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Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA 
FORMAÇÃO DO BRASIL 
CONTEMPORÂNEO 
A EXPANSÃO ULTRAMARINA E A ECONOMIA EUROPEIA 
A expansão portuguesa, inaugurada com a campanha de 
Ceuta em 1415, é lenta e sistemática avançando 
gradativamente em direção ao sul, tendo como meta 
imediata a captura das fontes do ouro de Tombucutu. 
Com este propósito, já em 1445, os portugueses 
constroem a fortaleza de Arguim, e em 1482 está pronto 
o castelo de São Jorge da Mina – ponto de escoamento de 
escravos e de ouro da Guiné, O avanço pela costa africana 
prossegue, assim como o adentramento no “Mar 
Tenebroso”, num movimento que incorpora os 
arquipélagos da Madeira e dos Açores e que acaba por 
esbarrar nas terras do Brasil. Ao final do século XV, os 
portugueses navegam no oceano Índico. Dominam três 
bordos do Atlântico sul: a “volta da Guiné”, a “volta do 
Brasil” e a “volta do Cabo”. Em meados do século XVI já 
comandam o tráfego interno do Índico, em 1513 
estabelecem uma feitoria em Macau e em 1543 negociam 
no Japão (atingindo o extremo oriente: lendária Cipango 
de Marco Pólo). Moraes, Antonio Carlos Robert. Bases da Formação 
Territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no “longo” século XVI 
– São Paulo: Hucitec, 2000. 
O processo de formação do território brasileiro, lento e 
irregular, é fruto de uma longa história de encontros de 
povos que aqui viviam e de outros que vieram a ocupá-lo 
ao longo dos anos. O Brasil foi assim uma construção, na 
qual os colonizadores portugueses se apropriaram de 
certas áreas, geralmente expulsando, às vezes 
escravizando, ou exterminando os índios que as ocupavam, 
e com o tempo expandiram o seu território e criaram neste 
novo mundo uma sociedade diferente, que um dia se 
tornou um Estado-nação “independente”. 
A gênese do Estado brasileiro encontra-se na colonização 
portuguesa da América. A expansão oficial, realizada por 
expedições militares a serviço de Portugal (desde o final do 
século XVI, e principalmente no século XVII), foi 
responsável pela conquista de uma vasta porção do atual 
território brasileiro. Entretanto, o território não é apenas 
uma continuação da América Portuguesa: a delimitação 
das fronteiras atuais, concluída apenas no início do século 
XX, envolveu diversos conflitos, negociações econômicas e 
acordos diplomáticos. Nos primeiros séculos de 
colonização, a ocupação portuguesa limitou-se ao litoral. A 
economia voltava-se para o mercado externo, com a 
produção de açúcar nas áreas próximas ao litoral. No 
interior a presença europeia praticamente limitava-se à vila 
de São Paulo e a um punhado de núcleos vizinhos. 
Inicialmente, os portugueses ampliaram suas terras 
incorporando áreas de domínio espanhol, ainda no período 
colonial. Diversos fatores contribuíram para o processo 
expansionista, que acabou por ultrapassar a linha de 
Tordesilhas. 
A CHEGADA DE CABRAL 
A chegada de Pedro Álvares Cabral à baia, hoje chamada 
Cabrália, em sua homenagem, no dia 22 de abril de 1500, 
não foi obra do acaso, mas consequência de uma política 
de expansão comercial desenvolvida desde o início do 
século XV, pelos países europeus, liderados por Portugal 
e Espanha. O que é confirmado pelo fato de, ao chegar ao 
Brasil, saber Cabral que pisava em terras juridicamente 
pertencentes a Portugal, em face do Tratado de 
Tordesilhas, assinado por seu país e pela Espanha em 
1494. ANDRADE, Manuel Correia. Formação Territorial e Econômica do 
Brasil. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2007. 
ESTRUTURA POLÍTICA E ADMINISTRATIVA 
Os limites político-administrativos criados para delimitar 
países, estados, cidades e até mesmo bairros são alterados 
em função de forças econômicas, políticas, sociais e 
culturais que atuam nesses territórios ao longo de sua 
história. 
As iniciativas da Coroa Portuguesa obedeciam a interesses 
estratégicos, na medida em que procuravam estabelecer 
limites à expansão espanhola na América. 
O PAPEL DA ESPANHA 
A história do Brasil está ligada de duas maneiras à do 
Império Espanhol na América: 1. Madrid exerce, apoiada 
no direito, a sua soberania sobre tudo o que se encontra 
a Oeste do meridiano de Tordesilhas; 2. A união das duas 
coroas, que resulta da extinção da dinastia de Avis, reduz, 
consideravelmente, a liberdade de manobra de Portugal 
entre 1580 e 1640. 
A penetração espanhola na América do Sul faz-se por Este: 
O império Inca, que se estendia do Equador ao Chile, 
passando pelo Peru, pela Bolívia e noroeste da Argentina, 
foi conquistado entre 1531 e 1544. É preciso esperar por 
1580 para que uma rota permanente seja aberta entre 
Potosí e o Rio da Prata, e que Buenos Aires seja 
definitivamente fundada. [...] 
[...] A União das duas coroas foi realizada em 1580. A 
Espanha não tem inveja da presença portuguesa no Brasil 
 
 
 
Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA 
e tolera bem o contrabando que se exerce pela Prata em 
benefício dos portugueses. A ocupação do Recife pelos 
holandeses desagrada Madrid, mas não ameaça os eixos 
vitais da construção imperial – lembra apenas que seria 
loucura abrir ainda mais o continente para o Sul, por 
Buenos Aires. Em 1625, os espanhóis enviam uma frota 
para libertar Salvador, depois deixam os portugueses 
praticamente sós face à empresa holandesa. CLAVAL, Paul. A 
Construção do Brasil: uma grande potência em emergência. Ed. Belim, 
2004. 
A fundação da Vila de São Vicente no litoral Paulista, em 
1532, assinalou o início da colonização dos domínios 
portugueses na América, com a distribuição das primeiras 
sesmarias, inspiradas na legislação fundiária portuguesa do 
século XIV. 
No território colonial, os sesmeiros eram homens da 
pequena nobreza, militares ou navegantes, que recebiam 
as suas glebas como recompensa por serviços prestados à 
Coroa. Ao tomarem posse das terras, ficavam obrigados 
apenas a fazê-las produzir em alguns anos (em geral cinco) 
e pagar o dízimo à Ordem de Cristo. 
Entre 1534 e 1536, a Coroa portuguesa implantou o 
sistema político-administrativo das capitanias hereditárias. 
O território foi dividido em capitanias, lotes doados a quem 
tivesse capital para colonizá-los. Os detentores desses 
lotes, transmitidos de pai para filho, eram os capitães-
donatários. Esse regime fragmentou a América Portuguesa 
em unidade autônomas e desarticuladas entre si. 
ANTIGO MAPA DAS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS 
 
VICENTINO, Claudio. Atlas histórico: geral e do Brasil. São Paulo: 
Scipione, 2011. p. 100. 
NOVO MAPA DAS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS 
Em 2014, Jorge Cintra, do Instituto Histórico e Geográfico 
de São Paulo, divulgou um novo mapa das capitanias 
hereditárias, baseando-se em novas pesquisas que 
mostraram que os mapas anteriores das capitanias foram 
elaborados com base nos paralelos e não nos meridianos, 
o que muda a disposição das capitanias do extremo norte 
da América Portuguesa. 
 
As dificuldades de administração de várias capitanias 
fizeram com que elas fossem retornando para a tutela da 
Coroa portuguesa. A primeira foi a da Bahia de Todos-os-
Santos (parte do que é hoje o estado da Bahia), onde foi 
implantado, em 1549, o Governo-Geral do Brasil. Mas, na 
verdade, Portugal sempre temeu a formação de um centro 
de poder unificado em suas colônias do Novo Mundo. 
Em 1621, a América Portuguesa foi dividida em Estado do 
Brasil e Estado do Maranhão. Este segundo subordinado 
apenas à Coroa, destinava-se a garantir a defesa do litoral 
setentrional sujeito a ataques de franceses corsários. Em 
1737, afastadas as ameaças francesas, a atenção da Coroa 
concentrou-se na consolidação da soberania sobre a bacia 
amazônica, alterando-se o nome da entidade para Estado 
 
 
 
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do Grão-Pará e Maranhão e transferindo-se a sede de São 
Luiz para Belém. 
Nos primeiros séculos de colonização, a ocupação 
portuguesa limitou-se ao litoral. A economia voltava-se 
para o mercado externo, com a produção de açúcar nas 
áreas próximas ao litoral. No interior a presença europeia 
praticamente limitava-se à vila de São Paulo e a um 
punhado de núcleos vizinhos. Inicialmente, os portugueses 
ampliaram suas terras incorporando áreas de domínio 
espanhol, ainda no período colonial. Diversos fatores 
contribuíram para o processo expansionista, que acabou 
por ultrapassar a linha de Tordesilhas. 
O território brasileiro foi sendo constituído e legalizado ao 
longo do tempo por meio de diversos tratados. O principal 
norteador do nosso território é o famoso Tratado de 
Tordesilhas. No entanto, outros tratados importantes 
contribuíram para a formação e organização do território 
brasileiro ao longo do tempo. São exemplos: 
• Tratado de Ultrech I (1713): Assinado entre Portugal e 
França estabeleceu as fronteiras portuguesas no norte do 
Brasil, onde o Oiapoque foi reconhecido como a fronteira 
natural entre a Capitania do Cabo Norte e a Guiana; 
 
Limites entre Brasil e Guiana Francesa. 
• Tratado de Ultrech II (1715): Assinado entre Portugal e 
Espanha, tratou da segunda devolução de Colônia do 
Sacramento para os portugueses. 
• Tratado de Madri (1750): Considerado o mais importante 
tratado em termos territoriais, esse tratado redefiniu as 
fronteiras portuguesas e espanholas. Os princípios que 
nortearam o Tratado de Madri foram o uti possidetis (o 
território pertencia a quem tivesse ocupado e povoado), 
uma espécie de usucapião e as fronteiras naturais (a fim de 
evitar a fragilidade dos tratados anteriores, procurou-se 
estabelecer as fronteiras em locais que possibilitavam a 
demarcação. Ex: montanha, Rio, etc.). Portugal passou de 
2.800.000km² para 6.900.000km², ou seja, praticamente 
foram definidas as fronteiras brasileiras nesse momento. 
ÁREA INCORPORADA PELO TRATADO DE MADRI 
 
O território passou a ter aproximadamente 6.900.000 km². 
• Tratado de Santo Ildefonso (1777): Teve como intuito 
finalizar os conflitos que ocorreram ao longo de três 
séculos entre as Coroas portuguesa e espanhola e seus 
súditos, sobre os limites dos domínios da América e da Ásia. 
Confirmou o Tratado de Madri e devolveu a Portugal a Ilha 
de Santa Catarina, ficando com a Espanha a Colônia de 
Sacramento e a região dos Sete Povos das Missões; 
 
• Tratado de Badajóz (1801): Assinado entre Portugal e 
Espanha/França, oficializou a incorporação 
definitivamente dos Sete Povos das Missões ao Brasil. Esse 
Tratado também é conhecido como Paz de Badajóz, que 
coloca fim ao conflito chamado de Guerra das Laranjas. 
 
 
 
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• Tratado de Petrópolis (1903): formalizou a permuta de 
territórios entre Brasil e Bolívia — uma faixa de terra entre os 
rios Madeira, o rio Abunã do Brasil para a Bolívia — e o 
território do atual Acre da Bolívia para o Brasil. O governo 
brasileiro também se comprometia a construir a Estrada de 
Ferro Madeira-Mamoré, para dar trânsito às trocas comerciais 
bolivianas pelo rio Amazonas, no acordo o governo brasileiro 
obrigou-se a pagar à Bolívia a quantia de 2 milhões de libras 
esterlinas para indenizar Bolivian Syndicate, um consórcio de 
investidores estadunidenses, pela rescisão do contrato de 
arrendamento, firmado em 1901 com o governo boliviano. 
 
 
Fortificações na região amazônica. 
 
 
 
Em 1759, foram organizadas as Capitanias da Coroa, 
governadas por funcionários nomeados pelo rei. Com a 
 
1 Arbitramento Internacional: situação em que outros países são 
escolhidos para resolver as questões de fronteira. 
independência do Brasil, essas áreas transformaram-se em 
províncias de um Império Unitário. 
Após a independência, ocorrida em 1822, outras áreas se 
incorporaram ao território do Brasil. Essas áreas foram 
anexadas de países fronteiriços (como Bolívia, Paraguai e 
Peru), por meio de tratados bilaterais ou por arbitramento 
internacional1. 
O Império foi responsável pela fixação de mais da metade 
da formação das fronteiras terrestres brasileiras. Os limites 
com o Uruguai, anexados por D. João VI em 1821, foram 
frutos de acordos de 1828, que reconheceram a 
independência do país. 
FORMAÇÃO DAS FRONTEIRA AO LONGO DA HISTÓRIA 
 
As fronteiras com o Paraguai formaram-se a partir do 
conflito entre a Tríplice Aliança e o Paraguai, no fim da 
Guerra do Paraguai em 1870. 
 
Duque de Caxias e o ditador paraguaio Francisco Solano Lopes. 
http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjM38_b7_jXAhWKjZAKHWKcCaAQjRwIBw&url=http%3A%2F%2Fguiadoscuriosos.uol.com.br%2Fcategorias%2F2699%2F1%2Fduque-de-caxias.html&psig=AOvVaw36DLVhaaBX69txa8AEMIEb&ust=1512769502530701
http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiZ74v07_jXAhUBQ5AKHVCeCd8QjRwIBw&url=http%3A%2F%2Fgeaciprianobarata.blogspot.com%2F2016%2F04%2Fa-guerra-da-triplice-infamia.html&psig=AOvVaw1--ZN6MIpO4Mo0o3p6_Rh_&ust=1512769554582974
 
 
 
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MALDITA GUERRA 
A geração daqueles que lutaram na guerra, quer nos 
países aliados, quer no Paraguai, não registrava de forma 
positiva o papel histórico de Solano López. Havia certeza 
da sua responsabilidade, quer no desencadear da guerra, 
ao invadir o Mato Grosso, quer na destruição de seu país, 
pelos erros na condução das operações militares e na 
decisão de sacrificar os paraguaios, mesmo quando 
caracterizada a derrota, em lugar de pôr fim ao conflito. 
Dessa geração nasceu a historiografia tradicional sobre a 
guerra, que simplificou a explicação do conflito ao ater-se 
às características pessoais de Solano López, classificado 
como ambicioso, tirânico e, mesmo, quase 
desequilibrado. DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: Nova 
Historia Da Guerra Do Paraguai. 
A INDEPENDÊNCIA E A IDENTIDADE NACIONAL 
Com a Independência, nasceu um imenso império nos 
trópicos, comandados por D. Pedro I. A Constituição de 
1824, imposta pelo imperador, consolidou o caráter 
hereditário e escravista desse império cuja capital era o Rio 
de Janeiro. 
 
Proclamação da República, Pedro Américo. 
Desde o início, a elite imperial dedicou-se à obra de 
produção e de uma identidade nacional. O IHGB (Instituto 
Histórico e Geográfico Brasileiro), organizado em 1838 e 
presidido a partir de 1849 por D. Pedro II, reuniu arquitetos 
dessa obra. Escritores como Gonçalves Dias e José de 
Alencar elaboraram a mitologia romântica do índio. 
Naturalistas como o alemão Carl Von Martius dedicaram-
se a descrever a flora brasileira. Intelectuais como 
Francisco de Varnhagen e Capistrano de Abreu começaram 
a gerar uma narrativa da história colonial, na qual a 
natureza ocupava lugar privilegiado. Ao mesmo tempo 
expedições científicas e artísticas percorreriam o país 
produzindo um paisagismo brasileiro. Os viajantes 
descreviam, desenhavam, gravavam e pintavam a 
paisagem tropical, os animais e as plantas, assim como os 
índios. 
O PERÍODO REPUBLICANO 
Desde a Proclamação da República em 1889, as províncias 
foram transformadas em estados. A Constituição 
republicana de 1891, organizou o país como Estado federal. 
Com isso, os estados, unidades da Federação, ganharam 
autonomia. 
Ao longo da República, as mudanças nos limites político-
administrativos das unidades da federação decorreram dos 
processos de criação de territórios federais e de 
desmembramentos de estados. O Acre foi o primeiro 
território federal, criado em 1903. A política externa do 
início do período republicano foi marcada pela figura doBarão do Rio Branco, responsável pela delimitação de 
quase um terço da extensão das fronteiras terrestres. 
 
Em 1960, o estado de Goiás recebeu o novo Distrito Federal 
(Brasília); em 1977, o Mato Grosso foi dividido em dois: 
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; e, em 1989, a porção 
norte do estado de Goiás passou a constituir o 26o estado 
brasileiro: Tocantins. Até 1988 o país possuía também 
territórios federais, administrados diretamente pelo 
governo federal (sem governo próprio nem ligação com 
qualquer estado). A Constituição, entre outras tantas 
coisas, também proibiu a secessão, ou seja, a 
independência dos estados. No mapa abaixo, que retrata a 
divisão política do Brasil em 1945, é possível observar os 
antigos territórios. 
 
 
 
 
 
 
Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA 
BRASIL – DIVISÃO POLÍTICA (1945) 
 
IBGE – Atlas geográfico escolar.7ed.Rio de Janeiro: 2016 
DIVISÃ POLÍTICO-ADMINISTRATIVA E SISTEMA DE 
GOVERNO 
Atualmente, a República Federativa do Brasil é formada por 
26 estados, 1 Distrito Estadual e pelo Distrito Federal. Os 
estados, por sua vez, dividem-se em municípios. Em 2017, 
existiam no país 5570 municípios, sendo Minas Gerais com 
853 municípios o estado com maior divisão e Roraima, com 
15 municípios o estado com menor fragmentação. 
 
Os estados são as unidades de maior hierarquia na 
organização político-administrativa do país; a localidade que 
abriga a sede do governo é chamada da capital. Os 
municípios são as menores unidades políticas autônomas na 
federação brasileira. Na maioria dos casos apresentam áreas 
rurais e urbanas. Porém existem municípios 100% 
urbanizados. O Distrito Federal é uma unidade federativa 
autônoma que sedia o governo federal, Brasília é a capital 
federal do Brasil. O Distrito Federal não se divide em 
municípios, e sim em regiões administrativas (RAs). Existe 
também o caso sui generis do Distrito Estadual de Fernando 
de Noronha, em Pernambuco. Este distrito possui natureza 
autárquica e vinculação ao Poder Executivo do estado, que 
acumula as atribuições e responsabilidades estaduais e 
municipais. É o único caso de distrito estadual existente em 
solo brasileiro. 
ÁREA TOTAL DAS UNIDADES TERRITORIAIS DO BRASIL 
 
O Brasil é uma República federativa presidencialista. A 
República, proclamada em nosso país em 1889, é uma 
forma de governo na qual representantes eleitos pelo 
governo por tempo determinado. O presidencialismo é um 
regime político chefiado por um presidente da República, 
que acumula as funções de chefe de Estado e chefe de 
governo. O termo federativa indica que os estados estão 
unidos numa federação, mas mantêm relativa autonomia. 
No Brasil, o presidente da República é eleito por voto direto 
para um período de quatro anos, podendo ser reeleito para 
mais quatro anos. O mesmo acontece com os governadores 
dos estados e os prefeitos dos municípios. 
A Constituição é a Lei Maior que rege a vida de um país, 
determinado, entre outros aspectos, a organização do 
Estado. De acordo com a Constituição Federal de 1988, 
existem três poderes da União, independentes e 
harmônicos entre si: o Executivo, o Legislativo e o 
Judiciário. 
O primeiro encarrega-se da administração e do 
encaminhamento das políticas públicas; o Legislativo, 
constituído pelo Senado Federal e pela Câmara dos 
Deputados, elabora as leis do país; e o Judiciário, 
responsável pelo julgamento e pela solução de conflitos, é 
exercido em suas instâncias mais altas pelo Supremo 
Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça. Dos 
três poderes, é o único cujos titulares não são eleitos pela 
população. 
 
 
 
Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA 
 
Posse de Luís Roberto Barroso, atual Presidente do Supremo Tribunal 
Federal (STF), Brasília, 28/09/2023, ao lado do presidente Luís Inácio 
Lula da Silva, 
O sistema político brasileiro é a democracia caracterizada, 
entre outros aspectos, pela garantia do direito de voto e 
pelo respeito aos direitos individuais e coletivos e às 
decisões dos cidadãos expressas nas eleições. Mas o país já 
conheceu períodos de autoritarismo, como ocorreu 
durante o Estado Novo (1937-1945) e a Ditadura Civil-
Militar (1964-1985). 
O voto no Brasil é obrigatório para os indivíduos de 18 até 
70 anos, e opcional para os analfabetos, os que têm mais 
de 70 anos ou estão na faixa dos 16 aos 18 anos. 
Segundo os levantamentos do Tribunal Superior Eleitoral, o 
número de eleitores superou 156 milhões de eleitores no 
final de 2022, o que faz do Brasil uma das maiores 
democracias do mundo. Mas nem sempre foi assim. 
Durante o Império, existiu o chamado voto censitário, em 
que pessoas com baixa renda não tinham direito a eleger 
seus representantes. As mulheres só adquiriram o direito 
de votar em 1932, e os analfabetos em 1985. 
Entre os fatores que reforçam a democracia brasileira no 
início do século XXI, estão o aumento do número de ONGs 
(Organização Não-Governamentais), de conselhos 
estaduais e municipais, movimentos sociais e outros órgãos 
que constituem importantes instrumentos e espaços de 
interação entre governo e a sociedade civil e da 
participação popular na vida política do país. 
Apesar disso, alguns fatores ainda dificultam o pleno 
exercício da cidadania dos brasileiros. Entre eles, 
destacam-se as desigualdades econômicas, os obstáculos à 
representação parlamentar de algumas minorias étnicas e 
socioculturais, a dificuldade de acesso da população mais 
pobre aos meios de comunicação e a exclusão de parte da 
população dos canais de participação e dos movimentos 
promovidos pela sociedade civil. 
 
Primeira mulher a votar no Brasil, a mossoroense, Celina Guimarães 
Viana, em 1927, ação promovida pelo governador que autorizou o voto 
feminino mesmo sendo proibido. 
PRIMEIRA REPÚBLICA, ELITE AGRÁRIA E GETÚLIO 
VARGAS 
Durante esse período da República, houve o desenvolvi 
mento de diversas indústrias têxteis no Brasil. Com a 
colaboração da mão de obra imigrante, sobretudo com o 
fim da escravidão em 1888m essas indústrias, 
concentradas principalmente no Rio de Janeiro e em São 
Paulo, incentivaram a formação de vilas operárias e de 
sindicatos. 
Essa organização sindical ocasionou greves de grande 
impacto, quando os sindicalistas alcançaram os primeiros 
ganhos trabalhistas. Contudo, o primeiro grande surto 
industrial dessa época ocorreu no período da Primeira 
Guerra Mundial (1914-1918), durante o governo de 
Wenceslau Brás, que implantou uma política de 
substituição de importações. Tudo isso resulta em avanços 
na indústria e economia nacional. Wenceslau Brás era o 
candidato das elites agrárias no Brasil, em espacial as elites 
 
 
 
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agrárias de São Paulo e Minas Gerais, marcando a famosa 
política do café com leite. 
 
Ex-presidente Wenceslau Brás declarando Guerra à Alemanha, 
acompanhado de Nilo Peçanha e Delfim Moreira 
O Brasil começou a estruturar seu parque industrial com 
Getúlio Vargas, que construiu o alicerce da industrialização 
nacional. Até então, os investimentos eram direcionados 
para a produção de bens de consumo imediato e o 
excedente de capital era empregado nas indústrias têxteis. 
Nessa perspectiva, Getúlio propôs um projeto arrojado. O 
intervencionismo estatal na ordem econômica acentuou-se 
nos anos 30 e início da década de 1940, estimulado pela 
proclamação do Estado Novo, em 1937, conhecida como 
Ditaduta Varguista. 
“Em 1939, o Estado Novo constitui um verdadeiro minis 
tério, diretamente subordinado ao presidente da 
República (…). [Tal órgão] (…) exerceu funções bastanteextensas, incluindo cinema, rádio, teatro, imprensa, 
literatura e política, além de proibir a entrada no país de 
‘publicações nocivas aos interesses brasileiros’; agiu junto 
à imprensa estrangeira no sentido de se evitar que fossem 
divulgadas ‘informações nocivas ao crédito e à cultura do 
país’; dirigiu a transmissão diária do programa radiofônico 
‘Hora do Brasil’ (…).” 
B. Fausto, História do Brasil. 
Procurou-se criar no país uma política econômica que 
permitisse impulsionar o desenvolvimento. O projeto de 
Vargas era levar o Brasil à modernização econômica, 
integrando-o no capitalismo industrial. 
Nesse sentido, podemos apontar na política de Vargas os 
seguintes fatos: 
• 1930 – criação do Ministério do Trabalho, Indústria 
e Comércio; 
• 1931 – Conselho Nacional do Café e Instituto do 
Cacau da Bahia; 
• 1932 – Ministério da Educação e Saúde Pública; 
• 1933 – Departamento Nacional do Café e Instituto 
do Açúcar e do Álcool; 
• 1934 – Conselho Federal do Comércio Exterior, 
Instituto Nacional de Estatística, Código de Minas, 
Código de Águas, Plano Geral de Viação Nacional e 
Instituto de Biologia Animal; 
• 1937 – Conselho Brasileiro de Geografia e Conselho 
Técnico de Economia e Finanças; 
• 1938 – Conselho Nacio nal do Petróleo, 
Departamento Administrativo do Serviço Público 
(DASP), Instituto Nacional do Mate e Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); 
• 1940 – Comissão de Defesa da Economia Nacional, 
Instituto Nacional do Sal e Fábrica Nacional de 
Motores; 
• 1941 – Companhia Siderúrgica Nacional 
• 1942 – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial 
(SENAI); 
• 1943 – Coordenação da Mobilização Econômica, 
Consolidação das Leis de Trabalho, Serviço Social da 
Indústria (SESI), Plano de Obras e Equipamentos e I 
Congresso Brasileiro de Economia; 
• 1944 – Conselho Nacional de Política de 
Desenvolvimento Industrial e Comercial e Serviço 
de Expansão do Trigo; 
• 1945 – Superintendência da Moeda e do Crédito 
(SUMOC). 
 
Ou seja, os 15 primeiros anos do Governo Vargas (1930-
1945) foram profundamente marcantes para o Brasil. É 
importante ressaltar que nesse primeiro momento tivemos 
fatos marcantes na história brasileira e mundial como a 
guerra civil de São Paulo (1932), as revoltas da Aliança 
Nacional Libertadora (1935), a tentativa dos integralistas de 
tomar o poder (1938) e a entrada do país na Segunda Guerra 
Mundial (1942). 
A participação do Brasil na Segunda Guerra dificultou a 
compatibilização da política interna (ditadura) com a 
política externa (defesa da democracia). A política populista 
de Vargas atingiu o auge em 1945, 
com o “queremismo”. As massas populares eram agitadas 
para exigir a permanência de Getúlio, gritando "queremos 
Getúlio". Isto acelerou a queda de Vargas, pois permitiu a 
seus adversários acusarem-no de querer permanecer no 
poder. 
 
 
 
Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA 
 
Outros elementos apressaram o fim do Estado Novo: o 
discurso do embaixador norte-americano Adolf Berle Jr. 
(29/09/1945), aconselhando a normalização do processo 
eleitoral; um decreto antitruste (que contrariava 
violentamente os interesses estrangeiros) e o célebre 
decreto pretexto (nomeação do irmão de Getúlio, 
Benjamim Vargas, para o cargo de chefe da Polícia do 
Distrito Federal). 
Pretextando a ameaça de uma "guinada" de Vargas para a 
esquerda, em função de sua política populista, os generais 
Eurico Gaspar Dutra e Góis Monteiro colocaram um fim na 
ditadura com um golpe militar, na noite de 29 de outubro 
de 1945. Assumiu interinamente o poder o presidente do 
Supremo Tribunal Federal, José Linhares. 
O resultado das eleições deu a vitória ao candidato 
representante do PSD/PTB – Eurico Gaspar Dutra – eleito 
com 3 251 000 votos, contra 2 039 000 de Eduardo Gomes 
(UDN), e 579 000 de Yedo Fiúza (PCB). 
BRASIL, NOVA ORDEM E GLOBALIZAÇÃO 
O Brasil entrou às cegas no mundo global, que promoveu a 
intensificação dos fluxos internacionais de capitais nos 
mercados financeiros e a abertura das economias nacionais 
ao comércio. Na América Latina, os projetos de 
industrialização protegida deram lugar a ajustes destinados 
a integrar as economias nacionais a nova realidade global. O 
período neoliberal que se inicia nos anos 90 na América 
Latina, marca o período de redemocratização no Brasil e 
marca a chegada de Fernando Collor de Melo ao poder, 
seguido de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luís 
Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, seguida por Michel 
Temer e substituído por Jair Bolsonaro. 
 
Fernando Henrique Cardoso, ao lado de seu vice-presidente Marco 
Maciel, recebendo a faixa presidencial de Itamar Franco, ex-presidentes 
brasileiros. 
No início dos anos 90 foi implementado no Brasil o 
Programa Nacional de Desestatização com grande 
participação de capitais estrangeiros. Esse processo teve 
seu ápice nas duas gestões FHC (1995-2002). A ideia é que a 
privatização ocorra quando uma estatal mão está mais 
gerando os lucros exigidos para competir no mercado com 
outras empresas do mesmo ramo ou quando ela passa por 
grandes dificuldades financeiras. 
No Brasil, durante os anos 1990, foram vendidas cerca de 
100 empresas públicas dos mais variados setores para a 
iniciativa privada, dentre as quais se destacam os setores 
das telecomunicações (Embratel), energia (Light), 
mineração e siderurgia (Vale do Rio Doce), entre outras. 
De uma maneira geral, a privatização de empresas públicas 
é um tema controverso e que divide opiniões. Especialistas 
do setor econômico avaliam que o poder público ganha na 
medida em que evita os gastos destinados aos 
investimentos dessas empresas, ao mesmo tempo, há um 
incremento nas receitas com arrecadação dos tributos 
gerados quando se tornam privadas. Além disso, a empresa 
pode vir a ser mais competitiva no mercado, em função de 
sua desburocratização, o que provoca mais rapidez na 
produtividade e maior eficiência da gestão. 
Outros analistas, no entanto, indicam que as privatizações 
podem reduzir o número de postos de trabalho, bem como 
a autonomia do país em setores estratégicos do seu 
desenvolvimento. Na medida em que se desfaz de suas 
empresas, pode comprometer sua capacidade de gestão em 
qualquer aspecto da economia, tanto na definição dos 
limites dos empreendimentos econômicos quanto na 
capacidade de interferir no setor quando necessário. 
 
 
 
 
Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA 
PLANO REAL E O BRASIL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI 
Na tentativa de combater a inflação, o governo de Itamar 
Franco adotou um novo plano econômico, conhecido como 
Plano Real, capitaneado pelo então ministro da Fazenda, 
Fernando Henrique Cardoso, em julho de 1994. 
O plano fundamentava-se na proposta de uma moeda forte 
(Real), que deveria substituir o cruzeiro; contudo, foi 
implantada uma estratégia da utilização da Unidade Real de 
Valor (URV), que precederia a implantação imediata da 
nova moeda. 
 
Nota de 500.000 cruzeiros, 1993. 
Um importante mérito da equipe econômica foi ter criado 
uma coalizão entre empresários, classe média e população 
assalariada em prol da estabilidade monetária, não 
permitindo congelamento de preços, mas prometendo que 
o governo se manteria firme na política salarial, para que 
não existisse um grande fluxo de créditos no mercado, o que 
pressionaria pelo aumento da inflação. 
O mercado financeiro, já acostumado com a ciranda 
econômica do período de inflação, foi o que mais sofreu, 
tendo que receber promessas de amparo financeiro futuro. 
Em 1994, o Brasil estava vivendo um significativo clima de 
otimismo e euforia; a sociedade brasileira parecia ter 
encontrado estabilidade. Em meio a esse contexto, 
FernandoHenrique Cardoso alertava para a necessidade de 
transformar o país, e não apenas fortalecer a moeda. Para 
ele, mudanças estruturais deveriam ser estabelecidas para 
fazer a nação prosperar. 
Esses motivos levaram Fernando Henrique Cardoso à 
presidência da República nas eleições de 1994. No governo 
de FHC, observava-se um projeto de desenvolvimento para 
o país, associado ao modelo socioeconômico neoliberal. 
A aplicação do modelo de governabilidade econômica de 
FHC, bem como o seu projeto de desenvolvimento para o 
Estado brasileiro, baseava-se da defesa de uma política 
monetária forte, ouse já, buscava manter a paridade do real 
com o dólar. 
Os elementos que contribuíram para o sucesso do Plano 
Real foram a desvalorização controlada da moeda e uma 
alta taxa de juros para atrair investimentos estrangeiros. 
A capacidade de crescimento e desenvolvimento 
econômico do Brasil ficou comprometida. A postura do 
governo era atrair maior volume de investimentos, ao 
mesmo tempo em que tentava estabelecer estratégias para 
controlar a crescente dívida externa. O Brasil vivenciou os 
efeitos de crises internacionais que afetaram diretamente o 
Investimento Direto Externo, ou seja, muitos investidores 
não depositavam confiança nos mercados emergentes, 
entre eles o nosso, o que ocasionou a fuga de capitais. 
A política de privatizações representou uma alternativa para 
diminuir os efeitos das crises. Privatizar empresas estatais 
representava, na prática, uma estratégia de atração de 
investidores externos, o que também reduziria a pressão 
sobre a dívida do Estado brasileiro. 
Ao analisar-se a transição do século XX para o século XXI, é 
possível fazer uma reflexão acerca dos avanços e regressos 
vivenciados na Nova República brasileira, tanto na 
conquista de direitos pelos cidadãos quanto nos avanços 
políticos e sociais favorecidos pelas conquistas 
constitucionais ou, ainda, na atuação de movimentos 
sociais. 
Ainda nos primeiros anos do século XXI foram efetuados 
diversos ajustes na economia do país. Parte dessas medidas 
de estabilização possibilitaram um crescimento econômico 
que se traduziu em controle da inflação, crescimento do PIB, 
queda do desemprego urbano e forte saldo comercial. 
Medidas como austeridade fiscal, regime cambial baseado 
em câmbio livre e um superávit primário forte foram 
medidas adotadas pelo Brasil, baseados no receituário do 
Consenso de Washington. 
EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS (1980-2015) 
 
 
 
 
Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA 
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (1995-2002) 
O bom desempenho do Plano Real foi fundamental para a 
vitória de Fernando Henrique Cardoso (FHC), integrante do 
PSDB. No governo de FHC, observava-se um projeto de 
desenvolvimento para o país, ligado ao modelo de 
desenvolvimento neoliberal. 
O Brasil vivenciou efeitos de crises mundiais nos anos 1990, 
que afetaram diretamente os investimentos externos no 
país. Os mercados emergentes não representavam uma 
garantia de retorno, o que gerou uma grande fuga de 
capitais. 
A política de privatizações representava uma alternativa 
para diminuir os efeitos da crise. Privatizar as estatais 
representava na prática, uma estratégia de atração de 
investidores externos, o que também reduziria a pressão 
sobre a dívida do Estado brasileiro. 
Diante de três ataques especulativos sofridos nos anos 1990 
(1994, 1997 e 1998), a política econômica praticava uma 
taxa de juros elevada, na tentativa de assegurar a presença 
de investidores. 
A garantia do sucesso do Plano Real passava pela condução 
de uma política monetária competente e, para que isso 
viesse a ocorrer, no início do Governo FHC, uma das 
estratégias foi elevar as taxas básicas de juros. O governo 
determinava quanto se pagaria por tomar empréstimos, o 
que significava oferecer mais retorno para os investidores 
que colocavam os seus recursos no Brasil. Essa categoria de 
investidores era conhecida como especuladores, mas, se a 
política de juros altos não funcionasse, devido às crises nos 
mercados emergentes que afugentavam os investidores, a 
outra opção seria as privatizações. 
 
Leilão de privatização da Vale do Rio Doce. 
Existiram duas fases distintas do Governo FHC: a primeira, 
marcada por uma política cambial rígida, crescente 
dependência dos investimentos externos e um desequilíbrio 
fiscal agudo; a segunda fase foi caracterizado pelo câmbio 
flutuante, a redução do déficit em conta-corrente e forte 
ajuste fiscal. Nesses dois momentos, constata-se a justa 
preocupação com o combate à inflação e à continua 
expansão do gasto público. 
O Governo FHC deixou como herança para o Brasil um tripé 
de políticas: metas de inflação, câmbio flutuante e 
austeridade fiscal, que, caso fossem mantidas ao longo dos 
anos poderiam criar condições para o desenvolvimento 
econômico futuro, com baixa inflação e equilíbrio externo e 
fiscal. 
Mudanças estruturais também foram implementadas, 
como a Lei de Responsabilidade Fiscal, a reforma parcial da 
Previdência Social, o ajuste fiscal nos estados, o fim odos 
monopólios estatais no setor do petróleo e de 
telecomunicações e o aumento do fluxo de investimentos 
externos. 
O desfecho dos governos de FHC trouxe também para o 
Brasil o fortalecimento das instituições democráticas, o 
processo de autonomia do Banco Central e uma transição 
presidencial que foi referência na América Latina, já que 
vários países da região estavam frequentemente 
enfrentando processos golpistas e tentativas de instalações 
de ditaduras. 
 
Luiz Inácio Lula do Silva e seu vice-presidente José Alencar. 
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA (2003-2010) 
"Mudança": esta é a palavra-chave, esta foi a grande 
mensagem da sociedade brasileira nas eleições de 
outubro. A esperança, finalmente, venceu o medo e a 
sociedade brasileira decidiu que estava na hora de trilhar 
novos caminhos. Pronunciamento do Presidente da República, Luiz 
Inácio Lula da Silva, na sessão solene de posse no Congresso Nacional 
Brasília – DF, 01 de janeiro de 2003 
 
 
 
Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA 
Sob o signo de que a esperança venceria o medo e por meio 
de uma série de posturas moderadas, inclusive explicitadas 
na conhecida carta ao povo brasileiro, Luiz Inácio Lula da 
Silva foi diplomado presidente da república. 
O governo do presidente Lula deu segmento ao tripé de 
políticas: metas de inflação, câmbio flutuante e austeridade 
fiscal, herdados de FHC. Direcionou-se politicamente para a 
tendência de centro, contrariando posturas 
tradicionalmente defendidas pelo PT (Partido dos 
Trabalhadores), que seguia, de forma expressiva, a mesma 
postura de alguns partidos de esquerda na América Latina e 
na Europa, e abandonado posturas mais radicais em nome 
da governabilidade e da conciliação dos ideais socialistas 
com o modelo de economia de mercado. 
Com o objetivo de reduzir o grau de tensões econômicas 
existentes no final de 2002, o governo nomeou o ex-
presidente do BankBoston, Henrique Meirelles, para o cargo 
de presidente do Banco Central, mantendo inicialmente 
todo o resto da diretoria anterior e evidenciando a 
tendência de continuidade da gestão FHC. Além disso é 
importante destacar que no primeiro momento do governo 
Lula inúmeras medidas foram adotadas para a manutenção 
da estabilidade econômica do país frente ao mercado. Entre 
elas destacamos: 
• Meta inflacionárias para 2003 e 2004 de 8,5% e 
5,5%, respectivamente, reforçando a política anti-
inflacionária 
• Elevação da taxa básica de juros nas reuniões do 
Comitê de Política Monetária (COPOM); 
• Definição de uma meta de superávit primário para 
4,25% do PIB em 2003; 
• Ordem nos cortes dos gastos públicos para viabilizaro objetivo fiscal; 
• Estabelecimento da Lei de Diretrizes 
Orçamentarias; 
 
Muitas dessas medidas determinavam os novos caminhos 
escolhidos pelo PT, evidenciando um abandono de práticas 
que foram bandeiras históricas do partido, que eram 
consideradas radicais pelo mercado. 
Contrastando com a parte progressista do governo, que 
politicamente se posicionava mais ao centro, os programas 
sociais de distribuição de renda (Bolsa Família) e garantia 
alimentar (Fome Zero) foram amenizadores da condição de 
miséria do povo brasileiro e um instrumento para a redução 
dos desníveis sociais. 
 
 
O Partido dos Trabalhadores foi alvo ainda de inúmeros 
escândalos de corrupção, entre os quais o mais famoso ficou 
conhecido como Mensalão, no qual evidenciava prática de 
corrupção ativa e passiva por parte de empresários, 
políticos e funcionários públicos. Dentre os políticos mais 
importantes envolvidos no caso desatamos José Dirceu e 
Antônio Palocci. 
 
Mesmo com o escândalo do Mensalão e com a crise 
econômica de 2007 – 2008, que atingiu o mundo inteiro, a 
popularidade do ex-presidente Lula ainda era enorme. Em 
2009 o governo estimulou a abertura de novas linhas de 
crédito para motivar o crescimento econômico, onde os 
setores mais beneficiados foram o setor automobilístico e o 
setor de da construção civil. A estabilidade econômica que 
marcou o Governo Lula foi reflexo da manutenção de 
aspectos da política econômica anterior, além de o país não 
ter sofrido influência das nações vizinhas que, na época, não 
atravessavam bom momento econômico. 
DILMA ROUSSEFF (2011-2016) 
O governo Dilma Rousseff representou, em muitos aspectos 
a continuidade do projeto de governo iniciado pelo ex-
presidente Lula. Dilma havia feito a composição das pastas 
de Minas e Energia e da Casa Civil no mandato de seu 
apoiador político. Sua eleição pode ser associada à 
influência de Lula, que projetou a figura pública de Dilma 
para o Brasil. 
A política de metas de inflação e de austeridade fiscal foi 
conservada como projeto político de Dilma, contudo o gasto 
público continuou elevado, o que implicou o aumento da 
inflação. O programa Bolsa Família não foi abandonado; 
seus valores foram acrescidos, e o número de brasileiros 
 
 
 
Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA 
beneficiados foi ampliado. Embora, no campo social, tenha 
ocorrido uma melhoria no Índice de Desenvolvimento 
Humano (IDH), o desenvolvimento social nas páreas de 
educação, habitação, saúde e transporte ainda está distante 
dos países considerados desenvolvidos. 
 
Na política externa, o governo Dilma continuou o apoio à 
reconfiguração da ONU e requereu uma nova composição 
do Conselho de Segurança, com a participação de países 
emergentes como membros permanentes. No tocante à 
questão da árabe-israelense, o governo se posicionou 
favorável, na Assembleia Geral das Nações Unidas, pela 
criação do Estado da Palestina. 
Em termos de política econômica, o desenho de seu 
governo pretendia conservar o crescimento econômico, 
baixando as taxas de juros para motivar o consumo. O setor 
industrial continuou a clamar por uma política de 
diminuição de tributos (desoneração) e uma maior gama de 
investimentos para o setor. 
Do final do governo Lula para o início da gestão Dilma, a 
parceria estratégica com a China se consolidou, com o 
aumento das exportações de produtos brasileiros. 
Outro desafio ligado ao governo dizia respeito ao histórico 
déficit de infraestrutura (rodovias, ferrovias, aeroportos, 
portos) para escoamento da produção, somando a isso as 
limitações de conhecimento científico competitivo para a 
realidade global capitalista. 
A associação de uma gestão técnica eficiente com o 
combate à corrupção, além de políticas preventivas para a 
moralização da gestão dos recursos públicos, foram 
promessas de campanha de Dilma. 
Em junho de 2013, o país vivenciou uma série de 
manifestações que, inicialmente, reivindicaram a 
diminuição do custo da mobilidade urbana, mas logo várias 
outras reivindicações se sucederam, nas páreas de saúdem 
educação, segurança e combate à corrupção, mobilizando 
governo e Congresso a pensarem uma nova agenda para o 
país e a deram uma resposta aos manifestantes. 
Em meio a esse cenário, o governo Dilma apresentou um 
conjunto de propostas que tinha como objetivo tornar mais 
sérias as penas contra os envolvidos em casos de corrupção 
e, ao mesmo tempo, promover alterações no sistema de 
financiamento privado de campanha. Não encontrando 
apoio por parte da classe política no Congresso e no Senado 
Federal, tais propostas não foram aprovadas. 
Em março de 2014, foi deflagrada uma investigação pela 
Polícia Federal conhecida com Operação Lava Jato, 
responsável pela prisão de diversos nomes envolvidos 
diretos em casos de corrupção, dentre os quais nomes 
próximos da presidência e de grande relevância no Partido 
dos Trabalhadores (PT), além de outros partidos. 
Nesse contexto, grupos opositores do governo Dilma 
Rousseff passaram a defender o impeachment da 
presidente em exercício. Eduardo Cunha, então presidente 
da Câmara dos Deputados, encaminhou o processo de 
impeachment, aprovado em 31 de agosto de 2016. Com o 
impeachment de Dilma Rousseff, Michel Temer, seu vice-
presidente assume o poder. 
MICHEL ELIAS TEMER (2016-2018) 
Michel Temer assumiu o poder após o afastamento de 
Dilma Rousseff, o qual objetivou investigar seu 
envolvimento em crimes de responsabilidade fiscal. Quando 
no cargo de vice, Temer atuou inclusive no cenário 
internacional, visitando a região do Oriente Médio, 
buscando estabelecer relações comerciais e viabilizar 
parcerias e possíveis investimentos no Brasil. 
De maneira geral, seu programa de governo apresentou 
cinco eixos: 
• Econômico, que pretendia buscar, principalmente, 
o reequilíbrio fiscal; 
• Infraestrutura, com o objetivo de incentivar as 
privatizações; 
• Social e cidadania, com metas de diminuir o 
desemprego; 
• Reconexão do Brasil como mundo, com atenção 
especial à gestão de crises internacionais; 
• Gestão pública, com o intuito de modernizar o 
Estado e acabar com a corrupção. 
 
Sua primeira medida de austeridade foi aprovar, em 2016, a 
PEC 55, do congelamento dos gastos por 20 anos, com o 
 
 
 
Prof. Italo Trigueiro REALIDADE BRASILEIRA 
intuito de equilibrar as contas públicas por meio do controle 
dos gastos. A ação foi criticada por oposicionistas, que 
alegavam que ela impediria investimentos públicos e 
prejudicaria principalmente os menos desfavorecidos. A 
partir de sua aprovação, os gastos só poderiam aumentar de 
acordo com a inflação acumulada conforme o Índice 
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No ano 
seguinte, Temer instituiu a Reforma Trabalhista, que 
flexibilizou a relação entre empregados e empregadores. 
Uma das medidas foi a ampliação da jornada semanal e a 
adoção do sistema de contratos de trabalho de zero hora, 
que não estabelecia uma jornada fixa, mas condicionava o 
trabalhador a ficar à disposição do seu empregador. 
Quando começaram as primeiras movimentações para as 
eleições 2018, Temer decidiu não se candidatar, tendo em 
visto seu alto índice de rejeição. O ex-presidente Lula 
liderava as intenções de voto, porém, em setembro de 
2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), invalidou sua 
candidatura, o que levou seu vice, Fernando Haddad, a 
representar o PT nas eleições. Com isso, o candidato do 
Partido Social Liberal (PSL), Jair Bolsonaro, subiu nas 
pesquisas, chegando a ultrapassar Haddad e garantir sua 
eleição como presidente do Brasil com 55% dos votos 
válidos no segundo turno. 
 
Michel Temer e Jair Messias Bolsonaro na passagem da faixa presidencialem 2019, rito que simboliza a concretização da democracia das urnas.

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