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Filhos: educando daqui para a eternidade
por Douglas Wilson e Nancy Wilson
Copyright © 2018 by Canon Press
Publicado originalmente em inglês sob o título:
Why Children Matter
1a edição 2019
ISBN ebook: 978-85-85034-30-6
Tradução: Elmer Pires
Revisão: Cesare Turazzi
Capa e Diagramação: Tiago Dias
Versão Ebook: Tiago Dias
 
Todos os direitos reservados à:
 
Editora Trinitas LTDA
São Paulo, SP
www.editoratrinitas.com.br
 
PRIMEIRA PARTE | POR QUE DAQUI PARA A ETERNIDADE
Capítulo 1: A Definição de Família
Capítulo 2: Sejam Mímicos de Deus
Capítulo 3: Sacrifique com Júbilo
Capítulo 4: Um Não em um Mundo de Sim
Capítulo 5: Os Três “L’s”
SEGUNDA PARTE | OS FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA
Capítulo 6: Filhos de Deus
Capítulo 7: Quatro Princípios Para a Disciplina
TERCEIRA PARTE | EDUCAÇÃO E ADMOESTAÇÃO
Capítulo 8: A Necessidade de uma Paideia Cristã
Capítulo 9: Princípios e Métodos
Capítulo 10: Criação de Filhos e a Comunidade
Capítulo 11: Há Somente um Esconderijo Contra o Pecado
QUARTA PARTE | MAIS PARECIDOS COM CRISTO
Capítulo 12: Sejam Meus Imitadores
Capítulo 13: Pais Dignos de Imitação
Capítulo 14: Seja um Imitador de Cristo
ANEXO
Perguntas e Respostas com Doug e Nancy
 
PRIMEIRA
PARTE
 
 
 
CAPÍTULO 1
 
 
A família é uma comunidade divinamente estabelecida. A
instituição da família — consistindo em um homem, uma mulher e
seus filhos — foi criada por Deus, não por homens. Não é uma
porção arbitrária de indivíduos, nem algo que meras criaturas
possam definir.
O Congresso não pode votar para decretar no que consiste a
família tanto quanto não pode votar para decidir se a gravidade
existe ou não. O Congresso pode decretar que a água corre rio
acima, mas não importa o quanto vote, seus integrantes não são
capazes de mudar aquilo que Deus estabeleceu previamente.
Da mesma forma, se o Congresso votasse por revogar a lei da
gravidade, e algumas pessoas decidissem pular de uma colina ou de
um arranha-céu, talvez estes tivessem a sensação de liberdade por
um instante — estamos voando! —, mas nada mudaria a realidade
do que a gravidade é e do que ela faz. Igualmente, mesmo que a
Suprema Corte banisse o casamento, embora pudesse destruir a
vida de muitas pessoas, isso não destruiria a realidade do
casamento em si. O matrimônio foi estabelecido por Deus logo no
princípio do mundo. Ele não será movido, ele não será modificado.
Uma vez que, em primeiro lugar, a família não foi inventada por
nós, não temos o direito de reinventá-la. Por essa razão, os pais
devem tomar cuidado para não tratar a família como algo remendado
e administrado com técnicas desenvolvidas por especialistas. Logo,
não inicie a leitura deste pequeno livro achando que está lidando
com um punhado de técnicas inteligentes e perspicazes que têm por
fim obter uma família perfeita. Cada membro da família é uma
pessoa criada à imagem de Deus, e, se desejamos conduzi-la
adequadamente, devemos atentar para a Palavra de Deus como
nosso primeiro e mais importante guia. Isso inclui tratar todos os
membros de uma família como pessoas, e não como se fossem mais
um número numa fila de espera.
Quando se fala sobre família, criação de filhos, entre outros
assuntos práticos, depressa passamos a desejar livros com títulos
como: Três Passos Para… ou Doze Passos Para… ou Os Segredos
do…, etc. Mas este livro não é um exercício de autoajuda terapêutica
— mas, sim, é a proclamação do Evangelho incorporada à vida em
família. Se você olha para a sua família, e não enxerga princípios do
Evangelho, então você está olhando para a sua família de olhos
fechados.
Em especial os pais jovens devem aproximar-se das Escrituras,
famintos por instrução sobre como realizar tamanha tarefa,
principalmente aqueles que não tiveram um bom exemplo paterno ou
materno. Pais podem dar a seus filhos algo que seus próprios pais
não lhes deram, pois nosso Deus quebra os ciclos do pecado.
Mesmo que sem um bom modelo vindo daqueles que o geraram,
ainda que desprovido do exemplo de como tornar-se um pai piedoso
ou uma mãe piedosa, você não está limitado a imitar as pessoas ao
seu redor. Aprender por meio da imitação direta é uma grande
bênção e ajuda, mas a Bíblia ensina que podemos imitar pessoas a
partir daquilo que foi escrito acerca delas, sejam biografias, sejam
exemplos da própria Escritura. Deus é o Deus de novos começos,
Aquele que abençoa até mil gerações. Quando Deus diz que visita a
iniquidade de até três ou quatro gerações, esta não é uma ameaça
severa, mas um ato de misericórdia. Isso porque Deus está, com
isso, limitando a reação em cadeia do pecado.
O título deste pequeno livro é Filhos: Educando Daqui Para a
Eternidade, mas eu poderia aumentá-lo para Filhos: Educando Daqui
Para a Eternidade, e Por Que Isso Importa a Todos Nós. Os
princípios do Evangelho descritos aqui carregam aplicações para
todas as áreas da vida, mas em particular para as famílias que estão
criando e educando seus filhos.
Além do mais, se você estiver lendo esse livro e pensando que
não tem nada que ver com crianças, devo dizer que preste bastante
atenção também: quando solteiro e alistado na Marinha, aportado em
uma base em Norfolk, frequentei a Tabernacle Church.
Era uma grande igreja, na qual estava ligada uma próspera
escola cristã. Se soubesse que, dentro de poucos anos, estaria no
meio da tentativa de começar também uma escola cristã, teria
prestado mais atenção ao que acontecia naquele lugar. Havia muito
que aprender. Mesmo ainda jovem e recém tentando descobrir o
número do telefone do pai dela, preste atenção. Para falar a verdade,
se estiver tentando conseguir o número do pai dela, você já está um
tanto adiantado.
 
CAPÍTULO 2
 
 
Sede, pois, imitadores de Deus,
como filhos amados.
(Efésios 5.1, ARA)1
 
Efésios 5.1 diz que devemos ser imitadores de Deus. Escolhi a
versão em inglês ESV nessa parte, pois a versão King James (salvo
indicação em contrário, foi a que utilizei neste livro) traz a construção
“be followers of God,2 isto é, “sejam seguidores de Deus”, mas a
palavra grega traduzida por “seguidores” [followers] é justamente de
onde extraímos os termos “mímica” e “imitação”. Paulo está
ordenando que imitemos, que copiemos a Deus. Somos filhos
amados de Deus, e devemos olhar para Ele como filhos que olham
para o próprio pai.
Deus nos criou para sermos criaturas que refletem, criaturas
imitativas. Imitamos instintiva e naturalmente. Não só imitamos
aqueles que estão em um mesmo nível, tais como nossos amigos,
conhecidos, colegas de estudo, de trabalho e familiares, mas
também pegamos muitas coisas daqueles que estão acima de nós.
Aprendemos a andar e a falar conforme nossos pais, mas a imitação
fundamental à qual a Bíblia nos chama é a imitação daquele que
adoramos.
Os idólatras tornam-se semelhantes àquilo que adoram. O Salmo
115.4–8 diz que os idólatras adoram estátuas que têm olhos mas não
veem, ouvidos que não ouvem, narizes que não cheiram, e termina,
declarando: “tornem-se semelhantes a eles os que os fazem”. Se
você adora algo surdo, mudo e cego, logo você se torna surdo, mudo
e cego. Se seu deus for imóvel, você também será imóvel. Se o seu
deus for fundamentalmente impessoal, por resultado você se tornará
cada vez menos pessoal.
Da mesma forma os adoradores do Deus verdadeiro, eles
tornam-se semelhantes àquele que adoram, como Paulo deixa claro
em 2Coríntios 3.18: “E todos nós, com o rosto desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como
pelo Senhor, o Espírito”. O Deus a quem adoramos é o sol que brilha
sobre nós; e nós somos a lua, refletindo-o. Diante de Deus em
adoração, somos transformados de glória em glória; e nisso, à
medida que transformados, também desejamos transmitir essa glória
a nossos filhos.
Em poucos lugares as ramificações desse princípio da imitação
são tão importantes quanto na criação de filhos. Para tanto, a
imitação é absolutamente crucial. Você não quer que seus filhos o
imitem, a menos que você próprioseja um imitador de Deus. Se você
não imita a Deus, se você não o busca, observando sincera e
abertamente sua face em adoração semanalmente, sendo
transformado de glória em glória, então a última coisa a desejar é
que seus filhos o imitem. Mesmo assim, a má notícia é que seus
filhos vão copiá-lo, queira isso ou não. Ao nascerem, você até pode
procurar por um manual de instrução. Pode sentir que não tem ideia
do que fazer. Porém, há uma falsa premissa nessa preocupação —
você tem uma Bíblia. Seu dever é adorar a Deus, imitá-lo, e pedir a
Ele que caminhe lado a lado, agora que você ingressou no desafio
de ser pai.
Tendemos a pensar que o poder é usado destrutivamente, a fim
de impor algo a alguém. Mas, como Deus faz uso do poder? Este é
utilizado para o bem, para a salvação e maturidade do povo de Deus.
Ele deseja que o seu próprio povo seja salvo, e o poder do seu braço
é o que Ele usa para salvar-nos. Deus quer que cresçamos. Ele não
deseja suprimir ou sufocar com um relacionamento asfixiante. Deus
não nos força a ser como Ele é, mas nos convida a crescer cada vez
mais no ato de imitá-lo, e seu Espírito nos auxilia à medida que
crescemos.
Às vezes, quando os filhos já adultos visitam a casa dos pais no
Dia de Ação de Graças, estes lhes perguntam por qual motivo não
fazem visitas com mais frequência. Nesse caso, pode ser que os
pais sejam exigentes e grudentos. Ironicamente, quando os pais
criam e educam os pequenos tendo por objetivo uma independência
bíblica e piedosa, seus filhos, na verdade, desejam gastar tempo
com eles na idade adulta.
O propósito do pai ou da mãe é, por fim, ser o instrumento de
salvação para os filhos. Você não é a base que os salvará, mas, sim,
é ordenado a imitar Aquele que é o fundamento da salvação. O
mesmo ocorre no casamento. O marido não pode oferecer a si
mesmo como expiação vicária, substitutiva por sua esposa.
O único que pode fazer isso é Jesus Cristo. Porém, o marido é
ordenado a imitar aquilo que não é capaz de fazer. O mesmo
acontece no caso do pai e da mãe. Pais, vocês não são capazes de
salvar seus filhos. Não há um botão que pressionar ou uma só
decisão a tomar, para daí transformar-se numa base de salvação.
Vocês obviamente não são graça salvadora para seus filhos, mas
são ordenados a imitá-la e a facilitá-la, permeando-a na atmosfera do
lar. Deus é poderoso para salvar.
 
CAPÍTULO 3
 
 
O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te;
ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor,
regozijar-se-á em ti com júbilo.
(Sofonias 3.17)
 
Ponderemos agora sobre esse versículo de Sofonias e o
coloquemos ao lado de Efésios 5.1. Efésios diz que Deus nos trata
como filhos. Uma vez que a Escritura mostra como Ele nos trata,
desejemos ser nós também à semelhança dele na forma de tratar
nossos filhos. Do mesmo modo como Ele nos trata, devemos nós
tratar nossos próprios filhos. E vemos em Sofonias que Deus se
deleita em nós.
Quando Jesus interveio para salvar-nos, Ele o fez pagando um
alto preço. Havendo tomado o pedaço de pão que representava seu
corpo, Ele o ergueu e deu graças. Conforme Hebreus 12, Jesus fez o
que realizou na cruz “em troca da alegria que lhe estava proposta”.
Nossa santa ceia é chamada de Eucaristia. O que isso significa?
Eucharisto é a palavra grega para ação de graças, significando que a
refeição da Eucaristia é uma refeição de agradecimento. É uma
refeição de gratidão, não só porque agradecemos a Deus por aquilo
que Cristo fez por nós, mas também porque Ele agradeceu a Deus
quando Ele próprio a instituiu. Esse é o tipo de espírito grato que
vemos em Sofonias. Deus é poderoso para salvar, e Ele salva com
júbilo.
Agora sabemos, a partir da história de toda a Bíblia, que a
salvação envolve sacrifício, sangue, requer que coisas sejam
despedaçadas. Aquele que não conheceu pecado se fez pecado por
nós, mas Ele o fez com júbilo. Jesus não só deu graças durante a
noite em que instituiu a Ceia, mas, mais tarde, Ele e os discípulos
cantaram um Salmo, e então partiram (Mt 26.30; Mc 14.26). Jesus
literalmente cantou enquanto se preparava para ir à cruz.
Logo, os sacrifícios por seus filhos devem ser feitos com júbilo,
deve ser possível praticá-los cantando. Se não há uma cântico em
seus lábios, não é um sacrifício bíblico. Sem uma canção de alegria,
o sacrifício não passa de um tipo de Ai, coitadinho de mim, vejam
como sou mártir!, entre outros tipos que não dão nada, exceto um
retorno medíocre. O esperado é que você não manifeste cânticos de
júbilo e regozijo por seus filhos só quando eles forem adoráveis,
enquanto estiverem dormindo, em tempos de pura harmonia, uma
vez que não estão se comportando mal naquela hora. A vida é mais
complicada que isso, e tudo — incluindo a bagunça — deve ser
encarado com uma canção. O deleite que estamos imitando não é do
tipo irrealista. Nosso tipo de deleite leva em consideração o mundo
como ele é, e, mesmo assim, se regozija. Manifeste júbilo por seus
filhos enquanto se sacrifica por eles, enquanto sofre penas, enquanto
eles próprios não fazem ideia do quanto está deixando por causa
deles.
Regozije-se até mesmo no dia em que eles forem sair de casa e
seguir o próprio rumo, mesmo que isso envolva o alistamento na
Marinha ou entrar numa universidade. Esperançosamente, como pai
ou mãe, você, na verdade, os está preparando para o crescimento —
e não apenas para boas conversas com a mamãe. “Por isso, deixa o
homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma
só carne” (Gn 2.24).
Os filhos vão embora, as filhas são dadas em casamento. Há
muitos pais evangélicos, conservadores e sentimentais que
guerreiam contra isso e querem adiar esse dia. Pais que se irritam
com seus filhos por terem então um emprego ou cônjuge e filhos, o
que dificulta passar um tempo juntos, batalham contra a estrutura
que Deus criou para o mundo.
É óbvio, não estou dizendo para evitar um relacionamento com
seu filho adulto e com seus netos. O Salmo 103.17 diz que “a
misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade, sobre os que o
temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos”. Devemos nos
regozijar pelos filhos de nossos filhos. Tenhamos um relacionamento
com cada um deles, não como cobertores sufocantes, mas com
regozijo por tudo aquilo que Deus dá.
 
CAPÍTULO 4
 
 
Quando criou a raça humana, Deus colocou Adão num jardim
repleto de delícias, com apenas uma proibição no meio dele. Fora do
jardim, nada era proibido, e dentro dele, havia apenas uma coisa
proibida. Além disso, creio eu, a árvore do conhecimento do bem e
do mal seria proibida por apenas certo tempo, e por isso, depois de
aprovados no período de teste, Deus lhes permitiria comer dela.
Quando pegaram daquele fruto, Adão e Eva foram julgados por
pegá-lo prematuramente, não que a árvore do conhecimento do bem
e do mal fosse má em si mesma. Por toda a Escritura, o
conhecimento do bem e do mal é o que os reis usam enquanto
governam e julgam (p. ex., 1Reis 3.9). Esse é o tipo de
conhecimento que faz com que reis julguem corretamente. Mas Adão
e Eva ainda não estavam preparados.
No entanto, que essa proibição fosse ou não revogada mais
tarde, embora Adão e Eva tivessem desobedecido a essa única
proibição e sido punidos como resultado disso, Deus viu que o golpe
mais severo de retaliação por esse pecado afinal caíra sobre Ele.
Que tipo de Deus é esse? Deus deu a Adão um mundo perfeito, uma
esposa perfeita, um ambiente perfeito, uma missão perfeita, uma
vocação perfeita, e então, mesmo quando Adão e Eva transgrediram,
fazendo a única coisa proibida daquele mundo perfeito, ainda assim
Deus prometeu que a descendência da mulher destruiria a
descendência da serpente, esmagando sua cabeça (Gn 3.15).
Imite isso. O ambiente do lar deve ser repleto de graça. Quando
repleto de graça, o lar não permanece sem padrões. Não se trata de
introduzir anarquia moral. A graça não é uma massa amorfa e
gelatinosa. A graça tem uma espinha dorsal. Porém, quando os
fundamentos são transgredidos, os sacrifícios mais pesados no ato
derestauração são realizados pelos guardiões da graça, não pelos
executores da lei, não por aqueles que apontam o dedo, não pelos
familiares que acusam os pais, nem por pessoas que corrigem em
um tom nasal de autopiedade.
Imagine que seu filho tenha desobedecido, e por isso você lhe
diz: “Como acha que você me faz sentir agindo assim? Já disse
milhares de vezes para não fazer isso”. Embora seja verdade que a
repetição é uma parte necessária na educação dos filhos, o tom
trêmulo da autopiedade e a voz exasperada não são. Essa não é
uma maneira bíblica de pastorear os filhos, pois eles aprendem por
meio da imitação. Ao presenciar um adulto se sentindo um coitado,
nossa reação imediata não é de: “Ó, coitadinho!”. Se repleto de
autopiedade, seus filhos já estão aprendendo uma lição. Mas o que
um filho aprende não é sentir dó de você, mas, sim, a dizer: “Como
acha que isso me faz sentir?”. E acontece que isso pode se repetir.
Aquele que dá egoísmo, recebe egoísmo. A coisa mais fácil do
mundo é encontrar um padrão moral na Bíblia e então aproveitar-se
dele de modo egoísta. O pai egoísta dá exemplo de egoísmo. Um
jardim repleto de graça pode conter uma árvore da lei. Um jardim
repleto de lei não pode conter uma árvore da graça. Caso haja
somente lei em seu jardim, mas com uma árvore da graça ao centro,
esta não é de fato oriunda da graça. É uma árvore de méritos, e você
terá bons filhos apenas por causa da recompensa: “Eu fui bonzinho,
posso ganhar minha recompensa agora?”.
Eu sei, dizer que a atmosfera em seu lar deve ser de “total graça”
pode parecer sem sentido ou um tipo de presbiterianismo zen, mas
aguente um pouco. Mark Twain era o exemplo de pessoa profana,
homem que tinha o costume de abusar do uso da linguagem profana,
e sua esposa não gostava nada daquilo. Certo dia, ela decidiu deixá-
lo profanar, e então virou-se e, calmamente, recitou-lhe cada palavra
que o ouvira dizer. Ele a fitou e então disse: “Querida, você conhece
as palavras, mas não reconhece o tom”. Agora, inverta o processo:
muitos cristãos conhecem as palavras “graça”, “misericórdia” e
“perdão”, mas não reconhecem o tom delas. Nosso tom pode ser
encontrado na passagem do capítulo anterior: Sofonias 3.17. Deus
se regozija em nós com júbilo.
Quando direcionada a um fim, a disciplina tem seu propósito.
Nenhuma correção parece prazerosa quando aplicada, mas sua
glória é encontrada na colheita (Hb 12.11). A criação de filhos não é
uma escrituração abstrata, mas, sim, uma história que se espalha
desde o lavrar e plantar até o colher. Trata-se de uma história, e é
necessário manter um olho na história de modo a, quando disciplinar
seus filhos, manter o outro na colheita — neste caso, para o próprio
bem deles. A colheita vem quando eles também compreendem o
fruto pacífico de uma vida correta.
Quando na idade adulta, você é quem cresceu e compreende o
tempo. Aos três anos de idade, um ano é um terço de toda a
existência de vida. Aos olhos de um pai ou de uma mãe, não passa
de mais um poste na estrada. Estes, portanto, devem ter uma melhor
compreensão do tempo e da história do que um bebê de um ano. . .
certo?
Dificuldade numa história é graça; dificuldade sem uma história é
apenas dor. A instrução dos filhos é a oportunidade que você tem de
amá-los enquanto os prepara para a colheita, mas isso significa que
é preciso ter a colheita em mente.
 
CAPÍTULO 5
 
 
Quanto ao viver cristão, há três “L’s” para escolher: legalismo,
licenciosidade, liberdade. No lar, surge o legalismo quando pais
tentam estabelecer valores tradicionais ou uma atmosfera
disciplinada baseados na pura autoridade paternalista e
influenciados pelo benefício próprio. Estes desejam que seus filhos
se comportem de tal forma que não os irrite. Eles falam para não
arrastar coisas pela sala, porque isso incomoda e deixa qualquer um
maluco. No entanto, pai e mãe devem ser motivados pelo desejo de
ver seus filhos aprendendo a ter autocontrole, preparando-os para o
mundo e para a idade adulta. Devemos corrigir nossos filhos para o
benefício deles mesmos, e não nosso.
Quanto ao legalismo, é o rigor que se torna o padrão
fundamental. A licenciosidade ocorre quando os pais percebem que
o legalismo demanda trabalho demais. Acontece que, depois de
tantos melindres, até mesmo os filhos se revoltam e explodem.
Como resultado, os pais simplesmente abandonam todos os
padrões, rejeitando tudo como um monte de tolice legalista, tornando
o ato de ser pai ou mãe uma longa corrente de desculpas e teorias
de Facebook sobre a ineficiência de dar palmadas.
Se você contou a vinte e oito pessoas só nessa semana que “seu
filho não cochilou hoje” como desculpa para a desobediência dele,
então talvez seja hora de reavaliar alguns conceitos. Bem sabemos
que há momentos quando não é pretexto, mas uma explicação
plausível. No entanto, recorrendo a esse tipo de subterfúgio todas as
vezes, você está apenas tentando fazer com que as pessoas não
notem sua falta de sabedoria e disciplina.
A liberdade não é uma posição intermediária entre o legalismo e
a licenciosidade; é algo totalmente diferente. Temos grande
dificuldade com ela. Liberdade não é legalismo moderado, nem
licenciosidade moderada. A liberdade é mais rigorosa que o
legalismo; a liberdade é mais libertadora que a licenciosidade. Jesus
disse a seus discípulos: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não
exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino
dos céus” (Mt 5.20). Jesus não lhes disse que fossem fariseus
moderados, mas que os excedessem.
A liberdade foi comprada para nós por Cristo na cruz, não por
nossos recursos e justificativas. A justiça da liberdade sobrepuja a do
legalista, e a alegria da liberdade ultrapassa a do libertino. Se deseja
ser um pai cristão piedoso sem se tornar um cristão piedoso que
morre para si mesmo e para seus próprios desejos, então você não
entendeu nada desde o começo.
A graça é o que todos nós devemos aprender como cristãos
individuais; é o que aprendemos quando adoramos a Deus com
sinceridade tanto como indivíduos quanto como pais e mães
piedosos. Viver em um ambiente de pura graça, e que também se
envolve com a lei, é algo que somente o Espírito de Deus pode
conceber.
Os filhos percebem quando temos prazer neles conforme nos
regozijamos em ser imitadores de Deus. É assim que o mundo
funciona.
Então qual direção estamos tomando? Filhos são criaturas que
carregam a imagem de Deus. Como pecadores, essa imagem está
desfigurada, pois eles estão afetados pelo pecado de Adão, assim
como todos nós, mas como santos, essa imagem está sendo
restaurada neles, bem como em nós. Eles foram afetados pela
queda assim como nós, mas a imagem de Jesus Cristo está sendo
formada neles, bem como em nós.
Agora que Cristo veio e nos redimiu da condenação da lei, foi-nos
dada a oportunidade, como Paulo diz, de criar nossos filhos “na
disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6.4). Os filhos também
estão no capítulo 6 do livro de Efésios, mas ainda é parte do mesmo
processo que Paulo começou a descrever no capítulo 1.
O propósito de Deus e o bom conselho de sua vontade incluem
os filhos, portanto, criá-los na disciplina e na admoestação do Senhor
significa que tanto pais quanto filhos estão se despindo do velho
homem e se revestindo do novo homem. Você e seus filhos estão se
despindo do velho homem. Você e seus filhos estão se revestindo do
novo homem. Deus está em busca de uma linhagem, e é desde o
começo que Ele está em busca de uma linhagem. Por que Deus os
fez, homem e mulher, um só? Ele estava em busca de uma
“descendência piedosa” (Ml 2.15). Por essa razão é que educamos
nossos filhos daqui para a eternidade.
 
SEGUNDA
PARTE
 
 
 
CAPÍTULO 6
 
 
Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a
seu filho, assim te disciplina o Senhor, teu Deus.
(Deuteronômio 8.5)
 
Já escrevi muitas vezes que a teologia emana de quem você é.
Não importa no que você diga acreditar, sua teologia da justificação e
sua teologia da santificação são expostas de forma microcósmicano
relacionamento com seus filhos. Talvez isso o faça coçar a cabeça
por um instante, mas lembre-se de que não só queremos aprender a
disciplinar nossos filhos de maneira bíblica, mas fazê-lo em um
contexto bíblico. Logo, esse pequeno livro não é uma lista de
técnicas, e as Escrituras não são uma pedreira de onde juntamos
uma série de pedras. Desejamos apenas uma pedra, nosso Senhor
Jesus Cristo.
Pais e mães crentes devem criar seus filhos conforme o chamado
que é feito aos cristãos, mas não é possível criá-los assim fora do
contexto do Evangelho. Buscamos compreender tudo aquilo que
fazemos pelo contexto do Evangelho da graça. Não se trata de uma
série de técnicas para pessoas de boa índole, decentes,
respeitáveis, de classe média. Estamos abordando o assunto como
cristãos, pessoas libertas pelo Evangelho de Jesus Cristo, e
queremos ser usados por Deus para conduzir nossos filhos a essa
mesma liberdade.
Deuteronômio 8.5 explicitamente diz que o Senhor tem um
relacionamento com os seres humanos que se espelha na relação
que um pai tem com seu filho. É preciso meditar nessa verdade, e
não apenas reconhecê-la. Moisés disse ao povo que considerasse
com o coração e meditasse sobre isto: um homem corrige seu filho, e
Deus faz o mesmo com aqueles que são seus filhos.
Quando somos salvos, Deus nos adota como parte de sua
família, e isso significa que estamos em um relacionamento entre pai
e filho com Ele. O Senhor Jesus nos ensina a orar “Pai nosso, que
estás nos céus”. Jesus diz “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;
ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Logo, Deus é o nosso
Pai. As Escrituras geralmente fazem distinção entre justificação e
santificação. A justificação estabelece o fato desse relacionamento,
enquanto a santificação determina a direção dessa relação.
A questão nisso tudo é que você é um filho de Deus pelo dom
gratuito da graça de Deus. A santificação é o processo por meio do
qual Deus nos comunica o que Ele deseja que sejamos conforme
crescemos em sua família. Deus não disciplina os filhos do vizinho:
Ele disciplina seus próprios filhos. As dores da santificação dão
testemunho do fato de que somos filhos de Deus. Não existe
santificação sem direção, e direção significa disciplina.
Entendemos o que a Bíblia diz sobre Deus Pai e sobre nossa
busca por aprender como disciplinar nossos filhos. Ao mesmo tempo
olhamos para o nosso modo de discipliná-los, e aprendemos coisas
sobre nosso relacionamento com Deus. A forma de agir com nossos
filhos nem sempre é o melhor jeito de aprender sobre Deus, mas, às
vezes, pela graça divina, fazemos a coisa certa, e isso nos dá a
oportunidade de aprender mais sobre o que Deus tem feito em nossa
vida.
 
CAPÍTULO 7
 
 
A disciplina, se corretamente considerada, é uma forma de
sabedoria. Do contrário, ela não pode ser chamada de sábia. A
disciplina é dolorosa, mas nem tudo o que é doloroso é disciplina.
Devemos ser adultos em nosso pensar — cachorros têm quatro
patas, mas nem tudo com quatro patas é um cachorro. Então
consideremos alguns princípios para a disciplina, sendo cada um
deles refletido no relacionamento que Deus tem com seu povo.
Em primeiro lugar, disciplina não e punição. A disciplina tem
como finalidade a correção, enquanto a punição visa justiça e
retribuição. A pena capital, por exemplo, não tem por objetivo a
correção do criminoso. Até pode ser que, na bondade e benevolência
de Deus, alguém no corredor da morte clame ao Senhor e seja
convertido, mas esse não é o propósito da pena de morte. Um dos
grandes erros de nossos dias é tentar fazer com que os magistrados
civis dominem a responsabilidade da disciplina. Por que temos
penitenciárias? É para lá que vão os penitentes. Todo o sistema de
penitenciárias foi criado pelo Estado para realizar a obra da disciplina
que pertence à família, a qual o magistrado civil não é capaz de
cumprir. Ao magistrado civil está designada a espada (Rm 13), não a
vara da disciplina.
A Bíblia ensina que os os pais devem disciplinar seus filhos, e
não os punir. Hebreus 12.11 diz: “Toda disciplina, com efeito, no
momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao
depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela
exercitados, fruto de justiça”. A disciplina visa a colheita ou o
objetivo, ou porque há um problema a ser corrigido (a forma negativa
da disciplina) ou porque há imaturidade ou fraqueza ainda sem
correção (a forma positiva da disciplina). Enfim, a disciplina sempre
deseja partir de um lugar para outro a fim de concretizar algo.
Você não coloca cada filho numa banheira por um período
semelhante de tempo por pensar em direitos iguais. Algumas
crianças precisam ficar na banheira por um período menor de tempo,
e outras precisam de mais, pois estão sujas dos pés à cabeça. Dar
umas palmadas, disciplinar comportamentos e corrigir atitudes não é
punição, mas disciplina, cujo propósito como um todo é tornar
possível a chegada a determinado ponto. Não se considere um juiz
distribuindo justiça para todos os lados. Tanto a disciplina quanto a
punição são boas em seus devidos momentos, mas não são a
mesma coisa. Pais (especialmente quando com filhos pequenos) de
forma alguma devem pensar em termos de julgamento ou
retribuição.
Em segundo lugar, certifique-se de disciplinar não com
muitas regras, mas com alguns poucos princípios. Você é um
pai, não uma agência regulamentadora. Aplicações específicas
podem sempre ser deduzidas de princípios, ao contrário de quando
se introduz princípios a partir de uma série de comandos individuais,
o que não alcança o mesmo resultado.
Lembro-me de, quando criança, ter recebido de meu pai três
regras. Não só isso, mas lembro também onde eu estava no jardim
da frente quando ele deu essas regras, e me lembro da maneira
carinhosa e afetuosa com que ele me as deu (ele pôs o punho em
frente do meu rosto). Seus três princípios foram: 1) Sem
desobediência, 2) Sem mentira, 3) Não desrespeite a sua mãe.
Agora, isso não abrange tudo?
Foque nas leis que são como raiz, e não naquelas que, como
folhas, estão na ponta dos galhos. Jesus ensina que há dois grandes
mandamentos que resumem todo o Antigo Testamento: amarás ao
Senhor teu Deus de todo o teu coração e o teu próximo como a ti
mesmo (Mt 22.37–40). Esses dois correspondem aos Dez
Mandamentos — o maior mandamento corresponde aos quatro
primeiros, o segundo grande mandamento corresponde aos últimos
seis. Todas as outras leis do Antigo Testamento encaixam-se debaixo
deles dois. Disciplina por princípios significa que seu sistema de
disciplina faz sentido. Ela é ordenada. Não um caos de
mandamentos que dependem do estado emocional da mamãe ou do
papai enquanto as diretivas são dadas.
Multiplicamos normas e regras porque, caso o desejo seja acusar,
sempre há com o que acusar. (Não tenho dúvidas de que a grande
maioria de vocês esteja desobedecendo pelo menos a alguma
regulamentação estatal enquanto lê este livro). Mas essa é a forma
de um tirano pensar, não de um pai ou de uma mãe. Pense em
termos de “mantenha a simplicidade, seja direto”. Deus nos deu a
Bíblia, e você pode reduzir a lei do Antigo Testamento a dez
requisitos que cabem em uma ficha — e após isso você pode reduzi-
los novamente a dois.
Se perguntássemos “O que o Congresso quer que façamos?”,
teríamos de encher prateleiras e mais prateleiras de
regulamentações. Isso porque o Governo Federal não procura
obediência, mas, ao contrário, tenta controlar a vida dos cidadãos.
Pais não devem agir assim.
Lembre-se de que Deus deu um jardim perfeito a Adão e Eva:
havia um mundo repleto de sim, mas apenas um não. Diminua o
número de nãos em seu lar. Essa é uma outra forma de dizer que,
como pai ou mãe, você deve escolher suas batalhas
cuidadosamente. Suponha que, durante um mês, após cem ordens
dadas, seus filhos tenham desobedecido constantemente. Seria
muito melhor reduzir tudo a dez ordens e tê-los seguindo cada uma
das dez, melhor isso do que manter as cem, mas ter apenas um
quinto delas obedecido. O pai com cem ordens podeaté conseguir
conformidade mais vezes, mas a média de acertos será terrível. E o
que se tem incutido é confusão quando uma criança nunca sabe se o
papai vai dar uns tapas ou se a mamãe vai explodir. O mundo delas
será muito mais estável e seguro se a quantidade de requisitos for
reduzida, mas sempre tendo a obediência como alvo. É tudo uma
questão de equilíbrio.
Em terceiro lugar, fique calmo. A correção é necessária quando
alguém falha, mas a Bíblia diz como aplicá-la: “Irmãos, se alguém for
surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com
espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também
tentado” (Gl 6.1). Essa passagem nos diz como devemos corrigir um
ao outro no Corpo. Durante o batismo de infantes, uma das coisas
que os pais prometem fazer é tratar a criança como um irmão ou
irmã no Senhor.
Quando altamente motivado a disciplinar seus filhos, você, de
acordo com essa passagem, não está qualificado para fazê-lo. E por
“altamente motivado” não quero dizer motivado pelo Espírito Santo,
mas por seus nervos, sua raiva, suas paixões. Tudo está dando nos
nervos, as crianças estão em cima, então você explode, e daí as
corrige. No caso, a correção se dá por causa de um zelo emocional
que só quer vê-los de boca fechada. Não é a disciplina devida pela
transgressão da Palavra de Deus, mas a repentina por causa do
orgulho afrontado.
Gálatas 6.1 diz que, para corrigir um irmão, você deve ser
espiritual: “corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que
não sejas também tentado”. Sempre que corrigir seus filhos, você
será tentado. Faça-o, mas examinando a si mesmo, a fim de não ser
tentado, e cair. Mas, quando qualificado para disciplinar, você nem
sempre se sentirá motivado. Vejamos, você está em paz com Deus e
com o mundo, sentado em sua grande poltrona de papai assistindo
ao jogo, e um de seus filhos então desdenha de algo que sua esposa
disse. Você até pode estar qualificado para discipliná-lo naquele
momento, mas, justamente por estar tudo propício, não se sente no
clima. No entanto, mesmo não sentindo vontade, a sua disciplina
precisa estar baseada em princípios e no que Deus deseja que você
faça naquele instante, e não em seu estado emocional. Talvez você
sinta vontade de disciplinar justamente quando não deveria, e talvez
não a sinta exatamente quando deveria, logo, não baseie a disciplina
no estado de suas emoções. A fim de ensinar obediência, sua
disciplina deve ser em si mesma obediente e disciplinada.
Citei a frase “qualificado para disciplinar”. Não cometa o erro de
pensar que, por ter sido culpado do mesmo tipo de pecado quando
criança, não está qualificado para disciplinar seus filhos. Sua
condição para disciplinar deve estar baseada no que Deus manda
fazer naquele momento, e não baseada no fato de ter ou não sido a
criança que deveria ser. Se não foi o tipo de filho que deveria ter
sido, ainda assim você não deve consertar esse fato do passado
recusando-se a ser um bom pai no presente. Arrependa-se e comece
a fazer da maneira de Deus de hoje em diante. As condições ideais
para tanto estarão ou não presentes no momento da disciplina.
A verdadeira disciplina diz respeito à comunhão restaurada.
Quando cometido, o pecado quebra a comunhão na família. A
disciplina busca tratar essa transgressão a fim de desfazer seus
efeitos (Ef 4.32). E há chances de isso dar errado. Se, para começo
de conversa, já não houvesse comunhão, será impossível restaurar
aquilo que não existe. Caso os filhos sejam um sofrimento constante
graças a caprichos e desobediência, com instantes periódicos de dor
aguda, que alguns chamam de “disciplina”, a reação a isso será algo
como “Eu te odeio, eu te odeio, eu te odeio”. O filho que não deseja
voltar ao jardim da comunhão já não está dentro dele.
Se os momentos de disciplina afastam seus filhos mais e mais,
que isso lhe sirva de sinal. Eles podem nunca ter pertencido ao
jardim, para início de conversa, e é aí que você precisa começar a
agir. Agora, se todos estão em comunhão, se o seu lar é um lar feliz,
então, quando o pecado transgredir tudo isso, e você discipliná-los,
seus filhos desejarão voltar. Eis um sinal saudável.
Outra forma de dar errado é aplicar a disciplina quando se está
com raiva. A disciplina piedosa subtrai do número de ofensas; ela
não acrescenta. Seu filho foi desobediente e duas ou três coisas
quebraram a comunhão no lar; caso o discipline com raiva, a
comunhão do lar será ainda mais perturbada. A “disciplina” não
ajudou. Se o momento de disciplina adiciona ofensas, então não é
disciplina. A disciplina subtrai, restaura, e coloca as coisas no devido
lugar. Se isso não estiver acontecendo, você provavelmente não tem
uma comunhão cristã, amorosa em seu lar.
Gostaria de adicionar mais uma coisa a esse terceiro princípio:
fique calmo e aplique a correção física mesmo assim. Anteriormente,
mostrei que em Gálatas 6.1 somos ordenados a corrigir nossos
irmãos, guardando-nos para também não sermos tentados. Mesmo
então, você o faz da forma como Deus diz que deve ser feito. A
disciplina da vara não deve ser entendida como uma forma de
autoexpressão. Trata-se de uma forma de correção e de agradar a
Deus. Não é uma maneira de ventilar os sentimentos. Se precisa
usar para desabafar emoções, você não está qualificado. A palmada
precisa ser muito mais judiciosa e calma que isso. Porém,
permanecendo calmo, e motivado por obediência à Palavra, o que
Deus diz? Em Provérbios 23.13–14, a Palavra de Deus diz: “Não
retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não
morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno”.
Nisso estamos imitando a nosso Pai: Hebreus 12.6 declara que Deus
castiga todo aquele que recebe por filho.
Vivemos numa época em que um grande número de pais
cristãos, embora profundamente tolos, têm tentado disciplinar de
forma tola. Daí, descobrindo que isso não funciona, concluem que o
problema deve estar na Palavra de Deus, e não na aplicação inepta
proposta por eles. Tratando-se de uma correção pecaminosa, sua
aplicação deve ser abolida. Muitos não entendem isso e acabam por
jogar tudo fora. A Palavra de Deus nos diz o que devemos fazer. Não
rejeite o que a Bíblia claramente ensina. Recusando-se a ouvi-la,
você não livrará seu filho, que está a caminho da destruição.
Sim, a disciplina física é ensinada na Bíblia, mas isso não
significa uma necessidade de disciplinar seu filho a cada dez
minutos, havendo ou não necessidade. Não estamos falando de
abuso de menores — as palmadas devem doer, nunca lesionar.
A “disciplina física não funciona” ocorre de duas formas: uma
quando corrige seu filho, e ele aprende a ficar longe toda a vez que
você pisa em casa ou liga a TV. Não passa de abuso. Deus não o
chama para espancar seu filho; se isso é o que tem feito, seu dever é
arrepender-se e buscar o perdão de Deus e de seus filhos. Um pai
jamais deve espancar seus filhos.
O outro erro, e francamente o mais comum, acontece quando se
dá uma palmada ou um tapinha ocasional e muito inconsistente por
cima das fraldas. Bom, a criança simplesmente foi deslocada por uns
dezoito centímetros, e nada mais. Aquela pequena coisinha
endiabrada vai reagir assim: “Rá! Eu desafio você e toda sua
deplorável tentativa de intimidar a dona do mundo!”.
A disciplina é uma linguagem universal. Ela comunica. A
disciplina piedosa supera. Deve haver conquista, do contrário não
pode ser considerada piedosa. Muitas vezes, pais relutam em
disciplinar quando necessário, pois pensam que seus filhos têm a
mentalidade fraca em relação à causa e ao efeito da piedade. A mãe
pode dizer “Acho que minha ovelhinha” — conhecido pelos de fora
como tornado uivante, e por seus irmãos como Rasputin de pijamas
— “não compreende a conexão entre fazer birra e a palmada. Ele
parece tão triste e desnorteado”. Você disse não entende a causa e o
efeito da disciplina?
Mas como, sendo ele um verdadeiro gênio das causas e efeitos
da impiedade? Diga, ele compreende a conexão entre choramingar e
conseguir o que quer? Ele compreendeessa relação casual. . . então
por que não entenderia o relacionamento causal entre mostrar o
dedo e ser disciplinado? Provérbios 19.19 diz: “Homem de grande ira
tem de sofrer o dano; porque, se tu o livrares, virás ainda a fazê-lo de
novo”. Esse é o princípio de causa e efeito. Ao limpar a barra de
alguém que perdeu a paciência, mesmo que tenha dois, trinta,
sessenta anos de idade, você terá de fazê-lo outra vez. Quando isso
acontece, a criança é recompensada por agir sem medir as
consequências. Ganha-se mais daquilo que foi atenuado, perde-se o
que não foi penalizado.
Em quarto lugar, disciplina é amor. A Bíblia declara isso de
duas formas: primeiro, positivamente: “porque o Senhor corrige a
quem ama” (Hb 12.6). Quando Deus ama, Ele corrige. O mesmo
princípio é declarado negativamente apenas alguns instantes depois:
“Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado
participantes, logo, sois bastardos e não filhos” (Hb 12.8). Em
Provérbios 13.24 temos o princípio declarado de forma negativa: “O
que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o
disciplina”. Sem disciplina física eficaz, você odeia seus filhos. Se
não os disciplina de acordo com a Palavra de Deus, não me importa
a sua estrutura emocional — você não os está amando. O amor não
é definido por nossa estrutura emocional, mas por aquilo que a Bíblia
diz. O ódio é definido por aquilo que a Escritura declara, e a Palavra
de Deus diz que não disciplinar os filhos praticamente equivale a
desprezá-los — e isso inclui renegá-los ao não fazer nada mais do
que dar tapinhas por sobre as fraldas.
Logo, a disciplina sem eficácia é uma forma de negar, rejeitar,
odiar seus filhos. Deus não age assim conosco, portanto não
devemos agir dessa maneira com nossos filhos. Ao mesmo tempo,
queremos corrigir nossos filhos enquanto manifestamos todo o fruto
do Espírito. Por isso disciplinar crianças é a vida cristã de forma
microcósmica. Não se trata de uma busca secular desconectada de
questões como o pecado e o perdão, o Evangelho e a redenção. O
ato de disciplinar os filhos está totalmente relacionado a Jesus.
Estamos nutrindo almas, não treinando filhotes. Essa é uma forma
de discipulado e ministério, e não pode ser um ministério sem ter
Jesus no centro.
Não se conquista a justificação pelo experimentar da disciplina. A
santificação não conduz à justificação, e nosso lugar em Cristo não
foi dado porque alguém nos arrastou até Ele mediante a correção
física. Você foi adotado pela livre graça divina. E então Deus coloca
em você uma das marcas de pertencimento: Ele disciplina todo filho
que tem. Medite nisso. Deus o está amando quando o disciplina.
Você recebe o dom da disciplina santificadora como resultado da
livre graça.
Quando garoto, nas vezes em que era disciplinado, meu pai,
sempre calmo e sensato, dava-nos uma oportunidade de autodefesa,
geralmente bem fraca. Ele nos disciplinava e então nos segurava,
orava conosco, e dizia algo do tipo: “Tudo está completa e totalmente
perdoado, e você pode voltar e reingressar na família como um
membro integralmente participante dela, desde que não fique mal-
humorado com o que acabou de acontecer”. Lembro-me de sentar
no porão, ouvindo o feliz tilintar dos talheres no andar de cima, como
o filho pródigo em terra distante.
Quando isso acontecia, antes de me arrepender e reingressar na
família, eu era um Wilson? Eu era um Wilson no porão tanto quanto
era e fui em qualquer outro momento da minha vida. Na verdade,
esse era o porquê de eu estar lá. Meu pai não fazia aquilo com os
filhos do vizinho (por mais tentador fosse de vez em quando). Eu
estava lá pois eu era um Wilson. A membresia na minha família
nunca esteve mais segura do que quando eu estava sentado lá, sob
disciplina.
Estava feliz em ser um Wilson? Não necessariamente. Eis que
você é um cristão justificado. Essa é a sua posição como cristão. E
então Deus disciplina, açoita, corrige. Ele opera coisas diferentes e
que introduzem problemas em nossa vida; se ficamos bravos ou
chateados, é como se estivéssemos sentados nas escadas do porão,
não querendo voltar a fazer parte da família. Você é bem-vindo a
mais uma vez subir as escadas a qualquer momento e aprender a
lição a partir disso. Aprendendo a lição, enxergando que a
santificação relaciona-se com a justificação, você entende como a
disciplina de seus filhos retrata isso também. Sua teologia da
justificação e sua teologia da santificação destilam da ponta de seus
dedos, especialmente se você estiver disciplinando seus filhos.
 
TERCEIRA
PARTE
 
 
 
 
CAPÍTULO 8
 
 
E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na
disciplina e na admoestação do Senhor.
(Efésios 6.4)
 
Na parte anterior, distinguimos a disciplina da punição. Essa
distinção inicial mostra que a disciplina é corretiva, enquanto a
punição está preocupada apenas com a justiça ou retribuição.
Quando ordena a execução de um criminoso, o magistrado não tenta
transformá-lo numa pessoa melhor, mas está simplesmente
executando justiça. Isso pode ou não tornar o criminoso uma pessoa
melhor, porém a questão não é disciplinar, mas, ao contrário, punir. O
que os pais fazem em casa é disciplinar, não punir.
Uma vez aceita a responsabilidade de aplicar a disciplina paterna
ou materna, descobre-se que, em si mesma, ela ocorre sob duas
categorias: corretiva e formativa. A disciplina corretiva é a correção
de pecados manifestos no passado, bem como a correção daquilo
que diz respeito ao futuro. A disciplina formativa antecipa aquelas
tentações típicas ao homem e busca incutir certos traços de caráter
antecipadamente.
Nesse texto, a responsabilidade é dada aos pais. Tomando toda a
Escritura, sabemos que ambos, pai e mãe, são responsáveis por
essa tarefa crucial (por exemplo, no livro de Provérbios, um jovem é
exortado a obedecer à lei de sua mãe). Paralelamente, vale notar
que a responsabilidade central nessa passagem é dada ao pai. Deus
impõe mandamentos sobre nossas fraquezas. Mães geralmente não
precisam ser exortadas ao interesse e ao investimento na contínua
instrução diária de seus filhos. Os pais precisam ser exortados dessa
forma, e Paulo faz exatamente isso.
Também nos é ensinado, poucos versículos antes, que o marido
é o cabeça da esposa assim como Cristo é o cabeça da Igreja, e isso
significa que o pai é o responsável por tudo o que acontece no lar.
Ele é o responsável, em primeiro lugar, por não se tornar uma
provocação para seus filhos. Novamente, Deus dá mandamentos às
nossas fraquezas. Quando a Bíblia diz “Pais, não façam isso” ou
“Esposas, não façam aquilo” ou “Filhos, não façam isso e aquilo”,
Deus está falando sobre coisas que possivelmente faríamos, não
fôssemos exortados a evitá-las. Logo, os pais têm uma tendência a
provocar seus filhos, e o apóstolo está contra-atacando essa postura.
Quando um pai faz seus filhos tropeçarem em ira, seu pecado
antecede o dos filhos e é muito mais grave. Em Lucas 17.2, Jesus
diz que seria melhor que um homem tivesse uma pedra de moinho
amarrada ao pescoço do que fazer tropeçar um de seus pequeninos.
Agora, o pai de família é responsável por prover para seus filhos
uma educação e criação cristãs. Filhos cristãos precisam receber
muito mais que uma educação cristã, mas o mínimo é a receber. As
palavras traduzidas em Efésios 6.4 por “disciplina e admoestação”
são paideia e nouthesia. Ambas são quase sinônimas, logo é difícil
dizer qual palavra é traduzida para qual palavra. Ambas poderiam
ser traduzidas por “disciplina”, e ambas poderiam ser traduzidas por
“admoestação”. Tome ambos os termos, e eles abrangerão e,
necessariamente, exigirão uma educação cristã.
O que chamamos educação não é tão grande quanto o termo
desse comando, mas é, necessariamente, um componente crítico.
Quando se fala de educação cristã, todos pensam em escolas,
história, geografia, matemática. Logo nos vem à mente aquele
período “formal” específico, mas, embora a paideia o inclua, ela não
se limita a isso.
Hoje em dia, a educação é concebida como “despejo deinformações”, mas a exigência crua e bruta, sem instrução, é uma
forma de provocação. Já por outro lado, os pais não devem permitir
que seus filhos se esquivem da obediência, exigindo explicações.
“Por que temos que fazer isso?”. É uma obrigação dos pais
responder a esse tipo de pergunta, mas também penso que um pai
astuto dirá: “Vou dizer uma coisa. Essas perguntas são ótimas. Por
que você não limpa a garagem como eu disse para fazer, e quando
terminar, sentamos e conversamos sobre o motivo de eu ter pedido
isso, certo?”. De repente parece que a criança não quer mais as
respostas às perguntas que ela mesma fez; tudo o que ela quer é
adiar a limpeza da garagem. E você não quer uma criança exigindo
explicações como substituto da obediência.
Paralelamente, se é rotina para o seu filho ouvir nada além de
“porque eu mandei”, e eles não fazem ideia do porquê são
pastoreados nessa direção, algo está drasticamente errado. As duas
metades desse versículo estão conectadas: “E vós, pais, não
provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na
admoestação do Senhor”. Ensinar, instruir e fazer com que o mundo
tenha sentido são maneiras de não provocar os filhos à ira.
Seu filho é provocado à ira se você não o mune de habilidades.
Ainda criança, ele não é preparado para trabalhar duro, para estudar
níveis mais elevados de matemática, para manter um emprego, para
responder bem às autoridades. . . daí, quando cai a ficha é que se
costuma perceber que o trem já partiu e que já é tarde demais. Não
houve preparo. E quem foi que não os preparou? Se o pai não
proveu uma educação cristã piedosa, então ele negligenciou o que
Paulo ensina nesta passagem.
Você já leu a respeito desse importante ponto da disciplina
algumas vezes, mas ele se aplica à paideia cristã também. Então,
aqui está, de novo: a diferença entre a disciplina corretiva e a
formativa é que, quando as coisas vão ativamente mal, a disciplina
corretiva as coloca de volta nos trilhos, restaurando a comunhão
entre pais e filhos, enquanto a disciplina formativa previne o pior no
futuro. Toda disciplina é corretiva, mas alguns tipos corrigem erros
passados e outros previnem erros futuros.
Suponha que uma mãe, ao sair pela porta, diga a seu filho que
termine a lição de matemática antes de jogar videogame. Suponha
que ele entre no modo de racionalização típica de um menino do
Ensino Fundamental e comece a pensar sobre quanta matemática
está envolvida na programação de videogames, e que, na verdade, o
espírito da matemática está impregnado nesses jogos! Quando, mais
tarde, naquela noite, de súbito suas explicações e racionalizações
desaparecerem como o orvalho da manhã e as vierem
consequências, sua mãe estará impondo o primeiro tipo de
disciplina, a disciplina corretiva sobre um incidente do passado.
O segundo tipo de disciplina é deixar estabelecido que a lição de
matemática deve vir em primeiro lugar. A lição de matemática pode
fazer uma criança sentir-se perseguida. Lá está, uma pilha de
tarefas, não porque ela fez algo de errado, mas justamente porque
seus pais querem que continue a não fazer nada de errado ao longo
de toda a vida. A lição de matemática exemplifica o preparo para um
dia futuro, e isso é disciplina formativa. Ela também é corretiva, mas
é correção preventiva. O mesmo ocorre em outros assuntos. Você
está antecipando problemas comuns à vida, preparando seu filho e o
munindo para dias difíceis. Isso se conecta ao todo do tema da
formação de caráter.
Certo escritor foi muito prestativo ao notar que a educação tem
que ver com formação, e não tanto com informação. Correção
preventiva, feita da maneira certa, é um processo de construção de
caráter. Um dos grandes erros que os pais geralmente cometem é
opor a parte acadêmica a questões de caráter. Aprender a fazer o
tipo de trabalho que as crianças aprenderam a fazer e que tiveram
de aprender por milênios não é o oposto da formação de caráter —
em si já é formação de caráter.
Se um grupo de meninos estivesse usando pás para cavar uma
vala, e um dos pais deles viesse e buscasse seu filho para que
passasse fazendo outra coisa em vez de cavar, esse não seria um
exemplo de focar no caráter em vez de cavar.
Embora o caráter seja mais importante que a vala, não a
cavando, o caráter não é desenvolvido. O que se tem é alguém que
se debruça sobre a pá ou que vai para casa e se senta no sofá.
Todas as tarefas em nossa frente são oportunidades para a
construção do caráter. Ao levar seu filho de volta para casa,
privando-o do trabalho de cavar aquela vala, você estaria se
recusando a trabalhar no caráter dele.
 
 
CAPÍTULO 9
 
 
Não se pode abordar todo esse assunto sem falar sobre
princípios e métodos. Imagine uma rodovia com quatro pistas de
mãos contrárias, duas rumo ao céu e duas rumo ao inferno. Um Ford
e um Chevrolet estão nas pistas rumo ao céu, e nas duas pistas
rumo ao inferno estão um Ford e um Chevrolet. Os tempos são
maus, tanto que, quando os Fords se cruzam, seus motoristas
buzinam e acenam um para o outro. O mesmo ocorre no caso dos
Chevrolets. Os motoristas em direções opostas podem sentir um
senso real de solidariedade, uma vez que têm o mesmo tipo de
veículo, mas estão seguindo em direções completamente distintas.
Quando se trata de educação, alguns pais recorrem a colégios
cristãos, outras ao ensino domiciliar, e alguns às co-ops.3 Assim
como na analogia do Ford/Chevrolet, o veículo não importa tanto
quanto o local para onde se está dirigindo. Alguns fazem escolhas
diferentes por motivos bons e piedosos que têm muito mais em
comum do que outros que fazem as mesmas escolhas, mas por
razões completamente diferentes. A escolha em si não é tão
importante quanto a motivação. Não queremos cair em paralelos
estúpidos de Ford-Ford ou Chevrolet-Chevrolet. Queremos pensar
sobre o princípio — criamos nossos filhos na disciplina e na
admoestação do Senhor? Se a sua lealdade primária é aos métodos,
você não está pensando como um cristão. Se a sua lealdade
primária é ao alvo, você se verá em boa companhia com um número
de pessoas buscando o mesmo alvo mas com métodos diferentes.
Mas qual é o alvo? A palavra paideia que Paulo usa em Efésios
6.4, a qual discutimos em capítulos anteriores, é uma palavra de
denso significado. Todo idioma tem palavras abrangentes como essa
— em nossa cultura, um exemplo disso seria a palavra “democracia”.
Ela é tão importante que não seria de impressionar se você
encontrasse um estudo de três volumes acerca dela num sebo.
Paideia era uma dessas enormes palavras no mundo antigo, e ela se
referia à enculturação de uma criança até o ponto que ela pudesse
tomar seu lugar como cidadão em uma pólis. Em outras palavras,
paideia referia-se à realidade toda abrangente, criadora da
civilização. Paulo a usa para fazer referência a algo muito similar. O
apóstolo viu cristãos que outrora foram como que estrangeiros à
comunidade de Israel (ver Ef 2.12), mas que mais tarde tomariam
seu lugar como cidadãos da nova Jerusalém (ver Gl 4.26; Hb 12.22).
A ligação é a mesma em Filipenses, falando de nossa cidadania nos
céus (Fl 3.20). A paideia cristã prepara a criança para as
responsabilidades que ela terá como adulto no reino de Deus.
Quando Paulo ordena aos pais que providenciem uma paideia cristã,
ele o faz antes que houvesse algo como uma cultura cristã para os
filhos dos primeiros cristãos de Éfeso que receberam essa carta.
A determinação de instruir filhos na paideia do Senhor é
impressionante, principalmente porque não havia civilização cristã na
qual os enculturar. O que ele estava falando para o cristão de Éfeso
fazer? A fim de cumprir tamanha exigência, os primeiros cristãos
tiveram de criar tal cultura, coisa que vieram a concretizar mais tarde
— e é por essa razão que estamos aqui hoje. A civilização ocidental
é o resultado desse esforço, e o reino de Deus não é a civilização
ocidental, mas não há como contar a história de uma sem contar a
história do outro. Não se pode relatar a história da Igreja sem falar de
Carlos Magno, Alfredo, o Grande,nem se consegue falar sobre a
civilização ocidental sem relatar os primeiros Pais da Igreja.
Prosseguindo em cumprir essa obrigação, o alvo é fazer com que
a civilização e o reino de Deus tornem-se mais e mais sinônimos e
de mais difícil desassociação. Neste momento, é muito fácil
diferenciá-los. Atualmente, a batalha entre as trevas e a luz é óbvia.
E era muito mais óbvia quando a Carta aos Efésios foi escrita.
Mesmo assim, os cristãos primitivos fizeram o que o apóstolo Paulo
mandou fazer, e o resultado foi uma cultura cristianizada. Eles não o
fizeram perfeitamente, e nós não estamos nem perto disso, mas
aqueles crentes criaram uma cultura na qual era possível educar os
filhos. É privilégio nosso ter aspectos significantes construídos por
eles ainda funcionando como parte de nossa herança, significando
que não precisamos começar do nada como eles precisaram.
Muitos são os esforços e as conquistas que os cristãos devem
almejar com aquela grande oração de duas palavras, “Geronimo!
Amen”.4 Deus é quem guia todo o processo. Mas agindo dessa
maneira, precisamos confiar no Senhor, sabendo que conhecemos
apenas uma pequena fração de tudo o que está acontecendo,
mesmo quando diz respeito ao que acontece com nossos próprios
filhos. Consequentemente, nós simplesmente temos de receber a
Palavra de Deus e busca-lá dando o nosso melhor à medida que
Deus nos capacita com sua graça.
 
CAPÍTULO 10
 
 
Enquanto com filhos pequenos, pais podem ser vítimas da
aderência a determinada ideia — todos os tipos de noções sobre
estratagemas educacionais, esquisitices com a saúde, disciplinas
infantis, fobias alimentares, e assim por diante. Para a maior parte
dessas coisas, podemos dizer, e deveríamos, assim como o apóstolo
Paulo, que cada um tenha opinião inteiramente definida em sua
própria mente (Rm 14.5). Uma das formas de manter a paz numa
congregação diversificada é permitir que os outros façam as coisas
do jeito deles. O que é bom e a coisa certa a fazer. Porém, também é
preciso lembrar que não é sábio viver em uma sala de espelhos (2Co
10.12). Se ninguém pode abordá-lo e questionar suas decisões, você
tem uma atitude pagã. É seu dever estar totalmente convencido e
convicto ao final do dia, pois você é quem precisa tomar decisões
para a sua família, mas também é preciso estar aberto para receber
opiniões de terceiros.
Se nunca presenciou o exemplo de pais piedosos educando os
próprios filhos, busque diligentemente por isso. Ao buscar conselhos
e exemplos piedosos para imitar, tome cuidado. Aprendemos por
imitação, mas também invejamos por imitação. É preciso aprender a
copiar sem comparar.
Uma das grandes verdades que descobri ao construir a minha
casa foi a natureza do trabalho com cimento. Uma parte incrível de
trabalhar com esse material é perceber que, poucas horas depois de
colocá-lo, não importa o que aconteça, o trabalho estará feito. Você
não mais terá de preocupar-se em ficar acordado até tarde para
terminar a obra.
Seus filhos são esse cimento molhado. Isso não o obriga a tomar
um percurso de ação em particular, mas o obriga a adotar
determinado comportamento. Aqueles ao seu redor têm a obrigação
de ajudá-lo na disciplina cristã do seu filho. Não chegamos ao nível
“é necessário uma vila para educar uma criança”, de Hillary Clinton,
mas, em um sentido limitado, seus filhos são membros de pessoas
do pacto e de uma congregação pactual. É bem provável — é
garantido, na verdade — que alguns pais sentados na outra fileira
saibam mais sobre o que está acontecendo com você e seu filho do
que você mesmo. Você pode não saber que seu filho é um
incômodo, e a pessoa sentada do outro lado da igreja pode não
saber o nome do meio do seu filho — mas ela ainda é capaz de
perceber que ele é um incômodo. Precisamos daqueles que cuidam
da nossa retaguarda.
Criar filhos na paideia do Senhor significa instruí-los a fim de que
eles saibam que estão incorporados em um corpo mais abrangente,
maior que sua família. Não apenas maior que ela, mas a Igreja de
Deus é ainda mais importante. Você não é forçado a fazer tudo o que
alguém diz, mas é obrigado a ter disposição para ouvir sem ficar
bravo. O Salmo 141.5 diz assim: “Fira-me o justo, será isso mercê;
repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há
de rejeitá-lo”. No final das contas, existe a liberdade em Cristo de
diferir dos irmãos quando estes diferem sobre pontos de vista.
Entretanto, você não tem o direito de ficar irritado enquanto se
depara com uma perspectiva diferente da sua. Você não tem o direito
de ignorá-las, sem mais nem menos.
Estamos envolvidos na vida uns dos outros, e isso é conveniente,
pois certos pecados e tropeços vão à frente enquanto outros deixam
rastros (1Tm 5.24). A insensatez própria dos pais é o tipo de coisa
que pode demorar para explodir — um de seus irmãos em Cristo
pode perceber que algo vai acontecer uma década antes da
concretização. Entregue-se ao Senhor, leve sua petição diante do
Senhor, clame a Deus por isso. . . e esteja disposto a considerar a
questão. Provérbios 12.1 diz: “Quem ama a disciplina ama o
conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é estúpido”.
Você pode saber se está incutindo o tipo de disciplina correta em
seus filhos ao reagir quando alguém lhe sugere algo. Entrando na
defensiva quando isso acontece, não se surpreenda ao ver seu filho
na defensiva quando você lhe der alguma sugestão. Ele está
aprendendo a como ser ensinável por você. Ou não.
 
CAPÍTULO 11
 
 
Crie seu filho para que ele assuma a posição que lhe cabe entre
as pessoas, e isso quer dizer que sair de casa significa sucesso.
Assim como é dito em Gênesis, deixará o homem pai e mãe e se
unirá a sua mulher e os dois se tornarão uma só carne. Estabelecer
uma família e um novo lar está no gene de seus filhos. Em Os
Quatro Amores, C. S. Lewis comenta sobre o tipo de amor carente
que se recusa a deixar ir. Isso não é criá-los com sucesso. A criação
de filhos é prepará-los para a vida no reino de Deus conforme este
interage com o reino dos homens.
O que acontece na família que se forma duma escola cristã ou da
comunidade de ensino domiciliar não deve ocorrer isoladamente. Há
tempos em que preparamos nosso povo para andar no lado de fora
da congregação, onde as pessoas são pecaminosas e irracionais.
Ou seja, seu filho será maltratado. Alguém dirá algo indevido. E daí?
Bem-vindo ao mundo, filho. Não podemos criar nossos filhos
enrolados em algodão ou embrulhados com plástico bolha, onde
nunca encontrarão pecado.
Pessoas me perguntam: “Por qual razão você matriculou seus
filhos na Logos School?”.5 Fiz isso por ser um lugar onde existe
bastante pecado. Essa é uma ótima razão para enviá-los. Há
centenas de crianças, e elas pecam pra caramba — e os professores
e administradores também são descendentes de Adão. Temos todos
os tipos de problemas. Mas o que também temos é uma comunidade
onde nos comprometemos a lidar com o pecado de maneira bíblica.
Não há lugar no planeta onde você possa esconder seus filhos da
presença do pecado.
Ainda que os trancasse numa cabana no topo de uma montanha
a oeste de Montana para lá educá-los, notaria que nosso pai em
comum, Adão, seguiu seus passos e o veria manifestando sua
presença de todas as maneiras. O pecado deve ser tratado com o
Evangelho, não com isolamento ou com coletes de proteção.
Eis um desafio, pois você e seus filhos recebem o preparo para o
viver cristão justamente quando, estando eles na classe de
catecúmeno ou na escola, ou em uma co-op6, um professor não
ensina algo corretamente ou os trata indevidamente. Esconder-se do
pecado de fora não nos protegerá do pecado do lado de dentro. Há
pessoas lá fora com pontos cegos e sentimentos de vingança. Há
pessoas com boas intenções que não acabam bem. Não há como
esconder-se dessa verdade. Confronte-a com o Evangelho e siga em
frente.
Devemos munir nossos filhos para que eles encontrem esse tipo
de coisa com um coração cheio do Evangelho. Muna-os com o
Evangelho, ensine-os a ter compaixão dos irmãos e das irmãs da
igreja,ainda que não concordem sobre todos os aspectos. Isso é o
que significa construir uma comunidade e viver nela. Isso nos leva de
volta ao critério graça. O único lugar que existe para esconder-se do
pecado é Jesus Cristo. Qualquer outra técnica não surtirá efeito, não
funcionará. Você deve confiar em Jesus. Se, confiando em Jesus,
você estiver buscando um método educacional em particular, Deus
abençoará seus esforços. Agora, se você acha que já cuidou de
tudo, então o seu método não está debaixo da bênção de Deus, e
fadado a esvair-se de suas mãos. Não importa o que seja nem quem
esteja envolvido.
Você pode ter o melhor equipamento do mundo, mas se tentar
fazer um omelete com ovos estragados, você ainda terá um omelete
estragado. Não importa quão boa a receita ou quão sofisticada a
cozinha. A fim de não pegar ovos estragados, você precisa ter Jesus
— perdão, pureza, humildade e confissão de pecados. Por essa
razão que é espiritualmente perigoso quando cristãos se gabam de
diferentes métodos educacionais, não por haver algo
necessariamente de errado com o método em si, mas por ser uma
postura que exclui Jesus. Agindo assim, você perde a bênção.
Almeje exclusivamente ocupar-se da obra de criar seus filhos,
ensinando-os e educando-os, com tudo já sobre o altar, esperando
que o fogo desça.
 
QUARTA
PARTE
 
 
 
 
CAPÍTULO 12
 
 
Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo,
não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho, vos
gerei em Cristo Jesus. Admoesto-vos, portanto, a que sejais
meus imitadores. Por esta causa, vos mandei Timóteo, que é
meu filho amado e fiel no Senhor, o qual vos lembrará os meus
caminhos em Cristo Jesus, como, por toda parte, ensino em
cada igreja.
(1Coríntios 4.15–17)
Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.
(1Coríntios 11.1)
Ser um pai bíblico e uma mãe bíblica é muito mais que um pacote
de dicas e técnicas. Técnicas são úteis para aprender a pintar
números, mas esse não é o tipo de coisa que fazemos enquanto
instruímos nossos filhos. Ao mesmo tempo, a criação de filhos não é
algo tão misterioso e alheio a esse mundo que só nos resta não
saber o que fazer. Não estamos em uma densa neblina, nada
podendo fazer, exceto tateá-la. Pais sábios compreendem o que
estão fazendo, mas não com uma postura mecânica.
A paternidade e a maternidade modeladas pela piedade dizem
respeito a tornar-se mais como Jesus na presença de pequeninos
que também estão no processo que é conformar-se mais à
semelhança de Cristo. Ambos estão aprendendo lições na escola da
santificação. Neste livro sobre a criação de filhos, falamos sobre
justificação, a qual consolida o fato do seu relacionamento com
Deus, e a santificação, que é o processo de direcionar essa relação.
Na escola da santificação, os pais estão nos anos finais, e os filhos
nas séries iniciais. Os pais já estiveram onde os filhos agora se
encontram, e os filhos um dia estarão onde os pais hoje estão.
Vemos os princípios estabelecidos na Palavra, e lhes devemos
obediência, mas não podemos imitá-los de forma a tentar fabricar
técnicas educacionais a partir de ripas 6 cm x 12 cm. A criação de
filhos não funciona dessa forma. A criação de filhos não é algo
impossível e, sim, envolve um comportamento guiado por regras,
mas deve ser sempre pessoal. Lembre-se da Primeira Parte: a
palavra traduzida por “seguidor” é mimetai, da qual tiramos as
palavras “mímica” e “imitar”. Em 1Coríntios 4.15–17, aprendemos
que o genuíno discipulado cristão é guiado por um paradigma muito
mais parecido com uma família do que com um auditório. É como um
pai conversando com seus filhos ao redor da mesa de jantar. É como
uma mãe conversando com sua filha na cozinha, ambas dialogando
sobre algo muito importante a esta.
Ser pai ou mãe não é como despejar informações, não é como
um livro, nem como uma palestra. Tais podem ser valiosos em seus
devidos lugares, mas não cumprem o papel quando se cria filhos.
São coisas valiosas em seus devidos lugares, mas não são tudo.
Paulo diz em 1Coríntios 4.15 que um pai é o equivalente a dez
mil instrutores. Se você não tem pai, não importa a quantas palestras
você assista. Uma das coisas com as quais lidamos em nossa
cultura hoje é a crise da ausência paterna. Tentamos compensá-la
com dez mil instrutores, mas será necessário muito mais que isso.
Por esta razão, Paulo suplica aos de Corinto que sejam imitadores
dele (v.16) Ele diz para que o imitem, observando o que faz e
fazendo o mesmo. Isso nos incomoda, pois somos individualistas, e,
no entanto, desejamos ser originais. Queremos fazer as coisas do
nosso jeito, e dançar conforme nossa própria música, mas, no fim
das contas, todos estão copiando alguém.
Ou você copia alguém que o fará crescer ou alguém que criará
muitos problemas. Por isso Paulo enviou Timóteo: ele era um filho
amado de Paulo. O filho poderia recapitular as maneiras de seu pai.
Em 1Coríntios 11, aprendemos que, quando imitamos Paulo,
estamos imitando um imitador. O próprio Paulo imita a Cristo (1Co
11.1). O padrão original não foi estabelecido por Paulo, mas pelo
Senhor Jesus. Ele imitou a Cristo e nós devemos imitá-lo; da mesma
forma como Paulo imitou a Jesus, nós imitamos Paulo. Um dos
pontos centrais que devemos imitar é o padrão da imitação em si.
É claro que há dois tipos de imitação. Progresso verdadeiro e
piedade são coisas que se desenvolvem através da imitação, mas
porque seres humanos são necessariamente imitadores, o mesmo
ocorre com a impiedade. Nascemos neste mundo como
descendentes pecaminosos de Adão, logo temos uma certa
inclinação à imitação do que é feio e pecaminoso, e manteremos
essa inclinação até que o Senhor nos converta. Mas mesmo então,
imitando a Deus ou pecadores, independentemente, crescemos por
meio da imitação. Encontramo-nos em constante perigo de invejar
outras pessoas e nos compararmos a elas. Contudo, com todo o
processo ocorrendo em Cristo, então estamos salvos.
Uma forma de dizer se estou copiando de forma sábia ou tola é a
seguinte: se estamos imitando biblicamente, quanto mais o fazemos,
mais autênticos somos. Quanto mais parecido com Cristo você for,
mais resplandecerá a sua personalidade. Vemos situações quando
alguém copia uma outra pessoa e, por resultado, se perde, mas isso
ocorre por causa do que chamo de ego comparativo. Se for algo
mais guiado pela inveja ou pela comparação, haverá cada vez mais
confusão. Entretanto, quando todos nós nos tornamos mais como
Jesus, e quando todos os bilhões de cristãos estiverem reunidos ao
redor do trono de Deus, o que surge não é um exército de clones
com um código de série na parte de trás ou no pé. Quanto mais
parecido com Jesus você for, mais autêntico você será. Quanto
menos parecido com Jesus, mais monótono e previsível. O pecado é
monótono. A piedade não.
Quanto mais um filho copia seu pai de forma autoconsciente em
Cristo, mais singular ele se torna como futuro pai. Tentando
preservar a originalidade ao fazer o esforço para ser o mais singular
e legal possível, o que na verdade você está fazendo é copiar outras
pessoas com um olhar insincero, sendo incapaz de admitir que é isso
que está fazendo. Lembro-me de algo que aprendi na Mad Magazine
nos anos 1960: “Está cada vez mais difícil diferenciar os dissidentes”.
Quando você copia com um olhar mesquinho e esnobe, isso tudo
fica invisível a si mesmo. Você não enxerga que é igual a todo
mundo. Mas se você copia aqueles que Deus ordena copiar, e os
imita como eles imitam a Cristo, então você não está prestes a
perder a si mesmo. Ao contrário, você está no processo de tornar-se
aquilo que Deus deseja.
 
CAPÍTULO 13
 
 
Todos estamos familiarizados com o sarcasmo embutido no dizer:
“Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Quando desafiados, a
primeira reação dos pais não deveria ser “Vamos pôr um fim nisso”
ou “O pecado surgiu em nosso filho! Precisamos arrancá-lo!”. Ao
contrário, a primeira reação deve ser de, em oração, perguntar se o
Senhor não está lhe revelando algo sobre o seu próprio
comportamentoe modo de vida.
Ao perguntar “Onde foi que a nossa pequena Sally aprendeu
isso?” e supor que tenha sido de algum réprobo do parquinho no final
da rua, pare e considere, que talvez ela esteja aprendendo isso de
você. Será possível que, nesta situação, Deus esteja segurando um
espelho em sua frente, mostrando algumas coisas para que você dê
início a correções ao arrepender-se de seus pecados?
Consideremos alguns exemplos. Suponha que o filho se
comporte mal à mesa e seu pai se irrite. O filho teve um mau
comportamento, com certeza, e seu pai lhe disse para não ter essa
conduta. Mas por que ele se comporta mal à mesa? Porque seu pai
se comporta assim. Irritar-se com seus filhos à mesa é muito pior do
que brincar com batatas usando uma faca. A Palavra de Deus nunca
diz nada sobre brincar com as batatas usando uma faca, mas aborda
a raiz do pecado, que faz arrancar a cabeça do sujeito. O pai então
desobedece à Bíblia e age de tal forma que humilha todos ali,
incluindo a criança brincando com as batatas.
Não é legal que crianças brinquem com a comida, mas porque
são boas maneiras evitar esse tipo de comportamento. Entretanto,
ficar irritado com maus hábitos manifestando hábitos ainda piores é
uma coisa pior ainda. Eis um exemplo prático de um pai basicamente
dizendo que maus hábitos à mesa são tolerados. As crianças
nitidamente têm o problema de brincar com as batatas — mas os
maus modos são absolutamente aceitáveis. Os pais acabaram de
provar.
Aqui vai um exemplo mais positivo. Em vez de dizer “Vá ajudar a
sua mãe a tirar a mesa”, o pai deveria falar: “Venha, vamos ajudar a
mamãe a limpar a mesa”. Ele dá o exemplo. Não quero dizer que é
sempre errado o pai mandar seu filho fazer algo. A vida não se faz
possível a menos que as crianças recebam tarefas explícitas de vez
em quando. Mas elas deveriam recebê-las após verem com
frequência o exemplo dos próprios pais.
Se há algo a aprender com esse pequeno livro, que seja o
seguinte: pais tendem a rotular incorretamente aquilo que têm para
ensinar. Se alguma vez na vida você já esteve em um estudo bíblico
tentando se localizar na lição enquanto todo mundo está em 1Reis, e
você está em 2Reis, então, quanto mais procura, mais estranho fica.
A confusão toma conta se eles estiverem fazendo uma coisa, e você
outra totalmente diferente.
Imagine o seguinte cenário: suponha que um bebê esteja em
frente a uma mesa de café de frente a você, desejando mexer num
vaso. Suponha também que a criança tenha acabado de ficar mais
ágil, mas você ainda não preparou a casa para torná-la à prova de
bebês, e ele continua desejando tocar o vaso. Os pais então
costumam imaginar o título da lição: “Como não mexer em vasos”,
enquanto a verdadeira lição deveria ser intitulada “Como não ficar
irritado com seu próximo”. Com isso você ensina seu filho a como
não ficar irritado com o próximo, mesmo havendo contínuo
desrespeito. Essa é a verdadeira lição.
Como Deus nos ensina? Oséias 11.3 diz que Deus ensinou
Efraim a andar conforme um pai ensinaria um filho pequeno,
permanecendo atrás dele, e segurando seus braços. É assim que
ensinamos nossos filhos a andar quando eles começam a pegar
mobilidade. O que está acontecendo? Quando você está neste
cenário, do outro lado da mesa de café, de frente para o seu filho, o
seu trabalho não é ensinar a criança a ser criança. Às vezes
pensamos que há alguma coisa errada com nosso filho, pois ele
deseja tocar o vaso e devemos transformá-lo em alguém que não
deseje tocar o vaso. Mas a sua tarefa não é ensinar a criança a
como ser criança — a criança já sabe como ser criança. Você não
está ensinando seus filhos a serem crianças. Você, na verdade, deve
ensinar seu filho a tornar-se um adulto.
Por essa razão que, quando interagindo com seu filho, que está
do outro lado da mesa, você deveria olhar para o futuro com os olhos
da fé e enxergar seu filho como já estando onde você mesmo está
agora, e seus netos no lugar dele. E, sendo a vez dele, como ele
saberá lidar com o próprio filho? Ele terá aprendido de você!
Se os pais não tiverem paciência diante de provocações
repetitivas, quanto menos os filhos! Disciplinando seus filhos
corretamente, você está amando os seus netos. Seu dever não é
ensiná-los a serem crianças aceitáveis, mas como serem adultos
responsáveis — pois este é o ponto principal.
Seja honesto — você comprou o vaso em uma venda de
garagem no verão passado e esse vaso estará em outra venda de
garagem no próximo verão. Quem liga para o vaso? A criança viverá
para sempre. A criança não é algo que você adquiriu ou de que você
se livrará em uma venda de garagem. O vaso é. Você não deve
ensinar a criança a ser uma boa versão do que ela é. Ao contrário,
você ensina seu filho a tornar-se o que ele deve ser. E você, o que
será para o seu filho?
Esse princípio não muda. Suponha que você esteja lidando com
uma adolescente teimosa e pensando que “arrumar essa
adolescente” é a meta do dia. O seu trabalho não é consertar a
adolescente. O seu dever é modelá-la de modo a deixá-la apta a ser
mãe. Algumas primaveras mais tarde, sua adolescente terá sua
própria adolescente. Você não a está treinando para ser uma
adolescente. Ela já sabe fazer isso. Você a está preparando para o
dia quando deixar de ser uma.
O mesmo acontece com os professores. Os planos de aula que
vocês produziram e entregaram para a administração não são a
verdadeira lição. A verdadeira lição é modelar Cristo para seus
alunos, amando a Cristo e amando os alunos e o material. É isso que
é ensino piedoso. Quando os alunos o veem interagindo com eles e
com o material como alguém que ama a Jesus Cristo, isso tem um
impacto profundo. Se você está fazendo algo a mais, isso também
tem um impacto, mas não um bom impacto.
Também há ocasiões em que a imitação correta é superficial. É
mais difícil impedir que seus filhos fumem se você fuma. É mais
difícil impedir que seus filhos se irritem se você está constantemente
bravo. Mas há uma outra maneira de abrir o caminho para a imitação
sem piedade, mesmo que seus filhos nunca o vejam fazendo algo
errado. Lembre-se, Deus está presente, e Deus vê que portas você
está abrindo em seu lar, até mesmo as portas secretas, e quais
fechaduras você está deixando abertas, até mesmo as secretas.
Por exemplo, um pai com o hábito secreto de consumir
pornografia não deve ficar chocado ao descobrir que seu filho passa
pelo mesmo problema, mesmo que nunca o tenha visto. Ocorre que
o pai, com isso, concedeu um tipo de permissão pactual. Ele está
dizendo: “Nesta casa deixamos aquelas portas destrancadas. Não há
problema na indiferença”. Pecados secretos também podem ser
imitados. Há uma profunda estrutura nisso tudo, a qual não podemos
fingir que entendemos, mas é extraordinário como esse tipo de coisa
acontece paralelamente, mesmo que nada seja feito abertamente.
Quando oramos, pensamos ou meditamos sobre a criação de
filhos, é tentador chegar ao final e dizer “Bom, o amor é tudo de que
precisamos”. Curiosamente, tal redundância é de fato verdadeira,
mas, na verdade, não da forma como os Beatles ensinaram. A Bíblia
nos diz em 1João 4.8 que Deus é amor. Deus é Senhor sobre todas
as coisas, e a sua forma de amar está conectada maravilhosamente
e autoritativamente a absolutamente tudo. Em outras palavras, não
há lugar aonde você possa ir nesse mundo em que o amor seja
irrelevante. O amor sempre é relevante, pois Deus é amor. É nele
que vivemos e nos movemos e existimos. Deus é quem ama, Jesus
é o Amado, e o amor entre eles é o Espírito. É no amor triuno que
vivemos, nos movemos e existimos.
Isso significa que o amor é relevante em todos os lugares. Isso
explica por que, se desconectamos o amor de qualquer coisa que
estejamos fazendo, o resultado é fracasso espiritual. Mesmo que eu
tenha dominado todas as técnicas paternas e maternas, se não
tenho amor, nada sou. O ensino piedoso, a formação de caráter, e o
discipulado são simplesmente isto — amar a Deus e amar aquilo que
você de fato concretiza na presença de outras pessoas, as quais
você também ama.Ame a Deus, ame o que você está fazendo, e
ame quem o está fazendo com você. Fazendo isso, Jesus estará
presente. Do contrário, não importa se você disser “Vamos esquecê-
lo. Afinal de contas, tenho uma lista de afazeres”. Você deve fazer o
que faz em Cristo.
Imagine um pai e um filho em frente a um tronco de madeira
inteiro. Qual é a responsabilidade do pai? É pegar dois machados,
dar um deles a seu filho, e amar a Deus e amar uma manhã repleta
de madeiras cortadas, e fazer isso ao lado de seu filho, a quem ama.
Isso é o que a criação de filhos piedosa significa.
Ame a Deus, ame o que faz e ame as pessoas que Deus colocou
em sua vida. Isso retira a necessidade de correção? Não, você deve
mostrar como segurar o machado e não o deixar que o manuseie
com descuido. Correção, disciplina, ensino, mentoria — tudo isso
deve estar presente, pois você ama a Jesus, pois você ama a
madeira, e porque você ama o seu filho. Isso é o que você deve
fazer.
 
CAPÍTULO 14
 
 
Ler 1Coríntios 13 e inserir o próprio nome ao ler a palavra amor é
um exercício devocional comum. O que, na verdade, você precisa
fazer é passar por 1Coríntios 13 e colocar o nome de Jesus ali.
Jesus é paciente, Jesus é bondoso. Jesus faz todas essas coisas
perfeitamente, e eu devo é fazer nele o que estou fazendo.
Se você não está imitando Jesus Cristo ou imitando o seu povo
que imita a Ele, se você está corrigindo seus filhos de forma dura ou
cegamente com um senso de pânico, ou se não está corrigindo seus
filhos da forma como deve, então é mais fácil pensar de forma
reversa, e acreditar que Deus esteja fazendo o mesmo com você.
Alguns de vocês, pais, devem ter lido este livro com a sensação
de um chute na cabeça. Você pode sentir como se nada pudesse
fazer a respeito — seus filhos já estão todos mais velhos, e parece
que Deus está olhando para você da mesma forma como você
costumava olhar para seus filhos.
Mas Deus não age dessa forma. Ao pensar sobre o Deus
onisciente e onipresente, precisamos pensar em um Pai. Muitos de
nós o imaginam como uma força ou poder onisciente, onipresente e
onipotente tal qual a eletricidade, e com uma tendência maldosa
prestes a punir. Mas Deus não é nada disso, e erramos ao pensar
nele nesses termos. Deus perdoa. Ele o tomará de onde está, não de
onde você deveria estar.
É preciso pensar “Tudo bem, não posso fazer nada disso fora de
Cristo. Tudo precisa estar em Jesus, em um espírito de amor, e devo
me voltar a Ele e aceitar o perdão que Ele oferece; Ele é que deve
me tirar daqui”.
Isso é o que você deve entender. Não se trata de uma superlei.
Tudo isso é o Evangelho. A criação de filhos é o Evangelho em sua
completude, pois também Deus nos está criando. E para o que Ele
nos está criando?
Para a presença, para o gozo e para o céu de Deus. Ele nos está
criando para sermos como Jesus. Ele nos está criando para sermos
nós mesmos.
 
ANEXO
 
 
 
 
PERGUNTAS & RESPOSTAS
 
 
1. Existe um momento aceitável para perguntar a seu filho
“Como você acha que isso me faz sentir?”?
Doug: Das duas, uma: autopiedade ou retoricamente ineficaz.
2. Deve haver o momento para perguntar: “Como você acha que
isso faz a sua mãe se sentir?”?
Doug: Depende. Se for no desejo de ver as crianças mais
agradecidas ou gratas pela refeição feita, não há nada de errado
nisso, uma vez que será uma atitude para o benefício dos demais.
Nancy: Mas, veja bem, não deve ser algo feito, por exemplo, no
meio de uma refeição. Tente um tempo depois, ou os prepare com
certa antecedência, não queira fazer seu filho sentir-se culpado
quando tiver de responder. Doug foi quem me ajudou a aprender a
não levar a desobediência das crianças para o lado pessoal. Se eu
me ofendia, as coisas complicavam, e começava a atribuir causas
para a situação: “Se me amasse, você não teria feito isso, então o
problema deve ser bem mais profundo!”. Só permaneça objetivo:
“Eu disse para não fazer isso, e você fez mesmo assim”. Dessa
forma, não se torna algo pessoal ou sentimental.
Doug: Voltando ao exemplo da mesa de jantar, ao invés de dizer
“Por que é que vocês são um bando de ingratos?” durante a
refeição, arruinando o jantar, é muito melhor dar o exemplo:
“Temos aqui um maravilhoso jantar. Não acham, crianças?”. Agora,
se um de seus filhos disser “Não, está horroroso”, daí, sim, ele o
estará provocando e desafiando, então eis um momento propício
para a disciplina. Porém, na maioria das vezes, quando está tudo
bem, a criança apenas está se expressando de forma impensada.
Em casos assim, o pai pode demonstrar como ser grato.
3. Como você disciplina seu filho em consistência com a
permissão e a liberdade que lhe proporciona?
Doug: Uma das melhores formas de ser consistente é reduzir o
número de ordenanças. Por exemplo, se o seu filho tem dois anos
de idade, e sua casa está repleta de coisas que o obriguem a ficar
repetindo “não mexa” toda hora, minha sugestão é que você pegue
todas essas proibições e considere quantas delas pode eliminar,
deixando o ambiente de sua sala seguro para bebês, digamos.
Diminuindo noventa por cento das ordens, fica mais fácil vencer
sempre. Mas, impondo uma multidão de regulamentações, será
difícil para o seu filho lembrar-se de todas elas. Vejo pais citando
ordens como se fossem metralhadoras: “Pegue os sapatos.
Coloque a jaqueta. Venha aqui. Ponha esse livro lá”.
Eventualmente, seus pequenos ficarão sobrecarregados, e haverá
algum tipo de infração. Além disso, tente aglomerar aquilo que
você manda, a fim de ter de usar as mesmas palavras sempre.
Para uma criança de dois anos, uma das expressões pode ser
“sem agitação”, e você deve garantir o uso das mesmas palavras
todas as vezes. Se das outras vezes daí usar “sem mau humor” ou
“pare de reclamar”, você pode confundir a cabeça do seu filho.
4. Como ser um lar de sim sem mimar seus filhos?
Doug: Deus diz não pois Ele tem um sim maior. Logo, você pode
dizer não a um vídeo, mas depois lhes dar um quilo de massinha.
Quando uma mãe diz não a uma barra de chocolate antes da
janta, esse é um não por ela ter um sim à vista.
Nancy: Uma das coisas que fiz quando nossos filhos eram ainda
pequenos foi garantir a obediência antes mesmo que eu desse
uma ordem. Então, quando de fato era o momento de dizer não, eu
podia relembrá-los do que lhes havia dito anteriormente. Daí tudo
que precisava acontecer, acontecia, e eu dizia “Ah, ótimo! Você
conseguiu!”. Outras vezes me lembro de ouvi-los reclamando,
então eu falava para rebobinar a fita, sair da sala e entrar
novamente, mas então com uma postura de gratidão. Trata-se de
manifestar graça mas também de dar instrução.
Doug: Pais e mães geralmente emboscam seus filhos com ordens
e requisitos, é como assistir a um jogador de futebol americano
ficar encurralado pelo time adversário. Suponha que seja verão e
seus filhos estejam brincando bastante e com muito calor e
energia, daí você sai para o quintal e diz: “Hora de entrar!”. Pronto!
Eis exatamente uma fábrica de desobediência. É como ter uma
sala cheia com cinco crianças, e dar a todas elas somente um
balão — um pequeno balão de pecado. Em vez disso, você
deveria ir ao jardim e dizer “Crianças, dez minutos”. Dessa forma,
cada um tem tempo de se ajustar; elas sabem o que acontecerá.
Você as está preparando para o sucesso, e não as pegando de
surpresa, garantindo assim o fracasso delas. Nancy, você
costumava prepará-los enquanto a caminho do supermercado,
também.
Nancy: Quando íamos ao supermercado, ainda a caminho, eu
recapitulava com todos eles as três regras: sem pedir besteiras,
sem tocar em nada, e fiquem comigo. Era um jogo da sorte, e eu
dizia estar orgulhosa deles; muitas vezes a caixa comentava quão
bonzinhos eram os meus filhos. Crianças obedientes e alegres são
um bom testemunho. No final, se cumprissem as regras, eu
sempre comprava um presentinho para eles.
5. Pode falar um pouco sobre os passos que você dava para não
levar as coisas para o lado pessoal quando seus filhos
desobedeciam?
Nancy: Enquanto seu filho pequeno tenta argumentar, é tentador
cairna argumentação. Doug lembrava-me de que eu tinha a
autoridade sobre meus filhos, e que deveria usá-la sabiamente. A
sabedoria não leva as coisas para o lado pessoal, nem entra em
uma discussão com crianças.
Doug: Acaba se tornando algo contraditório. Você já deve ter visto
árbitros se intrometendo no jogo, saindo da imparcialidade. O pai e
a mãe são os árbitros. Vestindo a camisa da arbitragem, eles não
podem jogar por um time. A partir do momento que você começa a
participar do jogo, torna-se algo pessoal e o seu julgamento se
obscurece.
Nancy: Às vezes eu me precipitava no não: “Mamãe, posso comer
um biscoito?” — “Não, não pode”. Daí é que eles gostavam mesmo
de argumentar. E foi então que precisei aprender a esperar e dizer
“Bom, vou pensar”. Normalmente, se parasse para pensar sobre a
situação, eu diria que sim ou teria outra ideia. Creio que seja
natural ver filhos tendo a vontade de discutir com a mãe. Então,
desde cedo, Doug sempre me lembrava de permanecer calma,
exercendo minha autoridade sobre eles. Doug era o meu suporte,
logo, se eles fossem insubordinados a mim, seriam insubordinados
a ele. E ele me apoiava.
Doug: E isso traz de volta o que meu pai me ensinou: não
desrespeite a sua mãe. Eu sabia que, quando lidava com a minha
mãe, eu estava lidando com o meu pai. E quis que meus filhos
soubessem que, se estivessem lidando com a Nancy, estariam
lidando comigo. Isso a ajudou, pois, dessa forma, ela não
precisava carregar aquele peso sozinha. Ela poderia simplesmente
passar a bola para mim, se as coisas ficassem intensas e difíceis.
6. Quais passos vocês tomaram para entrar em sintonia na
disciplina dos seus filhos?
Doug: A Bíblia relata que todo cristão deve zelar por ter a mesma
mentalidade, logo marido e mulher devem ter a mesma
mentalidade quanto à disciplina e aos padrões de obediência. Que
eu me lembre, nunca precisamos nos esforçar para tanto, dado
que Nancy sempre quis que estivéssemos em sintonia. Porém, há
outro lado importante: filhos pequenos precisam de que o pai seja
duro, mas não a mãe. Há um aspecto carinhoso e acolhedor que a
mamãe precisa dar, e também um aspecto engole esse choro, não
sangre no carpete por parte do pai. Por causa disso,
desentendimentos podem acontecer quando o homem pensa que
a mulher deve ser exatamente como ele, ou quando a esposa acha
que o marido deve ser igual a ela, não percebendo as
oportunidades de amadurecimento, que Deus deu aos filhos um
pai, para que assim aprendam a ser firmes, e que Deus deu aos
filhos uma mãe, para que assim não sejam duros o tempo todo.
Nancy: Se achasse o Doug severo demais com alguém ou que ele
havia deixado algo passar, eu refletia a respeito, mas não falava
daquilo na frente das crianças. Conversávamos mais tarde, sem
que elas pudessem ouvir, sempre almejando uma frente unida.
Tentar nos dividir era uma ofensa digna de disciplina física
imediata. Se um deles me pedisse algo e eu dissesse não, ele não
teria a permissão de pedir a Doug. O não de um de nós era o
suficiente. Além disso, pais tendem a ser mais duros com os
meninos mas mais moles com as meninas. Mães tendem a ser
mais duras com as meninas, e mais maleáveis com os meninos.
Compreender essa tendência pode ajudá-lo a ser mais sensato
com todos.
Doug: Dialoguem a respeito. Fora das trincheiras com os
pequeninos, certifique-se de repassar o que aconteceu. Quando
seus filhos estiverem todos dormindo, certifique-se de conversar.
“Como foi? Como foi o dia? O que sente quanto ao seu
relacionamento com Fulano e Ciclano? Como aquele incidente
terminou? Certo, da próxima vez faremos o seguinte”.
7. Como era conduzir os devocionais com as crianças?
Doug: Fazíamos um monte de coisas diferentes.
Nancy: Assim que casamos, no primeiro dia, Doug abriu a Bíblia e
começou a lê-la para mim em voz alta, logo pela manhã.
Doug: Quando as crianças começaram a chegar, e nossa agenda
ficou confusa, mudamos para a hora da janta. Que fosse a leitura
da Bíblia, o uso do Catecismo para discussão, a leitura de uma
história bíblica, era entre o jantar e a sobremesa. Quando nossos
filhos cresceram e já estavam na escola, todo o período do jantar
era tomado pela ética bíblica e por conversas sobre situações da
escola. A essa altura, as crianças estavam todas dispostas a
relatar algum ocorrido e a fazer perguntas. Também líamos
bastante em família: altas doses de Nárnia e Senhor dos Anéis.
Talvez seja impreciso dizer que adorávamos em família. Tínhamos
uma interação regular e contínua com a Bíblia e a Palavra de
Deus, e diferentes coisas colocavam nossa fé cristã à prova, mas
não havia uma liturgia estabelecida, com cânticos, oração inicial e
leitura específica.
Nancy: Cada um começou a ler sua própria Bíblia assim que
possível. Costumávamos orar, todos juntos, à noite. Assim que
chegaram ao segundo fluxo do Fundamental, Doug deu início a um
estudo bíblico voltado àquela etapa, e nós nos adaptamos à idade
deles.
8. Sendo específico por um instante, quais podem ser as
preocupações com, digamos, “cobertas de segurança”?
Nancy: Certa pessoa deu-me uma naninha como presente do chá
de bebê. Era tão fofo, nosso bebê o pegava e esfregava o rostinho
nele sem parar. Um dia eu disse “Olha, meu bem, não é fofo?”, e
Doug disse, “Tire essa cobertinha da nossa casa”. A princípio,
achei que estivesse brincando, mas ele queria que nossos filhos
estivessem seguros em nós, não num objeto como uma naninha.
Doug: Aqui vai um qualitativo, e então mais um exemplo. Não é o
fim do mundo se o seu filho tiver uma naninha ou uma chupeta ou
algo do tipo, mas é preciso cuidado com coisas assim. Por
exemplo, recentemente estava no aeroporto e vi um time feminino
de vôlei embarcando. Passando pela segurança, contei na fila em
minha frente seis delas com bichos de pelúcia, e percebi que
essas garotas não tinham segurança. Na posição de pais,
quisemos enfatizar e priorizar nosso relacionamento e nossa
dependência e nossa interação mútuos. Caso víssemos uma das
crianças ficando sem ânimo ou até mesmo fazendo birra para
chamar a atenção, nós todos nos reuníamos, e então dávamos
mais atenção e afeição que o normal.
9. Como você estabelece prioridades acerca de pecados ou
problemas a serem tratados quando o pai chega em casa?
Doug: Na verdade, é algo a ser decidido em união. As mulheres
geralmente se especializam naquilo que chamo de “grandes
experimentos em telepatia” e de “o olhar de mil significados”,
enquanto os homens especializam-se em não ouvir aquilo que é
gritantemente falado, em alto e bom tom. Mulheres reparam até
demais no clima e nas tensões da sala, já homens não prestam
atenção o suficiente nem naquilo que é declarado ou dito. O certo
a fazer é não ter esse tipo de mal-entendido acontecendo em
frente das crianças. Vocês devem conversar a respeito quando
estiverem revendo o que aconteceu. Por exemplo, se a obediência
estivesse de mal a pior, nós dois nos juntávamos, conversávamos
a respeito, e por vezes decidíamos ajustar algumas coisas.
Colocávamos as crianças em fila e dizíamos a elas que vimos
muitas disputas ou muita confusão ou qualquer outra coisa.
Dizíamos a nossos filhos que sentíamos muito por termos deixado
aquilo acontecer, e os fazíamos saber que haveria um breve
reinado de terror. Isso significava sem alertas e disciplina por
qualquer tipo de ofensa. Geralmente nenhuma disciplina era
necessária, pois eles entendiam a mensagem. Eles já estavam
velhos o suficiente para saber o que estávamos fazendo.
10. Como pedir desculpas aos filhos?
Doug: Pedir desculpa aos meus filhos, como muitas outras
coisas, foi algo que aprendi com meu pai. Lembro vividamente
que ele me pediu desculpas por me disciplinar momentos antes,
enquanto ainda estava com raiva. Ele precisou sair para liderar
um estudo bíblico, mas, assim que entrou no carro, parou e
pensou: “Não posso ir ao estudo desse jeito”. Então ele voltou
para casa, subiu as escadas, sentou-se em minha cama e buscou
o meu perdão por ter me disciplinado com raiva. Ao fazê-lo, o pai
reconhece que todos na casa estão debaixo de suaautoridade, o
que significa que as crianças podem confiar na mamãe e no
papai.
11. Alguma consideração sobre deixar os filhos com televisão
disponível?
Doug: Enquanto nossos filhos ainda eram pequenos, fomos bem
rigorosos com a TV. Já mais velhos, no segundo ciclo do Ensino
Fundamental, havia a questão do videogame. Dizíamos que, se
quisessem ouvir um pouco de música ou jogar videogame, eles
ganhariam tempo para isso no banco de créditos pela leitura de
um livro. Desta forma, eles acumulavam tempo. Havia uma
diferença do entretenimento, que hoje é tratado como um direito
de nascença, para o lazer, que diz respeito ao descanso. Logo, se
você se esforça, acorda cedo e sai para fazer o que é preciso, e
depois do jantar quer colocar os pés sobre a poltrona e assistir ao
jogo, isso é recreação. Agora, quando você vê alguém numa
locadora, segurando dez filmes aos quais ela vai assistir naquele
final de semana, isso não é recreação — é vidiotice. Não
queríamos que nossos filhos fizessem isso, embora o desejo
também não fosse de censurá-los ou de excluir tudo
automaticamente. Estávamos de olho para ter certeza de que eles
não se afastariam de coisas valiosas como a leitura. Líamos
juntos em família e ouvíamos livros no toca-fitas do carro
enquanto viajávamos pelo país. Não tínhamos uma TV ligada em
cada canto, independentemente se alguém a estivesse assistindo
ou não.
12. Conforme envelhecem, as crianças ficam mais inteligentes.
Não é preciso aumentar o número de regras a fim de manter a
equivalência?
Doug: Não, você nunca vai conseguir manter. A desobediência
tem o poder de expandir-se em um ritmo maior que o das regras.
Ao invés disso, você precisa ter uma tática mais abrangente.
13. E se você disser a seus filhos que não façam algo na quarta-
feira à noite, e então na quinta-feira eles o fazem, essa norma
deve continuar?
Doug: Eu prefiro que as regras sejam repassadas, uma vez que
isso não toma muito tempo. Você não quer dar a eles a
oportunidade de dizer “Eu esqueci” ou “Você não me disse isso”.
Assim você cria oportunidades para a argumentação. O livro de
Provérbios é o livro de um pai escrevendo para seu filho, e é
impressionante o número de repetições que ocorre nele. Quando
você precisa repetir para se fazer entendido, esse não é o sinal de
um sistema falho. Eu creio nisto, que Deus criou a criança com a
necessidade de ouvir as mesmas coisas, vez após vez. E quando
feito com paciência, daí é que você mantém as coisas claras. Se
você disse a eles que não façam algo há quinze segundos, a
questão é desobediência. Vinte e quatro horas dá a eles espaço
para todo tipo de manobra.
14. Como fazer para se ajustar a crianças adotadas, em especial
se você tem filhos que já conhecem as regras?
Doug: Você precisa dar tempo a elas e garantir que todos na
família saibam que está fazendo isso. Não espere que aquela
criança que acabou de chegar desaprenda tudo em vinte e quatro
horas. Ao mesmo tempo, não permita que o aprendizado dessa
criança mantenha todos reféns. Deixe bem claro a todos que será
algo difícil até que ela os conheça bem e todos eles a conheçam
melhor. Certifique-se de dizer aos outros filhos que é isso que
você está fazendo.
15. E quanto ao disciplinar crianças adotadas mais crescidas?
Doug: A regra que o meu pai tinha era de cessar a disciplina
física assim que o filho alcançasse entre os dez e doze anos.
Queríamos que 99% de toda disciplina física sobre as crianças
fossem aplicados durante os primeiros cinco anos de vida, e
então, ao longo do primeiro ciclo do Fundamental, apenas
correções de cunho ocasional. No segundo ciclo, queríamos que
toda disciplina física já estivesse encerrada.
No caso de crianças adotadas, você não sabe dizer como foi a
experiência delas, mas mesmo que não tenham nenhuma
lembrança de abusos ou qualquer coisa do tipo, todas as vezes
que disciplina uma criança, você está preenchendo um cheque, e,
portanto, precisa ter dinheiro no banco. Suponha que a sua filha,
aos dezenove anos de idade, deseje sair com algum babaca, e
você diz não. Você está preenchendo um cheque de cem mil
dólares por dizer isso, e precisa ter esse dinheiro no banco. Da
mesma forma, quando disciplina uma criança, o que você tem é
um saque. Há depósitos emocionais suficientes — comprovantes
positivos, e assim por diante — que permitam aquela execução?
Caso uma disciplina custe cem dólares, e essa criança chegue
em sua casa, que está com dez centavos guardados no banco,
então você não tem dinheiro em sua conta para fechar as contas.
Logo, eu sugiro um período de ajustes. Se você adotou crianças
mais velhas, de onze ou doze anos, suponho que, em todo caso,
já seja hora de suspender a disciplina física.
16. O que fazer quando se extingue a disciplina física aos doze
ou treze anos?
Doug: Aos doze anos, o rapazinho está a apenas seis anos de
alistar-se na Marinha e ir para as Filipinas. Quando seus filhos
forem para a faculdade, eles não terão de obedecer ao seu toque
de recolher e serão obrigados a enfrentar o mundo por conta
própria, assim os padrões dos pais devem ser internalizados a
essa altura. Você deve partir do exoesqueleto da disciplina
durante primeiros anos de vida, passando à internalização de
padrões quando atingirem a adolescência, e você conseguirá isso
permitindo que consequências da vida real tomem o lugar das
consequências artificiais. Quando seu filho de três anos
desobedece e pula a grade de proteção que está no topo das
escadas, você não quer que ele aprenda a lição por meio das
consequências da vida real. Ao contrário, você introduz pequenas
consequências, artificiais. A disciplina física, nesse caso tapas, é
uma pequena porção administrável de dor, nada comparável com
o que o mundo faria. Logo, pequenas coisas são apenas um
modo de ensinar a seus filhos o princípio de “desobediência
significa dor”, mas é a dor que faz com que o mundo deles não
desabe. Dos doze aos dezoito anos, você os introduz às
consequências do mundo real. Se quebram a janela do vizinho,
eles é que pagam por isso. Se não aparecem no trabalho, você os
faz ir ao empregador, caminhar até a porta dele e buscar seu
perdão por não ter comparecido naquele dia. Não é a versão final
e crua das consequências do mundo real, mas é algo que vai se
adaptando e ficando cada vez mais como o mundo real conforme
eles envelhecem.
17. E se a criança disser que a disciplina física não a machuca?
Doug: Faço um alerta contra ser sugado por uma espiral
constante e crescente de disciplina física. Todos perdem. A
disciplina deve ferroar e doer, mas não prejudicar. Se o seu filho o
desafia quando você o disciplina fisicamente, mostra não ser algo
doloroso o bastante para que ele não queira que aquilo aconteça
novamente. Então, ao invés de disciplinar dez vezes com três
tapas cada, é muito melhor disciplinar uma só vez com dez tapas.
Você quer vencer decisivamente na primeira leva. Sempre que
possível, mantenha a disciplina simples e breve.
Além disso, uma vez que a Academia Americana de Pediatria
declarou qualquer tipo de disciplina física um abuso infantil, devo
dizer que, sim, existe o abuso infantil. Bater em seu filho ou
discipliná-lo por muito tempo e muito severamente a ponto de
prejudicá-lo é perverso. O fato de as pessoas chamarem qualquer
forma de disciplina física de abuso infantil não significa que não
exista abuso infantil ou que não exista isso em círculos cristãos
conservadores. Você quer que as disciplinas sejam dolorosas mas
breves, e não prejudiciais.
Nancy: Além disso, nunca usamos nossas mãos. Usávamos um
pequeno pedaço de madeira fina ou uma colher de pau.
Doug: Creio que a mão seja pesada demais, é machucar em vez
de picar. Além disso, se você não sabe disciplinar com a as
próprias mãos, você pode se machucar, ficar bravo e acabar
maltratando a criança. As mãos devem estar associadas ao
cuidado, à proteção, à alimentação, ao amor, e não à agressão.
18. Há um argumento em círculos cristãos dizendo que
Provérbios 26.3 diz que a vara é para as costas dos
insensatos, mas não para o traseirodas crianças, logo esses
versículos não tratam da criação de filhos?
Doug: Eu estaria disposto a conceder alegremente que o
versículo especificamente não se volta ao traseiro de uma
criança, mas estaria corroborando um argumento a fortiori.
Aqueles que defendem que uma criança não deve ser disciplinada
fisicamente defendem que a disciplina física deve ser aplicada a
adolescentes? Provérbios está falando sobre a punição física para
jovens delinquentes por volta dos seus dezoito anos, o tipo de
criança que destrói o carro de alguém. Em uma sociedade mais
sensata, esse jovem seria açoitado ou punido com uma vara,
solto, e então liberado para fazer a restituição. Neste momento
existe um milhão de pessoas dentro de nosso sistema
penitenciário, que é mais estilo um canil. Vendo isso, temos
orgulho de quão humanitários nós somos. É simplesmente
demente e distorcido. Por açoite não me refiro à maneira
desumana como Jesus foi açoitado ou como a Marinha britânica
usou o chicote apelidado de ‘gato de nove caudas’. A lei mosaica
também dizia que quarenta açoites eram o limite sobre alguém, a
fim de que ninguém ficasse aviltado aos olhos do próximo (Dt
25.3). Era um sistema penal severo, mas melhor do que esse que
temos hoje. Atualmente, simplesmente passamos de carro por
nossas penitenciárias, e não pensamos naquilo que não vemos.
Se você não vê problema na punição física para delinquentes
juvenis ou para arruaceiros e desordeiros, quanto menos deve ver
numa aplicação penal com uma minivara sobre uma minipessoa!
Além disso, creio que a varinha deva entrar em cena geralmente
após a criança começar a ficar mais articulada e a subir nas
coisas. Ocasionalmente, você precisa dar um toque num bebê
que ainda mama, mas deve ser algo bem sutil, é como dizer “sem
morder”.
19. Como você faz para um garoto permanecer sentado por
longos períodos de tempo dentro da igreja?
Doug: Não espere resultados instantâneos. Quando você olha as
famílias na igreja e elas têm cinco filhos em uma fileira, sentados
e segurando o saltério, aposto que, se você fosse a essas
famílias, cada uma delas lhe contaria as histórias de guerra sobre
os anos que levaram para chegar àquele ponto. Permanecer
sentado na escola, na igreja e à mesa na hora do jantar é algo
difícil de um garoto aprender, e ele precisa praticar. Torne isso um
jogo e o prepare, fazendo com que permaneça sentado por dez
minutos. Acostume-o com a ideia, a fim de que saiba o que isso
significa. Além disso, certifique-se de dar-lhe outras coisas que
fazer de forma silenciosa, e assim evoluir em atenção na igreja.
Nancy: Doug não se sentava conosco na igreja, pois ele era o
pastor. Quando as crianças estavam no terceiro ou quarto ano do
Ensino Fundamental, estabeleci a regra do “sem banheiro”
durante o culto. Eles podiam ir ao banheiro antes do culto. Depois
precisavam esperar, a menos que houvesse uma verdadeira
emergência.
20. Parece que meninos são mais obviamente pecaminosos,
guiados por suas paixões, mas as meninas são tão
pecadoras quanto eles, de uma forma sorrateira e
manipulativa. O que você faz em relação a isso?
Nancy: Eis um exemplo: outro dia a Raquel estava arrumando a
Blaire, que tem três anos, para juntas saírem, e Blaire começou a
bagunçar. Raquel disse a ela para parar com a bagunça, mas
Blaire queria bagunçar. Raquel disse “Blaire, eu disse não, então
você precisa controlar o seu coração. Mostre como você controla
o seu coração. O que você faz?”. Blaire parou e disse “Sorria?”.
Raquel pôde lidar com aquilo, pois ela havia treinado a Blaire. E
daí Raquel pôde deixá-la praticar e tentar novamente.
Doug: E há uma importante verdade nisso. Se a criança é
desobediente e você a disciplina, ela está aprendendo que “Eu
sou o fraco. Meus pais é que são fortes”. Você deve conversar
com a sua filha e dizer “Queremos que você seja uma mulher de
Deus, uma mulher forte, e não uma mulher de Deus fraca”. Uma
garota que dá ouvidos a si mesma em vez de instruir a si mesma
é alguém que acaba por ser levada por qualquer coisa que se
interponha em seu caminho.
Lembre sempre que meninos e meninas funcionam de maneiras
diferentes. Algumas coisas funcionam para ambos, mas meninos
funcionam pelo combustível do respeito e as meninas pelo
combustível do amor. Garotinhas flertam e manipulam; garotinhos
vangloriam-se. Se um garoto diz “Olhe pra mim” antes de pular do
trampolim, ele está clamando por respeito. Entretanto, quando
alguém exige respeito, a última coisa no mundo que você quer lhe
dar é respeito. Provérbios 27.2 diz “Seja outro o que te louve, e
não a tua boca”, logo, a segurança em um garoto o leva a esperar
por aquela aprovação dos outros. Enquanto os garotos ainda são
jovens, não se esqueça de louvá-los ao invés de os reprimir.
Mostre-lhes respeito, para que assim não fiquem constantemente
ansiando por isso anos mais tarde.
É sinal de perigo quando as garotas ficam grudentas. Se um tio
aparece no Dia de Ação de Graças, já se passaram oito anos
desde a última vez que ela o viu, e a sua menina está toda jogada
no colo dele querendo atenção, a reação do pai não deve ser a de
dizer “Ah, que fofa”. A reação deve ser: “Afe!”. A garotinha não
está se sentindo amada, pois não está sendo amada, e se vê
desajeitada, um incômodo, ou como alguém irritante, e está
insegura por causa disso. Quanto mais insegura estiver por essa
sensação, mais carecerá de atenção, e maior será a necessidade
de receber atenção e amor, e mais ela buscará por atenção
masculina. Por um longo período ela é um incômodo, mas de
repente faz treze anos e, como que por um passe de mágica,
todos os garotos começam a prestar atenção nela. Agora ela tem
algo para negociar, e muitas meninas não fazem ideia do que está
acontecendo.
Logo, enquanto ainda novos, sature seus meninos de respeito e
suas meninas de amor. O amor tem que ver com compromisso,
segurança, ligação, sacrifício: “Estarei aqui por você, farei
sacrifícios por você, estou conectado a você e provarei isso todas
as vezes que puder”. O respeito está relacionado com habilidades
e conquistas. Dê abraços, faça elogios, reafirme sentimentos,
agracie suas filhas. Diga ao seu garotinho que ele realmente é
forte, que ele realmente é corajoso, que ele realmente é rápido.
21. E se houver uma briga e você não souber quem estava em
pecado?
Doug: Esse era o tipo de situação que me fazia levar as crianças
para o quartinho. Se fosse “Ele fez também! Não fiz!”, não teria
como ajustar as coisas piedosamente, mas estaria claro que
ambos estavam em pecado, então eu tiraria o brinquedo ou aquilo
que estivesse causando a briga. Depois eu explicaria que ambos
estavam em pecado e oraria com eles. Se você não tem certeza,
não discipline de nenhuma forma. Como pai, você exerce um
papel sacerdotal na família. Você é responsável por seus filhos, e
se você tiver um ótimo palpite, mas não tiver certeza, não queira
fazer uma má aplicação de justiça, uma vez que estará ensinando
seus filhos a como aplicar a justiça. Provérbios 18.17 diz que um
caso parece sólido até que se ouça o outro lado da história, e não
havendo duas ou três testemunhas, com disciplina cega, então o
que ocorre é o ensino de princípios de injustiça. Transforme isso
em uma oração constante: “Senhor, se há algo de que precisamos
saber, mas que, no presente momento, não sabemos, e isso é
necessário para pastorear nossos filhos com fidelidade, por favor,
faça-nos saber”. E creio que você esteja orando ali por uma
posição de forte autoridade. Se Deus deseja que você saiba, você
saberá.
22. Como você encorajaria seus filhos a terem deleite na
presença uns dos outros?
Doug: Se eles estiverem tendo problemas em se relacionar, não
os coloque em um quarto e diga “Resolvam isso”. Isso apenas
significa que você terá de intervir novamente. Ao contrário, sente-
se com eles e deleite-se na presença deles. Mesmo que seja
apenas brincando de massinha juntos, você pode demonstrar
como ter prazer na companhia um do outro. Certifique-se de
conduzir os comentários deles: “Você viu o que a sua irmã fez?”.
Elogiea irmã e faça com que a irmã elogie, e então inverta o
cenário. Modele o que você deseja ver feito. Você não pode fazer
isso eternamente, mas, sempre que puder, incentive com energia,
como pai ou mãe manifeste prazer, faça com que seu filho
perceba aonde você quer chegar.
23. Quando devemos dizer aos nossos amigos cristãos ou à
família que algo parece estar errado?
Doug: Há muitos fatores. Primeiro, você está falando de filhos
mais velhos que os seus? Se o seu filho mais velho tem cinco
anos, e você suspeita que o pai de um filho de quinze anos não o
esteja conduzindo corretamente, isso intensifica o fardo da prova
antes de dizer algo. Em segundo lugar, quão próximo você é
dele? Suponhamos, vocês são colegas de trabalho, ele é dez
anos mais velho que você, e os filhos dele são dez anos mais
velhos que os seus, mas vocês são melhores amigos no trabalho.
Isso reduz o fardo da prova de se você deve ou não dizer algo.
Como mencionei em outro contexto, quando vai a alguém com
uma preocupação, você está preenchendo um cheque. Logo,
quanto dinheiro você tem no banco?
Se você viu esse casal uma vez na igreja, então diria para não se
voluntariar a nada. Mas se o pai desse garoto é seu irmão, e
vocês são muito próximos, e você pode falar sobre qualquer
coisa, exceto sobre isso, então você precisa descobrir uma
maneira de falar a respeito. Além disso, não apareça à porta da
casa deles como um acusador ou como uma pessoa repleta de
pronunciamentos dogmáticos. A primeira coisa a ser feita é
perguntar se pode conversar com eles: “Tenho algumas perguntas
sobre como o Zezinho tem se portado. Você se importaria se eu
fizesse algumas perguntas?”. Se ele disser que não quer
conversar sobre aquilo, então cale-se, retire-se e ore mais a
respeito. Se ele disser que sim, “Claro, pergunte”, encorajo-o a,
primeiramente, fazer perguntas genuínas, não afirmações. “Vi isso
acontecer: você está ciente disso?” em vez de “Para mim, parece
ter acontecido assim, por isso vejo que é assim”. É muito, muito
difícil discutir com perguntas. Se for um assunto delicado, diga,
“Tenho certeza de que você e sua esposa pensaram bastante a
respeito, e estão preocupados com isso e têm orado. Como vocês
têm lidado com isso? Como estão orando a respeito? Como
podemos orar por vocês?”. Você pode conversar por meia hora ou
quarenta e cinco minutos sem apresentar nada que possa causar
ofensas. Sou pastor, logo, se alguém vem a mim pedindo por
conselho, e se temos uma hora, uma boa meia hora ou mais,
durante esse tempo sou eu fazendo perguntas.
24. O que é fundamental a ser feito durante o período em que
seus filhos são aquele “cimento molhado”?
Doug: A melhor coisa que você pode fazer por seus filhos é
aproveitá-los! Alguém disse a Nancy uma vez: “Só espere até
você chegar à terrível época dos dois anos de idade”. Mas uma
amiga lhe disse “Ah, não: eu chamo essa idade de a idade dos
maravilhosos dois anos”. É uma confusão, mas olhe para seus
filhos e pense: “É a melhor coisa do mundo”. Então, quando eles
forem para o Jardim de Infância, prefira dizer: “Eis a melhor”.
Então, quando chegar no próximo estágio: “Essa é a melhor. Eu
não sabia que continuaria a melhorar!”.
Nancy: Poderíamos fazer uma outra palestra sobre todas as
coisas engraçadas e divertidas que nossos filhos fizeram. Sempre
que eu saía e o Doug ficava em casa com as crianças, Raquel
perguntava “Posso cozinhar?”, e ele dizia “Claro, vá cozinhar!”.
Nunca tinha ouvido essa história até recentemente, mas Raquel
disse que, certa vez, ela pegou alguns biscoitos, colocou azeite
neles e os levou ao forno. Mas ela os esqueceu no forno, e eles
queimaram. Quando ela os trouxe para mostrar ao Doug, ele
comeu um! Ela ficou muito satisfeita com isso.
Doug: A chave é entrar na dança. Você não negligencia ou honra
ou abençoa a desobediência, mas deve abraçar todo o resto. Não
tente frustrar ou evitar que algo aconteça.
25. Qual método escolar você acredita ser o melhor? Ensino
domiciliar ou escola particular?
Doug: Estimo que um terço de nossa igreja esteja matriculado na
Logos School,7 um terço é de famílias adeptas do ensino
domiciliar, e um terço é misturado. Em Romanos 14, Paulo diz
que há certas coisas que são indiferentes, adiaphora, sobre as
quais os cristãos não devem brigar. Em minha opinião, métodos
educacionais são uma dessas coisas. Se você está
completamente convencido em sua mente, Deus abençoe, e
simplesmente faça o que vai fazer, e não permita que ninguém o
faça sentir-se culpado por fazê-lo.
Há algumas vantagens e desvantagens em ambas as formas. A
escola toma proveito da divisão do trabalho: o sujeito que
realmente ama matemática pode ensinar matemática, e a mulher
que ama inglês pode ensinar inglês. A mãe que pratica o ensino
domiciliar precisa fazer todos os planos de aula, bem como todas
as outras coisas. No início, o que todas as mães precisam fazer é
trocar as fraldas dos mais novos, deixar o segundo ocupado com
bloquinhos, e ensinar o mais velho a ler. Porém, cinco anos mais
tarde, ela estará preparando lições de história, lições de inglês e
lições de matemática. Dois anos mais tarde ela estará fazendo a
mesma coisa, e com uma divisão de tarefas ainda mais difícil.
Alguns pais se desenvolvem bem e fazem um trabalho fantástico,
e Deus os abençoa. Mas vamos dizer que você não seja um
desses pais. Caso comece a parecer que é muita areia para o seu
caminhão e você esteja considerando colocá-los em uma escola,
mas teme a reação de outros pais que fazem ensino domiciliar,
então temos um problema.
Se você não está só considerando a melhor opção baseada na
melhor informação disponível, você está apenas garantindo um
melhor método, e não importando os resultados que virão depois,
então você é apenas um ideólogo. Costumo fazer a distinção
entre pessoas que promovem o ensino domiciliar e aqueles que
estão mais preocupadas com que os filhos fiquem em casa. Pais
de ensino domiciliar são pessoas que estão vivendo diante de
Deus, e escolhendo prudentemente qual método eles pensam
para melhor abençoar seus filhos. Já o adepto à educação
domiciliar que é bitolado e está ideologicamente fixado em fazer
tudo em casa, daí é algo totalmente diferente.
Por outro lado, há pessoas que usufruem da mesma escola e da
mesma filosofia educacional que uso, e me sinto como se não
tivesse nada em comum com eles. Às vezes, sinto-me como se
tivesse mais em comum com um praticante do ensino domiciliar,
mesmo que estejamos usando métodos diferentes. Considero
como um ponto de orgulho pastoral o fato de termos uma
congregação tão profundamente comprometida com a educação
cristã por tantos anos, e sem confusões a respeito. Demos socos
em ponta de faca, discutimos e tivemos de apagar incêndios aqui
e ali, mas sou tão grato por termos nessa comunidade uma
variedade de métodos por que as pessoas buscam.
26. O que fazer em relação a padrões que você e a sua família
têm, mas que outros membros da família ou amigos não?
Doug: Crianças têm mais de dois olhos. Se elas tiverem
problemas com o vovô, esse problema será exacerbado se você
não falar sobre os problemas com o vovô. Se você não disser
nada a respeito disso, resta um choque de culturas que
precisarão compreender por si sós. Seria bom ter um tempo de
conversa no carro no caminho para casa: “Agora, filhos, vocês
sabem por que não fazemos assim? Amamos o vovô e a vovó, e
nós os respeitamos muito, mas vocês veem que há algumas
coisas que não fazemos?”. Creio que haja uma forma de conduzir
as crianças nisso tudo, ensinando-as a obedecer aos avós, e a
respeitá-los, mas mantendo padrões.
Nancy: Às vezes, os avós dão aos netos permissão de fazer
alguma coisa e as crianças dizem “Tá, vou pedir aos meus pais”.
Mesmo quando os avós dizem “Ah, não, está tudo bem”, é
sempre bom que as crianças confirmem de qualquer forma.
Doug: Isso. Alguns pais pensam que o escape para isso é “Não
quero que meus filhos cresçam como eu cresci, então vou tirá-los
da minha família e não vamos visitá-los no natal nem no Dia de
Ação de Graças”. (Só para deixar claro, estamosfalando sobre
seres humanos comuns e civilizados aqui; não estamos falando
sobre você ir visitar o clube de motoqueiros Hell Angels (Anjos do
Inferno) durante o Dia de Ação de Graças). Alguns pais cristãos
foram convertidos na universidade, e dizem “Vamos nos afastar
de nossos pais, para que assim as crianças não tenham essa má
influência”. O que as crianças estão aprendendo a imitar é a
distância entre o pai e o filho. Quando se deparar com algum
problema com eles, qual será a resposta da criança? Modele seus
filhos para aquilo que você deseja que façam por você. Você quer
que eles priorizem a volta para casa durante os feriados? A
melhor coisa no mundo que você pode fazer é modelar isso neles.
27. Doug, você obviamente é muito produtivo. Quais as
mecânicas de não levar trabalho para casa?
Doug: Eu acredito em trabalhar e talhar, um pouco por vez. Isso
se soma. Para pôr em perspectiva, tenho sessenta anos agora, e
já escrevi muitos livros, mas minha primeira obra foi publicada
quando eu tinha quase quarenta anos. Enxergamos a época em
que as crianças eram bem pequenas como tempo de arar e
plantar. Gastamos bastante tempo em família, cultivando esse
relacionamento com as crianças, pois enxergamos que nossos
filhos eram nossa motivação fundamental para fazer o que eu
queria estar fazendo, em primeiro lugar. Naquela época não havia
internet ou iPhones, nem mesmo um computador.
Então líamos durante as noites, eu liderava os times das crianças,
e saía com eles. Uma das coisas que escrevi em Wordsmithy é
que, se deseja escrever, você precisa ter vivido uma vida. Foram
uns vinte bons anos com tudo, na construção da escola,
ensinando meus filhos, fazendo estudos bíblicos com eles,
voltando para casa para encontrar as crianças. Muitas das coisas
que faço agora, eu fazia naquela época. Estava me preparando.
Era o que eu queria. Lembro muito bem que parte de nosso plano
era assim: “Moscow é um belo lugar para criar filhos, e essa é a
prioridade. Queremos uma família intacta. Depois que nossos
filhos terminarem o Ensino Médio, então mudaremos para a Costa
Leste e faremos algo lá”. Eu queria deixar uma marca, mas na
época em que meus filhos estavam no Ensino Médio, a edição por
meio do desktop havia chegado, e demos início a
Credenda/Agenda, daí percebi que poderia fazer as coisas que
desejava fazer de lá.
John Owen escreveu um comentário sobre o livro de Hebreus que
contém sete volumes em fontes de número 6 ou 8, e os primeiros
dois volumes são apenas introdutórios. Imagino o que ele poderia
ter feito com um computador. Quando olho para os comentários
de Calvino sobre a Bíblia, e então olho para o que ele fez
resolvendo disputas em Genebra, aconselhando os governantes
da cidade sobre questões políticas, e tudo isso com os problemas
de saúde que tinha, às vezes penso por que Deus não deu a
Calvino uma biblioteca completa e um grande estoque de papel
em branco para que pudesse escrever toda a sua sabedoria. Mas
se Deus o tivesse colocado em uma torre de marfim como essa,
ele não teria nada para contar. Você precisa de pessoas reais,
vida real, tempo real. A glória do jovem é a sua força, mas a sua
glória não é sua paciência. Noventa por cento do que estou
fazendo agora, eu não fazia naquela época.
Nancy: Mas começamos uma escola. Coisas e mais coisas eram
feitas. Várias reuniões do conselho. Quando a escola se mudou
para a pista de patinação, tiveram que remodelá-la por completo.
Logo tivemos momentos que chamávamos de “momentos de nos
prostrar”, e esse foi um deles. Certa noite, Doug chegou em casa
às onze da noite, e lembro-me de dizer “Uau, chegou cedo!”. Mas
na maior parte das vezes, ele chegava em casa na hora do jantar.
Doug e Nate também construíram a maior parte de nossa casa. E
eles o fizeram durante o verão. Nate estava no oitavo ano quando
começaram, o que levou um tempo, e isso foi muito dos
momentos que tiveram a sós.
Doug: Essa foi a aula de economia doméstica que nenhum de
nós nunca teve na escola.
28. Você fazia saídas estilo só com o papai?
Doug: Quando nossos filhos ainda eram pequenos, as manhãs de
sábado costumavam ser minha vez de levar as crianças para sair,
o que dava uma pausa para Nancy. Ela ficava em casa, e eu saía
com as crianças em grupo.
Nancy: Costumava envolver donuts, a biblioteca e as montanhas
de Moscow.
Doug: Quando eu levava as crianças para sair, geralmente a casa
ficava calma. Mas quando a Nancy saía. . .
Nancy: Eu encontrava meias por toda parte quando chegava em
casa.
Doug: Preciso explicar um jogo nosso: eu fazia as crianças
puxarem um sofá, pegarem todas as meias que havia na casa e
enrolá-las como pequenas bolas. Sentava-me numa cadeira do
outro lado da sala, e então as crianças precisavam andar atrás do
sofá com um chinelo na cabeça. O jogo era ver se eu conseguia
derrubar o chinelo da cabeça delas. Era muito legal. Mas então
Nancy chegava em casa. . .
Nancy: Bom, eles guardavam todas as meias, mas por dias ou
semanas eu as encontrava em lugares estranhos. E com certeza
fazíamos os passeios de pijamas.
Doug: Esses passeios aconteciam quando as crianças eram
menores — da Pré-Escola até o fim do Ensino Fundamental.
Fazíamos a hora de ir dormir como sempre, cantando e orando, e
os colocávamos todos na cama. E depois que estivessem
deitados por uns dez minutos, eu gritava “Passeio de pijama!”, e
todo mundo pulava da cama, corria e entrava de pijamas mesmo
no carro. Então íamos à sorveteria Baskin Robbins ou visitar os
avós, depois voltávamos pra casa e os colocávamos na cama.
29. Você se esforçou para priorizar algum filho?
Doug: Na verdade, não precisamos. Tivemos três e eles tinham
dois anos de diferença de um para o outro, e para mim foi muito
fácil conhecer a todos muito bem. Vejo que, se tivéssemos tido
sete ou oito filhos, eu teria a obrigação de intencionalmente
priorizar cada um deles. Quando se chega a certo número, um
sempre sai perdido nessa confusão.
Nancy: Além disso, se precisasse ir a algum lugar, eu levava um
deles comigo uma vez e depois outro na vez seguinte. Só não foi
algo planejado. Como tanto Doug quanto eu trabalhávamos na
escola Logos, estávamos lá com nossos filhos o tempo todo.
Doug: Ainda mais, quando as crianças ficaram mais velhas,
queríamos que nossos filhos tivessem a liberdade de trazer seus
amigos e que eles pudessem simplesmente aparecer. E isso
envolve comida e atividades, não necessariamente atividades
muito organizadas, mas apenas um lugar seguro para as
crianças, onde elas podem passar tempo em um lugar bom para
isso. Nunca fizemos questão de insistir em dizer “Você deve ficar
em casa” ou “Tem que ser aqui”, mas tinha de ser um lugar onde
as crianças gostassem de se divertir. Além de tudo, assim ficava
mais fácil de vigiar.
 
NOTAS
 
1 No original, o autor utilizou a versão English Standard Version,
que diz be imitators of God. (N. do. T.)
2 Em português, a versão mais próxima à King James é a Bíblia
King James Fiel (1611), que diz Sede, pois, seguidores de Deus. (N.
do T.)
3 Cooperativas educacionais, escolas fundadas, financiadas e
geralmente administradas pelos próprios pais dos alunos. (N. do. T.)
4 Título de um documentário acerca da educação cristã clássica. (N.
do. T.)
5 Escola cristã clássica da qual Douglas Wilson é um dos
fundadores. (N. do. T.)
6 Cooperativas educacionais, escolas fundadas, financiadas e
geralmente administradas pelos próprios pais dos alunos. (N. do. T.)
7 Escola cristã clássica da qual Douglas Wilson é um dos
fundadores. (N. do. T.)
 
 
LEIA TAMBÉM
 
No livro “Contentamento”, Nancy Wilson vai à Bíblia e aos puritanos como
Jeremiah Burroughs, Samuel Rutherford, Thomas Watson, e Charles
Spurgeon para buscar ajuda no desenvolvimento da força espiritual prática
que vem da profunda satisfação no contentamento com a vontade de Deus.
 
LEIA TAMBÉM
 
No livro “Virtuosa”, Nancy Wilson, busca que você aprenda, a partir das
Escrituras, sobre o principal e mais elevado dever da mulher cristã,
compreenda a importância de as esposas serem mulheres virtuosas, veja
comoé ser uma mulher de liderança em sua comunidade, e considere o
significado de buscar a virtude mesmo que todos ao seu redor digam que isso
não é mais importante nos dias de hoje.
 
LEIA TAMBÉM
 
Onde está seu filho 5 horas por dia, 5 dias por semana?
 
As escolas atuam para moldar seus filhos. Moldar o que eles conhecem, o
que pensam, o que crêem, e até o que amam. Moldar quem seus filhos se
tornarão. Em capítulos curtos e cativantes, Moldando Mentes e Corações
apresenta o modelo de educação cristã clássica para pais que buscam a
melhor educação possível para seus filhos.
 
OS AUTORES
 
DOUGLAS WILSON é pastor na cidade de Moscow, Idaho, nos EUA. É pai de
três filhos e avô de dezessete netos. Ele é o fundador do movimento de
escolas cristãs clássicas nos EUA, além de ter iniciado a escola Logos e a
universidade New Saint Andrews. Também é autor de dezenas de livros sobre
família, educação, política, teologia, dentre outros.
----------------------
NANCY WILSON é esposa de pastor e dona de casa na cidade de Moscow,
Idaho, há mais de trinta anos. Ela é a autora de inúmeros livros e escreve
regularmente para o site FeminaGirls.com. Ela e seu marido Douglas Wilson
são pais de três filhos e avós de dezessete netos.
	Créditos
	Sumário
	Primeira Parte - Por que daqui para a eternidade
	Capítulo 1 - A definição de família
	Capítulo 2 - Sejam mímicos de Deus
	Capítulo 3 - Sacrifique com júbilo
	Capítulo 4 - Um não em um mundo de sim
	Capítulo 5 - Os três "L's"
	Segunda Parte - Os fundamentos da disciplina
	Capítulo 6 - Filhos de Deus
	Capítulo 7 - Quatro princípios para a disciplina
	Terceira Parte - Educação e admoestação
	Capítulo 8 - A necessidade de uma paideia cristã
	Capítulo 9 - Princípios e métodos
	Capítulo 10 - Criação de filhos e a comunidade
	Capítulo 11 - Há somente um esconderijo contra o pecado
	Quarta Parte - Mais parecidos com Cristo
	Capítulo 12 - Sejam meus imitadores
	Capítulo 13 - Pais dignos de imitação
	Capítulo 14 - Seja um imitador de Cristo
	Anexo - Perguntas & Respostas
	Perguntas & Respostas - Doug e Nancy
	Notas
	Outros Livros
	Contentamento
	Virtuosa
	Moldando Mentes e Corações
	Autores

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