinas	3.	Teologia	doutrinal	I.	Título	II.	Issa,	Pedro	Henrique	R.	de	O.
Índices	para	catálogo	sistemático
1.	Calvino,	João	—	1509-1564.	Institutas	cristãs
©1980,	de	Ford	Lewis	Battles
Título	do	original:	Analysis	of	the	Institutes	of	the	Christian	religion	of	John
Calvin,	edição	publicada	pela	P&R	Publishing	Company	(Phillipsburg,	NJ,
EUA).
Todos	os	direitos	em	língua	portuguesa	reservados	por
Sociedade	Religiosa	Edições	Vida	Nova
Rua	Antônio	Carlos	Tacconi,	63,	São	Paulo,	SP,	04810-020
vidanova.com.br	|	vidanova@vidanova.com.br
1.ª	edição:	2022
Proibida	a	reprodução	por	quaisquer	meios,	salvo	em	citações	breves,	com
indicação	da	fonte.
Impresso	no	Brasil	/	Printed	in	Brazil
Todas	as	citações	bíblicas	sem	indicação	da	versão	foram	traduzidas	diretamente
da	versão	do	autor.
Direção	executiva
Kenneth	Lee	Davis
http://vidanova.com.br
Coordenação	editorial
Jonas	Madureira
Edição	de	texto
Ubevaldo	G.	Sampaio
Preparação	de	texto
Bruna	Gomes	Ribeiro
Revisão	de	provas
Abner	Arrais
Coordenação	de	produção
Sérgio	Siqueira	Moura
Diagramação
Aldair	Dutra	de	Assis
Capa
OM	Designers	gráficos
Livro	digital
Lucas	Camargo
Sumário
Prefácio	à	edição	brasileira
Prefácio
Introdução
O	prefácio	de	Calvino	endereçado	a	Francisco	I
LIVRO	UM:
O	conhecimento	do	Deus	Criador
LIVRO	DOIS:
O	conhecimento	de	Deus,	o	Redentor	em	Cristo,	primeiramente	revelado	aos
patriarcas,	sob	a	Lei,	e	então	a	nós,	no	evangelho
LIVRO	TRÊS:
A	forma	pela	qual	recebemos	a	graça	de	Cristo:	que	benefícios	ela	nos	traz	e
quais	os	efeitos	que	decorrem	dela
LIVRO	QUATRO:
Os	meios	ou	auxílios	externos	pelos	quais	Deus	nos	convida	à	comunidade	de
Cristo	e	ali	nos	mantém
Prefácio	à	edição	brasileira
Um	recurso	inestimável	para	estudar	as	Institutas	da	religião
cristã
João	Calvino	é	considerado	um	dos	mais	importantes	teólogos	da	história	da
igreja.	Somente	outros	três	homens	tiveram	impacto	parecido:	Agostinho	de
Hipona,	Tomás	de	Aquino	e	Martinho	Lutero.	Mas,	em	termos	de	genialidade,
profundidade	e	extensão,	os	dois	personagens	mais	influentes	são	Agostinho	e
Calvino.	As	formulações	teológicas	de	ambos	foram	de	longo	alcance,	com
implicações	para	todas	as	esferas	do	pensamento,	indo	até	mesmo	além	da
influência	sobre	uma	determinada	denominação	cristã.
Da	mesma	forma	que	católicos	e	protestantes	são	devedores	a	Agostinho,	a
influência	de	Calvino	se	estende	a	anglicanos,	presbiterianos,	congregacionais	e
batistas.	Na	Prússia,	os	luteranos	foram	impactados	pela	influência	de	seus
escritos.	Mais	recentemente,	pentecostais	e	carismáticos	também	descobriram
suas	valiosas	obras.	Aliás,	Calvino	amava	os	escritos	de	Agostinho	e	se	percebia
em	continuidade	com	a	herança	do	bispo	de	Hipona.	Ele	citou	Agostinho	mais
do	que	qualquer	outro	escritor	antigo	nas	Institutas.	Sempre	que	ele	queria
estabelecer	a	antiguidade	ou	a	importância	de	uma	doutrina,	citava	Agostinho,
especialmente	porque	ele	era	uma	autoridade	com	a	qual	Calvino	e	seus
interlocutores	católicos	concordavam.	Mas	uma	área	de	diferença	importante	é
que	Calvino	tinha	fluência	em	grego	e	hebraico,	enquanto	Agostinho	era	fraco
em	grego	e	desconhecia	o	hebraico.
Além	disso,	quando	Calvino	surgiu	no	cenário	europeu,	o	movimento	de
Reforma	estava	dividido	e	sob	intensa	pressão	do	catolicismo.	Mas,	antes	de	sua
morte,	a	fé	reformada	se	solidificou	e	se	tornou	um	movimento	internacional,
alcançando,	a	partir	da	Suíça,	a	França,	norte	da	Itália,	centro	da	Alemanha,
Holanda,	Inglaterra,	Escócia,	Espanha,	Hungria,	Polônia	e	até	o	Brasil	—	para
onde	Calvino	enviou	os	primeiros	missionários	a	chegarem	às	Américas,	em
1555,	para	tentar	implantar	a	France	Antarctique	no	Rio	de	Janeiro.	Em	resumo,
a	importância	de	Calvino	foi	tamanha	para	a	fé	cristã	e	para	o	Ocidente	que	é
reconhecida	mesmo	em	círculos	seculares.¹
O	cidadão	de	Genebra
Calvino	era	cidadão	francês,	morando	na	cidade	de	Genebra.	É	importante
enfatizar	isso,	pois	ajuda	a	colocar	o	reformador	em	contexto.	Supõe-se	em
certos	círculos	antipáticos	à	sua	teologia	que	ele	foi	uma	espécie	de	ditador	de
Genebra	—	uma	tosca	caricatura	recorrente.	Como	ele	não	era	cidadão
genebrino,	não	tinha	influência	sobre	as	decisões	acerca	do	ordenamento	civil	da
cidade	e	nem	tinha	direito	de	voto	em	decisões	políticas	ou	eclesiásticas	no
conselho	municipal.	Toda	a	sua	influência	foi	eminentemente	espiritual,
especialmente	por	meio	de	sua	pregação	e	escritos.²
E	esta	influência	se	estendeu	a	todas	as	esferas	da	cidade.	Por	exemplo,	Genebra
se	tornou	o	primeiro	lugar	na	Europa	a	ter	leis	que	proibiam:	jogar	fezes,	urina	e
lixo	nas	ruas;	fazer	fogo	ou	usar	fogão	num	cômodo	sem	chaminé;	ter	uma	casa
com	sacadas	ou	escadas	sem	que	as	mesmas	tivessem	grades	de	proteção;	a
permissão	de	que	as	parteiras	se	deitassem	nas	camas	com	os	bebês	recém-
nascidos	(a	lei	visava	proteger	o	nenê	da	contaminação);	alugar	uma	casa	sem	o
conhecimento	da	polícia;	sendo	comerciantes,	cobrar	além	do	preço	permitido
ou	roubar	no	peso	e,	sendo	produtores,	estocar	mercadorias	para	fazê-la	faltar	no
mercado	e	assim	encarecê-las.
A	influência	sobre	as	estruturas	sociais
Poucas	formulações	do	pensamento	ocidental	tiveram	tanto	impacto	sobre	a
nossa	cultura	quanto	os	escritos	de	Calvino,	preparados	em	virtual	luta	para
submeter	toda	existência	ao	comando	do	Deus	que	se	revela	nas	Escrituras.
Por	exemplo,	a	ideia	de	um	governo	republicano	e	representativo,	onde	se	tem	a
alternância	do	poder,	e	onde	o	povo	está	ligado	por	um	pacto,	foi	introduzida	na
cultura	ocidental	por	meio	de	Calvino.	As	obras	de	Teodoro	de	Beza,	De	Jure
Magisterium	(“Do	direito	dos	magistrados”),	George	Buchanan,	De	Jure	Regni
Apud	Scotos	(“Os	poderes	da	Coroa	da	Escócia”)	e	Johannes	Althusius,	Política,
estavam	conectadas	com	os	escritos	do	reformador	francês.	E	deve-se	notar	que
esses	escritores	cristãos	estavam	na	vanguarda	dos	debates	políticos	nos	séculos
16	e	17.	Por	exemplo,	a	primeira	defesa	da	liberdade	de	imprensa	e	a	primeira
deposição	de	um	rei	tirano,	e	mesmo	sua	execução	por	alta-traição,	ocorreram	na
Inglaterra	no	século	17,	em	círculos	influenciados	diretamente	pelo	pensador
francês.	E	a	ideia	do	cruzamento	fiscalizador	entre	os	poderes	(checks	and
balances)	já	estava	sendo	debatida	nas	treze	colônias	britânicas	da	América	do
Norte	em	meados	do	século	18	pelo	clérigo	presbiteriano	John	Witherspoon,	um
dos	pais	fundadores	dos	Estados	Unidos,	exercendo	profunda	influência	sobre
James	Madison,	autor	da	grande	constituição	daquele	país.
A	rebelião	americana,	no	século	18,	que	deu	origem	à	mais	antiga	e	duradoura
democracia	do	Ocidente,	também	foi	fruto	da	influência	do	pensamento	de
Calvino.	Todos	os	capelães	do	Exército	Continental	eram	presbiterianos,	sendo
que	2/3	dos	soldados	eram	presbiterianos.	Conta-se	que	o	rei	George	III,	no	auge
da	guerra	nas	treze	colônias,	chamou-a	de	“aquela	pequena	rebelião
presbiteriana”	—	em	outras	palavras,	havia	uma	guerra	aberta	dos	presbiterianos
contra	a	Coroa	britânica.	Depois,	amargurado,	afirmou	que	“aqueles	malditos
presbiterianos	estão	por	trás	disso,	eles	sempre	desafiam	a	monarquia,	não
importa	de	onde	eles	venham”.	Embora	as	forças	britânicas	raramente
queimassem	prédios	durante	a	guerra,	destruíram	a	Primeira	Igreja	Presbiteriana
em	Elizabeth,	New	Jersey,	e	a	casa	paroquial.	Entre	seus	membros,	William
Livingston,	mais	tarde	o	primeiro	governador	eleito	de	New	Jersey,	Elias
Boudinot,	que	viria	a	se	tornar	presidente	do	Congresso,	e	o	reverendo	James
Caldwell,	o	“Pároco	Combatente”,	eram	rebeldes	fervorosos.³	Assim,	em	países
influenciados	pelo	pensamento	reformado—	Suíça,	Holanda,	Inglaterra,	Escócia
e	Estados	Unidos	—	não	surgiram	déspotas,	nem	nas	esferas	políticas	muito
menos	nas	eclesiásticas.
Também	podemos	mencionar	que	a	ética	protestante	do	trabalho,	com	as	ênfases
na	vocação,	frugalidade,	disciplina,	santidade	do	trabalho	e	a	importância	dos
estudos	seculares,	também	são	legado	do	grande	reformador.
Um	estilo	peculiar
Talvez	a	maior	dificuldade	em	se	aproximar	de	Calvino	reside	na	falta	de
empatia	entre	o	leitor	e	o	escritor.	Diferente	da	maioria	dos	escritores	anteriores,
como	Agostinho	e	Lutero,	para	ficar	em	dois	exemplos,	o	reformador	francês
falou	muito	pouco	de	si	mesmo.	Até	mesmo	reconstruir	a	conversão	de	Calvino
é	desafiadora.	Ele	dedicou	poucas	linhas	ao	tema,	em	seu	comentário	ao	livro
dos	Salmos.	O	foco	de	Calvino,	como	pregador	e	escritor	é	o	texto	bíblico.	O
que	deveria	ser	uma	virtude	—	a	total	ênfase	na	Escritura	—	torna-se	um
entrave,	para	muitos	leitores.
Então,	a	imagem	que	fica	de	Calvino	é	que	ele	foi	uma	pessoa	fria,	que	escreveu
sobre	predestinação,	e	comandou	Genebra	com	mão	de	ferro.	Só	que	esta
caricatura	está	longe	da	realidade.	Suas	cartas	são	forte	exemplo	do	caráter
modesto,	simples	e	desprendido	de	Calvino.	E,	também,	da	lealdade	que	ele
devotava	a	seu	grande	círculo	de	amizades.	Ele	escreveu	cartas	para	colegas
reformadores,	tais	como	Guillaume	Farel,	Pierre	Viret,	John	Knox,	Martinho
Lutero,	Philip	Melanchthon,	Thomas	Cranmer	e	Heinrich	Bullinger,	reis,
príncipes	e	nobres,	como	o	Duque	de	Somerset,	o	rei	Eduardo	VI	e	Lady	Jane
Grey,	da	Inglaterra,	o	rei	Sigismundo	II	Augusto,	da	Polônia,	o	Duque	René	de
Ferrara	e	o	Almirante	Gaspard	de	Coligny,	da	França,	a	igrejas	perseguidas	e
cristãos	presos,	a	pastores,	a	vendedores	de	livros	cristãos	e	a	mártires	à	espera
da	sentença.	Por	exemplo,	as	duas	cartas	que	ele	escreveu	a	um	grupo	de	presos
em	Lyon,	em	1552	e	1553,	são	um	forte	e	comovente	testemunho	dos	interesses
pastorais	do	reformador	de	Genebra.
O	lugar	da	doutrina	da	predestinação
Ainda	assim,	se	disseminou	uma	caricatura	do	reformador	de	Genebra,	como	se
sua	única	contribuição	ao	pensamento	cristão	tivesse	sido	sistematizar	a	doutrina
da	predestinação.	Isso	está	bem	longe	da	verdade.	Agostinho,	Isidoro	de	Sevilha,
Gottschalk	de	Orbais,	Anselmo	da	Cantuária,	Bernardo	de	Clairvaux,	Thomas
Bradwardine,	Tomás	de	Aquino,	John	Wycliffe,	Jan	Hus	e	Thomas	à	Kempis,
antes	de	Calvino,	escreveram	sobre	esse	tema.	Agostinho	legou	à	cristandade
uma	série	de	tratados	refutando	a	heresia	pelagiana,	onde	a	doutrina	da
predestinação	é	desenvolvida	e	detalhada	magistralmente.⁴	Lutero	escreveu	uma
obra	imensa	e	irrefutável	sobre	essa	doutrina,	Da	vontade	cativa,	antes	de
Calvino.⁵
É	quase	anticlimático	ler	sobre	a	predestinação	nos	escritos	de	Calvino,	pois	não
há	originalidade	no	que	ele	registrou	sobre	a	predestinação.	Por	exemplo,	nas
Institutas,	o	debate	sobre	a	predestinação	ocupa	pouco	espaço.	Ela	não	está	na
seção	onde	comumente	é	abordada	nos	livros	de	teologia	sistemática,	a
providência	de	Deus,	mas	se	encontra	no	fim	do	debate	sobre	a	obra	do	Espírito
Santo	na	salvação.	Na	verdade,	são	os	últimos	quatro	capítulos	dessa	seção	(21-
24).	E	o	único	capítulo	sobre	oração	(20),	nessa	mesma	seção,	é	maior	que	estes
quatro	capítulos	juntos.	E	o	surpreendente	é	que	o	enfoque	dessa	doutrina	é
devocional	e	pastoral;	não	há	um	único	traço	de	especulação	sobre	a
predestinação.	Em	seus	comentários	bíblicos,	por	exemplo,	Calvino	tratou	do
tema	quando	o	texto	bíblico	exige,	como	nos	comentários	às	epístolas	de
Romanos,	Gálatas	e	Efésios.	Como	têm	sido	sugerido,	o	tema	central	da	teologia
de	Calvino	pode	ser	a	soberania	de	Deus	por	meio	da	benevolência	de	Cristo	ou
a	união	mística	do	fiel	com	Cristo.
“Um	tratado	para	os	tempos”
Calvino	foi	um	gigante	por	várias	razões:	por	enfatizar	a	autoridade	e	prioridade
das	Escrituras	(sola	Scriptura),	por	solidificar	o	método	histórico-gramatical	de
interpretação	bíblica,	por	se	preocupar	com	a	estrutura	da	igreja	visível,
caracterizada	pela	pregação	da	Palavra	de	Deus	e	correta	administração	dos
sacramentos	do	batismo	e	da	ceia,	pela	transformação	ocorrida	em	Genebra,	que
se	tornou	o	modelo	de	uma	república	cristã	para	toda	Europa,	e,	principalmente,
por	sua	imensa	contribuição	literária.	Esta	engloba	comentários	bíblicos	sobre
quase	todo	o	Novo	Testamento	e	grande	parte	do	Antigo	Testamento,	milhares
de	sermões,	tratados	polêmicos,	cartas	e	escritos	litúrgicos	e	catequéticos.
Mas	sua	grande	obra	foi	as	Institutas	da	religião	cristã,	que	seria	“uma	chave	e
entrada	que	a	todos	os	filhos	de	Deus	outorgue	acesso	a	correta	e	cabal
compreensão	da	Santa	Escritura”. 	A	primeira	edição	surgiu	em	Basiléia,	no	ano
de	1536,	e	tinha	6	capítulos.	Era	publicada	em	formato	pequeno,	de	modo	que
cabia	facilmente	nos	amplos	bolsos	que	se	usavam	antigamente,	e	podia	circular
dissimuladamente	pela	França	católica.	Em	nove	meses	se	esgotou	esta	edição,
que,	por	estar	em	latim,	era	acessível	a	leitores	de	diversas	nacionalidades.
Então,	Calvino	continuou	preparando	edições	sucessivas	das	Institutas,	que	foi
crescendo	segundo	iam	passando	os	anos.⁷	A	edição	latina	passou	por	algumas
ampliações,	revisões	e	reorganizações,	em	1536,	1539,	1543,	1545	(sem
alteração),	1550,	1553	e	1554	(ambas	sem	alterações),	até	atingir	sua	forma
definitiva,	publicada	em	Genebra,	em	1559.	Essa	edição	foi	reimpressa	duas
vezes	em	1561.	À	tradução	francesa	de	1541	—	que	não	foi	simplesmente	uma
tradução	da	edição	latina	de	1539,	tendo	muito	material	da	edição	de	1536	—,
seguiu-se	outras:	1545,	1551,	1553	e	1554	(ambas	sem	alterações),	1557,	e	a
definitiva,	de	1560.⁸
Assim	sendo,	é	uma	alegria	apresentar	ao	público	de	fala	portuguesa	a
importantíssima	obra	Análise	das	Institutas	da	religião	cristã	de	João	Calvino,	de
Ford	Lewis	Battles.	Usei	este	valioso	livro	pela	primeira	vez	em	1996,	para
acompanhar	meus	primeiros	estudos	das	Institutas.	Foi	um	auxílio	-
imprescindível	ao	qual	continuei	recorrendo	continuamente	em	meus	estudos	da
importante	obra	de	Calvino.	Espero,	agora,	que	mais	estudantes	da	obra	maior
do	reformador	francês	se	beneficiem	desse	excelente	guia,	“um	esboço	analítico
detalhado	do	texto	das	Institutas	conforme	Calvino	o	redigiu”,	que	“pode	tanto
ser	um	mapa	da	estrada	para	a	jornada	quanto	um	útil	instrumento	para	revisão”,
como	escreveu	Battles.	E,	como	ele	escreveu,	o	que	ficará	evidente	na	medida
em	que	o	estudante	disciplinado	e	motivado	for	avançando	em	seus	estudos	das
Institutas,	empregando	esse	guia,	é	que	“a	teologia	de	Calvino	habita	o	mundo
real	e	o	encara	frontalmente”.	E,	ao	estimular	o	leitor	a	estudar	as	Institutas,	ele
afirma:	“Em	primeiro	lugar,	você	deve	querer	ler	o	livro;	em	segundo	lugar,	você
deve	partir	do	início;	em	terceiro	lugar,	você	deve	persistir,	por	mais	demorado
que	lhe	seja,	até	chegar	à	última	página.	[…]	Em	quarto	lugar,	não	lamente	que
uma	questão	pareça	ficar	sem	resposta,	ou	que	uma	ponta	solta	pareça	não	estar
amarrada:	ela	será	respondida;	ela	será	amarrada.	Seja	paciente.	[…]	Em	quinto
lugar,	conforme	você	lê,	não	pense	apenas	na	época	de	Calvino	[…],	mas	pense
também	na	sua	própria	época”.	Portanto,	leitor,	ad	fontes!
Em	6	de	fevereiro	de	1564,	Calvino,	em	estado	de	saúde	bem	frágil,	foi	levado
em	uma	cadeira	até	a	Catedral	de	São	Pedro,	onde	pregou	seu	último	sermão,
acerca	dos	evangelhos.	Algumas	semanas	depois,	ele	reuniu	os	ministros	em
particular	e	disse:	“Quanto	à	minha	doutrina,	tenho	ensinado	fielmente	e	Deus	te
me	concedido	graça	para	escrever	o	que	escrevi	com	toda	a	fidelidade	de	que	fui
capaz.	Não	falsifiquei	uma	única	passagem	das	Escrituras,	nem	dei	a	ela
nenhuma	interpretação	errada,	até	onde	sei;	e	embora	pudesse	ter	introduzido
sentidos	perspicazes,	se	eu	tivesse	estudado	perspicácia,	lancei	tal	tentação	sob
meus	pés	e	visei	sempre	a	simplicidade.	Nada	escrevi	motivado	pelo	ódio	a
alguém,	mas	sempre	propus	fielmente	aquilo	que	considerava	que	fosse	a	glória
de	Deus.	[…]	Eu	tinha	esquecido	este	ponto:	rogo-lhes	que	não	façam	nenhuma
mudança,nenhuma	inovação.	As	pessoas	frequentemente	pedem	novidade.	Não
é	que	eu	deseje,	por	minha	própria	causa	ou	por	causa	de	ambição,	que	aquilo
que	estabeleci	deva	permanecer	e	que	as	pessoas	devam	preservá-lo	sem	desejar
nada	melhor,	mas	porque	as	mudanças	são	perigosas	e,	algumas	vezes,
danosas”. 	E,	assim,	em	27	de	maio	de	1564,	Calvino	morreu	e	foi	sepultado	no
Cimetière	des	Rois	em	um	túmulo	não	identificado,	por	seu	próprio	pedido.	O
único	anseio	do	reformador	era	para	que	Deus	recebesse	exclusivamente	toda	a
glória.
Que	o	estudo	diligente	das	Institutas	conduza	leitores	a	estudar	com	cada	vez
mais	paixão	e	afinco	as	Escrituras	Sagradas,	inspiradas	pelo	Espírito,	a	fonte	e
meio	da	revelação	do	Deus	uno	e	trino	ao	seu	povo	eleito	em	Cristo	Jesus.	E	que
possamos	ser	tão	fiéis	quanto	o	reformador	no	estudo	diligente	e	na	proclamação
vigorosa	da	“sã	doutrina”,	o	“mistério	da	fé”	(Tt	1.9;	2.1;	1Tm	3.9),	ao	mesmo
tempo	em	que	ansiamos	para	que	o	Senhor	Criador	e	Redentor	seja	glorificado
em	tudo.
Ut	in	omnibus	glorificetur	Deus!
Franklin	Ferreira
Diretor-executivo	e	professor	de	Teologia	Sistemática	e	História	da	Igreja	do
Seminário	Martin	Bucer;
consultor	acadêmico	de	Edições	Vida	Nova;
pastor	da	Igreja	da	Trindade,	São	José	dos	Campos,	SP
¹	Para	textos	introdutórios	à	vida,	obra	e	impacto	de	Calvino,	cf.	especialmente
Karl	Barth,	The	theology	of	John	Calvin	(Grand	Rapids:	Eerdmans,	1995);
Wulfert	De	Greef,	The	writings	of	John	Calvin:	an	introductory	guide
(Louisville:	Westminster/John	Knox	Press,	2008);	F.	Bruce	Gordon,	Calvin
(New	Haven:	Yale	University	Press,	2011);	Alister
McGrath,	A	vida	de	João	Calvino	(São	Paulo:	Cultura	Cristã,	2005);	W.	Stanford
Reid,	org.,	Calvino	e	sua	influência	no	mundo	ocidental	(São	Paulo:	Cultura
Cristã,	2013);	Marc	Vial,	John	Calvin:	an	introduction	to	his	theological	thought
(Geneva:	International	Museum	of	the	Reformation/Labor	et	Fides,	2009);
Ronald	S.	Wallace,	Calvino,	Genebra	e	a	Reforma	(São	Paulo:	Cultura	Cristã,
2003);	François	Wendel,	Calvin:	origins	and	development	of	his	religious
thought	(Grand	Rapids:	Baker	Books,	1987).
²	Cf.	por	exemplo	William	G.	Naphy,	Calvin	and	the	consolidation	of	the
Genevan	Reformation	(Louisville:	Westminster/John	Knox	Press,	2003).
³	Joseph	S.	Tiedemann,	“Presbyterianism	and	the	American	Revolution	in	the
Middle	Colonies”,	em	Church	History,	vol.	74,	no.	2	(June	2005):	306-344;
Brandon	S.,	Durbin,	“The	Presbyterian	Enlightenment:	the	confluence	of
evangelical	and	enlightenment	thought	in	British	America”	(James	Madison
University,	2018).	Masters	Theses.
⁴	Cf.	Santo	Agostinho,	A	graça	(I):	O	espírito	e	a	letra;	A	natureza	e	a	graça;	A
graça	de	Cristo	e	o	pecado	original	(São	Paulo,	Paulus,	1998);	A	graça	(II):	A
graça	e	a	liberdade;	A	correção	e	a	graça;	A	predestinação	dos	santos;	O	dom	da
perseverança	(São	Paulo,	Paulus,	2002).
⁵	Martinho	Lutero,	“Da	vontade	cativa”,	em:	Obras	selecionadas	(São
Leopoldo/Porto	Alegre:	Sinodal/Concórdia,	1993),	vol.	4:	Debates	e
controvérsias	II,	p.	11-216.
	“Prefácio	à	edição	francesa	de	1541	e	subsequentes,	nessa	língua”,	em	As
Institutas	ou	Tratado	da	religião	cristã,	edição	latina	de	1559	(São	Paulo:	Cultura
Cristã,	2006),	vol.	1,	p.	45.
⁷	Para	uma	biografia	da	obra	mais	importante	e	influente	da	Reforma,	cf.	F.
Bruce	Gordon,	John	Calvin’s	‘Institutes	of	the	Christian	religion’:	a	biography
(Princeton:	Princeton	University	Press,	2016).	Esse	livro	explora	as	origens,	o
estilo	e	as	características	principais	das	Institutas,	examinando	suas	raízes
teológicas	e	históricas	e	mostrando	como	essa	obra	se	desenvolveu	em	suas
várias	edições	para	se	tornar	uma	ampla	síntese	da	teologia	reformada,
extremamente	influente	até	os	dias	atuais.
⁸	As	principais	edições	disponíveis	em	português	são:	As	institutas	da	religião
cristã,	primeira	edição	de	1539	(São	José	dos	Campos:	Fiel,	2018);	As	institutas
ou	Tratado	da	religião	cristã,	edição	francesa	de	1541	(São	Paulo:	Cultura	Cristã,
2006),	4	vol.;	As	institutas	ou	Tratado	da	religião	cristã,	edição	latina	de	1559,	4
vol.
	“O	adeus	de	Calvino	aos	ministros	de	Genebra	(anotado	pelo	ministro	[Jean]
Pinant)”,	em:	Cartas	de	João	Calvino	(São	Paulo:	Cultura	Cristã,	2009),	p.	191.
Prefácio
Um	dos	cursos	mais	populares	do	Pittsburgh	Theological	Seminary,	ofertado	no
final	da	década	de	1960	e	durante	a	década	de	1970,	foi	um	seminário	sobre	as
Institutas	da	religião	cristã,	de	Calvino,	ministrado	pelo	dr.	Ford	Lewis	Battles.
O	seminário	não	apenas	concedeu	aos	estudantes	a	oportunidade	de	estarem
frente	a	frente	com	um	dos	mais	destacados	estudiosos	de	Calvino	como	também
os	equipou	para	pensarem	histórica,	sistemática	e	pastoralmente,	no	melhor
sentido	da	palavra.
Quando	os	alunos	foram	informados,	no	início	do	curso,	de	que	uma	das
exigências	seria	ler	na	íntegra	a	edição	de	1559	das	Institutas,	vários	deles
questionaram	se	era	sábio	fazer	a	matrícula	nessa	eletiva.	Como	alguém	poderia
tratar	todo	o	loci	teológico	contido	na	obra	definitiva	de	Calvino?	Não	obstante,
aqueles	que	combateram	o	bom	combate	e	persistiram	até	o	fim	saíram	do	curso
com	um	panorama	instrutivo	do	pensamento	do	teólogo,	tão	essencial	para	o
entendimento	de	qualquer	doutrina	particular.
Conforme	os	capítulos	desta	Análise	vinham	à	tona,	muitos	estudantes	do
seminário	sobre	Calvino	e	de	cursos	afins	requisitavam	cópias	e	achavam-nas
úteis	enquanto	percorriam	as	Institutas.	Clérigos	e	leigos	também	julgaram	a
Análise	extremamente	útil.	Por	essa	razão,	é	um	prazer	ver	esta	obra	impressa
para	que	todos	aqueles	que	desejam	mergulhar	nas	raízes	da	Reforma	possam	ter
um	guia	e,	por	assim	dizer,	um	mapa	da	estrada.
Se	Ford	Lewis	Battles	pudesse	ter	visto	a	publicação	final	desta	obra,	ela
certamente	teria	agradado	seu	coração.	Com	a	morte	do	dr.	Battles	no	Dia	de
Ação	de	Graças	de	1979,	o	universo	acadêmico	e	a	Igreja	Mundial	perderam	um
homem	central	para	ambos.	Ao	expressar	gratidão	a	Deus	pelo	dom	de	sua	vida,
sei	que	falo	por	uma	geração	de	estudantes	que	foram	privilegiados	por	estarem
sob	sua	tutela,	por	ensinarem	sob	sua	orientação	e	por	empreenderem	pesquisas
sob	sua	rigorosa	honestidade.
Uma	das	expressões	favoritas	de	Ford	Lewis	Battles	—	e,	na	verdade,	uma
admoestação	para	todos	nós	—	era	“Ad	Fontes”.	De	volta	às	Fontes!	Se	esta
Análise	da	obra	monumental	de	Calvino	for	instrumental	em	redirecionar,	ainda
que	poucas	pessoas,	para	uma	das	fontes	primárias	do	pensamento	reformado,
então	o	trabalho	aqui	apresentado	estará	bem	recompensado.
John	R.	Walchenbach
Páscoa,	1980
Introdução
Mais	uma	síntese	das	Institutas?
Louvado	seja	todo	homem	que	nos	livra	de	ter	que	depender	de	compêndios	dos
grandes	clássicos!¹
Em	sua	introdução	às	Institutas	da	religião	cristã,	de	Calvino,	edição	da	Library
of	Christian	Classics	(Philadelphia:	The	Westminster	Press,	1960),	John	T.
McNeill	traçou	o	histórico	literário	complexo,	não	apenas	das	edições	completas
daquela	obra	em	vários	idiomas,	mas	também	dos	numerosos	epítomes	e
condensados	que	começaram	a	aparecer	logo	após	a	morte	de	Calvino	(LCC	20.
xlviii	—	l).¹¹	A	maioria	desses	textos	são	compactos	ou	condensações,	em	uma
série	de	aforismos,	das	ideias	da	obra	do	teólogo.	Às	vezes,	esses	compêndios
são	acompanhados	por	tabelas	que	buscam	dispor	graficamente	a	estrutura	lógica
que	o	antologista	vislumbra	na	obra	de	Calvino.
O	presente	livro,	entretanto,	não	se	encaixa	estritamente	em	nenhuma	dessas
categorias.	Ele	é	simplesmente	um	esboço	analítico	detalhado	do	texto	das
Institutas	conforme	Calvino	o	redigiu.	A	Análise	tem	sua	origem	no	meu
seminário	sobre	as	Institutas,	iniciado	na	Hartford	Seminary	Foundation	e
prosseguido	no	Pittsburgh	Theological	Seminary,	em	1967,	e	no	Calvin
Theological	Seminary,	entre	1978	e	1979.	Naquele	seminário,	as	Institutas	da
religião	cristã	foram	lidas	integralmente	e	discutidas	no	decurso	de	um	único
termo	ou	semestre.
Essa	é,	de	fato,	uma	tarefa	extensa,	mas	nada	menos	do	que	a	leitura	do	texto
completo	oferecerá	uma	visão	precisa	do	pensamento	de	Calvino.	Para	obtê-la,
entretanto,alguma	orientação	é	necessária,	e	é	essa	a	função	almejada	pela
Análise	ao	oferecer,	como	faz,	uma	visão	sinóptica	do	que	o	dr.	McNeill
chamou,	de	forma	pitoresca,	de	“o	miolo	truncado”	das	Institutas.	Certamente,	a
Análise	não	é	um	substituto	à	leitura	do	todo,	mas	pode	tanto	ser	um	mapa	da
estrada	para	a	jornada	quanto	um	útil	instrumento	para	revisão.
A	Análise	não	poderia	ter	sido	concebida	sem	o	auxílio	de	muitos	estudantes
que,	por	meio	de	suas	questões	e	reflexões,	moveram-me	à	tarefa	de	escrevê-la;
ela	nunca	poderia	ter	sido	completada	sem	a	colaboração	paciente	de	John
Walchenbach,	meu	antigo	assistente	de	ensino	em	Pittsburgh,	hoje	secretário
executivo	de	planejamento	na	Reformed	Church	in	America.	Ele	é	responsável
pelo	trabalho	dos	capítulos	6,	9,	10	e	11	do	Livro	Dois;	dos	capítulos	11,	12,	13,
14,	16,	17,	18	e	25	do	Livro	Três,	bem	como	dos	capítulos	7	a	17	do	Livro
Quatro.	A.	C.	Burfeind	trabalhou	nos	capítulos	3	e	4	do	Livro	Quatro.	O	uso	da
Análise	pelos	colegas	de	outras	instituições	também	tem	sido	uma	fonte	de
encorajamento	para	mim.
A	biografia	de	um	livro	(1536-1559):	de	seis	a	oitenta	capítulos
A	história	da	igreja	cristã	registra	dois	tipos	de	teólogos:	aqueles	cujo
pensamento	atravessa	constante	mudança	e	desenvolvimento	durante	o
transcurso	de	sua	vida,	e	aqueles	que	parecem	ter	abraçado,	logo	no	início	de	sua
carreira	teológica,	uma	moldura	que	permanece,	desde	então,	firme	e	constante.
A	franqueza	das	Retratações	de	Agostinho	aponta	para	o	primeiro	gênero	de
teólogo.	Calvino	é	geralmente	apontado	como	exemplo	do	segundo.
Em	certo	sentido,	a	teologia	de	Calvino	é,	do	início	ao	fim,	uma	e	a	mesma.
Diferentemente	de	Agostinho,	ele	não	precisou	de	um	livro	de	Retratações	para
explicar	as	contradições	entre	os	seus	primeiros	escritos	e	os	últimos.	Todavia,
mesmo	com	todo	seu	ar	de	firmeza	e	constância,	as	Institutas	da	religião	cristã
passaram,	sim,	por	mudanças	durante	o	curso	de	sua	história	literária,	e	essas
mudanças	se	deram	como	resposta	dinâmica	ao	incessante	debate	teológico	do
período.	Se	a	fonte	e	inspiração	das	Institutas	foi	a	Escritura,	vista	tanto	em	sua
origem	quanto	em	sua	longa	história	exegética,	a	matriz,	por	sua	vez,	foram	os
tempos	em	que	Calvino	viveu.
Em	companhia	de	Agostinho,	Lutero	e	muitos	outros,	Calvino	enxergou	a	vida
cristã	após	a	conversão	não	como	um	salto	para	a	perfeição,	mas	como	um
amadurecimento	gradual,	frequentemente	doloroso,	rumo	à	consumação
abençoada	que	só	pode	advir	com	a	morte.¹²	Assim,	quando	Calvino	afirma,	em
sua	“Epístola	ao	Leitor”	que	introduz	a	edição	final	das	Institutas	em	latim,	que
“Embora	eu	não	me	arrependesse	do	labor	empenhado,	eu	nunca	estive	satisfeito
até	que	a	obra	tivesse	sido	disposta	na	ordem	agora	estabelecida”	(LCC	20.3),	o
que	ele	está	dizendo,	efetivamente,	é:	“Aqui,	nestas	edições	sucessivas	de	minha
magnum	opus,	está	a	história	de	meu	próprio	amadurecimento	gradual	na	vida
cristã”.	Conforme	lemos	as	Institutas,	nunca	devemos	nos	desviar	para	longe
desse	testemunho	pessoal	de	seu	autor.
A	história	literária	das	Institutas	já	foi	contada	diversas	vezes,	e	este	não	é	o
lugar	para	repetir	uma	crônica	tão	recorrente.	O	que	se	faz	necessário,	aqui,	é	um
delineamento	de	alguns	dos	fatores	decisivos	que	moldaram	este	quarto	de
século	que	conduziu,	de	um	pequeno	e	conciso	esboço	da	fé,	a	um	ensaio
completo	e	perene	sobre	a	religião	cristã.
Em	primeiro	lugar,	Calvino	amadureceu	muitíssimo	à	medida	que	avançou	com
suas	leituras	nos	pais	da	igreja,	na	Escritura	e	na	história	de	sua	exegese.	Uma
assimilação	sólida,	porém	limitada,	de	Agostinho	marca	a	edição	de	1536.	Uma
vasta	incorporação	de	material	agostiniano	ingressa,	pela	primeira	vez,	na	edição
de	1539.	Outros	ainda	são	agregados	na	terceira	edição	em	latim,	de	1543.	É
visível	como	o	trabalho	subsequente	de	Calvino	na	antropologia	e	na
eclesiologia	cristã,	após	a	primeira	edição,	deve	muito	a	Agostinho.	João
Crisóstomo,	o	segundo	mais	importante	pai	da	igreja,	está	praticamente	ausente
na	primeira	edição;	sua	influência	começa	a	aparecer	em	1539	e,	claro,
amplamente	nos	Comentários	ao	Novo	Testamento,	cuja	preparação	é
concomitante	às	Institutas.	O	manuseio	equilibrado	de	Calvino	dos	textos
bíblicos	repousa,	pelo	menos	em	parte,	em	seu	amálgama	altamente	pessoal	de
sistemática	de	Agostinho	e	exegese	de	Crisóstomo.	Poder-se-ia	também	apontar
o	impacto	menor,	mas	significativo,	de	outros	pais	da	igreja	no	amadurecimento
teológico	de	Calvino.
Em	segundo	lugar,	desde	que	tomou	conhecimento	de	Martin	Bucer,	tanto	por
meio	de	seus	escritos	quanto	no	período	em	que	colaboraram	em	Estrasburgo,
Calvino	foi	profundamente	influenciado	por	ele.	Já	dependente	de	Bucer	em
muito	de	seu	entendimento	sobre	a	oração,¹³	por	meio	das	Enarrationes	sobre	os
Evangelhos	(1530),	Calvino	chegou,	sob	a	tutela	de	Bucer,	a	um	entendimento
mais	profundo	da	predestinação.	A	leitura	de	Metaphrases	sobre	Romanos
(1536),	de	Bucer,	é	perceptível	pela	primeira	vez	no	Catecismo	de	1537-38
(servindo	como	um	trampolim	entre	a	primeira	e	a	segunda	edição	das
Institutas¹⁴);	depois,	é	vista	plenamente	nas	Institutas	de	1539	e	no	comentário	de
Calvino	a	Romanos,	publicado	no	ano	seguinte.
Em	terceiro	lugar,	o	“interlúdio	pastoral”	de	1538-41,	quando	Calvino	pastoreou
a	pequena	congregação	francesa	emigrada	em	Estrasburgo,	rendeu	frutos	nas
ricas	adições	eclesiásticas	à	edição	de	1543.	O	calvinismo	seria	de	fato	um
sistema	teológico	pobre	para	a	igreja,	ou	no	mínimo	inadequado,	se	fosse
privado	dos	lampejos	significativos	sobre	a	vida	e	disciplina	da	congregação
adoradora	estabelecidos	nesse	ano.	A	exposição	de	Calvino	sobre	a	natureza	da
igreja	e	sua	disciplina	deve	ser	conjugada	com	sua	contribuição	—	que	não	deve
ser	esquecida	—	à	adoração	e	ao	louvor	cristão.¹⁵	A	“Epístola	ao	leitor”	que
encabeça	The	form	of	church	prayers	and	songs	[A	forma	dos	cânticos	e	orações
da	igreja]	(1542)	testemunha,	uma	vez	mais,	da	maturação	de	Calvino	na	fé.
Os	adversários	de	Calvino,	tanto	quanto	seus	aliados,	podem	ser	ressaltados
como	um	quarto	fator	no	amadurecimento	do	livro.	O	estímulo	dos	debates
frequentemente	vitriólicos	—	desde	Pierre	Caroli,	que	objetou,	sem	sucesso,	a
ortodoxia	trinitária	de	Calvino;	até	Miguel	Serveto,	que	se	empenhou	em	destruir
a	doutrina	da	Trindade	e	romper	o	vínculo	vívido	entre	Antigo	e	Novo
Testamentos	—	aprofundou	a	teologia	de	Calvino	em	um	sentido	positivo.
Conforme	costurava	seu	caminho	pelo	labirinto	de	posições	eucarísticas
conflitantes,	as	respostas	argutas	aos	seus	adversários	conferiram	uma	raiz
crescentemente	profunda	a	uma	posição	já	intuída,	corretamente,	em	1536.	Não
há	uma	só	página	das	Institutas	em	que	o	debate	contínuo	com	um	ou	outro
notável	não	seja	evidente.
Por	fim,	podemos	apresentar,	de	forma	geral,	um	fator	de	importância
incalculável	na	elaboração	das	Institutas:	a	própria	Genebra.	A	delongada	luta	de
Calvino	para	fornecer	estruturas	administrativas	e	legais	operacionais	à	cidade
que	o	abraçou,	e	colocá-las	em	funcionamento;	sua	ronda	pastoral	diária	na
igreja,	no	consistoire	[consistório],	na	escola;	sua	vasta	correspondência	para
além	dos	limites	daquela	cidade	—	todas	essas	atividades	garantiram	que	as
Institutas	se	tornariam,	progressivamente,	do	início	ao	fim,	a	obra	de	uma
verdadeira	teologia	pastoral.
À	guisa	de	síntese,	dois	diagramas	são	oferecidos	nas	(p.	15-16).	O	primeiro
traça	as	mudanças	e	acréscimos	de	material	nas	primeiras	cinco	principais
edições	em	latim	das	Institutas;	o	segundo	esquematiza	a	relação	literária	das
Institutas	de	1536,	o	Catecismo	de	1538	e	as	Institutas	de	1539.¹
Biografia	espiritual	em	forma	sistemática
A	atitude	com	que	nos	colocamos	a	ler,	pela	primeira	vez,	obras	clássicas	da	fé,	é
frequentemente	crucial	para	determinar	quais	benefícios	obteremos	delas.	Se	nos
achegarmos	às	Institutas	de	Calvino	como	um	livro	de	referência	em	teologia
sistemática,	como	muitos	já	o	fizeram,	ele	nos	renderá,	de	fato,	lampejos
valiosos.	Contudo,	em	uma	leitura	assim,	não	conhecemos	nem	metade	de	seu
autor.	Imagineque,	antes	mesmo	de	abrirmos	na	primeira	página,	tenhamos	a
informação:	“Vocês	estão	prestes	a	partilhar	de	uma	das	experiências	clássicas	da
história	cristã;	nas	páginas	enganosamente	ordenadas	e	aparentemente	frias	que
se	seguem,	estão	impressas	as	apaixonadas	respostas	de	um	homem	ao	chamado
de	Cristo”.	Se	mantivermos,	sempre	diante	de	nós,	o	caráter	autobiográfico	desse
livro,	o	homem	completo	nos	falará	em	verdade	plena.
Calvino	nos	diz	que,	em	suas	Institutas,	ele	“pavimentou	a	estrada”	para	que	os
estudantes	no	início	de	seus	estudos	compreendessem	a	Escritura	(“Ao	leitor”,
LCC	20.4f.).	Não	obstante,	ele	ensina	que	a	compreensão	da	Escritura	depende
da	iluminação	do	leitor	pelo	Espírito	Santo	(1.7;	3.2).	É	de	se	esperar,	portanto,
que	sua	exegese	adentre	firmemente	na	experiência	pessoal	de	personagens
bíblicos,	nos	quais	ele	encontra	um	reflexo	de	si	mesmo.	Nos	Salmos	de	Davi,
por	exemplo,	Calvino	encontra	“uma	anatomia	de	todos	os	estados	da	alma”.
Eis	aqui	uma	abordagem	“experiencial”	da	exegese	bíblica	por	meio	da
identificação	biográfica	com	personagens	do	Antigo	Testamento,
surpreendentemente	similar	àquela	de	Martinho	Lutero¹⁷	e	nada	estranha	a	todos
os	autênticos	pregadores.	Em	outra	ocasião,¹⁸	discuti	a	“imitatio	Davidis”
[imitação	de	Davi]	com	que	nos	deparamos	tão	frequentemente	nos	escritos	de
Calvino	—	especialmente	nas	Institutas	e	no	Comentário	aos	Salmos.	Ele
prefere,	frequentemente,	deixar	que	o	salmista	fale	em	seu	lugar	acerca	de	sua
própria	condição	espiritual.	Dois	ensaios	examinam	esse	emprego	autobiográfico
que	Calvino	faz	de	Davi,	um	deles	de	R.	A.	Hasler¹ 	e	outro,	mais	extenso,	de	J.
R.	Walchenbach.² 	Dos	personagens	do	Novo	Testamento,	Paulo	é	o	que	mais	se
aproxima	de	espelhar	o	status	animae	[condição	da	alma]	de	Calvino.	Em	sua
Answer	to	Balduin’s	Insults	[Resposta	aos	insultos	de	Balduin]	(1561),	ele
afirma:
A	verdade	é	que	eu	não	sou	edificado	pela	grandeza	das	revelações	que	me	são
concedidas,	como	se	eu	fosse	um	Paulo;	ainda	assim,	reconheço	que	eu	tenho
isto	em	comum	com	o	Apóstolo:	que	um	mensageiro	de	Satanás	foi	enviado	a
mim	por	Deus	para	me	bofetear	na	face	e	que,	assim,	eu	mesmo	sou	ensinado	a
ser	humilde.	Mas	assim	como	devemos,	a	todo	tempo,	orar	para	que	Deus
afugente	o	diabo	e	seus	anjos,	é	também	nosso	dever	nos	opormos	aos	seus	vitu-
périos,	a	fim	de	que	a	verdade	não	seja	vilipendiada	pelas	falsidades	que	eles
assim	nos	outorgam.
O	leitor,	municiado	dos	relatos	lacônicos	de	Calvino	sobre	sua	conversão	e
amadurecimento	ulterior,	tais	quais	apresentados	no	prefácio	do	Comentário	aos
Salmos	(1555-7),	marchará	com	passos	mais	firmes	pelos	caminhos	desvelados
das	Institutas.²¹	Talvez	ele	perceba	o	papel	crucial	que	Romanos	1.18-25
(especialmente	os	versículos	18	e	25)	teve,	provavelmente,	na	conversão	de
Calvino	e	em	sua	busca	da	vida	cristã	nos	anos	que	se	seguiram.²²	Certamente,	a
contraposição	de	Calvino	entre	a	verdade	e	a	falsidade,	bem	como	seu	postulado
dos	dois	conhecimentos	—	o	de	Deus	e	o	de	si	—	derivam	particularmente	dessa
passagem.
Qual	é	o	cerne	das	Institutas,	quando	lida	nessa	ótica	pessoal	e	experiencial?
Para	o	homem,	é	um	manual	de	piedade.	Mas,	em	relação	a	Deus,	do	que	se
trata?	As	Institutas	da	religião	cristã	são	um	esforço	ousado	para
verdadeiramente	coroar	Deus	como	rei	de	seu	povo	(3.20.43).	Que	Deus	possa
governar	sobre	as	nações	—	não	é	esse	o	tema	central	da	teologia	de	Calvino?²³
Deus	é	rei.	Calvino	nunca	fala	literalmente	da	“soberania	de	Deus”,	uma
abstração	pálida	que	aleija	o	essencial	—	e	bíblico	—	imaginário	real.	Isso
explica	a	“moldura	política”	das	Institutas:	ela	começa	com	a	carta	ao	rei
francês,	Francisco	I,	e	termina	com	o	famoso	capítulo	sobre	o	governo	político
(4.20).	A	teologia	de	Calvino	habita	o	mundo	real	e	o	encara	frontalmente.	Sua
carreira	enquanto	escritor	e	como	líder	não	foi	aquela	do	sonhador	ou	teórico
utópico,	pois	nele	o	estudo	da	lei	e	da	teologia	tocavam-se	em	seu	plano	mais
profundo.
Um	livro	de	antíteses
A	epístola	dedicatória	de	Calvino	a	Francisco	I	introduziu	não	apenas	a	primeira
edição	das	Institutas,	mas	também	todas	as	edições	subsequentes.	Esse
documento	de	alta	importância,	entretanto,	é	omitido,	por	alguns	tradutores
alemães	das	Institutas,	por,	do	ponto	de	vista	teológico,	não	ser	tão	interessante
assim!
Em	certo	sentido,	essa	epístola	conserva	uma	pista	adicional	para	a	gênese	e	o
amadurecimento	de	todo	o	livro.	Endereçando	sua	primeira	edição,	a	partir	de
seu	refúgio	na	Basileia,	tanto	para	o	soberano	cujo	regime	opressivo	o	levou	a
fugir	e	exilar-se	quanto	para	seus	correligionários	sitiados,	o	jovem	Calvino
elucida,	naquelas	páginas	iniciais,	as	duas	frentes	em	que	sua	campanha
teológica	deveria	ser	travada.	De	um	lado,	ele	rejeita	o	cristianismo	deficiente	da
Sorbonne	romanista,	o	establishment	teológico	da	época.	Do	outro,	dissocia-se
do	partido	fanático	revolucionário	denominado,	por	ele,	de	“catabatistas”,
posteriormente	concebidos,	de	forma	mais	clara,	como	uma	variedade	de
tendências	radicais.	Sua	mensagem	é	a	seguinte:	assegurar	seu	soberano	do
caráter	católico²⁴	do	partido	da	Reforma,	mais	fiel	do	que	seus	inimigos
sorbonnistas	ao	passado	escriturístico	e	patrístico	reivindicado	por	ambos;	e
assegurá-lo	do	caráter	não	subversivo	e	do	apoio	leal	à	monarquia	pelo	partido
da	Reforma,	um	partido	a	ser	claramente	diferenciado	dos	sonhos	selvagens	do
Reino	de	Münster,	liquidado	poucos	meses	antes.
Essa	polarização	inicial	das	Institutas,	talhada	pela	natureza	da	crise	política	e
eclesiástica	contemporânea,	perdurou	por	todas	as	edições	subsequentes.	Isso	já
foi	examinado	por	mim,	em	outra	ocasião,²⁵	de	forma	técnica	e	detalhada.	Aqui,
portanto,	falaremos	somente	em	termos	descritivos	que	possam	auxiliar	o	leitor	à
medida	que	ele	traceja	seu	caminho	pelo	livro.
As	Institutas	são,	em	certo	sentido,	um	livro	de	antíteses.	Essa	é	uma
característica	frustrante	para	o	leitor	novo,	que	espera	que	cada	tópico	seja
plenamente	esgotado	antes	que	o	próximo	seja	introduzido.	É	frustrante	também
para	o	crítico	teológico	ordeiro,	minucioso,	de	mentalidade	filosófica,	que	busca
reduzir	o	todo	à	sua	essência.	Calvino,	ao	que	tudo	indica,	ludibria	ambos.	Ele	é,
primeiramente,	um	teólogo	escriturístico,	e	só	depois	um	utilizador	da	filosofia,
da	lógica	e	da	retórica	—	ferramentas	humanas	de	ordenamento	e	das	quais	ele
faz	bom	uso,	mas	nunca	à	custa	do	que	julga	ser	a	palavra	manifesta	da
Escritura,	compreendida	contextualmente.	Diante	dos	olhos	de	Calvino,	sempre
estão	os	episódios	do	que	nós	hoje	chamamos	de	“história	da	salvação”,	uma
história	que	todo	cristão	deve	experienciar	por	si	mesmo,	ainda	que
modestamente.
Estou	ciente	de	que,	ao	oferecer	a	análise	tabular	que	apresento	a	seguir,	“A
estrutura	antitética	das	Institutas”,	corro	o	risco	de	representar	inadequadamente
o	fluxo	do	pensamento	de	Calvino	ao	longo	das	Institutas.	Entretanto,	para	o
leitor	desejoso	de	coligir	a	busca	de	Calvino	pela	verdade	em	meio	à	falsidade,
ela	pode	ser	útil	de	alguma	forma.
A	estrutura	antitética	das	Institutas
Livro	Um
A.	Conhecimento	do	Deus	Criador
1.	caps.	1-3/4 conhecimento	verdadeiro	(escriturístico)	vs.	falso	(filosófico)	de	Deus
2.	cap.	5a/5b²
B.	Revelação
caps.	6-8/9:	revelação	escriturística	(verdadeira)	vs.	extraescriturística	(falsa:
Schärmer)
C.	Deus	como	objeto	de	adoração
caps.	10-11/12:	ídolos	(falsos)	vs.	Deus	(verdadeiro)
D.	A	Divindade
cap.	13a/13b:	verdadeira	vs.	falsa	(principalmente	Serveto)	perspectiva	da
Trindade
E.	Criação:	hexamerão;	anjos;	demônios
cap.	14a/14b:	verdadeiras	vs.	falsas	perspectivas
F.	Conhecimento	do	homem	(enquanto	criatura):	alma;	corpo
cap.	15a/15b:	verdadeira	(escriturística)	vs.	falsa	(filosófica)	perspectiva	do
homem
G.	Providência
1.	cap.	16a/16b:	verdadeiras	(escriturísticas)	vs.	falsas	(filosóficas)	perspectivas
2.	cap.	17a/17b:	verdadeiras	(escriturísticas)	vs.	falsas	(filosóficas)	atitudes	em
relação	à	providência
3.	cap.	18a/18b:	perspectiva	verdadeira	vs.	falsa	perspectiva	da	ação	da
providênciade	Deus	em	relação	aos	ímpios
Livro	Dois
A.	A	Queda	e	degeneração	da	raça	humana;	condição	da	vontade	humana
(conhecimento	do	homem	enquanto	decaído),	principalmente	contra	a
perspectiva	Católica	Romana
1.	Cap.	1a/1b:	verdadeiro	vs.	falso	entendimento	da	condição	decaída	do	homem
(pecado	original)
2.	Cap.	2a/2b:	verdadeiras	vs.	falsas	perspectivas	acerca	da	vontade	humana
(cativa	vs.	livre)
3.	Cap.	3a/3b:	total	(verdadeira)	vs.	parcial	(falsa)	corrupção	da	natureza
corrompida	do	homem
4.	Cap.	4a/4b:	soberania	de	Deus	(verdadeiro)	vs.	liberdade	humana	(falso)
5.	Caps.	1-4/5:	vontade:	livre	(falsa)	vs.	não	livre	(verdadeira)	(antítese
resumidora)
(cap.	6:	capítulo	transitivo	para	o	conhecimento	do	Deus	Redentor:	Cristo)
B.	Lei	e	evangelho
1.	Por	que	a	lei	foi	dada
cap.	7a/7b:	verdadeiras	vs.	falsas	perspectivas
2.	Exposição	do	Decálogo
cap.	8a/8b:	verdadeiras	vs.	falsas	perspectivas:	no	tocante	à	lei	em	geral	e	aos
mandamentos	específicos	em	particular
3.	Cristo	revelado	na	lei	e	no	evangelho
cap.	9a/9b:	verdadeiras	vs.	falsas	perspectivas
4.	Relação	entre	lei	(Antigo	Testamento)	e	evangelho	(Novo	Testamento)
caps.	10-11a/10-11b:	verdadeiras	vs.	falsas	perspectivas	(principalmente
Serveto)
C.	Cristo
1.	Necessidade	do	Deus-homem	enquanto	mediador
cap.	12a/12b:	verdadeiras	vs.	falsas	perspectivas	(principalmente	Osiander)
2.	Encarnação
cap.	13a/13b:	verdadeiras	vs.	falsas	perspectivas	(principalmente	Menno
Simmons)
3.	Unidade	das	duas	naturezas	em	uma	pessoa
cap.	14a/14b:	verdadeiras	vs.	falsas	perspectivas	(principalmente	Serveto)
4.	Os	ofícios	e	obra	de	Cristo	em	nosso	favor
caps.	15-17a/15-17b:	verdadeiras	vs.	falsas	perspectivas
Livro	Três
A.	O	operar	do	espírito	no	coração	dos	homens	(cap.	1):	alicerce	do	Livro	III
B.	Fé
cap.	2a/2b:	escolástica	(falsa)	vs.	verdadeira	concepção	da	fé
C.	Arrependimento
1.	Cap.	3a/3b:	antítese	entre	verdadeiro	arrependimento	e	falsas	perspectivas	de
arrependimento	(principalmente	a	insistência	dos	reformadores	radicais	no
perfeccionismo)
2.	Caps.	3/4-5:	verdadeiro	arrependimento	vs.	perspectivas	escolásticas	de
arrependimento	(que	incluem	confissão	e	satisfação	acrescida	de	indulgências	e
purgatório)
D.	A	vida	cristã
1.	Cap.	6a/6b:	verdadeiras	vs.	falsas	perspectivas	da	vida	cristã	em	geral
2.	Caps.	7-8a/8b:	verdadeira	renúncia	de	si	mesmos	vs.	falsa	paciência	dos
estoicos
3.	Caps.	9/10:	equilíbrio	entre	a	antecipação	da	vida	futura	e	o	verdadeiro	gozo
da	vida	presente,	alimentada	por	aquela;	antítese	subsidiária
4.	Caps.	10a/10b:	a	atitude	correta	em	relação	à	vida	presente	—	alocada	entre	os
falsos	extremos	da	austeridade	e	da	lassidão
E.	Justificação	pela	fé
1.	Justificação	pela	fé	vs.	justificação	por	obras	e	suas	doutrinas	derivadas
(méritos,	supererrogação	etc.),	a	posição	escolástica:	disposta	no	cap.	11:13-20,
mas	também	no	âmago	dos	caps.	12-18
2.	Justificação	pela	fé	no	Cristo	pleno	vs.	justificação	pela	fé	somente	na
natureza	divina	de	Cristo	(o	luterano	Osiander)	(caps.	11:5-12)
F.	Liberdade	cristã
cap.	19a/19b:	verdadeiras	vs.	falsas	perspectivas	de	liberdade
G.	Oração	(cap.	20)
Em	meio	a	uma	interpretação	afirmativa	da	oração	em	geral,	e	da	Oração	do	Pai-
Nosso	em	particular,	ao	lado	de	tópicos	correlatos,	Calvino	traça	um	caminho
entre	a	rejeição	da	oração	como	supérflua	e	orações	presas	a	formas	fixas.
H.	Predestinação
Antítese	fundamental:	liberdade	de	Deus	vs.	liberdade	do	homem,	expressa	em
uma	série	de	antíteses	subordinadas:
1.	Cap.	22:	eleição	incondicional	por	um	Deus	totalmente	livre	vs.	eleição
dependente	do	anteconhecimento	de	nossos	méritos	(posição	Católico	Romana
tradicional	não	agostiniana)
2.	Cap.	23:	incompreensão	natural	da	predestinação	vs.	esforços	da	razão
humana	para	sondá-la,	ultrapassando	as	fronteiras	escriturísticas
3.	Cap.	24:	decretos	secretos	de	predestinação	e	reprovação	vs.	várias	teorias	que
concedem	algum	espaço	para	a	vontade	humana
I.	Ressurreição	final
cap.	25a/25b:	imortalidade	da	alma	mais	ressurreição	do	corpo	no	último	dia	vs.
diversas	perspectivas
Livro	Quatro
A.	Natureza	e	organização	da	igreja
1.	Caps.	1/2:	verdadeira	vs.	falsa	igreja
2.	Caps.	3-4/5-7:	verdadeiros	vs.	falsos	ofícios	e	governo	da	igreja
B.	Poder	eclesiástico
1.	Responsabilidades	atribuídas	aos	homens	pela	igreja
a.	cap.	8a/8b:	poder	da	igreja	quanto	aos	artigos	de	fé	vs.	prática	papal
b.	cap.	9a/9b:	verdadeiros	vs.	falsos	concílios
c.	cap.	10a/10b:	verdadeiras	organizações	de	igreja	(de	acordo	com	a	lei	de	Deus
e	a	consciência	humana)	vs.	organizações	papais
d.	cap.	11a/11b:	relação	correta	entre	jurisdição	espiritual	e	temporal	vs.
usurpação	papal	de	ambas
e.	cap.	12a/12b:	verdadeira	disciplina	eclesiástica	(orientada	pelo	amor)	vs.	falsa
disciplina	eclesiástica	(lassidão	excessiva	ou	severidade	excessiva)
2.	Reponsabilidades	atribuídas	aos	homens	por	si	mesmos
cap.	13a/13b:	obediência	simples	à	vontade	de	Deus	vs.	votos	humanos
(incluindo	o	monasticismo)	que	adulteram	e	impossibilitam	a	verdadeira
obediência
C.	Sacramentos
1.	A	antítese	geral:	verdadeiros	sacramentos	(caps.	14-18,	sintetizados	no	final
do	cap.	18)	vs.	falsos	sacramentos	(cap.	19)
2.	Batismo
caps.	15a/15b	e	16:	verdadeiro	batismo	vs.	falso	batismo	e	falsas	práticas
batismais
3.	Ceia	do	Senhor
a.	cap.	17a/17b:	uma	série	de	antíteses	entre	a	“verdadeira”	doutrina	e	várias
outras	falsas	(transubstanciação,	ubiquidade);	também	entre	a	“verdadeira”
administração	e	as	várias	maneiras	falsas	de	administrar	a	ceia	do	Senhor
b.	caps.	17/18:	verdadeira	ceia	do	Senhor	vs.	falsa	missa	papal
D.	Governo	civil	(cap.	20)
1.	seç.	1-2:	perspectiva	verdadeiras	vs.	perspectiva	falsa	do	governo	-
civil/espiritual
a.	subjugar	o	civil	em	favor	do	espiritual
b.	marginalizar	o	espiritual	em	favor	do	civil
2.	seç.	3ss.	contém	uma	série	de	antíteses	subsidiárias	contra	vários	aspectos	da
perspectiva	a;	não	se	elabora	a	perspectiva	b	(cf.,	contudo,	seç.	9)
3.	seç.	10-12:	verdadeira	vs.	falsa	perspectiva	do	uso	da	força	e	da	guerra
4.	seç.	13:	verdadeira	vs.	falsa	perspectiva	dos	impostos
5.	seç.	14-16:	verdadeira	vs.	falsa	perspectiva	da	Lei	Mosaica	em	relação	ao
governo	civil
6.	seç.	17-21:	verdadeira	vs.	falsa	perspectiva	do	uso	cristão	dos	tribunais	de
justiça
7.	seç.	22-32:	verdadeiras	vs.	falsas	atitudes	frente	a	governantes	injustos
a.	o	direito	de	revolução
b.	obediência,	mesmo	quando	a	vontade	de	Deus	é	infringida
Lendo	as	Institutas
Como	uma	pessoa	deveria	se	propor	a	ler	as	Institutas?	Eu	tenho	o	mau	hábito	de
ler	novos	livros	—	isto	é,	novos	para	mim	—	esquadrinhando	o	índice	remissivo,
examinando	as	conclusões,	saboreando	a	organização,	eventualmente
selecionando	algumas	passagens	de	teste	e,	então,	me	perguntando	se	vale	a	pena
prosseguir	na	leitura.	Eu	não	recomendaria	essa	abordagem	para	ler	as	Institutas.
Em	primeiro	lugar,	você	deve	querer	ler	o	livro;	em	segundo	lugar,	você	deve
partir	do	início;	em	terceiro	lugar,	você	deve	persistir,	por	mais	demorado	que
lhe	seja,	até	chegar	à	última	página.	Não	se	torne	um	calvinista	dos	primeiros
cinco	capítulos,	ou	do	primeiro	livro.	Eu	geralmente	consigo	identificar,	quando
as	pessoas	falam	sobre	Calvino,	se	elas	o	conhecem	apenas	de	ouvir	falar,	se
leram	apenas	algumas	páginas	da	sua	obra	magna	ou	se	apenas	a	folhearam
seletivamente.	Por	não	terem	ideia	da	interdependência	maravilhosa	do
pensamento	de	Calvino,	elas	fazem	perguntas	que	uma	leitura	mais	completa	das
Institutas	poderia	ter	respondido.
Em	quarto	lugar,	não	lamente	que	uma	questão	pareça	ficar	sem	resposta,	ou	que
uma	ponta	solta	pareça	não	estar	amarrada:	ela	será	respondida;	ela	será
amarrada.	Seja	paciente.	Se,	depois	de	ter	lido	o	livro	todo	pela	primeira	vez,
você	continuar	em	grave	desacordo	com	Calvino	—	bem,	que	assim	seja!	Mas
qual	alternativa	coerente	você	terá	para	oferecer?
Em	quinto	lugar,	conforme	você	lê,	não	pense	apenas	na	época	de	Calvino	(vista,
talvez,	pelas	lentes	do	Portrait	of	Calvin	[Retrato	de	Calvino],	de	T.	H.	L.	Parker,
ou	da	Calvin’s	Geneva	[Genebra	deCalvino],	de	W.	Monter),²⁷	mas	pense
também	na	sua	própria	época.	Será	que	Calvino	também	não	está	dialogando
com	o	ocaso	do	século	20?	Nessa	especulação,	leitores	das	Institutas	realizaram,
às	vezes,	descobertas	supreendentemente	úteis.
Por	fim,	não	hesite	em	colocar	esta	Análise	ao	seu	lado	conforme	lê.	Para	os	que
preferem	captar	a	estrutura	do	livro	como	um	todo	antes	de	mergulhar	nele,	a
Análise	pode	ser	um	auxílio,	pois	ela	dispõe	fielmente	a	organização	tripartite	da
obra	em	livro,	capítulo	e	seção.	Cada	seção	é	analisada	concisamente	em	seus
pontos	proeminentes.	O	usuário	pode,	claro,	ler	os	cabeçalhos	do	livro	e	capítulo
para	uma	consulta	rápida.	Para	uma	leitura	mais	profunda,	porém,	ele	pode
escrutinar	os	tópicos	de	seção;	no	nível	mais	detalhado,	ele	pode,	ainda,	estudar
as	categorias	subordinadas	no	interior	de	cada	seção.	A	partir	daí	ele	deve,	claro,
recorrer	ao	próprio	texto.²⁸	Outros	que	desejem	achegar-se	ao	livro	diretamente,
sem	serem	“notificados”	pela	Análise,	podem,	apesar	disso,	julgar	este	livro	útil.
Quando	sentir	que	se	perdeu	no	caminho	—	e	todos	nós	nos	perdemos	em	uma
obra	de	tamanha	extensão	e	complexidade	—,	espie	no	esboço	analítico	o	que
você	acabou	de	ler.	Ele	pode	destacar	os	pontos	que	devem	ser	mantidos	na
mente.	E	meses,	ou	até	anos	depois,	conforme	você	vasculha	sua	memória	por
lampejos	calvinianos	dos	quais	se	recorda	apenas	parcialmente,	este	pequeno
sumário	pode	te	levar	sem	dor	àquilo	que	estiver	buscando.
Estas	palavras	estariam	incompletas	se	não	ecoassem	o	próprio	chamado	de
Calvino	à	Escritura.	Ele	escreveu	as	Institutas	para	atrair	cristãos	à	Palavra	de
Deus;	ele	escreveu	seus	Comentários	para	elucidar	não	tanto	os	elementos
amplos	da	fé,	mas	os	detalhes	do	próprio	texto.	Ele	proclamou	as	Escrituras	do
púlpito.	O	leitor	das	Institutas	verá	o	seu	próprio	entendimento	e	convicção
despertados	ao	continuar	seus	estudos	para	além	das	Institutas	—	para	as
Escrituras,	que	são	sua	fonte,	e	para	os	Comentários	e	Sermões,	que	exibem
ainda	mais	a	fé	bíblica	de	João	Calvino.
Ford	Lewis	Battles
Calvin	Theological	Seminary
Abril,	1979
¹ 	H.	Hailperin,	Rashi	and	the	Christian	scholars	(Pittsburgh:	University	of
Pittsburgh	Press,	1963),	p.	27
¹¹	A	edição	das	Institutas	de	Calvino	da	Library	of	Christian	Classics,	volumes
20	e	21	da	série	de	Westminster,	serão	referenciadas	como	LCC	20	e	LCC	21.
¹²	Veja	John	Calvin	[João	Calvino],	The	piety	of	John	Calvin,	edição	e	tradução
para	o	inglês	de	Ford	Lewis	Battles	(Grand	Rapids:	Baker,	1978),	p.	55,	84,	n.
275.
¹³	Institution	1536,	edição	e	tradução	para	o	inglês	de	Ford	Lewis	Battles
(Atlanta:	John	Knox	Press,	1975),	cap.	3	e	notas.
¹⁴	Veja	Catechism	1538,	edição	e	tradução	para	o	inglês	de	Ford	Lewis	Battles,
1972,	introdução;	veja	tb.	seção	13.
¹⁵	Veja	Piety,	cap.	6.
¹ 	Discuti	essas	relações	de	forma	mais	detalhada	em	outra	ocasião.	Veja	meu
Calculus	Fidei,	artigo	apresentado	no	International	Congress	on	Calvin
Research,	Amsterdam	(1978).
¹⁷	C.	W.	Hovland,	“Anfechtung	in	Luther’s	biblical	exegesis”,	in:	Franklin	H.
Littell,	org.,	Reformation	Studies	(Atlanta:	John	Knox	Press,	1962).
¹⁸	Piety,	p.	39.
¹ 	R.	A.	Hasler,	“The	influence	of	David	and	the	Psalms	upon	Calvin’s	life	and
thought”,	in:	Hardfort	Quarterly,	vol.	5,	n.	2,	p.	7-8.
² 	J.	R.	Walchenbach,	The	influence	of	David	and	the	Psalms	in	the	life	and
thought	of	John	Calvin,	Tese	de	Mestrado	não	publicada,	Pittsburgh	Theological
Seminary,	1967.
²¹	Veja	Pity,	p.	39.
²²	Inst.	1536,	p.	xvi-xvii,	Calculus	Fidei,	Premissa	1.
²³	Cf.	Comm.	Isahiah,	2:4.
²⁴	No	sentido	de	“universal”.	(N.	do	T.)
²⁵	Calculus	Fidei.
² 	Note	que	“a”	e	“b”,	aqui,	não	se	referem	a	seções	separadas	dos	capítulos,	mas
a	duas	vozes	ouvidas	como	antífona	por	meio	de	um	capítulo.
²⁷	Para	o	neófito,	sugere-se	essa	breve	biografia	prévia	de	Parker,	em	vez	de	seu
mais	recente	John	Calvin:	a	biography	(Philadelphia:	Westminster,	1976),	um
ensaio	bem	mais	longo.
²⁸	Conquanto	a	Análise	tenha	sido	preparada	primariamente	com	a	minha
tradução	das	Institutas	em	mente	(LCC	20-21	[1960]),	ela	pode	ser	usada	com	a
tradução	de	Allen	ou	Beveridge;	se	alguma	dessas	for	empregada,	contudo,	o
leitor	terá	que	condescender	com	diferenças	na	apresentação	dos	termos.
O	prefácio	de	Calvino	endereçado	a	Francisco	I
1.	Circunstâncias	sob	as	quais	o	livro	originalmente	foi	escrito
a.	intenção	original	de	apresentar,	especialmente	para	compatriotas	franceses,
alguns	rudimentos	para	auxiliar	os	diligentes	no	caminho	da	santidade
b.	mudança	no	propósito	da	obra	devido	à	perseguição	e	aos	falsos	rumores
sobre	os	evangélicos
c.	petição	de	uma	avaliação	justa	e	completa	por	parte	de	um	rei
verdadeiramente	cristão
2.	O	apelo	em	favor	dos	evangélicos	perseguidos
a.	os	evangélicos
(1)	fé	escriturística
(2)	martírio	heroico
b.	os	[católicos]	romanos
(1)	negligência	da	fé	escriturística
(2)	insistência	na	missa,	purgatório,	peregrinações	e	outras	frivolidades
3.	Refutação	das	acusações	dos	adversários	contra	a	doutrina	dos	evangélicos
a.	nova:	a	santa	Palavra	de	Deus	não	é	nada	“nova”
b.	desconhecida:	a	verdadeira	doutrina	permaneceu	por	longo	tempo	enterrada	e
esquecida	pela	impiedade	do	homem
c.	incerta:	nossa	segurança	contrasta	com	suas	dúvidas
d.	ausência	de	milagres	corroborantes:	verdadeiros	vs.	falsos	milagres
4.	Afirmação	enganosa	de	que	os	pais	da	igreja	se	opõem	ao	ensino	da	Reforma
a.	os	pais	da	igreja,	como	todos	os	homens,	são	falíveis;	os	romanistas	adoram
mais	os	seus	erros	e	falhas	do	que	suas	virtudes
b.	“não	ultrapasse	os	limites”	(Pv	22.28)
O	que	os	pais	da	igreja	dizem	vs.	práticas	romanistas
(1)	Deus	não	precisa	de	ouro	ou	prata:	rituais	ostensivos
(2)	cristãos	podem	tanto	comer	quanto	se	abster	da	carne:	jejuns	de	quaresma
(3)	monges	devem	trabalhar:	monges	indolentes	e	dissolutos
(4)	sem	imagens	de	Cristo	ou	santos:	igrejas	entulhadas	de	imagens
(5)	após	o	sepultamento	dos	mortos,	que	eles	descansem:	eterna	preocupação
com	os	mortos
(6)	na	eucaristia,	pão	e	vinho	permanecem:	transubstanciação
(7)	todos	os	presentes	devem	participar	da	ceia	do	Senhor:	missas	públicas	e
privadas	barateiam	a	graça	e	o	mérito	de	Cristo
(8)	desautorização	de	juízos	precipitados	sem	base	na	Escritura:	uma	selva	de
estatutos,	cânones	etc.	não	fundamentados	na	Palavra	de	Deus
(9)	afirmação	do	casamento	para	clérigos:	imposição	do	celibato
(10)	a	Palavra	de	Deus	deve	ser	preservada	de	sofismas:	pelejas	teológicas
especulativas
5.	O	apelo	ao	costume	é	contrário	à	verdade
a.	a	maior	parte	dos	costumes	é	resultado	dos	vícios	pessoais	da	maioria,	que	se
tornam	erros	públicos	e	assumem,	equivocadamente,	força	de	lei
b.	em	contraste	com	tal	erro	público	está	a	verdade	eterna	do	reino	de	Deus,	o
qual	nós,	santificando	o	nome	do	Senhor,	seguimos	destemidamente
c.	embora	todo	o	mundo	possa	cair	na	mesma	impiedade,	a	força	dos	números
não	nos	licita	nem	nos	exime	dela
6.	Erros	sobre	a	natureza	da	igreja
a.	a	verdadeira	igreja	eterna,	na	qual	todos	os	fiéis	louvam	e	adoram	um	só	Deus
e	Cristo,	o	Senhor,	tal	como	ele	sempre	foi	adorado
b.	os	pontos	de	controvérsia
(1)	que	a	forma	da	igreja	é	sempre	observável
(2)	que	essa	forma	se	encontra	na	igreja	romana	e	em	sua	hierarquia
c.	a	verdadeira	igreja	é	marcada	pela	pregação	pura	da	Palavra	de	Deus	e	pela
administração	correta	dos	sacramentos:	essa	igreja	esteve	frequentemente
submersa	e	sem	forma	visível	durante	os	períodos	testamentários	e	pós-
testamentários
(1)	evidência	do	Antigo	Testamento
(2)	evidência	da	história	da	igreja
d.	o	cuidado	de	Deus	com	sua	igreja
(1)	puniu	os	infiéis	com	uma	supressão	temporária	da	imagem	visível	de	sua
verdadeira	igreja,
(2)	mas	preservou	seus	verdadeiros	filhos	da	extinção
e.	perigos	de	considerar	a	igreja	por	sua	pompa	vazia
(1)	exemplificados	na	história	do	Antigo	Testamento
(2)	evidenciados	no	“legítimo”	concílio	da	Basileia,	que	resultou	no	escândalo
Eugênio-Amadeus	e	nos	abusos	em	seu	encalço
f.	a	letalidade	da	falsa	doutrina	da	igreja	visível	para	as	almas	cristãs7.	Tumultos	supostamente	resultantes	da	pregação	da	Reforma
a.	mudança	na	estratégia	de	Satanás
(1)	por	séculos,	Satanás	manteve	a	igreja	atordoada	em	luxos	mundanos
(2)	contudo,	quando	ela	começou	a	despertar,	ele	reagiu	com	contendas	e
discórdias,	levantando	seus	“catabatistas”	e	outros	pulhas
b.	analogia	entre	a	experiência	dos	apóstolos	e	a	nossa	(deveríamos,	portanto,	ter
a	mesma	confiança	que	os	apóstolos	tinham)
8.	Que	o	rei	esteja	prevenido	para	não	agir	com	base	em	falsas	acusações:	os
inocentes	descansam	na	justiça	divina
a.	a	acusação	de	que	somos	sediciosos	é	totalmente	falsa,	pois	mesmo	no	exílio
oramos	por	sua	majestade,	e	nossa	conduta	tem	sido	exemplar
b.	se,	em	vosso	reino,	quaisquer	subversivos	organizarem	tumultos	tendo	o
evangelho	como	pretexto,	tendes	leis	e	punições	legais	para	contê-los
c.	tendes	agora	preconceito	contra	nós;	esperamos	que	este	apelo	modifique
vossa	atitude;	mas,	caso	não	o	faça,	depositamos	ainda	a	nossa	confiança	no	Rei
dos	reis
LIVRO	UM
O	conhecimento	do	Deus	Criador
CAPÍTULO	1
O	conhecimento	de	Deus	e	o	de	nós	mesmos	estão	relacionados,	e	de	que	forma	eles	se
interrelacionam
1.	Sem	o	conhecimento	de	si,	não	há	conhecimento	de	Deus
a.	nossa	verdadeira	sabedoria	é	confinada,	quase	inteiramente,	ao
(1)	conhecimento	de	Deus
(2)	conhecimento	de	nós	mesmos
b.	nossas	ricas	bênçãos,	reconhecidas	como	provenientes	de	Deus,	revelam	nossa
pobreza	e	ruína,	as	quais,	por	sua	vez,	nos	compelem	a	recorrer	a	Deus
(1)	para	buscarmos	o	que	nos	falta
(2)	para	aprendermos	humildade
c.	Não	podemos	aspirar	seriamente	ao	conhecimento	de	Deus	sem	antes
começarmos	a	ficar	insatisfeito	com	nós	mesmos
2.	Sem	o	conhecimento	de	Deus,	não	há	conhecimento	de	si
a.	se	nós	restringirmos,	hipocritamente,	nosso	olhar	a	nós	mesmos	e	não
transcendermos	para	a	contemplação	de	Deus,	enaltecemos,	complacentemente,
nossas	próprias	virtudes
b.	contudo,	no	instante	em	que	nossos	pensamentos	se	elevam	para	Deus	e	suas
excelências,	vemos	nossas	“virtudes”	como	ímpias,	tolas	e	fracas
3.	O	homem	perante	a	majestade	de	Deus
a.	exemplos	escriturísticos	da	dolorosa	consciência	do	homem	acerca	de	sua
reles	condição,	quando	confrontado	pela	majestade	de	Deus:	Jó,	Abraão,	Elias
etc.
b.	ordem	de	ensino	proposta:
(1)	conhecimento	de	Deus
(2)	conhecimento	de	nós	mesmos
CAPÍTULO	2
O	que	é	conhecer	a	Deus,	e	para	qual	finalidade	se	dirige	o	conhecimento	dele
1.	O	conhecimento	de	Deus	é,	na	prática,	reverência
a.	dois	aspectos	do	conhecimento	de	Deus
(1)	sentir	que	Deus,	nosso	Criador,	nos	sustenta	e	nos	abençoa	(a	presente
discussão)
(2)	abraçar	a	reconciliação	oferecida	a	nós	em	Cristo	(a	ser	tratada
posteriormente)
b.	a	origem	da	piedade	(santidade)
(1)	Deus,	por	seu	poder,	não	apenas	criou	e	sustenta	o	mundo,	mas	é	a	fonte	e
causa	de	tudo	o	que	é	bom	e	justo
(2)	essa	consciência	das	excelências	de	Deus	nos	ensina	a	piedade,	que	é	a	fonte
da	religião
(3)	piedade:	a	reverência,	combinada	com	o	amor	por	Deus,	que	é	induzida	pelo
conhecimento	dos	seus	benefícios
2.	O	propósito	do	conhecimento	de	Deus
a.	o	homem	não	deve	especular	“O	que	é	Deus?”,	mas,	sim,	perguntar	“Qual	é	o
seu	caráter?	O	que	condiz	com	sua	natureza?”
b.	o	propósito	do	nosso	conhecimento	de	Deus
(1)	nos	ensinar	temor	e	reverência
(2)	nos	guiar	para	buscarmos	todos	os	bens	em	Deus	e	dar-lhe	crédito	quando
recebidos
c.	a	atitude	da	mente	piedosa	em	relação	a	Deus	é	determinada	por	sua	total
dependência	dele:	“mesmo	que	não	houvesse	inferno,	ainda	se	assombraria	ao
ofendê-lo”
d.	a	definição	da	religião	pura	e	verdadeira:	a	fé,	combinada	de	tal	forma	com
um	temor	a	Deus	que	esse	temor	também	assume	uma	reverência	solícita	e
carrega	consigo	uma	adoração	legítima,	conforme	prescrito	na	lei
CAPÍTULO	3
O	conhecimento	de	Deus	foi	naturalmente	incutido	na	mente	dos	homens
1.	A	natureza	desse	dom	natural
a.	universal
(1)	existe	em	todos	os	homens	por	instinto	natural
(2)	torna	indesculpável	a	negligência	da	adoração	a	Deus
(3)	é	encontrada	mesmo	entre	os	povos	mais	selvagens
(4)	é	encontrada	em	todos	os	tempos	e	lugares
b.	a	idolatria	é	prova	dessa	universalidade
(1)	nenhum	homem	voluntariamente	humilha-se	diante	de	algo	exterior	a	si
mesmo
(2)	a	adoração	de	pau	e	pedra	testificam	da	impressão	intensa	e	inextirpável	do
divino
2.	A	religião	não	é	uma	invenção	arbitrária
a.	alguns	alegam	que	a	religião	foi	inventada	arbitrariamente	por	homens
descrentes	e	astuciosos	para	escravizar	os	mais	simples
b.	isso,	porém,	não	teria	sido	possível	se
(1)	não	existisse	uma	percepção	natural	de	deidade	na	mente	dos	homens	mais
simples
(2)	os	homens	ardilosos	não	tivessem,	eles	mesmos,	uma	vaga	ideia	da	religião
c.	provas	da	religião	existem	mesmo	entre	os	mais	ímpios
(1)	homens	se	voltam	para	a	religião	quando	estão	submetidos	à	tensão	ou
grande	medo	(e.g.,	Calígula)
(2)	como	pessoas	bêbadas	ou	frenéticas,	eles	são	irrequietos	em	seu	sono
(3)	conquanto	sua	consciência	de	Deus	varie	em	intensidade,	ela	nunca	está
totalmente	ausente
3.	Uma	verdadeira	irreligião	é	impossível
a.	uma	noção	indelével	de	divindade	está	gravada	na	mente	dos	homens
(1)	até	mesmo	a	perversidade	dos	ímpios	demonstra	isso
(2)	a	consciência	de	Deus	é	dádiva	nossa	por	nascimento,	não	uma	doutrina	a	ser
aprendida	na	escola
b.	a	adoração	de	Deus	e	a	busca	pela	similitude	distingue	o	homem	dos	animais
CAPÍTULO	4
Esse	conhecimento	é	sufocado	ou	corrompido,	em	parte	pela	ignorância,	em	parte	pela	maldade
1.	Superstição
a.	a	piedade	genuína	e	o	verdadeiro	conhecimento	de	Deus	não	se	encontram	no
mundo
(1)	alguns	intencionalmente	se	rebelam	contra	Deus
(2)	outros	perdem-se	em	superstições
b.	por	que	a	superstição	não	é	perdoável?
(1)	ela	envolve	orgulho	e	obstinação
(2)	ela	envolve,	portanto,	o	julgamento	de	Deus	a	partir	de	algum	parâmetro	tolo
e	uma	especulação	indomável	sobre	sua	natureza	e	a	forma	como	ele	deveria	ser
adorado
(3)	resumindo,	a	superstição	é	o	resultado	de	(a)	vã	curiosidade,	(b)	desejo
desregrado	de	muito	conhecimento	e	(c)	falsa	confiança;	sendo,	portanto,
inescusável
2.	Afastar-se	de	Deus	conscientemente
a.	o	significado	do	Salmo	14.1:	“Os	tolos	dizem	em	seus	corações	que	não	há
Deus”
(1)	o	pecador	embrutecido	rejeita	toda	recordação	de	Deus
(2)	ademais,	eles	negam	abertamente	a	existência	de	Deus,	não	no	sentido	de
privá-lo	de	seu	ser,	mas	ao	negar	sua	providência	e	ao	governo	sobre	o	mundo
(3)	assim,	tornam-se	cegos	em	sua	obstinação	e	negam	a	Deus
b.	eles	sentem-se	forçados	a	reconhecer	algum	deus,	mas	optam	por	fazê-lo
criando	um	ídolo	morto	e	vazio,	e	negando	o	verdadeiro	Deus
3.	Não	podemos	conceber	Deus	segundo	os	nossos	próprios	caprichos
a.	opiniões	vagas	e	equívocadas	do	divino	são	ignorância	de	Deus
(1)	não	basta,	portanto,	qualquer	religião,	mas	apenas	a	verdadeira
(2)	Deus	não	é	um	fantasma	para	ser	remodelado	de	acordo	com	o	capricho	de
alguém
(3)	na	superstição,	a	verdadeira	adoração	a	ele	é	descartada,	por	alguns,	em	favor
da	adoração	de	meros	delírios
b.	portanto,	nenhuma	religião	é	genuína	a	menos	que	seja	associada	à	verdade
4.	Hipocrisia
a.	a	falsa	religião	que	resulta	do	medo	servil	e	coercivo	do	juízo	de	Deus
(1)	tais	homens	religiosos	desejam	destronar	a	Deus	e	seu	juízo
(2)	porque	eles	percebem	que	não	o	conseguem,	eles	praticam	um	simulacro	de
religião
(3)	contudo,	apesar	de	seu	suposto	medo	de	Deus,	suas	vidas	são,	ao	mesmo
tempo,	perversas	e	ímpias
b.	contraste	entre	a	verdadeira	e	a	falsa	santidade
(1)	rebeldes	de	coração,	eles	fingem	obediência	a	Deus	em	seus	sacrifícios
insignificantes	e	seu	zelo	espúrio,	mas	suas	vidas	são	marcadas	por	franca
imoralidade
(2)	sua	confiança	não	está	em	Deus,	o	Criador,	mas	em	si	mesmos,	as	criaturas
(3)	o	resultado	é	a	cegueira	espiritual;	ainda	que	não	desapareça,	a	consciência
do	divino	fica	totalmente	corrompida
(4)	resumindo,	o	senso	de	divindade	naturalmente	gravado	no	coração	humano	é
evidenciado	pelas	orações	relutantes	e	superficiais	procedentes	dos	ímpios	em
momentos	de	crise	espiritual;	nãoobstante,	sua	obstinação	impede	que	essa
noção	de	deidade	os	conduza	à	verdadeira	religião
CAPÍTULO	5
O	conhecimento	de	Deus	resplandece	na	criação	do	universo	e	no	seu	governo	contínuo
1.	A	clareza	da	autorrevelação	de	Deus	nos	despoja	de	qualquer	desculpa
a.	assim	como	a	consciência	da	deidade	divinamente	implantada,	a	revelação
diária	do	Senhor	na	operação	do	universo	visa	nos	oferecer	o	conhecimento	de
Deus;	essa	é	a	finalidade	última	de	uma	vida	abençoada
b.	embora	a	essência	de	Deus	seja	inefável	para	o	homem,	as	marcas	de	sua
glória	na	natureza	são	tão	óbvias	que	nem	mesmo	os	homens	rudes	e	ignorantes
são	desculpáveis
c.	como	a	Escritura	continuamente	afirma,	se	você	abrir	seus	olhos	para	o	vasto	e
belo	tecido	do	universo,	você	vê,	como	em	um	espelho,	o	Deus	que,	fora	isso,	é
invisível
2.	A	sabedoria	de	Deus	não	permanece	oculta	para	ninguém
a.	as	artes	e	ciências	humanas,	por	meio	de	sua	observação	atenta	da	natureza,
proporcionam	aos	homens	um	vislumbre	mais	profundo	nos	mistérios	da
sabedoria	divina
b.	contudo,	mesmo	para	os	incultos,	há	mais	do	que	o	suficiente	no	mundo
natural	para	revelar-lhes	a	sabedoria	divina;	a	estrutura	do	corpo	humano	o
revela
3.	O	homem	é	a	mais	sublime	prova	da	sabedoria	divina
a.	o	homem	é	corretamente	chamado	de	microcosmo;	ele	é	um	exemplo	raro	do
poder,	bondade	e	sabedoria	de	Deus
b.	visto	que	não	há	necessidade	de	sairmos	de	nós	mesmos	para	encontrarmos	a
Deus,	nós	não	temos	absolutamente	nenhuma	desculpa
c.	a	Escritura	e	os	escritores	pagãos	igualmente	afirmam	a	paternidade	de	Deus
sobre	os	homens,	os	quais,	enquanto	filhos	seus,	demonstram	suas	grandes
dádivas;	nós	devemos,	portanto,	ser	compelidos	a	amá-lo	e	adorá-lo	em
retribuição
4.	Os	homens,	ingratos,	porém,	se	voltam	contra	Deus
a.	apesar	da	fonte	divina	desses	dons,	os	homens,	em	orgulho	e	amor-próprio,
sufocam	o	impulso	de	adorar	a	Deus;	eles	ficam	com	o	crédito	para	si	mesmos
b.	os	ateus,	apesar	de	provas	eloquentes	de	Deus	em	seus	próprios	corpos,	o
rejeitam	e	o	substituem	pela	“natureza”
5.	A	confusão	da	criatura	com	o	Criador
a.	alguns	negam	a	imortalidade	da	alma,	tomando	a	natureza	como	fundamento
(1)	eles	afirmam	que	a	alma	não	pode	subsistir	separada	do	corpo
(2)	pelo	contrário	—	nos	usos	mais	elevados	da	razão	humana	não	existe	uma
contrapartida	corpórea,	e	esses	constituem	sinais	de	imortalidade	divinamente
comunicados
(3)	se,	portanto,	o	homem	é	divino,	somos,	então,	compelidos	a	reconhecer	seu
Criador	e	a	ver	no	engenho	e	nas	artes	humanas	uma	origem	superior	divina
b.	alguns	também	atribuem	à	natureza	sua	própria	criação
(1)	especulações	ociosas	sobre	uma	“mente	universal”	devem	ser	rejeitadas
(2)	a	natureza	não	é	Deus,	mas	sim	a	ordem	prescrita	por	ele
c.	consequentemente,	não	devemos	confundir	Deus	com	a	operação	inferior	de
suas	obras
6.	O	Criador	revela	seu	senhorio	sobre	a	criação
a.	Deus,	enquanto	Senhor	da	criação	e	doador	de	todos	os	dons,	deseja	que	nós
olhemos	para	ele,	dirijamos	nossa	fé	a	ele,	adoremos	e	recorramos	a	ele
b.	os	fenômenos	naturais	(as	obras	de	Deus	dentro	do	curso	ordinário	da
natureza)	testemunham	de	seu	poder
c.	seu	poder	nos	conduz	à	sua	eternidade
d.	sua	eternidade	demonstra	que	ele	é	fonte	e	mantenedor	de	todas	as	coisas
e.	sua	criação	e	a	preservação	de	todas	as	coisas	são	resultado	de	sua	bondade
f.	sua	bondade,	a	causa	única	da	Criação,	deve	ser	mais	do	que	o	suficiente	para
nos	atrair	para	o	seu	amor
7.	O	governo	e	o	juízo	de	Deus
a.	há	provas	ainda	maiores	das	excelências	de	Deus	naquelas	suas	obras	que
transcorrem	fora	do	curso	ordinário	da	natureza
b.	Deus	mostra	sua	misericórdia	ao	lidar	com	a	sociedade	humana;	contudo,
mostra	diariamente	sua	bondade	para	com	os	santos	e	sua	severidade	para	com
os	ímpios
c.	ainda	que	os	ímpios	pareçam	prosperar	momentaneamente	e	os	santos
pareçam	sofrer,	devemos	reconhecer
(1)	sempre	que	Deus	pune	um	pecado	nesta	vida,	ele	está	mostrando	que	odeia
todos	os	pecados	e	que	os	punirá,	todos,	no	juízo
(2)	por	sua	bondade	universal	para	com	os	pecadores,	ele	está	tentando	demovê-
los	de	sua	impiedade
8.	A	soberania	de	Deus	domina	a	vida	dos	homens
a.	os	livramentos	aparentemente	fortuitos	dos	homens,	de	perigos	e	tribulações,
mencionados	nos	Salmos,	são	provas	da	providência	e	bondade	paternal	de
Deus,	mas	a	maioria	de	nós	é	demasiadamente	cega	para	vê-las
b.	o	poder	e	a	sabedoria	de	Deus	são	vistos	na	destruição	dos	ímpios	e	de	suas
obras,	e	em	sua	restauração	e	exaltação	dos	humildes	e	oprimidos	—	ambos	os
procedimentos	sendo	calculados	e	ajustados	à	situação	humana
9.	Não	devemos	tentar	perscrutar	a	essência	de	Deus;	antes,	contemplá-lo	em
suas	obras
a.	o	conhecimento	de	Deus	para	o	qual	somos	chamados	não	é	uma	especulação
vazia,	mas	um	conhecimento	sólido	e	fértil	que	se	enraíza	em	nosso	coração
b.	a	maneira	perfeita	de	buscar	a	Deus
(1)	não	tentar,	por	curiosidade	audaciosa,	perscrutar	sua	essência	(que	é	objeto
de	adoração,	e	não	de	investigação)
(2)	contemplá-lo	em	suas	obras,	pelas	quais	ele	se	revela	intimamente	a	nós
10.	O	propósito	desse	conhecimento	de	Deus
a.	o	propósito	é	duplo:
(1)	erguer-nos	em	adoração	a	Deus
(2)	encorajar-nos	à	esperança	da	vida	eterna
b.	notamos	que,	na	vida	presente,	os	exemplos	de	sua	clemência	e	severidade	são
incompletos,	assegurando-nos,	assim,	de	uma	outra	vida,	na	qual	a	iniquidade
terá	sua	punição;	e	a	justiça,	sua	recompensa
c.	as	obras	de	Deus	nos	dão,	na	forma	de	um	retrato,	um	conhecimento	de	suas
perfeições
d.	nós,	porém,	só	compreendemos	seu	propósito	principal,	valor	e	a	razão	pela
qual	devemos	ponderá-los,	quando	mergulhamos	em	nós	mesmos	e
contemplamos:
(1)	sua	vida,	sabedoria	e	virtude	em	nossas	vidas
(2)	sua	justiça,	bondade	e	misericórdia	em	sua	conduta	para	conosco
11.	Os	anúncios	que	recebemos	da	Criação	de	Deus	não	cumprem	seu	propósito
a.	nossa	resposta	a	esses	testemunhos	radiantes	na	ordem	da	natureza	é	tosca
(1)	muito	poucos,	ao	contemplar	o	céu	e	a	terra,	pensam	sobre	seu	Criador
(2)	a	maioria	nem	reage
b.	ao	considerarmos	aqueles	eventos	que	se	passam	fora	do	curso	da	natureza,
nos	inclinamos	mais	para	o	acaso	do	que	para	a	providência	de	Deus	como
explicação
(1)	quando	eventos	nos	compelem	a	cogitar	algum	sentimento	de	divindade,	nós
logo	nos	retiramos	em	nossos	próprios	delírios	e	fantasias
(a)	cada	um	de	nós	forja	sua	própria	forma	peculiar	de	erro	pessoal
(b)	todos	nós,	porém,	abandonamos	o	Deus	verdadeiro	em	favor	de	frivolidades
prodigiosas	(isso	é	verdadeiro	até	para	homens	cultos,	como	Platão)
(2)	quando	o	governo	dos	eventos	humanos	revela	a	providência,	nós,	em
leviandade	e	erro,	o	explicamos	em	termos	de	vontade	cega	do	destino
12.	Os	anúncios	de	Deus	são	asfixiados	pelas	superstições	humanas	e	pelos	erros
dos	filósofos
a.	não	apenas	nações,	mas	também	homens	individuais,	em	sua	cegueira	mental,
vieram	a	ter	seus	próprios	deuses
b.	não	apenas	os	incultos,	mas	também	os	próprios	filósofos	eruditos	mostram	a
variedade	vergonhosa	dos	esforços	humanos	de	perscrutar	os	céus
(1)	quando	mais	elevadas	sua	arte	e	perspicácia,	mais	camuflados	e	enganosos
são	seus	ídolos
(2)	nenhum	mortal	jamais	inventou	qualquer	coisa	que,	basicamente,	não
corrompesse	a	religião;	os	estoicos	e	os	egípcios	testemunham	disso
(3)	as	divergências	inevitáveis	acerca	dessas	concepções	pessoais	errôneas	de
Deus	levaram	os	epicureus	e	outros	a	lançarem	fora,	impiamente,	toda	a
percepção	de	Deus
c.	aparentemente,	se	os	homens	aprendessem	apenas	pela	natureza,	eles	não	se
apegariam	a	nada	certo,	sólido	ou	nítido,	mas	ficariam	presos	a	princípios
confusos	de	tal	forma	a	adorarem	um	Deus	desconhecido
13.	O	Espírito	Santo	rejeita	todos	os	cultos	forjados	por	homens
a.	o	Espírito	Santo	proclama	apóstatas,	que	substituíram	Deus	por	demônios,	a
todos	os	homens	que	corrompem	a	religião	pura	ao	abraçarem	suas	próprias
opiniões
b.	até	mesmo	a	concepção	clássica	de	que	a	adoração	religiosa	deve	se
conformar	às	tradições	de	um	dado	país	ou	cidade	é	um	vínculo	de	piedade
muito	fraco	e	frágil	para	serseguido	na	adoração	a	Deus
c.	consequentemente,	cabe	ao	próprio	Deus	testemunhar	de	si	mesmo	dos	céus
14.	As	evidências	de	Deus	na	natureza	falam	conosco	em	vão
a.	desassistidas,	essas	evidências	não	podem	nos	conduzir	a	Deus
b.	como	Paulo	ensina,	nossos	olhos	permanecem	cegos	para	elas	até	que	sejam
iluminados	pela	revelação	interna	de	Deus	por	meio	da	fé
15.	Nossa	impotência	é	culpada
a.	nós	não	podemos	alegar	ignorância	como	desculpa	por	nosso	fracasso	em
seguir	essas	evidências	até	o	conhecimento	de	Deus,	quando	até	mesmo	as
criaturas	mudas	e	irracionais	proclamam	sua	glória
b.	tal	instrução	é	insuficiente,	pois	somos	levados,	a	partir	do	sutil	sabor	de
divindade	que	ela	nos	dá,	a	adorarmos	os	sonhos	e	espectros	de	nossos	próprios
cérebros,	usurpando	de	Deus	a	adoração	que	lhe	devemos
CAPÍTULO	6
A	Escritura	é	necessária	como	guia	e	mestra	para	qualquer	um	que	queira	alcançar	o	Deus	Criador
1.	Deus	nos	outorga	o	verdadeiro	conhecimento	de	si	mesmo	somente	pelas
Escrituras
a.	apesar	do	desvelar	universal	de	Deus	no	esplendor	da	terra	e	do	céu,	nós
carecemos	de	outro	auxílio	melhor	para	nos	dirigir	ao	Criador
b.	tal	auxílio	é	encontrado	na	Palavra	de	Deus
(1)	inicialmente,	impediu	os	judeus	de	caírem	no	esquecimento	e,	agora,	mantém
os	cristãos	no	puro	conhecimento	dele	próprio
(2)	dissipa	nossa	debilidade	assim	como	os	óculos	ampliam	a	página	impressa
para	os	leitores	de	vistas	fracas
c.	os	dois	estágios	do	conhecimento	que	a	Escritura	nos	dá
(1)	o	conhecimento	de	Deus	enquanto	Criador	(a	presente	discussão):	não	apenas
que	nós	devemos	adorar	algum	Deus,	mas	que	é	ele	o	Deus	que	devemos	adorar
(2)	o	conhecimento	de	Deus	enquanto	Redentor	(a	ser	tratado	no	Livro	Dois)
d.	a	proposta	da	análise
(1)	o	presente	tópico:	como	a	Escritura	nos	ensina	que	Deus,	o	Criador	do
universo,	pode	ser	discernido,	por	aspectos	precisos,	da	multidão	de	deuses
espúrios
(2)	subsequentemente,	procederemos	a	uma	discussão	da	redenção	em	Cristo
2.	A	Palavra	de	Deus	como	Sagrada	Escritura
a.	a	transmissão	inviolável	da	verdade	através	de	todas	as	eras
(1)	Deus	comunicou	aos	patriarcas	o	que	eles	deveriam	legar	para	a	posteridade,
por	meio	de	oráculos	e	visões	ou	pelas	obras	e	ministérios	de	homens
(2)	esses	oráculos	foram	posteriormente	registrados,	quando	a	lei	foi	anunciada
(3)	mais	tarde,	profetas	foram	acrescentados	como	intérpretes	da	lei
b.	a	verdadeira	religião	(tanto	a	fé	quanto	o	correto	conhecimento)	tem	sua
origem	em	doutrinas	celestes,	as	quais	nós	só	podemos	conhecer	por	meio	do
estudo	reverente	da	Escritura	e	da	aceitação	obediente	do	que	aprouve	a	Deus
revelar	ali	de	si	mesmo
3.	Sem	a	Escritura,	caímos	no	erro
a.	a	inclinação	poderosa	do	homem	para	se	afastar	de	Deus	tornou	a	evidência
escrita	da	doutrina	celeste	muito	necessária
b.	a	Palavra	verdadeira	e	vividamente	nos	descreve	Deus	a	partir	de	suas	obras
c.	se	abandonarmos	o	caminho	escriturístico,	vagaremos	sempre	pelo	erro	e
nunca	chegaremos	ao	nosso	propósito
4.	A	Escritura	pode	nos	comunicar	o	que	a	revelação	nas	obras	não	pode
a.	Davi	nos	ensina	que,	como	Deus	chama,	em	vão,	todas	as	pessoas	para	si
mesmo	por	meio	da	contemplação	do	céu	e	da	terra,	a	lei	constitui	a	única	escola
dos	filhos	de	Deus
b.	este	é,	também,	o	significado	do	ensinamento	de	Jesus	à	mulher	samaritana
CAPÍTULO	7
A	Escritura	deve	ser	confirmada	pelo	testemunho	do	Espírito.	Sua	autoridade,	portanto,	pode	ser
estabelecida	como	certa;	trata-se	de	uma	falsidade	perversa	dizer	que	sua	credibilidade	depende	do
julgamento	da	igreja
1.	A	Escritura	deriva	sua	autoridade	de	Deus,	não	da	igreja
a.	a	Escritura	tem	autoridade	plena	somente	à	medida	que	homens	a	consideram
como	a	Palavra	viva	de	Deus	oriunda	do	céu
b.	é	um	erro	pernicioso	afirmar	que	a	autoridade	da	Escritura	repousa	sobre	a
determinação	da	igreja
c.	isso	está	baseado	na	noção	absurda	de	que	as	promessas	da	vida	eterna
oferecidas	na	Escritura	consistem	no	julgamento	humano	e	dependem
exclusivamente	dele
2.	A	igreja	em	si	está	fundamentada	na	Escritura
a.	Efésios	2.20
b.	a	alegação	de	que	os	escritos	proféticos	e	apostólicos	permanecem	sob	dúvida
até	que	a	igreja	decida	sobre	sua	autenticidade	é	refutada	pelo	fato	de	que	a
aceitação	da	Escritura	precisava	preceder	à	fundação	da	igreja
c.	a	Escritura	exibe	claras	evidências	de	sua	própria	veracidade	e	não	precisa	de
testemunhas	externas
3.	Agostinho	não	pode	ser	citado	como	contraevidência
a.	a	afirmação	de	Agostinho,	de	que	ele	não	teria	acreditado	no	evangelho	se	a
autoridade	da	igreja	não	o	movesse	a	tanto,	deve	ser	interpretada	à	luz	de	seu
contexto
(1)	ele	está	aqui	refutando	os	maniqueus,	que	usavam	o	evangelho	como	um
disfarce	para	promover	a	fé	em	Mani
(2)	o	que	conduz	descrentes	ao	evangelho?	A	igreja,	por	sua	autoridade,	introduz
o	evangelho	aos	descrentes,	mas	a	veracidade	do	evangelho	não	depende	dela
b.	em	outras	palavras,	a	autoridade	da	igreja	é	uma	introdução	por	meio	da	qual
nós	somos	preparados	para	a	fé	no	evangelho;	essa	interpretação	da	afirmação	de
Agostinho	é	corroborada	por	seu	ensino	em	outras	obras
4.	O	testemunho	do	Espírito	Santo:	maior	do	que	todas	as	“provas”
a.	quando	estamos	convencidos	de	que	Deus	fala	em	pessoa	na	Escritura,	temos
a	mais	alta	prova	da	credibilidade	da	sagrada	doutrina
b.	essa	convicção	nos	advém	não	por	meros	argumentos,	juízos	ou	conjecturas
humanas,	mas	do	testemunho	secreto	do	Espírito
c.	é	a	majestade	de	Deus	reluzindo	a	partir	da	Escritura,	e	não	as	provas
racionais,	que	nos	informa	sobre	sua	origem	divina
d.	embora	homens	céticos	demandem	tais	provas	para	evitar	crenças	tolas	e
levianas,	defender	a	Escritura	por	meio	de	disputas	é	fazer	as	coisas	às	avessas,
pois	o	testemunho	do	Espírito	é	mais	excelente	do	que	todos	os	argumentos
e.	a	Palavra	não	encontrará	aceitação	no	coração	dos	homens	até	que	seja	selada
ali	pelo	testemunho	interno	do	Espírito,	o	mesmo	Espírito	que	falou	por	meio
dos	lábios	dos	profetas
5.	A	Escritura	carrega	sua	própria	autenticação:	αὐτόπιστον
a.	nossa	convicção	de	que,	na	Escritura,	temos	a	verdade	irrefutável,
fundamenta-se	no	testemunho	do	Espírito	em	nosso	coração
b.	“Não	falo	de	nada	que	cada	um	dos	fiéis	não	vivencie	em	si	mesmo…”
c.	somente	os	eleitos	de	Deus	vivenciam	esse	privilégio	singular,	e	é	assegurada
a	eles,	não	à	multidão,	a	capacidade	de	compreender	os	mistérios	de	Deus
CAPÍTULO	8
Até	onde	alcança	a	razão	humana,	provas	suficientemente	sólidas	estão	à	disposição	para	estabelecer
a	credibilidade	da	Escritura
1.	A	Escritura	é	superior	a	toda	sabedoria	humana
a.	uma	vez	que	aceitamos	a	autenticação	da	Escritura	pelo	Espírito,	as	provas
que	anteriormente	eram	inúteis	tornam-se	subsídios	muito	úteis	para	nos	ajudar
na	compreensão	da	Escritura
b.	a	magnificência	do	assunto,	e	não	a	graciosidade	da	linguagem,	nos	leva	à
admiração	da	Escritura
(1)	sabiamente,	Deus	manifestou	grandes	temas	em	linguagem	simples	para	nos
lembrar	de	que	o	poder	da	Escritura	reside	em	sua	fonte	divina,	e	não	na
eloquência	humana
(2)	por	mais	encantados	que	fiquemos	pela	elegância	de	autores	clássicos	como
Demóstenes	ou	Cícero,	Platão	ou	Aristóteles,	nós	saímos	do	encanto	para	o
poder	esmagador	da	Escritura,	que	faz	aquelas	impressões	se	dissiparem
2.	O	conteúdo	é	decisivo,	e	não	o	estilo
a.	o	fato	de	que	alguns	dos	profetas	tivessem	um	estilo	eloquente	demonstra	que
o	Espírito	não	carece	de	eloquência
b.	ainda	assim,	nos	outros	profetas,	apesar	de	seu	estilo	rústico,	a	majestade	de
Deus	está	igualmente	presente
c.	Satanás	imita	até	mesmo	esse	estilo	rude	e	arcaico	para	aprisionar	almas,	mas
até	mesmo	os	homens	moderadamente	sensíveis	percebem	esse	engodo
d.	aqueles	para	quem	os	profetas	insossos	não	possuem	órgãos	gustativos
Evidências	do	Antigo	Testamento	[3-10]
3.	A	notável	antiguidade	da	Escritura
a.	a	teologia	egípcia	e	todas	as	outras	religiões	são	muito	mais	recentes	do	que	a
era	de	Moisés
b.	Moisés,	na	verdade,	estava	reiterando	um	pacto	celebrado	quatrocentos	anos
antes,	com	Abraão
c.	a	Escritura,	portanto,	ultrapassatodos	os	outros	escritos	em	antiguidade
4.	A	veracidade	da	Escritura	demonstrada	pelo	exemplo	de	Moisés
a.	é	desnecessário	refutar	a	alegação	egípcia	de	uma	história	que	antecede	a
Criação	em	seis	mil	anos
b.	a	franqueza	de	Moisés	acerca	de	Levi,	Aarão	e	Miriam,	que	vai	contra	os
sentimentos	da	carne;	o	ter	relegado	seus	próprios	filhos	ao	estrato	social	mais
baixo	(excluindo-os	do	sacerdócio)	e	outros	exemplos	provam	a	origem	divina
do	que	ele	escreveu
5.	Milagres	fortalecem	a	autoridade	dos	mensageiros	de	Deus
a.	os	eventos	miraculosos	do	Êxodo,	com	Moisés,	demonstram	que	ele	foi
profeta	inconteste	de	Deus
b.	como	todas	essas	coisas	foram	proclamadas	diante	da	congregação,	não	houve
oportunidade	de	fraude	perante	as	testemunhas	dos	eventos
6.	Os	milagres	de	Moisés	são	incontestáveis
a.	ao	lado	dos	milagres,	são	mencionadas	coisas	controversas	que	atiçariam	a
hostilidade	do	povo	se	eles	não	os	tivessem	vivenciado
b.	para	combater	o	fato	irrefutável	de	que	Moisés	realizou	os	milagres,	Satanás
os	atribuiu,	falsamente,	às	artes	mágicas	—	uma	acusação	suficientemente
refutada	pelos	mais	rigorosos	testes	aos	quais	Deus	submeteu	Moisés
7.	Profecias	[de	Moisés]	que	se	cumpriram	em	oposição	a	toda	expectativa
humana
a.	a	futura	primazia	de	Judá:	a	profecia	antecipa	a	unção	de	um	pastor	humilde
da	tribo	de	Judá:	Davi
b.	a	participação	final	dos	gentios	no	pacto	de	Deus:	a	profecia	antecipa	eventos
de	quase	dois	mil	anos	depois
c.	concluindo,	o	cântico	de	Moisés	(Dt	32)	é	um	espelho	límpido	no	qual	Deus
aparece	claramente
8.	Deus	confirmou	as	palavras	do	profeta
a.	exemplos	de	Isaías
(1)	prenúncio	da	queda	de	Jerusalém	para	os	caldeus
(2)	também	profetizou	a	libertação	dos	caldeus	por	Ciro	(nascido	100	anos
depois	da	morte	de	Isaías)
b.	exemplos	de	Jeremias	e	Ezequiel:
(1)	profecia	do	exílio	de	setenta	anos	de	duração,	do	regresso	e	da	restauração
(2)	embora	separados	geograficamente,	Jeremias	e	Ezequiel	concordam	em	suas
afirmações
c.	Daniel	também	profetizou	como	se	estivesse	escrevendo	a	história	de	eventos
comumente	conhecidos
9.	Deve-se	confiar	na	transmissão	da	lei
a.	alguns	questionam,	irracionalmente,	a	autenticidade	da	autoria	da	Escritura,
mas	aceitam	cegamente	a	genuinidade	dos	autores	clássicos
b.	a	mão	da	providência	divina	vista	na	preservação	da	lei	e	de	sua	redescoberta
pelo	rei	Josias,	após	a	negligência	dos	sacerdotes
c.	os	escritos	sagrados	foram	transmitidos	pelos	patriarcas	que	vivenciaram	os
eventos	ali	descritos	ou	ouviram	deles	de	seus	pais	e	mantiveram-nos	frescos	em
suas	memórias
10.	Deus	preservou	maravilhosamente	a	lei	e	os	profetas
a.	detratores	da	Escritura	afirmam	que,	depois	que	Antíoco	ordenou	que	todos	os
livros	fossem	queimados	(1Mac	1:56-57),	eles	foram	substituídos,	na	sequência,
por	falsificações
b.	o	cuidado	que	o	Senhor	tomou	para	preservar	sua	Palavra	revela	que	isso	é
uma	falsa	acusação:
(1)	ele	armou	os	sacerdotes	para	preservarem	as	Escrituras	com	sua	própria	vida,
se	preciso	fosse
(2)	ele	garantiu	que	os	livros	sagrados	retornassem	para	um	lugar	de	honra
amplamente	aprimorado,	agora	traduzidos	para	o	grego	e	disseminados	por	todo
o	mundo
(3)	apesar	das	vicissitudes	dos	judeus,	os	livros	mantiveram-se	a	salvo	e	intactos
(4)	embora	os	judeus,	durante	a	Restauração,	quase	tivessem	a	língua	hebraica
obliterada,	os	antigos	livros	hebreus	perduraram
(5)	Deus	escolheu	os	judeus,	os	mais	violentos	inimigos	de	Cristo,	para	nos
preservar	a	doutrina	da	salvação	até	que	ela	pudesse	ser	manifesta	nele
Provas	do	Novo	Testamento	e	da	história	da	igreja	[11-13]
11.	Os	mistérios	celestes	foram	transmitidos	por	homens	incultos
a.	os	primeiros	três	evangelistas,	criticados	por	alguns	por	seu	estilo	humilde,
estão	discursando,	na	verdade,	sobre	mistérios	celestes	acima	da	capacidade
humana
b.	isso	é	especialmente	verdadeiro	sobre	o	Evangelho	de	João,	mas	também	pode
ser	dito	dos	escritos	de	Paulo	e	Pedro
c.	esses	autores,	em	sua	maioria	homens	rudes	e	incultos,	repentinamente
começaram	a	falar	de	mistérios	celestes	—	prova	empírica	de	sua	instrução	pelo
Espírito
12.	A	igreja,	em	todos	os	tempos	e	lugares,	agarrou-se	à	Escritura,	apesar	da
oposição
a.	a	constante	obediência	à	Escritura	por	homens	de	muitas	épocas,	apesar	de
Satanás	e	o	mundo	terem	tentado	seu	melhor	para	impedi-la,	é	testemunha	de
uma	proteção	sobre-humana
b.	o	poder	divino	é	visto	também	na	aceitação	da	Escritura	por	muitas	nações
amplamente	espalhadas	e	que,	fora	isso,	não	têm	nada	em	comum
13.	O	sangue	dos	mártires
a.	motivos	para	segurança	na	postura	heroica	dos	mártires	cristãos
b.	a	fé	deles	não	é	de	um	excesso	fanático,	mas,	sim,	um	zelo	firme	e	constante,
ainda	que	sóbrio,	para	com	Deus
Síntese:	todas	as	provas	aludidas	não	podem	substituir	o	testemunho	do	Espírito
a.	apesar	de	eloquentes,	essas	provas	não	são	fortes	o	suficiente,	por	si	mesmas,
para	produzir	uma	fé	firme
b.	até	que	os	homens	recebam	confirmação	da	persuasão	interna	do	Espírito,	é
inútil	tentar	provar	aos	descrentes	que	a	Escritura	é	a	Palavra	de	Deus
CAPÍTULO	9
Ao	abandonarem	a	Escritura	e	se	atirarem	na	revelação,	os	fanáticos	lançam	fora	todos	os	princípios
da	santidade
1.	Os	fanáticos	erroneamente	apelam	para	o	Espírito	Santo
a.	os	libertinos,	sentindo	que	se	libertaram	da	“letra	que	mata”,	rejeitam	a
Escritura	em	favor	da	inspiração	do	Espírito
b.	os	apóstolos,	na	igreja	primitiva,	ainda	que	iluminados	pelo	Espírito	de	Cristo,
nem	por	isso	trataram	a	Palavra	de	Deus	com	desprezo
(1)	sua	atitude	reverente	foi	prevista	em	Isaías	59.21
(2)	e	testemunhada	por	Paulo,	o	qual,	apesar	de	sua	experiência	extática	(2Co
12.2),	insiste	no	conhecimento	da	lei	e	dos	profetas
c.	a	tarefa	do	Espírito	não	é	fantasiar	um	novo	tipo	de	doutrina	que	afaste	do
evangelho
2.	O	Espírito	Santo	é	reconhecido	por	sua	concordância	com	a	Escritura
a.	para	nos	beneficiarmos	do	Espírito	de	Deus,	devemos	nos	dedicar	à	leitura	e
observação	da	Escritura
b.	qualquer	espírito	que	nos	imponha	uma	doutrina	que	não	seja	a	da	Palavra	de
Deus	é	falso	e	mentiroso
c.	os	libertinos	alegam	que	não	é	digno	do	Espírito	(ao	qual	todas	as	coisas
deveriam	se	sujeitar)	sujeitar-se	à	Escritura,	mas	isso	é	julgá-lo	por	critérios
inferiores	aos	dele	mesmo,	sendo	que	ele	deve	ser	comparado	somente	consigo
d.	ele	é	o	autor	da	Escritura,	e	na	Escritura	a	sua	imagem	está	estampada
3.	Palavra	e	Espírito	coexistem	inseparavelmente
a.	aludem,	falsamente,	à	rejeição	de	Paulo	da	“letra	que	mata”;	essa	afirmação
não	rejeita	as	Escrituras,	mas	insiste	em	que	o	Espírito	Santo	habita	de	tal	forma
em	sua	verdade,	a	qual	ele	expressa	na	Escritura,	que	somente	quando	a
reverência	e	dignidade	adequadas	são	prestadas	à	Palavra	é	que	ele	manifesta	o
seu	poder
b.	a	certeza	da	Palavra	e	a	certeza	do	Espírito	unidas	por	um	vínculo	mútuo
(1)	a	luz	do	Espírito	se	extingue	quando	profecias	são	tomadas	com	desprezo
(2)	contraste	entre	a	rejeição	desastrada	da	Palavra	de	Deus	por	parte	desses
entusiastas	arrogantes	e	a	sobriedade	dos	filhos	de	Deus,	que	colocam	sua
segurança	na	iluminação	do	Espírito	Santo	e	no	seu	instrumento,	as	Escrituras
CAPÍTULO	10
A	Escritura,	para	corrigir	todas	as	superstições,	estabeleceu	o	único	Deus	verdadeiro,	contra	todos	os
deuses	dos	pagãos
1.	A	doutrina	escriturística	do	Deus	Criador
a.	o	conhecimento	de	Deus	manifesto	no	universo	criado	é	condizente	com
aquele	expresso	na	Palavra?
(1)	essa	questão	é	muito	extensa	para	uma	discussão	completa	aqui
(2)	o	propósito	agora	é	simplesmente	oferecer	um	índice	do	que	se	deve	buscar
nas	Escrituras	e	como	fazê-lo
b.	os	limites	da	presente	discussão
(1)	o	pacto	com	Israel,	culminando	no	advento	do	Redentor,	não	será
considerado	no	momento
(2)	antes,	serão	apontadas	aquelas	passagens	escriturísticas	que	descrevem	como
Deus,	o	Criador	do	céu	e	da	terra,	governa	o	mundo	—	sua	bondade,	sua	justa
vingança,	sua	longanimidade
2.	Os	atributos	de	Deus,	segundo	a	Escritura,	condizem	com	aqueles	conhecidos
em	suas	criaturas
a.	passagens	escriturísticas	não	nos	mostramcomo	ele	é	em	si	mesmo,	mas	como
ele	é	com	relação	a	nós:	ele	age	com	gentileza,	bondade,	misericórdia,	justiça,
juízo	e	verdade
(1)	Êxodo	34.6-7
(2)	Salmos	145
(3)	Jeremias	9.24	(1Co	1.31)
b.	o	propósito	desse	conhecimento	escriturístico	de	Deus:	temor	—	confiança	—
adoração	verdadeira	—	plena	dependência	dele
3.	Até	mesmo	adoradores	de	ídolos	sabiam	da	unidade	de	Deus
a.	a	Escritura	rejeita	todos	os	deuses	dos	pagãos
b.	os	politeístas	nunca	perderam	completamente	a	noção	de	que	existia,	na
verdade,	somente	um	Deus
(1)	assim,	sua	insistência	no	politeísmo	é	evidência	de	sua	frivolidade	e	dos
enganos	de	Satanás,	e	é	indesculpável
(2)	todos,	desde	a	multidão	grosseira	até	os	filósofos	sofisticados,	corromperam
a	verdade	de	Deus
CAPÍTULO	11
É	ilícito	atribuir	uma	forma	visível	a	Deus,	e	qualquer	um	que	erija	imagens	geralmente	abandona	o
Deus	verdadeiro
Refutação	daqueles	que	atribuem	uma	forma	visível	a	Deus	[1-7]
1.	Somos	proibidos	quanto	a	toda	representação	pictórica	de	Deus
a.	todos	os	gêneros	de	especulação	humana	a	respeito	da	deidade,	seja	de
filósofos	ou	de	pessoas	comuns,	estão	agrupadas	como	idolatria	pela	Escritura
b.	nos	Dez	Mandamentos,	a	proibição	de	fabricar	ídolos	resulta	diretamente	da
insistência	sobre	a	unidade	de	Deus
c.	a	tendência	universal	de	associar	uma	forma	visível	a	Deus	é	totalmente
repudiada;	não	se	admite	graus	de	verdade	quanto	às	imagens
2.	Toda	representação	figurativa	de	Deus	contradiz	o	seu	ser
a.	Moisés,	Isaías	e	Paulo	falam	abertamente	contra	as	imagens	visíveis	de	Deus,
que	desonram	sua	majestade
b.	até	mesmo	pagãos	iluminados,	como	Sêneca,	condenam	isso
c.	a	alegação	absurda	dos	defensores	de	imagens,	de	que	os	judeus	foram
proibidos	de	fabricá-las	porque	eram	inclinados	à	superstição
3.	Nem	mesmo	sinais	diretos	da	presença	divina	justificam	as	imagens
a.	tais	manifestações	diretas	da	presença	divina,	como	aparecem	na	Escritura,
têm	por	objetivo	conter	a	curiosidade	dos	homens,	ensiná-los	da	invisibilidade
de	Deus	ou	prenunciar	a	futura	revelação	de	Deus	em	Cristo
b.	o	Querubim	do	propiciatório	era	parte	da	pedagogia	da	antiga	aliança	e	não
cabe	na	nossa	época	espiritual	mais	madura
c.	Juvenal,	um	pagão,	tinha	mais	lucidez	do	que	os	papistas	(que	defendem
imagens,	fundamentados	no	Antigo	Testamento)	quando	censurava	os	judeus	por
adorarem	meras	nuvens	e	as	divindades	do	céu
d.	devemos	reconhecer	nossa	grande	inclinação	para	a	idolatria,	um	vício
comum	não	restrito	aos	judeus
4.	Imagens	e	figuras	são	contrárias	à	Escritura
a.	a	tendência	absurda	de	fabricar	deidades	a	partir	de	matéria	morta	—	apontada
tanto	na	Escritura	quanto	nos	poetas	pagãos	—	é	algo	natural	do	homem
b.	a	Escritura	abertamente	condena	aqueles	que	confeccionam	seus	deuses	com
suas	próprias	mãos
c.	a	tolice	da	distinção	dos	gregos,	entre	“semelhança”	e	“imagem	esculpida”,
totalmente	refutada	pela	Escritura
5.	A	Escritura	rejeita	que	imagens	sejam	os	“livros	dos	incultos”
a.	Gregório,	o	Grande,	caracteriza	imagens	como	os	livros	dos	incultos
b.	os	profetas	ensinam	que	qualquer	coisa	de	Deus	apreendido	a	partir	de1q2a
imagens	é	inútil	e	falso,	porque	os	dois	se	opõem	terminantemente
c.	quando	rejeitamos	a	visão	dos	papistas,	estamos	somente	repetindo,	verbatim,
o	ensino	dos	profetas
6.	Os	doutores	da	igreja	também	as	rejeitam	parcialmente
a.	Lactâncio,	Eusébio	e	o	Concílio	de	Elvira,	especialmente,	são	claros	nesse
ponto
b.	Também	a	esse	respeito,	Agostinho	cita	o	pagão	Varrão	de	forma	marcante:
(1)	as	imagens	não	originaram	os	erros	acerca	de	Deus,	mas	os	proliferaram
(2)	ademais,	elas	reduziram	o	temor	a	Deus
c.	que	os	homens	conheçam	a	Deus,	portanto,	a	partir	de	alguma	outra	fonte	que
não	as	imagens
7.	As	imagens	dos	papistas	são	inteiramente	inapropriadas
a.	a	ideia	de	“livros	dos	incultos”	é	refutada	pela	Escritura
b.	os	papistas	representam	até	mesmo	os	santos	e	mártires	indecentemente:	que
eles	os	retratem	de	forma	mais	modesta	se	esses	devem	ser	“livros	de	santidade”
c.	nem	mesmo	existiriam	“incultos”	se	a	igreja	tivesse	cumprido	seu	dever
A	origem	dos	ídolos	[8-11]
8.	A	origem	se	encontra	no	desejo	do	homem	por	uma	divindade	tangível
a.	Sabedoria	de	Salomão	14:15	sugere	que	os	ídolos	surgiram	a	partir	do	desejo
de	honrar	os	mortos,	mas	a	Escritura	mostra	que	essa	tendência	de	fabricar
ídolos	antedata	o	desejo	de	honrá-los
b.	a	mente	concebe	um	ídolo;	as	mãos	lhe	dão	forma
c.	a	fabricação	de	ídolos,	buscando	um	Deus	que	pode	realmente	ser	visto,	é
quase	uma	tendência	universal
9.	Qualquer	uso	de	imagens	conduz	à	idolatria
a.	o	próximo	passo	após	a	construção	de	ídolos	era	a	sua	adoração
b.	por	essa	razão,	o	Senhor	proibiu	a	fabricação	de	imagens	de	Deus
c.	desculpas	para	confecção	de	ídolos
(1)	os	pagãos	entendiam	que	Deus	era	mais	do	que	pau	e	pedra:	possuíam	muito
mais	imagens	do	que	deuses	e	mudavam	sua	feição	conforme	a	ocasião
(2)	o	sujeito	bronco	entendia	que	não	estava	adorando	um	objeto	visível,	mas
uma	presença	que	o	habitava
(3)	os	mais	argutos	negavam	isso,	afirmando	que	por	meio	da	imagem	física	eles
contemplavam	o	signo	da	coisa	que	deveriam	adorar
d.	idólatras	judeus	e	gentios	eram	movidos	pelo	mesmo	desejo:	eles	pensavam
que,	por	meio	das	imagens,	o	deus	estaria	expresso	de	forma	mais	firme	e
presente,	e	manifestaria	seu	poder	nas	imagens;	assim,	eles	pensavam	que
estavam	adorando	uma	divindade	no	céu
10.	Adoração	de	imagens	na	igreja
a.	os	atos	dos	papistas	diante	de	suas	imagens	refutam	sua	alegação	de	que,
diferentemente	dos	antigos	idólatras,	eles	não	estão	adorando	imagens
b.	as	críticas	dos	profetas	do	Antigo	Testamento	à	idolatria	aplicam-se
igualmente	à	presente	idolatria	dos	papistas
11.	Subterfúgios	tolos	dos	papistas
a.	a	distinção	absurda	dos	papistas	entre	dulia	(veneração	ou	culto	aos	ídolos)	e
latria	(adoração	de	ídolos)
b.	eles	afirmam,	irracionalmente,	que	“adoram	seus	ídolos	sem	adoração”,
conforme	o	significado	das	duas	palavras	gregas	mostra
c.	assim,	os	papistas	são	exatamente	como	os	antigos	idólatras
Uso	e	abuso	de	imagens	[11-16]
12.	As	funções	e	limites	da	arte
a.	pinturas	e	esculturas,	enquanto	dádivas	de	Deus,	devem	ser	usadas
licitamente,	isto	é,	para	retratar	coisas	que	os	olhos	são	capazes	de	ver,	e	não
Deus,	que	é	invisível	e	que	proibiu	qualquer	representação	pictórica	de	si	mesmo
b.	tais	elementos	lícitos	ao	esforço	artístico	incluem
(1)	histórias	e	eventos:	para	ensino	e	admoestação
(2)	imagens	e	formas	de	corpos	sem	nexo	histórico:	para	o	deleite
c.	a	maioria	das	imagens	nas	igrejas	são	desse	último	gênero	—	muitas	delas,
obras	do	maligno	e	da	perversão
13.	Enquanto	a	doutrina	esteve	pura	e	firme,	a	igreja	rejeitou	as	imagens
a.	pelos	primeiros	quinhentos	anos,	a	igreja	manteve-se	livre	de	imagens
b.	quando	a	degeneração	do	ministério	tomou	lugar,	imagens	começaram	a
adornar	as	igrejas
c.	pais	da	igreja,	como	Agostinho	e	Jerônimo,	alertam	sobre	os	perigos	das
imagens
d.	os	cristãos	deveriam	aceitar,	ao	invés	das	imagens	mortas,	as	imagens	vivas	do
batismo	e	da	ceia	do	Senhor
e.	para	os	papistas,	entretanto,	as	imagens	são	uma	bênção	incomparável
14.	O	Concílio	de	Niceia,	simpático	às	imagens,	é	uma	prova,	em	si,	da	terrível
distorção	da	doutrina
a.	o	Segundo	Concílio	de	Niceia,	sob	mando	da	imperatriz	Irene,	decretou	a
adoração	de	imagens;	é	usado	como	prova	pelos	defensores	das	imagens
b.	o	Libri	Caroli,	um	autêntico	documento	dos	tempos	de	Carlos	Magno,
reproduz	os	argumentos	absurdos	dos	bispos	presentes	em	favor	das	imagens
15-16.	Continuação	das	provas	dos	absurdos	do	Segundo	Concílio	de	Niceia
a.	as	Escrituras	não	são	apenas	mal-interpretadas,	mas	também	mal	citadas
b.	a	presunção	dos	papistas	da	antiguidade	das	imagens	é	suficientemente
dissipada	pelos	raciocínios	absurdos	daquele	Concílio
c.	“Onde	está,	agora,	a	distinção	entre	latria	e	dulia,	pela	qual	eles	se
acostumaram	a	ludibriar	Deus	e	os	homens?	Pois	o	concílio	aceita,	sem	exceção,
tanto	as	imagens	quanto	o	Deus	vivo.”
CAPÍTULO	12
Deus	é	distinto	dos	ídolos,	de	forma	queapenas	ele	pode	ser	plenamente	adorado
1.	A	verdadeira	religião	nos	liga	a	Deus	enquanto	um	só	e	único	Deus
a.	a	definição	de	“religião”
(1)	a	insistência	escriturística	acerca	do	Deus	único	também	implica	que	nada	de
sua	divindade	pode	ser	transferida	a	outrem
(2)	tanto	religio	quanto	eusebia	sugerem	adoração	ordenada	e	evasão	da
confusão
(3)	a	superstição	amontoa	um	despropositado	volume	de	futilidades
b.	ao	combater	a	perversão	universal	da	religião	entre	os	homens,	Deus	se
mostra	um	Deus	ciumento
(1)	a	lei	e	a	adoração	adequadas	se	combinam	na	lei	de	Deus	para	sujeitar	o
homem	à	sua	vontade
(2)	assim,	os	homens	são	impedidos	de	incorrer	em	rituais	perversos
c.	a	proliferação	de	divindades	menores	abaixo	do	supremo	Deus	(também
presente	entre	gregos	e	judeus)	deprecia	a	glória	de	Deus	ao	fracionar	as	suas
funções
d.	a	adoração	de	santos	nada	mais	é	do	que	uma	extensão	dessa	tendência
2.	“Adoração”	e	“veneração”	de	ídolos	são	a	mesma	coisa
a.	a	distinção	entre	latria	e	dulia	foi	inventada	para	permitir	a	transferência	das
honras	divinas	para	os	anjos	e	os	mortos
b.	em	grego,	dulia	significa	culto,	e	latria,	adoração;	como	o	culto	é	superior	à
adoração,	os	papistas	estão,	na	verdade,	honrando	mais	aos	santos	do	que	a	Deus
3.	A	adoração	de	ídolos	é	uma	tentativa	de	usurpar	Deus	de	seu	ser	e	outorgá-lo
às	criaturas
a.	a	prática	escriturística	demonstra	a	nulidade	da	falsa	distinção	dos	romanistas
entre	dulia	e	latria	e	nega,	a	homens	e	anjos,	o	direito	de	receber	a	mais	elevada
adoração
b.	as	origens	da	adoração	de	santos
(1)	transferência	da	observância	da	devoção	para	outros	que	não	o	Deus	único
(2)	honras	divinas	ao	sol,	às	estrelas	e	aos	ídolos
(3)	ambição:	homens	furtaram,	para	os	mortais,	aquilo	que	era	devido	a	Deus	—
oferecendo	sacrifícios,	indiscriminadamente,	a	divindades	subsidiárias,	deuses
menores	ou	heróis	mortos
CAPÍTULO	13
Na	Escritura,	somos	ensinados,	desde	a	Criação,	sobre	a	essência	única	de	Deus,	que	contém	em	si
mesma	três	pessoas
A	DOUTRINA	ORTODOXA	DA	TRINDADE	[1-20]
O	significado	das	pessoas	[da	Trindade]	[1-6]
1.	Transcendência,	unidade	e	espiritualidade	de	Deus
a.	o	ensino	escriturístico	sobre	Deus	deve	descartar	tanto	os	delírios	vulgares
quanto	os	sofisticados	sobre	ele,	que	enfatizam	sua	natureza	espiritual
b.	na	Escritura,	Deus	acomoda	o	conhecimento	de	si	mesmo	à	nossa	tênue
capacidade:	eis	a	verdadeira	explicação	para	os	chamados	antropomorfismos	da
Bíblia
2.	As	três	“pessoas”	de	Deus
a.	três	pessoas	—	mais	uma	característica	especial	para	distinguir	Deus	dos
ídolos	de	forma	mais	precisa
b.	para	evitar	erros,	precisamos	eliminar	noções	erradas	de	“pessoas”	e
fundamentar	nosso	entendimento	desse	conceito	na	Escritura	(Hb	1.3ss):
(1)	uma	essência,	ou	ousia,	em	Deus
(2)	mas	três	pessoas,	hypostases	—	substâncias,	ou	melhor,	subsistências	—
distintas	entre	si
3.	As	expressões	“trindade”	e	“pessoa”	ajudam	na	interpretação	da	Escritura	e
são,	portanto,	admissíveis
a.	nossa	convicção,	a	despeito	dos	protestos:	um	Deus	em	três	pessoas,	sendo
cada	uma	delas	plenamente	Deus
b.	a	acusação	acerca	do	uso	de	palavras	“estranhas”
(1)	se	os	termos	contrariarem	a	simplicidade	da	Palavra	de	Deus,	eles	devem,	é
claro,	ser	rejeitados
(2)	entretanto,	se	eles	expressam	concisamente	algo	da	Escritura,	devem	ser
admitidos
4.	A	igreja	considerou	necessárias	tais	expressões,	como	“trindade”,	“pessoa”
etc.
a.	esses	termos	se	fizeram	necessários	no	passado,	assim	como	no	presente,
devido	a	corrompedores	da	verdadeira	doutrina
b.	Ário	professou	que	Cristo	é	Deus	e	filho	de	Deus,	mas	em	seguida	afirmou
que	Cristo	foi	criado	e	teve	um	início:	os	pais	ortodoxos	da	igreja
desmascararam	sua	duplicidade	por	meio	da	palavra	homoousios
c.	Sabélio	também	enxergou	no	Pai,	Filho	e	Espírito	meros	nomes	de	Deus,	sem
hierarquia	ou	distinção:	os	pais	da	igreja	o	desmascararam	ao	afirmar	a	trindade
das	pessoas	em	uma	unidade
5.	Limites	e	necessidade	de	termos	teológicos
a.	conquanto	fosse	melhor	prosseguir	sem	esses	termos,	não	devemos	ser
afobados	ao	rejeitá-los,	mas	sim	reconhecer	que	eles	expressam	o	fato	de	que
Pai,	Filho	e	Espírito	Santo	são	um,	embora	diferenciados	entre	si	por	um	certo
atributo
b.	com	toda	humildade,	muitos	pais	da	igreja	alertaram	acerca	da	limitação
desses	termos	gregos	e	latinos:	nós	devemos	imitar	sua	humildade,	mas
reconhecer,	ao	mesmo	tempo,	a	utilidade	desses	termos	na	discussão
6.	O	significado	da	concepção	mais	importante
a.	pessoa:	uma	“subsistência”	na	essência	de	Deus
b.	subsistência:	o	ato	de	se	relacionar,	por	um	vínculo	comum,	à	essência,	mas
ser	distinto	dela	por	uma	característica	especial
c.	quando	Deus	é	mencionado	simples	e	indefinidamente,	a	alusão	é	igualmente
ao	Filho	e	Espírito;	quando,	porém,	as	pessoas	da	Trindade	são	comparadas,	suas
propriedades	especiais	diferenciam	cada	uma	das	demais
d.	a	economia	divina	do	Deus	trino	em	nada	afeta	a	unidade	de	sua	essência
A	deidade	do	Filho	[7-13]
7.	A	deidade	da	“Palavra”
a.	a	“Palavra”,	mencionada	no	Antigo	e	Novo	Testamento,	não	é	uma	mera
expressão,	mas,	na	verdade,	a	sabedoria	eterna	que	habita	junto	a	Deus	e	a	fonte
de	todas	as	profecias
b.	a	Palavra,	imutável,	permanece	eternamente	uma	e	única	com	Deus,	e	é	o
próprio	Deus
8.	A	eternidade	da	Palavra
a.	alguns	homens,	ainda	que	não	abertamente	destituam	a	Palavra	de	sua
deidade,	furtam	secretamente	sua	eternidade	ao	afirmar	que	ele	teve	início	com	a
criação	do	universo
b.	em	vez	disso,	a	Palavra,	concebida	antes	do	início	do	tempo	por	Deus,	reside
perpetuamente	com	ele:	disso	se	prova	tanto	sua	eternidade	quanto	sua
verdadeira	essência	e	deidade
9.	A	deidade	de	Cristo	no	Antigo	Testamento
a.	estamos	interessados,	aqui,	nos	testemunhos	do	Antigo	Testamento	que
afirmam	a	deidade	de	Cristo,	não	naqueles	que	proclamam	seu	ofício	mediador
b.	os	judeus	torcem	a	interpretação	dessas	passagens	para	excluir,	no	geral,
qualquer	aplicação	dos	títulos	a	Cristo
10.	O	“anjo	do	Deus	eterno”
a.	os	judeus	estão	errados	em	não	reconhecer	Jeová	manifestado	frequentemente
na	figura	de	um	anjo
b.	Serveto	afirma,	pecaminosamente,	que	Deus	nunca	revelou	a	si	mesmo	para
Abraão	e	os	outros	patriarcas,	mas	que	eles	adoravam	um	anjo	em	seu	lugar:	a
partir	dessas	e	outras	passagens,	seguimos	os	pais	da	igreja	na	interpretação	do
anjo	como	a	Palavra,	Cristo
c.	prova-se,	assim,	que	Cristo	é	o	mesmo	Deus	que	sempre	foi	adorado	entre	os
judeus
11.	A	deidade	de	Cristo	no	Novo	Testamento:	testemunho	dos	apóstolos
a.	passagens	dos	Salmos	e	Isaías,	aplicadas	à	Cristo	por	Paulo,	mostram	que	ele
é	exatamente	o	Deus	cuja	glória	não	pode	ser	transferida	para	outrem
b.	João	afirma	que	a	majestade	de	Deus	vista	por	Isaías	em	sua	visão	do	templo
era,	na	verdade,	Cristo
c.	outras	passagens	fazem	essa	identificação	também,	proclamando	Cristo	como
aquele	único	Deus,	sempre	adorado,	e	não	afirmando	um	segundo	deus
12.	A	deidade	de	Cristo	é	demonstrada	em	suas	obras
a.	no	governo	do	mundo
b.	no	sondar	do	coração	dos	homens	e	na	remissão	de	seus	pecados
13.	A	deidade	de	Cristo	é	demonstrada	por	seus	milagres
a.	diferença	entre	os	milagres	de	Cristo	e	os	milagres	dos	profetas	e	apóstolos:
(1)	eles	simplesmente	distribuíram	os	dons	de	Deus	através	de	seu	ministério
(2)	Cristo	exibiu	o	seu	próprio	poder
b.	a	verdadeira	salvação,	bondade	e	justiça	vêm	do	próprio	Deus;	Cristo	as	tinha
perfeitamente	em	si	mesmo;	portanto,	Cristo	é	Deus
c.	essas	evidências	mostram	que:
(1)	as	coisas	que	o	Pai	nos	concede	nos	advêm	pela	intercessão	do	Filho
(2)	o	próprio	Filho	é	o	autor	dessas	coisas,	por	mútua	participação	no	poder
d.	a	percepção	da	própria	presença	de	Deus	pela	mente	piedosa	é,	contudo,
melhor	do	que	todas	as	provas	racionais:	ela	quase	pode	tocá-lo	quando	se	sente
despertada,	preservada,	justificada	e	santificada
A	deidade	do	Espírito	[14-15]
14.	A	deidade	do	Espírito	é	demonstrada	em	sua	obra
a.	a	atividade	do	Espírito	vista	no	resguardo	da	massa	caótica	(Gn	1.2)	e,	então,
no	adornar	do	universo	com	ordem	e	beleza	na	criaçãob.	o	Espírito	participou	com	Deus	no	envio	dos	profetas
c.	aprendemos	a	multiforme	ação	do	Espírito	não	somente	na	Escritura,	mas	na
nossa	firme	experiência	de	santidade
(1)	a	causa	da	essência,	vida	e	crescimento	nas	coisas	criadas
(2)	o	autor	da	regeneração	para	a	vida	incorruptível,	por	seu	próprio	poder
(3)	o	garantidor	da	sabedoria	e	da	fala
(4)	o	doador	da	justificação,	poder,	santificação,	verdade,	graça	e	de	todo	o	bem
—	por	meio	dele,	entramos	na	comunidade	de	Deus	para	desfrutar	de	tudo	isso
d.	portanto,	o	Espírito	participa	do	poder	de	Deus	e	habita	hipostaticamente	em
Deus
15.	Testemunhos	manifestos	da	deidade	do	Espírito
a.	por	meio	da	habitação	do	Espírito,	somo	templos	de	Deus;	portanto,	o	Espírito
Santo	=	Deus
b.	as	palavras	com	que	os	profetas	se	referem	ao	Senhor	dos	Exércitos	remetem,
no	Novo	Testamento,	ao	Espírito	Santo:	portanto,	o	Espírito	Santo	=	Deus
c.	a	abominação	do	“pecado	contra	o	Espírito	Santo”	também	prova	sua	deidade
A	Trindade	enquanto	Unidade	e	Tríade	[16-20]
16.	Unidade
a.	a	insistência	de	Paulo	acerca	de	um	Deus,	uma	fé	e	um	batismo,	e	a	comissão
de	Cristo	para	batizar	em	nome	do	Pai,	Filho	e	Espírito	Santo,	corroboram	em
favor	de	uma	essência	em	Deus,	no	qual	três	pessoas	residem
b.	a	insensatez	dos	arianos,	que	negam	a	essência	comum	de	Pai	e	Filho;	e	dos
macedônicos,	que	o	fazem	quanto	ao	Pai,	Filho	e	Espírito	Santo
17.	Tríade
a.	conquanto	a	Escritura	diferencie	as	três	pessoas	entre	si,	nós	devemos	lidar
com	tais	distinções	com	grande	reverência	e	sobriedade,	como	diz	Gregório	de
Nazienzo:	“Eu	não	consigo	pensar	em	uma	sem,	rapidamente,	ser	engolfado	pelo
esplendor	das	três;	tampouco	posso	discernir	as	três	sem	que	seja	imediatamente
levado	a	uma.”
b.	Pai,	Filho	e	Espírito	não	são	meros	títulos,	remetem	a	uma	distinção	real,	mas
não	uma	divisão
c.	alusão	a	textos	da	Escritura	para	mostrar	a	distinção	entre	Pai	e	Filho;	Filho	e
Espírito
18.	Diferença	entre	Pai,	Filho	e	Espírito
a.	a	insuficiência	das	comparações	humanas
b.	a	distinção	manifesta	nas	Escrituras
(1)	Pai:	início	da	obra;	fonte	e	manancial	de	todas	as	coisas
(2)	Filho:	sabedoria,	conselho	(plano)	e	dispensação	ordenada	de	todas	as	coisas
(3)	Espírito	Santo:	poder	e	eficácia	daquela	obra
c.	uma	distinção	de	ordem,	não	de	tempo
(1)	não	há	antes	e	depois	na	eternidade
(2)	a	mente	humana,	porém,	naturalmente	contempla
(a)	Deus	primeiro
(b)	segundo,	a	sabedoria	que	procede	dele
(c)	por	fim,	o	poder	pelo	qual	ele	executa	os	decretos	de	seu	plano	[conselho]	(dupla	processão,	tal	como	visto	em	Romanos	8)
19.	A	relação	entre	Pai,	Filho	e	Espírito
a.	em	cada	hipóstase,	a	natureza	plena	deve	ser	entendida,	mas	a	cada	uma
pertence	sua	característica	especial
b.	como	Agostinho	mostra,	a	diferença	de	termos	para	as	pessoas	da	Trindade	se
deve	a	suas	inter-relações
20.	O	Deus	triúno
a.	a	crença	em	Deus	implica	uma	essência	simples	e	única,	na	qual	identificamos
três	pessoas	ou	hipóstases
b.	os	usos	do	nome	“Deus”
(1)	indistinto:	designa	todas	as	três	pessoas
(2)	Mas	proeminentemente	o	Pai,	como	início	e	fonte,	sem,	contudo,	depreciar
da	deidade	do	Filho	e	do	Espírito	Santo
c.	os	nomes	“Pai”,	“Filho”	e	“Espírito	Santo”	implicam	um	relacionamento	entra
essas	pessoas
d.	a	essência	plena	de	Deus	é,	portanto,	espiritual	e	abrange	Pai,	Filho	e	Espírito
Santo
REFUTAÇÃO	DE	ALGUMAS	HERESIAS	MAIS	ATUAIS	[21-29]
21.	O	mistério	da	Trindade	deve	ser	recebido	por	uma	fé	ensinável,	não	por
astúcia
a.	hoje,	como	no	passado,	Satanás	está	provocando	contendas	sobre	a	essência
divina	do	Filho,	do	Espírito	e	sobre	a	distinção	entre	as	pessoas:	nossa	intenção
primeira	era	falar	aos	ensináveis,	mas	agora	somos	compelidos	a	batalhar	com
esses	depravadores	da	doutrina
b.	contudo,	tais	discussões	pedem	por	sobriedade	devido	à	limitação	evidente	da
mente	humana	no	conhecimento	de	Deus
c.	a	tarefa	não	pede	por	uma	curiosidade	desordenada,	mas	por	uma	aderência	ao
que	Deus	ensina	em	sua	Palavra
22.	A	contenda	de	Serveto	contra	a	Trindade
a.	é	inútil	elencar	erros	e	heresias	antigas;	nossa	tarefa	é	asseverar	a	unidade	da
essência	e	a	distinção	das	pessoas	contra	aqueles	que	as	confundem
b.	síntese	das	visões	de	Serveto
(1)	definições
(a)	Trindade	—	inefável	e	hostil	à	concepção	da	unidade	de	Deus:	a	deidade
seria	tripartite	se	três	pessoas	residissem	na	essência	de	Deus
(b)	Pessoas	—	algumas	ideias	externas	que	não	subsistem	verdadeiramente	na
essência	de	Deus,	mas	nos	representam	Deus	em	algum	tipo	de	manifestação;	ou
—	manifestação	visível	da	glória	de	Deus
(2)	a	“teogonia”	de	Serveto
(a)	princípio:	nenhuma	diferenciação	em	Deus
(b)	Cristo	adveio	como	Deus	a	partir	de	Deus;	o	Espírito	procedeu	dele	enquanto
outro	Deus
(c)	há	uma	parte	de	Deus	tanto	no	Filho	quanto	no	Espírito;	o	Espírito	está
substancialmente	em	nós	e	em	toda	a	criação
(d)	portanto,	Filho	e	Espírito	estão	indiscriminadamente	mesclados	com	seres
criados	em	geral,	e	existe	divindade	substancial	não	apenas	na	alma	do	homem,
mas	em	outras	coisas	criadas
23.	O	Filho	é	tão	Deus	quanto	o	Pai
a.	Gentile,	Fazy	e	outros	evitaram	a	pecaminosidade	de	Serveto	ao	professarem
as	três	pessoas,	mas	em	seguida	qualificaram	essa	afirmação
b.	síntese	de	suas	visões
(1)	o	Pai	verdadeiramente	e	propriamente	é	o	único	Deus	e	essentiator¹
(2)	ele	incutiu	sua	própria	deidade	no	Filho	e	no	Espírito	quando	os	formou
(3)	eles,	portanto,	fazem	uma	distinção	em	essência	entre	o	Pai,	de	um	lado,	e	o
Filho	e	o	Espírito,	de	outro
c.	refutação:	deve	haver	algum	traço	de	diferenciação	para	que	o	Pai	não	seja	o
Filho.	Aqueles	que	apontam	esse	traço	na	essência,	claramente	reduzem	a	nada	a
verdadeira	deidade	de	Cristo,	o	qual,	sem	essência	—	e,	de	fato,	sem	a	essência
plena	—	não	pode	existir
24.	O	nome	“Deus”,	na	Escritura,	não	se	refere	somente	ao	Pai
a.	com	base	em	que	“a	menos	que	o	Pai	seja	somente	Deus,	ele	seria	seu	próprio
pai”,	objeta-se	que	referências	não	especificadas	a	Deus	na	Escritura	aplicam-se
somente	ao	Pai
b.	pelo	contrário,	desde	a	encarnação	Cristo	tem	sido	chamado	de	“o	Filho	de
Deus”
(1)	enquanto	Palavra	eterna,	gerado	antes	de	todos	os	tempos	pelo	Pai
(2)	enquanto	mediador,	vindo	para	nos	unir	ao	Pai
c.	outras	objeções	no	mesmo	sentido	refutadas	pela	Escritura
25.	A	natureza	divina	é	comum	às	três	pessoas
a.	eles	dividem	a	essência	divina	entre	Pai,	Filho	e	Espírito	Santo,
contrariamente	ao	nosso	ensino	e	à	Escritura,	em	que	se	sustenta	que	Deus	é	um
em	essência
b.	eles	nos	atribuem,	falsamente,	uma	“quaternidade”	(de	essência	divina	mais
três	pessoas)
c.	para	nós,	a	unidade	reside	na	essência,	a	Trindade,	nas	pessoas
d.	o	resultado	de	seu	erro	ímpio	e	absurdo	seria	que	a	Trindade	se	torna	a
conjunção	de	um	Deus	com	duas	coisas	criadas
26.	A	subordinação	da	Palavra	encarnada	ao	Pai	não	é	contraevidência
a.	eles	afirmam	que	se	Cristo	for	Deus,	propriamente,	ele	é	erroneamente
chamado	de	“Filho”
b.	quando	Cristo	se	dirige	a	Deus	em	João	17:3,	ele	está	falando	enquanto
mediador,	mas	sua	divindade	não	é	minimizada	por	isso,	embora	esteja
encoberta	para	o	mundo;	na	palavra	“Deus”,	ele	inclui	a	si	mesmo
c.	a	posição	mais	elevada	do	Pai	em	relação	ao	Filho	não	significa	o
rebaixamento	do	Filho	a	uma	segunda	classe	de	divindade,	abaixo	do	Pai	em
termos	de	glória	celeste:	Cristo,	porém,	desceu	até	nós	para	nos	conduzir	ao	Pai
e	a	si	mesmo,	já	que	ele	é	um	com	o	Pai
27.	Nossos	adversários	apelam,	equivocadamente,	para	Ireneu
a.	Ireneu	insistiu	que	o	Pai	de	Cristo	foi	o	único	e	eterno	Deus	de	Israel;	eles
jogam	isso	contra	nós
b.	lembre-se	de	que	Ireneu	estava	combatendo	hereges	que	negavam	que	o	Deus
do	Antigo	Testamento	e	o	Pai	de	Cristo	eram	um	e	o	mesmo;	nossa	disputa	é
contra	aqueles	que	negam,	a	Cristo,	a	mesma	deidade	essencial	atribuída	ao
Deus	Pai
c.	muitas	passagens	de	Ireneu	provam	que	ele	aceitou	Cristo	como	um	e	mesmo
Deus	que	seu	Pai
28.	O	apelo	a	Tertuliano	tampouco	tem	valor
a.	em	suma,	Tertuliano	insiste	na	unidade	essencial	da	Divindade,	mas	vê	na
economia	ou	dispensação	divinaa	diferenciação	entre	as	pessoas	da	Trindade
b.	a	subordinação	do	Filho	ao	Pai,	portanto,	não	se	dá	no	reino	da	substância	ou
essência,	mas	no	reino	da	economia
29.	Todos	os	reputados	doutores	da	igreja	confirmam	a	doutrina	da	Trindade
a.	da	mesma	forma,	Justino	e	Hilário	são	tomados	como	patronos,	por	nossos
adversários,	com	base	nas	mesmas	falsas	premissas	que	Ireneu
b.	a	citação	de	Inácio	provém	de	uma	fraude
c.	Agostinho,	a	quem	nossos	adversários	rejeitam,	conheceu	os	pais	da	igreja
precedentes	e	defende	que	o	nome	“Deus”	é	atribuído	especialmente	ao	Pai,
porque	se	o	princípio	não	deriva	dele,	nem	mesmo	a	unidade	de	Deus	pode	ser
concebida
d.	essa	refutação	é	suficiente,	exceto	para	especuladores	inveterados
CAPÍTULO	14
Mesmo	na	criação	do	mundo	e	de	todas	as	coisas,	a	Escritura	distingue,	por	traços	inconfundíveis,	o
verdadeiro	Deus	dos	falsos	deuses
A	OBRA	DOS	SEIS	DIAS	DA	CRIAÇÃO	[1-2]
1.	Nós	não	devemos,	nem	podemos,	ficar	aquém	do	ato	criativo	de	Deus	em
nossa	especulação
a.	Deus	explicitou	a	história	da	Criação	para	que	os	homens	não	pudessem
concebê-lo	falsamente,	como	os	pagãos	o	fazem,	ou	como	os	filósofos
fugazmente	o	concebem	enquanto	a	mente	do	universo,	mas	para	que	pudessem
concebê-lo	distintamente	—	da	mesma	forma	que	Moisés	—	como	o	Criador	e
fundador	do	universo,	como	seu	Espírito	e	sabedoria	eterna
b.	os	usos	da	narrativa	da	Criação	e	da	história	conforme	esquematizadas	na
Escritura:
(1)	para	refutar	as	fábulas	egípcias
(2)	para	fazer	conhecido	o	princípio	do	universo	e,	assim,	manifestar	mais
claramente	a	eternidade	de	Deus,	que	é,	de	fato,	uma	imagem	viva	de	si	mesmo,
como	óculos	para	os	olhos	debilitados
c.	devemos	conter	nossa	curiosidade	e	especulação	nos	limites	dos	seis	mil	anos
estabelecidos	pela	narrativa	de	Deus
2.	A	obra	de	seis	dias	mostra	a	bondade	de	Deus	para	com	o	homem
a.	os	seis	dias	condescendem	com	o	breve	intervalo	da	nossa	atenção	e	compele
nossa	razão	a	contemplar	as	obras	de	Deus	em	obediência	de	fé	e	ansiando	pela
quietude	do	sétimo	dia
b.	os	seis	dias	também	nos	mostram	o	cuidado	paternal	de	Deus	em	prover	para
toda	a	necessidade	do	homem	antes	de	sua	criação
OS	ANJOS	[3-12]
Importância	e	utilidade	dessa	doutrina	[3-4]
3.	Deus	é	Senhor	sobre	todos!
a.	os	anjos,	embora	não	mencionados	no	hexamerão²	mosaico	(em	razão	da
acomodação	às	mentes	simplórias),	não	eram	divinos,	mas	seres	criados,	como
se	pode	inferir	de	outras	passagens	das	Escrituras
b.	a	heresia	maniqueísta,	de	que	Deus	e	o	Diabo	são	princípios	coordenados,
surgiu	da	recusa	de	atribuir	ao	Deus	bom	a	criação	de	qualquer	coisa	má
c.	a	menção	à	criação	de	“coisas	visíveis”	no	Credo	Niceno	é,	provavelmente,
reflexo	disso
4.	Nós	não	devemos	nos	deleitar	em	especulações	acerca	dos	anjos,	mas	buscar	o
testemunho	da	Escritura
a.	a	regra	da	modéstia	e	sobriedade:	não	falar,	conjecturar	ou	mesmo	procurar
saber	qualquer	coisa	a	respeito	de	questões	obscuras,	senão	o	que	nos	foi
transmitido	pela	Palavra	de	Deus;	buscar	e	meditar	sobre	aquelas	coisas	que
corroboram	a	edificação
b.	que	nós	não	especulemos,	portanto,	em	qual	dos	seis	dias	os	anjos	foram
criados;	basta	saber	que	o	foram
c.	que	nós	evitemos,	portanto,	a	tola	sabedoria	de	Dionísio	e	sua	Celestial
hierarchy	[Hierarquia	celeste]³
d.	a	tarefa	do	teólogo:	fortalecer	consciências,	ensinando	coisas	verdadeiras,
certas	e	proveitosas,	e	não	distrair	os	ouvidos	com	palavrório
O	ministério	dos	anjos	[5-7]
5.	As	atribuições	dos	anjos	na	Escritura
a.	mensageiros:	intermediários	por	meio	dos	quais	Deus	se	manifesta	aos
homens
b.	hoste:	análogo	à	escolta	que	adorna	a	majestade	de	um	príncipe
c.	virtudes:	manifestar	o	poder	e	a	força	da	mão	de	Deus
d.	principados,	poderes,	domínios:	por	meio	dos	anjos,	Deus	gere	sua	autoridade
no	mundo
e.	tronos:	em	certo	sentido,	a	glória	de	Deus	reside	neles
f.	“deuses”;	(=	Cristo)
(1)	eles	espelham	a	divindade	de	Deus	para	nós
(2)	eles,	muito	mais	do	que	príncipes	e	governantes,	merecem	o	título
6.	Os	anjos	como	protetores	e	auxiliadores	dos	fiéis
a.	o	Antigo	Testamento	contém	episódios	de	anjos	protegendo	os	homens	do
perigo
b.	no	Novo	Testamento,	Cristo	foi	servido	por	anjos	em	suas	tribulações	e	sua
vinda	e	ressurreição	foram	anunciadas	por	eles
7.	Anjos	da	guarda?
a.	é	duvidoso	se	cada	homem	possui	seu	anjo	da	guarda;	antes,	todos	os	anjos
cuidam	de	cada	um	de	nós
b.	não	existe	fundamento	para	a	crença	popular	em	um	anjo	“bom”	e	um	“mau”
para	cada	homem
A	vida	dos	anjos	[8-9]
8.	A	hierarquia,	número	e	forma	dos	anjos
a.	a	Escritura	não	nos	oferece	detalhes	sobre	o	número,	as	ordens	ou	formas	dos
anjos:	apenas	indicações	gerais
b.	o	restante	deve	permanecer	entre	os	mistérios	a	serem	revelados	no	Último
Dia
9.	Os	anjos	não	são	meras	ideias,	mas	realidade
a.	contra	os	“libertinos”	que,	assim	como	os	antigos	saduceus,	negaram	a
existência	real	dos	anjos,	há	muitos	textos	nas	Escrituras	em	defesa	de	sua
realidade
b.	até	mesmo	Cristo,	enquanto	supremo	mediador,	foi	certa	vez	chamado	“anjo”
(Ml	3:1)
Contra	a	adoração	de	anjos	[10-12]
10.	A	glória	divina	não	pertence	aos	anjos
a.	porque	eles	refletem	a	glória	de	Deus	e	administram	seu	cuidado	para
conosco,	os	homens	tendem	a	adorá-los
b.	Paulo	nos	advertiu	quanto	a	isso,	como	sendo	uma	depreciação	de	Cristo:	os
anjos	bebem	da	mesma	fonte	que	nós,	eles	apenas	refletem	o	esplendor	da
majestade	de	Deus
11.	Deus	faz	uso	dos	anjos	não	para	seu	próprio	benefício,	mas	para	o	nosso
a.	Deus	não	depende	dos	anjos	para	executar	suas	ordens;	de	fato,	ele	às	vezes	os
ignora	e	age	diretamente
b.	Deus	usa	anjos	para	se	acomodar	à	nossa	capacidade	débil	e	nos	mostrar,	de
forma	mais	minuciosa,	sua	proteção	amorosa	para	conosco:	por	exemplo,	Elias	e
seu	servo	(2Rs	6.17)
12.	Os	anjos	não	devem	desviar	o	nosso	olhar	da	direção	do	Senhor
a.	o	propósito	dos	anjos	é	nos	conduzir	a	Deus,	não	nos	afastar	dele
b.	a	Escritura	não	permite	o	modo	platônico	de	buscar	acesso	a	Deus	por	meio	da
adoração	de	anjos
DIABOS	E	DEMÔNIOS	[13-19]
Atuação	dos	demônios	[13-15]
13.	A	Escritura	nos	municia	de	antemão	contra	o	adversário
a.	toda	a	imagística	acerca	dos	demônios	tem	o	único	propósito	de	nos	advertir	e
equipar	para	o	combate	contra	o	adversário
b.	nossa	vida	é	um	serviço	militar	no	qual	somos	instados	a	perseverar,	clamando
a	Deus	por	força	e	auxílio	em	nossa	fraqueza	e	desfalecimento
14.	O	reino	da	impiedade
a.	as	referências	escriturísticas	a	demônios	(no	plural)	nos	lembra	da	vasta	hoste
de	inimigos	contra	nós,	para	que	não	negligenciemos	nossos	esforços
b.	as	referências	escriturísticas	a	Satanás	(no	singular)	colocam	o	reino	da
impiedade	contra	o	reino	da	justiça,	a	igreja	dos	santos	contra	a	fação	dos	ímpios
15.	Um	conflito	irreconciliável
a.	a	figura	do	Diabo	apresentada	na	Escritura	deve	nos	inflamar	na	defesa	da
glória	de	Deus	e	de	nossa	própria	salvação	contra	esse	inimigo	implacável
b.	o	retrato	da	depravação	consumada	do	Diabo
A	Queda	de	Satanás	e	dos	demônios	[16-17]
16.	O	Diabo	é	uma	criação	de	Deus	degenerada
a.	os	demônios	foram	inicialmente	criados	como	anjos	de	Deus,	mas	por
degeneração	eles	arruinaram	a	si	mesmos	e	se	tornaram	instrumentos	de	ruína
para	outros
b.	apenas	isso	é	proveitoso	saber;	qualquer	especulação	para	além	disso	acerca
da	Queda	dos	demônios	é	vã
17.	O	Diabo	permanece	sob	o	poder	de	Deus
a.	Satanás,	contudo,	só	pode	agir	com	a	permissão	e	tolerância	de	Deus
b.	as	ações	de	Satanás,	entretanto,	originam-se	em	sua	própria	oposição	ardorosa
e	deliberada	a	Deus
c.	por	isso	ele	leva	a	cabo	somente	o	que	lhe	foi	permitido,	e	assim	obedece,
quer	queira,	quer	não,	seu	Criador
A	luta	dos	fiéis	contra	Satanás	[18]
18.	Certeza	de	vitória!
a.	Deus	nunca	permite	a	Satanás	liquidar	ou	destruir	os	fiéis,	ainda	que	eles
possam	ser	terrivelmente	oprimidos	por	ele
b.	já	com	os	ímpios,	é	diferente:	é	permitido	a	Satanás	subjugá-los
c.	isso	é	verdadeiro	tanto	comunitariamente	quanto	individualmente:	fiéis	portam
a	imagem	de	Deus;	os	ímpios	são	filhos	de	Satanás,	em	cuja	imagem	sedegeneraram
Personalidade	dos	demônios	(19)
19.	Demônios	não	são	pensamentos,	mas	realidades
a.	[os	libertinos]	defendem,	quanto	aos	demônios,	a	mesma	irrealidade	que
defendem	quanto	aos	anjos	(seç.	9)
b.	essa	visão	é	amplamente	refutada	por	claros	testemunhos	escriturísticos	que
seriam	despropositados	se	demônios	não	existissem
A	VISÃO	CORRETA	DA	OBRA	DE	DEUS	E	SEUS	BENEFÍCIOS	[20-22]
20.	Esplendor	e	abundância	da	criação
a.	deleitemo-nos	nas	obras	de	Deus	que	nos	cercam	por	todos	os	lados	e
ponderemos	com	piedosa	meditação	sobre	elas,	ainda	que	elas	não	sejam	a
evidência	principal	para	a	fé
b.	a	partir	de	Gênesis	1-2	e	do	Hexamerão	de	Basílio	e	Ambrósio,	podemos
concluir	o	seguinte:
(1)	Deus	criou	o	céu	e	a	terra	a	partir	do	nada	e,	em	uma	sequência	maravilhosa,
os	povoou	com	seres	vivos,	cada	um	em	seu	lugar;	e	embora	todos	eles	estejam
sujeitos	à	corrupção,	cada	um	é	capaz	de	preservar	sua	espécie	até	o	Último	Dia
(2)	de	tempos	em	tempos,	ele	renova	alguns	[seres	vivos]	e,	por	seu	dom	de
propagação,	assegura	a	continuidade	das	espécies	em	um	universo
abundantemente	abastecido
(3)	finalmente,	o	homem	é	apresentado	como	o	exemplo	mais	excelente	das
obras	de	Deus
21.	Como	nós	devemos	ver	as	obras	de	Deus?
a.	não	temos	nem	a	capacidade,	nem	o	espaço,	para	descrever	como	os	atributos
de	Deus	resplandecem	na	criação	do	universo;	antes,	nossa	tarefa	é	ensinar	o	que
significa	Deus	ser	o	Criador	do	céu	e	da	terra
b.	a	regra:	não	passar	ao	largo,	com	descuido	ingrato	ou	desatenção,	dos	notáveis
poderes	que	Deus	manifesta	em	suas	criaturas;	aprender	a	aplicar	a	regra	a	nós
mesmos,	para	que	nosso	próprio	coração	seja	tocado
c.	“o	Hino	à	Criação”
22.	A	contemplação	da	bondade	de	Deus	em	sua	Criação	nos	leva	à	gratidão	e
confiança
a.	expansão	da	segunda	parte	da	“regra”	(seç.	21):	os	grandes	benefícios
preparados	por	Deus	para	nós	deveriam	nos	levar	a	invocá-lo,	adorá-lo	e	amá-lo
b.	agir	de	outra	forma	com	relação	à	sua	generosidade	seria	reles	ingratidão
c.	[que	possamos]	confiar	no	que	Deus	nos	dá;	reconhecer	cada	benefício	nosso
como	uma	bênção	dele;	estudar,	amar	e	servi-lo	com	todo	o	nosso	coração
CAPÍTULO	15
Discussão	da	natureza	humana	enquanto	criada.	As	faculdades	da	alma,	da	imagem	de	Deus,	da
livre-escolha	e	da	integridade	original	da	natureza	do	homem.
Introdução
1.	O	homem	é	proveniente,	sem	mácula,	da	própria	mão	de	Deus;	ele,	portanto,
não	pode	jogar	a	culpa	de	seus	pecados	no	Criador
a.	por	que	discutir	a	criação	do	homem?
(1)	porque	o	homem	é	o	exemplo	mais	nobre	da	justiça,	sabedoria	e	bondade	de
Deus
b.	caráter	duplo	do	conhecimento	de	si:
(1)	como	o	homem	era	na	Criação	(a	presente	discussão)
(2)	como	o	homem	se	tornou	após	a	Queda	(a	ser	discutido	depois)
c.	nossa	intenção:	defender	a	justiça	de	Deus	de	toda	acusação
NATUREZA	DA	ALMA	[2-5]
2.	Diversidade	de	corpo	e	alma
a.	definição	de	alma	e	espírito
(1)	alma:	uma	essência	imortal,	porém	criada;	a	parte	mais	elevada	de	um
homem
(2)	espírito:	um	sinônimo	para	“alma”,	exceto	quando	as	duas	palavras	são
usadas	em	conjunto
b.	evidências	gerais	da	natureza	divina	e	imortal	da	alma	enquanto	essência,	à
parte	do	corpo
(1)	senso	de	imortalidade
(2)	consciência:	observada	em	nossos	sentimentos	de	culpa,	medo	etc.
(3)	grandes	dádivas	com	as	quais	a	mente	humana	foi	dotada
(4)	sono	e	sonhos
c.	evidências	escriturísticas	da	alma
3.	A	imagem	e	semelhança	de	Deus	no	homem
a.	além	das	evidências	externas	e	físicas	(o	caminhar	vertical,	por	exemplo)	ou	a
diferenciação	dos	homens	em	relação	aos	animais	—	e	sua	semelhança	com
Deus	—	temos	o	fato	mais	convincente	de	que	o	homem	foi	criado	à	imagem	de
Deus	em	um	sentido	espiritual
b.	a	afirmação	de	Osiander,	de	que	essa	imagem	se	estende	tanto	à	alma	quanto
ao	corpo,	é	absurda
c.	a	questão	da	imagem/semelhança
(1)	não	há	diferença	entre	essas	palavras,	como	insistem	alguns	intérpretes	—
existe,	na	verdade,	uma	evidência	de	paralelismo	literário	hebraico
(2)	o	homem,	quanto	à	sua	alma,	é	dito	imagem	de	Deus,	embora	a	semelhança	a
Deus	se	estenda	a	toda	superioridade	do	homem	sobre	as	outras	criaturas
(3)	imagem/semelhança	expressam	a	integridade	com	que	Adão	foi	dotado
(a)	reta	inteligência
(b)	afeições	mantidas	nos	limites	da	razão
(c)	todos	os	sentidos	ajustados	em	boa	ordem
(d)	remetia	verdadeiramente	todos	os	dons	ao	seu	Criador
d.	embora	o	lugar	privilegiado	da	imagem	divina	fosse	na	mente	e	no	coração,
ou	na	alma	e	suas	faculdades,	não	havia	qualquer	parte	no	homem,	nem	mesmo
em	seu	próprio	corpo,	em	que	lampejos	[dessa	imagem]	não	resplandecessem
4.	A	verdadeira	natureza	da	imagem	de	Deus	deve	ser	derivada	daquilo	que	as
Escrituras	dizem	sobre	sua	renovação	por	meio	de	Cristo
a.	uma	definição	plena	de	“imagem”	deve	ser	buscada	nas	faculdades
distintivamente	humanas	e,	especialmente,	em	como	elas	se	encontram	no
homem	restaurado	por	meio	de	Cristo,	pois
(1)	a	Queda	de	Adão	não	implicou	a	destruição	total	da	imagem	de	Deus	no
homem,	mas	uma	terrível	deformação
(2)	portanto,	voltamo-nos	para	o	homem	regenerado	em	Cristo
b.	aspectos	dessa	renovação,	segundo	Paulo
(1)	conhecimento
(2)	justiça	pura	e	santidade
c.	a	imagem	de	Deus	é	a	excelência	perfeita	da	natureza	humana	que	reluziu	em
Adão	antes	da	Queda,	mas	que	foi,	subsequentemente,	tão	corrompida	—	e
quase	apagada	—que	nada	permanece	depois	da	ruína,	senão	aquilo	que	é
confuso,	mutilado	e	dominado	por	enfermidades.	Portanto,	aparece	parcialmente
agora	nos	eleitos,	à	medida	que	nasceram	novamente	pelo	espírito;	mas
alcançará	seu	pleno	esplendor	no	céu
d.	para	conhecer	as	partes	dessa	imagem,	precisamos	discutir	as	faculdades	da
alma
5.	A	alma	do	homem	é	criada	por	Deus,	e	não	é	uma	espécie	de	emanação	da	sua
natureza
a.	Serveto	reviveu	a	falsa	concepção	maniqueísta	de	que	a	alma	humana	é	uma
porção	da	deidade;	isso	é	refutado	pela	evidência	da	natureza	pecadora	do
homem	e	pela	unidade	da	essência	de	Deus
b.	Osiander	acredita	que	a	imagem	de	Deus	no	homem	consiste	na	presença,
nele,	da	justiça	essencial	de	Deus;	isso	também	é	puro	maniqueísmo
c.	Paulo	ensina	que	a	alma	do	homem	é	como	Deus,	não	em	essência,	mas	pelo
poder	de	seu	Espírito
OPINIÃO	DOS	FILÓSOFOS	SOBRE	A	ALMA	CRITICADA	EM	VISTA	DA	QUEDA	DE	ADÃO	[6-8]
6.	A	alma	e	suas	faculdades
a.	dentre	os	filósofos,	somente	Platão	chega	próximo	de	uma	apreciação	da
natureza	incorpórea	da	alma	humana
b.	a	natureza	da	alma	a	partir	da	Escritura:
(1)	substância	incorpórea
(2)	habita	no	corpo,	como	princípio	animador,	como	se	fosse	uma	casa
(3)	a	busca	do	homem	por	Deus	é	uma	prova	de	que	ele	é	divinamente	dotado	de
razão
(4)	discordâncias	no	interior	da	alma	não	advêm	da	existência	de	duas	almas	em
cada	homem	(como	alguns	filósofos	sustentam),	mas	da	natureza	decaída	do
homem
c.	as	faculdades	da	alma	a	partir	dos	filósofos
(1)	Platão	via	Temístio	(veja	diagrama	a	seguir)
(2)	Aristóteles	(Ética):	divisão	dos	poderes	da	alma	em	apetitiva	(sem	razão,	mas
submissa	a	ela),	intelectiva	(partícipe,	em	si,	da	razão);	três	princípios	de	ação:
sentido,	intelecto,	apetite
(3)	essas	visões,	conquanto	prováveis,	são	muito	complicadas	para	nosso
propósito
7.	Entendimento	e	vontade	como	os	verdadeiros	poderes	fundamentais
a.	os	filósofos,	ignorantes	da	Queda	do	homem,	confundem	duas	condições
muito	diferentes	do	homem
b.	a	alma	humana	consiste	em	duas	faculdades:
(1)	entendimento:	distingue	entre	objetos	a	serem	aprovados	ou	desaprovados	—
age	como	líder	e	governante	da	alma
(2)	vontade:	escolhe	e	segue	o	que	o	entendimento	declara	bom	e	evita	o	que	ele
desaprova	—	respeita	a	decisão	do	entendimento	e	aguarda	juízo	do
entendimento	em	seus	próprios	desejos
c.	termos	equivalentes:	filósofos	distinguem	entre	entendimento	e	sentido;	nós	o
incluímos	como	entendimento.	Nós	também	substituímos	a	palavra	“apetite”,	de
uso	dos	filósofos,	por	“vontade”
8.	Livre	escolha	e	a	responsabilidade	de	Adão
a.	as	faculdades	do	homem	antes	da	Queda
(1)	a	mente	(entendimento)	é	concedida	ao	homem	para	discernir	o	bem	do	mal,
o	certo	do	errado,o	que	deve	ser	seguido	e	o	que	deve	ser	evitado	—	τὸ
ἡγεμονικόν,	o	“guia”
(2)	vontade:	a	sede	da	livre	escolha
b.	portanto,	o	homem	[pré-lapsariano]	tinha	o	poder,	se	assim	desejasse,	de
alcançar	a	vida	eterna;	mas	não	foi	dada	a	ele	a	constância	para	perseverar
c.	isso	mudou	com	a	Queda	do	homem:	o	homem	era	muito	diferente,	no	início
de	sua	criação,	de	todos	os	que	vieram	depois	dele,	a	qual,	derivando	sua	origem
dele	em	estado	corrompido,	adquiriu	dele	uma	mancha	hereditária
d.	os	esquemas	dos	filósofos	fracassam	porque	eles	não	levam	a	Queda	em
consideração
Institutas	de	Calvino,	1:15:6,	de	Temístio,	De	Anima	II,	VII	(R.	Heinze,	ed.,	p.
36,	120,	122).
Aristóteles,	Ética	a	Nicômaco	I,	13	(p.	1102	b	30ss.);	VI,	2	(p.	1139	a	17);
Temístio	VI,	p.	112-114.
CAPÍTULO	16
Deus,	por	seu	poder,	nutre	e	sustenta	o	mundo	criado	por	ele	e	governa	suas	muitas	partes	por	sua
providência
Afirmação	da	providência	especial	de	Deus,	contra	as	opiniões	dos	filósofos	[1-4]
1.	Criação	e	providência	conjugadas	inseparavelmente
a.	a	percepção	material	consegue	reconhecer	um	Deus	que	outrora	criou	todas	as
coisas	e	que	lhes	dá	energia	suficiente	para	prosseguir	por	si	mesmas	desde	então
b.	Mas	a	fé,	perscrutando	ainda	mais	profundamente,	vê	o	Criador	também	como
governante	e	mantenedor	de	tudo	que	ele	criou	(doutrina	da	providência)
(1)	a	moldura	celestial
(2)	todas	as	coisas	na	terra,	incluindo	questões	humanas
2.	Não	existe	sorte	ou	acaso
a.	a	percepção	material	(em	todas	as	eras)	atribuiu	todos	os	acontecimentos	à
sorte	ou	ao	acaso,	anuviando,	assim,	a	providência	de	Deus
b.	Mas	a	fé,	fundamentada	nas	Escrituras,	sabe	que	todas	as	coisas	acontecem	de
acordo	com	a	vontade	de	Deus
(1)	acontecimentos
(2)	objetos	inanimados	que	agem	de	acordo	com	suas	propriedades	específicas,
mas	sob	a	direção	ubíqua	de	Deus
c.	o	sol,	em	todo	seu	poder	e	glória,	está	às	ordens	de	Deus	(observar	como	a
Escritura	corrige,	para	Calvino,	as	observações	da	natureza)
3.	A	providência	de	Deus	governa	tudo
a.	não	por	um	movimento	geral,	mas	com	uma	propulsão	direta	e	específica	para
tudo	o	que	acontece;	não	por	uma	lei	universal	da	natureza	que	confina	a
vontade	de	Deus	dentro	de	seus	limites	estreitos:	evidência	escriturística
b.	benefícios	para	aqueles	que	louvam,	adequadamente,	a	onipotência	de	Deus
(1)	seu	poder	é	amplo	para	fazer	o	bem	no	céu	e	na	terra,	bem	como	entre	suas
criaturas	vigilantes	e	obedientes
(2)	ele	nos	protege	de	todas	as	coisas	nocivas;	mitiga	nossos	medos
supersticiosos	de	qualquer	coisa	que	nos	ameace:	exemplos	escriturísticos
4.	A	natureza	da	providência
a.	dois	erros
(1)	não	é	um	simples	conhecimento	prévio,	mas	governo	ativo	dos
acontecimentos
(2)	não	é	um	governo	confuso	e	geral	de	criaturas	individuais	(falsa	distinção
entre	a	vontade	de	Deus	e	sua	determinação)
b.	providência	“geral”	e	“especial”
(1)	a	doutrina	da	providência	geral	é	aceita	no	sentido	de	que	Deus	não	apenas
supervisiona,	mas	exerce	um	cuidado	especial	sobre	cada	uma	de	suas	obras
(2)	alguns	escritores	obscurecem	a	providência	especial	de	Deus	ao	restringi-la
somente	aos	atos	particulares;	nós	defendemos	que	Deus	ativamente	regula	todos
os	acontecimentos	individuais,	de	forma	que	nada	acontece	por	acaso
Doutrina	da	providência	especial	amparada	pela	evidência	das	Escrituras	[5-7]
5.	A	providência	de	Deus	também	dirige	o	particular
a.	alguns	pressupõem	que	Deus	concede	direção	geral	às	forças	da	natureza,	mas
que	as	coisas	particulares,	por	si	mesmas	ou	por	acaso,	são	impulsionadas	pela
inclinação	da	natureza
b.	mas	conquanto	isso	explique	a	progressão	das	estações,	não	explica	a
fecundidade	ou	escassez	das	colheitas,	a	abundância	ou	fome,	pois	essas	são
bênçãos	ou	maldições	de	Deus:	exemplos	escriturísticos
6.	A	providência	de	Deus	diz	respeito	aos	homens	de	forma	especial
a.	assim	como	o	universo	foi	estabelecido	especialmente	para	a	humanidade,	o
propósito	de	seu	governo	sobre	ele	é	o	mesmo
b.	nenhum	homem	pode	agir,	ou	mesmo	falar,	a	menos	que	Deus	o	deseje
c.	até	mesmo	ocorrências	que	parecem	bastante	fortuitas	estão	sujeitas	à	vontade
de	Deus,	como	demonstram	a	Escritura;	todas	as	coisas	vivem	debaixo	do	plano
secreto	de	Deus
7.	A	providência	de	Deus	também	regula	ocorrências	naturais
a.	exemplos	da	Escritura
(1)	vento:	nenhum	evento	se	levanta	ou	avulta,	senão	pela	ordem	expressa	de
Deus
(2)	poder	de	procriação
(3)	nutrição
b.	a	providência	geral	de	Deus
(1)	prossegue	a	ordem	da	natureza
(2)	é	adaptada	para	uma	finalidade	definida	e	específica
Discussão	da	sorte,	acaso	e	contingências	aparentes	nos	acontecimentos	[8-9]
8.	A	doutrina	da	providência	não	é	uma	crença	estoica	no	destino!
a.	falsa	acusação,	contra	a	providência	cristã,	de	que	se	trata	da	doutrina	estoica
do	destino	(cf.	Agostinho)
(1)	estoico:	a	necessidade	reside	em	uma	cadeia	de	causas
(2)	cristão:	decretos	eternos	de	Deus	executados	em	seu	governo	de	todas	as
coisas
b.	sorte	e	acaso	são	termos	pagãos	inadmissíveis	aos	cristãos,	como	dizem
Basílio	e	Agostinho
9.	As	verdadeiras	causas	dos	acontecimentos	estão	ocultas	de	nós
a.	a	morosidade	e	os	limites	da	mente	humana	veem	como	fortuitas	as	coisas	que
são,	na	verdade,	ordenadas	pelo	propósito	de	Deus
b.	nesse	sentido,	“destino”	e	“sorte”	são	palavras	usadas	na	Escritura	para
explicar	eventos	aparentemente	contingentes,	mas	consabidos,	pela	fé,	derivarem
de	um	movimento	secreto	de	Deus.	[A	liberdade	de	Deus	de	conduzir
acontecimentos	pode	ser	inferida	do	haver	poupado	os	ossos	frágeis	de	Cristo	de
serem	quebrados]
CAPÍTULO	17
Como	podemos	aplicar	a	doutrina	da	providência	para	nosso	maior	benefício
A	interpretação	da	providência	divina	com	referência	ao	passado	e	ao	futuro	[1-5]
1.	O	sentido	dos	caminhos	de	Deus
a.	três	coisas	a	serem	notadas
(1)	a	providência	de	Deus	deve	ser	considerada	no	que	tange	ao	futuro,	bem
como	no	que	tange	ao	passado	(discussão	nas	seçs.	3-5)
(2)	sua	obra	(especialmente	na	seç.	9):
(a)	ora	por	meio	de	um	intermediário
(b)	ora	sem	um	intermediário
(c)	ora	em	oposição	a	um	intermediário
(3)	por	meio	dela,	Deus	revela	seu	cuidado	por	toda	a	raça	humana,	mas
especialmente	sua	atenção	no	governo	da	igreja	(discutido	nas	seçs.	6-8)
b.	a	obscuridade	ocasional	da	providência	de	Deus	em	seu	trato	com	os	homens
não	deve	nos	levar	a	atribuir	todas	as	ocorrências	à	sorte	cega,	ou	vilipendiar
seus	juízos	ocultos
(1)	a	providência	de	Deus	é	revelada	no	desfecho	final	que	demonstra	seu
propósito,	mesmo	nos	eventos	mais	dolorosos
(2)	analogia	com	a	trovoada	que	cai	sobre	nós,	enquanto	no	alto,	acima	da
tempestade,	reina	a	serenidade
2.	As	regras	de	Deus	serão	respeitosamente	observadas!
a.	a	atitude	apropriada	acerca	da	providência	de	Deus	é	de	temor,	reverência	e
humildade,	não	a	arrogância	de	alguns	que	tentam	limitar	as	ações	de	Deus	à	sua
própria	razão
b.	a	Escritura	prova,	irrefutavelmente,	que	tudo	o	que	acontece	no	universo	é
governado	pelo	plano	inefável	de	Deus
(1)	a	vontade	de	Deus	tal	qual	revelada	na	lei	—	e	no	evangelho	—	distingue-se
de	sua	vontade	oculta,	chamada	pelas	Escrituras	de	“abismo”	(veja	1:18:3	sobre
a	afirmação	da	unidade	da	vontade	de	Deus)
(2)	o	testemunho	de	Jó,	em	especial,	quanto	a	isso
c.	que	possamos	consentir	com	a	suprema	autoridade	de	Deus,	para	que	sua
vontade	seja,	para	nós,	a	única	regra	de	justiça	e	a	verdadeira	causa	justa	de
todas	as	coisas
(1)	não	se	trata	de	uma	vontade	absoluta	divorciada	de	sua	justiça	(Sorbonne)
(2)	mas	de	providência,	a	fonte	única	de	justiça,	ainda	que	oculta
3.	A	providência	de	Deus	não	nos	exime	de	nossa	responsabilidade
a.	nós	não	devemos	culpar	a	Deus	por	nossa	impiedade	ou	adversidades,	como
fazem	certos	poetas	pagãos
b.	os	libertinos	igualmente	argumentam,	absurdamente,	que	a	providência:
(1)	ridiculariza	quaisquer	precauções	contra	o	perigo	ou	a	morte,	porque	não
podemos	escapar	do	fim	que	Deus	decretou	para	nós
(2)	exime-nos	de	nossos	crimes,	pois	Deus	decretou	que	eles	aconteceriam	e,
portanto,	é	sua	própria	causa,	e	nós	somos	apenasseu	instrumento
4.	A	providência	de	Deus	não	nos	desculpa	da	devida	prudência
a.	Deus	impôs	limites	à	nossa	vida	através	de	seus	decretos	eternos
b.	isso,	porém,	não	nos	impede	de	usar	os	meios	e	recursos	que	ele	nos	deu	para
a	preservação	da	nossa	vida
c.	assim,	tanto	a	tolice	como	a	prudência	são	instrumentos	da	dispensação	divina
5.	A	providência	de	Deus	não	absolve	nossa	impiedade
a.	a	alegação:	que	todos	os	feitos	passados,	mesmo	aqueles	que	são	maus,
ocorrem	pela	intervenção	da	vontade	de	Deus	e,	portanto,	não	podem	ser
punidos
b.	a	resposta:
(1)	em	sua	Palavra,	Deus	exige	de	nós	somente	o	que	ele	ordena;	se	agirmos
contra	sua	vontade,	somos	obstinados	e	desobedientes;	ainda	assim,	ele	usa	até
mesmo	nossos	feitos	maus	para	alcançar	seu	bom	propósito
(2)	a	culpa,	entretanto,	está	sobre	nós;	pois	se	nós	fazemos	o	mau,	nossas
consciências	são	condenadas,	mas	em	Deus	existe	apenas	o	uso	legítimo	de
nossas	más	intenções:	analogia	do	cadáver	fedendo	ao	sol;	nem	por	isso	os	raios
do	sol	fedem
Meditando	nos	caminhos	de	Deus	na	providência:	a	felicidade	de	reconhecer	atos	da	providência	[6-11]
6.	A	providência	de	Deus	como	consolo	dos	fiéis
a.	a	meditação	sobre	a	providência	de	Deus	é	um	antídoto	adequado	e
reconfortante	para	as	críticas	mencionadas	acima
b.	testemunhos	das	Escrituras	ao	cuidado	particular	—	e	não	generalizado	—	de
Deus	sobre	todas	as	criaturas,	especialmente	do	homem	e,	de	uma	maneira
singular,	de	sua	igreja
7.	A	providência	de	Deus	na	prosperidade
a.	os	testemunhos	das	Escrituras	mostram	que	todos	os	homens,	bons	ou	maus,
estão	sob	o	poder	de	Deus;	seu	zelo	é	governar	todas	as	criaturas	para	seu	bem	e
sua	segurança
b.	os	benefícios	que	derivam	desse	entendimento:
(1)	gratidão	pela	prosperidade	(seç.	7)
(2)	paciência	na	adversidade	(seç.	8)
(3)	libertação	das	angústias	acerca	do	futuro	(seçs.	10-11)
8.	A	certeza	da	providência	de	Deus	nos	ajuda	em	todas	as	adversidades
a.	na	adversidade,	erguemos	nosso	coração	a	Deus	para,	então,	recebermos
paciência	e	moderação	pacífica	da	mente
b.	conforme	numerosos	exemplos	na	Escritura	ensinam,	nós	devemos	remeter
nossa	mente	a	isto:	“o	Senhor	o	quis;	portanto	deve	ser	suportado,	não	apenas
porque	ninguém	pode	combatê-lo,	mas	também	porque	ele	deseja	somente	o	que
é	justo	e	oportuno”
(1)	isso	é	verdadeiro	para	as	injustiças	causadas	pelos	homens
(2)	e	para	os	infortúnios	que	acontecem	sem	a	ação	humana
9.	Nenhum	desdém	pelas	causas	intermediárias!
a.	no	que	tange	aos	acontecimentos	passados
(1)	pela	gentileza	demonstrada,	devemos	ser	gratos	aos	homens,	mas,	em	última
instância	a	Deus,	como	seu	principal	autor
(2)	pela	perda	sofrida,	devemos	reconhecer	que	ocorreu	pela	vontade	do	Senhor,
mas	devemos	também	atribuí-la	a	nós	mesmos
(3)	em	todos	os	crimes,	devemos	contemplar,	ao	mesmo	tempo,	a	justiça	de	Deus
e	a	impiedade	do	homem
b.	no	que	tange	aos	acontecimentos	futuros
(1)	devemos	nos	beneficiar	da	assistência	humana,	mas	sempre	como	um
instrumento	legítimo	da	providência	divina	a	ser	usufruído
(2)	devemos	buscar	o	que	parece	oportuno	para	nossa	mente,	mas	confiar,	em
última	instância,	na	sabedoria	de	Deus,	e	não	nos	auxílios	externos,	como	guia
para	nosso	objetivo
c.	assim,	seremos	capazes	de	nos	despojarmos	da	afobação	e	presunção,	e	clamar
continuamente	a	Deus
10.	Sem	a	certeza	da	providência	de	Deus,	a	vida	seria	insuportável
a.	a	ameaça	de	incontáveis	infortúnios	nos	achegam	a	todo	tempo,	ainda	que	a
maioria	deles	raramente	aconteça	—	pelo	menos	não	para	todos	ou	ao	mesmo
tempo
b.	que	vida	miserável	de	perturbação	nós	viveríamos	se	fôssemos	lançados	e
bofeteados	de	um	lado	para	o	outro	pela	sorte	cega!
11.	A	certeza	sobre	a	providência	de	Deus	coloca	em	nosso	coração	uma
confiança	jubilosa	em	relação	a	Deus
a.	a	providência	divina	nos	alivia	de	nossos	medos	e	ansiedades,	e	nos	dá
conforto	e	segurança
b.	a	providência	nos	ensina	que	mesmo	o	Diabo	e	seus	anjos	estão	agrilhoados
ao	serviço	de	Deus	(exemplos	da	Escritura)
c.	a	ignorância	da	providência	é	a	causa	última	de	todas	as	misérias;	o	seu
conhecimento	é	a	mais	elevada	bem-aventurança
Respostas	a	objeções	[12-14]
12.	Sobre	o	“arrependimento”	de	Deus
a.	as	passagens	do	Antigo	Testamento	em	que	“Deus	se	arrepende”	levam	alguns
a	afirmar	que	Deus	não	determinou	os	assuntos	dos	homens	por	meio	de	um
decreto	eterno,	mas	por	meio	de	decretos	circunstanciais,	conforme	ele	julgava	o
homem	correto	e	justo
b.	não	se	pode	acusar	Deus	de	arrependimento	mais	do	que	de	ignorância,	erro
ou	impotência
c.	algumas	passagens	que	falam	do	arrependimento	de	Deus	também	falam	de
sua	imutabilidade	acima	de	qualquer	arrependimento
13.	A	Escritura	fala	do	“arrependimento”	de	Deus	para	fazer	concessões	ao
nosso	entendimento
a.	nos	limites	e	fraquezas	de	nossa	mente,	não	podemos	entender	Deus	como	ele
realmente	é
b.	por	isso,	ele	precisa	se	apresentar	a	nós	não	como	ele	é,	mas	como	ele
aparenta	ser	para	nós
c.	as	emoções,	a	mutabilidade	e	outras	qualidades	humanas	afins	que	dizem
respeito	ao	arrependimento	não	podem	ser	atribuídas	a	Deus,	que	está	acima	de
tudo	isso,	mas	sim	ao	homem,	que	é	descontente	consigo	mesmo
d.	por	isso,	o	plano	de	Deus	permanecerá	eternamente	imaculado
14.	Deus	executa	firmemente	seu	plano
a.	os	exemplos	de	Jonas	em	Nínive	e	do	rei	Ezequias	não	ilustram	as	mudanças
do	plano	de	Deus,	mas	as	admoestações	de	Deus	das	quais	os	homens	podem	se
arrepender,	e	assim	executam	sua	vontade	e	seus	decretos
b.	isso	também	é	visto	no	caso	de	Abraão	e	do	rei	Abimeleque
CAPÍTULO	18
Deus	usa	de	tal	forma	as	obras	dos	ímpios,	e	de	tal	forma	subjuga	suas	mentes	para	executar	seus
juízos,	que	ele	permanece	puro	de	toda	mácula
1.	Não	uma	simples	“permissão”!
a.	a	falsa	distinção	entre	“executar”	e	“permitir”
(1)	sugerida	pela	percepção	carnal	(humana),	a	fim	de	“preservar”	Deus	da
mácula	de	cometer	o	mau	e	do	aparente	absurdo	de	Deus	punir	os	homens	por
uma	cegueira	infligida	divinamente
(2)	entretanto,	essa	distinção	proposta	sugeriria	que	existem	áreas	da	existência
sobre	as	quais	Deus	não	tem	conhecimento	ou	controle,	ou	que	ao	menos	se
entregam	a	um	movimento	não	direcionado	por	ele
(3)	pelo	contrário,	todos	os	ímpios	estão	de	tal	forma	sob	o	poder	de	Deus	que
ele	direciona	suas	más	intenções	para	qualquer	finalidade	que	lhe	pareça	boa	e
faz	uso	de	seus	feitos	ímpios	para	executar	seus	juízos	—	e	sem	qualquer	mácula
ou	culpa	de	sua	parte
b.	exemplos	da	Escritura
(1)	como	o	próprio	Jó	reconhece,	não	é	Satanás,	mas	o	próprio	Deus	a	fonte	de
suas	provações:	os	homens	ou	Satanás	podem	instigar	algo,	mas	Deus,	por	seu
condão,	reverte	seus	esforços	para	executar	seus	juízos
(2)	a	cegueira	e	insanidade	de	Acabe	(1Rs	22.20,	22)
(3)	os	apóstolos	reconhecem	Pilatos	e	os	judeus	como	meros	executores	do	que
Deus	decretou	(At	4.28;	cf.	2.23	etc.)
(4)	o	incesto	de	Absalão	foi	obra	do	próprio	Deus	(2Sm	16.22;	12.12)
(5)	segundo	Jeremias,	a	crueldade	dos	caldeus	em	relação	a	Judá	foi	obra	de
Deus	(Jr	1.15;	7.14;	50.25	etc.)
(6)	a	“zombaria”,	a	“vara	de	sua	ira”	e	expressões	afins	na	Escritura	atestam	a
mesma	coisa
(7)	portanto,	Deus	não	se	assenta	ocioso	em	uma	torre	de	vigia	aguardando	os
acontecimentos	fortuitos,	como	se	seus	juízos	dependessem	da	vontade	humana
(visão	epicurista)
2.	Como	o	impulso	de	Deus	se	desenrola	no	homem?
a.	várias	expressões	escriturísticas	mostram	que	“qualquer	coisa	que	concebemos
em	nossa	mente	é	dirigida	para	a	finalidade	de	Deus	por	sua	secreta	inspiração”;
não	pela	simples	permissão,	mas	com	a	atuação	ativa	do	Espírito
b.	isso	é	visto	notavelmente	no	“endurecimento	do	coração	do	faraó”
(1)	seria	absurdo	dizer	que	o	faraó	endureceu	seu	próprio	coração
(2)	antes,	a	vontade	de	Deus	é	a	causa:	o	homem,	conquanto	seja	alvo	da	ação	de
Deus,	ao	mesmo	tempo	age	por	si	mesmo
c.	frequentemente	Deus	age	nos	ímpios	pela	intervenção	de	Satanás,	mas	sempre
com	o	impulso,	direção	e	limitação	de	Deus
d.	esse	tópico	será	mais	bem	discutido	com	o	livre-arbítrio,	no	Livro	Dois
e.	portanto,	“como	se	diz	que	a	vontadede	Deus	é	a	causa	de	todas	as	coisas,	eu
fiz	de	sua	providência	o	princípio	determinante	para	todos	os	planos	e	obras
humanas,	não	apenas	para	demonstrar	sua	força	nos	eleitos,	que	são	regidos	pelo
Espírito	Santo,	mas	também	para	compelir	os	réprobos	à	obediência”
3.	A	vontade	de	Deus	é	uma	unidade
a.	as	blasfêmias	daqueles	que	rejeitam	os	oráculos	patentes	e	inequívocos	da
Escritura
b.	refutação	de	sua	primeira	objeção,	de	que	se	nada	acontece
independentemente	da	vontade	de	Deus,	existem	nele	duas	vontades	contrárias:
por	seu	plano	secreto,	ele	decreta	o	que	proíbe	abertamente	por	sua	lei
(1)	evidência	da	Escritura,	testemunho	de	Agostinho
(2)	somente	nosso	desleixo	e	incapacidade	de	entendimento	supõem	que	exista
qualquer	contradição	na	vontade	de	Deus,	qualquer	variação	nele,	qualquer
mudança	em	seu	plano	ou	discordância	em	si	mesmo
4.	Mesmo	quando	Deus	usa	os	feitos	dos	ímpios	para	seus	propósitos,	ele	não
sofre	censura
a.	sua	objeção:	se	Deus	não	apenas	usa	a	obra	dos	ímpios,	mas	também	governa
sua	intenção:
(1)	ele	é	o	autor	de	toda	a	impiedade
(2)	os	homens	são	injustamente	condenados	se	eles	executam	o	que	Deus
decretou,	porque	obedecem	à	sua	vontade
b.	confusão	entre	vontade	e	preceito,	em	sua	acusação:	conquanto	Deus	realize
por	meio	dos	ímpios	o	que	ele	decretou	por	seu	juízo	secreto,	eles	não	são
desculpáveis,	como	se	tivessem	obedecido	o	preceito	de	Deus	que	violam,
deliberadamente,	por	sua	própria	luxúria
c.	discussão	de	exemplos	da	Escritura:
(1)	a	divisão	de	Israel	e	Judá	e	os	acontecimentos	relacionados	do	Antigo
Testamento	vistos	à	luz	da	vontade	de	Deus	e	da	impiedade	do	homem
(2)	Agostinho	acerca	da	traição	do	nosso	Senhor	por	Judas
d.	deve-se	manter	uma	atitude	de	humildade	ensinável	e	admissão	de	nossas
limitações	mentais	em	relação	ao	ensino	das	Escrituras	neste	assunto
¹	I.	e.,	“fonte	de	toda	essência”.	(N.	do	T.)
²	I.	e.,	os	seis	dias	da	Criação.	(N.	do	T.)
³	Publicado	em	português	por	Ecclesiae	sob	o	título	A	hierarquia	celeste.
LIVRO	DOIS
O	conhecimento	de	Deus,	o	Redentor	em	Cristo…,	primeiramente
revelado	aos	patriarcas,	sob	a	Lei,	e	então	a	nós,	no	evangelho
CAPÍTULO	1
Pela	Queda	e	revolta	de	Adão,	toda	a	raça	humana	foi	entregue	à	maldição	e	degenerou-se	de	sua
condição	original;	a	doutrina	do	pecado	original
Um	conhecimento	verdadeiro	de	nós	mesmos	destrói	a	autoconfiança	[1-3]
1.	Conhecimento	equivocado	e	correto	de	si
a.	o	antigo	adágio:	“conhece-te	a	ti	mesmo”
b.	sua	aplicação	distorcida	por	alguns	filósofos	que	instam	o	homem	a	conhecer
a	si	mesmo	para	reconhecer	seu	próprio	valor	e	excelência
c.	os	elementos	do	verdadeiro	autoconhecimento;	considerar:
(1)	o	que	Deus	nos	deu	na	Criação	e	ainda	nos	dá:	nós	devemos	tudo	a	ele
(2)	nossa	condição	miserável	depois	que	a	Queda	de	Adão	nos	fez	perder	nossa
natureza	original	justa	e	nos	deixou	humilhados	e	envergonhados
d.	a	dinâmica	da	vida	cristã
dignidade	original	→	contraste	absoluto	com	a	nossa	condição	decaída
abominação	e	desgosto	para	conosco	mesmos	→	humildade	→	novo	zelo	na
busca	de	Deus	→	recuperação	das	boas	coisas	que	perdemos	(imortalidade)
2.	O	homem,	por	natureza,	inclina-se	para	uma	autoadmiração	ilusória
a.	o	autoconhecimento	exigido	é	tal	que	nos	despoja	de	toda	confiança	em	nossas
próprias	habilidades
b.	as	armadilhas	em	dar	ao	homem	crédito	por	sua	excelência:
(1)	eleva	o	nosso	amor-próprio	cego	e	inato
(2)	mesmo	se	atribuímos	parte	à	Deus,	ficamos	com	o	bastante	para	dar	ocasião
ao	orgulho	e	excesso	de	confiança
c.	em	praticamente	todas	as	eras,	homens	que	enalteceram	virtudes	humanas
foram	populares	porque	apelaram	ao	orgulho	dos	homens
d.	Mas	aqueles	confiantes	de	que	podem	fazer	qualquer	coisa	por	seu	próprio
poder	lançam-se,	por	ignorância	própria,	à	destruição
3.	Os	dois	principais	problemas	do	autoconhecimento
a.	como	adquirimos	autoconhecimento?
(1)	o	julgamento	carnal¹	sugere	que	o	homem	pode	conhecer	a	si	mesmo	muito
bem,	pode	ousadamente	declarar	guerra	contra	os	vícios	e	alcançar	uma	boa	vida
por	seu	próprio	esforço
(2)	Mas,	se	o	parâmetro	do	julgamento	divino	for	empregado,	o	homem	fica
esvaziado	de	autoconfiança,	levado	ao	completo	desânimo	e	impotência
(3)	contudo,	Deus	assim	nos	dirige	para	meditarmos	sobre	a	nossa	nobreza
original,	e	assim	nos	desperta	para	ansiarmos	o	reino	de	Deus
b.	as	duas	partes	do	autoconhecimento	de	Deus;	considerar:
(1)	o	propósito	para	o	qual	ele	foi	criado	e	dotado:	meditação	sobre	a	adoração
divina	e	a	vida	futura	(i.	e.,	a	natureza	do	seu	dever)
(2)	sua	própria	carência	de	habilidades:	confusão	(a	dimensão	de	sua	capacidade
de	executar	esse	dever)
O	pecado	de	Adão	implicou	a	perda	dos	dons	originais	do	homem	e	a	ruína	de	toda	a	raça	humana	[4-7]
4.	A	história	da	Queda	nos	mostra	o	que	é	o	pecado	(Gn	3):	infidelidade
a.	que	tipo	de	pecado,	na	deserção	de	Adão,	acendeu	a	vingança	de	Deus	contra
toda	a	humanidade?
(1)	é	pueril	chamá-lo	de	intemperança	glutona,	pois	toda	espécie	de	frutos
abundava	para	o	deleite	de	Adão
(2)	a	recomendação	de	comer	o	fruto	da	árvore	da	vida	e	a	proibição	do	fruto	da
árvore	do	conhecimento	do	bem	e	do	mal	foi	um	teste	da	fé	de	Adão
(3)	daí	que,	como	Agostinho	sugere,	foi	o	orgulho	que	deu	início	a	todos	os
males
b.	qual	foi	a	natureza	da	tentação	de	Adão?
(1)	a	desobediência	foi	princípio	da	Queda	(cf.	Rm	5:19),	ocasionada:
(a)	pelas	lisonjas	de	Satanás
(b)	pelo	próprio	desprezo	do	homem	pela	verdade:	irreverência	para	com	a
Palavra	de	Deus
(2)	a	infidelidade	foi	a	raiz	da	Queda
(3)	isso	levou	à	ambição	e	ao	orgulho,	aliado	à	ingratidão	(em	relação	à	grande
generosidade	de	Deus):	apostasia
(4)	a	ambição	levou	à	desobediência	obstinada	—	os	homens	lançaram	fora	o
temor	de	Deus	e	seguiram	seus	próprios	desejos
c.	síntese:	Adão	jamais	teria	ousado	se	opor	à	autoridade	de	Deus,	a	menos	que
ele	tivesse	desacreditado	da	Palavra	de	Deus
5.	O	primeiro	pecado	como	pecado	original
a.	a	presença	da	maldição	por	todo	o	mundo,	do	contraste	entre	o	que	os	homens
são	e	o	que	foram	criados	para	ser,	é	o	fundamento	para	inferir	que	a	punição	do
pecado	de	Adão	se	estende	a	toda	sua	descendência
b.	pecado	original	=	a	depravação	da	natureza	anteriormente	boa	e	pura
c.	posição	dos	pais	da	igreja	em	relação	ao	pecado	original:
(1)	os	primeiros	pais	lidaram	com	isso	de	forma	obscura	porque	a	ideia	de	que	o
pecado	de	um	foi	feito	pecado	comum	de	todos	não	é	a	visão	usual
(2)	Pelágio	e	Celéstio	negaram	despudoradamente	o	pecado	original,	mas
Agostinho	(e	outros)	se	empenharam	em	mostrar	que	nós	somos	corrompidos
não	por	impiedade	adquirida,	mas	por	carregarmos	um	defeito	inato	desde	o
ventre	de	nossas	mães
(3)	Salmos	51.5	como	texto-prova:	essa	confissão	não	é	exclusiva	de	Davi;
portanto,	a	sina	comum	da	humanidade	está	exemplificada	nele
d.	síntese:	descendentes	da	semente	impura,	somos	todos	nascidos	infectados
pelo	contágio	do	pecado
6.	O	pecado	original	não	se	baseia	em	imitação
a.	o	contraste	Adão/Cristo	estabelecido	em	Romanos	5.12-17	é	a	base	para	a
crença	no	pecado	original	por	propagação	(não	por	imitação,	como	defende
Pelágio)	e	na	justiça	adquirida	pela	transmissão	de	Cristo
b.	O	propósito	de	Paulo,	em	1Coríntios,	é	reforçar	a	fé	dos	santos	na
ressurreição:	a	vida	perdida	em	Adão	é	recuperada	em	Cristo	(1Co	15.22)
c.	“Nós	morremos	em	Adão”	deve	ser	interpretado	pela	analogia	do	contágio
[d.	tudo	isso	para	exaltar	o	nosso	novo	nascimento	em	Cristo]
7.	A	transmissão	do	pecado	de	uma	geração	para	outra
a.	nossa	preocupação	deve	ser	com	os	dons	confiados	a	Adão	e	perdidos	na
Queda,	não	com	a	fonte	da	alma	humana
b.	os	dons	foram	dados	não	a	um	homem,	mas	atribuídos	ao	todo	da	raça
humana;	de	forma	que,	quando	foram	tomados	de	um	homem,	foram	retirados	de
todos
c.	metáforas
(1)	raízes	podres	produzem	ramos	e	galhos	podres
(2)	o	fluxo	de	contágio	não	avança	pela	natureza	enquanto	originalmente	criada,
mas	enquanto	posteriormente	corrompida
d.	os	filhos	não	descendem	da	regeneração	espiritual	de	seus	pais,	mas	de	sua
geração	carnal	(Agostinho	vs.pelagianos)
O	pecado	original	definido	como	depravação	da	natureza,	o	qual	merece	punição,	mas	que	não	parte	da
natureza	enquanto	criada	[8-11]
8.	A	natureza	do	pecado	original
a.	definição:	“o	pecado	original	é	uma	depravação	e	corrupção	hereditária	da
nossa	natureza,	difundida	em	todas	as	partes	da	alma,	que	nos	torna,
primeiramente,	sujeitos	à	ira	de	Deus	e,	então,	produz	em	nós	as	‘obras	da
carne’”
b.	duas	considerações:
(1)	somos	tão	viciados	e	deturpados	em	cada	parte	de	nossa	natureza	que
estamos	justamente	condenados	e	culpados	diante	de	Deus:	todos,	até	mesmo
crianças,	são	culpados	por	seu	próprio	pecado,	não	pelos	dos	outros
(2)	essa	perversidade	nunca	acaba	em	nós,	mas	produz	novos	frutos
continuamente
(a)	não	é	uma	mera	ausência	de	justiça	original,	mas	a	presença	de	uma	potência
ativa	e	um	poder	para	o	mal
(b)	não	é	mera	concupiscência	de	uma	parte	—	o	todo	do	homem	é	maculado
9.	O	pecado	subverte	todo	o	homem
a.	todas	as	partes	da	alma,	bem	como	as	do	corpo,	são	possuídas	pelo	pecado
(Paulo)
b.	descrições	escriturísticas	do	pecado	original	em	termos	de	renovação
(1)	todo	o	terceiro	capítulo	de	Romanos
(2)	Efésios	4.23
(3)	Romanos	12.2;	8.7;	8.6
10.	O	pecado	não	é	nossa	natureza,	mas	seu	desarranjo
a.	nosso	pecado	não	é	reflexo	da	manufatura	de	Deus;	novamente	faz-se
distinção	entre	a	natureza	enquanto	criada	e	a	natureza	enquanto	corrompida
b.	que	ninguém	resmungue	que	Deus	poderia	ter	melhor	arranjado	ao	prevenir	a
Queda	de	Adão:	o	segredo	da	predestinação	é	a	chave	(veja	3.21-24,	a	seguir)
c.	nossa	própria	depravação	da	natureza,	e	não	o	autor	da	natureza,	deve	ser
responsabilizada	pela	nossa	ruína:	o	homem	é	responsável
11.	Corrupção	“natural”	da	“natureza”	criada	por	Deus
a.	nosso	uso	do	termo	“natural”	refere-se,	aqui,	à	natureza	corrompida,	não	a
uma	propriedade	substancial	da	natureza	original,	e	é	usado	para	descartar	a	má
conduta,	em	vez	do	direito	hereditário,	como	causa	da	corrupção
b.	esse	uso	do	termo	“natureza”	nos	permite
(1)	usar	frases	como	“naturalmente	abominável	a	Deus”	e	“naturalmente
depravado	e	defeituoso”
(2)	negar	a	ficção	maniqueísta	dos	dois	criadores	(que	eles	inventaram	para
evitar	atribuir	a	causa	do	mal	ao	Deus	justo)
CAPÍTULO	2
O	homem	agora	está	privado	da	liberdade	de	escolha	e	acorrentado	a	uma	servidão	miserável
1.	Introdução	e	método
a.	perigos	do	orgulho	e	da	confiança	descarada
b.	deve-se	glorificar	a	Deus	em	humildade
Opinião	sobre	“livre-arbítrio”	dada	pelos	filósofos	e	teólogos	[2-9]
2.	Os	filósofos	confiam	no	poder	do	entendimento
3.	Apesar	de	tudo,	os	filósofos	afirmam	a	liberdade	da	vontade
4.	As	visões	dos	escritores	eclesiásticos	em	geral	e	em	particular
a.	geralmente	demonstram	menos	clareza,	mas	tendem	a	aceitar	o	livre-arbítrio
b.	definições	de	livre-arbítrio	por:
(1)	Orígenes
(2)	Agostinho
(3)	Bernardo
(4)	Anselmo
(5)	Pedro	Lombardo
(6)	Tomás	de	Aquino
5.	Distinções	patrísticas	e	escolásticas	entre	liberdade	da	vontade	em	questões
temporais	e	espirituais
a.	distinção	patrística	das	esferas	da	liberdade	humana	e	graça	divina
(1)	as	“coisas	intermediárias”,	não	pertencentes	ao	reino	de	Deus,	entram
debaixo	do	livre	juízo	do	homem
(2)	a	justiça	verdadeira	—	referida	pelos	pais	[da	igreja]	à	graça	especial	de	Deus
e	regeneração	espiritual
b.	três	tipos	de	vontade	(Próspero	de	Aquitânia,	Calling	of	the	Gentiles	[O
chamado	dos	gentios])
(1)	sensitiva dádivas	livres	do	homem
(2)	psíquica
(3)	espiritual	—	obra	do	Espírito	Santo	no	homem
c.	isso	não	é	uma	refutação,	mas	uma	avaliação	das	opiniões	dos	pais	da	igreja
(1)	eles	estão	preocupados,	principalmente,	com	a	relação	da	vontade	com	a
obediência	à	lei	divina
(2)	nós,	porém,	não	podemos	negligenciar	sua	importância	para	ações	civis	ou
externas
d.	a	distinção	escolástica	dos	tipos	de	liberdade	[Lombardo]
(1)	da	necessidade	—	ainda	habita	no	homem
(2)	do	pecado perdidos	por	meio	do	pecado
(3)	da	miséria
6.	Distinções	equívocadas	dos	escolásticos
a.	todos	concordam	(exceto	os	socinianos,	que	dizem	que	a	graça	é	igualmente	e
indiscriminadamente	distribuída)	que	o	livre-arbítrio	não	bastará	para	habilitar	o
homem	a	fazer	boas	obras,	a	menos	que	ele	seja	auxiliado	por	uma	graça
especial
b.	mas	o	homem	foi	totalmente	destituído	de	todo	o	poder	de	fazer	o	bem	ou	ele
ainda	tem	algum	parco	poder?
(1)	Agostinho	diz	que	o	homem	é	totalmente	destituído
(2)	os	primeiros	escolásticos	(Bernardo,	Lombardo,	Fulgêncio)	pensam	estar
seguindo	Agostinho	quando	sugerem	que,	uma	vez	que	o	homem	receba	a	graça
inicial,	sua	livre	aceitação	dela	é	meritória	(segundo	o	Concílio	de	Orange)
(3)	os	escolásticos	posteriores	(Occam,	Biel,	os	sorbonistas)	estão	ainda	mais
distantes	do	pensamento	de	Agostinho
7.	Que	o	homem	seja	necessariamente	um	pecador,	mas	sem	coerção,	não
fundamenta	uma	doutrina	de	livre-arbítrio
a.	é	errado	atribuir	à	disposição	do	homem	para	pecar	o	rótulo	vultuoso	de
“livre-arbítrio”
b.	a	maioria	dos	modernos,	seja	pessoas	comuns	ou	teólogos	eruditos,
negligenciam	a	interpretação	desse	termo	pelos	escritores	antigos	e,	amparando-
se	em	seu	significado	etimológico	[in	verbi	etymon],	culminam	em	uma
desastrosa	autoconfiança
8.	Agostinho	afirma	que	a	vontade	é	“cativa”
a.	Agostinho	emprega	o	termo	liberum	arbitrium	[livre-arbítrio]	amplamente,
mas	geralmente	para	dois	propósitos:
(1)	para	enfatizar	o	pecado	inescusável	do	homem
(2)	para	reforçar	o	caráter	vazio	e	negativo	da	“liberdade”	do	homem	ou	de	sua
emancipação	da	justiça
b.	seria	preferível	abolir	o	termo	e,	então,	libertar	a	igreja	de	uma	fonte	de
contenda
9.	Inconsistência	de	escritores	eclesiásticos	sobre	o	livre-arbítrio
a.	ao	apontarmos	o	tratamento	ambíguo	do	livre-arbítrio	por	todos	os	escritores
eclesiásticos,	à	exceção	de	Agostinho,	alertamos	o	povo	de	Deus	a	não	depender
da	opinião	dos	homens	nesse	assunto
b.	entretanto,	até	mesmo	esses	autores	enalteceram	o	livre-arbítrio	com	este
propósito:	abandonar	a	confiança	em	sua	própria	virtude	e	apegar-se	no	poder
reside	em	Deus	somente
CONDIÇÃO	ATUAL	DO	ENTENDIMENTO	E	DA	VONTADE	DO	HOMEM	[10-27]
Devemos	abandonar	toda	autoafirmação	[10-11]
10.	Condição	atual	do	entendimento	e	da	vontade	do	homem
a.	o	autoconhecimento	se	baseia	na	consciência	de	nossa	impotência;	o	mais
ínfimo	crédito	concedido	ao	esforço	de	alguém	impugna	a	honra	de	Deus	e	nos
expõe,	como	nossos	primeiros	pais,	às	intenções	do	Diabo
b.	a	Escritura	repetidamente	nos	humilha	com	o	propósito	de	despojar	nossa
confiança,	por	menor	que	seja,	em	nossa	própria	força	(exemplos	da	própria
Escritura)
11.	A	verdadeira	humildade	dá	honra	somente	a	Deus
a.	ambos,	Crisóstomo	e	Agostinho,	enfatizam	a	humildade	como	uma	virtude
cristã	fundamental
b.	Agostinho	particularmente	insiste	na	completa	submissão,	não	como	mera
abstenção	do	orgulho	e	arrogância	[exemplos]
Corrupção	do	entendimento	[12-25]
entendimento	de	coisas	terrenas	[12-17]
12.	Embora	dons	sobrenaturais	sejam	destruídos	e	dons	naturais	corrompidos,
resta	razão	o	bastante	para	diferenciar	o	homem	dos	animais	ferozes
a.	dons	sobrenaturais	suprimidos	pelo	pecado
(1)	incluem	a	fé,	o	amor	a	Deus,	a	caridade	para	com	o	próximo,	o	zelo	por
santidade	e	a	justiça
(2)	esses	são	restaurados	por	Cristo	em	nós	por	meio	da	graça	da	regeneração
b.	dons	naturais	(razão,	vontade)	não	são	suprimidos,	mas	corrompidos	pelo
pecado
(1)	se	a	razão	fosse	completamente	suprimida,	o	homem	seria	indistinguível	dos
animais	ferozes
(a)	portanto,	algumas	centelhas	de	razão	ainda	reluzem
(b)	elas,	porém,	são	ineficazes	porque	estão	encobertas	por	um	manto	de	densa
ignorância
(2)	a	vontade	também	não	some	completamente,	uma	vez	que	está	ligada	à	nossa
natureza	pecaminosa	e,	por	isso,	não	é	manifestada	da	forma	correta
c.	introdução	à	discussão	da	condição	do	entendimento	humano	sob	o	pecado
(cf.	1.15.7;	(a)	entendimento,	(b)	vontade)
(1)	é	errado	condenar	o	entendimento	humano	por	sua	cegueira	perpétua:
contrário	à	Palavra	de	Deus	e	à	experiência
(2)	o	entendimento	humano	ainda	é	capaz	de	percepçãoe	anseia	pela	verdade,
mas	mostra	sua	ineficácia	ao	investigar	ninharias	—	como	observam	os
filósofos,	mas	não	o	sabem	explicar
13.	A	ordem	social
a.	as	capacidades	de	entendimento	variam	conforme	o	objeto	contemplado:
distinção	entre	objetos	terrenos	e	“coisas”	celestes
terrenos	(1)	não	dizem	respeito	a	Deus	ou	seu	reino,	à	verdadeira	justiça	ou	à	vida	futura	abençoada	(2)	mas	se	relacionam	com	a	vida	presente
ou
(1)	governo	(2)	administração	do	lar	(3)	habilidades	mecânicas	(4)	artes	liberais(1)	conhecimento	de	Deus	e	de	sua	vontade	(2)	a	regra	pela	qual	submetemos	nossas	vidas	à	vontade	de	Deus
b.	o	caráter	inato	e	universal	da	lei	enquanto	base	da	organização	humana:
equidade	(epiekeia):	alguma	necessidade	de	ordem	política	foi	incutida	em	todos
os	homens
c.	o	fato	de	que	alguma	semente	de	ordem	política	foi	incutida	em	todos	os
homens	não	é	refutado	por	criminosos	e	outros	gêneros	de	foras	da	lei,	que
rejeitam	a	lei	por	causa	de	seus	desejos,	e	não	de	seu	entendimento;	suas
agitações	simplesmente	provam	a	fraqueza	da	mente	humana
14.	As	artes	—	liberal	e	manual
a.	conquanto	as	artes	não	sejam	compartilhadas	em	igual	medida	por	todos	os
homens,	quase	todos	têm	algum	talento	em	alguma	arte:	isso	é	evidência	da
capacidade	persistente	do	entendimento	humano	(após	a	Queda)
b.	a	criação	ocasional	de	parvos	por	Deus	demonstra	(pela	sua	ausência)	que	a
capacidade	nas	artes	é	um	dom	de	Deus
c.	o	homem	tem,	portanto,	o	princípio	das	artes	congênito	em	si	e	a	capacidade
inerente	para	aperfeiçoar-se	nas	artes	(contra	a	doutrina	da	reminiscência	de
Platão)
15.	As	ciências
a.	toda	ciência	humana	vem	do	Espírito	de	Deus,	a	única	fonte	da	verdade
b.	daí	que	não	devemos	depreciar	nenhuma	verdade	humana,	do	contrário
condenamos	o	Espírito,	sua	fonte	última,	e	assim	somos	culpados	de	ingratidão	a
Deus
c.	Deus,	portanto,	deixou	alguns	dons	com	os	homens	mesmo	depois	que	sua
natureza	foi	despojada	de	sua	verdadeira	bondade
16.	A	competência	humana	na	arte	e	na	ciência	também	derivam	do	Espírito	de
Deus
a.	o	Espírito	de	Deus	distribui	dons	naturais,	para	a	humanidade,	para	o	bem
comum	—	para	todos,	justos	e	injustos;	isso	deve	ser	diferenciado,	entretanto,	do
espírito	de	santificação
b.	daí	que	podemos	ser	tutelados	nas	artes	úteis	e	nas	ciências	mesmo	pelos
ímpios,	já	que	eles	receberam	seus	dons	de	Deus
c.	Agostinho	ensina	—	e	os	escolásticos	concordam	—	que	os	dons	gratuitos
foram	suprimidos	depois	da	Queda,	enquanto	os	restantes,	os	naturais,	foram
corrompidos:	isso	não	significa	que	os	dons	eram	degenerados	em	si	mesmos,
mas	que	para	homens	degenerados,	eles	não	eram	mais	puros
17.	Síntese
a.	por	sua	graça	geral	(comum),	Deus	limita	a	corrupção	da	natureza
b.	por	uma	graça	especial,	ele	dota	cada	homem	segundo	o	seu	chamado
entendimento	das	coisas	celestiais	[18-25]
α	O	discernimento	espiritual	fica	totalmente	perdido	enquanto	não	somos
regenerados	(itens	18-21)
18.	Os	limites	do	nosso	entendimento	a	respeito	do	reino	de	Deus	e
discernimento	espiritual
a.	o	discernimento	espiritual	consiste	em	conhecer
(1)	Deus
(2)	sua	benevolência	paternal	em	nosso	favor	(nossa	salvação)
(3)	como	moldar	nossa	vida	de	acordo	com	a	regra	de	sua	lei	(itens	22-25)
b.	filósofos	têm	vislumbres	o	suficiente	de	Deus	para	refreá-los	de	esconder	sua
impiedade	sob	a	ignorância,	mas	fora	esse	lampejo	sutil,	seus	livros	estão
repletos	de	confusões	e	mentiras
19.	A	cegueira	espiritual	do	homem	demonstrada	em	João	1.4-5
a.	mas	nossa	opinião	enfatuada	desse	lampejo	sutil	nos	torna	cegos
b.	João,	no	prólogo	de	seu	evangelho,	nos	ensina	que	não	temos	absolutamente
nenhum	entendimento	espiritual,	a	menos	que	sejamos	iluminados	pelo	Espírito
de	Deus
20.	O	conhecimento	do	homem	sobre	Deus	é	da	própria	obra	de	Deus,	por	meio
da	iluminação	de	seu	Espírito;	testemunho	da	inabilidade	do	homem:
a.	João	Batista	e	Moisés
b.	o	próprio	Cristo
c.	Paulo	(o	mais	claro	de	todos)
21.	Sem	a	luz	do	Espírito,	tudo	é	escuridão
a.	testemunhos	de	Paulo	sobre	o	esclarecimento	pelo	Espírito
b.	a	luz	do	sol	e	o	ensino	do	próprio	Jesus	não	estão	disponíveis	aos	homens	à
parte	do	Espírito
c.	“aquele	que	atribui	qualquer	conhecimento	adicional	a	si	mesmo	é	tanto	mais
cego,	porque	não	reconhece	sua	própria	cegueira”
β	O	pecado	é	distinto	da	ignorância	(	vs	.	Platão),	mas	pode	ser	ocasionado	pelo
engano	(itens	22-25)
22.	A	evidência	que	o	homem	possui	sobre	a	vontade	de	Deus	o	torna
inescusável,	mas	não	lhe	assegura	nenhum	conhecimento	certo
a.	de	acordo	com	Paulo,	o	que	a	lei	de	Moisés	faz	pelos	judeus,	a	lei	natural
(consciência)	faz	pelos	gentios
b.	definição	de	lei	natural:	“lei	natural	é	aquela	percepção	da	consciência	que
distingue	suficientemente	entre	o	justo	e	o	injusto,	e	que	despoja	os	homens	das
desculpas	de	ignorância,	ao	passo	que	os	prova	culpados	por	seu	próprio
testemunho”
c.	a	noção	errônea	de	Platão	de	que	o	pecado	devido	à	ignorância	emerge	da
autocomplacência	do	homem:	quando	ele	comete	o	mal,	prontamente	afasta	de
sua	mente,	tanto	quanto	pode,	o	sentimento	de	pecado
23.	O	juízo	do	bem	e	do	mal,	conquanto	se	dê	arbitrariamente,	é	obscuro
a.	como	mostra	Temístio,	o	homem	é	bom	nas	definições	gerais,	mas	medíocre
na	aplicação	a	casos	específicos:	um	homem	pode	considerar	maus	o	assassinato
ou	o	adultério,	exceto	quando	ele	próprio	vislumbra	cometer	qualquer	um	desses
crimes
b.	às	vezes,	contudo,	contra	essa	regra	geral,	o	homem	deliberadamente	e
conscientemente	se	precipita	na	impiedade
c.	essa	tendência	é	proveitosamente	explicada	pela	distinção	de	Aristóteles	entre
ἀκράτεια	(incontinência)	e	ἀκολασία	(intemperança)
(1)	na	incontinência,	a	paixão	(παθή)	cega	a	mente	para	o	mal	e	seus	delitos,	mas
quando	ela	retrocede,	o	arrependimento	retorna
(2)	na	intemperança,	há	persistência	teimosa	no	pecado
24.	O	conhecimento	humano	falha	completamente	no	que	tange	à	primeira	tábua
da	lei;	no	que	tange	à	segunda,	falha	de	forma	crítica
a.	nosso	poder	para	discriminar	entre	o	justo	e	o	injusto	só	é	suficiente	para	nos
prevenir	de	esquivar	da	verdade	e	usar	da	ignorância	como	nossa	desculpa
b.	nossa	cegueira	é	demonstrada	se	medimos	nossa	razão	pela	lei	de	Deus,	o
padrão	da	perfeita	justiça
(1)	primeira	tábua:	como	poderíamos	ter	qualquer	noção	da	adoração	adequada	a
Deus	a	partir	de	nossas	próprias	percepções	naturais?
(2)	segunda	tábua:	aqui	nós	vemos	de	forma	um	pouco	mais	clara,	mas	ainda
imperfeitamente,	por	causa	de	nossa	preocupação	com	a	preservação	da
sociedade	civil;	os	filósofos	também	não	perscrutam	para	além	dos	vícios
exteriores,	desejos	perversos	adentro
25.	Todos	os	dias	precisamos	do	Espírito	Santo	para	que	não	percamos	nosso
caminho
a.	assim	como	todos	os	pecados	não	podem	ser	atribuídos	à	ignorância,	assim
também	nem	todos	os	pecados	são	apenas	o	resultado	da	maldade	e	depravação
b.	testemunho	de	Paulo,	Davi	e	Agostinho	sobre	a	inabilidade	do	homem	de,
desassistido,	entender	os	mandamentos	de	Deus	corretamente
(1)	Paulo	nega	que	até	mesmo	o	agir	adequado	quanto	a	qualquer	coisa	possa
adentrar	nossa	mente
(2)	Davi	repetidamente	pede	a	Deus	por	um	novo	entendimento	da	lei
(3)	Agostinho	equipara	a	graça	da	iluminação	pelo	Espírito	à	luz	do	sol	—	e
igualmente	necessária
“Corrupção	da	vontade”	—	a	inabilidade	do	homem	para	desejar	o	bem	[26-27]
26.	O	instinto	natural	que	trata	o	“bem”	e	o	“aceitável”	da	mesma	forma	não	tem
nada	a	ver	com	a	liberdade	da	vontade	e	não	é	prova	desta
a.	liberdade	de	decisão	[moral]	depende	da	vontade,	e	não	do	entendimento
b.	o	instinto	natural	de	buscar	o	seu	bem-estar	(“bem”)	é	um	impulso	racional
que	o	homem	compartilha	com	os	animais
c.	nós	desejamos	seguir	o	bem,	nossa	eterna	bem-aventurança,	mas	não	o
fazemos	nem	o	logramos	à	parte	do	impulso	do	Espírito	Santo
27.	Nossa	vontade	não	pode	desejar	o	bem	sem	o	Espírito	Santo
a.	a	visão	de	que	os	homens	têm	impulsos	inatos	sutis	para	o	bem,	mas	carecem
de	potencialização	do	Espírito	Santo,	é	baseada	em	uma	falsa	leitura,	por	parte
de	alguns	dos	primeiros	pais	[da	igreja]	(sobre	os	quaisse	ergueram	alguns	dos
escolásticos	ulteriores),	da	descrição	de	Paulo	do	bellum	intestinum	[guerra
interior]	(Rm	7.18ss)
b.	esse	versículo	não	se	refere	à	natureza	humana,	mas	à	natureza	humana
regenerada,	como	Agostinho	veio	a	compreender
c.	Agostinho	interpreta	Paulo,	Moisés	e	Davi	a	esse	respeito:	“nada	nos	pertence,
senão	o	pecado”
CAPÍTULO	3
Apenas	coisas	execráveis	provêm	da	natureza	corrupta	do	homem
A	natureza	corrupta	do	homem	é	tal	que	requer	uma	total	renovação	de	sua	mente	e	vontade	[1-5]
1.	O	homem	todo	é	carne
a.	em	João	3.6	e	Romanos	8.6-7,	há	um	contraste	absoluto	entre	espírito	e	carne
(1)	“carne”	significa	o	homem	plenamente	natural	e	não	regenerado
(2)	“espírito”	significa	a	alma	totalmente	renovada	pelo	Espírito	Santo
b.	esse	argumento	é	posto	ainda	mais	claramente	em	Efésios	4.17-23,	em	que
Paulo	contrasta	a	cegueira	e	maldades	da	degeneração	com	a	luz	da	regeneração
c.	o	entendimento	do	homem	não	renovado	por	Deus	produz	apenas
pensamentos	estúpidos,	frívolos,	insanos	e	perversos
2.	Romanos	3	como	testemunho	da	corrupção	do	homem
a.	essa	passagem	[usando	excertos	dos	Salmos]	não	descreve	a	moralidade
depravada	de	uma	época	ou	de	indivíduos	específicos,	mas	acusa	a	corrupção
invariável,	por	natureza,	e	não	por	mero	costume,	de	todos	os	filhos	de	Adão
b.	exegese	da	passagem
(1)	Paulo	despoja	o	homem	(em	sua	condição	apóstata)	da	justiça	e,	então,	do
entendimento
(2)	todos	caíram,	tornaram-se	corruptos	e	incapazes	de	fazer	o	bem
(3)	enumera	seus	atos	vergonhosos,	nem	todos	manifestos	em	cada	[um],	mas
latente	em	todas	as	pessoas
(4)	a	semelhança	com	o	corpo	enfermo,	embora	este	ainda	tenha	algum	vigor	de
vida,	enquanto	a	alma	está	totalmente	destituída	de	todo	bem
3.	A	graça	de	Deus	refreia,	às	vezes,	o	que	não	purifica:	o	problema	do	virtuoso
não	regenerado
a.	os	virtuosos	de	todas	as	épocas	parecem	nos	alertar	contra	ajuizar	a	natureza
do	homem	enquanto	totalmente	corrompida
b.	eles,	porém,	apenas	ilustram	um	outro	operar	da	graça	de	Deus	—	não	para
purificar,	mas	para,	ao	menos,	refrear	internamente
c.	a	graça	restritiva	de	Deus	é	necessária,	em	meio	à	total	depravação	dos
homens,	para	tornar	possíveis	a	sociedade	e	a	vida	humana;	modalidades:
(1)	restrição	por	vergonha
(2)	restrição	por	medo	da	lei
(3)	restrição	porque	a	honestidade	é	considerada	proveitosa
(4)	outros	erguem-se	acima	da	massa	ordinária	para	que,	por	sua	excelência,
possam	manter	os	demais	obedientes	a	eles
d.	síntese:	Deus,	por	sua	providência,	refreia	a	perversidade	da	natureza	para	que
não	se	irrompa	em	ato;	mas	ele	não	a	purifica	internamente
4.	A	retidão	é	dom	de	Deus;	mas	a	natureza	do	homem	permanece	corrompida
a.	o	problema	da	retidão	pagã:	Camilo	vs.	Catilina
(1)	ou	Camilo	=	Catilina,	ou
(2)	o	homem	natural	tem	alguma	capacidade	de	cultivar	virtude
b.	solução:	essas	“virtudes	naturais”	são	dádivas	especiais	de	Deus,	outorgadas
em	alguma	medida	e	variavelmente	sobre	homens	ímpios	em	tudo	o	mais
c.	síntese:	quanto	às	virtudes	que	nos	enganam	com	seus	espetáculos	vãos,	elas
terão	aplauso	na	assembleia	política	e	no	trato	regular	entre	os	homens;	mas
perante	o	trono	de	juízo	celestial,	eles	não	serão	de	nenhum	valor	para	alcançar	a
justiça
5.	O	homem	peca	necessariamente,	mas	sem	coerção
a.	o	homem	é	impotente	para	se	dirigir	por	si	mesmo	em	direção	ao	bem:	a
Escritura	atribui	esse	movimento	inteiramente	à	graça	de	Deus
b.	no	estado	decaído	do	homem,	a	vontade	permanece	desejosa	por	pecar
(1)	desejar:	(humano)
(2)	desejar	o	mal:	(da	natureza	corrupta)
(3)	desejar	o	bem:	(da	graça)
c.	distinção	entre	necessidade	e	coerção
(1)	Deus	é	incapaz	de	fazer	o	mal,	não	por	coerção,	mas	devido	à	sua	bondade
sem	limites:	o	livre-arbítrio	de	Deus	não	é	embaraçado	ou	comprometido	pelo
fato	de	que	ele	deve	fazer	o	bem
(2)	o	Diabo	pode	fazer	apenas	o	mal,	mas	ele	peca	por	vontade	própria
(3)	o	homem,	embora	sujeito	à	necessidade	do	pecar,	ainda	assim	peca
voluntariamente
(4)	homem:	liberdade	→	pecado	→	corrupção	(permutando	a	liberdade	em
necessidade)
d.	objetivo	dessa	distinção:	na	Queda,	o	homem	pecou	voluntária	e
desejosamente,	não	sob	coerção	externa;	sua	natureza	já	depravada	pode	agora
ser	movida	e	impelida	somente	para	o	mal,	i.e.,	está	sujeita	agora	à	necessidade
do	pecado
e.	testemunho	de	Bernardo	[de	Claraval]	acerca	da	servidão	voluntária	do
homem
Conversão	da	vontade	é	o	efeito	da	graça	divina	internamente	outorgada	[6-14]
6.	A	inabilidade	do	homem	para	fazer	o	bem	se	manifesta	acima	de	tudo	na	obra
da	redenção	que	Deus	realiza	totalmente	sozinho
a.	o	método	de	Deus	para	suprir	o	que	nos	falta,	corrigir	e	tratar	nossa	natureza
corrompida
(1)	inicia-se	ao	instigar	amor,	desejo	e	zelo	pela	justiça	em	nosso	coração	(ou	por
meio	do	curvar,	moldar	e	direcionar	nosso	coração	à	justiça)
(2)	completa-se	ao	nos	confirmar	na	perseverança
b.	exegese	de	Ezequiel	36.26:	“Eu	removerei	o	coração	de	pedra	do	seu	corpo	e
lhe	darei	um	coração	de	carne”
(1)	essa	comparação	mostra,	na	verdade,	que	nada	de	bom	pode	ser	extraído	de
nosso	coração;	o	que	se	passa	[de	bom]	vem	totalmente	de	Deus
(2)	“criados	novamente”	não	significa	que	a	vontade	começa	agora	a	existir,	mas
que	é	permutada	de	uma	má	vontade	para	uma	boa
c.	passagens	corroborantes	de	Paulo	e	de	Salmos	ensinam	que:
(1)	Deus	é	o	autor	da	vida	espiritual	do	começo	ao	fim
(2)	nem	o	mínimo	de	crédito	nos	é	dado,	já	que	nossa	salvação,	dom	gratuito	de
Deus,	vem	da	segunda	criação	(antítese:	Adão	vs.	Cristo)
(3)	todas	as	partes	das	boas	obras,	desde	seu	primeiro	impulso,	pertencem	a
Deus
(4)	o	homem	nada	tem	do	que	se	orgulhar,	pois	a	salvação	toda	provém	de	Deus
7.	Não	se	trata	de	um	caso	da	“cooperação”	do	crente	na	graça;	a	vontade	é
primeiramente	exercida	por	meio	da	graça
a.	ensino	errôneo	da	cooperação:	que	a	vontade,	tendo	sido	preparada	pelo	poder
de	Deus,	tem,	então,	sua	própria	parte	na	ação
(1)	[Pedro]	Lombardo,	aqui,	está	distorcendo	o	uso	de	Agostinho	da	pedissequa,
a	vontade	humana	enquanto	“servente”	da	graça
(2)	Crisóstomo	erroneamente	afirma:	“Nem	a	graça	sem	a	vontade,	nem	a
vontade	sem	a	graça,	pode	fazer	qualquer	coisa”
b.	Agostinho	defende	que	a	graça	é	anterior	a	todo	mérito
8.	A	Escritura	atribui	a	Deus	tudo	o	que	é	para	o	nosso	proveito
a.	método:	selecionar	sem	violentar	alguns	testemunhos	claros	da	Escritura	para
resumir	o	assunto,	mas	também	com	o	aval	de	Agostinho	(“a	quem	os	santos,
por	amplo	consenso,	investem	justamente	da	maior	autoridade”)
b.	Deus	(a	única	fonte	do	bem)
c.	nossa	conversão	é	a	criação	de	um	novo	espírito	e	um	novo	coração;	nossa
vontade	reformada,	conquanto	seja	boa,	provém	de	Deus,	não	de	nós	mesmos
9.	As	orações	na	Escritura	mostram,	especialmente,	como	o	princípio,	a
continuação	e	o	fim	da	nossa	bem-aventurança	provém	de	Deus	somente
a.	a	oração	de	Salomão	e	as	de	Davi,	nos	Salmos,	mostram:
(1)	a	antítese	entre	o	movimento	perverso	do	coração	e	a	correção	de	Deus
(2)	a	depravação	total	do	homem	intocado	pela	graça
(3)	que	a	pureza	de	coração,	uma	vez	recebida,	é	plenamente	uma	dádiva,	uma
“criação”	de	Deus
b.	João	e	Paulo,	no	Novo	Testamento,	também	afirmam	que	é	somente	Deus	que
age	em	nós	para	fazer	o	bem
c.	o	dom	de	Deus	inclui	duas	partes
(1)	a	vontade	para	fazer	o	bem
(2)	o	poder	para	realizá-lo	(para	sobrepujar	o	fardo	da	carne	que	pesa	sobre	a
vontade)
10.	A	atividade	de	Deus	não	produz	uma	possibilidade	que	podemos	exaurir,	mas
uma	realidade	à	qual	não	podemos	acrescentar
a.	Crisóstomo	falsamente	afirma:	“Aquele	que	Ele	atrai,	deseja	ser	atraído”:	essa
visão	errada	foi	por	muito	tempo	defendida	por	muitos	na	igreja
b.	antes:	o	Senhor,	por	seu	Espírito,	direciona,	dobra	e	governa	nosso	coração,	e
reina	neles	como	sua	própria	posse
c.	Deus	não	julga	todos,	indiscriminadamente,	dignos	de	sua	graça	(como	alguns
escolásticos	defendem)
(1)	essa	ideia	é	que,	uma	vez	que	a	graça	é	proferida	por	Deus,	os	homens	são
livres	para	aceitá-la	ou	rejeitá-la
(2)	antes,	seguindo	Agostinho,	devemos	sustentar	que	os	eleitos	são	tambémregenerados	por	meio	do	Espírito	Santo,	movidos	e	governados	por	sua	direção
INÍCIO
PELAGIANA liberdade	incondicional	da	verdade	ESFORÇO	HUMANO
(mais	graça	auxiliadora,	porém	não	necessária)
SEMIPELAGIANA passo	inicial	tomado	por	liberdade	não	assistida
TUDO	O	MAIS	É	DOM	DE	DEUS
AGOSTINIANA passo	inicial	pela	graça	preveniente
TUDO	É	DOM	DE	DEUS	predestinação	absoluta
CONCÍLIO	DE	ORANGE	529 Deus	habilita	o	homem	para	fazer	o	bem	que	ele	faz	OU:	todos,	entretanto,	são	capazes,	depois	de	terem	recebido	graça	por	meio	do	batismo,	com	a	cooperação	de	Deus,	de	alcançar	o	que	é	necessário	para	a	salvação	de	suas	almas	(sinergismo)
11.	A	perseverança	é	obra	de	Deus,	exclusivamente;	não	é	uma	recompensa,	nem
um	complemento	ao	nosso	ato	individual
a.	a	noção	errônea	de	que	a	perseverança	é	distribuída	de	acordo	com	o	mérito
dos	homens,	à	medida	que	cada	um	se	mostre	receptivo	à	primeira	graça,	contém
dois	erros
(1)	que	a	nossa	gratidão	pela	primeira	graça	e	nosso	uso	lícito	dela	são
recompensados	por	dádivas	subsequentes
(2)	que	a	graça	não	opera	em	nós	por	si	mesma,	mas	apenas	como	uma
cooperadora	conosco	[cooperatrix]
b.	o	primeiro	ponto	sugere	dois	alertas
(1)	não	afirmar	que	o	uso	lícito	da	primeira	graça	é	recompensado	por	graças
posteriores,	como	se	o	homem,	por	seu	próprio	esforço,	tornasse	efetiva	a	graça
de	Deus,	ou
(2)	pensar	sobre	a	recompensa	de	tal	forma	a	deixar	de	considerá-la	livre	graça
de	Deus
c.	o	segundo	ponto	usa	a	distinção	trivial	entre	graça	“operadora”	e
“cooperadora”
(1)	essa	mesma	distinção	é	usada	por	Agostinho,	mas	não	para	dividir	a	ação
entre	Deus	e	o	homem;	antes,	para	enfatizar	a	multiplicação	das	graças
(2)	a	boa	vontade	do	homem	é	dom	de	Deus,	concedida	livremente	por	Deus
12.	O	homem	não	pode	atribuir	a	si	próprio	nem	mesmo	uma	única	boa	obra
independentemente	da	graça	de	Deus
a.	falsa	interpretação	de	1Coríntios	15.10	—	eles	interpretam	a	inserção	da	frase
de	Paulo,	“não	eu,	mas	a	graça	de	Deus	que	estava	comigo”,	como	Paulo
corrigindo	a	si	mesmo,	a	fim	de	ensinar	que	ele	era	um	parceiro	na	obra	da	graça
do	Senhor:	até	mesmo	bons	homens	em	todo	o	resto	têm	tropeçado	nesse
obstáculo!
b.	a	ambiguidade	da	expressão	é	realçada	pela	tradução	em	latim,	que	perde	a
força	do	artigo	grego;	a	tradução	correta	é	que	a	graça	presente	com	ele	era	a
causa	de	todas	as	coisas
c.	esse	é	o	ensino	de	Agostinho	e	Bernardo
13.	Agostinho	não	reconhece,	também,	nenhuma	atividade	independente	da
vontade	humana
a.	os	sorbonistas	alegam	toda	ambiguidade	contra	nós,	mas	eles	estão	apenas
abraçando	Pelágio	contra	Agostinho
b.	Agostinho:
(1)	Adão:	posse,	sed	non	velle	[poder,	não	querer]
nós:	posse	velle	[querer	e	poder]	(após	a	graça)
(2)	três	estágios:
(a)	posse	non	peccare	[capaz	de	não	pecar]	(antes	da	Queda)
(b)	non	posse	non	peccare	[incapaz	de	não	pecar]	(após	a	Queda)
(c)	non	posse	peccare	[incapaz	de	pecar]	(na	graça)
c.	resumindo,	nas	palavras	do	próprio	Agostinho:	“somente	a	graça	produz	toda
boa	obra	em	nós”
14.	Agostinho	não	elimina	a	vontade	do	homem,	mas	a	torna	totalmente
dependente	da	graça
a.	a	graça	age	internamente,	transformando	a	vontade	má	em	boa;	ela	não	age
externamente,	arrancando	a	vontade	má	e	substituindo-a	por	outra,	que	é	boa
b.	essa	graça	não	é	conferida	a	todos	os	homens,	mas	quando	concedida,	é	pela
livre	graça,	e	não	pelos	méritos	humanos
c.	a	graça	subsequente	também	é	conferida	por	Deus,	e	não	concedida	porque	os
homens	meritoriamente	aceitaram	a	primeira	graça
d.	a	vontade	humana	não	alcança	a	graça	pela	liberdade,	mas	obtém	a	liberdade
pela	graça
e.	“livre-arbítrio”:	somente	pela	graça	se	pode	ser	convertido	a	Deus	e,	qualquer
coisa	que	se	possa	fazer,	se	consegue	somente	por	meio	da	graça
CAPÍTULO	4
Como	Deus	opera	no	coração	do	homem
O	homem	está	sob	o	controle	de	Satanás:	a	Escritura,	porém,	mostra	Deus	fazendo	uso	de	Satanás	no
endurecimento	do	coração	do	réprobo	[1-5]
1.	O	homem	permanece	sob	o	poder	do	Diabo	—	e	voluntariamente,	na	verdade
a.	sumário	da	discussão
(1)	prova	de	que	o	homem	está	de	tal	forma	aprisionado	pelo	jugo	do	pecado	que
ele	não	pode,	por	sua	própria	natureza,	almejar	ou	pelejar	em	direção	ao	bem
(2)	por	uma	distinção	entre	coerção	e	necessidade,	demonstra-se	que	o	homem
peca	tanto	necessariamente	quanto	voluntariamente
b.	questões	que	permanecem
(1)	mas	qual	é	a	parte	do	Diabo	e	a	parte	do	homem	no	ato	do	pecado?
(2)	Deus	tem	algum	papel	nas	obras	más	atribuídas	a	ele,	em	parte,	pela
Escritura?
c.	a	alegoria	[pseudo]agostiniana	do	cavalo	(homem)	com	dois	cavaleiros	(Deus
ou	o	Diabo).	Interpretação:
(1)	a	vontade,	aprisionada	pelas	armadilhas	de	Satanás,	necessariamente	se
submete,	em	obediência,	à	sua	direção
(2)	aqueles	que	o	Senhor	não	torna	dignos,	ele	justamente	abandona	à	ação	de
Satanás
2.	Deus,	Satanás	e	homem:	agentes	no	mesmo	evento	[o	ataque	dos	caldeus	a	Jó
(Jó	1.17)]
a.	a	coisa	toda	parte	de	Satanás
b.	mas	Jó	reconhece	ali	a	obra	do	Senhor
c.	“divisão	de	trabalho”
[(1)	não	estamos	lidando,	aqui,	com	a	ação	universal	de	Deus	que	sustenta	todas
as	criaturas	e	lhes	confere	energia	para	tudo	que	eles	fazem]
(2)	ação	especial	que	aparece	em	cada	feito	particular
(a)	Satanás	é	instrumento	da	ira	de	Deus,	do	decreto	de	Deus	para	executar	seu
justo	juízo	[finalidade]
(b)	Satanás	instiga	os	caldeus	(que	lhes	foram	entregues	por	Deus	para	executar
essa	tarefa)	[modo]
(c)	os	caldeus	executam	a	má	ação
3.	O	que	significa	“dureza”?
a.	princípio	exegético	na	leitura	dos	pais	da	igreja:	os	pais	às	vezes	se	abstêm	da
confissão	clara	da	verdade	para	evitar	que	os	ímpios	falem	de	forma	irreverente
das	obras	de	Deus
(1)	isso	é	aceitável	se	nos	apegarmos	à	Escritura
(2)	Agostinho	às	vezes	demonstra	isso	ao	atribuir	o	“endurecer”	e	“obscurecer”	a
um	simples	anteconhecimento,	e	não	à	ação	de	Deus;	mas	em	Contra	Julianum
[Contra	Juliano],	Agostinho	claramente	afirma	que	os	pecados	acontecem	pelo
poder	de	Deus	como	uma	punição	por	pecados	cometidos	previamente
b.	são	duas	as	formas	pelas	quais	Deus	“endurece”
(1)	ao	retirar	sua	luz,	permanecem	somente	trevas	e	cegueira
(2)	ao	destinar	ativamente	os	propósitos	e	vontades	dos	homens,	Deus	executa
seus	juízos	por	meio	de	Satanás,	enquanto	administrador	de	sua	ira
4.	Exemplos	escriturísticos	de	como	Deus	lida	com	os	ímpios
a.	primeiro	modo:	Jó	12.20;	12.24;	Isaías	63.17
b.	segundo	modo
(1)	o	endurecimento	do	coração	do	faraó
(2)	a	resistência	das	tribos	autóctones	à	invasão	de	Canaã	pelos	israelitas
Síntese	de	Agostinho:	“O	fato	de	que	homens	pecam	é	sua	própria	obra;	que
eles,	ao	pecarem,	façam	isso	ou	aquilo,	provém	do	poder	de	Deus,	que	divide	as
trevas	como	lhe	apraz”
5.	Satanás	também	deve	servir	a	Deus
a.	“o	espírito	mau	do	Senhor”	(1Sm	16.14;	18.10;	19.9])	não	o	Espírito	Santo,
mas	um	“espírito	de	Deus”,	porque	responde	à	sua	vontade	e	poder	e	age	como
instrumento	de	Deus,	e	não	como	um	autor	próprio
b.	como	Satanás	governa	um	homem	réprobo	e	como	o	Senhor	age	em	ambos
(1)	Deus	fabrica	esses	instrumentos	perversos,	os	quais	ele	mantém	debaixo	de
sua	mão	e	utiliza-os,	quando	lhe	apraz,	para	servir	à	sua	justiça
b.	sendo	maus,	eles	dão	à	luz,	por	suas	ações,	uma	impiedade	concebida	em	sua
natureza	depravada
A	providência	de	Deus	sobrepuja	a	vontade	dos	homens	em	questões	externas	[6-8]
6.	Não	estamos	por	conta	própria	em	ações	que	não	são,	em	si	mesmas,	boas	ou
más
a.	e	quanto	às	ações	humanas	no	reino	físico	em	contraste	com	o	espiritual	—	o
homem	tem	liberdade	para	agir	aqui?
b.	alguns	[os	luteranos]	concedem	liberdade	ao	homem	no	reino	civil	—	isso	não
é	tão	relevante	quanto	admitir	a	impotência	do	homem	para	justificar	a	si
mesmo:	este	é	o	principal	ponto	necessário	que	se	conheça	para	a	salvação
c.	mas	até	mesmo	aqui,	é	a	graça	especial	de	Deus	que	opera	em	nosso	benefício
ou	nos	dirige	para	longe	do	perigo
d.	numerosos	exemplos	escriturísticos	demonstram	que	a	mente	dos	homens
estava	mais	submetidas	ao	Senhor	do	que	governada	por	si	mesma
(1)	a	benção	de	Jacó	sobre	José,	quando	ele	o	julgouum	pagão	no	Egito
(2)	Saul	impelido	à	guerra	pelo	Espírito	de	Deus
(3)	Absalão	dissuadido	do	conselho	de	Aitofel
(4)	Roboão	persuadido	pelo	conselho	dos	jovens
(5)	a	confissão	de	Raabe,	de	que	era	Deus	que	fazia	as	nações	tremerem	ante	à
chegada	de	Israel	etc.
7.	Em	cada	caso,	o	domínio	de	Deus	permanece	acima	da	nossa	liberdade
a.	mas	esses	não	seriam	exemplos	especiais,	a	partir	dos	quais	não	se	pode
generalizar?
b.	não,	até	mesmo	nossa	própria	experiência	diária	mostra	que	nossa	mente	é
dirigida	(inclusive	em	coisas	externas)	pela	incitação	de	Deus,	e	não	pela	nossa
própria	liberdade
c.	esta	é	a	chave	para	interpretar	Provérbios	20.12;	21.1
(1)	de	todas	as	vontades,	a	vontade	do	rei	deve	ser	aquela	que	menos	se	sujeita
(2)	Mas	até	mesmo	a	vontade	do	rei	está	na	mão	de	Deus
(3)	assim,	nossas	vontades	também	não	estão	isentas	daquela	condição
d.	Agostinho	afirma	que	o	poder	de	Deus	(por	meio	de	seu	juízo	secreto,	porém
justo)	dirige	todas	as	vontades	humanas
(1)	para	outorgar	benefícios	ou
(2)	para	infligir	juízos
8.	A	questão	do	“livre-arbítrio”	não	depende	de	conseguirmos	realizar	o	que
queremos,	mas	se	conseguimos	querer	livremente
a.	a	habilidade	do	homem	de	escolher	livremente	não	depende	do	desenrolar	das
coisas	ou	do	sucesso	exterior
b.	não	se	está	discutindo	aqui	o	poder	para	se	executar	uma	decisão,	mas	a
liberdade	de	julgamento	e	da	inclinação	da	vontade
c.	Atílio	Régulo,	o	prisioneiro,	não	tem	mais	nem	menos	livre-arbítrio	do	que
Augusto,	o	governante	do	mundo
CAPÍTULO	5
Refutação	das	objeções	comumente	apresentadas	em	defesa	do	livre-arbítrio
Respostas	a	argumentos	a	favor	do	livre-arbítrio	baseados	no	senso	comum	[1-5]
1.	Primeiro	argumento:	o	pecado	necessário²	não	é	pecado;	o	pecado	voluntário	é
evitável
a.	Pelágio	usou	esse	argumento	contra	Agostinho;	nós,	porém,	não	apelamos
simplesmente	ao	peso	do	nome	de	Agostinho
b.	o	pecado	não	é	menos	pecado	porque	é	necessário
(1)	o	pecado	não	é	necessário	em	virtude	da	Criação,	mas,	em	virtude	da	Queda,
o	homem	é	aprisionado	ao	pecado
(2)	o	Diabo	peca	necessariamente;	porém	voluntariamente
(3)	inversamente,	a	vontade	dos	anjos	eleitos	não	pode	rejeitar	o	bem,	mas	nem
por	isso	deixa	de	ser	vontade
(4)	Bernardo	ensina	que	somos	ainda	mais	miseráveis	porque	a	necessidade	é
voluntária
c.	o	pecado	não	é	evitável	porque	é	voluntário:	afirmar	o	oposto	é	passar,
erroneamente,	de	“voluntário”	para	“livre”
2.	Segundo	argumento:	recompensa	e	punição	perdem	seu	significado	a	menos
que	ambos,	virtudes	e	vícios,	procedam	da	livre	escolha	da	vontade
a.	esse	é	o	argumento	de	Aristóteles
(1)	também	usado	por	Crisóstomo	e	Jerônimo
(2)	Jerônimo	também	cita	a	opinião	de	Pelágio:	“se	é	a	graça	de	Deus	operando
em	nós,	então	é	a	graça,	e	não	nós,	que	não	trabalhamos,	que	será	coroada”
b.	as	punições	são	infligidas	sobre	nós	justamente,	já	que	a	culpa	do	pecado
deriva	sua	fonte	de	nós	(i.e.,	os	pecados	são	propriamente	nossos;	portanto,	nós
somos	justamente	punidos)
c.	é	absurdo	dizer	que	as	recompensas	da	justiça	dependem	da	bondade	de	Deus,
e	não	dos	nossos	próprios	méritos
(1)	Agostinho	diz	que	os	méritos	derivam	dos	dons	de	Deus	e,	portanto,	Deus
coroa	seus	próprios	dons
(2)	o	apóstolo	Paulo	diz	que	os	fiéis	são	coroados	ou	glorificados	porque	eles
foram	escolhidos,	chamados	e	justificados	pela	misericórdia	do	Senhor,	e	não
por	seus	próprios	esforços
(3)	Deus	recompensa	as	graças	que	ele	outorga	sobre	nós	como	se	elas	fossem
nossas,	porque	ele	as	faz	nossas
3.	Terceiro	argumento:	toda	distinção	entre	bem	e	mal	seria	obliterada
a.	o	argumento	apresentado	por
(1)	Crisóstomo:	se	escolher	o	bem	ou	mal	não	é	uma	faculdade	da	nossa
vontade,	aqueles	que	compartilham	da	mesma	natureza	devem	ser	todos	maus	ou
todos	bons
(2)	Próspero	de	Aquitânia:	ninguém	teria	jamais	abandonado	a	fé	se	a	graça	de
Deus	não	o	tivesse	deixado	em	uma	condição	suscetível
b.	de	alguma	forma,	eles	se	esqueceram	de	que
(1)	a	eleição	de	Deus	faz	a	distinção	dos	homens
(2)	o	dom	de	Deus	da	perseverança	é	conferido	a	alguns,	mas	não	a	todos
4.	Quarto	argumento:	toda	exortação	seria	irrelevante,	a	menos	que	o	pecador
tivesse	em	si	a	capacidade	de	obedecer
a.	Agostinho	enfrentou	esse	argumento	e	o	respondeu	em:
(1)	On	rebuke	and	grace³:	“Ó	homem!	Aprende	por	preceito	o	que	deves	fazer;
aprende	por	reprimenda	que	é	sua	própria	culpa	que	você	não	o	tem;	aprende	por
oração	de	onde	podes	receber	o	que	desejas	ter”
(2)	On	the	Spirit	and	the	letter⁴:	que	Deus	não	mensura	os	preceitos	de	sua	lei	de
acordo	com	as	potencialidades	humanas;	antes,	ele	concede	aos	eleitos	a
capacidade	de	cumpri-los
b.	Cristo	e	o	apóstolo	estão	do	nosso	lado
(1)	Cristo	declara:	“Sem	mim,	vocês	não	podem	fazer	nada”;	não	obstante,	ele
condena,	castiga	e	exorta
(2)	Paulo	se	lança	contra	os	coríntios	por	sua	negligência	no	amor;	contudo,	ora
para	que	o	Senhor	possa	concedê-los	amor
c.	Paulo	aponta	que	o	ensino,	a	exortação	e	a	repreensão	mudam	de	fato	a	mente
d.	Moisés	e	os	profetas	exortam,	mas	professam	que	os	homens	se	tornam	sábios
somente	pelo	dom	de	Deus
5.	O	significado	da	exortação
a.	para	os	ímpios:
(1)	hoje,	compele-os	com	o	testemunho	da	consciência
(2)	no	dia	do	juízo,	torna-os	inescusáveis
b.	para	os	fiéis
(1)	em	conjunção	com	a	obra	interna	do	Espírito	Santo,	convence	do	pecado	e
(2)	acende	o	desejo	pelo	bem
Respostas	a	argumentos	em	favor	do	livre-arbítrio	baseados	na	interpretação	da	lei,	das	promessas	e	das
reprimendas	da	Escritura	[6-11]
6.	Os	preceitos	de	Deus	são	“a	medida	de	nossa	força”?
a.	nossos	adversários	citam	numerosos	mandamentos	de	Deus	a	partir	da
Escritura	e	dizem	que,	ou	Deus	zomba	de	nós,	ou	exige	somente	o	que	está
dentro	da	nossa	capacidade
b.	a	lei	foi	colocada	acima	de	nós	para	nos	mostrar	claramente	nossa	própria
fraqueza
c.	o	testemunho	de	Paulo	acerca	da	síntese	da	lei
(1)	o	propósito	e	cumprimento	da	lei	é	o	amor
(2)	Paulo	ora	para	que	o	coração	dos	tessalonicenses	abunde	em	amor
(3)	entretanto,	ele	admite	plenamente	que	a	lei	ecoa	em	nossos	ouvidos	inócua,	a
menos	que	Deus	inspire	em	nosso	coração	toda	a	síntese	da	lei
7.	A	lei	aponta,	em	si,	nosso	caminho	rumo	à	graça
a.	a	Escritura	claramente	explica	o	uso	múltiplo	da	lei
b.	aos	mandamentos	estão	associadas	promessas	que	proclamam	que	nosso
sustento	e,	da	mesma	forma,	toda	nossa	virtude,	repousa	no	auxílio	da	graça
divina
c.	como	disse	Agostinho:	“Deus	nos	obriga	a	fazer	o	que	não	conseguimos	para
que	saibamos	que	devemos	buscar	nele”
8.	Os	diversos	tipos	de	mandamentos	claramente	mostram	que,	sem	a	graça,	não
podemos	fazer	nada	(três	classes;	mencionadas	primeiramente	em	6)
a.	primeira	classe:	aqueles	que	exigem	que	o	homem	se	converta	a	Deus
(1)	Deus,	porém,	testemunha	por	meio	de	Moisés,	Ezequiel	etc.,	que	ela	é
realizada	por	ele	mesmo
(2)	Agostinho	testemunha:	“O	que	Deus	promete,	não	realizamos	nós	mesmos
por	escolha	ou	natureza;	mas	ele	mesmo	o	faz	por	meio	da	graça”
b.	segunda	classe:	aqueles	que	simplesmente	falam	sobre	a	observância	da	lei;
mas	muitas	passagens	dizem	que	nossa	justiça,	santidade,	piedade	e	pureza	são
dons	de	Deus
c.	terceira	classe:	aqueles	que	obrigam	o	homem	a	perseverar	na	graça	de	Deus;
mas	Paulo	ora	e	dá	graças	porque	Deus	completa	toda	boa	obra	e	propósito	neles
9.	A	obra	da	conversão	não	é	dividida	entre	Deus	e	o	homem
a.	nossos	adversários	dizem
(1)	que	nós	façamos	nosso	melhor,	e	Deus	favorecerá	nossos	frágeis	esforços,	e
(2)	que	Zacarias	1.3	não	se	refere	ao	relacionamento	de	Deus	conosco,	mas	ao
testemunho	material	de	sua	disposição	gentil	em	relação	a	nós
10.	As	promessas	bíblicas	pressupõem	(segundo	a	visão	de	nossos	adversários)	a
liberdade	da	vontade
a.	como	no	caso	dos	mandamentos	de	Deus,	nossos	adversários	dizem	que	Deus
zomba	de	nós	quando	nos	convida	a	merecer	suas	bênçãos	sabendo	que	somos
impotentes
b.	eu	nego	isso	e	afirmo	que	as	promessas	pretendem
(1)	prevenir	os	ímpios	de	desfrutar	de	seus	pecados,	e
(2)	ajudar	os	mandamentos	a	acender	o	desejo	por	justiça	nos	fiéis
11.	As	repreensõesna	Escritura,	objetam	eles	ainda,	perdem	seu	sentido	se	a
vontade	não	for	livre
a.	se	a	vontade	não	é	livre,	Deus	é	cruel	em	nos	repreender	por	males	de	que	não
podemos	escapar
b.	contudo,	o	pretexto	da	necessidade	é	uma	defesa	frágil	e	fútil;	eles	são
culpados	e	não	podem	jogar	a	culpa	sobre	uma	causa	externa
c.	pecadores	deveriam	dar	ouvidos	a	essas	reprimendas	e	aprender	a	odiar	seus
pecados
d.	Daniel	9.4-19	é	um	exemplo	de	como	as	reprimendas	servem	aos	santos
e.	uma	coleção	de	exortações	escriturísticas	e	passagens	correspondentes
demonstram	que	o	poder	necessário	vem	de	Deus
Respostas	a	argumentos	baseados	em	passagens	especiais	e	pontuais	na	Escritura	[12-19]
12.	Deuteronômio	30.11ss.
a.	se	essas	palavras	se	aplicam	ao	preceito	básico,	elas	são	importantes	no	caso
presente
b.	no	entanto,	o	apóstolo	declara	que	Moisés	falou	acerca	da	promessa	do
evangelho
c.	uma	pessoa	obstinada	pode	alegar	que	Paulo	distorceu	a	passagem
d.	em	Deuteronômio	30.6,	Moisés	ensina	que	nosso	coração	deve	ser
circuncidado	por	Deus.	Portanto,	o	poder	está	alojado	no	Espírito	Santo,	não	no
homem
e.	o	testemunho	de	Paulo	concorda	com	isso
13.	Defende-se	que	a	“espera”	de	Deus	pela	ação	do	homem	pressupõe	liberdade
da	vontade
a.	em	Oseias	5.15,	o	Senhor	diz:	“Eu	voltarei	ao	meu	lugar	até	que	pesem	sobre
seus	corações	de	buscarem	a	minha	face”
(1)	nossos	adversários	dizem	que	isso	seria	ridículo	se	os	homens	não	fossem
livres	para	inclinar	suas	vontades	para	algum	lado
(2)	eles	admitem	que	a	graça	de	Deus	é	necessária	para	a	conversão
(3)	entretanto,	eles	só	consentem	que	a	graça	seja	necessária	de	tal	forma	a
reservar	para	o	homem	sua	própria	capacidade
b.	os	que	tais	passagens	significam?
(1)	a	retirada	de	Deus	significa	a	retirada	de	sua	Palavra,	na	qual	ele
habitualmente	revela	sua	presença
(2)	sua	consideração	do	que	os	homens	podem	fazer	significa	que	ele
secretamente	os	prova	para	desensoberbecê-los
(3)	isso	não	implica	nenhum	poder	de	livre-arbítrio
14.	Essas	obras	não	são,	então,	“nossas”?
a.	nossos	adversários	argumentam	que	a	Escritura	chama	as	boas	obras	de
“nossas”,	e	que
b.	nós	não	somos	movidos	por	Deus	como	pedras;	portanto,	conquanto	a	graça
de	Deus	tenha	o	protagonismo,	nosso	esforço	tem	um	papel	secundário
c.	o	pão	pelo	qual	suplicamos	a	Deus	também	é	chamado	de	“nosso”
d.	a	segunda	objeção	é	descartada	pela	consideração	da	forma	com	que	o
Espírito	age	sobre	os	santos
(1)	Deus	não	nos	move	da	mesma	forma	que	nós	jogamos	uma	pedra
(2)	“O	querer	é	da	natureza,	mas	o	querer	corretamente	é	da	graça”
15.	As	“obras”	são	nossas	pelo	dom	de	Deus,	mas	são	de	Deus	por	sua	incitação
a.	qualquer	coisa	boa	na	vontade	provém	da	pura	incitação	do	Espírito
b.	aquilo	que	Deus	faz	é	chamado	de	“nosso”	porque
(1)	Deus	o	faz	em	nós;	não	é	o	nosso	próprio	fazer
(2)	é	a	nossa	mente,	vontade	e	esmero	que	ele	direciona
16.	Gênesis	4.7b	diz:	“Seu	desejo	será	contra	ti	e	tu	deves	dominá-lo”
a.	nossos	adversários	dizem	que	o	Senhor,	aqui,	prometeu	a	Caim	que	o	poder	do
pecado	não	teria	controle	sobre	sua	mente	se	ele	quisesse	dominá-lo!
b.	a	passagem	foi	mal-empregada
c.	contudo,	pressupondo	sua	aplicação,	essa	passagem	não	prova	a	liberdade	da
vontade,	pois	trata-se
(1)	ou	de	um	mandamento;	caso	em	que	já	demonstramos	que	nenhuma
implicação	de	liberdade	se	segue
(2)	ou	de	uma	promessa;	caso	em	que	não	há	cumprimento
17.	Romanos	9.16;	1Coríntios	3.9
a.	já	“que	não	depende	daquele	que	deseja	ou	daquele	que	executa,	mas	de	Deus
que	demonstra	misericórdia”,	nossos	adversários	dizem	que
(1)	existe	algum	desejo	e	alguma	execução
(2)	o	significado	de	Paulo,	no	entanto,	é	mais	simples:	somente	a	misericórdia	do
Senhor	está	aqui;	Deus	realiza	em	nós	tanto	o	querer	quanto	o	realizar
b.	da	mesma	maneira,	eles	distorcem	a	expressão	“nós	somos	cooperadores	de
Deus”:	essa	passagem	diz	que	os	ministros	são	cooperadores	porque	Deus	os
proveu	dos	dons	necessários
18.	Eclesiástico	15.14-17
a.	a	autoridade	do	autor	é	questionável
b.	mas	se	nós	não	o	rejeitarmos	prontamente,	descobrimos	que
(1)	ele	diz	que	o	homem	foi	criado	com	livre-arbítrio,	o	que	consentimos
(2)	mas	nós	dizemos	que	ele	o	perdeu
c.	eu	respondo	não	apenas	aos	meus	adversários,	mas	a	esse	autor,	dizendo
(1)	se	a	interpretação	dos	meus	adversários	está	correta,	nós	rejeitamos	sua
autoridade
(2)	se	esse	autor	deseja	apenas	mostrar	que	o	homem	é	a	causa	de	sua	própria
ruína,	eu	concordo
19.	Lucas	10.30
a.	nossos	adversários	fazem	disso	uma	alegoria	da	Queda	da	raça	humana
(1)	a	raça	humana	é	assaltada	pelo	pecado	e	pelo	Diabo
(2)	mas	é	deixada	“meio	viva”
(3)	isso	implica	que,	alguma	medida,	razão	e	vontade	permanecem
b.	suponhamos	que	eu	rejeite	a	alegoria	concebida	pelos	pais	[da	igreja]:
(1)	a	Palavra	de	Deus	não	deixa	uma	“meia	vida”	para	os	homens
(2)	as	Escrituras	claramente	afirmam	que	nós	estávamos	mortos	e	fomos
revividos
c.	contudo,	suponhamos	que	aceitemos	a	alegoria
(1)	o	que	sobra	para	o	homem	não	o	capacita	para	alcançar	um	verdadeiro
conhecimento	de	Deus
(2)	a	visão	de	Agostinho	e	o	consentimento	mútuo	das	escolas⁵	é	que,	aquilo	de
que	a	salvação	depende	foi	retirado	do	homem	após	a	Queda
CAPÍTULO	6
O	homem	decaído	deve	buscar	a	redenção	em	Cristo
Através	do	Mediador,	Deus	é	visto	como	um	Pai	gracioso	[1-2]
1.	Somente	o	Mediador	socorre	o	homem	decaído
a.	como	toda	a	raça	humana	decaiu	da	vida	para	a	morte	na	pessoa	de	Adão,
nosso	conhecimento	do	Deus	Criador	derivado	do	universo	é	inútil,	a	menos	que
se	lhe	acrescente	a	fé
b.	porque	nos	beneficiamos	tão	pouco	de	nossa	contemplação	da	ordem	criada,
somos	chamados	à	fé	em	Cristo,	o	qual,	porque	parece	ridículo,	é	desprezado
pelos	descrentes
c.	a	fé	é	acrescentada	à	nossa	situação	apartada	quando	nós	humildemente
abraçamos	a	pregação	da	cruz
2.	Até	mesmo	a	antiga	aliança	proclama	que	não	há	fé	no	Deus	gracioso
independente	do	Mediador
a.	à	parte	do	Mediador,	Deus	nunca	demonstrou	favor	para	com	os	povos
antigos;	mas	isso	quer	dizer	apenas	que	o	estado	contente	e	abençoado	da	igreja
sempre	teve	seu	fundamento	na	pessoa	de	Cristo
b.	personagens	do	Antigo	Testamento	citados	para	mostrar	que	a	igreja	sempre
ansiou	pelo	seu	cabeça,	consumado	em	Jesus	Cristo
Cristo	é	essencial	para	a	aliança	e	a	verdadeira	fé	[3-4]
3.	A	fé	e	esperança	da	antiga	aliança	se	alimentou	da	promessa
a.	quando	o	consolo	é	prometido	na	aflição,	prefigura-se	o	símbolo	da	confiança
e	esperança	no	próprio	Cristo
b.	a	promessa	e	esperança	do	Redentor	é	o	que	confere	estabilidade	à	aliança
4.	Fé	em	Deus	é	fé	em	Cristo
a.	desde	o	princípio	do	mundo,	persistindo	por	meio	das	promessas	feitas	a	Davi,
Cristo	foi	mantido	diante	de	todos	os	eleitos	para	que	eles	pudessem	contemplá-
lo	e	colocar	sua	confiança	nele
b.	mesmo	que	muitos	homens	tenham,	em	algum	momento,	se	gabado	de	adorar
a	suprema	majestade,	o	Criador	do	céu	e	da	terra,	ainda	assim,	porque	não
tinham	um	Mediador,	não	era	possível	para	eles	verdadeiramente	provar	da
misericórdia	de	Deus	e,	assim,	serem	persuadidos	de	que	ele	era	seu	Pai
CAPÍTULO	7
A	lei	não	foi	dada	para	restringir	o	povo	da	antiga	aliança	a	si	mesmo,	mas	para	alimentar	esperança
de	salvação	em	Cristo	até	sua	vinda
As	leis	moral	e	cerimonial	são	relevantes	para	conduzir	a	Cristo	[1-2]
1.	O	Mediador	socorre	apenas	homens	decaídos
a.	a	lei	foi	incorporada	cerca	de	400	anos	depois	de	Abraão,	não	para	afastar	o
povo	de	Cristo,	mas	para	fortalecê-lo	em	sua	expectativa	dele,	renovando,	dessa
forma,	a	aliança	de	Abraão
b.	os	ritos	prescritos	pela	lei	seriam	totalmente	absurdos,	a	menos	que	fossem
sombras	da	vinda	de	Cristo
c.	os	ritos	pretendiam	erguer	os	olhos	dos	homens	para	Cristo
2.	A	lei	contém	uma	promessa
a.	na	entrega	da	lei	de	Moisés	e	na	fundação	do	reino	de	Davi,	Cristo	foi	posto
perante	o	Israel	antigo	como	um	espelho
b.	em	sua	imaturidade,	eles	precisaram	ser	conduzidos	a	Cristo	por	meio	das
cerimônias:	de	seus	sacrifícios	diários	para	o	sacrifício	definitivo	de	Cristo
c.	o	testemunho	de	Paulo	de	que	Cristo	é	o	fim	parao	qual	a	lei	aponta
Não	podemos	cumprir	a	lei	moral	[3-5]
3.	A	lei	nos	torna	inescusáveis	e	nos	leva	ao	desespero
a.	a	observância	completa	da	lei	é	justiça	perfeita	diante	de	Deus,	como	promete
a	Escritura
b.	mas	nós	cumprimos	essa	obediência?	Não!
c.	assim,	pendemos	entre	a	promessa	da	vida	e	o	curso	da	morte
4.	Não	obstante,	as	promessas	da	lei	não	são	insignificantes
a.	o	impasse:	a	lei	promete	uma	bem-aventurança	que	nós,	incapazes	de	mantê-
la,	não	podemos	alcançar
b.	isso,	porém,	não	é	absurdo	ou	inútil,	pois	leva	a	perceber	que	Deus	livremente
outorga	seus	dons	sobre	nós,	desconsiderando	nossa	obediência	imperfeita
c.	discutiremos	esse	ponto	exaustivamente	na	“justificação	pela	fé”
5.	O	cumprimento	da	lei	é	impossível	para	nós
a.	nunca	houve	ninguém	—	nem	mesmo	um	“santo”	—	que	não	tivesse
concupiscência
b.	testemunho	escriturístico	desse	fato
c.	Agostinho	o	afirmou	contra	o	ataque	pelagiano
O	primeiro	uso	da	lei:	a	lei	nos	mostra	a	justiça	de	Deus	e,	como	um	espelho,	desvela	nossa
pecaminosidade,	levando-nos	a	implorar	pelo	auxílio	divino	[6-9]
6.	A	severidade	da	lei	remove	de	nós	todo	autoengano
a.	a	lei	adverte,	informa,	acusa	e	condena
b.	a	lei	remove	o	orgulho	e,	assim,	toda	falsa	justiça	autoelaborada	e	cobiça	que
abriga	secretamente	dentro	do	homem
7.	A	função	punitiva	da	lei	não	diminui	seu	valor
a.	na	lei,	como	em	um	espelho,	vemos	nossa	fraqueza,	nossa	iniquidade	e	a
consequente	maldição
b.	nossa	vontade	corrompida,	que	deveria	ser	obediente	à	lei,	persiste	em
teimosa	desobediência
c.	a	lei	impacta	nossa	consciência	progressivamente	com	nossa	iniquidade	e,
inversamente,	realça	a	doçura	da	graça	de	Deus
8.	A	função	punitiva	da	lei	em	sua	obra	sobre	crentes	e	descrentes
a.	a	lei	condena	todos	os	homens
b.	mas	com	dois	propósitos	totalmente	diferentes:
(1)	para	aterrorizar	os	ímpios,	por	causa	de	sua	obstinação	de	coração
(2)	para	fazer	os	eleitos	perceberem	que	eles	se	colocam	de	mãos	vazias	perante
Deus	e	devem,	por	isso,	apossar-se	de	sua	misericórdia
9.	A	lei,	como	diz	Agostinho,	pela	acusação	nos	move	a	buscar	graça
a.	um	“analecto”	de	citações	de	Agostinho	que	afirmam	que	a	lei,	por	meio	de
nossa	incapacidade	de	mantê-la,	nos	conduz	a	apelar	para	a	graça	em	Cristo
b.	Agostinho	lida	especificamente	com	esse	primeiro	uso	da	lei	em	On	the	Spirit
and	the	letter;	o	segundo	uso,	por	uma	ou	outra	razão,	ele	não	discute
c.	o	primeiro	uso	da	lei	é	visto	também	nos	réprobos,	os	quais	são	levados	ao
terror	e	desespero	por	ele,	mas	persistem	em	seu	desejo	de	esquivar-se	do	juízo
de	Deus	apesar	desse	antegosto	divino	e	justo	de	seu	fim
O	segundo	uso	da	lei:	a	lei	restringe	malfeitores	e	aqueles	que	ainda	não	são	fiéis	[10-11]
10.	A	lei	como	proteção	da	comunidade	contra	homens	injustos
a.	por	medo	de	sua	punição,	a	lei	restringe	homens	alheios,	fora	isso,	ao	que	é
justo	e	correto
b.	essa	restrição	não	produz	justiça,	pois	tais	homens	espumam	internamente,
amaldiçoam	Deus	e	a	lei,	e	anseiam	por	romper	em	ilegalidades
c.	mas	tal	restrição	é	necessária	para	a	comunidade,	cujo	bem-estar	e
tranquilidade	Deus	certamente	tem	em	mente
11.	A	lei	como	inibidora	para	aqueles	ainda	não	regenerados
a.	dois	tipos	ainda	não	regenerados
(1)	os	confiantes	em	sua	justiça	própria	—	para	trazê-los	à	humildade
(2)	os	desenfreados	em	seus	desejos	—	para	serem	coibidos
O	terceiro	uso	da	lei:	ela	admoesta	fiéis	e	os	insta	ao	bom	proceder	(12-13)
12.	Até	mesmo	os	fiéis	carecem	da	lei
a.	este	é	o	principal	uso	da	lei
b.	beneficia	os	fiéis	de	duas	formas
(1)	ajuda-os	a	aprender	cada	dia	mais	sobre	a	natureza	da	vontade	do	Senhor
(2)	exorta-os	à	obediência	contínua,	auxiliando-os,	assim,	a	evitar	a	reversão	ao
pecado
c.	esses	benefícios	são	descritos	por	Davi	de	uma	forma	não	contraditória	a
Paulo
13.	Qualquer	que	queira	dispensar	os	fiéis	plenamente	da	lei,	a	compreende
erroneamente
a.	ignorantes	dessa	distinção,	alguns	cometem	o	erro	de	rejeitar	toda	a	lei	de
Moisés	como	estranha	aos	cristãos
b.	a	afirmação	de	que	a	vida	de	um	homem	justo	é	uma	contínua	meditação
sobre	a	lei	aplica-se	a	todas	as	eras	da	história
c.	ainda	que	nós	não	possamos	atender	às	exigências	da	lei,	ela	continuamente
aponta	para	o	nosso	objetivo	de	vida
A	chamada	“revogação”	da	lei	refere-se	à	liberdade	de	consciência	e	à	descontinuidade	das	antigas
cerimônias	[14-17]
14.	Em	que	medida	a	lei	foi	revogada	para	os	fiéis?
a.	embora	para	os	fiéis	a	lei	não	seja,	agora,	uma	exortação,	tampouco	uma
maldição,	não	se	pode	dizer,	por	essa	razão,	que	ela	foi	revogada
b.	ambos,	Paulo	e	Jesus,	enfatizam	que	a	lei	não	foi	posta	de	lado,	mas
permanece	inviolável
c.	devemos,	portanto,	distinguir	o	que	foi	revogado	do	que	não	foi
15.	A	lei	é	revogada	na	medida	em	que	não	mais	nos	condena
a.	a	referência	de	Paulo	à	“maldição”	aplica-se	exclusivamente	à	força	da	lei	que
subjuga	a	consciência
b.	Cristo,	diz	Paulo,	fez-se	maldição	por	nós	para	nos	libertar	das	exigências
duras	e	insustentáveis	da	lei
c.	não	obstante,	devemos	continuar	a	prestar	a	mesma	veneração	e	obediência	à
lei
16.	A	lei	cerimonial
a.	por	sua	vinda,	Cristo	revogou	a	lei	cerimonial	em	seu	uso,	mas	não	em	seu
efeito
b.	a	lei	cerimonial,	diz	Paulo	(Cl	2.17)	e	outros,	é	somente	uma	sombra	da
realidade	de	Cristo	e	deriva	sua	validação	prévia	da	promessa	da	vinda	de	Cristo
17.	O	“o	escrito	de	dívida	contra	nós”	foi	apagado	(Cl	2.14s)
a.	dois	grupos	conflitantes	de	expositores	defendem
(1)	a	severidade	inexorável	da	lei	é	abolida,	mas	não	seu	ensino
(2)	as	palavras	referem-se	exclusivamente	à	lei	cerimonial,	de	forma	nenhuma	à
lei	moral
b.	em	oposição	a	ambos	os	grupos,	as	palavras	de	Paulo,	aqui,	têm	uma
referência	mais	interna	(seguindo	Agostinho)
(1)	os	sacrifícios	dos	judeus	serviam	apenas	para	confessar	repetidamente	sua
própria	impureza,	já	que	os	ritos	eram	repetidos
(2)	contudo,	em	Cristo	(não	na	lei)	o	judeu	antigo	participou,	assim	como	nós,	da
mesma	graça
(3)	Paulo	está,	então,	alertando	os	cristãos	para	não	retornarem	às	exigências
rituais	da	lei,	das	quais	Cristo	os	livrou
CAPÍTULO	8
Explicação	da	lei	moral
(Os	Dez	Mandamentos)
A	lei	moral	escrita:	uma	afirmação	da	lei	natural	[1-2]
1.	O	que	os	Dez	Mandamentos	são	para	nós?
a.	este	é	o	momento	de	introduzir	uma	explicação	da	lei	para	confirmar
argumentos	já	anunciados
(1)	o	culto	público	que	Deus	prescreveu	ainda	está	em	vigor
(2)	a	lei	ensinou	os	judeus	não	apenas	a	verdadeira	natureza	da	santidade,	mas
também,	ao	demonstrar	sua	incapacidade	para	alcançá-la,	os	lançou	para	o
Mediador	—	embora	de	má	vontade
(3)	o	contraste	entre	a	majestade	de	Deus	e	a	nossa	inanidade	nos	leva	a	adorá-lo
inexoravelmente
b.	dois	propósitos	da	lei
(1)	Deus	nos	chama	a	reverenciá-lo	e	especifica	em	que	consiste	essa	reverência
(2)	Deus	aponta,	assim,	nossa	impotência,	e	nos	reprova	por	ela
c.	relação	da	lei	interior	com	o	Decálogo
(1)	testemunho	da	consciência	enquanto	acusador
(2)	fracasso	da	consciência	por	causa	de	nossa	condição
(3)	consequente	necessidade	de	uma	lei	escrita
2.	A	inexorabilidade	da	lei
a.	a	lei	nos	ensina	que	devemos	a	Deus	glória,	reverência,	amor,	temor:	a	serem
manifestos	em	uma	vida	reta,	santa	e	pura
b.	se	falharmos,	como	falhamos,	somos	inescusáveis
Aprendemos	da	lei	que	Deus	é	nosso	Pai,	que	ele	é	misericordioso	e	santíssimo,	e	exige,	em	benevolência,
obediência	[3-5]
3.	A	severidade	da	lei	tem	um	objetivo	positivo
a.	o	ensinamento	da	lei	nos	leva	a	mergulharmos	em	nós	mesmos
b.	passos	que	se	seguem	na	consciência	de	nossa	condição:
(1)	comparação	da	nossa	vida	com	a	lei:	nosso	fracasso
(2)	nossas	capacidades	são	muito	frágeis	para	obedecer	à	lei
(3)	em	nossa	impotência,	somos	conduzidos	ao	temor	da	morte	eterna
(4)	nosso	desespero	nos	leva	a	buscar	auxílio	fora	de	nós	mesmos
4.	Promessas	e	ameaças
a.	para	além	de	nossa	simples	reverência	pela	justiça	de	Deus	obtida	dessa
forma,	Deus	reconhece	nossa	inação	cega
b.	para	superá-la,	ele	insere
(1)	promessas,	para	mostrar	seu	deleite	na	observância	da	lei	pelohomem
(2)	ameaças,	para	mostrar	como	ele	detesta	a	impiedade,	e	para	nos	demover	de
nossos	vícios
5.	A	suficiência	da	lei
a.	a	lei,	cuja	obediência	muito	agrada	a	Deus,	é	a	regra	perfeita	de	justiça
b.	mas	todos	os	homens	tentam,	forjando	preceitos	humanos,	alcançar	a	justiça
independentemente	da	Palavra	de	Deus
(1)	visto	no	conselho	de	Moisés	a	Israel
(2)	visto	nas	práticas	degradantes	que	caracterizam	nosso	próprio	tempo
c.	para	superar	essa	tendência,	devemos	ter	diante	de	nós	a	lei	e	a	obediência
como	nosso	objetivo
A	lei	deve	ser	entendida	espiritualmente	e	interpretada	em	referência	ao	propósito	do	legislador	[6-10]
6.	Como	a	lei	é	a	lei	de	Deus,	ela	nos	reivindica	por	completo
a.	a	lei	de	Deus	exige	não	apenas	honestidade	exterior,	mas	justiça	interior,
espiritual,	embora	poucos	homens	levem	a	sério	essas	exigências	geminadas
b.	contraste	entre	a	lei	humana	e	lei	divina
(1)	as	leis	humanas	exigem	apenas	conformidade	de	ação	exterior,	ou	então	nada
mais	que	condescendência	exterior	na	intenção
(2)	a	lei	divina	exige	obediência	total,	não	apenas	no	ato	exterior,	mas	também
na	intenção	interior	—	ela	requer	pureza	completa
7.	O	próprio	Cristo	restaurou	o	correto	entendimento	da	lei
a.	não	estamos,	aqui,	expondo	uma	nova	interpretação	da	lei,	mas	apenas
reafirmando	a	restauração	de	Cristo	da	lei,	contra	a	falsa	interpretação	dos
fariseus
b.	qualquer	noção	de	que	Cristo	concedeu	uma	nova	lei	do	evangelho	para	suprir
as	lacunas	da	lei	de	Moisés	faz	um	desserviço	tanto	à	lei	de	Deus	quanto	aos
patriarcas	do	Antigo	Testamento,	que	certamente	não	eram	hipócritas
8.	Caminhos	para	o	significado	correto
a.	princípio	exegético:	os	mandamentos	e	proibições	sempre	contêm	sinédoque,
ou	seja,	mais	do	que	é	expresso	em	palavras
b.	no	entanto,	há	um	problema	na	aplicação	desse	princípio:	manter-se	próximo
o	bastante	das	palavras	em	si,	de	forma	a	não	glosá-las	com	acréscimos	humanos
c.	a	melhor	regra	é	indagar:	por	que	cada	mandamento	nos	foi	dado?	Exemplos:
(1)	quinto	mandamento:	prestar	honra	àqueles	a	quem	Deus	prescreveu;	a
desonra	para	com	eles	é	detestável	e	proibida
(2)	primeiro	mandamento:	adorar	a	Deus	somente;	a	impiedade	para	com	Deus	é
abominada	e	proibida
d.	dois	lados	em	todo	mandamento:
(1)	algo	é	ordenado,	seu	oposto	é	proibido
(2)	algo	é	proibido,	seu	oposto	é	ordenado
9.	Mandamento	e	proibição
a.	esse	último	ponto	significa	mais	do	que	opor	a	um	vício	sua	virtude
correspondente	(comumente	concebida	como	abstenção	daquele	vício)
b.	significa,	positivamente,	uma	boa	ação:	não	somente	abstenha-se	de	fazer	o
mal	a	um	irmão;	faça	o	bem	a	ele!
10.	Por	sua	linguagem	incisiva,	a	lei	nos	comove	a	uma	repulsa	ainda	maior	pelo
pecado
a.	por	que	Deus	sugere,	por	sinédoque,	o	que	ele	deseja,	ao	invés	de	declarar
explicitamente?
b.	porque	estamos	sempre	tentando	atenuar	pecados	ocultos,	Deus	os	traz	todos	à
mente,	surpreendentemente,	ao	rotulá-los	pelo	pior	pecado	em	cada	categoria:
por	exemplo,	o	homicídio	é	mais	chocante	do	que	o	ódio	ou	a	ira
As	duas	tábuas	da	lei	e	os	mandamentos	adequadamente	atribuídos	a	cada	uma	[11-12]
11.	As	duas	tábuas:	deveres	para	com	Deus	(1-4)	e	deveres	para	com	o	homem
(5-10)
a.	toda	a	lei	se	divide	em	deveres	que	se	aplicam	à	adoração	de	Deus	e	deveres
de	amor	para	com	os	homens
b.	a	adoração	de	Deus	é	o	fundamento	da	justiça
c.	somente	então	estamos	em	posição	de	agir	com	retidão	na	sociedade	humana
d.	essas	duas	categorias	mencionadas	na	síntese	que	Jesus	faz	da	lei
12.	A	distribuição	dos	mandamentos	em	duas	tábuas
a.	os	dois	artigos	são	detalhados	nos	Dez	Mandamentos	para	deixar	claro
precisamente	o	que	Deus	exige	de	nós
b.	o	problema	de	arranjar	os	preceitos	da	lei
(1)	alguns	os	dividem	em	três	e	sete,	suprimem	o	mandamento	sobre	imagens	e
dividem	o	último	em	dois
(2)	outros	os	dividem	em	quatro	e	seis,	mas	tendo	um	como	prefácio,	não
mandamento
(3)	eu	fico	com	quatro	e	seis,	mas	com	um	prefácio	(assim	como	Orígenes,	às
vezes	Agostinho,	e	no	Eruditi	commentarii	in	Matthei	Evangelium,	opus
imperfectum)
(4)	alguns	[os	dividem	em]	cinco	e	cinco,	como	Josefo,	mas	isso	mistura	religião
e	caridade
Exposição	detalhada	dos	mandamentos	específicos	[13-50]
Primeiro	mandamento	[13-16]
13.	O	prefácio	(“Eu	sou	Jeová,	seu	Deus…”)
a.	ao	arranjar	as	leis,	é	preciso	cuidado	para	que	elas	não	sejam	revogadas	por
desdém
b.	três	meios	(“provas”)	oferecidos	para	preservar	a	lei	do	desdém
(1)	Deus	reivindica	autoridade	sobre	o	povo	e	lhe	demanda	obediência
(2)	ele	promete	graça	para	levá-los	à	santidade
(3)	relata	seus	benefícios	aos	judeus	para	provar	sua	ingratidão,	caso	não
respondam
14.	“Eu	sou	Jeová,	seu	Deus”	[primeira	e	segunda	“prova”]
a.	Deus	reivindica	autoridade	e	obediência
b.	pela	doçura	de	suas	promessas,	ele	atrai	não	somente	para	a	vida	presente,
mas	também	para	a	vida	futura;	exemplos	escriturísticos
15.	“Que	te	tirou	da	terra	do	Egito,	do	reino	da	escravidão”	[a	terceira	“prova”
—	recitação	dos	benefícios,	contra	ingratidão]
a.	livres	da	escravidão	por	Deus,	o	povo	deve	servi-lo	e	adorá-lo
b.	ele	também	usa	títulos	para	distinguir-se	dos	ídolos	—	para	nos	manter	em
verdadeira	adoração	a	si	mesmo;	exemplos	escriturísticos
c.	para	além	do	efeito	pretendido	nos	judeus	por	sua	libertação	do	Egito,	ela	é	o
tipo	da	nossa	atual	escravidão	espiritual,	da	qual	somos	libertos
d.	assim,	a	lei	é	concebida	para	trazer	todos	os	homens	ao	Legislador
16.	O	primeiro	mandamento
a.	propósito:	o	Senhor	deseja	ser	preeminente	exclusivo	dentre	seu	povo	e
exercer	total	autoridade	sobre	ele
b.	meios:	adorar	a	Deus	verdadeiramente	e	deixar	de	lado	toda	superstição	e
falsos	deuses
c.	o	que	nós	devemos	a	Deus?	Quatro	classes
(1)	adoração:	a	veneração	e	adoração	que	cada	um	de	nós	lhe	rende	ao	nos
submetermos	à	sua	grandeza
(2)	confiança:	segurança	que	deriva	do	descanso	em	Deus	e	da	comunhão	com
ele
(3)	invocação:	hábito	de	apelar	a	ele,	sempre	que	a	necessidade	nos	mover,	como
nosso	único	auxílio
(4)	ação	de	graças:	gratidão	com	que	nós	o	louvamos	por	todas	as	boas	coisas
d.	mais	do	que	simplesmente	abster-se	de	um	deus	estranho,	nós	devemos
cultivar	a	verdadeira	religião	e	estar	alertas	contra	a	superstição
e.	significado	de	“perante	minha	face”:	a	ofensa	se	torna	mais	hedionda	ao	nos
lembrar	que	cada	um	de	nossos	maus	impulsos	é	claro	para	Deus,	que	sonda	os
recantos	secretos	do	nosso	coração
Segundo	mandamento	[17-21]
17.	Adoração	espiritual	do	Deus	indivisível
a.	propósito:	declara	que	tipo	de	Deus	ele	é	e	com	que	tipo	de	adoração	deve	ser
honrado
b.	síntese:	nos	demove	das	observâncias	mesquinhas	para	sua	adoração
verdadeira	e	espiritual
c.	partes	do	mandamento:
(1)	coíbe-nos	da	representação	material	de	si	mesmo
(2)	proíbe-nos	de	adorar	quaisquer	imagens,	e	faz	uma	lista	delas
18.	Palavras	ameaçadoras	do	segundo	mandamento
a.	para	nos	convencer	a	nos	apegarmos	a	ele,	Deus	demonstra
(1)	seu	poder	(EL	=	poder)
(2)	seu	ciúme
(3)	sua	intenção	de	defender	sua	glória	e	majestade	contra	a	idolatria
b.	Deus	é	como	um	marido	para	nós:	ele	não	consegue	ver	seu	casamento	ser
maculado	por	nossa	apostasia
19.	“Que	visita	a	iniquidade	dos	pais	nos	filhos…”
a.	isso	conflita,	aparentemente,	com	Ezequiel	18.20
b.	essa	dificuldade	é	“solucionada”	de	várias	formas
c.	como	um	pai	ímpio	é	geralmente	seguido	por	um	filho	ímpio,	a	maldição	do
Senhor	reside	sobre	toda	a	casa
20.	A	visitação	dos	pecados	dos	pais	nos	filhos	não	vai	de	encontro	à	justiça	de
Deus?
a.	a	vingança	de	Deus	recai	sobre	os	homens	por	sua	própria	iniquidade
b.	Ezequiel	18.20	não	está	em	contradição	com	isso,	mas	responde	aos	judeus
que	reclamavam	de	serem	punidos	injustamente	pelos	pecados	de	seus	pais
c.	não,	você	é	punido	por	seus	próprios	pecados	—	embora	seja	verdade	que
crianças	frequentemente	sigam	os	caminhos	ímpios	de	seus	pais
21.	“E	mostra	misericórdia	a	mil…”
a.	Deus	pactua	sua	misericórdia	com	os	filhos	dos	santos	e,	inversamente,	sua
vingança	sobre	a	descendência	ímpia	dos	descrentes	—	um	fato	que	deveria
impelir	enorme	terrornos	malfeitores	e	confortar	os	justos
b.	no	entanto,	essa	sucessão	de	misericórdia	ou	juízo	não	é	automática	—	de
forma	a	comprometer	a	liberdade	do	julgamento	de	Deus
c.	mil	gerações	=	a	amplitude	da	misericórdia	de	Deus;	quatro	gerações	=	limites
de	sua	vingança
Terceiro	mandamento	[22-27]
22.	Interpretação	do	mandamento
a.	propósito:	Deus	deseja	que	nós	veneremos	a	majestade	de	seu	nome
b.	corolário:	não	tratar	seu	nome	com	desprezo
c.	três	pontos	a	serem	observados:
(1)	tudo	o	que	pensamos	e	dizemos	sobre	Deus	deve	exalar	sua	excelência
(2)	não	devemos,	por	nenhuma	razão,	abusar	de	sua	Palavra	ou	de	seus	mistérios
(3)	não	devemos	difamar	suas	obras
d.	o	mandamento	tem	a	ver,	especificamente,	com	o	juramento	corrupto,
discutido	em	ambas	as	tábuas	da	lei:
(1)	em	relação	à	reverência	e	adoração	de	Deus	(primeira	tábua)
(2)	em	relação	à	sociedade	humana	(segunda	tábua)
23.	O	juramento	como	confissão	a	Deus
a.	definição	de	juramento:	apelar	ao	testemunho	de	Deus	para	confirmar	a
verdade	de	nossa	palavra
b.	exemplos	da	Escritura	mostrando	que
(1)	um	juramento	legítimo	é	um	tipo	de	adoração	divina
(2)	inversamente,	um	juramento	por	falsos	deuses	acende	a	ira	amarga	de	Deus
24.	O	falso	juramento	como	profanação	do	nome	de	Deus
a.	porque	juramento	e	adoração	do	nome	de	Deus	coexistem,	não	devemos
profanar	seu	nome	por	uma	falsa	jura
b.	o	modo	regular	de	apelar	a	Deus	como	testemunha	empregado,	e.g.,	por	Josué
(Antigo	Testamento)	e	pelos	fariseus	(Novo	Testamento):	isso	implica	que	Deus
vingará	nosso	perjúrio	se	trapacearmos
25.	O	juramento	inútil
a.	o	nome	de	Deus	é	barateado	também	por	juramentos	inúteis
b.	são	ofensivos	os	juramentos	não	empregados	na	religião	ou	no	amor
c.	transferir	juramentos	para	os	servos	de	Deus,	bem	como	para	deuses
estranhos,	diminui	a	glória	do	Senhor
26.	O	Sermão	da	Montanha	não	proíbe	esse	tipo	de	juramento?
a.	os	anabatistas	interpretam	Mateus	5.34,	37	de	forma	literal
b.	contudo,	tal	interpretação	coloca	o	Filho	contra	o	Pai,	pois	a	lei	não	é	posta	de
lado	por	Jesus
c.	exegese	da	dificuldade
(1)	o	propósito	de	Cristo	não	é	mudar	a	lei,	mas	resgatá-la,	da	corrupção	dos
fariseus	e	escribas,	ao	seu	justo	propósito
(2)	consequentemente,	“jurar”	=	“jurar	em	vão”
(3)	“de	modo	algum”	não	se	refere	ao	“jurar”,	mas	às	formas	de	juramento	que
ali	se	seguem
(4)	Cristo	não	está,	aqui,	corrigindo	superstição,	mas	sim	proibindo	juramentos
inúteis	e	indiretos
27.	O	juramento	extrajudicial	é,	portanto,	necessariamente	aceitável
a.	somente	juramentos	proibidos	pela	lei	são	aludidos	aqui:	tanto	Jesus	quanto
Paulo	usaram	juramentos	quando	necessário
b.	algumas	pessoas	isentam	somente	juramentos	públicos	(judiciais)	dessa
proibição
c.	contudo,	juramentos	privados	sóbrios	não	devem	tampouco	ser	condenados:
exemplos	escriturísticos
d.	resumindo,	evite	todos	os	juramentos	inúteis:	limite	o	jurar	a	defesa	da	glória
de	Deus	e	aprofunde	a	edificação	fraternal
Quarto	mandamento	[28-34]
28.	Interpretação	geral
a.	propósito:	mortos	para	nossas	próprias	inclinações	e	obras,	devemos	meditar
no	reino	de	Deus	nas	formas	que	ele	estipulou
b.	esse	mandamento,	enquanto	prenúncio	(segundo	os	pais	da	igreja	primitiva),
requer	um	tratamento	especial	—	três	condições	para	cumpri-lo
(1)	descanso	no	sétimo	dia	(descanso	espiritual)
(2)	dia	fixado	de	assembleia	para	ouvir	as	leis	e	executar	os	ritos
(3)	um	dia	de	descanso	para	os	servos	etc.
29.	O	mandamento	do	sábado	enquanto	promessa	(descanso	espiritual
prefigurado)
a.	a	Escritura	repetidamente	enfatiza	a	centralidade	desse	mandamento;
exemplos	escriturísticos
b.	existe,	portanto,	uma	correspondência	íntima	entre	o	significado	externo	e	a
realidade	interna:	somente	no	descanso	estamos	receptivos	ao	trabalhar	de	Deus
em	nós
30.	O	sétimo	dia
a.	ao	guardar	o	sétimo	dia,	o	judeu	era	instado	a	imitar	seu	Criador	—	um
empurrão	ao	zelo
b.	sete	(número	da	perfeição	na	Escritura)	=	perpetuidade
c.	por	meio	do	sétimo	dia,	o	Senhor	rascunhou	para	seu	povo	a	perfeição
vindoura	de	seu	sábado	no	Último	Dia,	para	fazê-los	ansiar	por	essa	perfeição
meditando	incessantemente	sobre	o	sábado	ao	longo	da	vida
31.	Em	Cristo,	a	promessa	do	mandamento	do	sábado	é	cumprida
a.	se	tal	interpretação	do	número	sete	é	muito	tênue,	pelo	menos	ela	representa
Deus	oferecendo	para	nós	um	modelo	a	partir	de	seu	próprio	exemplo
b.	pouco	importa	a	interpretação	que	fizermos:	o	que	importa	é	o	descaso
perpétuo	de	nossos	trabalhos
c.	a	vinda	de	Cristo	aboliu	a	parte	cerimonial	desse	mandamento
32.	Qual	é	o	alcance	do	quarto	mandamento	para	além	da	regulação	externa?
a.	o	que	sobra	do	sábado	para	nós,	então?
(1)	assembleia	em	dias	fixados	para	pregação,	comunhão	e	orações
(2)	suspensão	de	trabalho	para	os	servos	e	trabalhadores
b.	então,	por	que	não	reunir-se	diariamente?
(1)	a	Escritura	reconhece	que	a	fraqueza	humana	torna	as	reuniões	diárias
impossíveis
(2)	que	nós	observemos,	então,	o	que	Deus	estipulou	para	nós
33.	O	que	celebramos	no	domingo?
a.	alguns	espíritos	perturbados	acusam	os	cristãos	de	judaizantes
b.	pelo	contrário,	não	estamos	observando	rigidamente	uma	cerimônia,	mas
utilizando-a	para	manter	a	ordem	na	igreja
c.	as	restrições	de	Paulo	contra	a	observância	supersticiosa	de	lua	nova	e	sábados
não	exclui	a	observância	lícita	de	dias	que	promovem	a	paz	na	fraternidade	cristã
d.	a	mudança	do	Dia	do	Senhor	foi	feita	para	desbancar	a	superstição	e	manter	a
ordem	na	igreja
34.	Observância	espiritual	do	dia	sagrado
a.	os	primeiros	cristãos	mudaram	a	data	para	o	dia	da	ressurreição	do	Senhor,
para	simbolizar	o	fim	dos	ritos	prefigurativos
b.	a	verdade,	nublada	para	os	judeus,	agora	está	desvelada	diante	dos	cristãos
c.	rejeitamos	a	alegação	dos	primeiros	cristãos	de	que	somente	as	“partes
cerimoniais”	da	lei	devem	ser	colocadas	de	lado,	mas	que	o	dia	permanece
(1)	isso	é	superstição,	muitas	vezes	pior	do	que	aquela	dos	judeus
(2)	nós	prescrevemos	a	frequência	nas	reuniões	sagradas	para	a	promoção	da
adoração	e	da	piedade
Quinto	mandamento	[35-38]
35.	O	amplo	escopo	desse	mandamento
a.	propósito:	os	decretos	de	preeminência	estabelecidos	por	Deus	devem	ser
invioláveis	para	nós
b.	síntese:	observem	aqueles	que	Deus	pôs	acima	de	nós	e	tratem-nos	com	honra,
obediência	e	gratidão,	não	detratando	de	sua	dignidade	por	desprezo,	teimosia	ou
ingratidão
c.	o	significado	amplo	de	honra	na	Escritura
d.	a	pedagogia	divina:	por	meio	das	submissões	mais	toleráveis,	o	Senhor	nos
conduz	e	nos	habitua	a	toda	submissão	legítima	—	os	títulos	honoríficos	de	Deus
são	partilhados	com	os	líderes	terrenos
36.	A	exigência	de	uma	regra	universal
a.	devemos	prestar	reverência,	obediência	e	gratidão	àquele	a	quem	o	Senhor,
por	meio	de	sua	providência,	colocou	sobre	nós,	seja	ele	digno	ou	indigno
daquela	honra
b.	o	Senhor	explicitamente	nos	ordena	a	reverenciar	nossos	pais,	e	a	própria
natureza	nos	mostra	que	aqueles	que	não	o	fazem	são	monstros,	e	não	homens
c.	confirmação,	na	Escritura,	das	três	partes	do	honrar:
(1)	reverência:	a	irreverência	para	com	os	pais	é	passível	de	morte	(Êx	21.17;	Lv
20.9;	Pv	20.20)
(2)	obediência:	a	desobediência	aos	pais	é	passível	de	morte	(Dt	21.18-21)
(3)	gratidão:	por	ordem	de	Deus,	nós	fazemos	o	bem	aos	nossos	pais	(Mt	15.4-6)
37.	A	promessa
a.	significado:	“Honra	teu	pai	e	tua	mãe	para	que	possas	desfrutar,	por	um	longo
período	de	vida,	da	posse	da	terra,	a	qual	será	tua	como	testemunho	de	seu
favor”
b.	o	prolongamento	da	vida	presente	nos	é	prometido,	assim	como	foi	aos
antigos	judeus,	não	contendo	bênçãos	em	si	mesmas,	mas	como	símbolos	delas
38.	A	ameaça
a.	o	corolário:	filhos	desobedientes	estão	sujeitos	à	sentença	de	morte
b.	não	apenas	a	longevidade	é	relevante,	mas	também	a	presença	ou	ausência	da
bênção	de	Deus	durante	a	vida
c.	devemos	obedecer	a	nossos	pais,	bem	como	todos	os	outros	superiores,
contanto	que	eles	não	nos	instiguem	a	transgredir	a	lei
Sexto	mandamento	[39-40]
39.	O	mandamento
a.	propósito:	tendo	o	Senhor	vinculado	a	humanidade	com	uma	certa	unidade,cada	homem	deve	preocupar-se	com	a	segurança	de	todos
b.	síntese:	proibição	de	ferir	o	corpo	do	próximo
c.	esse	mandamento	se	aplica	não	só	à	justiça	física,	mas	à	espiritual:	tanto	ato
quanto	intenção	(i.	e.,	homicídio	—	ira,	ódio)
40.	O	motivo	desse	mandamento
a.	duplo	fundamento:	o	homem	é
(1)	imagem	de	Deus:	portanto,	reverencia	sua	imagem	no	homem
(2)	nossa	carne:	abrange	nossa	carne	nele
b.	a	culpa	por	homicídio	inclui	não	apenas	o	ato,	mas	a	ideia	e,	até	mesmo,	o
desejo	de	matar
Sétimo	mandamento	[41-44]
41.	Interpretação	geral
a.	propósito:	porque	Deus	ama	a	modéstia	e	a	pureza,	toda	impureza	deve	ser
alheia	a	nós
b.	síntese:	não	sejas	maculado	com	nenhuma	sujeira	ou	intemperança	luxuriosa
da	carne
c.	corolário	afirmativo:	regula	de	forma	casta	e	restritiva	todas	as	partes	da	vida
d.	ao	homem,	criado	para	viver	em	sociedade,	é	dado	o	casamento	como	a	única
união	aceitável	para	afastá-lo	da	luxúria
42.	Celibato?
a.	Deus,	por	graça	especial,	preserva	alguns	poucos	em	virgindade	casta,
temporária	ou	permanente
b.	o	resto	de	nós	está	sujeito	à	parceria	das	mulheres	tanto	segundo	nossa
natureza	criada	quanto	por	causa	de	nosso	estado	decaído
c.	é	tolice	tentar	seguir	a	continência	celibatária	quando	esse	dom	não	é
concedido	—	de	fato,	tal	contenda	é	uma	violação	da	ordenança	de	Deus
43.	O	casamento,	no	que	tange	a	esse	mandamento
a.	cada	homem	deve	reconhecer	seu	próprio	dom	e	determinar,	a	partir	disso,	se
deve	se	casar	ou	permanecer	celibatário
b.	para	evitar	incontinência,	devemos,	se	necessário,	recorrer	ao	casamento;
incontinência	marital	ou	desejos	impuros	são	pecados	contra	o	mandamento	de
Deus
44.	Modéstia	e	castidade
a.	dentro	do	casamento:	controle	sóbrio,	não	luxúria
b.	o	Deus	que	ordena	pureza	de	coração	proíbe	não	apenas	a	fornicação,	mas	a
sedução	de	outros	por	meio	de	vestimenta	ou	conduta	lasciva
Oitavo	mandamento
45.	Interpretação	geral
a.	propósito:	como	a	injustiça	é	abominável	a	Deus,	honre	a	cada	homem	o	que
lhe	é	devido
b.	síntese:	não	anseie	pelos	bens	de	outro	homem;	antes,	ajude-o	a	mantê-los,	já
que	todas	as	posses	dos	homens	são	da	distribuição	de	Deus
c.	tipos	de	roubos
(1)	por	violência
(2)	por	fraude
(3)	por	artimanha	legal
(4)	por	lisonjeio	de	um	suposto	presente
d.	uma	anatomia	da	cobiça	humana	em	todas	as	suas	formas
46.	Esse	mandamento	nos	obriga	a	se	importar	com	os	bens	dos	outros
a.	o	ganho	honesto	e	lícito	exclui	toda	forma	de	exploração	humana
b.	nosso	objetivo:	auxiliar	todos	os	homens	a	preservar	o	que	é	deles;	mas	se	eles
forem	trapaceiros,	evitar	discussão	—	até	mesmo	a	ponto	de	renunciar	a	algo	que
é	seu
c.	dever	mútuo	em	sociedade
(1)	povo/governantes
(2)	congregações/pastores
(3)	pais/filhos
(4)	idosos/jovens
(5)	servos/mestres
d.	síntese:	que	cada	um	saiba	sua	posição	na	sociedade	e	seus	deveres
Nono	mandamento	[47-48]
47.	Interpretação	geral
a.	propósito:	Deus,	enquanto	verdade,	abomina	a	mentira;	portanto,	devemos
praticar	a	verdade	uns	para	com	os	outros
b.	síntese:	que	não	prejudiquemos	ninguém	com	maledicência	ou	difamação
c.	corolário:	devemos	ajudar	fielmente	a	todos,	tanto	quanto	podemos,	a	afirmar
a	verdade	para	proteger	seu	nome	e	suas	posses
d.	dois	aspectos	da	mentira
(1)	injuriar	a	reputação	do	próximo
(2)	despojá-lo	dos	bens
e.	mais	uma	vez,	o	princípio	da	sinédoque:	o	vício	mais	abominável	representa
toda	sua	classe
f.	ao	passo	em	que	o	perjúrio	jurídico	é	tratado	no	terceiro	mandamento,	aqui	nos
ocupamos	da	difamação	que	despoja	nosso	próximo	de	seu	bom	nome,	e	não	de
suas	posses
48.	A	boa	reputação	do	nosso	próximo
a.	seres	humanos	se	deleitam	no	falar	difamatório	sobre	os	outros
b.	a	maledicência	que	Deus	condena	aqui	é	a	acusação	odiosa,	originária	do	meu
intento	e	desejo	malicioso	de	difamar
c.	não	apenas	a	maledicência	é	proibida,	mas	também	o	dar	ouvidos	a	ela	e
encorajá-la
Décimo	mandamento	[49-50]
49.	O	significado	desse	mandamento
a.	propósito:	Deus	deseja	que	nossa	alma	esteja	disposta	a	amar;	portanto,
devemos	banir	todo	desejo	contrário	ao	amor
b.	síntese:	nenhum	pensamento	se	enraíza	em	nós	para	nos	levar	a	desejar	o
prejuízo	do	nosso	próximo
c.	corolário:	qualquer	coisa	que	imaginarmos	ou	empreendermos,	deve	ser	para	o
bem	e	vantagem	do	nosso	próximo
d.	por	que	um	segundo	mandamento	tão	parecido	com	aquele	contra	o	adultério?
(1)	o	sétimo	mandamento	inclui	a	intenção
(2)	o	décimo	mandamento,	porém,	não	lida	com	a	intenção	deliberada,	mas	sim
com	a	cobiça,	que	pode	existir	sem	intenção	deliberada
e.	portanto,	não	somente	a	inclinação	para	o	mal,	mas	até	mesmo	a	incitação
para	tanto	é	proibida
50.	Justiça	interior!
a.	por	que	Deus	exige	tal	retidão?
(1)	a	finalidade	da	lei	é	o	amor;	um	coração	cobiçoso	está	enfermo
(2)	seriam	malignas	as	fantasias	casuais?	Aqui,	alude-se	aos	que	são	animados
pela	cupidez
(3)	a	pedagogia	de	Deus:	desejos	maus	nos	são	negados	ao	sermos	privados	das
próprias	coisas	que	nos	impelem	à	esbórnia
b.	os	deveres	prescritos	na	segunda	tábua	devem	firmar-se	no	fundamento	do
temor	e	da	reverência	a	Deus
c.	é	errado	dividir	esse	mandamento	em	dois,	pois	ele	significa,	como	um	todo:
mantenha	as	posses	de	outrem	a	salvo,	tanto	a	injúria	e	fraude	quanto	da	mais
sutil	cobiça
Princípios	da	lei	à	luz	do	ensinamento	de	Cristo	[51-59]
51.	A	síntese	da	lei
a.	propósito	de	toda	lei:	moldar	a	vida	humana	segundo	o	arquétipo	da	pureza
divina
b.	Moisés	e	Paulo	concordam	sobre	a	finalidade	da	lei
c.	a	lei	não	é	um	manual	rudimentar,	mas	o	guia	perfeito	para	todas	as
obrigações	de	piedade	e	amor
52.	Por	que	a	Escritura	às	vezes	menciona	somente	a	segunda	tábua?
a.	nenhuma	exegese	pode	negar	que	Cristo	e	os	apóstolos	resumem	a	lei	citando,
frequentemente,	apenas	a	segunda	tábua
b.	por	quê?	Porque	a	segunda	tábua,	por	meio	de	sinais	da	vida	cristã,	manifesta
evidência	do	temor	real	de	Deus	(a	finalidade	da	primeira	tábua)
53.	Fé	e	amor
a.	a	essência	da	justiça	reside	mais	no	viver	inocentemente	com	os	homens	do
que	em	honrar	a	Deus	com	piedade?	Não!
b.	amor:	a	essência	da	lei
c.	o	Senhor	quer	dizer	que	a	lei	nos	obriga	a	observar	a	justiça	e	equidade	para
com	os	homens,	de	sorte	que	possamos	nos	tornar	experientes	em	testemunhar
de	um	temor	piedoso	a	ele
54.	Amor	ao	próximo
a.	nossa	vida	há	de	tanto	melhor	se	conformar	à	vontade	de	Deus	e	sua	lei	quanto
mais	frutífera	for	para	nossos	irmãos
b.	o	amor-próprio,	sendo	congênito,	não	precisa	de	lei	que	nos	incite	a	ele!
c.	a	santidade	é	mensurada	no	amor	ao	próximo	e	a	Deus
d.	a	pedagogia	de	Deus:	tomar	nossa	possessão	mais	firme	—	amor-próprio	—	e
redirecioná-la,	com	todo	seu	dinamismo,	para	outros	homens	e	para	Deus
55.	Quem	é	nosso	próximo?
a.	“próximo”	não	é,	necessariamente,	um	termo	de	proximidade	física,	mas
abrange	toda	a	raça	humana,	sem	exceção
b.	precisamos,	primeiro,	nos	voltar	para	Deus	para	compreendermos	o	princípio
do	amor:	qualquer	que	seja	o	caráter	de	um	homem,	ainda	assim	precisamos
amá-lo,	porque	Deus	nos	amou
56.	“Conselhos	evangélicos”?
a.	a	esses	mandamentos	de	Cristo,	os	escolásticos	dão	o	nome	de	“conselhos
evangélicos”
(1)	livres	para	serem	obedecidos	ou	não
(2)	o	fardo	está	sobre	os	monges,	e	não	sobre	cristãos	comuns
b.	exemplos	escriturísticos	demonstrando	a	aplicação	universal	desses	preceitos
57.	O	mandamento	para	amar	nosso	inimigo	é	um	mandamento	genuíno
a.	não	apenas	monges,	mas	todos	nós	devemos	amar	nossos	inimigos,	como
Agostinho	e	Paulo	convincentemente	argumentaram	e	pais	da	igreja,	tão	tardios
quanto	Gregório	I,	o	consideravam	um	mandamento
b.	pergunte	a	esses	escolásticos	se	amar	a	Deus	(o	que	eles	aceitam	impor-se
sobre	todos)	não	é	mais	difícil	do	que	amar	seu	inimigo	(que	eles	chamam	de
“conselho	evangélico”)
58.	A	distinção	entre	pecados	mortais	e	veniais	é	inválida!
a.	definição	dos	escolásticos	de	pecado	venial:	desejo	sem	consentimento
deliberado	que	não	se	retém	longamente	no	coração
b.	resposta:	é	uma	falha	da	alma	se	concentrar	nas	demandas	da	lei	como	um
todo	e	deixar	um	espaço	vazio	para	tais	desejosingressarem
c.	pecado	é	pecado:	não	podemos	fazer	gradações	dessa	natureza
59.	Todo	pecado	é	um	pecado	mortal!
a.	Mateus	5.19	certamente	se	aplica	a	esses	mitigadores	da	lei	que	negligenciam
seu	conteúdo	e	até	o	seu	autor
b.	eles	subestimam,	insensatamente,	a	ira	de	Deus
c.	nossa	visão:	todo	pecado,	enquanto	rebelião	contra	a	vontade	de	Deus,	é
mortal
CAPÍTULO	9
Cristo,	embora	fosse	conhecido	dos	judeus	sob	a	lei,	foi	ampla	e	claramente	revelado	somente	no
evangelho
A	graça	de	Cristo	antecipada	e	manifesta	[1-2]
1.	A	vantagem	da	comunidade	do	Novo	Testamento
a.	Deus	era	conhecido	do	povo	do	Antigo	Testamento	na	mesma	representação
com	a	qual	ele	agora	aparece	para	nós	em	pleno	esplendor
b.	a	lei	serviu	para	manter	os	santos	na	expectativa	pela	vinda	de	Cristo
c.	o	fato	de	que	Cristo	agora	tornou	Deus	conhecido	não	exclui	os	fiéis	que
morreram	antes	de	Cristo	da	comunidade	do	entendimento	e	da	luz	que	brilha	na
pessoa	de	Cristo
d.	os	mistérios	que	o	antigo	povo	somente	vislumbrou	em	um	esboço	nublado
são,	agora,	manifestos	para	nós;	portanto,	não	seja	cego	ao	meio-dia!
2.	O	evangelho	prega	o	Cristo	revelado
a.	a	palavra	“evangelho”	pode	ser	tomada	em	um	duplo	sentido
(1)	enquanto	“perdão”:	o	evangelho	é	aquilo	que	promete	a	livre	remissão	de
pecados	que	comumente	aparecem	na	lei,	por	meio	do	qual	Deus	reconcilia	os
homens	a	si
(2)	enquanto	“cumprimento”:	o	evangelho	é	uma	forma	nova	e	atípica	de
embaixada,	por	meio	da	qual	Deus	cumpriu	o	que	prometeu,	cumprimento	esse
realizado	na	pessoa	de	Cristo
b.	entretanto,	porque	temos,	na	pessoa	de	Cristo,	uma	manifestação	viva	de	que
nossa	salvação	foi	concluída,	o	evangelho	enquanto	cumprimento	deve	ser
recebido	como	uma	definição	mais	elevada
Refutação	de	erros	sobre	a	relação	entre	lei	e	evangelho:	posição	intermediária	de	João	Batista	[3-5]
3.	As	promessas	não	são	revogadas	para	nós
a.	entretanto,	devemos	estar	alertas	quanto	à	imaginação	diabólica	de	Serveto,
que	finge	que	pela	fé	no	evangelho	nós	tomamos	parte	no	cumprimento	de	todas
as	promessas
b.	ao	crer	em	Cristo	nós	passamos	da	morte	para	a	vida,	mas	devemos	lembrar,
ao	mesmo	tempo,	o	dito	de	João:	embora	nós	saibamos	que	“somos	os	filhos	de
Deus,	ainda	não	é	manifesto…	até	que	sejamos	como	ele,	quando	o	veremos
como	ele	é”
c.	somos	ordenados,	pelo	Espírito	Santo,	a	viver	na	esperança	do	gozo	pleno	dos
benefícios	espirituais	de	Cristo
d.	devemos	notar	uma	diferença	na	natureza	ou	qualidade	das	promessas:	o
evangelho	aponta	diretamente	o	que	a	lei	preconizou	por	meio	de	tipos
4.	A	oposição	entre	lei	e	evangelho	não	deve	ser	exagerada
a.	nós	refutamos	aqueles	que	sempre	comparam,	erroneamente,	a	lei	com	o
evangelho	ao	contrastar	o	mérito	das	obras	com	a	livre	imputação	da	justiça
b.	o	evangelho	não	suplantou	toda	a	lei	de	forma	a	apresentar	um	caminho
diferente	de	salvação
5.	João	Batista
a.	João	situou-se	entre	a	lei	e	o	evangelho,	portando	um	ofício	intermediário
entre	ambos
b.	aquele	que	é	menor	no	reino	dos	céus	é	maior	que	João,	porque	até	então	João
não	havia	contemplado	o	evangelho	em	seu	maior	poder,	a	ressurreição	e
ascensão
CAPÍTULO	10
A	similaridade	do	Antigo	e	Novo	Testamentos
A	aliança	no	Antigo	Testamento:	verdadeiramente	a	mesma	daquela	do	Novo	Testamento	[1-6]
1.	A	questão
a.	todos	os	homens	adotados	por	Deus	na	comunidade	de	seu	povo	desde	o
princípio	do	mundo	estavam	aliançados	a	ele	pela	mesma	lei	e	pelo	vínculo	da
mesma	doutrina	presente	entre	nós
b.	embora	a	condição	dos	patriarcas	na	comunidade	diferisse	da	nossa,	devemos
nos	precaver	das	afirmações	de	Serveto	e	de	alguns	anabatistas	que	tagarelam
que	os	israelitas	não	tinham	nenhuma	esperança	de	imortalidade	celeste
2.	Principais	pontos	de	convergência
a.	a	aliança	feita	com	os	patriarcas	é	de	tal	forma	semelhante	à	nossa	em
substância	e	realidade	que	as	duas	são,	na	verdade,	uma	e	a	mesma
b.	três	pontos	a	serem	notados
(1)	a	prosperidade	e	a	felicidade	material	não	consistiam	na	finalidade
estabelecida	para	os	judeus:	antes,	eles	foram	adotados	pela	esperança	da
imortalidade
(2)	a	aliança	pela	qual	eles	foram	vinculados	ao	Senhor	foi	sustentada
exclusivamente	pela	misericórdia	do	Deus	que	os	chamou,	e	não	por	seus
próprios	méritos
(3)	eles	conheciam	e	tinham	Cristo	por	mediador,	por	meio	de	quem	eram	unidos
a	Deus	e	deveriam	participar	de	suas	promessas
3.	O	Antigo	Testamento	vislumbra	o	futuro
a.	como	Israel	tinha	o	evangelho	prometido	na	lei	e	o	evangelho	não	limita	o
coração	dos	homens	a	se	deleitarem	na	vida	presente,	seria	absurdo	dizer	que
aqueles	para	quem	o	evangelho	foi	prometido	omitiram	e	negligenciaram	o
cuidado	da	alma,	buscando	prazeres	terrenos
b.	quando	Paulo	diz	que	as	promessas	do	evangelho	estão	contidas	na	lei,	ele
prova,	com	absoluta	clareza,	que	o	Antigo	Testamento	se	ocupava
particularmente	com	a	vida	futura
4.	Até	mesmo	na	antiga	aliança,	a	justificação	deriva	sua	validade	somente	da
graça
a.	como	o	coração	do	evangelho	é	a	justificação	de	pecadores
independentemente	de	obras	ou	mérito,	e	como	os	judeus	são	aqueles	aos	quais	a
doutrina	da	justificação	pela	fé	foi	concedida,	quem	ousaria	separar	os	judeus	de
Cristo?
b.	a	salvação	revelada	em	Cristo	não	é	nada	além	da	manifestação	das	promessas
que	o	Senhor	fez	previamente	a	Abraão	e	aos	patriarcas
5.	Sinais	semelhantes	da	aliança
a.	os	israelitas	se	igualam	a	nós	não	apenas	na	graça	da	aliança,	mas	também	no
significado	dos	sacramentos
b.	as	similaridades	entre	nosso	batismo	espiritual	e	a	travessia	do	mar	pelos
judeus
c.	os	judeus	comeram	a	mesma	comida	espiritual	e	beberam	a	mesma	bebida
espiritual,	isto	é,	Cristo
6.	Refutação	de	uma	objeção	baseada	em	João	6.49,	54
a.	alguns	alegam	que	as	duas	afirmações	de	Cristo,	“vossos	pais	comeram	o
maná	no	deserto	e	pereceram”	e	“aquele	que	come	do	meu	corpo	jamais
morrerá”,	demonstram	que	o	povo	da	antiga	aliança	está	perdido
b.	essas	duas	afirmações,	porém,	convergem,	porque	Cristo	estava	acomodando
sua	linguagem	à	capacidade	de	seus	ouvintes
c.	a	comparação	foi	feita	por	Cristo	para	mostrar	quão	maior	benefício	seus
ouvintes	deveriam	esperar	dele	do	que	o	que	diziam	que	seus	pais	haviam
recebido	de	Moisés
Argumento	acerca	da	esperança	da	vida	eterna,	mostrando	que	os	patriarcas	do	Antigo	Testamento
esperavam	pelo	cumprimento	das	promessas	na	vida	vindoura	[17-14]
7.	Os	patriarcas	tinham	a	Palavra	e,	com	ela,	também	a	vida	eterna
a.	deve	ser	tomado	como	certo	que	existe	tamanho	poder	de	vida	na	Palavra	de
Deus	que	ela	desperta	as	almas	de	todos	aqueles	a	quem	Deus	garante	a
participação	nela
b.	como	o	Deus	de	outrora	amarrou	os	judeus	a	si	por	seu	vínculo	sagrado,	não
há	dúvida	de	que	ele	os	separou	para	a	esperança	da	vida	eterna
c.	por	“Palavra”,	designa-se	aquele	modo	especial	de	comunicação	que	tanto
ilumina	as	almas	dos	fiéis	para	o	conhecimento	de	Deus	quanto,	em	certo
sentido,	os	une	a	ele
8.	No	Antigo	Testamento,	Deus	deu	ao	seu	povo	comunhão	consigo	e,	portanto,
vida	eterna
a.	referências	à	comunhão	de	Deus	com	seu	povo	no	Antigo	Testamento
b.	se	a	autorrevelação	de	Deus	é	uma	garantia	de	salvação,	como	ele	pode
revelar	a	si	mesmo	para	um	homem	enquanto	seu	Deus	sem	que	também	lhe
oferte	os	tesouros	de	sua	salvação?
9.	Até	mesmo	na	antiga	aliança,	a	bondade	de	Deus	era	mais	poderosa	que	a
morte
a.	muitas	passagens	no	Antigo	Testamento	mostram	que	Deus	não	era	apenas	o
Deus	de	Israel	no	presente,	mas	que	ele	jamais	os	desampararia	no	futuro
b.	a	afirmação	“eu	serei	o	Deus	da	tua	descendência”	mostra	claramente	que	se
Deus	declarou	sua	benevolência	para	com	os	mortos,	ao	auxiliar	sua
descendência,	tanto	menos	deixaria	de	favorecer	os	próprios	mortos
c.	a	afirmação	“eu	sou	o	Deus	de	Abraão…	Isaque	e…	Jacó”,	feita	bem	depois
de	sua	morte,	certamente	não	significa	que	Deus	é	o	Deus	daqueles	que	não
existem
10.	A	beatitude	do	povo	antigo	não	era	terrena
a.	porque	o	modo	de	vida	divinamente	preceituado	aos	fiéis	era	um	exercício
contínuo,	por	meio	do	qual	eles	eram	lembrados	de	que	eram	os	mais	miseráveis
de	todos	os	homensse	fossem	felizes	apenas	nesta	vida,	eles	meditavam	na
[vida]	celeste
b.	exemplos	de	Adão,	Abel	e	Noé
11.	A	fé	de	Abraão
a.	devemos	prezar	Abraão	como	equivalente	a	cem	mil,	se	considerarmos	sua	fé,
que	nos	é	apresentada	como	o	melhor	modelo	de	credulidade
b.	para	sermos	filhos	de	Deus,	devemos	ser	reconhecidos	como	membros	de	sua
tribo;	mas	o	que	seria	mais	absurdo	do	que	Abraão	ser	o	pai	de	todos	os	fiéis	e,
ainda	assim,	não	ocupar	nem	mesmo	o	lugar	mais	remoto	entre	eles?
c.	experiências	de	sua	vida
12.	A	fé	de	Isaque	e	Jacó
a.	Isaque	como	um	exemplo	de	alguém	cujas	perturbações	não	o	permitiam	ser
feliz	na	terra
b.	Jacó	como	outro	exemplo	de	infelicidade	extrema
c.	conclusão:	ambos	não	tiveram	sua	esperança	firmada	sobre	coisas	terrenas
13.	Os	patriarcas	ansiavam	por	vida	eterna
a.	se	esses	santos	patriarcas	buscaram	das	mãos	de	Deus	uma	vida	abençoada,
como	sem	dúvida	o	fizeram,	eles	tanto	a	concebiam	quanto	a	viam	como	algo
mais	do	que	a	vida	terrena
b.	eles	teriam	sido	mais	estúpidos	do	que	toras	de	madeira	para	continuar
buscando	as	promessas	quando	nenhuma	esperança	delas	se	mostrava	na	terra	—
a	menos	que	esperassem	que	fossem	cumpridas	em	outro	lugar
14.	A	morte	dos	santos:	entrada	para	a	vida
a.	em	todos	os	seus	empreendimentos	nesta	vida,	os	santos	colocam	perante	si	a
beatitude	da	vida	futura
b.	exemplos	de	Jacó,	Balaão	e	Davi
Continuação	desse	argumento	aludindo	a	passagens	de	Davi,	Jó,	Ezequiel	e	outros	[15-22]
15.	Davi	como	proclamador	da	esperança
a.	certamente,	aquele	que	professou	que	não	há	nada	sólido	ou	estável	na	terra,
mas	que	agarra-se	a	uma	firme	fé	em	Deus,	vislumbra	sua	felicidade	sediada	em
outro	lugar
b.	exemplos	dos	Salmos	ilustrando	a	esperança	de	Davi
16.	Passagens	adicionais	aplicadas	à	vida	futura
a.	O	que	Davi	canta	em	muitas	passagens	dos	Salmos	sobre	a	prosperidade	dos
fiéis	não	pode	ser	compreendido	a	menos	que	seja	aplicado	à	revelação	da	glória
celeste
b.	nem	mesmo	Davi	esconde	o	fato	de	que	se	os	fiéis	mantiverem	os	olhos	fixos
no	presente	estado	de	coisas,	eles	serão	seduzidos	por	penosa	tentação,	como	se
não	houvesse,	para	a	inocência,	favor	ou	recompensa	junto	a	Deus
17.	A	esperança	dos	santos	ergue-se	para	além	das	calamidades	presentes,	para	a
vida	futura
a.	o	exemplo	de	Davi	nos	ensina	como	raramente,	ou	nunca,	Deus	cumpre	neste
mundo	o	que	ele	prometeu	aos	seus	servos
b.	Davi	coloca	diante	de	seus	olhos	não	o	que	o	curso	oscilante	do	mundo
apresenta,	mas	o	que	o	Senhor	fará	quando	ele	se	sentar	em	seu	trono	de	juízo
18.	Seu	destino	feliz	contrasta	com	o	dos	ímpios
a.	os	santos	sofrem	a	cruz	pela	mão	do	Senhor	somente	por	um	breve	momento;
as	misericórdias	que	eles	recebem	são	eternas
b.	por	outro	lado,	eles	anteveem	uma	ruína	eterna	e	infindável	dos	ímpios	que
foram	felizes	por	um	dia,	como	em	um	sonho
19.	Jó	como	testemunho	da	imoralidade
a.	se	seu	anseio	residisse	na	terra,	Jó	não	poderia	ter	afirmado:	“Eu	sei	que	meu
redentor	vive	e	eu	serei	ressuscitado	da	terra	no	Último	Dia”
b.	nós	devemos,	portanto,	reconhecer	que	ele	ergueu	seus	olhos	para	uma
imortalidade	futura,	pois	viu	que	seu	Redentor	estaria	com	ele	até	quando
repousasse	na	tumba
c.	essas	afirmações	não	são	direcionadas	a	algumas	poucas	pessoas
20.	O	testemunho	dos	profetas	sobre	a	imortalidade
a.	os	profetas	representaram	a	bondade	de	Deus	para	com	o	povo	sob	o	esboço,
por	assim	dizer,	de	benefícios	temporais
b.	contudo,	o	retrato	que	pintaram	eleva	a	mente	das	pessoas	aos	céus,	levando-
as	necessariamente	a	refletir	sobre	a	felicidade	da	vida	futura	que	estaria	por	vir.
21.	O	vale	dos	ossos	secos	de	Ezequiel
a.	os	israelitas	entenderam	a	profecia	de	Ezequiel	primeiramente	como	um
anúncio	de	que	os	corpos	decadentes	deveriam	ser	trazidos	de	volta	à	vida
b.	a	visão	de	Ezequiel	serviu	não	apenas	para	corrigir	uma	interpretação	errônea,
mas	fixou	nos	judeus,	nesse	ínterim,	o	quanto	o	poder	do	Senhor	estendia-se
para	além	da	restauração	do	povo	da	Babilônia
22.	Passagens	adicionais	de	outros	profetas
a.	exemplo	de	Isaías
b.	exemplo	de	Daniel
23.	Síntese	e	conclusão:	a	convergência	dos	Testamentos	sobre	a	vida	eterna
a.	este,	portanto,	é	o	nosso	princípio:	o	Antigo	Testamento	ou	a	aliança	que	o
Senhor	fez	com	os	israelitas	não	se	limitava	a	coisas	terrenas,	mas	continha	uma
promessa	de	vida	eterna	e	espiritual
b.	Cristo,	o	Senhor,	promete	aos	seus	seguidores,	hoje,	o	próprio	“reino	dos
céus”	em	que	possam	se	assentar	à	mesa	com	Abraão,	Isaque	e	Jacó
c.	entretanto,	assim	aprouve	a	Deus,	em	justo	juízo,	cegar	a	mente	daqueles	que,
ao	recusarem	a	oferta	da	luz	celeste,	voluntariamente	trouxeram	trevas	sobre	si
OS	SOFRIMENTOS	DOS	PATRIARCAS
(Paralelo	entre	Hebreus	11	e	as	Institutas	2:10)
CAPÍTULO	11
A	diferença	entre	os	dois	testamentos
O	ANTIGO	TESTAMENTO	DIFERE	DO	NOVO	EM	CINCO	ASPECTOS
Primeiro	aspecto:	representação	de	bênçãos	espirituais	por	meio	das	temporais	[1-3]
1.	A	ênfase	nos	benefícios	terrenos,	os	quais,	entretanto,	levariam	a
considerações	celestes
a.	outrora,	o	Senhor	quis	que	seu	povo	direcionasse	e	elevasse	sua	mente	à
herança	celestial;	contudo,	para	melhor	nutri-los	nessa	esperança,	ele	a
manifestou	para	que	vissem	e,	por	assim	dizer,	provassem,	sob	a	forma	de
benefícios	terrenos
b.	mas	agora	que	o	evangelho	revelou	mais	clara	e	evidentemente	a	graça	da
vida	futura,	o	Senhor	conduz	nossa	mente	para	meditar	diretamente	sobre	ela,
deixando	de	lado	a	modalidade	mais	rasa	de	instrução	que	empregou	com	os
israelitas
c.	as	possessões	terrenas	herdadas	pelos	israelitas	eram	senão	um	espelho	no
qual	eles	viam	a	herança	futura	que	acreditavam	estar	preparada	para	eles	no	céu
2.	As	promessas	terrenas	correspondiam	à	infância	da	igreja	no	Antigo
Testamento;	mas	não	deveriam	acorrentar	a	promessa	às	coisas	terrenas
a.	o	Senhor,	mantendo	Israel	sob	tutela,	não	concedeu	promessas	espirituais
amplas	e	rasas,	mas	prefiguradas,	em	alguma	medida,	por	promessas	terrenas
b.	exemplos	de	Abraão,	Davi	e	os	profetas,	baseados	no	argumento	de	Paulo	em
Gálatas	4:1-3
3.	Benefícios	físicos	e	castigos	físicos	enquanto	tipos
a.	os	santos,	debaixo	do	Antigo	Testamento,	estimavam	a	vida	moral	mais	do
que	nós	devemos	fazê-lo	hoje,	porque	a	vida	moral	era	a	esfera	na	qual	tipos	e
símbolos	eram	dados	para	testificar	da	felicidade	espiritual	vindoura
b.	como	os	benefícios	de	Deus	eram	mais	notáveis	em	coisas	terrenas,	assim
também	o	eram	seus	castigos
c.	que	Deus	pune,	hoje,	mais	gentil	e	raramente,	é	uma	consideração	que	não
aponta	para	a	ação	de	diferentes	deuses,	mas	para	a	forma	da	dispensação	de
Deus
Segundo	aspecto:	a	verdade,	no	Antigo	Testamento,	transmitida	por	imagens	e	cerimônias,	tipificando
Cristo	[4-6]
4.	O	significado	da	diferença
a.	a	segunda	diferença	entre	o	Antigo	e	o	Novo	Testamentos	consiste	em
ilustrações:	na	ausência	da	realidade,	elas	mostravam	senão	uma	imagem	e
sombra	em	vez	da	substância
b.	o	Novo	Testamento	revela	a	presença	da	própria	substância	da	verdade
c.	argumento	do	livro	de	Hebreus,	concluindo	que	a	função	da	lei	deveria	ser	de
uma	introdução;	a	esperança	superior	sendo	revelada	no	evangelho	—	e,	da
mesma	forma,	as	cerimônias	do	Antigo	Testamento	eram	observâncias	à	espera
de	sua	confirmação	em	Cristo
5.	Infância	e	maturidade	da	igreja
a.	foi	da	vontade	do	Senhor	que	a	“infância	dos	judeus	fosse	educada	nos
elementos	deste	mundo	e	em	observâncias	exteriores	pueris,	como	regras	para	a
instrução	desta	criança”
b.	a	lei	e	os	profetas	deram	aos	homens	de	seu	tempo	um	antegosto	daquela
sabedoria	que	um	dia	haveria	de	ser	claramente	revelada
6.	Até	mesmo	os	grandes	homens	de	fé	permaneceram	dentro	dos	limites	da
antiga	aliança
a.	essa	perspectiva	não	é	afetada	pelo	fato	de	que	não	se	encontra	quase
ninguém,	na	igreja	cristã,	que	se	compare	a	Abraão	em	excelência	de	fé
b.	o	foco	de	nossa	consideração,	aqui,	não	é	uma	comparação	da	graça	concedida
a	poucos,	mas	a	dispensação	que	Deus	utilizou	na	instrução	de	seu	povo
Terceiro	aspecto:	o	Antigo	Testamento	é	literal;	o	Novo,	espiritual	[7-8]7.	Origem	bíblica	e	significado	dessa	diferença
a.	comparação	da	lei	e	do	evangelho	com	base	em	Jeremias	31.31-34,	e
2Coríntios	3.6-11
b.	a	lei o	evangelho
doutrina	literal doutrina	espiritual
lavrados	em	tábuas	de	pedra escrito	no	coração	do	homems
proclamação	da	morte proclamação	da	vida
proclamação	da	condenação proclamação	da	justificação
a	ser	inutilizada permanente
8.	A	diferença	em	detalhes,	conforme	2Coríntios	3
a.	o	Antigo	Testamento	é	o	ministério	da	condenação,	pois	acusa	todos	os	filhos
de	Adão	de	injustiça,	enquanto	o	Novo	Testamento	é	o	ministério	da	justiça,	pois
revela	a	misericórdia	de	Deus	por	meio	da	qual	somos	justificados
b.	esse	contraste	deve	remeter	à	lei	cerimonial,	porque,	como	o	Antigo
[Testamento]	portava	a	imagem	de	coisas	ausentes,	ele	precisava	morrer	e
desaparecer	com	o	tempo,	enquanto	o	evangelho,	porque	revela	a	própria
substância,	permanece	para	sempre
c.	não	devemos	supor,	a	partir	dessa	diferença	entre	a	letra	e	o	espírito,	que	o
Senhor	inutilmente	outorgou	sua	lei	sobre	os	judeus	e	que	nenhum	deles	voltou-
se	para	ele
Quarto	aspecto:	servidão	do	Antigo	Testamento	e	liberdade	do	Novo	[9-10]
9.	O	ensino	de	Paulo
a.	a	Escritura	refere-se	ao	Antigo	Testamento	como	sendo	de	“servidão”,	porque
produz	medo	na	mente	dos	homens;	e	ao	Novo	Testamento	como	sendo	de
“liberdade”,	porque	os	eleva	à	confiança	e	segurança
b.	analogia	Agar-Sara
c.	os	santos	patriarcas	não	eram	exceção	à	comparação	de	“servidão-liberdade”
quando	consideramos	a	dispensação	comum	pela	qual	o	Senhor,	naquele
momento,	lidou	com	os	israelitas
10.	Lei	e	evangelho
a.	conquanto	a	palavra	“lei”	se	refere	ao	Antigo	Testamento,	deve	se	entender
que	“lei”	inclui	também,	em	si,	as	promessas	proclamadas	antes	a	lei
b.	os	filhos	da	promessa,	nascidos	de	Deus,	que	obedeceram	aos	mandamentos
pela	fé,	operante	por	meio	do	amor,	pertenceram	à	nova	aliança	desde	o
princípio	do	mundo
c.	assim,	todos	os	santos	que	a	Escritura	menciona	serem	singularmente
escolhidos	por	Deus	desde	o	princípio	do	mundo,	partilharam	conosco	da	mesma
bênção	para	a	salvação	eterna
d.	os	patriarcas	viveram	sob	a	antiga	aliança	de	tal	maneira	a	não	permanecer
nela,	mas	a	sempre	aspirar	pela	nova	e,	assim,	alcançaram	uma	participação	real
nela
Quinto	aspecto:	o	Antigo	Testamento	remete	a	uma	nação,	o	Novo,	a	todas	as	nações	[11-12]
11.	O	véu	rasgou-se	em	Cristo
a.	a	quinta	diferença	que	pode	ser	acrescentada	reside	no	fato	de	que,	até	o
advento	de	Cristo,	o	Senhor	separou	uma	nação	para,	dentro	dela,	confinar	a
aliança	de	sua	graça
b.	Israel	e	as	outras	nações	em	comparação
Israel Outras	nações
unido	a	Deus	por	meio	de	sua	palavra permitido	caminhar	na	futilidade
o	filho	querido	de	Deus estrangeiros
reconhecido	e	recebido	na	confiança	e	no	cuidadodeixadas	à	própria	escuridão
santificado	por	Deus profanadas
honrado	pela	presença	de	Deus excluídas	de	toda	proximidade	de	Deus
c.	porém,	na	plenitude	dos	tempos,	Deus	foi	revelado	como	reconciliador	entre	si
mesmo	e	todos	os	homens
12.	O	chamado	dos	gentios
a.	o	chamado	dos	gentios	é,	portanto,	uma	marca	notável	da	excelência	do	Novo
Testamento	em	relação	ao	Antigo
b.	nem	mesmo	Cristo,	no	início	de	sua	pregação,	fez	qualquer	movimento
imediato	quanto	ao	chamado	dos	gentios
RESPOSTA	A	OBJEÇÕES	ACERCA	DA	JUSTIÇA	E	CONSISTÊNCIA	DE	DEUS	NESSAS
DIFERENÇAS	DE	ADMINISTRAÇÃO	[13-14]
13.	Por	que	as	diferenças,	em	geral?
a.	objeção:	alguns	dizem	que	não	é	adequado	que	Deus,	sempre	autoconsistente,
permitisse	uma	grande	mudança,	desaprovando	mais	tarde	o	que	outrora	indicou
e	ordenou
b.	resposta:
(1)	Deus	não	deve	ser	considerado	mutável	simplesmente	porque	acomodou
formas	diversas	a	períodos	distintos,	conforme	sabia	ser	conveniente	para	cada
um
(2)	o	que	é	mutável	é	a	faculdade	humana
14.	A	liberdade	de	Deus	para	lidar	com	todos	os	homens,	como	ele	quer
a.	segunda	objeção:	Deus	não	poderia	igualmente	ter	revelado	a	vida	eterna	em
palavras	claras,	sem	quaisquer	ilustrações,	tanto	no	princípio	quanto	após	o
advento	de	Cristo?
b.	resposta:	é	como	se	eles	estivessem	discutindo	com	Deus	porque	ele	demorou
para	criar	o	mundo,	ao	passo	que	poderia	tê-lo	feito	desde	o	início
CAPÍTULO	12
A	fim	de	cumprir	o	ofício	de	mediador,	Cristo	deveria	se	fazer	homem
Razões	por	que	era	necessário	que	o	mediador	deveria	ser	Deus	e	se	fazer	homem	[1-3]
1.	Somente	aquele	que	fosse	Deus	verdadeiro	e	homem	verdadeiro	poderia
transpor	o	abismo	entre	nós	e	Deus
a.	nosso	Mediador	precisava	ser	tanto	Deus	verdadeiro	quanto	homem
verdadeiro,	não	por	simples	necessidade,	mas	por	decreto	divino,	tendo	nosso
Pai	decretado	o	que	é	melhor	para	nós
b.	nem	filho	de	Adão,	nem	anjo;	antes,	a	verdadeira	majestade	de	Deus	desceu
até	nós,	já	que	não	estava	no	nosso	poder	ascender	até	ele
c.	o	abismo	entre	a	pequenez	do	homem	e	a	majestade	de	Deus	(mesmo	que	o
homem	não	tivesse	caído)	só	poderia	ser	transposto	dessa	maneira
d.	Paulo	o	descreve	como	“o	homem	Jesus	Cristo”	para	acomodar	à	nossa
fraqueza:	a	natureza	humana	de	Cristo	é	nosso	caminho	até	Deus
2.	O	mediador	deve	ser	Deus	verdadeiro	e	homem	Verdadeiro
a.	a	tarefa	gigantesca	do	mediador:	restaurar	os	homens	à	graça	de	Deus	—	algo
que	somente	o	próprio	Filho	de	Deus	poderia	fazer
b.	nossa	adoção	como	filhos	da	graça	só	é	possível	com	Cristo	assumindo
completamente	nossa	natureza	humana	e	suas	consequências	(mas	sem	o
pecado)
c.	nosso	Redentor	precisava	ser	ambos,	Deus	e	homem,	pois	ao	comer	da	morte,
o	homem	deveria	morrer,	mas	a	Vida	deveria	vivificar
d.	portanto,	o	Filho	unigênito	se	tornou	nosso	Redentor
3.	Somente	aquele	que	fosse	Deus	verdadeiro	e	homem	verdadeiro	poderia	ser
obediente	em	nosso	lugar
a.	somente	a	obediência	perfeita	de	Cristo	à	vontade	do	Pai	poderia	suplantar
nossa	desobediência:
(1)	enquanto	homem,	ele	padeceu	da	morte;	enquanto	Deus,	triunfou	sobre	ela
(2)	aqueles	que	rompem	a	união	do	Deus-homem,	para	qualquer	lado	que	seja,
são	perigosos	para	a	fé	dos	homens
b.	Cristo	não	era	um	homem	qualquer,	mas	o	descendente	de	Abraão	e	Davi:
portanto,	temos	ainda	mais	certeza	de	que	ele	é	o	ungido
Resposta	à	objeção	a	essa	doutrina	[4-7]
4.	O	único	propósito	da	encarnação	de	Cristo	foi	a	nossa	redenção
a.	alguns	especulam	que	Cristo	ainda	se	teria	feito	homem,	mesmo	se	não	fosse
necessária	a	redenção	da	humanidade
b.	contudo,	testemunhos	claros	da	Escritura	negam	isso	e	afirmam	que	Cristo
encarnou	para	a	nossa	salvação
(1)	testemunhos	do	Antigo	Testamento
(2)	testemunhos	do	Novo	Testamento
5.	Teria	Cristo	também	se	feito	homem	se	Adão	não	tivesse	pecado?
a.	(Osiander)	alega	que	Cristo	teria	encarnado	para	mostrar	seu	amor	pelos
homens,	mesmo	que	Adão	não	tivesse	pecado
b.	resposta:	a	condição	condenada	do	homem	e	a	vinda	de	Cristo	estão	unidas
por	um	decreto	eterno	de	Deus:	não	é	lícito,	portanto,	especular	para	além	disso
c.	Osiander	reacendeu	a	questão:	é	ele	—	e	não	Calvino	—	que	é	presunçoso	na
especulação	para	além	dos	limites	estabelecidos	pela	Escritura
6.	A	doutrina	de	Osiander	da	imagem	de	Deus
a.	o	fundamento	de	Osiander:	o	homem	foi	criado	à	imagem	de	Deus	—	o
padrão	do	Messias	por	vir
b.	infere	daí	que:	se	Adão	nunca	tivesse	caído,	Cristo	ainda	teria	se	feito	homem;
Osiander	pensa	que	ele	foi	o	primeiro	a	ver	a	natureza	da	imagem	de	Deus	no
homem	—	que	Deus	habitou	essencialmente	nele
c.	sim	[diz	Calvino],	como	a	mais	elevada	das	criaturas	de	Deus,	Adão	portou	a
imagem	de	Deus,	mas	não	mais	do	que	os	anjos
d.	Cristo,	o	cabeça	sobre	homens	e	anjos
(1)	anjos	têm	uma	visão	direta	de	Deus	porque	eles	são	como	o	Filho
(2)	nossa	beatitude	futura	tomará	a	forma	de	anjos	e,	então,	desfrutaremos	da
visão	perpétua	de	Deus
7.	Refutação	de	Osiander	ponto	a	ponto
a.	Osiander	alega	que	sem	um	decreto	imutável	acerca	da	encarnação	do	Filho,
Deus	se	torna	um	mentiroso
b.	além	disso,	se	Cristo	não	tivesse	nascido	como	primeiro	homem	(não	como
Redentor)	tudo	estaria	vinculado	à	contingência	histórica	—	em	oposição	ao
ensino	de	Paulo	sobre	o	primeiro	e	segundo	Adão
c.	Osiander	pensa	queCristo	só	tem	primazia	sobre	os	anjos	à	medida	que	os
homens	o	têm	—	isso	foi	refutado	por	Paulo
d.	Osiander	pensa	que	se	Cristo	não	tivesse	sido	homem,	os	homens	não	o	teriam
tomado	por	rei,	por	cabeça	de	sua	igreja	—	mas	Calvino	contesta	que	Cristo,
ainda	que	não	encarnado,	poderia	ter	dirigido	sua	igreja	assim	como	dirige	os
anjos
e.	Osiander	apresenta,	agora,	a	“profecia	de	Adão”	(“osso	dos	meus	ossos	e
carne	de	minha	carne”)
(1)	isso	não	é	“profecia”,	mas	diz	respeito	à	fidelidade	no	casamento
(2)	a	interpretação	de	Paulo	sobre	essa	profecia	(Ef	4.30-31)	se	vale	apenas	da
figura	do	casamento	para	nossa	união	com	Cristo
CAPÍTULO	13
Cristo	assumiu	a	verdadeira	substância	do	corpo	humano
Referindo-se	a	heresias	antigas,	Calvino	responde	Menno	Simons	[1-2]
1.	Prova	da	verdadeira	humanidade	de	Cristo
a.	já	provamos	a	divindade	de	Cristo	(1.13);	nossa	tarefa	presente	é	mostrar
como	ele,	encarnado,	foi	nosso	mediador
b.	marcionitas	e	maniqueus	impugnaram,	há	muito	tempo,	a	autenticidade	da
encarnação	de	Cristo
c.	as	Escrituras,	por	sua	vez,	afirmam	repetidamente	a	realidade	da	encarnação
de	Jesus
2.	Contra	os	adversários	da	verdadeira	humanidade	de	Cristo
a.	análise	detalhada	da	distorção	de	passagens	escriturísticas	para	confirmar
erros	de:
(1)	Marcião
(2)	Mani
b.	interpretação	errônea	de	“Filho	do	Homem”
(1)	eles	dizem	que	Cristo	é	assim	chamado	porque	ele	foi	prometido	aos	homens
(2)	na	verdade,	“Filho	do	Homem”	é	uma	expressão	hebraica	que	significa
“verdadeiro	homem”;	textos	escriturísticos	confirmam	a	plena	humanidade	de
Cristo
c.	interpretação	equivocada	de	“primogênito”
(1)	eles	dizem	que	Cristo,	para	ser	primogênito,	deveria	ter	nascido	de	Adão,	no
princípio
(2)	contudo,	aqui,	“primogênito”	faz	referência	não	à	idade,	mas	ao	grau	de
honra	e	eminência	de	poder	de	Cristo
d.	interpretação	errada	da	afirmação	de	que	Cristo	recebeu	uma	natureza
humana,	e	não	angélica
(1)	eles	dizem	que	isso	significa	que	ele	acolheu	a	humanidade	na	graça
(2)	na	verdade,	Paulo	está	enaltecendo,	nessa	passagem,	a	honra	que	Cristo	se
dignou	a	nos	dar,	ao	nos	comparar	com	os	anjos
e.	toda	a	controvérsia	se	resolve	com	Gênesis	3.15,	que	diz	que	a	descendência
da	mulher	esmagaria	a	cabeça	da	serpente
(1)	isso	se	refere	a	toda	a	humanidade
(2)	devemos	alcançar	a	vitória	por	meio	de	Cristo
(3)	Cristo	veio	ao	mundo	como	homem	porque	Deus	disse	a	Eva	para	encher-se
de	esperança	e	não	sucumbir	ao	desespero
(2)	a	ordem	política,	porém,	dá	uma	posição	preferencial	ao	sexo	masculino
(3)	todas	as	genealogias	na	Escritura	mencionam	somente	homens,	mas	isso	não
significa	que	as	mulheres	não	sejam	importantes!
(4)	testemunho	da	lei,	graus	de	casamento	proibidos	etc.	provam	que	as	mulheres
contribuem	igualmente	para	a	descendência
d.	quando	Mateus	diz	que	Cristo	foi	gerado	de	Maria,	ele	não	quer	dizer	que	a
virgem	foi	um	mero	canal	por	meio	do	qual	Cristo	fluiu
4.	Cristo	foi	um	verdadeiro	homem	—	mas	sem	pecado!	Um	verdadeiro	homem
—	mas	também	Deus	eterno!
a.	eles	consideram	vergonhoso	que	Cristo	derive	sua	origem	dos	homens;	dessa
forma,	ele	não	seria	isento	do	pecado
b.	Cristo,	porém,	teve	o	mesmo	tipo	de	nascimento	que	nós,	mas,	como	diz
Paulo,	foi	resguardado	do	pecado
c.	contra	seus	equívocos,	a	liberdade	de	Cristo	em	relação	ao	pecado	não	deve
ser	explicada	por	qualquer	processo	mecânico,	mas	pela	santificação	do	Espírito
que	fez	de	sua	geração	tão	pura	e	imaculada	quanto	aquela	antes	da	Queda	de
Adão
d.	“poderia	a	Palavra	ser	confinada	aos	estreitos	limites	de	um	corpo	terreno?”,
eles	perguntam;	nossa	resposta	[o	“extra-calvinisticum”] :	“o	Filho	do	Homem
desceu	do	céu	de	tal	forma	que,	sem	que	deixasse	o	céu,	ele	desejou	ser
carregado	no	ventre	da	virgem,	percorrer	a	terra	e	ser	pendurado	na	cruz;	não
obstante,	ele	preenchia	o	mundo	continuamente,	assim	como	o	fizera	desde	o
princípio!”
CAPÍTULO	14
Como	as	duas	naturezas	do	mediador	perfazem	uma	só	pessoa
Explicação	das	naturezas	divina	e	humana	em	Cristo	[1-2]
1.	Dualidade	e	unidade
a.	“a	Palavra	se	fez	carne”	=	o	Filho	de	Deus	se	fez	Filho	do	Homem,	não	por
confusão	de	substâncias,	mas	por	unidade	de	pessoa
b.	a	melhor	analogia	humana	para	essa	união	misteriosa	é	a	do	corpo	e	da	alma:
algumas	características	do	corpo	e	da	alma	são	distintas	entre	si;	algumas	são
comuns;	outras	são	passíveis	de	serem	transferidas:	mas	duas	naturezas
subjacentes	diferenciadas	perfazem	uma	só	pessoa
c.	assim	também	é	com	Cristo;	a	permutação	de	características	na	pessoa	única
do	Mediador	é	chamada	communicatio	idiomatum	[comunicação	das
propriedades]
2.	Divindade	e	humanidade	em	sua	relação	mútua	[classificação	dos	textos
escriturísticos]
a.	da	sua	divindade
b.	da	sua	humanidade
c.	da	comunicação	das	propriedades
3.	A	unidade	da	pessoa	do	Mediador:	textos	abrangendo	ambas	as	naturezas	de
uma	vez
a.	no	Evangelho	de	João
b.	em	Paulo
c.	as	duas	naturezas	unidas	na	pessoa	do	Mediador
(1)	confundidas	por	alguns	dos	primeiros	autores
(2)	o	ofício	do	Mediador	(que	se	estende	até	o	Juízo	Final)	abrange,	de	uma	vez,
ambas	as	naturezas
d.	o	mesmo	argumento	deve	ser	feito	acerca	do	título	“Senhor”
Condenação	dos	erros	de	Nestório,	Êutiques	e	Serveto	[4-8]
4.	As	duas	naturezas	não	podem	ser	pensadas	como	fundidas	ou	separadas
a.	um	exame	piedoso	dos	mistérios	do	ofício	do	Mediador	evitaria	a	ruptura	da
união	no	sentido	da	extremidade	do	homem	ou	de	Deus
b.	nós	defendemos,	portanto,	que	Cristo,	enquanto	Deus	e	homem,	é	detentor	de
duas	naturezas	unidas,	mas	não	mescladas:	é	nosso	Senhor	e	o	verdadeiro	Filho
de	Deus,	até	mesmo	no	tocante	à	sua	humanidade,	mas	não	em	razão	dela
c.	que	nós	evitemos,	portanto,	os	erros	geminados	de
(1)	Nestório	e	seu	Cristo	duplo	(as	naturezas	apartadas)
(2)	Êutiques,	ao	tentar	mostrar	a	unidade	da	pessoa,	destrói	uma	ou	outra
natureza	(as	pessoas	amalgamadas)
5.	O	erro	cristológico	de	Miguel	Serveto
a.	Síntese	da	visão	errônea	de	Serveto:
(1)	pressupõe	que	o	Filho	de	Deus	é	uma	invenção	composta	a	partir	da	essência,
ele	espírito	e	corpo	de	Deus,	e	três	elementos	não	criados
(2)	ele	nega	o	Deus-homem,	defendendo	que	antes	de	Cristo	vir	em	carne,	havia
apenas	imagens	prefigurativas	em	Deus,	as	quais	foram	esclarecidas	somente
quando	a	Palavra	verdadeiramente	começou	a	se	tornar	o	Filho	de	Deus
b.	em	resposta,	afirmamos	a	visão	tradicional	da	igreja:	que	o	Logos
preexistente,	o	Filho	eterno	de	Deus,	assumiu	a	natureza	humana	em	uma	união
hipostática;	refutações	e	provas	adicionais
6.	Cristo	enquanto	Filho	de	Deus	e	Filho	do	homem
a.	Serveto	alega	que	a	Cristo	só	poderia	ser	conferido	o	título	de	“Filho	de	Deus”
porque	ele	encarnou
b.	a	Escritura,	porém,	prova	que	Cristo	é	Filho	segundo	ambas	as	naturezas
(1)	Cristo	é,	por	natureza,	Filho	de	Deus;	nós	somos	filhos	por	adoção	e	graça
somente
(2)	enquanto	Cristo	é	preeminentemente	o	Filho	de	Deus	em	sua	natureza	divina,
a	filiação	pode	ser	estendida	a	toda	a	pessoa	do	Mediador
c.	a	Escritura	claramente	ensina	as	duas	naturezas	de	Cristo,	estabelecendo	uma
cuidadosa	diferenciação	entre	elas
(1)	Filho	do	homem:	da	descendência	de	Adão
(2)	Filho	de	Deus:	em	virtude	de	sua	deidade	e	essência	eterna
7.	A	frágil	contraprova	de	Serveto
a.	Serveto	cita	Romanos	8.32	e	Lucas	1.32	para	defender	a	alegação	de	que
Cristo	era	Filho	de	Deus	somente	em	virtude	de	sua	encarnação
b.	ele	também	afirma	que	antes	de	se	manifestar	em	carne,	Cristo	nunca	havia
sido	chamado	de	“Filho	de	Deus”,	exceto	figurativamente
c.	essas	visões	são	refutadas	pela	Escritura	e	por	Agostinho,	e	também	se	invoca
o	apoio	de	Irineu	e	Tertuliano	para	a	ortodoxia	(contra	Serveto)
8.	Apresentação	e	refutação	completa	da	doutrina	de	Serveto
a.	a	reivindicação	de	Serveto	de	que	Cristo	era	o	Filho	de	Deus	apenas	segundo	o
corpo	cheira	à	antiga	visão	dos	maniqueus	de	que	o	homem	tem	sua	alma	por
derivação	de	Deus
b.	resumo	da	visão	de	Serveto	(com	base	na	falsa	interpretação	de	“a	Palavra	se
fez	carne”)
(1)	o	Filho	de	Deus	era,	desde	o	princípio,	uma	ideia,	e	mesmo	então	foi
preordenadoa	ser	o	homem	que	se	tornaria	a	imagem	essencial	de	Deus
(2)	a	Palavra	de	Deus	não	vai	além	do	esplendor	exterior
(3)	a	geração	de	Cristo:	a	vontade	de	gerar	o	Filho	foi	gerada	em	Deus	desde	o
princípio	e	estendeu-se,	por	ato,	à	própria	Criação
(4)	Palavra	e	Espírito	se	confundem,	pois	Deus	distribuiu	em	corpo	e	alma	a
Palavra	invisível	e	o	Espírito
(5)	a	Palavra,	no	entanto,	tinha	uma	função	seminal,	porque	o	Filho	prefigurativo
foi	gerado	pela	Palavra
(6)	para	ter	Cristo	gerado	da	essência	de	Deus,	Serveto	compõe	Cristo	a	partir	de
três	elementos	não	criados
(7)	o	corpo	de	Cristo	era	da	mesma	substância	que	Deus;	a	Palavra	foi	tornada
homem	pela	conversão	da	carne	em	Deus
(8)	Cristo	não	pode	ser	o	Filho	de	Deus	a	menos	que	seu	corpo	derive	da
essência	de	Deus;	como	consequência,	Serveto	reduz	a	hipóstase	eterna	da
Palavra	a	nada,	arrancando	de	nós	o	Filho	de	Davi,	prometido	como	nosso
Redentor
c.	já	foi	dito	o	bastante,	aqui,	sobre	as	visões	de	Serveto;	elas	estão	mais
amplamente	refutadas	em	outro	lugar;	concluímos:	se	o	corpo	fosse	divindade
em	si,	cessaria	de	ser	o	templo	de	Deus
CAPÍTULO	15
Para	conhecer	o	propósito	pelo	qual	Cristo	foi	enviado	pelo	Pai	e	o	que	ele	nos	concedeu,	precisamos
contemplar	nele,	sobretudo,	três	coisas:	o	ofício	profético,	real	e	sacerdotal
A	obra	salvadora	tripartite	de	Cristo:	Primeiro,	o	ofício	profético	[1-2]
1.	A	necessidade	de	entender	essa	doutrina:	passagens	escriturísticas	referentes
ao	ofício	profético	de	Cristo
a.	os	papistas	falam	do	Filho	de	Deus	referindo-se	a	ele	pelos	nomes
tradicionais,	mas	os	utilizam	de	forma	ineficiente	e	vazia
b.	nossa	tarefa,	portanto,	é	entender	o	propósito	e	uso	dos	títulos	de	Cristo
c.	Deus	concedeu	uma	cadeia	contínua	de	profetas	para	ensinar	a	salvação	—
mas	todos	eles	vislumbraram	um	entendimento	pleno	somente	com	a	vinda	de
Cristo
2.	O	significado	do	ofício	profético	para	nós
a.	o	nome	Cristo	pressupõe	três	ofícios,	todos	performados	pela	unção	com	óleo:
profeta,	sacerdote	e	rei
b.	o	messianismo	está	ligado	especialmente	ao	ofício	real,	mas	não	pode	ser
negligenciado	nos	outros	dois
c.	Cristo,	como	afirma	a	Escritura,	foi	ungido	como	profeta,	mas	não	apenas	para
si	enquanto	mestre;	sua	unção	enquanto	profeta	também	se	aplica	a	todo	seu
corpo,	a	igreja,	na	qual	a	pregação	do	evangelho	deve	continuar
O	ofício	real	—	sua	natureza	espiritual
3.	A	eternidade	do	domínio	de	Cristo
a.	reinado	espiritual
b.	portanto,	eficaz	e	proveitoso	para	nós;	e	eterno	de	duas	formas
(1)	na	igreja,	que	resistirá	a	todas	as	tempestades,	preservada	pela	eternidade
(2)	no	crente	em	particular,	estimulado	à	esperança	na	bênção	da	imortalidade
4.	A	bênção	do	ofício	real	de	Cristo	para	nós
a.	a	felicidade	prometida	a	nós	não	reside	na	prosperidade	terrena,	mas	em	uma
vida	celeste	após	a	morte
b.	Cristo	nos	enriquece	com	aquilo	que	precisamos	para	combater	nossos
inimigos	espirituais	com	coragem	e	êxito
c.	apesar	de	todas	as	nossas	tribulações	terrenas,	Cristo,	nosso	rei,	não	nos
deixará	desamparados:	hino	de	segurança	do	crente
5.	A	natureza	espiritual	do	oficio	real:	a	soberania	de	Cristo	e	do	Pai
a.	o	“óleo”	não	é	físico,	mas	o	“óleo	espiritual	da	alegria”	do	salmo	(Sl	45.7),
recebido	não	para	si	mesmo,	mas	para	nosso	proveito
b.	essa	unção	sagrada	é	visivelmente	simbolizada	no	batismo	de	Cristo
c.	a	menção	de	Paulo,	de	Cristo	entregando	seu	reinado	ao	Pai,	significa
simplesmente	que	a	perfeita	administração	do	reino	não	será	como	é	agora
d.	“ao	lado	direito	do	Pai”	=	o	representante	do	Pai,	como	Paulo	explica	ao
chamar	Cristo	de	cabeça	da	igreja
e.	Cristo	é	tanto	rei	quanto	pastor	dos	santos,	além	de	executor	do	juízo	sobre	os
ímpios
O	ofício	sacerdotal:	reconciliação	e	intercessão	[6]
6.	O	propósito	e	consecução	do	ofício	sacerdotal	de	Cristo
a.	por	sua	santidade,	Cristo,	nosso	Mediador,	nos	reconcilia	a	Deus
b.	contudo,	por	justa	maldição,	Deus	nos	é	interditado;	daí	que	uma	expiação	é
necessária	para	que	nos	acheguemos	a	ele
c.	como	mostra	a	Epístola	aos	Hebreus,	somente	a	morte	do	próprio	sacerdote
pode	nos	trazer	o	benefício	de	seu	sacerdócio
d.	por	essa	razão,	Cristo	é	um	intercessor	eterno,	e	daí	nossa	confiança	na
oração,	nossa	paz	de	consciência	e	nossa	confiança	na	misericórdia	de	Deus
e.	Cristo	é	nosso	sacerdote	não	apenas	para	termos	o	favor	do	Pai,	mas	também
para	que	nos	receba	como	companheiros	em	seu	ofício	sacerdotal
f.	o	sacrifício	do	nosso	sumo	sacerdote	é	definitivo	—	nada	de	sacrifícios	diários
papistas!
CAPÍTULO	16
Como	Cristo	cumpriu	a	função	de	Redentor	para	nos	comprar	a	salvação.	Aqui,	discute-se	também
sua	morte	e	ressurreição,	bem	como	sua	ascensão	ao	céu
Alienados	de	Deus	pelo	pecado,	que	nos	amou	mesmo	assim,	somos	reconciliados	por	Cristo	[1-4]
1.	O	Redentor
a.	nosso	ensino	sobre	Cristo,	até	aqui,	teve	um	único	objetivo
(1)	o	Redentor	nos	foi	enviado	divinamente
(2)	no	instante	em	que	voltamos	nossa	contemplação	para	outra	coisa,	nossa
salvação	(firmada	nele)	desaparece
b.	ninguém	pode	mergulhar	em	si	mesmo	e	considerar	seriamente	quem	é	sem
sentir	a	ira	e	hostilidade	de	Deus	para	consigo:	daí	que	o	pecador	não	deve
buscar	uma	certeza	modesta
2.	A	consciência	da	ira	de	Deus	nos	torna	gratos	por	seu	ato	amoroso	em	Cristo
a.	os	textos	de	Paulo	sobre	a	inimizade	de	Deus	para	conosco	até	a	morte
reconciliadora	de	Cristo	pretendem	adequar	ao	nosso	entendimento	a	nossa	ruína
sem	Cristo
b.	se	a	Escritura	tivesse	simplesmente	afirmado	que	Deus,	por	sua	livre
benevolência,	não	permitiu	que	nós	dele	nos	alienássemos,	só	isso	já	nos	levaria
a	experimentar	um	pouco	da	misericórdia	de	Deus
c.	mas	o	ensino	mais	dramático	das	Escritura	acerca	da	condição	temerosa	do
homem	até	a	intercessão	de	Cristo	retrata	de	forma	bem	mais	eficaz	a	graça	de
Deus
d.	a	Escritura	ensina,	assim,	que	antes	de	abraçarmos	o	amor	de	Deus,	devemos
ter	nossas	consciências	marteladas	pela	ira	de	Deus	através	do	ensino	de	sua
hostilidade	para	conosco	à	parte	de	Cristo
3.	A	ira	de	Deus	contra	a	injustiça;	seu	amor	precede	nossa	reconciliação	em
Cristo
a.	entretanto,	essa	forma	de	ensino	não	é	uma	mera	acomodação	à	nossa	frágil
capacidade:	Deus	não	pode	tolerar	nossa	injustiça
b.	apesar	de	pecadores,	permanecemos	criaturas	de	Deus	criadas	para	a	vida	—
embora	tenhamos	trazido	morte	sobre	nós	mesmos	—,	e	ele	nos	ama
c.	por	seu	amor,	Deus	se	adianta	e	antecipa	nossa	reconciliação	em	Cristo
d.	nossa	segurança	da	benevolência	de	Deus	reside	somente	em	Cristo
4.	A	obra	da	expiação	deriva	do	amor	de	Deus;	portanto,	aquela	não	foi
estabelecida	por	este
a.	é	evidente	a	convergência	de	passagens	da	Escritura	sobre	o	amor	de	Deus	por
nós	e	sobre	sua	inimizade	para	conosco	à	parte	de	Cristo
b.	mas,	se	para	além	da	Escritura,	exigir-se	o	testemunho	da	igreja	antiga,	que	se
ouça	Agostinho:
(1)	o	amor	de	Deus	é	inefável	e	imutável
(2)	o	amor	reconciliador	de	Deus	por	nós	precede	seu	ato	reconciliador	em
Cristo
(3)	Deus	odeia	o	que	fizemos	com	sua	obra,	mas	ama	a	sua	obra	em	nós
Os	efeitos	da	obediência	e	morte	de	Cristo	[5-7]
5.	Cristo	nos	redimiu	por	meio	de	sua	obediência,	que	ele	observou	ao	longo	de
sua	vida
a.	alcançou	a	reconciliação	para	nós	por	meio	de	sua	obediência	contínua,	como
mostrou	Paulo
b.	isso,	contudo,	é	visto	especialmente	na	morte	de	Cristo;	o	Credo	Apostólico	o
revela	ao	passar	diretamente	do	nascimento	de	Cristo	para	sua	morte	e
ressurreição
c.	ademais,	outros	textos	escriturísticos	remetem	igualmente	à	obediência	prévia
de	Cristo
A	condenação	por	meio	de	Pilates
d.	o	modo	peculiar	da	morte	de	Cristo,	fundamentada	em	um	julgamento	e	uma
sentença	judicial,	era	necessário	para	que	a	condenação	destinada	a	nós	fosse
transferida	a	ele	—	não	serviria	qualquer	morte
e.	todas	as	circunstâncias	de	sua	morte	exemplificam	a	condenação	de	um
homem	sem	pecado	por	nossas	transgressões
f.	assim	nossa	culpa	foi	transferida	para	Cristo:	um	fato	que	devemos	nos
lembrar	ao	longo	da	vida	para	nos	livrar	do	medo	e	da	ansiedade
6.	“Crucificado”
a.	o	modo	da	morte	de	Cristo	tambémabarca	um	mistério	singular
(1)	contemplado	na	cruz,	o	tipo	mais	execrável	de	morte
(2)	preconizado	também	no	aschamot,	ou	sacrifícios	para	purificação	de	pecado,
do	qual	Cristo	era	o	arquétipo
b.	Paulo	explicita	isso	em	muitas	passagens:
(1)	evidenciando	as	profecias	de	Isaías	sobre	o	servo	sofredor
(2)	enfatizando	a	necessidade	de	sacrifício	de	sangue,	tanto	para	satisfazer	a
Deus	quanto	para	nos	purificar
7.	“Morto	e	enterrado”
a.	primícia	da	morte	de	Cristo	por	nós:	libertação	da	morte	a	que	fomos	cativos
b.	segundo	fruto	da	morte	de	Cristo	por	nós:	mortificação	da	nossa	carne
Explicação	da	doutrina	da	descida	ao	inferno	[8-12]
8.	“Desceu	ao	inferno”
a.	embora	esse	artigo	do	credo	provavelmente	tenha	sido	acrescentado	mais
tarde,	ele	menciona,	não	obstante,	uma	crença	amplamente	aceita	na	igreja
primitiva:	a	descida	de	Cristo	ao	inferno
b.	o	credo	em	si,	ainda	que	não	seja	de	autoria	apostólica,	é	uma	síntese
confiável	da	nossa	fé	extraída	da	Escritura
c.	a	visão	de	alguns	de	que	“desceu	ao	inferno”	é	sinônimo	de	sepultamento	é
rejeitada	com	fundamentos	lógicos
9.	Cristo	no	submundo?
a.	outra	visão:	a	descida	de	Cristo	ao	inferno	serviu	para	libertar	as	almas	dos
patriarcas	que	morreram	debaixo	da	lei
b.	essa	é	a	fonte	do	“limbo”,	uma	prisão	subterrânea	das	almas	dos	mortos
c.	a	passagem	de	1Pedro	3.18-20,	interpretada	por	alguns;	sua	interpretação	aqui
corrigida
10.	A	“descida	ao	inferno”	enquanto	uma	expressão	da	tormenta	espiritual	que
Cristo	atravessou	por	nós
a.	uma	morte	meramente	corpórea	da	parte	de	Cristo	teria	sido	ineficaz	para	nós
b.	ele,	portanto,	atravessou	toda	a	severidade	da	vingança	de	Deus	para	aplacar	a
ira	de	Deus	para	conosco
c.	alguns	rejeitam	minha	interpretação	alegando	que	ela	coloca	após	o
sepultamento	dele	aquilo	que	o	precede
11.	Defesa	dessa	explicação	a	partir	de	passagens	escriturísticas
a.	Jesus	Cristo	tinha	de	passar	pelo	completo	senso	de	afastamento	do	Deus	Pai,
pelo	temor	vívido	da	morte,	para	que	portasse	plenamente	nossa	natureza
b.	o	grito	de	abandono	de	Cristo	não	foi	mera	expressão	da	opinião	dos	outros,
mas	proveio	da	profunda	angústia	de	seu	próprio	coração
c.	Cristo	teve	que	lutar	e	dominar	o	medo	que	atormenta	todos	os	mortais	para
possibilitar	que	nós	também	não	sejamos	engolidos	pela	morte
12.	Defesa	da	doutrina	contra	os	erros	e	mal-entendidos
a.	alguns	alegam	que	Jesus	não	poderia	ter	temido	pela	salvação	de	sua	alma
b.	refutação	da	visão	dos	nossos	adversários	em	detalhes
(1)	a	aflição	e	a	tristeza	de	Cristo	(negadas	por	eles)	evidenciam	que	sua	alma,
bem	como	seu	corpo,	participou	dos	castigos	para	que	pudéssemos	ser
totalmente	redimidos
(2)	eles	negam	qualquer	coisa	de	ruim	em	Cristo:	Cristo	voluntariamente
assumiu	nossa	fraqueza,	nossa	natureza	decaída	(mas	sem	pecado)	—	não
prescindindo,	assim,	de	seu	poder
(3)	eles	alegam,	então,	que	Cristo	temeu	a	morte,	mas	não	a	maldição	e	ira	de
Deus,	da	qual	ele	próprio	sabia	estar	a	salvo	—	Cristo	teve	uma	porfia	mais
difícil	e	agressiva	do	que	pela	morte	comum
(4)	visões	errôneas,	como	essas,	mostram	que	pessoas	com	esse	tipo	de
pensamento	não	entenderam	de	fato	o	alto	preço	que	a	nossa	salvação	custou
para	o	Filho	de	Deus
c.	[Calvino	aqui	se	aproxima	de	uma	visão	kenótica]	o	poder	divino	do	espírito
de	Cristo	permaneceu	temporariamente	oculto,	abrindo	caminho	para	a	fraqueza
da	carne;	contudo,	essa	dor	e	esse	medo	não	eram	contrários	à	fé
d.	rejeição	dos	erros	apolinaristas	e	monotelistas	que	fazem	de	Cristo	somente
meio-homem
e.	o	grande	paradoxo	de	João	12.27s
A	ressurreição,	ascensão	e	sessão	celeste	de	Cristo	[13-16]
13.	“Surgiu	dos	mortos	novamente	ao	terceiro	dia”	[três	benefícios	da	morte	de
Cristo	por	nós]
a.	é	somente	na	ressurreição	de	Cristo,	não	em	sua	morte,	que	reside	a	vitória	da
nossa	fé
(1)	na	Escritura,	a	divisão	da	nossa	salvação	entre	a	morte	e	a	ressurreição	de
Cristo	é	como	se	segue
(a)	pela	morte,	o	pecado	e	a	morte	são	aniquilados
(b)	pela	ressurreição,	a	justiça	é	restaurada	e	a	vida	é	trazida
(c)	assim,	por	meio	da	ressurreição,	o	poder	de	sua	morte	nos	é	manifestado
(2)	ao	manusear	as	passagens	escriturísticas	relevantes,	devemos	entender	que	a
“morte”,	por	sinédoque,	inclui	a	“ressurreição”	e	vice-versa
b.	além	disso,	assim	como	a	mortificação	de	nossa	carne	depende	da	nossa
participação	na	cruz	de	Cristo,	assim	também	somos	beneficiados	por	sua
ressurreição
c.	sua	ressurreição	garante	a	nossa
d.	conclusão:	Cristo	sofreu	a	mesma	morte	de	que	outros	homens	naturalmente
padecem;	e	recebeu	a	imortalidade	no	mesmo	corpo	que,	no	estado	mortal,	ele
assumiu	para	si
14.	“Ascendeu	ao	céu”
a.	a	ascensão	de	Cristo	ao	céu	nos	deve	ser	real	de	uma	forma	mais	proveitosa	do
que	sua	presença	corpórea
b.	assim	como	seu	corpo	foi	assunto	acima	de	todo	céu,	também	seu	poder	e
potência	foram	difusos	e	espalhados	para	além	de	todas	as	fronteiras	do	céu	e	da
terra
c.	Agostinho	harmoniza	as	palavras	“vós	não	me	tereis	sempre	convosco”	e	“eis
que	estarei	sempre	convosco”:	nós	sempre	temos	Cristo	de	acordo	com	a
presença	da	sua	majestade,	mas	sua	presença	física	junto	a	sua	igreja	foi	somente
por	poucos	dias
15.	“Sentado	à	direita	do	Pai”
a.	o	“sentar”	é	tomado	da	comparação	com	um	assessor	na	corte	de	um	rei
b.	a	sessão	divina	de	Cristo	significa	que	ele	se	apossou	do	governo	conferido	a
ele	até	o	dia	do	juízo
c.	sua	sessão	celeste	significa,	portanto,	mais	do	que	a	designação	de	sua
beatitude
16.	Benefícios	transmitidos	à	nossa	fé	pela	ascensão	de	Cristo
a.	a	ascensão	do	Senhor	ao	céu	abriu	o	caminho	para	o	reino	celestial
anteriormente	fechado	por	Adão
b.	Cristo	no	céu	é	nosso	constante	advogado	e	intercessor	junto	ao	Pai
c.	nossa	fé	abrange	o	poder	de	Cristo,	no	qual	reside	nossa	força	contra	os
poderes	do	inferno
A	volta	futura	de	Cristo	em	juízo	[17]
a.	porque	o	reino	de	Cristo	jaz	oculto	na	terra	sob	a	baixeza	da	carne	(apesar	da
clara	indicação	de	seu	presente	poder	para	aqueles	que	creem),	a	fé	é	chamada	a
considerar	a	presença	corpórea	e	visível	de	Cristo,	que	ele	manifestará	no	dia	do
juízo
b.	ninguém	—	vivo	ou	morto	—	pode	escapar	de	seu	juízo
c.	enquanto	alguns	autores	apresentam	diferentes	explicações	para	as	palavras
“os	vivos	e	os	mortos”,	é	evidente	que	esta	é	a	interpretação	correta	com	a	qual	a
Escritura	e	o	credo	consentem
Apontamentos	finais	sobre	o	Credo	Apostólico	e	a	suficiência	de	Cristo	[18-19]
18.	O	juiz	é	—	o	Redentor!
a.	temos	grande	confiança	em	nossa	convicção	de	que	Cristo,	como	intercessor,
não	condenará	aqueles	a	quem	recebeu	sob	sua	guarda	e	proteção
b.	seguimos	a	ordem	do	Credo	Apostólico	porque	ela	resume,	convenientemente,
os	principais	elementos	de	nossa	redenção,	muito	embora	não	tenhamos	ilusão
de	sua	autoria	apostólica;	ele	foi	obviamente	aceito	pela	igreja	primitiva,	com	o
consentimento	de	todos,	como	uma	profissão	pública
19.	Somente	Cristo	em	todas	as	cláusulas	do	credo
a.	toda	a	nossa	salvação	reside	em	Cristo;	nenhuma	de	suas	partes	provém	de
outro	lugar:
(1)	nossa	força	—	em	seu	domínio
(2)	nossa	pureza	—	em	sua	concepção
(3)	nossa	brandura	—	em	seu	nascimento
(4)	nossa	redenção	—	em	sua	paixão
(5)	nossa	absolvição	—	em	sua	condenação
(6)	nossa	remissão	da	maldição	—	em	sua	cruz
(7)	nossa	satisfação	—	em	seu	sacrifício
(8)	nossa	purificação	—	em	seu	sangue
(9)	nossa	reconciliação	—	em	sua	descida	ao	inferno
(10)	nossa	mortificação	da	carne	—	em	sua	tumba
(11)	nossa	novidade	de	vida	—	em	sua	ressurreição
(12)	nossa	imortalidade	—	igualmente
(13)	nossa	herança	do	reino	celeste	—	em	seu	ingresso	no	céu
(14)	nossa	proteção,	segurança	e	suprimento	abundante	de	todas	as	bênçãos	—
em	seu	reino
(15)	nossa	expectativa	serena	do	juízo	—	no	poder	dado	a	ele	para	julgar
b.	contudo,	se	nós	verdadeiramente	conhecemos	as	bênçãos	de	Cristo,	não
vamos	como	alguns	homens,	correr	aqui	e	ali	atrás	de	outras	fontes	de	salvação
CAPÍTULO	17
Diz-se,	correta	e	adequadamente,	que	Cristo	mereceu	a	graça	e	salvação	de	Deus	por	nós
1.	O	mérito	de	Cristo	não	exclui	a	livregraça	de	Deus,	mas	a	antecede
a.	alguns	homens	aceitam	a	visão	de	que	nós	recebemos	a	salvação	por	meio	de
Cristo,	mas	ao	negar	a	ideia	de	“mérito”,	eles	fazem	de	Cristo	um	simples
instrumento,	e	não	o	autor	e	príncipe	da	vida
b.	citando	Agostinho,	refutamos	isso	e	afirmamos	a	seguinte	ordenação
(1)	o	bom	favor	de	Deus	aponta	Cristo	como	mediador	para	alcançar	a	salvação
para	nós
(2)	portanto,	estamos	livremente	justificados	pela	misericórdia	de	Deus	somente,
mas,	ao	mesmo	tempo,	o	mérito	de	Cristo	(subordinado	à	misericórdia	de	Deus)
intercede	por	nós
2.	A	Escritura	conjuga	a	graça	de	Deus	e	o	mérito	de	Cristo
a.	a	Escritura	ensina	o	amor	de	Deus	como	a	causa	maior;	a	fé	em	Cristo	como
causa	segunda	ou	imediata
b.	de	alguma	forma	inefável,	Deus	nos	amou	e,	não	obstante,	esteve	irado
conosco	ao	mesmo	tempo,	até	que	se	reconciliou	conosco	em	Cristo
c.	nós,	filhos	da	ira	afastados	de	Deus	pelo	pecado,	adquirimos,	pelo	sacrifício
de	Cristo,	livre	justificação	para	aplacar	a	Deus
3.	O	mérito	de	Cristo	no	testemunho	da	Escritura
a.	como	muitas	passagens	atestam,	Cristo	mereceu	e	adquiriu	graça	para	nós
junto	ao	Pai
b.	significado	de	passagens-chave	em	Romanos	5
(1)	Romanos	5.10-11:	Deus,	para	quem	somos	detestáveis	por	causa	do	pecado,
foi	aplacado	pela	morte	de	seu	Filho	para	se	tornar	favorável	a	nós
(2)	Romanos	5.19:	antítese	—	da	mesma	forma	que,	pelo	pecado	de	Adão,
fomos	separados	de	Deus	e	destinados	à	destruição,	assim	também	pela
obediência	de	Cristo	somos	recebidos	em	seu	favor	como	justos
4.	A	substituição	de	Cristo
a.	“a	graça	nos	foi	transmitida	pelo	mérito	de	Cristo”,	significa:,	por	seu	sangue,
nós	fomos	lavados,	e	sua	morte	foi	uma	expiação	para	os	nossos	pecados
b.	Cristo	é	contrastado	com	todos	os	sacrifícios	da	lei	que	o	prefiguram,
especialmente	a	partir	da	Epístola	aos	Hebreus
c.	devemos	aceitar	o	poder	expiatório	do	sacrifício	de	Cristo:	ele	se	fez	maldição
para	que	nossos	pecados	fossem	perdoados
5.	A	morte	de	Cristo:	o	preço	da	nossa	redenção
a.	os	apóstolos	claramente	testemunham	que	a	punição	pelos	nossos	pecados	foi
paga	por	Cristo
b.	a	natureza	e	eficácia	do	sacrifício	de	Cristo	pelos	nossos	pecados	afirmada
claramente	no	Novo	Testamento:	a	promessa	feita	por	Deus	pelas	nossas	obras,
inalcançáveis	pela	natureza	pecaminosa,	é	consumada	pela	morte	de	Cristo	por
nós
6.	Cristo	não	obtém	mérito	para	si	mesmo
a.	a	tola	questão	de	Lombardo	e	dos	escolásticos:	Cristo	mereceu	qualquer	coisa
para	si	mesmo?
b.	segundo	o	plano	de	Deus,	como	a	Escritura	mostra,	Cristo	se	entregou	em
sacrifício	e	esqueceu	de	si	mesmo	em	nosso	favor
c.	o	uso	de	Filipenses	2.9,	pelos	nossos	adversários,	como	prova	dos	méritos	de
Cristo	para	si	mesmo	é	errado:	Paulo	está	afirmando,	aqui,	simplesmente	que	a
humilhação	de	Cristo	é	seguida	por	sua	exaltação
¹	I.	e.,	a	opinião	dos	homens	à	parte	de	Deus.	(N.	do	T.)
²	O	termo	“necessário”,	nesta	seção,	remete	à	natureza	pecaminosa	do	homem
que	o	induz	forçosamente	ao	pecado,	e	não	a	um	pecado	que	é	cometido	por
dever.	(N.	do	T.)
³	Publicado	em	português	por	Paulus	sob	o	título	“A	correção	e	a	graça”,	em
Patrística	—	A	graça	(II).
⁴	Publicado	em	português	por	Paulus	sob	o	título	“O	espírito	e	a	letra”,	em
Patrística	—	A	graça	(I).
⁵	I.	e.,	das	universidades,	onde	se	gestou	a	“escolástica”	como	método	filosófico
e	teológico.	(N.	do	T.)
	O	termo	“extra-calvinisticum”	é	empregado,	geralmente,	no	contexto	dos
debates	cristológicos	entre	luteranos	e	calvinistas.	Calvino	defendia	a	posição	de
que	a	segunda	pessoa	da	Trindade	preservava	uma	existência	para	além	da
humanidade	(“extra”)	mesmo	após	a	encarnação.	O	termo	foi	cunhado	por
luteranos,	durante	o	século	17,	e	guarda	uma	semântica	crítica,	típica	do
contexto	polêmico.	(N.	do	T.)
LIVRO	TRÊS
A	forma	pela	qual	recebemos	a	graça	de	Cristo:	que	benefícios
ELA	NOS	TRAZ	e	quais	os	efeitos	que	decorrem	dela
CAPÍTULO	1
As	coisas	ditas	acerca	de	Cristo	nos	beneficiam	pela	obra	secreta	do	Espírito
1.	O	Espírito	Santo	é	o	vínculo	que	nos	une	a	Cristo
a.	como	nós	recebemos	aqueles	benefícios	que	o	Pai	concedeu	ao	seu	Filho,	não
para	uso	privado	de	Cristo,	mas	para	enriquecer	homens	pobres	e	necessitados?
b.	fora	de	nós,	Cristo	não	estaria	conosco	e,	por	essa	razão,	não	nos
beneficiaríamos	salvificamente	de	sua	obra:	ele,	portanto,	tinha	que	se	fazer	um
de	nós	e	habitar	em	nosso	meio,	e	nós,	por	meio	da	fé,	devemos	nos	edificar	em
um	só	corpo	com	ele
c.	como	nem	todos	desfrutam	dessa	comunhão	com	Cristo,	devemos	ir	além	e
examinar	o	segredo	do	poder	do	Espírito,	pelo	qual	nós	chegamos	a	desfrutar	de
Cristo	e	de	todos	os	seus	benefícios
d.	textos	escriturísticos	que	descrevem	como	nós	vivenciamos	Cristo	em	Espírito
e.	síntese:	o	Espírito	Santo	é	o	vínculo	pelo	qual	Cristo	efetivamente	nos	une	a	si
mesmo	(cf.	unção	II.15.2)
2.	Como	e	por	que	Cristo	foi	dotado	do	Espírito	Santo
a.	“Espírito	de	santificação”:	em	geral,	para	todas	as	criaturas;	mas
especialmente	para	a	raiz	e	semente	da	vida	celestial	em	nós
b.	Espírito	do	Pai/Espírito	do	Filho:	o	Filho	possui	a	plenitude	do	Espírito	para
administrar	aos	homens
3.	Títulos	do	Espírito	Santo	na	Escritura
a.	Espírito	de	adoção	(Rm	8.15;	Gl	4.6)
b.	garantia	e	selo	de	nossa	herança	(2Co	1.22;	cf.	Ef	1.14)
c.	vida	(Rm	8.10)
d.	água	(Is	55.1;	44:3;	João	7.37;	Ez	36.25)
e.	óleo	e	unção	(1Jo	2.20,	27)
f.	fogo	(Lc	3.16)
g.	fonte	(Jo	4.14)
h.	mão	de	Deus	(At	11.21)
4.	Fé:	a	principal	obra	do	Espírito
a.	por	isso,	termos	usados	para	exprimir	seu	poder	e	ação	geralmente	referem-se
à	fé
b.	o	Espírito	é	a	fonte	da	fé,	o	mestre	interior	da	salvação	prometida,	o	avivador
de	Cristo	em	nós
CAPÍTULO	2
Fé:	sua	definição	apresentada	e	suas	propriedades	explicadas
O	objeto	da	fé	é	Cristo	[1]
a.	síntese
(1)	pela	lei,	Deus	dispõe	nosso	dever;	quando	falhamos,	a	sentença	de	morte
eterna	é	proferida	sobre	nós
(2)	está	além	da	nossa	capacidade	cumprir	a	lei	à	risca
(3)	há	somente	um	meio	de	libertação:	Cristo,	o	Redentor
b.	as	atuais	noções	de	fé	escolásticas	são	superficiais	e	inadequadas:	e.g.,
consentimento	simples	à	narrativa	do	evangelho
c.	a	fé	tem	Deus	como	seu	objeto,	mas	por	meio	de	Cristo,	por	meio	de	quem
Deus	determinou	revelar	sua	glória	a	nós
(1)	Cristo	enquanto	Deus:	o	destino	da	nossa	fé
(2)	Cristo	enquanto	homem:	o	caminho	da	nossa	fé
Fé	envolve	conhecimento;	a	verdadeira	doutrina	obscurecida	pela	concepção	escolástica	de	fé	implícita
[2-5]
2.	A	fé	repousa	sobre	o	conhecimento,	não	sobre	ignorância	piedosa
a.	a	“fé	implícita”	destrói	a	verdadeira	fé
b.	acreditar	não	significa
(1)	submeter-se	à	prescrição	da	igreja	com	obediência	cega
(2)	significa,	antes,	conhecer	a	Deus	enquanto	Pai	misericordioso	por	meio	da
reconciliação	consumada	em	Cristo
3.	A	doutrina	romana	da	fé	“implícita”	é	fundamentalmente	falsa
a.	a	ignorância	temperada	de	humildade	e	a	reverência	ingênua	e	imponderada
pela	igreja	não	são	a	verdadeira	fé
b.	a	fé	consiste,	antes,	no	conhecimento	de	Deus	e	de	Cristo:	a	Escritura	ensina
que	o	entendimento	deve	ser	coadunado	à	fé
4.	Até	mesmo	a	fé	correta	é	sempre	cercada	por	erros	e	descrença
a.	há	espaço	para	a	fé	“implícita”	em	nós,	contanto	que	habitemos	na	ignorância
e	no	erro	desta	vida
b.	as	obscuridades	na	Escritura	nos	humilham	em	nossa	ignorância
c.	até	mesmo	os	discípulos	demonstraram	uma	fé	implícita	antes	de	alcançarem
pleno	esclarecimento
5.	A	fé	“implícita”	enquanto	pré-requisito	da	fé
a.	evidências,	no	evangelho,	de	uma	atenção	reverente	da	parte	de	alguns	que	se
abriram	ao	ensino	de	Cristo:	a	chamada	“fé”	era,	na	verdade,	somente	o
princípio	da	fé
b.	essa	disposição	ensinável	é,	contudo,	bem	diferente	da	ignorância	bruta	e
morosa	que	os	papistas	apelidam	de	“fé”
A	relação	da	fé	com	a	Palavra	e	uma	breve	definição	de	fé	[6-7]
6.	A	fé	repousa	sobre	a	Palavra	de	Deus
a.	o	evangelho	nos	conduz	à	fé
b.	o	evangelho,	embora	antecipado	por	Moisés	e	pelos	profetas,	é	mais
plenamente	apresentado	por	Cristo,	o	mestre	das	misericórdias	de	nosso	Pai
c.	fé	e	Palavra	vinculadosinextricavelmente
(1)	escutar	é	crer
(2)	sem	a	Palavra,	a	fé	se	degenera	em	mera	credulidade
(3)	a	Palavra	é	o	espelho	no	qual	nós	contemplamos	a	Deus
(4)	fé	é	obediência	à	Palavra
4.	fé	enquanto	conhecimento
(1)	fé	é	mais	do	que	saber	que	Deus	existe	—	é	conhecer	a	vontade	de	Deus	para
conosco
(2)	a	certeza	somente	pode	repousar	sobre	a	crença	na	verdade	sagrada	e
inviolável	de	sua	Palavra	para	nós
7.	A	fé	surge	da	promessa	de	Deus	da	graça	em	Cristo
a.	a	fé	é	estabelecida,	na	Escritura,	por	palavras	de	misericórdia	e	compaixão,
não	de	vingança
b.	contudo,	o	conhecimento	da	bondade	de	Deus,	para	ser	relevante	para	a	fé,
deve	nos	fazer	confiar	naquela	bondade
c.	definição	de	fé:	“Um	conhecimento	firme	e	certo	da	benevolência	de	Deus
para	conosco,	fundamentado	sobre	a	verdade	da	promessa	de	Cristo	concedida
livremente,	tanto	revelada	à	nossa	mente	quanto	selada	sobre	os	corações	por
meio	do	Espírito	Santo”
Vários	significados	inaceitáveis	do	termo	“fé”[8-13]
8-10.	Fé	“formada”	vs.	“informe”
a.	os	escolásticos	defendem	que	uma	pessoa	destituída	do	temor	de	Deus	ainda
pode	possuir	um	conhecimento	salvífico	—	uma	falsa	concepção	[8]
b.	a	passagem	de	1Coríntios	13.2	não	é	prova	para	sua	distinção	[9]
c.	o	que	se	chama	fé	“informe”	é	somente	uma	ilusão	de	fé	[10]
11-12.	“Fé”	entre	os	réprobos?
a.	os	réprobos	podem,	por	um	tempo,	vivenciar	algo	como	a	segurança	dos
eleitos	[11]
b.	existe	uma	obra	“inferior”	do	Espírito	entre	réprobos,	mas	que	resulta	sempre
em	uma	consciência	confusa	e	nublada	da	graça
c.	no	entanto,	somente	os	eleitos	têm	a	fé	como	uma	posse	permanente
d.	a	fé	verdadeira	e	falsa	contrastadas	a	partir	da	Escritura	[12]
13.	Diferentes	significados	da	palavra	“fé”	na	Escritura
a.	às	vezes,	significa	“sã	doutrina	da	piedade”
b.	às	vezes,	está	confinada	a	um	objeto	particular
c.	às	vezes,	significa	“o	dom	de	realizar	milagres”	(segundo	Paulo)
d.	às	vezes,	significa	“ensino	por	meio	do	qual	somos	firmados	na	fé”
e.	que	tipo	de	fé	diferencia	os	filhos	de	Deus	dos	descrentes?
Investigação	detalhada	do	que	implica	a	definição	de	fé	apresentada	no	parágrafo	7:	o	elemento	do
conhecimento	[14-15]
14.	Fé	enquanto	conhecimento	superior
a.	esse	conhecimento	não	é	a	compreensão	ordinariamente	preocupada	com	o
que	é	abarcado	pela	percepção	sensorial	humana
b.	esse	conhecimento	é	mais	uma	persuasão	da	verdade	divina	do	que	uma
instrução	com	provas	racionais
c.	portanto,	o	conhecimento	da	fé	consiste	na	confiança,	não	na	compreensão
15.	Fé	implica	certeza
a.	“certa	e	firme”	significa	constância	sólida	de	persuasão
b.	exige-se	certeza	plena	e	fixa	da	fidelidade	de	Deus
(1)	para	superar	as	dúvidas	que	revelam	nossas	fraquezas	ocultas
(2)	para	superar	nossa	ansiedade	que	prejudica	o	recebimento	pleno	e	a	fruição
da	misericórdia	de	Deus
c.	por	isso	devemos	ter	uma	fé	tranquila,	ousada	e	confiante	perante	Deus
16.	Certeza	da	fé
a.	as	promessas	de	misericórdia	de	Deus,	se	tivermos	a	verdadeira	fé,	não	serão
verdadeiras	somente	fora,	mas	também	dentro	de	nós
b.	retrato	do	verdadeiro	crente
17.	A	fé	na	luta	contra	a	tentação
a.	a	certeza	da	fé	é	incompatível	com	as	terríveis	tentações	que	assolam	os	fiéis?
b.	negamos	que	tais	aflições	os	excluam	da	segurança	da	misericórdia	de	Deus	e
o	ilustramos	a	partir	das	vicissitudes	de	Davi,	vistas	nos	Salmos	[note-se	a
autoidentificação	de	Calvino	com	Davi]
18.	O	conflito	no	coração	do	crente
a.	a	luta	interna	é	um	reflexo	da	divisão	do	espírito	e	corpo	no	homem
b.	apesar	das	dúvidas	suscitadas	pelo	conflito	moral,	nossa	segurança	não	reside
em	nenhum	entendimento	confuso	e	obscuro	da	vontade	divina	em	nós,	pois	a	fé
nunca	é	retirada	totalmente	de	nós	e,	no	final,	triunfa	sobre	todos	os	perigos
19.	Até	mesmo	uma	fé	fraca	é	uma	fé	real
a.	conforme	a	fé	cresce	no	crente,	ela	é	suficiente,	em	todos	os	momentos,	para
nos	dar	alguma	segurança	das	promessas	de	Deus
b.	sua	ignorância	não	impede	a	mente	de	obter	um	conhecimento	claro	da
vontade	divina	para	si
20.	A	fraqueza	e	a	força	da	fé	[Paulo]
a.	nesta	vida	nós	recebemos,	na	verdade,	somente	uma	pequena	porção	da
sabedoria,	embora	continuemos	aprendendo
b.	no	entanto,	por	menor	que	seja,	e	praticamente	esmagada	pelas	tormentas,	tal
fé	nos	leva,	por	meio	do	evangelho,	para	a	presença	transformadora	de	Deus
21.	A	Palavra	de	Deus	como	o	escudo	da	fé
a.	com	a	Palavra	de	Deus,	a	fé	arma-se	a	si	mesma	contra	todos	os	ataques
b.	para	as	dúvidas	cujas	provações	se	levantam	acerca	da	vingança	de	Deus,	a	fé
afirma,	triunfantemente,	o	perdão	e	a	misericórdia	de	Deus:	essa	é	a	experiência
comum	dos	santos
c.	contanto	que	a	incredulidade	permaneça	fora	do	coração,	enquanto	a	fé
permaneça	firme	interiormente,	o	crente-soldado	não	pode	ser	aniquilado
22.	Temor	correto
a.	fiéis,	contemplando	a	vingança	de	Deus	sobre	os	ímpios,	acalentam	um	temor
verdadeiro	daquele	que	não	enfraquece,	mas	fortalece	sua	consciência
b.	isso	é	exemplificado	na	exortação	de	Paulo	aos	gentios	para	aprenderem	com
a	rejeição	dos	judeus
23.	“Temor	e	tremor”	[Fp	2.12]
a.	significa	o	temor	reverente	que	desespera	o	ser,	mas	o	leva	a	depositar	sua
plena	confiança	no	poder	de	Deus
b.	mas	como	pode	o	temor	e	a	fé	habitar	na	mesma	mente?:	“a	própria	doçura	e
deleite	da	graça	preenche	de	tal	forma	o	homem	que	ele	está,	ao	mesmo	tempo,
abatido	em	temor	e	maravilhado;	ele	depende	da	graça	de	Deus	e	humildemente
se	submete	ao	seu	poder”
24.	A	certeza	indestrutível	da	fé	repousa	sobre	a	união	de	Cristo	conosco
a.	alguns	“semipapistas”	apresentam	a	fé	como	uma	alternância	entre	esperança
e	medo;	entre	a	contemplação	de	Cristo	(cujo	ato	é	a	salvação)	e	a	contemplação
de	nós	mesmos
b.	Cristo,	porém,	habita	dentro	de	nós:	nós	não	o	contemplamos	de	longe,	como
eles	concebem	a	esperança
c.	apesar	da	escuridão	da	tentação,	a	alma	crente	não	abandona	sua	busca
diligente	por	Deus
25.	Bernardo	de	Claraval	acerca	dos	dois	aspectos	da	fé
a.	em	nosso	coração,	não	somos	nada
b.	no	coração	de	Deus,	nós	verdadeiramente	somos
26.	Temor	de	Deus	(enquanto	Senhor)	e	honra	a	Deus	(enquanto	Pai)
a.	o	temor	do	Senhor	deve	ser,	para	nós,	uma	reverência	composta	pela	honra	do
filho	para	com	seu	pai	e	pelo	temor	do	servo	para	com	seu	senhor
b.	mesmo	que	não	houvesse	inferno,	nós	ainda	deveríamos	temer	mais	ofender	a
Deus	do	que	morrer
c.	contudo,	devido	à	lassidão	irrestrita	da	nossa	carne,	devemos	ponderar	o
quanto	o	Senhor	odeia	toda	iniquidade	e	como	nenhum	malfeitor	escapará	de	sua
vingança
27.	Temor	servil	e	infantil	[cf.	I.4.4.]
a.	quando	João	(1Jo	4.18)	diz	que	“o	perfeito	amor	lança	fora	o	temor”,	ele	está
falando	sobre	o	temor	do	crente,	de	um	tipo	livre	e	voluntário
b.	o	temor	do	descrente	é	algo	bem	diferente,	já	que	não	emana	do	desagrado
iminente	de	Deus,	mas	de	sua	ameaça	de	vingança	que	eles	contornariam	com
prazer	se	pudessem	(cf.	Ef	5.6):	um	tipo	de	temor	servil
c.	alguns	homens	interpolam	uma	terceira	variação	intermediária	que,	ao
subjugar	a	mente	dos	homens,	os	conduz	voluntariamente	a	produzir	um	temor
adequado	a	Deus	(cf.	Agostinho,	Pedro	Lombardo,	Tomás	de	Aquino)
28.	A	fé	não	nos	garante	uma	prosperidade	terrena,	mas	o	favor	de	Deus
a.	a	fé	não	nos	promete	uma	vida	longa,	honra	ou	riquezas
b.	antes,	a	fé	nos	dá	a	certeza	de	que	Deus	jamais	falhará
c.	a	paz	interior	que	a	graça	de	Deus	nos	traz,	ansiando	pela	vida	futura,	nos
abençoa	mesmo	em	meio	às	misérias	da	vida	presente
Fundamento	da	fé:	a	livre	promessa,	oferecida	na	Palavra,	da	graça	em	Cristo	[29-32]
29.	A	promessa	de	Deus:	o	sustento	da	fé
a.	a	promessa	livremente	concedida	por	Deus	é	o	fundamento	da	fé;	é	onde	ela	se
inicia,	repousa	e	termina
b.	a	promessa	da	misericórdia	é	a	finalidade	adequada	da	fé,	mas	reconhecendo
que	Deus	é	tanto	o	justiceiro	dos	atos	ímpios	quanto	misericordioso	para	com
pecadores	arrependidos
30.	Por	que	a	fé	depende	exclusivamente	da	promessa	da	graça	[em	resposta	a
Pighio]?
a.	a	fé	não	se	mantém	de	pé	até	que	o	homem	se	apegue	à	promessa	livremente
concedida
b.	a	fé	de	forma	nenhuma	reconciliaDeus	conosco,	a	menos	que	nos	una	a	Cristo
31.	O	significado	da	Palavra	para	a	fé
a.	a	fé	precisa	da	Palavra	tanto	quanto	os	frutos	precisam	da	raiz	viva	de	uma
árvore
b.	a	menos	que	o	poder	de	Deus,	pelo	qual	ele	pode	fazer	todas	as	coisas,
confronte	nossos	olhos,	nossos	ouvidos	mal	receberão	a	Palavra,	ou	não	lhe
atribuirão	seu	verdadeiro	valor
c.	a	memória	dos	benefícios	passados	nos	lembra,	em	nosso	desespero,	do	poder
salvador	de	Deus:	exemplos	escriturísticos
32.	A	promessa	da	fé	consumada	em	Cristo
a.	não	há	promessa	de	Deus	que	não	seja	um	testemunho	de	seu	amor
b.	os	benefícios	de	Deus	afetam	os	réprobos	e	os	eleitos	diferentemente
(1)	os	réprobos,	agraciados	com	os	benefícios	de	Deus,	nunca	se	tornam
conscientes	da	misericórdia	de	Deus	e	só	incorrem	em	juízo	ainda	mais	pesado
sobre	si
(2)	os	eleitos,	apesar	de	atravessar	ingratidão	e	infidelidade,	nunca	abandonam
as	promessas	de	Deus
c.	ninguém	é	amado	por	Deus	independentemente	de	Cristo:	a	explicação	de
exemplos	da	Escritura	aparentemente	contraditórios
A	fé	é	revelada	em	nosso	coração	pelo	Espírito	[33-37]
33.	A	Palavra	se	torna	eficaz	para	nossa	fé	por	meio	do	Espírito	Santo
a.	a	debilidade	de	nossa	mente	requer	a	iluminação	do	Espírito	Santo	antes	que	a
Palavra	possa	realizar	seu	trabalho
b.	a	fé	é	uma	dádiva	dupla	de	Deus,	no	sentido	de	que	o	Espírito:
(1)	ilumina	a	mente
(2)	fortalece	e	ampara	o	coração
c.	como	se	deve	explicar	a	ideia	de	Paulo	do	“Espírito	como	resultado	da	fé”,
aparentemente	uma	inversão
34.	Somente	o	Espírito	Santo	nos	conduz	a	Cristo
a.	o	discernimento	humano,	atordoado	pelas	coisas	do	divino,	é	um	guia
duvidoso	e	deve	ser	suplantado	pelo	Espírito	Santo
b.	descrição	da	iluminação	da	alma	pelo	Espírito	Santo	e	seus	efeitos
c.	a	Palavra	não	pode	entrar	em	nossa	mente	cega	a	menos	que	ela	seja
iluminada	pelo	Espírito	enquanto	um	mestre	interior
35.	Sem	o	Espírito,	o	homem	é	incapaz	de	ter	fé
a.	o	homem,	em	seu	estado	corrupto,	é	inapto	para	crer;	portanto,	é	o	poder	de
Deus,	não	o	homem,	que	principia	a	fé	e	a	distribui	seletivamente	(para	mostrar
mais	plenamente	a	glória	de	sua	dádiva)
b.	Cristo,	quando	nos	ilumina	para	a	fé	pelo	poder	de	seu	Espírito,	ao	mesmo
tempo	nos	enxerta	em	seu	corpo,	para	que	nos	tornemos	partícipes	de	todo	o
bem
36.	A	fé	como	uma	questão	do	coração
a.	a	Palavra	de	Deus	não	é	recebida	pela	fé	se	ela	simplesmente	entra	em	nossa
mente,	mas	somente	se	for	recebida	no	próprio	coração
b.	o	Espírito	age	como	um	selo	para	selar,	em	nosso	coração,	as	promessas
previamente	registradas	em	nossa	mente
37.	A	dúvida	não	pode	sufocar	a	fé:	reafirmação	do	“canto	do	triunfo”	dos	fiéis
sobre	as	tentações	e	dúvidas
Refutação	das	objeções	escolásticas	a	isso
38.	O	erro	escolástico	acerca	da	segurança	da	fé
a.	visão	escolástica:	nossa	confiança	na	fé	é	baseada	em	raciocínios	de	que	Deus
nos	é	favorável,	desde	que	nossa	pureza	de	vida	mereça	o	seu	favor
b.	nossa	visão	não	depende	de	tais	“conjecturas	morais”
c.	a	alternância	de	Deus	entre	o	favor	e	a	aflição	no	seu	trato	com	os	homens
mostra	a	tolice	inata	do	homem
39.	O	cristão	se	alegra	na	habitação	do	Espírito	[refutação	da	acusação	dos
adversários	de	que	é	uma	presunção	precipitada	alegar	um	conhecimento
indubitável	da	vontade	de	Deus]
40.	A	suposta	incerteza	quanto	a	se	iremos	perseverar	até	o	fim
a.	os	adversários	tiram	proveito	da	incerteza	futura	do	crente	acerca	da	salvação
b.	eles,	porém,	limitam	a	certeza	da	fé	a	algum	ponto	no	tempo,	quando	ela
verdadeiramente	vislumbra	uma	imortalidade	futura	na	vida	após	a	morte!
c.	nós	não	somos	arrogantes	para	nos	vangloriar	de	tal	confiança
Relação	da	fé	com	a	esperança	e	o	amor	[41-43]
41.	A	fé	segundo	Hebreus	11.1
a.	explicação	da	“substância	das	coisas	que	se	esperam”	e	“convicção	das	coisas
não	presentes”
b.	fé	e	amor
(1)	a	fé	nos	move	poderosamente	para	amar	a	Deus	ao	mesmo	tempo	que	o
tememos
(2)	erro	do	ensino	dos	escolásticos,	de	que	o	amor	antecede	a	fé	e	a	esperança
42.	Fé	e	esperança	são	inseparáveis
a.	a	esperança	decorre,	logicamente,	de	uma	fé	viva,	e	sem	ela	a	fé	é	vã
b.	esperança:	uma	expectativa	das	coisas	que	a	fé	realmente	acreditou	terem	sido
prometidas	por	Deus
c.	como	a	esperança	sustenta	a	fé	(exemplificado	a	partir	da	Escritura)
43.	Fé	e	esperança	têm	o	mesmo	fundamento:	a	misericórdia	de	Deus
a.	a	Escritura	frequentemente	emprega	fé	e	esperança	de	forma	intercambiável;
algumas	vezes,	elas	estão	conjugadas
b.	a	tolice	da	dupla	fundação	da	esperança,	de	Lombardo:
(1)	graça	de	Deus
(2)	mérito	das	obras
c.	único	propósito	da	fé:	a	misericórdia	de	Deus
d.	diferentemente	da	confiança	de	Lombardo	nas	obras,	nós	contamos	somente
com	a	misericórdia	de	Deus	e	esperançamos	nele,	não	em	nós	mesmos
CAPÍTULO	3
Nossa	regeneração	pela	fé:	arrependimento
Arrependimento,	o	fruto	da	fé:	exame	de	alguns	erros	no	tocante	a	este	ponto
1.	Arrependimento	como	uma	consequência	da	fé
a.	como	a	síntese	do	evangelho	consiste	em	arrependimento	e	perdão	de	pecados,
estaria	incompleta	qualquer	discussão	da	fé	que	deixasse	de	fora	esses	seus
efeitos
b.	o	arrependimento	nasce	da	fé,	apesar	de	todos	os	adversários	em	contrário
2.	O	arrependimento	tem	sua	fundação	no	evangelho,	que	é	abarcado	pela	fé
a.	a	prioridade	da	fé	no	arrependimento	significa	que	o	reconhecimento	da	graça
de	Deus	precede	o	senso	de	pertencimento	a	Deus	(=	fé),	o	qual,	por	sua	vez,
conduz	ao	arrependimento
b.	a	esperança	do	perdão	incita	o	homem	contra	sua	morosidade
c.	a	tolice	de	iniciar,	mecanicamente,	com	o	arrependimento	e	tentar	alcançar	a
fé	por	meio	de	exercícios	penitentes	(cf.	anabatistas,	jesuítas)
3.	Mortificação	e	vivificação,	chamadas	de	duas	partes	do	arrependimento
a.	mortificação:	temor	e	tristeza	de	alma	concebidos	pelo	reconhecimento	do
pecado	e	pela	consciência	do	juízo	divino:	contrição	→	homem	alquebrado
b.	vivificação
(1)	alguns	a	entendem	como	“a	consolação	que	emerge	da	fé”
(2)	clarificação
(a)	não	é	a	felicidade	recebida	pela	mente	depois	que	seu	medo	foi	apaziguado
(b)	é,	antes,	o	desejo	(proveniente	do	novo	nascimento)	de	viver	santa	e
piedosamente
4.	A	penitência	sob	a	lei	e	sob	o	evangelho	[postulada	por	aqueles	que	procuram
agrupar	os	vários	significados	da	palavra	na	Escritura	(exemplos	oferecidos)]
a.	da	lei:	o	pecador	acometido	pela	ira	de	Deus	e	por	seu	próprio	pecado	se
percebe,	inextricavelmente,	naquele	estado	de	perturbação
b.	do	evangelho:	ainda	que	afligido	penosamente,	o	pecador	o	supera	e	apega-se
a	Cristo	como	sua	cura	e	consolo
Definição	de	arrependimento:	explicação	de	seus	elementos,	mortificação	da	carne	e	vivificação	do
espírito	[5-9]
5.	Definição
a.	fé	e	arrependimento	permanentemente	vinculados
b.	discussão	dos	termos	no	hebraico	e	no	grego:
(1)	shuv	=	conversão	ou	volta
(2)	metanoia	=	mudança	de	mente	ou	de	intenção
c.	a	definição:
(1)	“verdadeira	reversão	de	nossa	vida	a	Deus”	(seç.	6)
(2)	uma	reversão	que	nasce	de	um	temor	puro	e	sincero	dele	(seç.	7);	e
(3)	consiste	na	mortificação	da	nossa	carne	e	do	velho	homem,	e	na	vivificação
do	espírito”	(seç.	8)
d.	esse	é	o	sentido	no	qual	os	profetas	e	apóstolos	exortaram	os	homens	ao
arrependimento
6.	Arrependimento	como	reversão	a	Deus	(parte	1	da	definição	no	par.	5)
a.	implica	uma	transformação,	não	apenas	em	obras	exteriores,	mas	na	própria
alma
b.	demonstração	disso	a	partir	de	Ezequiel,	Deuteronômio,	Jeremias,	Tiago	e
Isaías
7.	Temor	a	Deus:	o	início	do	arrependimento	(parte	2	da	definição	no	par.	5)
a.	para	incitar	a	mente	do	pecador	ao	arrependimento,	ela	deve	pensar	no
julgamento	divino:	daí	a	frequente	paridade	entre	julgamento	e	arrependimento
na	Escritura
b.	às	vezes,	castigos	menores	são	infligidos	para	alertar	o	pecador	contra	a
indolência	de	sua	carne	e	sua	obstinação,	para	uma	consciência	do	advento	de
um	castigo	maior:	Deus	precisa	ser	severo,	já	que	tratamentos	brandos	não
funcionam
c.	toda	virtude	humana,	tolhida	da	adoração	devida	a	Deus,	é	pura	abominação
8.	Mortificação	e	vivificação	como	partes	componentes	do	arrependimento(parte	3	da	definição	no	par.	5)
a.	arrependimento	exige,	primeiramente,	a	destruição	de	todo	pecado	da	carne	—
algo	realmente	difícil:	autonegação
b.	só	então	chega	a	segunda	fase	do	arrependimento,	na	qual	o	Espírito	banha
nossas	almas	com	novos	pensamentos	e	sentimentos
9.	Novo	nascimento	em	Cristo!
a.	assim	como	nossa	mortificação	é	participação	na	morte	de	Cristo,	nossa
vivificação	também	é	participação	na	ressurreição	de	Cristo
b.	portanto,	arrependimento	é	regeneração:	a	restauração	da	imagem	de	Deus
desfigurada	em	nós
c.	a	restauração	dessa	imagem	é,	porém,	um	processo	crescente	ao	longo	da	vida
Os	fiéis	vivenciam	santificação,	mas	não	perfeição	impecável	nesta	vida	[10-15]
10.	Os	fiéis	ainda	são	pecadores
a.	a	liberdade	da	escravidão	ao	pecado,	trazida	pela	regeneração,	ainda	não
elimina	o	embate	perpétuo,	mesmo	para	os	santos
b.	em	divergência	com	Agostinho,	nós	não	hesitamos,	com	a	autoridade	de
Paulo,	denominar	como	“pecado”	as	tendências	para	o	pecado	pós-regeneração
11.	Nos	fiéis,	o	pecado	perdeu	seu	domínio,	mas	ainda	habita	neles
a.	o	batismo	elimina	a	culpa,	mas	não	a	substância	do	pecado:	o	vestígio
permanece,	como	mostra	a	Escritura
b.	o	preceito	de	amar	a	Deus	não	é	cumprido	a	menos	que	todo	nosso	amor	seja
redirecionado	de	nós	mesmos	para	Deus:	portanto,	qualquer	transgressão
remanescente	da	lei	ainda	é	pecado
12.	O	que	significa	“corrupção	natural”?
a.	Deus,	o	autor	da	natureza,	condena	apenas	aquelas	inclinações	em	nós	que
violam	sua	vontade	(e	que	são	o	resultado	da	nossa	natureza	decaída)
b.	isso	converge	com	Agostinho,	embora	ele	seja	hesitante	em	chamá-lo
abertamente	de	“pecado”
13.	Agostinho	como	testemunho	da	pecaminosidade	dos	fiéis	[citações	expostas
para	apoiar	a	interpretação	de	Calvino	dos	fracassos	pós-regeneração	enquanto
pecado	(esp.	Against	Julian)]
14.	Contra	a	ilusão	da	perfeição
a.	rejeição	do	antinomianismo	dos	anabatistas:	de	que	após	a	regeneração
espiritual,	o	homem	reingressa	no	estado	de	inocência,	no	qual	todos	os
controles	morais	podem	ser	removidos,	o	Espírito	liderando	o	regenerado
b.	aqui,	de	fato,	uma	visão	equivocada	de	Cristo	e	do	Espírito	Santo:	inevitável
quando	o	buscamos	fora	das	Escrituras
c.	antes,	a	Escritura	é	o	lugar	para	buscar	o	Espírito	do	Senhor,	pois	é	onde
somos	ensinados	a	respeito	dele
(1)	o	Espírito	Santo	nos	é	dado	para	santificação,	para	nos	purificar	e	nos
conduzir	na	obediência	à	justiça	de	Deus
(2)	somos	purificados	pela	santificação	do	Espírito	Santo,	mas	ainda
permanecemos	rodeados	por	vícios	contra	os	quais	devemos	lugar	diariamente
15.	Arrependimento	de	acordo	com	2Coríntios	7.11	(exposição):	contrição	→
a.	diligência	ou	cuidado	(para	escapar	das	armadilhas	do	Diabo	e	se	manter	sob	o
Espírito	Santo)	→
b.	indulto	(purificação,	o	pedir	perdão	em	vez	de	negar	a	ofensa	ou	minimizar	a
falha)	→
c.	indignação	(o	pecador	encontra	culpa	internamente,	em	si	mesmo,
reconhecendo	sua	própria	perversidade	e	ingratidão	para	com	Deus)	→
d.	temor	(o	tremor	na	mente	quando	reconhecemos	o	que	merecemos	e	a	terrível
ira	de	Deus	para	com	pecadores)	—	humildade,	preocupação	avultada	→
e.	anseio	(reconhecimento	do	nosso	próprio	pecado	nos	leva	à	diligência	no
dever	e	à	prontidão	para	obedecer)	→
f.	zelo	(ardor	incitado	quando	esses	aguilhões	são	aplicados	em	nós)	→
g.	justiçamento	(quanto	mais	severidade	manifestamos	aos	nossos	próprios
pecados,	mais	esperança	devemos	ter	na	benevolência	e	misericórdia	de	Deus):
mas	cautelosamente,	para	que	a	tristeza	não	nos	inunde
Os	frutos	do	arrependimento:	santidade	de	vida,	confissão	e	remissão	dos	pecados;	arrependimento	é
perpétuo	[16-20]
16.	Arrependimento	exterior	e	interior
a.	como	os	profetas	demonstram	frequentemente,	o	verdadeiro	arrependimento
não	começa	em	cerimônias	exteriores,	mas	na	disposição	interna	do	coração
b.	as	marcas	do	arrependimento	sincero	serão	apresentados	sistematicamente	em
“A	vida	do	cristão”	(caps.	6-10)
c.	existem	alguns	exercícios	externos	úteis	(“justiçamento”)	que	promovem
arrependimento,	mas
(1)	não	se	deve	contar	muito	com	eles	(como	os	antigos	autores	às	vezes	tendem
a	fazer)
(2)	também	não	nos	imputar	uma	austeridade	maior	do	que	a	brandura	da	igreja
nos	chama	a	ser
17.	A	prática	exterior	da	penitência	não	deve	se	tornar	o	principal
a.	arrependimento	é	a	conversão	de	todo	o	coração	a	Deus,	não	o	jejuar	e
lamentar	que	às	vezes	acompanham	essa	mudança	de	disposição
b.	entretanto,	havia	no	Antigo	Testamento	—	e	há	hoje	ainda	—	tempos	que	nos
convocam	para	uma	manifestação	pública	de	arrependimento:	especialmente	nos
tempos	de	desastres	iminentes	(cf.	IV.12.17)
18.	Confissão	de	pecado	perante	Deus	e	perante	os	homens
a.	o	arrependimento,	contudo,	é	inadequadamente	atribuído	a	essa	profissão
externa
b.	não	apenas	devemos	nos	arrepender	diariamente	das	ofensas,	mas	nossas
ofensas	mais	graves	devem	nos	levar	a	rememorar	pecados	há	muito	enterrados:
exemplo	de	Davi	remontando	ao	seu	próprio	nascimento
c.	arrependimento	ordinário	vs.	especial
(1)	Deus	chama	de	volta,	dramaticamente,	alguns	que	caíram	totalmente	na
morte	espiritual:	arrependimento	especial
(2)	isso	não	deve,	por	oposição,	nos	levar	a	negligenciar	nossos	esforços	diários
de	arrependimento	pela	corrupção	da	nossa	natureza
19-20.	Arrependimento	e	perdão	de	pecados
a.	arrependimento	e	perdão	de	pecados	estão	interligados:	isso	é	visto	no	vínculo
entre	arrependimento	e	o	reino	de	Deus/do	céu	nos	evangelhos	[19]
b.	arrependimento	é	a	condição	prévia	do	perdão,	mas	não	o	fundamento	do
nosso	merecimento	do	perdão:	antes,	porque	o	Senhor	determinou-se	a	ter
piedade	no	fim,	para	que	os	homens	possam	se	arrepender;	ele	indica	em	que
direção	se	deve	proceder	se	se	deseja	obter	graça	[20]
Pecados	para	os	quais	não	existe	arrependimento	ou	perdão	[21-25]
21.	Arrependimento	como	livre	dádiva	de	Deus
a.	o	arrependimento	é	uma	dádiva	de	Deus	que	ele	concede	pelo	Espírito	da
regeneração	para	quem	ele	deseja,	embora	ele	ordene	o	arrependimento	de	todos
b.	fé,	arrependimento	e	misericórdia	de	Deus	estão	ligados	inseparavelmente:	o
temor	de	Deus	evidencia	o	operar	da	salvação	no	homem
c.	o	ensino	de	Hebreus,	de	que	os	pecados	pós-batismais	não	devem	ser
perdoados,	não	deve	ser	interpretado	amplamente,	como	alguns	o	fazem:	o	único
pecado	imperdoável	é	o	pecado	contra	o	Espírito	Santo,	que	surge	da	loucura
desesperada
22.	Pecado	imperdoável:	opor-se	conscientemente	ao	Espírito	Santo
a.	definições	errôneas:
(1)	de	Agostinho:	teimosia	persistente	até	a	morte,	com	desconfiança	do	perdão
(2)	inveja	da	graça	concedida	ao	seu	irmão
b.	a	verdadeira	definição:	“Pecam	contra	o	Espírito	Santo	aqueles	que,	com	más
intenções,	resistem	à	verdade	de	Deus,	embora	sejam	de	tal	forma	tocados	por
seu	esplendor	que	não	podem	alegar	ignorância”:	conhecimento	mais	descrença
23.	Como	a	impossibilidade	do	“segundo	arrependimento”	deve	ser	entendida
(1Jo	2.19;	Hb	6,10)
a.	um	retorno	à	comunhão	de	Cristo	não	está	aberto	para	aqueles	que	consciente
e	voluntariamente	a	rejeitaram
b.	não	aqueles	de	vida	dissoluta	que	transgridem	a	Palavra	de	Deus,	mas	aqueles
que	deliberadamente	rejeitam	todo	seu	ensino;	não	uma	falha	em	particular,	mas
o	afastar-se	totalmente	de	Deus	—	apostasia	do	homem	integral
24.	Aqueles	que	não	podem	ser	perdoados	são	aqueles	que	não	podem	se
arrepender
a.	por	causa	de	sua	ingratidão,	tais	pecadores	são	acometidos	pelo	justo	juízo	de
Deus
b.	prova-se	que	algumas	expressões	escriturísticas	que	descrevem	a	recusa	de
Deus	em	responder	os	apelos	dos	pecadores	não	se	referem	aos	que	se	voltam	de
todo	coração	para	Deus	em	arrependimento,	mas	sim	ao	tormento	cego	que
afasta	o	réprobo	quando	este	vê	que	precisa	buscar	a	Deus	para	encontrar	uma
solução	para	seus	infortúnios	e,	ainda	assim,	foge	quando	ele	se	aproxima
25.	Arrependimento	falso	e	arrependimento	honesto
a.	ocorrências	escriturísticas	da	resposta	bondosa	de	Deus	ao	falso
arrependimento	explicadas	como	uma	atenuação	temporária	ou	suspensão	dos
castigos	que	ocorreriam	no	final
b.	Deus,	portanto,	mesmopor	meio	desses	atos	de	bondade	temporária,	insta	os
homens	ao	arrependimento,	embora	ele	não	comprometa	a	si	mesmo,	por	lei
perpétua,	a	perdoar
CAPÍTULO	4
Quão	longe	da	pureza	do	evangelho	está	tudo	aquilo	que	os	sofistas	tagarelam	em	suas	escolas	a
respeito	do	arrependimento?	Discussão	sobre	a	confissão	e	a	reparação
A	doutrina	escolástica	da	confissão	e	contrição,	com	o	exame	de	sua	suposta	base	escriturística	[1-6]
1.	A	doutrina	escolástica	da	penitência
a.	pretendemos	cobrir,	tão	brevemente	quanto	possível,	o	ensino	escolástico
sobre	o	arrependimento
b.	clichês	da	antiga	patrística	sobre	o	arrependimento	—	proferidos	não	para
defini-lo,	mas	para	instar	os	homens	a	não	cair	novamente	na	pecaminosidade	—
mal-empregados	pelos	escolásticos	dos	nossos	dias
c.	a	doutrina	dos	escolásticos	tardios	é	uma	prática	exterior	planejada	para	domar
a	carne	e	punir	as	falhas;	mas	eles	nem	esbarram	na	renovação	interna	da	mente
d.	inadequação	da	divisão	tradicional	do	arrependimento
(1)	contrição	de	coração
(2)	confissão	da	boca
(3)	reparação	das	obras
e.	as	questões	absurdas	sobre	as	quais	eles	se	engalfinham	provam	sua
ignorância	na	questão	como	um	todo
2.	A	doutrina	escolástica	da	penitência	atormenta	a	consciência
a.	eles	conectam	também	ao	perdão	dos	pecados	os	três	passos	do
arrependimento
b.	contudo,	ao	fazer	da	contrição	necessária	proporcional	ao	tamanho	do	pecado
confessado,	e	ao	exigir	uma	confissão	plena,	eles	torturam	consciências	que	não
conseguem	saber	ao	certo	se	estão	atendendo	tais	exigências
3.	É	a	misericórdia	do	Senhor,	e	não	a	contrição	do	pecado,	que	se	espera
a.	podem	os	escolásticos	apontar	qualquer	um	que,	crendo	em	sua	doutrina	da
contrição,
(1)	não	foi	levado	ao	desespero,	ou
(2)	defrontou-se	com	o	juízo	de	Deus	com	uma	contrição	falsa,	em	vez	de
verdadeira?
b.	o	perdão	dos	pecados	não	pode	nunca	advir	para	qualquer	um	sem
arrependimento,	mas	não	é	a	causa	do	perdão	o	aspecto	para	o	qual	devemos	nos
atentar:	fixemos	nossa	atenção	na	misericórdia	do	Senhor,	e	não	nas	nossas
próprias	lágrimas
c.	aqueles	excluídos	do	perdão:
(1)	fariseus,	saciados	com	sua	própria	justiça	e	incapazes	de	reconhecer,	assim,
sua	própria	miséria
(2)	desdenhosos	que,	negligentes	da	ira	de	Deus,	não	buscam	uma	solução	para
seu	próprio	mal
d.	a	diferença	entre	o	evangelho	e	o	ensino	escolástico:
(1)	o	perdão	de	pecados	é	merecido	por	uma	contrição	plena	(não	encenada	pelo
pecador)	ou
(2)	ordena	o	pecador	a	ansiar	e	apetecer	que	a	misericórdia	de	Deus	lhe	mostre
—	por	meio	do	reconhecimento	de	sua	própria	miséria,	hesitação,	fadiga,
grilhões	—	onde	buscar	renovação,	descanso	e	liberdade:	na	humilhação;
glorificar	a	Deus
4.	Confissão	não	prescrita:	refutação	do	argumento	alegórico	escolástico	a	partir
dos	leprosos	que	foram	purificados
a.	conflito	entre	juristas	canônicos	e	teólogos	escolásticos	acerca	da	confissão:
(1)	juristas	canônicos:	confissão	ordenada	apenas	pelos	estatutos	eclesiásticos
(2)	teólogos	escolásticos:	confissão	ordenada	por	preceito	divino
b.	principal	“texto-prova”:	Mateus	8.4	e	paralelos
(a)	os	sacerdotes	devem	identificar	a	lepra	(Lv	14.2-3)
(b)	o	pecado	é	a	lepra	espiritual
(3)	portanto,	sacerdotes	têm	o	dever	de	se	pronunciar	a	esse	respeito
c.	refutação:
(1)	todo	sacerdócio	e	todos	os	seus	deveres	foram	transferidos	para	Cristo
(2)	por	que,	então,	Cristo	enviou	os	leprosos	curados	para	os	sacerdotes?
(a)	para	obedecer	a	lei	civil	(não	ritual)
(b)	assim,	os	sacerdotes	foram	compelidos,	mesmo	contra	sua	vontade,	a
reconhecer	o	milagre	de	Cristo
(3)	Crisóstomo:	Cristo	fez	isso	por	causa	dos	judeus,	para	que	não	fosse
considerado	um	transgressor	da	lei
5.	A	desatadura	de	Lázaro	mal-empregada	(alegorização	ruim)
a.	João	11.44:	o	Senhor,	eles	dizem,	ordenou	que	os	discípulos	desatassem	o
Lázaro	ressurreto	e	o	deixassem	ir
b.	na	verdade,	o	Senhor	não	disse	isso	aos	seus	discípulos,	mas	aos	judeus,	para
mitigar	suspeitas	de	fraude	e	demonstrar	seu	poder	superior	(Crisóstomo)
c.	considerando	que	os	discípulos	eram	o	público	pretendido,	entretanto,	poder-
se-ia	mais	apropriadamente	alegorizar	como	simbolizando	que	aqueles
ressurretos	por	ele	deveriam	ser	lembrados	de	que	seus	pecados	foram
esquecidos	e	perdoados,	e	que	não	deveriam	ser	mais	severamente	tratados	pelos
homens	do	que	o	Juiz	os	tratou
6.	Confissão	escriturística
a.	e	quanto	à	frequente	injunção	escriturística	de	que	nós	devemos	“confessar
nossos	pecados	uns	aos	outros”?
b.	isso	se	refere	aos	condiscípulos,	e	não	exclusivamente	aos	sacerdotes
(1)	nós	deveríamos	depositar	nossas	enfermidades	sobre	os	ombros	uns	dos
outros,	para	recebermos	entre	nós	compaixão	e	consolação	mútuas
(2)	devemos	confessar	nossos	pecados	perante	nosso	Deus	misericordioso,
perante	os	anjos,	a	igreja	e	todos	os	homens
Evidências	da	origem	tardia	da	confissão	auricular
7.	Confissão	compulsória	desconhecida	na	igreja	antiga
a.	a	confissão	compulsória	surgiu	com	o	Quarto	Concílio	de	Latrão,	sob
Inocêncio	III:	anteriormente,	todas	as	confissões	eram	voluntárias
b.	uma	sagacidade	erudita	sobre	o	“omnis	utriusque	sexus”	[todos	de	ambos	os
sexos]	—	somente	para	hermafroditas?
c.	prova	de	que	a	confissão	compulsória	foi	[uma	regulação	eclesiástica	tardia]
—	nada	foi	instituído	por	Cristo,	tampouco	pela	igreja	primitiva
(1)	o	testemunho	de	Sozomeno	acerca	do	penitentiarius,	um	sacerdote	especial
de	confissão-audição	na	igreja	oriental
(2)	abandono	dessa	prática	em	Constantinopla,	sob	Nectário,	por	causa	de
escândalo
8.	Crisóstomo	não	ordena	a	confissão	aos	homens
a.	Crisóstomo	repetidamente	indica	a	confissão	diretamente	a	Deus
b.	ele	não	estava	liberando	os	homens	das	prescrições	divinas,	mas	preservando
a	consciência	dos	homens	livres	de	embaraços	(com	bom	fundamento
escriturístico)
Confissão	escriturística	de	pecados,	pública	e	privada	[9-13]
9.	Confissão	perante	Deus
a.	proposta:	primeiramente,	relatar	o	tipo	de	confissão	ensinada	na	Palavra	de
Deus;	depois,	examinar	as	invenções	dos	nossos	adversários
b.	tradução	errônea	da	palavra	hebraica	 אוׂדהֵ 	por	“confessar”,	em	Salmos	7.17	e
em	outros	lugares	(Septuaginta	e	Vulgata)
c.	na	Escritura:	o	Senhor	perdoa;	portanto,	que	nós	derramemos	nosso	coração
diante	dele:	evidência	de	Davi	(Salmos),	Daniel,	João
10.	Confissão	de	pecados	perante	os	homens
a.	primeiro,	confissão	privada	perante	Deus
b.	segundo,	se	houver	necessidade	de	proclamar	a	misericórdia	de	Deus	entre	os
homens,	confissão	pública	perante	os	homens	—	mas	somente	se	a	glória	divina
ou	nossa	humilhação	o	exigirem
c.	em	Israel,	depois	que	o	sacerdote	recitava	as	palavras,	o	povo	deveria
confessar	suas	iniquidades	publicamente	no	templo	(Lv	16.21);	da	mesma	forma
nós	devemos,	ao	confessarmos	nossa	própria	desgraça,	manifestar	a	bondade	e
misericórdia	do	nosso	Deus,	tanto	entre	nós	mesmos	quanto	perante	o	mundo
todo
11.	Confissão	geral	de	pecado
a.	dois	tipos	de	confissão	pública
(1)	ordinária
em	uma	congregação,	mesmo	que	alguns	sejam	inocentes,	eles	participam	na
culpa	do	corpo	inteiro	e	devem	se	juntar	em	confissão
(2)	extraordinária
quando	todo	o	povo	é	culpado	de	alguma	transgressão	em	comum,	isso	requer
uma	confissão	pública	extraordinária
b.	a	ordem	de	culto	em	uma	congregação	cristã	deveria	começar	com	algum	rito
público	de	confissão,	não	somente	orar	por	perdão,	mas	também	para	lançar	fora
nossa	grande	complacência	e	indolência
(1)	portanto,	esse	rito	antigo,	parte	da	lei	de	tutela,	pertence,	em	certo	sentido,
também	a	nós
(2)	ao	esboçar	uma	fórmula	de	confissão	por	si	mesmo	e	em	nome	do	povo,	o
ministro	abre	o	caminho	para	a	oração	tanto	para	indivíduos	em	privado	como
em	público
12.	Confissão	privada	para	a	cura	das	almas
a.	duas	formas	de	confissão	privada
(1)	realizada	para	nosso	próprio	bem,	para	conselho	e	consolo	mútuos
(2)	realizada	para	o	bem	do	nosso	próximo,	para	reconciliação	e	reparação	por
nossas	injúrias	a	ele
b.	Tiago	(5.16)	sugere	que	escolhamos	a	pessoa	mais	adequada	na	congregação
(não	necessariamente	o	pastor)	para	nos	confessarmosc.	essa	tarefa,	no	entanto,	é	designada	especialmente	aos	ministros,	ordenados
para	testemunhar	e	afiançar	a	misericórdia	divina
(1)	o	crente,	perturbado	e	afligido	privadamente	por	uma	consciência	dos
pecados,	e	incapaz	de	livrar-se	a	si	mesmo	deles	sem	auxílio	externo,	pode
livremente	usar	da	confissão	privada	para	seu	próprio	pastor
(2)	contudo,	esse	tipo	de	confissão	é	livre,	e	não	presa	a	quaisquer	restrições
feitas	por	homens
(3)	pastores	devem	permitir	essa	liberdade	às	igrejas	e	defendê-la,	para	evitar	a
tirania	em	seu	ministério	e	a	superstição	do	povo
13.	Confissão	privada	para	a	supressão	de	uma	ofensa	(segunda	forma)
a.	o	padrão	clássico	é	visto	em	Mateus	5.23-24
b.	isso	pode	até	envolver	a	excomunhão	da	comunidade	por	um	tempo,	até	que	o
pecador	tenha	se	submetido	obedientemente	à	correção:	Cipriano	descreve	essa
prática	do	exomologesis	na	igreja	primitiva
c.	a	comunhão	constante	é	avalizada	como	um	benefício	notável	para
consciências	comprometidas,	desde	que	a	tirania	e	a	superstição	sejam	excluídas
O	poder	das	chaves	e	a	absolvição	[14-15]
14.	Natureza	e	importância	do	poder	das	chaves
a.	o	poder	das	chaves	tem	espaço	em	três	tipos	de	confissão:
(1)	quando	toda	a	igreja,	com	solene	reconhecimento	de	suas	falhas,	implora	por
perdão
(2)	quando	um	indivíduo	que,	por	alguma	transgressão	patente	cometida	como
ofensa	comum,	declara	seu	arrependimento
(3)	quando	alguém	que	precisa	do	auxílio	de	um	ministro	devido	a	uma
consciência	perturbada	desvela	a	ele	sua	fraqueza
b.	absolvição	pública	e	privada
(1)	quando	toda	a	igreja	se	põe	diante	do	trono	do	julgamento	de	Deus,	confessa-
se	culpada	e	toma	por	único	refúgio	a	misericórdia	de	Deus,	é	de	grande	proveito
ter	ali	a	presença	do	embaixador	de	Cristo	municiado	com	o	mandato	da
reconciliação
(2)	o	benefício	é	similar	quando	alguém	apartado	da	comunidade	recebe	perdão
e	é	restaurado	à	unidade	fraternal
(3)	igualmente	benéfica	é	a	absolvição	privada	quando	um	homem	abre	seu
coração	ao	seu	pastor	e	recebe	dele	a	mensagem	do	evangelho	que	o	liberta	da
ansiedade	atormentada
c.	no	entanto,	o	“poder	das	chaves”	nunca	deve	ser	separado	da	pregação	do
evangelho
15.	Síntese	da	doutrina	romana	da	confissão
a.	pontos	nos	quais	os	romanistas	convergem
(1)	todas	as	pessoas	“de	ambos	os	sexos”,	assim	que	alcançam	a	idade	de
discrição,	devem	confessar	seus	pecados	pelo	menos	uma	vez	ao	ano	para	seu
próprio	sacerdote
(2)	seus	pecados	não	são	perdoados	a	menos	que	haja	uma	intenção	firmemente
estabelecida	de	confessá-los
(3)	além	disso,	se	esse	intento	não	for	levado	adiante	quando	oferecido,	o	paraíso
não	está	mais	aberto	a	essas	pessoas
(4)	o	sacerdote	tem	esse	poder	de	ligar	e	desligar,	a	partir	de	Mateus	18.18
b.	pontos	nos	quais	eles	divergem
(1)	o	poder	não	consiste	em	uma,	duas	ou	mais	chaves
(a)	alguns	dizem	uma:	o	poder	de	ligar	e	desligar,	ao	qual	o	conhecimento	é
conjugado	como	acessório
(b)	alguns	dizem	duas:	discrição	e	poder
(c)	outros,	ainda,	acrescentam	a	autoridade	para	discernir	(ao	emitir	vereditos)	o
poder	exercido	na	execução	do	veredito	do	conhecimento	enquanto	advogado
(2)	quando	se	contesta	que	sacerdotes	podem	ter	ligado	ou	desligado	pessoas
indignas	que	não	serão	ligadas	ou	desligadas	no	céu,	eles	afirmam	que:
(a)	as	chaves	são	dadas	a	todos	os	sacerdotes	por	Cristo	e	conferidas	a	eles	pelos
bispos	em	sua	promoção
(b)	o	veredito	dos	sacerdotes	é	aprovado	pelo	céu	se	emitido	justamente
(c)	o	poder	das	chaves	permanece	com	os	sacerdotes	enquanto	eles	realizam	suas
funções	eclesiásticas;	quando	se	trata	de	clérigos	excomungados	ou	suspensos,
isso	se	dá	de	forma	enfraquecida	e	limitada
(d)	essas	afirmações	são	modestas	em	comparação	com	aqueles	que	ensinam	a
nova	doutrina	do	tesouro	de	méritos	(veja	III.5.2)
Crítica	dos	erros	romanistas	e	práticas	injuriosas	relacionadas	à	confissão	e	à	satisfação	[16-25]
16.	A	enumeração	de	todos	os	pecados	é	impossível
a.	todos	os	pecados	devem	ser	contados?
b.	Davi,	nos	Salmos,	mal	pode	contar,	perante	Deus,	seus	próprios	pecados	—
inumeráveis	—	quando	ele	os	confessa
c.	por	que,	então,	deveríamos	nós	fazê-lo?
17.	A	exigência	de	uma	confissão	completa	(integral)	é	uma	tormenta
imensurável
a.	o	pecador,	chamado	a	classificar,	pesar	e	confessar	em	detalhes	todos	os
pecados	de	que	é	culpado,	só	pode	acabar	em	desespero
b.	os	romanistas,	então,	oferecem	a	seguinte	solução:	faça,	pelo	menos,	tudo	que
estiver	ao	seu	alcance:	no	entanto,	o	pecador	é	atormentado	com	outro
questionamento	—	“será	que	fiz	tudo	o	que	estava	ao	meu	alcance?”
c.	eis,	então,	a	solução:	se	arrependa,	pelo	menos,	da	sua	negligência;	se	não	for
totalmente	displicente,	será	perdoado	—	mas	nem	isso	alivia	o	terror	provocado
pela	voz	que	retumba	nos	ouvidos:	“Confesse	todos	os	seus	pecados!”
d.	resposta:	é	tolice	supor	que	nós	possamos	nos	lembrar	de	todos	os	pecados
cometidos	em	um	único	dia,	que	dirá	um	ano	inteiro!
18.	O	efeito	pernicioso	da	exigência	de	confissão	completa
a.	tal	confissão	só	poderia	oferecer,	na	melhor	das	hipóteses,	uma	trégua
momentânea	para	uma	consciência	perturbada
b.	a	verdadeira	natureza	dessa	lei	de	confissão	completa
(1)	é	simplesmente	impossível	e	só	pode	levar	ao	desespero
(2)	transforma	os	homens	em	hipócritas,	pois	eles	estão	tão	ocupados
catalogando	seus	pecados	externos	que	passam	por	cima	da	massa	de	pecados
secretos	interiores
c.	não	se	deve,	então,	confessar	cada	pecado	individual?	Sim,	mas	devemos,
antes,	derramar	todo	nosso	coração	a	Deus	e,	só	depois,	pedir	que	todos	os
nossos	erros	secretos	remanescentes	sejam	purificados,	como	disse	Davi
d.	longas	eras	de	prática	confessional	na	igreja	negam	que	os	pecados	são
perdoados	somente	quando	há	uma	vontade	firmemente	estabelecida	de
confessar	e	que	o	paraíso	é	fechado	a	qualquer	um	que	tenha	negligenciado	uma
oportunidade	de	confessar;	muitos	homens	foram	absolvidos	sem	a	confissão
para	um	sacerdote	e	sem	tais	condições
e.	certamente,	o	ligar	e	o	desligar	não	se	encontra	na	competência	de	um	juízo
terreno,	pois	o	ministro	da	Palavra	não	pode	saber	a	fé	e	o	arrependimento
daquele	que	confessa	(o	fundamento	da	absolvição)	e,	quando	ele	realiza	suas
funções	devidas,	só	pode	absolver	condicionalmente
19.	Contra	a	confissão	auricular
a.	uma	praga	sobre	a	igreja;	deveria	ser	abolida	imediatamente!
b.	pecando	ao	longo	de	todo	o	ano,	os	homens	vomitam	seus	pecados	sobre	o
sacerdote	como	se	eles	mesmos	estivessem	transmitindo	o	juízo	de	Deus	ao
sacerdote
c.	quão	relutantes	os	homens	vão	para	essa	confissão	anual,	à	exceção,
possivelmente,	dos	sacerdotes,	que	se	aprazem	em	trocar	anedotas	de	seus
delitos	como	se	fossem	histórias	divertidas
d.	Nectário	sabia	o	que	estava	fazendo	quando	removeu	o	penitentiarius	de	sua
igreja	para	evitar	escândalo;	essas	pessoas	são	culpadas	de	escândalos	infinitos
por	sua	prática	da	confissão	auricular
20.	Apelos	infundados	ao	poder	das	chaves
a.	os	confessores	baseiam	esse	tipo	de	confissão	no	poder	das	chaves
b.	o	verdadeiro	significado	do	poder	das	chaves
(1)	concedido	aos	apóstolos:	seus	clérigos	são	vicários	ou	sucessores	dos
apóstolos?
(2)	o	poder	do	Espírito	Santo	foi	dado	antes	do	poder	das	chaves:	seus
confessores	receberam	o	poder	do	Espírito	Santo?
(3)	se	eles	reivindicam	tal	poder,	indagamos:	pode	o	Espírito	Santo	errar?
c.	conclusão:	nenhum	clérigo	que	repetidamente	desliga	o	que	o	Senhor	quis	ter
ligado,	e	desliga	o	que	ele	ordenou	ligar,	tem	o	poder	das	chaves
21.	A	incerteza	do	ligar	e	desligar	sacerdotal
a.	a	anomalia:	a	promessa	do	ligar	e	desligar	é	dada	somente	àqueles	que	ligam	e
desligam	corretamente;	mas	eles	o	confiam,	às	vezes,	a	maus	administradores
que	usurpam	o	poder	sem	o	conhecimento	e	abusam	do	poder:	estão	eles
enganados	em	sua	reivindicação,	ou	Cristo	prometeu	uma	mentira?
b.	sua	evasiva:	a	afirmação	de	Cristo	é	limitada	conforme	os	méritos	daquele	que
está	sendo	ligado	ou	desligado:	nós	temos	a	Palavra	para	medir	sua	dignidade
c.	se,	como	eles	admitem,	um	bom	número	de	sacerdotes	usa	as	chaves
equivocadamente,	comoeu	posso	ter	certeza	de	estar	sendo	corretamente
absolvido	por	um	sacerdote?
d.	esse	poder	que	eles	reivindicam,	sem	a	Palavra	de	Deus,	não	é	nada	—	ou
deve	ser	considerado	nada
22.	A	diferença	entre	o	uso	deturpado	e	correto	do	poder	das	chaves
a.	objeção:	se	a	absolvição	depende	da	fé,	ela	sempre	será	ambígua,	e	o	ministro,
não	qualificado	para	julgá-la,	sempre	será	incerto	sobre	a	absolvição
b.	resposta:
(1)	seu	fundamento	para	a	absolvição	é	uma	confissão	completa,	prudentemente
considerada	pelo	sacerdote	que	ouve;	mas	se	a	confissão	não	for	completa	—	e
como	poderia	ser?	—,	a	esperança	do	perdão	é	arruinada
(2)	o	sacerdote	precisa	suspender	o	juízo	assim	que	ele	estiver	incerto	sobre	se	o
pecador	está	apresentando	sua	confissão	de	boa	fé
(3)	a	maioria	dos	sacerdotes	são	tão	ignorantes	que	eles	não	podem,	de	forma
alguma,	exercer	esse	ofício
c.	conquanto	alguns	pecados	permaneçam	inconfessos,	qualquer	coisa	que	o
sacerdote	diga	para	fins	de	absolvição	é	vão;	e	o	confessante	é	abandonado	à
ansiedade	porque	depende	do	arbítrio	do	sacerdote,	não	da	Palavra	de	Deus
d.	o	ensino	de	Calvino
(1)	a	absolvição	é	condicionada	à	confiança	do	pecador	de	que	Deus	é
misericordioso	para	com	ele,	desde	que	ele	busque	sinceramente	a	expiação	no
sacrifício	de	Cristo	e	fique	satisfeito	com	a	graça	oferecida	a	ele
(2)	o	ministro,	funcionando	como	arauto,	não	pode	errar	quando	profere	o	que
lhe	foi	ditado	pela	Palavra	de	Deus
23.	Exposição	de	alegações	deturpadas
a.	vamos	lidar	com	o	poder	das	chaves	na	seção	sobre	o	governo	da	igreja
(IV.12.1-13)
b.	entretanto,	aqui	é	necessário	separar	as	afirmações	de	Cristo	sobre	a
excomunhão	e	sobre	a	pregação	do	evangelho	da	sua	aplicação	absurda	à
confissão	privada	e	auricular
(1)	o	poder	de	absolver,	que	eles	reivindicam	falsamente	por	sucessão	apostólica,
é	na	verdade	somente	o	testemunho	de	um	perdão	extraído	da	promessa
livremente	oferecida	no	evangelho
(2)	a	confissão	pública,	não	a	confissão	privada,	depende	da	disciplina	da	igreja;
deve,	à	guisa	de	exemplo,	remover	da	igreja	a	ofensa	pública
c.	Lombardo	e	os	seus	amontoam	todo	tipo	de	provas	de	que	a	confissão	de
pecados	sempre	envolve	um	sacerdote	como	examinador;	enquanto	Deus	exige
simplesmente	arrependimento	e	fé,	eles,	ao	acrescentarem	suas	próprias
penalidades	e	reparações,	amarram	e	limitam	de	forma	sacrílega	a	graça	de	Deus
24.	Síntese
a.	não	há	nenhuma	função	mais	apropriada	a	Deus	do	que	o	perdão	de	pecados,
no	que	reside	a	nossa	salvação;	as	consciências	devem	estar	cativas	à	Palavra,
não	aos	homens
b.	esses	romanistas	fazem	leis	humanas	se	passarem	por	divinas,	subjugando
barbaramente	consciências	a	regulações	humanas
c.	principal	ponto	de	crítica
(1)	essa	tirania	foi	introduzida	em	um	momento	decadente	da	história	da	igreja
(2)	é	uma	lei	pestilenta	que	conduz	os	tementes	a	Deus	ao	desespero	e	os
descrentes	displicentes	a	um	indolente	falso	senso	de	segurança
(3)	as	atenuações	de	seu	ensino	servem	apenas	para	camuflar	sua	impiedade	e
obscurecer	e	corromper	a	sã	doutrina
25.	Apresentação	geral	à	refutação	da	doutrina	romanista
a.	a	terceira	parte	da	penitência,	segundo	seu	ensino,	é	a	reparação:	eles
defendem	que	os	homens	obtêm	perdão	pelas	transgressões	da	bondade	de	Deus,
de	fato,	mas	isso	se	dá	somente	por	meio	do	mérito	intercessor	das	obras,	pelas
quais	a	ofensa	pelos	nossos	pecados	pode	ser	paga,	para	que	a	devida	reparação
possa	ser	feita	à	justiça	de	Deus
b.	a	resposta	da	Escritura	para	isso	é:	remissão	de	pecados	livremente	oferecida
(1)	não	é	o	credor	da	dívida	quitada	que	perdoa,	mas	aquele	que,	sem	nenhum
pagamento,	voluntariamente	cancela	o	débito
(2)	“livremente	oferecida”	significa	que	nenhuma	reparação	é	exigida
(3)	pelo	nome	de	Cristo	somente,	e	mais	nada,	nós	recebemos	perdão
Somente	a	graça	de	Cristo	proporciona	verdadeira	satisfação	pelo	pecado	e	paz	para	a	consciência	[26-
27]
26.	Cristo	proporcionou	reparação	total
a.	síntese	do	ensino	dos	escolásticos
(1)	perdão	de	pecados	e	reconciliação	acontecem	de	uma	vez	por	todas	quando,
no	batismo,	somos	recebidos	por	meio	de	Cristo	na	graça	de	Deus
(2)	depois	disso,	somente	por	reparações	podemos	suplantar	os	pecados	pós-
batismais
(3)	essas	nos	são	dadas	por	meio	das	chaves	da	igreja	como	única	administradora
do	sangue	de	Cristo
b.	resposta:	a	passagem	de	1João	2.1ss.	mostra	que	Cristo	é	nosso	advogado
perpétuo,	e	não	uma	possível	reparação	dentre	outras
c.	nós	somente	participamos	da	expiação	feita	por	Cristo	se	toda	a	honra	dela
residir	nele
27.	A	doutrina	romana	despoja	Cristo	da	honra	e	consciência	de	toda	segurança
a.	a	honra	de	Cristo	deve	ser	mantida	íntegra
(1)	Cristo,	por	sua	própria	morte,	derrotou	a	força	e	a	maldição	do	pecado,
assumindo	todo	fardo	dos	nossos	pecados	sobre	si	mesmo
(2)	é	falso	afirmar	que	depois	da	purificação	inicial,	cada	um	de	nós	sente	a
eficácia	do	sofrimento	de	Cristo	somente	na	proporção	da	medida	de	nossa
penitência	reparadora
b.	consciências	asseguradas	do	perdão	dos	pecados	devem	ter	paz	com	Deus
(1)	é	absurdo	afirmar	que	a	graça	de	Deus	trabalha	no	primeiro	perdão	dos
pecados,	mas	nos	pecados	subsequentes	nossas	obras	cooperam	com	a	obtenção
do	segundo	perdão
(2)	como	pode	uma	consciência	ser	tranquilizada	se	lhe	for	dito	que	os	pecados
são	redimidos	por	reparação	—	e	quando	é	que	se	realizam	reparações
suficientes?
(3)	a	Escritura	nada	ensina	além	da	repetida	ação	da	morte	de	Cristo	por	nós:
repetidamente	nossos	pecados	são	redimidos	por	ela
Diversas	distinções	e	objeções	examinadas	criticamente	[28-39]
28.	Pecados	veniais	e	mortais
a.	nossos	adversários	se	refugiam	na	distinção	entre	pecados	veniais	e	mortais,
com	seus	tratamentos	distintos
b.	eles,	porém,	não	conseguem	realmente	distinguir	as	duas	categorias,	a	menos
que	chamem	a	impiedade	e	impureza	de	coração	de	pecado	venial
c.	ao	lado	da	Escritura,	defendemos	que	todos	os	pecados	merecem	a	morte;	mas
um	pecado	é	venial	da	parte	de	um	crente	pela	misericórdia	de	Deus	em	Cristo,
que	o	dissipa
d.	antes	da	lei	de	Deus,	todos	os	pecados	merecem	igualmente	a	morte
e.	é	impossível	fazer	reparação	pelo	pecado;	pois	enquanto	os	homens	o	fazem,
eles	estão	acumulando	mais	pecados
29.	O	perdão	de	pecados	envolve	remissão	da	pena
a.	sua	saída:	distinção	entre	pena	e	culpa
(1)	a	culpa	é	perdoada	pela	misericórdia	de	Deus
(2)	a	pena,	no	entanto,	ainda	persiste	para	ser	sanada	pela	justiça	de	Deus
b.	uma	anomalia:	após	admitir	que	o	perdão	pela	culpa	é	gratuito,	eles	ensinam
que	os	homens	devem	merecê-lo	e	conquistá-lo
c.	já	mostramos	que	a	Escritura	nega,	a	todo	tempo,	essa	distinção	entre	culpa	e
pena
d.	contudo,	aqui	estão	outros	testemunhos	escriturísticos	para	encerrar	a	questão:
(1)	“Deus	não	mais	se	lembrará	de	nossos	pecados”
(2)	“não	os	colocará	em	nossa	conta,	mas	os	manterá	ocultos”
(3)	pecados:	do	escarlate	ao	branco
(4)	conclusão:	Deus	perdoa	da	vingança	toda	penalidade
30.	Somente	o	sacrifício	único	de	Cristo	pode	eliminar	tanto	a	pena	quanto	a
culpa
a.	“o	castigo	(correção)	da	nossa	paz”	=	a	pena	que	Cristo	pagou	em	nosso	lugar
b.	apolutrosis,	em	Paulo,	não	significa	simples	redenção,	mas	o	preço	e	a
satisfação	da	redenção
c.	a	lei	de	Moisés	prescreve	em	detalhes	os	ritos	de	expiação
(1)	eles	não	são	obras,	mas	sacrifícios
(2)	os	sacrifícios	israelitas	antecipam	o	sacrifício	único	de	Cristo
d.	nossos	adversários	evasivamente	distinguem	entre	penas	eternas	e	temporais:
na	Escritura,	o	perdão	da	culpa	inclui	as	remissões	das	penas,	e	ambos	são
gratuitos
31.	Exposição	de	interpretações	equivocadas	da	Escritura:	os	juízos	de	Deus	—
penal	e	corretivo	[Calvino	responde	o	uso	de	textos-prova	de	seus	inimigos	ao
propor	um	juízo	divino	duplo]
a.	juízo	de	vingança:	o	Juiz	para	com	os	réprobos
b.	juízo	de	castigo:	o	Pai	para	com	seus	filhos	eleitos
32.	O	juízo	de	Deus	na	vingança	tem	um	propósito	totalmente	diferente	do	juízo
em	castigo:	a	distinção
a.	primeira	distinção
(1)	punição	por	vingança:	a	ira	de	Deus
(2)	punição	por	castigo:	o	amor	de	Deus
b.	essa	distinçãobásica	pode	ser	traçada	ao	longo	da	Escritura;	passagens
escriturísticas	apresentadas
c.	aparente	contradição:	o	castigo	de	Deus	para	com	seus	eleitos	é	para	o	próprio
bem	deles
33.	Juízo	de	vingança	serve	para	punir;	juízo	de	castigo,	para	aperfeiçoar
a.	segunda	distinção:	os	flagelos	dos	ímpios	são	o	começo	da	punição	que
sofrerão	conforme	o	julgamento	de	Deus
b.	Deus,	porém,	pune	sua	igreja	para	chamá-la	à	humildade	e	levá-la	ao
arrependimento;	exemplos	escriturísticos	dessa	instrução	divina
c.	de	forma	semelhante,	Agostinho	diferencia	entre	o	trato	de	Deus	com	os
santos	e	com	os	ímpios
34.	O	crente	que	atravessa	o	castigo	de	Deus	não	deve	se	abater
a.	o	crente,	diferentemente	do	descrente	(que	pensa	que	Deus	é	um	juiz
punitivo),	deve	reconhecer	que	a	severidade	de	Deus	é	ira	para	com	os	vícios,
mas	amor	e	misericórdia	para	consigo
b.	às	vezes,	entretanto,	parece	que	Deus	é	mais	severo	para	com	seu	próprio
povo	do	que	para	com	os	ímpios
c.	aqui,	a	admoestação	da	lei	é	um	conforto:	os	fiéis	estão	sendo	chamados	de
volta	ao	caminho	da	salvação,	mas	os	descrentes	prosseguem	no	erro
d.	não	há	diferença	entre	as	penas	eternas	e	temporais
35.	A	punição	de	Davi
a.	Davi	foi	punido	para	ser	ensinado	que	Deus	se	desagrada	com	o	assassinato	e
o	adultério;	além	disso,	a	pena	por	realizar	o	recenseamento	proibido,	um	flagelo
para	o	povo	de	Davi,	foi	para	servir	de	exemplo	público	para	todas	as	eras	e	para
a	humilhação	do	servo	de	Deus	(embora	Deus	tenha	perdoado	livremente	o
delito	de	Davi)
b.	da	mesma	forma,	embora	pela	graça	sejamos	perdoados	por	Deus,	as	penas	do
pecado	original	permanecem	conosco	para,	de	tal	forma	humilhados,	nos	ensinar
a	aspirar	mais	avidamente	a	verdadeira	beatitude
c.	Deus	ajusta	a	severidade	das	penas	que	sofremos	às	nossas	necessidades
individuais
d.	mas	por	que	olhar	somente	para	o	exemplo	de	Davi?	Há	muitos	outros
exemplos	escriturísticos	de	absolvição	gratuita,	sem	imposição	de	punições
36.	As	boas	obras	como	remissão	da	punição
a.	“reparação	da	punição”,	em	Daniel	4.37,	não	se	refere	a	Deus,	mas	aos
homens:	Daniel	está	pedindo	ao	cruel	rei	Nabucodonosor	que	seja	bondoso	para
com	seu	povo
b.	“o	amor	cobre	uma	multidão	de	pecados”,	em	Provérbios	10.12,	se	aplica	aos
homens,	não	a	Deus
c.	“por	misericórdia	e	bondade,	os	pecados	são	expiados”,	em	Provérbios	16.6,
não	se	refere	ao	apaziguamento	de	Deus	por	boas	obras,	mas	ao	prazer	de	Deus
para	com	aqueles	que	se	arrependeram	e	se	voltaram	para	ele	(como	se	prova	por
suas	ações)
37.	A	mulher	que	era	pecadora	(Lc	7.36-50)
a.	a	visão	dos	fariseus
(1)	Cristo	não	conhecia	a	mulher	que	ele	perdoou
(2)	se	ele	a	conhecesse,	não	a	teria	perdoado
(3)	Cristo,	consequentemente,	de	tal	forma	enganado,	não	poderia	ser	um	profeta
b.	mas	Cristo	contou	uma	parábola	para	mostrar	que	ela	não	era	uma	pecadora,
porque	seus	pecados	foram	perdoados:	seu	amor	não	foi	a	causa,	mas	a	prova	do
perdão	dos	pecados	(argumento	a	posteriori)
38.	A	doutrina	romana	não	pode	reivindicar	a	autoridade	dos	pais	da	igreja
a.	os	pais	podem	ter	falado,	às	vezes,	de	forma	descuidada	sobre	reparações	—
e.g.,	Crisóstomo	e	“Agostinho”	—	mas	nunca	como	os	nossos	defensores
contemporâneos	das	reparações
b.	“reparação”,	em	seu	significado	anterior,	não	era	recompensa	por	pecados	já
cometidos,	mas	cautela	caso	pecados	futuros	fossem	cometidos
39.	O	ensino	corrupto	dos	escolásticos	sobre	os	pais	[da	igreja]
a.	na	era	dos	pais	[da	igreja],	a	reparação	não	era	um	pagamento	feito	a	Deus,
mas	um	testemunho	perante	a	igreja	do	arrependimento	do	pecador
b.	desse	rito	antigo	tiveram	origem	as	confissões	e	reparações	degeneradas	de
hoje
c.	indiscriminadamente,	os	escolásticos	montaram,	de	fontes	questionáveis,	sua
colcha	de	retalhos:	e.g.,	a	partir	de	On	repentance	[Sobre	o	arrependimento],	do
pseudo-Agostinho
CAPÍTULO	5
Os	acréscimos	que	eles	adicionam	às	reparações,	isto	é,	as	indulgências	e	o	purgatório
A	doutrina	errônea	das	indulgências	e	suas	consequências	malignas	[1-5]
1.	As	indulgências	de	acordo	com	a	doutrina	romanista	e	os	prejuízos	causados
por	elas
a.	sua	definição:	indulgências	são	a	distribuição	dos	méritos	de	Cristo	e	dos
santos	para	nos	suprir	das	reparações	que	nos	faltam
b.	por	séculos,	essas	fraudes	piedosas	foram	toleradas	pelos	homens,	muito
embora	elas	tenham	sido	a	causa	de	corrupção	e	erros	indizíveis
2.	Indulgências	são	contrárias	à	Escritura
a.	muitos	as	veem,	agora,	como	um	comércio	maligno,	mas	desconhecem	seu
verdadeiro	fundamento:	o	chamado	tesouro	de	méritos	confiado	ao	bispo	de
Roma	e	seus	subordinados
b.	as	indulgências	profanam	o	sangue	de	Cristo,	declarando,	contra	a	Escritura,
sua	insuficiência
c.	antíteses
(1)	reparação	no	sangue	dos	mártires (1)	Cristo	se	fez	pecado	para	nos	fazer	justos	(2Co	5.21)
(2)	Paulo	e	outros	morreram	por	nós (2)	somente	Cristo	foi	crucificado	e	morreu	por	eles	(1Co	1.13)
(3)	estipulação	de	outro	preço	de	compra:	o	sangue	dos	mártires (3)	Cristo	comprou	a	igreja	com	seu	próprio	sangue	(At	20.28)
(4)	a	santificação,	em	si	insuficiente,	é	aperfeiçoada	pelos	mártires(4)	por	uma	única	oferta,	Cristo	aperfeiçoou	para	sempre	aqueles	que	santificou	(Hb	10.4)
(5)	os	mártires	lavam	suas	vestes	no	sangue	dos	santos (5)	todos	os	santos	lavaram	suas	vestes	no	sangue	do	Cordeiro	(Ap	7.14)
3.	Autoridades	contra	indulgências	e	méritos	dos	mártires
a.	duas	autoridades
(1)	Leão,	o	Grande:	“os	justos	receberam	coroas,	não	as	ofereceram”
(2)	Agostinho:	“embora	como	irmãos,	nós	morramos	por	nossos	irmãos,	nenhum
sangue	de	mártir	é	derramado	pelo	perdão	de	pecados”
b.	resultados	dessa	doutrina	perniciosa,	em	vez	de	Cristo
(1)	adiciona	o	sangue	dos	mártires	ao	sangue	de	Cristo,	tendo	eles	supostamente
oferecido	a	Deus	mais	do	que	eles	precisavam	para	si	mesmos
(2)	eles	alegam	que	o	sangue	dos	mártires	é	proveitoso	somente	se	partilhado
para	o	bem	da	igreja,	para	ser	empregado	nas	reparações
(3)	nós	afirmamos	que	o	exemplo	dos	santos	acende	o	zelo	da	igreja
4.	Refutação	de	provas	escriturísticas	opostas
a.	Em	Colossenses	1.24,	seu	texto-prova,	Paulo	completa,	em	seu	próprio	corpo,
o	que	falta	dos	sofrimentos	de	Cristo
b.	esses	sofrimentos,	na	verdade,	não	se	referem	à	obra	da	redenção,	que	é
somente	de	Cristo,	mas	aos	sofrimentos	diários	da	igreja,	nos	quais	Cristo
participa	e	que	servem	para	a	edificação	da	igreja
c.	Agostinho:	expressa	essencialmente	a	mesma	interpretação	desse	versículo
5.	As	indulgências	contrariam	a	unidade	e	a	abrangência	da	ação	da	graça	de
Cristo
a.	quem	ensinou	o	papa	a	enclausurar	a	graça	de	Jesus	Cristo	em	papel	e
chumbo?
b.	ou	o	evangelho	de	Cristo	é	falso,	ou	as	indulgências	o	são
c.	origem	provável:	penitentes	sobre	os	quais	se	impôs	demandas	mais	severas
do	que	poderiam	suportar	buscaram	alívio	na	igreja
Refutação	da	doutrina	do	purgatório	por	meio	de	uma	exposição	da	passagem	escriturística	apresentada
para	defendê-la	[6-10]
6.	A	refutação	da	doutrina	do	purgatório	é	necessária
a.	algumas	pessoas	(e.g.,	Melâncton)	não	mencionam	o	purgatório	para	evitar
controvérsia	excessiva:	isso	é	errado,	pois	essa	doutrina	é	grosseiramente
antibíblica	e	não	se	pode	flertar	com	ela
b.	o	purgatório	é	uma	ficção	mortal	de	Satanás,	anula	a	cruz	de	Cristo,	inflige
desonra	insuportável	sobre	a	misericórdia	de	Deus	e	subverte	e	destrói	a	nossa	fé
c.	agora	que	nos	despojamos	da	doutrina	romanista	das	reparações,	a	própria	raiz
do	purgatório	foi	removida:	tudo	o	que	realmente	precisamos	dizer	agora	é	que
se	trata	de	uma	terrível	blasfêmia	contra	Cristo
7.	Supostas	provas	do	purgatório	a	partir	dos	Evangelhos
a.	Mateus	12.32;	Marcos	3.28s;	Lucas	12.10:	“O	pecado	contra	o	Espírito	Santo
não	deve	ser	perdoado,	nem	nesta	era,	nem	na	era	vindoura”
(1)	isso	sugere	que	alguns	pecados	devem	ser	perdoados	“na	era	vindoura”
(2)	resposta:	o	Senhor,	aqui,	está	falando	da	culpa	do	pecado
b.	Mateus	5.25-26:	“Faça	as	pazes	com	seu	adversário	[…]	caso	em	algum
momento	ele	te	entregue	ao	juiz,	e	o	juiz	ao	guarda,	e	o	guarda	à	prisão	[…]	de
onde	você	não	poderá	sair	atéque	tenha	pagado	o	último	centavo”
(1)	se	o	juiz	representa	Deus;	o	acusador,	Satanás;	o	guarda,	o	anjo;	então	a
prisão	representa	o	purgatório
(2)	na	verdade,	contudo,	Cristo	está	sugerindo	aqui	que	os	homens	devem	agir,
um	para	com	o	outro,	não	conforme	a	letra	da	lei	[summum	jus],	mas	conforme	a
equidade	[aequitas,	epiekeia];	portanto,	não	se	refere	ao	purgatório
8.	Provas	extraídas	de	Filipenses,	Apocalipse,	2Macabeus
a.	Filipenses	2.10:	os	joelhos	daqueles	no	céu,	na	terra	e	nas	regiões	inferiores	se
dobram	diante	de	Cristo
(1)	eles	alegam	que	“regiões	inferiores”	não	pode	se	referir	àqueles	eternamente
condenados;	deve	se	aplicar	às	almas	agonizando	no	purgatório
(2)	a	passagem	significa,	na	verdade,	que	o	domínio	sobre	tudo	foi	dado	a	Cristo,
e	“regiões	inferiores”	simplesmente	denota	os	demônios	que,	no	final,	serão
trazidos	perante	o	trono	do	juízo	de	Deus
b.	Apocalipse	5.13:	“Ouvi	toda	criatura	no	céu	e	na	terra,	e	debaixo	da	terra	e	no
mar”:	significa,	simplesmente,	que	todas	as	partes	do	mundo,	desde	o	pico	dos
céus	até	o	centro	da	terra,	declaram,	à	sua	maneira,	a	glória	de	seu	Criador
c.	2Macabeus	12:43:	Judas	Macabeu	enviou	uma	oferta	pelos	mortos	a
Jerusalém
(1)	Macabeus	é	um	livro	apócrifo	[Calvino	dirige	o	apoio	de	Agostinho	a	esse
livro	contra	seus	adversários,	citando	também	Jerônimo	contra	ele]
(2)	O	ato	de	Judas	não	foi	desprovido	de	superstição	e	teimosia,	mas	ele	o	fez
para	que	eles	pudessem	participar	da	vida	eterna	com	os	fiéis	remanescentes	que
morreram	pela	nação	e	religião	—	isso	nada	tem	a	ver	com	purgatório!
9.	A	passagem	crucial:	1Coríntios	3
a.	os	romanistas	a	interpretam	como	o	fogo	do	purgatório,	pelo	qual	a	imundície
dos	pecados	é	purificada	para	que	possamos	entrar	no	reino	de	Deus	como
homens	puros
b.	muitas	das	primeiras	autoridades,	entretanto,	interpretam	o	fogo	como
referente	à	tribulação	na	cruz,	pela	qual	o	Senhor	testa	os	seus	para	que	não
permaneçam	na	impureza	da	carne
c.	há,	porém,	uma	interpretação	mais	clara	e	verdadeira	do	que	essa
(1)	questão	preliminar:	todos	os	apóstolos	e	santos	devem	passar	por	esse
suposto	fogo	purgatorial?	Não,	respondem	eles.	Mas	Paulo	está	falando	de	todos
os	homens.
(2)	“madeira,	feno	ou	palha”	são	uma	metáfora	para	as	doutrinas	fantasiadas
pelos	cérebros	dos	homens,	que	são	testadas	pelo	fogo	do	Espírito	Santo,	e	as
obras	feitas	sobre	uma	tal	fundação	humana	são	extraviadas
10.	O	apelo	à	igreja	primitiva	não	pode	ajudar	os	romanistas
a.	contudo,	eles	afirmam:	tratava-se	de	uma	observância	muito	antiga	da	igreja;
Paulo	responde	que	devem	perder	sua	obra	todos	os	que	constroem	a	igreja	sobre
fundação	inapropriada
b.	eles	afirmam:	tratou-se	de	um	costume	por	1.300	anos;	resposta:	com	que
autoridade,	por	qual	revelação	da	Palavra	de	Deus?
(1)	o	luto	e	o	sepultamento	estão	ali;	mas	não	as	orações	pelos	mortos
(2)	autores	antigos	que	de	fato	empregaram	orações	pelos	mortos	perceberam
que	lhes	faltava	tanto	o	mandamento	de	Deus	quanto	exemplos	lícitos:	eles	o
praticaram	por	concessão	à	natureza	humana	—	portanto,	não	são	exemplos	a
serem	imitados
c.	ritos	para	os	mortos	e	ritos	anuais	para	a	purificação	de	suas	almas	eram
praticados	entre	todos	os	gentios
(1)	tais	ritos	foram	ditados	por	Satanás	para	iludir	os	mortais
(2)	não	obstante,	eles	serviram	para	lembrar	os	homens	de	que	a	morte	não	é
uma	destruição,	mas	uma	passagem	desta	vida	para	outra
(3)	a	Escritura,	nisso,	é	superior:	benditos	os	mortos	que	perecem	no	Senhor,
pois	desde	então	eles	têm	descanso	de	seu	trabalho	(Ap	14.13)
d.	exame	da	prática	da	igreja	antiga	(orações	pelos	mortos)
(1)	autores	antigos	o	permitiram	por	causa	do	costume	público	e	da	ignorância
geral
(2)	alguns	dos	pais	da	igreja,	incluindo	Agostinho,	foram	levados	ao	erro
(a)	Agostinho	estava	respeitosamente	realizando	o	pedido	de	sua	mãe	idosa,	não
provando-o	primeiramente	pela	Escritura
(b)	seu	livro,	The	care	to	be	taken	for	the	dead	[O	cuidado	a	ser	administrado	aos
mortos],	é	repleto	de	dúvidas	e	deveria	arrefecer	qualquer	zelo	tolo	da	parte	de
qualquer	um	que	queira	bancar	o	intercessor	dos	mortos
e.	a	verdadeira	regra	a	ser	seguida	é:	nós	não	devemos	incutir	nada	em	nossas
orações	que	não	tenha	correspondência	na	Palavra	de	Deus
f.	muito	embora	a	igreja	antiga	tenha	usado	orações	pelos	mortos,	eles	o	fizeram
de	forma	muito	diferente	dos	empregadores	modernos	do	purgatório:	os	antigos
estavam	preocupados	com	a	memória	dos	mortos	e	estavam,	claramente,	em
dúvida	quanto	à	condição	deles	—	um	mundo	de	diferença	das	fantasias	sobre	o
purgatório	dos	romanistas,	que	pregam	cuidado	pelos	mortos	e	o	pregam
superior	a	todas	as	obras	do	amor
g.	até	mesmo	os	pais	da	igreja	podem	ser	citados	contra	as	orações	pelos	mortos,
inclusive	Agostinho
h.	apresentou-se,	agora,	o	bastante	para	invalidar	o	purgatório;	por	que	perturbar
os	leitores	com	um	inventário	sem	fim	de	superstições	grosseiras?
A	VIDA	DO	CRISTÃO	[6-10]
CAPÍTULO	6
A	vida	do	cristão	e,	especialmente,	por	quais	argumentos	a	Escritura	nos	exorta	a	ela
1.	Proposta	do	tratado
a.	objeto	da	regeneração:	manifestar	na	vida	dos	fiéis	uma	harmonia	e
convergência	entre	a	justiça	de	Deus	e	sua	obediência,	confirmando,	assim,	sua
adoção	enquanto	filhos
b.	conquanto	a	lei	de	Deus	seja	capaz	de	renovar	nossa	imagem	perdida,	nossa
lentidão	é	tal	que	carecemos	de	ajuda:	por	isso	seleciona-se	da	Escritura,	aqui,
um	padrão	de	vida
c.	essa	coleção	de	passagens	da	Escritura	será	concisa	(eu	amo	a	concisão):	para
uma	investigação	mais	completa	sobre	as	virtudes	individuais,	veja	os	pais	da
igreja
d.	tanto	os	filósofos	quanto	a	Escritura	lidam	com	as	virtudes,	cada	um	com	sua
própria	norma	—	mas	os	filósofos,	com	afetação	pretensiosa	e	organização
explícita;	a	Escritura	(Espírito	Santo)	lida	sem	afetação	e	com	organização
implícita
2.	Motivações	para	a	vida	cristã
a.	dois	aspectos	principais	do	ensino	moral	da	Escritura
(1)	inculcar	o	amor	pela	justiça	em	nosso	coração
(2)	equipar-nos	com	uma	regra	para	mantermos	nosso	zelo	pela	justiça	no
caminho	apropriado
b.	a	Escritura	nos	chama	à	santidade;	não	a	nossa	própria	santidade,	mas	a
santidade	infusa	em	nós	quando	nos	apegamos	a	Deus
3.	A	vida	cristã	recebe	seu	principal	estímulo	para	a	obra	de	Deus	por	meio	da
pessoa	e	do	ato	redentor	de	Cristo
a.	enquanto	os	filósofos	simplesmente	nos	exortam	a	viver	de	acordo	com	a
“natureza”,	Deus	nos	deu	um	padrão	vivo	para	seguirmos	em	Jesus	Cristo,	que
também	é	nosso	Salvador
b.	fracassar	na	busca	pela	justiça	é	rebelar-se	tanto	contra	Deus,	nosso	Pai,
quanto	contra	Cristo,	nosso	Salvador
c.	a	Escritura	continuamente	nos	exorta	à	gratidão	a	Deus	pela	dádiva	de	Cristo	a
nós
d.	o	fundamento	escriturístico	da	vida	é	muito	mais	rico	do	que	os	elogios	dos
filósofos	da	mera	dignidade	natural	do	homem
4.	A	vida	cristã	não	é	uma	questão	de	língua,	mas	do	coração	interior
a.	alguns	se	vangloriam	do	nome	“cristão”,	mas	não	são	tocados	pelo	evangelho
b.	primeiro	se	lida	com	a	doutrina,	mas	ela	deve	adentrar	nossas	vidas
c.	até	o	filósofo	rejeita	aqueles	que	apenas	alardeiam	sobre	a	pureza	de	vida:	por
que	não	deveríamos,	todos	nós,	sermos	movidos	mais	pelo	evangelho	do	que
pelas	frias	exortações	dos	filósofos?
5.	Imperfeição	e	empenho	da	vida	cristã
a.	a	perfeição	é	nosso	objetivo,	mas	a	imperfeição	é	nossa	porção	na	terra;
portanto,	não	exclua	ninguém	da	igreja	só	porque	ele	ainda	não	foi	alcançado
b.	a	integridade	é	nosso	objetivo:	simplicidade	sincera	da	mente,	livre	da	astúcia
e	do	fingimento:	o	oposto	de	um	“coração	duplo”
c.	estamos	todos	embaraçados,	em	diversos	graus;	portanto,	devemos	progredir
na	vida	cristã	em	ritmos	variáveis
CAPÍTULO	7
A	síntese	da	vida	cristã:	a	renúncia	de	nós	mesmos
A	filosofia	cristã	do	ascetismo	e	da	autonegação;	nós	não	somos	nossos,	somos	de	Deus	[1-3]
1.	Não	somos	nossos	próprios	mestres,	antes,	pertencemos	a	Deus
a.	o	homem	habilitado	a	seguir	a	Cristo	(o	melhor	projeto	de	vida)	por	um	plano
mais	explícito	do	que	aquele	oferecido	na	lei
(1)	princípio:	“apresentar	seus	corposa	Deus	como	sacrifício	vivo,	santo	e
agradável	a	ele”
(2)	exortação	básica:	“não	sejam	conformados	ao	modo	deste	mundo,	mas
transformados	pela	renovação	da	mente”
b.	não	somos	de	nós	mesmos,	mas	do	Senhor
(1)	esquecer	de	nós	mesmos
(2)	viver	e	morrer	para	Deus
c.	o	primeiro	passo	na	vida	cristã:	renúncia	de	si	para	obediência	total	a	Deus	—
a	síntese	da	filosofia	cristã
2.	Autonegação	por	meio	da	devoção	a	Deus
a.	o	segundo	passo:	buscar	a	vontade	do	Senhor,	não	a	nossa
(1)	a	Escritura,	ao	ordenar	a	autonegação,	sublima	o	desejo	por	poder,	glória	etc.
(2)	ao	longo	da	vida,	o	cristão	presta	contas	a	Deus
b.	o	lugar	crucial	da	autonegação
(1)	quando	negamos	a	nós	mesmos,	não	deixamos	espaço	para	vícios	humanos
resultantes	do	amor-próprio
(2)	quando	falhamos	em	negarmos	a	nós	mesmos,	esses	vícios	se	enfurecem	em
nós
(3)	elogios	orgulhosos	da	virtude	pelos	filósofos	contrastam	com	a	preferência
de	Cristo	por	prostitutas	e	publicanos	contra	a	espiritualidade	orgulhosa
3.	Autorrenúncia	segundo	Tito	2
a.	oferta	da	graça	de	Deus
b.	remoção	de	dois	obstáculos	a	ela
(1)	impiedade
(2)	desejos	mundanos
c.	todas	as	ações	da	vida	são	limitadas	a	três	partes	que,	conjugadas,	denotam
perfeição:
(1)	sobriedade
(2)	justiça
(3)	santidade
d.	mas,	apesar	de	nossos	esforços	para	nos	devotarmos	a	Deus	e	nossos	irmãos,
julgamo-lo	difícil:	por	isso,	Paulo	nos	lembra	de	nossa	esperança	imortal
O	princípio	da	autonegação	em	nossos	companheiros	[4-7]
4.	A	autonegação	nos	dá	a	atitude	correta	para	com	os	nossos	companheiros
a.	o	amor-próprio	é	o	maior	impedimento	para	a	justiça
b.	origem	do	orgulho	próprio,	da	inveja	e	do	ressentimento	para	com	os	outros
c.	o	único	remédio:	extirpar	o	amor	pela	contenda	e	por	si	próprio,	como	o
ensino	escriturístico	nos	ordena;	lembrar	que	todos	os	nossos	dons	provêm	de
Deus	e	reconhecer	isso	em	humilde	gratidão
d.	um	chamado	à	humildade	para	consigo	e	reverência	para	com	os	outros
5.	Autorrenúncia	leva	à	prestatividade	adequada	para	com	os	nossos	próximos
a.	as	“obras	do	amor”	só	podem	ser	cumpridas	se	nós	“sairmos	de	nós	mesmos”
e	partilharmos	nossos	bens	com	os	outros
b.	a	igreja	enquanto	corpo	com	muitos	membros:	a	mordomia	dos	nossos	dons
concedidos	por	Deus	é	testada	pela	regra	do	amor
6.	Amor	pelo	próximo	não	depende	dos	hábitos	dos	homens,	mas	tem	Deus	em
vista
a.	nós	devemos	amar	nossos	iguais	não	por	seus	próprios	méritos,	mas	porque
eles	carregam	em	si	mesmos	a	imagem	de	Deus
b.	nesse	amor	por	aqueles	que	nos	odeiam,	devemos	ir	contra	a	natureza	humana
7.	A	obra	exterior	do	amor	não	é	suficiente,	é	a	sua	intenção	que	conta!
a.	o	que	conta	não	é	o	cumprimento	completo	dos	deveres	externos,	mas	a
sinceridade	interna	ao	cumpri-los
b.	hoje,	esmolas	são	frequentemente	oferecidas	desdenhosamente	—	uma	atitude
que	nem	mesmo	os	pagãos	toleravam
c.	a	verdadeira	filantropia	não	tem	outro	limite,	senão	os	recursos	de	seu	doador
O	princípio	da	autonegação	em	nossa	relação	com	Deus	[8-10]
8.	Autonegação	para	com	Deus:	devoção	à	sua	vontade!
a.	uma	anatomia	da	ambição	humana:	nós	buscamos	riqueza	e	poder
freneticamente,	e	tememos	e	odiamos	a	pobreza	e	a	condição	simples
b.	contra	essa	tendência	“natural”,	deve-se	colocar	o	desejo	e	a	esperança	da
bênção	do	Senhor
9.	Confiança	somente	na	bênção	de	Deus
a.	se	acreditarmos	que	todo	o	nosso	bem	reside	na	bênção	de	Deus,	nós	iremos
parar	de	buscar	a	riqueza	e	o	poder	mundanos
b.	tenha	em	mente	que	a	bênção	de	Deus	não	virá	sobre	aqueles	que	usam	da
fraude,	do	roubo	e	da	impiedade
c.	pensando	assim,	nós	daremos	crédito	a	Deus,	como	Davi,	por	qualquer	bem
que	nos	sobrevenha
10.	A	autonegação	nos	ajuda	a	suportar	a	adversidade
a.	autonegação:	total	renúncia	de	toda	parte	da	sua	vida	à	vontade	de	Deus
b.	essa	atitude	deve	prevalecer	sobre	toda	aflição	a	que	nossas	vidas	estão
sujeitas
c.	manter	nossa	confiança	de	que	Deus	sempre	nos	dará,	em	toda	adversidade,	a
força	e	o	apoio	necessários
d.	não	atribua	tudo	isso	à	sorte,	como	os	pagãos:	Deus	é	o	único	juiz	e
governante	de	tudo	o	que	acontece
CAPÍTULO	8
Carregar	a	cruz,	uma	parte	da	autonegação
Devemos,	como	seguidores	de	Cristo,	carregar	nossa	cruz	[1-2]
1.	A	cruz	de	Cristo	e	a	nossa
a.	a	vontade	de	Deus	é	que	seus	filhos	adotivos	levem	uma	vida	difícil	e
inquieta,	assim	como	a	do	próprio	Cristo
b.	em	nossos	sofrimentos,	partilhamos	dos	de	Cristo,	e	seguimo-lo	da	terra	até	o
céu
c.	portanto,	nossos	próprios	sofrimentos	são	abençoados	e	portadores	da
salvação
2.	A	cruz	nos	conduz	à	perfeita	confiança	no	poder	de	Deus
a.	enquanto	Cristo	sofreu	aflições	apenas	para	mostrar	sua	obediência	ao	Pai,	há
muitos	motivos	pelos	quais	nós	somos	afligidos
b.	o	método	de	Deus	na	aflição
(1)	ele	aflige
(2)	nós	sucumbimos
(3)	nós	aprendemos	a	clamar	pelo	seu	poder
(4)	contudo,	mesmo	depois	de	tomarmos	consciência	da	graça	de	Deus,
tendemos	a	recair	na	autocomplacência	(como	o	fez	Davi),	e	então	novas
aflições	sobrevêm
c.	na	prosperidade,	confiança;	abalados	pela	adversidade,	nós,	então,	nos
entregamos	à	graça	de	Deus
Isso	é	necessário	para	nos	ensinar	paciência	e	obediência	[3-6]
3.	A	cruz	nos	permite	vivenciar	a	fidelidade	de	Deus	e	nos	dá	esperança	para	o
futuro
a.	ela	é	a	fonte	de	todas	as	nossas	bênçãos,	como	Paulo	ensina
b.	como	a	cruz	fortalece	a	esperança
(1)	nosso	amor	cego	é	purificado
(2)	nós	sentimos	nossa	incapacidade
(3)	desconfiamos	de	nós	mesmos
(4)	confiamos	em	Deus
(5)	perseveramos	até	o	fim
(6)	repousamos	em	sua	graça	e	compreendemos	sua	promessa
(7)	nossa	esperança	é	fortalecida
4.	A	cruz	nos	exercita	na	paciência	e	obediência
a.	Deus	já	conferiu,	é	claro,	sua	bênção	sobre	os	santos;	mas	em	suas	vidas	ele
prova	e	exercita	sua	obediência	para	que	ela	possa	se	manifestar	e	se	tornar	ativa
e	visível	para	eles
b.	a	cruz	também	os	ensina	a	não	viver	de	acordo	com	seus	próprios	caprichos,
mas	de	acordo	com	a	vontade	de	Deus
5.	A	cruz	enquanto	remédio
a.	como	cavalos	engordados	e	ociosos	por	diversos	dias,	nós,	autocomplacentes,
tentamos	lançar	fora	o	jugo	de	Deus
b.	contra	essa	tendência	a	recair	na	autocomplacência,	a	cruz	é	nosso	freio	e
remédio
c.	Deus,	enquanto	médico,	trata	cada	homem	de	acordo	com	suas	enfermidades
6.	A	cruz	como	um	castigo	paterno
a.	a	aflição	atual	também	deve	nos	lembrar	das	transgressões	passadas	e	corrigi-
las
b.	mas	deve,	principalmente,	promover	nossa	salvação,	pela	qual	devemos	ser
gratos
c.	propósito	distinto	na	aflição	para	crentes	e	descrentes:	toda	cruz	nos	comprova
o	inabalável	amor	de	Deus:	siga	a	Deus!	(cf.	Cícero	e	Sêneca)
Carregando	a	cruz	na	perseguição	e	outras	calamidades	[7-8]
7.	Sofrendo	em	favor	da	justiça
a.	sofrer	perseguição	pela	justiça,	seja	ela	vivenciada	na	proclamação	da	verdade
de	Deus	ou	na	proteção	do	inocente,	é	um	conforto
b.	todos	os	males,	até	mesmo	a	própria	morte,	se	tornam	felicidade	para	nós
quando	Deus	nos	favorece
8.	Sofrendo	sob	a	cruz,	o	cristão	encontra	consolo	em	Deus
a.	nós	devemos	atravessar,	com	contentamento,	as	aflições	pela	mão	do	Senhor
b.	nossa	alegria,	porém,	será	sempre	temperada	pela	dor	—	como	alguém
indiferente	poderia	realmente	se	beneficiar	de	tal	tribulação?
O	cristão	enfrenta	o	sofrimento	como	se	enviado	por	Deus,	e	não	com	insensibilidade	estoica	[9-11]
9.	O	cristão,	diferentemente	do	estoico,	dá	vazão	à	sua	dor	e	sofrimento
a.	a	longanimidade	cristã	não	é	nenhuma	apatheia	estoica
b.	a	própria	experiência	de	dor	e	sofrimento	de	Cristo	invalida	os	“novos
estoicos”	cristãos	que	ensinam	doutrinas	como	a	da	insensibilidade
10.	Sofrimento	real	e	paciência	real	em	conflito	mútuo
a.	a	realidade	da	“dupla	vontade”	nos	santos:	divididos	entre	os	sentimentos
naturais	e	a	disposição	para	a	santidade
b.	nós	sentimos	as	emoções	da	nossa	natureza,	mas	não	deixamos	que	elas	nos
afogue
c.	para	além	de	todo	sofrimento,	tenha	bom	ânimo	na	convicção	de	que	tudo	foi
desejado	por	Deus,	para	que	o	sigamos
11.	A	paciência	segundo	o	entendimento	filosófico	e	cristão
a.	os	filósofos	dizem:	obedeçam	a	Deus	porque	é	precisob.	a	Escritura	nos	faz	ver	na	vontade	de	Deus
(1)	justiça	e	equidade
(2)	preocupação	com	a	nossa	salvação
c.	nosso	consolo	está	na	confiança	de	que	a	nossa	cruz	existe	para	a	nossa
salvação
d.	nossa	amargura	ao	carregar	a	cruz	deve	ser	temperada	com	alegria	espiritual	e,
por	isso,	ação	de	graças	e	louvor	ao	Senhor
CAPÍTULO	9
Meditação	sobre	a	vida	futura
Por	nossas	tribulações,	Deus	nos	demove	do	amor	excessivo	pela	vida	presente	[1-2]
1.	A	vaidade	desta	vida
a.	Deus,	conhecendo	nossas	propensões,	emprega	os	melhores	meios	para	nos
levar	do	amor	pelo	mundo	presente	ao	desprezo	por	ele
b.	nossa	aspiração	pela	imortalidade	celeste	é	o	que	nos	separa	dos	animais
c.	contudo,	nossa	natureza	constantemente	nos	puxa	de	volta	para	chafurdar	na
vida	presente
d.	para	combater	essa	tendência	em	nós,	Deus	administra	aflições	apropriadas
para	o	defeito	particular	de	cada	homem
e.	a	disciplina	da	cruz	nos	ensina	que
(1)	esta	vida,	em	si,	é	vã	e	corrompida	por	muitos	males
(2)	nós	devemos,	inversamente,	erguer	nossos	olhos	para	o	céu
2.	Nossa	tendência	de	não	perceber	a	vaidade	desta	vida
a.	não	há	meio-termo	entre	a	rejeição	e	a	aceitação	do	mundo
b.	agimos	como	se,	para	nós,	a	vida	presente	fosse	durar	para	sempre
c.	por	isso,	precisamos	de	fortes	e	constantes	lembretes	de	como	a	vida
realmente	é
Uma	consideração	correta	da	vida	presente,	que	é	passageira	e	insatisfatória,	nos	conduz	a	meditar	na
vida	futura	[3-6]
3.	Gratidão	pela	vida	terrena!
a.	desprezo	pela	vida	presente	não	significa	ingratidão	para	com	Deus
b.	os	benefícios	terrenos	diários	são	um	prelúdio	à	glória	eterna
c.	tanto	o	testemunho	da	Escritura	quanto	o	da	própria	natureza	nos	exortam	a
agradecer	ao	Senhor	por	esses	benefícios
d.	esses	benefícios	são	uma	preparação,	um	antergozo	da	vida	futura
4.	O	anseio	correto	pela	vida	eterna
a.	homens	sem	a	luz	da	verdadeira	religião	foram	sábios	em	desejar	não	terem
nascido,	ou	em	alegrar-se	nos	funerais	e	lamentar	nos	aniversários
b.	em	comparação	com	a	vida	celeste,	a	vida	presente	deve	ser	desprezada;
contudo,	não	devemos	desprezar	a	vida	em	si,	mas	tratá-la	como	uma	sentinela
montando	guarda,	pois	cabe	a	Deus	determinar	quando	partiremos	desta	vida
5.	Contra	o	medo	da	morte!
a.	a	natureza	nos	impele	a	temer	a	morte,	mas	a	piedade	cristã	nos	lembra	de	que
a	incorruptibilidade	futura	suplanta	esse	medo	e	nos	conforta
b.	todas	as	coisas	vivas	almejam,	por	natureza,	continuar	sua	existência	aqui,
mas	também	anseiam	pela	ressurreição	final;	os	homens,	dotados	de
entendimento	e	iluminados	pelo	Espírito,	deveriam	fazê-lo	especialmente
c.	aqui,	nada	mais	a	tratar	sobre	isso:	deixemos	aqueles	que	desejam	maiores
discussões	perguntarem	aos	filósofos	sobre	o	desprezo	da	morte
d.	quanto	mais	alegremente	aguardamos	o	dia	da	morte,	maior	progresso	teremos
feito	na	escola	de	Cristo
6.	O	conforto	preparado	para	os	fiéis	pela	aspiração	à	vida	futura
a.	nossa	atual	felicidade	deve	consistir	na	nossa	contemplação	intencional	do	céu
(para	além	da	angústia	presente)
b.	assim	podemos,	sem	dificuldade,	suportar	a	prosperidade	terrena	dos	ímpios,
conhecendo	seu	destino	final
c.	in	fine,	contemplando	sobre	o	poder	da	ressurreição,	vivenciaremos	em	nosso
coração	o	triunfo	final	da	cruz	de	Cristo	sobre	toda	impiedade
CAPÍTULO	10
Como	devemos	desfrutar	da	vida	presente	e	de	seus	recursos
A	coisas	boas	desta	vida	devem	ser	usufruídas	como	presentes	de	Deus	[1-2]
1.	Perigo	duplo:	austeridade	e	frouxidão	equivocadas
a.	na	peregrinação	por	esta	vida,	devemos	usar	nossos	recursos	concedidos	por
Deus	—	seja	por	necessidade	ou	para	deleite	—	para	nos	auxiliar	em	nossa
jornada
b.	dois	erros	extremos	a	serem	evitados
(1)	orientar	sua	vida	por	necessidade	austera,	abstendo-se	de	tudo	o	que	se	possa
viver	sem
(2)	usar	das	coisas	desta	vida	sem	qualquer	restrição	que	seja	sobre	a	consciência
c.	ambos	os	extremos	devem	ser	combatidos	pela	moderação	do	ensino	da
Escritura
2.	O	princípio	primordial
a.	Deus	criou	bens	terrenos	para	o	nosso	proveito,	não	para	a	nossa	ruína:
usemos	deles	dessa	forma,	portanto
b.	um	duplo	propósito	—	deleite	e	necessidade	—	observado:
(1)	no	ensino	da	Escritura
(2)	nas	qualidades	naturais	das	próprias	coisas:	beleza,	sabor,	gosto	etc.
Não	devemos	usar	essas	bênçãos	complacentemente,	ou	buscar	a	riqueza	gananciosamente,	mas	servir
fielmente	ao	nosso	chamado	[3-6]
3.	Um	olhar	ao	doador	dos	bens	previne	o	desregramento	e	a	mesquinhez
a.	contra	o	estoicismo	e	sua	ênfase	no	uso	necessário	em	detrimento	do	deleite
lícito
b.	mas	também	contra	a	liberalidade	da	luxúria,	que	nos	faz	igualmente
incapazes	de	agradecer	a	Deus
c.	comida	excessiva,	roupa	elegante	e	toda	ostentação	de	vida	afasta	nossa	mente
de	Deus
4.	A	aspiração	à	vida	eterna	também	alinha	nossa	conduta	de	vida	exterior
a.	o	desprezo	pela	vida	presente	e	a	reflexão	na	vida	futura	é	o	princípio	básico
b.	isso	nos	leva	a	duas	regras	para	a	conduta	da	vida:
(1)	desfrutar	deste	mundo	como	se	não	se	desfrutasse	dele
(2)	suportar	pacientemente	a	pobreza	e	tolerar	moderadamente	a	abundância
c.	a	primeira	regra	significa:	evitar	o	deleite	excessivo,	cortando	a	riqueza
supérflua	e	a	licenciosidade
5.	Frugalidade:	bens	materiais	consignados
a.	a	segunda	regra:	moderação	tanto	na	pobreza	quanto	na	prosperidade
b.	uma	terceira	regra:	todos	os	bens	são	nossos	pela	bondade	de	Deus,	confiados
a	nós	para	nosso	benefício;	uma	exposição	deles	será	oferecida	no	final
6.	O	chamado	do	Senhor:	fundamento	para	nosso	modo	de	vida
a.	como	uma	sentinela	estabelecida	em	seu	posto	por	seu	comandante,	cada
homem	tem	um	chamado	estabelecido	para	ele	pelo	Senhor
(1)	isso	é	para	conter	a	inconstância	e	a	ambição	vaidosa	do	homem,	e	para	dar
direção	e	propósito	para	a	sua	vida
(2)	por	exemplo,	um	cidadão	privado	não	pode	tomar	uma	ação	de	remover	um
tirano;	somente	um	homem	público,	chamado	para	a	vida	política,	pode	fazê-lo
b.	como	a	prática	do	chamado	de	alguém	é	o	próprio	fundamento	do	fazer	o	bem
em	nossa	vida	diária:
(1)	Deus	rejeita	até	mesmo	os	bons	esforços	aparentes	que	realizamos	fora	da
designação	do	nosso	chamado
(2)	devemos	ficar	onde	Deus	nos	colocou,	seguindo	a	orientação	divina,	em
nossa	miséria	e	dificuldade,	extraindo	nosso	consolo	do	fato	de	que	o	próprio
Deus	colocou	esses	fardos	sobre	nós	e	que	nenhuma	tarefa,	por	mais	servil	que
seja,	deixa	de	ser	preciosa	aos	olhos	dele
CAPÍTULO	11
Justificação	pela	fé:	primeiro,	a	definição	da	palavra	e	da	essência
Justificação	e	regeneração:	definição	dos	termos	[1-4]
1.	Lugar	e	significado	da	doutrina	da	“justificação”
a.	síntese	do	material	já	apresentado	sobre	a	fé	e	seus	benefícios:
(1)	fé	é	aquilo	que	nos	habilita	a	abraçarmos	e	nos	apropriarmos	de	Cristo
(2)	o	benefício	dessa	fé	é	duplo
(a)	sendo	reconciliados	a	Deus	por	meio	da	inocência	de	Cristo,	podemos	ter	no
céu,	em	vez	de	um	juiz,	um	Pai	gracioso
(b)	santificados	pelo	espírito	de	Cristo,	podemos	cultivar	a	inocência	e	a	pureza
de	vida
b.	a	importância	da	justificação
2.	O	conceito	de	justificação
a.	diz-se	justificado	aos	olhos	de	Deus	aquele	que	é	tanto	reconhecido	justo	pelo
julgamento	de	Deus	quanto	aceito	por	causa	de	sua	justiça
b.	comparação	entre	justificação	por	obras	e	pela	fé
(1)	diz-se	justificado	pelas	obras	aquele	em	cuja	vida	se	encontra	tal	pureza	e
santidade	que	mereça	o	testemunho	da	justiça	perante	o	trono	de	Deus
(2)	diz-se	justificado	pela	fé	aquele	que,	excluído	da	justiça	das	obras,	abraça	a
justiça	de	Cristo	por	meio	da	fé	e,	revestido	dela,	aparece	à	vista	de	Deus	não
como	um	pecador,	mas	como	um	homem	justo
3.	Uso	escriturístico
a.	diferença	ao	aplicar	o	termo	a	Deus	e	ao	homem
(1)	aplicado	a	Deus,	“justificar”	significa	simplesmente	oferecer	a	Deus	e	ao	seu
ensino	o	louvor	que	merecem
(2)	aplicado	ao	homem,	“justificar”	não	quer	dizer	nada	além	de	absolver	a	culpa
daquele	que	foi	acusado,	como	se	sua	inocência	fosse	confirmada
b.	como	Deus	nos	justifica	pela	intercessão	de	Cristo,	ele	não	nos	absolve	pela
confirmação	da	nossa	inocência,mas	pela	imputação	da	justiça,	de	forma	que
nós,	que	não	somos	justos	em	nós	mesmos,	possamos	ser	reconhecidos	como	tal
em	Cristo
c.	justificação	é,	na	verdade,	uma	interpretação	do	perdão
4.	Justificação	como	aceitação	graciosa	por	Deus	e	perdão	de	pecados
a.	justificação	enquanto	“aceitação”
b.	justificação	enquanto	“imputação	da	justiça”,	em	que	justiça	significa	o
oposto	da	culpa
c.	justificação	enquanto	reconciliação
Refutação	da	doutrina	da	“justiça	essencial”	de	Osiander	[5-12]
5.	A	doutrina	da	justiça	essencial	de	Osiander
a.	todo	o	problema	nasce	porque	Osiander	não	entende	que	o	vínculo	da	nossa
união	com	Cristo	é	o	poder	secreto	do	seu	Espírito
b.	Osiander	não	está	satisfeito	com	a	justiça	que	nos	foi	adquirida	pela
obediência	de	Cristo	e	morte	sacrificial,	mas	alega	que	somos	substancialmente
justos	em	Deus	pela	infusão	tanto	de	sua	essência	quando	de	sua	qualidade
6.	Osiander	mistura,	erroneamente,	perdão	de	pecados	com	novo	nascimento
a.	a	alegação	de	Osiander:	Deus	justifica	não	somente	ao	perdoar,	mas	ao
regenerar;	isto	é,	ele	não	deixa	aqueles	que	justifica	como	estavam	por	natureza,
antes,	transforma	seus	vícios
b.	resposta:	de	fato,	justiça	e	santificação	são	inseparáveis,	mas	a	própria	razão
nos	proíbe	de	transferir	as	qualidades	singulares	de	uma	para	a	outra,	como	na
analogia	da	luz	e	do	calor	do	sol
7.	O	significado	da	fé	para	a	justificação
a.	a	objeção	de	Osiander:	algo	além	da	fé	é	necessário	para	produzir	a
justificação,	nomeadamente,	a	transmissão	da	justiça	essencial	de	Deus,	em	vez
de	Cristo	somente
b.	resposta:	de	fato,	a	fé	somente	não	pode	justificar,	pois	ela	é	sempre	fraca	e
imperfeita
c.	propriamente	falando,	somente	Deus	justifica;	então	nós	transferimos	essa
mesma	função	para	Cristo	porque	ele	nos	foi	dado	para	justiça
8.	A	doutrina	de	Osiander	de	que	Cristo	é,	segundo	sua	natureza	divina,	nossa
justiça
a.	a	opinião	de	Osiander	é	que,	como	Cristo	é	Deus	e	homem,	ele	se	fez	justiça
por	nós	no	tocante	à	sua	natureza	divina,	não	à	sua	natureza	humana
b.	resposta:	se	nossa	justiça	se	encontra	na	divindade	de	Cristo,	e	se	não
recebemos	esse	dom	particularmente	de	Cristo;	então,	em	que	sentido	seria
coerente	dizer	que	ele	foi	“foi	feito	para	nós”?
c.	refutação	baseada	em	Jeremias	51.10
9.	Justificação	como	obra	do	Mediador
a.	objeção	de	Osiander:	a	obra	da	justificação	pode	ser	atribuída	somente	à
natureza	divina
b.	resposta:	Cristo	cumpriu	o	ofício	de	sacerdote	segundo	sua	natureza	humana;
em	seu	corpo,	a	justiça	de	Cristo	nos	foi	manifesta
c.	somos	justificados	em	Cristo,	na	medida	em	que	ele	foi	feito	sacrifício
expiatório	por	nós:	algo	que	não	é	compatível	com	sua	natureza	divina
10.	Qual	é	a	natureza	da	nossa	união	com	Cristo?
a.	somos	desprovidos	desse	bem	totalmente	inefável	até	que	Cristo	nos	faça	seu
b.	a	junção	do	Cabeça	e	dos	membros	é	uma	união	mística;	um	vínculo	espiritual
c.	a	doutrina	de	Osiander	da	justiça	essencial	e	habitação	essencial	tem	um
resultado	duplo:
(1)	Osiander	defende	que	Deus	derrama	a	si	mesmo	em	nós	como	uma	mistura
grosseira,	da	mesma	forma	como	imagina	um	alimentar	físico	na	ceia	do	Senhor
(2)	Deus	inspira	sua	justiça	sobre	nós,	pela	qual	nós	podemos	ser
verdadeiramente	justos	com	ele,	já	que,	de	acordo	com	Osiander,	essa	justiça	é
tanto	Deus	em	si	quanto	a	bondade,	santidade	ou	integridade	de	Deus
11.	A	doutrina	de	Osiander	da	justiça	essencial	anula	a	certeza	da	salvação
a.	o	ensino	de	Osiander	de	que	nós	somos	justos	junto	a	Deus	tenta	nos	fazer
flutuar	sobre	as	nuvens,	evitando	assim	nosso	apelo	a	Deus	com	coração
tranquilo
b.	objeções	de	Osiander
(1)	“ser	justificado”	não	é	um	termo	jurídico
(2)	não	somos	justificados	por	imputação	gratuita
c.	resposta
(1)	a	antítese	entre	o	perdão	e	a	acusação	claramente	mostra	que	a	expressão	foi
extraída	do	emprego	jurídico
(2)	o	perdão	de	pecados	não	é	um	dom	parcial;	ele	é	completo	e	inclui	a
totalidade	da	justiça	na	remissão	gratuita
d.	a	objeção	de	Osiander:	seria	um	insulto	a	Deus	e	contrário	à	sua	natureza	que
ele	justificasse	aqueles	que,	na	verdade,	permaneceriam	ímpios
e.	resposta:	justificação	e	regeneração	devem	ser	mantidas	distintas	porque
vestígios	de	pecado	sempre	permanecem	nos	justos;	portanto,	a	justificação	não
deve	ser	assegurada	em	partes,	mas	amplamente,	enquanto	a	regeneração	é	um
processo	gradual	de	reforma	para	a	novidade	de	vida
12.	Refutação	de	Osiander
a.	a	objeção	de	Osiander:	Cristo	se	fez	sabedoria	para	nós,	mas	isso	se	aplica
somente	à	Palavra	eterna;	portanto	Cristo,	o	homem,	não	é	justiça
b.	resposta:	o	Filho	unigênito	de	Deus	foi,	de	fato,	sua	eterna	sabedoria,	mas	o
que	Paulo	diz	aqui	não	se	aplica	à	essência	do	Filho	de	Deus,	mas	ao	nosso	uso,
e	se	encaixa	perfeitamente	na	natureza	humana	de	Cristo
c.	outros	argumentos	de	Osiander	de	que	nossa	justiça	é	derivada	da	natureza
divina	de	Cristo
d.	resposta:	não	deve	ser	negado	que	a	justiça	que	Cristo	nos	outorga	é	a	justiça
de	Deus,	e	que	procede	dele;	entretanto,	há	justiça	e	vida	para	nós	na	morte	e
ressurreição	de	Cristo
e.	enquanto	a	justiça	é	definida	por	Osiander	como	aquilo	pelo	que	nós	somos
movidos	a	agir	corretamente,	e	que	isso	é	ação	de	Deus	somente,	deve-se
observar	se	ele	faz	isso	por	si	mesmo	e	diretamente	ou	se	por	meio	da	mão	de
seu	Filho
f.	em	suma,	qualquer	um	que	embaralhe	as	duas	formas	de	justiça	para	que	as
almas	miseráveis	não	possam	descansar	plenamente	na	simples	misericórdia	de
Deus,	coroa	a	Cristo	em	zombaria	com	uma	coroa	de	espinhos
Refutação	das	doutrinas	escolásticas	das	boas	obras	como	eficazes	para	a	justificação	[13-20]
13.	Justificação	por	meio	da	fé	e	Justificação	por	meio	das	obras
a.	a	justiça	da	fé	difere	de	tal	forma	da	justiça	das	obras	que	quando	se	afirma
uma,	a	outra	deve	ser	descartada
b.	um	homem	que	deseja	obter	a	justiça	de	Cristo	deve	abandonar	a	sua	própria
justiça
c.	é	necessário	que	não	haja	ocasião	para	a	nossa	própria	vanglória,	que
resultaria	em	sugerir	uma	justiça	das	obras
14.	Da	mesma	forma,	as	obras	dos	regenerados	não	podem	obter	justificação
a.	os	sofistas	se	esquivam	da	questão	quando	tentam	explicar	“obras”	denotando
aquilo	que	os	homens	ainda	não	regenerados	só	realizam	segundo	a	lei	por	meio
do	esforço	de	seu	próprio	livre-arbítrio,	independente	da	graça	de	Cristo
b.	resposta:	eles	não	percebem	que,	no	contraste	entre	a	justiça	da	lei	e	do
evangelho,	todas	as	obras	são	excluídas,	independentemente	do	nome	que
recebem
15.	A	doutrina	romana	da	graça	e	as	boas	obras
a.	confessamos,	em	coro	com	Paulo,	que	os	cumpridores	da	lei	são	justificados
perante	Deus;	mas,	porque	estamos	longe	de	cumprir	a	lei,	inferimos	disso	que
as	obras	que	devem	contar	especialmente	para	a	retidão	não	nos	ajudam	em
nada,	uma	vez	que	somos	destituídos	delas
b.	a	definição	de	fé	e	graça	dos	escolásticos:
(1)	fé:	uma	firmeza	de	consciência	no	esperar,	da	parte	de	Deus,	a	recompensa
por	seus	méritos
(2)	graça:	o	Espírito	auxiliando	na	busca	por	santidade
c.	explicação	de	Lombardo	da	forma	dupla	em	que	a	justificação	nos	é
concedida:
(1)	a	morte	de	Cristo	nos	justifica,	enquanto	o	amor	surge	por	meio	dela	em
nosso	coração	e	nos	torna	justos
(2)	por	meio	desse	mesmo	amor,	o	pecado	pelo	qual	o	Diabo	nos	mantinha
cativos	é	extinto,	de	forma	que	ele	não	mais	tem	os	meios	para	nos	condenar
d.	a	graça	nunca	deve,	como	em	Agostinho,	ser	subsumida	pela	santificação
16.	Nossa	justificação	de	acordo	com	o	julgamento	da	Escritura
a.	o	entendimento	escriturístico	da	justiça	da	fé	significa	abandonar	nossas
próprias	obras	e	considerar	exclusivamente	a	misericórdia	de	Deus
b.	a	ordem	da	justificação:
(1)	Deus	abraça	o	pecador	em	sua	condição	miserável
(2)	o	pecador	é	tocado	por	uma	percepção	da	bondade	de	Deus;	desesperando-se,
assim,	de	suas	próprias	obras,	ele	firma	sua	salvação	na	misericórdia	de	Deus
c.	a	ordem	pode	diferir,	mas	o	conteúdo	permanece	o	mesmo
17.	A	justiça	da	fé	e	a	justiça	da	lei,	segundo	Paulo
a.	a	fé	justifica	porque	recebe	e	abraça	a	justiça	oferecida	no	evangelho
b.	enquantoa	lei	atribui	a	justiça	às	obras,	o	evangelho	concede	livremente	a
justiça	à	parte	do	auxílio	das	obras
c.	esse	ensino	é	ilustrado	por	Romanos	10	e	Gálatas	3.18
18.	Justificação:	não	o	salário	das	obras,	mas	um	dom	gratuito
a.	o	argumento	de	Gálatas	3	ampliado
b.	não	é	necessário	que	alguém	se	esforce	pela	justificação	debaixo	da	lei	se,	por
meio	da	fé,	recebe-se	a	justificação	que	o	evangelho	livremente	concede
c.	o	exemplo	paulino	de	Abraão
19.	Por	meio	da	“fé	somente”
a.	os	sofistas	não	aceitam	a	palavra	“somente”,	alegando	que	as	obras
cerimoniais	da	lei	estão	extintas,	mas	não	as	obras	morais
b.	resposta:	quando	a	capacidade	de	justificar	é	vetada	à	lei,	essas	palavras	se
referem	ao	conjunto	da	lei
20.	“Obras	da	lei”
a.	embora	as	obras	sejam	altamente	valorizadas,	elas	derivam	seu	valor	da
aprovação	de	Deus,	não	de	sua	própria	dignidade
b.	as	obras	têm	valor	porque,	por	meio	delas,	o	homem	pretende	mostrar
obediência	a	Deus
c.	o	fato	de	que	a	fé	implica	em	obras	de	amor	não	significa	que	nós	somos
justificados	a	partir	desse	amor	operante
Os	pecados	são	redimidos	somente	por	meio	da	justiça	de	Cristo	[21-23]
21.	Justificação,	reconciliação,	perdão	de	pecados
a.	definição:	a	justiça	da	fé	é	reconciliação	com	Deus,	que	consiste	somente	no
perdão	de	pecados
b.	reconciliação:	o	pecado	é	a	ruptura	entre	o	homem	e	Deus,	pela	qual	o	homem
é	inimigo	de	Deus	até	que	seja	restaurado	à	graça	por	meio	de	Cristo
c.	justificação:	diz-se,	portanto,	que	o	Senhor	justifica	aquele	que	foi	recebido
em	união	consigo	mesmo,	porque	ele	não	pode	recebê-lo	na	graça	a	menos	que	o
converta	de	um	pecador	em	um	homem	justo
d.	perdão	de	pecados:	se	aqueles	a	quem	o	Senhor	reconciliou	consigo	mesmo
forem	julgados	por	obras,	eles	ainda	se	encontrarão,	de	fato,	pecadores;	portanto,
a	reconciliação	ocorre	pelo	perdão	dos	pecados
22.	Prova	escriturística	da	relação	próxima	entre	justificação	e	perdão	de
pecados
a.	em	2Coríntios	5.19,21,	Paulo	menciona	justiça	e	reconciliação	indistintamente
para	nos	fazer	entender	que	cada	um	está	contido,	reciprocamente,	no	outro
b.	o	exemplo	paulino	de	Davi
c.	declarações	de	Agostinhos	e	Bernardo
23.	Justiça	—	não	em	nós	mesmos,	mas	em	Cristo
a.	O	homem	não	é	justo	em	si	mesmo,	mas	porque	a	justiça	de	Cristo	lhe	é
transmitida	por	imputação
b.	Cristo	compartilha	sua	justiça	conosco	de	modo	que,	de	alguma	forma
maravilhosa,	ele	derrama	sobre	nós	o	suficiente	de	seu	poder	para	satisfazer	o
juízo	de	Deus
c.	o	exemplo	de	Jacó	apresentado	por	Ambrósio
CAPÍTULO	12
Devemos	erguer	nossa	mente	ao	trono	do	juízo	de	Deus	para	que	sejamos	firmemente	convencidos	de
sua	justificação	gratuita
Justificação	à	luz	da	majestade	e	perfeição	de	Deus	[1-3]
1.	Ninguém	é	justo	perante	o	trono	do	juízo	de	Deus
a.	estamos	preocupados	não	com	a	justiça	de	um	tribunal	humano,	mas	com	a
justiça	do	tribunal	celeste;	portanto,	não	podemos	medir	a	integridade	das	obras
necessárias	para	satisfazer	o	julgamento	divino	por	nossos	próprios	padrões
b.	o	supremo	juiz,	tal	qual	apresentado	na	Escritura
c.	avaliados	pelo	padrão	da	lei	escrita,	devemos	ser	atormentados	por	um	temor
horrendo
2.	Justiça	perante	os	homens	e	perante	Deus
a.	é	fácil	pensar	que	temos	alguma	coisa,	contanto	que	a	comparação	se	restrinja
aos	homens
b.	essa	confiança	se	dissipa	em	um	lampejo	e	perece	quando	nos	voltamos	para
Deus
c.	isso	é	verdadeiro	tanto	para	nossas	almas	quanto	para	nossos	corpos
3.	Agostinho	e	Bernardo	de	Claraval	como	testemunhas	da	verdadeira	justiça
a.	Agostinho:	“Todos	os	fiéis	que	gemem,	sob	este	fardo	da	carne	corruptível	e
nessa	fraqueza	de	vida,	têm	uma	única	esperança:	a	de	que	nós	temos	um
Mediador,	Jesus	Cristo,	o	justo,	e	ele	é	a	conciliação	pelos	nossos	pecados”
b.	Bernardo:	“Onde	está,	de	fato,	o	repouso	firme	e	seguro,	e	a	tranquilidade	para
os	fracos,	senão	nas	feridas	do	Salvador	[…]?”
A	consciência	e	autocrítica	perante	Deus	nos	despoja	de	todas	as	alegações	de	boas	obras	e	nos	leva	a
abraçar	a	misericórdia	divina
4.	O	peso	do	juízo	de	Deus	coloca	um	fim	a	toda	autoenganação
a.	se	as	estrelas,	que	aparentam	tão	brilhantes	à	noite,	perdem	seu	brilho	à	vista
do	sol,	o	que	pensamos	que	acontecerá	ao	mais	inocente	dos	homens	quando
comparado	à	pureza	de	Deus?
b.	quanto	a	nós,	somente	a	pureza	da	vontade	será	exigida
5.	Basta	de	toda	autoadmiração
a.	que	nós	não	nos	envergonhemos	de	descer	dessa	contemplação	da	perfeição
divina	para	contemplarmos	a	nós	mesmos	sem	lisonjas	e	sem	sermos	afetados
pelo	cego	amor-próprio
6.	O	que	é	a	humildade	perante	Deus
a.	humildade	consiste	em	nos	reconhecermos	pobres	e	carentes,	rendendo-nos,
portanto,	à	misericórdia	de	Deus
b.	se	pensamos	que	nos	sobra	qualquer	coisa	para	nós	mesmos,	não	temos
humildade
c.	a	diferença	entre	a	verdadeira	e	a	falsa	humildade
7.	Cristo	chama	pecadores,	e	não	justos
a.	a	parábola	do	publicano	e	o	fariseu
b.	Cristo	convida	a	participar	de	sua	benevolência	somente	aqueles	que	labutam
e	estão	sobrecarregados
8.	A	arrogância	e	a	complacência	perante	Deus	obstruem	nosso	caminho	a	Cristo
a.	a	arrogância	emerge	de	uma	persuasão	tola	sobre	nossa	própria	justiça,	quando
o	homem	pensa	que	tem	algo	de	meritório	para	o	abonar	perante	Deus
b.	a	complacência	pode	existir	mesmo	sem	qualquer	confiança	nas	obras,
naquelas	pessoas	que	pensam	que	não	precisam	aspirar	à	misericórdia	que	lhes	é
oferecida
c.	citações	corroborantes	de	Agostinho	e	Bernardo
CAPÍTULO	13
Duas	coisas	a	serem	observadas	na	justificação	gratuita
Glória	a	Deus	e	paz	para	nossa	consciência	[1]
1.	A	justificação	serve	à	honra	de	Deus;	e	a	revelação,	à	sua	justiça
a.	dois	itens	a	serem	observados:
(1)	a	glória	do	Senhor	deve	permanecer	inalterada	e,	por	assim	dizer,	em	bom
estado
(2)	nossa	consciência,	diante	de	seu	julgamento,	deve	estar	em	descanso	pacífico
e	tranquilidade	serena
b.	a	justiça	de	Deus	não	é	suficientemente	apresentada	a	menos	que	somente	ele
seja	considerado	justo	e	comunique	o	dom	gratuito	da	justiça	para	os	indignos
c.	enquanto	o	homem	tiver	qualquer	coisa	a	dizer	em	sua	defesa,	ele	deprecia,	de
certa	forma,	da	glória	de	Deus
Efeito	em	nossa	própria	justiça	[2-4]
2.	Aquele	que	se	gloria	em	sua	própria	justiça	rouba	da	honra	Deus
a.	nós	nunca	nos	gloriamos	verdadeiramente	nele,	a	menos	que	tenhamos
renegado	totalmente	nossa	própria	glória
b.	qualquer	que	se	glorie	em	si	mesmo,	glorifica	contra	Deus
c.	perfeito	e	íntegro,	o	louvor	da	justiça	permanece	de	posse	do	Senhor,	já	que
foi	para	manifestar	sua	própria	justiça	que	ele	derramou	sua	graça	sobre	nós
3.	Um	olhar	sobre	a	própria	justiça	não	oferece	paz	para	a	consciência
a.	a	consciência	pode	ser	pacificada	diante	de	Deus	se	a	justiça	imerecida	nos	for
conferida	como	um	dom	de	Deus
b.	quando	nossas	almas	tiverem	aquilo	pelo	qual	podem	se	apresentar
destemidamente	perante	a	face	de	Deus	e	receber	seu	julgamento	inabalável,	só
então	poderemos	saber	que	não	encontramos	uma	falsa	justiça
c.	ter	fé	é	fortalecer	a	mente	com	segurança	constante
4.	A	ênfase	na	própria	justiça	também	anula	as	promessas
a.	o	cumprimento	da	promessa	não	depende	do	mérito,	mas	da	fé
b.	a	herança	emana	da	fé	para	estabelecer	a	promessa	segundo	a	graça
c.	a	promessa	é	confirmada	quando	reside	em	Deus,	não	no	homem
d.	amparo	de	Agostinho	e	Bernardo
e.	amparo	escriturístico
Fé	na	graça	gratuita	de	Deus	[5]
5.	Somente	a	fé	na	graça	gratuita	de	Deus	nos	dá	paz	de	consciência	e	alegria	na
oração
a.	outra	refutação	da	“justiça	essencial”	de	Osiander
b.	nossa	confiança	não	reside	em	virmos	a	ser	regenerados,	o	que	é	sempre
imperfeito	na	carne,	mas	sim	em	virmos	a	ser	enxertados	no	corpo	de	Cristo,
considerados,	assim,	gratuitamente	justos
CAPÍTULO	14
O	princípio	da	justificação	e	seu	progresso	contínuo
O	homem	em	seu	estado	natural:	morto	nos	pecados	e	carente	de	redenção	[1-6]
1.	Quatro	classes	de	homens	no	tocante	à	regeneração
a.	classificação	quádrupla	dos	homens,	que	pode	ser:
(1)	aqueles	não	dotados	de	nenhum	conhecimento	de	Deus	e	imersos	em
idolatria
(2)	aquelesiniciados	nos	sacramentos,	mas	que,	por	impureza	de	vida,	negam
Deus	em	suas	ações	enquanto	o	confessam	com	seus	lábios;	eles	só	pertencem	a
Cristo	nominalmente
(3)	hipócritas	que	escondem	sua	impiedade	de	coração	com	fingimentos	vazios
(4)	aqueles	regenerados	pelo	espírito	de	Deus,	que	fazem	da	verdadeira
santidade	o	seu	zelo
b.	no	primeiro	caso,	nem	uma	fagulha	de	boa	vontade	será	encontrada	neles
c.	ainda	que	aquela	primeira	classe	de	homens	sobressaia-se	na	moral,	devemos
examinar	a	partir	de	que	disposição	de	coração	essas	obras	se	manifestam
2.	As	virtudes	dos	descrentes	são	dadas	por	Deus
a.	comparação	de	virtudes	e	vícios	em	pessoas	notáveis
b.	o	Senhor	colocou	na	mente	dos	homens	o	discernimento	entre	feitos	honrosos
e	ímpios
c.	todas	as	virtudes	—	ou	imagens	de	virtudes	—	são	dons	de	Deus,	já	que	nada
que	não	provenha	dele	é	digno	de	adoração
3.	Não	há	virtude	verdadeira	sem	fé	verdadeira
a.	se	o	objetivo	do	que	certo	é	servir	a	Deus,	então	qualquer	coisa	que	se
empenhe	para	outro	fim	já	perde,	merecidamente,	o	título	de	“certo”
b.	os	deveres	não	são	medidos	pelos	feitos,	mas	pelos	fins
4.	Sem	Cristo,	não	há	verdadeira	santidade
a.	aqueles	que	não	têm	parte	com	Cristo	precipitam	todas	as	suas	vidas	na
destruição	e	no	juízo	da	morte	eterna,	não	importa	o	que	façam
b.	Agostinho:	“nossa	religião	distingue	o	justo	do	injusto,	não	pela	lei	das	obras,
mas	pela	[lei]	da	fé”
5.	A	justiça	diante	de	Deus	não	provém	das	obras,	por	melhores	que	sejam,	mas
da	graça
a.	passagens	escriturísticas	mostrando	que	Deus	não	encontra	nada	no	homem
que	o	mova	a	lhe	fazer	bem;	primeiro,	Deus	vem	até	o	homem,	em	sua
generosidade	gratuita
b.	quem	de	nós	pode	se	orgulhar	de	ter	se	dirigido	a	Deus	por	sua	própria	justiça,
sendo	que	nossa	primeira	capacidade	de	fazer	o	bem	deriva	da	regeneração?
6.	O	homem	não	pode	contribuir	em	nada	para	sua	justiça
a.	outros	testemunhos	escriturísticos	contra	a	justiça	de	obras
b.	se	a	justificação	é	o	princípio	do	amor,	qual	justiça	de	obras	a	precederá?
Hipócritas	e	cristãos	nominais	debaixo	da	condenação	[7-8]
7.	Justiça	é	algo	do	coração
a.	nessa	condição	se	incluem	aqueles	listados	acima	na	segunda	e	terceira	classes
b.	a	ausência	da	regeneração	neles	mostra	sua	falta	de	fé
c.	eles,	portanto,	não	foram	reconciliados	a	Deus,	nem	justificados	aos	seus
olhos,	já	que	os	homens	obtêm	esses	benefícios	somente	por	meio	da	fé
d.	tais	homens	só	podem	realizar	o	que	é	odioso	ao	julgamento	de	Deus
e.	nenhuma	santificação	pode	ser	alcançada,	a	menos	que	o	coração	tenha	sido
bem	purificado	primeiramente
8.	Indivíduo	e	obras
a.	nos	homens	ainda	não	santificados	verdadeiramente,	até	mesmo	as	obras	que
manifestam	a	mais	alta	magnificência	ficam	tão	distantes	da	justiça	frente	ao
Senhor	que	são	consideradas	pecaminosas
b.	ninguém	obtém	favor	junto	a	Deus	por	meio	de	obras;	elas	o	agradam	apenas
quando	a	pessoa	encontrou	favor	aos	seus	olhos	previamente
Aqueles	que	são	regenerados	são	justificados	somente	pela	fé	[9-11]
9.	Ademais,	os	verdadeiros	fiéis	não	realizam	boas	obras	por	si	mesmos
a.	a	justiça	pertencente	aos	da	quarta	classe
b.	tais	homens	são	consagrados	ao	Senhor	em	verdadeira	pureza	de	vida,	com
corações	conformados	à	obediência	da	lei
c.	não	obstante,	traços	de	nossa	imperfeição	permanecem	para	nos	dar	ocasião
para	a	humildade
d.	até	mesmo	nossas	melhores	obras	ainda	são	manchadas	e	corrompidas	com
alguma	impureza	da	carne
10.	Aquele	que	pensa	ter	sua	própria	justiça	desconhece	a	severidade	da	lei
a.	um	único	pecado	é	suficiente	para	dissipar	toda	lembrança	da	justiça	anterior
b.	Deus	não	considera	como	justiça	definitiva	para	nós	o	perdão	de	pecados,	a
respeito	dos	quais	nós	falamos,	para	que,	tendo	obtido	perdão	por	nossa	vida
pregressa,	nós	busquemos,	depois	disso,	a	justiça	na	lei	—	como	muitos
ridiculamente	acreditam
11.	A	justiça	do	crente	é	sempre	justiça	da	fé
a.	a	diferença	entre	o	nosso	ensino	e	o	dos	escolásticos	reside	no	fato	de	que	nós
afirmamos	que	as	obras	do	homem	não	têm	eficácia	para	a	justificação,	enquanto
os	escolásticos	afirmam	que	um	homem	reconciliado	definitivamente	com	Deus
por	meio	da	fé	em	Cristo	pode	ser	considerado	justo	perante	Deus	por	meio	de
boas	obras	e	ser	aceito	pelo	mérito	delas
b.	para	Abraão,	entretanto,	o	Senhor	considerou	a	fé	como	justiça
c.	o	ministério	da	livre	reconciliação	com	Deus	não	é	proclamada	por	um	dia	ou
outro,	mas	asseverada	como	perpétua	na	igreja
Objeções	escolásticas	à	justificação	pela	fé	e	a	doutrina	dos	méritos	supererrogativos	dos	santos
examinada	e	refutada	[12-21]
12.	Evasivas	dos	adversários
a.	os	escolásticos	defendem	que	as	boas	obras	não	são	importantes	em	seu	valor
intrínseco	ao	ponto	de	poderem	alcançar	a	justiça,	mas	seu	maior	valor	reside	na
“graça	anuente”
b.	eles	admitem	que	precisamos	de	perdão	dos	pecados	para	cobrir	as	falhas	das
obras,	mas	que	as	transgressões	cometidas	são	compensadas	por	obras	de
supererrogação
c.	resposta:	“graça	anuente”	nada	mais	é	do	que	sua	bondade	gratuita
13.	Quem	fala	de	obras	“supererrogatórias”	desconhece	a	severidade	da
exigência	de	Deus	e	o	peso	do	pecado
a.	a	tal	da	“justiça	parcial”	não	existe
b.	este	é	o	erro	deles:	aquele	que	cumpre	a	lei	parcialmente	é	justificado	por
obras	nessa	medida
c.	não	há	justiça	de	obras,	exceto	na	observância	perfeita	da	lei	de	Deus
d.	que	grande	perversidade	é	para	nós,	carecendo	tal	justiça,	nos	orgulharmos	de
algumas	migalhas	de	obras	e	tentar,	por	meio	de	outras	reparações,	pagar	pelo
que	está	faltando!
e.	aqueles	que	falam	tal	disparate	não	percebem	como	o	pecado	é	algo	execrável
aos	olhos	de	Deus
14.	Nem	mesmo	o	cumprimento	perfeito	de	nossa	obrigação	nos	levaria	à	glória;
mas	isso	sequer	é	possível
a.	como	podem	as	obras	de	supererrogação	se	encaixar	com	Lucas	17.10?
b.	que	nós	não	nos	vangloriemos	de	liberalidade	voluntária	quando	somos
limitados	pela	necessidade
15.	Deus	tem	direito	sobre	tudo	que	nós	somos	e	temos;	portanto,	não	pode
haver	quaisquer	obras	supererrogatórias
a.	continuação	do	argumento	de	1Coríntios	9	e	Lucas	17
b.	Deus	não	ordenou	nem	aprovou	as	obras	de	supererrogação
16.	Nenhuma	confiança	nas	obras	e	nenhuma	glória	nelas
a.	evitar	essas	duas	pragas
(1)	confiar	na	justiça	das	obras
(2)	atribuir	qualquer	glória	às	obras
b.	o	importante	não	são	as	obras,	mas	o	perdão	de	Deus
17.	De	nenhuma	forma	as	obras	podem	servir	ao	propósito	da	nossa	santidade
a.	nenhum	dos	quatro	tipos	de	causas	postuladas	pelos	filósofos	tem	qualquer
coisa	a	ver	com	as	obras
b.	as	quatro	causas	e	suas	contrapartidas	escriturísticas	(veja	tabela	da	p.	271)
(1)	causa	eficiente:	a	misericórdia	do	Pai	celeste	e	seu	amor	concedido
gratuitamente	a	nós
(2)	causa	material:	Cristo,	com	sua	obediência,	por	meio	da	qual	conquistou	a
justiça	para	nós
(3)	causa	formal	ou	instrumental:	fé
(4)	causa	final:	prova	da	justiça	divina	para	o	louvor	da	bondade	de	Deus
c.	essas	quatro	causas	são	aplicadas	a	Romanos	3.23-26
18.	O	horizonte	das	boas	obras,	entretanto,	pode	fortalecer	a	fé
a.	os	santos	se	recordam	de	sua	retidão	de	duas	formas
(1)	comparando	sua	boa	causa	com	a	causa	maligna	dos	ímpios,	eles	derivam
disso	confiança	na	vitória	—	não	tanto	pelo	aval	de	sua	própria	justiça,	mas	pela
condenação	justa	e	merecida	de	seus	adversários
(2)	sem	se	compararem	com	os	outros,	enquanto	examinam	a	si	mesmos	perante
Deus,	a	pureza	de	suas	próprias	consciências	lhes	trazem	algum	conforto	e
confiança
b.	acerca	da	segunda	forma,	os	santos	certamente	podem	escorar	e	fortalecer	a	si
mesmos	na	fé	por	meio	desses	sinais	da	benevolência	divina	para	consigo;
contudo,	no	que	diz	respeito	à	salvação,	eles	confiam,	ao	mesmo	tempo,
totalmente	na	promessa	gratuita	da	justiça
19.	Obras	como	frutos	do	chamado
a.	recordação	das	obras:	sinais	da	habitação	do	Espírito	Santo,	e	de	não	coisas
que	tenham	qualquer	parte	no	estabelecimento	da	fundação	para	fortalecer	a
consciência
b.	antes	da	oportunidade	do	júbilo	deve	vir	a	percepção	da	bondade	de	Deus,
selada	por	nada	menos	que	a	certeza	dapromessa
20.	As	obras	são	dons	de	Deus	e	não	podem	se	tornar	a	fundação	da
autoconfiança	para	os	fiéis
a.	os	santos	consideram	as	obras	exclusivamente	como	dons	de	Deus,	a	partir	das
quais	eles	podem	reconhecer	sua	bondade,	e	como	sinais	do	chamado	pelo	qual
eles	executam	sua	eleição
b.	as	obras	não	diminuem,	em	qualquer	medida,	a	justiça	gratuita	que	obtemos
em	Cristo
c.	declaração	corroborante	de	Agostinho
A	CAUSALIDADE	DA	SALVAÇÃO
Calvino	alega	que	os	católicos	romanos	“representam	erroneamente	a	causa
material	e	final,	como	se	nossas	obras	dividissem	metade	do	espaço	com	a	fé	e	a
justiça	de	Cristo”.
Cf.	Acta	Synodi	Tridentinae,	Seç.	VI,	c.	8	(Corpus	Reformatorum	7.432s),	e
Calvino,	Antidote	(Corpus	Reformatorum	7.449).
Veja	também	Louis	Goumaz,	La	Doctrine	du	salut	d’après	les	commentaires	de
Jean	Calvin	sur	le	Nouveau	Testament	(1917),	teses	e	conclusões,	XI.
21.	O	sentido	no	qual	se	fala	das	boas	obras,	às	vezes,	como	causa	dos	benefícios
divinos
a.	por	que	a	Escritura	mostra	que	as	boas	obras	dos	fiéis	são	a	razão	pela	qual	o
Senhor	os	abençoa?
b.	embora	a	causa	eficiente	da	nossa	salvação	consista	no	amor	de	Deus,	o
Senhor	também	abrange	obras	como	causas	inferiores
c.	nesse	sentido,	o	que	antecede,	na	ordem	da	dispensação,	ele	chama	de	causa
do	que	sucede
d.	a	ordem	se	parece	com	o	seguinte
(1)	Deus	escolhendo
(2)	Deus	justificando
(3)	o	homem	produzindo	boas	obras
(4)	Deus	glorificando	nas	boas	obras	(vida	eterna	do	homem),	caso	em	que	a
vida	eterna	é	derivada	das	boas	obras,	mas	não	atribuída	a	elas
e.	a	verdadeira	causa	é	a	ação	de	Deus,	que	escolhe	e	justifica
CAPÍTULO	15
Vangloriar-se	acerca	dos	méritos	das	obras	destrói	nossa	adoração	a	Deus	por	nos	ter	outorgado	a
justiça,	bem	como	nossa	segurança	de	salvação
Oposição	de	Agostinho	e	Bernardo,	bem	como	da	Escritura,	à	doutrina	do	mérito	humano	na
justificação	[1-4]
1.	Questionamento	falso	e	verdadeiro
a.	nenhum	homem	é	justificado	pelas	obras	a	menos	que	ele	seja	liberto	da
menor	transgressão	que	seja
b.	surge,	portanto,	a	seguinte	questão:	embora	as	obras	não	possam,	de	nenhuma
forma,	ser	suficientes	para	a	justificação,	elas	não	merecem	o	favor	de	Deus?
2.	“Mérito”:	uma	palavra	perigosa	e	não	escriturística
a.	qualquer	que	tenha	empregado,	inicialmente,	o	termo	“mérito”	para	as	obras
dos	homens	em	vez	do	julgamento	de	Deus,	fez	um	grande	desserviço	à	fé
sincera
b.	os	termos	“mérito”	e	“graça”	em	Agostinho,	Crisóstomo	e	Bernardo
3.	Todo	o	valor	das	boas	obras	provém	da	graça	de	Deus
a.	nossas	boas	obras,	em	si	e	por	si,	são	repletas	de	impurezas
b.	boas	obras	são	“boas”	porque	a	bondade	de	Deus,	em	si,	lhes	atribuiu	esse
valor
4.	Defesa	frente	à	contraevidência:	como	Deus	realmente	considera	as	boas
obras
a.	os	sofistas	traduziram	erroneamente	Eclesiástico	16:15	e	interpretaram	mal	a
essência	de	Hebreus	13.16
b.	deve	ser	rejeitada	a	distinção	de	que	as	boas	obras	merecem	as	graças	que	nos
são	conferidas	nesta	vida,	enquanto	a	salvação	eterna	é	a	recompensa	da	fé
somente
c.	tudo	o	que	é	concedido	aos	santos,	até	mesmo	a	própria	beatitude,	vem	da
benevolência	de	Deus	e	objetiva	fazer	de	nós	e	dos	dons	concedidos	dignos	dele
Rejeição	da	substituição	dos	méritos	do	homem	pelo	de	Cristo;	a	doutrina	escolástica	e	semipelagiana	[5-
8]
5.	Cristo	como	o	fundamento	único,	como	principiador	e	aperfeiçoador
a.	Cristo	não	se	tornou	o	fundamento	da	nossa	salvação	apenas	para	ver	seu
cumprimento	decorrer	de	nós	mesmos
b.	porque	todos	os	benefícios	de	Cristo	são	nossos	e	nós	temos	todas	as	coisas
nele;	em	nós	não	há	nada
6.	A	teologia	romana	diminui	o	poder	e	a	honra	de	Cristo
a.	Roma	deturpou	a	verdade	ao	inventar	as	boas	obras	“morais”,	pelas	quais	os
homens	são	tomados	como	agradáveis	a	Deus	antes	de	serem	enxertados	em
Cristo
b.	é	somente	por	meio	desse	enxertar	em	Cristo	através	da	fé	que	nós	recebemos
mérito	—	e	o	mérito	aqui	não	é	nosso,	mas	de	Cristo
7.	A	teologia	romana	não	entende	nem	Agostinho,	nem	a	Escritura
a.	a	teologia	romana	erroneamente	deriva	as	boas	obras	do	livre-arbítrio,	por
meio	do	qual,	dizem	eles,	todo	mérito	subsiste
b.	Pedro	Lombardo	não	entendeu	Agostinho,	embora	seja	possível	dizer	que
Lombardo	é	são	e	sóbrio	quando	comparado	com	as	tradições	da	Sorbonne
c.	a	teologia	romana,	na	verdade,	desencoraja	a	confiança	na	inclinação
favorável	de	Deus	para	com	as	obras	das	pessoas
8.	Admoestação	e	conforto	nas	bases	da	sã	doutrina
a.	o	exemplo	de	Cristo	como	o	cumprimento	da	piedade	e	santidade
b.	passagens	de	consolo	para	os	discípulos	de	Cristo
CAPÍTULO	16
Refutação	das	falsas	acusações	pelas	quais	os	papistas	tentam	lançar	ódio	sobre	essa	doutrina
Objeção	I
1.	A	doutrina	da	justificação	elimina	as	boas	obras?
a.	acusações	levantadas	contra	a	doutrina:
(1)	ela	revoga	as	boas	obras
(2)	ela	dissuade	os	homens	da	busca	pelas	boas	obras
(3)	ela	torna	o	caminho	para	a	justiça	muito	fácil
(4)	ela	seduz	ao	pecado	homens	que	já	são	demasiadamente	inclinados	ao
pecado
b.	contudo,	as	boas	obras	não	são	destruídas	pela	doutrina	da	justificação	pela	fé,
porque	não	se	pode	compreender	esta	sem,	simultaneamente,	compreender
também	a	santificação
c.	Cristo	não	justifica	ninguém	que,	ao	mesmo	tempo,	ele	não	santifique
Objeção	II
2.	A	doutrina	da	justificação	sufoca	o	zelo	pelas	boas	obras?
a.	há	duas	razões	pelas	quais	a	segunda	acusação,	de	que	nossa	doutrina	dissuade
os	homens	da	busca	pelas	boas	obras,	é	falsa:
(1)	se	a	única	razão	pela	qual	as	boas	obras	são	realizadas	é	a	esperança	na
recompensa	final,	todo	o	fundamento	de	tais	boas	obras	está	completamente
errado
(2)	o	fundamento	das	boas	obras	é	a	gratidão	pela	qual	nós	retribuímos	o	amor
daquele	“que	nos	amou	primeiro”
b.	textos	escriturísticos	corroborando	o	fundamento	correto	para	o	reto
regimento	da	vida
3.	A	honra	e	a	misericórdia	de	Deus	como	estímulos	para	ação:	subordinação	das
obras
a.	os	apóstolos	da	Escritura	derivam	suas	mais	poderosas	exortações	da	ideia	de
que	nossa	salvação	não	repousa	sobre	méritos	nossos,	mas	somente	sobre	a
misericórdia	de	Deus
b.	é	a	recordação	dos	benefícios	de	Deus	que	bastará	plenamente	para	levar	os
homens	à	boa	ação
c.	conquanto	a	Escritura	diga	que	“Deus	retribuirá	a	cada	um	conforme	suas
obras”	(Rm	2.6-7;	Mt	16.27;	1Co	3.8,	14-15	etc.),	deve-se	negar	que	isso	seja
somente	isso,	ou	que	seja	o	principal,	ou	que	devemos	partir	desse	ponto
Objeção	III
4.	A	doutrina	da	justificação	incita	o	homem	ao	pecado?
a.	é	a	mais	indigna	das	calúnias	afirmar	que	os	homens	são	convidados	ao
pecado,	uma	vez	que	afirmamos	o	perdão	gratuito	dos	pecados	e	declaramos	que
é	nisso	que	consiste	a	justiça
b.	enquanto	a	justiça,	para	nós,	é	gratuita,	ela	não	o	foi	para	Cristo,	que	a
comprou	pelo	preço	de	seu	próprio	sangue
c.	quando	os	homens	são	assim	ensinados,	eles	são	conscientizados,	a	cada	vez
que	pecam,	de	que	não	podem	fazer	nada	para	evitar	o	derramamento	de	seu
mais	precioso	sangue
d.	a	justiça	é	preciosa	demais	para	ser	equiparada	por	qualquer	compensação	de
obras
CAPÍTULO	17
A	convergência	entre	as	promessas	da	lei	e	do	evangelho
Obras	relacionadas	à	lei:	o	caso	de	Cornélio,	em	Atos	10.13	[1-5]
1.	Apresentação	e	refutação	dos	argumentos	escolásticos
a.	a	acusação:	a	justificação	não	é	somente	pela	fé	se	nós	precisamos	cumprir	a
lei
b.	resposta:	a	liberdade	do	poder	da	lei	de	que	falamos	não	é	a	liberdade	carnal
que	incita	a	licenciosidade
c.	a	liberdade	da	qual	falamos	é	a	liberdade	espiritual	que	conforta	a	consciência
atacada,	mostrando	que	ela	é	livre	da	maldição	e	da	condenação	com	que	a	lei	a
oprime
2.	Por	meio	de	nossas	obras,	não	podemos	trazer	ao	cumprimento	as	promessas
da	lei
a.	as	promessas	de	Deus	são	baseadas	no	cumprimento	completo	das	condições
da	lei,	as	quais	jamais	serão	cumpridas
b.	assim,	a	justiça	que	tentamos	alcançar	pelo	cumprimento	da	lei	é	realizada
pelos	esforços	de	Cristo,	e	não	pelos	nossos
3.	As	promessas	da	lei	são	postas	em	prática	por	meio	do	evangelho
a.	as	promessas	de	Deus	não	têm	qualquer	efeito	benéfico	sobre	nós

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