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F. Tales Massei Miguel L. Albuquerque Janeiro de 2023 A Editora Império Cristão F. Tales Massei Miguel L. Albuquerque Copyright © 2023 Editora Império Cristão Todos os direitos re- servados. Email: editoraimperiocristãoeic@gmail.com Site: http://editoraimperiocristaolivros.blogspot.com Contatos: (11) 91184-5727 – (11) 94202-1709 CNPJ: 49.153.076/0001-46 Todas as interpretações textuais e ideias teológica neste livro é de responsabilidade do autor e não necessariamente refletem o ponto de vista da (EDITORA IMPÉRIO CRISTÃO) Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos, gravação, esto- cagem em banco de dados, etc.), a não ser em citações breves com indicação de fonte. A Editora Império Cristão Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP Brasil) A345l - M394l Massei, Felipe Tales Livre Arbítrio e Predestinação – Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade/ Felipe Tales Massei, Miguel L. Albuquerque. – Jundiaí-SP: Editora Império Cristão, 1ª Edição Janeiro de 2023. 201 p.; Tamanho: 14x21 cm. Bibliografia, pág., 197-199 ISBN: 979-83-736-5385-5 CDU: 23 CDD: 234-9 Índice de catálogo sistemático 1. Bíblia. 2. Predestinação e Livre Arbítrio. 3. Teologia Dogmática. I. Título Diretora Executiva: Jaqueline A. Massei Gerente de Publicação: Jackson S. Fernandes Diagramação: Felipe Tales Massei Revisão: Jamile N. Fernandes Capa: Setor de Designer Impressão: São Paulo Gráfica: Book 2 Todas as referências Bíblicas usadas neste livro são da tradução livre da versão KJA, exceto as que contem indicações da fonte. Dedicatória (F. Tales Massei) Dedico este Livro ao querido irmão em Cristo, meu grande amigo que considero um pai, Pastor Jackson S. Fernandes, um homem piedoso que me ensinou muito sobre a vida cristã, é o servo de Cristo com quem eu tenho prazer de tra- balhar junto tanto no ministério OPCN – (O Poder da Cruz para as Nações) como na Editora Império Cristão. Dedicatória (Miguel L. Albuquerque) Dedico este livro a todos os amantes das Escritura, a todos os expositores Evangelho, mensageiros do Senhor Jesus. Dedico este livro também a minha família e aos meus ami- gos. Sumário INTRODUÇÃO HISTÓRIA ............................................................................................................ 14 Antecedentes ............................................................................................................................... 15 A Influência De João Calvino .............................................................................................. 18 A Diferença Em Relação Ao Luteranismo ..................................................................... 21 A Expansão Calvinista ............................................................................................................ 22 O Sínodo De Dort ...................................................................................................................... 24 A Confissão De Fé De Westminster .................................................................................. 25 DOUTRINA .......................................................................................................... 26 Revelação E As Escrituras ..................................................................................................... 26 Deus ................................................................................................................................................. 28 Criação E Expiação ................................................................................................................... 30 Pecado ............................................................................................................................................ 31 VERTENTES TEOLÓGICAS REFORMADAS ...................................................... 32 O Amiraldismo ........................................................................................................................... 32 O Calvinismo Do Sínodo De Dordt ................................................................................... 33 Aliancismo Calvinista .............................................................................................................. 37 Hipercalvinismo ........................................................................................................................ 38 O Edwardsianismo ................................................................................................................... 39 Barth E O Calvinismo Evangelical .................................................................................... 39 O Novo Calvinismo ................................................................................................................... 40 Interpretação Sociológica ...................................................................................................... 41 ARMINIANISMO ................................................................................................. 42 História .......................................................................................................................................... 45 Contexto Histórico.................................................................................................................... 46 TEOLOGIA ........................................................................................................... 49 Arminianismo Clássico ........................................................................................................... 49 Interpretação Dos Cinco Pontos ........................................................................................ 54 Citações Das Obras De Armínio ......................................................................................... 56 Arminianismo Wesleyano ..................................................................................................... 59 CAPÍTULO I A SOBERANIA DE DEUS OS PLANOS DE DEUS NÃO PODEM SER FRUSTRADOS ................................. 65 COMO FUNCIONA A FÉ NA SOBERANIA DE DEUS ......................................... 72 COMO FUNCIONA A ORAÇÃO NA SOBERANIA DE DEUS .............................. 76 CAPÍTULO II A EXPIAÇÃO LIMITADA A EXPIAÇÃO SÓ TEM EFEITO PARA OS QUE CREEM .................................... 80 A EXPIAÇÃO OFERECIDA É SUFICIENTE PARA O MUNDO TODO ............... 82 A EXPIAÇÃO PODE SER REJEITADA PELOS PECADORES ............................. 84 CAPÍTULO III A LIVRE ESCOLHA O HOMEM TEM DIREITO DE ESCOLHA ......................................................... 90 O RESULTADO DE UMA NATUREZA CAÍDA .................................................... 91 A GRAÇA COMUM ............................................................................................... 92 CAPÍTULO IV INTERVENÇÃO DIVINA DEUS INTERVÉM EM NOSSAS ESCOLHAS? .................................................... 95 A VERDADE SOBRE A INTERVENÇÃO DIVINA ............................................... 96 A COMPATIBILIDADE DA INTERVENÇÃO COM RESPONSABILIDADE HUMANA ............................................................................................................. 98 CAPÍTULO V O CHAMAMENTO GERAL DEUS TEM UM PROPÓSITO QUE É NOS CHAMAR ....................................... 110 DEUS NOS ATRAI A ELE POR MEIO DO SACRIFÍCIO DE CRISTO ................ 111POR MEIO DA PREGAÇÃO ................................................................................ 112 CAPÍTULO VI PROGRESSÃ DA GRAÇA O ALCANCE DA GRAÇA SALVADORA .............................................................. 119 O PROCESSO DE JUSTIFICAÇÃO .................................................................... 122 A Graça É A Fonte Da Justificação ................................................................................. 122 A Obra De Cristo É O Fundamento Da Justificação ............................................... 124 A Fé É O Meio Da Justificação .......................................................................................... 127 O PROCESSO DE REGENERAÇÃO ................................................................... 129 A Necessidade Da Regeneração ........................................................................................ 132 O PROCESSO DE SANTIFICAÇÃO .................................................................... 133 O Que Significa Santificação Ou Santidade? .............................................................. 134 Os Conceitos Acerca Da Santificação ............................................................................. 135 Quem Opera A Santificação, Deus Ou O Homem? .................................................. 136 O Equilíbrio Na Santificação ............................................................................................. 137 Quem Está Apto À Santificação?...................................................................................... 139 Como Ocorre A Santificação? ............................................................................................ 140 As Características Da Santificação .................................................................................. 142 Através Da Santificação É Possível Deixar De Pecar? ............................................ 143 A Santificação Não É Legalismo Ou Uma Aparente Espiritualidade ............. .144 A Importância Da Santificação ......................................................................................... 146 CAPÍTULO VII TORNANDO-SE PARTE DO CORPO DE CRISTO AGORA SOMOS SERVOS DE DEUS .................................................................. 150 UM ESTÁGIO DE TRANSFORMAÇÃO .............................................................. 151 NOVA CRIATURA .............................................................................................. 153 CAPÍTULO VIII A ELEIÇÃO COMO FUNCIONA A ELEIÇÃO ........................................................................ 159 A ELEIÇÃO É UMA AÇÃO CONJUNTA ............................................................. 163 ELEITOS EM CRISTO ........................................................................................ 163 CRISTO O ELEITO DE DEUS ............................................................................ 164 CAPÍTULO IX A PRESCIÊNCIA DE DEUS A PRESCIÊNCIA NA BÍBLIA ............................................................................. 170 A PRESCIÊNCIA DE DEUS É SUA VISÃO ACERCA DO FUTURO ................... 170 A PRESCIÊNCIA DE DEUS É MAIS DO QUE COGNIÇÃO ................................ 171 CONCLUSÃO SOBRE A PRESCIÊNCIA DE DEUS ........................................... 173 CAPÍTULO X A PREDESTINAÇÃO QUANDO ACONTECE A PREDESTINAÇÃO .................................................... 178 QUEM É PREDESTINADO ................................................................................ 183 CAPÍTULO XI A JUSTIÇA DE DEUS OS ASPECTOS DA JUSTIÇA DE DEUS ............................................................. 188 A JUSTIÇA DE DEUS NA BÍBLIA ...................................................................... 189 O AMOR E A JUSTIÇA DE DEUS ....................................................................... 191 CRISTO E A JUSTIÇA DIVINA .......................................................................... 192 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 195 BIBLIOGRAFIAS .................................................................................................................. 197 Prefacio Este material tem o objetivo de lhe proporcionar a verda- deira compreensão sobre esse assunto. Produzido com muita oração e dedicação da nossa parte para oferecer ao leitor um bom conteúdo doutrinário solidificado nas Escrituras, um li- vro que pretende retirar as limitações que formaram um campo de divergência e abrir os portões para um campo de formação de um pensamento fiel às Escrituras a partir dos ensinamentos da fé reformada, temos neste livro alguma opi- niões a respeito de tudo que aprendemos ao longo do tempo a respeito do assunto, e em uma unificação de ideias a pro- cura de formas para harmoniza-las ambas as doutrina; che- gamos a algumas conclusões aparte do que é tradicional na forma em quem essas doutrinas se encontram e o momento exato desse encontro. Tenha a certeza de que tem em mãos um dos melhores conteúdos já publicado sobre o assunto. 13 | P á g i n a I T INTRODUÇÃO alar sobre predestinação e livre-arbítrio com certeza ainda é um dos assuntos mais polêmicos que exis- tem na atualidade e o desenvolvimento dessas doutrinas bem como sua formação está profundamente fundamentada nas escrituras, ao longo dos séculos os dois extremismos geraram grandes debates e esses debates perduram as nossas gera- ções. O desenvolvimento dessas doutrinas teve início ainda na Igreja Primitiva, e foram organizadas por alguns homens piedosos que foram levantados por Deus para nos esclarecer F LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 14 | P á g i n a o que as escrituras tem a nos ensinar a respeito de determi- nados assuntos que não ficaram tão claros aos leitores, tanto para um leitor iniciante das escrituras ou ainda para quem é mais dedicado aos estudos. Para entendermos esse assunto nós precisaremos analisar a história por trás de todas essas divergências, de como surgiram esses debates e o por que surgiram tantas discussões e ainda até hoje não há da parte de muitos uma posição de equilíbrio, isso se dá pelo simples fato de colocar os pontos que aparentemente se divergem em ordens erradas. Explicaremos, portanto, qual é o momento exato em que ambas as doutrinas se encontram nas escritu- ras, quando termina uma e quando começa a outra, também veremos quando e como elas se expressam ao mesmo tempo. É necessário lembrar que uma doutrina não anula a outra, e para entendermos essa questão e conseguimos achar o ponto de equilíbrio e compatibilidade é necessário abrir mão do conceito de que uma está certa e a outro está errada. O pro- blema maior para entender essas questões sobre responsabi- lidade humana e Soberania Divina está na questão da exis- tência do pecado como entendemos esse fato e até que ponto o pecado atingiu a humanidade se entendemos essas ques- tões provavelmente entenderemos muitas outras. HISTÓRIA INTRODUÇÃO 15 | P á g i n a Há alguns séculos atrás surgiram muitas contradições doutrinárias dentro da Igreja, e essas contradições levaram alguns a escreverem artigos a respeito das doutrinas que es- tavam sendo expostas de maneira errada, consequente- mente, consideradas heresias. Foi aí então que se deu início ao movimento religioso e teológico que trouxe novamente a verdade que estava sendo obscurecida pelo clero papal, que estava colocando a tradição em pé de igualdade em autori- dade das escrituras a partir daí que começa o desenvolvi- mento e esclarecimento de ambas as doutrinas. Antecedentes Ainda que a Reforma Protestante tenha eclodidoapenas no século XVI, as raízes deste movimento começaram a emergir durante a Baixa Idade Média (séculos XI-XV), quando grupos de cristãos passaram a questionar as normas, práticas e doutrinas da Igreja Católica, os quais ficaram co- nhecidos como aqueles que propagavam as “heresias medie- vais”, ou seja, que se colocavam contrários à doutrina católica romana. Dentre eles estavam os valdenses, grupo religioso fundado pelo mercador Pedro Valdo, no século X. Um movi- mento cristão de caráter ascético, os valdenses já defendiam muitos dos pontos que mais tarde seriam importantes para a Reforma, expostos na Profissão de Fé de Valdo, que sobre- vive até hoje. Dentre outras teses teológicas relevantes, os LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 16 | P á g i n a valdenses pregavam: A suficiência da expiação de Cristo; uma negação do Purgatório como uma “invenção do Anti- cristo”; a queda do homem; a negação da transubstanciação; o sacerdócio universal; a estrita aderência à Bíblia, que foi traduzida para a língua da população; a recusa da veneração aos santos; e a pregação da Palavra por leigos. Intensamente perseguidos pelas autoridades católicas, os valdenses busca- ram se juntar à nascente Reforma Protestante, no século XVI, e com as Resoluções de Chanforan em 12 de setembro de 1532, se tornaram formalmente parte da tradição Calvi- nista. O movimento influenciou significativamente o proemi- nente reformador suíço Heinrich Bullinger, e a primeira ver- são protestante da Bíblia em francês, traduzida por Pierre Robert Olivétan com a ajuda de um ainda jovem e recém- convertido ao Protestantismo João Calvino, foi em parte ba- seada na versão valdense do Novo Testamento, e teve auxílio em seu financiamento e publicação das Igrejas valdenses. Desta forma, é razoável supor que houve significativa in- fluência do movimento valdense no Calvinismo. Entretanto, os personagens que teriam maior influência sobre as refor- mas religiosas seriam o reformador inglês John Wycliffe (1320-1384) e o reformador tcheco Jan Hus (1369-1415). Wycliffe foi padre, doutor e professor de teologia em Oxford, sendo um forte crítico do luxo, abusos e excessos de poder da INTRODUÇÃO 17 | P á g i n a Igreja, e colocando-se contra a existência do poder papal e de qualquer forma de institucionalização da Igreja. Defendia que a mesma deveria adotar uma pobreza apostólica e afir- mava que a verdadeira Igreja era composta pela Assembleia dos Eleitos, que não necessitavam de intermediários, pois possuíam um contato direto com Deus através do acesso às Escrituras, tendo também traduzido a Bíblia para o inglês. Condenou a prática das indulgências, a veneração de ima- gens e santos, a confissão auricular e o celibato clerical. Ape- sar de ter recebido o apoio da Corte inglesa, em especial por condenar o envio de dinheiro inglês para Roma, tendo che- gado a ser conselheiro teológico da Coroa, a reação da Igreja Romana às suas ideias foi dura, e no Concílio de Constança (1415), suas obras foram condenadas como heréticas, seus escritos queimados e proibidos de circular, e ele próprio foi condenado à fogueira póstuma, fazendo com que seus ossos fossem exumados e queimados. Contudo, suas ideias se es- palharam por outras regiões da Europa e influenciaram Jan Hus. Também padre e professor da Universidade de Praga, Hus foi um difusor das ideias de Wycliffe, ao defender a ado- ção da pobreza apostólica por parte do clero e o fim das in- dulgências, e também afirmando a Bíblia como a maior au- toridade cristã, e declarando que o Papa que não a seguisse não deveria ser obedecido, visto que Cristo era o verdadeiro chefe da Igreja. Também antecipou algumas teses Calvinistas LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 18 | P á g i n a importantes, tais como a Depravação Total e a Expiação Li- mitada, em alguns trechos da sua obra. Às vezes, o termo Cal- vinista, sem ser seguido de alguma explicação, significa Cal- vinismo do sínodo de Dordt como em oposição a outras po- sições teológicas, principalmente o arminianismo. A Influência De João Calvino João Calvino exerceu uma influência importantíssima no desenvolvimento da doutrina reformada. Para além da sua influência sobre a doutrina da predestinação, pela qual é mais conhecido, ele era um prolífico escritor, produzindo uma ampla obra literária que compõe 59 volumes da coleção conhecida como Corpus Reformatorum, incluindo as famo- sas Institutas da religião Cristã, comentários sobre quase to- dos os livros da Bíblia, sermões, escritos apologéticos, litúr- gicos e catequéticos, panfletos e tratados, além de inúmeras cartas escritas às mais diferentes categorias de pessoas. As Institutas da Religião Cristã, opus magnum (ou grande obra), foram publicadas pela primeira vez em 1536, e atuali- zadas com novas informações e ideias ao longo de 23 anos, sendo a sua última edição publicada em 1559. Em sua pri- meira edição, foi publicada com o propósito de ser uma in- trodução simples (até mesmo rudimentar) ao conhecimento da vida cristã, ou, como dito pelo próprio Calvino: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Calvino https://pt.wikipedia.org/wiki/Predestina%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Institutas_da_Religi%C3%A3o_Crist%C3%A3 INTRODUÇÃO 19 | P á g i n a “Pretendi apenas fornecer algum ensino elementar atra- vés do qual qualquer pessoa que tenha sido tocada por um interesse na religião pudesse ser educada na verdadeira pi- edade. E fui especialmente diligente nessa obra por causa do nosso próprio povo da França. Vi muitos deles com fome e sede de Cristo, mas muito poucos imbuídos com até mesmo um pequeno conhecimento dele. Que é isto que propus, o próprio livro testifica através de sua forma de ensino sim- ples e até mesmo rudimentar”. Esta primeira edição tinha apenas seis capítulos, que tra- tavam dos seguintes temas: 1. A lei: Exposição do Decálogo; 2. A fé: Exposição do Credo dos Apóstolos; 3. A oração: Exposição da Oração Dominical; 4. Os sacramentos; 5. Os cinco falsos sacramentos; 6. A liberdade cristã, o poder eclesiástico e a administra- ção política. Com o tempo, entretanto, a empreitada de Calvino foi ga- nhando contornos mais ambiciosos. Já na segunda edição das Institutas, ele afirmava que: “Minha intenção nesta obra foi preparar e treinar de tal modo na leitura da Palavra Divina os aspirantes à teologia sagrada que eles possam ter fácil acesso à mesma e depois nela prossigam sem tropeçar. Pois penso que abrangi de tal LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 20 | P á g i n a maneira a suma da religião em todas as suas partes, dis- pondo-a em ordem, que todos os que a assimilarem corre- tamente não terão dificuldade em determinar tanto o que devemos buscar de modo especial nas Escrituras quanto para que objetivo devem direcionar tudo o que está contido nas Escrituras”. Ao final, em sua última edição, as Institutas possuíam um volume muito maior que em sua versão original, e abordaram um escopo de assuntos muito mais amplo e complexo. Outra fonte de contribuição de Calvino para o estabelecimento da teologia reformada foi a sua atuação na fundação da Acade- mia de Genebra. Através da sua liderança e com o auxílio de Teodoro de Beza, estabelecido por ele como o primeiro reitor da recém-nascida Universidade, a Academia pôde se tornar um proeminente centro de treinamento para reformadores protestantes, a maioria dos quais eram refugiados franceses, enviando assim missionários e pastores por toda a Europa. Além disso, Calvino buscou exercer um papel conciliador en- tre as diferentes correntes do protestantismo da época, bus- cando conciliar luteranos e zuinglianos no quedizia respeito à sua doutrina sobre a Ceia, e sendo co-autor do Consensus Tigurinos ou Consenso de Zurique, que buscava trazer uni- dade às igrejas protestantes quanto às suas doutrinas sobre os sacramentos. https://pt.wikipedia.org/wiki/Academia_de_Genebra https://pt.wikipedia.org/wiki/Academia_de_Genebra https://pt.wikipedia.org/wiki/Protestantismo INTRODUÇÃO 21 | P á g i n a A Diferença Em Relação Ao Luteranismo O Calvinismo se desenvolveu principalmente a partir da segunda fase da Reforma Protestante, quando as igrejas pro- testantes começaram a se institucionalizar, na sequência da excomunhão de Martinho Lutero da Igreja Católica Romana. Neste sentido, o Calvinismo foi originalmente um movi- mento luterano. O próprio Calvino assinou a versão alterada da Confissão Luterana de Augsburg, a Variata, em 1540. Por outro lado, a influência de Calvino começou a fazer-se sentir na Reforma Suíça, que não foi luterana, tendo seguido a ori- entação conferida por Ulrico Zuínglio, um teólogo da pri- meira geração da Reforma que tinha alguns pontos relevan- tes de divergência com os luteranos, particularmente quanto ao papel dos sacramentos. A doutrina das Igrejas reforma- das, portanto, tomou uma direção independente da de Lu- tero, graças à influência de numerosos escritores e reforma- dores, dentre os quais estavam Ulrico Zuínglio, João Cal- vino, Martin Bucer, William Farel, Heinrich Bullinger, Pie- tro Martire Vermigli, Teodoro de Beza, e John Knox. Calvi- nistas romperam com a Igreja Católica Romana, mas dife- riam de outros reformadores. Em relação aos Luteranos, dis- tinguiam-se na doutrina sobre a presença real de Cristo na Eucaristia, princípio regulador do culto e o uso da lei de Deus para os crentes, entre outras coisas. https://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Protestante https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Cat%C3%B3lica https://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Su%C3%AD%C3%A7a https://pt.wikipedia.org/wiki/Ulrico_Zu%C3%ADnglio https://pt.wikipedia.org/wiki/Ulrico_Zu%C3%ADnglio https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Cat%C3%B3lica_Romana https://pt.wikipedia.org/wiki/Luteranismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_regulador_do_culto LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 22 | P á g i n a A Expansão Calvinista Após a publicação das Institutas, houve um período de in- tenso crescimento do movimento reformado na Europa, cada qual com o seu viés teológico e social distinto. Na Escócia, onde o reformador John Knox liderou um movimento revo- lucionário de cunho religioso, o movimento se desenvolveu em uma direção politicamente muito mais radical do que no Calvinismo original. Knox entrou em conflito com as autori- dades quase imediatamente, embora a Confissão Escocesa seja cuidadosamente contida, em relação à resistência ao po- der, expressa: Portanto, confessamos e declaramos que aque- les que resistem aos poderes supremos, enquanto estiverem agindo em suas próprias esferas, estão resistindo à orde- nança de Deus e não podem ser considerados inocentes. Afir- mamos ainda que, enquanto os príncipes e governantes cum- prirem vigilantemente seu ofício, qualquer pessoa que lhes negue ajuda, conselho ou serviço, o nega a Deus, que por seu lugar-tenente anseia por isso deles. Mesmo assim, a qualifi- cação, enquanto eles estiverem agindo em suas próprias es- feras, representa uma ameaça ao poder; e, em suas entrevis- tas posteriores com a Rainha e em seu debate com Maitland de Lethington, Knox afirmou categoricamente que quando os poderes governantes ultrapassassem suas esferas, o povo ti- nha todo o direito de resistir a eles. No século e meio INTRODUÇÃO 23 | P á g i n a seguinte, a história da Escócia foi dominada pela determina- ção da coroa em dominar a Igreja. As coisas chegaram ao auge com a restauração de 1660, quando Carlos II se arrogou o poder absoluto em todas as questões espirituais e tempo- rais. A luta pela independência espiritual tornou-se então uma luta contra a tirania política; o produto final seria a der- rota do absolutismo e a introdução da monarquia constituci- onal. A base da luta era uma teoria bem desenvolvida da de- sobediência civil, exposta em uma volumosa literatura. En- quanto isso, na Suíça, isolada política e culturalmente após a Reforma de sua proximidade geográfica com a França cató- lica romana e Sabóia, Genebra foi forçada a estabelecer uma rede difusa, mas poderosa, de relações intelectuais e econô- micas com o resto da Europa e com nações no exterior. A Ba- sileia e Genebra tornaram-se, então, além de centros missio- nários, centros de impressão importantes, com uma produ- ção literária igual à de centros históricos como Estrasburgo ou Lyon com a tradição acadêmica suíça geralmente conside- rando a Reforma como o divisor de águas entre a cidade me- dieval e o início da República moderna independente. Na França, a despeito da ampla perseguição aos Huguenotes, em 1555 foram erguidas as primeiras Igrejas Calvinistas, nome- adamente em Paris, Meaux, Angers, Poitiers e Loudun. Nos três anos seguintes surgiram as comunidades de Orleães, Rouen, La Rochelle, Toulouse, Rennes e Lyon. https://pt.wikipedia.org/wiki/Paris https://pt.wikipedia.org/wiki/Loudun https://pt.wikipedia.org/wiki/Rennes LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 24 | P á g i n a O protestantismo francês, a partir de então, experimentou um rápido crescimento. Em 1562, já eram mais de 2.000 Igrejas francesas, com dois milhões de huguenotes. Além desses primeiros locais, o Calvinismo se espalhou pela Ingla- terra, Holanda, Itália, as colônias de língua inglesa da Amé- rica do Norte e por partes da Alemanha e da Europa central. Em muitos destes locais, o Calvinismo tornou-se imediata- mente popular e atraente, para além das fronteiras geográfi- cas e sociais. Na Alemanha, encontrou adeptos entre burgue- ses e príncipes e, na Inglaterra e na Holanda, houve conver- tidos em todos os grupos sociais. No mundo anglo-saxão, as noções Calvinistas encontraram materialização no purita- nismo inglês, cujo éthos provou ser muito influente na Amé- rica do Norte no início do século XVII. No Brasil, os primei- ros registros de evangelização Calvinista começaram já du- rante o período colonial, mas só houve crescimento susten- tado dos membros desta corrente religiosa a partir do século XIX, com o advento da liberdade religiosa. O Sínodo De Dort De 1618 a 1619, ocorreu um sínodo internacional que teve lugar em Dordrecht, na Holanda. Este sínodo, promovido pela Igreja Reformada Holandesa, com o objetivo de regular uma séria controvérsia nas Igrejas Holandesas, gerada pela https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADnodo INTRODUÇÃO 25 | P á g i n a ascensão do Arminianismo, contou com representantes re- formados de alguns estados da Alemanha, Inglaterra, Suíça e Holanda, sem contar com representantes reformados de ou- tras nações alemãs, Hungria e França. Em 1610, os seguido- res de Jacobus Arminius apresentaram aos Estados Gerais uma admoestação remonstrante, em cinco artigos que conti- nham seus pontos de vista teológicos; assim, os Arminianos holandeses também eram chamados de remonstrantes. Em- bora o sínodo originalmente objetivasse trazer acordo sobre a doutrina da predestinação entre todas as Igrejas reforma- das, ele acabou com os remonstrantes sendo expulsos, uma vez que recusaram-se a aceitar as regras que então foram es- tabelecidas. Em resposta à controvérsia teológica, foram pro- duzidos os Cânones de Dort, descrevendo os pontos básicos de uma das vertentes da doutrina reformada. A Confissão de Fé de Westminster A Confissão de Westminster foi produzida pela Assem- bleia de Westminster, convocada pelo Parlamento inglês em 1643, durante a Guerra Civil Inglesa. A Confissão foi conclu- ídaem 1646 e apresentada ao Parlamento, que a aprovou após algumas revisões em junho de 1648. Foi adotada pela Igreja da Escócia em 1647, por vários corpos Presbiterianos americanos e ingleses com algumas modificações e por al- guns Congregacionais e Batistas. https://pt.wikipedia.org/wiki/Assembleia_de_Westminster https://pt.wikipedia.org/wiki/Assembleia_de_Westminster LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 26 | P á g i n a Baseada nos Artigos de Religião Irlandeses (1615), ela também se baseou fortemente na tradição reformada do con- tinental e na herança dos credos da Igreja Cristã primitiva. Um consenso teológico do Calvinismo internacional em sua formulação clássica, consiste em 33 capítulos, e fornece uma visão dos pontos de vista reconhecidos pela ortodoxia refor- mada da época, tais como a autoridade das Escrituras, as doutrinas quanto à Trindade e a Cristo, bem como as visões Calvinistas quanto às alianças de Deus com o homem, os sa- cramentos e o sacerdócio. DOUTRINA O termo doutrina pode ser definido como o conjunto de princípios que servem de base a um sistema, seja ele religi- oso, político, filosófico, militar, pedagógico, entre outros. Revelação E As Escrituras Todos os teólogos reformados plenamente acreditamos que Deus comunica o conhecimento de Si mesmo para as pessoas através da Sua Palavra. As pessoas não são capazes de saber nada sobre Deus, exceto através desta auto-revele- ção. A especulação sobre qualquer coisa que Deus não reve- lou através de sua Palavra não se justifica. Todavia, os Calvi- nistas entendem que Deus é infinito, e as pessoas finitas são INTRODUÇÃO 27 | P á g i n a incapazes de compreender um Ser infinito. Enquanto o co- nhecimento revelado por Deus nunca está incorreto, ele tam- bém nunca é completo. De acordo com a teologia reformada, a auto-revelação de Deus é sempre através de Seu Filho Jesus Cristo, porque Cristo é o único mediador entre Deus e as pes- soas (1 Tm 2:5). A revelação de Deus através de Cristo vem por meio de dois canais básicos. 1. A Criação e Providência, a chamada revelação natural, que é criar e continuar a trabalhar no mundo de Deus. Esta ação de Deus dá a todos o conheci- mento sobre Ele, mas esse conhecimento só é sufici- ente para fazer todos os seres humanos culpados por seus pecados, porque ele não inclui conhecimento do Evangelho. 2. A Redenção, que é o Evangelho da salvação da condenação que é castigo pelo pecado, esta é a reve- lação especial. Na teologia reformada, a Palavra de Deus assume diversas formas. O próprio Jesus Cristo é o Verbo encarnado. As profecias sobre Ele podem ser encontradas no Antigo Testamento e no ministé- rio dos apóstolos que o viram e comunicaram a sua mensagem, também são a Palavra de Deus. Além disso, a pregação dos ministros sobre Deus é a pró- pria Palavra de Deus, porque Deus é considerado fa- lando através deles. Deus fala também através de https://pt.wikipedia.org/wiki/Jesus_Cristo https://pt.wikipedia.org/wiki/Jesus_Cristo https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_cria%C3%A7%C3%A3o_no_G%C3%AAnesis https://pt.wikipedia.org/wiki/Divina_Provid%C3%AAncia LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 28 | P á g i n a escritores humanos na Bíblia, que é composta de tex- tos separados por Deus para a auto-revelação. Teó- logos reformados enfatizam a Bíblia como um meio excepcionalmente importante pelo qual Deus se co- munica com as pessoas. Teólogos reformados afir- mam que a Bíblia é verdadeira, mas as diferenças surgem entre eles sobre o significado e a extensão de sua veracidade. Seguidores da escola de Princeton, tais como a Igreja Presbiteriana do Brasil, Igreja Presbiteriana Nacional no México e Igreja Presbite- riana na América, consideramos que a Bíblia é ver- dadeira e infalível, ou incapaz de erro ou falsidade, em todos os aspectos. Um outro ponto de vista, in- fluenciado pelo ensino de Karl Barth e a Neo-Orto- doxia, é encontrado na Confissão de 1967 da Igreja Presbiteriana (EUA). Aqueles que tomam este ponto de vista acreditam que a Bíblia é a principal fonte de nosso conhecimento de Deus. Neste ponto de vista, Cristo é a revelação de Deus, e as Escrituras testemu- nham desta revelação ao invés de ser a própria reve- lação. Deus https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Presbiteriana_do_Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Presbiteriana_Nacional_no_M%C3%A9xico https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Presbiteriana_Nacional_no_M%C3%A9xico https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Presbiteriana_na_Am%C3%A9rica https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Presbiteriana_na_Am%C3%A9rica https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Presbiteriana_(EUA) https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Presbiteriana_(EUA) INTRODUÇÃO 29 | P á g i n a Para a maior parte da tradição reformada não houve mo- dificação do consenso medieval sobre a doutrina de Deus. O caráter de Deus é descrito usando principalmente três adje- tivos: Eterno, Infinito e Imutável. Teólogos reformados como Shirley Guthrie propuseram que em vez de conceber a Deus em termos de Seus atributos e liberdade para fazer o que qui- ser, a doutrina de Deus deve ser baseada no trabalho de Deus na história e sua liberdade para viver com e capacitar as pes- soas. Tradicionalmente, teólogos reformados também segui- ram a tradição medieval que remonta aos conselhos da Igreja primitiva de Nicéia e Calcedônia na doutrina da Trindade. Deus é um Deus em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. O Filho (Cristo) é detido para ser eternamente gerado pelo Pai e o Espírito Santo procede eternamente do Pai e Filho. No entanto, os teólogos contemporâneos têm sido críticos nos aspectos de pontos de vista ocidentais. Com base na tra- dição cristã oriental, estes teólogos reformados propuseram uma "Trindade Social", na qual as pessoas da Trindade só existem em sua vida juntos como pessoas em relação. Con- fissões reformadas contemporâneas como a Confissão de Barmen e as declarações da Igreja Presbiteriana (EUA) têm evitado a linguagem sobre os atributos de Deus e têm enfati- zado seu trabalho de reconciliação e de capacitação das pes- soas. O Teólogo novo Calvinista Michael Horton, no entanto, argumentou que o trinitarianismo social é insustentável https://pt.wikipedia.org/wiki/Confiss%C3%A3o_de_Barmen https://pt.wikipedia.org/wiki/Confiss%C3%A3o_de_Barmen https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Presbiteriana_(EUA) https://pt.wikipedia.org/wiki/Novo_calvinismo LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 30 | P á g i n a porque abandona a unidade essencial de Deus em favor de uma comunidade de seres separados em comunidade. Criação e Expiação Teólogos reformados afirmam a crença cristã histórica de que Cristo é eternamente uma pessoa com uma natureza di- vina e uma natureza humana. Reformadores cristãos especi- almente enfatizam que Cristo verdadeiramente se tornou hu- mano para que as pessoas pudessem ser salvas. A natureza humana de Cristo tem sido um ponto de discórdia entre a cristologia Reformada e Luterana. De acordo com a crença de que os seres humanos finitos não podem compreender a Divindade infinita, teólogos reformados asseguram que o corpo humano de Cristo não pode estar em vários locais ao mesmo tempo. Porque os luteranos creem que Cristo é corpo presente na Eucaristia, eles sustentam que Cristo é corpo presente em muitos locais simultaneamente. Para os cristãos reformados, tal crença nega que Cristo realmente se tornou humano. João Calvino e muitos teólogos reformados que o seguiram descrevem a obra da redenção de Cristo, em termos de três ofícios: Profeta, Sacerdote e Rei. Cristo é dito ser um profeta que ensina a doutrina perfeita, sacerdote que inter- cede ao Pai emfavor dos crentes e se ofereceu como sacrifício pelo pecado, e um rei que governa a Igreja e luta pelos INTRODUÇÃO 31 | P á g i n a crentes. O ofício tríplice vincula a obra de Cristo com a obra de Deus no antigo Israel. Acreditam que a morte e ressurreição de Jesus torna pos- sível para os crentes alcançar o perdão dos pecados e recon- ciliação com Deus por meio da expiação. Reformados Calvi- nistas subscrevem-se a diversas posições sobre a expiação. Uma posição surgida com Calvino é chamada Expiação Substitutiva, o que explica a morte de Cristo como um paga- mento de sacrifício pelo pecado. Acredita-se que Cristo mor- reu no lugar do crente, que é considerado justo como resul- tado desse pagamento sacrificial. Pecado Na teologia cristã, as pessoas são criadas boas e à imagem de Deus, mas nos tornamos corrompidos pelo pecado, o que faz com que sejamos imperfeitos e excessivamente propensos à desobedecer o Criador. Cristãos reformados, seguindo a tradição de Agostinho de Hipona, acreditamos que esta cor- rupção da natureza humana foi causada pelo primeiro pe- cado de Adão e Eva, a doutrina chamada Pecado original. Teólogos reformados enfatizam que este pecado afeta toda a natureza de uma pessoa, incluindo a sua vontade. Sob esta visão o pecado domina as pessoas de forma que são incapazes de evitar o pecado, tem sido chamado de Total Depravity. Em Português, o termo “Depravação Total” pode ser https://pt.wikipedia.org/wiki/Expia%C3%A7%C3%A3o_(vis%C3%A3o_substitucion%C3%A1ria) https://pt.wikipedia.org/wiki/Expia%C3%A7%C3%A3o_(vis%C3%A3o_substitucion%C3%A1ria) https://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_de_Hipona LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 32 | P á g i n a facilmente mal interpretado para significar que as pessoas estão ausentes de qualquer bondade ou incapazes para fazer qualquer bem. No entanto, pelo ensino Reformado enquanto as pessoas continuam a suportar algo da imagem de Deus, podem fazer coisas que são exteriormente boas, mas suas in- tenções pecaminosas afetam toda a sua natureza e ações pelo que eles não são totalmente agradáveis a Deus. Talvez, em português, fosse melhor usar a expressão “depravação GE- RAL” ao invés de “total”, para entender que toda a natureza foi afetada, que é o que pretende a expressão original. VERTENTES TEOLÓGICAS REFORMADAS O Calvinismo não é um sistema doutrinário uniforme. Não é definido por um conjunto doutrinário distintivo, mas por um anseio de ser uma Igreja sempre em contínua re- forma, algo expresso pelo lema latino “Ecclesia Reformanda semper reformata est”. Dentre as principais vertentes estão as seguintes. O Amiraldismo O Amiraldismo são as correntes reformadas que não fo- ram influenciadas pelas reinterpretações que Teodoro de Beza fez sobre Calvino. Encontrou adeptos entre huguenotes e vários calvinistas moderados de língua inglesa. Parte da INTRODUÇÃO 33 | P á g i n a premissa de que Deus tornou os benefícios da redenção de Cristo disponíveis a todos sem distinção. No entanto, como ninguém acreditaria por si mesmo se Deus não interviesse na primeira pessoa para suscitar a fé, Ele elege aqueles a quem pretende levar à fé em Cristo. O Calvinismo do Sínodo de Dordt A Escolástica Protestante e o Hipercalvinismo reinterpre- tam a teologia reformada com base nos Cânones do Sínodo de Dordt. Lembrados pelo mnemônico, isto é, uma técnica com o objetivo de auxiliar a memória. “TULIP”, diz-se po- pularmente que os cinco pontos resumem os Cânones de Dort; no entanto, não há nenhuma relação histórica entre eles, e alguns estudiosos argumentam que sua linguagem dis- torce o significado dos Cânones, da teologia de Calvino e da teologia da Ortodoxia Calvinista do século XVIII, particular- mente na linguagem sobre a Depravação Total e a Expiação Limitada. Os cinco pontos foram mais recentemente popula- rizados no livreto de 1963, “Os Cinco Pontos do Calvinismo Definidos, Defendidos e Documentados” por David N. Steele e Curtis C. Thomas. As origens dos cinco pontos e do acrô- nimo são incertas. As primeiras menções aos pontos parecem estar delineadas na contra remonstrância de 1611, uma res- posta reformada menos conhecida aos arminianos que ocor- reu antes dos Cânones de Dort. A sigla foi usada por Cleland https://pt.wikipedia.org/wiki/Cinco_pontos_do_calvinismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Cinco_pontos_do_calvinismo https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A2nones_de_Dort https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A2nones_de_Dort LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 34 | P á g i n a Boyd McAfee já por volta de 1905. Uma das primeiras apari- ções impressas do acrônimo T-U-L-I-P está no livro de Lo- raine Boettner de 1932, “The Reformed Doctrine of Predes- tination”. A sigla foi muito cautelosamente usada por apolo- gistas e teólogos Calvinistas antes do livreto de Steele e Tho- mas. A afirmação central desses pontos é que Deus salva toda pessoa de quem tem misericórdia, e que seus esforços não são frustrados pela injustiça ou incapacidade dos seres hu- manos. 1. A Depravação Total, também chamada de “incapa- cidade total”, afirma que, como consequência da queda do homem, toda pessoa está escravizada pelo pecado. Nos Cânones de Dort, a expressão Depravação Total não aparece, mas há a exposição de uma ideia similar: “Portanto, todos os homens são concebidos no pecado, e ao nascer como filhos da ira, incapazes de qualquer bem são ou salvífico, e inclinados ao mal, mortos em pecados e escravos do pecado; e eles não querem e nem podem voltar a Deus, nem corrigir sua natureza corrompida, e nem melhorá-la por si mesmos, sem a graça do Espírito Santo, que é aquele que regenera”. 2. A Eleição Incondicional, afirma que Deus esco- lheu os seus Eleitos desde a eternidade, não com base INTRODUÇÃO 35 | P á g i n a na virtude, mérito ou fé previstos para essas pessoas; ao contrário, a sua escolha é incondicionalmente fun- damentada somente em sua misericórdia. Deus esco- lheu desde a eternidade estender misericórdia aos que escolheu e reter misericórdia aos não escolhidos. Os es- colhidos recebem a salvação somente por meio de Cristo. Aqueles não escolhidos recebem a ira, que é jus- tificada por seus pecados contra Deus. 3. A Expiação Limitada, também chamada de “re- denção particular” ou “expiação definida”. Apesar de os cânones de Dordt e muitos de seus participantes cre- rem na expiação geral, porém com eficácia limitada, a recepção posterior por uma vertente hipercalvinista afirma que a expiação substitutiva de Jesus foi definida e certa em seu propósito e no que ela realizou. Isso im- plica que apenas os pecados dos eleitos foram expiados pela morte de Jesus. Muitos intérpretes dos cânones de Dort não acreditam, no entanto, que a expiação seja li- mitada em seu valor ou poder, mas sim que a expiação é limitada no sentido de que se destina a alguns e não a todos. Ou, como é exposto nos Cânones de Dort: “Pois este foi o soberano conselho, e a mais graciosa vontade e propósito de Deus Pai, que a eficácia vivificante e sal- vífica da morte mais que preciosa de seu Filho se es- tendesse a todos os Eleitos, para conceder a eles, e https://pt.wikipedia.org/wiki/Expia%C3%A7%C3%A3o_limitada LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 36 | P á g i n a somente a eles, o dom da fé justificadora, e assim, trazê-los infalivelmente à salvação”. 4. A Graça Irresistível, também chamada de “graça eficaz”, afirma que a graça salvadora de Deus é efetiva- mente aplicada àqueles a quem Ele determinou salvar (isto é, os Eleitos) e supera a sua resistência natural em obedecer ao chamado do Evangelho, trazendo-os para a fé salvadora. Isso significa que quando Deustem o propósito soberano de salvar alguém, esse indivíduo certamente será salvo. A doutrina sustenta que esta in- fluência intencional do Espírito Santo de Deus não pode ser resistida, mas que o Espírito Santo, “graciosa- mente faz com que o pecador eleito coopere, creia, ar- rependa-se, e vá livre e espontaneamente a Cristo”. 5. Perseverança dos Santos, também conhecida como “perseverança de Deus com os santos” e “a pre- servação dos crentes”, a palavra “santos” é usada para se referir a todos os que são separados por Deus, e não àqueles que são excepcionalmente santos, canonizados ou no céu, a doutrina afirma que, visto que Deus é so- berano e a sua vontade não pode ser frustrada por hu- manos ou por qualquer outra coisa ou ser, aqueles a quem Deus chamou à comunhão com Ele continuarão na fé até o fim. Aqueles que aparentemente caem ou INTRODUÇÃO 37 | P á g i n a nunca tiveram fé verdadeira para começar (1 Jo 2:19), ou, se eles são salvos, mas não andam no Espírito, eles serão divinamente castigados (Hb 12:5-11) e serão leva- dos ao arrependimento (1 Jo 3:6–9). Alguns dos pontos citados acima estão muito bem coloca- dos e fundamentos nas escrituras, mas ficou algumas lacunas entre a verdades e as supostas exposições dessas verdades, como se tivesse sido ocultado o sentido da mensagem doutri- nária de Deus ao homem, criando assim uma possibilidade de ver como uma controvérsia a luz de outros versículos. Por isso o Calvinismo é tão criticado, mas para aqueles que o aceita esses tornam-se consequentemente radicais naquilo que creem. Aliancismo Calvinista O teólogo reformado holandês Johannes Cocceius, propôs um conceito de pacto ou aliança para descrever a maneira como Deus entra em comunhão com as pessoas na história. O conceito de aliança é tão proeminente na teologia refor- mada que às vezes é chamada de "teologia da aliança". No entanto, teólogos do século XVII desenvolveram um sistema teológico particular chamado "teologia da aliança" ou "teo- logia federal" que muitas igrejas reformadas continuam a afirmar nos dias de hoje. Esse sistema estabelece uma divisão LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 38 | P á g i n a sobre a relação de Deus com as pessoas principalmente em dois pactos: O “pacto das obras"” e o “pacto da graça”. O pacto das obras é feito com Adão e Eva no Jardim do Éden, onde Deus proveria uma vida abençoada no Jardim com a condição de que Adão e Eva obedecessem à lei Divina perfei- tamente, lei que esta, por natureza implantada no homem, mais conhecida como “lei moral”. Como Adão e Eva quebraram o pacto ao comer o fruto proibido, eles ficaram sujeitos à morte, foram banidos do jar- dim e o pecado foi transmitido a toda a humanidade. Teólo- gos federais geralmente inferem que Adão e Eva teriam ga- nho a imortalidade caso tivessem obedecido perfeitamente. O segundo pacto, chamado o pacto da graça, é dito ter sido feito imediatamente após o pecado de Adão e Eva. Nele, Deus graciosamente oferece a salvação da morte sob a condição de fé em Jesus Cristo. Este pacto é administrado em formas di- ferentes em todo o Antigo e Novo Testamentos, mas mantém a substância de ser livre de uma exigência de perfeita obedi- ência. Hipercalvinismo O hipercalvinismo é um ramo fatalista da teologia calvi- nista. Para os hipercalvinistas, a humanidade não tem o de- ver universal de crer em Cristo para a salvação de suas almas, https://pt.wikipedia.org/wiki/Ad%C3%A3o_e_Eva https://pt.wikipedia.org/wiki/Jardim_do_%C3%89den https://pt.wikipedia.org/wiki/Hipercalvinismo INTRODUÇÃO 39 | P á g i n a pois Deus já determinou quem vai ser salvo ou não. O hiper- calvinismo difere do calvinismo tradicional na “suficiência e eficiência” da expiação de Cristo. A predestinação no calvi- nismo tradicional sustenta que somente os eleitos são capa- zes de compreender a expiação de Cristo, mas que a suficiên- cia da expiação se estende a toda a humanidade, enquanto o hipercalvinismo sustenta que a expiação é suficiente apenas para os eleitos. Entre os teólogos hipercalvinistas estão John Gill, Arthur Pink e R.C. Sproul. O Edwardsianismo A teologia da Nova Inglaterra ou “Edwardsianismo” de- signa uma escola de teologia que cresceu por influência do avivalista Jonathan Edwards na época colonial dos Estados Unidos colonial. Nessa vertente, Deus é considerado sob as- pectos mais éticos; por uma nova ênfase na liberdade, habi- lidade e responsabilidade do homem; pela restrição da qua- lidade moral à ação em distinção da natureza; e pela teoria de que o princípio constitutivo da virtude é a benevolência. Considera que o pecado original não é herdado, mas que os descendentes de Adão foram co-participantes da primitiva transgressão. Diferente de boa parte dos outros calvinistas, essa vertente adota a visão governamental de expiação. Barth e o Calvinismo Evangelical https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Gill https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Gill https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Arthur_Pink&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/R.C._Sproul https://pt.wikipedia.org/wiki/Jonathan_Edwards_(te%C3%B3logo) LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 40 | P á g i n a Uma reformulação contemporânea da teologia reforma ocorreu pela teologia dialética do teólogo reformado suíço Karl Barth, Emil Brunner e Thomas F. Torrance. Para Barth, nenhum outro fundamento pode haver além de Jesus Cristo. Desse modo, a compreensão da exatidão e valor das Escrituras só pode emergir adequadamente ao considerar o que significa para elas serem verdadeiras testemunhas da Pa- lavra encarnada, Jesus Cristo. Tudo ao contrário disso seria a idolatria: a deificação do pensamento humano, falsos deu- ses, bloqueando assim a verdadeira voz do Deus vivo. Isso, por sua vez, levaria a teologia a se tornar prisioneira das ide- ologias humanas. A complexidade do pensamento de Barth teve recepção diversa. Sob a designação de teologia neo-or- todoxa é examinado por teólogos de outras tradições, sobre- tudo luteranos e católicos. Entre reformados de tendência evangelical, com base nos Cinco Solas da teologia neo-ortodoxa surgiriam teólogos como Donald G. Bloesch, Alvin Plantinga, Alister McGrath, Kevin Vanhoozer e James A. K. Smith que combinam filoso- fia, ciência e a tradição histórica do cristianismo em questões e métodos teológicos reformados. O Novo Calvinismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Evangelicalismo INTRODUÇÃO 41 | P á g i n a O Novo Calvinismo é uma reinterpretação não denomina- cional das doutrinas aliancistas e hipercalvinistas sob uma ótica cultural dos Estados Unidos da América, surgido nas últimas décadas do século XX e primeiras décadas de século XXI. Interpretação Sociológica Sociólogos como Max Weber e Ernest Gellner analisaram a teoria e as consequências práticas desta doutrina e chega- ram à conclusão de que os resultados são paradoxais. Em parte, explicam o precoce desenvolvimento do capitalismo nos países onde o calvinismo foi popular: “Holanda, Escócia e Estados Unidos”, sobretudo, Para Weber, o calvinista acre- dita que Deus é Soberano em todas as coisas, e, portanto, o homem não tem participação alguma na própria salvação, logo, Deus predestinou os seus escolhidos para a salvação, uma vez que a humanidade após o pecado não teria condi- ções de se voltar ao Criador por estarem mortos em seus pe- cados e delitos. Buscando serem bons cristão, trabalhando muito, seguindo sempre todos os princípios bíblicos, o calvi- nista faz tudo para a glória de Deus. Com essa cosmovisão, por meio do trabalho a sociedade se desenvolveu economica- mente fazendo com que houvesse uma ligação com o capita- lismo. Os holandeses, os escoceses e os americanos ganha- ram,então, a fama de serem sovinas, pouco generosos, https://pt.wikipedia.org/wiki/Novo_Calvinismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_Unidos_da_Am%C3%A9rica https://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber https://pt.wikipedia.org/wiki/Ernest_Gellner LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 42 | P á g i n a interessados apenas no dinheiro. Estas características são na vida moderna quase um dado adquirido em qualquer cultura, mas nos tempos da Reforma Protestante, o calvinismo terá instituído uma nova e revolucionária forma de relação com a riqueza. Ocorre que o uso dos ideais calvinistas para o ala- vancar da sociedade capitalista é equivocadamente relacio- nado a ideais capitalistas intrínsecos ao calvinismo. Calvino em sua obra afirma que a riqueza não tem razão de ser, se não para ajudar aos que necessitam, e critica a avareza ao di- zer que o fruto do trabalho só é digno se útil ao próximo: “Da mão de Deus tens tu o que possuis. Tu, porém, deve- rias usar de humanidade para com aqueles que padecem necessidades. És rico? Isso não é para teu bel prazer. Deve a caridade faltar por isso? Deve ela diminuir? Não está ela acima de todas as questões do mundo? Não é ela o vínculo da perfeição?”; “Condena o Profeta a estes ladrões e assal- tantes que lhe parecia deterem o poder de oprimir a gente pobre e o pequeno trabalhador, uma vez que eram eles que tinham grande abundância de trigo e grãos;... é o mesmo como se cortassem a garganta dos pobres, quando os fazem assim sofrer fome”. ARMINIANISMO https://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Protestante INTRODUÇÃO 43 | P á g i n a O arminianismo é uma escola de pensamento soterioló- gica que refere-se à “doutrina da salvação”, baseada nas ideias do holandês Jacó Armínio (1560-1609) e seus segui- dores históricos, os remonstrantes. A aceitação doutrinária se estende por boa parte do cristianismo desde os primeiros argumentos entre Atanásio e Orígenes, até a defesa de Agos- tinho de Hipona do “pecado original”. O arminianismo ho- landês foi originalmente articulado na Remonstrância (1610), uma declaração teológica assinada por 45 ministros e apresentado ao estado holandês. O Sínodo de Dort (1618–19) foi chamado pelos estados gerais para mudar a Remonstrân- cia. Os cinco pontos da Remonstrância afirmam que: 1. A eleição “e condenação no dia do julgamento” foi condicionada pela fé racional ou não-fé do ho- mem; 2. A expiação, embora qualitativamente suficiente a todos os homens, só é eficaz ao homem de fé; 3. Sem o auxílio do Espírito Santo, nenhuma pessoa é capaz de responder à vontade de Deus; 4. A graça é resistível; e 5. Os crentes são capazes de resistir ao pecado, mas não estão fora da possibilidade de cair da graça. O ponto crucial do arminianismo remonstrante reside na afirmação de que a dignidade humana requer a liberdade LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 44 | P á g i n a perfeita do arbítrio. Desde o século XVI, muitos cristãos in- cluindo os batistas (A History of the Baptists terceira edição por Robert G. Torbet) têm sido influenciados pela visão ar- miniana. Também os metodistas, os congregacionalistas das pri- meiras colônias da Nova Inglaterra nos séculos XVII e XVIII, e os universalistas e unitários nos séculos XVIII e XIX. O termo arminianismo é usado para definir aqueles que afir- mam as crenças originadas por Jacó Armínio, porém o termo também pode ser entendido de forma mais ampla para um agrupamento maior de ideias, incluindo as de Hugo Grotius, John Wesley e outros. Há duas perspectivas principais sobre como o sistema pode ser aplicado corretamente: arminia- nismo clássico, que vê em Armínio o seu representante; e ar- minianismo wesleyano, que vê em John Wesley o seu repre- sentante. O arminianismo wesleyano é por vezes sinônimo de metodismo. Além disso, o arminianismo é muitas vezes mal interpretado por alguns dos seus críticos que o incluem no semipelagianismo ou no pelagianismo, ainda que os defen- sores de ambas as perspectivas principais neguem veemen- temente essas alegações. Dentro do vasto campo da história da teologia cristã, o arminianismo está intimamente relacio- nado com o calvinismo “ou teologia reformada”, sendo que os dois sistemas compartilham a mesma história e muitas https://pt.wikipedia.org/wiki/Batistas https://pt.wikipedia.org/wiki/Metodista https://pt.wikipedia.org/wiki/Congregacionalismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Universalismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Unitarismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_teologia_crist%C3%A3 https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_teologia_crist%C3%A3 INTRODUÇÃO 45 | P á g i n a doutrinas. No entanto, eles são frequentemente vistos como rivais dentro do evangelicalismo por causa de suas divergên- cias sobre os detalhes das doutrina da predestinação e da sal- vação. História Embora tenha sido discípulo do notável calvinista Teo- doro de Beza, Armínio defendeu uma forma evangélica de si- nergismo “crença de que a salvação do homem depende da cooperação entre Deus e o homem”, que é contrário ao mo- nergismo, do qual faz parte o calvinismo “crença de que a sal- vação é inteiramente determinada por Deus, sem nenhuma participação livre do homem”. O sinergismo arminiano di- fere substancialmente de outras formas de sinergismo, tais como o pelagianismo e o semipelagianismo, como se de- monstrará adiante. De modo análogo, também há variações entre as crenças monergistas, tais como o supralapsaria- nismo e o infralapsarianismo. Armínio não foi o primeiro e nem o último sinergista na história da Igreja. Certo é que, há dúvidas quanto ao fato de que ele tenha introduzido algo de novo na teologia cristã. Os próprios arminianos costumavam afirmar que os Padres da Igreja grega dos primeiros séculos da era cristã e muitos dos teólogos católicos medievais eram sinergistas, tais como o re- formador católico Erasmo de Roterdã. Até mesmo Philipp https://pt.wikipedia.org/wiki/Predestina%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Salva%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Salva%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Teodoro_de_Beza https://pt.wikipedia.org/wiki/Teodoro_de_Beza https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinergismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinergismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Pelagianismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Semipelagianismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Infralapsarianismo LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 46 | P á g i n a Melanchthon (1497-1560), companheiro de Lutero na re- forma alemã, era sinergista, embora o próprio Lutero não fosse. Armínio e seus seguidores divergiram do monergismo cal- vinista por entenderem que as crenças calvinistas na eleição incondicional e especialmente na reprovação incondicional, na expiação limitada e na graça irresistível: • seriam incompatíveis com o caráter de Deus, que é amoroso, compassivo, bom e deseja que todos se salvem. • violariam o caráter pessoal da relação entre Deus e o homem. • levariam à consequência lógica inevitável de que Deus fosse o autor do mal e do pecado. Contexto Histórico Para compreender os motivos que levaram à aguda con- trovérsia entre o calvinismo e o arminianismo, é preciso compreender o contexto histórico e político no qual se inse- riam os Países Baixos à época. De acordo com historiadores, tais como Carl Bangs, autor de “Arminius: A Study in the Dutch Reformation (1985)”, as igrejas reformadas da região eram protestantes, em sentido geral, e não rigidamente cal- vinistas. Embora aceitassem o catecismo de Heidelberg como INTRODUÇÃO 47 | P á g i n a declaração primária de fé, não exigiam que seus ministros ou teólogos aderissem aos princípios calvinistas, que vinhamsendo desenvolvidos em Genebra, por Beza. Havia relativa tolerância entre os protestantes holandeses. De fato, havia tanto calvinistas quanto luteranos. Os seguidores do siner- gismo de Melanchthon conviviam pacificamente com os que professavam o supralapsarianismo de Beza. O próprio Armí- nio, acostumado com tal “unidade na diversidade”, mostrou- se estarrecido, em algumas ocasiões, com as exageradas rea- ções calvinistas ao seu ensino. Essa convivência pacífica co- meçou a ser destruída quando Franciscus Gomarus, colega de Armínio na Universidade de Leiden, passou a defender que os padrões doutrinários das Igrejas e universidades ho- landesas fossem calvinistas. Então, lançou um ataque contra os moderados, incluindo Armínio. De início, a campanha para impor o calvinismo não foi bem sucedida. Tanto a igreja quanto o Estado não considera- vam que a teologia de Armínio fosse heterodoxa. Isso mudou quando a política passou a interferir no processo. Na época, os países baixos, liderados pelo príncipe Maurício de Nas- sau, calvinista, estavam em guerra contra a dominação da Espanha, a católica. Alguns calvinistas passaram a convencer os governantes dos Países Baixos, e especialmente o príncipe Nassau, de que apenas a sua teologia proveria uma proteção segura contra a influência do catolicismo espanhol. De fato, https://pt.wikipedia.org/wiki/Maur%C3%ADcio,_pr%C3%ADncipe_de_Orange https://pt.wikipedia.org/wiki/Maur%C3%ADcio,_pr%C3%ADncipe_de_Orange LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 48 | P á g i n a caricaturas da época apresentavam Armínio como um jesuíta disfarçado. Nada disso foi jamais comprovado. Depois da morte de Armínio, o governo começou a interferir cada vez mais na controvérsia teológica sobre predestinação. O prín- cipe Nassau destituiu os arminianos dos cargos políticos que ocupavam. Um arminiano foi executado e outros foram pre- sos. O conflito teológico atingiu tamanha proporção que le- vou a Igreja a convocar o Sínodo Nacional da Igreja Refor- mada, em Dort, mais conhecido como o Sínodo de Dort, onde os arminianos, conhecidos como “remonstrantes”, tiveram a oportunidade de defender seus pontos de vista perante as au- toridades, partidárias do calvinismo. As discussões ocorre- ram em 154 reuniões iniciadas em 13 de novembro 1618 e en- cerrada em 9 de maio de 1619, cujo assunto era a predestina- ção incondicional defendida pelo calvinismo e a predestina- ção condicional defendida pelo arminianismo. Os arminia- nos acabaram sendo condenados como hereges, destituídos de seus cargos eclesiásticos e seculares, tiveram suas propri- edades expropriadas e foram exilados. Logo que Maurício de Nassau morreu, os calvinistas perderam o seu poder na re- gião e os arminianos puderam retornar ao país, onde funda- ram Igrejas e um seminário, o qual até hoje existe na Ho- landa (Remonstrants Seminarium). Em síntese, as igrejas protestantes holandesas continham diversidade teológica, à INTRODUÇÃO 49 | P á g i n a época de Armínio. Tanto monergistas quanto sinergistas eram ali representados e conviviam pacificamente. O que le- vou a visão monergista à supremacia foi o poder do Estado, representado pelo príncipe Maurício de Nassau, que perse- guiu os sinergistas. Para Armínio e seus seguidores, sua teo- logia também era compatível com a reforma protestante. Em sua opinião, tanto o calvinismo quanto o arminianismo são duas correntes inseridas na reforma protestante, por serem, ambas, compatíveis com o lema dos reformados: Sola Scrip- tura, Solus Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria. TEOLOGIA A teologia arminiana geralmente cai em um dos dois gru- pos: 1. Arminianismo clássico, elaborado a partir do ensino de Jacó Armínio; 2. Arminianismo wesleyano, com base princi- palmente nos ensinos de Wesley. Ambos os grupos se sobrepõem consideravelmente. Arminianismo Clássico O arminianismo clássico, às vezes chamado de “arminia- nismo reformado”, é o sistema teológico que foi apresentado por Jacó Armínio e mantido pelos remonstrantes; sua https://pt.wikipedia.org/wiki/Jac%C3%B3_Arm%C3%ADnio LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 50 | P á g i n a influência serve como base para todos os sistemas arminia- nos. A lista de crenças é dado abaixo: • A depravação é total: Armínio declarou: “Neste estado [caído], o livre-arbítrio do homem para o verdadeiro bem não está apenas ferido, en- fermo, inclinado e enfraquecido; mas ele está tam- bém preso, destruído e perdido. E os seus poderes não só estão debilitados e inúteis a menos que seja assistido pela graça, mas não tem poder algum ex- ceto quando é animado pela graça divina”. • A expiação destina-se a todos: Jesus morreu para todas as pessoas, Jesus atrai todos a si mesmo, e todas as pessoas têm oportunidade de se salvarem pela fé. • A morte de Jesus satisfaz a justiça de Deus: A penalidade pelos pecados dos eleitos é paga in- tegralmente através da obra de Jesus na cruz. As- sim, a expiação de Cristo é destinada a todos, mas requer a fé para ser efetuada. Armínio declarou que: “Justificação, quando usada para o ato de um juiz, também é exclusivamente a imputação da jus- tiça através da misericórdia... ou esse homem é justificado diante de Deus... de acordo com o rigor da justiça sem qualquer perdão”. Stephen Ashby https://pt.wikipedia.org/wiki/Deprava%C3%A7%C3%A3o_total https://pt.wikipedia.org/wiki/Expia%C3%A7%C3%A3o_(vis%C3%A3o_de_satisfa%C3%A7%C3%A3o) INTRODUÇÃO 51 | P á g i n a esclarece: “Armínio só considera duas maneiras possíveis em que o pecador pode ser justificado: (1) pela nossa adesão absoluta e perfeita à lei, ou (2) exclusivamente pela divina imputação da jus- tiça de Cristo”. • A graça é resistível: Deus toma a iniciativa no processo de salvação e a sua graça vem a todas as pessoas. Esta graça muitas vezes chamada de “pre- veniente ou pré-graça regeneradora” age em todas as pessoas para convencê-las do Evangelho, chamá-las fortemente à salvação, e capacitar a possibilidade de uma fé sincera. Picirilli declarou que “realmente esta graça está tão próxima da re- generação que ela leva inevitavelmente à regene- ração, a menos que, por fim, seja resistida”. A oferta de salvação por graça não age irresistivel- mente em um simples causa-efeito (i.e num mé- todo determinístico), mas sim de um modo de in- fluência e resposta, que tanto pode ser livremente aceita e livremente negada. • O homem tem livre arbítrio para respon- der ou resistir: O livre-arbítrio é limitado pela soberania de Deus, mas a soberania de Deus per- mite que todos os homens tenham a opção de LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 52 | P á g i n a aceitar o Evangelho de Jesus através da fé, simul- taneamente, permite que todos os homens resis- tam. • A eleição é condicional: Armínio define elei- ção como “o decreto de Deus pelo qual, de Si mesmo, desde a eternidade, decretou justificar em Cristo, os crentes, e aceitá-los para a vida eterna”. Só Deus determina quem será salvo e a sua deter- minação é que todos os que crêem em Jesus atra- vés da fé sejam justificados. Segundo Armínio, “Deus a ninguém preza em Cristo, a menos que se- jam enxertados nele pela fé”. • Deus predestina os eleitos a um futuro glo- rioso: A predestinação não é a predeterminação de quem irá crer, mas sim a predeterminação da herança futura do crente. Os eleitos são, portanto, predestinados à filiação pela adoção, glorificação, e vida eterna. • A justiça de Cristo é imputada ao crente: A justificação é sola fide. Quando os indivíduos se ar- rependem e creem em Cristo “fé salvífica”, eles são regenerados e trazidos a união com Cristo, pela qual a morte e a justiça de Cristosão imputadas a eles, para sua justificação diante de Deus. https://pt.wikipedia.org/wiki/Elei%C3%A7%C3%A3o_condicional INTRODUÇÃO 53 | P á g i n a • A segurança eterna é também condicional: Todos os crentes têm plena certeza da salvação com a condição de que eles permaneçam em Cristo. A salvação é condicional à fé, portanto, a perseverança também é condicional. A apostasia “desvio de Cristo” só é cometida por uma delibe- rada e proposital rejeição de Jesus e renúncia da fé. Os cinco artigos da remonstrância que os seguidores de Armínio formularam em 1610 o estado acima de crenças re- lativas (1) eleição condicional, (2) expiação ilimitada, (3) de- pravação total, (4) e a graça resistível, e (5) possibilidade de apostasia. Note, entretanto, que o artigo quinto não nega completamente a perseverança dos santos, Armínio mesmo, disse: “Nunca me ensinaram que um verdadeiro crente pode cair ... longe da fé ... ainda não vou esconder que há passa- gens da Escritura que parecem-me usar este aspecto, e as respostas a elas que me foi permitido ver, não são como a gentileza de aprovar-se em todos os pontos para o meu en- tendimento”. Além disso, o texto dos artigos da Remons- trância diz que nenhum crente pode ser arrancado da mão de Cristo, e à questão da apostasia, “a perda da salvação” é ne- cessário mais estudos antes que pudesse ser ensinada com plena certeza. As crenças básicas de Jacó Armínio e os https://pt.wikipedia.org/wiki/Preserva%C3%A7%C3%A3o_condicional_dos_santos LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 54 | P á g i n a remonstrances estão resumidos como tal pelo teólogo Stephen Ashby: 1. Antes de ser chamado e capacitado, alguém é in- capaz de crer... somente capaz de resistir. 2. Depois de ter sido chamado e capacitado, mas an- tes da regeneração, alguém é capaz de crer... e também capaz de resistir. 3. Após alguém crer, Deus o regenera, alguém é ca- paz de continuar crendo... também capaz de resis- tir. 4. Após resistir ao ponto de descrer, alguém é inca- paz de acreditar... só capaz de resistir. Interpretação dos Cinco Pontos O terceiro ponto sepulta qualquer pretensão de associar o arminianismo ao pelagianismo ou ao semipelagianismo. De fato, a doutrina de Armínio é perfeitamente compatível com a Depravação Total calvinista. Ou seja, em seu estado origi- nal o homem é herdeiro da natureza pecaminosa de Adão e totalmente incapaz, até mesmo, de desejar se aproximar de Deus. Nenhum homem nasce com o “livre-arbítrio”, ou seja, com a capacidade de não resistir a Deus. O quarto ponto demonstra claramente que é a graça pre- veniente que restaura no homem a sua capacidade de não https://pt.wikipedia.org/wiki/Deprava%C3%A7%C3%A3o_total https://pt.wikipedia.org/wiki/Gra%C3%A7a_preveniente https://pt.wikipedia.org/wiki/Gra%C3%A7a_preveniente INTRODUÇÃO 55 | P á g i n a resistir à Deus. Portanto, para Armínio, a salvação é pela graça somente e por meio da fé somente. Nesse sentido, os arminianos do coração concordam com os calvinistas no sen- tido de que a capacitação, por meio da graça, precede a fé, e que até mesmo a fé salvadora seja um dom de Deus. A dife- rença está na compreensão da operação dessa graça. Para os calvinistas, a graça é concedida apenas aos eleitos, que a ela não podem resistir. Para os arminianos, a expiação por meio de Jesus Cristo é universal e comunica essa graça preveni- ente a todos os homens; mas ela pode ser resistida. Assim como o pecado entrou no mundo pelo primeiro Adão, a graça foi concedida ao mundo por meio de Cristo, último Adão (Rm 5:18; Jo 1:9). Nesse sentido, os arminianos entendem que (2 Tm 4:10) aponta para duas salvações em Cristo: uma univer- sal e uma especial para os que creem. A primeira corresponde à graça preveniente, concedida a todos os homens, que lhes restaura o arbítrio, ou seja, a capacidade de não resistir a Deus. Ela é distribuída a todos os homens porque Deus é amor (1 Jo 4:8, Jo 3:16) e deseja que todos os homens se sal- vem (1 Tm 2:4; 2 Pedro 3:9), conforme defendido no segundo ponto do arminianismo. A segunda é alcançada apenas pelos que não resistem à graça salvadora e creem em Cristo. Estes são os predestinados, segundo a visão arminiana de predes- tinação. Portanto, embora a expressão “livre-arbítrio” seja comumente associada ao arminianismo, ela deve ser https://pt.wikipedia.org/wiki/Calvinistas https://pt.wikipedia.org/wiki/Expia%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro_Ad%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Salva%C3%A7%C3%A3o_universal&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Salva%C3%A7%C3%A3o_universal&action=edit&redlink=1 https://pt.wikisource.org/wiki/Tradu%C3%A7%C3%A3o_Brasileira_da_B%C3%ADblia/I_Jo%C3%A3o/IV#4:8 https://pt.wikipedia.org/wiki/Predestina%C3%A7%C3%A3o LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 56 | P á g i n a entendida como “arbítrio liberto”, “livre agência” ou “von- tade liberta” pela graça preveniente, convencedora, ilumina- dora e capacitante que torna possíveis o arrependimento e a fé. Sem a atuação da graça, nenhum homem teria livre-arbí- trio. Ao contrário dos calvinistas, os arminianos creem que essa graça preveniente, concedida a todos os homens, não é uma força irresistível, que leva o homem necessariamente à salvação. Para Armínio, tal graça irresistível violaria o caráter pessoal da relação entre Deus e o homem. Assim, todos os homens continuam a ter a capacidade de resistir à Deus, que já possuíam antes da operação da graça (At 7:51; Lc 7:30; Mt 23:37). Portanto, a responsabilidade do homem em sua sal- vação consiste em não resistir ao Espírito Santo. Este é o co- ração do sinergismo arminiano, o qual difere radicalmente dos sinergismos, pelagiano e semipelagiano. No que tange à perseverança dos santos, os remonstrantes não se posiciona- ram, já que deixaram a questão em aberto. Citações Das Obras De Armínio Os textos a seguir transcritos, escritos pelo próprio Armí- nio, são úteis para demonstrar algumas de suas ideias. […] Mas em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de por si mesmo, pensar, desejar, ou fazer aquilo que é realmente bom; mas é necessário que ele seja regenerado https://pt.wikipedia.org/wiki/Gra%C3%A7a_irresist%C3%ADvel https://pt.wikipedia.org/wiki/Esp%C3%ADrito_Santo https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinergismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Semipelagianismo INTRODUÇÃO 57 | P á g i n a e renovado em seu intelecto, afeições ou vontade, e em todos os seus poderes, por Deus em Cristo através do Espírito Santo, para que ele possa ser capacitado corretamente a en- tender, avaliar, considerar, desejar, e executar o que quer que seja verdadeiramente bom. Quando ele é feito partici- pante desta regeneração ou renovação, eu considero que, visto que ele está liberto do pecado, ele é capaz de pensar, desejar e fazer aquilo que é bom, todavia não sem a ajuda contínua da Graça Divina. Com referência à Graça Divina, creio, (1.) É uma afeição imerecida pela qual Deus é ama- velmente afetado em direção a um pecador miserável, e de acordo com a qual ele, em primeiro lugar, doa seu Filho, “para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna”, e, depois, ele o justifica em Cristo Jesus e por sua causa, e o admite no direito de filhos, para salvação. (2.) É uma infu- são (tanto no entendimento humano quanto na vontade e afeições), de todos aqueles dons do Espírito Santo que per- tencem à regeneração e renovação do homem, tais como a fé, a esperança, a caridade, etc.; pois, sem estes dons graci- osos, o homem não é capaz de pensar, desejar, ou fazer qual- quer coisa que seja boa. (3.) É aquela perpétua assistência e contínua ajuda do Espí- rito Santo, de acordo com a qual Ele age sobreo homem que já foi renovado e o excita ao bem, infundindo-lhe LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 58 | P á g i n a pensamentos salutares, inspirando-lhe com bons desejos, para que ele possa dessa forma verdadeiramente desejar tudo que seja bom; e de acordo com a qual Deus pode então desejar trabalhar junto com o homem, para que o homem possa executar o que ele deseja. Desta maneira, eu atribuo à graça O COMEÇO, A CONTINUIDADE E A CONSUMA- ÇÃO DE TODO BEM, e a tal ponto eu estendo sua influência, que um homem, embora regenerado, de forma nenhuma pode conceber, desejar, nem fazer qualquer bem, nem resis- tir a qualquer tentação do mal, sem esta graça preveniente e excitante, seguinte e cooperante. Desta declaração clara- mente parecerá que de maneira nenhuma eu faço injustiça à graça, atribuindo, como é dito de mim, demais ao livre- arbítrio do homem. Pois toda a controvérsia se reduz à so- lução desta questão, “a graça de Deus é uma certa força ir- resistível?” Isto é, a controvérsia não diz respeito àquelas ações ou operações que possam ser atribuídas à graça, (pois eu reconheço e ensino muitas destas ações ou operações quanto qualquer um), mas ela diz respeito unicamente ao modo de operação, se ela é irresistível ou não. A respeito da qual, creio, de acordo com as escrituras, que muitas pessoas INTRODUÇÃO 59 | P á g i n a resistem ao Espírito Santo e rejeitam a graça que é ofere- cida.1 Arminianismo Wesleyano John Wesley foi historicamente o advogado mais influ- ente dos ensinos da soterologia arminiana. Wesley concor- dou com a vasta maioria daquilo que o próprio Armínio de- fendeu, mantendo doutrinas fortes, tais como as do pecado original, depravação total, eleição condicional, graça preve- niente, expiação ilimitada e possibilidade de apostasia. Wes- ley, porém, afastou-se do arminianismo clássico em três questões: • Expiação, a expiação para Wesley é um híbrido da teoria da substituição penal e da teoria gover- namental de Hugo Grócio, advogado e um dos Re- monstrantes. Steven Harper expõe: “Wesley não colocou o elemento substitucionário dentro de uma armação legal …Preferencialmente sua “dou- trina” busca trazer para dentro do próprio relacio- namento a “justiça” entre o amor de Deus pelas pessoas e a aversão de Deus ao pecado …isso não é a satisfação de uma demanda legal por justiça; 1 Extraído de “ As Obras de James Arminius” Vol. I https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Wesley https://pt.wikipedia.org/wiki/Expia%C3%A7%C3%A3o_(vis%C3%A3o_governamental) https://pt.wikipedia.org/wiki/Expia%C3%A7%C3%A3o_(vis%C3%A3o_governamental) http://www.arminianismo.com/index.php?option=com_content&task=category§ionid=8&id=76&Itemid=35 LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 60 | P á g i n a assim, muito disso é um ato de reconciliação ime- diato”. • Possibilidade de apostasia, Wesley aceitou completamente a visão arminiana de que cristãos genuínos podem apostatar e perder sua salvação. Seu famoso sermão “A Call to Backsliders” demos- tra claramente isso. Harper resume da seguinte forma: “o ato de cometer pecado não é ele mesmo fundamento para perda da salvação … a perda da salvação está muito mais relacionada a experiên- cias que são profundas e prolongadas. Wesley via dois caminhos principais que resultam em uma definitiva queda da graça: pecado não confessado e a atitude de apostasi”. Wesley discorda de Armí- nio, contudo, ao sustentar que tal apostasia não é final. Quando menciona aqueles que naufragaram em sua fé (1 Tim 1:19), Wesley argumenta que “não apenas um, ou cem, mas, estou convencido, mui- tos milhares … incontáveis são os exemplos … da- queles que tinham caído, mas que agora estão de pé’. • Perfeição cristã, conforme o ensino de Wesley, cristãos podem alcançar um estado de perfeição prática. Isso significa uma falta de todo pecado INTRODUÇÃO 61 | P á g i n a voluntário, mediante a capacitação do Espírito Santo em sua vida. Perfeição cristã (ou santifica- ção inteira), conforme Wesley, é “pureza de inten- ção; toda vida dedicada a Deus” e “a mente que es- tava em Cristo, nos capacita a andar como Cristo andou”. Isso é “amar a Deus de todo o seu coração, e os outros como você mesmo”. Isso é “uma restau- ração não apenas para favor, mas também para a imagem de Deus”, nosso ser “encheu-se com a ple- nitude de Deus”. Wesley esclareceu que a perfeição cristã não implica perfeição física ou em uma infa- libilidade de julgamento. Para ele, significa que não devemos violar a longanimidade da vontade de Deus, por permanecer em transgressões invo- luntárias. A perfeição cristã coloca o sujeito sob a tentação, e por isso há a necessidade contínua de oração pelo perdão e santidade. Isso não é uma perfeição absoluta, mas uma perfeição em amor. Além disso, Wesley nunca ensinou uma salvação pela perfeição, mas preferiu dizer que “santidade perfeita é aceitável a Deus somente através de Je- sus Cristo”. O que iremos tratar neste livro especificamente é sobre um ponto de equilíbrio e compatibilidade em meio as duas LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 62 | P á g i n a doutrinas, e qual seria a organização correta para que essa harmonização aconteça, uma vez que este assunto se tornou tão complexo e de muita difícil compreensão. Nosso objetivo é faze-lo compreender a lógica dessas doutrinas, visto que sempre houve um ponto de encontro que foi ignorado por ambos os lados, negligenciado não no sentido estrito, mas sim no sentido de não houver uma dedicação em expor o ponto de equilíbrio com veemência, por isso não aprendemos essa compatibilidade. Pois foi mais satisfatório colocar uma doutrina em confronto com a outra e distingui-la ao invés de harmoniza-las. 65 | P á g i n a I T CAPÍTULO I A SOBERANIA DE DEUS OS PLANOS DE DEUS NÃO PODEM SER FRUSTRA- DOS Onisciência do Senhor está ligada a sua Soberania, Ele conhece todas as coisas porque Ele as criou (Gn 1:1) porque Ele tem todo poder sobre a Sua criação, reis e rei- nos (Sl 93:1; Dn 4:34-35), e domínio sob Suas mãos (Mt A LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 66 | P á g i n a 10:29-30). Consequentemente, todos os planos que Deus ela- bora são impossíveis de serem frustrados (Is 43:13; Dt 32:39), Sendo assim, como algumas das minhas escolhas po- dem retardar ou interromper os propósitos e as promessas de Deus? Muitos têm afirmado ao longo dos tempos que o homem pode sim interromper os planos de Deus e usam o exemplo de Abraão, dizendo que o fato dele ter se deitado com Agar serva de sua esposa Sara, retardou sua promessa, pois Abraão tinha 86 anos quando Agar deu à luz a Ismael, e segundo as Escrituras, Deus só voltou a falar com Abraão aos seus 99 anos, ou seja, 13 anos após, mas a Bíblia deixa claro que por mais que façamos planos, a vontade de Deus predo- mina (Pv 16:1,33; Pv 19:21), e mesmo que o ser humano tente adiar ou retardar qualquer propósito de Deus a Bíblia afirma que para todo propósito debaixo do céu que está determi- nado, há um tempo (Ec 3.1; Ec 8:6), assim como o filho da Promessa chegou no tempo determinado (Gn 21:2). Podemos portanto ver claramente que realmente o plano de Deus prevalece e a sua Soberana vontade é intransponível, porém (Pv 16:1), nos ensina que o homem também faz os seus planos, mas o poder de execução do plano vem de Deus, e não que o plano de Deus é predominante no aspecto de abo- lir os planos do homem, isto é, o nosso plano só funciona se Deus nos fornece a capacidade, o versículo 9 de Provérbios A SOBERANIADE DEUS 67 | P á g i n a 16 nos deixa bem claro que se estamos em Deus, participando de sua justiça como servos e filhos, obviamente a vontade Dele vai prevalecer, mas em resposta a nossa retidão, e o ver- sículo 33 nos deixa claro por sua vez que o justo que já entre- gou sua vida a Deus é totalmente dirigido por Ele, pois como já foi dito anteriormente à disposição de realizar qualquer plano ou pensamento vem de Deus, depois de termos esco- lhido, ou seja, suas ações são uma resposta a nossa decisão. Em (Pv 19:11), Podemos observar que na declaração do es- critor, é real que o entendimento do homem retém a ira de Deus, pois sua ira é claramente uma resposta ao pecado, e se o homem agir com entendimento em relação ao que Deus se sente satisfeito e glorificado, ele retarda sim sua ira pois como pode Deus se irar com algo que lhe glorifica? porém, não se pode desconsiderar que estamos tratando de uma questão vivenciada e pré-estabelecida em Deus desde a eter- nidade, e que isso tudo pertence sim a um desígnio divino que jamais pode ser modificado, não obstante, desígnio, não é uma determinação que aboli fatores opostos, e sim uma res- posta imutável às nossas ações. Tudo está determinado com base na sua soberania em re- lação ao tempo, em relação as respostas que damos a ele, isto é para cada ação há uma reação e por saber de antemão cada uma de nossas ações, Ele simplesmente já tem o gabarito de cada uma de suas respostas às ações e perguntas do ser LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 68 | P á g i n a humano, no versículo 21 de Provérbios 19 podemos perceber que os propósitos do homem só poderão ter sucesso se esti- verem alinhados com o conselho de Deus, e se não estiver não prosperará pelo simples fato de que Deus não perdeu o con- trole da história e nenhuma ação ou plano do homem foge do conhecimento de Deus, e isso não quer dizer que o homem não pode fazer escolhas, precisa também levar em conside- ração que o fator “ tempo” é de fato uma grande questão em jogo, pois nossas ações estão todas ordenadas por Deus no tempo dele, isto é, no “Kairós”, está tudo sobre controle dele, e no “Cronos” quando as coisas não acontecem de acordo com a nossa escolha ou vontade é porque já está acontecendo no Kairós, isto é, no futuro nossas escolhas já obtiveram seu sucesso ou fracasso. Porém ele por ser dono do tempo pode simplesmente nunca permitir que vejamos o resultado de al- guma escolha errada, e somente nos permitir desfrutar da nossa mudança de escolha após uma frustração de uma esco- lha anterior. Portanto podemos afirmar que Deus nos capacita a dar resposta certa a ele, para que nossos planos sejam consuma- dos em conformidade com os seus desígnios. Em (Pv 16:4), nos diz que o Senhor fez todas as coisas para determi- nados fins e até o perverso para o dia da calamidade, ou seja, até os ímpios estão sujeitos a soberania de Deus e serve para A SOBERANIA DE DEUS 69 | P á g i n a seus propósitos (Rm 9:17-23), e o verso 9 de Provérbios 16 nos ensina que a responsabilidade humana para racioci- nar e agir, não contradiz a soberania de Deus, e o versículo 11 nos afirma que Deus estabelece e mantém a ordem justa que torna a vida significativa e o versículo 33 fala que a sorte é lançada mas a total disposição é do Senhor, mas a mensagem implícita aqui é que a resposta não é acaso, mas provém de Deus, pois no Antigo Testamento a sorte era o meio usado para consultar a Deus a fim de que ele lhe desse uma res- posta, era na verdade um meio de comunicação entre Deus e o homem. Se olharmos um pouco mais adiante ainda no livro de pro- vérbios, (Pv 19:11), diz que a descrição do homem o torna longânimo, ou seja, que o discernimento do homem o torna paciente, a resposta sensata controla seu gênio, um homem sábio não se ofende diante de pequenos e insultos, e o versí- culo 21 deixa claro que muitos propósitos era no coração do homem, ou seja muitos planos mas o conselho do Senhor permanecerá, significa dizer que é Deus quem decide, nós ve- mos em diversos textos as escrituras essa afirmação como em (Jó 23:13; IS 14: 24-27; Is 46 :10), como entender então as afirmações de que Deus frustra conselhos e planos humanos trazendo o fracasso a esses planos (Sl 33:10-11; Is 8:10; Is 19:3-4). O capítulo 10 de Isaias no versículo 5 ao 11 Diz o pró- prio senhor que está usando o rei da Assíria para entrar em LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 70 | P á g i n a juízo com o povo pagão, mas o rei da assíria quer mais do que isso pois tem seus próprios planos de conquistar muitas na- ções. Mas no versículo 12 diz que quando o Senhor terminar de executar seus planos, iria também castigar o rei da assíria, isso por que o rei diz que fez isso com sua própria força, sa- bedoria e inteligência (vs 13-14). O que é dito no versículo 15 é semelhante ao que é dito em (Rm 9:20-21) dando ênfase a soberania de Deus, lembrando que aquele que cria pode usar sua criação como quiser e que o que usa é mais importante do que aquele que é usado. Os próximos versículos dizem um pouco sobre o juízo que cairá sobre a Assíria e o motivo, o propósito de todos esses planos de Deus em usar um povo ímpio depois castigá-los, mesmo que não fosse nessa situação, não seria de maneira alguma uma injustiça, pois toda a raça humana pela desobe- diência a Deus por conta do pecado que habita na natureza pecaminosa do homem após a queda de Adão, está sentenci- ado a ira vindoura que os profetas anunciaram (Sf 1:14- 18), ou seja, quando o Senhor está castigando ou mostrando sua ira a alguém, Ele simplesmente está entrando em juízo com aquela pessoa e quando retém a sua ira ao livrar alguém de algum mal o Senhor está dando a conhecer sua misericór- dia, que o próprio Senhor disse a Moisés que terá misericór- dia de quem ele quiser (Êx 33:19), pois não tem obrigação de A SOBERANIA DE DEUS 71 | P á g i n a dá-la a ninguém, pois não nos deve nada (Jo 41.11), pelo con- trário, nós que devemos (Sl 49:7-9) e Cristo pagou (Cl 2:14) por Cristo ter pago, somos agora ovelhas do grande Pastor “Jesus” nosso Senhor (Jo 10:14), as ovelhas de Cristo são aquelas que o próprio Deus envia (Jo 6:37,44,45,65; Jo 17:6,9,11,12,24), ou seja, Deus continua tendo misericórdia de quem ele quer (Rm 9:14-15), porém agora a expiação dos pecados daqueles que se tornaram escolhidos de Deus foi de- finitivamente feita (Hb 10:12,14). Concluímos portanto que Deus é Soberano e que nada foge do seu controle, porém os planos dos homens são frus- trados a medida que ele responde mal às ações de Deus, e se o homem for prudente e souber discernir qual é a vontade de Deus, certamente Deus o responderá fazendo com que o seu plano seja executado, dando assim o poder de execução ao homem, significa dizer que a Soberania e a responsabilidade humana elas devem caminhar juntos e o fato de Deus trazer juízo aos homens não quer dizer que anula o plano do homem quer dizer simplesmente que Deus não dá poder de execução deste plano pelo simples fato de que o homem não compre- endeu a sua vontade, e quando compreendemos a vontade de Deus todos os planos e projetos que fazemos coincidem com os seus planos e desígnio, uma vez que ele nunca perdeu o controle da história e ainda nos dá o privilégio de participar do seu plano como sendo uma ação conjunta. LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 72 | P á g i n a Já vimos que Deus é Soberano e que a sua Soberania não anula os planos do homem, e que os seus conselhos são o po- der de funcionamento de cada um dos planos que fazemos, quer dizer que ele pode aplicar o poder de funcionamento ounão. Ainda dentro desta questão existe as implicações a res- peito da fé se esta move a mão de Deus ou não, de acordo com a exposição feita acima nossos planos e nossas escolhas não interferem na Soberania de Deus mas a questão agora é a nossa fé ela pode mover as mãos de Deus ou não como en- tender isso? Como Funciona A Fé Na Soberania De Deus Alguns dizem que atitudes de fé movem o coração de Deus, Jesus é o autor e consumador da vida (At 3:15), conse- quentemente autor da nossa fé ele conhece desde o ventre materno cada um de nós (Jr 1:5). Ele conhece nossas atitu- des (Sl 103:14), ele sonda e conhece nossos pensamentos, an- tes mesmo de dirigirmos as palavras ao Senhor ele já conhece todas elas (Sl 139:1-7), como posso mover o coração de al- guém que sabe tudo que penso e faço antes de fazer? Na ver- dade, o Senhor faz aquilo que o agrada e não há quem possa questioná-lo (Jó 40:2). Certo homem que estava leproso tinha pleno conheci- mento disso, pois quando se aproximou de Jesus, disse a ele A SOBERANIA DE DEUS 73 | P á g i n a que se fosse da sua vontade ele poderia curá-lo (Mt 8:1- 3), certa feita Jesus foi a Jerusalém, se aproximou de um tanque chamado em hebraico “ Betesda”, e ele curou um ho- mem que estava paralítico há 38 anos (Jo 5:1-9), porém as escrituras afirmam que ali havia uma multidão de enfermos, paralíticos, cegos, coxos (Jo 5:3), porém só um foi curado, por quê? Porque a vontade de Deus sempre predomina e não há questionamento quanto a isso (Rm 9.14-15, 20-21). Essa é uma forma de interpretação absolutamente calvinista de que “Deus é Soberano e a nossa fé não move a mão de Deus e ele simplesmente faz o que ele quer e nós não devemos questio- nar o porquê ele é o dono do universo criador de cada um de nós, Cabe a ele fazer o que ele mesmo quer da forma que quer”. Essa interpretação é um tanto quanto radical e equivo- cada em alguns aspectos, e ainda é uma interpretação relu- tante com relação ao Arminianismo, há algumas coisas im- plícitas que precisam ser consideradas a respeito da fé dentro da soberania de Deus, como ambos os pontos se encaixam e se completam. Se eu acreditar absolutamente de que a minha fé não move a mão de Deus, de alguma forma eu estou tam- bém afirmando que não há necessidade de fazer nem sequer uma oração, ou de acreditar em Cristo, porque nós cremos em Cristo pela fé se a nossa fé não pode mover a mão de Deus, logo a nossa fé em Cristo é vã, Por que a medida que nós LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 74 | P á g i n a cremos no seu sacrifício, Deus nos responde dando a nós a possibilidade de sermos salvos, somos salvos pela fé, se a nossa fé não move a mão de Deus ter fé não significa nada, sendo assim preciso negar também o texto de (Hb 11:6), que nos ensina que sem a fé nós não podemos agradar a Deus. Como posso agradar a Deus tendo algo que aos olhos dele é inútil e não muda nada no seu conceito em relação a uma ajuda e uma possibilidade de sermos salvos? O que entendemos a respeito da fé e o seu poder é que ela é uma esperança fundamentada em nossa credibilidade em Deus, isto é, à medida que cremos em Deus, a proporção que confiamos nele e em suas ações esta é a proporção da nossa fé (Hb 11:11). É necessário conceituar a atuação eficaz da fé aqui - quando exercemos a fé bíblica, nós estamos na ver- dade colocando em funcionamento a vontade de Deus, isto é, a nossa fé não deve ser favorável a nossas necessidades, e sim, glorificar a Deus, se nós tentamos fazer uso da fé para nos favorecer esta é uma fé fingida e egocêntrica, pois se so- mos um homem espiritual a nossa fé é a engrenagem que dá o funcionamento pleno da nossa vida com o alinhamento da vontade divina, de fato nossa fé não move a mão de Deus no aspecto de favoritismo pessoal e nem no conceito e forma que ele trabalha, mas certamente se estivermos alinhado com sua A SOBERANIA DE DEUS 75 | P á g i n a vontade nós damos mais espaço para ele fazer o que de ante- mão tinha planejado, isso resulta em uma junção da nossa fé com a bondade de Deus, que é uma ação conjunta. A proporção da nossa fé e fidelidade a vontade de Deus, faz com que ele nos responda nos ingressando em seu plano divino fazendo com que eu seja participante do seu plano pré estabelecido através da execução da minha fé. Não significa dizer que se não tivermos fé o plano de Deus fica inativo, e sim o modo que não contribuiu com seu plano faz com que ele haja de maneira pré-estabelecida por eles em atuação da nossa fé, e isso nos mostra que se temos fé nele ele irá nos proporcionar experiências de participação em seu plano eterno, no entanto não são dois planos, um conosco e outro individual, e sim um plano com duas faces, quase igual a sua natureza Triuna, o fato de só alguns serem curados no texto citado acima, não nos remete a crer em um Deus determi- nista. E sim, a fé que curou alguns, glorificou a Deus, e o sim- ples fato de ele não curar outros, não está no seu decreto de não ter compaixão com outros, não obstante fez assim pelo motivo de ser essa a resposta às ações humanas, vale ressal- tar que essas ações que geram milagres, não é precisamente a fé e nenhum ato favorável no momento da cura, pode ser uma resposta de Deus a uma ação no passado que no “Kairós” já tinha acontecido. LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 76 | P á g i n a Como Funciona A Oração Na Soberania De Deus Entendemos que a nossa fé ela não move a mão de Deus, e o que dizer a respeito de nossas orações? As nossas orações realmente tem um resultado? Tudo que pedimos ao Senhor ele nos concede? De acordo com (Jo 14:14) seremos ouvidos e teremos uma resposta ao que pedimos. Só receberemos algo, se pedirmos segundo a vontade de Deus (1 Jo 5:14-15), para que Deus seja glorificado (Jo 14:13), quando pedimos e não recebemos é porque nossa petição não está ligada à von- tade de Deus, somente ligada ao nosso bel-prazer (Tg 4:3), quando as petições estão alinhadas com propósito e a vontade de Deus, ele concede nosso pedido ( Lc 1:13-17; 1 Sm 1:10-11;20; 1 Sm 3:14-21; 2 Sm 15:31; 2 Sm 17:14), Ou quando simplesmente ele quer mesmo, sem nós pedirmos (Lc 13:10- 13; Lc 14:1-4). Isso não quer dizer que não podemos tomar atitudes de fé e fazer nossas petições ao nosso Senhor, e sim que só receberemos algo se for a vontade de Deus, o próprio Senhor Jesus quando ensinava seus discípulos a orar, ele o instrumento a pedir que a vontade de Deus fosse feita e não a vontade pessoal de cada um (Mt 6:10). Portanto, quando formos orar ao Senhor devemos fazer uma oração inteligente e pedir a ele somente aquilo que irá satisfazer a sua vontade, devemos buscar o reino dos céus e a A SOBERANIA DE DEUS 77 | P á g i n a sua justiça, para que as demais coisas possam assim ser acrescentadas (Mt 6:33). Se nós temos vontades que gostarí- amos que fossem cumpridas e objetivos que gostaríamos que fossem alcançados e estes não glorificam a Deus, é porque nós não estamos dando a devida importância a sua vontade e sim, estamos fazendo uso de uma fé e de uma oração que são em suma totalmente medíocres. I T CAPÍTULO II A EXPIAÇÃO LIMITADA Obre a expiação, ao longo do séculos tem-se discu- tido a respeito dessa inspiração se ela é limitada ou ilimitada, isso acontece porque existem muitos textos que nos mostram ângulos diferentes de interpretação, embora ambos os textos sejam de cunho sistemáticos, cada texto pos- sui sua própria característica dentro do seu contexto em que S LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico deEquilíbrio e Compatibilidade 80 | P á g i n a foi escrito. Para entendermos esta questão precisamos ter em mente de que Cristo Ele é Supremo e seu sacrifício é extre- mamente suficiente e eficaz para alcançar qualquer pecador. A Expiação Só Tem Efeito Para Os Que Creem O texto de (Jo 3:16), nos deixa bem claro que Deus amou o mundo de tal forma que a expressão desse amor mais pro- fundo foi dar o seu único filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. De acordo com a interpretação calvinista deste versículo diz: Al- guns insistem na ideia de que Deus enviou Jesus com o pro- pósito de conceder salvação a todos, sem exceção, mas so- mente como uma possibilidade. Contudo, Jesus deixa bem claro que a salvação daqueles que "o Pai me dá" - e somente destes - não é uma mera possibilidade, mas certeza abso- luta. E "o que vem a mim" (Jo 6.37-40; 10.14-18; 17.19) "de modo nenhum o lançarei fora". A Verdade expressa pela pa- lavra "mundo" é que a obra salvífica de Cristo não é limi- tada a tempo e lugar, porém aplica-se aos eleitos de todas as partes do mundo. Os que não recebem o remédio que Deus providenciou em Cristo perecerão. Permanece como verdadeiro que aquele que crê não morrerá (não será separado de Deus), mas vi- verá na presença de Deus para sempre. De fato, o que vemos A EXPIAÇÃO LIMITADA 81 | P á g i n a neste versículo realmente está ligado diretamente com o amor de Deus, a insuficiência humana e a suficiência de Cristo que pelo seu sacrifício cumpriu o plano de redenção, que Deus elaborou para nos alcançar sabendo pela sua pres- ciência, que todos iriam pecar e consequentemente ficaria destituídos de sua glória, dando-nos assim a oportunidade de sermos salvos novamente. Se o pecado afetou toda a huma- nidade não é justo que somente poucos obtenham essa ex- tensão de aceitação, e sim justo seria se todos Independente de raça ou crença tivessem a oportunidade de serem salvos mediante a fé em Cristo e o seu sacrifício vicário. Portanto podemos concluir diante deste versículo, que a salvação ela é limitada sim, mas essa limitação está ligada a crença em Cristo e em seu sacrifício, e não especificamente da parte de Deus para com os homens, isto é, a expiação é limitada pelos homens à medida que rejeitam o sacrifício de Cristo, E não que Deus escolheu somente alguns para outor- gar essa expiação, o poder de regeneração pelo sacrifício de Cristo é dado a todos, mas nem todos recebem porque rejei- tam e não porque Deus não deu a ele essa possibilidade. Essa verdade é fundamentada no texto de (Jo 1:12), que diz que todos que o “receberam” e “creram” no nome de Jesus, a es- ses Deus deu o poder de se tornarem filhos. Embora a expia- ção seja limitada aos que crerem em Cristo ela é altamente suficiente para todos. LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 82 | P á g i n a A Expiação Oferecida É Suficiente Para O Mundo Todo De um lado a expiação é sim limitada, por outro lado ela é ilimitada. Pois o texto de (1 Jo 2:2), nos ensina que ele é a propiciação por todos os nossos pecados, não só pelos nossos apenas, mas também pelos pecados de toda a humanidade. Todos nós acreditamos que o pecado de Adão atingiu toda a raça humana, isto é, por um homem ter pecado eu também sou pecador, em suma, acreditar nisso é um ato de fé, pois como eu posso ser pecador sendo que quem cometeu o pe- cado não foi eu diretamente? Da mesma forma que eu tenho fé que o pecado de um homem foi capaz de alcançar toda raça humana, a morte de Cristo, o Santo Filho de Deus, também deve merecer a mesma fé. Portanto crer que a expiação é li- mitada, é questão de fé, se eu acreditar que ela é ilimitada assim como o pecado foi ilimitado no seu alcance, eu também posso recebe-la, da mesma forma que eu recebi o pecado de Adão eu recebo e creio no sacrifício salvífico do meu Senhor Jesus. É assim que podemos chegar à verdade sobre a expiação, na verdade quem limita ela somos nós se não tivermos fé para aceita-la. Se a expiação fosse em sua totalidade limitada somente a alguns, não seria uma expiação, pois o conceito A EXPIAÇÃO LIMITADA 83 | P á g i n a que temos de expiação a luz das escrituras é que todos os po- vos do Antigo Testamento iam ao templo, e por meio do sa- cerdote eles ofereciam seu sacrifício a Deus para que assim fossem aceitos pelo Pai, e recebessem a regeneração de seus pecados de forma simbólica, apontando para o posterior sa- crifício vicário de Cristo que seria feito fisicamente como já havia sido antes da fundação do mundo (1 Pe 1:20). Em (2 Co 5:14-15) Paulo escreve a respeito desse tratado teológico da expiação dizendo que, Cristo morreu por todos os pecados de toda a humanidade, e que não há qualquer coisa que façamos que não é certamente fruto do amor de Deus, que nos resga- tou da morte dando a todos a oportunidade de se tornarem filhos de Deus, mediante o sacrifício de Cristo e que todos nós recebemos a vida eterna Ele diz que Cristo morreu por todos que possuem vida, isso abrange todos os pecadores em qual- quer lugar de qualquer crença de qualquer raça independen- temente de qualquer obstáculo, a expiação é oferecida a toda a humanidade e não somente alguns que Deus de antemão tinha eleito. Encontramos novamente a ideia de que Cristo morreu por todo o mundo como sendo não apenas uma ideia de lo- calidade, mas sim especificamente de vidas, de seres huma- nos em (Hb 2:9), que o autor expressa dizendo que Jesus foi feito um pouco menor do que os anjos, por causa do sofri- mento da morte, coroado com Glória e Honra, para que pela LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 84 | P á g i n a graça de Deus pudesse provar a morte no lugar de cada ho- mem sem exceção. A Expiação Pode Ser Rejeitada Pelos Pecadores Embora a expiação seja capaz de alcançar qualquer peca- dor, existe também por outro lado há possibilidade de que este pecador ou aquele, não obtenham a expiação para si fa- zendo com que a mesma seja rejeitada por eles, sendo assim eles estão limitando a expiação para si, e não que ela não possa alcançar o seu pecado, mas eles estão rejeitando a única oportunidade que tem de serem salvos, que é crer no sacrifício de Cristo. Quando o texto de (Mt 20:28) diz que ele veio para dar a sua vida em resgate de “muitos”, o texto não está limitando o poder de alcance da expiação, mas fala que ela é dada em resgate de “muitos” pelo fato de que alguns iriam rejeitar, em (Jo 15:13). Nós lemos que Cristo entregou a sua vida pelos seus “amigos”, a expressão amigos aqui tam- bém não limita a expiação somente aqueles que Deus esco- lheu, mas sim a ideia do escritor é dizer que a expiação pode ser rejeitada, e que ela é eficaz na vida daqueles que o aceitam se tornando assim “Amigos” de Cristo, por isso ele disse que veio para salvar e entregar a sua vida pelos seus amigos, pois ele sabia que haveria pessoas que iriam crer em sua expiação, e foi justamente pelos que creem nele, que ele veio, com a A EXPIAÇÃO LIMITADA 85 | P á g i n a expectativa de que todos iriam crer, e não que somente a al- guns seria dado o poder de crer em seu nome como Salvador, isto é, o sacrifício de Cristo na cruz é dado como meio de sal- vação aos que crerem nele, significa dizer que os que creem nele automaticamente se tornam seus amigos e esses amigos são muitos. Por isso os textos dizem que ele veio apresentar o seu sa- crifício salvífico e expiatório por “muitos” e pelos “amigos”. Sendo uma alusão clara de que a inspiração tem alcance ao mundo todo, mas que ela poderia ser rejeitada por alguns. Podemos observar que em (Jo 11:51-52), o escritor afirma que Jesus veio congregarnele todas as nações, mas isso não aconteceu, vemos que os judeus o rejeitaram, sendo assim, implica dizer que a salvação por meio da expiação pode sim ser rejeitada. Jesus veio reunir em si mesmo um povo pecu- liar, que é um povo incomum, ou seja, aqueles que realmente crerem em seu nome e se tornarem seus amigos, esse é um povo zeloso e de boas obras que tem a marca de seu Salvador. Por isso Nós aprendemos que se quisermos ir morar no céu com Deus precisamos ir por meio de Cristo, ele é o único pas- saporte que temos para chegar no nosso destino tão almejado que é o céu, mas para isso precisamos crer nele, nos tornar o seu “amigo” isso nos fará membros de “muitos” irmãos que também congregam em Cristo com a esperança de uma mo- rada celestial. LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 86 | P á g i n a E é justamente por isso que alguns pereceram não porque Deus rejeitou, mas porque esses rejeitaram a expiação de Cristo, negando Jesus como Salvador que veio para resgatar cada um de seu pecado e condenação de morte eterna, e quando ele é recusado, consequentemente os que o recusam estão trazendo sobre si repentina destruição (1 Pe 2:1). 89 | P á g i n a I T CAPÍTULO III A LIVRE ESCOLHA obre a escolha é preciso considerar que o homem não tem o livre arbítrio, pois o livre arbítrio é o po- der de escolha sem nenhum tipo de influência, coisa que só aconteceu com Adão e Eva, é de saber de todos nós que após a queda do homem toda humanidade passou a ser influenci- ada pelo pecado, consequentemente todos nós temos S LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 90 | P á g i n a também essa influência, e sim, também temos oportunidade de escolher, mas não se trata de um livre arbítrio e sim de uma livre agência pois a nossas escolhas elas têm uma in- fluência, nós somos influenciados de alguma maneira ou pelo mal ou pelo bem. O Homem Tem Direito De Escolha Deus sempre quis que o homem o amasse de todo seu co- ração, mas se ele não tivesse dado ao homem o poder de es- colha, esse amor não seria verdadeiro, pois o amor verda- deiro é aquele que parte do desejo pessoal e emocional sem que haja qualquer tipo de força maior ou obrigatória para que este amor possa florescer, se Deus quer um amor verdadeiro, é preciso que esses seres humanos que ele criou, o amem de todo coração, e possam fazer isso por vontade livre. Portanto, todos nós somos livres para escolher entre servir a Deus ou não. Não seria justo da parte de Deus criar seres humanos para uma finalidade que estivesse tudo ordenada por ele, sem que o ser humano pudesse escolher o que queira fazer, vale lembrar que antes da queda, o homem tinha um contato di- reto com Deus e não conhecia o mal, mas após a queda, o pecado entrou no mundo e dominou o homem, portanto o homem agora passa a ter que escolher estar na presença de Deus lutando contra uma força maior do que ele, pois antes A LIVRE ESCOLHA 91 | P á g i n a da queda era da natureza do homem estar próximo de Deus e ter intimidade com Deus, depois da queda a sua natureza ficou corrompida e para escolher Deus agora era necessário passar por uma luta, que era vencer o mal que o influen- cia, porém o homem não tinha essa força de vencer o mal e ir até Deus, a não ser por uma influência do Espírito Santo. O Resultado De Uma Natureza Caída De acordo com o que Paulo escreve em (Rm 3:11), Não há ninguém que possa escolher estar com Deus pela sua própria decisão, embora temos a oportunidade de escolher o que queremos todas as nossas escolhas estão continuamente cor- rompidas pelo mal, e nós não podemos e nem conseguimos em hipótese alguma escolher estar com Deus, isso aconteceu como resultado da queda do homem, portanto podemos afir- mar que o homem jamais poderá escolher a Deus por si só por conta da sua natureza contaminada e influenciada pelo pecado. João também escreve com a mesma finalidade de conscientizar o homem de que ele não pode ir a Deus por conta do pecado e que este só pode se achegar a Deus se Deus o levar (Jo 6:44), não significa dizer que Deus escolhe alguns para ir até Ele e outros não. Isso tudo é um processo de graça que vai se estendendo de uma forma progressiva, até que o homem não resista a bondade de Deus manifesta em sua vida o chamando para estar com Ele. Podemos assegurar de que o LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 92 | P á g i n a homem tem sim a oportunidade de escolher, mas as suas es- colhas sempre estão propensas aquilo que é mal e contrário à vontade de Deus. A Graça Comum Por nossas escolhas sempre estarem propensas ao mal, Deus nos outorgou aquilo que chamamos de graça comum, Paulo em (Rm 2:1-11), esclarece o que é esta graça comum, ele disse que todos os homens que ignoram e desprezam as riquezas da bondade de Deus estão acumulando para si uma ira futura, que será o julgamento daqueles que não obedecem a Deus, Paulo deixa claro que o homem pode escolher obede- cer a Deus, sendo assim como então entender? Nós temos o poder de escolha, mas a nossas escolhas sempre seriam con- tinuamente más, e nós seremos condenados por essas más escolhas, isso acontece pelo fato de que todos nós recebemos a graça comum, e esta graça comum é uma graça que Deus nos dá equilibrando a balança da influência, fazendo com que a mesma influência e proporção que temos do pecado, temos agora a de escolhê-lo, pois ele restaurou a capacidade do ho- mem de escolher segui-lo, pela manifestação de sua bondade. Portanto não há desculpa para o homem dizer que será condenado porque tem uma natureza pecaminosa que não deixou escolher o bem, visto que Deus manifesta sua A LIVRE ESCOLHA 93 | P á g i n a bondade a todas as pessoas, um exemplo disso é que nós ve- mos em diversos momentos da nossa vida, ímpios sendo abençoados, por que isso acontece? porque Deus está mani- festando a eles a sua bondade em uma forma de chamamento ao arrependimento, é justamente o que Paulo trata no versí- culo 4, ele disse: “Ou desprezas tu as riquezas da sua benig- nidade, e paciência e longanimidade, não sabendo que a be- nignidade de Deus te leva ao arrependimento”? fica claro portanto que Deus devolveu ao homem a capacidade de es- colher a Ele fazendo com que a bondade alcance todos os ho- mens de forma proposital para que esses homens sejam atra- ídos a Ele. Por isso nós somos indesculpáveis, pois Deus ma- nifestou o seu Ser ao mundo por meio da criação e continua manifestando pois tudo que nós vemos, tudo que é visível re- vela a soberania e o poder de Deus (Rm 1:18-21). Nós vemos que Deus não faz acepções de pessoas e Ele não escolhe uns e abandona outros e sim, faz chover sobre justos e injustos (Mt 5:45) dando a todos a oportunidade de escolher, visto que Ele deu a graça comum que é a capacidade de um homem conseguir ver que as coisas boas que acontecem em sua vida, não parte de si próprio e sim de Deus, não há como negar isso pois até os ímpios recebem coisas boas e os que são fiéis a Deus não recebem como querem, só há uma justificativa para isso, a bondade de Deus manifesta ao homem para que este seja levado ao arrependimento. 95 | P á g i n a I T CAPÍTULO IV INTERVENÇÃO DIVINA Deus Intervém Em Nossas Escolhas? lguns afirmam que Deus intervém em nossas esco- lhas de forma direta e indireta, portanto precisa de uma certa circunspecção para que de uma vez por todas possa ser esclarecido essa ideia de intervenção nas escolhas A LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um TratadoTeológico de Equilíbrio e Compatibilidade 96 | P á g i n a humanas vamos ver o que a Bíblia fala sobre a intervenção direta e indireta de Deus. A Verdade Sobre A Intervenção Divina Sabemos que Deus tem todo controle da história, e suas respostas as nossas ações já estão pré-determinadas, alguns textos bíblicos nos dá a impressão de que Deus intervém de uma forma indireta em nossas escolhas movendo o cenário como por exemplo em (Gn 45:4-8; Rt 2:1-3; Ec 2:1-9,16- 17), quando na verdade a intervenção, que aparentemente estão presentes nestes textos, é justamente a falta de opção para o homem escolher isso ou aquilo, um exemplo notável é o de José, que não teve opção de escolher, mas foi vendido simplesmente para que cumprisse o propósito divino (Gn 37:26-28), não significa dizer que houve uma intervenção na escolha, e sim que as intervenções diretas ou indiretas é ba- sicamente o fato do homem não encontrar opções de esco- lhas (Ex 10:1-2,8-10), algo que não está ao alcance do conhe- cimento humano – que é o verdadeiro funcionamento desta execução do propósito Divino. Um exemplo claro sobre isso é o de Abraão, Deus disse que se ele saísse da sua terra e da sua parentela e fosse a terra que o Senhor o mostraria, ele receberia a promessa, mas foi quando Abraão decide se INTERVENÇÃO DIVINA 97 | P á g i n a separar do seu sobrinho Ló, e Ló escolhe seguir pela Campina do Jordão, que a promessa foi feita por Deus a Abraão. Ele escolheu se separar do seu sobrinho pelo fato de não enxergar outra opção, quando observou que estava tendo conflito entre seus pastores e os pastores de seu sobrinho Ló, não vemos Deus intervindo aqui simplesmente pelo motivo de que a escolha do homem anda em conformidade com o plano eterno de Deus. As nossas escolhas estão sim determi- nadas por Deus, mas não de forma que anula a liberdade do homem de escolher isso ou aquilo, e sim que tais escolhas es- tão gabaritados como respostas a uma bondade de Deus. Deste modo, nós podemos sim fazer a escolha que for, e essas escolhas não irão necessitar de uma intervenção, pois elas mesmas em si já são uma resposta de uma intervenção quando houve falta de opções para o homem. Considerando que às vezes Deus muda as escolhas humanas, isso não é uma intervenção, pois somos nós que pensamos e planejamos, po- rém o poder de executar esses planos vem do próprio Deus, assim como nossas escolhas, o poder de executá-las está em Deus, quando parece que ele está interferindo na realidade está apenas nos dando o poder para colocar em prática e fica claro que esse poder de execução é tido como um entusiasmo (Ag 1:4). Quando estamos entusiasmados para fazer algo, ficamos flexíveis para aperfeiçoar e aderir pontos que nos ajudaram a LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 98 | P á g i n a ter melhor resultado. Essa é a ação de Deus em favor de seus planos, ele nos outorga o poder para executar algo que em suma nos dá a sede de obter um resultado preciso (Êx 35:31- 35; 2 Cr 36:22-23; Ed 1:5; Ne 4:6), É por isso que vemos que Deus endureceu o coração de Faraó em favor de seu plano, na realidade foi Deus dando a ele entusiasmo ou poder de execução de sua vontade escolhida (Êx 8:15; Êx 9:12), ou seja o Senhor não interveio em sua escolha, mas deu maior poder de execução para que essa escolha tivesse o resultado que o mesmo queria, e que por ocasião cumpriria o propósito de Deus a partir do que ele escolheu ser ou fazer, em sua presci- ência O Senhor já tinha provido as razões necessárias para que Faraó escolhesse fazer o que fez sem que fosse tirado da sua escolha, e sim suas escolhas foram feitas de tal modo porque Deus já tinha feito com que sua bondade ti- vesse essa resposta de Faraó e suas ações. Portanto concluí- mos que existe sim uma intervenção direta ou indireta de Deus na história, mas não nas nossas escolhas, e sim antes delas ou quando não vemos opções de escolher algo que nem sequer sabemos como irá funcionar no plano Divino. A Compatibilidade Da Intervenção Com Responsa- bilidade Humana INTERVENÇÃO DIVINA 99 | P á g i n a Uma outra questão ainda dentro desse assunto que cau- sam muitas discordâncias, é como entender a compatibili- dade entre a predestinação e a intervenção de Deus, segundo a sua soberania e a nossa responsabilidade pessoal por aquilo que já está decretado pela predeterminação? pois vimos que nós temos sim oportunidade de escolher e que Deus não in- tervém na nossas escolhas, mas cada uma dessas escolhas que fazemos são uma resposta dada a bondade de Deus, que cada uma das nossas respostas tem consequentemente uma ação de Deus como também sendo uma resposta a nossa, ou seja isso é um ciclo rotativo eu faço em resposta ao que Deus já fez e Deus faz em resposta a resposta que eu dei a ele, assim fica difícil entender como que ambas as ideias, tanto a minha escolha, quanto a minha responsabilidade como a determi- nação de Deus daquilo que vou fazer se compatibilizam. Podemos usar esses textos bíblicos como referência para fundamentar a doutrina da determinação de Deus, com base na sua soberania em relação ao tempo e as reações que temos as suas ações pela sua presciência (Gn 26:1-25; Mc 4:35-41; Mc 6: 45-52). Deus tem um gabarito de cada uma de suas respostas às ações e questionamentos do ser humano, e no seu tempo de- terminado ele envia cada uma dessas respostas, seja a al- guma ação boa ou não do ser humano. Bem sabemos que tudo que plantamos nós colhemos (Gl 6:7), ou seja, não tem LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 100 | P á g i n a como ficar isento do resultado daquilo que nós ocasiona- mos, essa é a justiça de Deus o ser humano, age em resposta ao Senhor, e ele reage em resposta aos nossos atos, porém sua reação pode ser instantânea ou tardia aos olhos humanos lembrando que o Senhor sempre age no tempo certo em que determinou (Ec 3:1, 8:6), isso ocorre pelo fato de que o tempo de Deus é totalmente diferente do nosso, como já foi dito anteriormente, que nós seres humanos estamos sujeitos ao tempo “Cronos” enquanto que Deus tem o domínio do tempo “Kairós”. Deus pode simplesmente, por ser dono do tempo, não permitir que vejamos os resultados de algumas escolhas certas que fazemos (Hb 11:13; Hb 11:39) ou erradas (1 Sm 31:6; 2 Sm 21:1). Há alguns textos que nos trazem a ideia de que realmente Deus interveem antes das nossas escolhas ou quando não ve- mos a opção de escolha. Vejamos aqui um exemplo claro de Deus intervindo de maneira que mesmo havendo, não foi possível enxergar op- ções (Gn 26:1-25), Neste texto a Bíblia diz que houve fome na terra, o Senhor ordenou a Isaac que ele não descesse ao Egito, mas que ficasse na terra que o Senhor o indicaria. Isaac por sua vez obedeceu, e permaneceu em Gerar, por pensar que os homens daquela cidade o mataria para ficar com sua esposa Rebeca, pois ela era muito bonita, ele temeu e mentiu, aqui INTERVENÇÃO DIVINA 101 | P á g i n a existia a opção de escolha, porém Isaque não conseguiu en- xergar, e acabou fazendo uma escolha que colaborou com propósito de Deus pois o Rei Abimeleque descobriu a ver- dade, e Isaque, após mentir, perdeu a confiança do Rei, en- tão quando Deus o abençoou e começou a prosperar em con- formidade com sua obediência, Abimeleque o expulsou da terra, pois começou a ver Isaac como sendo mais poderoso do que ele sendo o próprio Rei. Assim Isaac acampou no vale de Gerar, ali tornou a abrir os poços de Abraão seu pai, quando o mesmo passou por aquelas terras, quando encontrou poço de água nascente, os pastores de gerar entrou em conflito dizendo que aquele poço já tinha proprietário, então cavou outropoço pois novamente não conseguiu enxergar outra opção, mesmo existindo esco- lha, não a encontrou. Aparentemente a única escolha era abrir outro poço, porém mais uma vez houve conflitos, e con- sequentemente a opção que enxergou foi abrir ainda outro, neste não houve conflito, perceba que toda essa falta de op- ção visível cooperou para consumação do propósito de Deus, pois após ter aberto o último poço Isaque foi a Berseba, quando chega a Berseba, Deus novamente dirige palavras a Isaque, como resposta ele levanta um altar, e invoca o nome do Senhor. Note que a primeira vez que Deus falou com Isa- que, ele disse que iria indicar uma terra que ele deveria habi- tar, mas veremos adiante que Deus permanece em silêncio, LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 102 | P á g i n a porém toda vez que Isaque não encontrava opções e agia con- forme aquilo que enxergava o que deveria fazer, era Deus in- tervindo para que se cumprisse o seu propósito Soberano, pois mesmo sem indicar a terra em palavras, o Senhor con- duziu Isaque para Berseba, assim Deus paulatinamente in- terviu e cumpriu seu propósito sem interferir na escolha hu- mana, e sem Isaque imaginar que suas próprias escolhas co- laboraram para se cumprir aquilo que Deus já tinha para ele determinado. Vemos outro exemplo em (Mc 4:35-41), pois Jesus age dizendo: Vamos para o outro lado do lago, e os discípulos re- agem subindo no barco e o acompanhando, de repente, o vento começa a soprar e as ondas se levantaram com tanta força em cima do barco que ele já estava ficando cheio de água, em meio à essa circunstância os discípulos de Jesus te- meram toda essa situação e não conseguiam enxergar outra opção a não ser acordar o Senhor Jesus e clamar a ele, em resposta ao clamor e a obediência de seus discípulos, Jesus simplesmente dá uma ordem ao mar e repreende o vento. Isso Serviu de experiência para os discípulos, para que quando estivessem diante de alguma situação parecida, eles agirem de acordo com a vontade do Senhor sem que ele ti- vesse que intervir em resposta a um clamor ou antes de uma escolha precipitada, foi justamente por isso que quando INTERVENÇÃO DIVINA 103 | P á g i n a Moisés clamou diante do Mar Vermelho, o Senhor respondeu dizendo: porque está clamando a mim? Diga aos filhos de Is- rael que marchem (Êx 14:15), em outras palavras o Senhor estava dizendo: “já não te disse e te mostrei que te escolhi para libertar meu povo? Não é hora de reclamar é hora de agir conforme a minha vontade”. Tanto Moisés como os dis- cípulos já tinham experiências com o Senhor, porém, em cer- tos momentos de dificuldades por não enxergarem opções para solucionarem problemas, se fez necessário uma inter- venção divina, tudo que ocorreu com os discípulos estavam de fato predestinado por Deus, pois o seu propósito era pre- pará-los para aquilo que enfrentariam quando Jesus não es- tivesse mais entre eles, para que eles pudessem fazer a von- tade de Deus, sem necessidade de uma intervenção. Para que isso acontecesse, os discípulos precisavam en- tender que deveriam olhar para as coisas com os olhos da fé, pois o modo, a insegurança, dúvida, incerteza e qualquer ou- tro sentimento contrário vem pelo fato de olharmos para a situação com os olhos físicos, e por sermos limitados e im- perfeitos, o que conseguimos enxergar é somente as coisas ruins, por isso que o Senhor Jesus disse que os olhos são a lâmpada do corpo se os olhos forem bons o corpo todo será luz, mas se forem ruins, o corpo todo será trevas. O nosso fu- turo depende de como estamos enxergando nosso presente, depende de como está a nossa fé e a nossa confiança em Deus LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 104 | P á g i n a em paralelo a isso. O próprio Deus disse por intermédio da vida do profeta Habacuque: “o meu justo viverá pela fé (Hc 2:4). No Novo Testamento também nos garante isso (Rm 1:17; 2 Co 5:7; Hb 10:38). Vemos os discípulos algum tempo de- pois em outra situação parecida (Mc 6:45-52), pós Jesus multiplicar 5 pães e 2 peixes ordenou que seus discípulos fos- sem adiante dele para outro lado, para Betsaida, enquanto ele despedia a multidão, os discípulos obedecem e fazem con- forme lhe fora ordenado, Jesus então despede a multidão, em sequência sobe ao monte para orar, ao cair da tarde, o barco estava no meio do mar e Jesus sozinho em terra, na quarta vigília da noite ou seja de madrugada, Jesus foi ao encontro deles caminhando por cima das águas, entenda Jesus os or- denou que fossem adiante sem Ele para ver se a primeira ex- periência que passaram com Ele dormindo no barco foi sufi- ciente para entender o que deviam fazer neste tipo de situa- ção, o que não é de se admirar é que houvesse um resultado positivo, pois quando Jesus desce do monte ainda está de tarde, e os discípulos já estavam no meio do mar, de madru- gada eles ainda remavam mesmo com dificuldade porque entenderam que não podiam deixar com que nada que acon- tecesse pudesse abalar a ponto de olharem com os olhos físi- cos e temer a situação. Veja que a circunstância era um INTERVENÇÃO DIVINA 105 | P á g i n a pouco mais delicada, pois Jesus, diferente da primeira expe- riência desta vez não estava no barco, porém eles consegui- ram passar por essa situação olhando pelos olhos da fé, por isso perseveraram até o final. Em contrapartida, após Jesus descer do monte, acompa- nhava tudo a distância esperando para ver se a reação doze discípulos, se desta vez seria diferente, e realmente foi con- forme o esperado, quando o Senhor viu que remavam com dificuldade porque o vento além de ser forte estava contrário a direção que eles estavam remando, ou seja, não consegui- ram chegar do outro lado pela limitação física, não psicoló- gica e sentimental, por isso ele interviu e foi ao encontro de- les. Esse é um exemplo de intervenção de Deus antes das es- colhas do ser humano pois sem a iluminação de Deus, não há como fazer escolhas que nos levará a Deus, pois o ser humano após a queda ficou totalmente depravado e corrompido (Rm 3:9-18,23), e todos, sem Deus somos influenciado pelo pe- cado, a ponto de sermos escravos do mesmo (Jo 8:34; Rm 6:16; 2 Pe 2:19), mesmo podendo fazer as suas próprias es- colhas e ser responsáveis por elas não há como fazer o bem (Sl 14:3; Sl 53:3; Ec 7:20), a menos que o Senhor ilumine por intermédio de sua palavra (Sl 19:8), quando ocorre essa ilu- minação, automaticamente acontece um despertamento da pessoa de tal forma que aquilo que a impedia de escolher a Deus e ao bem, é vencido e neste momento de iluminação LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 106 | P á g i n a somos livres da influência do pecado e conseguimos por von- tade própria se aproximar de Deus, para dar início ao pro- cesso de regeneração, e quando maior a entrega, mais rápida e eficaz é a atuação do Espírito Santo (Rm 12: 12; Ef 4:22-24; Ef 5:14). Quando se dá início ao processo de transformação a pes- soa começa a enxergar e exercer a fé, consequentemente agradar ao Senhor, como resposta o Senhor recompensa o mesmo (Hb 11:6). Assim já não é mais necessária uma inter- venção, pois Deus age agora diretamente na pessoa (Fp 2:13), de modo que o Espírito Santo guia e direciona a pessoa a fa- zer a vontade do Senhor, e nenhum tipo de situação ou cir- cunstância o impede de consumar o propósito, pois já não vive mais pelo que vê e sim pela fé (2 Co 4:16-18; 2 Co 5:7). Portanto podemos concluir que Deus não intervém em nos- sas escolhas, mas quando nós não vemos a oportunidade de escolha, ou antes delas, desta maneira ele cumpre o seu pro- pósito harmonizando e compatibilizando a sua Soberania e a responsabilidadehumana, fazendo com que se completem a predestinação e a escolha humana. Pois agora todos podem ver pelos olhos da fé a grandeza de Deus manifesta em toda a criação, Uma vez que Deus outorgou a todos nós a graça comum que nos permite olhar para ele e escolhe-lo. 109 | P á g i n a I T CAPÍTULO V O CHAMAMENTO GERAL chamamento geral é uma forma pertinente ao convite que Deus faz a toda a humanidade entre tantas formas particulares deste convite, o chamamento é a ideia que esta- belece esse convite fundamentando-o no grande amor de Deus. Esse convite é tratado como chamamento geral, pelo fato de que em um todo ele é exatamente a abrangência total O LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 110 | P á g i n a de um plano divino para a salvação da humanidade, que é manifesto a todos, sem nenhum tipo de exceção. Deus Tem Um Propósito Que É Nos Chamar Deus em sua presciência já sabia que o homem ia pecar e consequentemente iria ficar destituído de sua Glória. Por isso Ele já tinha um propósito firmado na eternidade que era cha- mar o pecador ao arrependimento, ao inspirar o apóstolo Paulo a escrever aos (Rm 8:28), Ele diz: “E sabemos que to- das as coisas trabalham juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados de acordo com o seu propósito”. Na segunda parte deste versículo po- demos notar que a ideia de “chamado” aqui não é específica como em outros casos, o texto original aqui sugere um cha- mado universal e não um chamado particular. Embora Deus tenha um chamado particular para todos os cristãos em uma integração no corpo de Cristo, o chamado geral é feito a luz de seu amor em trazer o pecador ao arrependimento por meio do sacrifício de Jesus na Cruz do Calvário, fazendo as- sim uma abrangência total e não direcionada a alguns. E esse chamamento geral é uma extensão de seu amor, bem como é uma oportunidade de aceitação de Deus para com os pecado- res, a partir do momento que nós aceitamos e respondemos esse chamado ao arrependimento, Deus nos insere em seu O CHAMAMENTO GERAL 111 | P á g i n a plano que já está em vigor, por isso esse chamamento geral é também uma ação conjunta. Não se trata de Deus escolher quem é chamado ou não, Ele simplesmente chama a todos e após o seu chamado Ele espera uma resposta daqueles que aceitaram esse chamado, inserindo cada um em seu plano eterno e divino. Por tanto o propósito de Deus é exatamente esse, chamar os pecadores ao arrependimento e esse chamado é universal e todos po- dem aceitar ou recusar, visto que todos têm a oportunidade de escolher Deus após Ele mesmo outorgar a graça comum que nos dá a perfeita compreensão de sua bondade, nos tor- nando indesculpável. Deus Nos Atrai A Ele Por Meio Do Sacrifício De Cristo Em seu eterno plano de Redenção, Deus já tinha elabo- rado o meio pelo qual atrairia todos os homens a Si. De acordo com (Jo 12:32), somos informados que Cristo e seu sacrifício é o meio principal que Deus usou para levar toda a humanidade ao arrependimento, provando o seu amor em dar o seu único Filho para entregar a sua vida por todos. As palavras de Jesus no versículo 32 é uma patente, é uma forma da autenticidade das palavras ditas pelo profeta Isaías (52: 13), deixando claro que a Cruz seria a ferramenta para que o LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 112 | P á g i n a propósito eterno de Deus fosse cumprido ao pé da letra. Por isso Jesus diz que quando Ele fosse levantado todos seriam atraídos a Ele, levantado aqui é uma referência direta à Cruz. Por Meio Da Pregação Muitos dos que viram e ouviram falar do sacrifício de Cristo não sabiam o seu real significado, por isso a pregação é a extensão do meio principal que Deus usa para atrair todos a Ele. A pregação é a exposição deste sacrifício que pertence ao plano da Redenção. Em (Mc 16:15), nós temos não uma sugestão e sim uma ordem para proclamar a mensagem de Deus a toda a humanidade, esta mensagem foi ordenada a ser proclamada por meio da pregação esta foi a primeira or- dem dada aos seus discípulos ligada ao meio pelo qual Deus planejou salvar toda a humanidade. Por isso as pregações precisam ter a finalidade de persuadir os homens, e ao pre- garmos o Evangelho precisamos ter muito temor porque es- tamos fazendo com o objetivo de que os homens tenham em sua consciência o verdadeiro sentido da obra da Redenção, pois somente assim poderão crer em Cristo como seu Salva- dor (2 Co 5:11). O chamamento geral é feito por Deus por meio da prega- ção, das manifestações da sua graça comum, que são exata- mente o resultado do sacrifício de Cristo. E quando ouvimos O CHAMAMENTO GERAL 113 | P á g i n a a pregação do evangelho e ao observarmos com atenção o sa- crifício de Cristo, podemos perceber que Deus tanto nos amou e ainda tem tanto amor, que mesmo em meio tantos problemas e inconveniências, Ele ainda nos chama a cada instante por meio de suas bondades, por meio da pregação e quando nós aceitamos esse chamamento e decidimos crer em Cristo, podemos dizer que esta é uma ação inspirada pelo Es- pírito Santo, Ele é quem nos ilumina para irmos a Cristo, consequentemente estamos dando ao Espírito Santo a legali- dade de fazer o seu trabalho. A conclusão que podemos ter é que ninguém vai a Cristo se Deus não o enviar e quando nós vamos a Cristo, embora seja uma ação de Deus, não é o Espí- rito Santo que nos leva diretamente a Cristo e sim a nossa percepção da bondade de Deus que só temos por que Ele abriu os nossos olhos e também é a manifestação da sua graça, nos dando a oportunidade de escolher. Uma vez que a balança da escolha já está equilibrada e a mesma proporção de influência que temos para escolher o mal, temos também em escolher o bem que é Deus. Quando nós aceitamos esse chamamento geral nós estamos aceitando o convite que Deus fez por meio da sua graça comum e agora Ele continuará trabalhando para aperfeiçoar cada um que aceitou esse convite, desta vez pela obra do Espírito Santo e não apenas pela manifestação da sua graça, mas desta vez com uma ação direta, que é o trabalho que o Espírito Santo LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 114 | P á g i n a veio para fazer em todos que aceitarem este sacrifício de Cristo. Realmente o Calvinismo está certo em dizer que nós só vamos a Deus porque Cristo nos leva, mas isto não implica dizer que é uma ação direta do Espírito Santo de forma irre- sistível nos levando ao arrependimento. Antes do arrependi- mento existe o chamamento geral, após o chamamento o Es- pírito Santo trabalha para que aconteça esse arrependimento esta é a ordem correta dos fatos (Jo 16:8 -11). Exatamente por isso que Deus nos atrai por meio do sacrifício. Quando nós somos atraídos, automaticamente nós ainda não cremos. É nesse momento que passamos a ter um inte- resse em conhecer a eficácia desse sacrifício, e, este conheci- mento nós não podemos ter a não ser pela ação do Espírito Santo, e, quando nós decidimos conhecer este sacrifício e a sua essência o Espírito Santo passa a nos fazer crer em Cristo, e, quando passamos a crer a partir da obra do Espírito Santo este ato é exatamente a condenação do pecado porque o pe- cado é a falta de crer. Após este processo de aceitação do cha- mamento e a condução do Espírito Santo em nos levar a co- nhecer o sacrifício de Cristo, e crer nele, o nosso fardo peca- minoso é substituído pelo fardo de Cristo (Mt 11:28). 117 | P á g i n a I T CAPÍTULOVI PROGRESSÃ DA GRAÇA á vimos anteriormente que a graça comum é um tri- buto que Deus nos deu com a finalidade de equili- brar a balança da capacidade de escolhas, fazendo com que a mesma capacidade que temos por natureza de escolher o mal, temos agora de escolher o bem, por isso somos indes- culpáveis (Rm 1:20). Após a graça comum que nos dá o J LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 118 | P á g i n a direito e a oportunidade e capacidade de escolher a Deus, Ele também nos convida a vivermos por Ele mediante um cha- mamento geral. Quando nós aceitamos este chamamento ge- ral, nós estamos caminhando para um pleno conhecimento da verdade e à medida que caminhamos surge a necessidade de um crescimento na graça um termo teológico para isso é “progressão da graça”, uma vez que a graça comum é dada a todos, essa possibilidade de progredir e crescer em graça é dada a quem o busca. Este crescimento é necessário para co- nhecermos Jesus como nosso Salvador. Esse crescimento e desenvolvimento da Graça comum tem por finalidade alcan- çar a graça especial (2 Pe 3:18). A graça salvadora ou graça especial, diferentemente da graça comum, não é experimentada por todas as pessoas do mundo, mas apenas por aquelas pessoas que estão em Cristo. O apóstolo Paulo explica essa questão de forma clara em sua Carta aos Efésios. Primeiro ele diz que Deus abençoou os crentes de forma especial, isto é, Deus os “abençoou com to- das as bênçãos celestiais em Cristo” (Efésios 1:3). Em se- guida, o apóstolo explica o motivo disso: “conforme ele nos escolheu nele antes da fundação do mundo, que devemos ser santos e sem culpa diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, se- gundo a complacência da sua vontade, para louvor da PROGRESSÃO DA GRAÇA 119 | P á g i n a glória da sua graça, pela qual nos fez aceitáveis a si no Amado” (Ef 1:4-6). Esse texto bíblico deixa muito claro que a graça salvadora tem a ver com o favor especial de Deus para com os redimidos em Cristo. A graça salvadora tem a ver com amor redentor de Deus que é revelado principalmente em seu Filho amado, e trans- borda sobre aqueles que estão em Cristo. Nesse sentido, Deus tem um amor especial pelos redimidos, um amor que Ele não tem pelo resto do mundo “Sproul, 2014”. Ainda na mesma Carta aos Efésios, o apóstolo Paulo também explica que o grande propósito por trás da graça salvadora é a própria gló- ria de Deus (Efésios 1:6). Ao expressar seu amor e bondade em Cristo na remissão dos pecadores, a incomparável ri- queza da graça de Deus pode ser mostrada nas eras vindou- ras (Ef 2:7). O Alcance Da Graça Salvadora Sem dúvida a graça salvadora é suficiente para suprir, se fosse o caso, todas as pessoas de todas as épocas e lugares. Mas a Bíblia realmente não diz que todas as pessoas do mundo experimentam essa graça especial. Se isso fosse ver- dade, então todos seriam salvos, pois a graça de Deus não fa- lha. Muita gente se pergunta se Deus ama todas as pessoas incondicionalmente, a resposta para essa pergunta deve LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 120 | P á g i n a observar a verdade bíblica a respeito da graça comum e da graça salvadora. Com base na graça comum, podemos dizer que Deus se relaciona e ama a todos os indivíduos sem exce- ção. Já com base na graça salvadora, podemos dizer que Deus se relaciona e ama de forma especial apenas aqueles que es- tão unidos a Cristo e pertencem ao seu povo. Inclusive, tam- bém é verdade que embora esse amor especial de Deus reve- lado em sua graça salvadora não esteja sobre todas as pes- soas, ele alcança todos os tipos de pessoas. Isso significa que apesar de ninguém ser qualificado para merecer o amor de Deus, em sua graça salvadora Ele amou e purificou para si um povo especial que reúne pessoas de todos os tipos; judeus e gentios, homens e mulheres, velhos e jovens, ricos e pobres, senhores e servos (Tt 2:1-15). Outra dimensão do alcance da graça salvadora diz res- peito à sua extensão na vida do redimido que desfruta dela. A graça salvadora é completa! Ela provê ao pecador uma nova posição ao ressuscitá-lo de sua morte espiritual, provê justificação, capacitação para uma vida zelosa e de acordo com os preceitos de Deus, e uma herança inviolável (Ef 1:14; 2:1-10; 1 Pe 2:4-10). Precisa considerar que a graça salvadora ou graça especial, nos favorece com um amor especial da parte de Deus para conosco não pelo motivo de que Deus não ama outras pessoas como Ele nos ama, a questão é que PROGRESSÃO DA GRAÇA 121 | P á g i n a aqueles que correspondem a graça comum e aceitam o cha- mamento geral caminham para uma graça especial. E neste estágio de progressão é necessário um tratamento diferente e não mais um tratamento atrativo da parte de Deus para com os pecadores, uma vez que esta graça nos fornece a ca- pacidade de sermos salvos, nos fazendo conhecer a Cristo e as suas obras para que possamos chegar ao completo conhe- cimento de Deus a partir do que Ele se revela nas escrituras. Portanto não se deve entender que Deus ama as pessoas de formas diferente Ele ama todos com o mesmo amor, porém aqueles que buscam estar em um estágio de aceitação diante dEle o seu cuidado é diferente, e, o seu amor se manifesta de formas diferentes. Já o amor manifesto por meio da graça co- mum é um amor atrativo, é o meio pelo qual Deus nos atrai a Ele para que possamos nos entregar completamente a sua vontade salvadora. Quando Ele percebe que nós estamos observando que as coisas criadas a nossa volta são a sua manifestação de bon- dade, nos convidando a Ele, aí então Ele faz o chamamento geral, e, quando respondemos esse chamamento passamos para um segundo estágio agora não mais um estágio de ser convidado e sim um estágio de ser salvo. Uma vez que somos inseridos nesta busca pela progressão da graça nós passamos por processos pertinentes a finalidades que caracterizam a essência e a necessidade desta graça. LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 122 | P á g i n a O Processo De Justificação Em (Tt 3:7), é apresentada a nós a primeira característica desta graça que é a justificação. Podemos perceber que a graça é a fonte primária da justificação, visto que a mesma é dada pelo sacrifício de Cristo que é a expressão do amor de Deus. Para entendermos a justificação precisamos nos apro- fundar um pouco em sua fonte, fundamento, e o meio pela qual a mesma se torna completa. A Graça É A Fonte Da Justificação Os romanos não encontrariam em si próprios a fonte da justificação. Por isso, deveriam tirar os olhos deles mesmos e se voltarem em outra direção, para outra fonte, a graça de Deus (Rm 2:24). A realidade humana Culpado. O apóstolo Paulo já havia discorrido sobre a si- tuação espiritual do ser humano, gentio ou judeu. Todos es- tavam debaixo da ira de Deus (Rm 1:18), pois eram igual- mente culpados (Rm 1:20; 2:1,23; 3:23). Incapaz. Outra realidade é a incapacidade que o homem tem de se auto justificar diante de Deus com algum mérito ou justiça própria (Jr 13:23; Is 64:6). Ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei (Rm 3:20). PROGRESSÃO DA GRAÇA 123 | P á g i n a Rebelde. O ser humano não só está em situação de deses- pero espiritual e sem condições próprias de sair dela, como também, não tem esse desejo (Rm 3:10,11). É um pecador condenado, incapaz de se auto justificar, e rebelde. A obra de Cristo é o fundamento da justificação. A iniciativa de Deus É fato que nós não poderíamos ir até Deus se não fosse pela manifestação da sua graça, logo podemos definirque Ele nos amou primeiro e que a sua graça comum é o meio pelo qual Ele se revela a nós. Isso deixa claro que a iniciativa para pertencermos ao seu plano de salvação mediante Cristo e seu sacrifício é inteiramente dEle, uma vez que nós não podería- mos ir até Ele se Ele não nos levasse pelo seu infinito e ex- celso amor. Aqui começa a mudança radical. “Ninguém será justificado por obras da lei” (Rm 4:20), mas é possível ser justificado pela graça de Deus (Rm 3:24). Tudo o que o ho- mem não consegue por esforço próprio, Deus lhe concede de graça (Ef 2:8,9). E por que graça? Primeiro. Porque não merecíamos ser salvos, pois éramos todos culpados aos olhos de Deus. Só merecíamos condena- ção. Mesmo assim, Ele resolveu nos salvar. Segundo. Essa salvação é de graça, porque Jesus fez o que não poderíamos fazer para adquiri-la. Ele viveu uma vida de LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 124 | P á g i n a perfeição que não poderíamos viver (Mt 3:17; 17:5; Fp 2:8; Hb 4:15) e ainda pagou por uma culpa que não tínhamos con- dições de pagar (Is 53:5,6). Por último, é graça, porque Ele tomou a iniciativa de nos buscar, enquanto estávamos total- mente desgarrados e fugitivos (Mt 1:21; Lc 19:10). Ele nos en- controu e nos amou primeiro (1 Jo 4:10). Não esperou que fôssemos ao seu encontro, a verdade é que (nunca faríamos isso), mas nos alcançou como um pastor que busca a sua ove- lha perdida (Lc 15:4-6). A Obra De Cristo É O Fundamento Da Justificação Paulo toma emprestado um termo dos tribunais de justiça e descreve a ação de um juiz em absolver um acusado. A jus- tificação é um termo legal que se refere ao ato ou efeito de declarar justa uma pessoa. Mas, em primeiro lugar, isso não significa que o pecador passa a ser essencialmente justo, puro ou sem nenhum pecado. Essa é uma declaração judicial do tribunal de Deus. E como é que um Deus santo, justo e irado contra os pecadores pode olhar para pessoas culpadas e declará-las justas, ou seja, absolvê-las diante do seu tribu- nal? Não seria contraditório? (Dt 25:1; Pv 17:15) seria, se as nossas próprias obras fossem a base da nossa justificação. Porém, Deus nos declara justificados com base na obra de Cristo, que pode ser assim descrita: PROGRESSÃO DA GRAÇA 125 | P á g i n a Redenção. Somos “justificados … mediante a redenção que há em Cristo” (Rm 2:24). Redenção era um termo comer- cial e no Antigo Testamento era usado para escravos compra- dos para serem libertados. Dizia-se que esses escravos ha- viam sido redimidos ou resgatados (Lv 25:47-49). O termo foi também usado com referência ao povo de Israel, “remido” ou “resgatado” do cativeiro, primeiro do Egito (Êx 6:6) e de- pois na Babilônia (Is 43:1), e em seguida restaurado à sua própria terra. Nós também fomos resgatados (Mc 10:45; Is 53:10), pois Cristo pagou para deixarmos de ser escravos do pecado e sermos seu povo e propriedade (1 Co 6:20; 7:23; 1 Pe 2:9; Ap 5:9). Logo, tudo o que foi pago, não foi com o nosso próprio esforço e sim com o sangue de Cristo. Propiciação. Outro termo usado para se referir a obra de Cristo é propiciação. A nossa justificação foi, “por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação” (Rm 2:24,25). A palavra propiciação significa primariamente “aplacar a ira”. No Tabernáculo do Antigo Testamento, o propiciatório era a tampa da arca da aliança (Êx 37:6-9; Lv 16:1-3, 11-14, 30, 34). Uma vez por ano, o sangue da expiação era aspergido sobre o propiciatório pelo sacerdote. Esse ritual mostrava que a culpa do pecado do povo havia sido expiada e que a ira de Deus havia sido aplacada. No contexto em que Paulo LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 126 | P á g i n a escreveu, o termo propiciação também pode ser entendido como o lugar onde a ira de Deus foi derramada ou aplacada. Em outras palavras, Cristo assumiu o nosso lugar debaixo da ira de Deus, poupando-nos assim de sermos condenados. Ele foi o nosso propiciatório. Logo, Deus pode ser favorável (pro- pício) a nós, porque a sua ira já foi aplacada por Jesus (Hb 2:27; 1 Jo 2:2; 4:10). Manifestação. Deus não anulou sua justiça e simples- mente absolveu pecadores culpados. Pelo contrário, ele a ma- nifestou de modo claro. Por meio da morte de Jesus a sua justiça foi satisfeita. Nenhum pecado do seu povo ficou sem condenação. Todas as iniquidades que nos separavam de Deus e nos faziam seus inimigos foram castigadas em Cristo (Is 53:5; 1 Co 11:24). Não houve impunidade para Deus nos declarar justificados, as nossas culpas precisavam antes ser pagas, para que pudéssemos nos apresentar diante de Deus e sermos tratados como inocentes, a nossa dívida precisaria estar quitada. Logo, ainda que não sejamos inocentes e não deixemos de ser pecadores, agora, tão somente por causa da obra de Cristo, Deus nos declara justificados. Essa é a res- posta para o pecador que precisa de salvação. Aquilo que ele não pode fazer por si mesmo, que é apresentar uma justiça própria, Deus já manifestou em Jesus. Por isso, Deus não é injusto quando nos recebe como filhos, estende a sua PROGRESSÃO DA GRAÇA 127 | P á g i n a misericórdia e graça até nós, pois a sua justiça já foi mani- festa no seu Filho. A Fé É O Meio Da Justificação Agora passamos de toda a obra que Cristo realizou fora de nós, no tempo e no espaço, para a maneira como nos apro- priamos dela e dos seus benefícios. É somente por meio da fé que somos justificados. Paulo a menciona oito vezes em Ro- manos 3:21-31. Podemos acrescentar aqui algumas caracte- rísticas da verdadeira fé em Cristo que ainda não foram men- cionadas, pois o nosso destaque da fé no capitulo 1 era exclu- sivo e pertinente ao assunto de seu funcionamento e não de seus benefícios. A fé não é uma obra em particular no lugar das boas obras, também não é um sentimento meritório que nos justi- fica diante de Deus. A fé é um instrumento por meio do qual desfrutamos de todos os benefícios da obra consumada de Cristo, a própria fé é uma dádiva de Deus (Ef 2:8,9), ela é o nosso estender de mãos vazias para receber o presente da sal- vação que há somente em Cristo. Mas o que é essa fé? Há um consenso entre os estudiosos da Bíblia que a genuína fé tem três elementos básicos: conhecimento, aceitação ou convic- ção e compromisso. LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 128 | P á g i n a Conhecimento. A fé à qual a Bíblia se refere não é uma crença cega ou uma submissão passiva a uma igreja ou grupo religioso. Muitos dizem ter fé em Deus ou em Cristo, mas nada sabem a respeito deles. Muitos se filiam às igrejas só porque a mensagem que ouvem os fazem se sentir melhores, gostam da música ou lá possuem amigos. Nada sabem a res- peito do pecado e da salvação. Jesus, em muitos ambientes, é muito mais um símbolo do que o Salvador. Mas temos de saber em quem temos crido, assim como Paulo sabia (2 Tm 1:12 b). Jesus mesmo disse que a vida eterna era conhecê-lo e conhecer o único Deus verdadeiro (Jo 17:3). Só podemos crer em quem conhecemos. Antes do evangelho chegar ao nosso coração, o seu conteúdo tem de passar pela nossa mente. Aceitação. A fé como conhecimento é o primeiro ele- mento, porém não é o único, há também a necessidade de aceitação ou convicção de que a mensagem do evangelho é algo pessoal, devo não somente conhecer o evangelho, mas crer que ele é verdadeiro. Temos que estar persuadidos das nossas ofensas pessoais a Deus, de que somos particular- mente pecadores, e de que Cristo morreu por nós, alguns até têm um conhecimento intelectual das doutrinas centrais da Bíblia, mas falam delas como se fossem ideias abstratasou um sistema filosófico qualquer. Um físico é capaz de se sentir PROGRESSÃO DA GRAÇA 129 | P á g i n a muito mais emocionado e motivado com suas fórmulas ma- temáticas do que essas pessoas com as verdades eternas de salvação, isso é decepcionante. Devemos não somente con- fessar, mas crer de todo o nosso coração (Rm 10:9). Compromisso. O terceiro elemento da fé é o compro- misso. Tiago, falando da importância do compromisso, disse que os demônios conheciam e criam em Deus (Tg 2:19). Mas devemos nos comprometer com Cristo, obedecendo-o (Jo 14:21,23; 15:10,14), sendo seus discípulos (Mt 28:19,20) e submetendo-nos a Ele não somente como Salvador, mas também como Senhor, pois se Ele não for o Senhor da nossa vida, certamente alguém ou alguma coisa assumirá esse pa- pel (Mt 6:24). O evangelho envolve mudança de valores, compromisso com Reino de Deus e com o seu Rei e o desejo intenso de seguir e obedecer a Jesus. Essa é a fé da qual a Bíblia fala que é o instrumento dado por Deus para que seja- mos justificados. Tudo o que Jesus conquistou na cruz é co- municado a nós por meio da fé, somos declarados justifica- dos somente pela fé, com base na obra de Cristo somente e como fruto somente da graça de Deus. O Processo De Regeneração Após o processo de justificação nós passamos pelo processo de regeneração (Jo 3:3). O substantivo assim traduzido LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 130 | P á g i n a significa renascimento no grego, “palingenesia”. Ele se refere à renovação criativa operada pelo poder de Deus e ocorre por duas vezes. Em (Mt 19:28), refere-se à vindoura renovação do cosmos, no fim das épocas aquilo que Pedro chama de “restauração de todas as cousas” (At 3:21). Porém, em (Tt 3:5), onde Paulo refere-se a Deus como nos tendo salvo “me- diante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo”, está claramente em foco a vivificação espiritual do crente. Essa é a referência à palavra “regeneração” que nos interessa no momento. O contexto ao qual pertence a ideia da regene- ração é o conceito bíblico do aspecto subjetivo da redenção como uma renovação. No Antigo Testamento, encontramos Deus prometendo que daria ao seu povo um coração novo e que poria neles um es- pírito novo (Ez 36:26) a fim de circuncidar seus corações, por gravar neles as suas leis, e, desta forma, levá-los a conhecer, a amar e a obedecê-lo. (Dt 30:6; Jr 31:31-34; Ez 36:25-27). No Novo Testamento, essa renovação prometida torna-se uma realidade por meio da união com Cristo. Pois, “se al- guém está em Cristo, é nova criatura” (2 Co 5:17; Gl 6:15). Vale a pena fazermos aqui uma pausa, a fim de considerar- mos a análise exposta por B. B. Warfield, sobre essa mu- dança, como “uma radical e completa transformação operada na alma (Rm 12:2; Ef 4:23) pelo Espírito Santo (Tt 3:5; Ef PROGRESSÃO DA GRAÇA 131 | P á g i n a 4:24), em virtude da qual nos tornamos ‘novos homens’ (Ef 4:24; Cl 3:10), não mais conformados com este mundo (Rm 12:2; Ef 4:22; Cl 3:9), mas antes, em santidade e conheci- mento da verdade, criados segundo a imagem de Deus (Ef 4:24; Cl 3:10; Rm 12:2)” (Biblical and Theological Studies Estudos Bíblicos e Teológicos p. 351). Essa obra de renovação acompanha o crente por toda a sua vida terrena, pois o homem interior “se renova de dia em dia” (2 Co 4:16), num processo contínuo, comumente chamado de “santificação”. A regeneração é o ato inicial pelo qual esse processo é começado. No Novo Testamento, o principal ex- positor da regeneração é o apóstolo João. O termo grego por ele usado para exprimir a ideia é “gennaõ”, que pode signifi- car tanto “gerar” quanto “dar à luz”. Nicodemos compreen- deu que nosso Senhor estava falando de um novo nascimento (Jo 3:4). Em sua primeira carta, João claramente tinha em mira uma nova geração (1 Jo 3:9). O homem é gerado, ou nascido “de novo” – ou, mais provavelmente, nascido “do alto” (Jo 3:3, 7) – ou “do Espírito” (Jo 3:8; cf. v. 5), ou sim- plesmente “de Deus” (Jo 1:13; nove vezes em 1 João). O verbo “nascer”, no grego, em cada instância, é usado no aoristo ou no perfeito, a fim de denotar o caráter decisivo e completo da regeneração. LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 132 | P á g i n a Com o devido respeito a Calvino, a regeneração não pode ser considerada um processo inacabado. Tal como o nascimento natural, se a regeneração ocorreu, ela ocorreu completa- mente, a pessoa nasce de novo em um certo momento e a partir de então está espiritualmente viva. De acordo com João, o que é o novo nascimento? Não é uma alteração ou adição à substância ou às faculdades da alma, e, sim, uma drástica mudança operada sobre a natureza humana caída, que leva o homem a ficar sob o domínio eficaz do Espírito Santo e o torna sensível a Deus, o que ele previamente não era. Não é uma mudança produzida pelo próprio homem, da mesma forma que os infantes nada fazem a fim de induzir ou contribuir para sua própria procriação e nascimento. Trata– se de um livre ato de Deus, não provocado por qualquer mé- rito ou esforço humano (Jo 1:12,13; Tt 3:3-7), por ser total- mente um dom da graça divina. A Necessidade Da Regeneração Por que o homem precisa da regeneração? Porque, conforme nosso Senhor explicou a Nicodemos, enquanto o homem per- manece na “carne” (Jo 3:6) isto é, permanece pecador como nasceu, não é capaz de entrar no reino de Deus. Sem a rege- neração, não existem atividades espirituais. Quem não nas- ceu do alto não pode ver, isto é, compreender o Reino de PROGRESSÃO DA GRAÇA 133 | P á g i n a Deus que em suma é o Reino da salvação, nem pode entrar nele pela fé no Salvador, pois tem que haver um novo nasci- mento (Jo 3:3,5). O que fica implícito no fato que alguns re- cebem a Cristo é que nasceram de Deus (Jo 1:12,13); pois não poderiam tê-lo feito de outra maneira. Paulo coloca a questão nestes termos: “Ora, o homem natural [isto é, o não-regene- rado] não aceita as cousas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discer- nem espiritualmente” (1 Co 2:14). O diálogo de Jesus com Ni- codemos constitui um eloquente comentário sobre esse texto. Os pecadores, incluindo os mais cultos e religiosos não po- dem receber as cousas do Espírito, que são as verdades ati- nentes a Cristo, enquanto o próprio Espírito de Deus não os tiver tornado em novas criaturas. Eis a razão pela qual Nico- demos e seus amigos judeus precisavam do novo nascimento. Jesus lhe disse: “Não te admires de eu te dizer: Importa-vos [plural] nascer de novo” (Jo 3:7). O Processo De Santificação Santificação é um processo progressivo e contínuo ope- rado por Deus na vida daquele que foi justificado e regene- rado, que consequentemente se tornou convertido. No LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 134 | P á g i n a processo da santificação o cristão é ensinado e moldado a vi- ver cada vez mais para Cristo, numa vida de retidão conforme a vontade do Senhor. Assim também a santificação o leva a morrer dia após dia para o pecado. Vivendo em santidade, o crente é capaz de vencer as tentações e as concupiscências de sua velha natureza. Através da santificação, nosso ser é mu- dado gradualmente. Desse modo somos habilitados a resistir aos hábitos e práticas pecaminosas da nossa carne e buscar diligentemente um modo de vida semelhante a Cristo. O Que Significa Santificação Ou Santidade? Palavras como “santificação”, “santificar” e “santidade”, derivam do vocábulo latino “sanctus”, (santo). Por sua vez, esse vocábulo geralmente traduz o termo hebraico “qadash”, (separado), (consagrado); e o termo grego “hagiasmos”,(consagração) e (purificação). O termo hebraico é utilizado no Antigo Testamento, aparecendo também como substan- tivo e adjetivo. Acredita-se que esse termo seja derivado de uma raiz hebraica que significa “separar” ou “cortar”. Alguns também sugerem que existe outro aspecto no significado dessa raiz que transmite o sentido de “brilhar”. Se isto estiver correto, então esse termo tanto pode enfatizar a ideia bíblica de separação quanto à ideia de pureza. Seja como for, real- mente ambas pertencem ao conceito de santidade. Já o PROGRESSÃO DA GRAÇA 135 | P á g i n a substantivo grego “hagiasmos”, e o verbo “hagiazo”, são os mais utilizados no Novo Testamento para se referir à santifi- cação e santidade. Eles derivam do termo “hagios”, que tam- bém transmite a ideia de separação e consagração, assim como o termo hebraico empregado no Antigo Testamento. De forma geral, quando tais termos são aplicados pelos autores bíblicos para se referir à santificação, o objetivo prin- cipal é enfatizar o sentido de separação das práticas pecami- nosas. Mas ao mesmo tempo, também apontam para a ideia de consagração e dedicação ao serviço de Deus. Tudo isso re- sulta no princípio de viver aquilo que é justo e que está de acordo com a vontade divina. Os Conceitos Acerca Da Santificação Ao longo da História da Igreja, muito já se foi discutido sobre o conceito de justificação segundo a Bíblia, especial- mente durante e após a Reforma Protestante. Algumas linhas teológicas afirmam que a santificação ocorre de uma única vez, especialmente por meio do sacramento do batismo. Ou- tras insistem em confundir a santificação com a regeneração e a própria justificação. Há também aquelas que defendem o perfeccionismo na santificação. Essas pessoas entendem que o cristão pode chegar, ainda nesta vida terrena, a um estado de plena santificação que se traduz em um tipo de perfeição LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 136 | P á g i n a onde ele não pecará mais. Contudo, o ensino que mais se mostra fiel às Escrituras é aquele adotado pelos reformado- res. Nele, a santificação é vista como um processo progres- sivo e inacabado nesta vida terrena. Dentro deste conceito, a santificação então pode ser entendida em três aspectos: Posicional. Onde aquele que foi regenerado e justificado é visto por Deus como totalmente santificado em Cristo. Isto significa que ocorre uma separação instantânea e definitiva. Neste sentido, os cristãos são descritos na Bíblia como santos e perfeitos, mas isto não significa que eles estejam imunes ao pecado. Então essa verdade revela a santificação como um processo longo e inacabado durante esta vida. Experimental. A santificação que tem seu início com a re- generação e encontra sua base judicial na justificação, desen- volve-se como um processo gradual durante toda a vida do cristão. Final. A santificação só alcançará seu estado pleno e per- feito quando a velha natureza for finalmente removida dos redimidos. Isto acontecerá na glorificação, quando os salvos receberão seus corpos glorificados, semelhantes ao de Cristo. Quem Opera A Santificação, Deus Ou O Homem? A santificação é uma obra do Deus Triúno, mas geral- mente atribuída nas Escrituras especialmente à pessoa do PROGRESSÃO DA GRAÇA 137 | P á g i n a Espírito Santo (Rm 8:11; 15:16; 1 Pe 1:2). No entanto, o ho- mem que foi regenerado também participa desse processo. Mas isso não ocorre de forma independente! Na verdade, o homem serve como um instrumento pela qual, em parte, o Espírito de Deus efetua essa obra, ao mesmo tempo em que a Bíblia afirma que a santificação é uma obra sobrenatural de Deus (Ef 3:16; Cl 1:11; 1 Ts 5:23; Hb 13:20,21), ela também aponta em várias exortações para a cooperação do homem nesse processo (Rm 12:9,16,17; 1 Co 6:9,10; Gl 5:16-23). Es- sas duas verdades não se anulam e nem se contradizem. Den- tro do campo da teologia sistemática nós chamamos de “an- tnomio”, isto é, quando duas verdades parecem se contradi- zer entre si, mas na verdade elas se completam de uma forma paradoxal. Elas se completam em perfeita harmonia, ainda que não possamos compreender completamente. Essa mesma questão acontece em outras doutrinas bíblicas, como a soberania de Deus e a responsabilidade humana, cuja qual já falamos anteriormente. O Equilíbrio Na Santificação A verdade bíblica de que Deus é quem opera a santificação e que o redimido também participa desse processo, exige que entendamos que deve haver um equilíbrio nessa relação, LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 138 | P á g i n a infelizmente algumas pessoas priorizam ou supervalorizam um lado e ignoram o outro. Por exemplo: Há quem pense que como a santificação é uma obra operada por Deus, nós não precisamos fazer abso- lutamente nada com relação ao nosso desenvolvimento espi- ritual. Outros, por sua vez, enfatizam tanto a participação do próprio homem em seu crescimento espiritual, que acabam fazendo da santificação uma tentativa de justiça própria. O primeiro grupo sem dúvida induz a irresponsabilidade e a falta de diligência na conduta cristã. O segundo grupo ine- vitavelmente conduz o cristão a um legalismo que distorce as doutrinas da graça. Em sua Carta aos Filipenses, o apóstolo Paulo escreve exa- tamente sobre o equilíbrio que deve existir nesse processo. Ele diz: “[…] assim também operai a vossa salvação com te- mor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2:12,13). Perceba que o apóstolo aconselha acerca da neces- sidade do compromisso e esforço do crente em ter uma vida santa (“operai a vossa salvação com temor e tremor”). Mas ao mesmo tempo, imediatamente ele também aponta para a verdade de que é Deus quem opera a obra, por mais que o homem esteja agindo. Por isto ele diz: “porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar”. Aqui PROGRESSÃO DA GRAÇA 139 | P á g i n a basicamente o apóstolo está ensinando que a santidade exige esforço por parte do cristão em ser santo. Porém, até mesmo esse esforço na verdade está diretamente ligado ao soberano controle de Deus. O cristão trabalha, mas é Deus quem opera nele, de modo que o poder de Deus se manifesta inclusive em seu esforço. Um exemplo prático dessa relação ocorre quando oramos a Deus ou meditamos em sua Palavra. Somos nós que ora- mos, assim como também somos nós que estudamos as Es- crituras. No entanto, foi o Espírito de Deus quem nos levou a amar as Escrituras e a se derramar em sua presença em ora- ção. Da mesma forma, quando demonstramos em nossas vi- das as virtudes que nos assemelham ao caráter de Cristo, como a fidelidade, longanimidade, mansidão, temperança e outras; ao mesmo tempo percebemos que tais virtudes não têm origem em nós mesmos, mas provém do fruto do Espí- rito Santo gerado em nós (Gl 5). Quem Está Apto À Santificação? Somente poderá ser santificado aquele que foi regene- rado. Aqui é muito importante entender a diferença básica entre a santificação e a regeneração. Infelizmente muita gente confunde esses dois estágios distintos da obra da re- denção. LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 140 | P á g i n a A regeneração é uma obra operada exclusivamente por Deus no pecador, e que acontece uma única vez e de forma imediata. A regeneração é o novo nascimento, é quanto Deus vivifica o pecador que está morto em delitos e pecados (Ef 2:1-4). Como não há como alguém ser mais ou menos nas- cido, então a regeneração é uma obra definitiva e completa. Por outro lado, como vimos, a santificação é um processo gradual, que inclusive tem seuinício a partir da regeneração. Uma boa maneira de entender a diferença entre a rege- neração e a santificação, é saber que a regeneração é um novo nascimento, enquanto que a santificação é um crescimento. Obviamente só poderá crescer e se desenvolver aquele que nasceu. Portanto, só poderá se santificar aquele que foi rege- nerado. Essa verdade também nos leva a rejeitar um enten- dimento que infelizmente é muito popular entre os cristãos da atualidade, muitos pensam que a santificação é a causa da salvação, no sentido de que é necessário se santificar para ser salvo. No entanto, é exatamente o contrário, ou seja, o cristão é santificado não para ser salvo, mas porque é salvo. Ele cresce espiritualmente não para nascer de novo, mas porque já nasceu de novo. Como Ocorre A Santificação? PROGRESSÃO DA GRAÇA 141 | P á g i n a Já falamos que a santificação é uma obra operada por Deus e o cristão é participante desse processo. Assim, a san- tificação ocorre na vida interior do homem, de modo que ela naturalmente afeta o homem por inteiro, ou seja, corpo e alma, intelecto, vontade e afetos. A Bíblia expõe a santificação sob duas linhas simultâneas: 1. A mortificação do velho homem, isto é, a natureza pe- caminosa: Mesmo após ter sido regenerado, a natureza pecaminosa não é retirada do cristão. Mas é através da santificação que essa velha natureza é subjugada e mor- tificada. 2. O revestimento do novo ser criado em Cristo para as boas obras: Enquanto que a velha natureza vai sendo mortificada, crucificada com Cristo, o redimido é con- duzido a um modo de vida em Cristo que agrada a Deus (Ef 4:25-5:1). Além disto, a santificação é realizada na vida do cristão através de vários meios que o Espírito Santo emprega. Por exemplo: a leitura e o estudo da Palavra de Deus; a oração; os sacramentos; a comunhão entre os redimidos no Corpo de Cristo; a adoração; e o direcionamento providencial de Deus na vida do cristão. LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 142 | P á g i n a As Características Da Santificação O autor “Louis Berkhof”, em sua Teologia Sistemática, destaca de forma objetiva algumas das principais caracterís- ticas da santificação, das quais podemos citar resumida- mente: • Deus é o autor da santificação, ainda que o homem tenha participação como instru- mento através dos meios que Ele colocou a seu dispor. • A santificação tem lugar tanto na vida sub- consciente como na vida consciente do ho- mem. Na primeira, ela é uma operação ime- diata do Espírito Santo. Já na segunda, ela é um processo que depende do uso do exercício da fé e dos meios de graça durante a vida cristã. • A santificação é um processo longo, que per- durará toda a vida do cristão. Por isso esse processo ficará inacabado aqui. Isso significa que nesta vida terrena o cristão jamais alcan- çará a perfeição. PROGRESSÃO DA GRAÇA 143 | P á g i n a • A santificação encontrará sua plena perfeição quando a vida do redimido tiver fim ou no re- torno de Jesus Cristo. A Bíblia diz que os re- dimidos que já morreram encontram-se in- teiramente santificados. O escritor do livro de Hebreus fala deles como “justos aperfeiçoa- dos” (Hb 12:23). Todavia, será por ocasião da ressurreição dos mortos que a santificação com relação ao corpo será completa. Nesse momento Cristo “transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo de sua glória” (Fp 3:21). Através Da Santificação É Possível Deixar De Pe- car? Apesar de a santificação ir mortificando a nossa natureza pecaminosa, ela não a exclui completamente. Os cristãos já foram libertos da culpa e do poder do pecado, mas ainda es- tão sujeitos a ele. O apóstolo João fala exatamente sobre isto. Ele escreve que “se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1 Jo 1:10). Qualquer doutrina que ensine o perfeccionismo terreno não se sustenta à luz das Escrituras (1 Rs 8:46; Pv 20:9; Ec 7:20; Tg 3:2; 1 Jo 1:8). Portanto, há uma luta constante na vida do LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 144 | P á g i n a cristão entre a carne e o Espírito (Rm 7:7-26; Gl 5:16-24; Fp 3:10-14). Apesar disso, agora, como nova criatura, o cristão vive uma vida de santificação conforme a vontade de Deus. Assim, o pecado não é mais o padrão em sua vida! O pecado não é mais aquilo que o caracteriza, pois ele não sente mais prazer na prática do pecado. Então podemos dizer que o pe- cado ocorre na vida do redimido como um acidente de per- curso em sua caminhada cristã. É por isso que os verdadeiros cristãos confessam e oram a Deus em arrependimento pelo perdão de seus pecados (1 Jo 1:9). A boa notícia é que a graça de Deus, através das Escrituras, ensina, repreende e corrige os redimidos, para que estes sejam aperfeiçoados (Tt 2:11-15; cf. 2 Tm 3:16). Saiba mais sobre como vencer o pecado. A Santificação Não É Legalismo Ou Uma Aparente Espiritualidade Infelizmente a santificação é vista por muita gente sob as lentes distorcidas do legalismo. Geralmente esse legalismo se expressa por meio de usos e costumes, e outras práticas que apenas possuem aparência de piedade (Cl 2:23). Na verdade, a santificação não é simplesmente se abster de uma série de coisas consideradas impróprias e abraçar outras. Por exem- plo: tem gente que acha que a santificação é adotar o paletó e a gravata como uniforme, andar com saias e vestidos que PROGRESSÃO DA GRAÇA 145 | P á g i n a arrastem no chão, manter o comprimento adequado do ca- belo e outras coisas mais. Além disso, a santidade também não está implícita na ostentação de vários dons espirituais. Do que adianta andar de terno o tempo todo, mas ser um mentiroso? Andar com uma saia três vezes maior que o seu tamanho, mas ter a mente dominada por pensamentos im- puros? Ter aparência de espiritual desmaiando de tanto je- juar, mas ser alguém que promove discórdias, inimizades e dissensões? Alegar revelar e profetizar em nome de Deus, mas ser um invejoso, ganancioso e destemperado? É claro que alguém que nasceu de novo e vive uma vida que agrada a Deus, jamais agirá ou se vestirá de uma maneira lasciva, sensual ou reprovável que contradiz sua nova natureza. Nem mesmo será achado em lugares ou situações impró- prias para aquele que busca ser cada vez mais parecido com Cristo. Essa pessoa é guiada pelo Espírito Santo e nunca será por Ele conduzido a tais lugares ou situações. É preciso en- tender que a santificação é mortificar o velho homem, e não maquiá-lo com uma aparente espiritualidade. Se vestir de cristão, pregar em nome de Jesus, expulsar demônios e rea- lizar milagres, até mesmo os não regenerados conseguem fa- zer (Mt 7:23). Mas “revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenien- tes da verdade”, é apenas para aqueles que verdadeiramente nasceram de novo (Ef 4:24). LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 146 | P á g i n a A Importância Da Santificação O escritor de Hebreus destaca que sem a santificação nin- guém verá o Senhor (Hb 12:14). Já falamos que isso não sig- nifica que alguém pode alcançar a salvação porque se santi- fica, mas que a santificação é inevitável na vida dos cristãos genuínos. Isto acontece “porque desde o princípio Deus os escolheu para serem salvos mediante a obra santificadora do Espírito Santo” (2 Ts 2:23). O apóstolo Pedro também es- creve que os redimidos foram “eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo” (1 Pe 1:2). Da mesma forma, o autor de Hebreus diz que Cristo é quem santificaos santificados (Hb 2:11). Portanto, a santificação reflete de forma visível a regeneração! Ela demonstra de forma clara que alguém nasceu de novo e agora é nova criatura conforme à imagem de Cristo. Através da santificação, o regenerado segue os passos de Cristo, ele deseja ardentemente o dia em que finalmente po- derá contemplar a sua face. Podemos então dizer que a graça salvadora ou a graça especial é um nível de renúncia que atin- gimos mediante uma obra ou um trabalho conjunto em que eu me entrego a Cristo e Ele faz em mim o que é necessário para que eu alcance este crescimento que Ele mesmo oferece PROGRESSÃO DA GRAÇA 147 | P á g i n a para que eu possa conhecê-Lo melhor. Podemos notar que a graça é muito mais abrangente e eficaz na vida de qualquer um que corresponde ao chamado e a manifestação primária que é a graça comunicação que Deus estabelece em forma de um relacionamento para atrair o pecador a Si do que nós imaginamos. 149 | P á g i n a I T CAPÍTULO VII TORNANDO-SE PARTE DO CORPO DE CRISTO processo de eleição ainda continua. Desta vez so- mos inseridos no corpo de Cristo, já vimos que pri- meiro é manifesto a graça comum da parte de Deus para nos atrair a Ele, quando somos atraídos a Ele, então Ele faz o cha- mamento geral para todos aqueles que reconhecem a sua bondade e a capacidade de escolher por mais que ele é quem O LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 150 | P á g i n a nos atrai a ele. Irmos a Deus é uma questão volitiva do pró- prio amor de Deus, a ação de irmos até ele é inteiramente dele e não nossa pelo fato de que a graça comum foi dada a nós. Após recebermos esta graça e desfrutarmos dos benefícios que ela nos oferece de poder escolher a Deus, nós passamos para o processo em que somos chamados a pertencê-los, quando aceitamos este chamado aí surge a necessidade de crescermos na graça de Deus, e neste crescimento em busca do alcance da Graça especial passamos por três proces- sos. Primeiro pelo processo da justificação, subsequente- mente pelo processo da Regeneração e por fim desta etapa o processo de santificação. Agora após passarmos por esses processos nós chegamos em uma outra etapa já tendo desen- volvido e crescido na graça e alcançado a graça especial nós agora somos inseridos no corpo de Cristo. Agora Somos Servos De Deus É exatamente no momento em que passamos a participar do corpo de Cristo que podemos nos considerar servos de Deus (Hb 9:12,14), Pois foi pelo sangue de Cristo uma vez que Ele efetuou a eterna Redenção, que nós agora podemos nos aproximar de Deus por meio de seu sacrifício. E este sacrifí- cio uma vez aceito por nós como sendo a propiciação dos TORNANDO-SE CORPO DE CRISTO 151 | P á g i n a nossos pecados nos leva a ter comunhão com Deus por meio da fé que temos em Cristo e sua obra. Enquanto estamos pas- sando pelo processo de justificação, Regeneração e santifica- ção nós ainda não somos considerados membros do corpo de Cristo porque este processo em suma é a purificação para a integração no corpo. Nós nos tornamos servos de Deus quando aceitamos completamente o trabalhar do Espírito Santo em nós, nos levando a crer e conhecer a pessoa de Cristo, a partir do propósito eterno que é o plano da Reden- ção, elaborado por Deus e realizado em Cristo o Seu Filho. E quando nós somos inseridos no corpo de Cristo, Deus nos torna uma nova criatura. Um Estágio De Transformação A Bíblia diz que aquele que está em Cristo, nova criatura é. Isso diz respeito à regeneração que ocorre na vida do peca- dor e às bênçãos resultantes de sua união com Cristo. É im- possível alguém permanecer o mesmo estando em Cristo, porque sua vida é transformada radicalmente por Ele. Sua posição em relação a Deus e ao mundo é alterada, pois agora ele torna-se participante da nova criação. Foi o apóstolo Paulo quem escreveu que se alguém está em Cristo, nova cri- atura é (2 Co 2:17). Ao apresentar uma defesa contra os ata- ques dos falsos mestres que tentavam introduzir ensinos http://estiloadoracao.com/historia-do-apostolo-paulo/ http://estiloadoracao.com/historia-do-apostolo-paulo/ LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 152 | P á g i n a estranhos ao Evangelho de Cristo e descredenciar sua pessoa e ministério, Paulo esclareceu aos coríntios quais eram suas motivações para anunciar o Evangelho. Nesse sentido ele destaca o temor ao Senhor, o amor de Cristo e a realidade da nova criação. Antes de dizer que “se alguém está em Cristo, nova criatura é”, Paulo fala sobre o amor de Cristo. Ele diz que “o amor de Cristo nos constrange”, pois esse amor sacri- fical foi revelado em sua morte na cruz em nosso lugar. Como consequência, Paulo basicamente diz que aqueles que foram alvos do amor de Cristo e receberam as bênçãos resultantes de sua morte e ressurreição, desfrutando da graça comum, aceitando o chamamento geral e passando pelo processo tri- plo já mencionado anteriormente da justificação, regenera- ção e santificação, ao ser inseridos no corpo de Cristo “já não vivem mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5:15). Então partindo desse princípio, Paulo fala sobre o resul- tado dessa comunhão. Ele diz que a relação dos redimidos com o mundo ao seu redor muda, pois eles passam a enxer- gar todas as coisas de uma perspectiva espiritual (2 Co 5:16). Isso acontece porque essas pessoas agora estão “em Cristo”. Paulo aplica a expressão “em Cristo” mais de vinte vezes em suas epístolas. Para o apóstolo, “estar em Cristo” significa desfrutar de uma íntima comunhão com Ele. Na verdade, http://estiloadoracao.com/temor-deus-significado/ http://estiloadoracao.com/o-amor-de-cristo-nos-constrange/ TORNANDO-SE CORPO DE CRISTO 153 | P á g i n a estar em Cristo é ser parte do Seu corpo (1 Co 12:27). Essa união com Cristo expressa tudo o que envolve a redenção do crente desde a eleição, justificação, santificação até a glorifi- cação (Rm 8:1; 1 Co 1:2 3:8; Ef 1:4,11). Aquele que está em Cristo desfruta da segurança da obra infalível de Cristo que aplacou em nosso lugar a ira de Deus contra o pecado. Aquele que está em Cristo encontra conforto em saber que agora ele é aceito por Deus pelos méritos de Cristo. Quem está em Cristo possui a plena certeza de sua he- rança futura, pois já é participante da nova criação em Cristo. Nova Criatura Quando Paulo diz que “se alguém está em Cristo, nova criatura é” ele não tem em mente apenas as implicações in- dividuais da salvação de uma pessoa, mas ele tem em mente algo mais amplo e profundo. A expressão “nova criatura é”, traduz o texto bíblico que no grego diz literalmente que se alguém está em Cristo “é nova criação”. Obviamente aquele que faz parte de uma nova criação é também uma nova cria- tura, mas o ensino bíblico aqui não está limitado apenas a esse sentido pessoal da redenção. Em outras palavras, o que Paulo diz é que se alguém está unido a Cristo pela fé, essa pessoa agora faz parte da nova humanidade que está sendo criada em Cristo Jesus, ou seja, ela faz parte do povo de Deus. http://estiloadoracao.com/o-que-e-santificacao/ LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 154 | P á g i n a Isso quer dizer que quem está em Cristo não mais é contado entre a velha humanidade que tem como seu representante o primeiro Adão, mas é contato entre a nova humanidade que tem na pessoa de Cristo, o último Adão, o seu representante. Portanto, isso muda por completo a vida da pessoa. Ela não se relaciona mais com o mundo e com as pessoas à suavolta da mesma forma que antes. Isso porque ela faz parte da nova criação e possui um novo entendimento; sua orientação mu- dou e agora essa pessoa enxerga todas as coisas a partir da perspectiva de sua união com Cristo. É claro que isso impacta diretamente em sua experiência prática de vida, mas essa mudança prática resulta da transformação total que a pessoa experimenta ao estar unida com Cristo, ao conhecer a Cristo de outra maneira e ser participante da nova criação. Então se alguém está em Cristo e faz parte da nova criação, conse- quentemente as coisas velhas já estão no passado, e agora tudo é novo. Agora nós podemos desfrutar o labor de ser um participante do corpo de Cristo (Rm 12:5), Sendo membros um dos outros. Significa dizer que nós sendo muitos somos apenas um e comemos de um mesmo pão, somos a composi- ção de um grupo que pertence a um único Rei, Jesus Cristo nosso salvador (1 Co 10:17; 1 Co 12:20,27). http://estiloadoracao.com/significado-de-cristo/ TORNANDO-SE CORPO DE CRISTO 157 | P á g i n a I T CAPÍTULO VIII A ELEIÇÃO questão da eleição tem sido muito discutida princi- palmente em nossos dias, é um assunto que por al- guns é definido de uma forma radical e outros intérpretes aderem uma definição totalmente oposta a essa radicalidade. O calvinismo ensina que há um absolutismo na questão da eleição, dizem que Deus simplesmente escolhe quem será A LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 158 | P á g i n a salvo e não deve satisfação alguma para o ser humano por isso Ele é quem decide, Ele é quem faz e não há quem possa questioná-lo. Confesso ser essa uma interpretação um tanto quanto vaga, embora sabemos que Deus é soberano e tem o governo e controle de toda a história, a questão da eleição vai um pouco além da realidade do alcance dos nossos pensa- mentos. Se quisermos entender essa questão precisamos for- çar um pouco a nossa mente e voltarmos um pouco no tempo, a Bíblia nos ensina que nós fomos eleitos antes da fundação do mundo (Ef 1:4), o que este texto está dizendo é que nós estávamos inseridos no plano Divino de salvação que abrange especificamente a eleição, visto que a eleição é o re- sultado das nossas respostas ao sacrifício de Cristo, quando Cristo morreu na cruz isso aconteceu no “Cronos” de forma literal, mas no “Kairós” isso já tinha acontecido porque Deus já havia planejado, e, como isso tudo já estava dentro do plano de Deus obviamente nós fomos eleitos antes da funda- ção do mundo, uma vez que Cristo é o próprio Deus e Ele es- tava antes da fundação do mundo em Glória junto ao pai (Jo 17:5). O fato de Deus nos escolher nele ou nos eleger nele traz a ideia da eleição por Deus cuja origem encontra-se no im- portante tema da união espiritual pois a eleição é “em Cristo”. A ELEIÇÃO 159 | P á g i n a A doutrina da eleição é um dos ensinamentos mais impor- tantes também mais mal compreendido da Bíblia. Expondo da forma mais simples possível, a eleição diz respeito ao plano pelo qual Deus realiza a sua vontade, é mais apropri- ado entender o significado da eleição como a iniciativa Sobe- rana de Deus de trazer pessoas a fé em Cristo, criando um relacionamento especial de impacto com ele. Este tema é a base para toda a abertura de Efésios, que inclui as expres- sões: nos “escolheu”, nos “predestinou” e fomos predestina- dos conforme o propósito de Deus. O foco de Paulo no cará- ter Cristocêntrico da eleição é vital. Deus nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo, isso mostra que o Evan- gelho é central no plano de Deus para a história. Fomos es- colhidos para que fossemos santos e sem culpa. Santidade e a pureza são os resultados, e não a base da eleição de Deus. Como Funciona A Eleição Antes de colocarmos em questão a escolha de Deus para o seu povo eleito, precisamos considerar alguns fatores anteri- ores que nos revelam o porquê e como funciona a eleição. Alguns questionamentos surgem a respeito da eleição que confunde alguns leitores, é pelo fato de que ao mesmo tempo que Deus escolhe alguns, estes, ao pecarem continuam ainda pertencendo o seu povo, alguns dizem que isso é uma LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 160 | P á g i n a injustiça, outros que isso é a prova de que a eleição parte ex- clusivamente e inteiramente de Deus, e, que nós não temos participação em sermos eleitos e que somente Deus é quem escolhe, independente das nossas escolhas e decisões em se- gui-lo ou não. Por isso alguns definem que a escolha do ho- mem não é livre e que se ele for eleito ou não, isso não de- pende dele e sim de Deus, logo o homem não pode fazer nada para ser salvo uma vez que Deus é quem decide se ele será ou não salvo. Para entendermos e resolvermos essa questão da divergência de como funciona a eleição, vamos fazer uma cir- cunspecção dos fatos relatados nas escrituras a respeito da eleição de Deus com relação ao seu povo e as vontades livres de seu povo. Deus criou o homem para lhe adorar (Gn 3:1-23), porém houve a corrupção (Gn 6:5), depois disso todos eram pecado- res por hereditariedade da natureza humana, depois de al- gum tempo surgiu Noé (Gn 6:9), a expressão bíblica é que Noé era o único “justo”. Considerando isso, conseguimos en- tender o porquê ao decorrer da história houve um povo esco- lhido, foi justamente porque Noé decidiu ser justo, e a res- posta de Deus em relação aos que seguiram o exemplo de Noé foi guia-los como sendo o seu povo ao que Ele tinha prome- tido. Quanto aos Rebeldes que não escolheram segui-lo, Deus simplesmente não o conduziu a pertencerem a A ELEIÇÃO 161 | P á g i n a promessa e quanto aos que se rebelaram dentro do povo que Deus escolheu conduzir, em resposta a retidão dos mesmos, vemos Ele mesmo castigando, como os filhos de Eli (1 Sm 2: 30-34), Corá, Datã e Abirão (Nm 6:31-33), entre outros. Agora aos que mesmo sendo rebelde não deixaram de per- tencer a promessa e ao povo eleito, é por que sua rebeldia não o fizeram perder o temor (Jz 10:10-16), isto é, ainda existia algo neles que para Deus funcionava de forma aprazível a sua vontade. Como acontece conosco quando erramos, temos medo de perder a presença de Deus (Sl 51:11-12), mas sabe- mos que sua misericórdia ainda não foi retirada de nós, em paralelo a isso sabemos que nossos erros foram espontâneos e não fazemos o que queremos fazer às vezes, e sim, aquilo que não queremos isso fazemos com facilidade (Rm 7 :15- 20). Mas isso não reduz o temor que temos a Deus isso fica claro, porque imediatamente nos entristecemos e nos arre- pendemos diante de Deus por termos cometido tal erro (Rm 7:24). O fundamento desta ideia está no fato de que Jesus após a sua morte, desceu às profundezas da terra (Ef 4:8-9), e foi confirmar que a pregação de Noé era a mais sublime resolu- ção da preparação para a salvação (1 Pe 3:19-20; 4:6), e quem não aceitou, pereceu, quer dizer que todos que seguiram Noé, seguiram o próprio Senhor Jesus em sua manifestação de oportunidade de salvação e na pessoa de Noé ele manifestou LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 162 | P á g i n a a sua justiça (Mt 24.37), pois não é era o pregoeiro da justiça (2 P 2:5). Concluímos então que Deus tem sim um povo que escolheu, mas essa escolha é conjunta, isto é, na medida que decidimos segui-lo, ele escolhe nos conduzir (2 Cr 15:2), e os que fazem o oposto disso é simplesmente os que não de- cidem segui-lo e o resultado dessa rebeldia é a morte, e o meio que isso acontece é o próprio Deus usando suas ferra- mentas (2 Rs 9 e 10). Mesmo Deus sendomisericordioso e não querendo que nós nos afastemos dele e tome-nos deci- sões que irá resultar nas manifestações da sua Ira, Ele não força ninguém a escolhe-lo (Ap 3;20), por isso nós temos a oportunidade de uma escolha livre embora temos a influên- cia tanto do mal quanto a influência da Graça comum que nos revelam a bondade de Deus, pois ele sendo amoroso ele exige que este amor seja espontâneo e não forçado, por isso ele não pode simplesmente abolir a sua justiça e nos obrigar a amá-lo e a servi-lo. Consequentemente aqueles que esco- lhem servi-lo, fazem por vontade própria e não por obriga- ção, mesmo que a iniciativa para irmos a Deus parte dele, no aspecto de que vamos pela manifestação da Graça comum, que equilibra a balança das influências, nós é quem decidi- mos se queremos ir ou não, a graça comum é apenas uma luz no meio da escuridão degradante da cegueira do pecado cau- sada pela queda do homem. A ELEIÇÃO 163 | P á g i n a A Eleição É Uma Ação Conjunta Precisamos entender que a eleição é uma ação conjunta, e esta eleição ela segue um processo. Primeiro Deus nos ou- torga a Graça comum que nos ilumina para podermos vê-lo e termos a oportunidade de escolher, em segundo lugar acon- tece o processo subsequente de chamamento geral, nesse es- tágio nós decidimos se vamos responder o Chamado de Deus de pertencê-lo como sendo seu povo ou não, se escolhermos pertencer a ele passamos desta vez pelo processo de justifi- cação regeneração e santificação quando passamos por estes processos nós somos inseridos no corpo de Cristo, e ao ser- mos inseridos no corpo de Cristo nós nos tornamos eleitos justamente porque Cristo é eleito. Isso mostra que a eleição ela é uma ação conjunta e não unicamente da vontade de Deus, embora a sua vontade seja nos salvar, Ele não pode nos forçar a isso mesmo tendo controle de toda a história, de todo o tempo, e de todas as coisas e decisões do homem isso acon- tece pelo fato de Ele ser presciente e não por ser determi- nante em nossas escolhas. Eleitos em Cristo Nós sabemos que somos eleitos, se permanecermos como fiéis membros e participantes do corpo de Cristo. E isso inclui ser santo e fiel a ele aos seus mandamentos, e em tudo que LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 164 | P á g i n a diz respeito às práticas cristãs morais que refletem o caráter de Cristo (Cl 3:12; 1:2). Devemos imaginar que a eleição, ela é uma pequena semente plantada que ainda enquanto se- mente é apenas a graça comum, à medida que nós regamos essa semente e desejamos o seu crescimento ela crescerá e florescerá. E quando nos tornamos eleitos em Cristo, essa flor se abre, e o abrir desta flor é o que caracteriza a essência de um verdadeiro cristão, como sendo o eleito em Cristo, e o que compõe essas características são um caráter e comporta- mento irrepreensível diante dEle em amor (Ef 1:4b). Cristo o Eleito de Deus Nós somos eleitos não porque Deus nos escolheu indivi- dualmente, e sim porque Ele escolheu Cristo, Cristo é o eleito de Deus (1 Pe 2:4), para entendermos essa questão vamos fa- zer uma alegoria aqui: Imagina um quadro criado para montar um quebra-ca- beça, as peças estão espalhadas, mas o quadro permanece ali. Este quadro deve comportar cada peça, completando uma perfeita paisagem, este quadro foi determinado e esco- lhido para ser o suporte das peças, para que a imagem te- nha um enquadramento perfeito, no entanto as peças estão espalhadas, e quando essas peças se juntam formando a imagem inseridas no quadro, elas passam a ser parte da A ELEIÇÃO 165 | P á g i n a ideia principal do quebra-cabeça, que é refletir uma ima- gem. As peças que compõem esse quebra-cabeça se comple- tam e se encaixam no quadro porque o quadro foi eleito para comportar essas peças. Assim funciona a eleição Cristo, Ele foi eleito, Ele é o quadro, nós somos as peças e quando nós seguimos o passo a passo e os processos neces- sários para pertencemos ao seu corpo, nós estamos nos in- serindo neste quadro e assim estamos nos tornamos eleitos, não porque somos eleitos especialmente e individualmente, mas porque estamos inseridos dentro de um quadro que foi planejado para comportar tal imagem e à medida que nos enquadramos a este, completando uma imagem somos elei- tos, isso porque o quadro foi eleito, o quadro foi escolhido como a base para sustentar a ideia de uma paisagem per- feita. Cristo nosso Senhor foi morto antes da fundação do mundo (Ap 13:8), o que este versículo está dizendo é que, Deus em seu plano eterno de Redenção, já havia planejado como iria fazer para regenerar o homem, e foi Cristo que Ele escolheu para executar este plano, por Cristo e em Cristo o seu plano Divino de Redenção foi realizado e completo. Isso tudo aconteceu na eternidade passada antes que o mundo existisse, Cristo dentro do plano de Deus já havia mor- rido, portanto ao vir a terra e morrer pela humanidade, Cristo estava apenas cumprindo algo que já tinha sido LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 166 | P á g i n a definido na eternidade. Este sacrifício, esta obra Redentora foi elaborada por Deus e executada em Cristo para sermos posteriormente edificados nEle (1 Pe 2:5). Por isso nós saímos das trevas para nos tornarmos uma geração eleita (1 Pe 2:9), implica dizer que o tornar-se gera- ção eleita é uma etapa ou um estágio avançado do processo de ser salvo, podemos definir que quando saímos das trevas e fomos transportados para o reino da luz, nos tornando ge- ração eleita, nós estamos caminhando para a salvação eterna e uma morada eterna com Deus. É nesse momento que pas- samos a ter a certeza da nossa salvação, quando nós estamos sendo edificados sobre os fundamentos de Cristo. 169 | P á g i n a I T CAPÍTULO IX A PRESCIÊNCIA DE DEUS significado da palavra presciência na Bíblia tem le- vado a diversos debates entre os cristãos. A questão discutida é o que ela quer dizer quando aplicada a Deus. A grande pergunta é: Como entender a presciência de Deus? Basicamente há duas interpretações diferentes sobre o que é a presciência de Deus. Uma delas procura manter o signifi- cado estrito da palavra presciência como “pré-conheci- mento”, a outra entende que, à luz do texto bíblico, o O LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 170 | P á g i n a significado da presciência de Deus é mais profundo, e trans- mite as ideias de relacionamento e escolha. A dificuldade em entender este tema fez com que muitos passassem a limitar, ou mesmo negar, a presciência de Deus. Normalmente quem assim o faz, entende que Deus declinou de sua presciência para preservar a liberdade de suas criaturas. Sob essa pers- pectiva, Ele não conhece o futuro, mas o descobre junta- mente com o homem à medida que a história avança. É claro que essa interpretação é completamente antibíblica. A Presciência na Bíblia A palavra “presciência”, ou seu termo equivalente, apa- rece apenas no Novo Testamento. Aplicada a Deus, a ideia de presciência ocorre em cinco ocasiões (At 2:23; Rm 8:29; 11:2; 1 Pe 1:2,20). Em todas elas o objetivo é traduzir os termos gregos “prognosko” e “prognosis”. Dentre as passagens cita- das, as mais conhecidas e utilizadas para debater o signifi- cado da presciência de Deus são: (Rm 8:29), onde lemos que Deus predestinou os que dantes conheceu; e (1 Pe 1:2), onde o apóstolo saúda os eleitos segundo a presciência de Deus pai. Dissemos que duas interpretações principais são sugeri- das sobre o significado da presciência de Deus. Conhecere- mos cada uma delas a seguir.A Presciência De Deus É Sua Visão Acerca Do Fu- turo A PRESCIÊNCIA DE DEUS 171 | P á g i n a Esta interpretação afirma que a presciência de Deus sig- nifica simplesmente seu pré-conhecimento de todas as coi- sas. Ele conhece o futuro antes que ele ocorra em nosso tempo. Porém, esse conhecimento de Deus acerca dos acon- tecimentos futuros se baseia sem sua contemplação. Isso sig- nifica, por exemplo, que Ele conhece cada ação que cada uma de suas criaturas tomará. Porém, essa presciência não é cau- sativa, ou seja, o fato de Ele conhecer tais ações não implica numa interferência de sua parte. Em outras palavras, a pres- ciência de Deus não é o que determina que algo aconteça. Ele age como observador, apenas. Portanto, são os acontecimen- tos futuros que causam o pré-conhecimento de Deus. Ele apenas os conhece, porque de fato eles acontecerão em algum momento. O principal objetivo desta interpretação, segundo quem a defende, é tentar preservar a liberdade das criaturas em relação à soberania de Deus. Assim, quando Deus predes- tina e elege, por exemplo, Ele o faz com base em sua presci- ência. Portanto, Deus conhece antecipadamente as decisões, ações e comportamento de suas criaturas. Então Ele decide e faz com base no que foi previsto. A Presciência De Deus É Mais Do Que Cognição Esta interpretação também afirma que Deus conhece to- das as coisas. Porém, Ele conhece o futuro não apenas porque Ele o observou, mas porque Ele o determinou. Isto significa que a presciência de Deus está diretamente relacionada aos LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 172 | P á g i n a seus decretos. Ele não age como um espectador da história, mas Ele é aquEle que constrói e conduz a história. A presci- ência, em si, não é causativa, mas está intimamente ligada ao conselho soberano de Deus. Ele não toma decisões com base no que Ele previu, mas simplesmente sob o fundamento de sua vontade (Rm 8:28,29); onde os que dantes Deus conhe- ceu foram aqueles que Ele chamou segundo o seu propósito, que é o chamamento geral. Esta interpretação afirma que a chave para entender a presciência de Deus é saber que o foco da questão é o próprio conhecimento divino. Como foi dito, Deus conhece todas as coisas, então a palavra “conhecer” aplicada a Deus não pode significar simplesmente “cogni- ção”. Quando Ele diz que conhece ou desconhece alguém, isso indica afeição, isto é, um relacionamento especial, ou a falta dele (Êx 33:17; Dt 9:24; Os 8:4; Am 3:2; Mt 7:23). Com base nisso, o significado de dizer que Deus pré-conheceu al- guém não pode ser outro a não ser o de que Ele se relacionou de forma especial com esse alguém. Esta interpretação tam- bém chama a atenção para o fato de que o significado de um determinado termo deve ser analisado à luz de seu contexto. Um exemplo disto é a palavra “carne” que aparece muitas ve- zes na Bíblia. Num significado simples, ela pode indicar o corpo físico, mas em vários textos ela se refere à velha natu- reza pecaminosa do homem. O mesmo princípio pode ser aplicado com relação à palavra “presciência”. há uma A PRESCIÊNCIA DE DEUS 173 | P á g i n a corrente de interpretação que indicam que os termos gregos traduzidos por “presciência”, ainda podem ser traduzidos como “conheceu de antemão”, desde que se entenda que o “conheceu” não é mera cognição. Assim, uma boa tradução seria “de antemão se relacionou”, “de antemão amou” ou “de antemão escolheu”. Isso parece harmonizar os versículos 2 e 20 de 1 Pedro 1. O apóstolo utiliza o mesmo termo grego para se referir à eleição dos salvos e à escolha de Cristo como re- dentor. Então, parece óbvio que não é uma simples cognição antecipada que está em questão. Também é preciso considerar que em todas as vezes que a palavra “presciência” é aplicada a Deus no Novo Testamento, ela sempre indica o pré-conhecimento de pessoas, e não de fatos, escolhas, ações ou obras. Claro que Ele conhece todas essas coisas, mas o foco do texto bíblico que fala de presciên- cia é sempre em indivíduos. Esta posição também afirma que não há, nesse caso, uma violação da liberdade e da responsa- bilidade dos indivíduos. Ela afirma a soberania de Deus e a responsabilidade humana como agentes livres, como duas verdades bíblicas que não se excluem, mas que caminham juntas. Conclusão Sobre A Presciência De Deus Seja como for, é impossível não se render diante dos mis- térios acerca de nosso Deus. É impossível não reconhecer quão inescrutáveis são os seus desígnios. O significado da LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 174 | P á g i n a presciência de Deus não deve ser um motivo de discórdia en- tre os cristãos, mas de admiração. Visto que a sua presciência sendo um aspecto da sua onisciência ela colabora com a nos- sas escolhas (1 Sm 23:11- 12), Isso significa que a pré-ciência de Deus não pode anular ou interferir em nossas escolhas em obedecer ou não a sua vontade, pois a eleição a luz de (1 Pe 1:2), é feita através da Santificação do Espírito para a obedi- ência e aspersão do sangue de Jesus Cristo e não através da presciência de Deus, significa dizer que a pré-ciência citado no versículo de Pedro tem o significado de relacionamento, pois é através do relacionamento que nós nos santificamos, e isso acontece através do Espírito Santo trabalhando e ope- rando em nós, a sua obra, portanto a pré-ciência de Deus não é a base da nossa eleição, e sim, a nossa eleição é o outro lado da moeda. A presciência de Deus e a eleição se completam, uma não é a causa da outra, mas ambas são efeitos causados por um processo de resposta ao Chamado de Deus a santifi- cação. Em (At 2:23), A declaração de Pedro articula o impor- tante paradoxo da vida cristã: a morte de Jesus ocorreu em decorrência do plano e da pré-ciência de Deus, mas foram os atos livres e pecaminosos de seres humanos que executaram esse projeto, a Bíblia afirma com frequência a realidade da Soberania Divina, e da genuína escolha humana, sem expli- car como as duas podem atuar em conjunto sem qualquer conflito, mas o que podemos definir é que se elas não se A PRESCIÊNCIA DE DEUS 175 | P á g i n a contradizem, certamente elas se completam de uma forma paradoxal. Em sua pré-ciência Deus providenciou nossa Re- denção em Cristo (1 Pe 1:20), e ao aceitarmos o chamado para irmos a Cristo, nós estamos então fazendo a nossa parte na eleição, pois Deus já fez a parte dEle em dar o seu Filho a morrer pelos nossos pecados, e ele não pode simplesmente nos obrigar aceitarmos esse sacrifício. Portanto Deus elabo- rou o plano e nos outorgou a graça comum, e ao executar o seu plano em Cristo, nos chamou para ir a Ele, e quando acei- tamos este chamado o Espírito Santo nos convence nos le- vando ao arrependimento, consequentemente ao aceitarmos somos justificados por meio da Fé que temos no sacrifício de Cristo (Rm 5:1). Após sermos justificados somos redimidos e santificados e então passamos a nos tornar eleitos em Cristo, e isso tudo aconteceu não com base na pré-ciência de Deus, mas completando a sua pré-ciência que foi por ela que Ele elaborou o plano de salvação portanto ao alcançarmos a sal- vação pela graça mediante a fé em Cristo (Ef 2:8), nós esta- mos automaticamente nos juntando as peças do quebra-ca- beça para completar uma imagem perfeita. 177 | P á g i n a I T CAPÍTULO X A PREDESTINAÇÃO calvinismo afirma que a predestinação é determi- nante, assim como é a eleição, que todas as coisas estão pré-ordenadas a acontecerem e todas elas devem seguir o cronograma de Deus. Embora seja uma doutrina bíblica a predestinação, ela é vista por muitos expositores em uma or- demequivocada. Existe um momento em que a predestina- ção acontece, eu não posso usar um texto que trata da O LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 178 | P á g i n a predestinação como sendo abrangente a todas as coisas ex- cluindo as vontades humanas pois a predestinação não con- fronta a vontade humana e sim ela acontece após essa esco- lha. A predestinação à luz das escrituras tem muito mais a ver com Deus do que conosco. Quando Acontece a Predestinação Como já vimos anteriormente Deus nos chama por meio da sua graça comum e de um chamamento geral, e quando respondemos a este chamamento, ao atingir o estágio da graça especial ou graça salvadora, que por sua vez nos in- gressa ao corpo de Cristo, nos tornando eleitos por meio do próprio Senhor Jesus, isso tudo é uma resposta positiva que damos a Deus em relação ao seu convite. Após aceitarmos esse convite e passarmos por todos esses processos descritos nos textos anteriores, nós estamos caminhando para a fase em que o apóstolo Paulo fala que é uma predestinação. De acordo com (Rm 8:29), Deus nos predestinou para sermos a imagem de seu Filho. Isso significa que a predestinação só acontece após o processo descrito nos capítulos anteriores, que é o de justificação, regeneração e santificação. Portanto a predestinação não é algo relacionado diretamente a nós e sim é algo ligado inteiramente a Deus, Ele escolheu manifes- tar o seu amor por meio da sua graça comum e um A PREDESTINAÇÃO 179 | P á g i n a chamamento geral, após aceitarmos esses convites que nos levam a pertencer o corpo de Cristo, nós passamos a perten- cer a este conceito de predestinação, não significa que a pre- destinação anula a nossas escolhas, e sim, é porque escolhe- mos estar em Cristo. Quando cedemos à vontade de Deus é que somos predestinados. A predestinação não é uma deci- são decretada por Deus, a predestinação é um estágio de acei- tação e de condução a vida eterna. Imaginemos que um mar, neste mar existe um barco, e todos que conseguirem nadar até este barco estão predestinados a chegarem na margem do mar, isso porque o barco foi predestinado a chegar na mar- gem, não as pessoas. Portanto, eu sou predestinado a algo quando eu passo a pertencer aquilo, pelo motivo de que aquele algo já está destinado a ao seu resultado final. Aí surge uma questão por que alguns estão então predestinados a de- sobediência (1 Pe 2:8)? Na verdade, este versículo nos ensina que Jesus Cristo, foi para muitos uma pedra de tropeço, e a rocha que fez com que alguns caíssem, e ainda cairão, esses tropeçaram e ainda irão tropeçar, porque não entenderam a palavra de Deus, e nem obedeceram. Portanto o mal que re- ceberam é o resultado da sua desobediência, pois já está de- cretado que aqueles que rejeitarem a Deus, esses irão receber a sua ira, não significa que esses que receberam a ira estão destinados a receber, e sim que somente receberam porque não creram e porque foram desobedientes. Portanto esta LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 180 | P á g i n a queda e punição eterna, é o resultado de seus atos pecamino- sos, e a negligência ao chamado de Deus, visto que Deus chama a cada um por meio da sua graça comum que é o ponto de partida do convite de Deus (Rm 1:20). Em (2 Tm 2:19), Nós podemos perceber que existe um selo de Deus naqueles que são seus e este selo é na verdade uma característica. Aqueles que são de Deus tem o selo de Deus implantado no seu caráter, que é por instinto de uma natureza restaurada afastar-se do pecado, e de todos os tipos de iniquidade, proferindo o nome de Cristo como salva- dor. Este versículo deixa claro que a predestinação na ver- dade, não é um fato determinante direcionado ao homem, e sim uma verdade do plano de Deus, isto é a predestinação, é um estado em que o homem chega. Vale notar que o esforço do homem para pertencer a este estado de predestinação, não é inteiramente por méritos humanos e sim todos os mé- ritos são de Cristo, a única participação que o ser humano tem, é de poder se entregar, ou recusar este chamamento de Deus. E até quando o ser humano aceita este chamamento, ele só aceita porque houve uma iniciativa de Deus, em mani- festar a sua graça comum, equilibrando a balança das in- fluências de escolhas. Ainda em (Rm 8:30), fica claro que Deus predestinou todos para receberem este chamado de morar com ele na eternidade. Deus tem um plano que se A PREDESTINAÇÃO 181 | P á g i n a estende desde a eternidade passada a eternidade futura, e neste plano ele decidiu chamar todas as pessoas, mas ele sa- bendo quem é que iria aceitar esse chamado a esses ele justi- ficou, e estes que foram justificados ou serão justificados, e chegarão ao estágio final que é glorificação. Podemos con- cluir que a predestinação é sim uma doutrina bíblica, isso é inquestionável, mas a verdade é que existe o momento certo em que ela é aplicada ao ser humano, e ela parte exclusiva- mente de Deus, ela parte do kairós e ela é um aspecto da sua onisciência que completa a sua presciência, não podemos se- parar a predestinação da presciência, ambas se completam porque ambas são características do Poder soberano de Deus. Parece ser complexa a doutrina da predestinação e da eleição porque fomos ensinados e habituados a olhar para ambos os lados na perspectiva de debate e não com um olhar de equilíbrio portanto podemos dizer que ambas as doutrinas tanto a Soberania de Deus, quanto à escolha humana, funci- onam como peças de um quebra-cabeça, devem ser estuda- das e analisadas em paralelo, e jamais usando uma para con- frontar a outra, a complexidade de ambas as doutrinas estão na limitação da nossa ignorância, em não olhar com as len- tes da compatibilidade e perfeição de Deus. Todos que fo- ram predestinados a esta chamada para morar na eternidade e respondem positivamente a este convite, recebem um LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 182 | P á g i n a chamado eficaz que é o chamado a justificação (Rm 3:24). A esses que também estão agora predestinados a glorificação que é o estágio final do processo de completude do plano de Deus, estão também predestinados a serem santos e inculpá- veis (Ef 1:4), Pois ao nos inserir ao grupo dos que foram in- gressados ao estágio da predestinação, nós estamos ren- dendo glórias a Deus porque nos tornamos filhos de adoção por Jesus Cristo, esta é a vontade de Deus para toda a huma- nidade (Ef 1:5). Podemos concluir que a predestinação é um estado que pertence a um conjunto de processos, que nos levam a morar na eternidade, e esta predestinação é uma ação coletiva a par- tir da fé e crença em Cristo, a medida que ouvimos a palavra de Deus e cremos em Cristo, aceitando o evangelho da nossa salvação, nós somos selados para o dia em que a promessa da eternidade se cumprirá, devemos considerar que o Espírito Santo é o penhor desta promessa, ele é a garantia de que ire- mos morar na eternidade com Deus (Ef 1:13). Ainda na sua carta aos Efésios no capítulo 1 e versículo 11 Paulo discute o resultado final da Redenção de um ponto de vista que vai da eternidade passada a eternidade futura. Os Herdeiros são pessoas que Deus escolheu e predestinou. Eles não vieram a fé em Cristo por acaso, a força ou por escolha sem ajuda, e sim pela capacitação do Espírito Santo de Deus. A PREDESTINAÇÃO 183 | P á g i n a Quem É Predestinado Todos aqueles que aceitam a verdade do plano da salva- ção, crendo no evangelho. Todos aqueles que passam pelos processos de aceitar o chamamento geral, ao ser iluminado pela graça comum e alcançando a graça especial, sendo pos- teriormente ingressados ao corpode Cristo, tornando-se eleito nEle, é predestinado por Deus para ser salvo, pois a salvação é o estado final do plano de redenção de Deus, que para alcança-lo é necessário passar pelo estado anterior que é a justificação, somada a regeneração, somada a santificação que resulta na eleição e que somada a predestinação é igual a salvação. Lucas deixa patente esta ideia em seu registro em (At 2:39), ao dizer que a promessa é para nós e para nossos filhos e para todos que estão longe, todos quanto o Senhor nosso Deus chamar, o verbo chamar que Lucas usa é o verbo tran- sitivo direto e traz a ideia de um convite permanente e abran- gente e não específico. Este é o conceito bíblico de predestinação, não que outros autores interpretaram e fundamentar as suas ideias de uma forma errada, mas que esta é a forma que nos ajuda a enten- der melhor as duas verdades da soberania de Deus e respon- sabilidade humana, não anulando nenhum aspecto da justiça LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 184 | P á g i n a de Deus e nem um aspecto do seu amor facilitando a compre- ensão dessa complexidade. 187 | P á g i n a I T CAPÍTULO XI A JUSTIÇA DE DEUS justiça de Deus é o seu atributo, o que significa que Ele é perfeitamente justo. Não há qualquer injustiça em Deus e em seus feitos, pois Ele é plenamente correto e íntegro. O próprio Deus é o padrão final do que é justo e certo, e Ele sempre age de acordo com esse padrão. Justiça é aquilo que está em conformidade com o que é reto, é a A LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 188 | P á g i n a qualidade do que está de acordo com o cumprimento da lei. No estudo bíblico-teológico, frequentemente o atributo da justiça de Deus é também chamado de “retidão de Deus”. O ensino bíblico sobre a justiça divina é muito claro, assim como também o é o ensino a respeito dos demais atributos de Deus. Por toda a Bíblia há inúmeras passagens que mos- tram a indignação divina diante do pecado do homem e a pu- nição da injustiça. Os Aspectos Da Justiça De Deus Muitas vezes é exposto à justiça de Deus em dois aspectos diferentes, mas diretamente interligados. O primeiro é cha- mado de “justiça interna”, e diz respeito a quem Deus é. Em seu próprio caráter Deus é absolutamente justo, ou seja, Ele não é justo meramente porque pratica a justiça, mas Ele pra- tica a justiça porque em si mesmo Ele é justo. Já o segundo aspecto é chamado de “justiça externa”, e diz respeito ao que Deus faz. Por ser justo, Ele só faz o que é reto. Então sendo inteiramente justo, Deus manifesta Sua justiça em Seu go- verno do mundo, impondo às suas criaturas uma exigência moral de acordo com a retidão da Sua vontade. Relacionado a isso, a teologia também fala da justiça de Deus no sentido distributivo. Deus aplica Sua lei de forma justa e imparcial, recompensando o justo e punindo o injusto. Deus A JUSTIÇA DE DEUS 189 | P á g i n a recompensa homens e anjos que andam em retidão. Esse ato de Deus recompensar os obedientes é chamado de “justiça remunerativa”. Mas considerando que ninguém, por seus próprios méritos, é capaz de ser absolutamente justo diante do padrão moral de Deus, a justiça remunerativa é também uma expressão do amor divino (Lc 17:10; 1 Co 4:7). Como ex- plica “Louis Berkhof”, as recompensas que Deus concede às Suas criaturas são frutos da Sua graça e resultam de uma re- lação pactual estabelecida por Ele. Por um lado, intrinseca- mente o homem não merece a recompensa que recebe de Deus, mas por outro ele é sempre merecedor do castigo que recebe. Então se a justiça remunerativa trata das recompen- sas para os justos, a justiça retributiva trata da punição aos injustos. Por ser justo, Deus castiga àqueles que andam na transgressão da Sua lei (Rm 1:32; 12:19; 2 Ts 1). A justiça di- vina exige que o pecado seja punido, pois se não fosse assim, então não haveria justiça. Se a justiça remunerativa expressa o amor divino, a justiça retributiva expressa a ira divina. A Justiça De Deus Na Bíblia Logo no primeiro livro bíblico vemos a manifestação da justiça de Deus em alguns eventos emblemáticos como na maldição após a queda (Gn 3); no dilúvio (Gn 6-9); e na des- truição das cidades de Sodoma e Gomorra (Gn 18). Ainda no LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 190 | P á g i n a livro de Gênesis encontramos a enfática declaração de Abraão sobre a justiça de Deus. No contexto do derrama- mento do juízo de Deus sobre Sodoma, Abraão argumenta que jamais Deus trataria de igual forma o justo e o ímpio, pois isso resultaria numa injustiça. Então na sequência ele diz: “Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn 18:25). Tam- bém no Pentateuco Deus é chamado de justo repetidas vezes, enfatizando o fato de que Ele é fiel, reto e não comete erros (Êx 9:27; Dt 32:4). Essa verdade se estende pelos livros his- tóricos, poéticos e proféticos do Antigo Testamento. Inclu- sive, no livro de Salmos o ensino bíblico explica que a justiça de Deus é manifestada em toda parte e também é a causa da preservação dos homens e dos animais (Sl 36:6). Através do profeta Isaías, o próprio Deus fala sobre Sua justiça: “[…] Eu sou o Senhor, que falo a justiça e anuncio coisas retas” (Is 45:19). Perfeito em Sua retidão, Deus não precisa dar qual- quer satisfação ao homem sobre Sua justiça, e todo questio- namento do homem nesse sentido é uma tentativa louca de colocar em dúvida a justiça de Deus (Jó 40:8). No Novo Tes- tamento esse mesmo princípio é mantido, onde fica claro que Deus é o Criador e o homem é a criatura que não tem o direito de questionar os padrões divinos (Rm 9:14-22). Mas sem dú- vida a maior conexão acerca da justiça de Deus no Antigo e no Novo Testamento encontra-se na pessoa de Cristo. No A JUSTIÇA DE DEUS 191 | P á g i n a Antigo Testamento Cristo é o Renovo Justo prometido por Deus (Jr 23; Zc 9:9); Ele é o Juiz anunciado que haveria de julgar não pelo que os olhos veem, mas pela reta justiça (Is 11:3-5). O Amor e a Justiça De Deus Algumas pessoas pensam que há uma tensão entre o amor e a justiça de Deus. Elas dizem que o atributo da justiça revela um Deus severo e irado, que não combina com o atributo do amor que revela um Deus misericordioso e longânimo. Inclu- sive, muitas dessas pessoas acabam criando para si a imagem de um deus cuja justiça é negligenciada em favor do amor. Mas definitivamente esse não é o Deus da Bíblia. Obviamente não há qualquer incompatibilidade entre a justiça e o amor de Deus. Em primeiro lugar, o castigo divino pelo pecado não é uma arbitrariedade por parte de Deus, mas é uma preser- vação de Sua justiça. Se Deus deixasse o pecado impune Ele não seria justo, e se Ele não fosse justo Ele também não seria verdadeiramente amoroso, pois que garantia haveria no amor de um ser injusto? Em segundo lugar, Deus não é uma soma de atributos, como se fosse metade justiça e metade amor. Deus é um ser uno; Ele é totalmente amor e totalmente justiça, e seus atributos definem uns aos outros. Dessa forma, Deus é amorosamente justo e justamente amoroso. Então a LIVRE ARBÍTRIO & PREDESTINAÇÃO Um Tratado Teológico de Equilíbrio e Compatibilidade 192 | P á g i n a justiça de Deus é expressa em Seu amor, bem como o amor de Deus é expresso em Sua justiça. Isso fica claro quando olhamos para Cristo. O apóstolo Paulo explica que Deus en- viou a Cristo “como sacrifício para a propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça” (Rm 3:25). Cristo e a Justiça Divina As pessoas frequentemente olham para Cristo e enxergamapenas o amor de Deus, quando também deveriam enxergar a Sua justiça. Em Cristo vemos que Deus é tão amoroso a ponto de entregar seu próprio Filho para morrer por pecado- res, ao mesmo tempo em que vemos que Ele é tão justo a ponto de não poupar nem mesmo o seu próprio Filho, que assumiu o lugar dos pecadores, pois para que o pecado fosse pago, alguém sem pecado deveria morrer para satisfazer a justiça de Deus (Hb 10:4-7). Portanto, como diz “H. Bavink” em sua Dogmática Reformada, a manifestação da justiça de Deus é simultaneamente a manifestação de Sua graça (Sl 116:5). Então até mesmo o perdão de pecados é devido à jus- tiça divina (1 Jo 1:9). Além do mais, pelos méritos de Cristo os redimidos são justificados pela justiça de Deus e colocados numa posição de honra e bem-aventurança na família celes- tial. A JUSTIÇA DE DEUS 193 | P á g i n a Por tudo isso a justiça de Deus jamais deve ser um motivo de descontentamento para os crentes, mas um motivo de conforto e gratidão. Se Deus não fosse justo, não teríamos qualquer base para confiar nEle, e não haveria qualquer es- perança de que o bem triunfará por toda a eternidade. Mas a boa notícia é que Deus é perfeitamente reto, e todos os seus caminhos são justos (Dt 32:4). Então louvemos ao Senhor to- dos os dias por Sua justiça perfeita; e que jamais esqueçamos que a vontade de Deus para nós é que também sejamos justos (Mq 6:8). CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao dizer que nós temos uma parcela de participação em alguns aspectos do nosso futuro, não estamos dizendo que a salvação tem participação do ser humano pois é inteiramente obra de Deus, a nossa participação é somente em escolher e aceitar ser justificado. Não somos justificados por nossas de- cisões; a justificação é exclusivamente obra de Deus, mas para que essa obra seja eficaz em nós, precisamos aceitar ser justificados, não significa dizer que participamos da justifi- cação em si, o fato é que a justificação vem depois de nossa escolha, e ela é aparte das escolhas. Pois eu escolhendo ou não ela ainda será a justificação, no entanto, será uma justi- ficação não aplicada a minha pessoa. Quando eu escolho ser justificado eu estou me inserindo pela minha própria von- tade em uma obra que já está pronta, isto é, eu me visto com essas vestes, porém não foi eu que fiz essa veste. Essa ideia se aplica em cada lição deste livro. A soberania de Deus é a en- grenagem de tudo, por isso eu não tenho participação em ab- solutamente em nada, a obra conjunta que falamos aqui é o fato de que a nossa escolha faz com que tais coisas como: Eleição, Justificação, Regeneração Predestinação...etc. se aplique em nossa vida. O nosso estado atual e posteriormente o estado final do nosso ser, é o resultado da nossa participa- ção ao convite para ser salvo, feito por Deus mediante seu amor, pela pessoa de Cristo, do Espírito Santo e suas obras. Bibliografias Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo : Cultura Cristã, 1995. Nova Bíblia Viva. São Paulo : Editora Mundo Cristão, 2012 Nova Versão Internacional. s.l. : Sociedade Bíblica do Brasil, 2008. Bíblia de Estudo King James 1611 [Livro]. - Rio de Janeiro : Bvbooks, 2015. Agostinho Santo Patristica - A Graça (I) [Livro]. - [s.l.] : Paulus. Agostinho Santo Patristica - A Graça (II) [Livro]. - [s.l.] : Paulus. Agostinho Santo Patristica - O Livre Arbítrio [Livro]. - [s.l.] : Paulus. 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