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Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO A EXPANSÃO ULTRAMARINA E A ECONOMIA EUROPEIA A expansão portuguesa, inaugurada com a campanha de Ceuta em 1415, é lenta e sistemática avançando gradativamente em direção ao sul, tendo como meta imediata a captura das fontes do ouro de Tombucutu. Com este propósito, já em 1445, os portugueses constroem a fortaleza de Arguim, e em 1482 está pronto o castelo de São Jorge da Mina – ponto de escoamento de escravos e de ouro da Guiné, O avanço pela costa africana prossegue, assim como o adentramento no “Mar Tenebroso”, num movimento que incorpora os arquipélagos da Madeira e dos Açores e que acaba por esbarrar nas terras do Brasil. Ao final do século XV, os portugueses navegam no oceano Índico. Dominam três bordos do Atlântico sul: a “volta da Guiné”, a “volta do Brasil” e a “volta do Cabo”. Em meados do século XVI já comandam o tráfego interno do Índico, em 1513 estabelecem uma feitoria em Macau e em 1543 negociam no Japão (atingindo o extremo oriente: lendária Cipango de Marco Pólo). Moraes, Antonio Carlos Robert. Bases da Formação Territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no “longo” século XVI – São Paulo: Hucitec, 2000. O processo de formação do território brasileiro, lento e irregular, é fruto de uma longa história de encontros de povos que aqui viviam e de outros que vieram a ocupá-lo ao longo dos anos. O Brasil foi assim uma construção, na qual os colonizadores portugueses se apropriaram de certas áreas, geralmente expulsando, às vezes escravizando, ou exterminando os índios que as ocupavam, e com o tempo expandiram o seu território e criaram neste novo mundo uma sociedade diferente, que um dia se tornou um Estado-nação “independente”. A gênese do Estado brasileiro encontra-se na colonização portuguesa da América. A expansão oficial, realizada por expedições militares a serviço de Portugal (desde o final do século XVI, e principalmente no século XVII), foi responsável pela conquista de uma vasta porção do atual território brasileiro. Entretanto, o território não é apenas uma continuação da América Portuguesa: a delimitação das fronteiras atuais, concluída apenas no início do século XX, envolveu diversos conflitos, negociações econômicas e acordos diplomáticos. Nos primeiros séculos de colonização, a ocupação portuguesa limitou-se ao litoral. A economia voltava-se para o mercado externo, com a produção de açúcar nas áreas próximas ao litoral. No interior a presença europeia praticamente limitava-se à vila de São Paulo e a um punhado de núcleos vizinhos. Inicialmente, os portugueses ampliaram suas terras incorporando áreas de domínio espanhol, ainda no período colonial. Diversos fatores contribuíram para o processo expansionista, que acabou por ultrapassar a linha de Tordesilhas. A CHEGADA DE CABRAL A chegada de Pedro Álvares Cabral à baia, hoje chamada Cabrália, em sua homenagem, no dia 22 de abril de 1500, não foi obra do acaso, mas consequência de uma política de expansão comercial desenvolvida desde o início do século XV, pelos países europeus, liderados por Portugal e Espanha. O que é confirmado pelo fato de, ao chegar ao Brasil, saber Cabral que pisava em terras juridicamente pertencentes a Portugal, em face do Tratado de Tordesilhas, assinado por seu país e pela Espanha em 1494. ANDRADE, Manuel Correia. Formação Territorial e Econômica do Brasil. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2007. ESTRUTURA POLÍTICA E ADMINISTRATIVA Os limites político-administrativos criados para delimitar países, estados, cidades e até mesmo bairros são alterados em função de forças econômicas, políticas, sociais e culturais que atuam nesses territórios ao longo de sua história. As iniciativas da Coroa Portuguesa obedeciam a interesses estratégicos, na medida em que procuravam estabelecer limites à expansão espanhola na América. O PAPEL DA ESPANHA A história do Brasil está ligada de duas maneiras à do Império Espanhol na América: 1. Madrid exerce, apoiada no direito, a sua soberania sobre tudo o que se encontra a Oeste do meridiano de Tordesilhas; 2. A união das duas coroas, que resulta da extinção da dinastia de Avis, reduz, consideravelmente, a liberdade de manobra de Portugal entre 1580 e 1640. A penetração espanhola na América do Sul faz-se por Este: O império Inca, que se estendia do Equador ao Chile, passando pelo Peru, pela Bolívia e noroeste da Argentina, foi conquistado entre 1531 e 1544. É preciso esperar por 1580 para que uma rota permanente seja aberta entre Potosí e o Rio da Prata, e que Buenos Aires seja definitivamente fundada. [...] [...] A União das duas coroas foi realizada em 1580. A Espanha não tem inveja da presença portuguesa no Brasil Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA e tolera bem o contrabando que se exerce pela Prata em benefício dos portugueses. A ocupação do Recife pelos holandeses desagrada Madrid, mas não ameaça os eixos vitais da construção imperial – lembra apenas que seria loucura abrir ainda mais o continente para o Sul, por Buenos Aires. Em 1625, os espanhóis enviam uma frota para libertar Salvador, depois deixam os portugueses praticamente sós face à empresa holandesa. CLAVAL, Paul. A Construção do Brasil: uma grande potência em emergência. Ed. Belim, 2004. A fundação da Vila de São Vicente no litoral Paulista, em 1532, assinalou o início da colonização dos domínios portugueses na América, com a distribuição das primeiras sesmarias, inspiradas na legislação fundiária portuguesa do século XIV. No território colonial, os sesmeiros eram homens da pequena nobreza, militares ou navegantes, que recebiam as suas glebas como recompensa por serviços prestados à Coroa. Ao tomarem posse das terras, ficavam obrigados apenas a fazê-las produzir em alguns anos (em geral cinco) e pagar o dízimo à Ordem de Cristo. Entre 1534 e 1536, a Coroa portuguesa implantou o sistema político-administrativo das capitanias hereditárias. O território foi dividido em capitanias, lotes doados a quem tivesse capital para colonizá-los. Os detentores desses lotes, transmitidos de pai para filho, eram os capitães- donatários. Esse regime fragmentou a América Portuguesa em unidade autônomas e desarticuladas entre si. ANTIGO MAPA DAS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS VICENTINO, Claudio. Atlas histórico: geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. p. 100. NOVO MAPA DAS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS Em 2014, Jorge Cintra, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, divulgou um novo mapa das capitanias hereditárias, baseando-se em novas pesquisas que mostraram que os mapas anteriores das capitanias foram elaborados com base nos paralelos e não nos meridianos, o que muda a disposição das capitanias do extremo norte da América Portuguesa. As dificuldades de administração de várias capitanias fizeram com que elas fossem retornando para a tutela da Coroa portuguesa. A primeira foi a da Bahia de Todos-os- Santos (parte do que é hoje o estado da Bahia), onde foi implantado, em 1549, o Governo-Geral do Brasil. Mas, na verdade, Portugal sempre temeu a formação de um centro de poder unificado em suas colônias do Novo Mundo. Em 1621, a América Portuguesa foi dividida em Estado do Brasil e Estado do Maranhão. Este segundo subordinado apenas à Coroa, destinava-se a garantir a defesa do litoral setentrional sujeito a ataques de franceses corsários. Em 1737, afastadas as ameaças francesas, a atenção da Coroa concentrou-se na consolidação da soberania sobre a bacia amazônica, alterando-se o nome da entidade para Estado Prof. Italo TrigueiroREALIDADE BRASILEIRA do Grão-Pará e Maranhão e transferindo-se a sede de São Luiz para Belém. Nos primeiros séculos de colonização, a ocupação portuguesa limitou-se ao litoral. A economia voltava-se para o mercado externo, com a produção de açúcar nas áreas próximas ao litoral. No interior a presença europeia praticamente limitava-se à vila de São Paulo e a um punhado de núcleos vizinhos. Inicialmente, os portugueses ampliaram suas terras incorporando áreas de domínio espanhol, ainda no período colonial. Diversos fatores contribuíram para o processo expansionista, que acabou por ultrapassar a linha de Tordesilhas. O território brasileiro foi sendo constituído e legalizado ao longo do tempo por meio de diversos tratados. O principal norteador do nosso território é o famoso Tratado de Tordesilhas. No entanto, outros tratados importantes contribuíram para a formação e organização do território brasileiro ao longo do tempo. São exemplos: • Tratado de Ultrech I (1713): Assinado entre Portugal e França estabeleceu as fronteiras portuguesas no norte do Brasil, onde o Oiapoque foi reconhecido como a fronteira natural entre a Capitania do Cabo Norte e a Guiana; Limites entre Brasil e Guiana Francesa. • Tratado de Ultrech II (1715): Assinado entre Portugal e Espanha, tratou da segunda devolução de Colônia do Sacramento para os portugueses. • Tratado de Madri (1750): Considerado o mais importante tratado em termos territoriais, esse tratado redefiniu as fronteiras portuguesas e espanholas. Os princípios que nortearam o Tratado de Madri foram o uti possidetis (o território pertencia a quem tivesse ocupado e povoado), uma espécie de usucapião e as fronteiras naturais (a fim de evitar a fragilidade dos tratados anteriores, procurou-se estabelecer as fronteiras em locais que possibilitavam a demarcação. Ex: montanha, Rio, etc.). Portugal passou de 2.800.000km² para 6.900.000km², ou seja, praticamente foram definidas as fronteiras brasileiras nesse momento. ÁREA INCORPORADA PELO TRATADO DE MADRI O território passou a ter aproximadamente 6.900.000 km². • Tratado de Santo Ildefonso (1777): Teve como intuito finalizar os conflitos que ocorreram ao longo de três séculos entre as Coroas portuguesa e espanhola e seus súditos, sobre os limites dos domínios da América e da Ásia. Confirmou o Tratado de Madri e devolveu a Portugal a Ilha de Santa Catarina, ficando com a Espanha a Colônia de Sacramento e a região dos Sete Povos das Missões; • Tratado de Badajóz (1801): Assinado entre Portugal e Espanha/França, oficializou a incorporação definitivamente dos Sete Povos das Missões ao Brasil. Esse Tratado também é conhecido como Paz de Badajóz, que coloca fim ao conflito chamado de Guerra das Laranjas. Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA • Tratado de Petrópolis (1903): formalizou a permuta de territórios entre Brasil e Bolívia — uma faixa de terra entre os rios Madeira, o rio Abunã do Brasil para a Bolívia — e o território do atual Acre da Bolívia para o Brasil. O governo brasileiro também se comprometia a construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, para dar trânsito às trocas comerciais bolivianas pelo rio Amazonas, no acordo o governo brasileiro obrigou-se a pagar à Bolívia a quantia de 2 milhões de libras esterlinas para indenizar Bolivian Syndicate, um consórcio de investidores estadunidenses, pela rescisão do contrato de arrendamento, firmado em 1901 com o governo boliviano. Fortificações na região amazônica. Em 1759, foram organizadas as Capitanias da Coroa, governadas por funcionários nomeados pelo rei. Com a 1 Arbitramento Internacional: situação em que outros países são escolhidos para resolver as questões de fronteira. independência do Brasil, essas áreas transformaram-se em províncias de um Império Unitário. Após a independência, ocorrida em 1822, outras áreas se incorporaram ao território do Brasil. Essas áreas foram anexadas de países fronteiriços (como Bolívia, Paraguai e Peru), por meio de tratados bilaterais ou por arbitramento internacional1. O Império foi responsável pela fixação de mais da metade da formação das fronteiras terrestres brasileiras. Os limites com o Uruguai, anexados por D. João VI em 1821, foram frutos de acordos de 1828, que reconheceram a independência do país. FORMAÇÃO DAS FRONTEIRA AO LONGO DA HISTÓRIA As fronteiras com o Paraguai formaram-se a partir do conflito entre a Tríplice Aliança e o Paraguai, no fim da Guerra do Paraguai em 1870. Duque de Caxias e o ditador paraguaio Francisco Solano Lopes. http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjM38_b7_jXAhWKjZAKHWKcCaAQjRwIBw&url=http%3A%2F%2Fguiadoscuriosos.uol.com.br%2Fcategorias%2F2699%2F1%2Fduque-de-caxias.html&psig=AOvVaw36DLVhaaBX69txa8AEMIEb&ust=1512769502530701 http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiZ74v07_jXAhUBQ5AKHVCeCd8QjRwIBw&url=http%3A%2F%2Fgeaciprianobarata.blogspot.com%2F2016%2F04%2Fa-guerra-da-triplice-infamia.html&psig=AOvVaw1--ZN6MIpO4Mo0o3p6_Rh_&ust=1512769554582974 Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA MALDITA GUERRA A geração daqueles que lutaram na guerra, quer nos países aliados, quer no Paraguai, não registrava de forma positiva o papel histórico de Solano López. Havia certeza da sua responsabilidade, quer no desencadear da guerra, ao invadir o Mato Grosso, quer na destruição de seu país, pelos erros na condução das operações militares e na decisão de sacrificar os paraguaios, mesmo quando caracterizada a derrota, em lugar de pôr fim ao conflito. Dessa geração nasceu a historiografia tradicional sobre a guerra, que simplificou a explicação do conflito ao ater-se às características pessoais de Solano López, classificado como ambicioso, tirânico e, mesmo, quase desequilibrado. DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: Nova Historia Da Guerra Do Paraguai. A INDEPENDÊNCIA E A IDENTIDADE NACIONAL Com a Independência, nasceu um imenso império nos trópicos, comandados por D. Pedro I. A Constituição de 1824, imposta pelo imperador, consolidou o caráter hereditário e escravista desse império cuja capital era o Rio de Janeiro. Proclamação da República, Pedro Américo. Desde o início, a elite imperial dedicou-se à obra de produção e de uma identidade nacional. O IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro), organizado em 1838 e presidido a partir de 1849 por D. Pedro II, reuniu arquitetos dessa obra. Escritores como Gonçalves Dias e José de Alencar elaboraram a mitologia romântica do índio. Naturalistas como o alemão Carl Von Martius dedicaram- se a descrever a flora brasileira. Intelectuais como Francisco de Varnhagen e Capistrano de Abreu começaram a gerar uma narrativa da história colonial, na qual a natureza ocupava lugar privilegiado. Ao mesmo tempo expedições científicas e artísticas percorreriam o país produzindo um paisagismo brasileiro. Os viajantes descreviam, desenhavam, gravavam e pintavam a paisagem tropical, os animais e as plantas, assim como os índios. O PERÍODO REPUBLICANO Desde a Proclamação da República em 1889, as províncias foram transformadas em estados. A Constituição republicana de 1891, organizou o país como Estado federal. Com isso, os estados, unidades da Federação, ganharam autonomia. Ao longo da República, as mudanças nos limites político- administrativos das unidades da federação decorreram dos processos de criação de territórios federais e de desmembramentos de estados. O Acre foi o primeiro território federal, criado em 1903. A política externa do início do período republicano foi marcada pela figura doBarão do Rio Branco, responsável pela delimitação de quase um terço da extensão das fronteiras terrestres. Em 1960, o estado de Goiás recebeu o novo Distrito Federal (Brasília); em 1977, o Mato Grosso foi dividido em dois: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; e, em 1989, a porção norte do estado de Goiás passou a constituir o 26o estado brasileiro: Tocantins. Até 1988 o país possuía também territórios federais, administrados diretamente pelo governo federal (sem governo próprio nem ligação com qualquer estado). A Constituição, entre outras tantas coisas, também proibiu a secessão, ou seja, a independência dos estados. No mapa abaixo, que retrata a divisão política do Brasil em 1945, é possível observar os antigos territórios. Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA BRASIL – DIVISÃO POLÍTICA (1945) IBGE – Atlas geográfico escolar.7ed.Rio de Janeiro: 2016 DIVISÃ POLÍTICO-ADMINISTRATIVA E SISTEMA DE GOVERNO Atualmente, a República Federativa do Brasil é formada por 26 estados, 1 Distrito Estadual e pelo Distrito Federal. Os estados, por sua vez, dividem-se em municípios. Em 2017, existiam no país 5570 municípios, sendo Minas Gerais com 853 municípios o estado com maior divisão e Roraima, com 15 municípios o estado com menor fragmentação. Os estados são as unidades de maior hierarquia na organização político-administrativa do país; a localidade que abriga a sede do governo é chamada da capital. Os municípios são as menores unidades políticas autônomas na federação brasileira. Na maioria dos casos apresentam áreas rurais e urbanas. Porém existem municípios 100% urbanizados. O Distrito Federal é uma unidade federativa autônoma que sedia o governo federal, Brasília é a capital federal do Brasil. O Distrito Federal não se divide em municípios, e sim em regiões administrativas (RAs). Existe também o caso sui generis do Distrito Estadual de Fernando de Noronha, em Pernambuco. Este distrito possui natureza autárquica e vinculação ao Poder Executivo do estado, que acumula as atribuições e responsabilidades estaduais e municipais. É o único caso de distrito estadual existente em solo brasileiro. ÁREA TOTAL DAS UNIDADES TERRITORIAIS DO BRASIL O Brasil é uma República federativa presidencialista. A República, proclamada em nosso país em 1889, é uma forma de governo na qual representantes eleitos pelo governo por tempo determinado. O presidencialismo é um regime político chefiado por um presidente da República, que acumula as funções de chefe de Estado e chefe de governo. O termo federativa indica que os estados estão unidos numa federação, mas mantêm relativa autonomia. No Brasil, o presidente da República é eleito por voto direto para um período de quatro anos, podendo ser reeleito para mais quatro anos. O mesmo acontece com os governadores dos estados e os prefeitos dos municípios. A Constituição é a Lei Maior que rege a vida de um país, determinado, entre outros aspectos, a organização do Estado. De acordo com a Constituição Federal de 1988, existem três poderes da União, independentes e harmônicos entre si: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. O primeiro encarrega-se da administração e do encaminhamento das políticas públicas; o Legislativo, constituído pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados, elabora as leis do país; e o Judiciário, responsável pelo julgamento e pela solução de conflitos, é exercido em suas instâncias mais altas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça. Dos três poderes, é o único cujos titulares não são eleitos pela população. Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA Posse de Luís Roberto Barroso, atual Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Brasília, 28/09/2023, ao lado do presidente Luís Inácio Lula da Silva, O sistema político brasileiro é a democracia caracterizada, entre outros aspectos, pela garantia do direito de voto e pelo respeito aos direitos individuais e coletivos e às decisões dos cidadãos expressas nas eleições. Mas o país já conheceu períodos de autoritarismo, como ocorreu durante o Estado Novo (1937-1945) e a Ditadura Civil- Militar (1964-1985). O voto no Brasil é obrigatório para os indivíduos de 18 até 70 anos, e opcional para os analfabetos, os que têm mais de 70 anos ou estão na faixa dos 16 aos 18 anos. Segundo os levantamentos do Tribunal Superior Eleitoral, o número de eleitores superou 156 milhões de eleitores no final de 2022, o que faz do Brasil uma das maiores democracias do mundo. Mas nem sempre foi assim. Durante o Império, existiu o chamado voto censitário, em que pessoas com baixa renda não tinham direito a eleger seus representantes. As mulheres só adquiriram o direito de votar em 1932, e os analfabetos em 1985. Entre os fatores que reforçam a democracia brasileira no início do século XXI, estão o aumento do número de ONGs (Organização Não-Governamentais), de conselhos estaduais e municipais, movimentos sociais e outros órgãos que constituem importantes instrumentos e espaços de interação entre governo e a sociedade civil e da participação popular na vida política do país. Apesar disso, alguns fatores ainda dificultam o pleno exercício da cidadania dos brasileiros. Entre eles, destacam-se as desigualdades econômicas, os obstáculos à representação parlamentar de algumas minorias étnicas e socioculturais, a dificuldade de acesso da população mais pobre aos meios de comunicação e a exclusão de parte da população dos canais de participação e dos movimentos promovidos pela sociedade civil. Primeira mulher a votar no Brasil, a mossoroense, Celina Guimarães Viana, em 1927, ação promovida pelo governador que autorizou o voto feminino mesmo sendo proibido. PRIMEIRA REPÚBLICA, ELITE AGRÁRIA E GETÚLIO VARGAS Durante esse período da República, houve o desenvolvi mento de diversas indústrias têxteis no Brasil. Com a colaboração da mão de obra imigrante, sobretudo com o fim da escravidão em 1888m essas indústrias, concentradas principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, incentivaram a formação de vilas operárias e de sindicatos. Essa organização sindical ocasionou greves de grande impacto, quando os sindicalistas alcançaram os primeiros ganhos trabalhistas. Contudo, o primeiro grande surto industrial dessa época ocorreu no período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), durante o governo de Wenceslau Brás, que implantou uma política de substituição de importações. Tudo isso resulta em avanços na indústria e economia nacional. Wenceslau Brás era o candidato das elites agrárias no Brasil, em espacial as elites Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA agrárias de São Paulo e Minas Gerais, marcando a famosa política do café com leite. Ex-presidente Wenceslau Brás declarando Guerra à Alemanha, acompanhado de Nilo Peçanha e Delfim Moreira O Brasil começou a estruturar seu parque industrial com Getúlio Vargas, que construiu o alicerce da industrialização nacional. Até então, os investimentos eram direcionados para a produção de bens de consumo imediato e o excedente de capital era empregado nas indústrias têxteis. Nessa perspectiva, Getúlio propôs um projeto arrojado. O intervencionismo estatal na ordem econômica acentuou-se nos anos 30 e início da década de 1940, estimulado pela proclamação do Estado Novo, em 1937, conhecida como Ditaduta Varguista. “Em 1939, o Estado Novo constitui um verdadeiro minis tério, diretamente subordinado ao presidente da República (…). [Tal órgão] (…) exerceu funções bastanteextensas, incluindo cinema, rádio, teatro, imprensa, literatura e política, além de proibir a entrada no país de ‘publicações nocivas aos interesses brasileiros’; agiu junto à imprensa estrangeira no sentido de se evitar que fossem divulgadas ‘informações nocivas ao crédito e à cultura do país’; dirigiu a transmissão diária do programa radiofônico ‘Hora do Brasil’ (…).” B. Fausto, História do Brasil. Procurou-se criar no país uma política econômica que permitisse impulsionar o desenvolvimento. O projeto de Vargas era levar o Brasil à modernização econômica, integrando-o no capitalismo industrial. Nesse sentido, podemos apontar na política de Vargas os seguintes fatos: • 1930 – criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio; • 1931 – Conselho Nacional do Café e Instituto do Cacau da Bahia; • 1932 – Ministério da Educação e Saúde Pública; • 1933 – Departamento Nacional do Café e Instituto do Açúcar e do Álcool; • 1934 – Conselho Federal do Comércio Exterior, Instituto Nacional de Estatística, Código de Minas, Código de Águas, Plano Geral de Viação Nacional e Instituto de Biologia Animal; • 1937 – Conselho Brasileiro de Geografia e Conselho Técnico de Economia e Finanças; • 1938 – Conselho Nacio nal do Petróleo, Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), Instituto Nacional do Mate e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); • 1940 – Comissão de Defesa da Economia Nacional, Instituto Nacional do Sal e Fábrica Nacional de Motores; • 1941 – Companhia Siderúrgica Nacional • 1942 – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI); • 1943 – Coordenação da Mobilização Econômica, Consolidação das Leis de Trabalho, Serviço Social da Indústria (SESI), Plano de Obras e Equipamentos e I Congresso Brasileiro de Economia; • 1944 – Conselho Nacional de Política de Desenvolvimento Industrial e Comercial e Serviço de Expansão do Trigo; • 1945 – Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC). Ou seja, os 15 primeiros anos do Governo Vargas (1930- 1945) foram profundamente marcantes para o Brasil. É importante ressaltar que nesse primeiro momento tivemos fatos marcantes na história brasileira e mundial como a guerra civil de São Paulo (1932), as revoltas da Aliança Nacional Libertadora (1935), a tentativa dos integralistas de tomar o poder (1938) e a entrada do país na Segunda Guerra Mundial (1942). A participação do Brasil na Segunda Guerra dificultou a compatibilização da política interna (ditadura) com a política externa (defesa da democracia). A política populista de Vargas atingiu o auge em 1945, com o “queremismo”. As massas populares eram agitadas para exigir a permanência de Getúlio, gritando "queremos Getúlio". Isto acelerou a queda de Vargas, pois permitiu a seus adversários acusarem-no de querer permanecer no poder. Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA Outros elementos apressaram o fim do Estado Novo: o discurso do embaixador norte-americano Adolf Berle Jr. (29/09/1945), aconselhando a normalização do processo eleitoral; um decreto antitruste (que contrariava violentamente os interesses estrangeiros) e o célebre decreto pretexto (nomeação do irmão de Getúlio, Benjamim Vargas, para o cargo de chefe da Polícia do Distrito Federal). Pretextando a ameaça de uma "guinada" de Vargas para a esquerda, em função de sua política populista, os generais Eurico Gaspar Dutra e Góis Monteiro colocaram um fim na ditadura com um golpe militar, na noite de 29 de outubro de 1945. Assumiu interinamente o poder o presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares. O resultado das eleições deu a vitória ao candidato representante do PSD/PTB – Eurico Gaspar Dutra – eleito com 3 251 000 votos, contra 2 039 000 de Eduardo Gomes (UDN), e 579 000 de Yedo Fiúza (PCB). BRASIL, NOVA ORDEM E GLOBALIZAÇÃO O Brasil entrou às cegas no mundo global, que promoveu a intensificação dos fluxos internacionais de capitais nos mercados financeiros e a abertura das economias nacionais ao comércio. Na América Latina, os projetos de industrialização protegida deram lugar a ajustes destinados a integrar as economias nacionais a nova realidade global. O período neoliberal que se inicia nos anos 90 na América Latina, marca o período de redemocratização no Brasil e marca a chegada de Fernando Collor de Melo ao poder, seguido de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, seguida por Michel Temer e substituído por Jair Bolsonaro. Fernando Henrique Cardoso, ao lado de seu vice-presidente Marco Maciel, recebendo a faixa presidencial de Itamar Franco, ex-presidentes brasileiros. No início dos anos 90 foi implementado no Brasil o Programa Nacional de Desestatização com grande participação de capitais estrangeiros. Esse processo teve seu ápice nas duas gestões FHC (1995-2002). A ideia é que a privatização ocorra quando uma estatal mão está mais gerando os lucros exigidos para competir no mercado com outras empresas do mesmo ramo ou quando ela passa por grandes dificuldades financeiras. No Brasil, durante os anos 1990, foram vendidas cerca de 100 empresas públicas dos mais variados setores para a iniciativa privada, dentre as quais se destacam os setores das telecomunicações (Embratel), energia (Light), mineração e siderurgia (Vale do Rio Doce), entre outras. De uma maneira geral, a privatização de empresas públicas é um tema controverso e que divide opiniões. Especialistas do setor econômico avaliam que o poder público ganha na medida em que evita os gastos destinados aos investimentos dessas empresas, ao mesmo tempo, há um incremento nas receitas com arrecadação dos tributos gerados quando se tornam privadas. Além disso, a empresa pode vir a ser mais competitiva no mercado, em função de sua desburocratização, o que provoca mais rapidez na produtividade e maior eficiência da gestão. Outros analistas, no entanto, indicam que as privatizações podem reduzir o número de postos de trabalho, bem como a autonomia do país em setores estratégicos do seu desenvolvimento. Na medida em que se desfaz de suas empresas, pode comprometer sua capacidade de gestão em qualquer aspecto da economia, tanto na definição dos limites dos empreendimentos econômicos quanto na capacidade de interferir no setor quando necessário. Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA PLANO REAL E O BRASIL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI Na tentativa de combater a inflação, o governo de Itamar Franco adotou um novo plano econômico, conhecido como Plano Real, capitaneado pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, em julho de 1994. O plano fundamentava-se na proposta de uma moeda forte (Real), que deveria substituir o cruzeiro; contudo, foi implantada uma estratégia da utilização da Unidade Real de Valor (URV), que precederia a implantação imediata da nova moeda. Nota de 500.000 cruzeiros, 1993. Um importante mérito da equipe econômica foi ter criado uma coalizão entre empresários, classe média e população assalariada em prol da estabilidade monetária, não permitindo congelamento de preços, mas prometendo que o governo se manteria firme na política salarial, para que não existisse um grande fluxo de créditos no mercado, o que pressionaria pelo aumento da inflação. O mercado financeiro, já acostumado com a ciranda econômica do período de inflação, foi o que mais sofreu, tendo que receber promessas de amparo financeiro futuro. Em 1994, o Brasil estava vivendo um significativo clima de otimismo e euforia; a sociedade brasileira parecia ter encontrado estabilidade. Em meio a esse contexto, FernandoHenrique Cardoso alertava para a necessidade de transformar o país, e não apenas fortalecer a moeda. Para ele, mudanças estruturais deveriam ser estabelecidas para fazer a nação prosperar. Esses motivos levaram Fernando Henrique Cardoso à presidência da República nas eleições de 1994. No governo de FHC, observava-se um projeto de desenvolvimento para o país, associado ao modelo socioeconômico neoliberal. A aplicação do modelo de governabilidade econômica de FHC, bem como o seu projeto de desenvolvimento para o Estado brasileiro, baseava-se da defesa de uma política monetária forte, ouse já, buscava manter a paridade do real com o dólar. Os elementos que contribuíram para o sucesso do Plano Real foram a desvalorização controlada da moeda e uma alta taxa de juros para atrair investimentos estrangeiros. A capacidade de crescimento e desenvolvimento econômico do Brasil ficou comprometida. A postura do governo era atrair maior volume de investimentos, ao mesmo tempo em que tentava estabelecer estratégias para controlar a crescente dívida externa. O Brasil vivenciou os efeitos de crises internacionais que afetaram diretamente o Investimento Direto Externo, ou seja, muitos investidores não depositavam confiança nos mercados emergentes, entre eles o nosso, o que ocasionou a fuga de capitais. A política de privatizações representou uma alternativa para diminuir os efeitos das crises. Privatizar empresas estatais representava, na prática, uma estratégia de atração de investidores externos, o que também reduziria a pressão sobre a dívida do Estado brasileiro. Ao analisar-se a transição do século XX para o século XXI, é possível fazer uma reflexão acerca dos avanços e regressos vivenciados na Nova República brasileira, tanto na conquista de direitos pelos cidadãos quanto nos avanços políticos e sociais favorecidos pelas conquistas constitucionais ou, ainda, na atuação de movimentos sociais. Ainda nos primeiros anos do século XXI foram efetuados diversos ajustes na economia do país. Parte dessas medidas de estabilização possibilitaram um crescimento econômico que se traduziu em controle da inflação, crescimento do PIB, queda do desemprego urbano e forte saldo comercial. Medidas como austeridade fiscal, regime cambial baseado em câmbio livre e um superávit primário forte foram medidas adotadas pelo Brasil, baseados no receituário do Consenso de Washington. EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS (1980-2015) Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (1995-2002) O bom desempenho do Plano Real foi fundamental para a vitória de Fernando Henrique Cardoso (FHC), integrante do PSDB. No governo de FHC, observava-se um projeto de desenvolvimento para o país, ligado ao modelo de desenvolvimento neoliberal. O Brasil vivenciou efeitos de crises mundiais nos anos 1990, que afetaram diretamente os investimentos externos no país. Os mercados emergentes não representavam uma garantia de retorno, o que gerou uma grande fuga de capitais. A política de privatizações representava uma alternativa para diminuir os efeitos da crise. Privatizar as estatais representava na prática, uma estratégia de atração de investidores externos, o que também reduziria a pressão sobre a dívida do Estado brasileiro. Diante de três ataques especulativos sofridos nos anos 1990 (1994, 1997 e 1998), a política econômica praticava uma taxa de juros elevada, na tentativa de assegurar a presença de investidores. A garantia do sucesso do Plano Real passava pela condução de uma política monetária competente e, para que isso viesse a ocorrer, no início do Governo FHC, uma das estratégias foi elevar as taxas básicas de juros. O governo determinava quanto se pagaria por tomar empréstimos, o que significava oferecer mais retorno para os investidores que colocavam os seus recursos no Brasil. Essa categoria de investidores era conhecida como especuladores, mas, se a política de juros altos não funcionasse, devido às crises nos mercados emergentes que afugentavam os investidores, a outra opção seria as privatizações. Leilão de privatização da Vale do Rio Doce. Existiram duas fases distintas do Governo FHC: a primeira, marcada por uma política cambial rígida, crescente dependência dos investimentos externos e um desequilíbrio fiscal agudo; a segunda fase foi caracterizado pelo câmbio flutuante, a redução do déficit em conta-corrente e forte ajuste fiscal. Nesses dois momentos, constata-se a justa preocupação com o combate à inflação e à continua expansão do gasto público. O Governo FHC deixou como herança para o Brasil um tripé de políticas: metas de inflação, câmbio flutuante e austeridade fiscal, que, caso fossem mantidas ao longo dos anos poderiam criar condições para o desenvolvimento econômico futuro, com baixa inflação e equilíbrio externo e fiscal. Mudanças estruturais também foram implementadas, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, a reforma parcial da Previdência Social, o ajuste fiscal nos estados, o fim odos monopólios estatais no setor do petróleo e de telecomunicações e o aumento do fluxo de investimentos externos. O desfecho dos governos de FHC trouxe também para o Brasil o fortalecimento das instituições democráticas, o processo de autonomia do Banco Central e uma transição presidencial que foi referência na América Latina, já que vários países da região estavam frequentemente enfrentando processos golpistas e tentativas de instalações de ditaduras. Luiz Inácio Lula do Silva e seu vice-presidente José Alencar. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA (2003-2010) "Mudança": esta é a palavra-chave, esta foi a grande mensagem da sociedade brasileira nas eleições de outubro. A esperança, finalmente, venceu o medo e a sociedade brasileira decidiu que estava na hora de trilhar novos caminhos. Pronunciamento do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na sessão solene de posse no Congresso Nacional Brasília – DF, 01 de janeiro de 2003 Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA Sob o signo de que a esperança venceria o medo e por meio de uma série de posturas moderadas, inclusive explicitadas na conhecida carta ao povo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva foi diplomado presidente da república. O governo do presidente Lula deu segmento ao tripé de políticas: metas de inflação, câmbio flutuante e austeridade fiscal, herdados de FHC. Direcionou-se politicamente para a tendência de centro, contrariando posturas tradicionalmente defendidas pelo PT (Partido dos Trabalhadores), que seguia, de forma expressiva, a mesma postura de alguns partidos de esquerda na América Latina e na Europa, e abandonado posturas mais radicais em nome da governabilidade e da conciliação dos ideais socialistas com o modelo de economia de mercado. Com o objetivo de reduzir o grau de tensões econômicas existentes no final de 2002, o governo nomeou o ex- presidente do BankBoston, Henrique Meirelles, para o cargo de presidente do Banco Central, mantendo inicialmente todo o resto da diretoria anterior e evidenciando a tendência de continuidade da gestão FHC. Além disso é importante destacar que no primeiro momento do governo Lula inúmeras medidas foram adotadas para a manutenção da estabilidade econômica do país frente ao mercado. Entre elas destacamos: • Meta inflacionárias para 2003 e 2004 de 8,5% e 5,5%, respectivamente, reforçando a política anti- inflacionária • Elevação da taxa básica de juros nas reuniões do Comitê de Política Monetária (COPOM); • Definição de uma meta de superávit primário para 4,25% do PIB em 2003; • Ordem nos cortes dos gastos públicos para viabilizaro objetivo fiscal; • Estabelecimento da Lei de Diretrizes Orçamentarias; Muitas dessas medidas determinavam os novos caminhos escolhidos pelo PT, evidenciando um abandono de práticas que foram bandeiras históricas do partido, que eram consideradas radicais pelo mercado. Contrastando com a parte progressista do governo, que politicamente se posicionava mais ao centro, os programas sociais de distribuição de renda (Bolsa Família) e garantia alimentar (Fome Zero) foram amenizadores da condição de miséria do povo brasileiro e um instrumento para a redução dos desníveis sociais. O Partido dos Trabalhadores foi alvo ainda de inúmeros escândalos de corrupção, entre os quais o mais famoso ficou conhecido como Mensalão, no qual evidenciava prática de corrupção ativa e passiva por parte de empresários, políticos e funcionários públicos. Dentre os políticos mais importantes envolvidos no caso desatamos José Dirceu e Antônio Palocci. Mesmo com o escândalo do Mensalão e com a crise econômica de 2007 – 2008, que atingiu o mundo inteiro, a popularidade do ex-presidente Lula ainda era enorme. Em 2009 o governo estimulou a abertura de novas linhas de crédito para motivar o crescimento econômico, onde os setores mais beneficiados foram o setor automobilístico e o setor de da construção civil. A estabilidade econômica que marcou o Governo Lula foi reflexo da manutenção de aspectos da política econômica anterior, além de o país não ter sofrido influência das nações vizinhas que, na época, não atravessavam bom momento econômico. DILMA ROUSSEFF (2011-2016) O governo Dilma Rousseff representou, em muitos aspectos a continuidade do projeto de governo iniciado pelo ex- presidente Lula. Dilma havia feito a composição das pastas de Minas e Energia e da Casa Civil no mandato de seu apoiador político. Sua eleição pode ser associada à influência de Lula, que projetou a figura pública de Dilma para o Brasil. A política de metas de inflação e de austeridade fiscal foi conservada como projeto político de Dilma, contudo o gasto público continuou elevado, o que implicou o aumento da inflação. O programa Bolsa Família não foi abandonado; seus valores foram acrescidos, e o número de brasileiros Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA beneficiados foi ampliado. Embora, no campo social, tenha ocorrido uma melhoria no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o desenvolvimento social nas páreas de educação, habitação, saúde e transporte ainda está distante dos países considerados desenvolvidos. Na política externa, o governo Dilma continuou o apoio à reconfiguração da ONU e requereu uma nova composição do Conselho de Segurança, com a participação de países emergentes como membros permanentes. No tocante à questão da árabe-israelense, o governo se posicionou favorável, na Assembleia Geral das Nações Unidas, pela criação do Estado da Palestina. Em termos de política econômica, o desenho de seu governo pretendia conservar o crescimento econômico, baixando as taxas de juros para motivar o consumo. O setor industrial continuou a clamar por uma política de diminuição de tributos (desoneração) e uma maior gama de investimentos para o setor. Do final do governo Lula para o início da gestão Dilma, a parceria estratégica com a China se consolidou, com o aumento das exportações de produtos brasileiros. Outro desafio ligado ao governo dizia respeito ao histórico déficit de infraestrutura (rodovias, ferrovias, aeroportos, portos) para escoamento da produção, somando a isso as limitações de conhecimento científico competitivo para a realidade global capitalista. A associação de uma gestão técnica eficiente com o combate à corrupção, além de políticas preventivas para a moralização da gestão dos recursos públicos, foram promessas de campanha de Dilma. Em junho de 2013, o país vivenciou uma série de manifestações que, inicialmente, reivindicaram a diminuição do custo da mobilidade urbana, mas logo várias outras reivindicações se sucederam, nas páreas de saúdem educação, segurança e combate à corrupção, mobilizando governo e Congresso a pensarem uma nova agenda para o país e a deram uma resposta aos manifestantes. Em meio a esse cenário, o governo Dilma apresentou um conjunto de propostas que tinha como objetivo tornar mais sérias as penas contra os envolvidos em casos de corrupção e, ao mesmo tempo, promover alterações no sistema de financiamento privado de campanha. Não encontrando apoio por parte da classe política no Congresso e no Senado Federal, tais propostas não foram aprovadas. Em março de 2014, foi deflagrada uma investigação pela Polícia Federal conhecida com Operação Lava Jato, responsável pela prisão de diversos nomes envolvidos diretos em casos de corrupção, dentre os quais nomes próximos da presidência e de grande relevância no Partido dos Trabalhadores (PT), além de outros partidos. Nesse contexto, grupos opositores do governo Dilma Rousseff passaram a defender o impeachment da presidente em exercício. Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados, encaminhou o processo de impeachment, aprovado em 31 de agosto de 2016. Com o impeachment de Dilma Rousseff, Michel Temer, seu vice- presidente assume o poder. MICHEL ELIAS TEMER (2016-2018) Michel Temer assumiu o poder após o afastamento de Dilma Rousseff, o qual objetivou investigar seu envolvimento em crimes de responsabilidade fiscal. Quando no cargo de vice, Temer atuou inclusive no cenário internacional, visitando a região do Oriente Médio, buscando estabelecer relações comerciais e viabilizar parcerias e possíveis investimentos no Brasil. De maneira geral, seu programa de governo apresentou cinco eixos: • Econômico, que pretendia buscar, principalmente, o reequilíbrio fiscal; • Infraestrutura, com o objetivo de incentivar as privatizações; • Social e cidadania, com metas de diminuir o desemprego; • Reconexão do Brasil como mundo, com atenção especial à gestão de crises internacionais; • Gestão pública, com o intuito de modernizar o Estado e acabar com a corrupção. Sua primeira medida de austeridade foi aprovar, em 2016, a PEC 55, do congelamento dos gastos por 20 anos, com o Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA intuito de equilibrar as contas públicas por meio do controle dos gastos. A ação foi criticada por oposicionistas, que alegavam que ela impediria investimentos públicos e prejudicaria principalmente os menos desfavorecidos. A partir de sua aprovação, os gastos só poderiam aumentar de acordo com a inflação acumulada conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No ano seguinte, Temer instituiu a Reforma Trabalhista, que flexibilizou a relação entre empregados e empregadores. Uma das medidas foi a ampliação da jornada semanal e a adoção do sistema de contratos de trabalho de zero hora, que não estabelecia uma jornada fixa, mas condicionava o trabalhador a ficar à disposição do seu empregador. Quando começaram as primeiras movimentações para as eleições 2018, Temer decidiu não se candidatar, tendo em visto seu alto índice de rejeição. O ex-presidente Lula liderava as intenções de voto, porém, em setembro de 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), invalidou sua candidatura, o que levou seu vice, Fernando Haddad, a representar o PT nas eleições. Com isso, o candidato do Partido Social Liberal (PSL), Jair Bolsonaro, subiu nas pesquisas, chegando a ultrapassar Haddad e garantir sua eleição como presidente do Brasil com 55% dos votos válidos no segundo turno. Michel Temer e Jair Messias Bolsonaro na passagem da faixa presidencialem 2019, rito que simboliza a concretização da democracia das urnas.