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– 92 – Se paramos de injetar “auto-suficiência” na mente, ela perde sua qualidade compulsiva, que é o impulso para julgar e, desse modo, criar uma resistência ao que é, dando origem a conflitos, tragédias e novos sofrimentos. Na verdade, no momento em que paramos de julgar, no instante em que aceitamos aquilo que é, ficamos livres da mente e abrimos espaço para o amor, para a alegria e para a paz. Em primeiro lugar, paramos de nos julgar, depois paramos de julgar o outro. O grande elemento catalisador para mudarmos um relacionamento é a completa aceitação do outro do jeito que ele é, sem querermos julgar ou modificar nada. Isso nos leva imediatamente para além do ego. Nesse momento, todos os jogos mentais e toda a dependência viciada deixam de existir. Não existe mais vítima nem agressor, acusador nem acusado. Esse é também o fim da dependência, de uma atração pelo padrão inconsciente do outro. Você, então, ou vai se afastar – com amor – ou penetrar cada vez mais fundo no Agora junto com o outro. É simples assim. O amor é um estado do Ser. Não está do lado de fora, está bem lá dentro de nós. Não temos como perdê-lo e ele não consegue nos deixar. Não depende de um outro corpo, de nenhuma forma externa. Na serenidade do estado de presença, podemos sentir a nossa própria realidade sem forma e sem tempo, que é a vida não manifesta que dá vitalidade à nossa forma física. Conseguimos, então, sentir essa mesma vida lá no fundo de outro ser humano, de cada criatura. Conseguimos enxergar além do véu opaco da forma e da desunião. Essa é a realização da unidade. Isso é amor. O que é Deus? A eterna Vida Única debaixo de todas as formas de vida. a que é o amor? Sentir profundamente a presença dessa Vida Única em nós e dentro de todas as criaturas. Portanto, todo amor é o amor de Deus. O amor não é seletivo, assim como a luz do sol não é seletiva. Não torna ninguém especial. Não é exclusivo. A exclusividade não tem a ver com o amor de Deus, mas com o “amor” do ego. Entretanto, a intensidade do amor pode variar. Pode haver uma pessoa que atue como um espelho do amor que você dirige a ela e que o devolva de modo mais claro e mais intenso do que outras e, se essa pessoa sente o mesmo em relação a você, pode-se dizer que as duas têm um relacionamento amoroso. O vínculo que liga as duas pessoas é o mesmo vínculo que nos liga à pessoa sentada ao nosso lado no ônibus, ou a um pássaro, a uma árvore, a uma flor. Só o que diferencia é o grau de intensidade com que o sentimos. Mesmo em um relacionamento tido como viciado, podem existir momentos em que alguma coisa mais real se destaca, algo além das necessidades doentias do casal. São momentos em que a sua mente e a do outro cedem por um curto período e o sofrimento do corpo fica, temporariamente, adormecido. Isso pode acontecer durante uma relação física mais intensa, ou quando o casal está presenciando o milagre do nascimento de uma criança, ou na presença da morte, ou quando um dos dois está seriamente doente, ou qualquer coisa que faça a mente perder a força. Nessas ocasiões, o Ser, normalmente escondido debaixo da mente, se revela e torna possível o verdadeiro entendimento.