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APRESENTAÇÃO
E s s a c o l e t â n e a t e m c o m o p r i n c i p a l o b j e t i v o a u x i l i a r , v o c ê l e i t o r , a d e s v e n d a r a E n g e n h a r i a , c o m t o d a
s u a a b r a n g ê n c i a e m u l t i d i s c i p l i n a r i d a d e . U m c o r p o d e a u t o r e s c o m p o s t o s p o r p e s q u i s a d o r e s , a l u n o s ,
p r o f e s s o r e s , d a s m a i s d i v e r s a s á r e a s d a e n ge n h a r i a ; o s q u a i s s e d e d i c a r a m p a r a q u e c a d a c a p í t u l o f o s s e
e s p e c i a l , c o m t e m a a t r a t i v o , c o n c l u s ã o c l a r a e o b j e t i v a . Q u e e s s a c o l e t â n e a , s o m e a o s e u c o n h e c i m e n t o !
Julianno Pizzano Ayoub
SUMÁRIO
CAPÍTULO 01
SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL E EXPERIMENTAL NA PRODUÇÃO DE UM CABO DO FREIO EM PRENSA HIDRÁULICA
Erlano Campos dos Reis; Gilmar Cordeiro da Silva; José Rubens Gonçalves Carneiro; Larissa Vilela Costa
DOI: 10.37885/201102172 ................................................................................................................................................................................... 15
CAPÍTULO 02
INFLUÊNCIA DA ATMOSFERA DE USINAGEM NO DESGASTE DE METAL DURO DURANTE FRESAMENTO DE AÇO CARBONO
Rosemar Batista da Silva; Jalon de Morais Vieira; Heittor Cunha Carvalho; Rodrigo Nogueira Cardoso; Alisson Rocha Machado;
Eder Silva Costa
DOI: 10.37885/201202426 ................................................................................................................................................................................ 29
CAPÍTULO 03
IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL PARA EXERCÍCIO DA DOCÊNCIA NO CURSO DE BACHARELADO EM
ENGENHARIA CIVIL
Samuel Jônatas de Castro Lopes; Humberto Denys de Almeida Silva; Samuel Campelo Dias; Paulo Henrique Nogueira da Silva Filho;
Hitalo de Jesus Bezerra da Silva; Emanuel Rodrigo Reis da Silva; Linardy de Moura Sousa
DOI: 10.37885/210202996 .................................................................................................................................................................................45
CAPÍTULO 04
DIVULGANDO TRIZ PARA ALUNOS DE UNIVERSIDADES E DE ENSINO MÉDIO
Antonio Costa Gomes Filho
DOI: 10.37885/210203175 ..................................................................................................................................................................................57
CAPÍTULO 05
COMPARAÇÃO ENTRE FORMULAÇÕES DE PROBLEMAS DE CONFIABILIDADE ESTRUTURAL
Marcelo Araújo da Silva
DOI: 10.37885/210203176 ..................................................................................................................................................................................67
CAPÍTULO 06
AVALIAÇÃO DE DINÂMICA DE NÍVEL EM TANQUES EM SÉRIE
Camylla Renatha Queiroz Costa; Emilly Tuany do Nascimento Silva; Ruth Nóbrega Queiroz
DOI: 10.37885/210203183 ................................................................................................................................................................................. 85
SUMÁRIO
CAPÍTULO 07
A ORGANIZAÇÃO DO POSTO DE TRABALHO NA ELIMINAÇÃO DO ERRO HUMANO: ESTUDO DE CASO NO SEGMENTO DE
AUTOPEÇAS
Vitor de Araujo Rodrigues; Jorge Nei Brito
DOI: 10.37885/210203263 .................................................................................................................................................................................97
CAPÍTULO 08
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO BASEADO NO MODELO DE WALTON EM UMA EMPRESA DE REFORMA
DE TRANSFORMADORES
Marcos Meurer da Silva; Higor Henrique Clemente; Marcos Barbosa Silvino; Marcelo Vasconcelos de Almeida
DOI: 10.37885/210203330 ...............................................................................................................................................................................110
CAPÍTULO 09
ESTUDO DA ATENUAÇÃO DE SINAL DE VAZAMENTO EM TUBOS DE PVC COM LONGARINAS METÁLICAS LONGITUDINAIS
Luis Paulo Morais Lima; Amarildo Tabone Paschoalini; Márcio Antônio Bazani; Vinícius Alberto Trench da Costa
DOI: 10.37885/210203343 ...............................................................................................................................................................................123
CAPÍTULO 10
SÍNTESE DIRETA E CARACTERIZAÇÃO DA PENEIRA MOLECULAR MESOPOROSA AL-SBA-15 IMPREGNADA COM TRIÓXIDO
DE MOLIBDÊNIO
Bruno Taveira da Silva Alves; Joyce Salviano Barros de Figueiredo; Ruth Nóbrega Queiroz; Bianca Viana de Sousa Barbosa; José
Jailson Nicácio Alves
DOI: 10.37885/210203029 ...............................................................................................................................................................................147
CAPÍTULO 11
FERRAMENTA COMPUTACIONAL PARA AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE ECONÔMICA DE INVESTIMENTO DE PLANTAS DE
PROCESSOS QUÍMICOS
Fabiany Bento da Silva; Luan Victor de Araújo Gomes; Sidinei Kleber da Silva
DOI: 10.37885/210303443 .............................................................................................................................................................................. 162
CAPÍTULO 12
APLICAÇÃO DA TRANSFORMADA WAVELET NA VERIFICAÇÃO DE DOBRAMENTO DE PERÍODO EM SÉRIES TEMPORAIS
Bruno Coelho Bulcao; Francisco Otávio Miranda Farias
DOI: 10.37885/210303554 ............................................................................................................................................................................... 177SUMÁRIO
CAPÍTULO 13
ANÁLISE DE DIFERENTES ESTRATÉGIAS EM AVALIAÇÃO DE IMÓVEIS COM A INSPEÇÃO DE ENGENHARIA CIVIL ASSOCIADA
À LÓGICA FUZZY
Vladimir Surgelas; Irina Arhipova; Vivita Pukite
DOI: 10.37885/210303732 ................................................................................................................................................................................191
CAPÍTULO 14
ANÁLISE ECONÔMICA COMPARATIVA DE EMPRESAS DE ÁGUA MINERAL QUANTO AO PORTE
Thays de Souza João Luiz; Daniel Henrique Ayres Rosa; Antonio Stellin Júnior
DOI: 10.37885/210304054 ..............................................................................................................................................................................204
CAPÍTULO 15
IDENTIFICAÇÃO DE TECNOLOGIAS AFINS À INDÚSTRIA 4.0: APL CALÇADISTA DE NOVA SERRANA-MG
Débora Cristina de Souza Rodrigues; Stella Jacyszyn Bachega; Dalton Matsuo Tavares; Tassiana Watanabe Ferreira; Hamma Carolina
Nogueira; Núbia Rosa da Silva
DOI: 10.37885/210404156 ................................................................................................................................................................................215
CAPÍTULO 16
DATAÇÃO DAS FORMAÇÕES RIO CLARO E PIRAÇUNUNGA POR TERMOLUMINESCÊNCIA
Sandra Regina Pizzolato Ferreira; Maria Rita Caetano Chang
DOI: 10.37885/210404181 ...............................................................................................................................................................................232
CAPÍTULO 17
CLASSIFICAÇÃO FUZZY DE PADRÕES NÃO-MOTORES E INDICAÇÃO DA SEVERIDADE DA DOENÇA DE PARKINSON
Thiago Juvenal Ribeiro; Daniel Furtado Leite; Maria Tailani Borges; Rennan Alves Cardoso; Raquel Rezende Coelho; Sílvia Costa
Ferreira; Daniel Ângelo Polisel
DOI: 10.37885/210404191 ...............................................................................................................................................................................244
CAPÍTULO 18
IMPLEMENTAÇÃO EM FPGA PARA PESQUISA E ENSINO NA ÁREA DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA DE MODULADOR PWM
PARA CONVERSORES MULTINÍVEIS
Wilson Cesar Sant’Ana; Camila Paes Salomon; Germano Lambert-Torres; Erik Leandro Bonaldi; Bruno Renó Gama; Robson Bauwelz
Gonzatti; Rondineli Rodrigues Pereira; Luiz Eduardo Borges-da-Silva; Denis Mollica; Joselino Santana-Filho
DOI: 10.37885/210404221 ...............................................................................................................................................................................258
SUMÁRIO
CAPÍTULO 19
ANÁLISE DE SILÍCIO METÁLICO EM ESCÓRIA POR DESLOCAMENTO DE COLUNA DE MERCÚRIO
Aline Cristina P. Sousa de Caux; Fernanda Gonçalves Nascimento; Márcio Farias Silveira; Pedro José Nolasco-Sobrinho
DOI: 10.37885/210404252 .............................................................................................................................................................................. 273
CAPÍTULO 20
CHARACTERISATION OF DUSTS AND SLUDGES GENERATED DURING STAINLESS STEEL PRODUCTION IN BRAZILIAN
INDUSTRIES
Pedro José Nolasco-Sobrinho; Jorge Alberto Soares Tenório; Denise Espinosa
DOI: 10.37885/210404270 ..............................................................................................................................................................................284
CAPÍTULO 21
TEMPERING EFFECT ON THE LOCALIZED CORROSION OF THE 13CR4NI0.02C AND 13CR1NI0.15C STEELS IN A SYNTHETIC
MARINE ENVIRONMENT
Renato de Mendonça; Neide Aparecida Mariano
DOI: 10.37885/210404299 ..............................................................................................................................................................................298
CAPÍTULO 22
SIMULAÇÃO NUMÉRICA DA CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO EM UMA PLACA COM FURO
Rafael de Souza Pereira; José Dásio de Lira Junior; Tiago de Sousa Antonino; Pablo Batista Guimarães
DOI: 10.37885/210404388 ..............................................................................................................................................................................308
CAPÍTULO 23
O BUSINESS PROCESS MANAGEMENT (BPM) APLICADO À GESTÃO DOCUMENTAL MUNICIPAL NO ÂMBITO DA MIGRAÇÃO
DE PROCESSOS FÍSICOS PARA DIGITAIS
David José Françoso; Dalila Alves Corrêa
DOI: 10.37885/210404166 ............................................................................................................................................................................... 318
SUMÁRIO
CAPÍTULO 24
ESTUDO DO REUSO DE EFLUENTE DE UMA ESTAÇÃO CONVENCIONAL DE TRATAMENTO DE EFLUENTES NO RIO GRANDE
DO SUL
Frederico Campos Velho Glória; José Carlos Alves Barroso Júnior; Maria Cristina de Almeida Silva; Lígia Conceição Tavares
DOI: 10.37885/210404422 .............................................................................................................................................................................. 337
SOBRE O ORGANIZADOR ....................................................................................................................................349
ÍNDICE REMISSIVO .............................................................................................................................................350
01
S i m u l a ç ã o c o m p u t a c i o n a l e
experimental na produção de um cabo
do freio em prensa hidráulica
Erlano Campos dos Reis
PUC - Minas
Gilmar Cordeiro da Silva
PUC - Minas
José Rubens Gonçalves Carneiro
PUC - Minas
Larissa Vilela Costa
PUC - Minas
10.37885/201102172
https://dx.doi.org/10.37885/201102172
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
16
Palavras-chave: Método de Elementos Finitos, Usinagem, Estampagem (Metal).
RESUMO
A extrusão é um dos processos de conformação mais utilizados e se classifica em lateral,a
frente e à ré. A extrusão é feita em prensas hidráulicas ou mecânicas, resultando em peças
de excelente controle dimensional, acabamento superficial com vantagens econômicas
sobre a usinagem. Atualmente, apresenta-se desafio a análise por elementos finitos e
simulações de processo de conformar materiais e suas propriedades mecânicas do ponto
de vista teórico e prático. Tem sido possível com relativo sucesso, a análise do processo
de extrusão a frio bem como sua otimização ainda na fase de projeto. O forjamento é
o termo genérico usado para descrever a aplicação prática da deformação plástica de
diversos metais dentro de uma enorme variedade de formas controladas tecnicamente.
Dependendo da forma desejada, sua conformação requer vários estágios, sendo que
cada estágio é responsável por pequena deformação. A constante busca da diminuição
do tempo de produção associado ao avanço tecnológico, fez com que se chegasse às
máquinas multiestágios de forjamento a frio, produzindo, numa cadeia muito elevada,
diversos componentes. No entanto, a obtenção da seqüência de produção ideal é com-
plicada e, muitas vezes, obtida através de métodos empíricos, o que leva à realização
de muitos testes e ajustes, que encarecem o projeto. Este trabalho avaliou as variáveis
de processo bem como suas restrições no forjamento em matriz fechada de um terminal
do cabo de freio de mão utilizado na indústria automobilística. Concluiu-se que a maté-
ria-prima adequada para conformar o produto é o ABNT 1010 diferentemente do ABNT
12L14 e DIN 9SMn36, e, também, conseguiu-se reduzir a fabricação para 4 estágios em
prensa hidráulica com economia de material.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
16 17
INTRODUÇÃO
Conformação de metal é um processo amplamente usado em fabricação em razão do
mínimo desperdício, precisão dimensional e propriedades mecânicas ajustadas. Extrusão
é o processo pelo qual um bloco de material é reduzido na seção transversal por forçá-lo
através de um orifício sob alta pressão. Em razão das elevadas forças envolvidas, a maioriados materiais são extrudados a quente onde a resistência à deformação é baixa. O processo
de extrusão a frio (direto e indireto), é possível para muitos materiais e constitui importante
alternativa de processo comercial.
A extrusão é feita em prensas hidráulicas ou mecânicas. As prensas mecânicas são de
alta produtividade e elevado custo inicial em comparação às prensas hidráulicas. Conformação
a frio resulta em alta produção de peças de material de baixo custo com excelente controle
dimensional e acabamento superficial. Os aços mais utilizados na conformação a frio de ele-
mentos de fixação são os aços de baixo carbono tais como ABNT 1010, em substituição aos
aços usinados (ABNT 12L14 e DIN 9SMn36) e de baixa liga tratados termicamente (ABNT
10B22). Todos esses aços (com exceção do ABNT1010 e ABNT 10B22) são usualmente
empregados para fabricação dos terminais elétricos em processo de usinagem. Alguns
parâmetros que influenciam a conformabilidade de arames foram analisados tais como a
composição química, desoxidação, microestrutura, qualidade da superfície, revestimento
superficial e velocidade do recalque (Weidig et al, 1995; Ochiai et al, 1994). A fabricação
da matéria-prima conformada a frio deve propiciar ausência de defeitos antes da operação
através do controle de processo e recondicionamento por escarfagem. Os principais defeitos
que podem ocorrer na conformação são de forma, dobras, defeitos de preenchimento, trin-
cas e marcas em decorrência da matriz que prejudica o desempenho da peça em serviço.
A modelagem computacional de cada estágio do processo de conformação pelo método
de elementos finitos pode tornar o projeto da seqüência mais rápido e eficiente, decrescendo
o uso dos métodos convencionais de “tentativa e erro”, Lima et al (2000). A existência de um
banco de dados obtido experimentalmente e em combinação com “software” específico de
simulação de forjamento potencializa o valor da simulação, e, mais importante, a velocidade
de desenvolvimento do processo. Justifica-se, portanto, este trabalho pela possibilidade que
a simulação por elementos finitos proporciona em termos de se analisar as restrições do
forjamento do terminal do freio de mão feito em prensa hidráulica em detrimento à prensa
mecânica de alta velocidade de deformação em aços utilizados, na condição de conforma-
do a frio ou submetido à operação de tratamento térmico. A conformação a frio apresenta
vantagens econômicas sobre a usinagem, tais como: economia de material, produtividade
e custo operacional.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
18
O presente estudo empregou a modelagem numérica via elementos finitos (software
comercial Deform 2D) e métodos experimentais na fabricação de terminal extrudado a frio
em prensa hidráulica, para viabilizar a substituição da usinagem pela conformação a frio
com otimização do número de estágios de operação.
METODOLOGIA
Análise Química/Metalográfica e propriedades mecânicas da matéria-prima
A Figura (1) mostra as dimensões do terminal após extrusão a frio. Esse terminal pode
ser feito através de usinagem, utilizando-se as matérias–primas ABNT12L14, DIN9SMn36,
ABNT 1010 (trefilado) ou ABNT 10B22 (esferoidizado ou temperado e revenido).
Figura 1. Dimensões em mm dos terminais obtidos após operação de usinagem.
A matéria-prima utilizada neste trabalho foi um fio-máquina produzido através de lingo-
tamento contínuo, laminação de barra e, em seguida, trefilação, recozimento e fosfatização
para a dimensão de 11,3 mm de diâmetro. As análises químicas das ligas foram obtidas
em espectrômetro óptico de emissão e Leco. Os elementos químicos, carbono e enxofre
foram analisados no Leco a partir de limalhas obtidas com brocas de 3/16” retiradas no
fio-máquina de 11,3 mm.
As amostras para análise metalográfica foram cortadas no sentido perpendicular à
direção da laminação. Essas amostras foram fresadas e, posteriormente, polidas em lixas
com granulometrias de 180, 240, 320, 400, 500, 600 e 1000 mesh. Em seguida, foi feito
polimento de acabamento em feltro impregnado com pasta de diamante com dimensões 7,
3 e 1 µm. Após o polimento de acabamento, as amostras foram analisadas sem ataque em
microscópio óptico, marca Leitz, com aumento de 200X e microscópio eletrônico de varre-
dura, marca Jeol e tensão de 20kV. Para observação da microestrutura, essas amostras
foram atacadas com nital 5%.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
18 19
Foi feito ensaio de microdureza Vickers em microdurômetro, marca Leitz, carga de
100gf para verificação das propriedades mecânicas. Os corpos-de-prova do fio-máquina de
diâmetro de 11,3 mm para os ensaios mecânicos de tração foram cortados e usinados para
as dimensões finais, conforme mostrado na Fig. (2), ASTM E-8M (1995).
Figura 2. Dimensões em mm dos corpos-de-prova utilizados no ensaio de tração retirados no fio-máquina na direção
de laminação.
Foram retirados três corpos-de-prova na direção paralela à laminação. O equipamento
utilizado para o ensaio de tração foi uma máquina universal Instron TTDML, com aciona-
mento servo-hidráulico e célula de carga de 10t. A velocidade de deformação foi de 0,2cm/
min. O valor do limite de escoamento foi obtido do gráfico tensão versus deformação, a partir
da deformação de 0,2%. Um extensômetro foi utilizado para a determinação da deformação
na direção do comprimento do corpo-de-prova de 50 mm. Após esta deformação, retirou-se
o corpo-de-prova da máquina e mediu-se, respectivamente, o comprimento e diâmetro finais.
O limite de resistência foi calculado através da Eq. (1):
O valor da carga máxima foi obtido no ponto máximo da curva carga em função da
variação do comprimento inicial. O alongamento foi calculado pela Eq. (2):
onde 10 e 1n são, respectivamente, os comprimentos inicial e final.
A deformação e tensão reais são dadas pelas Eq. (3) e (4):
onde ε é a deformação convencional, e é dada pela razão entre a variação do compri-
mento e o comprimento inicial.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
20
O coeficiente de resistência k e o coeficiente de encruamento n foram calculados
pela disposição de 4 pontos da região plástica em um gráfico da Eq. (5) linearizada,
Garcia et al (2000).
onde, σ r e ε são, respectivamente, as tensões e deformações reais.
Simulação Numérica
O software utilizado na simulação numérica (software comercial DEFORM V-8 2D®,) é
formado por três módulos, sendo eles o pré-processador, o processador e o pós-processa-
dor, estando o primeiro e o terceiro módulo no mesmo ambiente gráfico.
A seqüência de eventos para a simulação consistiu da entrada das variáveis de mate-
riais tais como a curva de Hollomon, coeficiente de atrito, velocidade do punção e definição
do pré-projeto inicial referente a geometria inicial das matrizes e dos punções de cada es-
tágio do processo.
O pré-projeto inicial simulado envolveu o corte do tarugo inicial e cinco estágios sendo
eles: calibração; primeira extrusão à frente; segunda extrusão à frente; extrusão invertida e
recalque Fig. (3).
Figura 3. Desenho inicial das seis etapas consideradas necessárias para produção do terminal.
Os desenhos das matrizes e punções foram inseridos no programa submetidos às con-
dições de contorno e geração de malha seguida de simulação. A peça foi considerada rígido-
-plástica, enquanto a ferramenta foi considerada rígida, Schünemann et al (1996). A Tabela
1 mostra os parâmetros de processo utilizados nas simulações da extrusão.
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20 21
Tabela 1. Valores dos parâmetros utilizados na simulação das operações de extrusão.
Material ABNT 1010
Velocidade do Punção ( v) 11mm/s
Coeficiente de Atrito ( µ ) 0,1
Temperatura 25°C
Curva Tensão versus Deformação obtida experimentalmente
A velocidade de deslocamento do punção foi mensurada a partir do deslocamento do
cilindro da prensa em função do tempo. O intervalode tempo de cada passo de simulação
foi obtido pela divisão entre a velocidade de deslocamento do punção e o número de passos
iniciais de 50. Para esse número de passe inicial de 50, verificou-se a convergência dos
resultados para números de elementos de malha entre 400 a 2000 elementos. As malhas
foram geradas através do procedimento padrão do programa, sendo utilizado elementos
isoparamétricos bi-lineares de 4 nós. O coeficiente de atrito utilizado foi estabelecido de
acordo com a literatura e constante durante toda a simulação, Schünemann et al (1996).
Para simulação numérica do pré-projeto utilizou-se o ABNT10B22 na condição de
esferoidizado. Constatou-se que foi possível a produção do produto nas dimensões do
projeto, utilizando-se ou não o primeiro estágio que é a etapa de calibração. Sendo, assim,
foi eliminado esse primeiro estágio nas etapas posteriores de experimentação em razão do
valor de carga encontrado e obtenção do produto sem este estágio. Houve, também, o apa-
recimento de dobra na sexta etapa de simulação do material ABNT 10B22. Verificou-se na
simulação numérica que essa dobra ocorria em razão da profundidade da extrusão invertida
com o recalque para a obtenção da flange. Para a correção desta anomalia, foi reduzida a
profundidade da extrusão invertida do quarto estágio e alterado o projeto. O dimensional da
altura de 13mm do diâmetro de (Ø11) mm foi alterado para a altura de 10,5mm, Machado
(2006). Com isto, na operação posterior, houve a formação da flange através do recalque
sendo esta nova seqüência utilizada para a simulação física dos materiais ABNT 1010.
Baseado nos resultados obtidos, o projeto final reduziu o número de etapas Fig. (4).
Figura 4. Desenho definitivo das etapas consideradas necessárias para produção do terminal.
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22
A seqüência final envolveu o corte do tarugo inicial e os estágios primeira extrusão a
frente, segunda extrusão a frente, extrusão invertida, recalque e término da extrusão.
Para o projeto final foram realizadas simulações numéricas e experimentais com o
aço ABNT1010. Os resultados obtidos no pós-processador foram as cargas de simulação
para os diferentes estágios do projeto que, posteriormente, foram comparadas às cargas
experimentais obtidas por simulação física.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Resultados Análise Experimental
A Tabela 2 mostra a análise química do material da pesquisa, em porcentagem em peso.
Tabela 2. Composições químicas em porcentagem em peso dos aços ABNT 1010, DIN9SMn36, ABNT12L14 e ABNT 10B22
utilizados nos experimentos.
AÇO C Mn Si P S Pb Ti Al N(ppm)
ABNT 1010 0,10 0,43 0,10 0,021 0,009 0,00 0,001 0,032 33
DIN9SMn36 0,05 1,11 0,03 0,066 0,598 0,00 0,001 0,004 64
ABNT 12L14 0,08 1,01 0,02 0,058 0,542 0,47 0,001 0,000 47
ABNT10B22 0,20 1,09 0,13 0,016 0,0024 0,00 0,0398 0,025 70
Observa-se que o aço ABNT 1010 foi desoxidado com alumínio, enquanto os aços DIN
9SMn36 e ABNT 12L14 foram desoxidados por silício. Como o projeto desses aços é para
melhorar a usinabilidade não se pode ter inclusões de partículas duras de óxidos e, sim, a
presença de inclusões de chumbo e enxofre para refrigerar a ferramenta de corte. Os níveis
de outros elementos desoxidantes, tais como, Ti foi também baixo. No aço ABNT 10B22, a
presença do Ti= 0,0398 se justifica pela fixação do nitrogênio em detrimento do boro. A efe-
tividade do boro na temperabilidade se faz quando ele se encontra na condição de solução
sólida e não combinado com o nitrogênio.
Evidenciou-se a presença de ferrita e perlita, nas amostras obtidas segundo as dire-
ções de laminação nos aços ABNT 1010, DIN 9SMn36 e ABNT 12L14 e esferoidita no ABNT
10B22 Fig. (5a) ,(5b), (5c) e(5d).
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22 23
Figura 5. Amostras do aço ABNT 1010 (a) Din 9SMn36 (b), ABNT12L14 (c) ABNT 10B22 evidenciando a presença de ferrita,
perlita, microinclusões e esferoidita (d). Ataque Nital 5% e picrato de sódio; Aumento 200X.
As Figuras (6a) e (6b) e Figuras (7a) e (7b), mostram as curvas log σ versus log ε para
os corpos-de-prova dos aços ABNT 1010, 12L14 , 10B22 e DIN 9SMn36.
Figura 6. Evolução da tensão de fluxo com a deformação para os aços ABNT 1010 (a) e ABNT12L14 (b) obtida no ensaio
de tração em uma velocidade de deformação de 0,2cm/min.
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24
Figura 7. Evolução da tensão de fluxo com a deformação para o aço ABNT 10B22 (a) esferoidizado e fosfatizado
e DIN9SMn36 (b) obtida no ensaio de tração em uma velocidade de deformação de 0,2cm/min.
A Figura (8) mostra a evolução da carga em função dos estágios. Observa-se que
a elevação de carga foi mais acentuada no terceiro e quarto estágios. No terceiro estágio
ocorreu a fratura das ligas DIN9SMn36, ABNT12L14.
Figura 8. Evolução da carga em função dos estágios de fabricação.
A partir dos dados obtidos deu-se início a simulação experimental e numérica somente
para o material ABNT1010. A Figura (9a) mostra a curva carga versus deslocamento para
a primeira etapa extrusão a frente do material ABNT 1010 e a Fig. (9b) mostra o início e
término da simulação para o primeiro estágio. Observa-se que a carga evolui até 1000 Kgf,
estabiliza-se neste valor e, em seguida, cresce até 9000kgf. Esta estabilização em 1000kgf
ocorreu devido a compressão do material para a formação do diâmetro 9,62mm. A eleva-
ção da carga para 9000 Kgf foi devido o escoamento do material na região de mudança do
diâmetro de 11mm para o diâmetro de 9,62mm. Nota-se que a carga permaneceu constante
após o escoamento do material com a formação do diâmetro de 9,62 mm.
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24 25
Figura 9. Curva de evolução da carga em função do deslocamento (a) e início e término da simulação para o primeiro
estágio (b)
A Figura (10a) e (10b) mostra a curva carga versus deslocamento para a segunda etapa
da extrusão a frente e o início e termino da simulação do material ABNT 1010. Verifica-se
que o deslocamento inicial foi de 11mm em razão da conformação da primeira operação ter
sido a base para o segundo estágio. Nos diferentes estágios da simulação, foram obtidas as
novas propriedades mecânicas no programa Deform 2D a partir da curva tensão verdadeira
versus deformação verdadeira inicial. No intervalo de deslocamento de 11 a 15mm houve
acréscimo na carga de 0 a 1000 kgf devido a deformação por compressão para a calibração
dos diâmetros de 9,72 mm e 11,68 mm. Em seguida, a carga elevou-se de 1000 a 6750 kgf
para a formação do diâmetro de 13,84 mm.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
26
Figura 10. Curva de evolução da carga em função do deslocamento (a) e início e termino da simulação para o segundo
estágio (b)
A Figura (11a) e (11b) mostra a curva carga versus deslocamento para a terceira etapa
de extrusão a frente e o início e termino da simulação do material ABNT 1010. Verifica-se
que a carga necessária para a ascensão e formação do anel circular (ø13,90 xø11,25 x
10,5) mm foi de 28000 Kgf.
Figura 11. Curva de evolução da carga em função do deslocamento (a) e início e termino da simulação para o terceiro
estágio (b)
A Figura (12a) e (12b) mostra a curva carga versus deslocamento para a quarta estágio
(recalque para a formação do flange) e o início e término da simulação. Verifica-se que a
carga necessária para a formação do flange foi de 35000kgf.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
26 27
Figura 12. Curva de evolução da carga em função do deslocamento (a) e início e término da simulação para o quarto
estágio (b).
CONCLUSÃO
O método de conformação mecânica a frio proposto para a fabricação do terminal do
cabo de freio de mão não apresentou problemas superficiais e as dimensões obtidas do
produto final atenderam a especificação de projeto. Foi possível reduzir o número de etapas
de fabricação com eliminaçãode dobra sob o punção na etapa de extrusão à ré.
AGRADECIMENTOS
À Antônio Alves Machado e a Acument Global Technologies pelo apoio prestado.
REFERÊNCIAS
1. ASTM E 8M-95a., 1995, “Standard Test Methods for Tension Testing of Metallic Materials.”
Philadelphia, p.77-97. Garcia, A., Spim, J.A., Santos, C.A. Ensaios dos Materiais, 1ª ed., Livros
Técnicos e Científicos Editora, Rio de Janeiro, 2000.
2. Lima Roque, C.M.O, and Button, S.T., 2000, “Application of the Finite Element Method In Cold
Forging Processes” , Journal of the Brazilian Society Mechanical Sciences, v XXII,n0 2, pp
189-200.
3. Machado, A. A., 2006, “Simulação Computacional para Fabricação Terminal Elétrico.” Mono-
grafia Final de Curso Engenharia Mecânica.
4. Mackerle, J., 2004, “Finite Element Analyses and Simulations of Manufacturing Processes
of Composites and Their Mechanical Properties: a bibliography (1985-2003)”, Computational
Materials Science, v.31, pág. 187-219.
5. Ochiai, I. Hiroshi, O. Kawama, A., 1994, “Effect of Titanium Addition on Strain Aging of Low
Carbon Steel Wire Rod.” Wire Journal International, p. 74-83.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
28
6. Schünemann, M., Ahmetoglu, M.A. Altan, T., 1996, “Prediction of Process Conditions in Drawing
and Ironing of Cans”, Journal of Materials Processing Technology, v 59, p 1-9.
7. Weidig, C. Espídola, M. M. Gonzáles, B. M., Rodrigues, P. C. M., Andrade, M. S., 1995, “Dy-
namic Strain Aging in Low Carbon Steel Wire Rods”, Wire Journal International, v.28, p.82-85.
02
Influência da atmosfera de usinagem
no desgaste de metal duro durante
fresamento de aço carbono
Rosemar Batista da Silva
UFU
Jalon de Morais Vieira
IF Sudoeste - MG
Heittor Cunha Carvalho
UFU
Rodrigo Nogueira Cardoso
UFU
Alisson Rocha Machado
UFU
Eder Silva Costa
CEFET - MG
10.37885/201202426
https://dx.doi.org/10.37885/201202426
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
30
Palavras-chave: Fresamento, Metal Duro, Fluido de Corte, MQF, Desgaste.
RESUMO
Tem sido cada vez maior a importância dada às questões de cunho ambiental, já que a
ideia é garantir que sistemas produtivos não agridam ao meio ambiente e usuários, ou que
danos sejam minimizados, fato que tem motivado o desenvolvimento de várias pesquisas,
principalmente em operações de usinagem que, em sua maioria, utilizam fluidos de corte.
Por outro lado, a não utilização de fluido de corte pode resultar em maiores taxas de
desgaste das ferramentas e em maior custo na reposição de ferramentas, o que reflete
no custo do produto final. Com isso, torna-se necessário encontrar um meio termo entre
o uso de fluidos de corte e o impacto ambiental negativo que muitos deles proporcionam.
Neste contexto, esse trabalho estudou a influência das atmosferas de usinagem (seco e
com fluido de corte - aplicado pelas técnicas jorro, vazão reduzida e mínima quantidade
de fluido (MQF)) - no desgaste de ferramentas de metal duro (P40) durante o fresamento
de aço médio carbono. A velocidade de corte e avanço foram variados. O desgaste de
ferramentas foi monitorado e as imagens das ferramentas desgastadas foram obtidas
e analisadas a fim de identificar os mecanismos de desgaste existentes. Os resultados
mostraram, no geral, que a menor taxa de desgaste das ferramentas foi observada na
presença de fluido aplicado na forma de MQF e que a combinação entre esta atmosfera
e condições mais brandas de usinagem foi aquela considerada ótima para o torneamento
do aço NB 1045. A condição a seco foi a pior.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
30 31
INTRODUÇÃO
Devido à importância do estudo dos processos de usinagem, principalmente das ope-
rações de fresamento, visa-se sempre encontrar condições de corte ideais para um certo
material a ser usinado, que nem sempre é uma tarefa fácil. Um dos parâmetros que pode
ser otimizado é o desgaste da ferramenta utilizada durante a usinagem seja por meio da
alteração dos parâmetros de corte já normalmente estudados (velocidade de corte, avanço,
geometria e tipo de ferramenta) como também pela variação das atmosferas de usinagem
(com ou sem fluido de corte).
Sabe-se que os fluidos de corte possuem as funções, dentre tantas, de lubrificar a
zona de corte em baixas velocidades de corte; de refrigerar em altas velocidades de corte,
como também de propiciar produção de peças com acabamento superior, pela redução ou
eliminação da APC e pela redução das forças de corte devido ao efeito lubrificante (Machado
et al, 2009). Eles também podem atuar na retirada do cavaco da zona de corte, pois, estes
cavacos podem comprometer o acabamento e a ferramenta de corte. Esta função é espe-
cialmente requerida nos processos como furação e brochamento. Além disso, os fluidos de
corte atuam no sentido de evitar o aquecimento excessivo da peça, problemas de controle
dimensional e queimaduras do operador, auxilia na quebra do cavaco quando injetado sob
alta pressão como também promove a redução da área de contato cavaco-ferramenta pelo
fato de gerar maior curvatura do cavaco e facilitando sua quebra (Machado (1990), Sales
et al (2001), Booney (2004) e Da Silva (2006)) e, consequentemente, diminui a taxa de
desgaste das ferramentas.
Há até poucas décadas atrás, a utilização de fluidos de corte em operações de usina-
gem destinava-se quase que exclusivamente à promover a redução do custo de usinagem
por meio redução do desgaste da ferramenta e/ou aumentar a taxa de produção, pelo em-
prego de maiores velocidades de corte e maiores valores de avanços. Entretanto, o contato
prolongado e freqüente com os fluidos de corte pode originar diversas formas de irritação
da pele e em certos casos até câncer. Para amenizar estes e outros problemas causados
pelos fluidos de corte, deve-se fazer frequentemente um controle adequado da quantidade
de fungos, bactérias e do pH do fluido, aliado a uma prática de higiene pessoal por parte
dos operadores, como por exemplo, a aplicação de cremes protetores apropriados antes
do início do serviço e após o trabalho (Sales, 1999). Em dias atuais, fatores como custo e a
pressão exercida por agências de proteção ambiental e de saúde estão apontando na direção
da usinagem a seco sempre que for possível, ou pelo menos na redução da vazão do fluido
de corte (usinagem com Mínima Quantidade de Fluido de Corte (MQF)) que está ilustrado
de forma esquemática na Fig. 1. Esta técnica que tem a cada dia apresentado resultados
positivos em várias situações de usinagem tem sido cada vez mais empregada na indústria
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
32
devido ao avanço tecnológico nas áreas dos materiais e geometrias das ferramentas de
corte, o que torna possível a flexibilização na produção ou usinagem de peças.
Figura 1. Esquema de um sistema de aplicação de fluido de corte pela técnica MQF (adaptado de Teixeira (2001)).
Apesar do grande desenvolvimento tecnológico verificado na área de usinagem, prin-
cipalmente no que se refere ao desenvolvimento de ferramentas de corte (geometria, novos
materiais, revestimentos), a usinagem a seco, também chamada por muitos de “usinagem
ecológica”, esbarra ainda em dificuldades de ordem econômicas e técnica, como alta taxa
de desgaste e aquecimento excessivo da interface ferramenta-peça. Estudos mostram, por
exemplo, que a usinagem totalmente a seco para muitas aplicações ainda não é possível,
como por exemplo, na usinagem do alumínio e de alguns aços dúcteis (Novaski e Dörr (1999a
e 1999b)), uma vez que não a utilização de um lubrificante pode culminar com desgaste
adesivo. Além disso, na furação de ferro fundido cinzento, a falta do auxílio para a expulsão
dos cavacos provoca danos às superfícies já usinadas e pode promover a quebra da broca
(Costa, 2004). Outros materiais, como as ligas de titânio em sua maioria devem ser usinadas
com presença de fluido de corte, para evitar elevadas taxas de desgaste e garantirelevada
exatidão das superfícies usinadas (Da Silva, 2006). Neste contexto é que surgiu como alter-
nativa a aplicação de sistemas que utilizam técnicas de usinagem com Mínima Quantidade
de Fluido de Corte (MQF), a qual proporciona vantagem de funcionalidade da refrigeração e
baixo consumo baixo de fluido de corte. A técnica MQF pode ser considerada como interme-
diária entre a usinagem em condição com refrigeração/lubrificação e aquela absolutamente
sem refrigeração (a seco) (Costa, 2004). MQF significa que somente uma pequena gota
de óleo é lançada na área de corte para produzir um pequeno filme de lubrificante protetor.
Na usinagem sem fluido de corte, além da seleção de parâmetros de corte apropriados
em função do material a ser usinado, a busca por uma geometria adequada da ferramenta
como também aquela com propriedades melhoradas para cada necessidade é o ponto de
partida na tentativa de resolver os problemas causados pela usinagem a seco, visto que os
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
32 33
mecanismos de desgastes são ativados com o aumento da temperatura e que consequen-
temente promove redução significativa na vida da ferramenta.
OBJETIVO
Investigar influência das atmosferas de usinagem (seco e com fluido de corte - aplica-
do pelas técnicas jorro, vazão reduzida e mínima quantidade de fluido (MQF)) no desgaste
das ferramentas de metal duro durante o fresamento do aço médio carbono NB 1047 nas
seguintes condições de corte: velocidades de corte de 200 e 260 m/min e avanços de 0,14
e 0,22 mm/volta.
Também foram investigadas duas situações de entrada da fresa na peça: na primeira
situação, a pastilha entrava na peça a 90° (quina viva) e na segunda, a pastilha entrava a 45°,
uma vez que após o primeiro passe, com entrada em quina, a ferramenta produzia uma rampa
no material usinado, cuja inclinação é resultante do próprio ângulo de posição da fresa (45°).
MÉTODOS
O material utilizado foi o aço NB 1047 com dimensões 455 mm x 128 mm x 150 mm, que
foi previamente preparado para remoção de camada bruta de fusão/camada oxidada. Estas
barras foram fixadas sobre a mesa da máquina ferramenta (Fresadora CNC Interract IV com
potência máxima de 7,5 CV, fabricada pelas Indústrias Romi S.A) por meio de castanhas.
Os testes de usinagem foram realizados com ferramentas de metal duro (insertos) clas-
se P40 com denominação GC 4240 R245-12 T3 M-PM fornecidas pelo fabricante Sandvick
Coromant®) nas seguintes condições de corte: velocidades de corte de 200 e 260 m/min
e avanços de 0,14 e 0,22 mm/volta. Por cada inserto possuir quatro arestas, um inserto foi
empregado em quatro testes. Os insertos foram fixados por meio de parafusos em uma fresa
com diâmetro de corte de 125mm, com capacidade para alojar até 8 insertos.
Duas formas de entrada da ferramenta na peça foram investigadas sendo que: na pri-
meira a aresta entrava na peça a 90º, e na segunda condição, a ferramenta entrava na peça
a 45º, condição essa que acontece devido à inclinação do chanfro deixado na peça após a
primeira passada com a ferramenta entrando a 90º. A Figura (2) ilustra estas duas formas.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
34
Figura 2. Esquemas das entradas das arestas de corte na peça: a) Entrada a 90°. b) Entrada a 45° (Costa et al, 2008)
(a) (b)
Foram realizados 32 testes de usinagem. A fim de aperfeiçoar a utilização do material
de trabalho e estrategicamente promover a retirada da ferramenta ao fim de cada passe
para análise de desgaste das ferramentas utilizadas nas duas condições de entrada, um
programa CNC foi elaborado para realizar apenas uma passada e permitir a remoção da
ferramenta para análise de desgaste e/ou sua substituição. Desta forma, foi possível utilizar
diferentes arestas para analisar as diferentes formas de entrada.
Nos testes com fluido de corte alguns procedimentos foram realizados para adequar
a vazão e as propriedades do fluido de corte de acordo com o proposto neste trabalho.
Para a usinagem com fluido de corte na forma de jorro foi utilizado um sistema externo à
máquina ferramenta para fazer o bombeamento do fluido, a vazão de operação foi de 4,6 L/
min. O fluido de corte utilizado foi uma emulsão de base vegetal emulsionável Vasco1000,
fabricado pela empresa Blaser Swisslube, na concentração de 5%.
Este mesmo sistema de bombeamento foi utilizado para a usinagem com fluido aplicado
na forma vazão reduzida, porém com uma vazão de 250 mL/min. Já a usinagem com mínima
quantidade de fluido de corte (MQF), o sistema de bombeamento do fluido está mostrado
na Fig. (3). Ressalta-se que esse sistema foi previamente calibrado e ajustado para conferir
vazão de 60 mL/h e pressão do ar de 8 bar (0,8 MPa).
Figura 3. Sistema de bombeamento de fluido de corte pela técnica MQF
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
34 35
O desgaste da ferramenta foi monitorado até o fim de vida da mesma. Para isso fo-
ram adotados os critérios de rejeição pré-estabelecidos tais como o colapso da aresta ou
desgaste de flanco máximo, VBMax = 0,6 mm. Para analisar o desgaste e observar sua
evolução durante os testes, foi utilizada microscopia ótica. Algumas imagens foram obtidas
com auxílio de um estéreo microscópio, marca Olympus modelo SZ61, com câmera CCD,
Evolution LC Color acoplada.
RESULTADOS
Nesta sessão são apresentados os resultados dos testes de usinagem realizados neste
trabalho dos quais foram inicialmente analisados o desgaste em função do comprimento
usinado para diferentes valores de velocidades de corte e avanço, diferentes atmosferas e
técnica de aplicação de fluido de corte, bem como as diferentes formas de entrada da ferra-
menta na peça. São apresentadas também algumas imagens das ferramentas desgastadas
a fim de facilitar o entendimento dos mecanismos de desgaste existentes nas ferramentas
após o fresamento de aço NB 1047 em diferentes condições de corte.
Nas Fig. (4) e Fig. (5) são mostrados os comportamentos do desgaste de ferramentas
de metal duro em função do comprimento usinado para diferentes valores de avanço e duas
formas de entrada da ferramenta na peça (45° e 90°) durante o fresamento na condição seco
com velocidades de corte de 200 e 260 m/min, respectivamente.
Nas Figs. (6a) e (6b) são mostradas as imagens de ferramentas desgastadas após
usinagem a seco. Da Fig. (6b), a imagem de uma ferramenta desgastada após usinagem a
seco com Vc=260 m/min e fz=0,22 mm/volta para a entrada da ferramenta a 90° pode ser
observado a presença de lascamento na ferramenta, após o sexto passe.
Figura 4. Comprimento de usinagem versus desgaste durante a usinagem a seco com Vc=200 m/min
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Figura 5. Comprimento de usinagem versus desgaste durante a usinagem a seco com Vc=260 m/min
Nas Fig. (7) e Fig. (8) são mostradas as evoluções do desgaste das ferramentas de
metal duro em função do comprimento usinado para diferentes valores de avanço e duas
formas de entrada da ferramenta na peça (45° e 90°) durante o fresamento na condição
com fluido de corte aplicado pela técnica jorro e velocidades de corte de 200 e 260 m/min,
respectivamente.
Figura 6. Imagem do desgaste das ferramentas de metal duro após usinagem a seco do aço NB 1047 com Vc=260 m/
min e fz=0,22 mm/volta para a entrada a 90°; a) Primeiro passe; b) Sexto passe (detalhe para região com lascamento)
(a) (b)
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
36 37
Figura 7. Comprimento de usinagem versus desgaste na usinagem com jorro, Vc=200 m/min.
Figura 8. Comprimento de usinagem versus desgaste durante a usinagem com fluido na forma de jorro com Vc=260 m/min.
Nas Figs. (9a) e (9b) são apresentadas as imagens das ferramentas desgastadas
com Vc = 200 m/min e fz = 0,22 mm/volta para a entrada da ferramenta a 45° após o primeiro
passe e sexto passe (fim de vida), respectivamente. Observa-se que no primeiropasse a
ferramenta apresentava pouco desgaste (quase imperceptível pelo aumento (35X) do apa-
relho utilizado para medição. Já na figura após o sexto passe é visível a forma de desgaste
de flanco e que houve perda de material na ponta da ferramenta (lascamento). Lascamentos
são comuns de ocorrer neste tipo de material de ferramenta quando são utilizadas condições
severas de usinagem. Da Fig. (9) pode-se estimar que o mecanismo de desgaste nestas
condições foi o de entalhe na aresta principal de corte. O mecanismo de desgaste de entalhe
se desenvolveu por meio da formação de trincas térmicas, que ocorrem quando existe uma
grade variação de temperatura durante o processo de usinagem, resultando no lascamento
da aresta de corte observado na Fig. (9b).
Nas Figs. (10) e (11) são apresentados o comportamento do desgaste de ferramentas
de metal duro em função do comprimento usinado para diferentes valores de avanço e duas
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
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formas de entrada da ferramenta na peça (45° e 90°) durante o fresamento na condição com
aplicação de fluido de corte na forma de vazão reduzida, com velocidades de corte 200 e 260
m/min, respectivamente. Nas Figs. (12a) e (12b) são mostradas as imagens das ferramentas
desgastadas após usinagem do aço NB 1047 com Vc=200 m/min e fz=0,22 mm/volta para a
entrada a 45° nesta atmosfera, considerando o primeiro e sétimo passes, respectivamente.
Figura 10. Comprimento de usinagem versus desgaste durante a usinagem com aplicação de fluido na forma de vazão
reduzida com Vc=200 m/min
Figura 11. Comprimento de usinagem versus desgaste durante a usinagem com fluido na forma de vazão reduzida com
Vc=260 m/min
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
38 39
Figura 12. Imagem do desgaste da ferramenta de metal duro após usinagem com fluido de corte com vazão reduzida do
aço NB 1047 com Vc=200 m/min e fz=0,22 mm/volta para a entrada a 45°; a) Primeiro passe; b) Sétimo passe (lascamento)
(a) (b)
Nas (Figs. (13) e (14)) são mostradas as evoluções do desgaste com o número de
passes de fresamento com o uso da técnica de aplicação de fluido com mínima quantidade
de fluido (MQF), diferentes valores de avanço, duas formas de entrada da ferramenta na
peça (45° e 90°) e com velocidades de corte 200 e 260 m/min, respectivamente. Já nas
Figs. (15a) e (15b) são imagens das ferramentas desgastadas após a usinagem com esta
atmosfera e Vc=200 m/min e fz=0,14 mm/volta para a entrada a 45° para dois diferentes
números de passes.
Figura 13. Comprimento de usinagem versus desgaste durante a usinagem com fluido pela técnica MQF com Vc=200 m/min
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
40
Figura 14. Comprimento de usinagem versus desgaste durante a usinagem com fluido pela técnica MQF com Vc=260 m/min
Figura 15. Imagem do desgaste da ferramenta de metal duro após usinagem com fluido de corte pela técnica MQF com
Vc=200 m/min e fz=0,14 mm/volta para a entrada a 45°; a) Primeiro passe; b) Décimo terceiro passe (lascamento)
(a) (b)
DISCUSSÃO
Das Fig. (4) e Fig. (5), comprimento usinado versus desgaste da ferramenta, pode-se
observar que o desgaste aumenta com o comprimento usinado e que este é mais acentuado
para a entrada da ferramenta a 45° e com maior avanço, independente da velocidade de
corte empregada. Já as melhores condições foram observadas para a entrada a 90° para
ambas as velocidades de corte e maior avanço de 0,14 mm/volta.
Quanto a forma do desgaste, da Fig. (6), é possível inferir que mecanismo de desgaste
por deformação plástica da aresta de corte sob altas tensões de compressão foi atuante e
que levou à destruição da cunha, pela continuidade do processo de deformação. Maiores
informações sobre este mecanismo são comentadas por Machado et al (2009).
Ao comparar os resultados da evolução do desgaste com o comprimento usinado após
a usinagem nas atmosferas a seco e com fluido de corte (técnica jorro), observa-se que,
ao contrário dos resultados encontrados de desgaste em função do comprimento usinado
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
40 41
na condição a seco (Figs (4) e (5)), das Fig. (7) e Fig. (8) pode-se notar que a entrada da
ferramenta a 45º resultou em desempenho superior em relação à forma de entrada a 90º
em relação a desgaste e comprimento usinado, quando utilizou-se fluido de corte na forma
de jorro, sendo mais notável para a vc=200 m/min e f= 0,22mm/volta.
Das imagens apresentadas nas Figs. (9a) e (9b), ferramentas desgastadas com Vc =
200 m/min e fz = 0,22 mm/volta para a entrada da ferramenta a 45° após o primeiro passe e
sexto passe (fim de vida), respectivamente, observa-se que no primeiro passe a ferramenta
apresentava pouco desgaste (quase imperceptível pelo aumento (35X) do aparelho utilizado
para medição. Já na figura após o sexto passe é visível a forma de desgaste de flanco e que
houve perda de material na ponta da ferramenta (lascamento). Lascamentos são comuns
de ocorrer neste tipo de material de ferramenta quando são utilizadas condições severas de
usinagem. Da Fig. (9) pode-se estimar que o mecanismo de desgaste nestas condições foi o
de entalhe na aresta principal de corte. O mecanismo de desgaste de entalhe se desenvolveu
por meio da formação de trincas térmicas, que ocorrem quando existe uma grade variação
de temperatura durante o processo de usinagem, resultando no lascamento da aresta de
corte observado na Fig. (9b).
Das Figs. (10) e (11), evolução do desgaste de ferramentas de metal duro com o com-
primento usinado após o fresamento na condição com aplicação de fluido de corte na forma
de vazão reduzida (velocidades de corte 200 e 260 m/min, respectivamente), observa-se que
para esta atmosfera, a usinagem com ferramenta entrando na peça a 90°, com menor valor
de velocidade (vc=200 m/min) e maior avanço (f=0,14 mm/dente) apresentou desempenho
superior em relação a maior velocidade e menor avanço em termos de maior comprimento
usinado. Para esta atmosfera, ao analisar as ferramentas desgastadas nas Figs. (12a) e
(12b), considerando o primeiro e sétimo passes, respectivamente, após a usinagem com
Vc=200 m/min e fz=0,22 mm/volta para a entrada a 45°, nota-se que no sétimo passe da
ferramenta na peça houve o lascamento da mesma, semelhante aquele encontrado na ferra-
menta que realizou usinagem a seco (Fig. 6). Acredita-se que o desgaste na aresta alisadora
de tais ferramentas tenha sido o responsável para determinar o fim de vida da ferramenta.
Esse fim de vida foi obtido por deformação plástica da aresta de corte sob altas tensões de
compressão (Machado et al, 2009).
Diversas tentativas têm sido feitas com o objetivo de diminuir estas altas temperaturas
observadas. Fluidos de corte convencionais podem resfriar a ferramenta e a peça, mas não
podem resfriar e lubrificar eficientemente a interface cavaco-ferramenta. No entanto, foi ob-
servado que a MQF pode reduzir a temperatura média de corte de 5-10% dependendo dos
níveis dos parâmetros do processo (Dhar et. al, 2006).
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
42
Com relação ao comportamento do desgaste das ferramentas em função do número
de passes realizados na atmosfera com fluido de corte aplicado via a mínima quantidade de
fluido (MQF), (Figs. (13) e (14)), observa-se que a condição de usinagem mais branda Vc=200
m/min e fz= 0,14 mm/volta na forma de entrada de 45º possibilitou usinar 13 passes. Com o
auxílio das imagens das ferramentas desgastadas após a usinagem com esta atmosfera e
com Vc=200 m/min e fz=0,14 mm/volta para a entrada a 45° para dois diferentes números
de passes, é possível, ao comparar o primeiro e décimo terceiro passes, que houve a perda
da aresta de corte neste último. Este fato pode ser atribuído à deformação plástica da cunha
cortante devido a altas tensões de compressão (Machado et al, 2009) que indica o fim de
vida da ferramenta.Em seus experimentos comparando o desempenho da técnica MQF
em diferentes vazões com a usinagem a seco do mesmo aço NB 1047, Viera et al (2009)
observaram que esta técnica também resultou em um maior comprimento usinado e me-
lhor qualidade da superfície usinada, o que foi atribuído à redução do desgaste de flanco e
também das forças de usinagem. Para estes autores, a técnica MQF oferece como benefí-
cio principal a redução da temperatura de corte, com adequadas condições tribológicas na
zona de corte que minimizam o atrito entre o cavaco e a ferramenta e, consequentemente,
mantém a aresta de corte afiada por mais tempo.
CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FINAIS
As seguintes conclusões podem ser retiradas após este trabalho sobre fresamen-
to frontal de faceamento de aço NB 1047 com ferramentas de metal duro em diversas
condições de corte:
• A usinagem a seco com a entrada da ferramenta na peça a 90º apresentou desem-
penho superior em relação à entrada a 45º uma vez que o atrito da ferramenta com
a superfície da peça eleva a temperatura e leva a menor vida da ferramenta.
• Ao utilizar fluido de corte aplicado na forma de jorro observou-se um desempenho
semelhante de ambas formas de entrada da ferramenta (45º e 90º), e o fim de vida
da ferramenta foi determinado pelo colapso da aresta de corte.
• A usinagem com fluido de corte aplicado na forma de vazão reduzida (baixa vazão)
gerou um desgaste na ferramenta considerado intermediário entre a usinagem a
seco e com fluido na forma de jorro. O desgaste da aresta alisadora foi responsável
pelo fim de vida das ferramentas utilizada nesta condição. Além disso, a usinagem
com a combinação entre menores velocidade de corte e avanço aumentou a vida
da ferramenta.
• A utilização da técnica MQF resultou no melhor desempenho dentre todas as téc-
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
42 43
nicas e atmosferas utilizadas neste trabalho nas condições investigadas, e este
desempenho foi mais notável quando se empregou a menor velocidade de corte
(Vc=200 m/min) e um menor avanço (fz=0,14 mm/volta), consideradas as condi-
ções ótimas para usinagem deste aço NB 1047.
Uma versão deste artigo foi inicialmente publicada nos Anais do VI Congresso Nacional
de Engenharia Mecânica, 18 a 21 de agosto de 2010 – Campina Grande – Paraíba - Brasil,
sob código CON10-1647 e título Influência de diferentes atmosferas de usinagem no desgaste
de ferramentas e metal duro utilizadas no fresamento de aço médio carbono. Permissão da
Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas foi concedida.
REFERÊNCIAS
1. Bonney, J., 2004, “High-Speed Machining of Nickel-base, Inconel 718, Alloy with Cera-
mic and Coated Carbide Cutting Tools using Conventional and High- Pressure Coolant
Supplies”, Tese de Doutorado, London South Bank University, Londres, Reino Unido, 238 p.
2. Costa, E.S., 2004, “Furação de Aços Microligados com Aplicação de Mínima Quantidade
de Fluido de Corte – MQF”, Tese de Doutorado, Universidade Federal de Uberlândia, Uber-
lândia – MG, Brasil, 311 p.
3. Costa, E.S., Pacheco, M.S., Da Silva, R.B., Machado, A.R., 2008, “Influência da forma de
entrada da ferramenta na peça no fresamento frontal de faceamento do aço ABNT 1045”,
V Congresso Nacional de Engenharia Mecânica – CONEM, ABCM, Salvador – Bahia, Brasil, 8 p.
4. Da Silva, R. B. 2006, Performance of Different Cutting Tool Materials in Finish Turning
of Ti-6Al-4V Alloy with High Pressure Coolant Supply Technology, Tese de Doutorado,
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia-MG, Brasil, 299 p.
5. Dhar, N.R, Kamruzzaman, M., Ahmed, M., 2006, “Effect of minimum quantity lubrication
(MQL) on tool wear and surface roughness in turning AISI 4340 steel, Journal of Mate-
rials Processing Technology”, vol. 172, pp. 299-304. DOI: 10.1016/j.jmatprotec.2005.09.022
6. Machado, A.R., 1990, “Machining of Ti-6Al-4V and Inconel 901 with a High Pressure
Coolant System”, Tese de Doutorado, University of Warwick, Coventry, Reino Unido, 288 p.
7. Novaski, O. e Dörr, J., 1999-a, “Usinagem Quase a Seco”, Máquinas e Metais, Editora Aranda,
Novembro, São Paulo, Brasil, pp 34-41.
8. Novaski, O. e Dörr, J., 1999-b, “Usinagem Sem Refrigeração”, Máquinas e Metais, Editora
Aranda, Março, São Paulo, Brasil, pp 18-27.
9. Sales, W.F., 1999, “Influência das Características Refrigerantes e Lubrificantes de Fluidos
de Corte”, Tese de doutorado em Engenharia Mecânica – Universidade Federal de Uberlândia,
Uberlândia-MG, Brasil, 166 p.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
44
10. Sales, W.F., Diniz, A.E., Machado, A.R., 2001, “Application of Cutting Fluids in Machining
Processes”, Journal of the Brazilian Society of Mechanical Sciences, ABCM, Vol. XXIII, No.
2, pp. 227-240. DOI: 10.1590/S0100-73862001000200009.
11. Teixeira, C. R., 2001, “Benefícios Ecológicos da Redução e Eliminação de Fluidos de Corte
nos Processos de Usinagem com Ferramentas de Geometria Definida”, Tese de Doutorado
do Programa de Pós-Graduação em Eng. Mecânica da UFSC, Florianópolis-SC, Brasil, 153 p.
12. Vieira, J.M., De Oliveira, G.S, De Ávila, R. F, Machado, A.R., Da Silva, R.B., Friedrich, E.B.,
2009, “An Experimental Study On Effect Of Minimum Quantity Fluid On Tool Wear On
Machining Steel”, Proceedings of COBEM, 20th International Congress of Mechanical Engi-
neering, ABCM, Gramado, RS, Brazil.
03
Importância da experiência profissional
para exercício da docência no curso
de bacharelado em Engenharia Civil
Samuel Jônatas de Castro Lopes
UFPI
Humberto Denys de Almeida Silva
UFPI
Samuel Campelo Dias
UFPI
Paulo Henrique Nogueira da Silva Filho
CEUPI
Hitalo de Jesus Bezerra da Silva
UFPI
Emanuel Rodrigo Reis da Silva
UFMA
Linardy de Moura Sousa
UNIFSA
10.37885/210202996
https://dx.doi.org/10.37885/210202996
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
46
Palavras-chave: Docência, Ensino Superior, Engenharia Civil, Conhecimento Prático.
RESUMO
Introdução: o curso de bacharelado em Engenharia Civil é comumente organizado em
disciplinas gerais, que são comuns para todas as engenharias, e disciplinas específicas,
que, no caso da Engenharia Civil, estão voltadas para conhecimentos técnicos específicos,
que servirão de embasamento para os profissionais desenvolver diversas atividades, tais
como: projetar e construir estruturas eficientes, além de analisar e enfrentar problemas
que busquem atender da melhor forma possível à necessidade da sociedade. Objetivo:
assim sendo, o objetivo desse estudo é compreender a importância do conhecimento
prático para o ensino da Engenharia Civil. Métodos: foi realizado um questionário simpli-
ficado com docentes que atuam nos cursos de Engenharia Civil, com objetivo principal de
avaliar a importância da experiência prática no momento da sua contratação, bem como
no decorrer das suas atividades diárias como docente. Resultados: concluiu-se que para
a maioria dos docentes, a experiência prática foi relevante para sua contratação, além
disso, 100% dos entrevistados concordam que esse critério deve ser considerado para
a contratação de qualquer docente do curso de Engenharia Civil. Uma maior segurança
para a transmissão do conhecimento, um maior interesse dos discentes pela disciplina
e as aulas se tornarem mais dinâmicas, também foram benefícios que os docentes elen-
caram como primordial devido à suas experiências práticas. Considerações Finais: é
de suma importância que os docentes do referido curso, principalmente para ministrar
as disciplinas específicas, possuam além de conhecimento técnico, experiência prática
para tornar mais eficiente o processo de ensino.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
46 47
INTRODUÇÃO
A docência no ensino superior, comumente, é executada por profissionais de diversas
áreas de formação, sendo que, nos cursos de bacharelado, a grade curricular possui poucas
cadeiras de formação que visam aprimorar as habilidades didáticasdos futuros profissionais.
Com base nisso, é possível afirmar, que em múltiplas instituições de ensino superior, um
dos critérios mais relevantes para contratação de professores do curso de engenharia é sua
competência técnico-científica.
Outra via, de acordo com Zabala (2014), a docência consiste não apenas em conhe-
cimento técnico-científico, mas também, em adotar procedimentos e atitudes que busquem
tornar eficiente o compartilhamento de conteúdo do professor para o aluno. Neste sentido,
restringindo-se aos cursos de engenharia, a prática do docente no mercado de trabalho
proporciona que as aulas se tornem mais dinâmicas, objetivas e com exemplos mais inte-
ressantes, potencializando o aprendizado do discente
Segundo Cunha (2015), um perfil para o docente é geralmente formulado pela co-
munidade acadêmica, buscando classificar o professor em dois tipos: bom ou ruim, sendo
que essa rotulação pode influenciar nas áreas sociais e profissional do indivíduo. Para o
Ministério da Educação um professor adequado para os cursos de ensino superior é aquele
que possui mestrado e/ou doutorado. Entretanto, é de suma importância ressaltar que em
disciplinas específicas de engenharia o conhecimento prático do docente proporciona um
ensino com maior aproveitamento.
Com base nisso, a falta de qualidade e didática nas aulas de engenharia, promovem
um alto índice de desistência por parte dos alunos, principalmente nos primeiros semestres
letivos. Com o avanço do curso, disciplinas específicas de cada engenharia demandam
profissionais com ótimo conhecimento técnico-científico aliado com experiência prática para
satisfazer as necessidades dos discentes. Esse contexto aponta diversos desafios para
a Educação em Engenharia, buscando aprimorar os processos de ensino aprendizagem
(MESQUITA et al., 2016).
A engenharia civil é um curso de bacharelado oferecido por diversas instituições de en-
sino superior do Brasil, com base nisso, a qualidade do processo de formação dos discentes
deve garantir que os futuros profissionais sejam capazes de executar suas atribuições da
melhor forma possível. Através da engenharia civil é possível aplicar conhecimentos cien-
tíficos para projetar, construir, analisar e enfrentar problemas sociais, buscando atender da
melhor forma possível a necessidade da sociedade (CIVIL, 2018).
Com base nisso, essa pesquisa torna-se relevante devido ao curso de bacharelado
em engenharia civil ser amplamente ofertado no país e qualquer melhoria no seu processo
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
48
de ensino-aprendizagem influenciará representativamente no desenvolvimento técnico-e-
conômico do Brasil.
OBJETIVO
Compreender a importância do conhecimento prático para o ensino da engenharia civil.
MÉTODOS
Este estudo se caracteriza pelo desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa de con-
teúdo exploratório, a fim de contribuir para o aprimoramento da formação dos engenheiros
civis do país. Os docentes, atualmente, praticam o ensino de disciplinas específicas em dois
centros universitários na cidade de Teresina – PI. Segundo Malhotra et al. (2005) a pesquisa
qualitativa tem por objetivo a adquirir o entendimento qualitativo do problema. A mostra é
obtida por uma pequena quantidade de casos.
Utilizou-se a aplicação de um questionário simplificado, para dez professores que atuam
como docentes nos cursos de Engenharia Civil, com finalidade de entender a importância
do conhecimento prático para o ensino da profissão. De acordo com Parasuraman (1991),
um questionário pode ser entendido como sendo um conjunto de questões, produzido para
se obter dados atingindo-se os objetivos no projeto de pesquisa. O questionário ainda pode
ser definido como sendo um mecanismo desenvolvido cientificamente, formado por um
compilado de perguntas organizadas por assuntos predefinidos, que almeja coletar dados
de um grupo de pessoas (MARCONI; LAKATOS, 1999, P.100).
A tabela 1 apresenta o questionário aplicado a dez professores que atuam como do-
centes do curso de bacharelado em Engenharia Civil na cidade de Teresina – PI. O objeti-
vo geral deste questionário é fomentar a discussão sobre a importância do conhecimento
prático para o ensino da Engenharia Civil. O questionário foi formulado com sete perguntas
de múltipla escolha, onde cada professor deveria escolher apenas uma opção por questão.
Tabela 1. Questionário do tipo fechado aplicado aos docentes.
Questionário aplicado aos docentes Tipo de resposta
Tempo de exercício como docente do curso de Engenharia Civil Menos de 1 ano, entre 1 e 3 anos, entre 3 e 5 anos ou mais de 5 anos.
Tempo de experiência prática como engenheiro civil Menos de 1 ano, entre 1 e 3 anos, entre 3 e 5 anos ou mais de 5 anos.
Relevância da experiência prática para a contratação do docente Muito relevante, relevante, não influenciou, não se aplica.
Experiência prática deve ser um critério de contratação do docente Sim ou não.
Benefícios que a experiência prática proporciona para um docente Conseguir exemplificar melhor o conteúdo, fazer uma ótima relação entre teoria e prá-
tica, proporciona mais segurança ao docente, a experiência prática não tem relevância.
Grau de importância da titulação acadêmica
Muito importante (somente os títulos acadêmicos já são suficientes); importante
(entretanto o ideal é conseguir conciliar a prática com qualificação acadêmica) ou
pouco importante (é mais necessária a experiência prática).
Titulação acadêmica suficiente Doutorado, mestrado ou especialização.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
48 49
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Didática no ensino da engenharia civil
A didática pode ser entendida como uma área de estudo da Pedagogia que relaciona
as finalidades sócio-políticas e pedagógicas em busca de direcionar da melhor forma pos-
sível o processo de ensino e aprendizagem (LIBÂNEO, 2017). Assim sendo, um professor
que possui apropriada qualificação técnica para ensinar utiliza-se de diversas técnicas que
promovem um aprendizado mais eficiente, e consequentemente proporciona ao aluno um
melhor desenvolvimento na disciplina.
A comunicação é um dos processos fundamentais no exercício da didática, pois pro-
move a troca de informações no processo de ensino. Segundo Duarte (2020), uma boa
comunicação deve ser objetiva, simples, concisa e possuir uma variedade no vocabulário,
afim de garantir que o interlocutor entenda a mensagem. Ainda assim, de acordo com
Paulo Freire (2002), em seu livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa, outros parâmetros são citados como importantes para que o ensino possua uma
ótima qualidade.
[...] rigorosidade metódica; pesquisa; respeito aos saberes dos educandos;
criticidade; estética e ética; a corporificação das palavras pelo exemplo; ris-
co, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação; reflexão
crítica sobre a prática; o reconhecimento e assunção da identidade cultural;
consciência do inacabamento; o reconhecimento de ser condicionado; respeito
à autonomia do ser do educando; bom-senso; humildade, tolerância e luta
em defesa dos direitos dos educadores; apreensão da realidade; alegria e
esperança; a convicção de que a mudança é possível; curiosidade; segurança,
competência profissional e generosidade; comprometimento; compreender que
a educação é uma forma de intervenção no mundo; liberdade e autoridade;
tomada consciente de decisões; saber escutar; reconhecer que a educação
é ideológica; disponibilidade para o diálogo; e querer bem aos educandos
(FREIRE, 2002, p.34).
Com base, nesse pequeno trecho da obra de Freire é possível constatar a complexidade
que existe por trás de um ensino de qualidade, além dos diversos pontos de melhoria que
podem ser apontados na realidade atual dos cursos de bacharelado em engenharia civil.
Através da engenharia é possível desenvolver novas metodologias de execução que otimizem
os processos produtivos, gerando de forma diretaretorno financeiro para a economia do país
(PEREIRA; MOTTA, 2020). A indústria da construção civil é uma das principais engrenagens
responsáveis pelo crescimento econômico de um país (VIEIRA; NOGUEIRA, 2018).
Com base nessa alta representatividade econômica da Engenharia Civil em um país,
é de suma importância que as instituições de ensino superior promovam a formação de pro-
fissionais competentes, ou seja, dotados de habilidades que permitam um correto exercício
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
50
da profissão. De acordo com Esteves (2016), a competência é um parâmetro responsável
por diferenciar um profissional no mercado de trabalho.
A formação de um engenheiro com qualidade é uma ferramenta imprescindível para que
o país enfrente os desafios do século XXI (SANTOS; SIMON, 2018). O curso de bacharelado
em Engenharia Civil é composto por disciplinas básicas, comum para todas as engenharias,
e cadeiras específicas, que variam com a especialidade de cada curso. É importante ressaltar
que disciplinas básicas necessitam de uma maior qualificação acadêmica do docente, em
nível de mestrado e doutorado, entretanto em disciplinas específicas torna-se mais interes-
sante que o docente tenha experiência prática no mercado de trabalho.
A interligação entre teoria e prática propicia um diferencial ao estudante quando este
for inserido no mercado de trabalho, tal fato torna-se possível quando os docentes detêm
conhecimento prático das disciplinas específicas (CARDOSO et al., 2017). Tais cadeiras
são responsáveis por embasar tecnicamente o discente para a realidade prática que o fu-
turo profissional enfrentará no mercado de trabalho após sua formação. Com base nisso, é
possível afirmar que o conhecimento repassado por um professor que atua no mercado de
trabalho enriquecerá o processo de aprendizado do aluno.
Em complemento, torna-se ideal que além do conhecimento prático, o docente possua
técnicas de didática, que são obtidas através de especializações lato e stricto sensu, em
busca de conseguir transmitir as experiências práticas da forma mais eficiente. Quando o
professor consegue apresentar situações práticas da Engenharia Civil para o discente, este
consegue se comprometer de forma mais efetiva com o curso, além de solidificar melhor o
conhecimento acerca da respectiva disciplina (RIBEIRO et al., 2019).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No intuito de conseguir uma pesquisa mais sólida, com dados mais confiáveis, ou seja,
respostas que reflitam a realidade, o primeiro questionamento buscou descobrir quantos
anos de atuação como docente no curso de Engenharia Civil cada professor possuía.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
50 51
Figura 1. Tempo de exercício como docente do curso de Engenharia Civil.
Entre os dez docentes que responderam o questionário, oito possuem atuação como
docente no curso de Engenharia civil acima de cinco anos e apenas dois docentes possuem
experiência que variam entre três e cinco anos. Esse resultado é importante, uma vez que
docentes com maior experiência conseguem transmitir de forma mais confiável a realidade
e desafios enfrentadas na sala de aula.
Com base na figura 2 é possível afirmar que os docentes entrevistados, na sua totali-
dade, possuem tempo superior a cinco anos de experiência prática como engenheiro civil.
Durante cinco anos, o engenheiro civil que é atuante no mercado de trabalho se depara
com inúmeros problemas com soluções específicas, além disso, desenvolve vários contatos
sociais, pois precisa conversar com clientes e funcionários, isso melhora seu embasamento
prático de solucionar problemas. De acordo com Vygotsky (2007), na sua teoria do sóciointe-
racionismo, troca de ideias, experiências práticas e interação social são de suma importância
para o processo de ensino e aprendizagem.
Figura 2. Tempo de experiência prática como engenheiro civil.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
52
Os resultados obtidos para a terceira pergunta do questionário, refletem o grau de re-
levância da experiência prática de um engenheiro civil para atuar como docente do referido
curso. Para 80% dos entrevistados, sua experiência prática, como engenheiro civil, foi rele-
vante/muito relevante para sua contratação como docente. Outra via, para 20% a experiência
prática não foi um fator determinante no momento da sua contratação.
Figura 3. Relevância da experiência prática para a contratação do docente.
O fato da experiência prática não ter sido um parâmetro crucial no momento da con-
tratação, para 20% dos docentes, pode estar relacionado com diversos fatores, tais como:
urgência no processo seletivo da faculdade, diferentes critérios adotados pela coordenação
do curso no momento da contratação atribuindo pesos maiores para candidatos que pos-
suíssem mestrado e/ou doutorado.
De acordo com os resultados mostrados na figura 4, para 100% dos entrevistados a
experiência prática como engenheiro civil é um parâmetro que deve ser considerado no
momento da contratação do docente. A unanimidade das respostas corrobora para a ideia
central da pesquisa, que busca entender a importância da experiência prática para o ensino
da Engenharia Civil. O convívio com situações reais vivenciadas em escritórios de projetos
e canteiros de obras desenvolvem benefícios para o compartilhamento de conhecimento no
processo de ensino e aprendizagem, conforme podemos observar na figura 5.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
52 53
Figura 4. Experiência prática deve ser um critério de contratação do docente.
Para 60% dos entrevistados a experiência prática possibilita que o docente faça uma
ótima relação entre assuntos vistos na teoria e aplicados no mercado de trabalho. Cerca de
30% dos entrevistados concordam que com uma base de conhecimento prático o docente
é capaz de citar exemplos mais ricos de detalhes, melhorando o processo de fixação do
aluno para com o referido tema. Apenas 10% acham que o principal benefício oriundo da
experiência prática é o fato de o docente possuir uma maior segurança para transmitir o
conteúdo. Importante ressaltar que nenhum entrevistado considera irrelevante a experiência
prática para o exercício da docência.
Figura 5. Benefícios que a experiência prática proporciona para um docente.
Os resultados apresentados na figura 6 retrata a importância de aliar a experiência
prática com a titulação acadêmica em busca de alcançar uma melhor prática da docência
no curso de Engenharia Civil. Os paradigmas de um saber disciplinado, sistemático e que
não qualifica o discente para situações reais do mercado de trabalho estão perdendo força
no atual cenário mundial (GENGNAEL; FOLMER; MEURER, 2018).
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
54
Figura 6. Grau de importância da titulação acadêmica.
Com base nessas informações é importante ressaltar que a qualificação acadêmica
tem seu indiscutível grau de importância no disseminar dos saberes, entretanto, no ensino
de disciplinas específicas do curso de Engenharia Civil, o peso da titulação acadêmica é
relativamente tão importante quando a experiência prática do professor.
Assim sendo, a figura 7 buscou investigar, na opinião dos entrevistados, qual grau de
titulação acadêmica é considerado suficiente para o ensino da Engenharia Civil.
Figura 7. Titulação acadêmica suficiente.
Foi constatado que 70% dos entrevistados consideram que uma pós-graduação do tipo
lato sensu é suficiente para que um engenheiro civil atue como docente no referido curso.
Outra via, 30% dos participantes consideram que o mestrado, pós-graduação stricto sensu,
é a titulação acadêmica ideal para a atuação docente na graduação de Engenharia Civil.
Além disso, é possível afirmar que o doutorado é um nível acadêmico extremamente mais
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
54 55
importante em instituições de ensinosuperior pública, que buscam valorizar acima de tudo
o esforço intelectual e trajetória acadêmica que o docente necessita possuir.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em síntese foi possível constatar que o curso de bacharelado em Engenharia Civil
possui cadeiras gerais e específicas, sendo que na segunda situação o embasamento prá-
tico do docente é de suma importância para uma maior qualidade do ensino. Além disso,
foi possível entender que a experiência adquirida pelo docente fora do mundo acadêmico,
proporciona ao mesmo, uma melhor capacidade de conciliação do conhecimento prático
com o teórico solidificando desta maneira um aprendizado mais completo aos discentes.
Na pesquisa também foi possível perceber que para alguns docentes, no momento
de sua contratação, a experiência prática não foi exigida para assumir o cargo, entretanto
através deste artigo é possível verificar que o conhecimento é pratico é de suma importância
para o êxito de sua trajetória acadêmica como professor universitário, e para o ensino das
disciplinas do curso de engenharia civil.
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04
Divulgando TRIZ para alunos de
universidades e de ensino médio
Antonio Costa Gomes Filho
UNICENTRO/PR
10.37885/210203175
https://dx.doi.org/10.37885/210203175
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
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Palavras-chave: Inovação Sistemática, Ensino, Inovação Ensino.
RESUMO
A TRIZ possui vários métodos e o mais conhecido é o MPI – Método dos Princípios
Inventivos. TRIZ é uma teoria que foi desenvolvida por mais de 40 anos, tendo iniciado na
Rússia; essa teoria auxilia na resolução de problemas encontrados pelos inventores quan-
do se defrontam com a questão da inovação. O objetivo geral da pesquisa foi divulgar a
Teoria TRIZ para a comunidade acadêmica e para estudantes do ensino médio. Os mate-
riais utilizados na pesquisa foram livros, teses, dissertações e artigos científicos sobre o
assunto. Foi aplicado o Método dos Princípios Inventivos (MPI/TRIZ). Depois da análise
dos quarenta princípios inventivos, foram utilizados quatro deles (PI4, PI9, PI24, PI28)
para gerar alternativas de solução para o problema inventivo. Os resultados mostraram
que o Método dos Princípios Inventivos apresentam maiores possibilidades quando os
40 Princípios Inventivos são usados livremente, sem o apoio da Matriz de Contradições.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
58 59
INTRODUÇÃO
A criatividade tanto de jovens, quanto de adultos, e até mesmo de pessoas idosas pode
ser usada para inovar. Segundo Oech (1988), os idosos também podem ser criativos, ao
afirmar isso, o autor contribui para quebrar alguns mitos populares. Para Ulbricht, Vanzin e
Zandomeneghi (2010), a criatividade está ligada ao conhecimento, os organizadores do livro
destacam o conhecimento que gera inovação. Nas palavras de Maldonado, Monterrubio e
Arzate (2004), é possível entender que os jovens podem ser criativos e podem inovar cada
vez mais; ele orienta os jovens com 17 conselhos e ao final do capítulo adiciona mais 4
conselhos; esse autor cita o caso de 2 meninas (uma de 6 e outra de 7 anos que possuem
patentes registradas) e também fala da prática utilizada por inventores profissionais e da
profissão – inventor.
Quando a criatividade é aplicada à área de negócios, (Mason, 1968) defende que várias
cabeças pensando são melhores do que uma, e que isso é imprescindível no ambientede
empresas. No estudo de Gomes Filho (2010), a TRIZ aparece como solução para utilizar a
criatividade na inovação de modelos de negócios de forma organizada e sistematizada, a
obra é clara quanto ao uso do Método para Concepção de Negócios Sustentáveis baseado
em TRIZ (MCNS-TRIZ); Prim (2006) criou o método Gestão de Processos de Negócios
(GPN-TRIZ) e aplicou em dois casos: o processo de gestão de requisitos de mercado e o
processo de gestão de dados de engenharia.
Na visão de Carvalho (1999), os métodos da Teoria TRIZ são utilizados para resolver
conflitos na área de engenharia, de forma mais específica, no desenvolvimento de novas
soluções tecnológicas para inovar nos conceitos de produtos, ele cita o exemplo de inovação
em uma roçadeira. Para Prim (2006), o GPN-TRIZ pode ser aplicado na Gestão de Dados de
Engenharia (GDE). No estudo de Alves et al (2007), o Método dos Princípios Inventivos (MPI
-TRIZ) é utilizado juntamente com o Método para Análise e Solução de Problemas (MASP)
para resolver um problema de produção de uma empresa que trabalha com massa asfáltica.
O problema de pesquisa é o não conhecimento da Teoria TRIZ pela maioria dos alunos
que cursam uma universidade e o desconhecimento total por alunos que cursam o ensino
médio no Brasil. Existe uma lacuna nesse conhecimento nos países da América Latina, e,
no Brasil, esse assunto não faz parte das discussões no Ensino Médio, sendo, ainda, muito
pouco discutido no nível de Graduação e tema incipiente nos estudos de Pós Graduação,
com aproximadamente duzentos pesquisadores do tema no Brasil. Portanto, a relevância
dos estudos para divulgação da TRIZ na América Latina junto aos alunos de Ensino Médio
e de Universidades é facilmente perceptível.
O objetivo deste artigo é divulgar a Teoria TRIZ para a comunidade acadêmica e para
estudantes do ensino médio. E de forma mais específica, conhecer os conceitos sobre
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
60
criatividade e inovação; entender como a TRIZ se enquadra nessa literatura; ilustrar o uso
da TRIZ na concepção de uma ideia para um projeto de um carro de papelão e divulgar em
eventos para a comunidade acadêmica em nível de graduação e em nível de Ensino Médio.
MATERIAIS E PROCEDIMENTOS
Os materiais utilizados na pesquisa foram: livros, teses, dissertações e artigos científi-
cos sobre o assunto. Foi aplicado o Método dos Princípios Inventivos (MPI/TRIZ) seguindo o
fluxograma que não utiliza a Matriz de Contradições. Após a análise dos quarenta princípios
inventivos, foram utilizados quatro deles (PI4, PI9, PI24, PI28) para gerar alternativas de
solução para o problema inventivo. Também foi utilizado o mesmo formulário que Carvalho
(2001) utilizou para aplicação do Método dos Princípios Inventivos da TRIZ na ideação de
soluções para dois sistemas técnicos.
O objeto de estudo foi definido pela equipe como sendo um carro de papelão, com
capacidade para um passageiro e para mobilidade urbana, esse veículo viria substituir as
atuais motocicletas, oferecendo todos os requisitos de um veículo de quatro rodas, cuja
função de utilidade é atender à necessidade de locomoção de uma pessoa para o trabalho,
escola, academia e outros lugares encontrados em qualquer cidade. O veículo não seria
indicado para viagens e locomoção entre cidades diferentes, mas tal qual uma motocicleta
também poderia ser utilizado, ocasionalmente, para esse fim.
Os procedimentos de pesquisa consistiram em:
– seleção e leitura dos livros, com posterior elaboração de resenha pela equipe de
pesquisa. Segundo Lakatos (2010, p.247), “resenha crítica é uma descrição mi-
nuciosa que compreende certo número de fatos, é a apresentação de conteúdo
de uma obra e consiste na leitura, no resumo, na crítica e na formulação de um
conceito de valor do livro feito pelo resenhista.” Na definição de Alves (2003, p. 27),
“resenha crítica é realizada quando se deseja fazer a apresentação de conteúdo de
uma obra. Indicou-se a forma de abordagem sobre o tema e a teoria utilizada”. As
resenhas críticas serviram de base para elaboração de artigos científicos. Quanto
aos procedimentos, foram:
– buscas em bibliotecas com os temas: criatividade, inovação, inovação de empresas
e seleção de livros e teses que tratam do tema;
– seleção de teses e dissertações.
– buscas na internet, site do Diretório de Grupos de pesquisa para entender como
estão organizados e quem, no BRASIL, estava pesquisando sobre inovação, criati-
vidade e TRIZ e, por fim, busca nas bibliotecas para entendimento dos conceitos de
resenha e de artigo científico.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
60 61
Foram elaborados trabalhos científicos para divulgação. Para Alves (2003, p. 29), “ar-
tigo cientifico é um estudo resumido sobre o tema que trata das questões da natureza cien-
tifica.” Na definição de Lakatos (2010, p.242), “os artigo científicos são pequenos estudos,
porém completos, que tratam de uma questão verdadeiramente científica, mas que não se
constituem uma matéria de um livro”.
RESULTADOS
No total de aproximadamente noventa horas dedicadas à pesquisa, foram lidos três
livros completos, dois capítulos de livros, uma tese completa, uma tese parcial e uma dis-
sertação completa. Foram elaboradas sete resenhas, constantes do quadro 1:
Quadro 1.Síntese das resenhas
AUTOR E ANO OPINIÃO PESSOAL DO RESENHISTA
OECH (1988) O autor fala sobre criatividade dos jovens inventores do mercado de hoje. Há um
número cada vez maior de jovens inventores, inovando.
MALDONADO; MONTERRUBIO;
ARZATE (2004)
O capitulo do livro objetiva aconselhar jovens inventores sobre a profissão de inventor
e os métodos para inovar.
GOMES FILHO(2010) O autor explica, claramente, sobre como se usa a TRIZ. Ele relata algumas partes
importantes sobre o tema inovação com uso da TRIZ.
CARVALHO (1999) O autor fala sobre as evoluções dos métodos criativos, com destaque à inovação
sistemática.
DEMARQUE (2005) O autor fala bastante como se usa TRIZ no processo de fabricação de um carro, numa
roçadeira, num celular, numa geladeira, e em outras situações.
MASON (1968)
Como pontos positivos, o autor consegue explicar bem os temas abordados, o tema
central do livro que é: várias cabeças pensando é melhor que uma. Como pontos
negativos, os exemplos abordados estão muito fora de época, muito antigos, o que
dificulta o entendimento do livro para pessoas mais jovens.
PRIM (2006)
A tese é bem interessante. O autor explica o que é TRIZ. Com figuras, gráficos e
tabelas. O autor aplica TRIZ em algumas áreas. Fala de vários métodos que podem
usar TRIZ, fala da eficiência e eficácia de projetos de gestão de processos de negócios.
Entende-se que pela complexidade do tema, o conhecimento sobre criatividade obtido
e sobre TRIZ foi próximo do nível intermediário. Para explorar melhor o assunto havia ne-
cessidade de aplicar TRIZ em casos práticos, o que foi feito posteriormente.
A criatividade está presente nos processos de inovação, tanto nas engenharias, quanto
na área de negócios e outras. A literatura em português disponível sobre criatividade pode
ser encontrada em livros, já a literatura sobre inovação sistemática com ênfase nos métodos
da TRIZ é encontrada em artigos de eventos, teses e dissertações, com livros somente em
espanhol e inglês.
A maneira mais simples de se aplicar o MPI/TRIZ é a aplicação direta dos Princípios
Inventivos. Isso foi feito na ideia de conceber um veículo de papelão. Os resultados estão
descritos a seguir:
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
62
Quadro 2.Análise do Sistema Técnico Carro de Papelão
Passo do Método dos Princípios Inventivos Conceitos definidos pela equipe de pesquisa
1. Identificação (nome) do Sistema Técnico (ST):
Trata-se de um veículo para somente uma pessoa, o veículo deve ter banco confor-
tável para o piloto e ser seguro, sem colocar a vida de outras pessoas em risco, deve
ter espaço para malade mão e no máximo uma mochila que ficará na parte traseira.
Dar a sensação de ser pequeno para quem olha de fora, mas ser grande por dentro.
Ter o motor na parte da frente. Troca de marchas no volante. Trata-se de um veiculo
com 4 rodas para andar em terra, com rodas aro 8 mm de espessura.
2. Identificação da função ou funções principais
do ST:
Para se locomover mais rápido que uma pessoa andando a pé, para ir à academia,
ao trabalho, à escola, à praia, à sua casa entre outros lugares.
3. Identificação dos principais elementos do ST
e de suas funções:
Sistema de suspensão:
Molas: proteger contra impactos; Rodas: estabilizar o veículo; Freios: parar o veículo;
Direção: determinar o percurso; Volante: controlar a direção; Assoalho: colocar os
pés do piloto; Eixos: apoiar o sistema de suspensão;
Amortecedores: amortecer impactos; Colunas: proteger o motorista.
Sistema motor:
Tanque de combustível: armazenar; Carburador: alimentar o motor;
Bateria: fazer o carro arrancar e fornecer energia aos componentes elétricos;
Acelerador: controlar a velocidade; Embreagem: fazer o controle de marchas. Sistema
de Segurança e Conforto: Bancos: deixar o motorista confortável;
Cinto de segurança: proporcionar segurança;
Para-choques: proteger o carro e o piloto;
Casco: proteger de chuva, batidas, e outros;
Espelhos: controlar visão traseira e proteger em manobras;
Iluminação externa: clarear a visão fora do veículo;
Iluminação interna: clarear a visão interna; Air-Bag: proteger contra batidas;
Banco ejetor: separar o banco do restante do veículo, útil quando em quedas de
penhascos ou pontes.
4. Descrição do funcionamento do ST:
O funcionamento do carro começa por chave que liga o motor, este, utilizando algu-
ma fonte de energia possibilita colocar o carro em movimento. A rotação do motor
aciona o sistema de suspensão colocando os eixos em movimento, que podem ser
parados pelos freios ou por pane seca. O piloto controla a velocidade do motor por
meio de um acelerador. O piloto controla a direção do carro manualmente por meio
do volante. A sustentação do veículo é feita por molas, sistema de amortecedores
e pelo próprio assoalho do veículo. O casco do veículo auxilia na estabilidade e tem
a função de proteger o piloto contra as intempéries do tempo e colisões vindas da
área externa ao veículo.
5. Levantamento dos recursos:
Recursos de substância:
Molas, poste, árvores, paredes, cercas, pedras, terra, ar, umidade, combustível,
madeira, motor, poeira, gases de escape, cansaço do piloto, placa de sinalização;
Recursos de energia:
Força da gravidade, forças dos ventos, energia solar, energia cinética do movimento
das rodas, energia química do combustível, pressão e velocidade dos gases de escape,
energia térmica dos gases de escape, energia térmica do ar, energia muscular do
piloto, calor do ambiente, energia térmica do piloto;
Recursos de espaço:
Espaço entre o painel e o local para colocar bagagem, espaço entre as rodas e o
sistema de amortecedores, espaço ao redor do veículo, espaço em volta do motor;
Recursos de campo:
Campo de impacto reduzido pelas molas, condições do terreno, força gravitacional,
campo elétrico, campo magnético do motor e terrestre, força dos ventos, recurso
térmico do motor;
Recursos de tempo:
Tempo para dar a partida do veículo, tempo para o motor funcionar;
Recursos de informação:
Liga/desliga, aceleração, direcionamento, frenagem, controle da velocidade, infor-
mações mostradas no painel do veículo;
Recursos de função:
Transportar pessoas, reduzir tempo de locomoção, proteger das chuvas, proporcio-
nar conforto sobre quatro rodas, aproveitar pequenos espaços no estacionamento,
transportar pequenas bagagens.
6. Identificação da característica a ser melhorada
ou da característica indesejada a ser reduzida,
eliminada ou neutralizada no ST:
A característica indesejada a ser reduzida eliminada ou neutralizada no carro de
papelão é o uso de metal no casco ou carroceria do mesmo.
7. Formulação do resultado final ideal (RFI) O carro de papelão deve proteger das condições climáticas adequadamente, sem
comprometer a segurança e proporcionando conforto ao motorista.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
62 63
Após a análise do Sistema Técnico, a equipe de trabalho consultou os quarenta prin-
cípios inventivos, disponíveis em Demarque (2005); Prim (2006). Um dos componentes
da equipe analisou os vinte primeiros Princípios Inventivos e outro componente da equipe
analisou os vinte últimos Princípios Inventivos. Posteriormente houve inversão na análise e
um terceiro componente da equipe, mais experiente no uso da TRIZ, promoveu a síntese
dos resultados. Para resolver o problema definido na Formulação do Resultado Final (RFI),
foram utilizados os Princípios Inventivos de números 4, 9, 24 e 28.
Quadro 3.Utilização direta dos Princípios Inventivos para o problema de criação de um carro de papelão
Princípio Inventivo Ideia (alternativa de solução gerada pela equipe)
PI 4. Assimetria: alterar a forma de objeto de si-
métrico para assimétrico.
Para o problema das condições climáticas, colocar um material,
no caso uma película, que irá proteger o papelão das condições
climáticas.
PI 9. Compensação prévia: se é necessário realizar
uma ação com efeitos bons e ruins, esta ação
deve ser trocada com anti-ações para controlar
os efeitos indesejados.
Para o problema da segurança, a ideia é rodear a parte de papelão
com material resistente (borracha ou metal). Tradicionalmente isso
é feito nas partes traseiras e dianteiras, com para-choque, há que
se pensar também em proteger as partes laterais.
PI 24. Mediador (intermediador): utilizar um ob-
jeto intermediário de transferência ou processo
intermediário.
Para o problema da segurança, a ideia é colocar um sistema de
controle remoto para abrir as portas, utilizando o sistema de códi-
go que é mais seguro que o uso de maçanetas manuais. Também
um sistema de controle de velocidade para não acabar matando
pedestres ou o próprio motorista.
PI 24. Mediador (intermediador): utilizar um ob-
jeto intermediário de transferência ou processo
intermediário.
Para o problema do conforto ao motorista, colocar sistema de con-
trole no volante. Colocar também um rádio de comando de voz sem
que o motorista precise tirar a mão do volante.
PI 28. Substituição de sistema mecânico: substi-
tuir um sistema mecânico por um sistema senso-
rial (ótico, acústico, paladar ou olfativo).
Substituir, para resolver o problema do conforto ao motorista, um
motor com barulho por um motor elétrico.
A Teoria TRIZ busca soluções ideais para as necessidades dos usuários dos Sistemas
Técnicos, por exemplo, em vez de pensar em uma máquina para cortar grama, as soluções
buscadas são no sentido de que o ideal seria que a grama, quando atingisse a fase de corte
deixasse de crescer. Nesse sentido, não se busca um Sistema Técnico máquina de cortar
grama, mas sim uma solução que não dependa desse Sistema Técnico. Infere-se que os
Sistemas Técnicos ideais não existem.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
64
Figura 1: Primeira ilustração
Fonte: Elaborado pela equipe de pesquisa
Mas uma vez que o Sistema Técnico exista, a TRIZ pode ser utilizada para fazê-lo
evoluir, como no exemplo do carro de papelão. Na análise da equipe de trabalho, o grande
problema das grandes cidades é o pouco espaço existente e o uso ineficaz dos veículos.
Qualquer observação empírica irá comprovar que as montadoras produzem veículos para
cinco pessoas e normalmente se vê nas ruas apenas uma pessoa dirigindo, e os outros
assentos vagos. Por outro lado, as motocicletas possuem rapidez no trânsito, possibilitando
a locomoção de uma pessoa, mas sem o conforto de um veículo automotor. O ideal para a
necessidade de locomoção das pessoas é que as mesmas andassem na velocidade de um
veículo, dessa forma o uso de carros ou motos não seria necessário. Mas já que esses sis-
temas técnicos (carro e moto)existem, neste estudo pensou-se em evoluir para um veículo
que oferecesse o melhor dos dois sistemas técnicos citados, e esse é um dos usos que se
tem feito com o auxílio da TRIZ.
CONCLUSÕES
Pensa-se que a pesquisa tenha contribuído para mostrar uma parte do que existe sobre
criatividade e Teoria Para Resolução de Problemas Inventivos. No entanto, é um trabalho
iniciante, sem pretensão de esgotar o assunto, visto que no Brasil e até mesmo na América
Latina existe limitado material disponível em Português, e somente um livro em espanhol
que fala sobre a TRIZ, que é conhecida também como inovação sistemática e ou criatividade
para engenheiros.
Presume-se que os objetivos deste trabalho tenham sido atingidos, ao destacar o
problema da criatividade e o não conhecimento da TRIZ pela maioria dos pesquisadores
que trabalham com criatividade aplicada a negócios. A equipe de pesquisa amadureceu o
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
64 65
conhecimento sobre criatividade e inovação, pôde compreender como a TRIZ se enquadra
nessa literatura e ilustrou o uso da TRIZ na concepção da ideia para o desenvolvimento de
um carro de papelão.
Quanto ao objetivo geral, os resultados da pesquisa foram apresentados e publicados
em dois eventos, a Semana de Iniciação Científica da Universidade Estadual do Centro-
Oestei e o Encontro de Iniciação Científica Júnior, para alunos de Ensino Médioii, tendo sido
divulgado para a comunidade acadêmica e para os alunos de ensino médio.
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05
Comparação entre formulações de
problemas de confiabilidade estrutural
Marcelo Araújo da Silva
10.37885/210203176
https://dx.doi.org/10.37885/210203176
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
68
Palavras-chave: Confiabilidade Estrutural, Índice de Confiabilidade, Método GRG,
Processo de Monte Carlo.
RESUMO
A formulação clássica dos problemas de confiabilidade estrutural, como aquela utiliza-
da nos métodos GRG (Generalized Reduced Gradient) e FORM (First Order Reliability
Method), é definida através de um problema de otimização, onde se tem as variáveis
aleatórias como variáveis de projeto, o índice de confiabilidade como a função objetivo
e a restrição de igualdade dada pela função de performance, calculada como a margem
de segurança. O índice de confiabilidade pode ser definido como a menor distância, no
espaço das variáveis reduzidas, entre a função de performance e a origem do sistema.
Então o problema de confiabilidade é usualmente formulado como: determinar as variáveis
de projeto (variáveis aleatórias) que minimizem a função objetivo (índice de confiabilida-
de) sujeito à restrição de igualdade (margem de segurança). Como a função objetivo é
a distância do projeto até a origem, no espaço das variáveis reduzidas, não importa na
equação se estas variáveis apresentam valores positivos ou negativos. Este fato pode
trazer problemas para a solução, pois o sinal destas variáveis interfere significativamente
no cômputo da probabilidade de falha do modelo analisado. Serão mostrados exemplos
onde esta formulação não é válida. Conclui-se no trabalho que as formulações mais
adequadas são aquelas baseadas na definição do índice de confiabilidade como sendo
a razão entre a média e o desvio padrão da função de desempenho. Formulações como
o Processo de Monte Carlo (MC) usam esta definição e, portanto, não causam prejuí-
zos aos resultados obtidos, sendo mais confiáveis, principalmente em problemas mais
complexos, com um número significativo de variáveis aleatórias. Serão apresentados
exemplos com a utilização do método GRG e do Processo de Monte Carlo e mostradas
as discrepâncias daquele e dos resultados coerentes dados por este em alguns problemas
clássicos. Sugestões para estudos futuros também serão apresentadas.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
68 69
INTRODUÇÃO
A análise dos problemas aqui apresentados tem por objetivo mostrar as limitações de
alguns métodos extremamente usuais nos processos de determinação da confiabilidade
estrutural. Serão utilizados os métodos GRG e o Processo de Monte Carlo. Aquele, por ter
uma formulação baseada num problema de otimização, tem como variáveis de projeto as
variáveis aleatórias, a função objetivo é o índice de confiabilidade e a restrição de igualdade
é a função de performance, definida aqui como a margem de segurança do sistema estrutural
analisado. Já o Processo de Monte Carlo é definido pela geração de valores aleatórios para
as variáveis de projeto e então o cálculo da média e o desvio padrão da função de perfor-
mance. Neste o índice de confiabilidade é definido como a razão entre a média e o desvio
padrão da função de performance.
No caso do método GRG, o índice de confiabilidade é definindo como a distânciaentre o projeto atual e a origem do sistema no espaço das variáveis aleatórias reduzidas,
respeitando-se a restrição de que a margem de segurança deve ser nula. Para o cálculo da
distância, as variáveis reduzidas são elevadas ao quadrado, somadas e então computada
a raiz quadrada desta soma. Ao se elevar ao quadrado as variáveis reduzidas, perde-se a
informação se ela é positiva ou negativa. Por exemplo, num caso onde a variável de projeto
é a carga atuante numa viga, deseja-se que esta carga seja majorada à partir de um valor
médio. Neste caso a variável reduzida deve ser positiva para se ter uma segurança ade-
quada. No caso da variável aleatória ser a resistência do material da viga, é desejável que
a resistência considerada no cálculo seja um valor menor do que a média, portanto com a
variável reduzida negativa. Observa-se que este projeto apresenta uma certa segurança,
visto que a força externa considerada é superior à média e a resistência considerada é
inferior à média.
Agora imagine uma situação onde a viga possui um projeto não seguro, onde para se
obter o equilíbrio entre a carga externa e a resistência, minora-se a força (variável reduzida
negativa) e majora-se a resistência (variável reduzida positiva) em relação à média. Neste
caso, observe que o projeto não é seguro, mas ao se elevar ao quadrado as variáveis re-
duzidas, perde-se a informação de que as mesmas são positivas ou negativas e portanto
pode-se ter um índice de confiabilidade igual ao do projeto do parágrafo anterior, mas que
não reflete a probabilidade de falha do modelo, muito pelo contrário, fornece uma informação
errônea de que o projeto é seguro, mas que na verdade não é. Com o Processo de Monte
Carlo, pelo fato da média do função de performance poder ser negativa ou positiva, não
se perde a informação do sinal das variáveis reduzidas, conferindo à análise um índice de
confiabilidade correto que pode indicar claramente se o projeto é seguro ou não.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
70
Foi realizada uma revisão da bibliografia sobre os principais métodos para o cálculo
da confiabilidade estrutural. Os trabalhos lidos vão desde uma revisão geral das principais
ferramentas e conceitos básicos até aplicações avançadas com algoritmos e problemas
específicos. Apesar da grande quantidade de referências disponíveis, procurou-se focar nos
métodos e estruturas similares às analisadas no presente trabalho.
O trabalho de Tao (2017) apresenta um novo modelo, no qual ferramentas da lógica
Fuzzi são combinadas para representar incertezas epistêmicas. Uma Markov Chain Monte
Carlo (MCMC – Cadeia de Markov com Simulação de Monte Carlo) é usada para resolver
problemas de confiabilidade introduzindo eventos intermediários que representam a ruptura
do sistema estrutural. O uso da Simulação de Monte Carlo foi realizado por Li (2015) em cujo
trabalho são analisados os componentes internos das engrenagens de uma turbina eólica
visando melhorar o cômputo sua confiabilidade. A relação entre os diferentes componentes
internos é abordada através de arvores de falhas. Os resultados obtidos nesta formulação
foram validados através da metodologia de rede Bayesiana.
A comparação entre o Processo de Monte Carlo e o método FORM foi realizada por
Sciuva (2003). Foram estudadas cinco diferentes variações destes métodos, os quais foram
aplicadas a dois exemplos, sendo uma estrutura de material isotrópico e outra com material
compósito laminado. As variáveis aleatórias consideradas foram as forças, a geometria e a
propriedade dos materiais, todos com distribuição normal não-correlacionadas. O principal
objetivo deste trabalho foi analisar a performance dos métodos utilizados. Jin (1993) utilizou
o Processo de Monte Carlo juntamente com o Método dos Elementos Finitos para o cálculo
da confiabilidade de um complexo sistema de rolamentos, trabalhando sob pressão, utilizado
na indústria petrolífera. A conclusão do autor é que foram necessárias poucas simulações
para se obter o valor da confiabilidade do sistema estrutural, mostrando o poder de aplica-
bilidade dos métodos.
A aplicação do Processo de Monte Carlo, juntamente com uma versão modificada do
procedimento de BRANZ, para avaliação de capacidade lateral de paredes de contraventa-
mento em madeira, foi realizada por Foliente et al (2000). Uma das recomendações deste
trabalho é que as forças sísmicas sejam tratadas introduzindo incertezas no sistema. Nesta
mesma linha, Yen (1987) propõe que a análise da segurança de estruturas submetidas a
carregamentos provenientes de fontes geofísicas seja realizada sob um ponto de vista es-
tocástico, introduzindo-se incertezas tanto na estrutura quanto nos carregamentos. O autor
aplicou o método MVFOSM e o Advanced First-Order Method, juntamente com uma árvore
de falha para determinar a probabilidade de falha do sistema estrutural. Hwang et al (1979)
utilizaram como sucesso o método do Lagrangiano aumentado (GLF) e o GRD para a solução
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
70 71
de diversos problemas de confiabilidade e de otimização não-linear e afirmam que estes são
os melhores métodos entre os muitos algoritmos existentes.
De acordo com Akpan (2015), o projeto tradicional de estruturas navais se baseia em
uma combinação de experiência, bom senso e abordagens determinísticas e normalmente
ignora o potencial de melhoria de design e outros benefícios oferecidos pelo uso de métodos
de confiabilidade e estratégias de otimização estrutural. Neste trabalho foram otimizadas duas
estruturas: (1) uma estrutura de navio simples e (2) uma estrutura de navio mais complexa,
na tentativa de alcançar a redução de peso em face das restrições sobre a resistência final
e capacidade de flambagem. Obteve-se uma redução de peso de 5,6% no caso (1) e de
2,0% no caso (2). Segundo os autores, esses resultados destacam os benefícios potenciais
dos métodos de confiabilidade e estratégias de otimização estrutural e incentivam sua im-
plementação durante a fase inicial do projeto estrutural do navio.
O estudo da confiabilidade ao longo do tempo de vigas caixão protendidas, levando-se
em consideração a deformação lenta ao longo do tempo, foi realizado por Guo (2016). Ele
estudou vários tipos de reforços e suas respectivas confiabilidades. A análise ao longo do
tempo foi simulada através de uma análise estática incremental. Já Yanaka (2016) estuda
também pontes construídas com vigas protendidas, mas foca em sua durabilidade anali-
sando a confiabilidade da armadura quando esta está submetida a ataques de agentes que
provocam corrosão. Este artigo trata do desenvolvimento de recomendações para o design
de durabilidade de estruturas em ambientes marinhos do ponto de vista da confiabilidade,
levando em consideração o custo do ciclo de vida de uma estrutura. Steinberg (1997) estuda
a confiabilidade de conexões tipo “haunch” utilizadas em vigas de concreto protendido. Os re-
sultados apresentados neste artigo mostram que o índice de confiabilidade para esses tipos
de conexões é relativamente baixo em comparação com os níveis de confiabilidade encon-
trados na maioria dos padrões de projeto atualmente em uso.
A análise da confiabilidade de tubos metálicos sob um processo de corrosão foi reali-
zada por Gong (2017) utilizando-se o método FORM. A metodologia envolve primeiro cons-
truir duas funções de estado limite equivalentes linearizadas para o segmento de tubulação
no espaço normal padrão e então avaliar as probabilidades de vazamento e explosão do
segmento incrementalmente ao longo do tempo com base nas funções de estado limite
equivalentes. Makhduomi et al (2017) estudam três algoritmos do método de confiabilidade
de primeira ordem (FORM) usando a direção de busca baseada no gradiente (steepest
descent search direction). Os resultados são comparados para avaliar o índice de confiabili-
dade de problemas de aço estrutural que são projetados pelo códigode construção nacional
iraniano. Os componentes de aço projetados pelo código iraniano mostraram bons níveis
de confiança com o índice de confiabilidade na faixa de 2,5 a 3,0. O estudo de torres para
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
72
suporte de geradores eólicos instalados offshore foi realizado por Kim (2015). É realizada
uma análise dinâmica onde a resposta é expressa como a resposta estática multiplicada
pelo fator de resposta de pico. O índice de confiabilidade é encontrado usando o método
de confiabilidade de primeira ordem (FORM). A análise de falhas por fratura, com uma
abordagem sob a ótica da confiabilidade, foi realizada por Beom-Jun et al (2016). Devido
às incertezas relacionadas aos parâmetros de avaliação de falhas, como tamanho da falha,
tenacidade à fratura, espectro de carga e assim por diante, o conceito de probabilidade é
preferível ao determinístico na avaliação de falhas. Neste estudo, foram feitos esforços para
desenvolver o procedimento de avaliação de falhas baseada na confiabilidade, que combina
procedimentos de avaliação de falhas e os métodos de confiabilidade de primeira e segunda
ordem (FORM/SORM). A validade dos resultados obtidos foi verificada comparando-os com
os obtidos pela simulação de Monte Carlo. Foi confirmado que a metodologia desenvolvida
funcionou perfeitamente no cálculo da confiabilidade sem a demorada simulação de Monte
Carlo, segundo os autores.
Reddy (1994) realizou o projeto ótimo de diversos tipos de estrutura impondo um índice
de confiabilidade mínimo. Neste caso, o índice de confiabilidade é obtido por interpolação
de valores em torno de um valor médio designado. Nesta mesma linha, mas trabalhando no
projeto de canais hidráulicos, Adarsh (2013) impõe um determinado índice de confiabilidade
e varia demais parâmetros de projeto para se obter uma solução otimizada. Neste caso são
utilizados um método avançado de segundo momento de primeira ordem e a Simulação de
Monte Carlo, e verificou-se que os resultados de ambas as abordagens mostram boa con-
cordância. Trabalhando também com Simulação de Monte Carlo e com método de segundo
momento de primeira ordem, Kareem (1990) fez várias estimativas de confiabilidade de uma
chaminé de concreto. Múltiplos modos de falha potencial são representados pela superação
do momento admissível em qualquer nível da altura da chaminé. Os limites são estabeleci-
dos com base na teoria existente, levando em consideração não apenas a probabilidade de
falha dos modos individuais, mas também as probabilidades conjuntas de falha em quais-
quer dois modos. Este autor sugere que a aproximação de segundo-momento de primeira
ordem e os métodos de simulação, que combinam a técnica de Monte Carlo com técnicas
de redução de variância, possam fornecer resultados precisos para análise de confiabilidade
em casos práticos de estruturas excitadas pelo vento. De acordo com Saydam (2013), o
índice de confiabilidade de um determinado sistema pode ser calculado usando o método
de segundo momento de primeira ordem (FOSM). De acordo com este autor, este método é
exato se ambos os efeitos de carga e resistência do sistema seguem distribuições normais
ou lognormais. No entanto, a quantidade de erro introduzida pode ser significativa quando
as variáveis aleatórias seguem distribuições diferentes de normal ou lognormal.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
72 73
Greiner (2012) apresenta uma abordagem para otimização simultânea da massa es-
trutural e confiabilidade em estruturas de treliça. Além do dimensionamento de membros, a
seleção de uma topologia ótima a partir de uma estrutura pré-especificada é uma caracte-
rística da metodologia proposta pelo autor. Para permitir uma busca global, a otimização é
realizada usando um algoritmo evolucionário multiobjetivo. No trabalho de Meng et al (2016)
um novo método para calcular a probabilidade de falha de uma estrutura submetido à fadiga
é proposto, lidando com problemas com incertezas e com variáveis aleatórias. O método é
baseado no cálculo dos momentos da função de performance desenvolvendo-a em série
de Taylor. Dois exemplos numéricos de complexidade crescente são empregados para de-
monstrar a viabilidade da abordagem proposta.
Bian (2015) desenvolveu uma nova abordagem baseada em confiabilidade para a
análise e projeto de estacas, incorporando os requisitos do Estado Limite de Serviços e do
Estado Limite Último da norma LRFD. Três métodos para análise e projeto baseados em
confiabilidade foram adotados, sendo eles o método MVFOSM, o AFOSM e o método de
simulação de Monte Carlo. Este estudo recomenda o método AFOSM para executar a análise
de confiabilidade. Continuando nos trabalhos aplicados a fundações em estacas, vale desta-
car o trabalho de Kwak (2010), que como parte de um estudo para desenvolver parâmetros
para a determinação de fatores de carga e resistência para projeto (LRFD) para estruturas
de fundação na Coréia do Sul, calibrou os fatores de resistência para a capacidade de carga
estática de estacas de aço no contexto da teoria de confiabilidade. Um banco de dados de
52 resultados de testes de carga estática foi compilado, e os dados foram classificados em
dois casos: um valor-N padrão de penetração (SPT) na ponta da pilha (i) menor que 50 e
(ii) maior ou igual a 50. Análises de confiabilidade e calibração de fator de resistência foram
realizadas usando o método de confiabilidade de primeira ordem (FORM) e a simulação de
Monte Carlo (MCS). Os índices de confiabilidade e os fatores de resistência calculados pelo
MCS são estatisticamente idênticos aos computados pelo FORM. Índices de confiabilidade
alvo foram selecionados como 2,0 e 2,33 para o caso de um grupo de estacas e 2,5 para o
caso de uma estaca isolada. O autor ressalta que os fatores de resistência recomendados
por este estudo são específicos para o projeto de fundação de estacas e as práticas de
construção e as condições de subsuperfície na Coréia do Sul.
A utilização de dois métodos conjuntamente para a otimização e determinação da
confiabilidade foram usados por Meng (2014). Os métodos são o Mean-Value First-Order
Saddlepoint Approximation (MVFOSA) para o cálculo da confiabilidade e o Collaborative
Optimization (CO) Method para o processo de otimização. Os autores mostraram que a
combinação destes métodos proporcionou uma boa precisão em dois exemplos analisa-
dos. De acordo com Haug (2008), devido ao uso de informações completas de distribuição,
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
74
o MVFOSA é geralmente mais preciso do que o MVFOSM com o mesmo esforço compu-
tacional. Ainda complementa que ele também é mais eficiente que o FORM porque não é
necessário um processo de pesquisa iterativo para o chamado Ponto Mais Provável (ponto
ótimo). Estas conclusões são confirmadas pelo autor através de quatro exemplos numéricos.
Al-Harthy e Frangopol (1994) apresentam um procedimento baseado em confiabilidade
para o projeto de vigas de concreto protendido. O carregamento, as propriedades do ma-
terial e os níveis de força de protensão são tratados como variáveis aleatórias. Métodos de
confiabilidade, baseados no segundo momento, são usados para calcular as probabilidades
de falha das vigas nos estágios inicial e final. Alguns exemplos são resolvidos e gráficos de
projeto são fornecidos pelos autores para facilitar a implementação da abordagem proposta.
Rackwitz e Flessler (1978) propuseram um algoritmo para o cálculo da confiabilidade es-
trutural sob uma combinação de carregamentos. Cargas ou quaisquer outras ações sobre
estruturas são modeladas como variáveis aleatórias independentes. A função de performance
é aproximada em pontos por um hiperplano tangente. O algoritmo de iteração procura um
ponto onde a probabilidade de falha dada pelo hiperplano tangente atinge o seu máximo.
Qualquer tipo de função de performance e qualquer tipo de distribuição deprobabilidade para
as cargas podem ser tratados. O método é ilustrado em um exemplo com uma viga parede
sem resistência à tração, carregada por um momento fletor e uma força normal.
Um trabalho que chamou bastante a atenção durante a realização desta pesquisa foi o
de Pachás (2009), onde é apresentada uma versão do método FORM em bastante detalhes
e possibilita uma boa implementação computacional. Além disso, é apresentado um resumo
das principais ferramentas estatísticas envolvidas no processo de cálculo da confiabilidade
estrutural. As aplicações são na área de estabilidade de talude. Além desse trabalho, ma-
teriais didáticos contendo desde os conceitos básicos até abordagens mais sofisticadas,
como também o Método dos Elementos Finitos, podem ser encontradas nos trabalhos de
Melchers e Beck (2018), Nowak e Colloins (2012) e Ditlevsene Madsen (2005).
MATERIAIS E MÉTODOS
A probabilidade de falha de um modelo pode ser calculada utilizando-se um método de
confiabilidade. Usualmente tem-se as variáveis aleatórias designadas por x e as variáveis
reduzidas dadas por y. A relação entre elas é dada por
yi = (xi – µi)/σi, (1)
onde µ é o vetor das médias e σ o vetor dos desvios padrões. Sendo a média um nú-
mero positivo, observe em (1) que se o valor da variável aleatória xi for maior que a média,
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
74 75
yi é positivo, e se for menor yi é negativo. No presente trabalho, por questões didáticas, foi
considerado que todas as variáveis aleatórias apresentam distribuição normal.
Um clássico problema de confiabilidade pode ser definido como sendo um proble-
ma de otimização:
determine que minimize
f(x) = h(y) = (y1
2 + y2
2 +…+ yn2)0,5 (2)
sujeito à
g(x) = F(x) = 0 (3)
Neste problema, as componentes do vetor das variáveis de projeto são as variáveis
aleatórias x e F(x) é a função de performance que pode representar, na confiabilidade estru-
tural, a margem de segurança do sistema. O índice de confiabilidade é β = f(x*) = min f(x),
onde x* é a solução do problema definido pelas Equações (2) e (3). Quanto maior o valor de
β menor a probabilidade de falha. Observe que na Equação (2) o fato de yi ser positivo ou
negativo, tendo o mesmo valor absoluto, não interfere no resultado da equação. Este fato
pode gerar erros no cálculo de β.
Figura 1. Probabilidade de falha Pf em função do índice de confiabilidade β (Brasil e Silva, 2019)
Uma outra definição para o β é a utilizada no Processo de Monte Carlo, sendo:
β = µF/σF, (4)
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
76
onde µF e σF são, respectivamente a média e o desvio padrão da função de perfor-
mance F(x). No Processo de Monte Carlo é gerada uma grande quantidade de números,
aleatoriamente, para as variáveis aleatórias e a função F(x) é computada para cada conjunto
de dados gerado. Finalmente são computadas a média e o desvio padrão de F e com isso
calculado β. Observe agora que β pode ser tanto positivo quanto negativo. Um valor de β
negativo significa que o sistema tem mais de 50% de chance de fracasso, enquanto que
quando β é positivo o sistema tem menos de 50% de chance de fracasso. Existem situações,
quando a segurança da estrutura é baixa, por exemplo, onde β é negativo. Na Figura 1 é
mostrado um gráfico relacionando β com a probabilidade de falha.
Em resumo, β pode ser determinado tanto pela formulação das equações (2) e (3),
onde foi utilizado neste trabalho o método GRG, quanto pela formulação dada por (4), onde
se adotou o Processo de Monte Carlo para a resolução.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Considere um problema de uma barra (Figura 2) submetida a uma força de tração S (=
x1) e que possui uma resistência interna igual a R (= x2). Então a variável aleatória x1 é a força
atuante, enquanto que a variável aleatória x2 é a resistência do material, com distribuição
normal de probabilidade, conforme mostrado na Figura 3.
Figura 2. Barra submetida à tração
A função de desempenho é
F = R – S = x2 - x1 (5)
Figura 3. Problema onde S < R
Observe na Figura 3 que µ1 = 1,00 e µ2 = 2,65. Os valores de σ1 = σ2 = 0,5. As variáveis
reduzidas são calculadas pela expressão (1).
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
76 77
Resolvendo-se o problema descrito pelas equações (2) e (3), com o método GRG, com
os dados acima, tem-se que a solução ótima é
x* = [1,825 ; 1,825]T e y* = [1,65 ; -1,65]T. (6)
Com isso o valor de β é
β = [ 1,652 + (-1,65)2 ]0,5 = 2,333 (7)
e a probabilidade de falha associada é
Pf = 0,98%. (8)
Observa-se de (8) que o projeto apresenta uma certa segurança.
Resolvendo-se o mesmo problema com o Processo de Monte Carlo (MC), gerando
1.000.000 de projetos, obtém-se
µF = 1,65 e σF = 0,71 (9)
o que determina um valor de β igual a
β = µF/σF = 2,34 (10)
e a probabilidade de falha associada é
Pf = 0,96%. (11)
Comparando-se os resultados do GRG (7) e (8) com os do MC (10) e (11) observa-se
que os resultados são praticamente idênticos, convergindo para um mesmo valor. Neste
caso, é válido lembrar que a média da solicitação é menor que a média da resistência, por-
tanto obteve-se um projeto seguro.
Considere a mesma barra da Figura 2, sendo que as distribuições de probabilidade são
mostradas na Figura 4. Observe agora que µ2 (média da resistência) é menor que média da
solicitação µ1. Trocou-se as posições no gráfico da Figura 3.
Figura 4. Problema onde R < S
Observe na Figura 4 que µ1 = 2,65 e µ2 = 1,00. Considere que σ1 = σ2 = 0,5. As variáveis
reduzidas são calculadas pela expressão (1).
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
78
Resolvendo-se o problema descrito pelas equações (2) e (3), com o método GRG, com
os dados acima, tem-se que a solução ótima é
x* = [1,825 ; 1,825]T e y* = [-1,65 ; 1,65]T. (12)
Com isso o valor de β é
β = [ (-1,65)2 + 1,652 ]0,5 = 2,333 (13)
e a probabilidade de falha associada é
Pf = 0,98%. (14)
Observa-se de (14) que o projeto, nesta formulação, apresenta uma certa segurança.
Resolvendo-se o mesmo problema com o Processo de Monte Carlo (MC), gerando
1.000.000 de projetos, obtém-se
µF = - 1,65 e σF = 0,71 (15)
o que determina um valor de β igual a
β = µF/σF = - 2,34 (16)
e a probabilidade de falha associada é
Pf = 99,04%. (17)
Comparando-se os resultados do GRG (14) com o do MC (17) observa-se que os resul-
tados são totalmente discrepantes. Embora o valor absoluto de β seja o mesmo em ambos
os casos, eles apresentam sinais contrários, o que muda totalmente a probabilidade de falha
do modelo. É intuitivo que quando a média da resistência é inferior à média da solicitação,
que o projeto não é seguro e tem uma alta probabilidade de falha. Observa-se nesse caso
que a formulação dada pelas equações (2) e (3) não é adequada.
Considere uma estaca circular vazada, com diâmetro de 42 cm, parede de 9 cm,
armadura longitudinal de 8 barras de 12,5 mm (CA-50), com um d’ = 3,625 cm e fck = 40
MPa. O diagrama de interação dessa estaca é mostrado na Figura 5, sendo N a força axial
e M o momento fletor, com seus respectivos índices que indicam resistência ou solicitação,
conforme a NBR-6118 (ABNT, 2014).
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
78 79
Figura 5. Diagrama de interação com S < R
Em verde no gráfico (Figura 5) é mostrada a média da resistência, enquanto que em
vermelho é mostrada a média da solicitação. Observa-se que a resistência média é maior
que a solicitação média, o que indica um projeto com uma certa segurança.
Neste problema, considere que as variáveis aleatórias são Nsd (= x1) e Msd (= x2). Os va-
lores das médias e desvios padrões das variáveis aleatórias são µ1 = 110 kN, σ1 = 11 kN, µ2
= 85 kN.m e σ2 = 8,5 kN.m. Observe que neste caso
Mrd = Mrd (Nsd), (18)
ouseja, o momento resistente é uma função da solicitação axial. A função
de performance é
F = Mrd – Msd (19)
Resolvendo-se o problema descrito pelas equações (2) e (3), com o método GRG, com
os dados acima, tem-se que a solução ótima é
x* = [106 ; 100]T e y* = [-0,32 ; 1,77]T. (20)
Com isso o valor de β é
β = [ (-0,32)2 + 1,772 ]0,5 = 1,8 (21)
e a probabilidade de falha associada é
Pf = 3,6%. (22)
Observa-se de (22) que o projeto, apesar de apresentar um valor baixo para β, com-
parado com os indicados na literatura (Brasil e Silva, 2019) que é da ordem de 3, apresenta
uma certa segurança.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
80
Resolvendo-se o mesmo problema com o Processo de Monte Carlo (MC), gerando
1.000.000 de projetos, obtém-se um valor de β igual a
β = 1,8 (23)
e a probabilidade de falha associada é
Pf = 3,6%. (24)
Comparando-se os resultados do GRG (22) com o do MC (24) observa-se que os
resultados são idênticos. Neste caso, é válido lembrar que a média da solicitação é menor
que a média da resistência, portanto obteve-se um projeto seguro.
Considerando a mesma estaca, o diagrama de interação é mostrado na Figura 6.
Novamente em verde no gráfico é mostrada a média da resistência e em vermelho a mé-
dia da solicitação. Observa-se que a resistência média é menor que a solicitação média, o
que indica um projeto com uma segurança muito baixa e certamente com uma alta proba-
bilidade de falha.
Figura 6. Diagrama de interação com R < S
Neste problema, considere novamente que as variáveis aleatórias são Nsd (= x1) e
Msd (= x2). Os valores das médias e desvios padrões das variáveis aleatórias são µ1 = 70
kN, σ1 = 7 kN, µ2 = 120 kN.m e σ2 = 12 kN.m. Observe que neste caso também Mrd = Mrd
(Nsd) e que F = Mrd – Msd.
Resolvendo-se o problema descrito pelas equações (2) e (3), com o método GRG, com
os dados acima, tem-se que a solução ótima é
x* = [71 ; 95]T e y* = [0,18 ; -2,08]T. (25)
Com isso o valor de β é
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
80 81
β = [ 0,182 + (-2,08)2 ]0,5 = 2,09 (26)
e a probabilidade de falha associada é
Pf = 1,8%. (27)
Observa-se de (27) que o projeto apresenta uma certa segurança.
Resolvendo-se o mesmo problema com o Processo de Monte Carlo (MC), gerando
1.000.000 de projetos, obtém-se um valor de β igual a
β = - 2,09 (28)
e a probabilidade de falha associada é
Pf = 98,2%. (29)
Comparando-se os resultados do GRG (27) com o do MC (29) observa-se que os
resultados são totalmente discrepantes. Embora o valor absoluto de β seja o mesmo em
ambos os casos novamente, eles apresentam sinais contrários, o que muda totalmente a
probabilidade de falha do modelo. Em mais este exemplo observa-se que a formulação dada
pelas equações (2) e (3) não fornece resultados adequados quando a resistência é menor
que a solicitação.
CONCLUSÕES
Foram apresentadas no trabalho duas das principais formulações de problemas utiliza-
das para o cálculo da confiabilidade de sistemas estruturais, sendo a primeira baseada em
um problema de otimização, que foi resolvido aqui pelo método GRG (Generalized Reduced
Gradient). A segunda fundamenta-se na definição do índice de confiabilidade e foi resolvida
pelo Processo de Monte Carlo (MC). Mostrou-se através de dois exemplos resolvidos que a
formulação baseada no problema de otimização foi eficaz nos casos onde a solicitação era
menor que a resistência, porém ineficaz nos casos onde a resistência era menor do que a
solicitação, apresentando valores totalmente contrários à intuição e também à correta solu-
ção matemática do problema. Já o MC foi eficaz em ambas as situações e pôde computar
com bastante precisão os valores dos índices de confiabilidade. Com isso, conclui-se que a
utilização de métodos tais como o GRG e o FORM precisa ser cautelosa em problemas onde
se pode ter os valores de resistência menor que a solicitação. Em casos mais complexos
onde se possa ter muitas variáveis aleatórias pode-se perder a intuição de engenheiro para
a solução do problema, aumentando a chance de falha na aplicação da primeira formulação.
Sugere-se para futuros estudos explorar problemas com um grande número de variáveis de
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
82
projeto e também a comparação de mais métodos para se identificar padrões de comporta-
mento dos principais métodos de confiabilidade empregados.
AGRADECIMENTOS
O autor agradece aos Professores Jasbir S. Arora, da The University of Iowa, e
Reyolando M.L.R.F. Brasil, da UFABC, pelo apoio e dicas preciosas durante condução
deste trabalho. Grande parte desta pesquisa foi realizada na The University of Iowa com
Bolsa de Pesquisa no Exterior (BPE) fornecida pela FAPESP sob o número do processo
2018/11820-2, a qual foi recebida com muita gratidão.
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06
Avaliação de dinâmica de nível em
tanques em série
Camylla Renatha Queiroz Costa
UFCG
Emilly Tuany do Nascimento Silva
UFCG
Ruth Nóbrega Queiroz
UFCG
10.37885/210203183
https://dx.doi.org/10.37885/210203183
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
86
Palavras-chave: Tanques em Série, Controle de Nível, Matlab ®.
RESUMO
A avaliação de comportamento de tanques acoplados é de grande interesse industrial,
por normalmente estarem presentes em várias partes de diversos processos, como por
exemplo, em empresas petroquímicas, de celulose ou tratamento de água. Assim, como
toda boa atividade que envolve Automação e Instrumentação Industrial, o controle de
nível, quando utilizado de maneira criteriosa e planejada, reduz custos, aumenta a pro-
dutividade e contribui com a qualidade e a segurança da produção em que você trabalha.
Este trabalho busca modelar um sistema de tanques em série a partir das medições feitas
em uma unidade piloto do curso de engenharia química da UFCG. O projeto é constituído
por dois tanques em série, um reservatório de alimentação e uma bomba centrífuga que
é responsável pela alimentação do primeiro tanque. Para a modelagem do sistema foram
adotadas duas abordagens: a lei de Ohm e a primeira lei da termodinâmica aplicada a
sistemas abertos. A partir da análise dos resultados, observa-se a clara aderência dos
dados experimentais através de validação estatística.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
86 87
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o ensino de engenharia associado à pratica tornou-se uma metodo-
logia indispensável na motivação dos estudantes de graduação. No entanto, a maioria das
bancadas didáticas aplicáveis no ensino em nível de graduação, ou de pós graduação, é
muito cara ou possui uma arquitetura fechada de hardware e software. Além disso, o em-
prego exclusivo dessas bancadas suprime ao aluno a possibilidade de desenvolver uma das
características mais importantes do profissional de engenharia, a de projetar, acompanhar
e executar um projeto (COCOTA. et al, 2014).
Processos industriais usam com frequência tanques acoplados para várias finalidades,
como por exemplo, armazenamento e transporte de líquidos. Indústrias petroquímicas, de
celulose ou de tratamento de líquidos, costumam possuir processamento de líquidos por
química ou tratamento de misturas. Este processamento sempre precisa de um controle
criterioso sobre o nível do fluído, assim como regular o fluxo entre os tanques. O controle do
nível de líquidos é um problema comum, pois para realizar qualquer ação precisa-se saber o
nível dos tanques envolvidos, e no caso de transporte, o fluxo entre os tanques. Usualmente
os tanques são acoplados em conjunto de modo que os níveis de interação também devem
ser controlados na planta (LAUBWALD, 2015 apud ALPI, 2016).
OBJETIVO
• Utilizar a metodologia de aprendizado Problem Based Learning (PBL);
• Aplicar conceitos estudados nas disciplinas: termodinâmica, fenômenos de trans-
porte, dinâmica e estatística;
• Modelar um sistema de tanques em série;
• Avaliar o comportamento do sistema quando exposto a perturbações externas; Va-
lidar o projeto.
MÉTODOS
Funcionamento do sistema
A água é alimentada no reservatório abaixo dos tanques de nível, onde é levada para
a alimentação na parte superior do Tanque de Nível (1) a partir do trabalho realizado por
uma bomba. O Tanque de Nível (1) possui uma saída em sua parte inferior, cuja uma vál-
vula esfera controla, manualmente, a alimentação do Tanque de Nível (2). Este por sua vez,
possui uma válvula esfera controla o retorno do fluido para o reservatório de alimentação.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
88
O reservatório de alimentação contém uma bomba centrífuga que é responsável por
succionar o fluido que sai do reservatório, o qual retorna ao Tanque de Nível (1). A tubula-
ção de saída da bomba possui um Tê que divide a saída da bomba em um “By Pass” e a
alimentação do Tanque de nível (1).
A Figura 1 apresenta o diagrama do sistema de tanques em série.
Figura 1. Diagramade tanques em série.
Metodologia
Esse projeto foi executado por alunos de graduação do curso de Engenharia Química
da Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, baseado na metodologia
de aprendizado PBL (Problem Based Learning) na qual o aprendizado é centrado no aluno,
o qual deixa de ser o receptor passivo para ser o principal responsável pelo seu aprendiza-
do. O projeto foi executado com base em um sistema de dois tanques em série durante a
disciplina de Laboratório de Engenharia Química V.
Inicialmente, com o reservatório de alimentação em seu nível máximo, liga-se a bomba
com a válvula esfera totalmente aberta na saída da bomba. Após o enchimento do Tanque
de Nível (1), sua válvula de saída foi ajustada para assim iniciar o enchimento do Tanque
de Nível (2). Quando os níveis dos tanques atingem uma condição estacionária em relação
ao nível, mede-se o volume da saída do Tanque (2) à um tempo fixo de 5 segundos.
Após coleta dos dados, abriu-se a válvula By Pass e aguardou-se, novamente, os
níveis atingirem o estado estacionário, medindo-se as alturas dos tanques a cada minuto.
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88 89
Para assim, medir o volume de saída do Tanque (2). Repetiu-se esta etapa do experimento
para diferentes aberturas da válvula By Pass. A partir dos dados obtidos experimentalmente
realizou-se a simulação no software Matlab®. A Figura 1 apresenta o diagrama do sistema
de tanques em série.
Para a etapa de modelagem foram feitas a seguintes considerações:
• O sistema atua em estado estacionário;
• A pressão atmosférica é constante;
• O fluido é incompressível, tem massa específica constante;
• A temperatura é uniforme e constante;
• As resistências fluidas são lineares e constantes;
• Qualquer tanque tem cessão uniforme, de área constante;
• Os efeitos de inércia do fluido é igual a 0.
Desenvolvimento matemático - modelagem
O balanço de massa do sistema é definido como sendo:
(1)
Para os dois tanques o comportamento apresenta a seguinte característica:
(2)
Os modelos foram aprimorados em relação a vazão de saída, seguindo as duas abor-
dagens. A primeira abordagem parte da lei de Ohm, onde é possível fazer uma correlação,
pois a passagem dos fluxos de saída sofre uma resistência em função das válvulas. Então:
(3)
(4)
Já que o estado foi considerado estacionário, em alguns pontos a derivada é
nula. Dessa forma:
(5)
(6)
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
90
A segunda abordagem parte da primeira lei da termodinâmica aplicada a sistemas
abertos, que tem como base a equação de Bernoulli. A vazão é dado por:
(7)
Adotando K, como a constante de proporcionalidade, dessa forma, têm-se:
(8)
(9)
A equação que representa a variação do nível dos tanques com tempo é:
(10)
Para que a segunda abordagem tenha um melhor ajuste à realidade, foi considerado
a perda de carga pela tubulação de saída dos tanques:
(11)
(12)
RESULTADOS
No presente experimento, os dados de volume, altura e tempo de estabilização (te)
dos tanques foram obtidos em triplicata para um tempo fixo de 5 segundos, com o intuito de
minimizar possíveis erros experimentais e validar estatisticamente. Com os dados obtidos,
foi possível determinar a vazão, bem como, as constantes necessárias para as abordagens
mostradas anteriormente. Estes valores estão dispostos nas Tabelas 1, 2, 3 e 4, que repre-
sentam quatro tipos de casos analisados individualmente, conforme variação da abertura
da válvula By Pass.
Tabela 1. Caso 1: Válvula By Pass totalmente fechada
t(s) h1(m) h2(m) V(m3) Q (m3/s)
5 0,254 0,241 0,00096 0,000192
5 0,254 0,241 0,00094 0,000188
5 0,253 0,241 0,00092 0,000184
Em que, a vazão média Qmed= 0,000188 m3/s.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
90 91
Tabela 2. Caso 2: Válvula By Pass 1⁄2 aberta
t(s) h1(m) h2(m) V(m3) Q (m3/s)
5 0,230 0,210 0,00088 0,000176
5 0,230 0,210 0,00090 0,000180
5 0,230 0,209 0,00086 0,000172
Em que, a vazão média Qmed = 0,000176 m3/s.
Tabela 3. Caso 3: Válvula By Pass 1 aberta
t(s) h1(m) h2(m) V(m3) Q (m3/s)
5 0,178 0,139 0,00082 0,000164
5 0,178 0,137 0,00082 0,000164
5 0,178 0,135 0,00084 0,000168
Em que, a vazão média Qmed = 0,0001653m3/s.
Tabela 4. Caso 4: Válvula By Pass 1 + ¼ aberta
t(s) h1(m) h2(m) V(m3) Q (m3/s)
5 0,100 0,036 0,00066 0,000132
5 0,102 0,036 0,00068 0,000136
5 0,102 0,036 0,00066 0,000132
Em que, a vazão média Qmed = 0,000133 m3/s.
Para o primeiro modelo, a vazão de saída e a altura de líquido no tanque são relacio-
nadas pela seguinte relação:
(13)
Onde K é uma constante de proporcionalidade:
(14)
Como o sistema se encontra em estado estacionário (onde o que entra é igual ao que
sai), ou seja, em alguns pontos a derivada é nula. Dessa forma:
(15)
(16)
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92
A Tabela 5 contém os valores das constantes de proporcionalidade calculados para o
modelo de acordo com os dados obtidos experimentalmente.
Tabela 5. Valores de K1 e K2 para o primeiro modelo
Caso K1 K2
1 0,0007401 0,0007800
2 0,0007652 0,0008407
3 0,0009429 0,0012068
4 0,0013157 0,0037037
A avaliação gráfica do modelo 1 (altura dos tanques em função do tempo) e dos da-
dos obtidos experimentalmente, para cada abertura do by pass foi o utilizado o software
Matlab®. O Gráfico 1 está disposto a seguir.
Gráfico 1. Alturas em função do tempo para a primeira abordagem.
Para a segunda abordagem o modelo foi baseado na primeira lei da termodinâmica
em sistemas abertos, partindo da equação de Bernoulli.
(17)
A análise dos pontos segue a condição de estado estacionário onde qin = qout. Desta
forma, temos que as constantes de proporcionalidade são calculados pelas Eq. 18 e 19.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
92 93
(18)
(19)
Onde:
A Tabela 6 contém os dados necessários para os respectivos cálculos.
Tabela 6. Dados necessários para o cálculo dos coeficientes de descarga
Dados
Diâmetro 0,02398 m
Raio 0,01199 M
Área 0,000451636 m²
k 0,002000497
A Tabela 7 contém os valores dos coeficientes calculados para o modelo de acordo
com os dados obtidos experimentalmente.
Tabela 7. Valores de C1 e C2 para o segundo modelo
Caso C1 C2
1 0,186467544 0,191431
2 0,183447167 0,19229
3 0,197374224 0,223286
4 0,209375004 0,351277
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94
Gráfico 2. Alturas em função do tempo para a segunda abordagem.
Para um melhor ajuste do modelo à realidade, seria necessária a adição das perdas por
atrito no cálculo dos coeficientes de descarga. Foi realizado o cálculo do intervalo de con-
fiança para validar os modelos estatisticamente. Foi adotado um α de 5% (MONTGOMERY.
et al, 2003). Os gráficos abaixo apresentam o comportamento dos dados obtidos em relação
ao intervalo de confiança. Pelos gráficos pode-se observar que a parte estacionária está
dentro do intervalo.
Gráfico 3. Validação estatística dos modelos para intervalo de confiança de 95% (Tanque 1).
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94 95
Gráfico 4. Validação estatística dos modelos para intervalo de confiança de 95% (Tanque 2).
DISCUSSÃO
O sistema desenvolvido foi estudado por meio da aplicação de duas abordagens: Lei
de Ohm e Primeira Lei da Termodinâmica aplicada a sistemas abertos. A partir da análise
dos resultados, pôde-se perceber que os dados experimentais se ajustaram melhor ao mo-
delo proposto pela segunda abordagem, por este levar em consideração mais variáveis do
sistema, o que o torna mais fiel a realidade.
Com base no resultado obtido por meio da validação estatística conclui-se que os
dados no estado estacionário estão dentro do intervalode confiança de 95%, sendo estes
significativos, já no estado dinâmico apresentam leves discrepâncias, sendo essas possi-
velmente explicadas por falhas nas medições de alturas nos intervalos definidos, dados de
perdas por atrito, perdas localizadas e distribuídas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensino da teoria associado à prática é, sem dúvidas, uma metodologia indispensá-
vel na motivação de estudantes de graduação, formando novos profissionais mais motiva-
dos e mais humanizados, já que os estudantes podem ver de perto o resultado prático de
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
96
suas investigações, interlocuções de disciplinas e a troca de informações entre elas.Além
de estimular e desenvolver o trabalho em equipe e aumentar o senso de responsabilida-
de dos estudantes.
Este projeto abrange a aplicação de muitos conceitos e serve também como apren-
dizado para entender como estes conceitos se comportam na prática, e quais dificulda-
des podem surgir.
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A organização do posto de trabalho na
eliminação do erro humano: estudo de
caso no segmento de autopeças
Vitor de Araujo Rodrigues
UFSJ
Jorge Nei Brito
UFSJ/DEMEC
10.37885/210203263
Artigo original publicado em: 2020
Anais do XX CONEMI - Congresso Internacional de Engenharia Mecânica e Industrial
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98
https://dx.doi.org/10.37885/210203263
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Palavras-chave: Posto de Trabalho, Erro Humano, Falhas, Montagem Manual.
RESUMO
Neste trabalho apresenta-se uma abordagem da Manufatura de Classe Mundial, mais
especificamente do pilar de Organização do Posto de Trabalho, numa empresa do seg-
mento de autopeças de Minas Gerais, Brasil. O foco centra-se na aplicação do Passo 4
(Step 4) que consiste no treinamento das características do produto. A aplicação prática
se deu na concepção e desenvolvimento de um dispositivo à prova de falhas (Poka-Yoke).
Este dispositivo assegurou a eliminação dos erros humanos a um índice de 92% de
aprovação e ofereceu melhorias consideráveis no processo, principalmente nos métodos
de trabalho e condições ergonômicas. Os resultados foram apresentados em diversas
auditorias. Também foi avaliado por consultorias que aferiram a melhoria do processo
como uma boa solução. Os auditores aconselharam aplicar essa metodologia em outros
postos de trabalho.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
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INTRODUÇÃO
Tratar da organização do trabalho é saber separar entre o papel do fator humano e dos
métodos aplicados no processo produtivo em relação às máquinas e materiais envolvidos.
Deve-se ser cético quanto à decisão cara de uma automação precoce. Podem es-
tar envolvidos altos investimentos. Também pode-se requerer um acompanhamento da
mão de obra no que concerne aos conhecimentos para operar e lidar com novas tecnolo-
gias e sofisticação.
Por outro lado, a melhoria dos processos segue um fluxo lógico de incremento gradual.
Isso possibilita a adequação do treinamento às características do produto.
Segundo estudo de Tessarini Junior e Saltorato (2018) a automação por si só promove
substanciais ganhos de produtividade, mas não se livra de uma situação de desemprego
tecnológico futura, ainda que taxada como uma revolução.
A automação pode reduzir a mão de obra e os custos relacionados, mas em muitas
aplicações a enorme quantidade exigida de recursos pelos projetos de automação não pode
ser justificada somente pela economia de mão de obra. Assim como acontece com outros
fatores que afetam o projeto de processos de produção, o grau de automação apropriado
para a produção de um produto/serviço deve ser impulsionado pelas estratégias de ope-
rações da empresa.
Mariano (2020) discorre sobre as iniciativas de automação nas empresas, nas quais
são utilizados modelos operacionais para conduzir projetos, desde o alinhamento com as
áreas do negócio e concepção de oportunidades, até a implantação, operação e manutenção.
Assim sendo, é de extrema importância pontuar aqui que o presente estudo se apoia
numa abordagem enxuta de maior participação da mão de obra, ainda que focado na na-
tureza de suas falhas (naturais) no convívio com os métodos de produção de uma organi-
zação. Esta participação, apoiada aqui em um dos pilares clássicos do Sistema Toyota de
Produção, a autonomação, além da citada harmonização entre humanos e máquinas, dá
ao colaborador a capacidade de detectar anormalidades e, sobretudo, parar o processo e
resolver. Este dinamismo só é possível quando empresas têm uma cultura Kaizen, focali-
zando o objeto real (produto) do início à conclusão, ignorando as fronteiras tradicionais de
tarefas, profissionais e funções.
Cavalcanti (2019) apresenta que cada configuração de sociedade define seus critérios
de trabalho qualificado ou qualificação para o trabalho. A distinção entre qualificado e não-
qualificado é muitas vezes mais política e ideológica do que econômica e técnica pelo fato
da influência de fatores locais como sindicatos, condições de mercado e, aqui interpreto,
decisões da alta administração.
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Decerto, a decisão gerencial é baseada em diversos fatores e avaliada conforme o com-
promisso de gestão e da organização como um todo; a clareza dos objetivos, o cronograma
de melhorias; a alocação de pessoas e suas competências; tempo de atuação; orçamento;
detalhes de projetos, expansões e a própria motivação dos colaboradores.
O fator humano é o principal ativo da empresa, é nele que se encontram os agentes
da mudança, e o trabalho e o emprego estão no centro da vida humana em sociedade
(Collares, 2017).
DEFINIÇÃO DE MANUTENÇÃO
O significado de manutenção, de acordo com Lima e Castilho (2006) consiste em: “o
conjunto de atividades e recursos aplicados aos sistemas e equipamentos, visando garantir
a continuidade de sua função dentro de parâmetros de disponibilidade, de qualidade, de
prazo, de custos e de vida útil adequado”.
A definição formal do termo manutenção segundo a norma NBR 5462 (1994):
“Manutenção é a combinação de ações técnicas e administrativas, incluindo as de supervi-
são, destinadas a manter ou recolocar um item em um estado no qual possa desempenhar
uma função requerida”.
Segundo as definições supracitadas a manutenção é responsável por garantir que um
equipamento continue a desempenhar a função para a qual foi projetado dentro do desem-
penho exigido. As atividades de manutenção são realizadas para evitar a degradação dos
equipamentos e instalação causadas pelo desgaste natural quanto pelo mau uso.
Os equipamentos de uma planta desempenham um papel fundamental na produtividade
e qualidade dos produtos, uma vez que se esses não estão produzindo conforme projetados,
a competitividade da planta é colocada em risco. Sendoassim, a manutenção representa
um fator de importância muito grande quanto ao desempenho dos equipamentos e o geren-
ciamento eficaz da manutenção garante ganhos potenciais para a planta.
Muitos equipamentos dentro das empresas apresentam falhas intermitentes, que são
consertadas de maneira rápida pela manutenção. Entretanto, a manutenção pode desen-
volver melhorias nas condições iniciais dos equipamentos de forma a evitar a ocorrência de
novas falhas, gerando um aumento na produtividade.
Com o auge da Segunda Guerra Mundial e com a ascensão da indústria bélica, as
empresas deixaram de se preocupar em corrigir as falhas e passaram a dar mais importância
em como evitá-las. Após o fim da guerra, uma nova área organizacional surgiu e começou a
se desenvolver: a engenharia de manutenção, um departamento específico para gerenciar
e eliminar as falhas dos equiapementos (Otani e Machado, 2008). Com o nascimento desta
nova área, o foco da manutenção nas empresas se estabeleceu na prevenção.
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Segundo Diniz e Távora (2004), a manutenção preventiva teve origem nos Estados
Unidos e foi introduzida com sucesso no Japão na década de 1950.
INDICADORES DE PERFORMANCE
Os indicadores de manutenção são ferramentas desenvolvidas e utilizadas por gerentes
para identificar onde e quais melhorias devem ser implementadas no processo visando atingir
metas e destacar áreas onde o desempenho é satisfatório. Sendo assim, são instrumentos
de análise fundamentais para a avaliação do desempenho de uma planta.
A utilização de indicadores possibilita a definição das estratégias e políticas que per-
mitam alcançar os objetivos desejados da manutenção. Dessa forma, as ações são ade-
quadamente priorizadas e os recursos direcionados.
Os indicadores devem pertencer a todos da manutenção, além de ser claros e com
metas bem definidas. Um indicador coerente esclarece a todos os envolvidos quais são os
seus componentes, o método de cálculo e objetivo. A falha em definir apropriadamente os
indicadores pode distorcer os valores e levar a conclusões e priorização de esforços de
forma incorreta.
Os indicadores utilizados na manutenção devem ser apresentados em dados absolutos,
dados relativos, tabelas e gráficos e são selecionados de forma a serem capazes de apoiar
a capacidade de orientar, ordenar, diagnosticar, corrigir, melhorar de forma a alcançar os
objetivos estabelecidos pelas empresas.
Disponibilidade
Disponibilidade é a capacidade de um equipamento estar em condições de operar
em um dado instante de tempo ou intervalo determinado, ou seja, é a proporção do tempo
que o equipamento ficou disponível num dado intervalo de tempo. A disponibilidade de um
item não implica que o mesmo esteja funcionando, somente que o mesmo se encontra em
condições de funcionar (Diniz e Tavora, 2004).
A disponibilidade é apresentada graficamente por meio de uma evolução tempo-
ral. Proporcionar a disponibilidade dos equipamentos ou sistemas é o principal objeti-
vo da manutenção.
A disponibilidade (Up-Time), considerando somente manutenção corretiva, pode ser
calculada através da Equação 1, onde TOP é o Tempo de Operação e TMC é o Tempo de
Manutenção Corretiva.
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Tempo Médio Entre Falhas
O Tempo Médio Entre Falhas, do inglês Mean Time Between Failures (MTBF), é o
prazo médio que identifica o tempo de operação decorrido entre duas falhas de um item. É a
relação entre o tempo de operação programada, o tempo de manutenção corretiva e o nú-
mero de falhas detectadas em um item durante um período definido de tempo. O MTBF é
medido em unidades de tempo e é calculado segundo Equação 2, sendo n o número de
paradas corretivas.
Tempo Médio Para Reparo
O Tempo Médio para Reparo, do inglês Mean Time to Repair (MTTR) é o tempo mé-
dio necessário para desempenhar as operações de manutenção e é utilizado para estimar
o tempo de paralisação de um item para o reparo de uma falha. O MTTR é definido mate-
maticamente como a média aritmética dos tempos de reparo de um item. Esse indicador é
medido em unidades de tempo e calculado segundo a Equação 3, onde TTMC é o Tempo
Total de Manutenção Corretiva.
RESULTADOS
Uma empresa especializada em gestão de manutenção foi contratada por um fabricante
de peças automotivas para realizar a gestão e as atividades de manutenção de alguns se-
tores da planta. O software usado para o gerenciamento das ordens de serviço e histórico
da manutenção é denominado GDM (Sistema de Gerenciamento da Manutenção).
Uma das áreas mais críticas da planta industrial são as linhas de montagens, onde
paradas de longa duração representam grandes custos para a produção, afetando direta-
mente os resultados mensais. Por isso, um acompanhamento das mesmas se faz necessá-
rio para a realização de melhorias no design das máquinas e na resolução dos problemas
pela causa raíz.
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O acompanhamento é realizado tanto diariamente quanto mensalmente. Diariamente
são coletados os índices de disponibilidade das linhas de montagem e verificado se ele tem
a tendência linear de melhorar ou cair, Figura 1. Caso seja uma tendência linear negativa é
realizado um plano de ação para a melhoria do mesmo.
FIGURA 1. Acompanhamento diário da linha de montagem do veículo Punto.
Fonte: Autor (2020).
No acompanhamento mensal é verificado o Up-Time acumulado do mês de todas as
linhas de montagem, Figura 2.
FIGURA 2. Up-Time das montagens no mês de junho.
Fonte: Autor (2020).
Depois de verificar a pior linha de montagem, com relação a disponibilidade mensal,
é feito um desdobramento da linha para identificar a máquina mais crítica da operação de
montagem, Figura 3.
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FIGURA 3. Desdobramento de Quebras na Linha por Operação da montagem de veículo Punto.
Fonte: Autor (2020).
Com a identificação da linha de montagem e da operação é possível achar o compo-
nente que apresentou maior problema no mês e fazer o estudo da causa raíz, Figura 4.
FIGURA 4. Componente com maior quebra.
Fonte: Autor (2020).
A caneta de medição instalada na máquina é um Poka-Yoke para verificar o ponto P do
produto. Com a realização de vários ciclos, a caneta sai do lugar gerando reprovação em
componentes bons. Foi confeccionado um dispositivo para melhorar a eficiência do Poka-
Yoke. Foi feita a troca da base da caneta de posição aumentando a disponibilidade da mes-
ma. Nas Figuras 5 e 6 tem-se a operação 50 antes e depois da melhoria, respectivamente.
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FIGURA 5. Operação 50 antes da melhoria.
Fonte: Autor (2020).
FIGURA 6. Instalação do dispositivo na Operação 50.
Fonte: Autor (2020).
Em Julho, foi acompanhado novamente a linha da montagem 310 para verificar se o
problema havia sido realmente solucionado.
Na Figura 7 pode-se perceber que a operação 50 teve 10 quebras comparadas com
14 do mês anterior. Esse número, apesar de ter diminuído, ainda continua alto visto que a
melhoria foi realizada somente na metade do mês de Julho.
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FIGURA 7. Acompanhamento da Montagem 310.
Fonte: Autor (2020).
No mês de Julho, a montagem 310 ainda apresentou uma operação com grande
número de paradas de manutenção corretiva, Figura 7. Na Operação 10, o componente
que mais apresentava falha era o de sustentação do coxim, devido ao alto número de ciclo
realizado na máquina o anel o-ring que garantia a suspensão do coxim se rompia, conforme
mostrado na Figura 8.
FIGURA 8. Quebras na Operação 10.
Fonte: Autor (2020).
No mês de Julho, foi possível realizar a troca do anel o-ring no mecanismo de sustenta-
ção do coxim por outro que tivesse maior durabilidade. O anel o-ring original era de plástico,
Figura9, e foi substituído por outro de aço, Figura 10. O anel de aço tem alta propriedade
elástica e apresentou a mesma eficiência do anel de plástico travando o componente so-
mente após o mesmo ser fixado no coxim.
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FIGURA 9. Anel o-ring de plástico.
Fonte: Autor (2020).
FIGURA 9. Anel o-ring de metal.
Fonte: Autor (2020).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A condição de zero defeitos envolve a realização de cinco perguntas: 1) O método está
claramente definido? 2) É possível seguir o padrão como descrito? 3) O método é efetivo?
4) O padrão é visível e claro? 5) O padrão está atualizado?
Para cada fase de implantação foi monitorado os scores que permitiu a implantação do
SOP (Standard Operation Procedure). Trata-se de um método detalhado e com padrão visual
que garante que todos os operadores possam obter o mesmo resultado. É um padrão fácil de
seguir, de ler e entender. Além de disposto em local adequado e revisado frequentemente.
Através do SOP alcançou-se um score de 92% de peças conformes, atingindo o ob-
jetivo de reduzir drasticamente o índice de defeitos nas operações de montagem. Além
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disso, o benefício final de mais de U$50.000/ano, o que deu ao projeto um Benefício/Custo
na ordem de 9,20.
Outro ganho significativo foi o índice FTQ (First Time Quality) que subiu consideravel-
mente indicando que os refugos diminuíram, assim como os retrabalhos.
Como atuação de melhoria contínua, foi sugerida uma semi-automatização e incremen-
tos no dispositivo de modo que haja mais sensores tornando-o robusto e capaz de garantir
sua plena aplicabilidade em todas as famílias de produtos.
A complexidade tecnológica vem crescendo rapidamente. Há também uma lacuna
cultural crescente entre ela e sua compreensão e assimilação. Isto, possivelmente, explica
alguns erros humanos. O importante é entender que são fatores que se complementam e
se auxiliam mutuamente.
Não basta examinar somente as ferramentas, técnicas, métodos e tecnologias que as
pessoas devem usar para executar o trabalho. Assim, volta-se à questão de treinamentos
e formação do operador como forma de trabalhar os motivos, desenvolver capacidades e
compartilhar conhecimentos. Agindo assim, cria-se um repertório de comportamentos. A in-
formação, a partir daí, juntamente com suportes ambientais, flui através dos instrumen-
tos e benefícios.
Esta é a visão de Teixeira (2001) e da OECD (1996). Eles esclarecem que dado um
elevado perfil de qualificação da mão de obra, são necessárias ações como: 1) Sistemas
de recompensas que premiam a qualificação e o desempenho; 2) Treinamento intensivo e
extensivo 3 3) Segurança no emprego e esquemas de promoção por mérito e antiguidade.
Assim é possível uma High Performance Work Organization com colaboradores mo-
tivados e compromissados com o trabalho e a empresa.
REFERÊNCIAS
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉNICAS. NBR5462 – Confiabilidade e Mantena-
bilidade. Rio de Janeiro, ABNT, 1994.
2. CAVALCANTI, T. S. Programa de aprendizagem profissional: um estudo da relação juventude
e trabalho na região leste fluminense do estado do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Educação. Rio de
Janeiro, 2019, 123 f.
3. COLLARES, L. V. O resgate da dignidade do trabalhador: da produção de fast fashion à rein-
trodução da produção artesanal. Faculdade de Direito, UFRGS, 2017.
4. DINIZ, M. V. e TAVORA, J. L. Avaliação da implementação do STP/MPT: estudo de caso em
uma empresa multinacional. Florianópolis: XXIV ENEGEP, 2004.
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108 109
5. LIMA, F. A. e CASTILHO, J. C. Aspectos da manutenção dos equipamentos científicos da
Universidade de Brasília. Brasília: FACE, 2006.
6. MARIANO, A. F. Automação robótica de processos: uma análise sobre a governança de RPA
para grandes empresas. Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de
São Paulo, 2020.
7. OECD. Technology, Productivity and Job Creation.Paris: Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico, 1996.
8. OTANI, M. e MACHADO, W. V. A proposta de desenvolvimento de gestão da manutenção
industrial na busca da excelência ou classe mundial. Revista Gestão Industrial, Ponta Grossa,
v. 4, n.2, p. 1-16, 2008.
9. TEIXEIRA, F. L. C. Tecnologia, organizações e produtividade: lições do paradoxo de Solow.
Revista de Economia Política 21.2 (2001): 82
10. TESSARINI, J. e SALTORATO, Patrícia. Impactos da indústria 4.0 na organização do trabalho:
uma revisão sistemática da literatura. Revista Produção Online. Florianópolis, SC, v. 18, n. 2,
p. 743-769, 2018.
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Avaliação da Qualidade de Vida no
Trabalho baseado no Modelo de
Walton em uma empresa de reforma
de transformadores
Marcos Meurer da Silva
UFGD
Higor Henrique Clemente
UFGD
Marcos Barbosa Silvino
UFGD
Marcelo Vasconcelos de Almeida
UFGD
10.37885/210203330
Artigo original publicado em: 2016
VI COBREPRO - Congresso Brasileiro de Engenharia de Produção
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98
https://dx.doi.org/10.37885/210203330
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Palavras-chave: QVT, Modelo de Walton, Qualidade de Vida.
RESUMO
A qualidade de vida no trabalho tem mostrado fundamental importância para as empre-
sas, ao passo que o trabalhador constitui o mais importante fator. Sendo assim, avaliar o
nível de satisfação do colaborador se faz necessário, a medida que o mesmo influencia
significativamente no desempenho da organização. O presente trabalho tem por objetivo
avaliar a qualidade de vida no trabalho em uma pequena empresa de reforma de trans-
formadores e construção de rede elétrica situada na cidade de Dourados – MS. Para este
fim, utilizou-se um questionário baseado no modelo de Walton, com o objetivo de obter
informações pertinentes a respeito da satisfação dos trabalhadores que permitisse tal
avaliação. Com os resultados dos questionários foram analisadas as oito dimensões do
modelo de Walton separadamente com o intuito de identificar pontos críticos em relação
à satisfação do colaborador.
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INTRODUÇÃO
As organizações cada vez mais tem buscado aumentar a produtividade em um cenário
competitivo, mediante a isso, o trabalhador tem relevante influencia neste processo, dado
que é um dos principais recursos produtivos.
A satisfação profissional contribui no desempenho e rendimento da empresa. Desta
maneira, questões motivacionais e perspectivas de crescimento influenciam no ambien-
te de trabalho, afetando diretamente a eficiência e eficácia das atividades realizadas pe-
los funcionários.
Com o intuito de avaliar a satisfação do trabalhador faz-se necessário um estudo so-
bre a qualidade de vida no trabalho (QVT). A qualidade de vida é “o conjunto das ações de
uma empresa que envolve a implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnologias
e estruturais no ambiente de trabalho”. (FRANÇA, 1996).
Segundo Barbosa (2016) a Qualidade de Vida no Trabalho tem princípios intimamen-
te relacionados com a saúde do trabalhador, abrangendo questões psicológicas, físicas e
ambientais ligadas ao desempenho das atividades na organização.
“QVT refere-se às condições favoráveis ou desfavoráveis de um ambiente de trabalho
para as pessoas. O objetivo básico é desenvolver cargos que sejam tão excelentes para as
pessoas como para a produção” (DAVIS, 1981, p.286).
O QVT enfatiza o sucesso da organização, evidenciando os procedimentos e as ade-
quações da gestão. Deste modo, a participação coletiva dos trabalhadores é importante para
humanizar o trabalho, sendo necessário para este feito, condições trabalhistas favoráveis
(BARBOSA, 2016).
Portanto,de acordo com Fernandes (1996), a ferramenta de QVT pode auxiliar a or-
ganização no processo de renovação de ações gerenciais relacionadas ao trabalho, propor-
cionando e elevação do nível de satisfação dos funcionários, assim como, a produtividade
da empresa, a partir da efetiva participação de todos os envolvidos nos processos relacio-
nados ao trabalho.
Assim, este artigo tem como objetivo avaliar a qualidade de vida no trabalho dos fun-
cionários de uma empresa de reforma de transformadores e construção de rede elétrica,
situada no município de Dourados – MS, a partir da aplicação do questionário baseado no
modelo de Walton.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
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REFERENCIAL TEÓRICO
A qualidade de vida no trabalho remota a antiguidade, mas foi em meados do século
XX, que surgiu a abordagem do QVT. A evolução da qualidade de vida no trabalho está
exposta no quadro 1.
Tabela 1. Evolução da Qualidade de vida do trabalho
1930 - Escola das Relações humanas Teve origem por volta de 1930 com a necessidade da administração de huma-
nizar e democratizar, com uma abordagem humanística (CHIAVENATO, 2003).
Escola Comportamental
Escola comportamental: é um desdobramento da Escola das relações huma-
nas, que surge no final da década de 1940. Preocupa-se com o comporta-
mento das pessoas e comportamentos organizacionais. (CHIAVENATO, 2003)
1950 – Origem do QVT
Com o surgimento da abordagem sociotécnica por volta de 1950, sendo a
organização como uma combinação de tecnologia com um sistema social.
(CHIAVENATO, 2003)
1960 – Preocupação com os trabalhadores Surgimento de líderes sindicais, na busca de melhorar a forma de trabalho
e reduzir os efeitos no bem estar dos trabalhadores. (FERNANDES, 1996).
1970 - Qualidade pessoal
“Discussões de qualidade pessoal como parte dos processos de qualidade
organizacional através das ideias dos gurus da qualidade, Juran e Deming”.
(FRANÇA,
2004, pg. 27).
1980 – Participação global Maior participação do trabalhador nas decisões da empresa, com o intuito
de tornar o trabalho mais humanizado (OLIVEIRA, 2006).
1990 – Saúde na organização
Para Oliveira (2006) o QVT passa a ser necessário na organização, e não mais
um modismo. “O QVT tornou-se foco de programas que estudam os fatores
da saúde do trabalhador na organização, resgatando valores ambientais e
humanísticos negligenciados em favor do avanço tecnológico”. (BURIGÓ,
1997, pg.94)
Hoje
Baseia-se de acordo com Oliveira (2006) em atender todas as necessidades
psicossociais dos trabalhadores, com o intuito de aumentar a satisfação
no trabalho.
Fonte: Adaptada de Merino (2000)
Em vista do que foi mencionado, o objetivo do QVT é homogeneizar as relações de
trabalho na organização, no qual está em constante busca (OLIVEIRA, 2006). Sendo as-
sim, deve-se “manter uma relação entre produtividade e a satisfação do trabalhador no seu
ambiente de trabalho”. (MERINO, 2004, p.17-31 apud OLIVEIRA, 2006, p.31).
Para avaliação de QVT vários modelos foram desenvolvidos ao longo dos anos. Dentre
os principais autores destacam-se os modelos desenvolvidos por Walton (1973), Hackman
e Oldham (1975), Westley (1979), Werther & Davis (1983) e Nadler e Lawler (1983).
Neste artigo utilizou-se o modelo proposto por Walton. Segundo Chiavenato (2002),
para Walton existem oito dimensões da Qualidade de Vida no Trabalho:
Compensação justa e adequada: Coerência da remuneração praticada pela organi-
zação (interno) e pelo mercado de trabalho (externo).
Condições de segurança e saúde no trabalho: Adequação do ambiente de trabalho
de modo a proporcionar condições favoráveis ao desempenho das atividades do trabalhador.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
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Utilização e desenvolvimento de capacidades: Promover oportunidades para uti-
lização do conhecimento e habilidade do funcionário, de modo a incentivar a autonomia e
contínua busca de conhecimento acerca da atividade desenvolvida.
Oportunidade de crescimento contínuo e segurança: Possibilitar a ascensão da
carreira dentro da organização, proporcionando um crescimento individual e de certa forma
uma estabilidade profissional.
Integração social na organização: Retirada de políticas hierárquicas da organização,
facilitando o relacionamento interpessoal do colaborador com as demais áreas da empresa.
Constitucionalismo: Elaboração de normas e regras com as obrigações e direi-
tos do trabalhador.
Trabalho e espaço total de vida: A jornada de trabalho não deve ser em demasia de
maneira a não interferir na vida pessoal e familiar do funcionário.
Relevância social de vida no trabalho: Realizar ações que despertem orgulho no
trabalhador, atuando de forma a estabelecer uma imagem consolidada da empresa em re-
lação às práticas administrativas.
METODOLOGIA
Para Gil (2002) a pesquisa tem um aspecto pragmático e racional que por meio de um
conjunto de medidas, tem a finalidade de descobrir respostas para um problema em questão.
Entretanto, as pesquisas assumem diferentes classificações de acordo com o interesse do
pesquisador e das variáveis a serem analisadas. As classificações mais comuns são em
relação à natureza da pesquisa, abordagem do problema, objetivo e procedimento técnico.
Quanto à natureza, a pesquisa deste trabalho pode ser classificada como aplicada.
Segundo Silva e Menezes (2005) a pesquisa aplicada consiste em adquirir conhecimento
para realizar a aplicação prática e dirigida à solução da problemática estudada.
Para Silva e Menezes (2005) a pesquisa quanto à abordagem do problema pode ser
qualitativa ou quantitativa. A abordagem qualitativa baseia-se na interpretação de fenômenos
subjetivamente aos olhos do pesquisador, não se utilizando de ferramentas estatísticas. Para
os mesmos autores a abordagem quantitativa remete a tudo que pode ser transformado em
valores numéricos.
Este trabalho pode ser classificado como uma combinação de pesquisa qualitativa e
quantitativa, pois se baseia na aquisição de informações não numéricas por meio de questio-
nários e entrevistas, ao passo que, se faz uso de ferramentas estatísticas para apresentar os
dados em forma de gráficos facilitando a compreensão e avaliação das variáveis observadas.
Quanto ao objetivo foi classificada como pesquisa descritiva. Para Gil (2002) a pes-
quisa descritiva é uma técnica muito utilizada para coleta de dados de um grupo, utilizando
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
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questionários e a observação sistemática, com o intuito de analisar levantamento de opiniões,
condições de trabalho, atitude e crença de uma comunidade. A principal função da pesquisa
descritiva é relatar as características de determinada população.
Dentre aos tipos de pesquisa em relação aos procedimentos técnicos, caracteriza-se
a pesquisa como um levantamento. De acordo com Gil (2002) o levantamento é uma pes-
quisa que envolve a solicitação de informações pertinentes ao assunto abordado, tendo
como característica a interrogação direta das pessoas, para em seguida obter conclusões
dos dados adquiridos através da análise quantitativa.
Para o levantamento de dados fez-se uso da aplicação de questionários baseado no
modelo de Walton. Considerando as oito dimensões da qualidade de vida no trabalho, o ques-
tionário foi composto 35 perguntas objetivas possuindo cinco alternativas para cada, sendo
elas: Muito insatisfeito (1), insatisfeito (2), indiferente (3), satisfeito (4) e muito satisfeito (5).
O questionário foi aplicado a quatro funcionários da empresa. Os mesmos responderam
sem a interferência de terceiros, além disso, não se identificaram no questionário, mantendo
as respostas anônimas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com dados do questionário foi possível quantificar o percentual de satisfação dos
funcionários em cada dimensão, utilizando-se gráficos que representam tais informações,
auxiliando na identificação de pontos críticos nas dimensões analisadas.
De maneira geral,o gráfico a seguir mostra o percentual total em relação às respostas
dadas pelos funcionários. De acordo com o gráfico, notou-se que 10% das repostas obtidas
dos funcionários demonstraram-se que estão muito satisfeito em relação ao trabalho, 60%
das respostas foram satisfeito, 25% como indiferente, 5% evidenciou-se insatisfeito e 0%
como muito insatisfeito.
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Gráfico 1. Percentual total de níveis de satisfação
Fonte: Autores, 2016
Com relação a cada uma das dimensões da qualidade de vida do trabalho, foi elaborada
a mesma representação gráfica, sendo então avaliada cada uma delas separadamente, de
maneira a identificar aspectos que influenciam os níveis de satisfação dentro da organização.
Quanto à compensação justa e adequada, por meio da observação das respostas ob-
tidas, pode ser verificado que 88% das respostas dos questionários estão como satisfeito,
evidenciando o contentamento com a compensação entre trabalho e remuneração. Conforme
o gráfico abaixo.
Gráfico 2. Níveis de satisfação em relação à compensação justa e adequada
Fonte: Autores, 2016
Considerando a dimensão utilização e desenvolvimento de capacidades, foi observado
que 21% das respostas obtidas dos funcionários foram indiferente e 79% foram satisfeito
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
116 117
com a autonomia, relevância, desempenho e polivalência do trabalho realizado. Sendo as
atividades realizadas serem classificadas como simples de fácil execução, boa parte ou se
consideraram satisfeito ou indiferente.
Gráfico 3. Níveis de satisfação em relação à utilização e desenvolvimento de capacidades
Fonte: Autores, 2016
No que se refere à integração social na organização, pode-se constatar que existe
um bom relacionamento entre os colaboradores da empresa. Podendo ser ilustrado pelo
gráfico a seguir.
Gráfico 4. Níveis de satisfação em relação à integração social na organização
Fonte: Autores, 2016
Com base na pesquisa notou-se que a empresa tem respeito para com o trabalhador
e seus direitos, salientando a sua liberdade de expressão e individualidade no que se refere
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
118
ao ambiente de trabalho. Obteve-se a porcentagem de respostas de 58% satisfeito, 25%
indiferente e 17 % muito satisfeito como mostrado no gráfico abaixo.
Gráfico 5. Níveis de satisfação em relação ao constitucionalismo
Fonte: Autores, 2016
Com relação ao espaço de trabalho e espaço total de vida, a empresa não interfere na
vida dos funcionários, como por exemplo, preocupações com trabalhos extras, além disso, a
empresa possui turnos adequados de horários. Os resultados das respostas obtidas podem
ser visualizados no gráfico a seguir.
Gráfico 6. Níveis de satisfação em relação ao trabalho e espaço total de vida
Fonte: Autores, 2016
Quanto a esta dimensão observou-se vários pontos positivos no que se refere à rele-
vância social de vida no trabalho, isso pode ser decorrente do orgulho que o mesmo sente
pela atividade realizada e qualidade do serviço prestado, e ainda pela forma que a empresa
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
118 119
se relaciona com os recursos humanos, visto que 47% das respostas foram muito satisfeito,
37% satisfeito e 16% indiferente.
Gráfico 7. Níveis de satisfação em relação à relevância social de vida no trabalho
Fonte: Autores, 2016
Nesta dimensão 19% das respostas foram como sendo insatisfeito, isso pode ser pelo
fato de haver pouca oportunidade de crescimento devido a ser uma empresa de pequeno
porte, não sendo oferecidos incentivos, causando a insatisfação dos funcionários. Cerca
de 37% das respostas foram indiferente, mostrando a pouca preocupação quanto a fatores
relacionados a essa dimensão. De acordo com o gráfico a seguir.
Gráfico 8. Níveis de satisfação em relação à oportunidade de crescimento contínuo e segurança
Fonte: Autores, 2016
No que diz respeito às condições de segurança e saúde no trabalho foi observado
uma maior insatisfação quanto à jornada de trabalho semanal e o cansaço gerado pelas
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
120
atividades realizadas representando 12% das respostas. Cerca de 25% das respostas fo-
ram indiferentes, sendo os pontos relevantes a despreocupação em relação a segurança,
podendo ser na visão dos funcionários como atividades que não oferecem riscos. Já 63%
das respostas obtidas são satisfeito quanto a questões como insalubridade e tecnologias
empregadas no trabalho.
Gráfico 9. Níveis de satisfação em relação às condições de segurança e saúde no trabalho
Fonte: Autores, 2016
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo possibilita concluir que a avaliação de qualidade de vida do trabalhador é
essencial para compreender os fatores que influenciam na satisfação profissional e pessoal,
afetando diretamente o ambiente de trabalho e consequentemente a produtividade, eficiência
e questões psicofisiológicas.
Com os dados obtidos, foi possível identificar os principais problemas da empresa em
relação à qualidade de vida dos funcionários que estão atreladas às condições de trabalho
e oportunidades no trabalho.
Em relação às condições do trabalho pode-se recomendar uma análise mais pro-
funda com utilização de outras ferramentas como análise ergonômica para identificar pro-
blemas relacionados ao conforto ambiental, posturas do trabalhador e levantamento de
cargas. Na oportunidade de trabalho pode-se estabelecer parcerias com escolas técnicas
para oferecer treinamentos e capacitação aos funcionários, promovendo a valorização pro-
fissional e intelectual.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
120 121
A aplicação do modelo de questionário permitiu uma avaliação da qualidade de vida no
trabalho, possibilitando a identificação de possíveis lacunas, e consequentemente, caminhos
de prováveis melhorias na satisfação do colaborador.
REFERÊNCIAS
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v.4, n.1, p.27- 37, 2016. Disponível em: <http://www.firb.br/editora/index.php/interatividade/
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Florianópolis, v.15, n.22, 90-110, 1997. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/
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295 f. Tese (Doutorado em Administração) – Faculdade de Economia, Administração e Con-
tabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.
8. FRANÇA, Ana Cristina Limongi. Qualidade de vida no trabalho – QVT. São Paulo: Atlas.
2004. 217p.
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11. HACKMAN, Richard J. e SUTTLE, Lloyd J. Improving Life at work: behavioral Science appro-
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vista de Ciências Gerenciais. Anápolis, v. 13, n. 16, 50-62, 2008. Disponível em: http://www.
pgsskroton.com.br/seer/index.php/rcger/article/view/2642/2512. Acesso em: 7 jun. 2016.
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Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
122
15. OLIVEIRA, Alizandra Cristina de. Qualidade de vida no trabalho segundo o modelo Walton:
um estudo de caso frente à percepção dos funcionários da imperador calçados. 2006. 91 f.
Trabalho de conclusão de curso – Universidade Do Vale do Itajaí, São José, 2006.
16. SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e elaboração
de dissertação. 4.ed. rev. atual. Florianópolis: UFSC, 2005.
09
Estudo da atenuação de sinal de
vazamento em tubos de pvc com
longarinas metálicas longitudinais
Luis Paulo Morais Lima
UNESP
Amarildo Tabone Paschoalini
UNESP
Márcio Antônio Bazani
UNESP
Vinícius Alberto Trench da Costa
UNESP
10.37885/210203343
https://dx.doi.org/10.37885/210203343
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
124
Palavras-chave: Propagação de Ondas, Casca Cilíndrica Enrijecida, Detecção de Vazamentos.
RESUMO
A água potável é um recurso indispensável e, por isso, é importante que se evite desper-
dícios por quaisquer causas, dentre elas, vazamento em redes de distribuição. Porém,
a detecção de vazamento em tubulações subterrâneas é dificultada devido ao material
plástico do qual geralmente são feitos os tubos. Isso porque este material atenua as
ondas mecânicas geradas pelos vazamentos e que servem, justamente, de sinal para
que se possa detectá-los e localizá-los. Este trabalho propõe um novo tipo de tubo para
reduzir o efeito natural, porém indesejável, da atenuação. Trata-se do mesmo tubo de
plástico acrescido de longarinas metálicas longitudinais que tem a função não de enrije-
cê-lo, mas de serem meios menos atenuantes para as ondas mecânicas. Esta proposta
foi modelada matematicamente acoplando-se uma casca cilíndrica fina a uma viga que
transmite ondas de flexão e compressão. As equações de movimento para uma longarina
acoplada ao tubo foram obtidas e, a partir delas, foi determinada a relação de dispersão
do sistema, a qual foi usada para avaliar a atenuação do novo tubo. Simulações numé-
ricas usando o Método dos Elementos Finitos foram feitas para validar os resultados
teóricos sem preencher o tubo com água. Os resultados do modelo mostraram uma
melhora bastante expressiva para ondas longitudinais na casca, com redução de 96%
da atenuação. Esta predição, entretanto, está superestimada devido a uma limitação do
modelo, que não admite transmissão de energia entre a casca e as longarinas, a qual
resultaria em mais atenuação.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
124 125
INTRODUÇÃO
Sistemas de distribuição de fluido são empregados nos mais diversos meios de produ-
ção e para os mais diversos fins, seja para transportar matérias-primas brutas, subprodutos
ou até mesmo produtos finais. Evitar desperdício nos tubos e dutos é, portanto, de muita
importância para reduzir custos econômicos além extremamente importante para preservação
ambiental. Porém, quanto maior o sistema de distribuição, e quanto mais difícil o acesso a
ele, mais trabalhoso é a inspeção, detecção de falhas e manutenção. Um exemplo bastante
importante são sistemas de distribuição de água potável em centros urbanos, os quais são
quase completamente subterrâneos e, mesmo assim, ainda sofrem com alto volume de per-
das. Dentre as técnicas de detecção de vazamento, algumas usam o ruído sonoro gerado
pelo próprio vazamento ou seus efeitos sobre outras ondas mecânicas para detectá-lo e
localizá-lo Puust et al. (27). lista várias dessas técnicas vibro acústicas, sendo algumas de-
las: leak reflection method (método de reflexão de vazamento), que usa a reflexão de ondas
causada pela presença de um vazamento na tubulação; impulse response analysis (análise
de resposta ao impulso), que quantifica o amortecimento de uma onda transiente no tubo
e o compara com um caso sem vazamento; ground penetrating radar (radar penetrante na
terra), que usa ondas de radar refletidas pelas diferentes camadas e elementos presentes
no solo; leak noise correlators (correlaciona- dores de ruído de vazamento), que identifica e
localiza um vazamento correlacionando o ruído gerado por ele, e que foi medido em pontos
distintos da tubulação, como mostrado na Figura 1. Dentre estas técnicas, as duas primeiras
podem não ser viáveis para tubulações subterrâneas, pois exigem que ela seja excitada de
uma forma específica para geração de uma onda transi- ente, enquanto que a eficácia das
outras duas depende fortemente das propriedades do solo e da tubulação. À exceção da
técnica de radar penetrante, as demais são também limitadas pela atenuação dos sinais
medidos na tubulação, que é causada tanto pelo material do tubo quanto pelo meio em que
ele se encontra, como o solo.
Como a atenuação de ondas mecânicas é inerente ao meio em que elas se propagam,
e de- pende tanto do tipo de onda quanto da perda de energia no próprio material (16), este
trabalho propõe uma modificação nos tubos de plástico comumente usados: acrescentar-se
ao tubo um elemento metálico longitudinal -uma longarina, pois, sabidamente, o metal atenua
vibração bem menos que o plástico. Esta abordagem é original, em primeiro lugar, porque
em Vibrações Mecânicas e Propagação de Ondas não é usual tentar reduzir a atenuação,
mas, pelo contrário, aumentá-la, como em sistemas de isolamento acústico. Em segundo
lugar, apesar de já existirem tubos de plástico com elementos metálicos bastante usados
em aplicações de Engenharia Civil, o metal é tratado como reforço estrutural, e longarinas
longitudinais raramente são usadas, sendo preferível reforços circulares ou helicoidais.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
126
OBJETIVO
Fazer uma investigação inicial do comportamento de ondas mecânicas num tubo de
plástico acrescido de longarinas metálicas longitudinais no vácuo. O objetivo principal, por-
tanto, é desenvolver um modelo matemático que descreva este sistema. De forma específi-
ca, quer-se: 1) descrever o novo tipo de tubo por meio de suas equações de movimento; 2)
obter sua relação de dispersão de ondas na faixa de frequência característica do vazamento
de água, e; 3) comparar os resultados da nova relação de dispersão com os obtidos em
simulações numéricas usando o Método dos Elementos Finitos.
MÉTODOS
Este trabalho investiga as características de propagação de onda de um tubo de plás-
tico acrescido de longarinas metálicas longitudinais. O tubo é representado por uma casca
cilíndrica fina e as longarinas são vigas acopladas à casca, como mostrado na Figura 1.
Este tipo de sistema é conhecido como casca cilíndrica longitudinalmente enrijecida e é
amplamente utilizado em estruturas navais ou de aeronaves (24). Porém, na maior parte
das aplicações e, consequentemente, na maior parte dos trabalhos publicados a respeito
deste tipo de casca, saber as frequências naturais e os modos de vibração do sistema já é
suficiente, o que não é o caso deste, pois precisamos descrever a propagação de ondas,
e não vibração estacionária.
A abordagem usada foi inspirada nos trabalhos de Miller (24) e Rinehart e Wang (28).
Estes autores usam Mecânica Lagrangiana para desenvolver o auto problema de uma casca
cilíndrica finita e longitudinalmente enrijecida para, em seguida, calcular suas frequências
naturais eseus modos de vibrar. A vantagem deste método é que as longarinas podem ser
tratadas como elementos discretos e acoplados rigidamente à casca. Ambos substituem, no
lagrangiano do sistema, um chute da forma dos modos de vibrar para obter o auto problema.
Miller (24) usa equações de Euler-Lagrange, mas sem obter as equações de movimento,
enquanto que Rinehart e Wang (28) integra o lagrangiano e substitui seu chute. Aqui, porém,
obteremos a ação total do sistema em função do lagrangiano, o qual será mais simplificado
que os destes autores, e a minimizaremos usando equações de Euler-Lagrange apropria-
das, obtendo as equações de movimento. Depois disso, assumindo propagação de ondas
harmônicas, obteremos a relação de dispersão de ondas no Sistema.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
126 127
Modelagem das longarinas
Esta seção apresenta o desenvolvimento das equações de movimento das longarinas
usando Mecânica Lagrangiana: primeiro será definida a energia de deformação das longa-
rinas, depois sua energia cinética, seu lagrangiano e a ação total, que será minimizada para
obter as equações desejadas.
As longarinas são vigas de deslocamento bidimensional que serão rigidamente acopla-
das à casca, como mostrado na Figura 1. Suas seções transversais são não-deformáveis e
sempre ortogonais às suas linhas neutras, sendo Uv o deslocamento axial de uma seção de
uma longarina na posição x e no instante t, e wV o deslocamento transversal dessa mesma
seção na direção ortogonal à casca. Deste modo, um elemento da viga sofre apenas esfor-
ços de compressão e flexão, como ilustrado na Figura 2, sendo que o eixo x das longarinas
é paralelo e tem mesmas origem e orientação que o eixo da casca.
Figura 1. Coordenadas de uma casca cilíndrica longitudinalmente enrijecida por longarinas e deslocamentos de seus
componentes.
Figura 2. Sistema de coordenadas na seção transversal de uma viga.
A deformação ɛx de um elemento de área dA em (z,y) na seção da viga da Figura 2 é a
somadas parcelas de deformação devido à compressão, ɛcomp., e à flexão, ɛflex., que são (18)
(1)
(2)
logo,
(3)
Pela Lei de Hooke, a tensão Óx no mesmo ponto (y,z) é
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
128
(4)
sendo Ev o módulo de Young do material da viga. Desta forma, para uma longarina
semi-infinita, de 0 a +∞ em x, podemos definir sua energia de deformação Vv, como sendo]
(5)
Quanto à energia cinética Tv de uma viga, esta é função do deslocamento dos pontos
da seção transversal e, como ela não é deformável, este deslocamento é uniforme e inde-
pende da posição na seção. Portanto,
(6)
sendo PV, a densidade de massa do material da viga. Caso se deseje desconsiderar a
compressão, basta fazer Uv = 0. Definindo o lagrangiano Lv da longarina como sendo.
Definindo o lagrangiano Lv da longarina como sendo
Lv = Tv − Vv (7)
a ação total Sv da longarina
(8)
é um funcional em uv e wv nas coordenadas x e t.
Acoplando casca e viga
Para representação do sistema casca-vigas, suas equações de movimento serão ob-
tidas, assim como na seção anterior, usando-se Mecânica Lagrangiana. Os passos se-
rão os seguintes:
1. definir o lagrangiano e a ação total do sistema somando-se o lagrangiano de cada
viga ao da casca;
2. definir equações algébricas que representem o acoplamento entre a casca e as
vigas;
3. reduzir o número de funções de deslocamento tanto quanto possível usando as
restrições;
4. aplicar equações de Euler-Lagrange para obter as equações de movimento.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
128 129
Lagrangiano da casca
Valendo-se do trabalho de Leissa (23), tem-se que a energia de deformação Vc para
uma casca de Donnell-Mushtari é
(9)
e a energia cinética Tc é
(10)
sendo que E, p e v são o módulo de Young, a densidade de massa e o coeficiente de
Poisson do material do qual ela é construída, respectivamente, ß2 = h2/12R2 é o parâmetro
adimensional de espessura da casca, e o operador
(12)
é o laplaciano em coordenadas cilíndricas. O lagrangiano da casca, portanto, é L = Tc +
Vc. A teoria de casca de membrana pode ser obtida por simplificação, bastando fazer ß = 0.
Ação total do sistema, restrições de acoplamento e equações de movimento
Para definirmos a ação total do sistema, uma importante consideração deve ser feita:
as longarinas estão distantes o suficiente entre si mesmas para que seus deslocamentos não
afetem umas às outras. Isso implica que num ponto em que houver longarina, o movimento
será governado pela equação acoplada da casca com a viga, enquanto num ponto só de
casca e longe o suficiente de uma longarina, apenas as equações de casca atuam. Logo,
para N longarinas posicionadas em θ1 … θn, a ação total do sistema é
(32)
sendo u(i), w(i) e L(i) os deslocamentos e lagrangiano da i-ésima viga.
As longarinas estão acopladas à casca de tal maneira que nas dadas posições θ = θi,
com i = 1, . . , N, em que elas estejam, os deslocamentos transversais de suas linhas neu-
tras de flexão são iguais ao deslocamento radial da casca, e os deslocamentos longitudinais
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
130
de suas seções transversais são iguais ao deslocamento longitudinal da casca naquelas
posições. Algebricamente, pode-se escrever
(43)
(54)
Como estas equações definem vínculos holônomos, elas podem ser usadas para reduzir
a de- pendência do funcional da Equação 12 de 3 + 2N funções para apenas três. Ao fazer
isso, no entanto, perde-se informação de posições em que θ ≠ θi, o que resulta em equa-
ções que descrevem o movimento apenas onde há longarinas. Por fim, pode-se simplificar
a ação S ainda mais reaplicando- se a consideração inicial: não importa quantas longari-
nas hajam, o comportamento de todas deve ser avaliado individualmente. Assim sendo,
o somatório de de 1 a N será eliminado na Equação 12 e apenas uma longarina será
considerara doravante.
Após simplificada, a ação total para a casca com uma longarina é
(65)
sendo L = Lc + Lv, e as equações de Euler-Lagrange apropriadas para minimizá-la são (23)
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
130 131
Definindo ∇4= ∇2∇2, as equações de movimento resultantes são:
(76)
(87)
(18)
em que
Relação de dispersão
Os três deslocamentos da casca serão ondas harmônicas. A forma apropriada para
cada uma delas é
(99)
sendo Un, Vn, e Vn a amplitude da onda, k é o número de onda axial, ω é a frequência
angular e o parâmetro n é a ordem do modo de vibração circunferencial, cujas formas de 0
a 3 são mostradas na Figura 3. Substituindo o conjunto da Equação 19 nas Equações de
16 a 18 e eliminando os termos e−i(kx−wt),pode-se rearranjar na forma matricial [M]{U} = 0,
sendo{U} = [UnVnWn]T e
(20)
que é a matriz de coeficientes, com
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
132
onde K = kR, Ω = ωR/Cp e H = h/R são o número de onda, a frequência e a espessura
da casca adimensionalizados. Por fim, como {U} = {0}, nos resta que
(21)
que é uma equação polinomial em K de oitavo grau para uma dada frequência Ω, e
sendo ela a própria relação de dispersão do sistema.
Figura 3. Modos de vibração circunferenciais de uma casca cilíndrica
Acrescentando o fluido
A presença de fluido dentro do tubo resulta no chamado termo de carregamento do fluido 𝐹f
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
132 133
descrito por Fuller e Fahy (12), que deve ser subtraído do elemento (3,3) da matriz de
coeficientes [M] da Equação 20. Se o fluido estiver presente, então
(22)
(23)
sendo pf a densidade de massa do fluido, é o número de onda
normalizado na direção radial, Kf=Ω(Cp⁄Cf) é o número de onda normalizado do fluido,Cf a
velocidade de propagação do som no fluido, e Jn( ) a função de Bessel do primeiro tipo de
n-ésima ordem. A relação de dispersão passa agora a ser uma equação implícita em K de-
vido a presença das funções de Bessel em Ff.
Simplificando a relação de dispersão
A matriz de coeficientes da Equação 20 pode ser simplificada fazendo considerações
acerca do problema estudado. Primeiro, Fuller e Fahy (12) mostram que a maior parte da
energia de vibração que se propaga em uma casca preenchida por fluido encontra-se nos
casos em que n = 0 e 1. O primeiro é chamado de modo axissimétrico, e o segundo é o
modo de viga. Contudo, como Gao et al. (15) bem observa, para um tubo enterrado no solo,
o modo n = 1 não ocorre, tampouco há torção. Portanto, podemos adotar n = 0 e anular o
deslocamento tangencial fazendo v = 0. A consequência é que as ondas harmônicas definidas
no conjunto da Equação 19, deixam de depender de θ (daí o termo “modo axissimétrico”) e a
Equação 17 desaparece completamente. Logo, todos os elementos de [M] perdem todas as
parcelas que dependem de n e a própria matriz é reduzida de ordem três para dois. Hunaidi
et al. (19), por sua vez, mostram que a maior parte do sinal de vazamento se encontra na
água e embasam a consideração que muitos autores fazem — p.ex. Referências(4, 15, 25)
— de que a frequência do sinal do vazamento está bem abaixo da chamada frequência de
anel, que é aquela em que o comprimento de onda é igual à circunferência do tubo, isto é,
quando K = 1. Com isso, é razoável eliminar os termos K3 e K4 por serem bem menores que
a unidade. Ao fazer isso, o único termo remanescente da contribuição da longarina em M33
é Ω2(pv/p)(Av/HR2), o qual provém da flexão. Todavia, todos os termos de flexão da casca
ou da longarina —K4 e, por consequência, ß foram eliminados. É, então, coerente eliminar
esta parcela também, o que leva à conclusão de que as ondas geradas por um vazamento
não se propagam por flexão.
A matriz simplificada resultante é
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
134
(24)
Caso não houvesse viga, isto é, anulando-se os termos ρv, Ev e Av, [M] seria a mes-
ma matriz obtida pelas equações de Pinnington e Briscoe (17). Por último, seguindo es-
tes mesmos autores, pode- se simplificar Rf fazendo KR → 0, o que faz com que J0(KR)⁄J′
(KR) ≈ −2⁄KR , e
(25)
fazendo com que det[M] seja uma função racional com polinômios em K de até quarto
grau. Substituindo a Equação 25 em 24, a relação de dispersão então fica
(26)
sendo suas raízes dadas por P(K) = 0 com K ≠ Kf.
Ondas no fluido e na casca
Fuller e Fahy (12) observaram que há apenas dois modos de propagação de ondas
axissimétricas abaixo da frequência de anel: uma onda chamada s = 1 cuja maior parte da
energia se propaga pelo fluido, e outra onda s = 2 cuja maior parte da energia se propaga
pela casca. Com isso pode-se simplificar ainda mais a Equação 26 usando as seguintes
observações de Pinnington e Briscoe (26):
1. para uma onda s = 1 (no fluido), então , isto é, o número de onda é muito
maior que o de uma placa plana, com
2. para uma onda s = 2 (na casca), então , isto é, o número de onda no fluido
é muito maior que o do sistema casca-fluido.
Ao se aplicar essas considerações individualmente, obtém-se uma ou ou-
tra onda desejada.
Simulações numéricas
A fim de validar a modelagem matemática desenvolvida anteriormente, o Método dos
Elementos Finitos implementado no COMSOL Multiphysics®(6) foi usado neste trabalho. Esta
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
134 135
escolha foi feita para podermos comparar resultados provindos de formulações diferentes
e in- dependentes entre si.
Uma representação ilustrativa do modelo usado nas simulações é mostrado Figura
4. A casca e as longarinas foram modeladas por elementos tridimensionais tetraédricos. O mo-
delo foi excitado por deslocamento prescrito uniforme num de seus aros, enquanto o outro
foi amor- tecido por uma força viscosa para reduzir a reflexão de ondas na fronteira. Por se
tratar de uma pesquisa inicial, o fluido não foi incluído nas simulações. A malha final obedeceu
às recomendações do COMSOL Multiphysics® de que nenhum elemento deva ter compri-
mento maior que 1/6 do menor comprimento de onda esperado em simulações de onda, o
que também já obedece a condição de convergência de Courant-Friedrichs-Lewy (7) de que
as dimensões dos elementos não devem ser maiores que o menor comprimento de onda.
Figura 4. Representação do modelo usado nas simulações numéricas
número de onda pode ser medido por meio das funções de transferência TAB entre o
deslocamento medido nos pontos A e B em x = a e x = b, respectivamente, com b > a, como
mostrado na Figura 4. Usando a Equação 19, para ondas axissimétricas e com atenuação,
ou seja n = 0 e k = kRe + iklm, os deslocamentos axiais em A e B são
(27)
(28)
Tomando a transformada de Fourier { }em relação tempo t de ua(t) euB(t), e calcu-
lando a função de transferência TAB = {uB(t)}/{uA(t)} ,tem-se
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136
com d = b − a, ‖ ‖ e ɸ(ω) sendo o módulo e a fase de um número complexo, respecti-
vamente, no caso, de TAB. Comparando-se as equações acima e, lembrando que é
sempre real, e tem sempre módulo igual à unidade, então
Como existe acoplamento entre os deslocamentos radial e longitudinal, ωA(t)e ωb(t)
também podem ser usados para estimar k sem perda de generalidade
RESULTADOS
Propriedades mecânicas do modelo
A casca usada neste trabalho foi baseada num tubo de policloreto de vinila (PVC)
comercial com diâmetro externo de 50 mm e parede de 3 mm, que são geralmente usa-
dos nos ramais de distribuição de água em regiões residenciais. A densidade do material
foi medida usando-se um picnômetro, e seu módulo de Young foi calculado medindo-se
a frequência natural de uma amostra anular excitada por um shaker, como mostrado na
Figura 5, e aplicando-se as fórmulas de frequências naturais de anéis apresentadas por
Blevins (2). As longarinas têm seção transversal quadrada cuja aresta mede o mesmo que
a espessura do tubo, e são feitas de aço estrutural. Os fatores de perda adotados foram
o mesmo usado por Gao et al. (15) para a casca, e o medido por Jung et al. (21) para as
longarinas. O fluido adotado foi a água. A Tabela 1 resume as propriedades mecânicas e os
parâmetros geométricos usados, sendo que para as simulações numéricas modelou-se uma
casca de 25 cm de comprimento. Uma casca tão curta foi usada para que a não houvessem
ressonâncias significativas abaixo de 1kHz.
Tabela 1. Propriedades dos materiais de construção e parâmetros geométricos da casca, das longarinas e do fluido.
Propriedade Tubo (plástico) Longarina (aço) Fluido (água)
Densidade (kg/m³) 1.544 7.800 1.000
Módulo de Young (GPa) 1,644 200,0 −
Coeficiente de Poisson 0,4 0.3 −
Fator de Perda 6.10−2 2,3.10−2 −
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136 137
Propriedade Tubo (plástico) Longarina (aço) Fluido (água)
Raio (mm) 50 0,05 −
Espessura / Aresta (mm) 3 0,003 −
Velocidade do Som (m/s) − − 1.500
Resultados da relação de dispersão
Usando-se os dados da Tabela 1, pode-se calcular as raízes da relação de dispersão
da Equação 26, mostradas na Figura 6.
Figura 5. Anel de plástico extraído do tubo de PVC e acoplado a um shaker com um acelerômetro.
Calculando também asvelocidades adimensionais e reu-
nindo os resultados na Tabela 2, é possível perceber a influência do fluido na propagação.
Tabela 2. Velocidades médias de propagação.
Caso Velocidade, C (m⁄s) Cp = c/Re{Cp } Ct = C/Ct
Casca 1.030 0,916 0,687
Casca+ fluido (s = 1) 314,3 0,279 0,210
Casca+ fluido (s = 2) 1.121 0,997 0,747
Casca+ longarina 3,267 2,91 2,18
Casca+ longarina + fluido (s = 1) 340,1 0,302 0,227
Casca+ longarina + fluido (s = 2) 3.285 2,92 2,19
É conveniente também introduzir uma medida de atenuaçãox1⁄2:
(29)
que é a meia-distância da onda, isto é, distância percorrida por ela para que sua am-
plitude decaia pela metade do valor inicial.
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138
Figura 6. Raízes da relação de dispersão da Equação 26.
Figura 7. Meia-distância calculada para vários casos.
Para avaliar comparativamente as mudanças na atenuação, podemos calcular o coe-
ficiente de atenuação m, que definimos como sendo o coeficiente angular das curvas da
Figura 6b, e cujos valores foram calculas por regressão linear e estão listados na Tabela 3.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
138 139
Tabela 3. Coeficiente de atenuação (m) e razão de amplitude relativa (r/rcasca).
Caso m r/rcasca
Casca 1,83.10−4 1,00
Casca+ fluido (s = 1) 5,84.10−4 1,85.10
Casca+ fluido (s = 2) 1,67. 10−4 4,81.10−2
Casca+ longarina 5,57.10−6 3,16.10−1
Casca+ longarina + fluido (s = 1) 5,28. 10−4 2,41.102
Casca+ longarina + fluido (s = 2) 6,06.10−6 1,66.10−2
Outro importante resultado é a razão entre deslocamento radial W0 e o longitudinal U0.
Retornando à matriz [M] da Equação 24 e reescrevendo o sistema [M]{U0 W0}r = 0, temos que
M11U0 + M12W0 = 0 e M21U0 + M22W0 = 0. Substituindo as raízes K em [M] para obtermos
seus elementos, a razão de amplitudes r é
(30)
cujo resultado é mostrado na Figura 8. Como a proporção entre as curvas é aproxima-
damente constante, podemos usar regressão linear novamente e calcular o valor médio de
r/rcasca, que é a razão entre r e a razão de amplitude do caso mais simples da casca rcasca, e
cujos resultados estão listados na Tabela 3.
Figura 8. Razão de amplitude entre deslocamento radial e longitudinal.
Resultados das simulações numéricas
As simulações numéricas foram realizadas no domínio do tempo. O deslocamento
prescrito para o aro excitado foi um seno com frequência variando linearmente de 50 a
1.000 Hz em 0,1s, e com amplitude de 0,1 mm. O recíproco do passo no tempo foi de 12,8
kHz. Foram simuladas a casca sem longarinas e com N = 2 e 4 longarinas espaçadas uni-
formemente entre si. Não foi possível testar casos com mais de quatro longarinas devido
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140
ao alto custo computacional, pois mesmo com a malha muito refinada houve problemas de
convergência na simulação.
As funções de transferência TAB foram calculadas em relação a entrada (x = 0) e me-
dindo- se o deslocamento longitudinal em ponto sexplícitos do modelo, que são mostrado na
Figura 9, onde também estão destacados os aros excitado e amortecido. Houve pouquíssima
diferença nos resultados se os dados fossem calculados num ponto numa longarina ou na
casca na mesma posição em x, o que evidencia o fato de que a vibração é estacionária na
direção tangencial. Os resultados de número de onda e razão de amplitude, então, foram
calculados como sendo média aritmética dos resultados de todos os pontos, sem fazer dis-
tinção entre pontos de longarina ou de casca.
O resultado do número de onda é mostrado na Figura 10. Observa-se que há bas-
tante coerência entre os dados simulados e o resultado analítico no caso sem longarinas
e para duas longarinas. Para quatro longarinas, o número de onda da simulação é menor
que o predito pelo modelo, o que evidencia que a quantidade de longarinas deveria ter sido
considerada matematicamente. Nota-se que este caso tendeu a uma casca cilíndrica metá-
lica do mesmo material que as longarinas, o que sugere que exista um número mínimo de
longarinas para que uma casca de plástico enrijecida seja considerada como equivalente a
uma casca metálica.
Para calcularmos a razão de amplitude entre deslocamento radial e longitudinal r, basta
aplicar a transformada de Fourier ao deslocamentos, ou seja,
. Com isso, obtemos o gráfico da Figura 11.
Figura 9. Modelo 3D usado no COMSOL Multiphysics®.
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140 141
Figura 10. Comparação entre o número de onda do modelo analítico e simulado por elementos finitos.
Figura 11. Comparação entre a razão de amplitude do modelo analítico e a simulada por elementos finitos.
DISCUSSÃO
Nota-se que a parte real (Figura 6a) tem comportamento bastante linear em função
da frequência, o que indica que a propagação é muito pouco dispersiva. Se a considerar-
mos como não-dispersiva, podemos obter a velocidade propagação c usando regressão
linear, utilizando a equação , que é o inverso do coeficiente angular das
curvas da Figura 6a.
As ondas no fluido (s = 1) são mais lentas que aquelas num fluido livre se propagando
a cf, enquanto que as ondas na casca (s = 2) são um pouco mais rápidas que as que se
propagam numa casca vazia. A presença da longarina, por sua vez, causa um aumento da
rigidez do sistema, o que aumenta a velocidade de todos os tipos ondas.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
142
A parte imaginária do número de onda (Figura 6b), assim como a real, também tem
comportamento linear e mostra que quanto maior a frequência, maior a atenuação.
O resultando da Equação 29 mostrado no gráfico da Figura 7 ajuda a interpre-
tar os resultados:
• A atenuação é bem maior em ondas no fluido (s = 1) do que na casca (s = 2). Acima
de 100 Hz as ondas no fluido decaem pela metade em menos de 10 m, enquanto
que na casca, valores menores que essa meia-distância só acontecem para frequ-
ências acima de 400 Hz.
• Apesar de aumentar um pouco a velocidade de propagação, o fluido pouco altera
a atenuação de ondas na casca (s = 2) quando comparada à casca vazia, assim
como a longarina pouco influencia a velocidade das ondas no fluido (s = 1).
• A atenuação de ondas na casca (s = 2) reduz-se bastante quando se adicionam as
longarinas, sendo bastante próxima daquela da casca vazia com longarina.
Pode-se observar que para uma casca com fluido, mas sem longarinas, a atenuação
é muito maior em ondas no fluido (s = 1) do que na casca (s = 2). E também, mesmo que
a longarina quase não mude a atenuação de ondas no fluido (s = 1), ao adicioná-las a ate-
nuação em ondas na casca (s = 2) cai para menos de 4% do seu valor original, sendo que
a mesma tendência é vista pode ser vista comparando-se uma casca vazia não-enrijecida
com a enrijecida.
A melhora inesperadamente grande na atenuação talvez possa ser explicada por uma
limitação do modelo analítico: ele não prevê a transmissão de energia entre a longarina e a
casca, possivelmente consequência de vibração estacionária na direção tangencial, que re-
sultaria em atenuação na direção longitudinal devido à demanda de energia na outra direção.
Grice e Pinnington (17) demonstram a existência desse efeito para uma placa plana infinita
enrijecida por uma viga. Seu método, entretanto, não pode ser diretamente estendido para
uma casca cilíndrica porque nesta há propagação em apenas uma direção, enquanto que
no problema da placa infinita há duas. Esta é uma limitação de todas as teorias de casca
cilíndricas, pois elas consideram que a onda é estacionária em direções transversais ao eixo,
o que é evidenciado pela presença dos termos seno e cosseno no conjunto da Equação
19 é ilustrado pelos modos circunferenciais da Figura 3. A inclusão deste fluxo de energia
acrescentaria pelo menos mais um número de onda imaginário à relação de dispersão do
sistema, estando ele relacionado a uma vibração evanescente partindo da longarina e trans-
versal a seu eixo. Isto, por sua vez, modificaria o modo circunferencial da casca e, portanto,
sua inclusão dependeria da escolha apropriada da forma do modo, o qual dependeria do
número de longarinas.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
142 143
A presença da longarina acentua as características dos casos sem ela: quando não há
fluido, as ondas na casca são predominantemente longitudinais, sendo que a presença da
longarina reduz quase 2/3 a razão de amplitude, o que mostraum favorecimento da direção
longitudinal; para ondas s = 1, a razão aumenta 10 vezes, e cai 2/3 para ondas s = 2.
As observações feitas até agora somadas aos resultados da Figura 7 sugerem que
para aumentar a eficácia da adição de longarinas, deve-se fazer medições na direção longi-
tudinal na intenção de detectar ondas s = 2. Entretanto, os trabalhos de Fuller e Fahy (12),
Pinnington e Briscoe (26) e Hunaidi et al. (19) combinados mostram que o sinal gerado pelo
vazamento pode ser melhor medido no fluido e, caso o uso de hidrofones seja inviável, as
ondas s = 1 são melhores detectadas no deslocamento radial para tubos de baixa rigidez,
como o plástico.
Simulações numéricas
Apesar de não ser possível quantificar a atenuação na simulação para corroborar esta
conjectura, o fato da parte real do número de onda ter seguido a predição, sugere que a
atenuação na casca enrijecida deve ser menor que na casca não-enrijecida.
Segundo a Figura 11, novamente, o caso sem longarina se ajusta bem aos valores teó-
ricos, enquanto que os demais, desviam. Para duas longarinas, há um aumento expressivo
do deslocamento radial. Isso se explica pelo fato de que o modo circunferencial ali é n = 2, o
qual, para cascas cilíndricas finitas, tem frequência natural menor que o modo n = 0 e, por-
tanto, é o mais fácil de ser excitado(24). Para quatro longarinas, a razão se reduz um pouco,
mas ainda é superior ao valor predito. Suspeita-se que quanto maior o número de longarinas,
maior é n, o que torna a forma do modo circunferencial mais próxima de n = 0. É possível
que a presença do solo em volta de um tubo com longarinas restrinja o deslocamento radial
de tal forma que a razão n tenda ainda mais para a predição devido a participação reduzida
de modos n ≠ 0, os quais já nem são observados num tubo comum enterrado.
CONCLUSÃO
Este trabalho propôs o uso de longarinas metálicas longitudinais para reduzir a ate-
nuação de ruído de vazamento em tubos de plástico, para que se possa aumentar a dis-
tância máxima de detecção de vazamento usando técnicas vibro acústicas. O tubo com
longarinas foi modelado como uma casca cilíndrica longitudinalmente enrijecida, e suas
equações de movimento foram desenvolvidas usando Mecânica Lagrangiana. A relação de
dispersão do sistema foi obtida usando-se ondas harmônicas, e foi simplificada conside-
rando-se frequências abaixo da frequência de anel do tubo. Os resultados analíticos foram
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144
contrapostos com resultados de simulações numéricas usando um modelo de elementos
finitos. A partir do estudo dos modelos analítico e numérico, pode-se resumir os resultados
nas seguintes conclusões:
As equações mostram uma redução bastante expressiva da atenuação, mas estes da-
dos não são definitivos devido a limitação do modelo desenvolvido que não prevê transmissão
de energia entre a casca e as longarinas, nem a presença de modos não-axissimétricos.
O enrijecimento da casca é maior no modelo de elementos finitos do que no analítico,
resultando em ondas de comprimento que tendem ao comprimento de ondas numa casca
metálica com o aumento do número de longarinas.
A concordância dos valores dos modelos analítico e numérico para a parte real do
número de onda, mais a tendência da casca enrijecida de se comportar com uma casca
metálica, sugerem que a parte imaginária do número de onda, que não pôde ser medida
nas simulações do modelo de elementos finitos, é menor que numa casca não-enrijecida,
reduzindo a atenuação como desejado.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. Além disso,
ele foi fruto da orientação dos Profs. Amarildo T. Paschoalini e Márcio A. Bazani, a quem
agradeço e peço que passem adiante minha gratidão a todos da Unesp que contribuíram
direta ou indireta- mente para o desenvolvimento dele, especialmente para meus colegas
do Labsin. Em especial, agradeço: aos meus pais, irmão e irmã, pois, assim como antes,
ainda agora suportam comigo a distância que nos separa; aos amigos que perduram há anos
e que escolho não nomear para que não incorra no erro de esquecer alguém, mas que ao
lerem isto espero que saibam que falo deles e que sou grato por combaterem comigo mi-
nha solidão; a Dijiane R. de Paula, Fernanda C. de Almeida e Otávio D. Z. Boaventura, que
contribuíram de forma muito valiosa durante minha estada nesta cidade; a Noir e Fernanda
Aranha, que me proporcionaram ensinamentos e experiências maravilhosas dentro e fora
de rodas de capoeira; e a todos aqueles com quem convivi por me engrandecerem e forta-
lecerem. Muito obrigado a todos.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
144 145
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10
Síntese direta e caracterização da
peneira molecular mesoporosa AL-
SBA-15 impregnada com trióxido de
molibdênio
Bruno Taveira da Silva Alves
UFCG
Joyce Salviano Barros de Figueiredo
UFCG
Ruth Nóbrega Queiroz
UFCG
Bianca Viana de Sousa Barbosa
UFCG
José Jailson Nicácio Alves
UFCG
10.37885/210203029
https://dx.doi.org/10.37885/210203029
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
148
Palavras-chave: Materiais Mesoporosos, SBA-15, Trióxido de Alumínio, Trióxido de Molib-
dênio, Catálise Heterogênea.
RESUMO
Os materiais mesoporosos têm sido de grande interesse da indústria e da comunidade
acadêmica, devido a sua aplicação na área de catálise. A peneira molecular SBA-15
possui elevada área superficial, alto diâmetro médio de poros e estabilidade térmica
que tornam este material muito promissor para a catálise. Porém, devido a inexistência
de sítios superficiais ativos, a SBA-15 apresenta baixo desempenho catalítico em dife-
rentes reações químicas. Em decorrência disso, o trióxido de alumínio foi incorporado a
estrutura da SBA-15 por meio de síntese direta e posteriormente, o trióxido de molibê-
nio foi impregnado neste precursor catalítico pelo método de saturação de volume de
poro. O precursor catalítico e o catalisador foram caracterizados por meio das análises:
termogravimétrica, difratometria de raios X e adsorção física de N2. Os resultados obti-
dos pelas caracterizações apresentaram a obtenção de uma estrutura hexagonal bem
ordenada típica de materiais mesoporosos como a SBA-15 e confirmou a presença de
picos característicos do trióxido de molibdênio na superfície da estrutura mesoporosa.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
148 149
INTRODUÇÃO
Sólidos microporosos e mesoporosos com combinações únicas de propriedades estru-
turais têm demonstrado um potencial considerável para o desenvolvimento de processos e
materiais projetados por atender a uma série de desafios ambientais e tecnológicos. Esses
materiais são destinados a aplicações em uma série de processos industriais, incluindo troca
iônica, refino de petróleo e indústrias petroquímicas, catálise e adsorção, separação de gás,
agricultura, entre outras (ZHOLOBENKO et al., 2008).
Em um contexto, onde os processos químicos fazem uso de fases homogêneas, pesqui-
sas envolvendo síntese e utilização de catalisadores heterogêneos são de ampla relevância
na indústria química, pois possuem vantagens como, a reutilização destes catalisadores
nas reações químicas. A diversidade de estruturas permite focalizar suas aplicações para
produção de insumos e produtos importantes para petroquímica e química fina. O poten-
cial de aplicação das peneiras moleculares mesoporosas é muito vasto, pois devido a sua
grande área superficial e tamanho de poros uniformes, é possível modificar a sua estrutura
a partir da incorporação de íons metálicos, conferindo aos materiais porosos sítios ativos,
que aumentam sua atividade e seletividade catalítica (CAO et al., 2018).
Entre os materiais mesoporosos existentes, a peneira molecular mesoporosa SBA-15
sintetizada pela primeira vez por Zhao et al., (1998a) em 1998, tem se destacado devidos
as suas características como: poros tubulares uniformes, arranjos de canais hexagonais,
além de possuir uma alta estabilidade hidrotérmica, área superficial elevada superior a 800
m2/g, espessura de parede na ordem de 31 a 64 Å e diâmetros de poros ajustáveis até
300 Å (MEYNEN et al., 2009). No entanto, devido à ausência de sítios superficiais ativos,
a SBA-15 apresenta baixo desempenho catalítico. Para suprir esta necessidade, diferentes
óxidos de metais têm sido incorporados nesta estrutura mesoporosa (KUMARAN et al.,
2008). Sendo que, a maior dificuldade na incorporação dos óxidos de metais na estrutura
mesoporosa da SBA-15 está em manter suas propriedades.
A incorporação dos óxidos de metais realizada por síntese direta ou método hidrotér-
mico é o processo no qual ocorre a condensação do precursor do íon metálico juntamente
com o precursor da espécie de silício na presença do surfactante antes da etapa de sínte-
se hidrotérmica. Neste método, o objetivo substituir isomorficamente na rede da sílica os
átomos de silício pelos respectivos íons metálicos (ARAÚJO, 2013; SCHWANKE et al.,
2016). Já a técnica de impregnação parte-se de uma solução do metal com concentração
suficiente para atingir determinado teor sobre um suporte, variando o tempo, a temperatura
e o pH para adsorver a fase ativa, tal que após a secagem e calcinação o metal esteja fixa-
do e estável. O suporte pode ser inerte ou parcialmente ativo, mas com propriedades bem
definidas. Quando a impregnação é feita com uma solução para preenchimento dos poros,
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
150
conhecendo-se previamente o volume dos mesmos, denomina-se impregnação seca. Quando
o suporte é um material pulverizado (pó), o volume necessário é significativamente maior
que o volume dos poros e a impregnação é chamada impregnação úmida (SCHMAL, 2011).
A incorporação de heteroátomos de alumínio na estrutura da SBA-15 permite a cria-
ção de sítios ácidos de Bronsted, que são essenciais para reações catalisadas por ácido
(LI et al., 2004). A peneira molecular Al-SBA-15 com sua estrutura única, características
de superfície, boa estabilidade térmica e resistência mecânica fazem com esta peneira
molecular tenha maior atividade catalítica do que os catalisadores de alumina tradicionais
durante a reação. É eficaz preparar Al-SBA-15 usando o processo de síntese hidrotérmica,
adicionando agente de molde orgânico (SOCCI et al., 2019).
Os catalisadores de trióxido de molibdênio (MoO3) estão associados a processos de
redução e oxidação, uma vez que o alto estado de oxidação deste tipo de metal pode pos-
sibilitar a sua atuação tanto como sítios ácidos de Lewis quanto de Brönsted-Lowry. Este
óxido é amplamente empregado na indústria química em vários tipos de reações, tais como:
hidrodessulfurização (REN et al., 2008), hidrogenação (NARES et al., 2009), hidrodenitro-
genação, hidrocraqueamento, etc. (ZHAO et al., 1996). Em virtude destas características
químicas, a aplicação destes óxidos, como fases ativas, é bastante promissora na área da
catálise heterogênea (SILVA, 2011).
Com o desenvolvimento deste trabalho tem-se a finalidade de produzir um catalisador
que reúna as características ideais para promover uma alta conversão do óleo de soja em
ésteres metílicos, sintetizando a peneira molecular Al-SBA-15 a partir do método hidrotér-
mico, seguido da impregnação da peneira com trióxido de molibdênio (MoO3), que tem a
finalidade de gerar sítios ácidos reativos na superfície da peneira molecular Al-SBA-15,
visando aperfeiçoar o desempenho catalítico na catálise heterogênea.
OBJETIVO
Sintetizar um catalisador heterogêneo, modificando a estrutura da peneira molecular
SBA-15 através da introdução de heteroátomos de alumínio em sua estrutura, por meio de
síntese hidrotérmica direta para posterior impregnação do MoO3 por meio do método de
saturação de volume de poro, com a finalidadede obter um catalisador com propriedades
ácidas e alta atividade catalítica.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
150 151
MÉTODOS
Síntese direta da peneira molecular Al-SBA-15
A peneira molecular mesoporosa Al-SBA-15 utilizada como suporte catalítico para
preparação do catalisador foi sintetizada a partir de uma adaptação da metodologia descrita
por Zhao et al. (1998b) e Li et al. (2016). O gel obtido apresenta a composição molar: 1SiO2:
0,017P123: 4,96HCl: 0,054Al2O3: 35,42EtOH.
Inicialmente, dissolveu-se o copolímero tribloco Pluronic P123 em uma solução aquosa
de HCl (1,6 mol L–1) a uma temperatura de 35 °C sob agitação até a completa dissolução. Após
obter a mistura homogênea, adicionou-se o tetraetilortosilicato (TEOS) de forma gotejada ao
meio reacional. Em outro recipiente, dissolveu-se o nitrato de alumínio (Al(NO3)3‧9H2O) em
etanol e uma solução de HCl (1,6 mo L–1), onde manteve-se sob agitação à 35 °C. Misturou-
se as duas soluções e levou-se para o roto evaporador, onde permaneceu por 24 horas à
40 °C. O gel obtido foi armazenado em cadinhos de teflon, que foram colocados em auto-
claves de aço inoxidável e levados para a estufa para o processo de cristalização a uma
temperatura de 100 °C durante 48 horas. Após este período, o material foi resfriado até a
temperatura ambiente e em seguida foi lavado com água deionizada em uma bomba à vácuo,
para remover o excesso de direcionador. A lavagem foi finalizada quando o filtrado atingiu
o pH neutro. A secagem do material foi realizada em uma estufa a 60 ºC, durante 24 horas.
A peneira molecular foi ativada por calcinação sob fluxo de ar sintético, da temperatu-
ra ambiente até 550 °C, com taxa de fluxo de 150 mL.min–1 e rampa de aquecimento de 5
°C.min–1, permanecendo nestas condições por 6 horas, para completa remoção do direcio-
nador de estrutura e para decomposição do sal precursor de alumínio.
Impregnação do trióxido de molibdênio na peneira molecular Al-SBA-15
A incorporação do sal molibdato de amônio [(NH4)6Mo7O24‧4H2O] à peneira molecular
Al-SBA-15 foi realizada através do método de impregnação por saturação de volume de
poro (impregnação seca). Os percentuais de MoO3 adotado para a incorporação foi de 10 e
15% em massa. Inicialmente, pesou-se a massa de sal requerida em relação ao percentual
de óxido de molibdênio desejado e dissolveu-se em um volume de água deionizada. O vo-
lume de água utilizado na diluição do sal foi proporcional ao volume de poros do material
mesoporoso. Em seguida, dispersou-se a solução no suporte até atingir a saturação dos
poros do mesmo. Após a impregnação, o material foi seco em estufa na temperatura de 60
°C durante 24 horas.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
152
A ativação do catalisador foi realizada por meio de um processo de calcinação sob fluxo
de ar sintético, da temperatura ambiente até 550 °C, com taxa de fluxo de 150 mL.min–1 e
rampa de aquecimento de 5 °C.min–1, permanecendo nestas condições por 6 horas.
Caracterização da peneira molecular Al-SBA-15
Análise termogravimétrica (TG/DrTG): A análise térmica foi realizada utilizando um
Thermogravimetric Analyzer TGA-51 Shimadzu acoplado a um computador monitorado pelo
Software TA-60 WS Collection Monitor. As amostras foram analisadas na escala de 30 a
1000 ºC, a uma taxa de aquecimento de 5 ºC·min–1 e uma taxa de fluxo de ar de 50 mL min–1.
Difratometria de Raios-X: Foi realizada a partir do método de pó, utilizado o equipa-
mento SHIMADZU XRD-6000® com radiação CuKα, operando à uma tensão de 40 kV, uma
de corrente 30 mA, tempo por passo de 0,60s e varredura em diferentes intervalos, sendo
de 2θ= 0,5º à 10º e 2θ= 1,5º à 60º.
Adsorção física de N2: Os materiais sintetizados foram caracterizados a partir da adsor-
ção e dessorção de N2 à aproximadamente 77 K, utilizando o equipamento Quantachrome®
version 3.01, a adsorção e dessorção de N2 foi analisada pelo método de BET.
RESULTADOS
Análise termogravimétrica (TG/DrTG) da peneira molecular Al-SBA-15
A Figura 1 apresenta a curva termogravimétrica da peneira molecular Al-SBA-15, a partir
da qual foi possível determinar a temperatura de decomposição do sal precursor do alumínio.
Figura 1. Curva termogravimétrica da peneira molecular Al-SBA-15.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
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Difratometria de raios X da peneira molecular Al-SBA-15
A Figura 2 mostra o difratograma de raios X da peneira molecular SBA-15 modifi-
cada com alumínio.
Figura 2. Difratograma de raios X da peneira molecular Al-SBA-15.
A Tabela 1 mostra os parâmetros cristalográficos da peneira molecular Al-SBA-15
obtidos por DRX.
Tabela 1. Parâmetros cristalográficos da peneira molecular Al-SBA-15.
Peneira Molecular 2θ hkl d100(Å) a0(Å)
Al2O3-SBA-15 0,89 1 0 0 99,96 115,42
Adsorção física de N2 da peneira molecular Al-SBA-15
O perfil da isoterma de adsorção e dessorção de N2 e o diâmetro de poro da peneira
molecular Al-SBA-15 estão apresentados na Figura 3.
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154
Figura 3. a) Isotermas de adsorção e dessorção da peneira molecular Al-SBA-15; b) Gráfico de distribuição do tamanho
de poros da peneira molecular Al-SBA-15.
Análise termogravimétrica (TG/DrTG) do catalisador 15MoO3/Al-SBA-15
A Figura 4 apresenta a curva termogravimétrica do catalisador 15MoO3/Al-SBA-15,
a partir da qual foi possível determinar a temperatura de decomposição do sal precur-
sor do molibdênio.
Figura 4. Curva termogravimétrica do catalisador 15MoO3/Al-SBA-15.
Difratometria de raios X da peneira molecular Al-SBA-15 impregnada com MoO3
Na Figura 5 está apresentado o difratograma da peneira molecular Al-SBA-15 impreg-
nada com 10 e 15% de MoO3 em massa.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
154 155
Figura 5. Difratograma de raios X dos catalisadores (a) 15MoO3/Al-SBA-15 e (b) 10 MoO3/Al-SBA-15.
Adsorção física de N2 da peneira molecular Al-SBA-15 impregnada com MoO3
Na Figura 6 está apresentado os perfis de isoterma de adsorção e dessorção de N2 e
o diâmetro de poro dos catalisadores com 10 e 15% de MoO3 em massa.
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156
Figura 6. Isotermas de adsorção e dessorção dos catalisadores (a) 15MoO3/Al-SBA-15 e (b) 10 MoO3/Al-SBA-15; e
distribuição do tamanho de poros dos catalisadores (c) 15 MoO3/Al-SBA-15 e (d) 10 MoO3/Al-SBA-15.
As propriedades texturais do Al-SBA-15 e x_MoO3/Al-SBA-15 (x = 10, 15% em massa)
são mostrados na Tabela 2.
Tabela 2. Propriedades texturais da peneira molecular Al-SBA-15 e dos precursores catalíticos xMoO3/Al-SBA-15 (x = 10,
15% em massa).
Peneira Molecular SBETa (m2.g–1) Sext (m2.g–1) VPmicro
(cm3.g–1)
VPmes
(cm3.g–1)
VP b
(cm3.g–1)
Dpc BJH
(Å)
Al-SBA-15 655,48 566,67 0,0341 1,024 1,0696 72,36
10MoO3/Al-SBA-15 311,08 256,36 0,0222 0,5095 0,5760 80,83
15MoO3/Al-SBA-15 199,28 163,34 0,0148 0,4405 0,4385 89,22
a: área de superfície específica determinada pelo método Brunauer-Emmett-Teller (BET);
b: volume total de poro registrado em p/p0 = 0,99;
c: diâmetro do poro calculado pelo método Barrett-Joyner-Halenda (BJH).
DISCUSSÃO
Análise termogravimétrica (TG/DrTG) da peneira molecular Al-SBA-15
Na Figura 1 é possível observar duas faixas de temperatura onde ocorrem dois even-
tos que podem ser verificados pela perda de massa. No primeiro evento (I), na faixa de
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
156 157
temperatura entre 28 e 96,7 °C há uma perda de massa de 2,58% que corresponde a des-
sorção da água fisissorvida na cavidade porosa da peneira molecular, e no segundo evento
(II) que vai da faixa de 96,7 até 399 °C ocorre uma perda de massa de 46,28% que está
associada à dessorção e decomposição do agente direcionador de estrutura (P123) e do
sal precursor do alumínio (MARINHO, 2016).
Difratometria de raios X da peneira molecular Al-SBA-15
A partir dodifratograma de raios X, Figura 2 (a), pode-se confirmar a obtenção da
peneira molecular mesoporosa Al-SBA-15. Em 2θ = 0,5 à 10º é possível perceber que o
pico apresentado no plano (1 0 0) refere-se à formação da estrutura mesoporosa e os picos
apresentados no plano (1 1 0) e (2 0 0) referem-se a uma estrutura de simetria hexagonal,
ou a presença de tubos de sílica organizados na forma hexagonal conforme descrito por
Zhao et al. (1998a).
O pico alargado em 2θ = 23,71° apresentado no intervalo de 2θ = 10 à 60º na Figura
2 (b) é característica de materiais de sílica amorfo que é típica da SBA-15. Neste mesmo
intervalo, percebe-se a ausência de picos característicos do trióxido de alumínio, que pode
ser atribuído ao fato de que na síntese hidrotérmica os átomos de alumínio se ligam dire-
tamente na estrutura da peneira molecular SBA-15. CABRERA-MUNGUIA et al. (2017)
obtiveram resultados similares ao deste trabalho ao sintetizarem Al-SBA-15, onde verifica-
ram que houve ausência de picos do trióxido de alumínio (Al2O3) indicando que o alumínio
está ligado diretamente na estrutura da SBA-15 e não interagindo superficialmente, sendo
indicativo de que houve incorporação do heteroátomo.
Zhao et al. (1998a) obtiveram uma distância interplanar d100= 95,7 Å e um parâmetro
de célula unitária (a0) = 110 Å. Comparando esses valores com os apresentados na Tabela
1 são maiores que os valores obtidos por Zhao et al. (1998a) o que indica que o alumínio
pode estar incorporado no interior das paredes da SBA-15.
Adsorção física de N2 da peneira molecular Al-SBA-15
Na Figura 3 (a) observa-se que para a peneira molecular foi obtida uma isoterma do
tipo IV, com “loop” de histerese do tipo H1. Leofanti et al. (1998) classificam a isoterma do
tipo IV para materiais mesoporosos. A presença da histerese do tipo H1 resulta da conden-
sação capilar que ocorre dentro dos mesoporos do material e é característica de materiais
com sistema de poros cilíndricos ou feitos a partir de aglomerados de partículas esferoidais.
Por meio da análise da isoterma de adsorção, observou-se três regiões distintas. Na pri-
meira, a baixas pressões, em P/P0 < 0,2 corresponde à adsorção de N2 na monocamada. A se-
gunda região, corresponde ao intervalo P/P0= 0,65 - 0,79, ocorre a condensação capilar típica
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
158
dos materiais mesoporosos, com “loop” de histerese. Na terceira região, em P/P0 > 0,79 ocorre
a adsorção nas multicamadas na superfície externa das partículas (ZHOU et al., 2015).
Na Figura 3 (b) observa-se a distribuição de diâmetro de poros, onde percebe-se um diâ-
metro médio de 32,38 Å, característico de um material mesoporoso uniforme do tipo unimodal.
Análise termogravimétrica (TG/DrTG) do catalisador 15MoO3/Al-SBA-15
Através da análise das curvas TG representadas na Figura 4, verificou-se a presença
de quatro eventos de perda de massa no catalisador 15MoO3/Al-SBA-15. Sendo o evento
(I): na faixa de 23 a 303 ºC com perda de 23,71%, essa perda é referente a dessorção de
água fisissorvida na cavidade porosa e também decorrente da decomposição do sal mo-
libdato de amônio tetrahidratado. O evento (II) na faixa de temperatura de 663 ºC até 756
ºC, em que a perda de massa é de 8,04%, é atribuído ao processo de fusão do óxido de
molibdênio. O evento (III) ocorre da temperatura 756 ºC até 871,5 ºC com perda de 5,2%,
sendo decorrente do processo de sublimação do molibdênio (ZARE et al., 2017).
Difratometria de raios X da peneira molecular Al-SBA-15 impregnada com MoO3
Através dos difratogramas de raios-X da Figura 5 foram identificadas às espécies de
óxidos de molibdênio cristalinos formados após o processo de calcinação das amostras im-
pregnadas com o sal precursor heptamolibdato de amônio tetrahidratado (NH4)6Mo7O24‧4H2O.
Verifica-se nos difratogramas do material 15MoO3/Al-SBA-15, Figura 5 (a), a presença
de vários picos de difração correspondendo a cristais de α-MoO3 com estrutura ortorrômbica
(grupo espacial Pbnm) com os picos mais estreitos e nítidos nos ângulos 2θ = 12,7º; 23,3º;
25,3º e 27,4º na qual a orientação do cristal estão nos índices de Miller (0 2 0), (1 1 0), (0 4 0)
e (0 2 1), respectivamente. Além disso, as amostras podem conter uma pequena quantidade
de fase β-MoO3 metaestável, pois os padrões de difração das duas fases cristalinas são
bastante semelhantes (GONZÁLEZ et al., 2018). No catalisador 10MoO3/Al-SBA-15, Figura 5
(b), é possível notar a presença de alguns picos característicos, mas em menor intensidade.
Devido a menor concentração de trióxido de molibdênio, houve uma menor dispersão do
mesmo na superfície externa dos materiais com 10% de MoO3 quando comparado com os
que possuem maior teor do óxido.
Os referentes picos que indicam as espécies de trióxido de molibdênio foram identifica-
dos em colaboração com a biblioteca do International Center for Diffractional Data (JCPDS),
com o auxílio da carta cristalográfica Nº JCPDS 00-005-0508.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
158 159
Adsorção física de N2 da peneira molecular Al-SBA-15 impregnada com MoO3
A Figura 6 apresenta as isotermas referentes aos materiais (a) 15MoO3/Al-SBA-15 e (b)
10MoO3/Al-SBA-15 que foram dopados com MoO3 através do método de impregnação por
saturação de volume de poro (via seca). Pode-se perceber que para todos os catalisadores
foram obtidas isotermas do tipo IV com “loop” de histerese do tipo H1.
Para ambos os catalisadores é possível observar a presença de três regiões distin-
tas. A primeira, a baixas pressões relativas, ou seja, (P/P0) < 0,2 corresponde à adsorção
de N2 na monocamada; A segunda com intervalo entre (P/P0) ≈ 0,45 - 0,8, ocorre a conden-
sação capilar característica dos materiais mesoporosos, a curva apresenta “loop” de histe-
rese do tipo H1; a terceira, (P/P0) > 0,8, ocorre a adsorção nas multicamadas na superfície
externa das partículas.
A partir da Figura 6 (c, d) pode-se constatar que os catalisadores 10MoO3/Al-SBA-15 e
15MoO3/Al-SBA-15 exibem uma distribuição de mesoporos uniformes, com diâmetro médio
de 39,96 Å e 40,24 Å respectivamente, apresentando uma distribuição de tamanho de poro
unimodal. Em comparação com a Figura 3 (b), percebe-se que após a impregnação do óxido
de molibdênio na peneira molecular, houve o aumento do diâmetro médio de poros.
A partir da Tabela 2, verifica-se que a área superficial específica e o volume total de
poros dos precursores catalíticos decresceram em até 70% em relação as medidas obtidas
para Al-SBA-15 com o aumento do percentual de MoO3 incorporado a estrutura porosa,
isso é explicado pelo fato de uma maior concentração de MoO3 depositado na superfície
do material (ALVES, 2018). Por outro lado, houve o aumento do diâmetro de poros devido
a migração do excesso do MoO3 na superfície externa do catalisador para o interior dos
mesoporos, que apresenta forte interação com a peneira molecular (HUANG et al., 2020).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da termogravimetria confirmou a completa remoção do direcionador orgânico
(P123) dos poros dos catalisadores e indicou que a temperatura de calcinação deve ser
até 550 °C para decomposição dos sais e formação dos óxidos de alumínio. As isotermas
de adsorção/dessorção de N2 obtidas são do tipo IV, com “loop” de histerese do tipo H1,
confirmando a estrutura mesoporosa da peneira molecular Al-SBA-15 e dos catalisadores
xMoO3/SBA-15 e que apresentação distribuição de poros uniforme do tipo unimodal. Os di-
fratogramas de raios X apresentados pode-se confirmar a obtenção da peneira molecular
Al-SBA-15 e a incorporação do trióxido de alumínio na estrutura da peneira, como tam-
bém foram identificados picos característicos do trióxido de molibdênio na superfície da
estrutura mesoporosa.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
160
AGRADECIMENTOS
Os autores deste trabalho agradecem a CAPES/LACCBIO/UAEQ/UFCG.
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Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
163
Palavras-chave: Análise Econômica, Estimativa de Custo, Processos Químicos.
RESUMO
A análise econômica é uma importante ferramenta no desenvolvimento de projetos de
plantas de processos químicos, pois permite avaliar o desempenho econômico do pro-
cesso e sua viabilidade econômica. Quanto maior o nível de detalhamento da análise,
mais acurado será o resultado. No entanto mais informações são necessárias, aliado a
necessidade de resolver cálculos complexos que exigem grande esforço em sua aplica-
ção. Diante desse cenário, o uso de ferramentas computacionais além de trazer maior
facilidade na aplicação dos métodos de análise econômica, permite resultados rápidos
e com maior acurácia. O presente trabalho tem como objetivo o desenvolvimento de
uma ferramenta com uma interface amigável ao usuário que permita realizar avaliações
econômicas de modo prático e eficiente. Ao fim do projeto, obtém-se uma ferramenta
capaz de realizar estimativas dos principais custos associados a construção e operação
da planta, assim como análise do investimento e dos critérios de rentabilidade.
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INTRODUÇÃO
Uma planta de processos químicos consiste em um conjunto de equipamentos inte-
grados de modo a produzir, a partir de recursos materiais e energéticos, produtos de maior
valor comercial. O funcionamento de uma indústria dependente do seu sucesso financeiro.
Além de projetar e desenvolver novos processos, é também um papel do engenheiro proje-
tista obter informações que determinem se um processo, ou mudança em um projeto, trará
o lucro necessário para manter a planta funcionando.
A análise econômica está presente desde as etapas iniciais do desenvolvimento de
um projeto. A partir da avaliação econômica é possível obter informações sobre os custos
associados a construção e operação da planta química. A análise de custos pode também
ser utilizada em problemas de simulação, como no dimensionamento de equipamentos, na
busca de um dimensionamento ótimo que oferece o menor custo dentro das especificaçõespermitidas. Quanto mais informações estiverem disponíveis em determinada etapa, mais
acurada será a estimativa.
De acordo com Vazzoler (2017), ao realizar a análise econômica de um novo projeto,
é feito inicialmente uma avaliação preliminar, partindo do projeto básico, avaliando o capital
total a ser investido, o lucro anual e qual será o tempo de retorno do capital investido. Desse
modo, têm-se informações que indicam se o projeto atende aos objetivos dos investidores,
podendo ser encerrado caso o projeto não tenha o lucro desejado.
Uma estimativa econômica pode ser feita de forma detalhada ou aproximada. A primeira
é conduzida por especialistas com base em desenhos e especificações sobre o processo
com a finalidade de formalizar propostas para a compra dos equipamentos. A segunda se
baseia nas dimensões principais dos equipamentos mais importantes e nas estimativas de
consumo de matérias-primas, de insumos e de utilidades (PERLINGEIRO, 2005).
O nível de detalhamento da estimativa pode mudar de acordo com a etapa de desen-
volvimento do projeto. Embora estimativas mais incertas tenham uma precisão menor, sua
execução é mais rápida. Podendo assim ser melhor aplicada em fases iniciais do projeto na
análise das melhores alternativas para o processo.
Ao realizar a análise econômica do investimento e a contabilidade dos custos associa-
dos ao projeto, é comum se deparar com cálculos complexos e laboriosos. Os benefícios do
desenvolvimento de ferramentas e softwares que realizam estimativas de custos e análises
econômicas estão associados com a necessidade de agilizar e facilitar os cálculos realizados.
O desenvolvimento de ferramentas computacionais também proporciona um aumento
na precisão dos cálculos realizados, uma vez que tomando o exemplo de métodos gráficos,
muitas vezes a análise é feita de modo subjetivo perdendo precisão nas análises. Outro
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fator importante é que o usuário não necessariamente precisa conhecer todos os métodos
presentes na literatura para realizar uma análise.
Atualmente é possível encontrar diversos softwares que disponibilizam ferramentas
de análise econômica dentro de seus pacotes. No entanto, o custo de aquisição dessas
ferramentas é alto. Além disso, muitas vezes o profissional precisa se adequar aos soft-
wares e licenças disponíveis pela empresa. O desenvolvimento de ferramentas de análise
econômica de fácil aquisição pode conceder impactos positivos para pequenas empresas
e principalmente ao meio acadêmico.
OBJETIVO
Desenvolvimento de um módulo na linguagem C#, utilizando métodos matemáticos
clássicos de engenharia econômica para a estimativa de custos de equipamentos e análise
de investimentos de projetos.
MÉTODOS
O algoritmo foi desenvolvido no ambiente integrado de desenvolvimento da Microsoft,
o Microsoft Visual Studio 2017 que permite o desenvolvimento de softwares de forma gratui-
ta. O script foi escrito na linguagem de programação C#. Inicialmente, montou-se o programa
a partir da criação de um aplicativo de console no ambiente do Visual Studio.
Para o desenvolvimento da interface gráfica do projeto utilizou-se o Windows
Presentation Foundation (WPF), um subsistema gráfico do .NET Framework, contido no
pacote de instalação do Visual Studio, que usa o XAML como linguagem de marcação. Uma
das vantagens do uso do .NET Framework é que além do Windows, a plataforma também
funciona no Linux e Mac.
O módulo de estimativa de custos de equipamentos inicialmente foi construído a partir
do método desenvolvido por Guthrie (1969) utilizando as equações dos gráficos presentes
em Gutiérrez (2003), em seguida foi aplicado o método de estimativa de custo de equipa-
mentos presentes em Seider et al. (2017).
Os módulos de análise econômica como depreciação de equipamentos, valor futuro de
um investimento, custos de produção, fatores de fluxo de caixa e critérios de rentabilidade
(com e sem desconto) foram desenvolvidos pelas relações fornecidas por Turton et al. (2018).
No módulo de estimativa do custo de matéria-prima, para o cálculo do custo das
correntes foram utilizados os valores em $/kg de 25 componentes presentes em Turton
et al (2018), obtidos no site da Independent Commodity Intelligence Services (ICIS) para
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agosto de 2008. A técnica usada para estimar o custo de mão de obra se baseia nas corre-
lações, baseadas em cinco companhias químicas, elaboradas por Alkhayat e Gerrard (1984).
Método de Guthrie
Dentre os diversos métodos de estimativa de custo de equipamentos disponíveis na
literatura, o método desenvolvido por Guthrie (1969) apresenta um grande destaque devido
a abranger um considerável número de equipamentos. O método consiste na divisão do
projeto em módulos, de modo que o custo total de um módulo é obtido a partir de um custo
base modificado por uma série de fatores.
O método se baseia no uso de um custo base associado a uma dimensão ou capaci-
dade do equipamento considerando um material de construção de aço carbono, assim como
uma geometria base, pressão moderada e o ano base de 1968. Em seguida, ajusta-se para
especificações desejadas, assim como é feita a correção inflacionária.
Método de Seider et al. (2017)
Na literatura é possível encontrar diversos métodos gráficos que mostram a relação
entre uma dimensão de tamanho ou capacidade com o custo de compra do equipamento.
Para Seider et al. (2017), embora esses gráficos podem facilmente ser lidos, equações são
mais consistentes, especialmente comparando a gráficos que usam coordenadas logaritmos.
Além disso, equações são mais facilmente aplicadas em programas computacionais.
Tomando em consideração a equação em que A e B são constantes,
e S uma unidade que indica tamanho ou capacidade do equipamento, modifica-se a equação
ao aplicar o logaritmo natural e adicionar termos de maior ordem como em um polinômio.
Desse modo é obtido uma equação que determina o custo de compra do equipamento do tipo:
A equação se baseia nos materiais de construção mais comuns, tal como aço de carbo-
no. Para outros materiais, usa-se fatores para correção. Assim como outras características
que podem influenciar no custo final.
Custos de Produção
Realizar estimativas das vendas dos produtos e o custo de produção, é um passo chave
na determinação dos lucros obtidos com o processo. Conhecer os custos de produção é
também importante na otimização do processo, seja em um novo projeto ou na expansão
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de uma planta existente (TOWLER e SINNOTT, 2012). Para o processo obter lucros, é ne-
cessário que a venda dos produtos seja superior aos custos de produção.
Os custos associados a operações diárias na planta devem ser calculados antes do
processo ser assinado. É necessário saber se há retorno dos gastos com a operação, ou
seja, se os custos em matéria-prima, utilidades, operadores, são compensados pelo lucro
final. Como discutido por Turton et al. (2008), os custos de produção podem ser divididos
em três categorias:
Custos diretos: São gastos operacionais que variam com a taxa de produção. Alguns
exemplos de custos diretos são os custos com matéria-prima, utilidades, tratamento de
água, mão de obra.
Custos fixos: Não mudam com a taxa de produção. Incluem taxas de juros da proprie-
dade, seguros e depreciação. Esses valores costumam ser cobrados em taxas constantes
mesmo quando a planta não está operando.
Despesas Gerais: Incluem os custos gerais associados a manter a funcionalidade do
negócio. Pode-se incluir o pagamento de gestores, pesquisas, financiamentos.
É possível relacionar os custos diretos (DMC), custos fixos (FMC) e despesas gerais
(GE) para calcular o custo de produção (COM) a partir do investimento de capital fixo (FCI),
custos de mão de obra ( ), custo de utilidades ( ), custo de tratamento de água ( ) ecustos de matéria prima ( ). Tem-se assim as relações fornecida por Turton et al. (2008):
Em que para depreciação é adicionado . Desse modo, o custo de produção
sem depreciação é dado por:
Fluxo de Caixa
As companhias habitualmente definem uma Taxa de Investimento (TIR) mínimo para
financiamento de um projeto. Se o projeto não atende este requisito mínimo, não é financiado.
Este valor depende do setor, da situação econômica, do tipo de projeto, políticas internas
da empresa, dentre outros inúmeros fatores (VAZZOLER, 2017).
Um investimento é um acordo entre duas partes, o investidor fornece o capital P, para
uma segunda parte, o produtor, com a expectativa que o produtor forneça o capital de
volta, F, no futuro. Dado um investimento inicial P é possível calcular o valor futuro desse
investimento em n anos a uma taxa i.
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Também é comum em dado investimento uma série de transações regulares chamadas
de anuidade. Essas transações podem ser relacionadas da seguinte forma:
Uma forma simples de relacionar o investimento inicial, anuidade e valor futuro é por
uma série de fatores comuns nas transações financeiras. Alguns fatores importantes são
demonstrados na Tabela 1.
Tabela 1. Fatores Comuns em Cálculos para Diagramas de Fluxo de Caixa
Fatores Relação
Fator de capitalização de um pagamento único (F/P)
Fator de descapitalização de um pagamento único (P/F)
Fator de valor presente de sequências uniformes (P/A)
Fator de recuperação de capital (A/P)
Fator montante de sequências uniformes (F/A)
Fator fundo de amortização (A/F):
Fonte: Turton et al. (2018).
Depreciação
Todo equipamento que compõe uma planta industrial tem seu tempo de vida. Conforme
a operação da planta, observa-se que os equipamentos podem reduzir seu valor financei-
ro ou gerar custos adicionais como manutenção ou troca de equipamentos, por conta do
desgaste dos equipamentos devido ao uso ou por obsolescência através do surgimento de
novas tecnologias.
Depreciação e amortização são métodos de vantagem fiscal (balanço fiscal) que lidam
respectivamente com investimentos de capital e compras. Ambos são modalidades de gasto,
mas não entram no orçamento de despesas. Devido a este fato, também não entraram no
fluxo de caixa. No balanço contábil, a amortização tem o efeito líquido de reduzir os impostos
pagos (VAZZOLER, 2017).
Diversos métodos podem ser empregados na depreciação da planta química, como
mostrado na Tabela 2. Outro método importante é o método de MACRS, que foi estabelecido
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nos EUA em 1986. O método é uma combinação dos métodos de balanço declinante duplo
e o método linear (TOWLER e SINNOTT, 2019).
Tabela 2. Métodos de Depreciação
Método Fórmula
Linear
Soma dos Dígitos dos Anos
Balanço Declinante Duplo
Fonte: Turton et al. (2018).
FCI é o custo fixo de investimento, S o valor de salvamento, n de vida do equipamento,
k o ano vigente e dk o valor de depreciação anual.
Critérios de Rentabilidade
Ao analisar a rentabilidade de um projeto toma-se essencialmente critérios com base
no tempo, caixa e taxa de juros. Para cada uma desses critérios toma-se métodos com
desconto e sem desconto. Nos critérios sem desconto a influência do tempo sobre o valor
do dinheiro não é levada em consideração, por isso não é indicado para grandes proje-
tos. No entanto, para pequenos projetos esses métodos até hoje são tradicionalmente apli-
cados (TURTON et al., 2018).
Critérios sem Desconto: Como critério de tempo é avaliado o tempo, após início da
operação da planta, no qual o investimento de capital da planta é recuperado. O período
de reembolso (PayBack Period) é definido a partir do último fluxo de caixa negativo (B) e
seu período (A), e também pelo fluxo de caixa do período seguinte (C). Quanto menor esse
valor, mais rentável é o projeto.
Por sua vez para o critério de caixa avalia-se o montante arrecado pelo projeto no
fim de sua vida (CCP). Para esse critério, se torna difícil comparar projetos com diferentes
valores de investimento fixo de capital, por isso pode ser preferível usar a razão cumulativa
de caixa (Cumulative Cash Ratio).
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O critério pela taxa de juros fornece a taxa de retorno do investimento (Rate of Return
on Investiment), representa a taxa por qual é se adquire capital a partir do investimento fixo.
O lucro líquido anual médio leva em consideração o tempo de vida da planta após o
início de sua operação.
Critérios com Desconto: O critério de tempo de retorno de investimento com desconto
(Discounted PayBack Period) é definido de forma semelhante ao retorno sem desconto. É de-
finido como o tempo após o início da operação da planta até que o projeto recupere o valor
do investimento. Para o critério de caixa, usa-se a razão do valor presente (Present Value
Ratio). É um critério de alta importância, pois indica se o projeto é lucrativo.
O critério de taxa de juros com desconto (Discounted Cash Flow Rate of Return), é
definido como a taxa de juros na qual todos fluxos de caixa sejam descontados de modo
que o valor presente líquido seja igual a zero.
RESULTADOS
Inicialmente, foram desenvolvidos os módulos de estimativa de custos associados a
processos químicos. Para os métodos de estimativa de custo de equipamento foi desenvol-
vido rotinas de cálculos para os principais equipamentos industriais, tal como trocadores de
calor, vasos pressurizados, compressores, aquecedores e outros.
Por exemplo, tomando a estimativa de aquisição de um trocador de calor, o fator de
maior influência no custo final é a área de troca térmica do trocador. Além disso, é neces-
sário saber a influência da pressão de operação, material de construção e o design do tro-
cador. O usuário entra com os principais fatores que influenciam no custo final e informa o
CEPCI para correção inflacionária como pode ser visto na Figura 1.
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Figura 1. Interface de Estimativa de Custos de Equipamentos
Fonte: Autoria Própria.
No módulo de custos de produção, é possível calcular o custo total de produção a partir
do custo fixo de investimento (FCI), custos com mão de obra, utilidades, matéria-prima e
tratamento de efluentes como pode ser visualizado na Figura 2. Ao selecionar o critério de
depreciação é adicionado um valor de 0,1FCI ao custo final.
Figura 2. Interface de Estimativa de Custos de Produção
Fonte: Autoria Própria.
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Figura 3. Interface de Estimativa de Custos de Matéria-Prima.
Fonte: Autoria Própria.
A ferramenta permite calcular alguns dos parâmetros do custo de produção separada-
mente com os módulos de custo de mão de obra, custo com utilidades e matéria prima. O mó-
dulo de custo com utilidades permite calcular, por meio de valores de custos fornecidos por
Turton et al. (2018), o custo anual do consumo de determinada utilidade em $/ano.
Na Figura 3 é possível observar o módulo de estimativa de custo de materiais toman-
do como base correntes do processo. O usuário pode escolher o material de interesse e
com base nos dados de vazão da corrente, seja molar ou mássica, é possível determinar o
custo anual de consumo de determinada matéria-prima ou ter uma base da receita de uma
corrente de produtos do processo.
É importante que o usuário informe os dias de funcionamento da planta para deter-
minação do fator de corrente (SF), o fator que representa a fração de tempo que a planta
está em operação, pois é possível que a produção possa parar em algum período do ano,
mesmo que para manutenção. Lembrando que para um PFD os dados de consumo de ma-
téria-prima são informados em termos de vazão, já os custos de produção costumam ser
relatados em $/ano.
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Figura 4. Interfaces de Análise de Investimentos com o Tempo
Fonte: Autoria Própria.
Nos módulos de análise de investimento é possível determinar o valor futuro de um
investimento, seja pela aplicação de juros simples ou compostos a partir de um investimento
inicial ou aplicação de anuidades. Há também o módulo de avaliação dos parâmetros comuns
de fluxo de caixa que relacionam o valor presente, o valor futuro e anuidade do investimento.
A Figura 4 representa as janelas de análise de investimento por juros compostos e
para cálculo de valores comuns de fluxo de caixa. Em ambos módulos é necessário infor-
mar a taxa de juros sobre o investimento e o período no qual deseja-se obter os resultados
do investimento.
Na Figura 5 tem-se a janela para o módulo de depreciação. Foram estabelecidas rotinas
que permitem a aplicação dos métodos de depreciação Linear, Soma dos Dígitos dos Anos,
Balanço Declinante Duplo e MACRS. A partir da escolha do método, o usuário pode entrar
com o valor de salvamento, o investimento fixo de capital e tempo de vida do equipamento.
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Figura 5. Interface de Análise de Depreciação
Fonte: Autoria Própria.
Os critérios de rentabilidade podem ser analisados a partir de métodos com desconto
e sem desconto. Na Figura 6 tem-se o módulo sem desconto, o usuário informa o fluxo de
caixa para cada ano, assim como o investimento inicial. A partir da definição de todas infor-
mações necessárias o usuário pode calcular os valores de período de reembolso, taxa de
retorno de investimento e razão cumulativa de caixa.
Figura 6. Interface de Critérios de Rentabilidade (Sem Desconto)
Fonte: Autoria Própria.
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DISCUSSÃO
A ferramenta desenvolvida permite avaliar fatores fundamentais para a análise eco-
nômica de um projeto. É possível estimar os principais custos de grande impacto no custo
final da planta química. Também é possível a avaliação de investimento e critérios de ren-
tabilidade. A análise desses fatores é determinante para construção e operação da planta.
Foram realizados testes com base em valores disponíveis na literatura, como em Turton
et al. (2018) e Seider et al. (2017), afim de garantir a funcionalidade do programa e a acurá-
cia dos resultados. Os resultados encontrados se mostraram coerentes com os resultados
disponíveis na literatura. Além disso, o programa apresenta mensagens de aviso caso o
usuário não inserir os dados corretamente.
CONCLUSÃO
A ferramenta permite testar diversos métodos com resultados rápidos proporcionando
grande eficiência de tempo. E pode ser aplicada principalmente na análise de pequenos
projetos cuja exigência por detalhamento não é tão grande, e também no meio acadêmico
no desenvolvimento de análises de projetos durante aulas para melhor visualização da
aplicação dos métodos de avaliação econômica.
A linguagem de programação C# se mostrou de boa aplicação para os métodos de
análise e a partir do WPF foi possível desenvolver uma interface para facilitar a aplicação
dos métodos e visualização dos resultados pelo usuário. A possibilidade de analisar cada
módulo separadamente permite versatilidade nas análises realizadas, além da possibilidade
de analisar individualmente a influência de cada fator na avaliação econômica.
Os custos que dependem da taxa de produção, como custos com insumos, utilidades
e tratamento de resíduos, podem estar relacionados com balanços de massa e energia do
processo. Por conta disso sua aplicação pode ser melhor em simuladores de processo.
Para determinados materiais e algumas utilidades, como energia elétrica ou combustí-
veis fósseis, seus valores podem ter grandes variações de custo, uma vez que se relacionam
com o preço do petróleo. Desse modo, para obter maior precisão é necessário que haja uma
atualização desses valores. Ao fim do projeto pretende-se que a ferramenta seja integrada
ao simulador de processos Chem+ como ferramenta de análise econômica.
Por se tratar de uma ferramenta que realiza estimativas, fica claro que mesmo os me-
lhores métodos podem apresentar um desvio dos valores obtidos para um projeto real, pois
esses podem variar de acordo com fabricantes, fatores inflacionários, localidade, além dos
próprios desvios presentes nos métodos.
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Para uma análise mais detalhada, quanto mais informações de custos forem analisadas
mais preciso será os valores encontrados, ou seja, quanto mais especificações forem feitas
mais próximo estará do valor real. A vantagem principal da ferramenta é obter resultados
rápidos que ajudam a fornecer resultados preliminares que podem ajudar o usuário em rea-
lizar análises e comparações de projetos.
FINANCIAMENTO
O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil, por meio da concessão da bolsa
PIBIC/CNPq-UFCG.
REFERÊNCIAS
1. ALKHAYAT, W. A.; GERRARD, A. M. Estimating Manning Levels for Process Plants. AACE
Transactions, 1984.
2. GUTHRIE, K. M. Data and Techniques for Preliminar Capital Cost Estimating. Chemical
Engineering, 1969.
3. GUTIÉRREZ, A. J. Diseño de Processos em Ingeniería Química. Barcelona: Editorial Re-
verté, S.A, 2003.
4. PERLINGEIRO, C. A. G. Engenharia de Processos: Análise, Simulação, Otimização e
Síntese de Processos Químicos. 1. ed. São Paulo: Blucher, 2005.
5. SEIDER, W. D.; LEWIN, D. R.; SEADER, J. D.; WIDAGDO, S.; GANI, R.; NG, K. M. Product
and Process Design Principles, Synthesis, Analysis and Design. 4th ed. Wiley, 2017.
6. TOWLER, G; SINNOTT, R. Chemical Engineering Design: Principles, Practice and Eco-
nomics of Plant and Process Design. 2nd ed. Butterworth-Heinemann, 2012.
7. TURTON, R.; SHAEIWITZ, J. A.; BHATTACHARYYA, D.; WHITING, W. B. Analysis, Synthesis
and Design of Chemical Process. 5th. ed. Prentice Hall, 2018.
8. VAZZOLER, A. Introdução ao Estudo das Viabilidades Técnica e Econômica de Processos
Químicos: Estimativa de custos para projetos conceituais e anteprojetos. Campinas, 2017.
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Aplicação da transformada Wavelet na
verificação de dobramento de período
em séries temporais
Bruno Coelho Bulcao
CESP/UEA
Francisco Otávio Miranda Farias
CESP/UEA
10.37885/210303554
https://dx.doi.org/10.37885/210303554
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
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Palavras -Chave: Séries Temporais, Transformada Wavelet, Sinais Sintéticos, Sinais Reais,
Dobramento de Período.
RESUMO
O objetivo deste trabalho é apresentar uma análise em séries temporais reais e sinté-
ticas, priorizando o comportamento de confluências de linhas de mesma fase ao longo
de escalas e identificando inversões de máximos e mínimos de energia dentro destas
confluências, podendo assim, identificar um possível comportamento de dobramento de
período. Para isso foi utilizada como ferramenta a Transformada Wavelet complexa de
Morlet, que é uma ferramenta que possibilita analisar processos não estacionários para
extrair informações sobre variações de frequências e detectar suas estruturas tempo-
ralmente. Os resultados obtidos demonstram que é possível construir um sinal sintético
que reconstrói alguns aspectos de uma série temporal real medida na natureza. Dentre
as características reconstruídas pode-se citar: a confluência de linhas de mesma fase
ao longo de uma grande quantidade de escalas, os pulsos de energia em escalograma
wavelet que indicam a possibilidade de dobramento de período. Os resultados, embora
preliminares já podem dar uma contribuição para o entendimento de temas relacionados
à análise de séries temporais reais e sintéticas.
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178 179
INTRODUÇÃO
Fenômenos de natureza extrema (daqui em diante nomeados de FE) podem ser iden-
tificados em séries temporais turbulentas através de uma “singularidade”ou confluência de
linhas de mesma fase ao longo de escalas (Farias, 2017; Miranda et al., 2020). Estas linhas
de mesma fase seguem formando uma ‘confluência de linhas ao longo de uma grande quan-
tidade de escalas temporais associadas aos coeficientes wavelet, que resultam da aplicação
de uma transformada wavelet (TW) sobre uma série temporal (Weng e Lau, 1994). Neste
caso em particular, a série temporal utilizada foi uma série de natureza turbulenta (medida
em um campo turbulento). A singularidade de fase (como será descrito posteriormente aqui)
pode ser verificada através da obtenção da fase do sinal, em um instante e em
uma escala , a partir da aplicação da TW ao um dado sinal (Farge, 1992).
O termo “singularidade” provém dos estudos de certas equações diferenciais investi-
gadas há muitas décadas (Minorsky, 1974; Birkhoff e Rota, 1978, pp.29, 225) sendo que, na
época, já tinham sido propostas classificações de singularidades. O estudo das singularida-
des, experimentou um grande avanço nos anos 70 do século passado com a sistematização
da chamada “Teoria da Catástrofe” por René Thom (1972), o que despertou a atenção de
Vladimir Arnol’d (Arnol’d, 1994) e Michael Berry (Berry, 1988), dentre outros que aprofunda-
ram os estudos associados a singularidades. Uma breve descrição desses estudos pode ser
encontrada no trabalho Farias (2017), que realizou análises de singularidades associadas a
fenômenos atmosféricos na região amazônica. Para alguns casos mais específicos, é possível
identificar alguns pulsos de máxima energia dentro da singularidade de fases, que podem
estar associados à ocorrência de fenômenos de transições entre regimes que ocorrem na
atmosfera tropical, como aqueles descritos por Miranda et al. (2020).
Estudos como os de Farias (2017) sugerem que estes pulsos de energia podem estar
associados a fenômenos de dobramento de período, pois a razão entre os respectivos pe-
ríodos (1/Fs) fornece uma constante que se aproxima, sob alguns aspectos, da constante
de Feigenbaum (Feigenbaum, 1980).
Por esse motivo, este trabalho pretende dar mais um passo no sentido de verificar se
de fato o fracionamento dos pulsos de energia verificados nos escalograma de fase e energia
obtidos a partir das flutuações dos coeficientes wavelet, realmente guardam relação com o
dobramento de período. Nesse trabalho, porém, serão aplicadas séries temporais turbulentas
para comparação com as séries sintéticas.
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OBJETIVO
Identificar e quantificar a ocorrências de pulsos de energia que ocorrem no interior de
singularidades de fase associado à parte real dos coeficientes Wavelet em séries temporais
sintéticas e séries temporais reais medidas acima de floresta. Para isso será necessário
localizar em séries temporais turbulentas reais medidas em sítios experimentais, alguns fe-
nômenos que provocam perturbações no sinal turbulento (sinal real) e que em consequência
disso podem induzir o surgimento de uma singularidade no sinal analisado.
DADOS E MÉTODOLOGIA
Sinais sintéticos
Para a construção sinal sintético utilizados nesse trabalho, tomou-se como ponto de
partida uma transformada de Fourier, em um pulso retangular no domínio do tempo e de
intervalos que variavam entre − até e de amplitude “A”. Para promover uma pequena
distinção entre os sinais, foi inserida uma leve variação nos argumentos da função “sinc”
contida na solução da transformada de Fourier. A solução da referida transformada possibi-
litou obter um sinal de interesse, foi então feita a sobreposição de “n” sinais para formar uma
única série temporal (Ts). Os dados para a construção do sinal sintético constam a seguir.
neste, “A” é a amplitude, “Fs” é a frequência e F é o intervalo utilizado e as séries de
até representam a quantidade de sinais utilizados na construção do sinal sintético
utilizado messe trabalho na forma:
(1)
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Sinais reais
Os Sinais reais utilizados neste trabalho, são os de velocidade do vento e foram obtidos
através de medições realizadas na torre K34 no sitio do Cuieiras – Manaus AM. São séries
temporais turbulentas medidas no ano de 2013 a uma taxa de amostragem de 10 Hz com
anemômetros 3D (model CSAT3, Campbell Scientific Inc., Logan, UT) à altura de 50 metros
acima do solo. Um anemômetro é um instrumento de monitorização meteorológica usada
para medir a velocidade do vento e temperatura, ou ainda outras variáveis, dependendo de
sua marca e modelo. A série temporal de velocidade do vento utilizada aqui foi a do dia 02
de maio de 2013 entre as 17:30 e as 23:30 hora local.
MÉTODOS
Neste trabalho foi utilizada a transformada de Wavelet complexa de Morlet que é uma
ferramenta que possibilita extrair informações sobre variações de frequências e detectar suas
estruturas temporalmente (ou espacialmente) localizadas (Lau e Weng 1995). De acordo
com Lau e Weng (1995) a WT decompõe um dado sinal em termos de certas funções
elementares derivadas de uma função intitulada wavelet mãe (mother wavelet) por
meio de translações β e dilatações α, as quais são quadraticamente integráveis (Daubechies,
1992; Farge, 1992):
(2)
O fator de normalização é responsável por manter a energia da wavelet mãe
em toda a família de wavelet utilizada. A transformada Wavelet de um sinal real pode
ser definida com relação à wavelet de análise como (Lau e Weng, 1995):
(3)
na qual é o complexo conjugado de definido no semi-plano real de
“tempo-escala” .
Para o caso deste trabalho em que se deverá utilizar a fase do sinal, segundo Farge
(1992) é possível obter a fase do sinal, num instante e numa escala con-
forme a expressão:
(4)
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Para análises como esta que se pretende apresentar aqui, faz-se necessário que a TW a
ser aplicada possa fornecer algumas informações importantes. De acordo com Farge (1992)
entre as informações importantes estão:
I. Admissibilidade: A função de análise tem a sua média igual a zero.
II. Similaridade: Todas as análises de wavelets são mutuamente semelhantes.
III. Invertibilidade: Há pelo menos uma fórmula de reconstrução para recuperar o sinal
de seus coeficientes wavelet.
IV. Regularidade: A wavelet pode ser suficientemente regular e tem que ser concen-
trada em algum suporte espacial finito.
V. Cancelamento: além e apresentar média nula a função wavelet pode apresentar
valores nulos para alguns de seus valores de ordem elevada.
Inúmeras outras características e aplicações importantes das TW podem ser consul-
tadas também em Lau e Weng (1995).
RESULTADOS
Os resultados apresentados a seguir são compostos em duas partes referentes ao
sinal sintético e real. O sinal sintético foi obtido através da solução de uma transformada de
Fourier, pois o objetivo era o de se obter um sinal com um máximo de amplitude bem loca-
lizado no tempo. O efeito desse máximo de amplitude era o de se obter a singularidade de
fase muito bem localizada no tempo e que se faz necessária para este estudo. O sinal real,
por sua vez, foi obtido de campanhas experimentais realizadas acima de região de floresta
amazônica, como já descrito anteriormente.
Sinal sintético
Como já foi descrito no item 2.1, o sinal sintético foi obtido a partir da sobreposição
de “n” sinais e na Figura 1 e é possível verificar individualmente os sinais utilizados na
composição da série. Observe que estes sinais apresentam em um primeiro momento um
comportamento oscilatório cuja amplitude aumenta e posteriormente diminui, tendo como
“ponto de inversão” um eixo de simetria. Com esses sinais é possível localizar uma carac-
terística importante para este estudo, que é o local exato onde a confluência de linhas de
mesma fase irá ocorrer quando a TW for aplicada ao sinal. Esse é o principal motivo para
se aplicar esta função e não outrapara se obter o sinal sintético.
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182 183
Figura 01. Representação gráfica das sobreposições dos sinais com diferentes frequências
A partir das sobreposições dos sinais com frequências distintas, faz-se necessário,
realizar a soma destes sinais para obtenção de um único sinal que trará as características
de todos os sinais em apenas um comportamento, logo obteve-se o seguinte resultado.
Figura 02. Representação gráfica do sinal resultante (Ts) da somatória dos sinais com frequências distintas. No eixo x conta
o número de pontos da série temporal e no eixo y a amplitude do sinal (Ts). As setas na cor vermelha indicam oscilações
do sinal que são ocultadas pelo pico de amplitude.
Observe que ocorre na Figura 2, como esperado, um grande pico de amplitude ofusca
as demais oscilações do sinal (marcadas pelas setas na cor vermelha), por isso, foi introdu-
zido um destaque entre os limites de -0.3 a 0.3, no qual é possível verificar estas oscilações.
Vale ressaltar aqui, que estas oscilações de menor intensidade ocorrem sempre que os si-
nais oscilam em fase. Neste momento já é possível aplicar a transformada wavelet ao sinal,
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
184
no entanto, embora este seja composto pela sobreposição de inúmeros sinais, ele ainda
mantém uma característica “bem-comportada”. Assim, ao aplicar a transformada Wavelet,
será obtido como resultado uma clara singularidade na máxima amplitude e uma distribuição
de energia muito concentrada na alta frequência (ou menor escala temporal). Isso está de
acordo com o que Weng e Lau (1995) já haviam previsto anteriormente ao realizar análises
distintas desta que será apresentada aqui.
Figura 03. Representação gráfica: (a) Sinal sintético, (b) escalograma de energia em que no eixo x consta o número de
pontos da série e no eixo y a escala temporal em segundos (c) espectro médio para o escalograma de energia.
No entanto, como o objetivo é comparar os resultados da série sintética com um sinal
real e considerando-se que sinais reais em geral apresentam algum tipo de ruído, vamos
introduzir um ruído ao sinal para tornar a comparação um tanto mais “realista”, pelo menos
sob alguns aspectos. Assim, aplicamos um ruído aleatório (tipo rand(Ts)), com o objetivo de
transformar um sinal sintético bem-comportado (Figura 2) em um sinal com alguma carac-
terística de um sinal real medido na natureza e o resultado consta na Figura 4.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
184 185
Figura 04. Representação gráfica do sinal sintético após a aplicação do ruído
Após a aplicação do ruído, verificou-se como este sinal se comporta com a aplicação
da Transformada Wavelet Complexa de Morlet, os resultados se mostraram promissores
como se pode ver nas representações gráficas do escalograma de energia (Figura 5) e de
fase (Figura 6).
Figura 05. Representação gráfica do sinal ruidoso: (a) Sinal sintético após a inserção do ruido, (b) escalograma de energia
em que no eixo x consta o número de pontos da série e no eixo y a escala temporal em segundos (c) espectro médio para
o escalograma de energia.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
186
Figura 06. Representação gráfica do escalograma: (a) de fase e (b) da parte real dos coeficientes WAVELET
Observe que para o sinal sintético, foi possível verificar os máximos de energia
(Figura 5b) no interior da singularidade de fase (Figura 6b). Este resultado será discuti-
do posteriormente.
Sinal Real
Para efeitos de comparação, foi identificado um fenômeno cujo comportamento se
assemelha, sob alguns aspectos, ao sinal sintético anteriormente analisado. Trata-se de
um evento em que ocorre um forte pico na velocidade do vento que muito bem localizado
no tempo (em torno das 19:50 hora local). Uma observação importante, mas que não será
descrita em detalhes aqui é que o caso identificado tem as mesas características que Farias
(2017) e Miranda et al. (2020) classificaram como fenômenos extremos da atmosfera tro-
pical. Assim, foi aplicada transformada Wavelet complexa de Morlet, na série temporal de
velocidade do vento e os escalograma de energia (Figura 7b) e fase (Figura 8a) demons-
tram claramente a tendencia esperada. Ou seja, mostrou-se claramente uma singularidade
de fase, e no interior desta singularidade apresentou inversões de máximos e mínimos de
energia como já tínhamos visto no sinal sintético, só que agora aplicada a um evento real
da natureza, como vamos visualizar nas representações gráficas abaixo.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
186 187
Figura 07: Representação gráfica do sinal real: (a) Série temporal de velocidade do vento (b) escalograma de energia em
que no eixo x consta a hora local e no eixo y a escala temporal em segundos (c) espectro médio para o escalograma de
energia.
Figura 08. Representação gráfica do escalograma: (a) de fase e (b) da parte real dos coeficientes Wavelet para a série
temporal de velocidade do vento.
Observe que o máximo de energia para o caso real está localizado em 2018 segundos,
com um “repique” de menor intensidade em torno dos 512 e depois 128 segundos, o que
indica que, embora a razão entre os máximos de energia ainda seja de um número inteiro,
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
188
esta razão não é mais de ½ como no sinal sintético, mas sim de ¼ como também foi previsto
por Farias (2017). Trata-se de um resultado importante que pode auxiliar a interpretação da
ocorrência de fenômenos que ocorrem na atmosfera tropical acima de floresta.
DISCUSSÃO
Considerando-se os resultados apresentados na seção anterior, uma questão relevante
que deve ser notada refere-se aos efeitos causados pelo ruído associado a uma determinada
medida. Dados medidos experimentalmente podem apresentar algum grau de contaminação
por algum tipo de ruído e por isso necessitam passar por tratamentos de filtragem. No tra-
balho realizado por da Costa et al. (2019) foi mostrado os efeitos de distorção que os ruídos
podem causar em séries temporais e com estes interferem na interpretação de resultados.
Para este nosso caso específico a contribuição é no sentido de mostrar que embora o ruído
possa inserir complicações às análises é sempre possível construir sinais sem este elemento
complicador. Observe que o sinal real de velocidade do vento escolhido para o teste aqui
apresentado tem algumas características que puderam ser reconstruídas a partir de um sinal
sintético, partindo-se de uma equação relativamente simples.
Em contraponto, embora ainda haja fortes indícios (como esperado) de que uma frag-
mentação da energia ocorre em múltiplos inteiros, tanto no escalograma de energia quanto
da parte real dos coeficientes wavelet, o que pode ser visto tanto nas Figuras 5b e 6b, é que
as distorções causadas pela introdução do ruído foram muito significativas. No entanto, há
de se observar que esse comportamento já havia sido previsto por Farias (2017) para séries
temporais turbulentos e aqui oferecemos mais uma contribuição no sentido de entender a
natureza daqueles fenômenos descritos em Farias (2017). Vale apena ressaltar que no inte-
rior da confluência de linhas de mesma fase (Figura 6 a-b), verifica-se mais uma vez aquilo
que Farias (2017) classificou como uma possível manifestação de dobramento de período,
ocorrendo com maior intensidade na escala 512 (em menor intensidade) depois 128, 64,
32 e 16. Além disso, as inversões de fase também ocorrem com maior intensidade nestes
pontos em que há indícios de dobramento de período.
A representação gráfica da série temporal real, nos apresenta uma semelhança ao
comparar com o sinal sintético, claramente vemos a confluência de linhas de mesma fase
seguindo o mesmo sentido do sinal sintético que vai da baixa para alta frequência. Outro
fato de semelhança é a presençada inversão de máximos e mínimos de energia dentro da
singularidade de fase, reforçando assim a ideia de um possível dobramento de período.
Embora as semelhanças entre os dois sinais existam, sob alguns aspectos, existem
também algumas diferenças importantes. Uma delas é o fato de que no sinal sintético a
razão é (praticamente) de ½ entre as escalas e isso pode se tornar ainda mais preciso se
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
188 189
utilizar a constate de Feigenbaum (Feigenbaum, 1980) como multiplicador “n” no argumen-
to da função “sinc” em = A*pi*sinc(pi^2*f*n). Já no caso do sinal real essa razão é de
aproximadamente ¼ e não se mantém constante para todo o range de frequências, o que
é absolutamente aceitável já que se trata de um sinal real e medido em ambiente ruidoso.
Outra questão que é digna de nota é a concentração da energia em torno dos 2048
segundos, o que indica que o fenômeno que induziu a ocorrência do pico na velocidade do
vento tem duração inferior a uma hora. A reprodução dessa concentração de energia em
torno de uma escala particular para o sinal sintético ainda deve ser aprofundada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta do referente do trabalho era verificar um possível dobramento de período
em sinais sintéticos e em series temporais reais da natureza. Como resultado, pôde-se apre-
sentar um sinal sintético que foi capaz de recriar algumas características de um sinal real
de velocidade do vento. Foi apresentado tanto no sinal sintético, quanto no sinal real, uma
confluência de linhas de mesma fase, sendo a recriação do sinal sintético bem satisfatória,
foi possível também verificar a inversão de fase do sinal e os máximos e mínimos de energia
dentro da singularidade de fase. Esses resultados são apenas um passo na direção de se
encontrar uma razão efetiva entre os períodos dos coeficientes da Transformada Wavelet
associadas a séries temporais, sejam reais ou sintéticas, mas já se pode considerar a con-
tribuição deste trabalho no sentido de entender essa importante questão.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao “The Large-scale Biosphere-Atmosphere Experiment in
Amazonia (LBA)” pelos dados. Francisco Otávio Miranda Farias Agradece à Universidade do
Estado do Amazonas (UEA) pela Gratificação de Produtividade Acadêmica e Bruno Coelho
Bulcão agradece à Fundação de Amparo à pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM)
pela bolsa de Estudos (IC)
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190
REFERÊNCIAS
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Development, v. 5, n. 6, p. 6509-6527, 2019.
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application to organization of convection over the tropical western Pacific. Journal of Atmos-
pheric Sciences, v. 51, n. 17, p. 2523-2541, 1994.
13
Análise de diferentes estratégias em
avaliação de imóveis com a inspeção
de Engenharia Civil associada à lógica
Fuzzy
Vladimir Surgelas
LLU
Irina Arhipova
LLU
Vivita Pukite
LLU
10.37885/210303732
Artigo original publicado em: 2020
Anais do XX CONEMI - Congresso Internacional de Engenharia Mecânica e Industrial
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98
https://dx.doi.org/10.37885/210303732
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192
Palavras-chave: Lógica Fuzzy, Inspeção Predial , Inteligencia Artificial, Heuristica.
RESUMO
Atendendo às condições reais do imóvel no universo da avaliação imobiliária de forma
a utilizar a inteligência artificial e lógica Fuzzy, é possível prever o preço de mercado
associado às reais condições físicas do edifício por meio da vistoria técnica realizada
por um especialista em engenharia civil. O objetivo é desenvolver um modelo de ava-
liação imobiliária com base na visão Heurística utilizando um formulário de inspeção de
engenharia civil associado a inteligência artificial e lógica Fuzzy. A metodologia utilizada
baseia-se na inspeção técnica da engenharia civil para definir o estado de conservação
dos imóveis de acordo com o modelo utilizado em Portugal e adaptado à realidade da
Letônia. O uso da inteligência artificial é aplicado após a obtenção dos dados dispersos
desse relatório. A partir disso, obtêm-se regras de associação, que são utilizadas na ló-
gica difusa para prever o valor de mercado do apartamento residencial. Para tanto, são
utilizadas 48 amostras de apartamentos residenciais localizados na cidade de Jelgava, na
Letônia, com inspeção realizada em 2019. O principal resultado é a métrica de erro de 9%,
o que demonstra a possibilidade de aplicação do método proposto neste doutoramento.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
192 193
INTRODUÇÃO
O estado físico do edifício reflete o seu desempenho. A partir desse contexto, e de modo
geral os responsáveis pelo edifício devem ter conhecimento em monitorar a real condição de
seus edifícios para prevenir defeitos e falhas (SYAMILAH et al., 2016). Assim, quanto mais
cedo se detectar uma anomalia em uma edificação, mais eficiente e menos onerosa será a
intervenção no futuro. Então, um sistema de manutenção e conservação deve ser elabora-
do de modo a garantir esse desempenho, através de ações preventivas periódicas. Nessa
direção, a vida útil do edificado é assegurado por meio de inspeções técnicas periódicas.
Com isso, é essencial essa abordagem rápida e prática de realizar a inspeção periódica na
construção e assim avaliar o seu estágio de degradação (CHE-ANI et al., 2015).
Em muitos países europeus, tais como França, Inglaterra, Holanda, Portugal, Letônia
assim como no Brasil, utilizam diferentes metodologias de avaliação da condição física dos
edifícios. Esses métodos de avaliação do estado físico dos edifícios são utilizados para de-
terminar o valor do imóvel, definir impostos, aluguéis; verificar as condições de habitabilidade,
ou apoio na tomada de decisão auxiliando ainda o senário global do mercado habitacional
desses países (VILHENA et al., 2011).
Nos métodos estudados, as informações disponibilizadas geralmente são obtidas por
inspeções visuais necessárias para avaliar os edifícios e suas unidades residenciais.Assim,
para se dar início a um estudo sobre qual a terapia mais adequada, segundo Cánovas
(1988) é preciso seguir os seguintes procedimentos básicos, a) Inspeção para mapeamento
dos sintomas. Este procedimento começa com a inspeção visual, onde se busca identificar
os sintomas das patologias existentes na estrutura através de um mapeamento dos sinto-
mas. B) Recolhimento de dados e informações dispersas. Mais ainda, em diversos países,
a condição física de um edifício é avaliada e inspecionada com base no diagnóstico do grau
de deterioração dos elementos de construção (PEDRO et al., 2008). A tabela 1 ilustra uma
escala de seis pontos adotada na Holanda como base da avaliação da condição física do
edifício (NEN, 2006).
Tabela 1. Escala para avaliação das condições do edifício na Holanda
Avaliação da condição Descrição da condição geral
1 Excelente
2 Bom
3 Justo
4 Pobre
5 Ruim
6 Muito ruim
Fonte: NEN (2006).
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
194
Outros exemplos de escalas de condição física do edifício e representação linguística
usadas em outros países, tais como Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Reino Unido,
Estados Unidos da América são mostrados na Tabela 2 (SYAMILAH et al., 2016).
Tabela 2. Grau de classificação da condição do edifício.
Running Body (Go-
vernment/ Private /
non-Profit Org)
Australia New
Zealand South Africa United
Kingdom
United
States
Condition
Grade
(Buildings)
A=Excellent
B=Good
C=Adequate
D=Poor
E=Inadequate
1=Very
good
2=Good
3=Fair
4=Poor
5=Very Poor
1=Excellent
2=Good
3=Average
4=Poor
5=Very Poor
A=Good
B=fair
C=Average
D=Poor
E=Bad
1=Very
Good
2=Good
3=Moderate
4=Poor
5=Very Poor
Categories Existing Existing Existing Existing Existing
Fonte: SYAMILAH et al. (2016).
Em Portugal, a partir de 1990 a política portuguesa estabeleceu uma dura e eficaz
estratégia nacional de habitação. Essa estratégia promoveu a reabilitação urbana, o arren-
damento habitacional e a qualificação dos alojamentos residenciais. A partir dessa política
nacional de habitacional as inspeções prediais tornaram-se muito relevantes e requisita-
das naquele país português. Em 2006, o governo português aprovou um novo Regime de
Locação Urbana na tentativa de alterar o quadro caótico da habitação residencial. Assim,
a Lei nº 6/2006 estabeleceu a promoção do mercado de aluguel de tal forma que ofereceu
uma alternativa econômica à residência.
Este procedimento técnico é realizado por meio de uma inspeção visual (PEDRO et al.,
2008). Nessa inspeção visual, um checklist registra a situação de 37 elementos funcionais.
Essas informações são coletadas em formulário próprio, onde são anotados os defeitos des-
ses elementos funcionais, o índice de defeito, a descrição de defeitos graves e críticos e a
avaliação. Disso resulta que, para determinar o estado de conservação são comparadas as
condições do locado na data da vistoria com as condições que ele proporcionava quando foi
construído ou quando sofreu a última intervenção profunda. A infraestrutura básica verificada
são as instalações de distribuição de água, de eletricidade e de drenagem de águas residuais
e, nos apartamentos residenciais, incluem ainda os equipamentos sanitários e de cozinha.
Por outro lado, na Letônia, mesmo após decorridos quase 30 anos de sua indepen-
dência, o país ainda não se fortaleceu ao ponto de alterar substancialmente o quadro ha-
bitacional residencial dos apartamentos residenciais antigos. Edifícios construídos e deixa-
dos pelo regime comunista, isto porque, na Letônia há muitos prédios velhos, inacabados,
sem conservação, além de muitos desses prédios residenciais estarem sem condição de
habitabilidade pelos cidadãos da Letônia, ou estão ocupados precariamente por parte da
população menos favorecida economicamente. Uma realidade que aos poucos vem sendo
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
194 195
alterada pelos governantes e a favor de melhores condições e qualidade de vida para o povo
da Letônia. Na Letônia, a inspeção técnica de edifícios é tratada como sendo um complexo
de obras de identificação e avaliação do estado técnico de edifícios, suas partes, bem como
dos produtos de construção embutidos. O funcionamento da Inspeção Estatal de Construção
é determinado pelo Regulamento do Gabinete n.º 831 "Regulamentos da Inspeção Estatal
de Construção" e os regulamentos da Inspeção Estatal de Construção desenvolvidos de
acordo com a instrução n.º 1 do Conselho de Ministros da República da Letónia de 18 de
janeiro de 2000.
Assim, para mitigar essa situação relacionada a previsão do valor de mercado dos imó-
veis residenciais na Letônia, o modelo difuso (ZADEH, 1999) pode se adaptar melhor a alguns
casos de avaliação imobiliária em que essas situações de redundância ocorrem (KUSAN
et al., 2010). Esses termos linguísticos utilizados na lógica Fuzzy são mais compreensíveis
para as pessoas do que os modelos matemáticos. Portanto, o processo heurístico pode le-
var a uma avaliação rápida dos riscos envolvidos e, assim, também trazer decisões rápidas
(VEIGA, 1994). Isso é baseado em regras de associação e experiência de especialistas,
em vez de um controle restrito apenas por modelos matemáticos. Com base neste princípio
e considerando que o conhecimento do estado de conservação do edifício é a base para a
tomada de decisões sobre as medidas de conservação e reabilitação a implementar, consi-
derou-se oportuna a realização de um estudo prático de edifícios de habitação residencial.
Assim, o objetivo deste experimento é desenvolver um modelo de avaliação imobiliária
heurística utilizando um formulário de inspeção de engenharia civil associado à inteligência
artificial e lógica Fuzzy. Este experimento considerou 48 apartamentos residenciais, locali-
zados na cidade de Jelgava, na Letônia. A pesquisa ocorreu em 2019.
MATERIAIS E MÉTODOS
O método de inspeção predial inspirou-se numa técnica utilizada em Portugal sendo
adaptada à realidade da Letônia. Essa fiscalização de engenharia civil aliadas à técnica de
lógica Fuzzy com auxílio de inteligência artificial, de forma expedita, permitiram determinar
o grau de deterioração dos apartamentos residenciais.
A avaliação é feita através de uma inspeção visual, que detecta as principais anomalias
presentes nos elementos constituintes do edifício. Através dos dados dispersos obtidos e o
estado de conservação, realiza-se a previsão de preço de mercado. Neste sentido, o problema
é abordado de forma a contemplar a visão heurística. Com isso, as anomalias dos edifícios
são classificadas em 5 categorias básicas: 1-Excepcionalmente ligeiro: Não foram detecta-
das anomalias ou sem importância. 2-Leve: Anomalias que não prejudicam a segurança e
prejudicam a aparência e requerem fácil trabalho de execução; 3-Médio: Anomalias que não
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
196
afetam a segurança; que prejudicam a aparência e exigem muito trabalho. Anomalias que
prejudicam o uso e o conforto e requerem trabalho de reparo, substituição ou reparo fácil
de transportar. 4-Graves: Anomalias que afetam a segurança, mas não requerem reparos
urgentes; Anomalias que dificultam o uso e o conforto e exigem um trabalho difícil. Anomalias
que colocam em risco a saúde e / ou segurança, podem motivar acidentes sem gravidade e
exigir obras de fácil execução. 5- Profundamente grave: Anomalias que afetam a segurança
e requerem reparos urgentes. Anomalias que colocam em risco a saúde e / ou segurança e
podem motivar acidentes sem gravidade e exigindo trabalhos de fácil execução. Anomalias
que colocam em risco e / ou segurança e podem motivar acidentes graves. Assim, a meto-
dologia utilizada neste experimento está dividida em 4 etapas.
Etapa 1
Para este experimento, 48 amostras foram selecionadas aleatoriamente de aparta-
mentos com 1 a 3 quartos localizados no centro de Jelgava, na Letônia. Essas amostras de
apartamentos anunciadospara venda. Para realizar a caracterização recorreu-se à ficha
técnica do Método de Avaliação do Estado de Conservação dos Edifícios do Ministério das
Obras Públicas, Transportes e Comunicações de Portugal (MAEC, 2006), este de uma forma
adaptada à realidade letã. O formulário do MAEC contém 37 itens, aplicados no experimento,
e abrange as condições internas e externas da edificação, desde a estrutura até instalações
de combate a incêndio, entre outras. A partir das anomalias identificadas em cada elemento
funcional, as pontuações são contadas. O cálculo das pontuações considera o produto entre
o número de pontos associados a cada nível de anomalia e o peso atribuído ao elemento
funcional. A ponderação atribuída utiliza um parâmetro de 1 a 6, conforme MAEC (2006).
Nesta experiência na Letônia, as mesmas considerações e ponderações são utilizadas para
obter as referidas pontuações, onde se obtém o índice de anomalia da propriedade. O cál-
culo desse índice é a soma das pontuações dividida pela soma dos pesos. A partir daí, para
obter o índice de anomalias de cada edifício, é utilizada uma escala de anomalias conforme
referido no MAEC (2006) conforme Tabela 3.
Tabela 3. Índice de anomalia (IA) referente ao estado de conservação da edificação
Exceptionally light Light Medium Serious Profoundly serious
5.00 ≥ AI ≥ 4.50 4.50 > AI ≥ 3.50 3.50 > AI ≥ 2.50 2.50 > AI ≥ 1.50 1.50 >AI ≥ 1.00
Fonte. MAEC (2006).
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
196 197
Etapa 2
Nesta etapa, a partir dos dados obtidos na Etapa 1, inicia-se o uso da inteligência ar-
tificial para obter regras de associação. Para esta tarefa, foi escolhido o algoritmo Apriori.
Este algoritmo é adequado para uma pequena quantidade de dados, ideal para este expe-
rimento. O autor elabora o arquivo específico a partir dos dados e atributos coletados na
fiscalização da engenharia civil. Dos atributos da experiência são utilizados o preço do metro
quadrado, a área de cada apartamento, o índice de conservação do apartamento, no caso
de ser novo, remodelado ou antigo, utiliza-se o índice de conservação do edifício, novo,
remodelado ou antigo. Os dados e informações são organizados pelo autor para agregar
os atributos de cada apartamento, os quais são inseridos no software Weka (EIBE et al.,
2016) para então gerar as regras de associação utilizadas na Lógica Fuzzy. A aplicação do
arquivo .arff desenvolvido pelo autor contendo os atributos utilizados tais como o preço do
metro quadrado, a área de cada apartamento, o índice de conservação do apartamento,
no caso de ser novo, remodelado ou antigo, utiliza-se o índice de conservação do edifício,
novo, remodelado ou antigo. Assim, o arquivo do software Weka foi construído com êxito.
Este Software Weka gera regras de associação que apresentarão um padrão de comporta-
mento, que neste caso estão relacionados aos dados coletados nas amostras imobiliárias e
dados dispersos oriundos do formulário de inspeção predial. O software Weka é de código
aberto e fornece ferramentas práticas para analisar dados e fornecer previsões, para realizar
modelagem probabilística moderna. Depois disso, a próxima etapa é realizar a modelagem
fuzzy. Para isso, é utilizada a ferramenta computacional, o software InFuzzy, também de
código aberto para modelagem da lógica fuzzy, segundo POSSELT et al. (2015).
Etapa 3
Nesta etapa, é utilizado o software InFuzzy, que é uma ferramenta para o desenvolvi-
mento de aplicações de sistemas difusos. Nesta tarefa, o autor insere as regras de associação
de interesse escolhidas para este experimento, conforme selecionadas no Passo 2. As va-
riáveis de entrada: índice de conservação do apartamento, área em metro quadrado e índice
de conservação do edifício. A variável de saída é o preço por metro quadrado. O processo
de Inferência Fuzzy é a fuzzificação, regras e defuzificação da saída pelo método do centro
de gravidade. A metodologia é baseada na lógica fuzzy de acordo com as seguintes etapas
(Figura 1): 1-Entradas (variáveis - área, apartamento de conservação (Consv_ap), constru-
ção de conservação (Consv-build)); 2-Fuzzificação de entradas (pesos fuzzy); 3-Regras (do
algoritmo Apriori); 4-Defuzzificação (define o valor numérico da produção = preço).
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
198
Etapa 4
O propósito desta etapa é interpretar a precisão do modelo experimental e, para isso,
utiliza métricas de erro para avaliar as previsões. A tarefa aqui é comparar o preço oferecido
com os resultados obtidos na etapa 3. Para a precisão dos resultados, as métricas usadas
são o erro quadrático médio (RMSE), o erro médio absoluto (MAE) e o erro absoluto médio
percentual (MAPE) respectivamente, o resultado é dado em termos de métricas de ava-
liação percentual.
RESULTADOS E CONCLUSÕES
Etapa 1
Resulta na obtenção holística dos índices do estado de conservação desses imó-
veis. A partir disso, observa-se que 46% estão em bom estado, portanto são necessárias
poucas despesas de manutenção. Os apartamentos residenciais que precisam de algum
tipo de manutenção cuja anomalia necessita de reparos difíceis de usar e que demandam
muito trabalho são de aproximadamente 35%, enquanto o índice de ruim (grave) e extre-
mamente ruim é de aproximadamente 12%, e aproximadamente 7% estão profundamente
grave condição geradora de riscos inesperados.
Etapa 2
O autor criou o arquivo .arff no Notepad ++ com o conteúdo da relação preço / metro
quadrado; os atributos do experimento utilizado são o preço do metro quadrado obtido para
cada propriedade; área de cada imóvel em metros quadrados; o índice obtido na ficha de
inspeção para as variáveis: consv_ap; e consv_build; área; e a variável preço é definida com
a seguinte definição linguística: baixo, médio e caro. Com o domínio do atributo descrito,
foi gerado o arquivo .arff. Depois disso, o arquivo .arff é carregado no Weka para obter as
regras de mineração usando o algoritmo Apriori. Assim, pelo software WEKA, 49 regras de
associação foram geradas pelo algoritmo de mineração com no mínimo de 60% (confiança)
/ aprendizagem de dados. O autor escolhe todas as regras que contêm preço como conse-
quência que são 7 (Tabela 4). A etapa 3 começa com as regras de associação obtidas aqui.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
198 199
Tabela 4. Regras de associação escolhidas pelo autor
1 IF (consv_ap = good) AND (consv_buid = renew) THEN (Price = expensive)
2 IF (consv_ap = medium) THEN (Price = average)
3 IF (consv_ap = medium) AND (consv_buid = old) THEN (Price = average)
4 IF (consv_build = renew) THEN (Price = expensive)
5 IF (consv_ap = good) THEN (Price = expensive)
6 IF (consv_ap = good) AND (consv_buid = old) THEN (Price = expensive)
7 IF (consv_ap = old) THEN (Price = average)
Etapa 3
Nesta fase, é feita a previsão do preço do imóvel, utilizando o software Infuzzy para
modelagem do sistema difuso. A modelagem de uma árvore é feita usando termos linguís-
ticos para gerar uma função por variável. Na simulação do experimento, as variáveis de en-
trada definidas na árvore são configuradas pelo autor para definir o experimento, a variável
quarto não entrou na análise heurística neste caso, por ser irrelevante. Dessa forma, são
definidas as variáveis, escopo, classificação, parâmetro e função de associação (Tabela 5).
Para definir o item do parâmetro na variável área, o autor escolhe uma função gaussiana.
Tabela 5. Conjuntos difusos - Classificadores
En
tr
ad
a
Variáveis Alcance Classificação Parâmetros Função pertinência
AREA [0, 100]
baixo
normal
alto
0.00 43.51
48.58 13.44
53.64 100
Rampa esquerda
Gaussiana
Rampa direita
CONSV_AP [0, 5]
terrivel
ruim
médio
bom
excelente
0.0 1.5
1.5 2.0 2.5
2.5 3.0 3.5
3.5 4.0 4.5
4.5 5.0
Rampa esquerda
Triangular
Triangular
Trapezoidal
Rampa direita
CONSV_BUILD [0, 3]
novo
renovado
velho
12
3
Discreta
Discreta
Discreta
Sa
id
a
→ PREÇO [0, 1,200]
baixo
medio
caro
150 300
250 400 600
550 600
Rampa esquerda
Triangular
Rampa direita
Fonte. Autor (2019).
A figura 1 ilustra a estrutura básica elaborada no software InFuzzy para atendimento da
lógica fuzzy utilizada neste experimento. A figura 2 ilustra as variáveis de entrada de dados
(área, conservação apto). Enquanto a figura 3 ilustra as variáveis de entrada conservação
do prédio e a variável de saída (preço). Os atributos linguísticos seguem conforme Tabela 5.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
200
FIGURA 1. Estrutura base para a lógica fuzzy no software InFuzzy.
Fonte: Autor (2019).
FIGURA 2. Variáveis de entrada de dados (área, conservação apto).
Fonte: Autor (2019).
FIGURA 3. Variáveis de entrada (conservação prédio) saída (preço).
Fonte: Autor (2019).
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
200 201
Assim, dispondo dessa estrutura heurística, realizou-se a simulação (Fig.4) no software
InFuzzy a partir de todos os dados das 48 amostras de apartamentos consultadas. A si-
mulação ocorreu também para o imóvel avaliando com 48 m2 e índice de conservação do
apartamento igual 3.2 e conservação do prédio “velho”. O resultado dessa simulação equivale
a 416,67 euros/m2 ilustrada na Figura 5.
FIGURA 4. Estrutura base para a lógica fuzzy pelo Software InFuzzy.
Fonte: Autor (2019).
FIGURA 5. Gráfico de desfuzificação - lógica fuzzy, pelo Software InFuzzy.
Fonte: Autor (2019).
A partir do das considerações sobre o imóvel avaliando dispondo das seguintes caracte-
rísticas: Estado de conservação médio (índice de conservação do apartamento 3,2 segundo
Tabela 3), e índice de conservação velho para o prédio (3), deduz-se que a previsão do preço
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
202
por metro quadrado perfaz a quantia de 416,67 euros (Fig.5). Assim, para um apartamento
residencial com 48 m2 com índice de conservação do apartamento igual a “médio (3,2)” e
prédio “velho”, o valor de mercado sugerido para esse apartamento avaliando é de 20.016,00
Euros. Conclui-se que o valor é condizente com a realidade de mercado na região de estu-
do, fato corroborado segundo declaração verbal dos corretores de imóveis consultados na
época da inspeção predial ocorrida em 2019 na Letônia.
Entretanto, o preço médio de mercado dos apartamentos residenciais em julho de
2019 em Jelgava eram de 522 EUR/m-2. Esta informação é uma visão geral do mercado de
apartamentos residenciais segundo informação oficial do governo da Letônia (http://liaa.gov.
lv/en/business-latvia/real-estate-market-research). Contudo, o site consultado www.liaa.gov.
lv não informa o estado de conservação dos imóveis residenciais comercializados. Assim,
considerando que a maioria dos apartamentos residenciais em Jelgava necessitam urgente-
mente de renovação, o valor de descompressão sugerido pela visão heurística apoiada pelo
software InFuzzy incorporada com as regras de associação originadas no software Weka
equivale a aproximadamente 417 EUR/m-2.
Etapa 4
Este experimento realiza uma comparação entre os valores de mercado das amostras
de propriedades com os valores previstos da lógica fuzzy.
(1)
O resultado obtido com a aplicação das métricas de erro para avaliar as previsões com
o MAPE é de 9%. Assim, pode ser interpretado como um bom resultado para esta experiência
acadêmica de doutoramento realizada na cidade de Jelgava, na Letônia.
AGRADECIMENTOS
A pesquisa é apoiada pela Bolsa Estadual da Letônia. Agradecimentos especiais ao Dr.
Marcello M. Veiga do Departamento de Engenharia de Minas (University of British Columbia,
Canadá). Nota: Dr. Marcello Veiga é doutor em lógica fuzzy e aluno direto do Dr. Lofti Aliasker
Zadeh, o "Pai da Fuzzy Logic".
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
202 203
REFERÊNCIAS
1. CÁNOVAS, M. F. Patologia e Terapia do Concreto Armado. 1 Ed. Tradução de M. C. Marcon-
des; C. W. F. dos Santos; B. Cannabrava. São Paulo: Ed. Pini. 522 p. 1988.
2. CHE-ANI, A., Ismail, I., Johar, S., Abd-Razak, M., Hamzah, N. “Condition Survey Protocol: A
System for Building Condition Assessment”. Applied Mechanics and Materials. Vol. 747, 347-
350. 2015.
3. EIBE, F., Hall, M.A., & Witten, I.H. The WEKA Workbench. Online Appendix for ‘Data Mining:
Practical Machine Learning Tools and Techniques’, Morgan Kaufmann, Fourth Edition, 2016.
4. KUSAN H., Aytekin O. & Özdemir I. The use of fuzzy logic in predicting house selling price.
Eskisehir Osmangazi University, Department of Civil Engineering, Turkey. DOI: 10.1016/j.
eswa.2009.07.031. 2010.
5. MAEC. Método de avaliação do estado de conservação de edifícios. Instruções de aplicação
e ficha de avaliação. Ministério Obras Públicas, Transportes e Comunicações. LNEC. Lisboa.
Outubro de 2006
6. NEN 2006, NEN 2767–1:2006 – Conditiemeting van bouw- en installatiedelen – Deel 1: Me-
thodiek [in Dutch], Delft, NEN.
7. PEDRO, J. Branco; PAIVA, J. Vasconcelos; VILHENA, António. Portuguese method for building
condition assessment. Structural Survey. Emerald Group Publishing Limited, Vol. 26 No 4, p.
322-335 (14). ISSN 0263-080X. DOI 10.1108/02630800810906566. 2008.
8. POSSELT, E., Frozza, R. & Molz, R. INFUZZY: Ferramenta para desenvolvimento de apli-
cações de sistemas difusos. Revista Brasileira de computação aplicada (Tool for developing
diffuse systems applications. Brazilian Journal of Applied Computin), 7, 1 (fev.2015), 42-52.
2015. DOI: 10.5335/rbca.2015.3960.
9. SYAMILAH Yacob, Azlan Shah Ali and Au-Yong Cheong Peng. Building Condition Assess-
ment: Lesson Learnt from Pilot Projects. MATEC Web Conf., 66 (2016) 00072. DOI: https://
doi.org/10.1051/matecconf/20166600072. 2016.
10. VEIGA, M.M. A heuristic system for environmental risk assessment of Mercury from gold mining
operations. DOI: 10.14288/1.0081112. 1994.
11. ZADEH, L. A. Fuzzy sets as a basis for a theory of possibility. Fuzzy Sets and Systems. DOI:
10.1016/0165-0114(78)90029-5. 1999.
14
Análise econômica comparativa de
empresas de água mineral quanto ao
porte
Thays de Souza João Luiz
Daniel Henrique Ayres Rosa
Antonio Stellin Júnior
10.37885/210304054
Artigo original publicado em: 2010
REM: Revista Escola de Minas - ISSN 2448-167X
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98
https://dx.doi.org/10.37885/210304054
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
205
Palavras-chave: Estado de São Paulo, Análise Econômica, Fluxo de Caixa, Água Mineral.
RESUMO
Esse trabalho faz uma análise econômica comparativa de três empresas de água mine-
ral de pequeno, médio e grande porte, que estão localizadas no Estado de São Paulo.
Todas as três empresas possuem as mesmas linhas de produção tais como copos, gar-
rafas e garrafões. A análise será feita através da comparação entre os fluxos de caixa
das três empresas.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
206
INTRODUÇÃO
O mercado de águas minerais de São Paulo é extremamente significativo no contexto
nacional. Trata-se do maior mercado de águas minerais do país. O mercado brasileiro de
águas minerais tem através do Estado de São Paulo, sua maior referência no crescimento
de um mercado complexamente estruturado em relação aos demais Estados da Federação,
conforme os dados estatísticos do anuário mineral do Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM), publicado no site oficial do mesmo no ano de 2009, tendo como ano-ba-
se o ano de 2008.
Com o intuito de analisar como o efeito de escala da produção influi nos fluxos de caixa
dessas empresas, escolheram-se três empresas de portes distintos para se concluir a análise.
MATERIAL E MÉTODOS
A análise econômica foi feita com base nos métodos de avaliação econômica de projetos
de mineração comoaqueles descritos em Souza (1995). Tal obra cita projetos de mineração
mais complexos do que as empresas de água mineral.
Além disso, por se tratar de uma análise financeira, a metodologia clássica foi mantida,
como se vê em Ross (2002). Foram feitas apenas adaptações para realidade e por se tratar
de uma indústria mais simplificada, tal como a indústria de água mineral.
Como empresa de pequeno porte, foi escolhida a Empresa Água Mineral Santa Cândida
Ltda., localizada no município de Mococa. Possuindo menos de 15 funcionários, é detentora
de uma surgência e três poços; produz, mensalmente, 2.111.840 litros de água mineral,
distribuídos nas linhas de copos, garrafas e garrafões.
Como empresa de médio porte, foi escolhida a Empresa de Mineração A&M Ltda.,
localizada no município de São Paulo. Possuindo, aproximadamente, 60 funcionários, é
detentora de três surgências e um poço; produz, mensalmente, 7.849.520 litros, distribuídos
nas linhas de produção de copos, garrafas e garrafões.
Como empresa de grande porte ,foi escolhida a SPAL Indústria Brasileira de Bebidas
Ltda. (do Grupo da Coca-Cola), localizada no município de Mogi das Cruzes, na Grande São
Paulo. Possuindo, aproximadamente, 100 funcionários, é detentora de dois poços. Produz,
mensalmente, 12.153.832 litros, distribuídos em linhas de copos, garrafas e garrafões.
Serão analisadas as principais características operacionais de cada empresa e, depois,
serão feitos os fluxos de caixa de cada uma, para posterior análise e futuras constatações.
Pretende-se entender como o porte de cada empresa (levando-se em conta o fator escala
de produção) influi no mercado e no próprio fluxo de caixa da empresa.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
206 207
CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DAS TRÊS EMPRESAS
Os dados produtivos e operacionais principais de cada empresa são aproximados, pois
oscilam ano a ano, mas se mantêm fiéis à realidade de cada mineração de água, sendo pro-
porcionais ao seus respectivos portes. Os dados encontram-se resumidos nas Tabelas 1 a 9.
RESULTADOS
Para fazer os fluxos de caixa, foi utilizado o método dos períodos de recuperação do
investimento Payback ou Payout (PP), que consiste em calcular o número de períodos ne-
cessários à recuperação do investimento inicial. Os fluxos de caixa das empresas estudadas
encontram-se descritos na Tabela 10. Na referida descrição, foram desprezados os centavos.
DISCUSSÃO
Para se esclarecer como foram realizados os cálculos dos fluxos de caixa, é conve-
niente fazer as seguintes considerações:
• Os Custos Diretos são o somatório dos custos de mão-de-obra, dos custos de
energia elétrica, dos custos de material de consumo (de copos, de garrafas e de
garrafões), dos custos de transporte e dos custos de material de limpeza, higiene
e laboratório.
• Os Custos Indiretos são a soma da depreciação (das construções civis, dos ma-
quinários, dos equipamentos e dos veículos e do custo de manutenção dos equi-
pamentos.
• Os Custos de Administração correspondem a 10% do somatório dos custos diretos
mais os custos indiretos.
• Os Custos de Produção é igual à soma dos custos diretos, com os custos indiretos
e com os custos de administração.
• A Receita Líquida é igual à receita bruta anual menos o custo de produção anual.
• Os Impostos e Taxas Sociais (I) são compostos pelo ICMS, COFINS/PIS (CP) e
CFEM.
• O ICMS para comercialização da água mineral é de 18%, logo o ICMS = receita
bruta anual x 0,18.
• O COFINS foi considerado como 4% da receita bruta anual e o PIS, como 0,65% da
receita bruta anual, logo, o COFINS/PIS (CP) = receita bruta x 0,0465.
• O CFEM é a compensação financeira, “royalt”, a ser paga ao governo pela explo-
ração comercial do bem mineral, correspondendo ao valor de 2% da receita bruta
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
208
anual menos ICMS, COFINS e PIS, ou seja: CFEM= [receita bruta – (COFINS/PIS
+ ICMS)] x 0,02.
• Os Impostos e as Taxas Sociais correspondem a (I) = ICMS + COFINS/ PIS +
CFEM.
• A Taxa de Retorno do Investimento (%) corresponde a (Saldo de fluxo)÷(investi-
mento) x 100.
• O Lucro Tributável é igual à receita líquida menos os impostos e taxas sociais (I).
• A Alíquota do Imposto de Renda é calculada sobre o lucro tributável.
• Para o cálculo do Imposto de Renda, utilizou-se a Tabela 11.
• O Lucro Líquido é igual ao lucro tributável menos a alíquota do imposto de renda.
Esse não se trata do único método de se fazer um fluxo de caixa, mas foi o método
escolhido por ser o mais didático e mais simplificado.
Por meio da comparação dos três fluxos de caixa, as empresas vão ser avaliadas
economicamente, observando o efeito “escala da produção” sobre o mercado e sua relação
com o porte de cada empresa.
CONCLUSÕES
Todos os empreendimentos estudados são economicamente viáveis para as três em-
presas do ponto de vista econômico, porque retornam o valor investido ao longo dos anos
e produzem lucro.
A Empresa Água Mineral Santa Cândida Ltda. tem a menor produção, por ser uma em-
presa de pequeno porte, apresenta o menor lucro líquido e o retorno do investimento dá-se
a partir do 6º ano. Possui, ainda, as menores taxas de retorno. Os custos de produção são
14 vezes o valor do lucro líquido e a empresa demorará mais de 20 anos para ter um saldo
de fluxo maior que os custos de produção, se mantiver a mesma produtividade.
A Empresa de Mineração A&M Ltda. tem uma produção média, por se tratar de uma
empresa de médio porte, apresenta lucro líquido com valor intermediário entre os valores da
Empresa Santa Cândida Ltda. e da SPAL Indústria de Bebidas Ltda. Os Custos de produção
são, aproximadamente, o dobro do lucro líquido e a empresa demorou dez anos para que
o saldo do seu fluxo de caixa superasse em 4,6 vezes seus custos de produção, mantendo
a mesma produtividade.
A empresa SPAL Indústria de Bebidas Ltda. tem uma grande produção em compa-
ração com as demais, por se tratar de uma empresa de grande porte. Apresenta o maior
lucro líquido entre as três empresas e o retorno do investimento dá-se a partir do quarto ano,
mas esse fato deve-se ao investimento ter sido dezesseis vezes mais alto que a Empresa
Santa Cândida e oito vezes mais alto que a Empresa de Mineração A&M. Logo o retorno
do investimento foi um pouco demorado. Os custos de produção são, aproximadamente,
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
208 209
20 vezes maior que o lucro líquido. Mas a empresa tem condições de fazer com que o sal-
do de fluxo supere os custos de produção em, aproximadamente, 20 anos, se mantiver a
mesma produtividade.
Para a Empresa Água Mineral Santa Cândida, faz-se necessário o aumento da pro-
dução, para que a receita e atividade perde a sua atratividade econômica. O intuito do
crescimento do saldo de fluxo é fazer com o empreendimento expanda e seja lucrativo e
competitivo no mercado. Logo há a necessidade de um estudo minucioso para que o aumento
da produção e seu efeito-escala sejam otimizados em busca da maior o lucro da empresa
aumentem e o tempo de retorno do investimento seja menor e as taxas de retorno maiores.
Serão necessários mais investimentos para o aumento da produção.
Tabela 1. Comercialização dos produtos. Preço médio para a Empresa Água Mineral Santa Cândida.
Tabela 2. Faturamento da Empresa Água Mineral Santa Cândida Ltda.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
210
Tabela 3 Dados para análise econômica da Empresa Santa Cândida Ltda.
Tabela 4. Comercialização dos produtos. Preço médio para a Empresa de Mineração A & M Ltda.
Tabela 5. Faturamento da Empresa de Mineração A&M Ltda.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
210 211
Tabela 6. Dados para análise econômica da Empresa de Mineração A&M Ltda.
Tabela 7. Comercialização dos produtos. Preço médio para a SPAL Indústria de Bebidas Ltda.
Tabela 8. Faturamento da SPAL Indústria de Bebidas Ltda.Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
212
Tabela 9. Dados para análise econômica da SPAL Indústria de Bebidas Ltda.
Tabela 10. Fluxo de caixa das empresas
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
212 213
Tabela 11. Tabela para o cálculo do Imposto de Renda.
Para a Empresa de Mineração A&M, é possível o aumento da produtividade, mas isso
elevará os custos de produção, o lucro e a receita aumentarão e, se não houver necessidade
de investimentos grandes, o aumento da produção, o retorno do investimento permanecerá
rápido e o saldo de fluxo tenderá a aumentar cada vez mais.
A SPAL Indústria de Bebidas deve evitar realizar mais investimentos e deve aumentar
a produção, de forma que a receita e lucro sejam maiores, assim o saldo de fluxo aumentaria
mais rapidamente e superaria, num prazo menor de tempo os custos de produção.
Mediante isso, é possível concluir que o efeito-escala da produção influi, positivamente,
no lucro e no saldo de fluxo da empresa, pois, com o aumento planejado da produção, a razão
entre os custos de produção e o lucro líquido diminui, por exemplo, a ordem de grandeza
dos custos de produção não é mais de 10 a 20 vezes o lucro líquido. Isto contribui para a
lucratividade da empresa, que consegue aumentar, proporcionalmente, seu saldo de fluxo.
Porém isso deve ser combinado à injeção de investimentos não muito vultosos e que possam
ser retornados em curto ou em médio prazo. Os custos de produção, quando se aumenta
a produtividade, também não devem ser demasiadamente maiores que o lucro líquido da
empresa, porque isso faz com que a empresa tenha taxas de retorno menores. É necessário,
também, que o saldo de fluxo da empresa cresça vagarosamente para superar os custos de
produção. Caso contrário, a lucratividade e das maiores taxas de retorno do empreendimento.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
214
AGRADECIMENTOS
Os autores do trabalho agradecem à empresa MINERGEO Assessoria e Projetos em
Geologia e Mineração LTDA.
REFERÊNCIAS
1. ROSS, S. A., WESTERFIELD, R. W., JAFFE, J. F. Administração financeira. São Paulo:
Atlas, 2002. 776 p.
2. SOUZA, P. Avaliação econômica de projetos de mineração análise de sensibilidade e
análise de risco. Belo Horizonte: IETEC, 1995. 230 p.
15
Identificação de tecnologias afins à
Indústria 4.0: APL Calçadista de Nova
Serrana-MG
Débora Cristina de Souza Rodrigues
UFCAT
Stella Jacyszyn Bachega
UFCAT
Dalton Matsuo Tavares
UFCAT
Tassiana Watanabe Ferreira
UFCAT
Hamma Carolina Nogueira
UFCAT
Núbia Rosa da Silva
UFCAT
10.37885/210404156
https://dx.doi.org/10.37885/210404156
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
216
Palavras-chave: Arranjos Produtivos Locais, Indústria 4,0, Setor Calçadista.
RESUMO
Empresas que querem se manter competitivas no atual cenário mundial precisam buscar
ampliar sua atuação no mercado reduzindo seus custos, criando parcerias e investindo
em aquisição de conhecimento e tecnologias. Neste âmbito, os Arranjos Produtivos Locais
(APLs) constituem importantes polos de diversos setores que possibilitam uma maior
capacidade de inovação tecnológica aos seus membros, o que facilita o investimento em
novas tecnologias, como os presentes nos conceitos da Indústria 4.0. Sendo assim, este
artigo busca, por meio de uma pesquisa teórico-conceitual, identificar estudos que abor-
dam determinadas tecnologias da Indústria 4.0 no contexto do setor calçadista nacional,
de modo a obter um levantamento dos seus benefícios para o APL calçadista de Nova
Serrana-MG. Os resultados mostraram que, embora existam poucos trabalhos sobre a
utilização e a implicação das tecnologias da Indústria 4.0 no setor calçadista brasileiro até
o ano de 2018, alguns possíveis benefícios podem ser apontados, como a atenuação de
custos, do retrabalho e do estoque; aumento da produtividade, da eficiência do processo
e da segurança de equipamentos, locais e informações; e melhoria na qualidade dos
produtos/serviços e na satisfação dos clientes.
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
216 217
INTRODUÇÃO
A Indústria 4.0 resulta da aplicação de diferentes tecnologias integradas, as quais geram
soluções específicas de acordo com a prioridade e a programação individual das empresas.
Existem inúmeras possibilidades de combinações e intensidade do emprego dessas tecno-
logias para a solução de problemas da produção industrial e, apesar de algumas destas já
serem utilizadas, a grande novidade da Indústria 4.0 trata das suas integrações, gerando
uma difusão mais acelerada e soluções empreendidas distintas daquelas obtidas até então
(VERMULM, 2018).
De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor indus-
trial brasileiro perdeu aproximadamente 11% da sua participação no PIB entre os anos de
1985 a 2016, devido às mudanças na estrutura produtiva e também pelo surgimento de
novos modelos tecnológicos; além de ter sua produtividade reduzida em 7 pontos entre
2006 e 2016. Em 2020, a indústria brasileira como um todo representou 21,4% do PIB no
país. No ranking geral do Competitividade Brasil de 2019/2020, o Brasil se situou como o
penúltimo colocado entre 18 economias selecionadas, ficando à frente somente da Argentina.
Quanto a Tecnologia e Inovação, a desvantagem do país em relação aos demais se reduziu,
ocupando a 8ª posição (CNI, 2020)
O crescimento tecnológico dos países avançados acarreta em mudanças profundas,
tanto econômicas quando sociais, que alteram os padrões de competitividade. No cenário
brasileiro, aproveitar as oportunidades representa um fator decisivo entre ser competitivo
ou manter-se atrasado, sendo, portanto, necessário o processo de consolidação da nova
indústria digital no país (ARBIX et al., 2017).
Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro Sistema – FIRJAN
(2016), a aplicação da digitalização no meio industrial constitui fator fundamental para o au-
mento da competitividade global do Brasil, bem como tem impacto no seu desenvolvimento
econômico. Todavia, grande parte da indústria nacional ainda se encontra na transição da
considerada Indústria 2.0 (linhas de montagem) e Indústria 3.0 (automação). De modo geral,
os desafios que o advento da Indústria 4.0 trouxe para as indústrias brasileiras são a união
de gestores industriais proativos, a disposição de tecnologias e profissionais qualificados, a
obtenção de políticas estratégicas e os incentivos governamentais.
Neste contexto, um fator impulsionador do desenvolvimento tecnológico de nações
são os arranjos institucionais, compostos por interações de diferentes atores (firmas, uni-
versidades, agências governamentais, institutos de pesquisa públicos e privados, institui-
ções financeiras, entre outros), ou seja, o desempenho inovativo não depende apenas do
desempenho de empresas e organizações de ensino e pesquisa, mas também da maneira
como elas cooperam entre si e com diversos outros atores (TORRES; SIQUEIRA, 2015).
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
218
Nos países em desenvolvimento, principalmente, há um incentivo à cooperação entre
empresas por meio da criação de Arranjos Produtivos Locais (APLs), os quais promovem
investimentos, crescimento econômico, aumento de emprego, exportações e desenvolvi-
mento tecnológico, além do êxito competitivo obtido por esses no mercado global (FOGUEL;
NORMANHA FILHO, 2007). Os APLs têm se mostrado um importante meio para se de-
senvolver as capacidades de inovações tecnológicas de seus membros e, de acordo com
Hofmann e Rusch (2017), o rápido progresso tecnológico que vivenciamos possibilita uma
série de novas oportunidades de negócios, com o surgimento de novas tecnologias cada
vez mais relevantes, como a Internet das Coisas (IoT), a Internet dos Serviços (IoS) e os
Sistemas Ciber-físicos (CPS), sendo as mesmas constituintes dos pilares da Indústria 4.0.Sendo assim, as tecnologias da Indústria 4.0 podem ser utilizadas em APLs de modo a
ampliar a capacidade de inovação tecnológica dos seus membros. De acordo com o Núcleo
Gestor de Arranjos Produtivos Locais, existem oficialmente 40 APLs em Minas Gerais, sen-
do os de maior destaque o APL de Eletroeletrônicos de Santa Rita do Sapucaí, o APL de
Móveis de Ubá e o APL de Calçados de Nova Serrana (SEEDIF, 2016). No Brasil, a indústria
calçadista constitui uma das maiores do país, fornecendo grandes oportunidades para o
empreendedorismo e gerando um grande número de empregos.
Desta forma, surge a seguinte questão de pesquisa: “Quais possíveis benefícios as
tecnologias da Indústria 4.0 podem trazer para o APL de Nova Serrana-MG?”. Sendo assim,
o presente artigo objetiva identificar possíveis aplicações de tecnologias afins a Indústria
4.0 tendo como foco o APL calçadista de Nova Serrana-MG, através de uma pesquisa
teórica-conceitual. Para tanto, a estrutura do trabalho se encontra dividida em cinco par-
tes. Primeiramente é feita uma breve revisão dos conceitos de Indústria 4.0 e de APLs
voltado ao contexto do estado de Minas Gerais. Logo após, há a metodologia da pesquisa,
seguida da seção de resultados obtidos. Por fim, apresenta-se as considerações finais da
pesquisa realizada.
REFERENCIAL TEÓRICO
Indústria 4.0 no Brasil
Representando um grande desafio para o setor industrial, a chegada da quarta revo-
lução industrial trouxe consigo uma oportunidade de superar a crise econômica no Brasil
(ABDI, 2017). Neste contexto, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI),
juntamente com o Ministério da Economia, lançaram em 2018 a Agenda Brasileira da Indústria
4.0, a qual contém medidas que auxiliam as empresas no alcance da transformação digital e
da produção manufatureira condizente com a Indústria 4.0 (Ministério da indústria, comércio
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
218 219
e serviços, 2020). Sendo assim, através da análise de pesquisas alemãs, a ABDI definiu
cinco eixos de atuação para o direcionamento do Brasil:
• A criação de um programa brasileiro de manufatura avançada, para o qual define-
-se representantes de vários setores que montam uma agenda de discussões para
desenvolver um projeto de implantação, utilizando como base experiências de ou-
tros países;
• O estabelecimento de um acordo bilateral com a Alemanha, onde o principal foco
consiste na troca de conhecimento e prática em manufatura avançada;
• A elaboração de um ambiente para testes e demonstrações de tecnologia, que se
assimilam à realidade;
• A geração de incentivo financeiro para implantação;
• O engajamento de pequenas e médias empresas, utilizando programas de divulga-
ção e capacitação dos conceitos da Industria 4.0.
Arranjos Produtivos Locais em Minas Gerais
A cooperação entre as empresas se destaca como um meio capaz de torná-las mais
competitivas, sendo considerada uma importante alternativa utilizada para acelerar o desen-
volvimento econômico e social dos países. Algumas estratégias cooperativas, como partilhar
o ônus da realização de pesquisas tecnológicas, oferecer produtos com qualidade superior
e com riscos e custos para explorar novas oportunidades, são utilizadas frequentemente
pelas empresas de modo a agregar novas possibilidades de atuação no mercado. Muitas
destas estratégias cooperativas levam a uma organização formal das empresas, chamada de
“Empreendimentos Coletivos”, sendo um destes o Arranjo Produtivo Local (APL) (CARDOSO;
CARNEIRO; RODRIGUES, 2014).
Os Arranjos Produtivos Locais são referências quanto as suas possibilidades de pro-
mover um desenvolvimento regional, nas políticas públicas estaduais e federais, mediante a
inclusão desses debates em ambos os planos de governo (MARINI; SILVA; NASCIMENTO,
2015). Neste âmbito, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais constituiu em 1 de agosto
de 2006 a lei nº 16296, a qual institui a política estadual de apoio aos arranjos produtivos
locais. Segundo a lei supracitada:
Considera-se Arranjo Produtivo Local a aglomeração produtiva horizontal de
uma cadeia de produção de determinada região do Estado, que tenha como
característica principal o vínculo entre empresas e instituições públicas ou
privadas, entre as quais se estabeleçam sinergias e relações de cooperação
(BRASIL, 2006, p.1).
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
220
A Política Estadual de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais visa fortalecer a atividade
produtiva regional através do incentivo à complementaridade das cadeias produtivas, conso-
lidando a atuação das empresas de pequeno e médio porte mediante a cooperação mútua
e por meio de instituições públicas de pesquisa. Além disso, estimula o desenvolvimento da
capacidade de inovação e eficiência coletiva do estado, divulga as oportunidades de apro-
veitamento de ocorrências externas favoráveis à atividade do APL, diversifica a estrutura
produtiva do município e favorece a expansão da economia mineira com o aprimoramento
da distribuição de riquezas ao longo das cadeias produtivas, com o reinvestimento produtivo
e a distribuição equitativa da renda e das oportunidades de trabalho (BRASIL, 2006).
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) aborda o
tema de APLs em sua série “Empreendimentos Coletivos”, escrito por Cardoso, Carneiro e
Rodrigues (2014), definindo os APLs como um agrupamento de empresas de mesma localiza-
ção, as quais possuem determinada especialização produtiva, que cooperam entre si e inte-
ragem com outros atores locais como governo, instituições de crédito e de ensino e pesquisa.
Segundo Cardoso, Carneiro e Rodrigues (2014), as principais características de um APL
são sua dimensão territorial (espaço onde os processos produtivos ocorrem), a diversidade
das atividades e atores (empresas, instituições privadas e públicas de ensino e pesquisa,
instituições políticas etc.), o conhecimento tácito, a governança (cooperação de agentes
e atividades) e as inovações e aprendizados interativos (transmissão de conhecimentos e
ampliação da capacidade produtiva e inovadora).
Neste contexto, a Secretaria Extraordinária de Desenvolvimento Integrado e Fóruns
Regionais (Seedif), também define os APLs caracterizando-os como um conjunto de em-
presas localizadas em um mesmo território que “[...] apresentam especialização produtiva e
vínculo entre si e com instituições públicas e privadas e outros atores sociais, entre os quais
se estabelecem sinergias e relações de cooperação.” (SEEDIF, 2016).
No âmbito dos APLs, a função da Seedif consiste em coordenar o Núcleo Gestor de
Arranjos Produtivos Locais (NGAPL), sendo este responsável por analisar e reconhecer ofi-
cialmente os APLs de Minas Gerais, de modo que seus membros possam se beneficiar com
duas linhas especiais de crédito: o Programa de Geração de Emprego e Renda (Proger), que
utiliza recursos do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT) e o APL Giro com desembolsos
do Programa de Integração Social (PIS) (SEEDIF, 2016).
Em virtude da sua variedade econômica, Minas Gerais é um estado pródigo em APLs.
Neste âmbito, foi assinado um acordo de cooperação técnica entre o Governo do Estado de
Minas Gerais e o Sebrae a fim de fomentar a integração entre estes, em função do desenvol-
vimento dos APLs. O Termo de Cooperação engloba 13 APLs do estado de Minas Gerais,
incluindo o calçadista de Nova Serrana, cujos objetivos são: a ampliação da convergência
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
220 221
de ações das APLs, a promoção comercial e o apoio ao desenvolvimento por intermédio de
políticas públicas setoriais, a promoção de articulação para solucionar problemas regulatórios
de cada APL, entre outros (SEEDIF, 2017).
METODOLOGIA
A presente pesquisa se caracteriza como descritiva, pois buscou identificar as tecno-
logias já conhecidas da Indústria 4.0 empregadas ao contexto dos APL´s, através de umlevantamento bibliográfico. De acordo com Gil (1999), nas pesquisas descritivas o assunto já
é conhecido, tendo como contribuição novas visões em torno dessa realidade já conhecida.
Objetiva descrever características de uma população, de uma experiência ou fenômeno. O es-
tudo agrega no sentido de revelar os fatores tecnológicos da Quarta Revolução Industrial
pertencentes ao contexto calçadista do Arranjo Produtivo Local de Nova Serrana – MG.
O levantamento bibliográfico possibilitou a leitura, análise e a junção de dados e infor-
mações que permitiram o apontamento das principais tecnologias da Indústria 4.0 emprega-
das na APL calçadista de Nova Serrana- MG. Neste âmbito, abordagem utilizada possui um
caráter conceitual e não numérico, podendo ser classificada como uma pesquisa qualitativa.
Segundo a definição de Triviños (1987), pesquisas qualitativas trabalham dados buscando um
significado, onde a interpretação surge da percepção do fenômeno através de um contexto,
num processo dialético indutivo-dedutivo, tentando deduzir as consequências.
Em relação aos procedimentos, empregou-se a pesquisa teórico-conceitual. Conforme
Berto e Nakano (1999), os estudos teórico-conceituais constituem um dos tipos de pesquisa
inerente à abordagem qualitativa, sendo definidos como discussões conceituais tendo por
base literaturas, revisões bibliográficas e modelagens conceituais, em função da percepção
e experiências do autor. Desta forma, estudos teórico-conceituais compõem discussões
conceituais sem dados de campo, por meio da análise de dados secundários (obtidos de
fontes indiretas). Logo, este procedimento foi utilizado para análise da literatura selecionada
e de dados secundários referentes ao campo de estudo escolhido.
A escolha do campo de observação da presente pesquisa foi realizada mediante o fato
de o APL de Calçados de Nova Serrana ser um dos destaques no estado de Minas Gerais
(SEEDIF, 2016). Segundo Santos e Romeiro Filho (2013), a indústria calçadista constitui uma
das maiores do país, sendo um setor de importante caráter social em meio ao contexto de
globalização mundial e cuja sua sobrevivência relaciona-se diretamente a conscientização
de todos aqueles envolvidos nos diferentes setores.
Segundo o Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana
(SINDINOVA), Nova Serrana possui um dos APLs mais desenvolvidos do País, empregando
cerca de 20 mil trabalhadores diretos e 22 mil indiretos, produzindo em torno de 800 pares/
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
222
dia. Além disso, o mesmo constitui uma referência nacional em estudos acadêmicos, tendo
em vista o crescimento da indústria calçadista (SINDINOVA, 2018).
Localizado na região Centro-Oeste de Minas Gerais, a 112 quilômetros de Belo
Horizonte, o polo calçadista de Nova Serrana destina mais de 90% da sua produção ao
mercado interno (regiões Sudeste, Sul e Nordeste) e o restante ao mercado externo (países
do Mercosul e demais países da América do Sul). Sua cadeia produtiva é composta por 687
empresas, dentre essas 465 são fabricantes de calçados; 210 fornecedores de matérias-
-primas, acessórios e máquinas e 62 são prestadoras de serviços. Os principais produtos
fabricados pelo APL são sapatos casuais, sapatos esportivos; sapatos infantis; bota/adven-
ture e acessórios (SINDINOVA, 2018). O APL é gerenciado por um comitê composto por
entidades representantes de diferentes setores (empresarial, governamental e educacional),
sendo coordenado pelo SINDINOVA (AZEVEDO; PARDINI; SIMÃO, 2015)
Para a seleção de tecnologias aplicáveis à Indústria 4.0 no contexto nacional, foi con-
siderado o estudo de Vermulm (2018), do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial, oriundo do acervo digital do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). A es-
colha deste trabalho se deve ao fato de o BNDES possuir o Fundo de Amparo do Trabalho
(FAT), responsável por fomentar o Programa de Geração de Emprego e Renda, uma das
linhas especiais de crédito cujos APLs podem se beneficiar.
Mediante a necessidade de descobrir os atuais estudos realizados sobre os demais
temas abordados neste trabalho, utilizou-se a base de dados do Google Acadêmico. De posse
dos resultados obtidos, foi realizada uma filtragem conforme os seguintes critérios: estudos
publicados de 2014 à 2018, oriundos de páginas em português, excluindo patentes e cita-
ções. O horizonte de tempo de 2014 até e inclusive 2018 foi selecionado para englobar os
trabalhos publicados nos últimos cinco anos, considerando o momento em que a pesquisa
foi realizada (novembro e dezembro de 2018). Além disso, foram considerados os trabalhos
em que as palavras-chave em contexto foram citadas no título ou no resumo, quando este
apresentava um contexto relevante a temática do estudo.
RESULTADOS OBTIDOS
Tecnologias da Indústria 4.0
Segundo Vermulm (2018), a Indústria 4.0 resulta da aplicação de diferentes tecnologias,
empregadas simultaneamente ou não, para se obter soluções segundo a necessidade de
cada empresa. Sendo assim, o mesmo ressalta as seguintes tecnologias:
• Sensores e atuadores: os sensores são dispositivos capazes de registrar e arma-
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
222 223
zenar informações de variáveis oriundas do ambiente físico produtivo, enquanto os
atuadores comandam movimentos;
• Internet das coisas (IoT): sistemas de hardwares e softwares capazes de estabe-
lecer uma comunicação entre objetos;
• Big Data: processamento e armazenamento de bases de dados de grande porte,
estruturados ou não;
• Computação em nuvem: também armazena e processa bases de dados, porém
sua infraestrutura pode ser acessada através da Internet, possibilitando seu com-
partilhamento a partir de diversos dispositivos;
• Inteligência artificial: área da computação que viabiliza a tomada de decisão au-
tomática por parte de produtos e processos produtivos, sem interferência humana;
• Tecnologias de comunicação sem fio: equipamentos tecnológicos e softwares
capazes de estabelecer comunicações de dados e voz sem fio;
• Sistemas integrados de gestão: são sistemas compostos por diferentes softwa-
res de gestão que podem ser utilizados para integrar diferentes atividades de uma
unidade ou de muitas unidades de uma corporação, ou para aumentar a eficiência
da gestão produtiva, comercial ou financeira;
• Robótica: equipamentos de automação industrial autocontrolados, cuja progra-
mação pode ser realizada a distância e com definido grau de autonomia, sendo
capazes de tomar decisões diante de alterações das variáveis consideradas no
processo de produção sem intervenção humana;
• Manufatura aditiva: produção de peças por meio da deposição de materiais;
• Novos materiais: nova geração de materiais com nanotecnologia criados para
aplicações diversas que contribuem para o desenvolvimento de novas tecnologias
por meio da viabilização da ampliação da capacidade de processamento e armaze-
namento de dados por meio da redução de custos.
Sendo assim, o presente estudo baseia suas pesquisas considerando estas tecnologias
como alguns dos pilares da Indústria 4.0 no Brasil.
Aplicações das tecnologias da Indústria 4.0 no setor calçadista
Considerando as tecnologias enumeradas na subseção 4.1, identificou-se quais os
trabalhos utilizaram estas no setor calçadista. Foram utilizadas como palavras-chave os
respectivos nomes de cada uma das tecnologias, juntamente com o termo “setor calçadista”.
Utilizando o banco de dados Google Acadêmico, obteve-se resultados para as seguintes
tecnologias: sensores, computação em nuvem, sistemas integrados de gestão, robótica
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
224
e nanotecnologia. Os trabalhos identificados estão nas próximas subseções. O Quadro 1
apresenta a organização dos trabalhos identificados por tecnologia da indústria 4.0, conforme
dados apresentados nas subseções subsequentes.
Quadro 1. Organização dostrabalhos identificados por tecnologia da indústria 4.0
Tecnologias da indús-
tria 4.0 Autores Local de publicação Título
Sensores
Schroder et al. (2015) Revista Espacios
Análise da implantação de um processo automatizado em
uma empresa calçadista: um estudo de caso à luz do sistema
Hyundai de produção e a indústria 4.0
Izidoro et al. (2016) Revista Vincci Sistema para Detecção de Chamas em Máquinas de Corte
à Laser
Computação em
nuvem Gomes et al. (2014) Revista Eletrônica Sistemas de In-
formação e de Gestão Tecnológica
Sistema de gestão online-SAAS para pequenas e empresas
do ramo calçadista de Franca/SP
Sistemas Integrados
de Gestão
Souza (2014)
Trabalho de conclusão de Especiali-
zação pela Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (UNISINOS)
A tecnologia da informação na cadeia produtiva: os desafios
da inovação de processos oriundos da automação. Estudo de
caso em uma indústria calçadista
Baltazar (2015)
Trabalho de conclusão de gradua-
ção pela Universidade Federal de
Santa Catarina
Implicações da implantação de sistemas ERP em micro e pe-
quenas empresas do setor varejista de calçados: um estudo
multicasos
Robótica Schroder et al. (2015) Revista Espacios
Análise da implantação de um processo automatizado em
uma empresa calçadista: um estudo de caso à luz do sistema
Hyundai de produção e a indústria 4.0
Nanotecnologia
Theis e Schreiber
(2014)
Revista de Administração e Conta-
bilidade da Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (UNISINOS)
A análise da relevância da inovação no processo de concep-
ção estratégica: estudo de caso em uma empresa de com-
ponentes para calçados
Becker, Theis e Schrei-
ber (2015) Revista Uniabeu A contribuição da nanotecnologia para o desenvolvimento
de produtos e conquista de clientes
Sensores
No contexto da tecnologia de sensores, a pesquisa pelas palavras-chave “sensores” e
“setor calçadista” foi efetuada não somente no título e no resumo dos trabalhos, mas também
no corpo dos textos, visto que nenhum dos trabalhos retornados pelo Google Acadêmico
apresentava estas características. Desta forma, foram considerados os trabalhos cujo o
emprego das palavras-chave no corpo do texto eram relacionados ao contexto deste estudo.
O primeiro trabalho constitui um artigo publicado na revista Espacios, em 2015, intitu-
lado “Análise da implantação de um processo automatizado em uma empresa calçadista:
um estudo de caso à luz do sistema Hyundai de produção e a indústria 4.0”. Schroder et al.
(2015) tratam a automação industrial na fabricação de calçados femininos em uma em-
presa do Rio Grande do Sul. Os mesmos analisaram uma linha de montagem de calçados
automatizada, através de um sistema desenvolvido por uma empresa italiana, onde todos
os calçados eram monitorados via RFID (chips de radiofrequência instalados nas formas
dos calçados) que eram lidos por sensores instalados ao longo da linha de montagem. Por
meio do monitoramento do tempo pelas leituras dos chips, as velocidades e os gargalos
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
224 225
da linha de produção dos calçados são monitorados. Além disso, foram instalados dois ro-
bôs na linha de montagem: um na etapa de asperação e outro na aplicação do adesivo no
cabedal, que realizavam seus trabalhos se comunicando com os RFID. Comparando esta
linha de produção automatizada com uma composta por processos tradicionais (uso apenas
de operações manuais), os autores obtiveram resultados que comprovavam a redução do
número do retrabalho e o aumento da produtividade do operador.
No ano seguinte, Izidoro et al. (2016) publicou seu estudo na revista Vincci, intitulado
“Sistema para Detecção de Chamas em Máquinas de Corte à Laser”, onde foi realizado um
estudo sobre o desenvolvimento de um sensor para a detecção de chamas em máquinas de
cortes a laser, equipadas com CO2, utilizadas em empresas calçadistas e outros diversos
setores. Os mesmos fabricaram o sensor para detecção de chama e comprovaram que sua
utilização incrementa a segurança do equipamento, podendo o sistema ser aplicado em
qualquer local onde haja probabilidade de incêndios em um determinado ponto.
Computação em nuvem
A pesquisa a respeito de computação em nuvem, realizando o devido processo de
filtragem, retornou um resultado para as palavras-chave “computação em nuvem” e “setor
calçadista”. Este trabalho foi o único encontrado pela base de dados utilizada através da filtra-
gem, mesmo sem considerar as palavras-chave presentes no título e no resumo do trabalho.
Gomes et al. (2014) publicou seu trabalho “Sistema de gestão online-SAAS para pe-
quenas e empresas do ramo calçadista de Franca/SP” na revista eletrônica Sistemas de
Informação e de Gestão Tecnológica em 2014. Seu estudo explora a aplicação de soluções
por meio de Software as a Service (Software como Serviço – SAAS) para empresas de
pequeno porte com foco na redução de custos. O software utiliza-se de computação em nu-
vem, visto que fica hospedado em um centro de dados disponível para acesso online todo o
tempo por diversos dispositivos. Os resultados obtidos demonstraram que, entre os principais
benefícios do uso do SAAS, a empresa pode obter segurança no armazenamento de infor-
mações e redução de custo no investimento de infraestrutura de Tecnologia da Informação.
Sistemas Integrados de Gestão
No levantamento sobre Sistemas Integrados de Gestão (ERP), a pesquisa pelas pa-
lavras- chave “Sistemas Integrados de Gestão” e “setor calçadista” foi efetuada também no
corpo dos textos. Os resultados obtidos foram de três, porém o trabalho de Gomes et al.
(2014) foi recorrente, sendo discutido anteriormente no tópico 4.2.2.
O estudo de Souza (2014) constitui um trabalho de conclusão de Especialização em
Administração da Tecnologia da Informação intitulado “A tecnologia da informação na cadeia
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
226
produtiva: os desafios da inovação de processos oriundos da automação. Estudo de caso
em uma indústria calçadista”. O mesmo analisa os impactos da implantação da tecnologia
de inovação de processo de uma indústria de calçados infantis. Foi criado um programa de
relação de pedidos para fechamento de volumes no ERP, um programa de consulta onli-
ne para informar ao expedidor quais os pedidos disponíveis para serem embalados e um
software para execução das rotinas de fechamento de pedidos integrado ao ERP. Os re-
sultados obtidos demonstraram aumento da satisfação dos clientes, redução de custos e
padronização dos processos.
Baltazar (2015) realizou uma pesquisa exploratória, descritiva e aplicada em seu tra-
balho de conclusão de graduação em Tecnologias da Informação e Comunicação sobre
“Implicações da implantação de sistemas ERP em micro e pequenas empresas do setor
varejista de calçados: um estudo multicasos”. O autor buscou compreender as implicações
do uso do ERP em empresas de micro e pequeno porte, tendo em vista o setor varejista
de calçados da cidade de Araranguá. Para tanto, foram aplicados questionários junto as
16 empresas participantes referentes a utilização, benefícios, utilidades e dificuldades do
ERP, além de perguntas referentes ao perfil das empresas. Os resultados apresentados
pelo autor mostram que as empresas em questão fazem um bom uso de sistemas ERP,
sendo que a maioria delas concorda com os seus benefícios de implantação e utilização,
como a melhoria do controle financeiro, da qualidade dos produtos/serviços, da eficiência
do processo e do suporte; redução de retrabalho, estoque, mão de obra e fluxo de papeis;
aumento da produtividade; integração de todo os processos; evitam a duplicação de dados;
amplia a relação cliente-fornecedor e a precisão das informações fiscais.
Robótica
O único trabalho encontrado na base de dados a respeito das palavras-chave “Robótica” e
“Setor calçadista”, mesmo considerando o contexto em que elas foram apresentadas
no corpo do texto, foi o estudo de Schroder et al. (2015) mencionadono tópico 4.2.1.
Nanotecnologia
A respeito da nanotecnologia, as buscas retornaram dois resultados para as pala-
vras-chave “nanotecnologia” e “setor calçadista”, levando em conta o contexto em que elas
apareceram, no corpo do texto.
Theis e Schreiber (2014) publicaram na Revista de Administração e Contabilidade da
UNISINOS o trabalho “A análise da relevância da inovação no processo de concepção es-
tratégica: estudo de caso em uma empresa de componentes para calçados”. O objetivo dos
autores foi compreender as estratégias de inovação de uma empresa através de um estudo
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
226 227
de caso de natureza descritiva e de entrevistas, ressaltando que a nanotecnologia aplica-
da ao tecido pode ser uma tecnologia promissora. Os autores constataram a necessidade
de que gestores fomentem a cultura de inovação nas organizações e ressaltaram que as
empresas podem se tornar competitivas mesmo sem ter a capacidade de gerar tecnologias
internamente, através de alianças com centros tecnológicos que possuem laboratórios para
a realização de testes de novos produtos.
No ano seguinte, Becker, Theis e Schreiber (2015) publicaram o artigo “A contribuição
da nanotecnologia para o desenvolvimento de produtos e conquista de clientes” na revista
Uniabeu, onde se analisou a opinião de clientes e compradores de indústrias de calçados
quanto a importância da inovação de produtos utilizando a nanotecnologia. O autor, através
de entrevistas semiestruturadas, conclui e evidencia a necessidade das empresas se dife-
renciarem a fim de ampliar suas atuações no mercado, mediante a existência de clientes
cada vez mais exigentes.
Indústria 4.0 no APL de Nova Serrana - MG
Os estudos mostraram que, no geral, a utilização e as implicações das tecnologias
da Indústria 4.0 no setor calçadista brasileiro ainda não são muito explorados, sendo um
assunto pouco abordado em trabalhos publicados desde 2014. Além disso, em sua maio-
ria, as tecnologias presentes nos trabalhos não são tão inovadoras e algumas são utiliza-
das de forma complementar. Todavia, mesmo com um escopo limitado, os resultados dos
trabalhos analisados constataram que a utilização de algumas tecnologias das Indústria
4.0 podem trazer benefícios para o setor de calçados nacionais, inclusive o APL de Nova
Serrana-MG, tais como:
• redução do número do retrabalho, aumento da produtividade e monitoramento de
variáveis ao longo do processo produtivo de calçados (sensores, robótica e siste-
mas integrados de gestão);
• incremento da segurança de equipamentos e/ou locais (sensores);
• redução de custo no investimento de infraestrutura de tecnologia da informação,
segurança no armazenamento de informações e disponibilização de dados em
tempo real por meio de diversos dispositivos (computação em nuvem e sistemas
integrados de gestão);
• aumento da satisfação dos clientes (sistemas integrados de gestão e nanotecno-
logia);
• redução de custos, padronização dos processos, ampliação da relação cliente-for-
necedor e da precisão das informações fiscais, melhora do controle financeiro, da
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
228
qualidade dos produtos/serviços e da eficiência do processo e do suporte; redução
do estoque, da mão de obra e do fluxo de papeis; e contribuição para evitar a dupli-
cação de dados (sistemas integrados de gestão).
Por conseguinte, a manufatura avançada já está no setor calçadista brasileiro, porém
apresenta um processo lento de evolução e inovação. As oportunidades e aplicabilidades
dessas tecnologias são imensas, mediante as possíveis combinações de sua utilização.
Como, por exemplo, sensores poderiam ser utilizados para monitorar variáveis no decorrer
no processo produtivo dos calçados, cujos dados coletados poderiam ser armazenados
em computação em nuvem contribuindo para a elaboração de ERP’s mais integrados às
necessidades da empresa ou, ainda, a análise destes bancos de dados poderiam gerar
serviços digitais. Além disso, neste processo produtivo, robôs poderiam assumir atividades
diversas e se comunicar com outros equipamentos da empresa, por meio da Internet das
coisas, e os produtos finais poderiam conter nanotecnologias de modo a atender melhor às
necessidades dos clientes.
Entretanto, pequenas e médias empresas brasileiras ainda enfrentam muitas barreiras
financeiras para o investimento nessas tecnologias. Até 2018, a ausência de uma estratégia
nacional para o desenvolvimento da Indústria 4.0 e a falta de coordenação entre as institui-
ções públicas e o setor privado, conforme Vermulm (2018), afetaram significativamente a
capacidade destas empresas quanto a inovações tecnológicas. Além disso, mesmo sendo
composta por empresas de pequeno porte, a sinergia e relação de cooperação do APL au-
menta a capacidade inovadora dos seus membros.
O APL de Nova Serrana conta com incentivos governamentais para o seu desenvolvi-
mento, como a parceria de cooperação técnica entre o Governo do Estado de Minas Gerais
e o Sebrae, o que possibilitaria a implantação de tecnologias da Indústria 4.0. Além disso,
o APL tem a possibilidade de realizar alianças com centros tecnológicos e universidades
(como a Universidade Federal de Minas Gerais, localizada próxima ao polo calçadista) para
a elaboração de estudos mais profundos sobre a aplicação das tecnologias da Indústria 4.0.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo identificou trabalhos publicados que utilizaram determinadas tecnologias da
Indústria 4.0, no contexto do setor calçadista, para obter um levantamento dos seus possí-
veis benefícios para o APL calçadista de Nova Serrana-MG. Os resultados mostraram que,
embora ainda existam poucos estudos sobre a utilização e as implicações das tecnologias
da Indústria 4.0 no setor calçadista brasileiro até 2018, alguns importantes e possíveis be-
nefícios puderam ser apontados, como a atenuação de custos, do número de retrabalho e
Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade
228 229
do estoque; aumento da produtividade e eficiência do processo, bem como da segurança
de equipamentos, locais e informações; monitoramento de variáveis e disponibilização de
dados em tempo real; padronização dos processos; e a melhoria na qualidade dos produtos/
serviços e na satisfação dos clientes. Além disso, há uma maior facilidade para o investimento
em novas tecnologias em APLs, mediante sua natureza de cooperação entre membros e o
apoio de órgãos públicos e privados.
Sugere-se que estudos futuros abordem as demais tecnologias da Indústria 4.0, não
tratadas neste estudo (Big Data, Internet das Coisas, Manufatura aditiva, Tecnologias de
Comunicação sem Fio, entre outras) de modo a verificar a viabilidade de tais tecnologias
em APLs de outros setores industriais. Além disso, enfatiza-se a importância da realização
de estudos sobre os benefícios da Indústria 4.0 na logística de APLs. Ainda, salienta-se a
importância de ampliar as buscar em demais bases de dados, incluindo pesquisas também
de trabalhos na língua inglesa, e que abordem trabalhos publicados depois do lançamento
da Agenda Brasileira da Indústria 4.0 estabelecida em 2018.
Ressalta-se que a cooperação orientada ao aprendizado e a inovação constitui um
importante fator para o aumento do desempenho de empresas, bem como de seus APLs.
Portanto, faz-se necessária a ampliação de estudos nacionais no âmbito da Indústria 4.0.
REFERÊNCIAS
1. ABDI. Inovação, Manufatura Avançada e o Futuro da Indústria: uma Contribuição ao Debate
sobre as Políticas de Desenvolvimento Produtivo. Brasília, 2017.
2. ARBIX, Glauco et al. O Brasil e a nova onda de manufatura avançada: o que aprender com
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relacionamentos inter e intrarregionais em arranjos produtivos locais: estudo no APL calçadista