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TEMA 2 Trabalho e força de trabalho Os professores de Filosofia, de Sociologia e de História são indicados, prioritariamente, para o trabalho deste segmento. As contradições produzidas em relação à pro- dução de riquezas e às condições de vida das pes- soas com a industrialização não são limitadas aos séculos XVIII e XIX. Leia, a seguir, o trecho de um artigo sobre a desigualdade socioespacial em gran- des cidades na contemporaneidade. Ricos e pobres, cada qual em seu lugar [...] As favelas no Brasil expressam um fenômeno predominantemente metropolitano. […] Nessas regiões, os municípios-sede apresentam uma con- centração maior de população favelada. […] Per- cebe-se um movimento de formação de novas fa- velas e crescimento das já existentes, localizadas nos bairros periféricos do município-sede e nos municípios periféricos da Região Metropolitana. O crescimento do número de favelas e da po- pulação favelada não pode ser explicado apenas pelo empobrecimento da população urbana bra- sileira. Ele tem a ver também com a própria for- ma como o espaço urbano se estrutura em nossas cidades, de forma fragmentada e segmentada, Reflexões NÃO ESCREVA NO LIVROProfessor, no Manual você encontra orientações sobre esta seção. Com o avanço da industrialização na Europa durante o século XIX, os problemas relacionados às péssimas condições de vida e de trabalho começaram a surgir. Foi nes- se contexto que o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) passou a desenvolver suas teorias, relacionadas, em grande parte, à análise do modo de produção capitalista. Sua principal obra, O capital, foi publicada em 1867. Nessa época, a Inglaterra havia se consolidado como uma economia industrializada, baseada na maquinofa- tura e na grande indústria. Industrialização e crescimento das cidades Com a maquinofatura consolidada, as indústrias e o número de operários cres- ceram, favorecendo também o crescimento de algumas cidades, como Londres, que, na época, era a maior cidade do mundo e a que apresentava as maiores con- tradições do desenvolvimento industrial-urbano. As condições de moradia e sanitárias nos bairros popu- lares da época revelam como essas contradições es- tavam presentes. Se, por um lado, havia um volume gigantesco de mercadorias sendo produzidas nas fá- bricas, por outro, havia a instauração de um enorme caos social e urbano na cidade. Dudley Street, região pobre de Londres, no século XIX. Gravura de Gustave Doré, 1872. Coleção particular. C u lt u re C lu b /G e tt y I m a g e s /C o le ç ã o p a rt ic u la r L e w is W . H in e /B ib lio te c a d o C o n g re s s o , W a s h in g to n , E U A Ambiente insalubre, trabalho infantil e jornadas de trabalho de até 18 horas por dia são o retrato das fábricas após a Revolução Industrial. Na fotografia, crianças e adultos trabalham em uma fábrica de conservas, em Los Angeles, Estados Unidos, 1911. 23 V4_Cie_HUM_Igor_g21Sc_Cap1_016-039.indd 23V4_Cie_HUM_Igor_g21Sc_Cap1_016-039.indd 23 14/09/2020 11:4614/09/2020 11:46 revelando a fragilidade do processo de produção do espaço urbano nas grandes cidades e expon- do a vulnerabilidade das favelas na estrutura ur- bana. O adensamento das favelas mais antigas, localizadas em bairros centrais, bem como o es- praiamento das mais recentes, nas áreas da peri- feria, demonstram que o problema da favela como opção de moradia está longe ser resolvido. [...] BALTRUSIS, N.; D’OTTAVIANO, M. C. L. Ricos e pobres, cada qual em seu lugar: a desigualdade socioespacial na metrópole paulistana. Caderno CRH, Salvador, v. 22, n. 55, p. 135-149, abr. 2009. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103- 49792009000100008. Acesso em: 13 maio 2020. • As condições de moradia nos bairros populares londrinos no século XIX podem ser comparadas às de favelas brasileiras no início do século XXI? Em grupo, façam uma pesquisa sobre as condi- ções de moradia dos operários em Londres ou em outra grande cidade com forte industrializa- ção (por exemplo, Hanói, no Vietnã). Analisem as causas estruturais que resultaram nessa produção do espaço urbano e sinte- tizem alguns fatores que impulsionam esse processo. Miséria e riqueza: uma sociedade de contradições Enquanto a riqueza era produzida freneticamente, formava-se na sociedade uma massa de trabalhadores, in- cluindo mulheres e crianças, com péssimas condições de trabalho e de vida. Os acidentes de trabalho eram recor- rentes e os trabalhadores eram submetidos a uma disci- plina rígida, que incluía punições físicas. Também crescia a massa de mendicantes, por falta de postos de trabalho. Marx procurou entender as causas históricas da con- tradição social entre riqueza e miséria. Seria possível pro- duzir a riqueza de alguns sem gerar a miséria de outros? Ele estudou o capitalismo e, particularmente, a maneira pela qual esse modo de produção se reproduz historicamente. Para ele, a sociedade capitalista se formou com base na diferenciação social entre aqueles que detêm e aqueles que não detêm a propriedade privada dos meios de produção – isto é, terras e ferramentas, no início do capitalismo, e prédios, maquinário e capital acumulado, no período industrial. Segundo Marx, essa di- visão não ocorreu naturalmente, mas foi resultado de um conflituoso processo histórico que permitiu a estruturação da sociedade moderna em classes sociais. Ao atualizarmos essa categoria, temos, de um lado, os capitalistas, aqueles que detêm o capital, que pode ser fixo (prédios, instalações e máquinas) ou circulante (dinheiro, ações, títulos de dívidas, por exemplo). De outro, estão os trabalhadores, aqueles que detêm apenas seu corpo e sua mente para vender na forma de trabalho. Em uma jornada de trabalho de 6 a 12 horas diárias, os trabalhadores produ- zem mercadorias – físicas ou não, isto é, uma geladeira ou um software. Ao final de um dia, uma semana ou um mês, esses trabalhadores recebem um salário. Mas esse salário corresponde ao valor de todo o trabalho realizado? Lucro e mais-valia O que Marx procurou demonstrar é que, caso esses trabalhadores recebessem de acordo com o valor total que produzem em determinado tempo, a relação entre proprietários e não proprietários seria desfeita, pois o dono da empresa ou da indús- tria não teria nenhum lucro e todo o ganho se converteria em salários. Portanto, para Centro de teleatendimento na cidade de Campina Grande (PB), em 2012. Segundo Marx, a divisão do trabalho serve aos interesses dos capitalistas na medida em que diminui o valor da força de trabalho e aumenta o lucro dos capitalistas. Dica O livro indicado a se- guir, do economista ita- liano Claudio Napoleo- ni (1924-1988), apresen- ta um resumo das prin- cipais teses de Adam Smith e Karl Marx. NAPOLEONI, Claudio. Smith, Ricardo, Marx. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988. Diego Nóbrega/Folhapress 24 V4_Cie_HUM_Igor_g21Sc_Cap1_016-039.indd 24V4_Cie_HUM_Igor_g21Sc_Cap1_016-039.indd 24 14/09/2020 11:4614/09/2020 11:46