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Universidade Federal Fluminense - UFF Disciplina: Fundamentos Históricos Teóricos e Metodológicos do Serviço Social IV Docente: Neusa Cavalcante Discente: Priscila Alves Soares. Matrícula: 122036024. Artigo sobre O PEP Como Construção Coletiva Dos Profissionais E As Interfaces Com Projetos Societários No Contexto Contemporâneo Introdução O objetivo deste artigo, é analisar o projeto ético político, suas relações com os projetos societários, e compreender as formas de materialização do mesmo, no interior da profissão. Primeiramente, o artigo ressalta a importância das práticas coletivas de caráter político, fala-se também do modo de produção capitalista e de suas contradições. Em um segundo momento, é ressaltado a importância do movimento da sociedade para o projeto profissional e da sua construção, de seus elementos e princípios. Ademais, o texto reflete que princípios idealizados de forma coletiva por assistentes sociais, devem ser materializados no interior da profissão, indo para além dos discursos. E por fim, é falado sobre construir estratégias para a construção de uma nova ordem social. Desenvolvimento Para Netto (1999), a base estruturante desse Projeto Ético-Político (PEP) se assenta no processo de recusa e crítica ao conservadorismo na profissão. Tal projeto também expressa uma direção de projeto societário a ser construído. Ou seja: um projeto profissional é também um projeto coletivo. Todo projeto coletivo aponta pra determinado projeto de sociedade, pois expressa uma concepção ideopolítica, uma vez que apresenta uma imagem de sociedade a ser construída. Os valores que determinados projetos carregam, podem apontar para “a construção de uma nova ordem social, ou, num polo oposto, para a manutenção do modo de produção operante” (CAPUTI & FORNAZIER MOREIRA, 2016, p. 100). Por isso, todo projeto profissional traz consigo suas características e valores, visto que, conforme aludido por Netto (1999), delimitam e priorizam São as práticas e as atividades variadas da sociedade, que determinam a constituição dos projetos societário e coletivo. Em uma sociedade de classes, o caráter político é essencial quando se pensa em prática profissional, seja em projetos individuais ou coletivos. É devido aos interesses contraditórios de classe, no interior da profissão, que a mesma necessita da identidade coletiva. Por isso o projeto profissional só pode ser pensado juntamente com o projeto societário. seus objetivos e funções, formula os pressupostos para o exercício profissional, estabelece a direção da relação com usuários/as e serviços, instituições, outras profissões, etc. Em outras palavras: todo projeto profissional espelha a perspectiva teórica, ética, ideológica e política de determinada profissão. Como disse interiormente, todo o projeto, numa sociedade de classes tem práticas de caráter político, é em meio às contradições políticas, econômicas, da classe dominante, que se desenvolvem. Exemplo disso, é a sociedade em que vivemos, com o modo de produção capitalista, é o que ocasiona o projeto e a prática profissional, ser também um projeto político. Segundo Netto (2008), “os projetos societários são projetos coletivos que possuem a imagem a ser projetada de uma sociedade”. Ele afirma que tais projetos representam o interesse de classe e por isso têm uma dimensão política que envolve relações de poder e apresentam estruturas flexíveis e cambiantes, já que se modificam conforme o contexto histórico e político. O mesmo autor alega que na ordem do capital os projetos societários vinculados a classe trabalhadora e subalterna não dispõem de condições favoráveis para enfrentar os projetos das classes de proprietários e politicamente dominantes. Logo, percebemos que o movimento da sociedade é importante para legitimar qualquer profissão, o interesse coletivo é essencial para a valorização de sua identidade. De acordo com o movimento da sociedade, os projetos profissionais são passíveis de mudança, ou seja, eles estão sempre ligados a projetos societários. Porém, o projeto societário vigente, obedece à ordem do modo de produção capitalista e mesmo que a classe trabalhadora tenha conseguido avançar com algumas conquistas, ainda existe um sofrimento na luta pela emancipação humana. O vínculo da profissão com movimentos sociais nos inícios dos anos 90, determinaram a construção do projeto profissional, a profissão assumiu o compromisso com a luta pelos direitos sociais na busca pela liberdade e igualdade, sendo contra a exploração da classe trabalhadora, lutando contra a discriminação, opressão, seja de gênero, raça ou etnia, almejando um projeto de emancipação humana. Este projeto político profissional do serviço social, compreende a profissão como um produto histórico que foi constituído de forma coletiva na divisão sociotécnica do trabalho. Assim, o objetivo do projeto foi manter uma organização de classes, rompendo com o conservadorismo, buscando compreender a relação entre o projeto profissional e o projeto societário para uma nova ordem social, sem opressão de gênero, etnia, raça, ou social. A construção do projeto ético-político do serviço social, exige uma formação crítica do assistente social, direcionando o fim da exploração de classes. Ou seja, ele direciona a produção do conhecimento, contribuindo para a formação e a ação profissional. É um projeto de transformação da sociedade, porém, segundo Neves (2003), é necessário analisar como a categoria profissional vem se apropriando deste princípio, vista a impossibilidade dessa transformação social ser posta exclusivamente no horizonte do exercício profissional?. Ademais, como foi citado anteriormente, a liberdade é um valor ético central, a não exploração de classes, um compromisso com a autonomia e a emancipação. Este projeto, é a favor da justiça social, da universalização do acesso aos direitos. Contudo, por mais que o projeto ético político tenha componentes voltados para a integração social, na prática da profissão pode ser que não se alcance os interesses almejados pela projeção coletiva dos assistentes sociais. Ou seja, o idealismo se difere do resultado daquilo que prevíamos em nossa consciência. Isso acontece porque a realidade objetiva é diferente do plano objetivo e, também, pelo fato de que não controlamos todos os aspectos que incidem sobre a realidade, ou seja, sua transformação não depende apenas de nossos atos e nossas ações. Outro aspecto que se deve considerar é que, o projeto ético-político possui determinados elementos e princípios constitutivos já citados anteriormente, como a igualdade, liberdade, democracia, luta contra iniquidades, etc.. Porém, esses valores vão de encontro com a sociedade em que vivemos, mas isso não deve nos levar a pensar que o projeto profissional é apenas um idealismo. Pois, a partir das contradições de classes existentes e que determinam a profissão, os assistentes sociais podem escolher caminhos, construir estratégias político-profissionais, definir rumos para sua atuação e, com isso, projetar ações que demarquem claramente os compromissos éticos e políticos profissionais. Mas, para isso é preciso ter clareza para não cair no messianismo e nem no fatalismo. Frequentemente, em seu exercício profissional, o assistente social fica restrito ao atendimento de demandas institucionais e sua intervenção se dá apenas na adoção de procedimentos formais, legais e burocráticos. Dessa forma, torna-se necessário que, pela via do conhecimento teórico, ele escolha conscientemente, por valores universais, por uma direção política, que vá além da cotidianidade. Um projeto com dimensões críticas, ao tratar da ética, engendra uma reflexão sobre a moral dominante e permite questionar os preconceitos, as verdades estereotipadas, o senso comum e as superstições existentes. Ao se referenciar por um aporte teórico-metodológico crítico, o projeto profissional oferece uma análise concreta das situações concretas. Por se deter no âmbito da projeção, o projeto profissional requisita o conhecimento da realidade, o conhecimentodos meios e modos de sua utilização, o conhecimento da prática acumulada em forma de teoria, e contribui para o estabelecimento das finalidades que se pretende atingir. Ele indica ações profissionais adequadas, ao esclarecer os objetivos, as possibilidades e as forças sociais participantes. Dessa forma, ele permite que o assistente social apreenda os fundamentos de sua intervenção e busque, conscientemente, meios para alterar as circunstâncias que põe obstáculos à intervenção profissional. Direcionar-se pelo Projeto Ético-Política do Serviço Social não se limita a um discurso de defesa da igualdade, liberdade, democracia, luta contra iniquidades e crítica à exploração vigente na sociedade capitalista, mas sim, que todas as diretrizes e princípios aqui explicitados se façam presentes na intervenção profissional. Ou seja, que se materializem na prática do assistente social e não fiquem restritos ao discurso. Segundo Behring e Boschetti (2006), o projeto profissional vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social e, ao reafirmar direitos e políticas sociais no âmbito do capitalismo e lutar por eles, tendo como projeto uma sociedade justa e igualitária, não significa contentar-se com os direitos nos marcos do capitalismo. Dessa forma, um desafio posto é articular forças e construir alianças estratégicas para a construção de uma sociedade justa, fraterna e igual. Para isso, devemos reconhecer os limites dados pela estrutura econômica capitalista, mas também, acreditar que todas as coisas e ideias se movem, se transformam, se desenvolvem, porque são processos. Em se tratando do PEP, a direção explicitada é muito nítida: ele se posiciona a favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização do acesso a bens e a serviços relativos às políticas e programas sociais; a ampliação e consolidação da cidadania são explicitamente postas como garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras. Correspondentemente, o projeto se declara radicalmente democrático – considera a democratização como socialização da participação política e socialização da riqueza socialmente produzida (NETTO, 1999, p. 16). Netto evidencia qual a direção que a profissão deve tomar quando se pensa em luta. É nesse campo estratégico que, a categoria de assistentes sociais brasileiros tem construído, com base no legado de Marx, uma densidade teórica, seja ela, ético-política, teórica-metodológica ou técnico-operativa, que apreende com radicalidade que nos remete ao entendimento da necessidade da luta pelo fim da propriedade privada, do capitalismo e nos meios de produção. Conclusão: Em síntese, o Projeto Ético-Político do Serviço Social é uma proposta que busca orientar a prática profissional dos assistentes sociais a partir de um conjunto de princípios éticos e diretrizes políticas e metodológicas. Ele se insere em um contexto histórico de transformações sociais e políticas e reconhece a importância da defesa dos direitos humanos, da justiça social e da participação dos usuários na construção do processo de intervenção profissional. Por fim, o Projeto Ético-Político do Serviço Social reconhece a importância da organização e mobilização da categoria dos assistentes sociais em torno de suas demandas políticas e profissionais. Essa organização é entendida como uma forma de fortalecer a luta pela efetivação dos direitos sociais e pela consolidação do projeto ético-político da profissão.