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– 107 –
Jesus: “Não acumule tesouros na terra, onde as traças e a ferrugem arruínam tudo, onde os 
ladrões arrombam as paredes para roubar...”
Enquanto a mente julgar uma circunstância “boa”, seja um relacionamento, uma 
propriedade, um papel social, um lugar, ou o nosso corpo físico, ela se apega e se identifica 
com ela. Isso faz você se sentir bem em relação a si mesmo e pode se tornar parte de quem 
você é ou pensa que é. Mas nada dura muito nessa dimensão, onde as traças e a ferrugem 
devoram tudo. Tudo acaba ou se transforma: a mesma condição que era boa no passado, 
de repente, se torna ruim. A prosperidade de hoje se torna o consumismo vazio de amanhã. 
O casamento feliz e a lua-de-mel se transformam no divórcio infeliz ou em uma 
convivência infeliz. A mente não consegue aceitar quando uma situação com a qual ela 
tenha se apegado muda ou desaparece. Ela vai resistir à mudança. É quase como se um 
membro estivesse sendo arrancado do seu corpo.
Às vezes ouvimos falar de pessoas que cometeram suicídio porque perderam a 
fortuna ou tiveram sua reputação arruinada. Esses são casos extremos. Outras pessoas, ao 
sofrer uma grande perda, tornam-se profundamente infelizes ou adoecem. Não conseguem 
distinguir a vida da situação de vida. Li recentemente sobre uma famosa atriz que morreu 
depois dos oitenta anos e foi ficando cada vez mais infeliz e reclusa conforme envelhecia. 
Ela estava identificada com uma circunstância: a sua aparência externa. No início, isso lhe 
deu um sentido feliz do eu interior, depois um sentido infeliz. Se tivesse sido capaz de se 
conectar com a vida interior, que é dissociada da forma e do tempo, ela poderia ter aceitado 
o desaparecimento da beleza, observando-a de um lugar de serenidade e paz. Além do 
mais, sua aparência teria se tornado cada vez mais transparente à luz que brilha através da 
verdadeira natureza, de modo que a beleza externa não teria sumido, mas se transformado 
em beleza espiritual. Porém, ninguém contou a ela que isso era possível. O tipo de 
conhecimento mais básico ainda não está ao alcance de todos.
Buda ensinou que até mesmo a felicidade pessoal é dukka – uma palavra da língua páli 
que significa “sofrimento” ou “insatisfação”. Ela é inseparável do seu oposto. Significa que 
a felicidade e a infelicidade são, na verdade, uma coisa só. Somente a ilusão do tempo as 
separa.
Isso não significa uma negatividade. É simplesmente reconhecer a natureza das coisas, 
para não viver atrás de uma ilusão pelo resto da vida. Nem quer dizer que você não deva 
mais apreciar os objetos e as circunstâncias agradáveis e bonitas. Porém, usá-los para 
procurar aquilo que não podem dar – uma identidade, um sentido de permanência e 
satisfação – é uma receita para a frustração e o sofrimento. Toda a indústria da propaganda 
e a sociedade de consumo entrariam em colapso se as pessoas se tornassem iluminadas e 
deixassem de tentar encontrar as suas identidades através dos objetos. Quanto mais usarmos 
esse caminho para encontrar a felicidade, mais estaremos nos iludindo. Nada lá fora vai 
conseguir nos trazer satisfação, exceto por um tempo e de modo superficial. Mas talvez 
você precise passar por muitas decepções antes de perceber a verdade. Os objetos e as 
circunstâncias podem lhe dar prazer, mas também vão lhe trazer sofrimento. Eles podem 
lhe dar prazer, mas não trazer alegria. A alegria não tem uma causa e brota dentro de nós

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